GUIA DE ESTUDOS Comitê para o Desarmamento e Segurança Internacional Estratégias e medidas para o desarmamento nuclear Thales Linke de Avellar Diretor Ana Flávia Urzedo de Almeida Diretora Assistente Luisa Novais Tolledo Diretora Assistente Yale de Paula Soares Diretora Assistente
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Guia DSI - Comitê de desarmamento e Segurança Internacional
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GUIA DE ESTUDOS
Comitê para o Desarmamento e Segurança
Internacional
Estratégias e medidas para o desarmamento nuclear
Thales Linke de Avellar
Diretor
Ana Flávia Urzedo de Almeida
Diretora Assistente
Luisa Novais Tolledo
Diretora Assistente
Yale de Paula Soares
Diretora Assistente
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO DA MESA DIRETORA ..................................................... 3
2 INTRODUÇÃO AO TEMA ............................................................................... 4
3 OS ARMAMENTOS NUCLEARES ................................................................. 4
3.1 Dilema de Segurança ............................................................................................ 6
3.2 Consequências do desenvolvimento de armamentos nucleares ............. 7
3.3 O Desarmamento Nuclear ................................................................................... 8
4 O PAPELDAS NAÇÕES UNIDASNO DESARMAMENTO NUCLEAR .......... 9
4.1 Apresentação do Comitê ..................................................................................... 9
De forma análoga, outros Estados que não a União Soviética ou os
Estados Unidos desenvolveram tecnologia nuclear bélica, formando assim o
grupo conhecido atualmente como as potências nucleares de jure1: Estados
Unidos (1945), URSS (1949), Reino Unido (1952), França (1960) e China
(1964).
Os armamentos nucleares, de forma geral, apresentam uma razão-de-
ser de cunho estratégico extremamente sólida. É fácil compreender as razões
pelas quais um Estado que se sinta ameaçado, ou em risco iminente de conflito
armado com outros Estados poderosos, venha a adquirir equipamento nuclear
e armamento estratégico. A capacidade de destruição das ogivas nucleares,
bem como a mobilidade de suas bases de lançamento (em terra ou
submarinas), o alcance de seus foguetes propelentes e a velocidade de vôo
destes mesmos foguetes fazem com que este tipo de armamento seja ideal,
uma vez que é dificilmente anulado ou interceptado, e portanto tem valor
estratégico e tático indiscutível, seja para o ataque ou para a defesa.
1 A expressão em latim de jure, cuja tradução literal pode ser entendida como “pela lei” ou “pelo
direito”, neste caso, significa que teoricamente os cinco primeiros Estados nuclearizados deveriam ser os únicos, o que não se comprova de facto, ou seja, na prática.
No entanto, o CTBT ainda não entrou em vigor, uma vez que seu texto
define que, para vigorar, é necessário que determinados Estados específicos o
assinem e ratifiquem. Destes Estados, ainda não o assinaram: Coreia do Norte,
Índia e Paquistão. China, Egito, Irã, Israel e Estados Unidos assinaram mas
não ratificaram. Nota-se, portanto, que os únicos Estados nuclearizados que
assinaram e ratificaram o documento são Reino Unido, França e
Rússia.(PREPARATORY COMISSION FOR THE COMPREHENSIVE
NUCLEAR-TEST-BAN ORGANIZATION, 2012).
No caso do TNP, o tratado vigora desde o ano de 1970, e foi assinado e
ratificado por quase todos os Estados-membros da ONU, à exceção de Israel,
Índia e Paquistão. Há ainda uma particularidade: a Coreia do Norte retirou-se
do tratado em 2003.
Estes dois tratados, portanto, apontam dois problemas comumente
encontrados quando se trata de questões de desarmamento: como fazer com
que mais Estados assinem e ratifiquem o documento, e como evitar que
Estados signatários retirem-se do acordo?
5 PROBLEMATIZAÇÃO DE QUESTÕES DE DESARMAMENTO
Conforme apresentado até agora, o desarmamento nuclear é
indubitavelmente um dos maiores desafios dos diplomatas e chefes de Estado
atualmente. Este fato é evidenciado ao notarmos que a despeito da grande
quantidade de tratados existentes para a promoção de objetivos do
desarmamento nuclear, o problema ainda é bastante premente e significativo
ao contexto internacional atual. Assim, pode-se afirmar que a noção de que a
manutenção e obtenção de armamentos nucleares “foi um problema da Guerra
Fria” é fundamentalmente equivocada.
