IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE
HISTRIA DA ANPUH/SE
O CINQUENTENRIO DO GOLPE DE 64
Expanso canavieira na Regio Agreste de Sergipe Vilas de Boquim
e
Lagarto ( 1840 1888)1
Carlos Roberto Santos Maciel2
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No limiar do sculo XIX, a principal atividade econmica de
Lagarto era a
criao de gado3, exportado para os engenhos da Cotinguiba e
Bahia4. Na agricultura
sobressaia-se o plantio da mandioca, do feijo e do milho para o
consumo local e da
Provncia, e tambm o cultivo do algodo que chegava a mil e
quinhentas arrobas por
ano5.
o seu distrito povoado pelos criadores de gado vacum e cavalar,
e
gado mido: a sua agricultura consiste em algum tabaco,
mandioca,
milho, feijo. H nele quatro engenhos de fazer acar e principia
a
plantao de algodo6.
Apesar de, em 1808, Marcos de Souza mencionar a importncia da
criao de
gado e associ-la a Lagarto, em 1823, constava a regio na relao
dos engenhos
matriculados na Provncia, com um total de 12 unidades
aucareiras, isso porque havia
1 Este trabalho uma parte da dissertao apresentada na UFBA, em
11 de abril de 2014, intitulada : A
composio da riqueza em Boquim e Lagarto/SE (1850-1888.) 2
Professor da rede estadual e Municipal de Boquim. 3 ALMEIDA, Maria
da Glria Santana de. Nota prvia sobre a propriedade canavieira em
Sergipe
(sculo XIX). Anais do VIII Simpsio Nacional dos Professores
Universitrios de Histria. So Paulo,
1976. 4 SOUZA, Marcos Antonio de. Memrias sobre a capitania de
Sergipe. Aracaju: Governo do Estado de
Sergipe, 2005, p. 54. 5 Idem, p. 54. 6 ALMEIDA, Maria da Glria
Santana de. Sergipe: Fundamentos de uma Economia Dependente. Rio
de
Janeiro: Vozes, 1984, p. 217, apud. BN.
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em seu territrio solos em condies para o plantio da
cana-de-acar, localizados,
principalmente, onde hoje esto os atuais municpios de Riacho e
Boquim7.
Expanso da cana e do nmero de engenhos - A expanso canavieira
em
Sergipe, na dcada de 40, penetrou terras afastadas da Zona da
Mata, antes marginais ao
florescimento da grande lavoura8, chegando ao agreste-serto de
Lagarto, que apesar de
distante dos portos e apresentar um clima em que ocorrem secas e
estios, obteve,
segundo a tabela abaixo, um crescimento significativo do nmero
de engenhos a partir
de 1838.
Tabela 1 - Evoluo do nmero de engenhos no decorrer do XIX Boquim
e
Lagarto/SE.
Anos Nmeros de engenhos
Incio do XIX
1823
1837
1838
1852
1856
1858
1875
1881
4
12
10
12
25
34
35
279
4110
7 ALMEIDA, 1976, op. cit., p. 487. 8 ALMEIDA, Maria da Glria
Santana de. Nordeste Aucareiro: Desafios num processo de
vir-a-ser
capitalista. Aracaju: UFS/SEPLAN/BANESE, 1993, p. 130. 9
Resultado da soma dos 5 engenhos de Lagarto, com os 22 da Vila de
Boquim. 10 Desses 37 estavam ativos e 4 eram fogo morto. PIMENTA
BUENO, Francisco Antnio. Relatrio
sobre a preferncia de traados para a estrada de ferro na
Provncia de Sergipe apresentado ao Ilmo. e
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Fontes11
A Tabela 1 mostra um considervel crescimento no nmero de
engenhos nas
vilas analisadas, que quase triplicou, passando de 12 para 35
engenhos no perodo de
1838-1858, um aumento de aproximadamente 292%. Esse aumento pode
ser explicado
por fatores externos e internos, que alavancaram os preos do
acar entre 1840-185712,
enchendo de esperanas vantajosas quem se dedicasse ao cultivo da
cana e montasse
engenho. Fato, provavelmente, ocorrido com o major Manoel de
Seabra Lemos Jnior13,
que em 1855, no inventrio de sua esposa, mencionou possuir um
engenho novo de
fabricar acar.
O aumento do nmero de engenho na regio deu-se pela subdiviso
da
propriedade em novas fbricas, provocada tanto pelo seu
desmembramento aps a morte
do senhor, quanto, em outros casos, pela tecnologia disponvel no
permitir o aumento
da produo e o crescimento da unidade aucareira. Por isso, quando
se queria produzir
mais, os senhores de engenho multiplicavam suas unidades para si
e para seus
descendentes14.
A construo do engenho Pedras em terras do engenho Palmas15
confirma a
subdiviso de propriedades canavieiras para construo de um novo
engenho no mesmo
Exm. Sr. Conselheiro Pedro Luiz Pereira de Souza, Ministro e
Secretrio de Estado dos Negcios da
Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas. Rio de Janeiro: Typ.
Nacional, 1881, p. 82. 11 Fonte: incio do XIX ALMEIDA, 1984, p.
217; 1823 e 1837 ALMEIDA 1976, p. 487; 1838
ALMEIDA 1993, p. 144; 1852 - IGHS-Relatrio do Presidente de
Provncia, Dr. Jos Antnio de
Oliveira Silva, 05 de fevereiro de 1852; 1856 - IGHS-Relatrio do
Presidente de Provncia, Dr. Salvador
Correia de S e Benevides, 1856; 1858 - IGHS-Relatrio do
Presidente de Provncia, Dr. Joo Dabney
dAvellar Brotero, 1858; 1875 - ALMEIDA 1993, p. 144; 1881-
PIMENTA BUENO, p. 82. 12 PASSSOS SUBRINHO, Josu M. dos.
Reordenamento do Trabalho: Trabalho escravo e trabalho livre
no Nordeste Aucareiro. Sergipe (1850-1930). Aracaju: FUNCAJU,
2000, p. 417. 13 AGJES-Inventariada: D. Anna Josefa Lina de Seabra.
Inventariante: Manoel de Seabra Lemos Jnior.
Inventrios Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto,
29/09/1855. Caixa 19. 14 ALMEIDA, 1993, op. cit., p. 130. 15AGJES-
Inventariado: Antnio Correa de Seabra. Inventariante: Jesuna Freire
de Seabra. Inventrios
Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto, 06/07/1876. Caixa
36.
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territrio. Alm desse exemplo, outro nos ajuda a confirmar essa
hiptese, o Major
Manoel Evaristo de Carvalho j possua o engenho So Joaquim quando
construiu em
suas terras um novo com o nome de Miguel dos Anjos16. Essa
prtica de subdiviso das
unidades aucareiras em Lagarto vinha sendo praticada desde os
primrdios do sculo
XIX, pois em 1811, Jos Joaquim da Silveira (bisav de Slvio
Romero) montou mais
um engenho, dividindo sua propriedade em duas, conhecidas por
Moreira Velha e
Moreira Nova17.
Algumas dessas novas unidades eram de pequeno porte, sendo
avaliadas entre
1 e 3 contos de ris. Por isso no necessitavam da compra de um
grande nmero de
escravos, como tambm da aquisio de grandes extenses de terras.
Todos esses
fatores reduziram o valor da sua construo e, de certa forma,
foram elementos
facilitadores para sua montagem, contribuindo, assim, para a
multiplicao dos
engenhos locais, por no requererem investimentos elevados.
