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CAPTULO 16
FORRAGEIRAS DE CLIMA TEMPERADO
Paulo Csar de Faccio Carvalho Davi Teixeira dos Santos Edna
Nunes Gonalves
Anibal de Moraes Carlos Nabinger
1. INTRODUO
As forrageiras de clima temperado so plantas que apresentam seu
melhor
crescimento em temperaturas entre 20 e 25C. Ocorrem
predominantemente ao norte da
latitude 30N e sul da latitude 30S. Portanto, nas regies
temperadas do globo terrestre.
Nestas condies constituem a base da alimentao de herbvoros
domsticos sendo
utilizadas, principalmente, sob pastejo, feno ou silagem. A sua
importncia tambm
reconhecida na conservao dos solos, na manuteno de bacias
hidrogrficas e na
proteo vida selvagem (Moser e Hoveland, 1996). So plantas que
podem ser
cultivadas em regies com clima mais quente desde que o inverno
seja frio, como o
caso das regies subtropicais, ou mesmo em regies tropicais de
altitude.
Na regio sul do Brasil as forrageiras de clima temperado so de
grande
relevncia para os sistemas agropastoris, principalmente no que
tange ao suprimento de
forragem para os rebanhos durante os meses de inverno (Quadro
1). So utilizadas em
cultivo singular ou consorciadas, em reas integradas com
cultivos estivais (gros ou
pastos de vero), ou sobressemeadas em pastagens naturais
(pastagens naturais
melhoradas). No caso do Rio Grande do Sul (RS), aproximadamente
76% da rea
pastoril utilizada na pecuria de corte coberta por vegetao
natural, sendo 8% desta
rea melhorada por adubao e sobressemeadura de espcies
forrageiras de clima
temperado (Nabinger, 2006).
Ainda que se prestem para utilizao sob diversas formas, o
principal uso sob
pastejo, seja em sistemas integrados com lavoura de gros ou em
melhoramento de
pastagens naturais. Na maior parte dos casos, as forrageiras de
clima temperado so
implantadas como misturas ou consorciaes visando aumentos de
produo e valor
nutritivo da forragem a ser ofertada.
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Quadro 1. Perodos (meses) de utilizao sob pastejo das principais
forrageiras de clima
temperado em uso no sul do Brasil
J F M A M J J A S O N D Aveia-preta Azevm Trevo-branco
Trevo-vermelho Cornicho
Legenda: perodo normal de utilizao. variaes de utilizao conforme
regio, cultivares e condies climticas.
Ao longo de mais de 50 anos de pesquisa em forrageiras, diversas
espcies e/ou
cultivares foram avaliadas na Regio Sul. Algumas espcies exticas
alcanaram
expressiva participao nos sistemas agropastoris em uma ou outra
poca, mas nem
todas conseguiram superar as dificuldades enfrentadas pelo lento
processo de
lanamento de cultivares e posterior aceitao e utilizao pelos
produtores rurais. o
caso de gramneas anuais como centeio (Secale cereale L.),
triticale (X Triticosecale
Wittmack), capim-lanudo (Holcus lanatus L.) ou perenes como
festuca (Festuca
arundinacea Schreb.), falris (Falaris aquatica L.) e
capim-dos-pomares (Dactylis
glomerata L.); e de leguminosas como trevo-subterrneo (Trifolium
subterraneum L.),
ervilhaca (Vicia sativa L.) e trevo-vesiculoso (Trifolium
vesiculosum Savi.), sendo este
ltimo ainda de expresso no sul do pas.
Dentre as gramneas de clima temperado que se consolidaram como
alternativas
forrageiras efetivamente usadas nos sistemas de produo, a
aveia-preta (Avena strigosa
Schreb.) a de maior projeo em sistemas de integrao
lavoura-pecuria da Regio
Sul, tambm utilizada em outros estados brasileiros (Gerdes et
al., 2005; Floss, 1988). O
azevm (Lolium multiflorum Lam.) pode ser considerado como a mais
importante
forrageira para o contexto agropecurio do sul do Brasil, visto
sua complementaridade
de ciclo vegetativo com as pastagens naturais, alto valor
nutritivo, facilidade de
estabelecimento e excelente capacidade de ressemeadura natural.
A maior causa de
resistncia dos produtores quanto ao uso da aveia e/ou azevm para
produo animal em
reas de lavoura ainda o suposto efeito do pisoteio animal. Vrias
pesquisas, no
entanto, esto desmistificando este paradigma mostrando,
inclusive, os benefcios para o
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sistema advindos do uso de animais nessas reas (Terra Lopes et
al., 2008; Aguinaga et
al., 2006; Carvalho et al., 2004; Moraes et al., 2002).
Quanto s leguminosas, o trevo-branco (Trifolium repens L.) a
espcie mais
utilizada, seguida do cornicho (Lotus corniculatus L.), do
trevo-vermelho (Trifolium
pratense L.) e, mais recentemente, do El Rincn (Lotus
subbiflorus L.). Apesar da
reconhecida importncia na fixao de nitrognio (N) e alto valor
forrageiro (Frame e
Boyd, 1987), a baixa persistncia das leguminosas em sistemas de
produo tem sido
apontada como uma das principais causas de sua pequena
representatividade apenas
2% das reas de pastagens no Brasil e algo semelhante no RS
(DallAgnol et al., 2002).
Essa baixa persistncia e utilizao estariam relacionadas a
problemas de
estabelecimento e manejo, como o baixo uso de corretivos e
fertilizantes,
desconhecimento dos processos de inoculao e peletizao de
sementes, dentre outros.
No contexto das forrageiras de clima temperado utilizadas no
Brasil, o presente
captulo tem como perspectiva centrar-se sobre aquelas que, em
nosso entender, esto
sendo trabalhadas de forma mais relevante, tanto pelas
instituies de pesquisa como
em nvel de sistemas de produo. So elas a aveia-preta (Avena
strigosa Schreb.) e o
azevm anual (Lolium multiflorum Lam.) pelas gramneas, e o
trevo-branco (Trifolium
repens L.), trevo-vermelho (Trifolium pratense L.) e cornicho
(Lotus corniculatus cv.
So Gabriel e Lotus subbiflorus cv. El Rincn) pelas leguminosas.
No se trata de
desestimo a outras espcies que, por distintos motivos, perderam
expresso, mas sim de
dar nfase s forrageiras de clima temperado que resistem ao tempo
e que, de uma
forma ou outra, se consolidaram a despeito de todas as
adversidades comumente
encontradas.
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2. AVEIA-PRETA (Avena strigosa Schreb.)
2.1. Origem e relevncia
A origem das aveias, assim como de outros cereais, se perdeu na
antiguidade.
Porm, o geneticista Nikolai Ivanovich Vavilov aponta a sia Menor
e o Norte da
frica como os provveis centros de origem para a aveia. As
principais aveias
cultivadas apareceram por volta de 1.000 A.C. na Europa Central
(Horn, 1985).
A aveia-preta uma das gramneas anuais mais utilizadas para
suprir as
necessidades de forrageamento hibernal. Foi introduzida no Rio
Grande do Sul no incio
de 1940. uma forrageira de clima temperado muito rstica e
resistente aos perodos
"secos", com excelente capacidade de perfilhamento e produo de
massa verde. De
forma geral, produz mais forragem que as aveias branca e
amarela, da o nome aveia-
Forrageira.
Com o advento do plantio direto (PD), essa espcie passou a ser
fundamental na
rotao de culturas e na formao de palha, com boa relao
carbono/nitrognio (C/N).
Com o crescimento dos modelos de explorao envolvendo a produo
animal, ou seja,
a integrao lavoura-pecuria, a importncia das aveias tornou-se
ainda maior, com a
aveia-preta destacando-se em sistemas pastoris por sua maior
resistncia a pragas e
doenas, bem como maior tolerncia ao pisoteio animal.
2.2. Caractersticas morfolgicas
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Gramnea cespitosa, com colmos cilndricos, eretos, compostos de
ns e entrens.
O sistema radicular do tipo fasciculado sendo as razes fibrosas,
o que facilita a
penetrao no solo. As folhas apresentam bainha vilosa, lgula
obtusa de 1,5 a 7,0 mm e
margem denticulada, com lminas de 14 a 40 cm de comprimento por
5,5 a 22 mm de
largura, apresentando forma plana de pr-folhao convolutada. As
folhas apresentam-
se sem aurcula e com lgula bem desenvolvida, o que difere a
aveia de outros cereais de
inverno. Apresenta inflorescncia em pancula piramidal e difusa,
apresentando
espiguetas contendo um gro primrio e um secundrio e raramente um
tercirio. O gro
uma cariopse encoberto pela lema e a plea. O termo cariopse
utilizado para
designar gros pequenos, secos, indeiscentes, apresentando
semente nica por fruto e
uma fina camada de pericarpo, originado pelo desenvolvimento do
vulo superior. O
peso de mil sementes varia de 15 a 18 g, em mdia (Floss,
1988a).
2.3. Caractersticas agronmicas
Os trs principais tipos de aveia cultivados so a preta (Avena
strigosa Schreb.), a
branca (Avena sativa L.) e a amarela (Avena byzantina C. Koch.).
As aveias brancas e
amarelas so de duplo propsito, pois, so capazes de boa produo de
forragem, alm
de razovel produo de gros. Porm, essas espcies so mais
susceptveis ferrugem
da folha e sua utilizao na formao de pastagens somente
recomendvel para
regies menos afetadas por esta doena (Floss et al., 1985).
Apesar de ser conhecida como uma forrageira de clima temperado,
trabalhos de
melhoramento tm desenvolvido cultivares adaptadas s regies mais
quentes, como o
Centro-Oeste do Brasil. Temperaturas baixas na fase inicial de
desenvolvimento
favorecem o perfilhamento, sendo que pulsos de calor na florao
(temperaturas acima
de 32C) provocam esterilidade e aceleram a maturao dos gros.
Quanto altitude, a
aveia-preta pode ser cultivada tanto em nvel do mar quanto acima
de 1.000 m
(Federizzi e Mundstock, 2004).
A aveia-preta parece exigir maior teor de umidade para a formao
de uma
unidade de massa seca em comparao com outros cereais (com exceo
do arroz),
muito embora no tolere solos encharcados ou gua estagnada
necessitando solos bem
drenados. A maior exigncia em gua ocorre nos estdios de
florescimento at o incio
da formao dos gros. Vegeta bem em solo com pH entre 5,0 e 7,0 e
no muito
exigente em relao a fertilidade dos solos; entretanto, responde
bem adubao
nitrogenada, fosfatada e potssica.
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A aveia-preta, alm de sua precocidade, rusticidade e resistncia
s principais
enfermidades, produz uma elevada quantidade de massa no perodo
de inverno. Quando
manejada sob cortes, apresenta excelente produo de forragem na
primeira colheita,
baixando a produo nas seguintes. Essa espcie no utilizada na
produo de gros,
pois eles no apresentam qualidade industrial devido colorao
escura, pequeno
tamanho e baixo rendimento de gros descascados em relao ao gro
inteiro (Floss,
1988b).
Tem-se observado a reduo da populao de plantas espontneas
(plantas
invasoras) pela ao da aveia-preta e de sua palhada, sendo que o
seu efeito
supressor/aleloptico acaba por reduzir os custos com capinas ou
herbicidas nas culturas
subseqentes. Essa tcnica particularmente benfica quando precede
as culturas do
feijo, da soja e de suas associaes com outras espcies. A
aveia-preta bastante
resistente ao ataque de pulges e incidncia de ferrugem da folha.
