UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL NA REDE REGULAR DE ENSINO CURITIBA - 2008 Trabalho apresentado por Nádia Aparecida Poleto à SEED, durante o PDE. Orientador: Prof. Milton Carlos Mariotti
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INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL NA … · encantamento próprio dos professores pela arte do ensinar e do aprender. ... por todos nós que somos professores, ... precisamos
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Transcript
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
INCLUSÃO DE ALUNOS COM
DEFICIÊNCIA MENTAL NA REDE REGULAR
DE ENSINO
CURITIBA - 2008
Trabalho apresentado por Nádia Aparecida Poleto
à SEED, durante o PDE.
Orientador: Prof. Milton Carlos Mariotti
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
ORIENTADOR
Prof. Milton Carlos Mariotti
PROFESSORA PDE
Nádia Aparecida Poleto
Colaboradores: Professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) do Programa de Desenvolvimento
Educacional do Estado do Paraná (PDE) – 2007
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AGRADECIMENTOS
Ao agradecermos, corremos o risco de deixarmos de mencionar
nomes que fazem parte da extensa teia de relações que se
estabelecem ao longo da nossa vida, da nossa família e do nosso
trabalho e que contribuíram conosco para construção do projeto o qual
nos propusemos realizar. Assim, resumirei meus agradecimentos em
duas citações especiais: ao meu orientador nos trabalhos produzidos
no PDE, Professor Milton Carlos Mariotti, pela sua paciência, amizade
e competência; e, hoje e sempre, a Deus que em sua infinita bondade
colocou em meu caminho, pessoas ímpares, cujos nomes guardo-os
com muito carinho em meu coração.
A vocês com quem tive o privilégio de conviver e amar, muito
obrigada.
Nádia
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Dedico este trabalho a todos os meus alunos especiais, no sentido mais amplo
da palavra, que a cada desafio vencido, a cada abraço dado, a cada choro
consolado, a cada sorriso iluminado e a cada olhar renovavam em mim o
encantamento próprio dos professores pela arte do ensinar e do aprender.
Com a lição de vida de vocês, meus queridos, eu aprendi muito nesses 21
anos de profissão.
Obrigada.
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Do ponto de vista da Religiosidade, o que
nos assemelha é a crença de sermos todos filhos de Deus.
Do ponto de vista social e filosófico, o que nos assemelha é o fato de sermos
todos diferentes. Nádia Poleto, 2008.
CLU
COMO?
SÃO...
IN
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PREFÁCIO
Neste trabalho, gostaria de dialogar com vocês de professor
para professor, sem a pretensão de responder a todas as questões que
o tema “inclusão” possa envolver, nem tão pouco apresentar receitas
prontas (pois sabemos que o sucesso delas, depende de quem “põe a
mão na massa”), mas sim, de suscitar novas inquietações que
estimulem a busca de ações, por todos nós que somos professores,
especialistas ou não, direcionadas à contribuição efetiva do sucesso
escolar de nossos alunos.
Quem é que não se lembra do seu primeiro dia na escola, como
aluno? Relembre os sentimentos de expectativa, ansiedade,
curiosidade e medo do desconhecido. E como professores, não são
exatamente esses os sentimentos que nos invadem até hoje, quando
iniciamos o nosso ano letivo? E agora então, com esta novidade de
inclusão!
Diante desta necessidade de se repensar a escola como
inclusiva, percebe-se que a mesma vem assumindo um papel cada
vez mais amplo e abrangente que exige o empenho não só dos
governos federal, estadual e municipal, mas de toda comunidade, na
condição de autores e atores de um projeto político pedagógico voltado
para qualidade de respostas educativas que beneficiem a todos os
alunos, oferecendo aos professores subsídios para reorganizarem sua
prática pedagógica dentro deste novo paradigma.
Foi pensando nisso que este material foi elaborado, para que os
professores e outros profissionais da educação pudessem se nortear e
discutirem sobre o tema: a inclusão escolar do aluno com
deficiência mental. No decorrer, serão abordados não somente os
aspectos pedagógicos que envolvem esta temática, mas também os
relacionais, filosóficos e políticos, na intenção de promover
reflexões sobre o preconceito que envolve esta questão.
Desta forma, convido a todos a aceitarem este desafio.
Nádia Aparecida Poleto
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SUMÁRIO:
1 VIVENCIANDO OS ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA INCLUSÃO...............................................................................................8 2 CONVERSANDO SOBRE A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA MENTAL................................................................11
3 REVENDO A HISTÓRIA......................................................................12 4 COMO DIFERENCIAR INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO?......................16 5 POR QUE O USO DA EXPRESSÃO PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS (PNEE)?...................18 6 O QUE É DEFICIÊNCIA MENTAL?....................................................22 7 A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MENTAL APRENDE? COMO?....25 8 CONHECENDO OS DOCUMENTOS QUE NORTEIAM A INCLUSÃO EDUCACIONAL.....................................................................................37 9 COMO FUNCIONA O SERVIÇO DE ITINERÂNCIA?.........................40 10 O QUE SÃO ADAPTAÇÕES CURRICULARES?.............................43 10.1 COMO FAZER AS ADAPTAÇÕES CURRICULARES?................44 11 ALFABETIZAÇÃO OU LETRAMENTO?..........................................47 12 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO....................50 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................42 14 REFERÊNCIAS.................................................................................55
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1- VIVENCIANDO A INCLUSÃO
Depoimento de uma mãe sobre a inclusão escolar de sua
filha com Síndrome de Down
A partir do momento que recebemos a notícia que teríamos uma
criança portadora da Síndrome de Down, começamos a nos preocupar
em sempre fazer o melhor para que ela pudesse ser simplesmente
uma criança feliz, igual a todas as outras que conhecíamos, tão feliz
quanto seus irmãos mais velhos.
Assim, corremos atrás de informações, até chegarmos ao
CEDAE, uma escola da APAE onde tudo começou. A equipe que lá
trabalhava, fez (e faz) um trabalho maravilhoso com nossa filha (uma
linda menina!) e conosco também. Na família e pelos amigos, ela foi
recebida com muita tranqüilidade e amor, o que já era uma bênção,
pois, na maioria das vezes, a família é a primeira a ter dificuldades para
aceitar. Depois o passo seguinte foi colocá-la em uma escola regular.
Então, com três anos de idade começou a história da “inclusão
educacional” da Maryan...
Como ainda era pequena, procuramos uma escola de educação
infantil, pois na creche, além da vaga que nunca havia, existia também
a preocupação dos educadores para com ela. Sempre aquela mesma
pergunta: “como vamos dar atenção a ela se existem em cada sala, 20
ou mais crianças?” (Como se ela fosse muito diferente...). Bom, se nos
receberam assim... Era um forte motivo para não aceitarmos o que
sabíamos ser de direito. Então, optamos por uma escola particular.
Visitamos várias, e, várias também foram as barreiras encontradas,
que muitas vezes, por falta de informações, os responsáveis pela
escola simplesmente respondiam que não havia "espaço, ou
professores preparados para trabalhar com uma criança com
deficiência”.
Azar o deles, perderam a oportunidade de conhecer uma
criança muito especial e de aprenderem também. Após uma maratona
e muitas portas fechadas pelo medo e o preconceito, matriculamos
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nossa filha numa escola, onde ela ficou por dois anos, fez tudo o que
uma criança qualquer faria, aliás, uma criança estimulada, porque não
adianta também querer que os professores façam tudo, nós, pais
temos que fazer a nossa parte. Ficamos sempre atentos a tudo o que
tentam nos passar e procuramos dar continuidade em casa ao trabalho
começado na escola especial, onde ela continuava recebendo os
atendimentos necessários para o seu desenvolvimento e, aprendendo!
Apesar de estar bem adaptada, necessitamos colocá-la em uma
outra escola, no início do ano letivo, que fosse mais próxima de casa.
Que sofrimento. Ficamos arrasados... Simplesmente diziam que a
Maryan era uma criança muito difícil e que as professoras da escola
não tinham optado pela Educação Especial (ignorando completamente
a lei). Sendo assim, me propus a auxiliá-los, fizemos uma reunião com
a coordenadora da Prefeitura de Curitiba, com a professora e a
coordenadora da escola especial e, nada... Irredutíveis! Acredito que
pensavam que a criança especial era criança espacial, vinda de outro
planeta e que teriam que mudar toda a escola para recebê-la. A nossa
filha que sempre teve uma ótima auto-estima, autonomia, confiança,
passou a responder como sabia àquela crueldade, passou a ter
atitudes agressivas que não condiziam com a doçura de criança que
sempre fora. E a escola só queria se livrar das suas responsabilidades
e culpar o sistema e o comportamento da Maryan. Tudo o que
acontecia era motivo para uma reunião... Fui muitas vezes chamada
pela escola e nunca ouvia nenhum elogio a Maryam, só reclamações...
Diante disso, mudamos de escola... Hoje, com sete anos, a
Maryan está em uma escola da rede pública, aquela do início do relato,
na qual ela foi muito bem recebida pela direção, coordenação,
professores e colegas; o acolhimento fez a diferença; passou para o 2º
ano (é mole?). Ficamos muito felizes, também por saber, que ela não
passou, simplesmente porque a professora ficou com pena dela, mas
passou por seu mérito mesmo. Acompanha de igual para igual os
amiguinhos dela, conhece todas as letras, conhece números, consegue
fazer contas pequenas, escreve muitas palavras e já consegue ler
algumas coisas, brinca, canta e dança (adora dançar)!
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Às vezes me pergunto, como mãe, se estou fazendo a coisa
certa, se ela não está sendo sobrecarregada de atividades, mas nas
conversas que tenho com ela, recebo respostas positivas de que está
feliz. Não é demais essa coisinha? Estamos muito orgulhosos dela!!!
Enfrentou muitos obstáculos, mas está vencendo todos. Até já desfilou
e fotografou para uma famosa marca de jeans!
Não tenho dúvidas que fomos abençoados ao sermos
escolhidos, para que este anjinho chamado Maryan entrasse em
nossas vidas.
Temos que agradecer às escolas regular e a especial, pois caso
não tivéssemos o apoio desta, tudo teria sido muito mais complicado e
certamente estaríamos procurando outros profissionais técnicos e
pedagógicos para dar o suporte necessário e auxiliar em seu
desenvolvimento.
Hoje podemos dizer que a nossa criança especial encontrou a
sorte grande de conhecer pessoas especiais que deram bastante de
seu tempo precioso, de seu carinho e acima de tudo aceitaram as suas
diferenças como uma oportunidade de aprendizado.