Citamos como exemplo:
Loureno Alves de Andrade18, proprietrio do engenho Coco,
avaliado em 1:100$000
de ris e Jos de Souza Furtado19, possuidor do engenho Senhor do
Bomfim, com o
valor de 2:500$000 ris.
Alm das suposies mencionadas para a multiplicao dos engenhos
locais,
outras possveis hipteses seriam os altos preos do acar no
mercado internacional e o
desejo de entrar numa categoria que representava respeito e
status social. Tudo isso
levou muitos criadores e lavradores locais a se empenharem na
montagem de pequenas
unidades aucareiras e transformarem-se em senhores de
engenho.
16 AGJES-Inventariada: Joana Batista do Deserto. Inventariante:
Major Manoel Evaristo de Carvalho.
Inventrios Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto,
13/12/1860. Caixa 24. 17 FONSECA, Adalberto. Histria de Lagarto.
Governo de Sergipe, 2002, p. 381. 18 AGJES-Inventariado: Loureno
Alves de Andrade. Inventrios Post-mortem. Cartrio de 2 oficio
de
Lagarto, 09/10/1858. Caixa 23. 19 AGJES-Inventariado: Maria
Lusia das Virgens. Inventariante: Jos de Souza Furtado. Inventrios
Post-
mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto, 30/07/1863. Caixa
26.
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Cruzando algumas outras fontes20 com os inventrios, e
observando-os na
primeira metade do sculo, pudemos rastrear nesses documentos
alguns criadores e
agricultores que se tornaram senhores de engenho. O Major Manoel
de Seabra Lemos
Junior, proprietrio do stio Campo de Baixo, em 184321, criava 66
cabeas de gado
bovinos, 14 equino, 22 ovinos e 8 caprinos, cultivava mandioca e
possua casa de
farinha, trabalho exercido por 11 escravos. O stio com casa,
pasto e casa de farinha
foram avaliados em 1:500$000 ris. Doze anos depois, havia se
tornado senhor do
engenho So Joaquim do Migrete22, unidade aucareira nova e que
foi construda em
terrenos do antigo stio.
Para a montagem do engenho, como j possua escravos e terra, o
Major
Manoel de Seabra Lemos tomou emprstimos destinados compra de
maquinrios. O
engenho com seus acessrios e terras foi avaliado em dez contos
de ris. Os crditos
obtidos no ultrapassaram dois contos, as demais dvidas eram mais
recentes e
contradas para financiar a safra. Isso nos leva a crer que, boa
parte do capital para a
montagem de seu engenho teve origem dos rendimentos oriundos da
criao de animais
e do cultivo de mandioca. Seu rebanho reduziu-se de 80 cabeas
para 23. Certamente,
terrenos, outrora, destinados a pastagens deram lugar aos
canaviais. Assim supomos que
parte do capital para a montagem do engenho foi adquirido a
partir da venda do gado
criado.
Em seu stio, como foi mencionado, o Major cultivava a mandioca.
Seu
principal subproduto, a farinha, alcanou preos elevados em
Sergipe na dcada de
1850, devido a sua escassez entre os anos de 1856-59. Mesmo
antes da crise de
20 Lista de Votantes, libelo cvel, livro de notas. 21 AGJES-
Inventariada: D. Anna Josefa do Sacramento Montes Seabra.
Inventariante: Major Manoel de
Seabra Lemos Junior. Inventrio post-mortem. Cartrio de 2 Ofcio
de Lagarto, 19/08/1843, caixa 10. 22 AGJES- Inventariada: D. Anna
Josefa Lina de Seabra. Inventariante: Major Manoel de Seabra
Lemos
Junior. Inventrio post-mortem. Cartrio de 2 Ofcio de Lagarto,
29/09/1855, caixa 19.
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abastecimento alimentar23, em 1850 o preo de uma tera24 de
farinha era 1$140 ris.
Enquanto isso uma arroba de acar mascavo e branco custavam
respectivamente a
$900 e 1$400 ris. Dessa forma, podemos dizer que talvez os preos
da farinha
competissem com os do acar. possvel que os valores elevados da
farinha tenham
contribudo para o acmulo de riquezas pelos agricultores. Alguns
transferiram seus
rendimentos, ou, parte deles, para a montagem de engenhos. A
busca por status social
fez muitos largarem o cultivo de mandioca, que dava bons
rendimentos, para se
transformarem em senhores de engenho, pois essa condio conferia
status, prestgio e
admirao social.
Jos Jorge da Trindade, em 184325, proprietrio e morador do Stio
Lagoa
Dantas, criava 21 cabeas de gado bovino, cultivava mandioca, e
era dono de 10
escravos. Entre 186826 e 186927 continuava morando no mesmo
stio, exercendo o ofcio
de lavrador, com bons rendimentos nessa atividade, pois declarou
uma renda anual de
um conto de ris. De acordo com a lista de votantes de Lagarto de
187828, ele havia se
tornado proprietrio de engenho, chamado Gavio, mas auferia a
mesma renda anual de
quando era lavrador. No mesmo perodo, por razes no descobertas,
todos os senhores
de engenho de Lagarto declaram rendas inferiores em relao ao ano
de 1868. O
Engenho Gavio foi um dos trs novos engenhos montados na Vila de
Lagarto durante a
23 ALMEIDA, Maria da Glria Santana de Estrutura da produo de
alimentos na Provncia de Sergipe
(1855-1860). Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de
Sergipe. Aracaju, n 27, 1965/1978, p. 15-
39, 1978. 24 Tera era a unidade para medir a farinha e que
equivalia a 10 quilos. Ainda hoje nas casas de farinhas
de Boquim e de Lagarto continuam a utilizar esse tipo de medida.
25 AGJES- Inventariada: D. Anna Joaquina. Inventariante: Jos Jorge
da Trindade. Inventrio post-
mortem. Cartrio de 2 Ofcio de Lagarto, 06/09/1843, caixa 11. 26
APES - Lista de Qualificao de Votantes da Vila de Lagarto de 1868.
Fundo Tribunal Eleitoral, TE -
33. 27 AGJES - Libelo Cvel de Lagarto. Ru: Janurio Ferreira
Barbosa. Autor: Jos Jorge da Trindade.
Caixa 3, 21/09/1869. 28 APES - Lista de Qualificao de Votantes
da Vila de Lagarto de 1878. Fundo Tribunal Eleitoral, TE -
53.
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dcada de 1870. Como Jos Jorge da Trindade sempre foi agricultor
e criador de gado,
provavelmente, acumulou ao longo do tempo, a partir do lucro
dessas atividades, capital
e, posteriormente, o investiu na montagem de sua indstria
aucareira. Em 1883 no
constava nenhuma dvida passiva a ser liquidada. Seu engenho foi
avaliado em seis
contos de ris e tinha uma fortuna de 23:884$000 ris29.
Em 1821, com a morte de Thom de Fraga Pimentel30, grande criador
de gado,
com um rebanho composto por 1325 cabeas de bovino, 208 de
equinos, 320 ovinos e
50 caprinos, seus filhos Thom da Fraga Pimentel e Antnio Manoel
de Fraga herdaram
um quinho de 1:887$225, constitudo principalmente por gado.
Ambos tornam-se, a
partir de 1840, grandes senhores de engenho em Boquim. Thom da
Fraga Pimentel era
dono dos engenhos Bom Sucesso e Lagoa Vermelha, e Antnio Manoel
de Fraga
proprietrio do Engenho Junco.