As condies
ambientais que favorecem esta ltima so altas temperaturas
associadas a alta umidade
(Federizzi e Mundstock, 2004).
A produo de forragem depende da espcie ou cultivar de aveia
(Scheffer-
Basso et al., 2002) podendo atingir 10 t.ha-1 de MS, dependendo
do nvel de adubao
nitrogenada (Alves, 2002).
2.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
Diferentemente do azevm, a aveia uma espcie que no assegura
a
ressemeadura natural. Como suas sementes no germinam bem na
presena de luz, a
semeadura deve prover o enterrio das sementes. Para tanto,
recomendado que em
situao de estabelecimento em sobressemeadura deva-se fazer uso
de equipamentos
para semeadura direta. J no estabelecimento em rea preparada
convencionalmente, e
em semeadura a lano, a passagem de uma grade niveladora com meia
trava ou
menos recomendada para um adequado enterrio da semente.
uma espcie que no deve ser semeada precocemente em regies mais
quentes
devido ao risco de ataque de ferrugem e pulges. Nessas regies
recomenda-se seu
estabelecimento a partir de abril at maio. Devido ao tamanho de
suas sementes uma
espcie de rpido estabelecimento podendo, de forma geral, ser
utilizada aps 40 a 50
dias de sua semeadura, ou mesmo antes, dependendo da fertilidade
do solo e do manejo
da adubao. Em razo dessa caracterstica de suas sementes, e do
seu ciclo ser, via de
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regra, mais curto que o do azevm, a aveia-preta muito utilizada
como pastagem
cultivada em reas de sucesso com soja ou milho.
A mistura com azevm utilizada quando se pretende estender o
ciclo de uso da
pastagem alm do perodo permitido pela aveia-preta, que em
cultivo singular permite
pastejos at final de setembro, embora j nesta fase a sua
qualidade seja baixa devido ao
florescimento. No caso da associao com azevm esta deficincia
compensada, pois
o azevm tem seu ciclo mais tardio e complementar.
Alm de sua associao com azevm tambm possvel consorci-la com
leguminosas como ervilhaca, trevo-vesiculoso e trevo-vermelho,
as quais apresentam
semelhante exigncia de solo quanto drenagem. Essas espcies
cumprem o papel de
qualificadoras da dieta do animal em termos de protena e, tambm,
no suprimento de
clcio que, no caso da aveia, pode no atender as necessidades de
vacas leiteiras em
produo ou animais jovens em crescimento.
Uma proposio de consorciao multi-especfica a da aveia-preta com
centeio e
azevm. Apesar de ser uma consorciao constituda de trs gramneas,
tem por
estratgia estender o ciclo de utilizao da pastagem por perodo
maior de tempo. O
centeio a gramnea mais precoce, concentrando 55% de sua produo
entre maio e
junho. J o azevm, mais tardio, tem 70% da sua produo nos meses
de agosto-
setembro ficando a aveia numa posio intermediaria, com 60% de
sua produo
concentrada nos meses de junho-julho (Postiglioni, 1982).
A fertilizao deve estar de acordo com a anlise de solo. Para a
adubao
nitrogenada, Alvim (2006) recomenda a aplicao mnima de 270
kg.ha-1 de uria ou
500 kg.ha-1 de sulfato de amnio. Alves (2002) verificou mximas
respostas com aveia-
preta (IAPAR 61) com aplicaes entre 150 e 225 kg.ha-1 de N,
evidenciando que a
dose tima depende do tipo de solo (Tabela 1). Nessas doses a
produo anual pode
alcanar mais de 9,0 t.ha-1 de MS. Siqueira (1987) sugere
utilizar 20 kg.ha-1 de N na
semeadura e o restante da dose em duas ou trs parcelas iguais, a
partir do incio do
perfilhamento, 30 a 40 dias aps a emergncia.
Tabela 1. Produo de massa seca da parte area (kg.ha-1) de
aveia-preta cultivar IAPAR
61 em quatro cortes, sendo trs durante a fase vegetativa da
cultura (1, 2 e 3) e
um na fase de enchimento de gros
Cortes Dose de N (kg.ha-1)
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0 75 150 225 300 1 966 2466 2861 3597 3303 2 1003 1641 2049 2126
1858 3 904 1488 1582 1547 1446
Fase vegetativa 2873 5595 6492 7270 6607 4 549 1507 1758 1984
3346
Total 3422 7102 8250 9254 9953 Fonte: Alves, 2002
Como referido anteriormente, a semeadura pode ser realizada a
lano ou em
linhas. Em cultivo singular, e usando-se sementes de boa
qualidade, recomenda-se uma
densidade de semeadura entre 70 e 80 kg.ha-1. O espaamento entre
linhas deve ser
entre 20 e 30 cm e as sementes distribudas a uma profundidade
mxima de 3-4 cm.
Quando a semeadura for a lano, necessria uma quantidade maior de
sementes, entre
30 e 50%. Na associao com o azevm ou outras espcies a densidade
de semeadura
deve situar-se ao redor de 50 a 60 kg.ha-1, ou ainda menos para
aveia-preta, e 60-80
kg.ha-1 para as demais aveias.
O ciclo de utilizao do pasto varia muito em funo da cultivar e
depende
fundamentalmente da poca de semeadura quanto mais tardia, menor
o perodo de
crescimento vegetativo. Por exemplo, Josifovich et al. (1968),
citados por Carmbula
(1977), relatam variaes no perodo de utilizao entre 80 e 160
dias, conforme a
semeadura seja realizada em maro ou maio, respectivamente.
Quando o objetivo a utilizao da aveia-preta como cobertura de
solo ou
adubao verde, o manejo da fitomassa deve ser realizado na fase
de gro leitoso o que
ocorre entre 120 e 140 dias aps a semeadura. Nessa fase,
normalmente no h gros
viveis e ocorre o menor ndice de rebrotao aps o manejo. Conforme
o caso, a aveia-
preta pode ser incorporada (arao), cortada sobre o solo
(rolo-faca) ou dessecada com
herbicida com manejo posterior (arao, rolo-faca, roadeira).
Com relao ao manejo da desfolhao sob pastejo em lotao
contnua,
recomenda-se manter uma altura constante ao redor de 20 a 25 cm.
J no pastejo com
lotao rotativa, a entrada dos animais no piquete deve ocorrer
quando o pasto estiver
com cerca de 25-30 cm, retirando-os quando o resduo se aproximar
de 10-15 cm.
Em pequenas propriedades comum a utilizao da aveia-preta cortada
e picada,
sendo oferecida aos animais no cocho. O corte deve ser efetuado
altura de 7 cm acima
do solo, para facilitar a rebrotao. A aveia-preta deve ser
fornecida no cocho
gradativamente, iniciando-se com pequenas quantidades que vo
aumentando at atingir
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a capacidade mxima de consumo dos animais, caso a aveia seja o
nico alimento
suplementado evitando, assim, problemas metablicos.
A silagem de aveia-preta uma alternativa de utilizao para esta
forrageira,
porm, seu uso no comum. O perodo mais favorvel para o corte aps
o pleno
florescimento, pois este o momento de mais alto teor de
carboidratos, fundamental
para que o processo fermentativo ocorra. Quando o corte feito no
estdio de
florescimento recomendvel a ensilagem pelo sistema de
pr-murchamento
aumentando, assim, o teor de matria seca, pois a ensilagem do
produto fresco, com
28% de massa seca, produz uma silagem mida, com alto teor de
acido butrico, o que
indesejvel por reduzir a qualidade do alimento (Lpez, 1975).
3. AZEVM (Lolium multiflorum Lam.)
3.1. Origem e relevncia
A origem provvel do azevm anual o norte da Itlia (Spedding e
Diekmahns,
1972). No Brasil foi introduzido por colonizadores italianos em
1875 no estado do Rio
Grande do Sul (Arajo, 1971).
O gnero Lolium apresenta duas espcies de larga distribuio; o
azevm perene
(Lolium perenne L.), que praticamente no utilizado no Brasil, e
o azevm anual
(Lolium multiflorum Lam), que a segunda forrageira hibernal mais
cultivada no Rio
Grande do Sul.
O azevm uma planta amplamente utilizada pelos produtores,
apresentando boa
produo de forragem, boa rebrotao, resistente ao pastejo e ao
excesso de umidade,
que suporta altas lotaes, apresenta alto valor nutritivo e boa
palatabilidade
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(Carmbula, 1977). Possui alta ressemeadura natural, alm de fcil
aquisio de
sementes e baixo custo de implantao. O germoplasma de azevm
utilizado pela
maioria dos produtores o azevm diplide (2n), denominado azevm
comum. Alguns
produtores vm utilizando cultivares tetraplides (4n), que
apresentam algumas
caractersticas diferentes do azevm diplide, como por exemplo,
sementes maiores,
folhas mais largas e de colorao mais escura.
3.2. Caractersticas morfolgicas
O azevm uma gramnea anual, cespitosa, cujo porte chega a atingir
1,2 m de
altura. Os colmos so cilndricos e eretos, compostos de ns e
entrens, com 30 a 60 cm
de altura. Possui folhas finas, tenras e brilhantes, com 2 a 4
mm de largura. As bainhas
so cilndricas e as folhas jovens so enroladas. A lgula curta e
as aurculas so
abraantes. A inflorescncia uma espiga dstica, isto , com duas
fileiras de
espiguetas, com 15 a 20 cm de comprimento, contendo cerca de 40
espiguetas
arranjadas alternadamente, com 10 a 20 flores frteis por espiga.
O gro uma cariopse
e apresenta peso de mil sementes mdio de 2 a 2,5 g nas
variedades diplides e 3 a 4,5 g
nas tetraplides (Balasko et al., 1995). O peso da semente, no
entanto, uma
caracterstica que depende muito do manejo da lavoura sendo que,
em nossas condies,
o peso de mil sementes raramente excede 2 g nas variedades
diplides.
3.3. Caractersticas agronmicas
Esta gramnea adaptada a temperaturas baixas (no resiste ao
calor)
desenvolvendo-se, sobretudo, entre o outono e a primavera. Ela
desaparece no vero,
pois conclui seu ciclo vegetativo na ocorrncia de dias longos e
temperaturas altas.
Alvim et al. (1987) destacam existir uma relao direta entre a
temperatura ambiente e a
produo do azevm, que mxima quando ao redor de 22C.
uma gramnea considerada rstica, competitiva, com boa capacidade
de
perfilhamento e que se desenvolve bem em qualquer tipo de solo,
mas prefere os
argilosos, frteis e midos. Porm, em condies onde o solo
apresente alta deficincia
de drenagem, o azevm tem seu desenvolvimento prejudicado. Embora
tolere bem a
acidez, mais exigente em fertilidade e umidade do que a
aveia-preta.
Trata-se de uma forrageira que tem alta palatabilidade pelos
animais e contm
elevados teores de protena e digestibilidade, bem como
equilibrada composio
mineral. Alm de excelente opo forrageira, presta-se muito como
alternativa para
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proteo e cobertura de solo, proporcionando boa produo de massa.
A produo de
massa varivel, podendo ultrapassar de 10,0 t.ha-1 de MS em
situaes de bom
manejo.
