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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER EDIçÃO NÚMERO 2 - ABRIL
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Jornal A Sirene Ed. 2 ABRIL

Aug 01, 2016

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Jornal A Sirene

 
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Page 1: Jornal A Sirene Ed. 2 ABRIL

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No dia 5 de abril fez cinco meses que a Barragem de Fundão rom-peu, impactando de diferentes maneiras a vida das populações que residem entre mariana (mG) e Regência (ES). A data não é comemorativa, mas refl exiva. Até o momento, o processo de investigação desse crime ambiental está suspenso, aguardando a defi nição da competência dessa tarefa: Polícia Civil ou Federal. Não temos um relatório técnico conclusivo sobre as causas que levaram a esse rompimento. A possibilidade de se construir no-vos diques na área situada abaixo das atuais barragens pode co-locar em risco a conservação do que restou das posses, da vida e das memórias dos atingidos do subdistrito de Bento Rodrigues. E, por fi m, é visível que parte dos moradores considerados como atingidos demonstra que o processo de adaptação na sede mu-nicipal não está sendo simples, vide a maneira preconceituosa como são tratados por uma parcela dos marianenses.Abril tem sido também um mês de ações importantes para a de-fesa dos direitos dos atingidos, como a nota publicada pelo Co-letivo #UmminutodeSirene chamando atenção para o necessário tombamento das áreas urbanas e de entorno de Bento e Paraca-tu. Ação que conta com o apoio de importantes instâncias locais,

como o COmPAT e o ministério Público, e de parte signifi cativa dos atingidos. Nossas ações serão sempre voltadas para a luta pe-los direitos das famílias impactadas, para a conservação e a am-pliação das formas de comunicação por elas utilizadas e para a escolha dos novos espaços onde os atingidos serão reassentados. As matérias apresentadas nessa terceira edição do jornal A Sirene traduzem um pouco do cenário atual. Citamos três. direito de Entender contribui para o esclarecimento das questões jurídicas que envolvem o dia-a-dia das famílias impactadas, já que nessa área ainda há muito o que se esclarecer. Projetando Esperanças focaliza os projetos que os moradores da Ponte do Gama, ou-tra área afetada pelo rejeito, têm pensado para tentar reconstruir seus cotidianos. Não morava Lá? Não Tem direito! refl ete sobre os problemas que alguns moradores ainda vivenciam, mesmo 5 meses depois, para conseguirem os seus direitos básicos junto à empresa Samarco. Sem dúvida, essa nova edição apresenta um jornal mais maduro e representante das questões que afl igem atualmente os atingidos na região de mariana. Um jornal feito com e para eles.

#UmMinutoDeSirene

EDITORIAL

Abril de 20162 A S I R E N E

MARIANAEscritório da Comissão dos AtingidosRua Bom Jesus, 202 - Barro PretoSite: http://somos-bento.webnode.com/Escritório da SamarcoRua Bom Jesus, 157 - Barro PretoTelefone: 0800 031 2303movimento dos Atingidos por Barragens (mAB)Contato: Letícia OliveiraTelefones: (Claro) 98476-8865 (Vivo) 99809-0774Email: [email protected] (Pendências nos cartões)0800 9404300 para ligações de telefone fi xo40071367 para ligações locais ou celularministério PúblicoAv. Getúlio Vargas s/n. Bairro CentroTelefone: 3557-1517 / 3557-2820Secretaria de desenvolvimento Social e CidadaniaTelefone: 35571640

Secretaria de Saúde - Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)Telefone: 3558-2229 / 3558-5494 BARRA LONGAComissão de atingidos/mABContato: Th iago Alves Telefone: (Claro) 98496-5103Email: [email protected]ério PúblicoR. Vigario miguel Chaves, 17 – Centro - Ponte NovaTelefone: 3881-2998 / 3881-4094 Psicologia (L. Laura Lana)Telefone da Policlínica: 3877-552812h às 18h GRUPOS DE APOIO INDEPENDENTESPensadores inconfi dentes (mariana)Curso preparatório para o ENEm (Exame Nacional do Ensino médio)Contato: Bruno Jhonatan Costa Lima

