Sumário A CONVERSÃO VERDADEIRA E A FALSA..............................................1 A REGRA PELA QUAL É MEDIDA A CULPA DO PECADO.................................15 A RELIGIÃO DA OPINIÃO PÚBLICA................................................29 A VERDADEIRA SUBMISSÃO.......................................................41 AS AÇÕES DUVIDOSAS SÃO PECAMINOSAS...........................................53 EGOÍSMO NÃO É RELIGIÃO VERDADEIRA............................................70 FALSOS PROFESSOS.............................................................82 O AMOR DE DEUS POR UM MUNDO PECADOR..........................................92 AMOR É O TODO DA RELIGIÃO...................................................104 LEVADO A CONHECER O SEU VERDADEIRO CARÁTER..................................115 OS VERDADEIROS SANTOS.......................................................129 SOBRE NEGAR-SE A SI MESMO...................................................139 O VERDADEIRO E O FALSO ARREPENDIMENTO.......................................146 SERMÃO - AMÓS 3:3 “Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”. .160 A CONVERSÃO VERDADEIRA E A FALSA TEXTO --"Mas todos vós que acendeis fogo, e vos cingis com tições acessos, ide, andai entre as chamas do vosso fogo, e entre os tições que acendestes. Isto é que recebereis da minha mão: Em tormentos jazereis."-- Isaías 50:11 É evidente pelo contexto destas palavras no capítulo, que o profeta se dirige àqueles que professam ser religiosos, que se dizem que estão salvos, mas que, na realidade, sua esperança era um fogo que eles mesmos tinham acendido, e as faíscas, criadas por este fogo. Antes de seguir adiante na discussão do tema, desejaria dizer que, como já me foi dada notícia de que minha intenção era discutir a natureza da conversão verdadeira e da falsa, não servirá de nada o escutá-lo, excepto para aqueles que sejam sinceros e o apliquem a si mesmos. Se você espera vi a Página | 1
A teologia como conhecemos não pode responder aos maiores anseios da alma, como se propõe magnificamente a teologia da Nova Escola de Charles G. Finney.
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Sumário
A CONVERSÃO VERDADEIRA E A FALSA..........................................................................................................1
A REGRA PELA QUAL É MEDIDA A CULPA DO PECADO.............................................................................15
A RELIGIÃO DA OPINIÃO PÚBLICA....................................................................................................................29
A VERDADEIRA SUBMISSÃO...............................................................................................................................41
AS AÇÕES DUVIDOSAS SÃO PECAMINOSAS.................................................................................................53
EGOÍSMO NÃO É RELIGIÃO VERDADEIRA.......................................................................................................70
O AMOR DE DEUS POR UM MUNDO PECADOR..............................................................................................92
AMOR É O TODO DA RELIGIÃO.........................................................................................................................104
LEVADO A CONHECER O SEU VERDADEIRO CARÁTER...........................................................................115
OS VERDADEIROS SANTOS...............................................................................................................................129
SOBRE NEGAR-SE A SI MESMO........................................................................................................................139
O VERDADEIRO E O FALSO ARREPENDIMENTO.........................................................................................146
SERMÃO - AMÓS 3:3 “Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”.......................................160
A CONVERSÃO VERDADEIRA E A FALSA
TEXTO --"Mas todos vós que acendeis fogo, e vos cingis com tições acessos, ide, andai entre as
chamas do vosso fogo, e entre os tições que acendestes. Isto é que recebereis da minha mão:
Em tormentos jazereis."-- Isaías 50:11
É evidente pelo contexto destas palavras no capítulo, que o profeta se dirige àqueles que
professam ser religiosos, que se dizem que estão salvos, mas que, na realidade, sua esperança
era um fogo que eles mesmos tinham acendido, e as faíscas, criadas por este fogo. Antes de
seguir adiante na discussão do tema, desejaria dizer que, como já me foi dada notícia de que
minha intenção era discutir a natureza da conversão verdadeira e da falsa, não servirá de nada o
escutá-lo, excepto para aqueles que sejam sinceros e o apliquem a si mesmos. Se você espera vi
a beneficiar da mensagem, tem que resolver aplicá-lo fielmente, de modo tão sincero como se
pensasse que estivesse no juízo solene. Se o fizer, pode esperar que o conduza a descobrir o
seu verdadeiro estado, e se estiver enganado, dirigir-se ao verdadeiro caminho da salvação. Se
você não quer faze-lo, estarei pregando em vão, e você ouvirá em vão.
Espero mostrar a diferença entre a conversão verdadeira e a falsa, a apresentarei o tema na
seguinte ordem:
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I. Mostrar que o estado natural do homem é o de puro egoísmo.
II. Mostrar que o carácter do convertido é o de benevolência.
III. Que o novo nascimento consiste numa mudança do egoísmo para a benevolência.
IV. Contestar algumas objecções que podem resistir o ponto de vista que tomo e terminar com
alguns comentários.
I. Vou mostrar que o estado natural do homem, ou o estado em que se encontra o homem antes
da conversão, é egoísmo puro e sem mistura. Com isso quero dizer que não conhece a
benevolência do Evangelho. O egoísmo é considerar a felicidade própria como objectivo
supremo, e buscar o bem próprio pelo fato de ser seu. O que é egoísta coloca sua própria
felicidade e busca seu próprio bem porque é seu. De modo egoísta coloca sua própria felicidade
por cima de outros interesses de maior valor; tais como a glória de Deus e o bem do universo. É
evidente que a humanidade se encontra neste estado e digo isto por muitas considerações.
Todo o mundo sabe que os outros são todos egoístas. Todos os tratos da humanidade são
conduzidos sobre este princípio. Se o homem o perde de vista e empreende tratos com a
humanidade como se não fossem egoístas, senão desinteressados, os demais pensarão que
aquele homem está louco.
II. No estado do convertido, o carácter predominante é o de benevolência.
Um indivíduo convertido é benevolente, e não egoísta, no essencial. Benevolente é uma palavra
composta que propriamente significa desejar o bem, ou seja, escolher a felicidade suprema dos
outros. Este é o estado e Deus. Nos é dito que Deus é amor; isto é, que é benevolente. A
benevolência compreende todo seu carácter. Todos seus atributos morais são apenas
modificações da benevolência. Um indivíduo convertido se assemelha a Deus neste aspecto. Não
quero que se entenda que ninguém é convertido a menos que seja pura e perfeitamente
benevolente, como Deus é; mas sim que no equilíbrio de sua mente a característica que
prevalece é a benevolência. Com sinceridade busca o bem dos outros por amor a eles. E, por
benevolência desinteressada não sente interesse no objectivo que persegue, senão que busca a
felicidade dos outros por amor a eles e não com olhos a sua reacção a favor de si mesmo, que
vai aumentar sua felicidade. Decide fazer bem porque se alegra na felicidade dos outros, e deseja
a felicidade deles por ela em si mesma para glória de Deus. Deus é benevolente de modo puro e
desinteressado. Ele não faz as criaturas felizes para assim aumentar a sua própria felicidade,
senão que as ama por felicidade delas e as busca por amor às mesmas. Não que não se sinta
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feliz ao fomentar a felicidade das criaturas, mas não o faz para sua própria satisfação. O homem
desinteressado sente-se feliz em fazer o bem. De outra maneira o fazer bem em si não teria
nenhuma virtude e de outro modo o fazer bem não seria virtuoso em si. Noutras palavras, se não
lhe fosse agradável fazer bem e não se alegrasse fazendo-o, não seria uma virtude nele.
A benevolência é a santidade. É o que a lei de Deus requer: Amarás ao Senhor teu Deus com
todo teu coração, e com toda tua alma e com toda tua força, e a teu próximo com a ti mesmo.
Com a mesma certeza que o convertido rende obediência à lei de Deus, e de modo tão seguro
como ele é de Deus, é benevolente. É o rasgo mais saliente de seu carácter, o buscar a felicidade
dos outros, e não a sua própria, como seu objectivo supremo.
III. A verdadeira conversão é uma mudança do estado de supremo egoísmo àquela
benevolência.
É uma mudança no objectivo da actividade, não uma mera mudança do meio de alcançar o seu
fim. Não é verdade que os convertidos e os não convertidos difiram apenas nos meios que usam,
enquanto perseguem o mesmo objectivo. Não é verdade que Gabriel e Satanás estejam tratando
de alcançar o mesmo objectivo, os dois procurando sua própria felicidade, ainda que a busquem
de modo distinto. Gabriel não obedece a Deus com olhos a incrementar sua própria felicidade.
Um homem pode mudar seus meios e contudo apontar a conseguir o mesmo objectivo, sua
própria felicidade. É possível que faça bem com os olhos postos num benefício temporário,
terreno. Pode não crer na religião, nem na eternidade, e contudo fazer bem porque isto lhe é
vantajoso neste mundo. Suponhamos, pois, que seus olhos se abrem, e vê a realidade da
eternidade; e então torna-se religioso como meio de conseguir sua felicidade na eternidade.
Pode-se ver bem que não há nenhuma virtude benévola nele. É a intenção que dá carácter ao
acto, não o meio empregado para realizar a intenção. O convertido verdadeiro e o falso diferem
nisto. O verdadeiro convertido escolhe a glória de Deus e o bem de seu reino como objectivo de
seus esforços. Este objectivo o escolhe por si, pelo que é, porque o vê como seu maior bem,
como um bem maior que sua própria felicidade individual. Não que seja indiferente a sua própria
felicidade, senão que prefere a glória de Deus, porque é um bem maior, supremo. Olha à
felicidade de cada indivíduo em particular segundo sua verdadeira importância, na medida que
lhe é possível avaliá-la, e ele é que escolhe o sumo bem como seu objectivo supremo.