O fato de lavradores de mandioca e criadores de gado tornarem-se
senhores de
engenho demonstrava que essas atividades econmicas, destinadas
ao abastecimento do
mercado interno, geravam razoveis fortunas, que possibilitavam,
s vezes, a montagem
de engenhos de acar. Para instalao desses, alm de seus
rendimentos individuais,
esses proprietrios recorriam ao crdito. Desse modo, contriburam
para aumentar o
nmero de unidades produtoras de acar em Boquim e Lagarto.
A Tabela 1 tambm evidencia uma reduo do nmero de engenhos em
Lagarto no perodo compreendido entre 1858-1875, caindo de 35
para 27 unidades31.
Provavelmente, essa reduo originou-se da expanso do algodo.
Tanto em Lagarto,
29 AGJES- Inventariada: Marianna Felismina da Trindade Rocha.
Inventariante: Jos Jorge da Trindade.
Inventrio post-mortem. Cartrio de 2 Ofcio de Lagarto,
20/02/1883, caixa 42. 30 AGJES- Inventariado: Thom de Fraga
Pimentel. Inventariante: D. Paula Josefa de S. Pedro. Inventrio
post-mortem. Cartrio de 2 Ofcio de Lagarto, 25/05/1821, caixa 2.
31 Esta a soma dos 22 engenhos de Boquim com os 5 engenhos de
Lagarto.
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quanto em Boquim32, alm do acar, o algodo passou a ser outro
importante ramo da
produo33. bem possvel, como aconteceu em outras regies de
Sergipe, que muitos
senhores de engenho abandonaram o cultivo da cana e passaram a
se dedicar ao plantio
do algodo.
Uma explicao, quanto reduo do nmero de engenhos, seja o
desmembramento do territrio de Lagarto, surgindo s vilas de
Riacho e Boquim. Esta
ltima, por opo de pesquisa, permaneceu nos limites geogrficos de
nosso estudo, e
Riacho foi excluda. Esta possua, em 1875, 11 engenhos de acar34.
Se subtrairmos
os 11 engenhos de Riacho de 1875 dos 35 existentes em 1858,
Lagarto,
provavelmente, teria 24 engenhos, e se, em 1875, possua 27,
tendo assim, um aumento
de trs unidades, podendo-se afirmar, ento, que diferentemente da
tendncia de Sergipe
que reduziu o nmero de engenhos motivado pela expanso do algodo
manteve
seus engenhos ou, at mesmo, obteve um pequeno aumento de suas
unidades de
produo acar.
Pela anlise da Tabela 1, percebe-se o aumento no nmero de
engenhos em
Lagarto e, tambm, em Boquim no perodo de 1875-1881, atingindo um
pouco mais de
50%. Nesse intervalo de tempo a Vila de Boquim elevou o nmero de
engenhos de 22
para 2935, havendo 4 com fogo morto. J a Vila de Lagarto que
contava com 5 engenho
em 1875, ganhou mais trs unidades, passando a ter 8, um aumento
de 60%. Dos
engenhos montados em Lagarto, no perodo, apenas o Gavio era de
mdio porte,
32 IGHS-Relatrio do Tenente Coronel Francisco Jos Cardoso Jnior,
abertura da Assembleia Provincial
de Sergipe, 04 de maro de 1870, p. 93. 33 Idem. 34 ALMEIDA,
1993, op. cit., p. 144. 35 PIMENTA BUENO, op. cit. p. 82. Nesse
documento ele englobava os engenhos de Boquim e Lagarto,
mas fazia referencia como se fossem apenas dessa ltima vila.
Pelos nomes dos engenhos, cruzando com
outros documentos, foi possvel dividir os engenhos que eram de
Lagarto dos que pertenciam ao territrio
de Boquim. Pela lista os oito primeiros engenhos estavam
localizados em Lagarto e os demais no
territrio boquinense.
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avaliado em 6:000$000 de ris, pois os Engenhos Piabas e Retiros
no passavam de
engenhocas de fazer rapaduras36, sendo avaliados respectivamente
em 600$000 e
1:000$000 de ris.
O crescimento talvez foi impulsionado pelo retorno de antigos
senhores de
engenho ao cultivo da cana, antes abandonado por conta dos
lucros promovidos pelo
algodo, principalmente, na dcada de 60. Como esse produto, aps
1875, enfrentou
retrao de seus preos, muitos engenhos voltaram a ser montados.
Com o fim da febre
algodoeira, pode ter ocorrido nas vilas, como disse Almeida, a
aplicao de uma
pequena acumulao, obtida com o cultivo do algodo, na formao de
pequenos
engenhos37. Existe tambm a hiptese de que a perspectiva de
abertura da estrada de
ferro, cortando o territrio lagartense, teria estimulado a
instalao de outros novos
engenhos38.
Portanto, apesar das Vilas de Lagarto e Boquim possurem entraves
para
montagem de engenhos, provocados pelos altos custos com o
transporte dos produtos
at os portos litorneos, como tambm, pela possibilidade de perdas
das safras em anos
de secas ou estias prolongadas, parece que, na maior parte do
tempo, houve uma
rentabilidade econmica maior que a obtida na cultura de
alimentos, do algodo ou da
pecuria, visto que os engenhos persistiram e aumentaram por todo
o perodo em
anlise39.
importante frisar, que apesar das vilas de Lagarto e,
principalmente, de
Boquim terem presenciado uma expanso no cultivo da cana em seus
territrios, a partir
da segunda metade do sculo XIX, no se deve compar-las com as
vilas canavieiras da
Zona da Mata e da Mata-Sul de Sergipe. Primeiro, enquanto sua
distncia do porto para
36 Termo que foi utilizado nos inventrios que continham esses
engenhos. 37 ALMEIDA, 1993, op. cit., p. 131-132. 38 Idem, p.165.
39 PASSOS SUBRINHO, 2000, p. 59.
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escoar a produo dificultava o aumento da safra, as vilas do Vale
do Cotinguiba e da
Mata-Sul beneficiavam-se de sua localizao mais prximas aos
portos. Segundo, o solo
da zona da mata era de melhor qualidade, favorecendo uma maior
produtividade.
Terceiro, as vilas localizavam-se no agreste, rea de transio da
zona da mata para o
serto, onde o clima era mais quente e havia a possibilidade de
se perder a produo por
causa das grandes estiagens.
As diferenas regionais apontadas tornam-se mais perceptveis, se
comparamos
alguns dados. Primeiro, o tamanho dos engenhos: os da regio em
estudo, em geral,
eram menores que os da zona da mata sergipana, fato comprovado
pelo valor dos
engenhos, como o Pedras, em Maruim, Zona da Mata, que valia
90:000$000 de ris40.
Segundo, a maioria dos engenhos possua maior nmero de escravos
nos engenho.
Alguns contavam com mais de 120 escravos41, enquanto o maior
nmero da regio de
Lagarto chegou a 60 cativos. Terceiro, a quantidade de engenhos:
as vilas de Laranjeiras
e Capela, situadas na Zona da Mata, possuam, respectivamente, em
1881, 97 e 82
engenhos42, frente s 41 unidades de Lagarto e Boquim. Quarto, a
fora motriz:
enquanto, em 188143, muitas vilas da Zona da Mata e da Mata-Sul
de Sergipe j
contavam com engenho a vapor, a exemplo de Laranjeiras, que
continha 47 unidades
com essa fora motriz, equivalendo a 48,45% de seus engenhos, as
de Boquim e
Lagarto continuavam com todos seus engenhos movidos trao
animal.