Rejane, mãe da Maryan
Fevereiro de 2008.
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2- CONVERSANDO SOBRE A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM
DEFICIÊNCIA MENTAL
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”
Eduardo Galeano
O olhar do outro sobre nós pode ser excludente ou includente,
depende das semelhanças e/ou diferenças percebidas por quem olha.
No contexto escolar, é neste momento que se inicia para o professor e
para os alunos a história da inclusão escolar ou, o reverso da moeda: a
exclusão, ambas firmadas pelas relações sociais e suas múltiplas
implicações.
Se este olhar se volta única e exclusivamente para o patológico,
ou seja, a causa orgânica que determina a deficiência, o deficiente
mental por esta condição, já está em desvantagem dentro de um
ambiente onde o objeto de trabalho é o desenvolvimento intelectual.
Lidar com esta “desvantagem” constitui-se num desafio da inclusão
escolar para todos os profissionais envolvidos.
Por outro lado, se a criança com deficiência mental for “olhada”
como um aprendiz em potencial, que se apropria, apesar do déficit
cognitivo, de novos conhecimentos e de conteúdos acadêmicos que
antes não se acreditava que a mesma fosse capaz, e ainda, que a
mesma possa contextualizá-los na interpretação do mundo, os
resultados podem ser surpreendentes; o que antes podia parecer
milagre, acontece: o ensinar e aprender.
Para que consigamos entender de forma mais crítica a inclusão
escolar e como ela se apresenta na atualidade, precisamos rever a
história da pessoa com deficiência e entender as necessidades que
impulsionaram as mudanças no âmbito da educação e da sociedade.
•••• VAMOS REFLETIR... ⇒ A escola vem se organizando para receber a todos os alunos, inclusive os que têm deficiência mental?
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3- REVENDO A HISTÓRIA...
A atenção educacional aos alunos com necessidades
educacionais especiais tem se modificado ao longo da história, tendo
caracterizado diferentes paradigmas nas relações das sociedades com
esta parcela da população. As deficiências passaram a ser entendidas
pela sociedade, conforme o contexto histórico e a dificuldade em lidar
com as diferenças impostas pela deficiência sempre permeou esta
questão. Tais mudanças resultaram em quatro fases distintas no
atendimento da pessoa com deficiência: exclusão, segregação,
integração e inclusão.
Na Antigüidade, as pessoas nobres detinham o poder social,
político e econômico, o corpo perfeito e forte era necessário para
garantir a qualidade dos guerreiros e a capacidade intelectual e
filosófica, entre outras definiam a cidadania (ou não) nesse tipo de
sociedade.
Devido a este conjunto de fatores, era comum o extermínio de
pessoas que nascessem ou adquirissem algum tipo de deficiência que
as impossibilitasse de garantir a “perfeição da espécie”.
Na Idade Média conviveu-se com paradoxos quanto à
deficiência, pois, se por um lado a Igreja condenava os atos de
infanticídio, por outro, atribuía aos deficientes mentais a possessão
demoníaca e as anormalidades eram consideradas como castigos
pelos pecados cometidos, permanecendo assim o isolamento e o
extermínio.
Fonseca (1995, p. 10, apud MARQUES, 2001, p. 37) ratifica
este episódio histórico quando comenta:
“Desde a seleção natural, além da seleção biológica dos espartanos, que eliminavam as crianças mal formadas ou deficientes, passando pelo conformismo piedoso do cristianismo, até a segregação e marginalização operadas pelos exorcistas e exconjuradores da Idade Média, a perspectiva da deficiência andou sempre ligado a crenças sobrenaturais, demoníacas e supersticiosas”.
No século XVII, os deficientes foram colocados no mesmo
patamar dos loucos e de outros doentes e eram internados em
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manicômios, hospitais e outras instituições. Segundo Marques (2001 p.
39): “O Cristianismo foi responsável por uma importante mudança na
concepção clássica de deficiência: com seu advento, a pessoa com
deficiência passou a ter alma”.
Com o Renascimento, houve o enfraquecimento da visão
teocêntrica e a visão antropocêntrica ganha força. A Biologia foi o ramo
das Ciências que mais cresceu. Essa mudança de concepção teve como
marco os estudos de Paracelso e Cardano, médicos que se dedicaram a
estudar sobre a deficiência mental. Paracelso admitia a origem
patológica da deficiência mental e Cardano acrescentava uma
preocupação pedagógica com as pessoas que pertenciam a este
segmento da população.
Destaca-se ainda, o papel da Revolução Industrial do século
XVIII, que denota uma sociedade capitalista, onde muito se valorizava a
produtividade e mais uma vez o deficiente, considerado improdutivo,
ficava à margem. Esta fase ficou conhecida como “fase da exclusão”.
Em 1799, o médico francês Jean Itard sistematizou um método
de ensino inspirado na experiência do “menino selvagem”, batizado de
Victor de Aveyron, encontrado na floresta por caçadores. Apesar de não
ter conseguido o êxito pretendido no aprendizado de Victor, Itard é
considerado o precursor da Educação Especial.
Outro trabalho desta época que merece destaque é o do médico
francês Philippe Pinel, pois seus estudos possibilitaram um melhor
conhecimento sobre as doenças mentais e os tratamentos tornaram-se
mais humanizados.
Ao final do século XVIII e início do século XIX, surgem as
primeiras grandes instituições especializadas para o atendimento de
pessoas com deficiências, considerando-se assim, o surgimento da
Educação Especial. Com isso, as escolas especiais se multiplicaram,
instalando-se, dois subsistemas funcionando de forma paralela: a
educação especial e a regular. Esta fase ficou conhecida como “fase
da segregação”.
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Neste contexto, são criadas no Brasil, as primeiras instituições
especializadas, sendo que no século XX, com os avanços das ciências,
o conceito de doença mental evolui para deficiência mental.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma insatisfação geral
sobre as atrocidades cometidas com seres humanos e devido a isto,
diversos grupos que se sentiam à margem da sociedade se
mobilizaram e retomaram os ideais de igualdade, liberdade e
fraternidade apregoados na Revolução Francesa (1789). Neste
contexto, é promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948), documento este inspirador das políticas públicas em vários
países.
Na década de 80, chega ao Brasil o processo de integração da
pessoa com deficiência, iniciado nos países nórdicos em 1969, onde os
alunos com deficiência deveriam se adaptar à classe regular sem haver
modificações no sistema escolar para recebê-los.
Por volta de 1985, surgem, nos países mais desenvolvidos, os
movimentos de inclusão escolar e, chegam ao Brasil na década de 90,
apoiados nos princípios da eqüidade de oportunidades para todos os
alunos na educação, objetivando que a mesma se desse na rede
regular de ensino.
Sobre os direitos de aprendizagem em escolas comuns,
Sánchez (2005, apud FERNANDES, p. 36) destaca:
“Esta forma de entender inclusão reivindica a noção de pertencer, uma vez que considera a escola como uma comunidade acolhedora em que participam todas as crianças (...) De igual forma, cuida para que ninguém seja excluído por suas necessidades especiais, ou por pertencer a grupos étnicos ou lingüísticos minoritários, por não ir freqüentemente a aula, e, finalmente, ocupa-se dos alunos em qualquer situação de risco. [grifo original]”.
•••• VOCÊ SABIA QUE: ⇒⇒⇒⇒ O Instituto Benjamim Constant (1854) e o Instituto Nacional de Educação para Surdos - Ines (1857) foram as primeiras instituições brasileiras, fundadas no Rio de Janeiro, para pessoas com deficiências (cegueira e surdez, respectivamente) e existem até hoje? ⇒⇒⇒⇒ A primeira escola especial do Paraná foi o Instituto Paranaense de Cegos (IPC), fundado em 1939?
•••• CURIOSIDADE:
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⇒ A história de Victor de Aveyron foi reproduzida em filme nos anos 70, na França, com o título em português: “O Garoto Selvagem”.
Saiba mais acessando:
http://www.terra.com.br/cinema/drama/selvagem.htm Leitura sugerida: ⇒⇒⇒⇒ Educação Especial Vitor da Fonseca - Artes Médicas-1995 Como vimos, integração e inclusão, embora sejam vocábulos
parecidos, denotam diferentes propósitos educacionais. Então:
•••• VAMOS REFLETIR... ⇒ E você, o que pensa sobre a função das escolas especiais na atualidade? ⇒ Conhece pessoas que ainda consideram as deficiências como castigos?
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4- COMO DIFERENCIAR INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO?
Estas duas palavras podem ser usadas comumente como se
tivessem o mesmo significado, porém, em termos educacionais e
filosóficos, apresentam modos diferentes de inserção da pessoa com
necessidades educacionais especiais nas escolas comuns.
O termo integração vem sendo usado historicamente, como já
mencionado anteriormente, desde os anos 80, no Brasil. Este processo
segue o princípio da normalização, onde a criança com deficiência se
vale de mecanismos próprios que proporcionem sua integração, ou
seja, ela é vista como portadora de um problema e é necessário que se
adapte ao contexto regular de ensino, sem, contudo, esperar que este
ambiente seja modificado para recebê-la. Como exemplo para ilustrar a
situação de integração podemos utilizar o de uma criança com
deficiência visual no ensino regular, espera-se que a mesma, usando
lentes, lupas, etc., se adapte e passe a pertencer ao grupo, não se
esperando do professor e demais alunos que aprendam a ler em
Braille.
Apesar da diferença entre o ensino integrado e o inclusivo, o
primeiro é, em algumas situações, visto como um passo em direção à
inclusão, no entanto sua maior limitação é que se o sistema escolar se
mantiver “engessado”, apenas algumas crianças serão integradas com
qualidade no processo de aprendizagem.
Sobre a integração, Carvalho, (2000, p.27), aponta que:
“A integração, como um processo psicossocial, era defendida em suas várias formas, desde a proximidade física até a integração instrucional, nas classes comuns. Ao se chegar a este nível satisfatório do processo, entendia-se que a criança teria alcançado a corrente principal (mainstream), ou a normalização, na medida em que suas condições de vida se aproximavam das de seus pares normais”. Para Mantoan, (2007, p.18):
“Nas situações de integração escolar, nem todos os alunos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular, pois há uma seleção prévia dos que estão atos à inserção. Para esses casos, são indicadas a individualização dos programas escolares, os currículos adaptados, as avaliações especiais e a redução dos objetivos educacionais para compensar as dificuldades de aprender. Em suma: a escola não muda como um todo, mas os alunos têm de mudar para se adaptar às suas exigências”.