IV. Agora vou mostrar algumas coisas em que os verdadeiros santos e as pessoas enganadas
podem estar de acordo e algumas em desacordo.
1. Podem estar de acordo em levar uma vida estritamente moral.
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A diferença está nos seus motivos. O verdadeiro santo leva uma vida moral por amor à santidade;
a pessoa enganada, por considerações egoístas. Usa a moralidade como um meio para alcançar
um fim, com olhos na sua própria felicidade. O verdadeiro santo tem moralidade como um
objectivo singular.
2. Os dois podem orar igualmente, pelo menos quanto à forma.
A diferença está nos motivos. O verdadeiro santo ama a oração; o outro o faz porque espera
conseguir algum benefício para si da oração. O verdadeiro santo espera um benefício para si da
oração, mas este não é o motivo principal. O outro ora sem ter nenhum outro motivo.
3. Os dois podem ser diligentes na religião.
Um porque pode ter uma grande diligência, porque sua diligência é segundo seu conhecimento,
deseja sinceramente e ama fomentar a religião, por amor à mesma. O outro pode mostrar uma
diligência idêntica, com olhos de assegurar sua própria salvação e nada mais, ou porque tem
medo de ir para o inferno se não faz a obra do Senhor, ou para aquietar sua consciência e não
porque ama a religião em si.
4. Os dois podem ser conscientes no cumprimento do dever; o verdadeiro convertido porque quer
e ama fazer este dever, o outro porque não se atreve a descuida-lo por mero egoísmo de
conveniência.
5. Os dois podem prestar a mesma atenção a praticar a rectidão; o verdadeiro convertido porque
ama a rectidão, o outro porque sabe que não pode ser salvo a menos que o faça. É sincero em
suas transacções e negócios, porque isto é o único que assegura seu próprio interesse.
Verdadeiramente, "já receberam sua recompensa". Conseguem a reputação de serem pessoas
sinceras, mas não há motivo superior, e não haverá recompensa de Deus que sobre para eles.
6. Podem estar de acordo em seus desejos em muitos aspectos. Podem estar de acordo em seu
desejo de servir a Deus; o verdadeiro convertido porque ama o serviço de Deus, e a pessoa
enganada, pela recompensa, como o servo assalariado serve a seu senhor.
Podem estar de acordo em seus desejos de serem úteis, o verdadeiro convertido porque deseja
ser útil em si; o enganado porque este é o meio de obter o favor de Deus. Na proporção em que
tem sido despertada a importância de ter o favor de Deus será a intensidade de seus desejos em
ser útil e prestável.
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Em seu desejo pela conversão das almas, o verdadeiro santo porque quer glorificar a Deus; o
enganado para ganhar o favor de Deus. Aquilo que o move a isto o mesmo, também o faz dar
dinheiro às Sociedades Missionárias ou à Sociedade Bíblica. Motivos egoístas somente, para
procurar a felicidade, o aplauso ou obter o favor de Deus.
E quanto a glorificar a Deus, o verdadeiro convertido porque ama ver a Deus glorificado, a pessoa
enganada porque sabe que este é o meio de ser salvo. O verdadeiro convertido pôs seu coração
na glória de Deus, como seu grande objectivo, e o deseja como um fim, pela glória de Deus. O
outro deseja esta glória como um meio para seu grande fim, o benefício próprio.
Com respeito ao arrependimento, o verdadeiro convertido aborrece o pecado por sua natureza
odiosa, porque desonra a Deus. O outro, porque sabe que sem o arrependimento vai ser
condenado.
E quanto ao crer em Jesus Cristo, o verdadeiro santo o deseja para glorificar a Deus, porque ama
a verdade por si só. O outro o faz porque assim pode ter uma esperança maior de chegar ao céu.
Com respeito a obedecer a Deus, o verdadeiro santo o faz para aumentar sua santidade; o que
professa falsamente, porque deseja a recompensa da obediência e não a obediência por si só.
7. Podem estar de acordo não só nos desejos, senão também nas resoluções. Podem decidir
renunciar ao pecado e obedecer a Deus, procurar o progresso da religião e o reino de Cristo; e
fazê-lo com grande energia de propósito, mas movidos por motivos opostamente distintos.
8. Podem estar de acordo também em seus desígnios. Fazem planos para glorificar a Deus,
converter aos homens e estender o reino de Cristo; o verdadeiro santo por amor a Deus e a
santidade; o outro por sua própria felicidade. Para o primeiro é um fim, para o outro um meio para
perseguir o objectivo egoísta.
Podem tentar ser santos; o verdadeiro convertido porque ama a santidade porque a santidade
glorifica a Deus, o enganado porque sabe que não pode ser feliz de outra maneira.
9. Eles podem concordar não somente nos seus desejos, decisões e desígnios, mas também em
seus afectos para muitas coisas.
Podem os dois amar a Bíblia; o verdadeiro santo, porque é a verdade de Deus, se deleita nela e é
um banquete para sua alma; o outro porque crê que lhe favorece e fomenta suas esperanças.
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Podem servir os dois a Deus; o primeiro porque vê o carácter de Deus em sua suprema
excelência e amor; o outro porque pensa em Deus como um amigo particular, que vai faze-lo feliz
para sempre e relaciona a ideia de Deus com seu próprio interesse.
Os dois podem amar a Cristo. O verdadeiro convertido porque ama seu carácter; o enganado,
porque lhe salva do inferno e lhe dá a vida eterna, então porque não amá-lo?
Podem os dois amar aos cristãos: o verdadeiro convertido porque lê neles a imagem de Cristo, e
o enganado porque pertencem à sua própria denominação, ou porque estão do seu lado,
sentindo que têm os mesmos interesses e esperanças que ele.
10. Podem estar de acordo em odiar as mesmas coisas. Podem odiar a infidelidade e oporem-se
a ela extremamente; o santo porque isso se opõe a Deus e à santidade, e o enganado porque
prejudica os interesses a que se dedica e destrói suas próprias esperanças para a eternidade.
Podem também odiar o erro; o primeiro porque é detestável em si e contrário a Deus, o outro
porque é contrário a seus pontos de vista e opiniões.
Lembro de ter visto escrito faz algum tempo um ataque a um ministro por publicar certas opiniões,
"porque &endash; dizia o escritor &endash; estes sentimentos destruiriam todas as minhas
esperanças para a eternidade". E esta é uma boa razão, a melhor que uma pessoa egoísta
necessita para opor-se a uma opinião.
Os dois odeiam o pecado; o verdadeiro convertido porque é odioso a Deus, a pessoa enganada
porque lhe prejudica. Tem ocorrido casos em que um indivíduo tem odiado seus próprios
pecados, mas não os tem abandonado. Quantas vezes um bêbado, olhando para trás ao que era,
e contrastando sua degradação presente com o que tinha sido, aborrece a bebida; mas não pela
bebida em si, o que ela é, senão porque tem causado sua desgraça. E todavia segue bêbado,
ainda que ao considerar os efeitos da mesma se sente cheio de indignação.
Os dois podem se sentir opostos aos pecadores. A oposição do verdadeiro santo é uma oposição
benevolente, com miras a aborrecer seu carácter e conduta, já que estas subvertem o reino de
Deus. O outro se opõe aos pecadores porque estes se opõem à religião que ele defende, porque
não estão do seu lado.
11. Ou mesmo, os dois podem alegrar-se nas mesmas coisas. Ambos se alegram na
prosperidade de Sião, e na conversão das almas; o verdadeiro convertido porque tem o coração
posto nisso, e o considera o maior bem possível, e o enganado porque isto, em particular, crê que
faz prosperar seus interesses.
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12. Os dois podem se chatear e se sentirem angustiados pelo baixo estado da religião nas
igrejas; o verdadeiro convertido porque Deus é desonrado, e a pessoa enganada porque sua
própria alma não está feliz, ou porque a religião não está em seu favor.
Os dois podem desfrutar da sociedade dos santos; o verdadeiro convertido porque sua alma se
alegra na conversa espiritual, o outro porque espera tirar algumas vantagens da companhia. O
primeiro desfruta porque "a boca fala do que o coração está cheio"; o outro porque lhe gosta falar
sobre o grande interesse que sente na religião, e a esperança que tem de chegar ao céu.
13. Os dois podem desfrutar assistindo a reuniões religiosas; o santo porque seu coração se
deleita nos actos de adoração, oração e louvor, e ouvindo a palavra de Deus em comunhão com
Deus e com os santos, e o outro porque pensa que uma reunião religiosa é um bom lugar para
fomentar sua esperança. Pode ter cem razões para querê-las, e delas nenhuma é pelas reuniões
em si, pelo serviço prestado a Deus.
14. Os dois podem encontrar prazer em seu dever na oração. O santo porque o aproxima de
Deus, se deleita na comunhão com Deus, onde se encontra livre para dirigir-se directamente a
Deus, sem estorvos e conversar com Ele. A pessoa enganada encontra uma espécie de
satisfação nela, porque é um dever orar a Deus em segredo e sente a satisfação própria de
cumpri-lo. Pode inclusive sentir um certo prazer nela, uma espécie de emoção que confunde com
a comunhão com Deus.
15. Os dois podem amar as doutrinas da graça; o verdadeiro santo porque são tão gloriosas; o
outro porque as considera a garantia de sua própria salvação.
