Informação, Afetividade, e Ação Ética (Parte 2) Daniel G. Campos dcampos @ brooklyn . cuny . edu Departamento de Filosofia Brooklyn College – City University of New York
Informação, Afetividade, e Ação Ética
(Parte 2)
Daniel G. [email protected]
Departamento de FilosofiaBrooklyn College – City University of New York
Afetividade e Percepção Afetiva - Sensações (feelings) - Emoções (emoções) - Sentimentos (sentiments) - Affordances carregadas de afetos (affect-
laden affordances)- Affordances sociais- Percepção afetiva
Affordances Carregadas de Afetos
• R. Atkins, “The New Sense, the Experience of Nature, and God's Providence” (2015).
• Conceito: Affordances carregadas de afetos (affect-laden affordances).
Affordances Carregadas de Afetos
• Três elementos das affordances carregadas de afetos:
(1) Affordance: Uma relação percebida entre as habilidades de um agente e as propriedades de um objeto ou um evento.
• Na percepção as propriedades desse objeto ou esse evento possibilitam (afford) uma oportunidade de ação.
Affordances Carregadas de Afetos
• Observações:
• Affordances no background da consciência como consequência da habituação.
• Podemos ter consciência das affordances quando elas se tornam salientes (salient)
Affordances Carregadas de Afetos
• Observações:
• Uma pessoa pode perceber eventos que disponibilizam oportunidades para outros.
• Os eventos podem nos oferecer oportunidades para manifestar aos outros propriedades nossas.
Affordances Carregadas de Afetos
(2) Envolvem um desejo de aproveitar a oportunidade possibilitada (afforded) – quando esse desejo existe, a affordance é relevante.
(3) Os afetos podem ser antecipatórios ou realizatórios.
Affordances Carregadas de Afetos
• Jonathan Edwards: Os afetos são sentimentos (feelings) intensos e duradouros ou persistentes (enduring) a respeito de fins ou planos de ação.
• Paixões: Intensas mas não duradouras• Wouldings (-ia): Duradouros mas não intensos
Affordances Carregadas de Afetos
- Os afetos antecipatórios dirigem-se a fins gerais ou eventos futuros – ex. Desejo agápico de ajudar nossos vizinhos; desejo erótico de conhecer o outro.
- Os afetos realizatórios se dirigem a eventos passados – ex. Gratidão aos pais ou professores.
Affordances Carregadas de Afetos
• Hipótese:• Em situações éticas como aquelas em relações de
cuidado interpessoal, existem affordances carregadas de afetos.
• Atencão a sensações, emocões e sentimentos, expressados psicocorporalmente (bodymindedly) pelas pessoas envolvidas nessas situacões, favorecem a percepção e ação éticas – o aproveitamento ético das affordances.
Viaje (Paz Fábrega, 2015)
• Pedro e Luciana se conhecem em San José e viajam para o vulcão Rincón de la Vieja:
https://www.youtube.com/watch?v=tQP66IitV8I
Affordances Sociais
• Sugestão da Prof. Mariana Broens:
• As affordances carregadas de afetos, quando interpretadas em concordância com outras teses da ecologia informacional, seriam casos especiais de affordances sociais.
Affordance Social
• Genealogia:
• Gibson, J. J. The Ecological Approach to Visual Perception. Boston: Houghton-Miffin, 1986.
• McArthur, L.Z. & Baron, R.M. Toward an Ecological Theory of Social Perception. Psychological Review, vol. 90, no. 3, 215-238, 1983.
• Broens, M. O conceito de Informação ecológica: contribuições para o estudo da natureza de habilidades complexas. 2015.
Affordance Social
• Proposta de Broens (2015):• Investigar “em que medida o conceito de affordance
social (enquanto possibilidade de ação que os corpos dos organismos oferecem diretamente a outros organismos) pode auxiliar a compreender aspectos de ações habilidosas complexas que envolvem capacidades de interação social colaborativa entre agentes, frequentemente atribuídas à posse de uma Teoria da Mente.”
Affordance Social
• Broens (2015):
• “Na teoria da percepção/ação, o conceito de affordance foi proposto por James Gibson (1986) para designar informação significativa disponível no ambiente e que propicia diretamente possibilidades de ação aos organismos, sem a necessidade de mediação de processos representacionais”.
Affordance Social“As diferentes substâncias do ambiente têm diferentes
affordances para nutrição e manufatura. Os diferentes objetos do ambiente têm diferente affordances para manipulação. Acima de tudo, outros animais propiciam (afford) um rico e complexo cenário de interações, sexual, predatório, de cuidado mútuo, de luta, de jogo, cooperativo e comunicativo. O que outras pessoas propiciam (afford) compreende todo o âmbito de significância social para os seres humanos. Prestamos especial atenção para a informação ótica e acústica que especifica o que a outra pessoa é, encoraja, ameaça e faz (Gibson 1986, p. 135; citado Broens 2015)”.