Telefone: 31-99300-7824Email: [email protected]: https://www.facebook.com/groups/960987290621987Caravana Territorial da Bacia do Rio doce (mariana)denúncias sobre violação de direitos e impactos ambientaisContato: morgana maselliTelefone: (21) 2253-8317 (ramal 246/231) / 98805-0561Email: [email protected] margarida Alves (Belo Horizonte)Assistência JurídicaSite: http://coletivomargaridaalves.org/Facebook: https://www.facebook.com/coletivomargaridaalvesap/?fref=tsEmail: [email protected]ço: Av. Francisco Sales, nº 531, Bairro Floresta - Belo HorizonteTelefone: 31-3889-2013

CONTATOS ÚTEIS

Realização: Atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão/mariana | Apoio: #UmminutodeSirene e iCSA/UFOP | Editor: Gustavo Nolasco | Colaboradores: Adelaide dias, Ana Cristina maia, Ana Elisa Novais, Airton Sales, Elke Pena, Emilio Carlos, Fernanda Tropia, Gislene Cardoso, Flávio Roberto Barbosa, isabella Walter, José Estevão martins (Zezé), Juçara Brittes, Kleverson Lima, Letícia Oliveira, Lucas de Godoy, Lucimar muniz, Luiza Geoff roy, madalena das dores, maria do Carmo da Consolação, marinalva Salgado, marília mesquita, marlene Agostinha martins, marlene martins dos Reis, manoel marcos muniz, mauro marcos da Silva, mônica dos Santos, milton Sena, Rodolfo meirel, Sérgio Papagaio, Silvana dutra, Silvany diniz, Stenio Lima| Fotografia: Ana Elisa Novais, Lauro morais, Lucas de Godoy, Rodolfo meirel e Stenio Lima | Projeto Gráfico/Diagramação: Lara massa, marilia mesquita, Silmara Filgueiras, Stenio Lima | Revisão: Ana Cristina maia, Ana Elisa Novais | Agradecimentos: Carlos Barbosa (Bié da Campina), Elias Souza, Gladismar inácio, Kleverson Lima, maria das Graças Quintão, maria José Horta Carneiro (Lilica), movimento dos Atingidos por Barragens - mAB, Padre Geraldo martins, Rádio Brota, Simária Quintão, Terezinha Lino, Th iago Alves, Wilson miliano dos Santos (Seu Nonô)| Impressão: Sempre Editora | Tiragem: 2.000 exemplares | Contato: [email protected].

EXPEDIENTE

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Onde e como estão sendo tomadas as decisões sobre nossos direitos?Nas reuniões com a Samarco e a Comissão dos Atingidos, em assembleias públicas com todos os atingidos e dentro da Ação Civil Pública que nós do ministério Público ajuizamos. Nela, o acordo foi: R$ 20 mil a cada família. R$ 10 mil como verba de manutenção e R$ 10 mil de adiantamento da indenização, cujo valor fi nal ainda não foi estipulado. desses valores, R$ 10 mil serão descontados do valor futuramente, mas os outros R$ 10 mil não podem ser descontados. da mesma forma com as indenizações das famílias que perderam parentes. Elas receberam um adiantamento de R$ 100 mil. As famílias que não receberam esses valores ainda podem requerê-lo, mas se entraram com ações individuais terão que esperar a liberação. É importante frisar: o que não foi decidido ainda pode entrar em outras audiências. É preciso que todos participem das reuniões e acompanhem as negociações.

Uma pessoa que cultivava algum produto e vendia, mesmo que informalmente, também pode receber o cartão, já que perdeu sua renda?Essas são situações que ainda precisam ser analisadas caso a caso. Pode acontecer de a pessoa ter perdido uma parte ínfi ma, por exemplo, menos de 10% da sua renda.

Esses casos não entram agora na ação coletiva. Agora, se uma pessoa teve comprometida uma parte signifi cativa da sua renda nessa produção rural, ainda que ela tivesse outro emprego, ela tem direito ao cartão. infelizmente, ainda não foi estabelecido um percentual signifi cativo e fi xo para essa questão da perda de renda. mas todas as situações precisam ser analisadas, porque uma pessoa que recebia salário mínimo e perdeu parte dessa renda tem muito mais prejuízos que aquela que recebia R$ 10 mil e teve comprometido 10% de seus rendimentos.