16. Os dois podem amar os preceitos da lei de Deus; o santo porque são tão excelentes, santos,
justos e bons; o outro porque crê que lhe fará mais feliz se os ama, e portanto são um meio para
sua felicidade.
Ambos podem consentir no castigo da lei. O verdadeiro santo porque considera que será justo em
si que Deus lhe envie para o inferno. O enganado porque se regozija pensando que ele está fora
de risco. Sente respeito para o feito, porque sabe que é recto e sua consciência o aprova, mas
nunca consentiria nele em seu próprio caso.
17. É possível que sejam iguais em sua generosidade para dar às sociedades de beneficência.
Sem dúvida que os dois podem dar somas iguais, mas os motivos são diferentes. Um dá para
fazer bem e o mesmo daria se soubesse que não havia outra pessoa viva que desse. O outro
para conseguir um mérito, para aquietar sua consciência e para inclinar para si o favor de Deus.
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18. É possível que se neguem os dois as mesmas coisas. A abnegação não está confinada aos
verdadeiros santos. Para dar-nos em conta dele basta olharmos aos mahometanos, indo para
suas peregrinações a Meca. Olhe aos pagãos, atirando-se debaixo do carro de Juggernaut. Ou
mesmo aos pobres ofuscados, dentro do mesmo mundo chamado cristão, os católicos que
sobem degraus de escadarias de joelhos, derramando sangue. Um protestante dirá que não há
religião aqui, mas não poderá negar que há um negar-se a si mesmo, seja qual seja o objectivo.
O verdadeiro santo se negará a si mesmo para fazer mais bem a outros, não a ele mesmo. A
pessoa enganada o fará por motivos egoístas de modo exclusivo.
19. Os dois podem estar dispostos a sofrer o martírio. Leia a vida dos mártires e não fica a menor
dúvida que estavam dispostos a sofrer, mas alguns deles o faziam com a ideia errónea da
recompensa do martírio e se lançavam à destruição porque estavam persuadidos que isto lhes
assegurava o caminho livre para a vida eterna.
Em todos estes casos, os motivos de uma classe estão em directa oposição aos da outra. A
diferença encontra-se nos objectivos. O primeiro escolhe seu próprio interesse, o outro o
interesse de Deus como seu objectivo final. O que diz que os dois têm o mesmo objectivo diz que
um pecador impenitente é tão benevolente como um cristão real; ou que um cristão não é
benevolente, como Deus é, senão que busca sua própria felicidade, e que a procura na religião,
não no mundo.
E este é o lugar apropriado para a resposta a uma pergunta que se costuma fazer: "Se estas
duas classes de pessoas são tão semelhantes em tantos pontos, como vamos conhecer nosso
próprio carácter real, a qual dos grupos pertencemos? Sabemos que o coração é enganoso sobre
todas as coisas e perverso, e como vamos saber se amamos a Deus e a santidade por si
mesmos ou bem se buscamos o favor de Deus e procuramos chegar ao céu como um benefício
próprio?"
Vou responder:
1. Se você é verdadeiramente benevolente, aparecerá em seus tratos diários. Este carácter, se é
real, mostrar-se-á em seus assuntos, em todas as suas facetas. Se o egoísmo rege a sua
conduta, é absolutamente certo que é verdadeiramente egoísta. Se nos nossos tratos com os
homens somos egoístas, também o somos em nossos tratos com Deus. "Porque quem não ama
a seu irmão que pode ver, como pode amar a Deus que não se pode ver?" A religião não é
meramente amar a Deus, senão também amar o homem. Se em nossas transacções diárias
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mostramos que somos egoístas, não somos convertidos; de outro modo a benevolência não é
essencial à religião, e um homem pode ser religioso sem amar a seu próximo como a si mesmo.
2. Se você não tem interesse na religião, os deveres religiosos não lhe interessam. Você acercar-
se-á da religião como um trabalhador vai a sua tarefa, por amor a ganhar a vida. O que trabalha
encontra prazer em seu trabalho, mas não é por ele em si. Preferiria não fazê-lo se pudesse. Em
sua natureza é uma tarefa, e se tem algum prazer nela é porque espera de antemão os
resultados, ele sustém o bem-estar da família, ele incrementa a sua propriedade.
Este é precisamente o estado de algumas pessoas com respeito à religião. Aproximam-se dela
como um enfermo toma sua medicina, porque desejam seus efeitos e eles sabem que a
necessitam, senão perecerão. É uma tarefa que nunca fariam pelo seu próprio valor.
Suponhamos que um homem amasse trabalhar, como uma criança ama brincar. Eles fariam isto
o dia todo e nunca ficariam cansados de fazê-lo, sem nenhum outro motivo senão o prazer que
eles auferem. Então, assim é na religião, onde a amam pelo seu próprio valor, não haverá
desanimo nela.
3. Se o egoísmo é o carácter prevalecente da sua religião, tomará às vezes uma forma, às vezes
outra. Por exemplo: se for um período de frieza geral na igreja, os convertidos verdadeiros ainda
desfrutariam em sua comunhão secreta com Deus, ainda que isto não chegará ao conhecimento
dos demais. Mas a pessoa enganada nestes casos sente-se atraída pelo mundo. Agora, se os
verdadeiros santos se levantam e fazem ruídos, falam da alegria em voz alta, de modo que a
religião começa a ser um tema de conversação outra vez; talvez algum destes enganados
comece a mover-se e parecerão mais diligentes que um verdadeiro santo. Ver-se-á impelido por
suas convicções e não por seus afectos. Quando não há interesse público, não sente a
convicção; mas quando a igreja se desperta sente a convicção e vê-se impelido a mover-se, para
ter quieta a sua consciência. É só um egoísmo em outra forma.
4. Se você é egoísta, a sua alegria na religião dependerá principalmente da firmeza das suas
esperanças acerca do céu e não do exercício pleno de seus afectos. Seus gozos não são aplicar-
se às coisas religiosas, senão a de uma natureza muito distinta daquela dum verdadeiro santo.
São em sua maioria meras antecipações. Quando se sente seguro para ir para o céu, então
alegra-se muito na religião; depende tudo da esperança que sente ou não, não do amor, pelas
coisas que espera. Ouve-se pessoas que perdem seu gozo na religião quando decresce sua
esperança. A razão é evidente. Amam a religião não por ela em si, senão que seu gozo depende
de sua esperança. Se os deveres da religião não sãos as coisas em que se alegra e se todos os
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gozos dependem da sua esperança, não tem uma verdadeira religião; tudo não passa de
egoísmo.
Não digo que os verdadeiros santos não se gozam em sua esperança. Mas isto não é o principal
neles. Pensam muito pouco em suas esperanças. Seus pensamentos se empregam e ocupam
doutra coisa. A pessoa enganada, ao contrário, dá-se sempre conta de que não goza nos deveres
da religião; só os cumpre porque confia que há um céu. Só tem o gozo nele como o homem que
trabalha espera encontrar a recompensa de seu trabalho.
5. Se você é egoísta na religião, seus gozos serão principalmente em forma de antecipação. O
verdadeiro santo desfruta já da paz de Deus e o céu começa já em sua alma. Não somente tem a
perspectiva da mesma, senão que a vida eterna já começou realmente nele, em si. Tem fé, a que
é a mesma substância das coisas que se esperam. Mais, tem já verdadeiros sentimentos
celestiais nele. Goza de antemão gozos inferiores em grau, mas não distintos em natureza. Sabe
que o céu já começou para ele e não está obrigado a esperar para provar os gozos da vida
eterna. Seu gozo está em proporção à sua santidade e não em proporção a sua esperança.
6. Outra diferença pela qual podemos saber se somos egoístas na religião é esta: a pessoa
enganada tem o propósito de obedecer, enquanto que o outro prefere obedecer. Esta é uma
importante distinção e eu temo que poucas pessoas a façam. Multidões têm o propósito de
obedecer e não preferem obedecer. Preferência é a escolha verdadeira, ou obediência do
coração. Você frequentemente ouve indivíduos falarem que têm o propósito de fazer esse ou
aquele acto de obediência, mas não o fazem. E eles contarão o quanto é difícil executar seus
propósitos. O verdadeiro santo, por outro lado, realmente prefere e seu coração escolhe obedecer
e ele acha fácil obedecer. O primeiro tem o propósito de obedecer, como o que Paulo tinha antes
de ser convertido, como nos conta no capítulo sete de Romanos. Ele tinha um propósito firme de
obedecer, mas não obedecia, porque seu coração não estava nisso. O verdadeiro convertido
prefere obedecer pelo próprio valor da obediência; ele realmente escolhe isso, e faz isso. O outro
se propõe a ser santo, porque ele sabe que é o único caminho para ser feliz. O verdadeiro santo
escolhe a santidade pelo seu próprio valor, pois ele é santo.
7. O verdadeiro convertido e a pessoa enganada diferem também em sua fé. O verdadeiro santo
tem confiança no carácter geral de Deus, que o conduz a uma submissão a Deus sem
atenuantes. É falado muito de classes de fé, sem muito sentido. A verdadeira confiança nas
promessas especiais de Deus depende da confiança no carácter geral de Deus. Só há dois
princípios pelos quais se obedece a qualquer governo, humano ou divino, o temor e a confiança.
Não importa se trata do governo da família, um barco, uma nação ou um universo. Num caso os
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indivíduos obedecem pela esperança à recompensa e o temor ao castigo. No outro, pela
confiança no carácter do governo, que obra por amor. O outro cede num externo de obediência,
por esperança e por temor. O verdadeiro convertido tem a fé e a confiança em Deus que lhe
conduz a obedecer porque ama a Deus. Esta obediência é fé. Tem confiança em Deus, pelo que
se submete totalmente à mão de Deus.