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Neste modelo, o aluno que freqüentar a escola especial, pode
ser integrado posteriormente às escolas comuns e vice-versa, o ponto
fraco desta situação seria o de que “o vice-versa” acontece com mais
freqüência...
• VOCÊ SABIA QUE:
⇒⇒⇒⇒ “Mainstreaming” é uma palavra que foi utilizada na década de 70, nos EUA e em outros países com o significado de “corrente principal” para designar a integração das pessoas com deficiência à corrente principal da vida, inclusive escolar?
• CURIOSIDADE:
⇒ O processo de integração acabou fortalecendo a separação dos dois sistemas de ensino: regular e especial. Leitura sugerida: ⇒⇒⇒⇒ Fundamentos para Educação Especial Sueli Fernandes – IBPEX- 2007
Apesar de conceitos distintos, percebe-se que a inclusão escolar
teve suas raízes fundadas na integração escolar, porém, falar de
inclusão escolar, principalmente da criança com deficiência mental, é
tratar de um propósito bastante abrangente, que requer muita discussão
e reflexão. Para tal, vamos a algumas definições que podem facilitar o
nosso entendimento:
•••• VAMOS REFLETIR... ⇒ Como educador, tenho me preocupado em oportunizar recursos e estratégias metodológicas para que todos os meus alunos consigam mostrar os conhecimentos adquiridos, oportunizando não só a integração, mas o sentimento de pertença do aluno com deficiência mental ao grupo?
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5- POR QUE O USO DA EXPRESSÃO PESSOAS COM
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS (PNEE)?
“O termo necessidades educacionais especiais refere-se a
todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em
função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. As escolas
têm de encontrar maneira de educar com êxito todas as crianças,
inclusive as que têm deficiências graves”. (BRASIL, 1994, pp. 17-18).
Esta expressão foi adotada pelo Conselho Nacional de
Educação/ Câmara de Educação Básica (Resolução nº 2 de 11/09/01,
com base no Parecer CNE/CEB nº 17/2001, homologado pelo MEC em
15/08/01).
Não devemos nos esquecer que esta nomenclatura pressupõe a
presença de um problema de aprendizagem e que os alunos deverão
ter ao seu alcance serviços educacionais diferentes (especiais)
daqueles que comumente são utilizados no ensino regular, devendo a
escola prover tais recursos, dando condições de pleno
desenvolvimento educacional para o aluno.
A expressão necessidades educacionais especiais tornou-se
bastante conhecida após a Declaração de Salamanca (1994), porém
teve sua origem nos anos 70, na Inglaterra, onde foi utilizada pela
pesquisadora Mary Warnock, no Relatório Warnock, documento este
em que se buscava identificar causas do fracasso escolar, onde se
constatou que, na época, apenas 2% dos alunos apresentavam
dificuldades de origem orgânica e permanente e que outros problemas
como a fome, maus tratos, drogas, etc. permeavam efetivamente o
contexto escolar, dificultando o aprendizado.
Desta forma, temos as necessidades educacionais permanentes
(deficiências e distúrbios) ou temporárias (ligadas a situações sociais,
culturais e/ou familiares.) Com o uso desta terminologia pretende-se
deslocar o foco das condições pessoais do aluno que possam interferir
em sua aprendizagem, para direcioná-lo às respostas educativas que
ele requer, objetivando assim, a igualdade de oportunidades para
aprendizagem.
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No texto das Diretrizes Curriculares para Educação Especial
para Construção de Currículos Inclusivos (SEED, 2006, p. 42),
apresenta-se, entre outros, o seguinte trecho sobre esta questão:
“A maior parte das terminologias adotadas em Educação Especial tem origem estrangeira, muitas usadas em épocas anteriores: inválido (minusválido),
(déficiente). A tradução para o português muitas vezes não mantém o sentido que os originou no contexto histórico de sua adoção, o que gera ambigüidades, imprecisão e inadequação ao serem empregados em um novo contexto social (FERREIRA E GUIMARÃES, 2003)”. Ross (2004, p. 204), também comenta a utilização desta
terminologia:
“As necessidades especiais são decorrentes das oportunidades, existentes ou não, bem como dos instrumentos e medicações que possam ser apropriados por estas pessoas em suas relações sociais e não resultam unicamente das deficiências biológicas que possam apresentar. Se favoráveis forem as condições sociais, a situação de deficiência será atenuada, uma vez que não serão impostas restrições à participação dessas pessoas”. Vale destacar que todas as pessoas com deficiência apresentam
algum tipo de necessidade educativa especial, porém, o termo
“pessoas com necessidades educacionais especiais” não é sinônimo
de deficiência.
E devido à abrangência desta expressão, houve uma série de
discussões e polêmicas, gerando imprecisão na identificação de alunos
da Educação Especial. Assim a Resolução CNE-CNB nº 02/2001,
define os grupos a serem atendidos pela educação especial:
“Art. 5º- Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem”: I- dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo
de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou
deficiências; II- dificuldades de comunicação e sinalização diferenciados dos demais
alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III- altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem
que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.
Art. 6º- Para a identificação das necessidades educacionais especiais dos alunos e a tomada de decisões quanto ao atendimento necessário, a escola deve realizar, com assessoramento técnico, avaliação do aluno no processo ensino e aprendizagem, contando para tal, com: I- a experiência do seu corpo docente, seus diretores, coordenadores,
orientadores s e supervisores educacionais; II- o setor responsável pela educação especial dos respectivo sistema;
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III- a colaboração da família e a cooperação dos serviços de Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça e Esporte bem mo o Ministério Público, quando necessário.
Carvalho (2000, p.36) comenta a introdução deste conceito em
substituição ao de categorias da deficiência ou desajustes sociais:
“Sob este enfoque interacionista, necessidades especiais traduzem as exigências experimentadas por qualquer indivíduo e que devem ser supridas pela sociedade. Enquanto que na expressão 'pessoa portadora de deficiência' destaca-se a pessoa que 'carrega' (porta,possui) uma deficiência, pretende-se que 'necessidades especiais' evidenciem a responsabilidade social de prever e prover meios de satisfazê-las.” Facion (apud FERNANDES, p.60), também se posiciona sobre o
uso desta expressão e alerta: “Essa definição engloba uma única
terminologia desde os alunos com graves deficiências até aqueles que
apresentam meras dificuldades de aprendizagem, geralmente
transitórias, o que gera confusão na identificação de alunos da
educação especial”.
Como vimos, as palavras não são vazias em seu significado,
vêm carregadas de ideologias, mas também de subjetividade, dando
margem a várias interpretações, porém, o que fica acentuado no uso
do termo: “pessoas com necessidades educacionais especiais” é que a
escola deverá prover recursos educacionais necessários para que o
aluno aprenda, seja em caráter transitório ou permanente.
•••• VAMOS REFLETIR... ⇒ “É preciso que tenhamos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza e o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza”.(Profº Boa Ventura de Souza Santos, 1995 apud MANTOAN, 2007, p. 25). ⇒ E você, acredita que mudar expressões garante, necessariamente, a mudança de condutas frente à inclusão? Como reduzir este “hiato” que há entre o que é teorizado e o que é colocado em prática?
21
Continuando nossos estudos sobre inclusão vamos direcioná-los
para questão da criança com deficiência mental. Para tal, apesar da
complexidade que esta definição engloba, há que se tentar esclarecer
alguns pontos importantes:
22
6- O QUE É DEFICIÊNCIA MENTAL?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10% da
população, em média, possuem algum tipo de deficiência, sendo que
metade destes apresentam deficiência mental.
As causas mais comuns são: as anomalias cromossômicas,
doenças infecciosas, uso de drogas, álcool e desnutrição e acidentes.
É importante clarificar as terminologias quanto à deficiência
mental e doença mental, pois ambas são facilmente confundidas, o
que pode, inclusive, reforçar o estigma existente no que se refere à
pessoa com deficiência mental. Então, vale a pena esclarecer que o
deficiente mental não tem alterada a percepção de si mesmo e da
realidade, e é, portanto, capaz de decidir, segundo a sua maturidade,
o que é melhor para ele.
Quando esta percepção encontra-se alterada, a condição é
denominada doença mental, como por exemplo, a esquizofrenia. E,
apesar de, segundo especialistas, de 20 a 30% dos deficientes mentais
apresentarem associação com algum tipo de doença mental, são
situações bem diferentes.
Segundo Sassaki (2005), “também no campo da saúde mental
(área psiquiátrica), está ocorrendo uma mudança terminológica
significativa, que substitui o termo doença mental por transtorno
mental”.
Sempre que possível, o diagnóstico da deficiência mental deve
ser feito por uma equipe multiprofissional (assistente social, médico,
psicólogo, pedagogo), em condições que favoreçam a avaliação do
indivíduo em sua totalidade, porém existe um consenso entre vários
autores de que o diagnóstico é muitas vezes difícil, devido a uma série
de fatores, como por exemplo, os fatores emocionais, retardo
específico da linguagem, nível socioeconômico ou cultural que podem
interferir no rendimento global da criança, sem necessariamente haver
a presença da deficiência mental.
Estas dificuldades constituem-se num impasse para se fechar
um conceito que dê conta de explicar este diagnóstico. No Decreto
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Federal nº 3298, encontramos a seguinte definição de deficiência
mental:
“O funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança”. Algumas expressões como: “retardado”, “idiota”, “meio bobo”,
“débil mental”, “imbecil”, entre outras, se tornaram comuns por volta do
século XVIII, quando se tentava definir ou mesmo ofender alguém que
tivesse dificuldade para compreender algo que pudesse parecer muito
fácil e é comum ouví-las atualmente, em situações do dia-a-dia, apesar
de serem pejorativas e ofensivas. Vale ressaltar que faz parte do
processo de inclusão sem preconceito, utilizar os termos adequados
para se referir à pessoa com deficiência.
