I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte “Oportunidades e Entraves para a Pecuária de Corte Brasileira” Luciano da Silva Cabral 1 , Cláudio Luiz Barbosa de Toledo 1 , Deivison Novaes Rodrigues 1 , Leni Rodrigues Lima 1 , Welton Batista Cabral 1 , Inácio Martins da Silva Neto 1 , Rosemary Lais Galati 1 , Kamila Moura de Andrade 1 , Isabela de Ceni 1 , Laura Barbosa de Carvalho 1 , Adjanine de Oliveira Alves 1 1 Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]1 – INTRODUÇÃO Os bovinos, por serem animais ruminantes, desempenham papel fundamental na geração de alimentos e outros produtos para a humanidade desde a pré-história. No caso da bovinocultura de corte, destaca-se a importância da carne, do couro, vísceras e esterco, como alimentos e produtos de valor agregado, sendo a carne o produto de maior destaque, pela sua importância nutricional, econômica e social. Pois, além de ser componente fundamental da dieta humana, gera receitas, impostos e mantêm as pessoas no campo. Adicionalmente, considerando-se toda a cadeia da bovinocultura de corte brasileira, cerca de 7,0 milhões de empregos são gerados diretamente pelo setor (Corrêa et al., 2001), e estima-se que mais de 21 milhões de empregos indiretos sejam gerados. Destaque deve ser dado ainda ao fato de que a geração desses produtos oriundos da bovinocultura de corte ocorre basicamente a partir do uso de forragem (principalmente no Brasil), substrato esse rico em fibra e, portanto, não integrante da dieta humana, bem como de vários outros animais, tais como aves e suínos. Mesmo considerando que em alguns países os sistemas de produção incluem grãos na dieta de ruminantes, como também verificado em sistemas mais intensivos no Brasil, o uso desses representa apenas 37% de todos os grãos utilizados na produção dos animais domésticos, embora os produtos gerados pelos animais ruminantes representam no mundo cerca de 60% da energia consumida pelos seres humanos, comparado aos 39% da energia oriunda de alimentos derivados de aves e suínos, os quais consomem cerca de 59% dos grãos destinados aos animais domésticos (Oltjen e Beckett, 1996).
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I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
“Oportunidades e Entraves para a Pecuária de Corte Brasileira”
Luciano da Silva Cabral1, Cláudio Luiz Barbosa de Toledo1, Deivison Novaes Rodrigues1, Leni Rodrigues Lima1, Welton Batista Cabral1, Inácio Martins da Silva Neto1, Rosemary Lais Galati1, Kamila Moura de Andrade1, Isabela de Ceni1, Laura Barbosa de Carvalho1, Adjanine de Oliveira Alves1
Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010)
2 Dados estimados;
3 em equivalente-carcaça.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
(a)
(b)
Figura 2 – Abate de bovinos no Brasil, expresso em número de animais (a) e toneladas (b) nos últimos anos. Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010)
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Adicionalmente, houve redução da idade de abate, a qual foi reduzida de
48-50 meses para 30-36 meses, a qual deve-se, principalmente, ao maior
desempenho observado pelos animais, em decorrência da aplicação de
técnicas relacionadas ao manejo do pasto, à suplementação na época seca,
bem como o uso do confinamento e semi-confinamento (Euclides Filho e
Euclides, 2010). Ressalta-se também a melhora na eficiência reprodutiva do
rebanho, a qual passou de 40 para 63%, proporcionando elevado impacto
sobre a produção de carne no país, pois aumentou a disponibilidade de
animais para a engorda.
Nas últimas duas décadas houve expressivo aumento da participação
nacional no mercado mundial de carne bovina, chegando a permitir desde 2004
que o país se tornasse o maior exportador, ultrapassando a Austrália. Os
fatores que contribuíram para esse incremento foram a desvalorização cambial
do real frente ao dólar e o trabalho de erradicação da febre aftosa, associado
ao preço competitivo do nosso produto, bem como a ocorrência de
Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) em países exportadores.
Ao mesmo tempo em que o Brasil apresenta-se como maior exportador
de carne bovina, aumenta-se a competição pelos mercados consumidores, o
grau de exigência dos consumidores no que se refere à qualidade e segurança
alimentar, bem como as preocupações com questões sociais, ambientais e de
bem-estar animal (Euclides Filho e Euclides, 2010). Essas pressões internas e
externas, em que pesa o aumento da eficiência de uso do solo, da água,
nutrientes e da energia, têm exercido elevado impacto para a intensificação dos
sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil, o que tem sido
evidenciado pelo aumento dos índices de produção observados nas duas
últimas décadas, assim como deslocamento da produção e de frigoríficos para
as regiões Norte e Centro Oeste.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
35606
27861
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0
10000
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50000
60000
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste
Região
Bo
vin
os
de C
orte
(n
)
Figura 3 – Rebanho de bovinos de corte nas diferentes regiões brasileiras (Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010).
Cabe ressaltar que nesse processo de transformação da pecuária de
corte brasileira ocorrido nos 20 anos mais recentes, houve migração para as
regiões Centro Oeste e Norte, em busca de terras mais baratas, condições
climáticas favoráveis e menor preço dos grãos para os sistemas mais
intensivos (semi-confinamento e confinamento), bem como pela forte pressão
exercida pela agricultura, gerando elevada concorrência com a pecuária
tradicional de baixo uso de tecnologias. Esse deslocamento da pecuária deu-se
em função da pressão exercida pela agricultura praticada no Brasil,
notadamente da soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, as quais pelo uso
intensivo de tecnologia têm proporcionado maiores desempenhos produtivos e
econômicos que a pecuária tradicional, na qual se aplica pouca tecnologia
(Euclides Filho e Euclides, 2010; Peixoto, 2010).
