Formação de Professores do Ensino Médio Caderno 1
Formação de Professores do Ensino Médio
Caderno 1
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalO Império
- antes do Ato Adicional – altera os estudos secundários fragmentados em aulas avulsas, à moda das “aulas regias” (substitutas das aulas dos jesuítas no período colonial, equivalentes ao EM).
- Ato Adicional de 1834 à Constituição de 1824: traços de federalismo (desejo de autonomia das Províncias) dualidade na organização escolar: Império: primário e médio na Corte e
superior em todo o país); Província: primário e secundário em suas jurisdições.
criação das Assembléias Provinciais – legislar sobre instrução pública recorte sobre o Colégio Pedro II – propósito de formar elites, foi referência
na monarquia e na República (até hoje) – deu organicidade ao EM. até 1870 – liceus provinciais desqualificados, até porque desnecessários no
contexto do impedimento de seus alunos matricularem-se no ensino superior. Apenas aos bacharéis do Colégio Pedro II era dado esse direito
Entre 1870 e 1884 – EM desordenado e parcelado), quase exclusivo da iniciativa particular e na província de SP aulas avulsas de latim e francês.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalA República
Constituição de 1891 separa a Igreja do Estado - laiciza a sociedade
e a educação institui o governo federativo. elimina o voto censitário (renda) institui o voto masculino entre os alfabetizados Reafirma o Ato Adicional de 1834 - a instrução
primária aos estados – educação secundária e superior ao governo federal.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalA República Ensino seletivo: socialmente - classes privilegiadas pedagogicamente - escolas/classes preparatórias profissionalmente - habilitar ocupações de nível superior permite iniciativa privada – livre exercício de diversas profissões
Primeira República – sepraração na oferta de ensino: “popular” - escolas primárias, ensino normal e profissional “para as elites” - melhores escolas primárias, ginásios, liceus e ensino
superior houve “esforços corretores” (exame de madureza ao final do secundário)
para impedir chegada das massas aos cursos superiores, destinados a formar os quadros dirigentes.
Em 1911 se instituem os exames de admissão e, em 1915 passa a chamar-se exames vestibulares para admissão ao ensino superior visando atribuir o caráter formativo da escola secundária e garantir o padrão de qualidade no ensino superior.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalOs anos 1930 – o Estado Novo e as Leis Orgânicas do ensino
O ensino secundário e outros ramos do ensino médio – paralelos – redes escolares próprias e sujeitas à jurisdição de diferentes órgãos da administração central
Governo Vargas – reforço do poder central Ministério da Justiça – supervisionar a educação e a saúde pública e ordenar as relações
entre o capital e o trabalho, conforme modelo corporativista de “integração” do trabalho ao capital.
criação do Ministério da Educação – Francisco Campos – Escola Nova, movimento católico, autoritarismo, pertencia aos quadros de partido com ideias fascistas (Legião de Outubro – MG).
1931 – reforma do ensino secundário – desestimula o caráter preparatório para o ensino superior e coloca como fundamento a “formação de indivíduos capazes de tomar decisões”
inspiração da reforma: ministro de Mussolini – dois ciclos: 5 anos (ginásio – cultura geral) + 2 anos (liceu - preparatório para ensino superior) – também cria escolas profissionais (quadros intermediários)
currículos diferentes: o clássico e o científicoReforma F. Campos – reforça as barreiras nos níveis após o primário: formação de professoras - magistério primário sem articulação com o secundário nem superior.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalOs anos 1930 – o Estado Novo e as Leis Orgânicas do ensino Manifesto dos Pioneiros – foi derrotado no processo constituinte de 1934, que
confirmou a normatização da reforma de 1931, isto é: poucos estabelecimentos públicos secundários equiparação ensino público e privado, com interferência da União homogeneização curricular ruptura do monopólio estatal do acesso ao terceiro grau
1937 – golpe de Estado – União fixa as bases e determina a educação nacional – a religião, a pátria e a família eram os valores inquestionáveis – na educação: ginásio consolidado com 4 anos de duração e um segundo ciclo de 3 anos, clássico ou científico. Também cursos profissionalizantes para quem não desejasse ingressar na Universidade.
dificuldades da reforma do ensino secundário – expansão do setor privado desde a década de 1920 e intensificada na década de 1940 – desejo de mobilidade da classe média. 1939: das 629 escolas de ensino secundário existentes, 530 eram privadas.
