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Inquerito 432

Mar 01, 2016

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EDITORA LEXIA

Carolina Medeiros de apenas 8 anos é raptada por criminosos quando voltava da escola. Daniela Soares, delegada recém-chegada à Divisão de Referência de Pessoas Desaparecidos, tem em sua primeira missão, investigar esse caso e também o desaparecimento de outra garota, Isabela Ramos de 20 anos raptada pela mesma quadrilha.
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São Paulo - 2010

editora

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagramadores,

ilustradores, revisores, livreiros e mais uma série de profissionais responsáveis por

transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida

por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso

consentimento do autor.

Impresso no Brasil. Printed in Brazil.

© Editora Lexia Ltda, 2010. São Paulo, SPCNPJ 11.605.752/0001-00

www.editoralexia.com

editora

Editores-responsáveisFabio Aguiar

Alexandra Aguiar

Projeto gráficoFabio Aguiar

RevisãoBianca Briones

DiagramaçãoEquipe Lexia

B862i

Brito, Alisson Camilo

Inquérito - 432 / Alisson Camilo Brito. -- São Paulo: Lexia, 2010.

348 p.

ISBN:978-85-63557-19-3

1. Tráfico pessoa. 2. Exploração sexual. I. Título

CDD - 306.74

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Apresentação

Tráfico de pessoas significa o recrutamento, transporte, trans-ferência, abrigo e guarda de pessoas por meio de ameaças, uso da força ou outras formas de coerção, abdução, fraude, enganação ou abuso de poder e vulnerabilidade, com pagamento ou recebimento de benefícios que facilitem o consentimento de uma pessoa que te-nha controle sobre outra, com propósitos de exploração.

Isso inclui, no mínimo, a exploração da prostituição de ter-ceiros ou outras formas de exploração sexual, trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas similares à escravidão, servidão ou remoção de órgãos.

As brasileiras estão entre as principais vítimas do tráfico inter-nacional de pessoas para fins de exploração sexual, revelam pesquisas do Ministério da Justiça e do Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UNODC).

Elas têm, em média, entre quinze e vinte e sete anos e são ali-ciadas por taxistas, donos de boates e agências de modelo. Acabam mantidas em cativeiro e são obrigadas a pagar pelas passagens, ali-mentação e moradia. Endividadas e sem passaporte, poucas conse-guem fugir e procurar auxílio.

A atividade ilícita prospera no Brasil devido à desigualdade so-cial e econômica, característica dos países em desenvolvimento. As vítimas são, em sua maioria, de origem humilde sendo de Goiás, Pa-raná e Minas Gerais, respectivamente.

É uma atividade muito rentável. O tráfico internacional de pes-soas é tão sofisticado e complexo quanto o tráfico de drogas e armas,

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a corrupção e a lavagem de dinheiro. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é uma das atividades mais rentáveis do crime organizado, com uma movimentação financeira estimada em US$ 9 bilhões por ano.

http://www.jornalpequeno.com.br/2006/6/18/Pagina36550.htm

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Dedicatória

Primeiramente a Deus, que me deu o grande dom da escrita. A toda a corporação da Polícia Civil de Minas Gerais

A minha mãe Nena, que sempre esteve ao meu lado, em todos os momentos da minha vida. Ao meu irmão, a minha tia Adriana, eterna guerreira da família. Dedico também aos meus eternos amigos, Eder Rodrigo, o grande camaleão a minha amiga Kika e Carla Costa. Aos meus amigos de trabalho o farmacêutico Roniston Andrade, um dos maiores profissionais com quem já trabalhei, a minha amiga

Maria Karla Pereira e a extrovertida Márcia Marques.

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Sumário

Capítulo 1 – Vítimas ........................................................................... 11Capítulo 2 – Carolina Medeiros ....................................................... 15Capítulo 3 – A nova Delegada .......................................................... 21Capítulo 4 – Isabela ........................................................................... 27Capítulo 5 – O Primeiro Caso ........................................................... 31Capítulo 6 – Um Novo Desaparecimento ......................................... 37Capítulo 7 – O Início das Investigações ............................................. 41Capítulo 8 – O Cativeiro ..................................................................... 47Capítulo 9 – A Rua da Escola ............................................................ 51Capítulo 10 – A Segunda Investigação ............................................... 55Capítulo 11 – Uma Companhia .......................................................... 59Capítulo 12 – O Anúncio do Jornal ..................................................... 63Capítulo 13 – Uma Grande Amizade ................................................... 67Capítulo 14 – Novas Pistas ................................................................. 73Capítulo 15 – O Doloroso Castigo ........................................................ 81Capítulo 16 – Seguem as Investigações ................................................ 85Capítulo 17 – Um Agente Duplo .......................................................... 93Capítulo 18 – Noite de pesadelo ........................................................... 97Capítulo 19 – A Internet .................................................................... 103Capítulo 20 – A Grande Pista ............................................................. 107