Floresce geralmente em setembro e produz quantidades apreciveis
de sementes.
Devido a sua grande capacidade de ressemeadura natural, mesmo
fenecendo, se
restabelece na rea quando do incio de um novo perodo favorvel
para crescimento.
3.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
As sementes de azevm tm capacidade de permanecer viveis no solo
desde a
queda das sementes no fim de seu ciclo (novembro ou dezembro
dependendo da cultivar
ou populao) at a estao favorvel seguinte. Muitas dessas sementes
ainda podem
permanecer viveis no solo por mais de um ano, formando o que se
chama banco de
sementes. Esta caracterstica pode ser aproveitada pelo produtor
para evitar nova
semeadura nos anos subseqentes primeira semeadura, desde que o
manejo de fim de
ciclo seja feito de maneira a permitir o florescimento e formao
adequada de sementes.
O estabelecimento do azevm, assim como o da aveia, em sucesso
com culturas
de vero realizado preferencialmente por meio de semeadura
direta. Esse mtodo de
semeadura, alm dos benefcios do controle da eroso pela menor
mobilizao do solo e
a conservao dos restos culturais na superfcie, tambm apresenta
menores custos. A
semeadura direta s no recomendada se os solos estiverem muito
compactados e com
alta infestao de plantas invasoras (Floss, 1988a).
Numa condio de solo preparado convencionalmente, e com
distribuio das
sementes bem feita, a densidade de sementes de boa qualidade
(germinao e pureza
superiores a 90%) pode ser em torno de 20 kg.ha-1. J se as
condies de preparo do
solo no forem boas ou at mesmo inexistirem, como no caso da
sobressemeadura a
lano em campo nativo ou mesmo sobre pastagens perenes de vero,
esta densidade
dever ser aumentada em 50% no caso de boas sementes ou at mais
se as sementes no
tiverem as caractersticas acima. A qualidade das sementes,
sobretudo o seu peso,
fundamental para um rpido estabelecimento, podendo abreviar o
perodo entre a
semeadura e a primeira utilizao em at 20 dias, quando se
comparam sementes leves e
pesadas (e.g., 1,5 g contra 2,0 g por 1000 sementes).
Outro aspecto a ser considerado quando da escolha da semente que
o azevm
comum, produzido na integrao com a soja, normalmente colhido
mais cedo e isto
tem levado, de forma geral, a uma seleo para tipos de ciclo mais
curto, que florescem
-
j a partir de setembro-outubro, ou mesmo antes. Por outro lado,
o mesmo azevm
comum, cujas sementes so produzidas em regies de pecuria,
normalmente utilizado
sob pastejo at setembro-outubro e, somente ento, diferido para
produo de sementes.
Isto leva eliminao dos indivduos mais precoces determinando que
as sementes
colhidas sejam da parte da populao com florescimento tardio.
Portanto, o
conhecimento da origem da semente do azevm Comum-RS fundamental
para o
planejamento de seu uso. Ambos os tipos so interessantes,
dependendo do sistema em
que ser utilizado. Os tipos precoces so importantes em sistemas
de integrao
lavoura-pecuria, enquanto os de ciclo mais longo so mais
desejados em sistemas
exclusivamente pecurios.
A poca de semeadura do azevm no outono, dando-se preferncia aos
meses de
maro e abril para que as plantas, ainda jovens, aproveitem o
calor dessa estao e se
desenvolvam mais rapidamente de maneira que, quando entrem no
inverno, j tenham
altura suficiente para serem pastejadas.
O azevm pode ser semeado sobre pastagem nativa, em meados de
maio, quando
essas pastagens na regio Sul tendem a diminuir seu crescimento.
Nesse caso, a
semeadura pode ser feita a lano, utilizando o pisoteio dos
animais para se colocar a
semente em contato com o solo, ou mesmo utilizar mquinas de
plantio direto sobre o
campo. Outro contexto de uso do azevm aproveitar a seqncia de
uma cultura de
soja. Esta prtica tem sido utilizada em boa escala no Rio Grande
do Sul, com
excelentes resultados. Quando a lavoura estiver apresentando as
folhas inferiores
amareladas, comeando a cair, se procede a semeadura area. Nesse
caso, recomenda-se
maior densidade de sementes, entre 45 e 50 kg.ha-1. Essas
folhas, caindo sobre as
sementes, mantm umidade adequada e estimulam o incio da
germinao. Essa prtica
permite que, uma vez efetuada a colheita da soja, o azevm j
tenha germinado. Alm
disso, o azevm pode aproveitar os resduos de nitrognio que a
cultura da soja
incorpora ao solo. Entretanto, isso no significa que no decorrer
do desenvolvimento da
cultura no se deva fazer uso de adubaes nitrogenadas.
No momento em que o azevm produz as primeiras 5 a 6 folhas seu
perfilhamento
se inicia. Isto ocorre no outono, quando normalmente a liberao
de nitrognio a partir
da matria orgnica do solo baixa, uma vez que as temperaturas
comeam a diminuir.
Se no houver adubao com nitrognio neste momento, o perfilhamento
tem o risco de
ser lento e em menor densidade, e a pastagem leva muito tempo at
ter condio de ser
utilizada com os animais. A aplicao de cerca de 45 a 50 kg.ha-1
de N nesta fase tem
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possibilitado a entrada dos animais na pastagem em at 40 dias
aps a emergncia das
plntulas, com altura do pasto entre 20 e 25 cm e massa de
forragem entre 1.500 e 2.000
kg.ha-1 de MS. O tempo necessrio para ser atingido este
rendimento varia conforme as
condies climticas e a fertilidade do solo.
A espera pela massa de forragem ou altura de pasto ideais para
incio do pastejo
constitui um grande dilema em sistemas pecurios. comum se
deparar com situaes
onde, de um lado, determinada categoria animal encontra-se com
necessidade urgente
de melhoria de seu nvel nutricional sob pena de comprometimento
das metas de
produo. De outro, pastos de azevm que ainda no atingiram seu
ponto timo de
interceptao da radiao solar e enraizamento e que no esto prontos
para uso.
Existem alternativas para iniciar a utilizao do pasto antes do
ponto timo, tais como o
pastejo controlado (horrio) ou o uso inicial de baixas taxas de
lotao (consumo
inferior ao crescimento). Embora ambas as situaes procurem
minimizar problemas no
estabelecimento do pasto recomenda-se, sempre que possvel, a
espera pelo momento
ideal, pois 15-20 dias a mais de espera para o pleno
estabelecimento podem representar
40 a 50 dias a mais de utilizao do pasto, e numa condio
potencial de ganho de peso
bastante superior.
A silagem de azevm no tem sido amplamente utilizada, pois o alto
teor de
protena e o baixo teor de carboidratos solveis desta forrageira
originam um produto
com pH alto, acima do recomendado para uma boa silagem (Lopez,
1975). No caso da
fenao, os cortes devem ser efetuados antes do florescimento,
sendo o primeiro corte
realizado prximo de 90 dias aps a semeadura, e o segundo 40 a 50
dias aps primeiro.
Possui tima palatabilidade e digestibilidade. Pode apresentar
produo entre 25 e 30
t.ha-1 de massa verde. No entanto, a produo em feno varia muito,
e est diretamente
relacionada com as condies de fertilidade do solo e adubaes
empregadas (Moraes,
1995). Para a utilizao como forragem fornecida no cocho (cortes)
podem ser feitos de
2 a 4 cortes, dependendo tambm da fertilidade do solo e da
adubao.
A produo de sementes de azevm tambm pode se constituir em
atividade
agrcola importante. Depois de garantir um perodo longo de
pastejo, retiram-se os
animais em fins de setembro e meados de outubro, podendo se
proceder uma adubao
em cobertura com uria. Com esse manejo, comum que em fins de
novembro e incio
de dezembro a lavoura possa atingir produo de sementes superior
a 500 kg.ha-1.
Alm do cultivo exclusivo, o azevm pode ser consorciado com
outras gramneas
(aveia, centeio) e com leguminosas (trevos, alfafa, cornicho,
etc.). Normalmente, em
-
comparao com a aveia, ele apresenta um crescimento inicial um
pouco lento, mas em
compensao sua utilizao atinge um perodo de pastejo mais
prolongado, variando de
60 a 180 dias conforme o sistema adotado. Com relao consorciao
com
leguminosas como cornicho ou trevos, alm do aumento do teor de
protena na
forragem, pode tambm ser aumentada sua produo. Sob o ponto de
vista econmico, a
incluso de leguminosas (fixadoras de nitrognio atmosfrico)
permite uma economia
na aplicao de N para as gramneas. No caso do azevm ou da aveia,
por exemplo, que
respondem a adubaes superiores a 450 kg.ha-1 de uria,
praticamente dois teros dessa
quantidade total poderia ser suprimida pela leguminosa.
4. TREVO-BRANCO (Trifolium repens L.)
4.1. Origem e relevncia
uma espcie leguminosa de
grande notoriedade e amplamente
distribuda no mundo. A histria e a
presena de suas diversas formas
indicam que o trevo-branco seja
originrio dos pases do Leste do
Mediterrneo ou da sia Menor. A sua
disperso para outros continentes foi
rpida e aparentemente associada com a
colonizao e a presena de animais
domsticos em pastejo.
Constitui-se atualmente em componente da flora de todos os
continentes,
atestando sua ampla distribuio. No ocidente a sua presena
estende-se desde o Alasca
at o extremo sul da Amrica do Sul (Gibson e Hollowell,
1966).
O trevo-branco a mais importante leguminosa semeada com gramneas
em
pastagens de clima temperado (Frame e Newbould, 1986),
destacando-se pela alta
produo de forragem e elevado valor nutritivo (DallAgnol et al.,
1982). A espcie
particularmente valorizada para uso sob lotao contnua, pois
adaptada para produzir
sob condies de desfolhao intensa, incrementando a palatabilidade
e o teor de
protena da forragem colhida pelos animais.
-
4.2. Caractersticas morfolgicas
O trevo-branco uma leguminosa perene e estolonfera. Suas folhas
so
compostas por fololos ovais e glabros, com margens denteadas e
mancha esbranquiada
em forma de meia lua na face superior da folha. A inflorescncia
um captulo com
muitas flores (50 a 200) brancas ou rosadas. Possui sementes
muito pequenas de cor
limo-plido, com 1 a 1,5 mm de comprimento e 0,9 a 1,0 mm de
largura. H
aproximadamente 1.374.000 a 1.764.000 sementes por kg (Pederson,
1995).
Em pastagens permanentes as plantas de trevo-branco persistem,
de forma geral,
na forma de um estolo principal ou planta-me com crescimento
predominantemente
apical (Chapman, 1983). Em climas temperados, o trevo-branco um
exemplo clssico
de uma espcie clonal que se reproduz vegetativamente, com mnima
dependncia sobre
a reproduo sexual (Chapman, 1987).
4.3. Caractersticas agronmicas
De clima temperado e subtropical, o trevo-branco no resiste a
altas temperaturas
e razoavelmente tolerante geada e ao sombreamento. A temperatura
adequada para o
crescimento est entre 20 e 25C. De forma geral, apresenta um
crescimento mais lento
do que as gramneas de clima temperado em temperaturas abaixo de
10C, e mais rpido
em temperaturas acima de 20C.