O outro tem só uma fé parcial, e só uma submissão parcial. O diabo tem esta fé parcial. Crê e
treme. Uma pessoa pode crer que Cristo veio para salvar aos pecadores e baseando-se nisto
submete-se para ser salvo; ao fazê-lo não se submete a ele, para ser governado por ele. Sua
submissão é só uma condição para ser salvo. Nunca tem a confiança sem reservas no carácter
de Deus que lhe conduz a dizer: "Seja feita a tua vontade." Só se submete para ser salvo. Sua
religião é a religião da lei. A do outro é a do Evangelho. A primeira é egoísta, a outra benevolente.
Aqui está a verdadeira diferença entre as duas classes. A religião de um é externa e hipócrita. A
do outro é santa e aceitável a Deus.
8. Só mencionarei uma diferença mais. Se a sua religião é egoísta, você alegrar-se-á de modo
particular na conversão dos pecadores quando você tem participação nela, mas encontrará pouca
satisfação quando tem lugar pela intervenção de outros. A pessoa egoísta alegra-se quando tem
actividade e êxito na conversão de pecadores, pois pensa que terá recompensa como resultado.
Mas não se deleita quando é a obra de outros, na verdade o que sente é inveja. O verdadeiro
santo deleita-se de modo sincero em que outros sejam úteis, regozija-se quando os pecadores se
convertem graças à intervenção dos outros como se fosse pela sua própria. Há alguns que
tomam interesse num avivamento só enquanto lhes afecta em suas actividades, mas são
indiferentes se os pecadores ficam sem se converter quando são salvos por obra dum evangelista
ou um ministro que pertence a outra denominação. O verdadeiro espírito dum filho de Deus é
dizer: "Senhor, envia a quem quiser, apenas que estas almas sejam salvas e teu nome seja
glorificado."
V. Vou contestar a algumas objecções que se fazem contra este ponto de vista no tema.
OBJEÇÃO 1. "Não tenho que ter interesse em minha própria felicidade?"
Contestação. É próprio e justo que cada um se interesse em sua própria felicidade, desde que
possa coloca-la numa escala relativa. Posta na balança com a glória de Deus e o bem do
universo e apenas então decidir qual aquele valor que lhe pertence. Isto é precisamente o que faz
Deus. E isto é o que quer dizer quando nos manda que amemos ao próximo como a nós
mesmos.
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Mais, de fato você vai fazer aumentar sua própria felicidade precisamente na proporção em que a
deixe fora dos seus objectivos. A sua felicidade será em proporção do seu desinteresse. A
verdadeira felicidade consiste principalmente na satisfação dos desejos virtuosos. Pode haver
prazer nas satisfações que são egoístas, mas não é uma felicidade verdadeira. Para serem
virtuosos os desejos devem ser desinteressados. Suponhamos que um homem vê um mendigo
na rua; está ali sentado deprimido, sem amigos e vai perecer. O homem sente-se comovido e
compra-lhe um pão. O rosto do pobre brilha e seu olhar demonstra gratidão. É evidente que a
satisfação do homem que praticou o acto será em relação à pureza de seu propósito. Se o fez só
por benevolência, sua santificação é completa no acto em si. Se o fez por caridade em parte
somente, não basta, necessita que seu acto seja reconhecido por outros. Suponhamos que se
trata de um pecador no lugar do mendigo. E que alguém, movido pela compaixão o conduz ao
Salvador. O homem é salvo. Se os motivos do que faz o acto são obter honra dos homens e
assegurar-se o favor de Deus, este homem espera que seu acto seja feito público. Se seus
motivos são totalmente desinteressados, a satisfação é completa e a alegria sem mistura. Nos
deveres religiosos a felicidade está em proporção ao desinteresse.
Se o seu objectivo é fazer o bem em si mesmo e por si, logo você é feliz na proporção em que o
faz. Mas se você persegue a própria felicidade, fracassará. É como a criança que persegue a sua
sombra: nunca a alcança, sempre está adiante dele. Suponhamos pelo exemplo que dei, que
você não tem o desejo de aliviar o mendigo, mas considera simplesmente o provável aplauso de
certos indivíduos que ouvem sobre o que fez e comentam; só assim fica contente. Mas você não
fica contente pelo fato dele estar aliviado em si. Ou suponha que você aponta para a conversão
de pecadores; mas se não é o amor aos pecadores que o leva a fazer isto, como pode a
conversão de pecadores faze-lo feliz? Isso não tende a satisfazer, pois o desejo impulsionou o
esforço. A verdade é que Deus constituiu a mente do homem de tal forma que deve buscar a
felicidade dos outros como seu objectivo, pois de contrário falha em sua intenção de poder
encontrá-la. Aqui tem a verdadeira razão pela que o mundo, mesmo buscando a sua própria
felicidade e não a dos outros, não alcança o seu objectivo.
OBJEÇÃO 2. "Não considerou Cristo o gozo posto diante dele? Não teve consideração Moisés à
recompensa do premio: Não diz a Bíblia que amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro?"
Resposta numero 1. É verdade que Cristo desprezou a vergonha e sofreu a cruz, e considerou o
gozo posto diante dele. Mas, Qual era este gozo posto diante dele? Não sua própria salvação
nem sua própria felicidade, senão o grande bem que resultaria da salvação do mundo. Ele era
perfeitamente feliz em si. Seu objectivo era a felicidade dos outros. Este é o gozo proposto a
Cristo. E o alcançou.Página | 12
Resposta número 2. Moisés tinha considerado a recompensa do premio. Mas, era para seu
próprio bem-estar? De modo algum. A recompensa do prémio era a salvação do povo de Israel. O
que disse? Quando Deus lhe propôs destruir a nação e fazer dele uma grande nação, se Moisés
tivesse sido egoísta teria dito: "Bem, Senhor, seja feito segundo aquilo que dizes." Mas, porque
contestou? Seu coração estava posto na salvação de seu povo, na glória de Deus e não quis
pensar nem um momento em si mesmo. "Se queres, perdoa-lhes seu pecado; e se não, tira-me
de teu livro em que escreveu meu nome." E agregou: "Se os destróis, os egípcios saberão e
todas as nações dirão: Jeová não pôde levar seu povo a uma terra prometida." Moisés não podia
consentir na ideia de que seus próprios interesses fossem exaltados às custas da glória de Deus.
Para sua mente benevolente, o maior premio era a glória de Deus e a salvação dos filhos de
Israel, antes de qualquer vantagem pessoal que pudesse cair sobre ele.
Resposta número 3. Na expressão "amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro" é evidente que
cabem duas interpretações: pode ser que seu amor nos tenha proporcionado o caminho para que
o devolvamos e a influência que nos foi feita que lhe amemos, ou talvez que o amemos pelo favor
que tenha feito a nós. É evidente que o sentido não é este último, pois Jesus Cristo mesmo
reprovou de modo expresso o princípio em seu sermão no monte: "Se amardes os que vos
amam, que recompensa tereis? Não fazem os cobradores de impostos também o mesmo?" Se
amamos a Deus não por seu carácter, senão por seus favores, Jesus Cristo mesmo nos reprova.
OBJEÇÃO 3. "Não oferece a Bíblia a felicidade como recompensa pela virtude?"
Resposta. A Bíblia fala da felicidade como resultado da virtude, mas nunca diz que a virtude
consiste em perseguir a própria felicidade. A Bíblia em seu espírito é oposta a isto e representa a
virtude como fazer o bem a outros. Se a pessoa deseja o bem dos outros, será feliz em proporção
da satisfação desse mesmo desejo. A felicidade é o resultado da virtude, mas a virtude não
consiste na busca da própria felicidade, o qual seria uma incoerência.
OBEJEÇÃO 4. "Deus procura nossa própria felicidade, e temos nós que ser mais benevolentes
que Deus? Não temos que ter como objectivo o mesmo objectivo de Deus? Não deveríamos
buscar o mesmo que Deus busca?"
Contestação. Esta objecção não só é enganosa, senão fútil e tortuosa. Deus é benevolente para
outros. Ele procura a felicidade de outros, a nossa. Se formos como Ele, temos que procurar isto
mesmo, deleitar-nos em sua felicidade e glória e a glória e honra do universo, segundo seu valor
real.
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OBEJÇÃO 5. "Porque é que a Bíblia apela continuamente às esperanças e temores dos homens,
se o considerar a própria felicidade não tem como ser motivo para tal?"
Resposta número 1. A Bíblia apela à constituição mental do homem, mas não apela ao seu
egoísmo. O homem teme o dano e não há nada de mal em evitá-lo. Podemos ter o devido
respeito pela nossa felicidade, segundo seu valor.
Resposta número 2. Novamente, a humanidade tem sido embrutecida pelo pecado e Deus não
pode conseguir que os homens considerem seu verdadeiro carácter e as razões que tem para
amá-lo, a menos que apele às suas esperanças e temores. Mas quando são despertados, então
se apresenta-lhes o Evangelho. Quando um ministro prega sobre os terrores do Senhor até que
tenha conseguido alarmar a seus ouvintes e desapertá-los, então eles prestarão atenção; mas
assim que haja sido entendido, deve-lhes então apresentar o carácter de Deus completo diante
de seus olhos, para conseguir que seus corações O amem por sua própria excelência.
OBJEÇÃO 6. "Não dizem os autores inspirados: Arrependam-se e creiam no Evangelho e sereis
salvos?"