Sassaki (in, Agenda Deficiência, disponível em:
http://agenda.saci.org.br/index.php?IZUMI_SECAO=1) faz várias
considerações, bem didáticas, sobre expressões que não seriam
corretas para designar as deficiências; entre elas as expressões:
deficiência mental leve, moderada, severa, profunda, sobre as
quais esclarece:
“O termo correto seria deficiência mental (sem especificar nível de comprometimento). A nova classificação da deficiência mental, baseada no conceito publicado em 1992 pela Associação Americana de Deficiência Mental, considera a deficiência mental não mais como um traço absoluto da pessoa que a tem e sim como um atributo que interage com o seu meio ambiente físico e humano, que por sua vez deve adaptar-se às necessidades especiais dessa pessoa, promovendo-lhe o apoio intermitente, limitado, extensivo ou permanente de que ela necessita para funcionar em 10 áreas de habilidades adaptativas: comunicação, autocuidados, habilidades sociais, vida familiar, uso comunitário, autonomia, saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho”. Fundamentando-se ainda nos estudos de Sassaki, em seu artigo
publicado na Revista Nacional de Reabilitação (n. 43, 2005, p. 9 e 10),
explica que, atualmente, apesar de ainda ser comum o uso do termo
deficiência mental, principalmente em documentos oficiais, há uma
forte tendência mundial na utilização da expressão “deficiência
intelectual”, inclusive, com a intenção de distanciar foneticamente da
denominação doença mental e ainda, a razão principal da preferência
24
por esta nomenclatura ser a de que o termo “intelectual” direciona, de
maneira mais apropriada, ao funcionamento do intelecto e não da
mente como um todo, como sugere o uso de deficiência mental.
DÊ PREFERÊNCIAS AO USO DOS SEGUINTES TERMOS:
•••• ao invés de “deficiência”, pessoas com deficiência;
•••• ao invés de “criança normal”, criança sem deficiência;
•••• ao invés de “mongolóide” ou “mongol”,aluno com síndrome de
Down;
•••• ao invés de “excepcional”, criança com deficiência mental.
(Fonte: Revista Nova Escola, edição especial: Inclusão, outubro de 2006).
E, afinal, como educadores preocupados com o sucesso escolar
de cada um de nossos alunos, podemos perguntar:
25
7- A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MENTAL APRENDE?
COMO?
A resposta à primeira pergunta é SIM!
Como?
Esta resposta requer um pouco mais de reflexão por parte dos
educadores, principalmente quanto às suas concepções e práticas
pedagógicas.
Colocar à disposição de qualquer criança, com ou sem
deficiência mental, um ensino que lhe proporcione condições de
desenvolvimento, é o primeiro passo.
Muitos são os pesquisadores na área do desenvolvimento e da
Educação que abordam o tema sobre como ocorre a aprendizagem,
sendo que as duas correntes mais difundidas e estudadas até hoje são:
a do construtivismo de Piaget e a sócio interacionista de Vygotsky.
Para continuarmos nossas considerações, vale lembrar que para
Piaget, o desenvolvimento mental avança através de 4 estágios
definidos e estes, ocorrem em uma seqüência fixa. São eles:
•••• Estágio Sensório-motor: de 0 a 2 anos
A criança tem necessidade de tocar, sentir, e de usar seus
sentidos para descobrir o mundo. Aprender que os objetos ou pessoas
continuam a existir mesmo que ela não esteja vendo.
•••• Pré-operacional: 2 a 7 anos
Este estágio se subdivide em dois: o pré-conceitual (2 a 4 anos)
e o intuitivo (4 a 7 anos). Durante ambos os subestágios, a criança
ainda se baseia nas sensações, mas é cada vez mais capaz de usar a
linguagem e as palavras para representar coisas que não são visíveis.
Neste estágio, ao invés de usar a lógica, a criança raciocina e explica
eventos baseando-se na sua intuição e do modo como ela consideram
que eles sejam.
•••• Operacional concreto: 7 a 11 anos
Neste estágio, a criança está desenvolvendo os conceitos de
números, relacionamentos, métodos, enfim, tornando-se capaz de
26
resolver problemas ainda que com objetos reais e concretos ao invés
de abstrações.
•••• Operações formais: de 11 anos em diante
Raciocina em termos de conceitos e abstrações, formula
hipóteses, demonstrando um novo entendimento dos aprendizados
lógico-matemático e espaço-temporal.
Para Piaget, a ordem e a seqüência em que a criança atravessa
essas etapas é sempre a mesma, variando apenas o ritmo com que
cada uma adquire novas habilidades, em função das diferenças
individuais e do meio ambiente.
No âmbito educacional, isto implica na importância do
profissional conhecer as características do desenvolvimento dos alunos
para que tenha referências sobre o que se pode esperar e onde é
possível chegar na mediação do aprendizado.
Barbel Inhelder, da mesma linha de Piaget, desenvolveu um
estudo com pessoas com deficiência mental e concluiu que elas não
teriam grandes possibilidades de atingirem uma condição cognitiva
como as demais pessoas, apontando, primeiro, para o progresso
intelectual mais lento desses sujeitos e, segundo, para a restrição
evolutiva dos mesmos, ou seja, a aquisição de, no máximo, uma
capacidade cognitiva operatório concreta. Também utilizou os
conceitos de oclusão operatória (interrupção do crescimento
intelectual) e a viscosidade cognitiva (enrijecimento gradual da
capacidade cognitiva). (BEYER, p. 10).
Para Mantoan (apud MARQUES, 2001, pp. 80-81), “a deficiência
mental, no enfoque epistêmico piagetiano, confirma o que Piaget
chamou de 'construção mental inacabada'” e conclui: “Têm-se,
portanto, de assegurar ao sujeito cognitivamente prejudicado uma ação
concomitante de apoio e estimulação da construção de seus
instrumentos intelectuais e de utilização mais ampla, adequada e
eficiente dos mesmos na resolução de situações – problemas”.
Já, Vygotsky toma como base para o aprendizado o ambiente
cultural onde a criança se desenvolve e as relações estabelecidas com
o meio.
27
Vygotsky destacou-se como um dos principais estudiosos das
crianças com deficiência e seu desenvolvimento psicológico e para ele,
as leis que regulam o desenvolvimento infantil são as mesmas para a
criança com ou sem deficiência. No texto “Atendimento Educacional
Especializado Para Deficiência Mental”, Silva (2005, p.13), faz a
seguinte consideração baseada nos estudos de Vygotsky “(...) para que
a evolução cognitiva da criança com deficiência mental ocorra de forma
melhorada há necessidade de uma permanente estimulação que
provoque a construção das estruturas mentais, levando-as a conquista
da resolução de problemas”.
Nesta teoria, segundo Marques (ibid, p.85), propõe-se ainda,
que “a criança com deficiência seja estudada numa perspectiva
qualitativa e não como uma variação quantitativa da criança sem
deficiência”, e continua: “A singularidade do desenvolvimento da
pessoa com deficiência está nos efeitos positivos da deficiência, ou
seja, nos caminhos encontrados para a superação do déficit”.
Assim conclui-se que o aluno com deficiência não está numa
condição de inferioridade em relação aos outros alunos “normais”,
apresenta, apenas, um desenvolvimento qualitativamente diferente e
único.
Seguindo ainda pelos caminhos da teoria de Vygotsky, constata-
se que as crianças com deficiência mental podem não ser capazes de
ter pensamento abstrato, no entanto concluiu que o sistema de ensino
baseado somente no concreto não ajuda estas crianças a superarem
suas dificuldades, além de reforçá-las. Completa afirmando que se
deixadas sem intervenção, estas nunca atingirão formas de
pensamento abstrato.
O papel da escola deve ser o de conduzi-las para esta direção,
de forma que o concreto seja apenas um ponto de apoio para o
desenvolvimento do pensamento abstrato. (VYGOTSKY, 2000, p.116).
Para que esta relação com o meio, dentro da educação seja
positiva, um dos caminhos apontados por Ross (2004, p.204), é o da
necessidade da organização de práticas cooperativas e valorizadoras
das diferenças e possibilidades de cada um no processo de
28
aprendizagem. O autor defende: “Os alunos com necessidades
especiais não podem mais (...) serem exigidos por meio de
desempenhos que enfatizem competências ou habilidades mentais
centradas na acumulação de conteúdos”.
Para Fernandes (2007, p. 93): “São, de fato, a qualidade, a
intensidade e a validade das experiências vivenciadas e o valor de uso
que elas adquirem na complexa dinâmica das relações sociais que
estabelecem os limites e as possibilidades de seu desenvolvimento”.
Porém, conforme a autora, isto não significa negar que a deficiência
intelectual, muitas vezes impede que a pessoa atinja níveis de
elaboração mental mais complexos, as chamadas “funções
psicológicas superiores (memória, raciocínio lógico, abstração)”. E
explica:
“(...) essa condição orgânica limitante, dada previamente, não pode ser
encarada de forma determinista, tendo em vista as atuais pesquisas da
neuropsicologia que apontam a plasticidade cerebral e os, ainda
desconhecidos, percursos alternativos trilhados pelo cérebro para retomar
funções mentais tidas como danificadas, quando estimulado”.
Segundo Emília Ferreiro (1995), a escrita na criança, se
processa em quatro estágios:
1- Pré-silábico: quando a criança começa a diferenciar o desenho da
escrita, construindo formas diferentes de representação para ambos,
baseadas nos eixos quantitativos e qualitativos, estabelecendo a
quantidade de letras que deve ter o que se escreve e quanto a variação
das mesmas, contudo sem diferenciar os significados sonoros da
escrita.
2- Silábico: a criança percebe as partes sonoras do significante,
associando a quantidade de letras à quantidade de sílabas para
representar (uma letra para representar uma sílaba).
3- Silábico-alfabético: neste estágio a criança oscila representando a
escrita ora por sílabas, ora por fonema.
4- Alfabético: estabelece de maneira sistemática a relação entre
fonemas e grafemas.
29
Observação: Alguns estudos apontam para semelhança do processo
de compreensão da leitura e da escrita, tanto para criança “normal”,
como para a com deficiência mental, porém em idades distintas, pois
visto que esta última necessita de um tempo maior para sua
alfabetização.
Conhecer esses estágios da construção da leitura e da escrita
possibilita ao professor intervir de forma mais adequada, pois consegue
identificar de onde partir para que o aluno avance, lançando mão de
todas as possibilidades, de métodos e técnicas, procurando aquele que
melhor atenda às necessidades do educando.
No campo da neurociência, o aprendizado é visto não apenas do
ponto de vista biológico, segundo Bartoszeck (2006, p.2) “ a
aprendizagem é o processo pelo qual o cérebro rege aos estímulos do
ambiente, ativando sinapses, tornando-as mais intensas.” Sobre este
assunto, faz ainda o seguinte apontamento: “ O ensino bem sucedido
provocando alteração na taxa de conexão sináptica, afeta a função
cerebral. Por certo, isto também depende da natureza do currículo, da
capacidade do professor, do método de ensino, do conceito da sala de
aula e da família e comunidade.”
Como vemos, a deficiência mental não determina até onde a
criança pode avançar no seu aprendizado acadêmico, limitá-la é um
equívoco e pode trazer danos irreparáveis.