Desta forma, estados como São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul
tiveram os seus rebanhos de bovinos de corte estabilizados ou reduzidos,
enquanto que em Mato Grosso, de 1990 a 2005, o rebanho bovino aumentou
em 200%, e no Pará e Rondônia 200 e 600%, respectivamente, comparado ao
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do estado da São Paulo que cresceu apenas de 9% no mesmo período (Tabela
2).
Acompanhando o deslocamento do rebanho bovino para as regiões
supracitadas, houve o estabelecimento de indústrias frigoríficas nestas regiões.
Atualmente, dos 100 frigoríficos habilitados para exportação de carne bovina no
Brasil, 70% das unidades estão instaladas nas regiões Centro Oeste e
Sudeste, e na região Norte concentra-se 10% deste total.
Tabela 2. Rebanho bovino (milhões de cabeças) dos principais estados de
cada região
Estado 1990 1995 2000 2005 2009
Mato Grosso 9,0 14,2 18,9 22,0 28,0
Mato Grosso do Sul 19,6 22,3 22,6 24,5 25,0
Minas Gerais 20,4 20,1 20,2 21,4 22,5
Goiás 17,6 18,9 18,4 20,7 21,0
Pará 6,2 8,1 11,0 18,1 18,2
Rio Grande do Sul 13,7 14,3 13,9 14,2 14,4
São Paulo 12,3 13,1 13,3 13,4 13,5
Rondônia 1,7 3,9 6,6 11,3 11,5
Bahia 11,5 9,8 9,9 10,5 11,0
Paraná 8,6 9,4 9,8 10,2 10,5
Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)
Atualmente o Brasil detém o segundo maior rebanho mundial de bovinos
e projeta-se como maior exportador de carne, viabilizado pelo seu numeroso
rebanho e, principalmente pela competitividade decorrente do baixo custo de
produção dos animais em sistemas de pastejo. Soma-se a isso, a imagem
positiva que a carne brasileira apresenta em alguns mercados internacionais,
por ser produzida sob condições naturais (pastagem) em comparação com os
sistemas de produção em confinamento que geralmente não garantem os
princípios de bem-estar animal.
Embora em fase de transformação, a pecuária de corte brasileira está
sendo penalizada coma forte descapitalização do produtor, em função de
queda continuada no preço do boi gordo e aumento expressivo do custo de
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produção, pois de 2003 a 2007 o preço do boi gordo variou apenas 4,5%, ao
passo que o custo operacional total variou 43,82%. Este fato tem colaborado
para o expressivo abate de matrizes ocorrido na última década e desestímulo a
novos investimentos (Euclides Filho e Euclides, 2010).
É importante destacar o incremento do uso de tecnologias relacionadas
ao manejo das pastagens, incluindo espécies forrageiras mais adaptadas e
adequação no seu manejo, tais como adubação de manutenção e calagem e
orientação do manejo com base na altura adequada do pasto. Adicionalmente,
a adoção da inseminação artificial tem trazido benefícios significativos para o
aumento da eficiência reprodutiva do rebanho, pelo seu controle mais efetivo,
no sentido de manter no rebanho, vacas mais eficientes e descartar aquelas
que não parem com regularidade, efetuando desta forma, uma seleção para a
eficiência reprodutiva.
Da mesma forma, pode-se citar o árduo trabalho do setor de vigilância
sanitária vinculado aos governos federal e estadual, os quais têm trabalhado de
forma eficiente para o controle e erradicação de importantes enfermidades, tais
Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Rondônia, Tocantins e o Distrito
Federal são reconhecidos pela OIE (Organização Mundial de Sáude Animal)
como livres de aftosa com vacinação. Ou seja, doze unidades da federação de
um total de 27, o que representa que metade dos estados brasileiros ainda se
encontra em status de zona infectada.
Dos estados que têm status de livre com vacinação, alguns estão na
expectativa de obterem o status de livre sem vacinação, o que pode ser
bastante interessante para o Brasil, na perspectiva de conquistar os mercados
dos EUA, Japão e Coréia do Sul, com carne in natura. A OIE reconheceu a
grande dimensão do país e emite o status por estado, considerando as
particularidades do país. Desta forma, isso evita que a um surto da doença em
um estado possa afetar outro estado cuja causa não foi detectada e o controle
é efetivo.
Só a título de ilustração da importância e impacto das questões
relacionadas às barreiras sanitárias exercem no comércio internacional de
carnes, na época em que o presente texto foi elaborado ocorreu um embargo
pela Rússia sobre 19 frigoríficos brasileiros, cujo argumento baseia-se no do
não atendimento a questões de vigilância sanitária e segurança alimentar por
parte desses. Apesar disso, acredita-se que os motivos envolvam barreiras
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comerciais, mas espera-se que rapidamente o problema seja resolvido, em
função do empenho de técnicos nacionais que estão comprometidos em
resolver tal impasse. Esse fato destaca a importância de fortalecer o mercado
nacional e, desta forma, quem pode fazê-lo é o governo federal, por meio de
medidas políticas que aumentem o crescimento econômico do país.
Se a intenção dos diferentes atores que compõem a cadeia produtiva da
carne bovina nacional, bem como de autoridades e governantes, é de tornar o
Brasil maior produtor e conseguir conquistar os mercados mais bem pagadores
da carne bovina (EUA, Japão e Coréia do Sul), eliminar a febre aftosa do
rebanho nacional é meta primordial. E, enquanto isso não ocorre, pode-se fizer
que se constitui no principal entrave para a pecuária nacional melhorar a sua
imagem nesses mercados consumidores.
6.1.2 – Manejo dos pastos e sua degradação:
Um importante problema que acomete a pecuária de corte, dentro da
porteira, refere-se ao manejo do pasto, pois a grande maioria dos pecuaristas
ainda não encara o pasto como cultura e, desta forma, a reposição de
nutrientes ao sistema, notadamente N, P e K não tem sido implementada.