Temos direito a requerer mudança nesse tempo em que estamos em casas alugadas?A empresa tem que arcar com os custos quando houver qualquer problema e uma justifi cativa, seja por questões de saúde, problemas graves com a moradia ou qualquer outro motivo que justifi que a mudança de residência. A Samarco se comprometeu a assegurar moradia adequada, e em um caso como o da dona Efi gênia do Bento, cujo imóvel foi condenado pela defesa Civil, foi necessário realizar a mudança. Em uma situação de saúde, por exemplo, se a pessoa vai fazer uma cirurgia e não pode mais conviver em um apartamento, mesmo que tenha escolhido um na pressa de sair do hotel, ela tem direito a mudar.

O direito de entenderPor Maria do Carmo da Consolação (Carminha), Manoel Marcos Muniz, Mauro Marcos da Silva, Mônica dos SantosCom apoio de Ana Elisa Novais e Letícia OliveiraRespondido por Guilherme Meneguin

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Abril de 20164 A S I R E N E

Por Milton Sena, Mônica SantosApoio de Ana Elisa Novaes

Reunião Pública Geral dos Atingidos de Mariana/Samarco/Ministério PúblicoForam trazidas respostas sobre as cobranças realizadas na última reunião geral. Já foram indeni-zados 57 veículos. Serão pagas as contas de luz de novembro 2015 a janeiro de 2016 (vencimento em fev/16). Os boletos bancários de dívidas contraídas antes do dia 05/11/15 também serão pagos, inclusive as multas por atraso de pagamento e parcelamentos. Cobramos respostas pelo não cumprimento de acordos judiciais de dezembro/Janeiro. Foi-nos colocado que 08 casos aguardam reunião com ministério Público/Secretaria de Ação Social.Cobramos a contratação de equipes técnicas especializadas e indicadas pelos atingidos, o que será considerado e estudado de acordo com a necessidade de cada programa (no caso das indenizações, assessoria jurídica, por exemplo). Cobramos a necessidade de que as negociações sejam somente coletivas, e assumimos o compro-misso de defi nir regras gerais e só depois partir para os casos individuais. Cobramos a divulgação do estudo de impacto em caso do rompimento da barragem de Germano. Ficou decidido que esse estudo será apresentado na reunião de 28/04/16, a todos atingidos, às 18h no Centro de Convenções.

MARÇO

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Agenda

Um Minuto de Sirene05Foi realizado o quinto ato #Um-MintutoDeSirene na Praça da Sé, em mariana. Projetamos o vídeo "É a lama, é a lama" na fachada da igre-ja da Sé, para mostrar que somos sim, todos atingidos: marianenses, mineiros, brasileiros. Lemos um manifesto, com algumas críticas sobre a situação atual. Abraçamos a causa do tombamento das áreas atingidas, para que a memória viva do que aconteceu ajude a impedir novas tragédias. Apoiamos atos de solidariedade dos atingidos.Para saber mais, acesse no Facebook: #UmMinutoDeSirene

ABRIL

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Passagem da Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce por Barra LongaReunião do MAB com o Ministério Público Federal e CIMUS - 14h - Câmara municipal de mariana - Objetivo debater pautas dos atingidos

Reunião Grupo de Trabalho de Ponte do Gama (16h) e Bento Rodrigues (17h) - Escritório dos AtingidosReunião de negociação de Paracatu, Ponte do Gama, Pedras, Campinas e Camargos com a Samarco e o Ministério Público - 18h - Centro de ConvençõesPassagem da Caravana Territorial por Rio Doce e por Santa Cruz do Escalvado

Culminância da Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce - de 8h às 19h - Praça dos Pio-neiros - Governador Valadares

Reunião Grupo de Trabalho de Ponte do Gama/Samarco - 10h - Casa de dona Terezinha - Ponte do GamaAto Público da Caravana Territorial da Bacia do Rio doce - 9h - Praça dos Pioneiros - Go-vernador Valadares

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Reunião Pública Geral dos Atingidos de Mariana/Samarco/Ministério Público

Reunião da Comissão dos Atingidosiniciaram-se no dia 02 de abril as negociações entre a Comissão dos Atingidos, mP e Secre-taria de Assistência Social para defi nir o destino do restante do material das doações. Ficou decidido que deveriam ser postos à disposição dos atingidos no período de 02/04 a 15/04. depois fi cariam à disposição das instituições (APAE, Figueira, dentre outras) por uma sema-na. Na sequência, para as Associações Comunitárias e por fi m às famílias carentes assistidas pela Secretaria de Ação Social. Toda a distribuição será feita pela Comissão dos Atingidos, com apoio da Samarco.