Dentre os teóricos, estudiosos do desenvolvimento da
aprendizagem, temos: Gardner com a teoria das múltiplas
inteligências, o Behaviorismo de Skinner e tantos outros; mas tão
importante quanto saber como a criança aprende é saber como ensiná-
la, disponibilizando o maior número de estratégias educacionais
possíveis.
Assim, diante da experiência dos meus 21 anos como
professora em sala de aula, em escolas regulares e especiais, é que
me autoriza a afirmar que as crianças com deficiência mental
conseguem assimilar conteúdos propostos pela escola, desde que os
mesmos lhe façam sentido, que haja uma motivação para que ela
passe a ser um aluno ativo e não apenas um expectador do saber.
30
É necessária para este aluno a oportunidade de apreciar os
conteúdos sob a luz de diferentes enfoques e dar-lhe um tempo maior
para vencer os desafios, pois sabemos que os atrasos no aprendizado
em relação às crianças da mesma idade podem ocorrer por fatores
genéticos, como, por exemplo, a Síndrome de Donw, mas também por
outros fatores externos como: os aspectos orgânicos, socioculturais e
psíquicos que estão associados a vários tipos de deficiências e que
podem influenciar diretamente sobre o desempenho do aluno, porém
não se pode atribuir somente a estes a justificativa de uma ineficiência
da escola.
Então, conclui-se que o diagnóstico na deficiência mental não
se esgota na sua condição orgânica e/ou intelectual, e nem seu
prognóstico pode ser traçado a longo prazo, sem considerar a
interferência do meio e das relações que nele se estabelecem.
Preservar a fluidez e a “saúde” dessas relações dentro da escola (e, se
possível fora dela), pode influenciar diretamente no aprendizado.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS:
⇒⇒⇒⇒ Adotar metodologias diversificadas que contemplem estilos
de aprendizagem variados. Como: recursos visuais, manipulação de
objetos, registros através de desenhos, recortes, modelagem, enfim
tentar, como professor, perceber qual o canal sensorial com o qual o
aluno tem mais facilidade para aprender.
⇒⇒⇒⇒ O professor deve ser sempre claro e sucinto ao fazer uma
solicitação, obedecendo a seqüência temporal do que se pretende que
o aluno faça. Exemplo: “Pegue o apagador que está em cima da
mesa”. Ao invés de: “Dá para pegar o apagador que eu deixei em cima
da mesa?”
⇒⇒⇒⇒ Favorecer, sempre que possível, a experiência direta,
mediada por um colega. Pedir para o colega mostrar como se faz
determinada atividade, fazendo junto com a criança com deficiência
mental.
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⇒⇒⇒⇒ Desenvolver práticas que fortaleçam a mediação do professor
e dos colegas na apresentação de “pistas”, favorecendo a realização
da tarefa e a fixação da aprendizagem.
⇒⇒⇒⇒ Priorizar atividades e solicitar tarefas de duração breve, com
objetivos bem claros e condizentes com o desempenho do aluno.
Exemplo: não adianta ensinar multiplicação se ele ainda não aprendeu
a somar.
⇒⇒⇒⇒ Flexibilização do tempo de realização das tarefas,
respeitando-se o ritmo do aluno, porém, sem deixar de estabelecer
com ele metas a serem cumpridas.
⇒⇒⇒⇒ Alternar trabalhos individuais e em grupos (duplas, trios ou
mais), avaliando-se em que circunstâncias o aluno responde
satisfatoriamente ao que foi proposto.
⇒⇒⇒⇒ Estimular atividades onde as habilidades individuais possam
ser contempladas e valorizadas e que exijam trabalhos em cooperação
e ajuda mútuas, a fim de mostrar o que há de positivo em cada aluno.
⇒⇒⇒⇒ Mudar a rotina da sala de aula em relação à organização do
espaço físico, reorganizando-se a posição das carteiras, de modo a
facilitar a interação de todos os alunos entre si.
⇒⇒⇒⇒ Diversificar atividades de avaliação, reconhecendo que se
centrar apenas na oralidade e na escrita, prejudica aqueles que
apresentam limitações nessas áreas.
⇒⇒⇒⇒ Avaliar o progresso diário do aluno, sua aprendizagem,
utilizando suas próprias produções como parâmetro para o seu próprio
desenvolvimento. (Rodriguez, apud FERNANDES, ibid., p.101).
E acrescentaria:
⇒⇒⇒⇒ Ser exigente com o aluno, lançar-lhe desafios que ele possa
cumprir, mas que lhe exijam esforço, pois isso é sinal de respeito a ele.
⇒⇒⇒⇒ Evitar “rótulos” como: “coitadinho”, “aluno de inclusão”,
“criança com problema”, entre outros. Lembre-se que ele é um aluno
da sua sala de aula, que tem dificuldade para aprendizagem, devido à
deficiência mental, porém, aprende dentro das suas possibilidades, e o
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professor deve cuidar para não fazer dessa condição, algo impeditivo
para o aluno, superprotegendo-o, mesmo que seja sem esta intenção.
⇒⇒⇒⇒ As propostas de cooperação devem ser uma prática em sala
de aula e não apenas com a criança com deficiência mental. Propor a
ela que também auxilie, principalmente em atividades que a mesma
mostre facilidade e prazer em executá-las.
⇒⇒⇒⇒ Não o isole, definindo em qual fila ele deve se sentar, se isso
não for prática em sala de aula, mas observe se ele está tendo uma
boa visão da sala e se o local favorece-lhe a concentração e atenção.
⇒⇒⇒⇒ Dê-lhe autonomia para resolver situações – problema.
⇒⇒⇒⇒ A educação de alunos com deficiência mental não deve estar
centrada nas suas dificuldades, mas sim, evidenciando as suas
capacidades.
⇒⇒⇒⇒ A avaliação é um meio e não fim, não comparar os alunos
uns aos outros, mas cuidar para que cada um seja o seu próprio
parâmetro na verificação da sua evolução.
⇒⇒⇒⇒ A criança com deficiência mental tem dificuldade em elaborar
seu pensamento através da fala, sendo isto comum para grande parte
desta clientela, então a ajude a expor suas idéias, dando-lhe tempo
para formular ou responder questões, orientando-a em suas
colocações, mas sem responder por ela, apenas fornecendo-lhe pistas.
⇒⇒⇒⇒ Estabelecer vínculos afetivos, para que o aluno (qualquer
aluno) se sinta seguro, promovendo a construção positiva de sua auto-
estima, mostrando a ele os seus progressos, sem comparações, e,
lembre-se: regras são para serem seguidas por todos, evitar
favorecimentos desnecessários, principalmente nas questões de
limites, em detrimento da deficiência.
• VOCÊ SABIA QUE:
⇒⇒⇒⇒ O próprio CID 10 (Código Internacional de Doenças, desenvolvido pela OMS) ao especificar o Retardo Mental (F70-79) propõe uma definição ainda baseada no coeficiente de inteligência, classificando-o entre leve, moderado e profundo, conforme o comprometimento?
33
⇒ Tradicionalmente, era comum a classificação da pessoa com deficiência mental, utilizando-se critérios psicométricos, através de testes de inteligência, constituindo-se um conceito de Idade Mental e Idade Cronológica, com base no padrão da normalidade? ⇒ O quociente de inteligência (QI), indicaria se o sujeito teria ou não condições de realizar as atividades ligadas ao desenvolvimento próprias da sua idade, desconsiderando as influências do meio? ⇒ Para Vygotsky, há dois níveis de desenvolvimento: o real e o potencial, o primeiro é determinado por aquilo que a criança pode realizar de forma independente e o outro é determinado por aquilo que ela pode realizar através da mediação de adultos ou companheiros. A distância entre esses dois níveis é o que se chama de zona de desenvolvimento proximal (ZDP). É a partir desse contato ou interação com o meio social que a criança constrói seu conhecimento para posteriormente realizar estas atividades de forma independente? ⇒ Plasticidade cerebral é o fenômeno pelo qual os circuitos cerebrais que sofreram algum tipo de lesão ou sejam disfuncionantes podem ser substituídos por circuitos vizinhos intactos, em maior ou menor grau, dependendo da área afetada? QUER SABER MAIS SOBRE: ⇒ Síndromes e doenças genéticas que podem provocar a deficiência mental? Acesse: http://agenda.saci.org.br/index2.php?modulo=akemi¶metro=1679
EXEMPLOS DE ATIVIDADES PRÁTICAS QUE PODEM FAVORECER O APRENDIZADO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA MENTAL
⇒⇒⇒⇒ Para trabalhar proporção: •••• O desenvolvimento da coordenação motora pode ser mais lento em crianças que têm deficiência mental. Uma das maneiras de estimular o aluno a dominar seus movimentos é
•••• VAMOS REFLETIR... ⇒ Como professora, eu me preocupo em organizar situações de cooperação entre os alunos?
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fazê-lo escrever seu nome ou desenhar algo em folhas de papel de diferentes tamanhos. Assim, ele também visualiza a necessidade de aumentar ou diminuir seu traçado, de acordo com o espaço. ⇒ Quanto à integração: • É comum as crianças com deficiência mental apresentarem problemas de oralidade. Por isso, aulas que estimulem o aluno a contar histórias são bem-vindas. É importante dar continuidade à atividade com conversas informais na classe sobre os personagens ou sugerindo que os alunos dêem o final para história, apresentando-lhes possibilidades através de gravuras com cenas pertinentes ao tema (pistas). ⇒⇒⇒⇒ Quanto ao estímulo à leitura: • Enriqueça as aulas com murais onde apareçam palavras associadas às figuras e aos poucos vá retirando as figuras, motivando os alunos a perceberem qual figura foi retirada e a qual palavra ela corresponde. Utilizar esta palavra como referência para outras, acrescentando a ela verbos, adjetivos, artigos, conjunções, etc. ⇒⇒⇒⇒ Quanto à socialização • Para proporcionar um melhor acolhimento ao novo colega, combine com as crianças que elas, uma por dia, acompanharão o colega até o banheiro, pátio, ônibus escolar, etc. ⇒⇒⇒⇒ Desenhos: • O desenho é uma importante fonte de informações sobre a maturidade da criança, principalmente no período que antecede a alfabetização propriamente dita. Uma boa estratégia seria a de estimular sempre os alunos com materiais concretos que possibilitem a visualização da linha base que há nos desenhos, antes de realizá-los, enfatizando que os objetos não estão soltos no ar, como por exemplo: uma casa, ela estará sempre fixada no chão; dê vários modelos para que o aluno consiga sintetizar a imagem, elaborá-la e posteriormente, grafá-la. Quer saber mais? Leia: Desenvolvimento da Capacidade Criadora Autor: Lowenfeld-Brittain
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desenho de uma criança de desenho de uma criança de 5 anos 3 anos
⇒⇒⇒⇒ Afetividade: • Procure estimular atividades que propiciem o toque, como por exemplo: cabra-cega, para que os alunos se sintam à vontade para ficarem próximos uns dos outros. • Outro fator importante para afetividade é o professor conhecer a história de vida de seus alunos; uma sugestão seria a de manter registros de fatos interessantes que aconteceram na turma, através da agenda escolar, incentivando as famílias a escreverem sobre seus filhos. Importante: As reuniões do professor com os pais são excelentes oportunidades para o estabelecimento de vínculos e, principalmente, serem motivadoras para que, cada vez mais pais compareçam. Como estratégias, o professor poderá promover dinâmicas e brincadeiras para construir um ambiente acolhedor; e, ao discutir a pauta da reunião, tomar o cuidado de não enfatizar só o que o filho não consegue realizar, mas comunicar aos pais os progressos obtidos e os esforços realizados por todos os envolvidos no processo educacional da criança para que ela desenvolva todo o seu potencial. Afinal, os pais querem saber a realidade sobre seus filhos, mas sem que esta seja pautada simplesmente nas suas dificuldades. Desta forma, fica mais fácil conseguir o apoio da família. IMPORTANTE SABER: São oito as categorias ou “inteligências” abordadas por Gardner: (in Armstrong, 2001, p. 14-15):
1- Inteligência Lingüística: é a capacidade de utilizar as palavras tanto de forma oral (políticos) ou escrita (jornalista, poeta) de maneira efetiva.