Temperatura do solo abaixo de 5C a principal causa do
crescimento lento das
razes do trevo-branco (Kessler et al., 1994). Tolera seca
moderada, mas no severa
(Hutchinson et al., l995). No obstante, a recuperao do trevo
pode ser rpida depois
do trmino da seca (Aparicio-Tejo et al., 1980).
O trevo-branco no uma leguminosa pioneira, mas adaptada a boas
condies de
fertilidade de solo (Sears, 1953). Tambm exigente em fsforo e
para sua implantao
fundamental realizar inoculao. Esta leguminosa geralmente mais
sensvel do que
as gramneas s deficincias de fsforo e potssio (Rangeley e
Newbould, 1985) e
muito sensvel acidez do solo (Helyar e Anderson, 1971).
O pH timo para o crescimento do trevo-branco prximo de 6,0, e o
limite
crtico de pH 5,0. Segundo Bailey e Laidlaw (1999), o aumento do
pH do solo de 5,4
para 6,1 resultou na duplicao da produo do trevo-branco. Pode
apresentar, ainda,
baixa nodulao em solos muito cidos. Porm, desde que as plantas
estejam
efetivamente inoculadas, o trevo-branco persiste e produz bem. A
baixa nodulao
ocorre devido aos efeitos txicos do alumnio e mangans sobre a
multiplicao do
-
Rhizobium (Wood et al., 1984). Da a preocupao com a correo da
acidez do solo.
Alm disso, em baixo pH a deficincia de molibdnio pode impedir a
formao do
complexo enzimtico que essencial para a fixao do N2 (During et
al., 1960).
Ainda que em cultivo singular o trevo-branco possa produzir
entre 7 a 11 t.ha-1 de
MS (Frame e Newbould, 1986), o seu principal objetivo deve ser a
consorciao com
gramneas e at outras leguminosas. arriscado quando dominante na
pastagem dada
sua caracterstica de gerar timpanismo nos bovinos, sendo que o
principal cuidado
manter sempre gramneas em consorciao. Nestas circunstncias, a
sua produo
reduzida devido competio por gua, luz e nutrientes contribuindo,
no raramente,
com aproximadamente 25% (2.800 a 5.500 kg.ha-1 de MS) da produo
total de
forragem,de misturas tpicas de clima temperado.
O trevo-branco produz sementes por polinizao cruzada, chegando a
se colher
entre 350 e 500 kg.ha-1de sementes. Na Nova Zelndia, que produz
entre 4.500 e 5.000
toneladas anuais (50% da produo mundial), so alcanados
rendimentos entre l00 e
l.000 kg.ha-1, sendo a mdia nacional de 300 kg.ha-1 (Mather et
al., 1996). Na
Califrnia, a principal regio fornecedora de sementes nos Estados
Unidos, a produo
fica em torno de 420 kg.ha-1 (Pederson, 1995).
As sementes das inflorescncias que so pastejadas retm sua
viabilidade aps a
passagem no trato digestrio dos bovinos ou ovinos, e so
depositadas no solo por
intermdio das fezes (Chapman, 1987).
O trevo-branco tem elevado valor nutritivo, sendo rica fonte de
protena, clcio,
fsforo e caroteno. As inflorescncias e os pednculos tm menor
digestibilidade do que
as folhas e os pecolos (Soegaard, 1994). Comparado com pastagem
de gramnea
adubada com nitrognio, as misturas de gramneas/trevo tm,
geralmente, ndices mais
elevados de protena, minerais, incluindo pectina e lignina,
porm, ndices mais baixos
da celulose e hemicelulose (Thomson et al., 1985).
4.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
O trevo-branco pode ser semeado em cultivo singular ou em
mistura com
gramneas em solos preparados ou no. Tambm pode ser sobressemeado
sobre
pastagens nativas. As tcnicas de sobressemeadura so mais bem
sucedidas em
pastagens com baixa massa de forragem, e desde que a umidade do
solo seja adequada
para a germinao e o desenvolvimento da plntula. As pastagens com
alta densidade de
plantas, por sua vez, podem ser rebaixadas por pastejo intenso,
corte ou por dessecao
-
parcial antes da sobressemeadura. Os princpios para uma
sobressemeadura bem
sucedida so: controle de ervas daninhas antes da semeadura; pH
do solo satisfatrio e
fertilizao com fsforo; umidade do solo adequada; pastejo aps a
semeadura para
limitar a competio da gramnea existente, intercalando com
perodos de descanso para
evitar superpastejo da espcie introduzida (Tiley e Frame,
1991).
uma espcie que encontra seu habitat ideal na regio dos Campos de
Cima da
Serra (RS e SC), em funo das condies climticas favorveis (sem
perodos secos e
com temperaturas amenas no vero). Nessa condio sua perenidade
mantida, desde
que condies de alta fertilidade do solo sejam asseguradas. Nesse
sentido, bom
lembrar que se trata de uma espcie altamente exigente quanto
correo da acidez do
solo, pois no tolera alumnio e suas exigncias em fsforo tambm so
elevadas.
Portanto, uma espcie cuja utilizao s recomendada quando o solo
for de alta
fertilidade natural, ou esta seja corrigida conforme recomendao
da anlise do solo.
Obrigatoriamente, como para todas as demais leguminosas
forrageiras de clima
temperado, as sementes devem ser previamente inoculadas com
rizbio especfico e
peletizadas. Para facilitar sua distribuio se pode misturar as
sementes inoculadas e
peletizadas com azevm ou at mesmo com adubos, desde que no
contenham
nitrognio e sua concentrao em potssio seja baixa. Em qualquer
caso, somente fazer
a mistura no momento da semeadura.
A poca de semeadura desta leguminosa deve ser de maro a junho,
com 2 a 4
kg.ha-1 de sementes. A profundidade de semeadura deve ser de 1,0
a 1,5 cm, sob uma
leve, mas firme camada de solo, devido ao minsculo tamanho das
sementes. Quando
semeado visando a produo de sementes deve-se utilizar cerca de 3
kg.ha-1 em fileiras
espaadas entre 30 e 45 cm (Laidlaw, 1978). Quando em consorciao
gramnea/trevo,
para reduzir a competio, a gramnea deve ser semeada com a metade
da
recomendao para um pasto exclusivo. Pode ser consorciado, por
exemplo, com
azevm, trevo-vermelho e cornicho. Como a gramnea a componente
com produo
mais elevada na consorciao, a escolha da mistura feita
geralmente com base nela.
Segundo Fothergill e Davies (1993), as cultivares de azevm
tetraplides so mais
compatveis na consorciao do que as cultivares diplides devido a
uma menor
capacidade de perfilhamento.
O trevo-branco o componente mais sensvel em pastos consorciados
s
deficincias ou a baixa disponibilidade de nutrientes como P ou K
(Dunlop et al., 1987).
Nas pastagens, apesar de boa parte dos nutrientes serem
reciclados com o retorno da
-
excreta dos animais, esta reposio desuniforme, e uma aplicao de
P e de K
requerida anualmente para manuteno da leguminosa. Quando o
trevo-branco
utilizado para feno ou silagem, cerca de 3 kg de P e 30 kg de K
por tonelada de massa
seca so retirados da rea pela forragem (Frame e Boyd, 1987). A
quantidade anual de
fertilizante nitrogenado necessria em pasto exclusivo de gramnea
para alcanar
produes de pastagens de trevo-gramnea varia de l24 a 278 kg.ha-1
de N, com mdia
de 172 kg.ha-1 de N (Royal Society, 1983).
O trevo-branco pode ser utilizado em lotao contnua ou rotativa.
Sob lotao
contnua, o tamanho do fololo muitas vezes reduzido, e um aumento
das ramificaes
pode ocorrer. No mtodo rotativo, o trevo tem tempo para produzir
estoles e folhas
maiores durante os intervalos de descanso, razo pela qual este
mtodo de pastejo
contm, geralmente, mais trevo do que pastos manejados sob lotao
contnua (Steen e
Laidlaw, 1995).
Por se tratar de uma planta que desenvolve seus estoles prximos
superfcie
do solo, bastante tolerante a desfolhaes intensas, pois seus
pontos de crescimento
ficam protegidos do pastejo. Alm disso, seu arranjo foliar
permite que, mesmo sob
pastejo intenso, haja rea foliar que permita a interceptao de
luz necessria ao seu
crescimento. por essa razo que sob pastejo intenso o
trevo-branco, quando em
associao com gramneas como o azevm ou mesmo com o cornicho,
acabe
prevalecendo na mistura e causando timpanismo. Em se tornando o
principal
componente da dieta dos animais, o seu elevado teor de protenas
de alta
degradabilidade acaba por prover as condies para a ocorrncia do
timpanismo. Por
conseguinte, h situaes de manejo onde se deva privilegiar a
presena da gramnea
associada. Excessos de trevo-branco podem ser corrigidos
aliviando-se a carga animal e,
ou adubando estrategicamente a gramnea com nitrognio. Tambm, em
curto prazo, a
suplementao com volumosos, como feno de gramneas, pode ser uma
soluo para
esta situao. Associaes bem equilibradas dessa espcie com
gramneas podem
assegurar ganhos mdios dirios de bovinos em crescimento
superiores a 1.200
g.cabea-1.
Comparado com as gramneas, o trevo-branco tem baixo contedo de
carboidratos
solveis em gua e de massa seca, e um elevado teor de protena.
Para melhorar a
qualidade da silagem devem ser realizados os seguintes
procedimentos: cortar a
forragem no campo com o objetivo de provocar um pr-murchamento
e, com isso,
aumentar a concentrao de carboidratos solveis, alm de, picar a
forragem para ajudar
-
liberao dos acares e a compactao no silo. No feno importante
tentar evitar a
perda de nutrientes da folha do trevo durante o processo de
corte (Bax e Browne, 1995).
5. TREVO-VERMELHO (Trifolium pratense L.)
5.1. Origem e relevncia
Acredita-se que o trevo-vermelho
tenha sua origem na sia e Sudeste da
Europa. Esta leguminosa foi introduzida
na Inglaterra e na Alemanha por volta
de 1650 e levada para a Amrica por
colonizadores ingleses
(Merkenschlager, 1934).
Sua grande importncia se deve a alta produtividade e grande
valor nutritivo,
semelhante ao da alfafa, sendo um dos trevos mais cultivados em
pases de clima
temperado. No sul do Brasil, est adaptado a variadas condies de
solo e clima, e suas
sementes (maiores) permitem rpido estabelecimento em relao a
outras leguminosas.
5.2. Caractersticas morfolgicas
O trevo-vermelho uma leguminosa de ciclo bienal, ereta, que
alcana at 80 cm
de altura. As folhas so trifoliadas, pubescentes e alternas, com
uma mancha plida, em
V invertido, na parte ventral dos fololos. Os caules s vezes
enrazam nos ns
quando em contato com a superfcie mida do solo.
O trevo-vermelho uma planta com caules erguidos ou decumbentes,
podendo
apresentar razes adventcias ao lado da raiz pivotante. A raiz
pode estender-se a um
metro ou mais de profundidade. Possui inflorescncia sobre uma ou
duas folhas normais
com estpulas dilatadas. As inflorescncias consistem de um
captulo com numerosas
flores cor-de-rosa ou roxas, normalmente 125 flores por
inflorescncia. A polinizao
cruzada realizada com a ajuda de abelhas, que so os principais
agentes polinizadores
dos trevos. As vagens contm uma ou duas sementes na cor amarela,
marrom ou roxa,
medindo cerca de 2 a 3 mm de comprimento (Taylor e Smith, 1995).