Resposta. Sim, mas requer-se o "verdadeiro" arrependimento; isto é, o abandonar o pecado
porque é odioso em si. Não é um arrependimento verdadeiro abandonar o pecado como condição
do perdão, ou dizer: "Vou sentir remorso pelos meus pecados, se me perdoares." Do mesmo
modo que se requer verdadeira fé e verdadeira submissão; não uma fé condicional, ou uma
submissão parcial. Isto é o que a Bíblia diz. Diz que seremos salvos mas deve ser por meio do
arrependimento desinteressado, a submissão desinteressada.
OBJEÇÃO 7. "Não apresenta o Evangelho o perdão como um motivo para a submissão?"
Resposta. Depende do sentido em que se usa a palavra motivo. Caso se queira dizer que Deus
apresenta diante dos homens o seu carácter e toda a verdade, como razões para motivar o
pecador ao amor e ao arrependimento, digo: Sim. Sua comparação e sua boa vontade para
perdoar são razões para amar a Deus, porque fazem parte da sua gloriosa excelência, que temos
que amar. Mas se queremos ter por "motivo" uma condição, que o pecador está arrependido
sobre a condição de ser perdoado, então digo que a Bíblia não defende em nenhum lugar este
ponto de vista sobre o assunto. Nunca autoriza o pecador a dizer: "Vou-me arrepender se me
perdoares" e não oferece o perdão como motivo para o arrependimento neste sentido.
Vou terminar com dois comentários.
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1. Vemos, ao falar deste tema, porque é que os que professam religião têm pontos de vista tão
diferentes a respeito a natureza do Evangelho.
Alguns o consideram como um mero assunto de acomodação ou facilitação para a humanidade,
por meio do qual Deus se faz menos restrito do que era através da lei; e que assim podem seguir
a moda e viver como mundanos e que o Evangelho virá para compensar as diferenças e salvá-
los. Os outros vêem o Evangelho como uma provisão da benevolência divina, cuja principal
intenção é destruir o pecado e promover a santidade e que portanto, em vez de tornar possível o
ser menos santos do que eram sob a lei, todo o valor consiste no poder de torná-los mais santos.
2. Vemos o porquê de que algumas pessoas têm muito mais interesse em converter os
pecadores, do que em ver a igreja santificada e a glorificar Deus através das boas obras do seu
povo.
Muitos sentem uma simpatia natural pelos pecadores e querem salva-los do inferno; e se são
ganhos já não terão com que se preocupar. Mas os verdadeiros santos sentem-se mais afectados
pelo pecado como uma desonra a Deus. E estes estão mais afligidos ao ver que os cristãos
pecam, porque ainda desonram mais a Deus. Parece que alguns não se preocupam muito com
como vive a igreja tanto conquanto a obra da conversão siga adiante. Há os que não sentem
ânsias de que Deus receba honra acima de tudo. Mostram que não são activados por amor à
santidade, senão por mera compaixão pelos pecadores.
A REGRA PELA QUAL É MEDIDA A CULPA DO PECADO
"No passado Deus não levou em conta em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos", Atos 17:30,31.
Eu recentemente preguei um sermão sobre a impenitência no qual eu fiz uma larga insistência no
tamanho da culpa que se tem quando se comete o pecado com bastante luz. Tenho em mente
agora o discutir este assunto mais detalhadamente.
O texto declara que Deus julgará ao mundo com justiça. Não vou fazer ênfase no fato de que
Deus julgará ao mundo, nem sobre o fato de que este juízo será com justiça, senão que Página | 15
procurarei dilucidar com que regra vai ser medida nossa culpa; ou, em outras palavras, o que vai
implicado no julgar ao mundo com justiça. Qual é a regra justa com a qual vai ser medida, e em
conseqüência o justo castigo que corresponderá aos pecadores?
Ao tratar deste tema considero importante:
I. Declarar brevemente quais são as condições da obrigação moral, e;
II. Ir diretamente ao ponto principal, a regra pela qual vai ser medida a culpa.
I. Declaração breve das quais são as condições da obrigação moral.
1. A obrigação moral faz referência à última intenção da mente. O objetivo a vista, e não o mero
ato externo, é o que a lei considera sempre e ao qual se predica ou adscreve a culpa. Sem
dúvida, a culpa não pode ser predicada meramente do ato externo, aparte da intenção, porque o
ato externo que não está de acordo com a intenção, como é o caso de acidentes, nunca
pensamos em imputá-lo como culpa; e se está de acordo com a intenção, sempre, quando
obramos de modo racional, adscrevemos a culpa à intenção, e não meramente à mão ou à
língua, que são os órgãos da mente na maldade.
Este é um princípio que todo o mundo admite assim que o tenha entendido. A coisa, em si, está
nas intuições afirmativas da mente de toda criança. Tão pronto como uma criança captou a
primeira idéia de bem e mal, vai desculpar-se da culpa dizendo que não queria fazê-lo, e sabe
muito bem que se a desculpa é verdadeira, é válida e boa como desculpa, e além do mais sabe
que todo o mundo vai admiti-la como tal. Este sentimento se acha presente na mente de todos, e
ninguém pode negá-lo de modo inteligente.
2. Havendo deixado isto claro estou preparado para fazer notar que a primeira condição da
obrigação moral é a possessão dos poderes necessários por parte do ente (ou agente) moral.
Tem que ter inteligência suficiente para compreender até certo ponto o valor do fim a escolher ou
recusar, pois, de outro modo, não pode haver decisão responsável. Tem que haver, até certo
grau, sensibilidade ao bem que se busca e ao mal que se evita, de outro modo não se executaria
nenhuma ação ou esforço, e tem que haver também o poder de decidir entre vários possíveis
cursos a seguir. Estes são requisitos evidentes para a decisão moral, ou, em outras palavras,
para uma ação e obrigação moral responsável.Página | 16
3. É essencial para a obrigação moral que a mente conheça numa certa medida o que é que tem
intenção de fazer.
Tem que captar até certo ponto o valor do fim a perseguir, pois de outro modo não há decisão
responsável para este fim, ou responsabilidade por não escolhê-lo. Todo o mundo deve ver isto,
pois se o indivíduo, quando se lhe pergunta por que escolheu um determinado objetivo, pudesse
contestar verdadeiramente: "Não sabia que o fim tivesse algum valor e fosse digno de ser eleito",
todos os homens considerariam isto como válido para uma absolvição na delinqüência moral.
4. Se suponhamos que o indivíduo sabe o que deveria escolher, sua obrigação de escolhê-lo não
procede do fato de que Deus o requer, senão do valor do objetivo a escolher. Já disse que temos
que perceber o objetivo a escolher, e que, até certo ponto, deve entender seu valor. Isto é claro. E
esta apreensão de seu valor é o que o impele a escolhê-lo. Em outras palavras, a lei moral que
manda amar ou ter boa vontade tem que estar subjetivamente presente em sua mente. Sua
mente deve ter presente ou dar-se em conta do bem que pode desejar aos outros, em conexão
com o qual aparecerá um sentido de obrigação a desejá-lo, e isto constitui a obrigação moral.
Estas são, de modo substancial, as condições da obrigação moral: o poder mental necessário
para a ação moral, e um conhecimento do valor intrínseco do bem dado.
Antes de deixar este tema quero fazer ressaltar que é muito provável que não haja duas criaturas
no universo moral que tenham precisamente o mesmo grau de compreensão com respeito ao
valor do fim que devem escolher; contudo, haverá obrigação moral sobre todos estes graus
diversos de conhecimento, proporcionado em grau a medida deste conhecimento que possui toda
mente. Só Deus tem um conhecimento infinito e imutável sobre este ponto.
II. Passo a falar agora da regra pela que deve ser julgada a culpa por recusar a vontade ou
intenção, de acordo com o que deve ser medida a lei de Deus.
1. Desde o ponto de vista negativo, a culpa não pode se medida pelo fato de que Deus, que
ordena, é um ser infinito. A medida da culpa foi submetida a este fato e foi considerada infinita
porque Deus, que ordena, e cuja lei foi infligida, é infinito. Mas esta doutrina é inadmissível. Está
aberta a fatal objeção de que por ela todo pecado deve ser considerado equivalente, porque tudo
foi submetido contra um ser infinito. Mas tanto a Bíblia como a razão intuitiva de todo homem vê
que não todos os pecados podem ser igualmente culpáveis. Daqui que a medida ou regra da
culpa não pode ser o fato de haver sido cometida contra um ser infinito.
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2. A culpa não pode ser medida pelo fato de que a autoridade de Deus, contra a qual foi cometida
a ofensa, é infinita. A autoridade é o direito de mandar. Ninguém nega que Deus seja infinito. Mas
este fato não pode constituir a medida da culpa pela mesma razão dada acima, ou seja, que
então todo pecado passa a ser igualmente culpável pelo fato de ter sido cometido contra uma
autoridade infinita; conclusão que é falsa e, portanto, também são as premissas.
3. O grau de culpa não pode ser estimado pelo fato de que todo pecado é cometido contra um ser
infinitamente santo e bom, pelas mesmas razões dadas anteriormente.
4. Nem pelo valor da lei do qual o pecado é uma transgressão, porque ainda que todos admitimos
que a lei é infinitamente boa e valiosa, no entanto, pelo fato de que é sempre de modo igual, todo
pecado seria igualmente culpável; uma conclusão que como vimos é falsa, e portanto, vicia e põe
de lado as premissas.