Esta reunião tratou da apresentação das conclusões sobre os terrenos para reconstrução do Bento, sendo marcado para o fi m de semana de 09/04/2016 para visita aos locais. Sobre o restante da pauta não houve decisão, fi cando a vaga promessa de que "vamos providenciar".

Reunião interna da Comissão dos Atingidos - 18h - Escritório dos AtingidosReunião Grupo de Trabalho de Paracatu - 19h30 - Escritório dos Atingidos

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Reunião interna da Comissão dos Atingidos - 18h - Escritório dos AtingidosReunião Grupo de Trabalho de Paracatu - 19h30 - Escritório dos Atingidos

Audiência Pública sobre o processo de tombamento das localidades de Bento Rodrigues e Paracatu – 18h – Centro de Convenções

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02 Reunião interna da Comissão dos Atingidos - 18h - Escritório dos AtingidosReunião Grupo de Trabalho de Paracatu - 19h30 - Escritório dos Atingidos

05 Reunião de Negociação dos atingidos de Bento Rodrigues/Samarco/Ministério Público - 18h - Centro de Convenções

09 Reunião interna da Comissão dos Atingidos - 18h - Escritório dos AtingidosReunião Grupo de Trabalho de Paracatu - 19h30 - Escritório dos Atingidos

12 Reunião Grupo de Trabalho de Ponte do Gama - 16h - Escritório dos AtingidosReunião Grupo de Trabalho de Bento Rodrigues - 17h - Escritório dos AtingidosReunião de negociacão dos atingidos de Paracatu, Ponte do Gama, Pedras, Campinas e Camargos com a Samarco e o Ministério Público - 18h - Centro de Convenções

1614 Reunião Grupo de Trabalho de Ponte do Gama/Samarco - 10h - Casa da dona Terezinha -

Ponte do Gama

Reunião interna da Comissão dos Atingidos - 18h - Escritório dos AtingidosReunião Grupo de Trabalho de Paracatu - 19h30 - Escritório dos Atingidos

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Reunião Grupo de trabalho temático de Bento Rodrigues - 17h - Escritório dos AtingidosReunião Pública Geral dos Atingidos de Mariana/Samarco/Ministério Público - 18h - Centro de Convenções

Reunião interna da Comissão dos Atingidos - 18h - Escritório dos AtingidosReunião do Grupo de Trabalho de Paracatu - 19h30 - Escritório dos Atingidos

Reunião de negociação dos atingidos de Bento Rodrigues/Samarco/Ministério Público - 18h - Centro de Convenções

30 Reunião interna da Comissão dos Atingidos - 18h - Escritório dos AtingidosReunião do Grupo de Trabalho de Paracatu - 19h30 - Escritório dos Atingidos

MAIO

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Reunião Grupo de Trabalho de Bento Rodrigues - 17h - Escritório dos AtingidosReunião Pública Geral dos Atingidos de Mariana/Samarco/Ministério Público - 18h - Centro de Convenções

Tribunal Popular dos Crimes Contra Mineração - 9h às 18h - Assembleia Legislativa de mi-nas Gerais - Belo Horizonte

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A gente explicaReparação: 1. fazer igual ao que era antes.

Sirene: 1. o que a empresa deveria ter colocado antes do rompimento 2. barulho que nos alerta para o perigo 3. meio utilizado para avisar as pessoas de algum perigo 4. alerta que alguma coisa está acontecendo.

Tombamento: 1. um direito e desejo nosso para que possa manter vivo o que passamos e nossa história 2. cuidado com o que temos de preservar 3. reconhecimento e proteção do patrimônio que a gente tem.

União: 1. associação ou combinação das pessoas que querem uma coisa importante pra elas 2. o que devemos ter daqui pra frente, agora mais que nunca 3. de todos nós para um mundo melhor.

Amor: 1. sentimento expressado pelas pessoas 2. é o que eu sinto pelo Bento 3. pela natureza 4. é o sentimento mais bonito de todos.