As sementes roxas
so geralmente mais pesadas do que as das outras cores (Puri e
Laidlaw, 1984).
-
5.3. Caractersticas agronmicas
uma planta de clima temperado e subtropical, de ciclo
outono-inverno-
primavera, decrescendo no vero. Sob regime de chuvas regulares,
que se prolonguem
durante o vero, torna-se de ciclo bienal. Normalmente apresenta
melhor produtividade
em regies mais frias, enquanto que nas regies mais quentes
apresenta menor
desenvolvimento com a seca estival, perdendo folhas. Em
conseqncia a temperaturas
elevadas, a respirao da planta aumenta diminuindo a
disponibilidade de carboidratos
totais, tendo por resultado plantas enfraquecidas com problemas
de sobrevivncia no
inverno e maior susceptibilidade a microorganismos do solo, alm
de problemas de
emergncia de plntulas (Volonec e Nelson, 1995).
Embora com adaptao ampla no Rio Grande do Sul, as regies
preferenciais so
aquelas com clima mais ameno como a Encosta do Nordeste, Serra
do Sudeste e nos
solos profundos da Campanha. uma planta que apresenta boa
produtividade em solos
semi-profundos, drenados e de boa fertilidade. Desta forma, os
solos argilo-arenosos,
com razovel teor de matria orgnica, so os mais indicados. Embora
menos exigente
em fsforo que o trevo-branco, particularmente intolerante a
baixos nveis deste
nutriente (Taylor e Quesenberry, 1996). Para uma boa
produtividade e nodulao da raiz
so exigidos solos com pH na faixa de 6,0 a 7,0 e com baixos
teores de alumnio
trocvel. O trevo-vermelho muito sensvel toxicidade de Mn.
Portanto, importante
manter o pH acima de 5,7, pois a disponibilidade deste nutriente
pode diminuir a partir
deste pH (Taylor e Quesenberry, 1996).
Em cultivo singular o trevo-vermelho produz de 8 a 10 t.ha-1 de
massa seca,
podendo chegar entre 15 e 23 t.ha-1 com irrigao. A produo de
forragem
normalmente declina com o avano da idade da pastagem. Trabalhos
realizados na
Europa com durao de trs anos registraram produes de 9 a 18, 9 a
l5 e 4 a 14 t.ha-1
(Laidlaw e Frame, 1988). Na Frana, uma associao
gramnea/trevo-vermelho com l50
kg.ha-1 de N aplicados anualmente produziu o equivalente a uma
pastagem de gramnea
pura recebendo 300 kg.ha-1 de N (Guy, 1989).
O valor nutritivo de um pasto de trevo-vermelho est fortemente
relacionado com
o seu estdio de crescimento no momento da utilizao, bem como com
a relao
caule/folha, que aumenta com a maturidade do pasto. Cultivares
tetraplides tm, de
forma geral, digestibilidade, teores de protena e de
carboidratos solveis em gua mais
elevados do que o das cultivares diplides (Mousset-Declas et
al., 1993). As
concentraes de N, Ca, Mg, Fe, Co, pectina e lignina so
geralmente mais elevadas do
-
que nas gramneas, mas outros constituintes podem estar em
concentraes equivalentes
ou menores (Narasimhalu e Kunelius, l994).
As produes de sementes de trevo-vermelho, quando bem manejado,
so de
aproximadamente 600 a 700 kg.ha-1 (Rincker e Rampton, 1985).
5.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
Em comparao com as demais leguminosas abordadas neste captulo,
a
espcie que tem as maiores sementes. Por essa razo seu
estabelecimento mais rpido,
propiciando pastejo antes que o trevo branco, cornicho ou trevo
vesiculoso. Por isso
preferido para consrcios com aveia, que tambm de crescimento
rpido. Alm disso,
pode ser utilizada em consorciao com azevm e trevo branco,
quando cumpre a
funo de propiciar uma disponibilidade precoce de forragem de
leguminosa no ano do
estabelecimento da pastagem.
O estabelecimento feito com 6 a 8 kg.ha-1 de sementes em cultivo
singular, ou
pouco menos (4 a 6 kg.ha-1) nas consorciaes. Taylor e Smith
(1995) chegam a
recomendar de 10 a 15 kg.ha-1 de sementes quando em cultivo
singular.
igualmente recomendada a inoculao das sementes e que a semeadura
seja
superficial. Embora germine em profundidades maiores que o trevo
branco e o
cornicho, quanto mais superficial mais rpido emerge e mais
vigoroso o seu
desenvolvimento inicial. A profundidade de semeadura deve ser de
1,0 a 1,5 cm. Uma
populao com cerca de 200 plantas.m-2 no ano do estabelecimento
corresponde a um
estande razovel para a cultura do trevo-vermelho.
O trevo-vermelho tambm pode ser semeado conjuntamente a culturas
de cereais.
Diminuir a densidade de semeadura do cereal, reduzir a
fertilizao nitrogenada e cortar
o cereal no estdio de crescimento apropriado para silagem so
opes para reduzir o
estresse da competio. O trevo-vermelho tambm pode ser
sobressemeado em
pastagens de gramneas para sua recuperao. Esta tcnica mais bem
sucedida em
vegetao com baixa massa e quando houver umidade adequada no solo
para a
germinao da semente e o desenvolvimento da plntula.
Fsforo e potssio adequados na implantao da cultura so necessrios
para o
desenvolvimento da plntula, com preferncia para fontes
prontamente disponveis.
recomendada uma pequena aplicao de N para iniciar o
desenvolvimento do trevo nos
solos com baixa disponibilidade deste nutriente. Depois da remoo
da forragem para a
-
conservao (feno e silagem) os nutrientes, especialmente P e K,
exigem reaplicaes
para manter a persistncia e a produo ao longo das rebrotaes.
A semeadura preferencialmente feita entre os meses de maro e
abril. A
quantidade de sementes por hectare varia conforme a utilizao que
se vai dar a cultura.
Quando se destina a produo de feno so necessrios de 6 a 8
kg.ha-1 de sementes.
Com mquinas apropriadas e bom preparo essas quantidades podem
ser menores, entre
4 e 5 kg.ha-1. Se o cultivo se destina produo de sementes
pode-se empregar de 3 a 4
kg.ha-1 de sementes em linhas distanciadas de 80 cm.
O trevo-vermelho no suporta pastejo intenso e quando a isto
submetido torna-
se dominado por outros componentes da consorciao. Entretanto, em
regime de pastejo
leve acaba reduzindo o desenvolvimento das outras espcies
(Sheldrick et al., 1986). A
pastagem formada com esta leguminosa, observados os cuidados
principais, tais como
poca de semeadura e preparo do solo, adubao e manejo eficiente,
permite iniciar o
pastejo em 90 dias, desde que as plantas atinjam uma altura
mnima de 15 a 20 cm.
Quando consorciada com azevm tem como potencial ser aproveitada
por, no mnimo,
150 a 180 dias no ano,.
Pelo seu porte ereto, grande volume de massa e intolerncia a
desfolhaes
freqentes sua utilizao indicada para corte, possibilitando
excelentes produes de
feno ou silagem e permitindo substituir com vantagens econmicas
os concentrados,
podendo atingir produo de 4 t.ha-1 de massa fenada.
Mesmo apresentando ndices baixos de matria seca e carboidratos
solveis, uma
boa silagem de trevo-vermelho pode ser feita utilizando aditivo
eficaz, picando e
realizando o murchamento da forragem antes da ensilagem
(Collins, 1982).
De forma geral, a semente colhida no primeiro ano de
florescimento aps um
corte. O objetivo do corte remover o crescimento vegetativo,
reduzindo a
desuniformidade do florescimento at que a atividade do agente
polinizador esteja
realada por temperaturas de primavera.
-
6. CORNICHO (Lotus corniculatus L. e Lotus subbiflorus L.)
Lotus corniculatus L. Lotus subbiflorus L.
6.1. Origem e relevncia
Lotus corniculatus L. tem distribuio natural na Europa ocidental
e no norte da
frica, e distribuio secundria no nordeste e centro-oeste dos
Estados Unidos, sudeste
do Canad, sul da Amrica Latina, Europa oriental e central, e
partes de sia. A histria
do cornicho, no Rio Grande do Sul, se iniciou em 1940 a partir
do desenvolvimento da
cv. So Gabriel, caracterizada pelas folhas grandes, de
crescimento ereto e
indeterminado e sem rizomas (Paim, 1988).
Lotus subbiflorus L. foi citado pela primeira vez com interesse
forrageiro no norte
da Nova Zelndia em 1918, devido a sua adaptao a solos de baixa
fertilidade e
perodos de seca estival. No Uruguai foi introduzido h mais de 40
anos acompanhando,
provavelmente como impureza, uma mescla de sementes forrageiras
importadas. Sua
destacada produtividade provocou sua posterior multiplicao e a
obteno da cultivar
denominada El Rincn a partir de 1987 (INIA, 1994).
6.2. Caractersticas morfolgicas
Trata-se de uma planta herbcea, perene, glabra (Lotus
corniculatus L.) ou pilosa
(Lotus subbiflorus L.), com folhas pinadas compostas de trs
fololos apicais digitados e
dois basais distanciados, assemelhando-se a estpulas. Possui
fololos sem nervuras
visveis ou com somente a principal aparente. Com inflorescncia
em umbelas de 4 a 6
flores amarelas, possui vagem linear, cilndrica, deiscente e
bivalva com falsos septos
transversais entre as sementes. Tem uma raiz pivotante, o que
confere tolerncia a
estiagens. A sua altura pode variar entre 50 e 80 cm quando no
pastejada.
-
Do ponto de vista morfolgico, apresenta variaes quanto ao
tamanho, a forma, a
pubescncia e a colorao das folhas, entre outras. O hbito de
crescimento, de forma
geral, ereto, embora possa ser prostrado ou ascendente (Seaney e
Henson, 1970). A
grande variabilidade dos gentipos dessa espcie deve-se ampla
base gentica e sua
forma tetraplide, embora tambm seja encontrado na forma diplide
a exemplo de
alguns gentipos rizomatosos originrios do Marrocos (Steiner e
Garcia de Los Santos,
2001), como tambm a hibridaes interespecficas (Grant, 1999).
A partir da descoberta de tipos rizomatosos de cornicho, em
1988, muitos
trabalhos se voltaram para a incorporao dessa caracterstica em
cultivares comerciais,
como as cvs. ARS-2620 e ARS-2622 (Kallenbach et al., 2003).
Acredita-se que o hbito
de crescimento rizomatoso possa contribuir para o aumento da
persistncia da espcie,
visto que os rizomas funcionam como reservas e como rgos de
propagao vegetativa
(Li e Beuselinck, 1996). Poucos trabalhos tm sido conduzidos com
esses gentipos,
quanto resposta a corte ou pastejo (Kallenbach et al.,
2001).
No Brasil, a cultivar mais utilizada o So Gabriel, desenvolvido
pela Estao
Experimental de So Gabriel, RS, a partir de pesquisas entre 1955
e 1965, tendo seu
cultivo se expandido para outros pases da Amrica do Sul (Paim,
1988). Essa cultivar
caracterizada pelo rpido crescimento inicial, boa produtividade
e elevada qualidade de
forragem, longo perodo vegetativo e boa ressemeadura natural.