2- Inteligência Lógico-Matemática: é ligada ao raciocínio e o trabalho com números em suas formas mais complexas (matemático, programador de computador).
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3- Inteligência Espacial: ligada à percepção com precisão do mundo visuo-espacial e de realizar transformações sobre essas percepções, ela inclui a capacidade de visualizar, de representar graficamente idéias visuais ou espaciais e de orientar-se apropriadamente em determinado espaço (guia, decorador, arquiteto, artista, inventor).
4- Inteligência Corporal-Cinestésica: destreza no uso do corpo, facilidade no uso das mãos para transformação de objetos, sendo que esta inteligência inclui habilidades físicas específicas, como: coordenação, equilíbrio, destreza, força, flexibilidade e velocidade, assim como capacidades proprioceptivas, táteis e hápticas (ator, escultor, cirurgião, dançarino, artesão).
5- Inteligência Musical: denota a capacidade de perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais. (profissões ligadas diretamente à música).
6- Inteligência Interpessoal: é a capacidade de perceber e fazer distinções no humor, intenções, motivações e sentimentos das outras pessoas (são aqueles que conseguem influenciar um grupo de pessoas para que sigam certa linha de ação).
7- Inteligência Intrapessoal: esta inteligência possibilita uma imagem precisa de si mesmo; consciência dos estados de humor, intenções, motivações, temperamento e desejos, são as pessoas com capacidade de autodisciplina, auto-entendimento e auto-estima.
8- Inteligência Naturalista: perícia no reconhecimento e classificação das numerosas espécies - a flora e a fauna do meio ambiente do indivíduo. Recentemente foi incluída a Inteligência Existencial que caracteriza a capacidade de se preocupar com as questões básicas da vida. Para o professor, conhecer sobre este assunto, facilita sua ação pedagógica no sentido de perceber como o aluno aprende, direcionando o que se ensina para as possibilidades de aprendizado da criança.
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8- CONHECENDO OS DOCUMENTOS QUE NORTEIAM A
INCLUSÃO EDUCACIONAL:
É comum observarmos entre os professores, uma certa
resistência em se familiarizarem com as leis e documentos sobre
inclusão, justificando esta atitude, principalmente pela dificuldade em
entendê-las, face à linguagem técnica utilizada e a dúvida de que as
mesmas serão ou não cumpridas. Apesar disso, como educadores
necessitamos conhecer a Legislação vigente sobre este assunto, a fim
de nos respaldarmos quanto às questões legais que viabilizam os
princípios filosóficos que norteiam a inclusão.
Eis o que diz alguns deles:
1988- Constituição da República Federativa do Brasil:
Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; garante o direito à
escola para todos. E coloca como princípio para a Educação o “acesso aos níveis
mais elevados do ensino, da pesquisas e da criação artística, segundo a capacidade
de cada um”.
1989- Lei n. 7.853/89:
Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a
matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível
de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a
quatro anos de prisão, mais multa.
1990- Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):
Garante o direito à igualdade de condições para o acesso e a permanência
na escola, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (também aos que não
tiveram acesso na idade própria); o respeito dos educadores. E atendimento
educacional especializado, preferencialmente na rede regular.
1990- Decreto n. 3.298 – Política Nacional para a Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência:
No que se refere especificamente à educação, este decreto estabelece a
matrícula compulsória de pessoas com deficiência, em cursos regulares e a
consideração da educação especial como modalidade da educação escolar que
permeia transversalmente todos os níveis e modalidades de ensino, bem como, entre
outras medidas, a oferta obrigatória e gratuita da educação especial em
estabelecimentos públicos de ensino.
1994- Declaração de Salamanca:
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O texto, que não tem efeito de lei, diz que os sistemas educativos devem ser
projetados e os programas aplicados de modo que tenham em vista toda a gama das
diferentes características e necessidades da sua clientela e, que as escolas comuns,
com esta orientação inclusiva, representaria o meio mais eficaz de combater atitudes
discriminatórias e dar educação para todos.
1996- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB):
Em seu capítulo V, Art. 58, trata da Educação Especial, também como
modalidade de ensino da educação escolar oferecida preferencialmente na rede
Regular de ensino, para educando com necessidades educacionais especiais,
garantido em seu artigo 59 a organização específica de currículo, métodos, técnicas e
recurso educativos visando atender essas necessidades. A palavra preferencialmente
provocou alguma confusão na sua interpretação, sobre onde deveria acontecer a
educação das crianças com deficiência, valendo esclarecer que o atendimento
especializado pode ocorrer em classes ou em escolas especiais, quando não for
possível oferecê-lo na escola comum.
2000- Leis n. 10.048 e n. 10.098:
A primeira garante atendimento prioritário de pessoas com deficiências nos
locais públicos. A segunda estabelece normas sobre acessibilidade física e define
como barreira obstáculos nas vias e no interior dos edifícios, nos meios de transporte
e tudo o que dificulte a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio
dos meios de comunicação, sejam ou não de massa.
2001- Parecer n. 17/2201 do Conselho Nacional de
Educação:
Institui as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica
define quem são os alunos com necessidades educacionais especiais.
2001- Resolução n. 2/2001:
Em seu artigo 2º diz que os sistemas de ensino devem matricular todos os
alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com
necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para
uma educação e qualidade para todos.
2006- No Paraná é apresentado o documento contendo as Diretrizes
Curriculares da Educação Especial para a Construção de Currículos Inclusivos,
onde se esclarece sobre a inclusão responsável pretendida pelo Governo do Estado
do Paraná.
2008- Documento sobre a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva que objetiva assegurar a inclusão educacional
de alunos com deficiência, transtornos globais e superdotação.
Apesar de todas as políticas públicas com direcionamento
inclusivo, as mesmas não asseguram o sucesso da inclusão
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educacional na prática. Para tal deve-se observar o papel relevante de
cada personagem envolvido com a construção coletiva de uma escola
inclusiva: pais, gestores, professores, alunos, escolas especiais e
regulares, orientando, denunciando, exigindo o cumprimento dos
mecanismos assegurados pelas leis, desfazendo o hiato que se
apresenta entre o que “está no papel” e a realidade atual dos sistemas
educacionais como um todo, pois pior do que a exclusão é uma
inclusão precária, colocando em risco o desenvolvimento educacional,
emocional e da cidadania da criança com deficiência.
•••• QUER SABER MAIS SOBRE: ⇒⇒⇒⇒ Declaração de Salamanca? Acesse: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf ⇒⇒⇒⇒ Diretrizes Curriculares da Educação Especial para Construção de Currículos Inclusivos no Estado do Paraná? Acesse: http://www8.pr.gov.br/portals/portal/institucional/dee/dce_ed_especial.pdf ⇒ Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, acesse: http://www.bauru.apaesaopaulo.org.br/repositorio/SP/bauru/politicaeducespecial.pdf
•••• VAMOS REFLETIR... ⇒ As políticas públicas, que têm sua fundamentação filosófica diretamente ligada à Declaração de Salamanca, têm possibilitado a inclusão dos alunos com deficiência mental, garantindo-lhes a qualidade de ensino nas escolas comuns? Quais as causas que dificultam essa articulação entre a teoria e a prática?
Como professores, como podemos contribuir?
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9- COMO FUNCIONA O SERVIÇO DE ITINERÂNCIA?
Assegurado por lei, o serviço de itinerância é um direito da
criança com deficiência mental para facilitar o seu processo de inclusão
no ensino regular, conforme os seguintes documentos:
Parecer 17/2001 que prevê em seu texto o serviço de itinerância
como serviço de apoio pedagógico especializado, não só do professor
especialista, mas também de outros profissionais:
“4.1- Na organização das classes comuns, faz-se necessário prever: (...) h) uma rede de apoio interinstitucional que envolva profissionais das áreas de Saúde, Assistência Social e Trabalho, sempre que necessário para o seu sucesso na aprendizagem, e que seja disponibilizada por meio de convênios com organizações públicas ou privadas daquelas áreas; i) sustentabilidade do processo inclusivo, mediante aprendizagem cooperativa em sala de aula; trabalho em equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a participação da família no processo educativo, bem como de outros agentes e recursos da comunidade.” E, neste mesmo documento define o serviço de itinerância
como: “serviço de orientação e supervisão pedagógica desenvolvida
por professores especializados que fazem visitas periódicas às escolas
para trabalhar com os alunos que apresentem necessidades
educacionais especiais e com seus respectivos professores de classe
comum da rede regular de ensino”.
Esta perspectiva é ratificada, também, na Resolução nº2, de 11
de setembro de 2001 que seu artigo oitavo faz referência à
necessidade de se disponibilizar na rede comum de ensino o serviço
de apoio pedagógico especializado, mediante a atuação de professores
e outros profissionais itinerantes intra e interinstitucionais.
Embora, esta prática possa ser vista por muitos como um
modelo de atendimento que teve suas raízes fundadas no movimento
de integração, a sua ressignificação e efetivação vêem ao encontro da
inclusão responsável defendida pelo Governo do Estado do Paraná.