Apesar de toda diferena entre essas regies, necessrio salientar
a
importncia das peculiaridades da histria local. Cada localidade
tinha sua prpria
dinmica. Ser senhor de engenho era um ttulo importante e de
difcil acesso, tanto na
zona da mata sergipana, quanto nas vilas de Boquim e Lagarto. Ao
contrrio da zona da
40 ALMEIDA, 1993, op. cit. 265. 41 Idem, p. 309. 42 PIMENTA
BUENO, op. cit. p. 78-80 para Laranjeiras, e p.85-86 para Capela.
43 Idem.
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mata sergipana, que com seu elevado nmero de engenho tornou-se
praticamente uma
regio monocultora, as vilas contempladas, com a expanso
canavieira, diversificou
ainda mais sua base econmica, pois em momento algum deixaram de
lado a criao de
animal e o cultivo de gneros alimentcios, sobretudo da mandioca.
Essas atividades
econmicas continuaram como importantes geradoras de riqueza.
Dvidas e crditos dos senhores de engenho - Como vimos, ocorreu
uma
expanso da cana nas terras de Lagarto, propiciando um
significativo crescimento no
nmero de engenhos, mas resta saber a origem do capital empregado
na construo
desses engenhos. Sabemos que alguns lavradores e criadores
tornaram-se senhores de
engenho a partir da utilizao dos rendimentos provenientes de
suas atividades
econmicas. No entanto, esses casos foram minorias. Dessa forma,
de onde se originou
o capital que financiou a montagem dos engenhos em Lagarto e
Boquim?
Em Sergipe, Almeida explica que esse capital proveio de
emprstimos feitos
por comerciantes baianos, pois, mesmo independente politicamente
da Bahia, a
Provncia continuou vinculada a sua praa financeira44. Lagarto,
tambm contou com
capitais baianos para a construo de suas unidades de produo de
acar. Os
inventrios de novos senhores de engenho comprovam o uso desses
recursos. O do
Major Manoel de Seabra Lemos Jnior45, mostra que ele devia ao
comerciante baiano,
Manoel Lopes da Silva Sobrinho, o valor de 740$275 ris,
correspondente a
emprstimos e juros, feitos a 1% ao ms. Esses juros, cobrados por
comerciantes
baianos, eram considerados altos, e como fator de atraso e
decadncia pelas elites
econmicas e polticas da Provncia.
44 ALMEIDA, 1993, op. cit., p.272. 45 AGJES-Inventariado: D.
Anna Josefa Lina de Seabra. Inventariante: Manoel de Seabra Lemos
Jnior.
Inventrios Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto,
29/09/1855. Caixa 19.
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O mais exagerado usurrio se admiraria de ver as condies a que
se
sujeita o lavrador que tem de levantar quaisquer capitais na
praa que
sempre a da Bahia. Juros de 1,5% a 2% ao ms, acumulaes
semestrais e, o que ainda pior, a condio de serem os credores
os
vendedores dos gneros, donde resultam abusos, e, sobretudo,
o
prejuzo que sofrem os agricultores de no poderem esperar
melhor
mercado para seus produtos46.
O Major Manoel de Seabra Lemos Jnior devia tambm a comerciantes
de
Estncia e da prpria Lagarto, pagando taxas de juros maior que 2%
ao ms. Esse foi
um dos casos encontrados, em que as taxas de juros baianas, por
vezes, eram menores
que as cobradas por credores locais.
A anlise do livro de notas, e principalmente, dos inventrios,
mostra que, ao
lado do capital oriundo da Bahia, existiu um capital mercantil
sergipano, como o
proveniente de Estncia, o qual predominou em Lagarto e custeou a
construo de
muitos engenhos. O forte sistema de crdito dos comerciantes
estancianos financiou
tanto atividades agroexportadoras quanto as ligadas ao
abastecimento interno de Lagarto
e de vrias partes da Provncia47. Uma confirmao do financiamento
proveniente do
capital mercantil de Estncia, o emprstimo de 435$813 ris48,
tomado pelo Major
Manoel de Seabra Lemos Jnior ao comerciante estanciano Cndido
Vieira Dantas.
A partir da anlise dos inventrios possvel afirmar que parte do
capital
utilizado para a montagem de engenhos em Lagarto provinha de
comerciantes da vila,
entre os quais se destacavam o Tenente Coronel Francisco Baslio
dos Santos Hora, que,
de acordo com o seu inventrio, era o indivduo de maior riqueza
em Lagarto, e Andr
46 IGHS-Relatrio do Presidente de Provncia Dr. Joaquim Bento de
Oliveira Jnior. 5 de setembro de
1872. 47 SILVA, Sheyla Farias. Nas teias da fortuna: homens de
negcio na Estncia Oitocentista (1820-1888).
Salvador, 2005. Dissertao (Mestrado em Histria), Ps-graduao em
Histria Social Universidade
Federal da Bahia, p.47. 48 AGJES- Inventariado: D. Maria de
Sousa Freire de Seabra. Inventariante: Major Manoel de Seabra
Lemos. Inventrios Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto,
18/07/1879. Caixa 34.
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Ramos Romero (pai de Slvio Romero). Em seu inventrio, Antnio
Correa de Seabra49
devia 36:600$000 (juros e emprstimos) a Francisco Baslio, e
2:760$000 a Andr
Romero. Dvidas essas, provavelmente, adquiridas para a montagem
do seu segundo
engenho, em 1869, o Engenho Pedras, avaliado em 40:000$000 de
ris.
O j mencionado Engenho So Benedito do Migrete, pertencente ao
Major de
Seabra Lemos Jnior, apesar de contar com o financiamento de
comerciantes baianos e
estancianos, teve como principal credor o lagartense Francisco
Baslio dos Santos Hora,
de quem recebeu um emprstimo a juros no valor de 1:419$500. O
mesmo comerciante
tambm havia emprestado 8:000$000 de ris ao Capito Jos Freire de
Carvalho50 para
a instalao do Engenho Piabas e a aquisio de 12 escravos.
Francisco Augusto de Azevedo, proprietrio do Engenho Palmeira,
tambm
recorreu a comerciante de Estncia. O estanciano Antnio Silva
Moitinho foi credor de
suas safras. Veja o que diz o proprietrio:
[...] a origem do dbito que no me vergonhoso em sentido
nenhum,... no foi feito para sustentar luxo nem orgias, para
tanto, a
origem delle eu declaro a que, foi fabrica, supprimento este que
tomei
para o Engenho Palmeira; no vergonhosa a origem do dbito51.
Portanto, podemos afirmar que o capital inicial, utilizado na
montagem dos
engenhos de Lagarto e Boquim, foi oriundo tanto de comerciantes
da Bahia e de
Estncia como de comerciantes abastados que viviam em Lagarto.
Alm do capital
inicial, os proprietrios de engenho, muitas vezes, antecipavam
crditos junto a
49 AGJES-Inventariado: Antnio Correa de Seabra. Inventariante:
Jesuna Freire de Seabra. Inventrios
Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto, 06/07/1876. Caixa
36. 50 AGJES-Inventariada: D. Anna Francisca dArajo. Inventariante:
Capito Jos Freire de Carvalho.
Inventrios Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto,
10/03/1880. Caixa 40. 51AGJES - Ao de Embargo. Embargante: Antnio
Silva Moitinho. Embargado: Frederico Augusto de
Azevedo. Cartrio de 2 ofcio de Lagarto. Cx.1, 10/06/1861.