Contudo, apresenta
problemas de persistncia, principalmente por causa de seu
crescimento ereto (Oliveira
e Paim, 1990).
6.3. Caractersticas agronmicas
O Lotus corniculatus L. bastante resistente ao frio, preferindo
climas de
temperado frio a temperado mdio, resistindo bem s geadas. uma
espcie perene
muito bem adaptada maioria dos solos e regies do RS,
especialmente nas regies
mais sujeitas a seca. Por essa razo uma das leguminosas
preferenciais para a regio
da Campanha do RS. Sua tolerncia deficincia hdrica deriva de seu
sistema de razes
pivotantes que se aprofunda no solo, buscando gua em camadas
mais profundas, alm
de outras caractersticas fisiolgicas que determinam essa maior
tolerncia. Embora seja
muito utilizado em reas de vrzea bem drenada, adapta-se bem em
solos de coxilha.
No tolera sombreamento. Vegeta na primavera/vero e possui alto
valor nutritivo,
tendo problemas de persistncia devido a seu porte ereto, o que o
torna sensvel ao
-
pisoteio e ao pastejo. semelhante alfafa, porm, com menor produo
e maior
rusticidade.
uma das poucas leguminosas que no muito exigente com relao a
solos. No
entanto, mesmo sendo uma planta rstica, responde correo de
fertilidade,
principalmente do fsforo. D-se bem em solos arenosos, argilosos,
pobres, mdios e
tolera pH inferior a 6,0, at 4,8. Entretanto, sua produtividade
melhor se forem
corrigidos o pH do solo, a drenagem e a fertilidade (Russelle et
al., 1991).
O excelente valor nutritivo do cornicho deve-se aos elevados
teores de protena e
digestibilidade. Lpez et al. (1996) observaram at 24% de protena
bruta e 86% de
digestibilidade. Alm disso, o cornicho possui taninos
condensados, responsveis pelo
aumento de 18% a 25% no aproveitamento de protenas (Hedqvist et
al., 2000), cujos
teores atingem 28% quando em estdio bem jovem. Quando do
florescimento os teores
se situam entre 15 e 18% e, quando as sementes esto maduras, os
teores caem para
nveis prximos a 8%. No pleno florescimento a porcentagem de
protena semelhante
da alfafa e do trevo-vermelho.
A produo de massa pode variar entre 10 e 17 t.ha-1 para
associaes de
cornicho/gramnea, e entre 6 e 14 t.ha-1 para monoculturas
(Bullard e Crawford, 1995).
A produo de sementes pode alcanar 600 kg.ha-1, mas o comum que
as
produes variem entre 50 e 175 kg.ha-1 (McGraw et al., 1986). Os
baixos valores de
produo de sementes so resultado do hbito de florescimento
indeterminado, do
suprimento limitado de fotossntese ao crescimento reprodutivo,
do aborto de flores e da
deiscncia das vagens (McGraw e Beuselinck, 1983). Elevada produo
de sementes
pode ser obtida pelo uso de reguladores de crescimento, que
promovem o
desenvolvimento reprodutivo e encurtam o perodo de florescimento
(Li e Hill, 1989).
O Lotus subbiflorus L. uma espcie hibernal com crescimento
semi-ereto, que
em pastejo baixo e freqente apresenta crescimento prostrado.
Ocorrem plantas desde
quase glabras a muito pilosas de acordo com bitipos e condies
ambientais
prevalecentes. Adapta-se a uma ampla diversidade de solos,
estabelecendo-se tanto nos
solos cidos, como nos de baixa fertilidade ou de drenagem
deficiente.
Embora o ciclo seja anual na maioria dos casos, h ocasies em que
pode-se
observar certa proporo de plantas bienais, tais como em
semeaduras de primavera ou
manejo de desfolhao baixo e tardio que impeam o florescimento,
sempre que ambas
as circunstncias sejam acompanhadas por abundantes precipitaes
estivais.
-
Quando do seu uso como estratgia de melhoramento de campo
nativo, embora a
contribuio de forragem muitas vezes no seja relevante, o aporte
qualitativo no
perodo de inverno parece ser importante. Aparentemente, isto se
deve ao incremento no
nvel de protenas de forma complementar ao campo nativo, que em
muitos casos
dominado por espcies estivais de menor qualidade por ocasio do
inverno.
Frente a outras espcies, em geral perenes, a cv. El Rincn
apresenta baixa
produo de forragem em fins do outono e durante o inverno, sendo
tal produo menor
quanto mais seca e fria forem as condies climticas, e menor for
a disponibilidade de
fsforo no solo. As maiores taxas de acmulo dirio (em torno de 30
a 40 kg.ha-1 de
MS) so obtidas entre novembro e dezembro.
Ao final de seu ciclo esta espcie oferece uma elevada produo de
sementes de
tamanho pequeno e com alta porcentagem de sementes duras. A
quantidade de sementes
por kg de 2.180.000, nmero importante quando comparado com o
Lotus corniculatus
L. (830.000) e o trevo-branco (1.700.000) (INIA, 1994).
6.4. Estabelecimento, utilizao e manejo
Lotus corniculatus L.
Como se trata de uma leguminosa que tem a semente muito pequena,
o solo
precisa ser muito bem preparado no caso de semeadura
convencional. No se pode
cobrir demasiadamente a semente sob risco de comprometer a
emergncia. Deve-se
levar em considerao um estabelecimento de cultura perene,
observando para que as
condies iniciais de desenvolvimento sejam as melhores.
O cornicho apresenta estabelecimento lento, atingindo o mximo de
sua
produo somente depois de um ano. As sementes demoram a germinar,
e as plntulas
apresentam-se com reduzido crescimento inicial; um competidor
fraco no estdio
inicial de crescimento, pois os colmos so fracos e tendem a
acamar, a menos que
estejam apoiados por outras espcies em consorciao.
So duas as pocas indicadas para a semeadura do cornicho: incio
de outono e
na primavera. D-se preferncia ao outono, por haver menor
concorrncia com plantas
invasoras, e tambm para que, ao chegar primavera, a cultura j
esteja estabelecida. A
semeadura outonal permite, ainda, que a planta aproveite o
perodo de chuva e frio para
ampliar seu sistema radicular. Outro benefcio que se tem, para o
inverno seguinte, o
pasto bem estabelecido, com plantas que podem inclusive
antecipar o incio do pastejo
(maio).
-
As quantidades de sementes empregadas por hectare dependem de
vrios fatores,
tais como a qualidade das sementes, o mtodo de semeadura e a
utilizao que se quer
dar a cultura (feno, pastagem ou produo de sementes). Uma boa
semente deve
apresentar cerca de 80% de germinao. Nas semeaduras a lano
emprega-se maior
quantidade de sementes do que nas semeaduras em linhas
(considerada particularmente
para produo de feno ou sementes). Na formao de pastagens
utiliza-se at 8 kg.ha-1
de sementes e, na semeadura em linhas, 5 a 6 kg.ha-1
distanciadas entre 25 e 30 cm.
uma espcie de crescimento ereto, o que determina que seu manejo
deva ser
feito com cuidado para manter uma rea de folhas elevada e no se
remova os pontos de
crescimento, os quais, em sua maioria, esto bem acima da
superfcie do solo.
Raramente so relatados casos de timpanismo, mesmo em pastagens
dominadas pelo
cornicho. Em suas folhas encontram-se elevados teores de
tanino.
Ainda devido ao crescimento ereto bastante utilizado para fenao
exigindo,
entretanto, alturas de corte adequadas para no prejudicar a
rebrotao (7 a 10 cm do
solo). O crescimento mais intenso do cornicho vai de meados de
julho a novembro.
Isto permite colheitas para a produo de feno a cada 35-40 dias.
A cultura pode
produzir at 30 t.ha-1 de massa verde, ou 5 a 6 t.ha-1 de
feno.
Quando o objetivo produzir sementes, e em se tratando de uma
cultura de
primeiro ano, o cornicho dever manter-se em crescimento at o fim
de setembro,
quando ento dever ser pastejado com elevada lotao para que, de
forma rpida, seja
rebaixado. Essa prtica proporciona florescimento mais homogneo e
concentrado. A
maturao da semente, que j bastante desuniforme, poder, assim, se
uniformizar,
permitindo at mesmo a colheita mecnica com mquinas convencionais
de trigo ou
soja, bem reguladas.
Consegue-se, em anos favorveis (veres regularmente chuvosos), at
duas safras.
A primeira colheita se d em fins de dezembro, e cerca de 40 a 50
dias se procede a
segunda colheita, se as condies de tempo assim o permitirem. No
se recomenda,
entretanto, realizar colheitas freqentes, pois essa prtica pode
deixar as plantas frgeis
e menos competitivas com aquelas invasoras eventualmente
presentes.
Lotus subbiflorus L.
Essa leguminosa tem seu principal uso no melhoramento dos campos
nativos do
sul do Brasil e no Uruguai. Neste contexto, antes da semeadura
deve-se efetuar
previamente um pastejo intenso no vero, depois das chuvas do ms
de maro. Esse
-
pastejo no deve ser realizado com muitos meses de antecedncia,
nem tampouco
prolongar-se por longo perodo de tempo, sob pena de que se
promova a formao de
uma estrutura de pasto mais rasteiro que far com que as espcies
do campo se tornem
mais competitivas sobre as plntulas de L. subbiflorus L. devido,
principalmente, ao
maior perfilhamento das gramneas.
A cultivar El Rincn se adapta bem a semeaduras em cobertura, a
lano e em
linhas. As taxas de semeadura recomendadas variam entre 3 e 7
kg.ha-1 de sementes,
buscando-se estandes de plantas entre 30 e 40 plantas.m-2.
Trata-se de uma espcie com baixa exigncia em fsforo e excelente
capacidade
de associao com Rizhobium. No entanto, responde positivamente
aplicao de doses
crescentes de fsforo (superior registrada pelo Lotus
corniculatus L.) promovendo-se
uma melhor disponibilidade de forragem na poca crtica do inverno
(INIA, 1994).
Diferentemente dos resultados com outras leguminosas anuais, a
nodulao
ocorre de forma eficiente. Entretanto, a populao de Rizhobium no
solo pode ser
fortemente afetada por acidez elevada, nveis limitados de fsforo
e veres longos,
secos e com temperaturas elevadas. imprescindvel suprir o mnimo
de fertilizante
fosfatado necessrio para obter uma populao adequada, favorecendo
a transferncia
contnua de nitrognio para as plantas do campo nativo. Para
tanto, as fertilizaes de
manuteno podem ser anuais, realizadas em anos alternados ou a
cada trs anos.
Sob pastejo rotativo as plantas de L. subbiflorus L. mantm
crescimento ereto, o
que favorece o desenvolvimento das inflorescncias nos estratos
superiores do pasto,
expondo as sementes ao do pastejo. Por outro lado, se
mantivermos um pastejo com
lotao contnua, as plantas se mantm com crescimento mais rasteiro
e as
inflorescncias se desenvolvem prximas ao solo. Desta forma, as
estratgias de pastejo
utilizadas circunstancialmente durante a fase final da estao de
crescimento afetam as
populaes de sementes e determinam a capacidade de ressemeadura
desta espcie na
pastagem. importante lembrar que, mesmo sob lotao contnua,
intensidades de
pastejo moderadas no impedem uma boa produo de sementes.