5. A regra não pode consistir no valor do que a lei requer que queiramos; tentamos ou decidamos
aparte da percepção de valor na mente, porque o valor intrínseco deste objetivo é sempre o
mesmo, pelo que esta regra também como a precedente nos levaria a conclusão de que todos os
pecados são igualmente culpáveis.
6. A culpa não deve ser medida pela tendência do pecado. Todo pecado tende a um resultado:
mal sem mistura de bem. Não há nenhum ser criado que possa dizer que alguns pecados têm
uma tendência mais direta e poderosa a produzir o mal e só mal continuamente. Toda
modificação do pecado tende, pelo que sabemos, a produzir o mesmo resultado com a mesma
direção: mal, e nada mais que mal.
7. A culpa não pode ser medida pela intenção última do pecador. Acha-se, em realidade, em seu
desígnio e só ali; com tudo, a quantidade da mesma não pode ser determinada meramente
conhecendo o desígnio, porque este desígnio é sempre substancialmente a mesma coisa; é
sempre uma forma de gratificação ou satisfação própria, e nada mais. O desígnio geral do
pecador é sempre conseguir satisfação, e conta muito pouco para sua culpa a forma de
satisfação que ele escolhe, pelo que a medida da culpa não pode ser buscada aqui, senão em
outra parte.
8. Já é hora de afirmar de modo positivo que o grau de culpa deve ser estimado pelo grau de luz
baixo do qual a intenção pecaminosa se formou, ou em outras palavras, deve ser medida pelo
conhecimento ou percepção mental do valor do objetivo que a lei requer que seja escolhido. Este
objetivo é o maior bem-estar possível do universo e de Deus. Este é um valor infinito, e em algum
sentido todo ente moral deve saber que é de infinito valor, contudo, os indivíduos diferem de Página | 18
modo indefinido com respeito aos graus de claridade com os quais aprendem este grande fim em
sua mente. O escolher este objetivo (o mais alto bem-estar do universo e de Deus) sempre
implica o rejeitar os próprios interesses como objetivo, e por outra parte, o escolher a gratificação
ou satisfação própria como objetivo sempre e por necessidade, implica a rejeição do mais alto
bem-estar do universo e de Deus como objetivo. A eleição de um implica, pois, a rejeição do
oposto.
Agora bem, a pecaminosidade da seleção egoísta não consiste meramente na eleição do bem
para si mesmo, senão no fato de que implica uma rejeição do maior bem-estar do universo e
Deus como objetivo. Se o egoísmo não implicasse a apreensão e rejeição de outros interesses
mais altos como objetivo, não implicaria culpa em absoluto. O valor dos interesses rejeitados é a
causa da culpa. Em outras palavras, a culpa consiste em rejeitar o bem-estar de Deus e do
universo, infinitamente valiosos, para ser escolhido a gratificação ou satisfação egoísta.
Agora se vê vem que a quantidade de culpa está na apreensão da mente do valor dos interesses
rejeitados. Em certo sentido, como já disse, todo agente moral tem e deve ter por necessidade
idéia de que os interesses de Deus e do universo são de valor infinito. Tem esta idéia
desenvolvida tão claramente que todo pecado que comete merece castigo sem fim, com tudo,
com luz adicional, o grau de sua culpa pode ser aumentado de grande maneira, de modo que
pode merecer um castigo não só sem fim em duração, senão indefinidamente em grande grau.
Não há contradição nisto. Se o pecador não pode afirmar que há um limite ao valor dos interesses
que recusa querer e perseguir, não pode, naturalmente, afirmar que haja algum limite em sua
culpa e seu merecimento de castigo. Isto é verdadeiro e deve ser verdadeiro de todo pecado e de
todo pecador; e contudo, quando a luz aumenta e a mente tem uma apreensão mais clara do
infinito valor do mais alto bem-estar de Deus e do universo, nesta mesma proporção aumenta sua
culpa pelo pecado. Daqui que a medida do conhecimento possuído, do dever e seus motivos é
sempre e de modo inalterável a regra pela que se mede a culpa.
A prova disso é dupla.
1. As escrituras o assume e o afirmam.
O texto é um exemplo do caso. O apóstolo alude às épocas passadas em que os pagãos não
tinham uma revelação escrita de Deus, e comenta que "havendo passado por alto os tempos de
ignorância", Deus agora manda... Isto não significa que Deus faça vista gorda a seu pecado
devido a sua escuridão, senão que o passa por cima como uma leve notícia, considerando-o
como pecado muito menos grave que o que os homens cometem agora caso se apartem do que
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Deus os há mandado, que é que se arrependam. Na verdade, o pecado não é nunca de modo
absoluto uma coisa leve, mas, comparativamente, alguns pecados são menores em culpa se lhes
compara com a grande culpa de outros pecados.
Na continuação citaremos Tiago 4:17: "Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz,
comete pecado." Isto implica claramente que o conhecimento é mais que isto; ou seja, que a
culpa de todo pecador é sempre igual à quantidade de conhecimento sobre o caso. Sempre
corresponde a percepção mental do valor do fim que há de escolher, mas que se rejeita. Se um
homem sabe que deveria fazer bem em algum dado caso, mas não o faz, senão que obra mal,
isto para ele é pecado; o pecado, evidentemente, se acha no direito de não fazer bem quando se
sabia que podia fazer-se, e é medido como culpa pelo grau deste conhecimento.
João 9:41: "Disse Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas, como agora dizeis: Nós
vemos, permanece o vosso pecado." Aqui Cristo afirma que os homens sem conhecimentos não
terão pecado, e que os homens que têm conhecimento e a pesar deste conhecimento pecam, são
considerados culpáveis. Isto afirma claramente que a presença de luz ou conhecimento é um
requisito para a existência do pecado, e evidentemente implica que a quantidade de
conhecimento possuído é a medida da culpa do pecado.
É notável que a Bíblia em todas as partes dá por provadas e reconhecidas as verdades básicas.
Não para em demostrá-las, as afirma, e sempre afirma a verdade, e parece que espera que todo
o mundo as conheça e as admita. Como já escrevi recentemente sobre o governo moral e já
estudei a Bíblia com respeito a seus ensinamentos sobre esta classe de temas, fiquei
surpreendido muitas vezes por este fato notável.
João 15:22-24: "Se eu não tivesse vindo, nem lhes tivesse falado, não teriam pecado. Agora,
porém, não têm desculpa do seu pecado. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu
não tivesse feito entre eles o que nenhum outro fez, não teriam pecado. Mas agora viram, e
odiaram a mim e a meu Pai." Cristo sustém a mesma doutrina aqui que na última passagem
citada: A luz constitui essencialmente o pecado e o grau de luz constitui a medida do agravante.
Observemos, no entanto, que Cristo provavelmente não quer dizer de modo absoluto que se Ele
não tivesse vindo os judeus não teriam pecado, porque eles tinham alguma luz antes que Ele
veio. Aqui está falando, suponho, de modo comparativo. Seu pecado teria sido menor se Ele não
tivesse vindo, tão inferior, que justifica a forte linguagem que usa.
Lucas 12: 47,48: "O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez
conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que não a soube, e fez coisas
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dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. A qualquer que muito for dado, muito se
lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedirá."
Aqui nos expõe a doutrina e se dá por entendida a verdade de que os homens serão castigados
segundo seu conhecimento. A quem se lhe deu muita luz se lhe exigirá muita obediência. Este é
precisamente o princípio que Deus requer dos homens segundo a luz que lhes foi dado.
1ª Timóteo 1:13: "a mim que outrora fui blasfemo e perseguidor e injuriador; mas alcancei
misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade." Paulo tinha feito coisas
intrinsecamente terríveis, mas sua culpa era pequena em comparação, porque as fez na
escuridão da incredulidade; daí que obteve misericórdia, caso não fosse assim, talvez não a teria
obtido. A simples suposição é que esta ignorância diminuiu a maldade de seu pecado e favoreceu
a que obtivesse misericórdia.
Em outra passagem (Atos 26:9), Paulo disse de si mesmo: "Eu também estava convencido de
que contra o nome de Jesus de Nazaré devia fazer todo o possível." Isto tem muito a ver com o
grau de culpa ao rejeitar ao Messias, e também em que obtivesse perdão.
Lucas 23:34: "Jesus disse: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem." Esta passagem nos
apresenta a Jesus sofrendo, rodeado de soldados romanos e maliciosos escribas e sacerdotes, e
contudo, fazendo oração em favor deles, apresentando por eles a única defesa que podia:
"Porque não sabem o que fazem." Isto não implica que não tiveram culpa, porque era evidente
que se fosse assim não teriam precisado de oração, mas implica que sua culpa era aliviada por
sua ignorância. Se eles soubessem que era o Messias, sua culpa teria sido imperdoável.
Mateus 11:20-24: "Então começou ele a denunciar as cidades onde se operou a maior parte dos
seus milagres por não se terem arrependido. Ai de você Betsaida! Se em Tiro e em Sidom se
tivessem feito os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com pano
e saco e cinza. Por isso eu vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom, do
que para vós. E tu, Cafarnaum, ergue-te até os céus? Serás abatida até o inferno. Se em Sodoma
tivessem sido feito os milagres que em ti se operaram, ela teria permanecido até hoje. Porém eu
vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para os de Sodoma, do que para ti." Mas por que
recorre Cristo a estas cidades? Porque anuncia uma pena tão grande contra Betsaida e
Cafarnaum? Porque a maioria de suas grandes obras foram realizados nelas. Seus milagres
tantas vezes repetidos, que demostravam que era o Messias, foram obrados ante seus olhos.