1942 – legislação define Colégio Pedro II como padrão nacional – controle estatal profissionais do ensino médio – formação para setores da economia (industrial,
agrícola e comercial, além do magistério) e da burocracia
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalOs anos 1930 – o Estado Novo e as Leis Orgânicas do ensino
Lei Orgânica – conjunto de decretos e leis transformação do ensino profissional em ensino de grau médio ensino primário com contéudo geral, com dois ciclos: curso básico, de regime
seriado, com 4 anos de duração / segundo ciclo: ensino técnico e pedagógico, com 3 anos (no ensino industrial 4 anos - estágio supervisionado no último)
ingresso no curso profisisonal – curso primário e exame de admissão ingresso no curso técnico – conclusão do primeiro cilco do ensino médio e
aprovação no vestibular desestímulo à continuidade – curso básico profisisonal não dava acesso ao
ensino secundário e era desestimulada a passagem do curso técnico para ensino superior, com vinculação entre a área do curso técnico e a faculdade pretendida
ensino profissional decresce – só o comercial cresce, mas de “segunda classe” Lei Orgânica do Ensino Secundário – mantem as restrições e seletividade no EM Lei Orgânica do Ensino Normal - dois níveis ou ciclos – regentes ensino primário
(Escolas Normais e Institutos de Educação), especialização para professores e administradores escolares.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDo fim da ditadura vargas à ditaudra civil militar: dos anos 1950 aos anos 1980
contexto do pós-guerra – grande expansão do EM – crescimento demográfico e pressão popular (desde fins da década de 1940), em virtude da ampliação do ensino elementar e à integração do ensino primário ao antigo ginásio
1950 – alunos dos cursos profissionais poderiam se transferir para o curso secundário e os diplomados do secundário poderiam se candidatar aos cursos superiores
LDB de 1961 – estabelece completa equivalência de cursos técnicos ao secundário para efeito de ingresso em cursos superiores
LDB de 1971 – formaliza a integração primário/ginásio, com obrigatoriedade de 8 anos - muda a nomenclatura para 1º e 2º graus – 2º grau – curso único de nível médio;
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDo fim da ditadura vargas à ditaudra civil militar: dos anos 1950 aos anos 1980 Todo o ensino das escolas de segundo grau passa a
ser profissionalizante ou de “profissionalização obrigatória”;
Os currículos foram esvaziados da formação geral e “recheados” de disciplinas preparatórias para o mercado de trabalho, sustentadas nas teses ideologizadas da Teoria do Capital Humano.
Reforça-se a dicotomia: educação para a “elite” e educação para o trabalhador.
A grande dualidade da educação brasileira: quem tinha acesso/permanência na escola e os outros, excluídos dos bancos escolares.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDa redemocratização ao período atual
contexto – fim da ditadura, nova Constituição (1988) e nova LDBEN (1996) EM – função formativa, conclusão da Ed. Básica, incluindo EJA preocupação com condições de acesso e permanência transplante para a dimensão pública da racionalidade privada critérios privatistas (custo/efetividade) e não sociais (dimensão dos direitos) organismos internacionais passam a orientar as reformas na educação – as
demandas da sociedae organizada foram substituídas por medias produzidas por especialistas.
projeto educacional FHC – desescolarização do ensino técnico e predomínio do modelo por competências, ajustando-se ao mercado – formação escolar subordinada ao sistema produtivo.
no plano das relações de trabalho, a formação profissional foi transformada em instrumento de gestão individual.
Fóruns em Defesa da Escola Pública – presença na Constituinte e na LDB – projeto coletivo de redefinição do EM num projeto de formação humana integral, superando a dualidade e promovendo o encontro entre cultura e trabalho
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDa redemocratização ao período atual
Governo Lula: reintegra-se o ensino médio e o técnico recursos do FUNDEB para EM Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Profissional PROEJA, PROEJA FIC e PROEJA indígena Programa Brasil Profissionalizado interligado
ao PDE
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio
Fonte: Adapta.do do Censo Escolar 2011-2012 (Cadernos de formação MEC)
Modalidades de EMMatrículas/Ano
2011 2012
Diferença
2011-2012
Variação2011 - 2012
Ensino Médio 8.400.689 8.376.852
-23.837 -0,3
Ensino Médio Regular 7.978.224 7.944.741
- 33.483 - 0,4
Ensino Médio Normal/Magistério
164.752 133.566 - 31.186 - 18,9
Ensino Médio Integrado 257.713 298.545 40.832 15,8
Ensino Médio EJA 1.322.422 1.309.871
- 12.551 - 0,95
Ensino Médio Integrado EJa 41.971 35.993 - 5.978 - 1,4
Ensino Médio TOTAL 9763.102 9.739.716
9.739.716 - 0,24
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médioOutros dados
De cada 4 aluno matriculados, um não é aprovado ou não conclui o EM;
O aumento da matrícula corresponde ao aumento da reprovação;
Taxa líquida de matrícula 2009: 50,9% (dado nacional/ES)
Taxa bruta de matrícula 2009: 84%, aprox. 34,3% está no EF.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Melhorar a taxa de aprovação.
Consequências: população jovem e adulta com implicações socioeconômicas. Ideal: jovens entre 18 a 24 anos com 11 anos de escolaridade. Hoje: 37,9% (PNAD/IBGE, 2009).
Trabalham (entre 18 e 24 anos – metade da população); 15% só estudam. 15,5% trabalham e estudam.