Embora o desenvolvimento inicial das plantas de L. subbiflorus
L. seja muito
lento, seu crescimento subseqente marcado por grande
competitividade,
especialmente na primavera. Outra opo consiste em permitir que o
cornicho alcance
disponibilidade elevada de forragem durante a primavera/vero com
o intuito de se
obter uma reserva forrageira (feno) para os meses de
inverno.
-
7. A pesquisa nacional em forrageiras de clima temperado na
ltima dcada
As espcies exticas de clima temperado fazem parte do contexto
histrico da
experimentao cientfica em forrageiras no Brasil desde seu incio,
na dcada de 50.
Desde ento, uma gama de informaes foi gerada nos mais variados
segmentos da
pesquisa (produo, manejo, melhoramento, etc). Ressaltem-se
trabalhos envolvendo
produo de forragem em consorciaes de gramneas e leguminosas
(Fontanelli e
Freire Junior, 1991), avaliao de cultivares e prognies
(DallAgnol et al., 1982),
dinmica do florescimento e rendimento de sementes (Franke e
Nabinger, 1991a;
Franke e Nabinger, 1991b; Nabinger, 1981), valor nutritivo
(Fontanelli et al., 1991),
produo animal (Restle et al., 1998; Lesama e Moojen, 1999) e
melhoramento de
pastagem natural com introduo de espcies (Vidor e Jacques, 1998;
Fontanelli e
Jacques, 1991).
At o final da dcada de 90, a maior preocupao era a gerao de
nmeros que
expressassem potenciais produtivos das espcies e cultivares. Nos
anos recentes, os
avanos observados na pesquisa cientfica referem-se
principalmente busca pelo
entendimento dos processos, como veremos a seguir.
7.1. Dinmica da produo de forragem
O acmulo de fitomassa area ao longo do ciclo produtivo das
espcies continua
sendo uma das principais caractersticas de avaliao de
forrageiras, seja qual for a
subrea da pesquisa. Dados recentes ratificam com alguma
superioridade aqueles
referenciados em dcadas passadas, fruto da prpria evoluo
cientfica no
entendimento dos processos produtivos e seu manejo. Na
Universidade Federal do
Paran (UFPR), Ido et al. (2005) apresentaram resultados de
produo primria em
consorciao de azevm com trevo-branco, trevo-vermelho e cornicho
da ordem de 7,0
a 9,0 t.ha-1 de MS em um perodo de 110 dias (Tabela 2). Esses
valores, oriundos de
taxas de acmulo dirio de forragem entre 40 e 50 kg.ha-1 de MS,
cada vez mais
evidenciam o pleno potencial das espcies de clima temperado em
suprir o dficit
forrageiro existente em pastagens nativas no sul durante o
inverno.
Tabela 2. Taxas de acmulo e de desaparecimento e produo total de
MS na pastagem
de azevm associada com leguminosas de inverno, submetida a
diferentes
ofertas de forragem. Oferta de forragem Oferta de forragem Taxa
de acmulo Taxa de Acmulo total de Produo total de
-
pretendida real desaparecimento MS MS % PV % PV kg.ha-1.dia-1de
MS kg.ha-1.dia-1de MS
4 3,5 43,4 63,9 4861 7154 4 3,8 46,5 71,8 5208 7816 8 9,6 46,3
52,1 5186 8024 8 9,2 47,9 59,5 5365 8296 12 13,8 51,4 54,8 5757
8993 12 14,0 52,5 58,1 5880 9094 16 19,2 46,0 36,9 5152 8481 16
19,4 44,6 30,7 4995 8192
Fonte: Ido et al., 2005
Apesar da produo de forragem ainda constituir um dos principais
alvos de
estudo em forrageiras, as metodologias mostraram grande avano a
partir do incio dos
anos 2000, sobretudo com o estudo da morfognese das plantas. No
RS, caractersticas
morfognicas de azevm foram avaliadas quanto a alturas de manejo
do pasto (Pontes et
al., 2003), doses de N (Gonalves et al. 2004; Viegas e Nabinger,
1999, Viegas et al,
1999; Lustosa, 2002), doses de N e sistemas de manejo (Quadros e
Bandinelli, 2005) e
mtodos e intensidades de pastejo (Cauduro et al. 2006). De forma
geral, os autores
observaram que as variveis efetivamente afetadas pelas
estratgias de manejo so a
taxa de alongamento foliar e o comprimento final de folhas, os
quais aumentam com a
diminuio da intensidade de desfolhao. Esses trabalhos deram
nmeros a
observaes anteriormente empricas em nossas condies, com
explicaes
consistentes sobre o menor aproveitamento dos recursos do meio
para produo de
forragem em situaes de desfolhao severa da planta.
Cauduro et al. (2007) avaliaram o fluxo de biomassa (acmulo,
senescncia e
consumo) de pastos de azevm sob mtodos e intensidades de
pastejo, para melhor
entendimento das relaes planta-animal e a definio de ambientes
pastoris favorveis
produo e bem-estar animal. A produo de forragem passou a ser
esmiuada em
caractersticas como taxa de aparecimento foliar, durao de vida
da folha,
comprimento final da folha, nmero de folhas vivas por perfilho,
etc. Com isso, a
dinmica do pasto entra em uma nova escala de observao e
detalhamento,
fundamentais tanto para definio de critrios de controle em nvel
experimental como
de estratgias de manejo do pasto em sistemas de produo.
A fertilizao tem sido estratgia constante de distino de
tratamentos
experimentais ao longo dos anos. Respostas potenciais em produo
de forragem j
foram bastante avaliadas, como por exemplo a do azevm sob doses
de nitrognio (N)
(Soares et al., 2002; Lustosa, 2002; Lupatini et al., 1998),
estudos comparando a
produo forrageira e de gros em cultivo subseqente a partir da
aplicao de N em
cobertura no pasto ou via fixao pela introduo de leguminosas
hibernais (Assmann et
-
al., 2003, Amado et al., 2003) e dinmica do N na produo de
fitomassa em espcies
hibernais de cobertura (Aita et al, 2006).
Atualmente, um projeto coordenado pela unidade Embrapa Pecuria
Sul (Bag,
RS), em colaborao com o Departamento de Plantas Forrageiras e
Agrometeorologia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DPFA UFRGS), busca
avanar com a
pesquisa em modelagem de sistemas forrageiros ao ter por
objetivo construir um
modelo matemtico para a predio e simulao das taxas de
crescimento em azevm
em diferentes condies de nitrognio no solo e clima. Os dados
esto sendo coletados
em pontos distintos da Regio Sul contando, para isso, com uma
equipe multi-
institucional (Embrapa Clima Temperado, Universidades Federais
do Paran e de Santa
Maria, Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de SC,
Fundao Estadual
de Pesquisa Agropecuria do RS. Um dos objetivos com esse projeto
a divulgao
peridica de boletins on line da previso do crescimento do pasto
de azevm nas regies
de abrangncia dos locais de avaliao: Bag (extremo Sul do RS),
Eldorado do Sul
(Centro do RS), Lages (Alto da Serra de SC) e Pinhais (Serra do
PR). Uma vez
consolidada, a validao e disponibilizao desta tcnica representar
um marco na
contribuio da pesquisa cientfica ao manejo de pastagens no sul
do Brasil.
7.2. As forrageiras de clima temperado em outras regies do
Brasil
As forrageiras de clima temperado tm sido alvo de estudos tambm
como
alternativa ao perodo da seca nas regies tropicais do pas. Por
exemplo, no anterior
Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, SP, aveia-preta, azevm e
trevo-branco foram
sobressemeados em pastagem de capim-aruana. Resultados de dois
anos de avaliao
deram conta de que a mistura das forrageiras hibernais aumentou
a produo de
forragem no perodo crtico (Gerdes et al., 2005a), mas no
influenciou na qualidade da
forragem ofertada em relao ao cultivo exclusivo de capim-aruana
sob irrigao e
adubao (Gerdes et al., 2005b). Constataram, ainda, a baixa
tolerncia do trevo-branco
ao sombreamento provocado pela gramnea, comprometendo seu
estabelecimento. Na
ausncia da condio hdrica artificial, provvel que as forrageiras
de clima temperado
tivessem apresentado maior contribuio qualidade da forragem
produzida. Ainda
assim, fica evidente que o maior impacto dessas espcies dar-se-
em sistemas pastoris
da Regio Sul, onde o limitante primeiro da produo forrageira no
perodo de inverno
no o regime hdrico, e sim a temperatura.
-
A espcie de clima temperado de maior interesse para pastejo em
outras regies
que no o Sul do Brasil , sem dvida, a aveia-preta. Na
Universidade do Estado de So
Paulo, a dinmica de perfilhos dessa espcie foi avaliada por
Rosseto e Nakagawa
(2001), com objetivo de melhor definir as estratgias de manejo
adequadas para aquelas
condies. Mais recentemente, Ferolla et al. (2008) avaliaram a
composio
bromatolgica e o fracionamento de carboidratos e protenas em
aveia-preta e triticale
no Norte do Rio de Janeiro. Concluram que a alta solubilidade
dos carboidratos e
protenas faz dessas espcies potenciais alternativas para
forrageamento hibernal em
sistemas base de pastagens tropicais no estado fluminense.
No Paran, o IAPAR desenvolve, h muitos anos, o melhoramento
gentico das
aveias preta e branca, com duas cultivares a se destacar: a
IAPAR 61 (preta) e a IPR 126
(branca), esta ltima com resultados mais promissores que sua
antecessora FAPA 2.
Essas forrageiras tm sido avaliadas e recomendadas pela Comisso
Nacional de
Pesquisa de Aveia. Selecionadas a partir de populaes da cultivar
Comum, tm
apresentado respostas semelhantes em produo total de MS quando
colhidas no estdio
vegetativo, mas com notado avano gentico na relao folha-colmo em
relao s
cultivares comuns. No RS, Macari et al. (2006) compararam as
cultivares de aveia-preta
cv. IAPAR 61 e comum em produo primria e secundria, no
encontrando
diferenas para taxa de acmulo de MS, taxa de lotao, ganho de
peso mdio dirio e
por rea e protena bruta. Esses autores definiram como
satisfatrias as respostas obtidas
com a cultivar paranaense, recomendando sua utilizao para
pastejo no Rio Grande do
Sul.
7.3. Melhoramento gentico
Os pesquisadores dedicados ao melhoramento gentico de
forrageiras de clima
temperado tm literalmente lutado contra o tempo, cronolgica e
climaticamente.
preciso ter persistncia tanto no campo como fora dele. O
lanamento de cultivares
especficos um desafio de mdio-longo prazos, e muitas vezes o
processo se perde ao
longo do caminho. A seleo de gentipos adaptados tem sido o
direcionamento das
pesquisas, e os mtodos utilizados tm permitido avanos
importantes.
Vargas et al. (2006) avaliaram 26 populaes de azevm coletadas em
diferentes
regies do RS (Tabela 3). No observaram superioridade para uma ou
outra populao
em todos os caracteres avaliados, sugerindo que o melhoramento
gentico desta espcie
possa ser direcionado ao desenvolvimento de sintticos combinados
entre as
-
populaes. Inferiram, ainda, que futuros estudos podero discutir
a possibilidade de
seleo intrapopulacional no melhoramento gentico.