Affordance Social
• “McArthur & Baron (1983) esboçam uma concepção de affordances sociais segundo a qual, de maneira semelhante que a percepção de um moinho de vento revela invariantes estruturais e transformacionais, a anatomia dos agentes, suas características fisiológicas e a dinâmica de suas ações também revelam invariantes sociais (p. 221). Exemplos de invariantes sociais estruturais são a forma do corpo da espécie e as informações de hábitos coletivos presentes em seu nicho”. (Broens 2015)
Affordance Social
• “Invariantes transformacionais sociais, por sua vez, são as ações que revelam a dinâmica do organismo em atividades específicas de alimentação, gesticulação, cuidados mútuos, amizade, resposta a ameaças, dentre muitas outras. No caso específico das affordances sociais humanas, embora haja gestos específicos a culturas dadas, existem manifestações de emoção, especialmente nas expressões faciais como medo, alegria, surpresa ou raiva cujo significado é diretamente percebido”. (Broens 2015)
Affordances Sociais e Percepcão-Açaõ Ética
• Hipótese:• Em situações éticas como aquelas em relações de
cuidado interpessoal, existem affordances sociais.• Atenção a sensações, emoções e sentimentos,
expressadas psicocorporalmente (bodymindedly) pelas pessoas envolvidas nessas situacões, favorecem a percepção e ação éticas – o aproveitamento ético das affordances.
Dois Exemplos Marilienses
• Seu Antonio Pernambucano e a aluna da Univem.
• Indígenas caingangues e a professora da Unesp na rodoviária de Marília.
Sophie´s Choice: Resistência
https://www.youtube.com/watch?v=5_yRovTM8sY
Los lunes al sol(Fernado León, 2002)
• Santa, preocupado pela ausência do amigo, procura o Amador:
https://www.youtube.com/watch?v=shzlCVrMi74
The Mission(R. Joffé, 1986)
• O encontro entre o missionário jesuíta e os guaranis.
https://www.youtube.com/watch?v=lAoT2ktM2H0
Percepção Afetiva
• Das Leben Der Anderen (As Vidas dos Outros) • (Florian Henckel, 2006)
https://www.youtube.com/watch?v=4r9W-FjyYss
Percepção segundo Peirce
A percept (object) imposes its presence upon a perceptual awareness, and a perceptual judgment—a sign that purports to represent the percept—is formed as a result of the interaction between percept and perceiver.
Percepção segundo Peirce
This perceptual judgment in the perceiver’s mind is itself an uncontrollable hypothesis so as to the contents of the percept, and must itself be logically scrutinized, in the course of experience, for us to learn whether it does accurately represent the percept (1903 account of perception in Peirce, CP 7.619-636).
Percepção segundo Peirce
1.Percepto (objeto dinâmico)2.Awareness perceptiva3.Juízo perceptivo (signo; hipótese quanto ao
percepto) que traduz o percepto em percipuum (objeto imediato)
4.Interpretante (asseveração do juízo perceptivo que implica predição e responsabilidade) – cf. Santaella 2012, p. 119
Percepto
Três elementos psíquicos:
• Qualidade de sensação (feeling)• Reações contra nossa vontade• Elementos associativos ou generalizantes
– Santaella 2012, p. 120.
Percepiuum
Vivenciado em três níveis: • Qualidade de sensação (feeling)• Reação física, corpórea, sensória e sensual• Processo interpretativo de acordo com
esquemas gerais que colocam o percipuum nos fluxos contínuos de processos mentais.
– Santaella 2012, p. 121.
Interpretante
DGC:
Interpretante – as expectativas, disposições e inclusive hábitos para a ação que resultam da interpretação do juízo perceptivo – signo hipotético que representa o percepto.
Interpretante
Interpretante:
1. Emocional; 2. Energético; 3. Lógico.
(CP 8.333, 1904; CP 4.536, 1906)
Percepcão Afetiva
Hipótese –• Na percepcão afetiva, o interpretante
emocional tem prominência.• O interpretante resultante da percepcão
afetiva dispõe o agente semiótico para a ação, inclusive a ação ética.
• Esta ação é guiada principalmente por hábitos afetivos (sentimentos).
Percepção Afetiva
Questões –• O processo semiótico-perceptivo é não-
representacional em casos de percepção afetiva em situações éticas?
• O processo pode ser caracterizado como sentir-agir e não como sentir-pensar-agir?
• É compatível com ação no contexto de affordances sociais?
Roteiro de Pesquisa
1.Avaliação crítica do modelo deliberativo peirciano em termos de afetividade na percepção-ação ética.
2.Interpretação crítica da percepção-ação afetiva em termos peircianos.
3.Interpretação crítica da percepção-ação afetiva em termos de affordance social.
4.Articulação de uma abordagem integrada.