Adicionalmente, merece destaque a falta de utilização de técnicas para
adequar o número de animais, ou melhor, kg de peso corporal em função da
quantidade de forragem disponível (ou oferta de forragem) e deixar de
considerar apenas o conceito de taxa de lotação (n. de animais/ha).
A forragem exerce elevada influência sobre os animais em termos de
permitir a expressão do genótipo para a produção, na sua saúde e
desempenho reprodutivo, uma vez que o pasto representa a principal fonte de
nutrientes aos animais por maior período de tempo ao longo do ciclo produtivo.
Com isso, a oferta de forragem e seu valor nutritivo aliado à estrutura do pasto,
exercem elevada influência sobre o comportamento dos animais em pastejo,
afetando a taxa de bocados, o tempo de pastejo, a ingestão de forragem e a
sua digestibilidade, determinando, portanto, o suprimento de nutrientes para
mantença e produção. Apesar da pouca adoção de tecnologias relacionadas ao
manejo do pasto pelos pecuaristas ao longo da história da pecuária de corte
nacional, onde apenas a troca da espécie forrageira representava o principal
meio de promover melhorias no manejo do pasto, mas era limitado por 4 ou 5
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anos, pois não havia adoção de técnicas de manejo adequadas, na última
década tanto houve aumento expressivo do conhecimento gerado nas
universidades e centros de pesquisa (EMBRAPA), aliado ao melhor
esclarecimento dos produtores no que se refere à adoção destas práticas.
Partindo do princípio de que 95% dos animais abatidos no Brasil são
oriundos de sistemas baseados no uso de pastagens e, que, no Brasil Central,
é sabido que cerca de 65% destas áreas se encontram em algum grau de
degradação, há a necessidade urgente de que as áreas ainda não degradadas
sejam adequadamente manejadas para evitar o processo de degradação e
que, aquelas já degradadas sejam recuperadas ou renovadas (Macedo, 2009).
A degradação das pastagens pode ser definida como um processo
gradativo de perda de vigor e produtividade, bem como da capacidade de
suporte do pasto decorrente da falta da reposição de nutrientes ao solo,
notadamente de N, P e K; do manejo inadequado do mesmo no que se refere à
adequação da sua lotação animal em função da disponibilidade de forragem;
da inadequação da espécie forrageira ao tipo de solo (Macedo , 2009).
Um dos principais fatores que explicam, em parte, a não reposição de
nutrientes ao solo é o aspecto cultural dos pecuaristas, que não encaram o
pasto como uma cultura; ao elevado custo dos adubos, particularmente os
nitrogenados e fosfatados e a baixa resposta das gramíneas à aplicação dos
adubos, causado pelo manejo, dose e modos de aplicação incorretos.
Durante muito tempo, o manejo das áreas de pastagens baseou-se no
uso do conceito da taxa de lotação (número de unidades animais – UA/ha), o
que não mantêm nenhuma relação com a quantidade ou oferta de forragem
aos animais, que consiste no método mais recomendado para o manejo de
áreas de pastagens com animais. Desta forma, o uso da taxa de lotação tem
causado, pelo menos em parte do ano, excessivo número de animais em
relação à quantidade de forragem disponível, o que além de afetar
negativamente o desempenho animal, pela baixa oferta de forragem e o efeito
desta sobre o consumo, limita a perenidade da planta forrageira, pois não
permite a essa manter ou recuperar a sua área foliar após o pastejo exercido
pelos animais.
Desta forma, a melhora no manejo dos pastos no sentido de ofertar aos
animais forragem em quantidade adequada e com bom valor nutritivo, deve ser
prioridade para os rebanhos de cria, recria e engorda, diferentemente da
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cultura atual de que as terras de pior qualidade sejam destinadas às fazendas
de cria. Essa mentalidade, sem qualquer sombra de dúvida, tem causado
grande prejuízo ao produtor de bezerros desmamados, pois a manutenção de
um elevado número de vacas improdutivas no rebanho reduz a eficiência
econômica da atividade, pelos gastos decorrentes de energia e proteína para
mantença desses animais.
6.1.3 – Morte dos pastos na região Centro Oeste:
Adicionalmente ao problema da degradação das pastagens, que é um
processo progressivo de perda de produtividade e capacidade de suporte, em
todas as regiões do estado de Mato Grosso tem sido verificado recentemente
um fenômeno denominado de “morte das pastagens”, que tem preocupado os
pecuaristas, técnicos e pesquisadores, por ser um problema multifatorial. O
primeiro episódio de morte de pastagens ocorreu em 2004, em fazendas
localizadas na região Oeste do estado, com expressivas áreas de capim
Marandu completamente mortas. Na época, pesquisadores da EMBRAPA
(CNPGC) e técnicos da região identificaram a causa do problema como
relacionado à ocorrência de fungos no pasto pela excessiva umidade em solos
com drenagem deficiente, bem como o feito direto da umidade excessiva no
solo sobre o capim Marandu, reconhecidamente intolerante a solos com baixa
drenagem; e ao ataque de cigarrinhas das pastagens.
Em 2010-2011, o problema retornou, acometendo todas as regiões do
estado, que de acordo com levantamentos feito pelo IMEA (2011), cerca de
57% dos produtores entrevistados citaram a ocorrência do problema. De
acordo com o levantamento, dos 25,8 milhões de há de pastagens no estado
de Mato Grosso, cerca de 8,6%, ou seja, 2,23 milhões de há foram acometidos
em 2011, sendo a região sudeste com maior incidência do problema, com 15%
da área total de pastagem. Em termos absolutos, a região Nordeste registrou a
maior área afetada, com cerca de 705 mil ha. As causas do problema tem sido
associadas excesso de água nos solos, à incidência de pragas e ao efeito da
seca, com proporções de 4, 43 e 53%, respectivamente, de contribuição para o
problema, segundo os produtores.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Além do efeito direto sobre a produção do pasto e, conseqüentemente,
sobre a capacidade de suporte da pastagem e o desempenho animal, a morte
do pasto tem um impacto econômico considerável, decorrente do custo relativo
à recuperação da área de pastagem. O custo médio estimado por há para
replantar o pasto é de R$ 1.190,00 e, desta forma, o estrago econômico da
morte dos pastos apenas sobre a recuperação das áreas pode ser estimado
em 2,63 bilhões de reais.