Comunicação: 1. o nosso jornal A SIRENE 2. coisa muito importante entre as pessoas 3. ação de emitir e receber mensagens, importante para esclarecer todo mundo.

Compensação: 1. fazer coisas que não tinha antes para compensar o que a empresa não irá conseguir fazer

Coragem: 1. capacidade de agir, apesar do medo 2. o que os moradores tiveram para correr da lama 3. defender muito o que nos interessa e no que acreditamos.

Desapropriação: 1. perda da propriedade 2. mais um ato covarde da empresa com a gente 3. uma triste possibilidade 4. uma triste realidade.

Dique: 1. uma desculpa para não falar que é uma barragem 2.

por causa do rompimento 3. obra da engenharia para conter a água, ou seja, barragem.

Meio ambiente: 1. a lama arrastou com ela 2. lugar que deve ser preservado 3. local em que vivemos, que envolve todas as coisas vivas e não vivas

Organização: 1. combinação de esforços individuais para realizar uma vontade coletiva 2. precisa ter em qualquer ambiente 3. saber que temos força se for nós tudos juntos.

Pastagem: 1. pedaço de terra que alimentava os animais 2. lugar bom de olhar os bichos pastando 3. lamentos para os animais.

Preservação: 1. ação de conservar e cuidar do que já existe 2. o que precisa ter em qualquer ambiente 3. o que ninguém pode esquecer.

Recomeço: 1. começar tudo de novo 2. só vai acontecer quando estiver no novo Bento 3. para uma vida melhor 4. uma palavra que eu falo todo dia.

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Projetandoesperança

Sábado à tarde. Na cozinha a broa, a brevidade, o queijo e o café esperam pelos poucos moradores do Gama. Sem a praça, a igreja e a associação comunitária, destruídas pela lama, o quintal de dona Terezinha acolhe os vizinhos ansiosos para discutir a reconstrução. Todos querem de volta a igreja. Alguns uma antena de celular, outros apenas o calçamento que diminua a poeira da estrada. A cachoeira hoje marrom e estéril é a grande dúvida: será um dia recuperada?

Por Milton SenaCom apoio de Adelaide Dias , Ana Cristina Maia, Isabella Walter, Rodolfo Meirel e Silvana Dutra

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REINVIDICAÇÕES“Para o processo de reconstrução, foi escla-recido que existem dois tipos de reivindica-ções: a reparação, que significa fazer igual ao que era antes e a compensação fazer coisas que não tinha antes para compensar o que a empresa não irá conseguir fazer. Os senti-mentos, o rio, isso ela não consegue trazer de volta. O rio, por exemplo, vai demorar mui-to.”

O COLETIVO“Procurem ver o que vai ser mais coletivo, aí a gente trabalha dentro disso. Aqui a gen-te vai exigir muita coisa e tem que se saber dentro desse monte de coisa o que realmente é nosso direito e o que não é.”

O PROJETO“ Nosso projeto não é muita coisa. A gente quer tudo de novo: a nossa praça, no mesmo lugar, com igreja, salão, comunitario arena para calvagada. Um dos motivos que fizemos isso é para reforçar a área de lazer, que era a nossa praça, para tentar de novo conquistar a auto estima de todos, como nós que mo-ramos aqui e também daquelas pessoas que sempre vem na nossa comunidade para não dar espaço para ficarmos lembrando do fato que ocorreu”.

PERDAS“A gente tem que pedir indenização psicológica.Tem a parte de danos morais que a gente já pensa muito. danos morais no caso nosso aqui é ficar sem a cachoeira, é ficar sem diversão que atingiu a comunidade toda. muita gente não leva isto a sério, mas é muito sério. Aqui tem a festa Gamense ausente. O pessoal todo vem e reúne lá em baixo. Esse ano a gente tá tentando fazer cavalgada e refazer a festa, mas a gente sabe que vai ter uma certa dificuldade, entendeu? Porque a gente não tem mais o local de festa, pelo menos por enquanto.”

A CACHOEIRA“A cachoeira nunca, né? Como ela (empresa) vai trazer as pedras pra colocar lá? As pedras que existia lá? Nunca mais. A pedra era em-baixo da ponte. Assim: ela era rosada, solta em cima da cachoeira. Ela era um triângulo, tinha uma pontinha pra cima, uma de lá e de cá, ela foi cortada pela natureza, mas a lama levou ela e ela foi embora”.