Conforme texto retirado das Diretrizes Curriculares da Educação
Especial para a Construção de Currículos Inclusivos (2006 p. 39),
“repensar e reestruturar políticas e estratégias educativas, de maneira
a criar oportunidades efetivas de acesso para crianças e adolescentes
com necessidades educacionais especiais, e, sobretudo, garantir
condições indispensáveis para que possam manter-se na escola e
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aprender”. E, neste mesmo documento Carvalho (2004) se posiciona
na questão da inclusão responsável: “Adota-se como um referencial
filosófico dessa política a idéia de que a inclusão educacional é mais
que a presença física, é mais que acessibilidade arquitetônica (...), pois
se impõe como movimento responsável que não pode abrir mão de
uma rede de ajuda e apoio aos educadores, alunos e familiares”.
No documento veiculado pelo MEC, “SABERES E PRÁTICAS
DA INCLUSÃO”, no volume referente à Educação Infantil (introdução,
p. 31), o serviço de itinerância aparece como uma prática pedagógica
que auxilia na promoção do avanço do processo de aprendizagem,
sendo definido como:
“(...) poderão ser desenvolvidos por professor itinerante especializado (...) que participará da observação e do acompanhamento do processo de desenvolvimento e aprendizagem nas atividades escolares, aviará e ajudará a elaborar objetivos, a delinear os conteúdos, as estratégias e procedimentos relativos à dinâmica da sala de aula e de toda a rotina escolar. (...)”
Por se tratar de um assunto relativamente novo, poucas são as
pesquisas sobre a efetivação do serviço de itinerância e a sua
relevância para o processo inclusivo, sendo dever de cada profissional
da educação exigir tal serviço, justificando a sua necessidade junto aos
núcleos de educação.
Em pesquisa feita no GTR (Grupo de Trabalho em Rede)
durante o curso sobre “Inclusão do Aluno com Deficiência Mental nas
Séries Iniciais do Ensino Fundamental”, do qual sou professora tutora
(PDE), pode-se constatar que a grande maioria dos professores
pesquisados julga extremamente necessário este serviço de apoio
itinerante, pois os mesmos dizem sentirem-se despreparados para
proporcionar ao aluno com necessidades educacionais especiais uma
educação de qualidade, e que necessitariam de cursos e orientações
sobre como promover adaptações curriculares, lidarem com a auto-
estima e o aprendizado deste aluno que também se encontra numa
nova situação educacional, já que grande parte deles é egressa de
escolas especiais.
Nesta pesquisa, foi confirmada também a tendência de os
alunos freqüentarem, em regime de contraturno, a escola especial e de
os pais sentirem necessidade deste acompanhamento multiprofissional
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que a escola especial oferta, bem como o apoio pedagógico especial
oportunizado pela mesma. Os pais também se posicionaram dizendo
sentirem-se mais “seguros” quanto ao processo inclusivo de seu filho,
se o mesmo tiver a orientação e o amparo de um professor especialista
itinerante.
Glat & Pletsch (2005) em seu artigo sobre itinerância em escolas
públicas do Rio de Janeiro fazem a seguinte afirmativa diante das
pesquisas realizadas: “Em relação aos avanços, ainda existem limites a
serem superados para que as potencialidades do trabalho itinerante
ganhem maior expressão. (...) é visível a pouca prioridade dada pelas
agências governamentais ao ensino itinerante (...)” e continuam “(...) a
necessidade imperiosa de investimentos no ensino itinerante, não
apenas como instrumento de suporte e capacitação aos professores
regulares, mas também como agente de 'internalização' da política de
inclusão de pessoas com necessidades especiais nas escolas”.
QUER SABER MAIS? ACESSE:
http://www.rieoei.org/experiencias139.htm
Artigo sobre itinerância das autoras: Márcia Denise Pletsch e Rosana Glat. •••• VOCÊ SABIA QUE: ⇒⇒⇒⇒ No Parecer nº 17/2001 e na Resolução nº 2/2001 além de outras considerações, diz que as escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns a “temporalidade flexível do ano letivo, para atender às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas, de forma que possam concluir em tempo maior o currículo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grande defasagem idade/série (...)”?
Primeiro vejamos a definição de currículo segundo Coll (apud
SILVA, 2006, p. 30):
“Entendemos o currículo como projeto que preside as atividades educativas escolares, define suas intenções e proporciona guias de ação adequadas e úteis para os professores, que são diretamente responsáveis pela execução. O currículo proporciona informações concretas sobre o que ensinar, quando ensinar, como ensinar e o que, como e quando avaliar. Um currículo é uma tentativa de comunicar os propósitos educativos de tal forma que permaneça aberto à discussão crítica e possa ser efetivamente transladado em prática”. Então, concebendo o currículo como um instrumento norteador
dos atos educacionais, porém, aberto às flexibilizações, vejamos o que
diz o Parecer 017/2001 sobre isto:
“4.1 – Na organização das classes comuns, faz-se necessário prever: c) flexibilização e adaptações curriculares, que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recurso didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos, que apresentem necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada a freqüência obrigatória; ” Matiskei (2006, p. 9) em seu texto de apresentação do
documento das Diretrizes Curriculares para a Construção de Currículos
Inclusivos, pontua sobre a necessidade de flexibilização curricular:
“(...) o desafio da participação e aprendizagem, com qualidade, dos alunos com necessidades educacionais especiais, (...) exige da escola a prática da flexibilização curricular que se concretiza na análise da adequação de objetivos propostos, na adoção de metodologias alternativas de ensino, no uso de recurso humanos, técnicos e materiais específicos, no redimensionamento do tempo e espaço escolar, entre outros aspectos, para que esses alunos exerçam o direito de aprender em igualdade de oportunidades e condições.” É orientação presente, também neste documento (p. 49), que o
Projeto Político Pedagógico das escolas contemple a construção de
culturas inclusivas em que todos os envolvidos, comunidade escolar e
sociedade civil, sejam responsáveis e importantes para remoção de
barreiras na aprendizagem, visando a elaboração de políticas
inclusivas, a formação continuada de professores, pelas secretarias
municipais e estaduais e a dimensão das práticas inclusivas pelos
professores e equipe técnico-pedagógica, aparecendo neste item, a
necessidade de flexibilização curricular para que os alunos que
apresentem necessidades especiais possam ser contemplados.
44
10.1 - COMO FAZER AS ADAPTAÇÕES CURRICULARES?
“Entenda-se por adaptações curriculares as modificações
realizadas pelos professores, espontaneamente, e todas as estratégias
que são intencionalmente organizadas para dar respostas às
necessidades de cada aluno”.(Manjóan, 1995, apud CARVALHO, 2004,
p.82)
De acordo com MEC/SEE, as adaptações curriculares podem
ser efetivadas de duas formas distintas:
•••• Adaptações curriculares de pequeno porte - Podem ser
definidas e executadas pela escola ou pelo professor, com autonomia e
sem maiores dificuldades, desde as menos significativas às mais
significativas.
•••• Adaptações curriculares de grande porte - São as que
extrapolam as possibilidades de ações básicas do professor e
dependem das decisões técnico-político-administrativas, de
competência de órgãos de administração educacional pública, incluindo
as legislações.
No que se refere a operacionalidade das menos significativas,
podemos citar, baseando-se nos estudos de Silva (2004):
a) Modificação organizacional das atividades realizadas em
sala - Organização do espaço da didática e de grupos que possam vir
a beneficiar o aluno com necessidades educacionais especiais;
exemplo: alfabeto móvel, materiais didáticos modificados, estímulo à
cooperação.
b) Modificações nos objetivos e nos conteúdos - Seleção de
objetivos, seqüenciação e eliminação de conteúdos secundários, tendo
em mente o que queremos atingir e devem ser estruturados após
refletirmos sobre quais as aprendizagens consideradas mínimas para
cada etapa ou ano, sobre os conteúdos mais importantes para as
etapas posteriores, bem como quais seriam as aprendizagens mais
urgentes para este aluno e quais as que favorecem a sua integração
escolar e social a médio e a longo prazo.
c) Modificações na metodologia e na didática - Modificar
método e didática implica mexer na ação direta do professor frente ao
45
aluno, necessitando por parte do professor e da equipe reflexões sobre
quais seriam as práticas pedagógicas mais eficientes diante das
necessidades específicas de determinado aluno.
d) Modificação no tempo (temporalidade) - Alteração do
tempo previsto para a realização das atividades, estendê-lo conforme a
necessidade do conteúdo para o aluno.
e) Modificação nas avaliações (técnicas e instrumentos) - As
avaliações podem ocorrer de formas bastante variadas, de modo a
verificar os progressos reais com o intuito de detectar as possíveis
falhas e redirecionar as estratégias.
Já, as adaptações curriculares mais significativas requerem,
para sua operacionalidade, a eliminação de objetivos básicos, seleção
e introdução de métodos específicos, modificação na organização
diferenciada da sala e a modificação das avaliações e para que as
mesmas obtenham sucesso requerem o apoio do sistema e ainda
implicam a introdução de recursos alternativos, como exemplo: o
método Braille, dentre outros.
Antes de se operacionalizar as flexibilizações curriculares,
devemos avaliar “o que e para que ensinar” e teremos, como
educadores, maiores chances de sucesso nesta questão. Para isto,
devemos conhecer nosso aluno, suas necessidades, seu potencial e
traçarmos juntamente com a equipe pedagógica (a decisão de
modificar as ações pedagógicas deve ser de responsabilidade da
equipe técnico-pedagógica e não somente do professor), os objetivos
de trabalho com o aluno que requeira tais adaptações.
O segundo passo seria o “quando ensinar” cada conteúdo
selecionado, organizando o trabalho em etapas a serem vencidas.
Após, buscar o melhor método para que o aluno aprenda, lançando
mão de “um leque” de estratégias metodológicas. Há que se evidenciar
a necessidade de uma avaliação dos resultados do processo ensino-
aprendizagem na sua totalidade, possibilitando a correção de rumos e
adequações de estratégias. Isto não significa que o aluno com
deficiência mental estará envolvido em atividades diferentes do
restante da turma. O eixo de trabalho será o mesmo pra todos, o
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professor lançará mão de possibilidades variadas para que os alunos
mostrem o que aprenderam.
O que precisa ficar claro é que a idéia de um currículo inclusivo,
não pode ser pautada na premissa de que todos os alunos aprendem
os mesmos conteúdos da mesma maneira, e que a flexibilização
curricular não implica em empobrecimento do que se pretende ensinar,
nem tão pouco que seja elaborado um currículo adaptado para cada
aluno que apresente algum distúrbio de aprendizagem, mas sim,
ensinar a todos de modo diferente, abordando o mesmo conteúdo a luz
de diferentes enfoques metodológicos, porém, sem perder de vista a
íntima relação dessas adaptações com o Projeto Político Pedagógico,
que norteia todas as ações da escola.