Tanto do ponto de vista de efeito sobre o desempenho produtivo dos
animais, quanto pela limitação da conquista de mercados mais exigentes, o
controle e erradicação de algumas enfermidades se faz necessária para que a
pecuária de corte brasileira se torne mais eficiente e competitiva. Neste
aspecto, pode-se iniciar com o controle de infecções causadas por
endoparasitas em animais jovens (bezerros e novilhos) que são mais
susceptíveis e sensíveis aos vermes gastrintestinais.
Em vários países do hemisfério norte a pecuária de corte nos trópicos
tem sido tachada de ser dependente do uso de extensas áreas de pastagens,
geralmente atrelando essas áreas a florestas que teriam sido derrubadas, com
conotações de baixa eficiência produtiva. O argumento para esse raciocínio
reside no fato da elevada produção de carne por ha apresentada pela pecuária
de corte nesses países, mantida em decorrência do elevado uso de alimentos
concentrados nos sistemas de confinamento e semi-confinamento. Entretanto,
o que não se contabiliza são as extensas áreas de lavouras necessárias para a
produção de grãos, os quais são usados nos confinamentos, geralmente
produzidos em outros países, notadamente os em desenvolvimento.
Um dos fatores considerado limitante à introdução de novas tecnologias
de produção na pecuária de corte, no que se refere às atividades que se dão
dentro da porteira é a baixa qualificação do trabalhador rural e, com isso, a
dificuldade e resistência do mesmo em absorver novas informações e técnicas
de manejo (Pires, 2002). Entretanto, considerando a importância do trabalhador
rural na adequada aplicação da tecnologia para que ocorra o desenvolvimento
do setor pecuário, faz-se necessário a sua capacitação e conscientização, bem
como a valorização do seu trabalho, no sentido de garantir a eficiência das
técnicas adotadas na fazenda. Portanto, é imprescindível a difusão de
conhecimento e tecnologia por meio de agentes multiplicadores (Pires, 2002).
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6.1.4 – Administração da propriedade e planejamento:
Um aspecto de elevada relevância que afeta a eficiência produtiva e
econômica da pecuária de corte diz respeito à administração da propriedade e
do planejamento das ações. Pois, considerando que em elevada freqüência
não existe nas fazendas brasileiras pessoal com treinamento para exercer tais
atribuições, pode-se inferir que a pecuária de corte é caracterizada por
sistemas gerencial e econômico deficitários. Desta forma, é um tema de grande
importância, pois determina as ações a serem tomadas para alcançar
determinados objetivos, os quais dependem de fatores técnicos e econômicos
(Vale, 2002).
Segundo Vale (2002), no processo administrativo, a tomada de decisão
necessita da identificação do problema; da coleta de dados, fatos e
informações relevantes; da identificação de soluções alternativas e sua análise;
da tomada de decisão propriamente dita, escolhendo a melhor alternativa; a
implementação desta última e da avaliação dos resultados. Infelizmente na
maioria das fazendas brasileiras, tanto não existe pessoal treinado para
conduzir tal processo, bem como a falta de coleta de dados produtivos do
rebanho dificulta a implementação de tal sistemática. Mas, assumindo que o
objetivo com a produção de bovinos de corte seja a obtenção de lucro, faz-se
necessária a contratação de mão-de-obra qualificada para conduzir a gestão e
o planejamento, os quais podem determinar o aumento da eficiência produtiva
e econômica.
No item planejamento, envolve o planejamento tático e o estratégico, os
quais são determinantes para reduzir os riscos e evitar surpresas decorrentes
de intempéries ou oscilações de preços de insumos ou do mercado regional,
nacional ou internacional.
Considerando que nos últimos 20 anos as Universidades e Centros de
Pesquisa Nacionais (EMBRAPA) geraram uma quantidade extraordinária de
conhecimento relativa ao setor pecuário, publicados na forma de
dissertações/teses e/ou artigos científicos, crê-se que este conhecimento já
permita grande avanço da pecuária de corte nacional, como já tem acontecido
durante a última década. Portanto, basta que essas informações sejam
adaptadas e aplicadas em cada condição particular para que as
transformações ocorram de forma mais rápida e eficaz.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Dentro do enfoque de melhorar o manejo do rebanho de corte, no
sentido de permitir a produção de carne que atenda os mercados mais
exigentes do mundo, há a necessidade de se produzir alimentos seguros, de
qualidade reconhecida e proveniente de sistemas de produção sustentáveis.
Com esses objetivos, o Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Corte
(CNPGC – EMBRAPA) lançou em 2002 (Euclides et al. 2002) a primeira edição
do Manual de Boas Práticas Agropecuárias, também conhecido como Brazilian
GAP (GAP = good agropecuarian production), o qual foi reeditado em ampliado
por Valle (2011), que segundo os autores, tem os seguintes objetivos:
“proporcionar um manual de procedimentos em boas práticas que orienta o
produtor rural na utilização adequada das tecnologias sustentáveis disponíveis
a cada região produtora, em consonância com os requisitos econômicos,
sociais e ambientais que devem ser seguidos, de modo a permitir a habilitação
(certificação) das propriedades rurais, dos processos de produção e dos
produtos obtidos”.
6.2 - FORA DA PORTEIRA:
De acordo com Buainain e Batalha (2007), os principais obstáculos a
serem vencidos pela pecuária de corte nacional para se consolidar de forma
definitiva como maior exportador e, no futuro próximo, como maior produtor de
carne bovina do mundo são a falta diferenciação de produtos; as barreiras
sanitárias mantidas por alguns países tendo como critério a necessidade de
atingir o status de livre de febre aftosa sem vacinação; a falta de um padrão de
qualidade e a desorganização da cadeia produtiva.