Uma prova bastante atual do quanto a questão do desenvolvimento e
obtenção de armamentos nucleares ainda é significativa é a preocupação
generalizada dos países do globo (com ampla cobertura pela mídia) com os
programas nucleares da Coreia do Norte ou do Irã.
À primeira vista, pode parecer relativamente simples solucionar o dilema
de segurança relacionado aos armamentos nucleares: se o problema são os
armamentos nucleares, bastaria, portanto, desfazer-se deles. Os problemas
relativos ao desarmamento surgem justamente quando percebemos que o
grande obstáculo não é concluir que a existência de armamentos nucleares
levanta dificuldades, mas sim que, uma vez desenvolvidos, torna-se
imensamente complexo desfazer-se destes armamentos. Além disso, não há
consenso sobre a noção de que armamentos nucleares tornam o sistema
internacional mais instável e inseguro. Pelo contrário, figuras ilustres e
esclarecidas como Harry Truman e Margaret Thatcher defendiam sua utilização
e manutenção.
5.1 Controle de Armas versus Desarmamento
Embora à primeira vista pareça lógico ou desejável o desarmamento
completo dos Estados, independentemente de tratar-se de equipamento
nuclear bélico ou armamentos convencionais, não há unanimidade na
conclusão de que os armamentos nucleares sejam prejudiciais à estabilidade
do sistema internacional de Estados. Isso não significa, porém, que os
defensores da existência de equipamento nuclear militar acreditem que não
deva haver fiscalização ou regulamentação da obtenção, produção e
armazenamento deste tipo de arsenal.
Pode-se compreender esta linha de pensamento como uma ideologia de
Controle de Armas, mas não necessariamente de desarmamento. Defensores
desta corrente baseiam-se no princípio da balança de poder, ou seja, é
necessário que os Estados estejam em uma situação de equilíbrio em suas
capacidades militares para que exista paz. As armas nucleares seriam,
portanto, uma ferramenta de estabilização da balança de poder, na medida em
que, conforme previsto pelo princípio da DMA, os Estados nuclearizados jamais
se atacariam por medo de retaliação.
Propõe-se, portanto, que deve haver um controle do desenvolvimento
militar dos Estados no sentido de garantir o equilíbrio na balança de poder, mas
não contempla-se o desarmamento completo como opção viável a este
resultado, uma vez que qualquer medida desarmamentista que não fosse
perfeitamente coordenada entre os Estados, ou qualquer Estado que rompesse
com seus compromissos resultaria no resultado oposto: um desequilíbrio
brusco e imediato da balança de poder, tornando mais instável o sistema
internacional de Estados. Uma ilustre defensora deste tipo de política é a
primeira-ministra britânica de 1979 a 1990, Margaret Thatcher. Segundo suas
próprias palavras,
um mundo sem armas nucleares pode ser um sonho, mas não se pode basear uma defesa garantida em sonhos. Sem uma confiança muito maior entre o Leste e o Oeste do que a existente atualmente, um mundo sem armas nucleares seria menos estável e mais perigoso a todos nós. (THATCHER, 1987, tradução nossa)
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Assim, é perceptível que um obstáculo importante aos assuntos de
desarmamento é de caráter teórico. É necessário ressaltar, ainda, que a
declaração de Thatcher data do ano de 1987, ou seja, o pensamento
geopolítico da época ainda se enquadrava nos parâmetros da Guerra Fria.
Cabe ponderar se, atualmente, no ano de 2012, já existe confiança mútua
suficiente entre os Estados (não apenas entre o Leste e o Oeste) para
desqualificar o embasamento teórico de Thatcher e se o sistema internacional
é suficientemente previsível para que possamos adotar medidas de
desarmamento em detrimento do Controle de Armas.
5.2 Transparência
Outro ponto importante para a reflexão aprofundada a respeito do
desarmamento nuclear trata do grau de transparência com que os Estados
6A world without nuclear weapons may be a dream but you cannot base a sure defence on dreams.
Without far greater trust and confidence between East and West than exists at present, a world without nuclear weapons would be less stable and more dangerous for all of us.
apresentam seus programas nucleares e suas intenções em relação a este tipo
de equipamento, seja para utilização civil ou militar. Ao mesmo tempo em que,
para a construção de confiança e previsibilidade entre os Estados
componentes do sistema internacional, seja necessário um alto grau de
transparência, para que um Estado possa, com segurança, revelar todo o seu
programa nuclear, é necessário um alto grau de confiança. Configura-se,
assim, um dilema: para que haja confiança, deve haver transparência; para que
haja transparência, deve haver confiança.