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Capítulo 21 – A Falsa Clínica ........................................................ 111Capítulo 22 – Mudança nos Planos ................................................ 125Capítulo 23 – Queima de Arquivo .................................................. 129Capítulo 24 – Organização Ameaçada ........................................... 143Capítulo 25 – Mais um pesadelo .................................................... 147Capítulo 26 – Novos Indícios .......................................................... 157Capítulo 27 – Um falso Inquérito ................................................... 169Capítulo 28 – O Site ........................................................................ 177Capítulo 29 – Alvos da Internet ...................................................... 185Capítulo 30 – A Ajuda de um Criminoso ....................................... 191Capítulo 31 – Um Suspeito ............................................................... 197Capítulo 32 – Tentativa de Fuga ...................................................... 209Capítulo 33 – Uma Esperanças nas Investigações ........................... 223Capítulo 34 – Revelação ................................................................... 229Capítulo 35 – Presas Fáceis ............................................................. 237Capítulo 36 – Acesso ao Site ............................................................ 243Capítulo 37 – Com os dias Contados ............................................... 247Capítulo 38 – Somente Nove Dias ................................................... 253Capítulo 39 – Incentivo .................................................................... 259Capítulo 40 – Sem Esperanças ........................................................ 267Capítulo 41 – A Descoberta do Local .............................................. 275Capítulo 42 – A Autorização do Supremo Tribunal ........................ 287Capítulo 43 – Os Preparativos da Operação ....................................295Capítulo 44 – Mudança na Agenda ................................................ 301Capítulo 45 – Preparativo para a Operação ................................... 307Capítulo 46 – Operação Inquérito 432 ............................................ 311Capítulo 47 – O Reencontro ............................................................. 335Capítulo 48 – Marcas Eternas .......................................................... 337Capítulo 49 – A Outra Lei ............................................................... 341

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ESSA É UMA OBRA DE FICÇÃO EMBORA SEJA UM TIPO DE CRIME REAL. QUALQUER SEMELHANÇA COM

FATOS, NOMES, PESSOAS, LUGARES E EMPRESAS É MERA COINCIDÊNCIA

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Capítulo 1Vítimas

O negócio da exploração sexual de mulheres e me-ninas cresce no mundo de maneira incontrolável. Depois do comércio de drogas e de armas, é a ativi-dade mais rentável do crime organizado. O turismo sexual, a prostituição infantil e a pornografia, são as linhas principais desta lucrativa “indústria” presente em todos os cantos do planeta.1

São Paulo – SPEra uma noite fria na cidade de São Paulo. Uma linda

jovem chamada Sara caminhava em uma avenida pouco movi-mentada na volta do trabalho. No seu semblante, a expressão do cansaço do dia a dia. Em passos morosos, quando passava em frente a uma construção abandonada, escutou um som similar a um choro de um bebê. Ela pára imediatamente, para ter a cer-teza de que realmente ouviu aquele som. Ouvindo novamente, ela então resolve entrar nessa construção a fim de salvar aquela suposta criança. Caminhava um pouco receosa por um caminho escuro, cercado de tijolos. À medida que andava o choro era ain-da mais constante. Quando chega aos fundos dessa construção,

1 Fonte: “Tráfico e exploração sexual de mulheres e meninas no Bra-sil”, ensaio de Helena Pires e Tamara Amoroso Gonçalves, em: ultimainstancia.com.br

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vê próximo a um entulho, um cesto. Ela então se apressa, pois imaginava que a criança chorava de frio ou de fome. Chegando ao cesto e desembrulhando o suposto bebê, Sara tem uma gran-de surpresa. Era uma boneca enrolada em uma manta e debaixo dela um gravador com um choro. Ela percebe que caiu em uma emboscada e quando se vira já para deixar o local, leva uma forte pancada na cabeça desmaiando imediatamente.

Guarulhos – SPBianca aguardava ansiosamente pelo seu ônibus. Queria logo

chegar em casa após um dia inteiro de trabalho e faculdade. Na-quela noite enluarada, estava sozinha num local de pouca movi-mentação de pessoas e veículos. De repente, um carro branco para diante dela e a porta traseira do veículo é aberta. Lá dentro estava um homem branquelo, uniformizado com a farda da policia militar de São Paulo. Esse suposto policial a aborda:

– Boa noite!– Boa noite. – respondeu ela sem dar muita atenção.– Acabamos de prender um menor infrator na avenida próxi-

ma e precisamos de uma pessoa para testemunhar em nosso favor. Gostaríamos que fosse você.