Síntese do Processo de Deliberação Ética
– 1. Ideais gerais– 2. Intenção geral de conformar conduta e ideais– 3. Regras de conduta: máximas práticas– 4. Resolução de ação numa situação específica– 5. Determinação: hábito efetivo na ação– 6. Reflexão sobre a ação vs. resolução,
intenções gerais, ideais gerais– 7. Reflexão sobre ideais gerais
Críticas ao Modelo Inicial
– Consistência vs. para-consistência dos ideais gerais.
– Dualismos razões-sentimentos devem ser substituídos por conflitos de sentimentos.
– Sentimentos (hábitos afetivos) admiráveis e recomendáveis como ideais gerais.
– Ocasiões com possibilidade de deliberar são relativamente poucas.
– Falibilismo afetivo é mais pertinente/relevante do que deliberação-reflexão.
Críticas ao Modelo Inicial
– Se o processo semiótico-perceptivo perciano for necessariamente representacionista, não daria espaço para o conceito de affordance social nem para a conexão direta entre sentir e agir.
– Estes conceitos expressariam eventos / situações éticas relevantes para a compreensão da nossa vida moral.
Un lugar en el mundo
• Ernesto visita o pai, Marco:
https://www.youtube.com/watch?v=CuJDPG9zR8M
Un lugar en el mundo
"Me gustaría que me dijeras cómo hace uno para saber cuál es su lugar. Yo por ahora no lo tengo. Supongo que me voy a dar cuenta cuando esté en un lugar y no me pueda ir. Supongo que es así. Ya va a aparecer. Todavía tengo tiempo de encontrarlo".
Yo de Marília no me quiero ir. Si me tengo que ir, quiero regresar.
Bibliografia
Adams, F. (2003). “The Informational Turn in Philosophy.” Minds and Machines, 13: 471–501.
Atkins, R. (2015). “The New Sense, the Experience of Nature, and God’s Providence.” Delivered at SAAP.
• Bateson, G (1986). Mente e natureza. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora.
• Boero, H. (2014). Charles S. Peirce: Claves para una ética pragmaticista. Pamplona: Ediciones Universidad de Navarra.
• Broens, M.C. (2015). “O conceito de Informação ecológica: contribuições para o estudo da natureza de habilidades complexas.”
• Campos, D.G. (2014). “Peirce’s Prejudices against Hispanics and the Ethical Scope of His Philosophy.” The Pluralist, 9(2), 42-64.
Bibliografia
Campos, D.G. (2015). “The Role of Diagrammatic Reasoning in Ethical Deliberation.”
Transactions of the Charles S. Peirce Society. Forthcoming. Ferreira A., M.E.Q. Gonzalez & J.G. Coelho (Eds.) (2004). Encontros com as Ciências Cognitivas, Volume 4. São Paulo: Coleção Estudos Cognitivos.
Gibson, J. J. (1986). The ecological approach to visual perception. Boston: Houghton Mifflin.
Gonzalez M.E.Q., M.C. Broens, & C.A. Aparecida (Orgs.) (2012). Informação, Conhecimento e Ação Ética. Marília: Cultura Acadêmica.
Gonzalez, M.E.Q., T.C.A. Nascimento, & W.F.G. Haselager (2004). “Informação e conhecimento: notas para uma taxonomia da informação.” Em A. Ferreira, M.E.Q. Gonzalez & J.G. Coelho (Orgs.), Encontros com as Ciências Cognitivas, Volume 4. São Paulo: Coleção Estudos Cognitivos, pp. 195-220.
Large, D. (2011). “O que é filosofia ecológica?” Kinesis, 3(5), 349-355.
BibliografiaMcArthur, L.Z. & Baron, R.M. “Toward an Ecological Theory of Social Perception.” Psychological Review, 90(3): 215-238.
Misak, C. (2004). “C. S. Peirce on Vital Matters.” The Cambridge Companion to Peirce. Ed. C. Misak. Cambridge: Cambridge University Press, 150-174.
Peirce, C. S. (1932-58). Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Vol 1 – 8. Eds. C. Hartshorne, P. Weiss, and A. W. Burks. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. (CP.)
Peirce, C. S. (1992-98). The Essential Peirce: Selected Philosophical Writings 1-2. Indianapolis: Indiana University Press.
Santaella, L. (2012). Percepção, Fenomenologia, Ecologia, Semiótica. Brasil: Cengage Learning.
S Silveira, L. & M.E. Q. Gonzalez. (2014). “Instinct and Abduction in the Peircean Informational Perspective: Contributions to Biosemiotics.” Em V. Romanini & E. Fernández (Orgs.), Peirce and Biosemiotics. Netherlands: Springer, pp. 151-169.
Trout, L. (2010). The Politics of Survival: Peirce, Affectivity, and Social Criticism. New York: Fordham University Press.