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comerciantes para financiar a sua safra e para seu suprimento. O
valor do capital
emprestado, por vezes, era recebido em acar.
A dependncia dos senhores de engenho frente aos comerciantes
perdurou por
todo perodo de 1850- 1888 e posterior abolio. Isso o que nos
conta Ediberto
Campos em suas crnicas de relatos de memria sobre o Engenho
Piau. O dono do
engenho, j com 47 anos de idade, no desanimou, foi-se adaptando
ao novo regime
continuando a mandar acar para Sousa Sobrinho e Cia; da Estncia,
que lhe supria
de crditos a resgatar pelas safras52.
Abaixo, a Tabela 2, mostra as principais dvidas contradas pelos
senhores de
engenho com o objetivo de financiar as safras, e a origem desses
capitais.
Tabela 2 Emprstimos contrados pelos senhores de engenho Boquim
e
Lagarto/SE (1850-1888).
Capital emprestado Credores
Local de origem
do capital
Total
emprestado
% Total de
credores
%
Bahia 19:573$677 29,92 04 17,40
Estncia 19:741$998 30,17 08 34,79
Lagarto 23:814$386 36,40 10 43,47
Outros 2:300$000 3,51 01 4,34
Total 65:430$061 100 23 100
Fontes: AGJES - Inventrios 1 e 2 Ofcio de Lagarto e Boquim,
1850-1888. Libelo
cvel e aes de embargo de Lagarto.
52 CAMPOS, Ediberto. Crnicas da passagem do sculo. V.2. Aracaju:
1970, p.185-86.
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Diante da Tabela 2 podemos afirmar que existia certo equilbrio
na origem do
capital utilizado para o financiamento da produo nos engenhos
locais, mas com uma
ligeira vantagem dos emprstimos oriundos de grandes comerciantes
de Lagarto,
seguidos de comerciantes estancianos e baianos. Os crditos dos
comerciantes locais
compreendiam a 36,40% do capital emprestado, sendo Francisco
Baslio dos Santos
Hora o principal credor. A presena desse grande capitalista
lagartense foi de suma
importncia para a montagem e financiamento da produo de alguns
engenhos
arrolados. Essa predominncia do fornecimento de crdito pelos
negociantes locais
comprova que o comrcio em Lagarto era ativo e rendia bons lucros
e grandes fortunas.
O maior nmero de credores tambm pertencia a vila de Lagarto,
chegando a 43,47% do
total.
Como sabido, os senhores de engenho precisavam de capital para a
compra
de gado, escravos e para a montagem e manuteno dos engenhos,
sendo que boa parte
desse capital provinha, principalmente, de comerciantes. O
difcil descobrir os reais
motivos para a aquisio de crditos e o destino desse capital. Os
inventrios e outros
documentos utilizados nessa pesquisa relatam o valor do
emprstimo, a porcentagem
dos juros e o nome do emprestador. Mas, teve, tambm, casos em
que mencionam o
motivo da dvida, o que possibilitou a montagem da Tabela 3.
Tabela 3 Motivos das dvidas dos senhores de engenho Boquim e
Lagarto/SE
(1850-1888).
Ano Devedor Valor Motivo
1855 Manoel de Seabra L. Junior 1:419$500 Montagem do
engenho
1860 Jos de Souza Freire 1:964$946 Suplementos para o
engenho
1862 Venncio da Fonseca Dorea 2:900$000 Suplementos para o
engenho
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1870 Major Antnio Correa Dantas 90$846 Compras para a famlia
1870 Major Antnio Correa Dantas 250$200 Compra de seis bois
1871 Jos Alves de Freitas 400$000 Compras.
1871 Antonio Correa de Seabra 21:000$000 Montagem do engenho
1872 Antonio Correa de Seabra 7:692$000 Suplementos para o
engenho
1875 Jos Rodrigues dos santos 245$000 Compra de oito burros.
1880 Jos Freire de Carvalho 8:000$000 Montagem do engenho e
compra de 12 escravos.
1880 Jos Alves de Freitas 2:315$000 Suplementos para o
engenho
Fontes: AGJES - Inventrios 1 e 2 Ofcio de Lagarto e Boquim,
1850-1888, Libelo
Cvel de Lagarto.
Os maiores emprstimos contrados foram aplicados na instalao de
engenhos,
para o qual se fazia necessria a construo do prdio, a compra de
maquinrios, e, por
vezes, de escravos, gado e terras. Os maiores emprstimos tomados
foram para montar
engenhos de acar. Antonio Correa de Seabra53 tomou emprestado a
quantia de 21
contos de ris no ano de 1871, que com os juros cobrados
elevou-se para 40 contos, em
1876. O emprstimo foi feito para a montagem do engenho Pedras,
unidade aucareira
de maior valor entre os inventariados, avaliado em 40 contos de
ris. Jos Freire de
Carvalho54 contraiu, em 20/12/1876, um emprstimo de 8:000$000
conto de ris de
Francisco Baslio dos Santos Hora, para a montagem do engenho
Piabas, e a compra de
12 escravos. O que mais lhe custou foi a aquisio dos escravos,
pois o engenho era de
pequeno porte e produzia apenas rapadura. O emprstimo seria pago
em 16 anos, sendo
que, a cada fim de ano, ele pagaria 500$000 mil ris. Como
garantia do pagamento do
53 AGJES- Inventariado: Antonio Correa de Seabra. Inventariante:
Jesuna Freire de Seabra. Inventrio
post-mortem. Cartrio de 2 Ofcio de Lagarto, 06/07/1876, caixa
36. 54 AGJES-Inventariada: D. Anna Francisca dArajo. Inventariante:
Capito Jos Freire de Carvalho.
Inventrios Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto,
10/03/1880. Caixa 40.
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emprstimo foram hipotecados os 12 escravos comprados. Ficou
previsto para ele quitar
o crdito em fins de 1892, mas o falecimento de sua esposa, em
1880, o obrigou a quit-
lo antes da data prevista.
Por se tratar de grande volume de capital, a montagem dos
engenhos foi
financiada para se pagar em um perodo prolongado e parcelado,
facilitando, de certa
forma, a liquidao dos emprstimos. Em contrapartida, quanto maior
era o tempo para
quitar o crdito, maior o valor final a ser pago, pois a cobrana
de juros elevava o
montante, beneficiando assim os credores.
Como vimos na Tabela 3 muitos senhores de engenho contraam
crdito com o
objetivo de comprar de suplementos, ferramentas e utenslios.
Havia tambm os custos
com alimentao dos escravos e os gastos com a manuteno familiar.
Os crditos
contrados tambm eram utilizados para adquirir animais destinados
aos trabalhos nos
engenhos, seja como trao, e para o transporte de cargas e
pessoas. No entanto, para
muitos senhores de engenho, que por outro lado eram fazendeiros
de gado, a compra
desses animais no foi necessria.
Escravos dos engenhos - A principal fora de trabalho utilizada
nos engenhos,
no perodo colonial e at fins do Imprio, era a escrava. Para
Sergipe, o emprego dessa
mo de obra permaneceu importante para o setor aucareiro, at as
vsperas da abolio
da escravido55. O nmero de escravos utilizados nos engenhos
variava de acordo com
sua dimenso e a sua capacidade de produo. A mdia sergipana era
de 20 escravos por
engenhos, chagando a ser bastante inferior a dos engenhos
baianos e pernambucanos56.