Dessa forma, apresenta-se como um enorme desafio determinar um
curso de ação ou uma resolução técnica a esse dilema. Uma alternativa
encontrada é a criação de agências ou organismos de fiscalização dos
programas nucleares dos Estados, mas deste ponto também decorre uma série
de problemas: por um lado, as agências podem ser terrivelmente ineficientes
no cumprimento de suas funções, uma vez que não detêm de autonomia legal
para fiscalizar um determinado Estado sem a autorização expressa do governo
vigente; por outro lado, o rigor excessivo na fiscalização gera o argumento de
que as agências nada mais são do que instrumentos dos Estados
nuclearizados para controlar o quadro geopolítico e estratégico internacional,
interferindo diretamente na soberania de Estados menores e menos poderosos.
Um bom exemplo desta dificuldade está na determinação das funções e
do grau total de eficiência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA),
bem como as críticas comumente feitas à agência e às suas ações.
Explicita-se, assim, o fato de que é tremendamente complexa a
instauração de previsibilidade, estabilidade e confiança mútua entre os
Estados, visto que têm seu espaço de manobra reduzido por um dilema e não
dispõem de mecanismos seguros de determinação do futuro. Em outras
palavras, é impossível garantir que um Estado cumprirá com suas afirmações e
seus compromissos, expressos oficialmente ou não. Uma medida comumente
utilizada para castigar os Estados que não cumprem com suas obrigações
diante de tratados e negociações está na aplicação de sanções. Porém, não há
nenhuma evidência clara de que sanções aumentem o grau de eficiência das
medidas pretendidas ou garantam que o Estado infrator mudará o seu curso de
ação. Como exemplos observam-se as sanções aos Estados Unidos pelo
protecionismo ao algodão, em 2010, ou as repetidas sanções à Coreia do
Norte por conta do desenvolvimento de seu programa nuclear nas últimas
décadas.
5.3 Zonas Livres de Áreas Nucleares (ZLANs)
As ZLANs constituem, atualmente, um mecanismo sofisticado e bem
visto pela comunidade internacional, conforme definido pela Conferência para a
Revisão do TNP, de 1995. Pode-se dizer que entre seus objetivos principais
estão a abolição completa de armamentos nucleares em uma determinada
região; além disso, os Estados participantes de ZLANs buscam a eliminação do
perigo de ser envolvido em uma possível guerra nuclear. (MUKAI, 2005, p. 79).
Para tanto, os Estados em acordo definem legalmente e
institucionalmente promover a segurança regional com o compromisso de não
produzir ou pesquisar armamentos nucleares, bem como não estocá-los para
outros Estados. Concomitantemente, buscam garantias dos Estados
nuclearizados de que nunca estarão sujeitos a ações relacionadas ao uso,
teste ou deslocamento de armas nucleares.
De maneira geral, as ZLANs podem ser compreendidas como
ferramentas para a não proliferação de armas nucleares, pelos seus objetivos e
medidas práticas. No entanto, pode-se considerar que as ZLANs compõem,
também, um instrumento de longo prazo para o desarmamento nuclear, visto
que possibilita o estabelecimento de uma malha de desnuclearização. Ou seja,
acredita-se que diante do desafio colossal do desarmamento nuclear global
completo, iniciativas regionais possam terminar por trazer, aos poucos,
estabilidade regional de forma cada vez mais abrangente, até uma possível
malha completa. Além disso, o processo de determinação de ZLANs
frequentemente alimentam a construção de confiança e transparência entre os
Estados participantes (MUKAI, 2005), que são mecanismos essenciais para o
sucesso de qualquer objetivo desarmamentista, conforme demonstrado
anteriormente.
Vale ressaltar a relação estreita entre as medidas geralmente adotadas
por ZLANs e os termos e cláusulas do TNP. Pode parecer redundante, aos
Estados signatários do TNP, a participação em toda e qualquer ZLAN. No
entanto, observa-se que as determinações legais das zonas desnuclearizadas
tendem a formar um arcabouço institucional muito mais rígido do que aquele
estipulado pelo TNP. Este tratado proíbe, por exemplo, a produção, exportação
e utilização de armas nucleares, mas não proíbe o seu estoque, configurando
assim uma falha sistêmica. Além disso, o TNP permite a ocorrência de
“explosões pacíficas”, mas não define este conceito e torna, portanto,
impossível discernir, tecnicamente, explosões pacíficas de explosões não
pacíficas. Para evitar este tipo de contradição, as ZLANs tendem a banir
explosões, independentemente de seus propósitos e de sua natureza.