A bela jovem ainda sem dar muita atenção responde:– Olha, senhor policial, estou muito cansada, trabalhei hoje

o dia inteiro, estou voltando da faculdade. Não me leve a mal, mas procure outra pessoa, por favor. Eu não sei de nada, eu não vi nada.

– Infelizmente, vou ter que te levar para testemunhar. Não con-seguimos encontrar outra pessoa. Se negar poderá ter problemas. – intimidou o policial branquelo.

A jovem percebendo que não tinha outra saída suspira fundo e pergunta inquieta:

– Esse testemunho vai demorar muito?– Claro que não! Prometo a você que é coisa rápida. Só quero

que preste o testemunho ao delegado, dizendo que nós abordamos esse infrator, sem agressões ou má conduta.

Vendo que não tinha como negar Bianca, dá outro suspiro e diz:

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– Ok, mas primeiro vou telefonar para minha mãe.– Ok, pode ligar até do meu celular se quiser. – ofereceu-se o

suposto policial.Bianca finalmente entra no carro. No momento em que li-

garia para a sua mãe de seu celular, o policial a segura pelo pes-coço e tampa a sua boca. Desespero total da moça. Um homem negro que estava na direção do veículo aplica no braço dela uma injeção. A jovem desmaia imediatamente.

São Paulo – SPAndando apressadamente pelas ruas do centro de São Paulo,

uma jovem morena chamada Beatriz é abordada de repente por um homem com uma máquina fotográfica na mão.

– Olá, menina linda. Trabalho em uma agência de modelos. Sou um caça talentos. Gostaria de se cadastrar?

Beatriz de início não dá atenção a esse rapaz e continua a caminhar.

– Vamos lá. Pode ganhar muito dinheiro com essa a sua beleza, desfilar em outros países e ter uma carreira de sucesso. – insistia o rapaz caminhando atrás dela.

Ao citar essas ofertas, a moça para e dá atenção a esse homem.– Onde é essa agência de modelo? – perguntou ela.– Aqui está o endereço. Pode ir a hora que você quiser.A mulher aceita o cartão e o rapaz ainda tira várias fotos dela.– Ok, eu te ligo. – disse a moça.– Estarei te esperando ansiosamente. – respondeu o rapaz com

um largo sorriso de satisfação.

Belo Horizonte – MGLarissa de apenas sete anos estava na internet num site de bate

papo de adultos. Estava em seu quarto e já era tarde da noite. Seus olhos estavam vidrados na tela do computador com o conteúdo da conversa. Jamais ela imaginaria o tipo de pessoa com quem dialoga-va. A conversa era a seguinte:

02: 41 AM Phavanello diz: Ainda não me disse o seu ende-reço, Larissa?

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02: 41 AM Larissa Fofa diz: Moro na Avenida dos Santos, n° 456, no Bairro das Rosas.

02: 41 AM Phavanello diz : Que bom que me disse! Não vejo a hora de te ver pessoalmente.

Belo Horizonte – MGDe dentro de um carro cinza, o homem branquelo, agora com

a farda da Polícia Militar de Minas Gerais, tirava várias fotos de uma linda garotinha que voltava da escola. A cada passo dela uma foto era tirada. Essa criança se chama Carolina Medeiros, uma das protago-nistas dessa história.

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Capítulo 2Carolina Medeiros

Perigo no caminho da escolaUma preocupação a mais para os pais e os educadores: atualmente, de cada quatro vítimas de sequestro uma é estudante2

Belo Horizonte– MG Levantar às 6h da manhã para ir à escola era a rotina diária

da linda e pequena Carolina Medeiros de apenas oito anos de idade. Menina meiga de olhar angelical, possuía uma beleza invejável, com o seu lindo cabelo negro, que contrastava com sua pele branca. Aparen-tava ter menos que oito anos, devido a sua baixa estatura, mas era mui-to inteligente e extrovertida. Carolina vivia somente com a sua mãe, pois o pai falecera de câncer há quatro anos. Levava uma vida bastante simples, numa casa muito pobre só no reboco. Eram muitas as dificul-dades financeiras, mas a sua mãe, Laura, sempre se esforçava para dar tudo aquilo que a filha necessitava.