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Não morava lá? Não tem direito!

Atingidos dos distritos de Pedra, Campinas e Ponte do Gama re� etem sobre a situação em que se encontram: apesar de muitas perdas, seus direitos não são devidamente reconhecidos

Por Flávio Roberto Barbosa, Carlos Barbosa, José Estevão Martins, Marlene Agostinha MartinsCom Apoio de Adelaide Dias, Ana Elisa Novais

Seu Bié: Eu vivi aqui 64 anos. O lugar que a gente foi criado é lugar que a gente gosta de fi car, né?

marlene: Tem hora que cê fi ca assim, triste! Porque aqui era o cantinho da minha mãe, da gente. Ela morava aqui há 75 anos. Ela nasceu naquela casa lá. A vida dela foi toda aqui, teve 7 fi lhos. Seu Nonô: Eu criei dez fi lhos ali. Eu mexia com roça. Levantava de manhã cedo; a mulher mexia com horta, com as galinhas dela, mexia com um trem e eu mexia com outro. mas agora, eu vou falar a verdade para você, minha vida ali acabou! Aquele trem acabou todo uai!

Flávio: O que é que pai perdeu? Perdeu cerca, porteira, pastagem; em outro lugar perdeu cana e capim prás criações; cerca, pomar, banana, jabuticaba, laranja. Poucas, mas perdeu tudo!

madalena: No meu caso aqui. Eu não perdi carro, nem negócio, mas acabamos perdendo a praça. Então, fui atingida, como posso dizer, indiretamente. Não

perdi minha casa e nem minha criação, mas perdi minha praça onde eu podia tá jogando uma bola lá, né?

Flávio: Quando estourou a barragem, aqui fi cou sem luz, sem o caminhão de leite que pega o leite do pessoal, sem acesso a pé e tudo. Não passava, tinha que passar no meio do mato, longe!

Seu Nonô: Prá passar lá ta ruim demais, uai! Cada vez que passa lá nós estão é afundando. Atrapalhou tudo, uai. Num vai fi car a passagem boa igual era era mais não!

marlene: Sem pensar também nessa passarela que eles fi zeram ali. Ela tá baixa, antes ela era alta. E se vier uma enchente e levar ela embora? E aí minha mãe vai fi car aqui e se ela fi car doente, como que vai levar ela? É isso que eu fi co pensando.

Flávio: A primeira vez que eu reclamei, o pessoal falou assim ‘você não reclamou’...só sei te falar que é mentira, eu reclamei muitas vezes. defesa Civil, escritório. ‘Seu pai não reclamou’, então

levei meu pai e não resolveu. Não fi zeram nada por pai, não foi falta d’eu reclamar. Agora não sei porque pai tá mais isolado.

Seu Bié: muita gente fala, ‘mas vocês não fi zeram nada!’ Eu fi z, mas eles não deram, o que que eu vou fazer? Uai, tirar dinheiro à força não tem jeito! A gente tem que esperar com paciência, né? Às vezes deus ajuda.

Seu Nonô: Lá não tem água. Aonde é que minhas vacas vão beber água? Eu acho que eles tem que entrar em acordo, tem que medir aquele terreno todo e me dar outro terreno!

Seu Bié: É, por enquanto nem um centavo. Nada, nada! Perdi muita coisa.Tinha casa, a casa foi embora.

Seu Nonô: Eu acho que eu não vou alcançar aquele trem consertado mais não. Aquele trem não vai sair capim ali que presta mais não. Cada dia eu to vendo só descendo lama naquele rio, eu não to vendo consertando aquele trem ali não”.

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"Eu vinha pra toda a parte, mas eu não andava tanto a pé assim. Depois que minha mula morreu me azarou, porque eu vinha de galope."Seu Nonô, morador

de Pedras

“Ah! Seu pai não tem direito ao cartão, seu pai

não tem direito à indenização

porque não morava lá”. Não

morava mas trabalhou a vida

toda.Seu Bié, morador

de Campinas

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Estamos aqui, mas...