6.2.1 – rastreabilidade e qualidade da carne bovina
A intenção e o desafio de conquistar mercados consumidores
importantes de carne bovina colocam a pecuária de corte nacional em um
grande conflito, pois exige maior diversificação da produção da carne bovina
nacional. Junto a isso, tornam-se fundamentais os trabalhos de tipificação e
padronização de carcaças, com vistas à melhoria da qualidade da carne
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bovina, traduzida particularmente pelos aspectos ligados à sua maciez, cor e
suculência. Pois, considerando que os animais abatidos no Brasil são oriundos
de sistemas de produção baseados em pastagens, as quais exclusivamente da
forma que são manejadas em sua maioria, não permitem o abate de animais
precoces, que reconhecidamente apresentam carne mais macia e suculenta do
que animais mais tardios (Luchiari Filho, 2006).
Neste aspecto, merece destacar as limitações do sistema de produção a
pasto com gado Nelore em atender os mercados americanos e japonês, os
quais demandam carnes provenientes de animais confinados e com elevado
grau de marmoreio. Adicionalmente, a carne do gado zebu é considerada
pouco macia e suculenta, bem como com pouco grau de marmoreio, o que vai
exigir muito empenho e dedicação da cadeia produtiva da carne bovina para
reverter essa imagem e para promover alterações significativas nos sistemas
de produção a fim de atender esses mercados, caso eles se abram à carne
bovina brasileira.
O mercado da carne bovina no Brasil e no mundo é e será ditado por
aspectos relacionados ao crescimento da população e seu poder aquisitivo,
bem como pelo grau de exigência do consumidor relacionados às questões
nutricionais, segurança alimentar, bem-estar animal e aspectos ambientais e
sociais. Com isso, para o atendimento destas reivindicações, há a necessidade
urgente de que sejam estabelecidas as chamadas alianças mercadológicas, as
quais podem ser definidas como uma integração organizada entre os diversos
componentes da cadeia produtiva de bovinos de corte. Nestas alianças, os
diferentes componentes trabalham em conjunto com objetivos comuns, dentro
de suas atribuições, a fim de proporcionar o atendimento de metas previamente
estabelecidas, ou seja, ofertar aos consumidores produtos diferenciados,
assegurando a esses atributos de qualidade intrínseca e extrínseca do produto
ao longo do processo de produção.
Apesar dessa questão o conceito de qualidade é dependente do
mercado consumidor em questão, influenciado por questões culturais, sócio-
econômicas, político-religiosas, etc. Neste aspecto, deve-se destacar que o
conceito de qualidade aplicado à carne bovina pode ganhar diferentes
conotações e interpretações e, desta forma, define o conceito de qualidade a
partir de uma série de componentes:
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- rendimento e composição – mensurada pela quantidade de produto
comercializável, proporção de carne magra e gordura e, o tamanho e a forma
dos músculos;
- aparência e características tecnológicas – cor e textura da gordura,
quantidade de marmorização no tecido magro, cor e capacidade de retenção
de água e composição química do músculo;
- palatabilidade – textura, maciez, suculência, sabor e aroma;
- integridade do produto – qualidade nutricional, segurança química e biológica;
- qualidade ética – questões relacionadas ao bem estar animal.
Dentro dessa problemática a qual parece ser iminente, certamente a
utilização de cruzamentos do gado zebu com raças taurinas parece ser uma
opção extremamente interessante em curto prazo para proporcionar rápido
impacto na maciez, no marmoreio e suculência exigida pelos mercados
supracitados. Adicionalmente, o confinamento provavelmente aumente a sua
importância e participação no total de gado abatido no Brasil para atender
esses mercados específicos.
No caso da carne bovina, o conceito de qualidade incluem a
Rastreabilidade; as Boas Práticas Agrícolas (GAP) e a APPCC (Análise de
Perigos e Pontos Críticos de Controle), os quais precisam ser absorvidos por
toda a cadeia produtiva da carne bovina, a fim de garantir segurança,
confiabilidade, qualidade e a redução de riscos. Desta forma, considerando os
problemas sanitários ocorridos na Europa e os diferentes sistemas de
rastreabilidade estabelecidos em alguns países, mas tendo como referência o
sistema europeu, o MAPA (2006) visando estabelecer normas para a produção
de carne bovina com garantia de origem e qualidade, publicou então a
Instrução Normativa n° 17, em 14/07/2006, com nova estrutura operacional
para o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos
– SISBOV (BRASIL, 2006). O novo sistema é de adesão voluntária,
permanecendo a obrigatoriedade de adesão apenas para os mercados que
exijam a adesão. Apesar do avanço, acredita-se que apenas rastrear o rebanho
e a sua carne para os mercados de exportação que exigem tal procedimento,
de certa forma, desmerece o mercado interno e outros mercados externos,
apesar do custo inerente da adesão ao sistema.
Embora muito pouco utilizada no Brasil, tem ocorrido nos últimos anos a
criação de determinadas marcas ou programas para estabelecer qualidade da
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carne bovina no Brasil, no sentido de identificar para o consumidor além da
qualidade do produto apresentado, todo um sistema de produção,
processamento e distribuição que atribuem e agregam valor ao produto.
Exemplos de tais iniciativas são as marcas: Programa de Qualidade Nelore
Natural (PQNN), Programa Carne Angus Certificada, Friboi Quality Farms,
“Brazilian Beef - Naturally Healthy”.