Naquela manhã ensolarada, Carolina acordou com o som de seu despertador em forma de um sapo. Toda descabelada e com a cara amassada de sono, desceu da cama, calçou o chine-linho e já foi direto para o banho ainda se espreguiçando. Num banho rápido, senão se atrasaria para a aula, ela logo chega à cozinha onde Laura preparava o seu café da manhã, um simples

2 Fonte: Débora Jabour REVISTA EDUCAÇÃO – EDIÇÃO 95

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pão com manteiga assado na frigideira com um achocolatado. Agora bem mais disposta ela recebe os cumprimentos de sua bondosa mãe:

– Bom dia, minha princesa! Dormiu bem?– Bom dia, mamãe! Dormi sim. Igual uma pedra. Deitei tarde

ontem. Fiquei assistindo a um filme muito legal na TV. – disse Caro-lina começando a comer o pão servido pela mãe.

– Você ainda é muito nova para ficar vendo TV até tarde. Quan-do for assim me avise para eu ficar com você.

– A senhora não se lembra? Eu estava ao seu lado na cama quando você pegou no sono e me deixou sozinha. Aí desliguei a tele-visão do seu quarto e fui para sala para não te incomodar.

– Ah, é mesmo. É só eu deitar na cama que o sono já me pega. – disse a mãe servindo o achocolatado à mesa.

– Verdade verdadeira.A mãe assentando-se ao lado da filha diz:– Até agora você ainda não me mostrou suas notas escolares.Carolina engole o pedaço de pão toma o achocolatado e

responde:– Eu me esqueci. Mas já posso lhe adiantar. Tirei nota máxima

em geografia e oito em história. Mas em compensação, matemática, eu estou tendo dificuldades.

– Sério? Por que, minha linda? As matérias estão difíceis?– Matemática nunca foi o meu forte, a senhora sabe disso. Mas

calma, nada que eu, a Carolina, não consiga.– Eu sei que você capaz, minha princesinha. Tenho muito or-

gulho de você.– Obrigada. – respondeu ela com toda a sua meiguice. Se eu perce-

ber que não estou me saindo bem, entro em uma aula de reforço.– Claro. – apoiou a mãe. -É só me falar que eu faço um es-

forço para pagar. Mas agora ande logo, pois senão irá chegar atra-sada à escola.

Carolina termina de comer o pão, bebe de uma só vez o acho-colatado e se despede da mãe.

– Ok. Até mais. – Até mais, querida.

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A menina se despede da mãe com um beijo no rosto, coloca a mochilinha nas costas e deixa a cozinha.

Antes da filha deixar a casa pela porta da sala, Laura, de re-pente, põe a mão no peito e tem um estranho pressentimento. Ela imediatamente chama pela menina num tom alto:

– Carolina.Carolina para de caminhar imediatamente e pergunta da sala:– O que foi, mamãe?Laura chega até a sala olhando de uma maneira estranha para a

filha, ainda com a mão no peito. A menina vendo a mãe com aquele olhar diferente pergunta:

– Algum problema, mamãe?Laura demora alguns segundos para responder. Olhava para a

filha de uma forma preocupada. Ela então finalmente responde:– Não é nada, meu anjo. É que tive um estranho pressentimen-

to. Acho melhor eu ir hoje com você até à escola.– Não precisa, mamãe. Sempre encontro com minhas colegas

no caminho. Não há perigo.Laura abraça a filha com muito aperto e lhe dá um beijo

no rosto.– Ok, acho que foi só uma cisma minha. Vai com Deus.– Amém, mamãe. – responde a filha com o seu lindo sor-

riso singelo.Laura olhou para baixo ainda preocupada. O pressentimento

que ela sentiu foi algo inédito em sua vida.A escola de Carolina não ficava longe de sua casa. Logo no

caminho, como ela disse a mãe, encontrava-se com suas colegui-nhas e, juntas, brincavam e conversam até a escola. Mas nesse dia, Carolina era vista por outro tipo de pessoas. Poucos metros dali, um carro cinza com os vidros escuros a seguia sem que ela per-cebesse. Dentro desse carro dois homens. Um negro alto e forte que dirigia o veículo e o no banco de trás outro homem com uma tonalidade de pele alva, usando a farda da polícia militar de Minas Gerais. Eram os mesmos homens que raptaram Bianca no capítu-lo 1. Esse suposto policial tirava uma série de fotos de Carolina à medida que ela caminhava.

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O negro comenta com o colega branquelo:– Phavanello já está me enchendo o saco querendo essa meni-

na. Temos que pegá-la hoje sem falta!– Na saída da escola, vamos torcer para que ela esteja sozinha

nesse quarteirão, aí nos a pegamos. Acho que de hoje não passa. – disse o branquelo fardado.