Isso se justifica pelo tamanho dos engenhos sergipanos, que, se
comparados com os da
55 PASSOS SUBRINHO, 2000, op. cit., p. 191. 56 MOTT, Lus R. B.
Sergipe Del Rey: Populao, economia e sociedade. Aracaju: FUNDESC,
1986, p.
145.
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Bahia e Pernambuco no passavam de bangus.57 Em Lagarto e Boquim,
o nmero de
escravos por engenho distribua-se conforme a Tabela 4.
Tabela 4 Relao de escravos por engenho Boquim e Lagarto/SE
(1850-1888).
Ano N de engenhos N de escravos Escravos/engenhos
1857
1858
1881-82
15
35
37
550
285
-
19
16
18,9
Fontes: 58
A mdia de escravos por engenhos em Lagarto era um pouco menor
que a
mdia sergipana, mas uma importante constatao a ser feita que a
mdia de Lagarto
se manteve praticamente inalterada entre 1857 e 1881/82,
variando aproximadamente
0,1%. Sabendo-se que a regio em anlise, assim como toda
Provncia, sofreu uma
reduo do nmero de escravos no mesmo perodo, motivada,
principalmente, por
mortes, alforria e trfico inter e intraprovincial de escravos59,
o que poderia explicar
essa invarincia na mdia escravo/engenho em Lagarto e Boquim? Uma
hiptese, que
os senhores de engenho de Lagarto provavelmente, teriam buscado
suprir essa reduo
com a compra de escravos a cultivadores de alimentos ou de
algodo, e a criadores de
animais ou, at mesmo, com a aquisio daqueles que trabalhavam na
rea urbana.
57 Idem, p.145. 58 Para 1857, ALMEIDA, 1993, op. cit., p. 215;
PASSOS SUBRINHO, 2000, op. cit., p. 98. Para 1858-
IGHS-Relatrio do Presidente de Provncia, Dr. Joo Dabney dAvellar
Brotero, 1858. E para 1881-82,
PASSOS SUBRINHO, 2000, op. cit., p. 98, nessa fonte no consta o
nmero de engenhos, ento pegamos
esses dados na prpria obra do autor na p. 58. 59 PASSOS
SUBRINHO, 2000, p. 110.
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O fato do nmero de no proprietrios de escravos tornarem-se maior
que o de
proprietrios na dcada de 8060, uma possvel comprovao disso. o
caso de
Martinho Jos de Oliveira61, plantador de mandioca e criador de
gado, que tinha entre
seus bens uma senzala, porm no contava mais com escravos,
vendidos, talvez, para os
senhores de engenho.
Apesar do nmero escravo/engenho no ser to elevado em Lagarto,
quanto o
das vilas da Zona da Mata, a regio tinha o segundo lugar no
ndice de rendimento por
escravos da Provncia em 1857, como tambm, na produo
acar/escravo. Isso pode
ter ocorrido em razo de seus engenhos estarem montados em reas
de ocupao
recente62, possibilitando, assim, uma maior produtividade. Fato
este comprovado em
185863, quando os 35 engenhos de Lagarto ocuparam o quarto lugar
em produo de
acar, atrs de Laranjeiras, Divina Pastora e Itabaiana, superando
Vilas da Mata Sul e
Zona da Mata Sergipana.
Poucos eram os engenhos que contavam com mais de 20 escravos, a
maioria,
de pequeno porte, funcionava com nmero reduzido de cativos para
atender s
necessidades dos servios das plantaes, das moendas, do
transporte da cana e do
acar, e das atividades de manuteno do engenho, dos carros de boi
e dos caixas64.
A grande produo de acar com um nmero diminuto de escravos pode
ser
explicada por dois motivos. Primeiramente, esses engenhos
deveriam contar com fora
60 SANTOS, Joceneide Cunha dos. Entre farinhadas, procisses e
famlias: a vida de homens e mulheres
escravas em Lagarto, Provncia de Sergipe (1850-1888).
Universidade Federal da Bahia: Programa de
Ps-Graduao em Histria Social Mestrado em Histria, Salvador,
2004, p. 28. 61 AGJES-Inventariado: Martinho Jos de Oliveira.
Inventariante: Luiza Maria das Virgens. Inventrios
Post-mortem. Cartrio de 2 oficio de Lagarto, 25/08/1887. Caixa
45, doc. 9. 62 ALMEIDA, 1993, op. cit., p.216. 63 IGHS-Relatrio do
Presidente de Provncia, Dr. Joo Dabney dAvellar Brotero, 1858. 64
ALMEIDA, 1993, p. 190.
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de trabalhadores livres e agregados. Esse era o caso de Joana
Angelica de San Felix65,
que morava no engenho Palma e possua duas tarefas de cana
plantada. Segundo, existia
em Boquim e Lagarto um grande nmero de lavradores de cana, e
vrios deles
cultivavam-nas em suas terras, chegando a contar com mais de 10
escravos, e tendo
renda anual superior a um conto de ris. Isso explica, em parte,
como se produzia tanto
acar com a mdia local de escravo/engenho reduzida.
Mo de obra livre nos engenhos- Apesar do relatrio de presidente
de
provncia de 1858 revelar a existncia de um pequeno nmero de
trabalhadores livres,
perodo em que no se sentia tanta falta da mo de obra escrava.
Acreditamos que a
presena de tais trabalhadores na lavoura era de forma mais
representativa. Pelo censo
de 187266, a populao livre de Lagarto e Boquim era de 13.752
pessoas, a segunda
maior da Provncia, perdendo, apenas, para a Vila de Propri.
Nesse contingente de
habitantes livres incluem-se um reduzido nmero de senhores de
engenho, de lavradores
de cana, comerciantes, servidores pblicos, grandes e pequenos
criadores de animais,
como tambm de pequenos agricultores, restando, provavelmente,
uma parcela bastante
significativa de trabalhadores livres.
Os engenhos Grillo e Riacho Seco67, pertencentes Hermenegildo
Hypolito de
Santa Anna, em 1886, no possuam escravos. Certamente, os
trabalhos neles realizados
eram feitos por trabalhadores livres. Vejamos a Tabela 5, que
menciona gastos feitos
com trabalhadores livres por um senhor de engenho local.
65 AGJES- Inventariada: Joana Angelica de San Felix.
Inventariante: Jos Correia Dantas. Inventrio
post-mortem. Cartrio de 2 Ofcio de Lagarto, 18/03/1857, caixa
22. 66 PASSOS SUBRINHO, 2000, p.426. 67 AGJES-Inventariado:
Hermenegildo Hypolito de Santa Anna. Inventrios post-mortem.
Cartrio de 2
oficio de Lagarto, 17/09/1886. Caixa 44, doc. 17.
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Tabela 5 - Despesas com trabalhadores livres no Engenho So
Benedicto em 1884,
Vila de Boquim/SE.
Data Nome do trabalhador N de dirias Valor pago
17 e 24 de Agosto Despesas com trabalhadores 30$260
24 de Agosto Joo Novato 5 2$500
24 de Agosto Ignacio 3 1$500
24 de Agosto Antnio Novato 5 2$500
24 de Agosto Martinho 3 1$500
24 de Agosto Mareano 6 3$000
24 de Agosto Joo Nunes 3 1$500
2 de Setembro Joo Lino 4 2$000
7 de Setembro Martinho 2 1$000
13 de Setembro Manoel S. Antnio 2 1$000
13 de Setembro Trabalhadores 8 4$000
Fonte68
As dvidas com o pagamento de dirias a trabalhadores livres
mencionadas na
Tabela 5 pertenciam ao Major Manoel de Seabra Lemos, proprietrio
do Engenho So
Benedicto do Campo de Baixo, localizado no territrio da Vila de
Boquim. A
elaborao dessa tabela foi possvel porque os gastos estavam
arrolados entre os
crditos concedidos pelo comerciante Capito Antnio Pinto de
Oliveira, genro do
senhor de engenho, e cobrados como dvidas passivas. Como Manoel
de Seabra no
possua capital em mos para saldar as dirias dos trabalhadores,
essas foram pagas
pela casa comercial de seu genro, onde o dinheiro tinha uma
maior circulao e
posteriormente, o Major liquidava essas dvidas.