Entre eles ensinou diariamente, e nas sinagogas, cada Sábado. Tinham muita luz, por isso, por
ser grande sua luz, sua culpa era insuperável. Nem ainda os homens de Sodoma tinham tanta
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culpa comparado com eles. A cidade mais exaltada, até os céus, seria abatida até o inferno. A
culpa e o castigo seriam segundo a luz que haviam possuído, mas que haviam rejeitado.
Lucas 11: 47-51: "Ai de vós! Porque edificais os sepulcros dos profetas que vossos pais mataram.
Testificais que consentis nas obras de vossos pais; eles os mataram, e vós edificais os seus
sepulcros. Por isso diz a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei, e eles matarão
a uns, e perseguirão a outros. Portanto desta geração será requerido o sangue de todos os
profetas, que foi derramado desde a fundação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue
de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo. Assim, vos digo, será requerido desta
geração." Aqui pergunto: baixo a que princípio ia ser demandada o sangue dos profetas
martirizados desde a fundação do mundo requerido daquela geração? Porque o mereciam;
porque Deus não faz injustiças. Não se sabe que nunca se castigou a ninguém mais além do que
merece.
Mas por que e em que sentido mereciam esta tremenda e aumentada visitação da ira de Deus
devido a perseguições realizadas pelas gerações anteriores?
A resposta é dupla: eles pecaram com luz acumulada, e virtualmente aprovaram todas as
perseguições de seus pais, e concorreram de boa vontade em sua culpa. Tinham todos os
oráculos de Deus. Toda a história da nação estava em suas mãos. Sabiam que o caráter
daqueles profetas dos quais tinham martirizado era santo, inocente; podiam ler a culpa de seus
perseguidores e assassinos. E no entanto, a pesar de toda aquela luz, eles mesmos se
dedicavam a perpetrar atos da mesma classe com mais malignidade.
Por isso, ao fazer isto, virtualmente endossavam tudo o que tinham feito seus pais. Sua conduta
ao Homem de Nazaré posta em palavras podia ler-se assim: "Aos santos homens do qual Deus
enviou para ensinar e repreender a nossos pais, eles lhes deram morte; fizeram bem, e nós
faremos o mesmo com Cristo." Assim pois, não era possível que deram uma sanção decidida aos
atos de sangramento de seus pais. Assinavam em baixo de cada um dos crimes, assumiam em
suas consciências a culpa de seus pais. Na intenção, eles cometiam os atos outra vez. Diziam:
"Se nós tivéssemos vivido então teríamos feito e sancionado o que eles fizeram."
De baixo do mesmo princípio da culpa acumulada, todo o sangue e desgraça causada pela
escravidão desde que começou o mundo, esta, nossa nação, está se fazendo culpável. A culpa
abarca toda cor, toda lágrima, toda gota de sangue tirado com o chicote; tudo está à porta desta
geração. Por que? Porque toda a história do passado está diante dos olhos dos homens que
defendem a escravidão nesta geração, e seguem endossando-a em conjunto, persistindo na
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prática do mesmo sistema e dos mesmos errores. Não há geração antes de nós que tenha tido
luz sobre os males e injustiças da escravidão que nós temos; por isto a culpa excede a de
qualquer geração precedente de donos de escravos, e ademais, conhecendo todas as crueldades
e misérias do sistema, pela história passada, todo dono de escravos persiste endossando todos
os crimes e assume toda a culpa implicada no sistema que resultou desde que o mundo
começou.
Romanos 7:13: "Logo tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que
se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o
pecado se fizesse excessivamente maligno." A última cláusula deste versículo nos mostra
claramente o princípio de que, debaixo da luz que é o mandamento, ou seja a, lei, proporciona, o
pecado passa a ser sobremaneira pecaminoso. Este é o mesmo princípio que como vimos é
claramente ensinado e implicado em numerosas passagens da Escritura.
O leitor diligente da Bíblia sabe que estes são só uma parte dos textos que ensinam a mesma
doutrina: não necessitamos agregar mais.
2. Faço notar que esta é a regra e a única regra justa por meio da qual pode ser medida a culpa
do pecado. Se eu tivesse tempo para dar voltas no tema o consideraria desde toda resposta ou
suposição concebível, e poderia mostrar que nenhuma delas pode ser aceita como verdadeira.
Não há suposição que possa resistir um exame de detalhe exceto esta, que a regra ou medida da
culpa é o reconhecimento da mente com respeito ao valor do fim a eleger.
Não pode haver outro critério por meio do qual possa ser medida. É o valor do fim escolhido em
que constitui a culpa do pecado, e a estimação que faz a mente deste valor mede a própria culpa.
Isto é verdadeiro segundo a Bíblia, como já vimos. E todo homem necessita só consultar sua
própria consciência fielmente e verá que esta afirma também que é reto.
Se podem tirar algumas inferências desta doutrina.
1. A culpa não se mede pela natureza da intenção, porque a intenção pecaminosa é sempre uma
unidade, sempre uma e a mesma coisa, sendo nem mais nem menos a gratificação própria.
2. Nem tampouco pode ser medida pelo tipo particular de gratificação própria que prefere a
mente. Não importa qual dos numerosos apetites ou tendência pode escolher o homem para dar-Página | 23
lhe satisfação, seja comida, bebida, poder, prazer, ganância, é o mesmo final; gratificação própria
e nada mais. Por amor a isto sacrifica todo outro interesse em conflito com ele e aqui reside sua
culpa. Todavia desde que ele pisoteia o maior bem de outros com a mesma imprudência, não
importa que tipo de satisfação que ele prefira, é claro que não podemos encontrar neste tipo
qualquer medida exata de sua culpa.
3. Nem tampouco se pode decidir a culpa pela quantidade de mal que o pecado pode acarretar
ao universo. Um ser com pouca luz pode introduzir uma grande quantidade de mal, e no entanto,
nenhuma culpa se adscreve a este agente. Isto é verdadeiro do mal que fazem os animais. É
verdade dos desastres efetuados pelo álcool. De fato, não importa se o mal resultante dos delitos
do ente é muito ou pouco, não se pode determinar a quantidade de sua culpa desta circunstância.
Deus pode controlar o maior pecado de modo que dele resulte pouco dano, ou pode deixar suas
tendências sem compensar de modo que de um pecado leve resulte muito dano. Quem pode
dizer até que ponto pode interferir entre um pecado grande ou pequeno e seus resultados um
agente que o controle?
Satanás pecou ao trair a Judas, e Judas pecou ao trair a Cristo. Contudo, Deus contrabalançou
estes pecados de modo que a traição e morte conseguinte de Jesus seguiram para o universo
resultados benditos. Devem os pecados de Satanás e de Judas estimar-se pelos males que em
realidade resultaram dos mesmos? Se parecesse que o bem resultante supera imensamente ao
mal, passa por ele o pecado a ser santidade, santidade por mérito? Diminui a culpa ou se anula
se a sabedoria e o amor de Deus controlam e o transformam em bem?
Não é, pois, a quantidade de bem ou mal resultante o que determina a quantidade de culpa,
senão o grau de luz de que se desfruta baixo a qual se comete o pecado.
4. Tampouco pode ser medida a culpa pela opinião comum dos homens. Os homens na
sociedade estão acostumados a formar eles mesmos uma espécie de sentimento público que
passa a ser um estandarte para estimular a culpa; no entanto, é errôneo com freqüência. Cristo
nos adverte contra a adoção de um estandarte assim, e também contra julgar segundo as
aparências externas. Quem não sabe que as opiniões comuns dos homens são errôneas num
grau elevado? É verdadeiramente surpreendente ver quão longe os homens divergem em todas
direções do estandarte da Bíblia.
5. A quantidade de culpa pode ser determinada, como já disse antes, só pelo grau em que estão
desenvolvidas as idéias que dão luz sobre a obrigação. Aqui é precisamente onde se acha o
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pecado, em resistir a luz e atuar em oposição a ela, e portanto, o grau de luz deve, naturalmente,
medir a quantidade de culpa em que se envolveu.
Conclusão
1. Vemos deste tema o princípio com o qual podemos explicar muitas passagens da Escritura.
Parece estranho que Cristo acusara do sangue de todos aqueles profetas martirizados em
gerações anteriores à geração de seu tempo. Mas o tema que temos diante nos revela o princípio
sobre o qual se apoia este juízo e por que deve ser assim.
Todo o mistério que pode encontrar-se no fato declarado em nosso texto: "tendo passado por alto
os tempos de ignorância", acha em nosso tema uma explicação adequada. Parece estranho que
durante as idades Deus passara quase por alto sem apenas notar as monstruosidades e
abominações do mundo pagão? A razão se acha em sua ignorância. Portanto, Deus passa por
alto suas odiosas e cruéis idolatrias. Porque todas elas juntas são uma coisa insignificante
comparada com a culpa de uma só geração de homens que receberam a luz.
2. Um pecador pode encontrar-se em tais circunstâncias que tenha mais luz e conhecimento que
todo o mundo pagão. Ai! Quão pouco sabem os pagãos! Quão pouco sabem comparado com o
que conhecem os pecadores deste país, inclusive os muito jovens!
Deixe-me chamar e interrogar alguns pecadores impenitentes aqui em Oberlin. Pouco importa
quem são, ainda que sejam crianças da Escola Dominical.
O que você sabe sobre Deus?
Sei que há um Deus e só um. Os pagãos crêem que existem às centenas.
O que você sabe acerca de Deus?