Por Airton Sales e Gislene Cardoso

Com o apoio de Elke Pena, Silvana Dutra, Silvany Diniz e Stênio Lima

16 de novembro de 2015: volta às au-las. Foi assim que a diretora da Escola municipal de Paracatu de Baixo pas-sou a ser recebida pelos alunos, ins-talados na Escola dom Luciano, em mariana, depois da tragédia.

Com o retorno das aulas em 2016, as atividades da escola de Paracatu foram transferidas para a Escola municipal do morro Santana.

Gislene, diretora - Foi horrível. deus sabe. Eu estava em Paracatu há 9 anos, conhecia todo mundo. Era um am-biente bem família mesmo. Foi uma coisa incrível. Na primeira vez que vol-tei, tinha a esperança de conseguir pe-gar alguma coisa. Os professores estão indo lá e buscando os livros, mesmo que a Secretaria de Educação não per-mita. A Secretaria não quer assumir o risco de ir lá, porque depois acontece alguma coisa com a gente lá dentro.

Airton, ex-aluno - Se não caiu ainda, não cai mais. O problema é que as pes-soas tem ido lá e pegado outras coisas. Os armários estão arrebentados onde tinha cadeado. Levaram fogão, gela-deira, freezer e caixa de energia. mas o que tinha de buscar eram os livros, né.

Gislene, diretora - Nós ganhamos muitos livros, mas buscamos também. João Paulo foi e trouxe o de Alice. Alice e Ana maria trouxeram mui-tos. mas não chega nem na metade da metade do que tínhamos lá. Era tudo novo. Tínhamos adquirido 30 mil re-ais em materiais em agosto. Remonta-mos a escola toda. Tudo que você ima-ginar em uma escola, lá tinha, mas nós perdemos tudo. Ficamos uma semana sem aula. Quando voltamos, o assun-to dos alunos era só esse. Barragem. Eles estão bastante desorientados”.

Airton, ex-aluno - desde que comecei na escola, eu estudei lá, né. depois fi -quei de voluntário. Ali era uma difi -culdade danada. Pra criança é muito difícil, mas pra gente que teve uma história ali também é. Gislene, diretora - A escola era refe-rência. Nas nossas reuniões, a gente frisava isso. Estamos aqui. mas este não é o nosso lugar. Não vou falar que estamos bem aqui, mas dá pra levar a nossa vida; educar nossas crianças; continuar lutando para que o aprendi-zado delas aconteça. mas o nosso so-nho é voltar para Paracatu, pra onde a comunidade for.

“Gislene, você viu o que aconteceu? Acabou com nosso Paracatu”.

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...este não é o nosso lugar

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Por Madalena das Dores, Marinalva SalgadoCom apoio de Lucimar Muniz, Marília Mesquita, Silvany Diniz e Stênio Lima

Os cães e os gatos que vieram dos locais atingidos pela lama da barragem e não foram identi� cados pelos seus donos, estiveram em campanha para adoção, em Mariana.

Adota-se um melhor amigo

Sempre gostei de cachorro, gato, cavalo. Sou amante dos animais. Quando vejo um abandonado ou machuca-do, meu coração corta de tristeza. Quando vi aqueles cachorros, pequenos no ta-manho e grandes na vontade de viver e de ser feliz, eu não aguentei. Sobre o meu rosto escor-reram lágrimas de felicidade. Fico satisfeita em poder ver que depois de tanto sofrimento vivido no 5 de novembro de 2015, alguns podem hoje começar uma nova história. Também fi co feliz com a quantidade de pes-soas que foram adotar esses animais: isso mostra que ainda podemos mudar muita coisa em nossa cidade.

Fico triste em ver as carinhas deles tão abor-recidas, com o olhar tão distante. Os animais não sabem falar, mas eu pude ver que estão sofrendo. A cada pessoa que passa, eles balançam o rabinho na esperança de serem adotados.mostram felicidade para conseguir. mas depois de tanto tentar alguns simples-mente deitam e fi cam com os olhos baixos. Não signifi ca que eles tenham desistido, mas que não querem sofrer mais.O cachorro é o melhor amigo do homem. E hoje, a única coisa que desejam é que o homem seja amigo dele de verdade.

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Enquanto isso...