O PQNN na verdade representa um conjunto de normas e
procedimentos que visam garantir o padrão de produção de carcaças bovinas,
bem como dos sistemas de cria e engorda, além do uso orientado de
reprodutores da raça. Tem como meta proporcionar ao mercado consumidor
uma carne diferenciada pela sua padronização e qualidade controlada. O
programa está baseado na simplicidade e praticidade, de forma que qualquer
criador, recriador ou invernista pode participar, independentemente do tamanho
de seu rebanho, aliados às indústrias frigoríficas e estabelecimentos varejistas,
os quais devem ser habilitados pelo Programa. Como foco principal, o sistema
de criação dos animais deve ser baseado em uso de pasto e sal mineral. Os
animais podem receber suplementação estratégica, inclusive a terminação dos
animais em confinamento, desde que com produtos de origem vegetal e por
períodos limitados.
Igualmente importante, foi a criação do Programa Carne Angus
Certificada, por intermédio de parceria entre a Associação Brasileira de Angus
(ABA) a indústria frigorífica, no sentido de produzir carne de qualidade
certificada, com o uso de animais da raça Angus e suas cruzas. Esta iniciativa
visa valorizar a carne desses animais por meio de pagamentos por qualidade,
bem como fortalecer a integração da cadeia produtiva da carne bovina.
Com o mesmo objetivo anteriormente descrito, foi proposto pela
EMBRAPA Gado de Corte o “Programa Embrapa Carne de Qualidade”,
caracterizado por ser um programa abrangente, audacioso e pretensioso, pois
tem como meta englobar todos os elos da cadeia produtiva até o consumidor,
promovendo interações entre produtores, e os demais segmentos, tais como, a
indústria frigorífica, redes de distribuição, no sentido de estruturar as chamadas
alianças mercadológicas. Ainda, podem ser citado os sistemas PAS (produtos
alimentos seguros) e a produção de carne orgânica como estratégias muito
importantes para estimular o consumo de carne bovina associada ao aspectos
de qualidade e segurança alimentar.
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Sem dúvida alguma, a falta de conquistas ainda mais expressiva pelos
mercados internacionais deve-se ao pouco investimento nesses programas de
criação de marcas de qualidade da carne bovina, o que precisa ser fomentado.
Para isso, há a necessidade que empresas frigoríficas e produtores
reconheçam os benefícios desta iniciativa e promovam maior integração entre
si.
A carne bovina foi e tem sido motivo de muita discussão pela sociedade
e pela mídia, sendo na maioria das vezes, feita uma análise equivocada sobre
a sua importância como componente da dieta humana. Neste sentido, desde a
década de 1970 que tem sido associada à carne bovina (carne vermelha) a
causa de doenças cardiovasculares, causada pela presença de gordura
saturada nesta. Entretanto, precisa ser salientado que isso constitui num mito,
pois os trabalhos de pesquisa não evidenciaram até o presente momento uma
relação de causa e efeito direta entre o consumo de carne bovina dentro de
uma dieta equilibrada e a ocorrência destas dietas. Pois, é sabido que além de
fatores relacionadas à dieta, essas doenças ocorrem pela soma de fatores
genéticos e aqueles relacionados ao estresse, sedentarismo, etc.
Recentemente, o consumidor tem dado muito valor aos aspectos
relacionados aos efeitos dos alimentos sobre a sua saúde e, desta forma, a
carne bovina foi muito penalizada e teve o seu consumo afetado por
propagandas e reportagens infundadas divulgadas nos mais diversos meios de
comunicação. Com base nisso, outras carnes tidas como mais saudáveis
tiveram incremento elevado de consumo se beneficiando destas informações
equivocadas sobre a carne bovina. Apesar disso, a carne bovina ainda é
bastante consumida, é fundamental na dieta do homem pelas suas
propriedades nutritivas, bem como pelas suas características organolépticas
incomparáveis (cheiro, sabor, textura, maciez, etc.) de tal forma que há uma
necessidade premente de que seja revertida essa imagem, por meio de
esclarecimentos e divulgação do seu valor nutritivo, tanto para a sociedade,
quanto para os formadores de opinião, incluindo mídia, médicos e
nutricionistas. Neste sentido, cabe destacar a criação do Serviço de Informação
da Carne (SIC), em 1999, com o objetivo de divulgar aspectos da importância
da carne bovina, desmistificar conceitos equivocados que relacionam o seu
consumo com a saúde humana, e estimular o consumo da mesma no mercado
nacional e internacional.
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6.2.2 – impactos ambientes da pecuária:
Infelizmente, a pecuária de corte nacional tem sido associada ao uso de
áreas de florestas e, mais especificamente, a abertura da floresta amazônica, o
que tem criado uma imagem negativa dos produtos gerados em importantes
mercados consumidores, como o Europeu, que está preocupado com questões
relacionadas aos sistemas de produção, envolvendo além destes, aspectos
sociais e de bem-estar proporcionados aos animais, adicionalmente à
segurança alimentar. De certa forma, a pressão exercida pela agricultura sobre
a pecuária em áreas de maior valor e com maior aptidão agrícola, proporcionou
mudanças e uma migração da pecuária nacional para as regiões Centro Oeste
e Norte, o que incidiu sobre áreas de cerrado e florestas.
Entretanto, considerando que nos últimos anos houve expressiva
aplicação de tecnologia associada ao manejo de pastagens e à nutrição dos
animais mantidos nestas áreas, notadamente o uso de suplementação de
animais na época seca e, até mesmo no período das águas, tem sido estimado
que a área destinada à pecuária nas regiões Norte e Centro Oeste tenha sido
reduzida em pelo menos 2% nos últimos cinco anos e, que o aumento da
produção de carne ocorreu pelo aumento da produtividade nas áreas de
pastagem existentes. Esse fato destaca as mudanças que vêm ocorrendo com
a pecuária de corte nacional, sendo essas promovidas pela aplicação de
tecnologias e pela mudança de consciência dos produtores, o que evidencia a
pujança do Brasil para a produção de alimentos (tal como a carne) para a
população do mundo num futuro próximo.