Na aula, a tia Sandra, como era chamada pelos alunos, en-sinava o nome de alguns países para os alunos e as características de cada um deles, através de um grande mapa-múndi pendurado no quadro.

– A Europa possui quarenta e seis países. É o continente mais velho do mundo. Alguns desses países vocês já ouviram falar muito. Alguém pode me dizer alguns nomes?

– França! – disse uma aluna– Alemanha! – disse um aluno.– Holanda! – disse a adorável Carolina na primeira cadeira da

primeira fila.– Portugal! – disse um aluno chamado Rafael.– Itália! – disse outra aluna chamada Úrsula.– Isso mesmo, crianças. To vendo que vocês conhecem muitos

países. Parabéns! – elogiou a jovem professora.Carolina muito esperta responde:– É por causa da copa do mundo, professora. Aí fica fácil.A professora expressa um largo sorriso e comenta:– Viu como o esporte também é cultura na vida da gente? Fute-

bol faz bem, desde que não seja levado para o lado da violência.Uma aluna chamada Thais, pergunta a professora:– Tia Sandra, que números são aqueles do lado do mapa?A menina Thais se referia à tabela de horas de fuso horário

entre os países.– Ah tá. Esses números são os fusos horários entre os paí-

ses, ou seja, a hora aqui no Brasil é diferente da hora em outros países. Por exemplo, se agora aqui são oito horas da manhã, nos Estados Unidos agora deve ser uma hora da tarde, na Alemanha duas horas da tarde, no Japão umas sete horas da noite e por aí vai, entendeu?

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– Sim! – respondeu a aluna.Carolina nunca deixando suas dúvidas para traz pergunta:– E aqueles outros números, tia Sandra? O que são?Carolina se referia agora em relação ao código de área telefôni-

co de alguns países.– Esses números, Carol, são os códigos de área telefônicos

dos países. Ou seja, cada país tem um código de telefone corres-pondente para você discar para lá. Vou te dar um exemplo. Diga-me um país qualquer.

– Estados Unidos. – disse Carolina.– Estados Unidos. Pois então. Vamos supor que você tem um

parente nos Estados Unidos e quer ligar para ele. Você vem aqui nes-sa tabela, vê qual o código dos Estados Unidos que é o número um, disca esse número, mais o código de área onde seu parente está e por último o número telefônico, entendeu?

– Sim. Mas e se eu estiver lá e quiser ligar para o Brasil? Como faço?

– Fácil, Carol. Qual é o código do Brasil aqui nessa tabela?– Cinquenta e cinco.– Isso mesmo, cinquenta e cinco. Então se você estiver nos

Estados Unidos e quiser ligar para cá, vamos supor para falar com a sua mãe, você disca cinquenta e cinco, mais o código de área de Minas Gerais que é trinta e um, mais o número de sua casa, entendeu?

– Entendi, tia Sandra, obrigada. – agradeceu a menina com sorriso contagiante.

No fim da aula, após se despedir de algumas amiguinhas no portão da escola, Carolina caminha de volta para casa. Ou-tras crianças acompanhadas dos pais faziam companhia para ela até certo ponto do percurso e o restante, já próximo de sua casa, Carolina às vezes seguia sozinha. No carro o homem negro diz ao outro comparsa:

– Ela está sozinha hoje. É agora.Vamos!O carro se aproxima vagarosamente de Carolina e o suposto

policial militar abre a porta traseira e a cumprimenta:– Oi, menininha. Tudo bem?

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Carolina olha para policial, mas nada responde apressando o seu passo.

O carro lentamente anda atrás dela e o policial num tom au-toritário ordena:

– Menininha, eu estou falando com você! Olhe para mim!– Eu não falo com estranhos. – disse ela olhando para trás

rapidamente.-Eu não sou estranho. Sou um policial. Preciso lhe dizer algo

importante. É a respeito de sua mãe.– Minha mãe! – disse ela assustada parando imediatamente e

virando-se para o suposto policial.– Sim. Recebemos um comunicado da nossa central que sua

mãe passou mal em casa e... e... ela não está bem.– Mas... onde... onde ela está? – perguntou Carolina trê-

mula.– Está no hospital. Venha conosco.– pediu delicadamente o

suposto policialInocentemente a pequena Carolina entra no carro e ao se sen-

tar no banco traseiro o suposto policial diz:– Vamos lá, não vai doer nada.– Doer, como assim? – perguntou ela intrigada.Como fizeram com Bianca, o suposto policial segura a me-

nina com os braços e o negro aplica na coxa dela uma injeção. Em questão de segundos, Carolina adormece.

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