Outros benefícios à manutenção e incrementação da segurança
internacional geralmente garantidos pela criação de ZLANs são a
demonstração de que processos complexos de negociação com o intuito de
promover áreas desnuclearizadas podem ser demorados e truncados, mas
podem ser bem sucedidos; a estipulação de pontos de comum acordo entre
potências nucleares concorrentes, na medida em que aceitam não envolver a
região em ações que envolvam armamentos nucleares; o encorajamento da
ação ou da criação de organismos de fiscalização e verificação da observância
das normas estipuladas (por exemplo a ABACC7 entre Brasil e Argentina ou as
salvaguardas da AIEA) e reafirma e reconhece a importância dos Estados
desnuclearizados no esforço pela não proliferação e desarmamento.
(FERNÁNDEZ-MORENO, 2009)
Compreende-se, portanto, que de maneira geral as ZLANs tendem a
gerar enormes avanços e benefícios às empreitadas do desarmamento. Deve-
se ressaltar, porém, que o processo de sua criação é extremamente complexo
e pode terminar paralisado. Uma análise das três primeiras ZLANs a entrarem
em vigor apoiadas por tratados (Tlatelolco, Bangkok e Rarotonga) aponta dois
pontos cruciais para o sucesso na criação da zona desnuclearizada: a
existência de organismos internacionais fortes na região (como a OPANAL8, na
América Latina) e a manutenção de boas relações entre os Estados da ZLAN e
os Estados nuclearizados. (MUKAI, 2005)
7Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares
8Organismo para la Proscripción de las Armas Nucleares en la América Latina y el Caribe
Como evitar que os armamentos nucleares caiam nas mãos de
grupos terroristas?
Como evitar que novos Estados adquiram armamentos
nucleares?
REFERÊNCIAS
FERNÁNDEZ-MORENO, Sonia. Nuclear Weapon Free Zones: Past Lessons and Future Prospects. In: CARNEGIE INTERNATIONAL NONPROLIFERATION CONFERENCE, 2009, Washington. Federal News Service, Washington, 2009. Disponível em: <http://carnegieendowment.org/files/npc_nwfz3.pdf> Acesso em: 17 maio 2012. HENSHAW, Paul S.; BRUES, Austin V. General Report Atomic Bomb Casualty Comission.National Research Council, Washington D.C., jan.de 1947. Disponívelem: <http://www7.nationalacademies.org/archives/ABCCrpt_Pt3App9Ch3.pdf>Acessoem: 3 nov. 2011. HERZ, John H. Idealist Internationalism and the Security Dilemma.World Politics. Cambridge,v. 2, n. 2, p. 171-201, 1950. LAFER, Celso. As novas dimensões do desarmamento: os regimes de controle das armas de destruição em massa e as perspectivas para a eliminação das armas nucleares. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, 1998. MUKAI, Wakana. The importance of Nuclear Weapons Free Zones. Graduate School of Public Policy, University of Tokyo.Tóquio, 2005. Disponível em: <http://www.scienceandworldaffairs.org/PDFs/Mukai_Vol1.pdf> Acesso em: 17 maio 2012. MULLER, Richard R. The Origins of MAD: A Short History of City-Busting. In: SOKOLSKI, Henry D. Getting MAD: Nuclear Mutual Assured Destruction, its Origins and Practice. Strategic Studies Institute, p. 13-15, 2004. Disponível em: <www.strategicstudiesinstitute.army.mil/pdffiles/pub585.pdf> Acesso em: 3 nov. 2011. NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. São Francisco, 1945. Disponível em: <http://www.oas.org/dil/port/1945%20Carta%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas.pdf> Acesso em: 16 abr. 2012.
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Na tabela a seguir cada representação do comitê é classificada quanto ao nível de demanda que será exigido do delegado, numa escala de 1 a 3. Notem que não se trata de uma classificação de importância ou nível de dificuldade, mas do quanto cada representação será demandada a participar dos debates neste comitê. Esperamos que essa relação sirva para auxiliar as delegações na alocação de seus membros, priorizando a participação de delegados mais experientes nos comitês em que a representação do colégio for mais demandada.
Legenda
Representações frequentemente demandadas a tomar parte nas discussões