Vieira et al. (2004) avanaram no entendimento da distribuio da
variabilidade
intra e interpopulacional de azevm. Estudos dessa natureza, bem
como a avaliao de
prospeco de gentipos com superioridade em caracteres
morfolgicos, tal qual
trabalhada por Castro et al. (2003), podem constituir importante
base de trabalho aos
melhoristas em azevm. Entretanto, existe um longo caminho a ser
trilhado, o qual
provavelmente j deveramos ter percorrido, dada a importncia
dessa espcie para os
sistemas agropastoris do Sul do Brasil.
-
Tabela 3. Mdias de nmero de perfilhos por planta, dimetro de
cobertura do solo e
ciclo vegetativo para populaes de azevm coletadas em diferentes
regies
do RS
Regio de coleta
Designao da populao em funo do municpio
Variveis
N de afilhos Dimetro de
cobertura do solo (cm)
Ciclo
vegetativo (dias)
Central (C)
Jlio de Castilhos 17 C 41 C 172 C Pntano Grande 21 C 40 C 172
C
Rio Pardo 25 B 41 C 186 A Tupanciret 17 C 42 C 177 B
Noroeste (NO)
Campo Novo 23 B 34 D 163 D Cruz Alta 19 C 55 A 155 E Erechim 19
C 37 D 166 D
Iju 22 C 46 B 166 D Lagoa Vermelha 20 C 43 C 190 A
Marau 23 B 40 C 172 C Panambi 17 C 46 B 160 D
Passo Fundo 28 B 49 B 169 C Santo ngelo 18 C 54 A 136 F Santo
Augusto 12 C 35 D 172 C
So Luiz Gonzaga 12 C 42 C 171 C Sarandi 27 B 51 A 152 E
Tucunduva 23 B 43 C 154 E Vacaria 27 B 38 D 185 A
Sudeste (SE)
Camaqu 22 C 38 D 172 C Capo do Leo 18 C 39 C 194 A
Sudoeste (SO)
Dom Pedrito 1 21 C 31 D 184 A Dom Pedrito 2 37 A 42 C 176 B
Dom Pedrito (Guatambu) 32 A 36 D 190 A So Borja 20 C 47 B 161
D
So Gabriel 13 C 46 B 166 D Uruguaiana 18 C 41 C 177 B
CV (%) 22,7 9,8 334 Fonte: Vargas et al., 2006
Rebuffo et al. (2005) tambm salientaram a importncia da utilizao
de
germoplasmas locais nos programas de melhoramento gentico de
forrageiras de clima
temperado. Argumentam que as variedades crioulas podem formar
distintos grupos
adaptados a ecossistemas especficos. O prprio Lotus corniculatus
cv. So Gabriel
citado pelos pesquisadores uruguaios como sendo mais produtivo
que outras cultivares
introduzidas, e na ltima dcada o processo de melhoramento
gentico a partir de
populaes locais j possibilitou a identificao de cultivar com
produo de matria
seca superior do cornicho So Gabriel para condies do Uruguai
(Figura 1).
Algumas cultivares desenvolvidas no pas vizinho tm cruzado as
fronteiras para o Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, como o caso do Lotus
corniculatus cv. Inia Dracco e
do Lotus uliginosus cv. Maku.
-
Figura 1. Produo anual de forragem (t.ha-1 de MS) de Lotus
corniculatus cv. So
Gabriel e cv. INIA Draco em quatro anos de experimentos sob
corte. Fonte: Rebuffo et al., 2005
No Rio Grande do Sul, no incio dcada de 90, Paim e Riboldi
(1991)
demonstraram a variabilidade do cornicho So Gabriel e seu alto
potencial de resposta
seleo para produo de MS, e alertaram para o longo caminho a ser
percorrido em
adaptao e seleo de gentipos em outras espcies e cultivares de
Lotus para o RS.
Pois este caminho vem sendo trilhado nesses quase 20 anos de
pesquisa, e os resultados
mais promissores so o L. subbiflorus cv. El Rincn e o L.
uliginosus cv. Maku,
desenvolvidos no Uruguai e selecionados para condies do Sul do
Brasil. Maroso e
Scheffer-Basso (2007) observaram caractersticas superiores do
Lotus uliginosus cv.
Maku em relao ao Lotus corniculatus cv. So Gabriel no que tange
tolerncia ao
pastejo. Ambas cultivares j foram, por demais, utilizadas como
forrageiras-padro para
avaliao de espcies leguminosas nativas do RS (Scheffer-Basso et
al., 2002; Scheffer-
Basso et al., 2000). Independentemente de qual espcie ou
cultivar seja melhor em uma
ou outra caracterstica, a imagem a ser emoldurada a de que a
pesquisa em torno do
gnero Lotus tem se mantido atenta a questes de interesse dos
sistemas de produo,
como adaptao, produo e persistncia.
-
Soster et al. (2004a) avaliaram sete populaes de Lotus
corniculatus cv. So
Gabriel coletadas no RS. Os autores observaram variabilidade
quanto ao comprimento
de entrens, altura, dimetro, comprimento de vagens, produo de
forragem e valor
nutritivo. Para os mesmos gentipos de cornicho, Soster et al.
(2004b) encontraram
boa variabilidade morfofisiolgica no germoplasma (e.g.,
morfologia das folhas, dos
caules e da coroa; hbito de crescimento), recomendando o uso
desses materiais em
programas de melhoramento da espcie.
Na mesma linha de estudo de caracterizao da diversidade gentica
para
avanos no melhoramento de leguminosas, Bortolini et al. (2006)
avaliaram na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul a divergncia de 78
acessos de trevo-branco
provenientes da coleo nuclear do Sistema Nacional de Germoplasma
Vegetal do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Encontraram
ampla variabilidade nos
caracteres morfolgicos e agronmicos avaliados, sendo a rea
foliar, a altura, a
intensidade de florescimento e a produo de MS os que mais
contriburam para a
divergncia gentica entre os acessos.
Este trabalho de seleo de germoplasma de trevo-branco realizado
no
Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da UFRGS
tem, desde 2006,
servido de base gentica para programa de melhoramento
desenvolvido em parceria
com a Embrapa Pecuria Sul, com previso de lanamento de novas
cultivares para
2009. Nessa mesma unidade da Embrapa foi reiniciada a seleo
dentro da cultivar de
trevo-branco BR1-Bag, lanada na dcada de 1980, e cuja populao
selecionada
encontra-se atualmente em ensaios de VCU para lanamento de
cultivares. Em 2007,
sob a coordenao da Embrapa Clima Temperado, foi lanada a
cultivar de azevm
BRS Ponteio, e a partir de 2008 as unidades da Embrapa firmaram
parceria com a
UFRGS para programas de melhoramento de outras espcies como
trevo-vermelho,
cornicho e aveias.
Para ampliar a base gentica de trevo-vermelho, Simioni et al.
(2006)
trabalharam com a poliploidizao sexual nesta espcie, novamente
com o objetivo de
proporcionar aos melhoristas maior variabilidade para o processo
de seleo. Montardo
et al. (2003a), por sua vez, avaliaram a persistncia de prognies
da espcie em
diferentes regies do RS, confirmando ser esta uma grande
limitante da utilizao de
trevo-vermelho em regies abaixo da Encosta Superior do Nordeste.
Atravs de anlise
de trilha, Montardo et al. (2003b) identificaram o nmero de
inflorescncias por planta
-
como a principal caracterstica a ser utilizada na busca de maior
produo de sementes
em trevo-vermelho.
Numa compilao experimental de espcies e cultivares de
forrageiras de clima
temperado de destaque nos ltimos anos, Rocha et al. (2007)
avaliaram alguns dos
principais acessos do Programa de Melhoramento Gentico do
Instituto Nacional de
Investigacin Agropecuaria do Uruguai. Os resultados mdios de
produo de forragem
total e por componentes estruturais (Figura 2) realaram forte
expresso da cultivar de
azevm Titan, a qual alm de apresentar alta produo de MS (prxima
a 7,0 t.ha-1)
tambm se destacou por concentrar, aproximadamente, 85% desta no
componente
lmina foliar. A preocupao em se selecionar para alta produo de
lminas foliares, j
comentada anteriormente nas cultivares de aveia, um passo
adiante em relao
produo de MS total e uma tendncia no melhoramento de gramneas de
clima
temperado. J para as leguminosas, preciso avanar em gentipos
adaptados a
condies especficas (e.g., hdricas, nutricionais).
Figura 2. Produo de folha, colmo, material morto e inflorescncia
(kg.ha-1 de MS) das
cultivares de aveia (RLE 115A e 1095a), azevm (Cetus, Estanzuela
e Titan),
cornicho (So Gabriel), Trevo-vermelho (Estanzuela 116) e
trevo-branco
(Zapicn). Fonte: Rocha et al. , 2007
Kg.
ha-1
Kg.
ha-1
-
7.4. Silvipastoralismo
Face ao avano das reas de florestamento no Sul do Brasil a
partir do incio dos
anos 2000, ganharam destaque no cenrio cientfico pesquisas em
sistemas silvipastoris
(SSP). Estudos de produo e valor nutritivo de espcies de clima
temperado em
ambientes arbreos tm sido realizados em toda Regio Sul. Na
Universidade Federal
Tecnolgica do Paran, Sartor et al. (2006) avaliaram a produo de
forragem de
gramneas e leguminosas de inverno sob sombreamento de Pinus
taeda. Das espcies
trabalhadas, observaram ser o azevm a mais tolerante a essas
condies,
principalmente em condio de maior espaamento entre rvores
(Tabela 4).
Constataram, ainda, entre as leguminosas, maior adaptao do
cornicho ao
sombreamento em comparao ao trevo-branco.
Tabela 4. Produo de forragem (kg.ha-1 de MS) de cinco espcies
hibernais submetidas
a dois nveis de sombreamento.
Fonte: Sartor et al., 2006
No Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da
Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, o objetivo com a linha de pesquisa
em SSP o estudo
das interaes rvore-pastagem-animal. Enfoque especial tem sido
dado ao estudo dos
efeitos do sombreamento (natural ou artificial) sobre a produo e
o valor nutritivo da
forragem (Barro et al., 2006), bem como efeitos sobre a
morfofisiologia das plantas
usadas em sub-bosques. Barro et al. (2002), avaliando o teor de
protena bruta, a
digestibilidade in vitro da matria orgnica e os nutrientes
digestveis totais de
forrageiras de clima temperado, em pleno sol ou sob densidades
de Pinus elliottii,
constataram aumento da qualidade com a diminuio da luminosidade
para azevm,
aveia-branca e aveia-preta.
Especial ateno tem sido dada caracterizao microclimtica do
SSP
mediante a avaliao de diferentes densidades arbreas e seus
efeitos sobre o acmulo
de forragem, alm dos efeitos da introduo de bovinos e ovinos no
sistema. Destaca-se
-
tambm a avaliao de gentipos forrageiros para utilizao em SSP,
com nfase s
espcies de estao fria mais utilizadas em sistemas de produo do
RS (azevm, trevos
branco e vermelho, cornicho, aveias branca e preta, etc.), alm
de espcies de ciclo
estival (gneros Panicum e Brachiaria) e espcies nativas.
A produo de carne em SSP no Sul do Brasil tem sido invest