68 AGJES- Inventariado: Major Manoel de Seabra Lemos Junior.
Inventariante: Cap. Clnio de Seabra
Lemos. Inventrio post-mortem. Cartrio de 2 Ofcio de Boquim,
29/08/1884, caixa 02, p.49.
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Na Tabela 5 notamos que os pagamentos a trabalhadores livres
eram realizados
semanalmente, e que a diria tinha um valor de $500 ris.
Observamos tambm, que
teve semanas em que o engenho contou com os servios remunerados
de 10 homens,
um nmero considervel de trabalhadores, se comparado mdia de
escravos por
engenho, que chegava a aproximadamente 14 cativos. Alm do uso de
mo de obra
livre, o Engenho So Benedicto contava com os servios de 13
escravos. Apesar, de a
tabela mencionar apenas o pagamento de dirias referentes a trs
semanas,
provavelmente, tambm contou com o uso de trabalhadores livres em
outros perodos, e
isso nos leva a acreditar que a utilizao rotineira desse tipo de
mo de obra era uma
prtica, no s dessa, mas de outras unidades aucareiras locais.
Portanto, o trabalho
livre foi de alta relevncia nos engenhos e para o aumento da
produo de acar.
Complementou ou foi ocupando o lugar do trabalho escravo.
Apesar do crescente uso de mo de obra livre, os escravos
permaneceram
importantes para o setor aucareiro at vsperas da abolio69. Com o
fim da
escravido, existiu a falta de mo de obra, e muitos engenhos
foram desativados,
passando a fogo morto70.
Animais dos engenhos - Os animais, como j sabemos, tambm eram um
fator
indispensvel para o funcionamento dos engenhos. Constituam a
principal fora motriz
e o meio de transporte dos engenhos, das vilas analisadas e de
toda a Provncia
sergipana, por todo o sculo XIX. Em 187171, dos 582 engenhos que
funcionavam em
Sergipe, os movidos por trao animal somavam 492, representando
84,53% das
unidades aucareiras de Sergipe. Essa fora movimentava todos os
engenhos de Lagarto
69 PASSOS SUBRINHO, 2000, p.191. 70 FONSECA, op. cit. p.377. 71
APES - Resumo do apontamento do nmero de engenho de fabricar acar.
G1-Tesouraria Provincial
doc. 847, 22/02/1871.
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e Boquim, em 188172, pois, ainda que alguns ficassem as margens
do Rio Piau, o
volume de gua no era suficiente para moer cana73.
Em 187074, havia, em Lagarto, apenas um engenho movido a vapor.
Mas, em
1881, j no existiam engenhos locais utilizando essa fora motriz.
Provavelmente, o
seu proprietrio, acostumado com os antigos sistemas de moagem,
no se adaptou a essa
inovao e voltou a utilizar animais. No podemos descartar a
hiptese de que os altos
custos para a montagem de um engenho a vapor dificultou seu
acesso por parte dos
proprietrios locais.
Alambiques e engenhocas - Alm dos engenhos, existiam na regio
unidades
aucareiras menores: alambiques e engenhocas de fazer rapadura,
movidos por um
menor nmero de escravos, ou s vezes, sem eles. A instalao dessas
unidades no
exigia grandes custos, o que favoreceu no envolvimento de um
nmero maior de
pessoas na produo que mais dava status: a cana. Fabricava-se
para o consumo do
mercado interno, crescente consumidor de acar, mel, rapadura e,
principalmente,
cachaa75. Assim como os engenhos de acar, o nmero de alambiques
teve um grande
aumento, passando de 5, em 184776, para 15, em 185577,
comprovando o crescente
consumo de cachaa pelos habitantes locais.
Conflito entre lavradores x criadores A expanso canavieira, a
partir,
principalmente, da dcada de 40, aumentou a procura pela terra, o
que gerou conflito
entre proprietrios de engenhos, de alambiques, plantadores de
cana e criadores de gado
72 PIMENTA BUENO, Francisco Antnio. Relatrio sobre a preferncia
de traados para a estrada de
ferro na Provncia de Sergipe apresentado ao Ilmo. e Exm. Sr.
Conselheiro Pedro Luiz Pereira de Souza,
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios da Agricultura,
Comrcio e Obras Pblicas. Rio de Janeiro:
Typ. Nacional, 1881, p.82. 73 Idem. 74 IGHS-Relatrio do Tenente
Coronel Francisco Jos Cardoso Jnior, abertura da Assembleia
Provincial
de Sergipe, 04 de maro de 1870, p. 93. 75 ALMEIDA, 1993, op.
cit. p. 143. 76 APES- Cmara de Lagarto. Fundo CM doc. 34.
18/01/1847. 77 SANTOS, 2004, op. cit. p.33.
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pela apropriao de terra para o cultivo, sobretudo, da cana. Um
caso tpico ocorreu em
1847, quando o capito Thom da Fraga Pimentel, juntamente com
senhores de
engenho e lavradores, fez um requerimento com abaixo assinado,
contendo a assinatura
de 4 senhores de engenhos e mais 59 lavradores, destinado ao
Presidente da Provncia,
com o intuito de que ele tomasse providncias contra os criadores
de gado, uma vez
que, na Cmara de Lagarto, suas reclamaes no surtiram efeito. O
se exigia era o
cumprimento de uma postura municipal de 1830 que dizia o
seguinte:
A Cmara deste Municpio tendo em vista para promover o bem da
agricultura que j esto h em decadncia, e sofria, designar
quais
lugares prprios de plantaes (...), da bca da mata do Piau at
a
divisa deste com o termo limtrofe a Estncia, ficaro reservadas
as
matas unicamente para a plantao, cuminando multa contra os
criadores78.
Segundo Thom da Fraga Pimentel, possuidor de dois engenhos na
rea em
conflito, por algum tempo se respeitou a postura, mas ou por
fraqueza da cmara,
indolncia das autoridades locais ou por fora, poderio e
influncia de alguns
criadores de gado (...) as reas reservadas e destinadas para a
plantao (...) se acham
situadas tantas fazendas de gado, que menos bastariam para
completo aniquilamento
das plantaes79.
O autor do requerimento relatou que os agricultores que
assinaram o abaixo
assinado sofriam perdas, ocasionadas pela criao de gado solto
nos lugares destinados
a agricultura e que tais prejuzos reduziram onze famlias misria,
obrigadas a
deixarem seus lugares. Arguiu, tambm, que, mesmo causando
prejuzo para a
agricultura, manancial da riqueza publica e digna de proteo das
autoridades80, os
78 APES- Requerimento dos proprietrios e lavradores. Fundo G
pac. 599,15 de julho de 1847. 79 Idem. 80 Idem.
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criadores no atendiam as reclamaes. O no cumprimento da postura
dava-se porque
as autoridades ora constitudas so uns dos prprios poderosos que
se opem do
benefcio pblico da lavoura81.