Diante dessas colocações, percebemos que não cabe dentro do
paradigma da inclusão educacional um currículo “engessado”,
acrescentando ainda que, reconhecer que as relações humanas
(professor-aluno) são subjetivas e tais subjetividades interferem
diretamente no âmbito curricular, facilitando ou não a escolha dos
caminhos a percorrer, pode ser a chave do sucesso para as ações
pretendidas, cuidando para que a atenção às adaptações esteja
centrada no potencial do aluno e não no déficit.
Há que se considerar que se o aluno com deficiência mental
necessita de um tempo maior para aprender, exigindo do professor que
ele também se torne aprendiz e que além da sua formação técnica, é
importante a motivação pessoal na profissão, a concentração, o
controle emocional e suas próprias concepções sobre inclusão, pois
tais fatores são determinantes na condução do processo inclusivo na
perspectiva de uma “educação para todos”.
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11- ALFABETIZAÇÃO OU LETRAMENTO?
Tendo em vista que a questão da alfabetização é preocupação
corrente entre os professores, algumas considerações sobre este
assunto se fazem necessárias, principalmente porque há algum tempo
atrás não se acreditava que a criança com deficiência mental pudesse
ser alfabetizada e que sua inclusão no ensino regular seria inviável.
Segundo Mantoan, (2008, p. 42):
“Aprender a ler e escrever constitui uma das metas mais ambicionadas pelas famílias de alunos deficientes mentais. A entrada dessas pessoas à escola está diretamente associada à expectativa de seus pais, no sentido de que sejam diminuídas, com essas habilidades, as distâncias que separam seus filhos das pessoas normais”.
O vocábulo alfabetização é utilizado há muito tempo para definir
o processo pelo qual o indivíduo se apropria da leitura e da escrita,
sendo o uso desta palavra bastante comum entre os vários segmentos
da população.
Já, o uso de termo: “letramento” vem sendo usado há pouco
mais de uma década para definir o domínio das habilidades de leitura e
escrita que possibilitam a participação nas práticas sociais que envolvem
a língua escrita (SOARES, 2004, p. 67).
Esta expressão tem seu significado etimológico na palavra
literacy que vem do latim littera (letra), com o sufixo - cy, que denota
qualidade, condição, ou estado, fato de ser; ou seja: “literacy é o estado
ou condição que assume aquele que aprende ler ou escrever”.
Então, “letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de
aprender a ler e a escrever: o estado ou condição que adquire um grupo
social ou um indivíduo como conseqüência de ter se apropriado da
escrita”. (SOARES, 2003, pp. 17-18).
Ambos os processos (alfabetização e letramento) são
interdependentes, porém, distintos entre si, pois envolvem
conhecimentos e habilidades específicos e procedimentos de ensino
diferenciados. Enquanto a alfabetização pressupõe a codificação e
decodificação de fonemas e grafemas, o letramento se define com o
envolvimento da criança com o mundo da leitura e da escrita das mais
variadas formas.
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Amarrando estes dois conceitos temos a contribuição de
Soares (ibid., p.24) “(...) um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto
é, ser analfabeto, mas ser de certa forma, letrado (atribuindo a este
adjetivo sentido vinculado a letramento)”. Ou seja, quando o individuo se
interessa em ouvir a leitura de materiais escritos; faz perguntas sobre
eles; se dita cartas, bilhetes para outros escreverem, usando vocábulos
e estruturas próprios da língua escrita, o mesmo é, de certa foram
letrado, porque se envolve em práticas sociais de leitura e escrita.
Da mesma forma a criança que apesar de “analfabeta”, porque
não aprendeu a ler e a escrever, se estiver inserida e interessada no que
é funcional na leitura e na escrita (ouvir e apreciar histórias infantis, por
exemplo) também pode ser considerada letrada.
Como no aluno com deficiência intelectual a aquisição da leitura
e da escrita é mais lenta, o que o professor deve fazer é proporcionar-
lhe o acesso aos mais variados materiais escritos, mostrando-lhe a
funcionalidade dos mesmos, pois “ler e escrever só constituem
instrumentos pelos quais o sujeito é capaz de conquistar sua autonomia,
quando não se resumem exclusivamente em decifrar signos, montar
palavras escritas”. (MANTOAN, ibid., p. 42), assim, o letramento torna-
se um grande aliado na educação do aluno com deficiência mental na
sua compreensão e interpretação do mundo.
QUER SABER MAIS SOBRE:
⇒ Adaptações curriculares de grande porte? Acesse: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/cartilha05.pdf
•••• VAMOS REFLETIR... ⇒ Aprovar ou não aprovar quando o aluno não venceu os conteúdos? Este é um ponto crítico. Como já vimos a orientação da legislação vigente prevê sobre a temporalidade flexível para conclusão de um ano /ciclo, porém, devemos cuidar para que o aluno não fique à mercê de reprovações, chegando ao ponto de ser um adolescente entre crianças menores, e o que é pior, sendo tratado com o uma criança menor, o que seria um total desrespeito ao aluno, podendo inclusive acarretar outros problemas além dos referentes à aprendizagem. Com certeza, vale o bom senso, pois uma avaliação bem feita pressupõe a
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escolha do melhor caminho para o aluno. Devemos avaliar o que nos propusemos a ensinar e quais os objetivos alcançados. Nesta questão a equipe deve refletir sobre: • O aluno alcançou a maioria dos objetivos propostos para ele?(Comparar as condições iniciais e finais). • Quais os ganhos que ele teria em permanecer na mesma série ou ciclo ou que ganhos teria em avançar com a turma? • Ficar com o mesmo professor seria favorável? • Permanecer na mesma turma daria a ele um tempo maior para sua maturação cognitiva? • Poder estar junto com os amigos conquistados anteriormente, ajudaria?
SUGESTÕES PRÁTICAS SOBRE ADAPTAÇÕES CURRICULARES:
• Uma boa organização prévia das atividades, visando facilitar as ações pretendidas com a turma; • Criação de um ambiente mais colaborativo do que competitivo, promovendo o respeito entre os alunos; • Ter controle sobre sua própria ansiedade para saber lidar com as dificuldades de aprendizagem; • A escolha da metodologia, dos conteúdos e dos objetivos a serem desenvolvidos deve ser variada; • Afetividade e carinho, sempre! Quando do aluno se sente “querido”, ele responde melhor, pois se sente mais motivado; • Elogiar sempre, todos os alunos, não somente quando acertam a resposta, mas quando se esforçam; • Preparar a turma para receber um aluno novo, evidenciar o respeito às diferenças, mas nunca a diferença; • Procure sempre fazer combinados e direcionar algumas regras para manter a disciplina, principalmente em situações conflituosas, a sua própria impaciência pode refletir negativamente na turma; • É necessário organizar atividades individuais que promovam a autonomia e a colaboração; • Quando no conteúdo planejado para o dia, prever cópias muito extensas do quadro, uma solução simples, seria trazer o texto digitado para o aluno que tem mais dificuldade para copiar e deixar outras atividades referentes ao assunto como: de leitura do texto, colocar o nome, identificar palavras, enquanto os outros, estão copiando, desta forma todos estarão inseridos num mesmo contexto diante do conteúdo pretendido, sem, contudo haver ócio e indisciplina;
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12- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO A avaliação constitui-se um fator bastante importante no
processo inclusivo, principalmente no que se refere a transpor a
avaliação classificatória que ainda “aparece” embutida nas concepções
dos profissionais da educação, no tangente à aprovação ou
reprovação, para avaliação diagnóstica, visto que esta favorece as
idéias inclusivas, devido possibilitar uma visão muito mais ampla da
relação ensino/aprendizagem, do que a avaliação tradicional.
Segundo Silva (2006 p. 81): “Na avaliação diagnóstica, nada
impede que se atribua um conceito ao rendimento do aluno, mas que o
resultado sirva para modificar a prática e não discriminar o aluno”.
Para Coll (2000, p. 149), a avaliação, como ação pedagógica
precisa ser flexibilizada com a finalidade de atender às necessidades
dos alunos. E destaca quais as modificações devem ser observadas
em três etapas:
• Avaliação inicial: vem da necessidade de o professor conhecer o
seu aluno, suas potencialidades para definir quais seriam os caminhos
para suprir suas necessidades;
• Avaliação formativa: são pequenas avaliações realizadas durante o
processo a fim de identificar com as dificuldades e promover mudanças
visando a eficiência no processo;
• Avaliação somatória: seria o resultado final, se os objetivos foram
atingidos ao final de um período determinado (bimestre, semestre ou
ano letivo). Esta avaliação constitui um instrumento de controle sobre o
processo educacional, verificando o êxito ou o fracasso nos resultados
da aprendizagem dos alunos, ou seja, do próprio processo
educacional.
Desta forma, a avaliação tem como objetivo identificar o que não
foi eficiente no processo educacional, para poder redirecioná-lo de
forma a contribuir para sua eficiência em situações próximas.
Para Carvalho (2004, pp 147-148), a avaliação entendida como
diagnóstico, não do aluno, mas do processo ensino aprendizagem,
oferece aos educadores subsídios para repensar a filosofia
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educacional, o projeto político pedagógico, o papel do professor, o
sentido e o significado da diversidade entre os alunos, a adequação
dos conteúdos ministrados em relação aos objetivos, educacionais, às
necessidades e interesses dos alunos e às formas de colaborar para o
desenvolvimento do aluno para que o mesmo construa seu
conhecimento durante todo o processo.
Assim, confirma-se que a avaliação é um processo e não um
fim.
SUGESTÕES: Uma forma interessante de acompanhar o processo de aprendizagem do aluno seria um PORTFOLIO, que estaria diretamente ligado à avaliação formativa, visto que reúne as produções, para que ele próprio e outras pessoas conheçam seus esforços, seus progressos e suas necessidades através de atividades, comentários e registros importantes ocorridos em situações do contexto escolar arquivadas em uma pasta ou caixa, podendo, inclusive, vir a ser um documento que conta a trajetória do aluno dentro daquela escola, quais suas aquisições significativas, suas dificuldades mais eminentes, propiciando que o aluno seja um parâmetro para ele mesmo. Leitura sugerida: ⇒⇒⇒⇒ Manual de Portfolio - Um guia passo a passo para o professor Auroras: Elizabeth Shores & Cathy Grace