Também precisa ser acrescentado à essa discussão a necessidade de
melhor caracterização do que se chama de área da floresta amazônica,
daquela área onde a pecuária tem sido mantida, o que tem sido
equivocadamente aceita pela sociedade urbana desconhecedora e divulgada
pela mídia sensacionalista. Soma-se a isso, o empenho das instituições
federais (IBAMA) e estaduais (SEMA) de fiscalização para reprimir a abertura
de novas áreas, o que certamente tem colaborado para evitar tal tipo de
ocorrência.
Outra questão bastante relevante inerente à discussão sobre os
impactos ambientais da pecuária decorre das superestimativas da contribuição
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dos animais ruminantes (incluindo os bovinos de corte) para a emissão de
gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera, notadamente o metano, dada a
sua relação com o chamado aquecimento global. Deve ser salientado que o
metano é um gás natural decorrente do processo fermentativo nos
compartimentos digestivos do trato digestório dos animais ruminantes, cuja
intensidade pode ser reduzida pelo aumento da eficiência de utilização dos
nutrientes no rúmen, decorrentes do uso de forrageiras de melhor valor nutritivo
(maior % de PB e menor % de FDN) e de técnicas mais intensivas de produção
(lotação rotacionada, suplementação, aditivos, etc.). Considerando que a
pecuária de corte brasileira sofreu um processo de intensificação nos anos
mais recentes, caracterizada pelo aumento do rebanho e de sua produtividade,
mas sem que ocorresse aumento da área de pastagens, pode-se afirmar que
naturalmente as emissões de metano dos sistemas pecuários nacionais estão
em declínio, concomitante à intensificação da pecuária de corte. Entretanto,
deve ser ressaltado que o saldo da emissão de carbono total pela pecuária
nacional tem sido reduzido, tanto pelo aumento da intensificação da produção
animal, quanto pelo aumento da eficiência de produção das forrageiras
tropicais, as quais marcadamente apresentam elevada eficiência fotossintética
e, neste aspecto, propiciam um saldo favorável, pois fixam elevada quantidade
de CO2 atmosférico através da fotossíntese via C4. Desta forma, dentro do
conceito de agricultura de baixo carbono (ABC), programa lançado pelo MAPA,
objetiva-se tornar os sistemas agrícolas mais produtivos e sustentáveis, por
meio de recursos e iniciativas que fomentem a utilização de práticas agrícolas
que sejam mais eficientes e com baixa emissão de carbono para a atmosfera
(GEE).
6.2.3 – Desorganização da cadeia produtiva, falta de alianças
mercadológicas e ações governamentais:
De acordo com Rocha et al. (2001) citados por Pineda e Rocha, (2002)
aliança mercadológica ou parceria vertical pode ser definida como uma
iniciativa conjunta de supermercados, frigoríficos e pecuaristas objetivando
proporcionar ao consumidor uma carne de origem conhecida e com qualidade
assegurada. Precisa ser enfatizado que as alianças mercadológicas devem
beneficiar, primeiramente, o consumidor, por intermédio da oferta de um
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produto que atenda aos seus anseios; assim como a todos os componentes da
mesma. Neste caso, para o pecuarista, participar de um programa de qualidade
possibilita incrementar o giro de capital na propriedade, em função de trabalhar
com uma matéria-prima mais precoce (animal) que adicionalmente, permite
uma remuneração extra pela qualidade de seu produto. No caso da indústria, o
seu benefício decorre da garantia do fornecimento regular de uma matéria-
prima padronizada em quantidade e qualidade (Pineda e Rocha, 2002).
Ainda, de acordo com Pineda e Rocha, (2002), as alianças
mercadológicas estabelecem um programa de qualidade que leva em
consideração uma redefinição do comportamento de todos os agentes da
cadeia produtiva da carne bovina. Neste aspecto, merece ser destacado que a
formação de alianças mercadológicas pode proporcionar o extermínio da
histórica relação de oportunismo entre os componentes da cadeia da
bovinocultura de corte, a qual compromete as relações comerciais entre os
agentes econômicos do setor e representa um impedimento à melhoria da
eficiência econômica dos diversos elos que a compõem. Entretanto,
considerando a complexidade de toda a cadeia produtiva da carne bovina,
existem peculiaridades inerentes à cada componente da mesma que dificultam
o estabelecimento da integração.
Ao longo dos últimos anos, os produtores enfrentaram situações críticas
em função da relação receita e custo na produção de bovinos de corte,
entretanto, com a retomada dos preços da carne, outras exigências impostas
pelos consumidores expõe as necessidades e os benefícios oriundos de uma
produção integrada, de forma que todos os setores da cadeia produtiva
funcionem em sincronia, representando uma estrutura única e organizada.
Essa organização não deve ser estabelecida somente para o aumento
da eficiência na produção de carne, mas também para fornecer produtos
diferenciados que venham a competir e suprir diferentes nichos do mercado
consumidor (Euclides Filho e Euclides, 2010).
Todas essas mudanças passam a ser determinadas pelo consumidor
final que apresenta crescentes demandas por alimentos seguros e de
qualidade nutricional superior. As alianças mercadológicas, por viabilizarem a
interação entre os vários segmentos da cadeia produtiva de forma organizada,
disponibilizam ao consumidor produtos diferenciados, assegurando atributos de
qualidade intrínseca e extrínseca ao longo de todo o processo de produção.
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Tal estratégia não somente possibilita o atendimento por qualidade do
alimento, mas também possibilita que os diversos setores compartilhem o lucro
adicional, resultante da agregação de valor. É evidente que essa
implementação não depende somente dos fabricantes de insumos, produtores,
indústrias frigoríficas, governo e instituições de pesquisa, mas também da
qualificação da mão de obra disponível aos segmentos da cadeia produtiva.