A expanso da cana requereu, cada vez mais, terras para o seu
cultivo, e a
criao de gado, que, at ento, foi a principal atividade econmica
de Lagarto82,
comeou a se retirar para locais de solos no apropriados plantao
canavieira,
deixando assim de reduzir as matas de agricultura em campinas de
criao83. A
retirada do gado no foi fcil em Lagarto, pois se tratava de um
dos locais de maior
criao de animais da Provncia e, consequentemente, de criadores
ricos e poderosos,
que se negavam a cumprir a Postura de 1830. O prestgio e poderes
desses criadores na
sociedade local eram tantos que no h encontrar-se um oficial de
justia que se
atreva a ir cumprir um mandato contra os que escandalosamente
infringem a lei84.
Apesar de todo o poder que dispunham os criadores de gado, foram
os
ascendentes senhores de engenho e os lavradores que saram
vitoriosos dessa disputa
pelo uso da terra. O Governo Provincial decidiu a seu favor,
mandando realizar-se, em
29 de julho de 184785, inteiramente o que continha a Postura de
1830. Somente em
pasto seguro, seria possvel criar gado dentro dos limites
demarcados pela Cmara para
as plantaes. Porm, se os animais sassem e cometessem algum
incidente contra os
lavradores, seus respectivos donos seriam punidos.
81 APES - Cmara de Lagarto. Fundo: CM ,doc. 34. 1847. 82 MACIEL,
Carlos Roberto Santos e SANTOS; Carlos Jos Andrade. Uma breve
anlise sobre o bem
escravo na composio das fortunas dos moradores de Lagarto/SE
(1800-1840).Umbaba,2010. Artigo
(Especializao em Metodologia do Ensino de Histria).Faculdade
SERIGY. 83 APES- Requerimento dos proprietrios e lavradores. Fundo
G pac. 599,15 de julho de 1847. 84 Idem. 85 SANTANA, Ana Priscilla
Meneses de. CRUZ, Cludia Cristine de Arajo Ramos e SANTOS,
Dbora
Santana. Cdigos de Postura de Sergipe Imperial. Monografia
(Licenciatura em Histria). Universidade
Tiradentes. Aracaju: UNIT, 2009, p.227.
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(...) nenhuma pessoa poder criar gado nem quaisquer animais
que
ofendam as lavouras, e todas as pessoas que tiverem animais
nas
matas lhe concedido prazo de trinta dias para os retirarem.
(...) quem
fracturar presente determinao, ser condenada em trinta mil
ris,
para as despesas. (...) e pela reincidncia sessenta mil ris, e
todo
animal, que for achado nas lavouras, seu dono ser obrigado a
pagar
acima de dois mil ris por cada uma cabea.86
Tentando evitar a repetio desse tipo de conflito, recm-criada
Cmara de
Lagoa Vermelha (Boquim), em 1858, decretou a proibio da criao de
animais soltos,
e delimitou as reas reservadas para o gado e as para a
agricultura87.
Esse conflito por terras, provavelmente, tambm revelou uma luta
por poder
entre a tradicional classe criadora em Lagarto e o grupo em
ascenso dos proprietrios
de engenho. Estes foram beneficiados com a expanso da cana, que
tornou o acar, o
principal gnero de exportao de Lagarto e Boquim88, aumentando
seus poderes
econmicos e prestgios na sociedade lagartense. A derrota dos
criadores diminuiu seus
poderes e representou o incio da supremacia do poder dos
agricultores (principalmente
dos senhores de engenho), fato comprovado nas eleies para
vereadores89.
Consideraes finais
A base econmica das vilas de Boquim e Lagarto vivenciou uma
grande
mudana a partir, principalmente, da segunda metade do sculo XIX
com a expanso
canavieira por suas terras. Essas outrora eram ocupadas por
cultivos voltados para o
alimento em especial a mandioca, e pela criao de gado. Mesmo com
a penetrao da
86 APES- Requerimento dos proprietrios e lavradores. Fundo G
pac. 599,15 de julho de 1847. 87 SANTANA, op. cit. p.47. 88
IGHS-Relatrio do Tenente Coronel Francisco Jos Cardoso Jnior,
abertura da Assembleia Provincial
de Sergipe, 04 de maro de 1870, p. 93. 89 APES - Cmaras de
Lagarto e Boquim. (1850-1888).
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cana em seus solos, as antigas atividades econmicas permaneceram
sendo praticadas
pela maior parte da populao, pois a montagem de engenhos
demandava grandes
custos.
A diversificao econmica das vilas de Boquim e Lagarto com a
expanso da
cana e do algodo destinados ao mercado externo, a criao de gado
e o cultivo gneros
alimentcios para atender a demanda do mercado local e da
Provncia de Sergipe e
vizinhas provocou um dinamismo econmico que possibilitou vrias
alternativas para a
aquisio e construo da riqueza dos moradores de Lagarto e
Boquim.
Muitos lucraram e cresceram direta e indiretamente com a expanso
da
produo e comrcio do acar, desde senhores de engenhos a
lavradores de cana, a
comerciante que se enriqueceram emprestando capitais a juros aos
senhores de engenho
e fornecendo produtos para alimentao dos moradores dos engenhos;
criadores de
animais que abasteciam o mercado local de carne e vendiam gado
para os vrios
servios nos engenhos, os cultivadores de alimentos, em especial
a mandioca, que viram
seu mercado consumidor aumentar.
Fontes
Fontes manuscritas.
1.1.2 - Arquivo Geral do Judicirio do Estado de Sergipe.
(AGJES)
Cartrio de Lagarto 1 e 2 Ofcio.
Inventrios post-mortem (1840-1890) Cx. 1 e 12 52.
Livro de Notas (1842-1916) Cx. 1, 1 ofcio Livros 1-2 (1845-1899)
2 Ofcio.
Ao de Embargo (1825-1900). Cx. 1 e 2.
Livro de Protesto de Letras (1858-1900) cx. 1.
Libelo cvel (1840- 1890) cx. 1-2.
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Cartrio de Boquim de 1 e 2 ofcio.
Inventrios post-mortem (1865-1888), cx. 1,2 e 3.
1.1.3 - Arquivo Pblico do Estado de Sergipe APES
Lista de Qualificao de Votantes da Vila de Lagarto de 1868,1878
e 1879.
Lista de Qualificao de Votantes da Vila de Lagoa Vermelha de
1858 e 1868.
Lista de Qualificao de Votantes da Vila de Boquim de 1871.
Fundo de emancipao de escravos de Lagarto de 1875.
Tesouraria Provincial - Resumo do apontamento do nmero de
engenho de fabricar
acar de 1871.
Cmara de Lagarto (1850-1888).
Cmara de Lagoa Vermelha (1858-1870).
Cmara de Boquim (1870-1888).
Requerimentos, fundo g.
1.1.4 - Instituto Histrico e Geogrfico de Sergipe (IHGS)
Relatrios de presidentes de provncias de Sergipe (1830-1888) cd
room .
1.2 - Fontes impressas
CAMPOS, Ediberto. Crnicas da passagem do sculo. V.2. Aracaju:
1967.
________________ .Crnicas da passagem do sculo. V.5. Aracaju:
1970 .
PIMENTA BUENO, Francisco Antnio. Relatrio sobre a preferncia de
traados
para a estrada de ferro na Provncia de Sergipe apresentado ao
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Conselheiro Pedro Luiz Pereira de Souza, Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios
da Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas. Rio de Janeiro: Typ.
Nacional, 1881.
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Aracaju:
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