Crescimento nos últimos 10 em jovens que trabalham e estudam. Ingresso no mercado de trabalho: um dos motivos da evasão escolar.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médioDiretrizes Curriculares Nacionais para o EM avançar na garantia de direito igualitário na escola
pública, laica e com qualidade socialmente referenciada, sob responsabilidade do Estado, a quem cabe o financiamento
formação do aluno - superar a ação de executar da ação de pensar, dirigir ou planejar não são exclusivamente os conteúdos para acessar ao ensino superior (vestibular ou ENEM) e nem a instrumentalização para o mercado de trabalho (lógica das competências)
superar a compreensão das “expectativas de aprendizagem” a partir de viés individualista e centrado no resultado.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Diretrizes Curriculares Nacionais para o EM Trabalho como centralidade; Art. 5o O Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e organização,
baseia-se em: I - formação integral do estudante; II - trabalho e pesquisa como princípios educativos e pedagógicos,
respectivamente; III - educação em direitos humanos como princípio nacional norteador; IV - sustentabilidade ambiental como meta universal; V - indissociabilidade entre educação e prática social, considerando-se a
historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do processo educativo, bem como entre
teoria e prática no processo de ensino-aprendizagem; VI - integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, técnico-
profissionais realizada na perspectiva da interdisciplinaridade e da contextualização;
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Diretrizes Curriculares Nacionais para o EM VII - reconhecimento e aceitação da diversidade
e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de
produção, dos processos de trabalho e das culturas a
eles subjacentes; VIII - integração entre educação e as dimensões
do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como base da proposta e do
desenvolvimento curricular.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Diretrizes Curriculares Nacionais para o EM § 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica de
transformação da natureza, como realização inerente ao ser humano e como mediação no processo de produção da sua existência.
§ 2º A ciência é conceituada como o conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e transformação da natureza e da sociedade.
§ 3º A tecnologia é conceituada como a transformação da ciência em força produtiva ou mediação do conhecimento científico e a produção, marcada, desde sua origem, pelas relações sociais que a levaram a ser produzida.
§ 4º A cultura é conceituada como o processo de produção de expressões materiais, símbolos, representações e significados que correspondem a valores éticos, políticos e estéticos que orientam as normas de conduta de uma sociedade.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Diretrizes Curriculares Nacionais para o EM O trabalho como princípio educativo em seu
sentido ontológico é compreendido como primeira mediação entre o homem e a natureza, portanto, elemento natural na produção da existência humana.
É na busca da produção da própria existência que o homem gera conhecimentos, os quais são histórica, social e culturalmente acumulados, ampliados e transformados.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Diretrizes Curriculares Nacionais para o EM currículo – dois sentidos do trabalho: o histórico
e o ontológicoHistórico – diversas formas e significados que o trabalho vem assumindo (servil, escravo...)Ontológico – mediação entre homem e natureza, o trabalho é elemento central na produção da existência. É a produção da existência que gera conhecimentos histórico-social e culturalmente acumulados, ampliados e transformados.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Plano Nacional de Educação Meta 3: Universalizar, até 2016, o
atendimento escolar para toda população de 15 a 17 anos. Elevar, até 2020 a taxa líquida de matrículas para 85%.
Meta 4: Universalizar o atendimento aos estudantes com deficiência, TGD e altas habilidades na rede regular.
Meta 6: 50% das escolas da ed. Básica com educação em tempo integral.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio Plano Nacional de Educação Meta 3: Universalizar, até 2016, o
atendimento escolar para toda população de 15 a 17 anos. Elevar, até 2020 a taxa líquida de matrículas para 85%.
Meta 4: Universalizar o atendimento aos estudantes com deficiência, TGD e altas habilidades na rede regular.
Meta 6: 50% das escolas da ed. Básica com educação em tempo integral.
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio conceito de qualidade é construção histórica
– diferentes significados no tempo/espaço, a aprtir dos lugares dos sujeitos e dos projetos sociais em jogo
anos 70 e 80 – qualidade presa às condições básicas de funcionamento das escolas
anos 90 – preocupação com eficácia e eficiência – atenção aos resultados
Garantir a mesma qualidade do diurno ao turno noturno;
Ensino Médio: um balanço histórico institucionalDesafios para o ensino médio fundamentos da qualidade – ética, liberdade, justiça social,
pluralidade, solidariedade e sustentabilidade escola menos rígida, segmentada e uniforme – estudantes adequar-se
aos tempos de aprendizagem de modo menos homogêneo e idealizado
reinventar a escola priorizando processos capazes de gerar sujeitos inventivos, participativos, cooperativos, problematizadores da produção e da vida
primazia da aquisição e do desenvolvimento de hábitos investigatórios para construção do conhecimento.
tudo que existe na escola foi inventado historicamente – os rituais escolares são invenções de um determinado contexto espaço-temporal.
a qualidade social é uma conquista a ser construída coletivamente, de forma negociada, compreendendo a educação como um processo de produção e socialização da cultura da vida, no qual se constroem, se mantêm e se transformam conhecimentos e valores.
Ensino Médio: um balanço histórico institucional
Obrigada!
Leonara Margotto [email protected]
Raquel [email protected]