Embora a cadeia produtiva da bovinocultura de corte necessite de
articulação e empenho para dirimir os problemas que lhe competem, há a
necessidade de que ocorram ao mesmo tempo ações governamentais, no
sentido de apoiar ou facilitar todo o empenho dos integrantes do sistema de
produção de carne. Neste sentido, entende-se que uma importante ação do
governo federal deve envolver a utilização de esforços para o fortalecimento da
economia e o investimento em novas fontes de trabalho, pois, sabe-se do efeito
positivo que a geração de empregos e do aumento do poder aquisitivo da
população exercem sobre o consumo de carne bovina no Brasil.
Da mesma forma, crê-se que políticas de créditos e financiamentos a
juros mais acessíveis e a desburocratização dos sistemas vigentes seriam
fundamentais no sentido de possibilitar tanto aos produtores como aos demais
componentes da cadeia produtiva da carne bovina maiores investimentos no
setor, a fim de promoverem aumento da produção e produtividade, aliada ao
aumento da qualidade e agregação de valor à carne bovina.
Também de fundamental importância seria o aumento da política de
crédito e apoios fiscais à política da exportação da carne bovina, no sentido de
possibilitar ao nosso produto maior poder de concorrência nos mercados
externos.
Um tópico que merece uma discussão mais extensa do que a que será
aqui apresentada se refere aos investimentos e infra-estrutura de transporte
dos produtos agropecuários no Brasil, o qual é considerado deficiente e, desta
forma, aumenta as perdas e os custos do deslocamento dos produtos,
incluindo a carne bovina, das regiões produtoras para os centros consumidores
e, principalmente, das zonas portuárias de exportação. Neste sentido, há a
necessidade de investimentos pesados em melhoria de várias rodovias
federais e estaduais, bem como a construção de rodovias estratégicas que
permitam o escoamento da produção de forma mais rápida, segura, eficiente e
de menor custo. Dentro desse assunto, destaca-se a necessidade urgente de
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investimentos em ferrovias, as quais permitiriam aumentar de forma mais
expressiva e eficiente à redução dos custos de transporte.
Entende-se que também seja relevante o investimento por parte dos
governos em estrutura portuária, pois as condições dos portos brasileiros são
consideradas deficitárias por especialistas do setor. Tal situação compromete a
rapidez do atendimento das entregas nos países importadores, assim como a
qualidade do produto, aumenta os custos e reduz a confiança no Brasil como
país que se apresenta para ser o grande celeiro da humanidade nos séculos
vindouros.
A saúde e bem-estar da população moderna têm sido atribuídos
principalmente à alimentação, tanto no quesito qualidade quanto aos seus
aspectos de conveniência, acessibilidade, higiene, apresentação (embalagem),
funcionalidade e de segurança do alimento consumido (Euclides Filho e
Euclides, 2010). Dessa forma o consumidor torna-se mais exigente com a
melhoria dos níveis de educação e de informação, e com o aumento da renda.
Perpendicular a tais exigências, o consumo de alimentos é também
influenciado por outros fatores, como: a taxa de crescimento da população; a
estrutura e tamanho da família; a estrutura de emprego; e a etnia.
Segundo Euclides Filho e Euclides (2010), a produção integrada é
definida como sendo um sistema de exploração agrária que produz alimentos e
outros produtos de alta qualidade mediante ao uso dos recursos naturais e de
mecanismos reguladores, para minimizar o uso de insumos e contaminantes e
para assegurar produção sustentável.
O consumo da carne bovina e a conseqüente expansão de mercados
são influenciados principalmente pelo aumento das exigências por parte dos
consumidores em relação à qualidade e com relação à segurança dos
alimentos. No entanto, o atendimento a essas exigências pode ser facilitado
pelo desenvolvimento de marcas, que por sua vez, pode caracterizar-se de
estratégia viável para a implantação de programas integrados, via alianças
estratégicas.
Para que ocorra a sincronia por parte de cada segmento da cadeia
produtiva, faz-se necessário o acompanhamento do produto durante todo o
processo de produção, industrialização, na distribuição, sendo ainda pertinente
o acompanhamento da produção e utilização dos insumos, possibilitando que
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esse rastreamento do produto final apresente certificação, ou seja, da fazenda
a mesa do consumidor.
O segmento, geração de conhecimento e tecnologia, também deve ser
considerado como componente da cadeia produtiva, com o objetivo de
fundamentar e possibilitar a identificação eficiente de seus principais entraves e
de suas oportunidades mais relevantes, além de estruturação e condução dos
projetos de pesquisa, de viabilização da transferência tecnológica e da
capacitação de pessoal.
Nesse contexto integrado, a participação da pesquisa requer o
estabelecimento de parcerias sólidas, fortalecendo um modelo de pesquisa
focado em inovação, sem inviabilizar o desenvolvimento científico.
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7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pecuária de corte brasileira ocupa lugar de destaque na economia
nacional, colaborando de forme efetiva na geração de empregos e para o saldo
positivo da balança comercial. A partir da década de 1980 houve expressiva
aplicação de tecnologias ao setor que associado à estabilização da economia
promoveu incremento nos índices produtivos. A partir de 2003, em função do
seu elevado rebanho, preço competitivo e da ocorrência de problemas
sanitários na Europa e Estados Unidos, o Brasil tornou-se o maior exportador
de carne bovina do mundo. Em decorrência dos fatores associados
anteriormente, a pecuária de corte nacional possui elevada capacidade de
manter-se como maior exportador e ainda, conquistar mercados mais exigentes
e que remuneram melhor. Entretanto, por questões relacionadas à aplicação de
tecnologias, problemas de ordem sanitária, de organização da cadeia
produtiva, da qualidade e diversificação da carne e questões que dependem de
ações governamentais, a pecuária de corte bovina do Brasil ainda encontra
dificuldades em acessar esses mercados, tornando necessária a articulação
dos diversos segmentos que compõem a cadeia produtiva no sentido de
implementar essas transformações, as quais certamente poderão colocar a
pecuária de corte em condição privilegiada no cenário internacional, compatível
com o nosso potencial.
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8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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