O pessoal, assim de Campinas, tinha uma

chacrinha, uma criaçãozinha, seu animalzinho. Acabou

tudo, né?” Flávio de Seu Bié

Na edição passada de A SiRENE, retratamos a união dos moradores de Ponte do Gama, comunidade atingida pela lama da barragem, no momento em que ajudavam Lilica a salvar sua vaca. depois de horas, conseguiram. desde a destruição, o local nunca foi sinalizado ou recuperado pelos responsáveis pelo derramento da lama.Sem uma cerca para impeder o avanço dos animais sobre o que antes era o pasto onde se alimentavam, dois dias depois, a vaca atolou novamente. Agonizou por várias horas. morreu na lama. Não teve feira de adoção que salvasse uma das melhores amigas de Lilica.

O pessoal, assim de Campinas, tinha uma

chacrinha, uma criaçãozinha, seu animalzinho. Acabou

tudo, né?” Flávio de Seu Bié

Page 16: Jornal A Sirene Ed. 2 ABRIL

Concebida: Cumadi, este negócio deste barro da Samarco é um trem doido.Clemilda: É mesmo, cumadi.Concebida: Cê viu que tanto de gente que tá doente depois deste barro? doente do corpo e da cabeça. É dengue, é zica, e chico bunha.Clemilda: A moça dos médico populá diz que é um musquito que morde sem pará e causa a coisa que nus faz chorá.Concebida: Por causa deste barro tem gente bebeno cachaça pra daná, bebe da hora que o sol clareia até a noite entrá.Clemilda: É homem de bem que da roça foi tirado. Olha o cumpadi malaquia, aqui no mato quase nem bibia, na cidade bebe todo dia.Concebida: Pur que num vorta pro mato e mora lá?Clemilda: Sua casa sumiu debaixo do barro, sua muié foi pra Sumpaulo, seu fi o, Gustavo, tá fumano um outro tipo de cigarro. E marinha, a mais novinha, prenhô-se dus hômi da compania, e não sabe se é di João, di Zé, di isac, ou di Zacaria.Concebida: Cadê ês?Clemilda: Foi simbora prá Alegria.Concebida: Que tristeza! Cruiz Credo... Ave maria!Clemilda: diz que sa fía Luzia tá largano a famia!Concebida: Já largô, faz uns dia.Clemilda: E cumpadi Zé Geraldo me parece desligado, anda falano com o gado, tá bebeno fi ado, durmino no assoaio e contano com o canário.Concebida: Uns diz que tá lôco,outros que é só um pôco. disse Jurema que parece que entrou barro em seu côco.

Clemilda: Uai, dá pra entrá barro no côco d’um hôme?Concebida: Acho que sim. Entrô barro na minha casa, entrô barro no meu guarda-ropa, entrô barro nos meus sonho, entrô barro na minha vida, entrô barro na minha esperança... num vai entra barro num côco?Clemilda: Esse barro é do diabo, até onde num têm ele leva.Concebida: É mes! Óia o park de exposição... foi ele que levô…Clemilda: Esse barro faz tussí, dona maria; e coçá dona Geralda. Até aquela menina bunita, a tar da Jéssica, ispirra que é uma daneira. Tão falano que é da pueira, quando venta sobe uma nuve, com cheiro de esterqueira.Concebida: Cumadi, mas que danera!!!! Nós num pode vivê dessa manera!!! Oia, o povo do Gesteira, da mandioca, do Barreto, da Barra e do São Gonçalo... é tudo um povo só!Clemilda: É igual a mariana, Bento, Gama, Paracatu, Pedras e Campinas.Concebida: Esse povo não se deve amufi ná. Somos tantos, que devia se ajuntá, prá cabá cum estas duença, prá elas com a gente não acabá.Clemilda: É duença du corpo e da cabeça, que mata o povo e faz o povo se matá.Concebida: A cumadi qué mi contá que tem gente querendo se suicidá? Clemilda: É isso que eu quis falá. Tem coisa neste barro que faz a gente indoidá.Tem fi o bateno ni mãe, sem depois s'alembrá.Concebida: Será que tá fartano é rezá? Clemilda: Cumadi, nois pricisa di rezá: mas é prus hôme que ganha dinheiro sem se preucupá se a gente vai se daná.

Papo di cumadiMaria Concebida e Clemilda estão comovidas pela repentina mudança em suas vidas.

POR SERGIO PAPAGAIO