Sei que é infinitamente bom e grande. Porém os pagãos crêem que alguns de seus deuses são
ruins e malévolos, perversos e patrões da maldade entre alguns homens.
O que você sabe da salvação?
Sei que Deus amou ao mundo de tal maneira que entregou a seu filho unigênito para que
morresse por Ele e que todo aquele que crê nEle possa ter vida eterna.
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Oh! Os pagãos não ouviram isto nunca. Se desmaiariam, creio, de surpresa se o ouvissem e
realmente creriam que é um fato assombroso, glorioso. E que a criança da Escola Dominical sabe
que Deus da seu Espírito para livrar do pecado. Ele talvez já é sensível a presença e poder deste
Espírito. Mas os pagãos não sabem nada disto.
Também sabe que é imortal, que depois da morte tem todavia um estado imutável consciente de
existência, bem-aventurança ou sofrimento segundo os atos daqui. Mas os pagãos não têm a
menor idéia deste assunto. Para eles tudo está às escuras.
O resultado, pois, é que sabe tudo; os pagãos não sabem quase nada. Você sabe tudo o que se
necessita para ser salvo e útil, para honrar a Deus e servir a teus próximos, segundo sua
vontade. O pagão está sumido nas trevas, aderido a suas abominações, palpando às cegas, sem
achar nada.
Tal como será tua luz, portanto, será a culpa; a tua maior que a deles, sem medida. Ainda que
eles tenham cometido idolatrias monstruosas, com tudo, a culpa de tua impenitência baixo à luz é
muitíssima maior. Veja a esta mãe que arrasta a seu filho e o atira a Ganges. Esta outra lançando
nos ardentes braços de Moloc. Esta pilha de madeira da que elevam chamas até o fogo.
Queimam um cadáver, o marido. Porém logo vem a viúva que se lançará no meio de uma dança
frenética sobre o monte ardente, e seus gritos de agonia os cobrirão os alaridos frenéticos dos
espectadores. Todas estas cenas são horríveis. Sim! Mas não sabem nada de Deus, do que
Deus espera do coração e da vida. Ah! Poupe as censuras com que cobres aos pagãos por sua
crueldade e sua luxúria, e ponha onde se merece porque há luz e se lha resiste.
3. Vês, pois, que com freqüência um crente em algumas de nossas congregações pode ter mais
luz que todos os pagãos juntos. Se isto é verdade, o que se segue com respeito à quantidade de
culpa comparativa? É inevitável que um pecador assim mereça uma condenação mais terrível e
mais profunda que todo o mundo pagão. Esta conclusão pode parecer surpreendente, mas:
podemos escapar dela? Não podemos. É tão simples como uma demonstração matemática. Este
é o princípio afirmado por Cristo quando disse: "Aquele servo que conhecendo a vontade de seu
senhor, não se preparou, nem fez conforme a sua vontade, receberá muito açoites. Mas o que
sem conhecê-la fez coisas dignas de açoites, receberá poucos, porque a todo aquele a quem se
foi dado muito, muito se lhe exigirá; e ao que muito se lhe foi confiado mais se lhe pedirá." Quão
solenes e agudas são estas palavras e a aplicação desta doutrina em nossas congregações!
Poderia chamar a muitos pecadores neste lugar e mostrar-lhes que sem a menor dúvida sua
culpa é maior que a de todo o mundo pagão. E contudo, quanto pouco se dá conta à gente disso!
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Não faz muito tempo um jovem infiel, educado neste país, escreveu desde as Ilhas Sandwich
uma descrição magnífica e talvez justa das horríveis abominações daquela gente, moralizando
sobre aquelas enormidades e dando graças a Deus que havia nascido e havia ensinado em um
país cristão. Verdadeiramente! Podia ter-se poupado a censura que aplica àqueles pagãos na
escuridão. Sua culpa própria, ao seguir sendo um pecador impenitente baixo a luz da América
cristã, era maior que a de todos os indígenas daquelas ilhas.
E assim podemos poupar nossas expressões de horror diante das abominações culpáveis da
idolatria. Talvez você diga em teu coração: "Por que permite Deus estas abominações em nossos
dias?" Sua culpa, na realidade, é menor a daqueles que sabendo seu dever perfeitamente não o
fazem. Deus passa por alto estes horrores porque são cometidos no meio de uma suma
ignorância.
4. Isto me faz comentar de novo que o mundo cristão deve cessar em seus ultrajes e
condenações dos pagãos. De todas as partes da terra a população da cristandade é infinitamente
mais culpável, de onde o evangelho é predicado desde milhares de púlpitos, de onde se louva a
Deus em milhares de igrejas, de onde se conhece o dever e se conhece a Deus e não se faz
caso nem de um nem de outro. Falemos, pois menos da degradação dos pagãos, e
contemplemos em nosso próprio lar o espetáculo da culpa dos cristãos. Ocupemo-nos de nossos
próprios pecados.
5. Novamente, não devemos temer dizer o que todos podem ver, que a igreja nominal é a parte
mais culpável do cristianismo. Não se pode por em dúvida um só momento que a igreja tem mais
luz que os demais, por isso tem mais culpa. Naturalmente, falo da igreja nominal, não a igreja real
que foi perdoada e limpada de seus pecados. Mas quanto a igreja nominal, pensemos nos
pecados em que vivem e em sua corrupção. Pensemos também nos que deram para traz, que
depois de ter conhecido os deleites da fé voltaram a trocar as cascas vazias do prazer terreno.
Sua culpa é maior que a do mundo pagão.
Diga, pois, tenha Deus piedade de minha alma? Todos temos que dize-lo, mas temos que
agregar: se é possível, porque quem pode dizer se pode ser perdoada uma culpa como a nossa?
Pode Cristo orar por ti como orou pelos que lhe cravavam na cruz: "Pai, perdoa-os, porque não
sabem o que fazem"? Pode dizer isto em favor seu, que não sabe o que estás fazendo? É
terrível! Onde temos a sonda com que medir a profundidade do oceano de tua culpa?
De novo, se nossos filhos permanecem em pecado, temos que deixar de felicitar-nos de que não
nasceram em terras de pagãos ou em escravidão! Quantas vezes já disse! Quantas vezes tenho
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olhado a meus filhos e filhas, e tenho dado graças a Deus de que tivessem nascido para serem
amados e cuidados, não para serem lançados a Moloc ou baixo às rodas do carro de Juggernaut!
Mas se vivem em pecado, temos que fazer alto em nossas auto felicitações de terem nascido em
uma terra cristã com luz e privilégios. Se não se arrependem será infinitamente pior para eles que
se tivessem nascido nas trevas pagãs, porque o ter nascido na luz do evangelho só lhes servirá
para ir a uma condenação maior no inferno depois de todas as advertências de que foram objeto.
Não nos precipitemos, pois, a felicitar-nos como se esta grande luz de que desfrutamos nós e
nossos filhos fosse um grande bem para eles, mas se podemos fazer isto; podemos regozijarmos
de que Deus fará honra a si mesmo, sua misericórdia se pode e sua justiça se deve. Deus será
honrado e nós podemos gloriarmos nisto. Porém, Oh, o pecador, o pecador! Quem pode medir a
profundidade de sua culpa ou o terror de sua condenação final? Será mais tolerável para os
pagãos que para eles.
7. Já é hora de que entendamos bem este tema e nos demos em conta de suas conseqüências.
Não há dúvida de que por mais morais que sejam nossos filhos são mais culpáveis que os
pecadores dos países pagãos, pois ainda que têm mais luz não cedem a esta, baixo a qual
vivem. Talvez nos felicitemos de sua moralidade, mas se vemos o caso em seu sentido real
nossas almas hão de gemer em agonia, pois temos de sentir a angústia ante a culpa terrível em
que incorrem ao negar ao Senhor que os resgate, com o que anulam sua própria salvação. Oh,
se oramos alguma vez temos de verter nossas almas por nossos próprios filhos, como se nada
pudesse satisfazer-nos ou deixar de persistir ou refreia a nosso incômodo, para que as bênçãos
da plena salvação se realizem em suas almas!
Que nossa mente contemple a culpa deste filhos. As crianças de nossas escolas dominicais
conhecem melhor seu dever que todos os pagãos juntos. Esta criança vai sozinha e ora, mas
retém seu coração em vez de dá-lo a Deus, e sua mãe ora por ele e verte lágrimas, e contudo ele
segue cometendo pecado e recusando aceitar ao Salvador. Mas se ele não o faz, então ele
comete mais pecado com essa recusa que todo o pecado de todo o mundo pagão - sua culpa é
maior que a culpa de todos os assassinatos, que todos os afogamentos de crianças e os
aquentamentos das viúvas, e as profundas crueldades e violência em todo o mundo pagão. Toda
esta combinação de culpa não será igual a culpa do menino que conhece o seu dever, mas não
rende seu coração para este justo clamor.
8. "O pagão - disse o apóstolo - peca sem lei, e portanto perecerá sem a lei." Em seu destino final
será apartado da presença de Deus; isto talvez será tudo. Mas não terão que sofrer esta reflexão:
"Eu tinha a luz do evangelho e não quis submeter-me ao mesmo, conhecia meu dever, mas não o
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fiz." Isto eles não podem dizer. Isto está reservado para aqueles que entram em nossos
santuários e formam parte do altar familiar, e contudo não querem servir a seu Pai infinito.
9. Um comentário final. Suponhamos que eu chame a um pecador desta congregação, um filho
de pais piedosos, e que chamo também a seu pai. Posso perguntar sobre o filho:
- Que testemunho podes dar sobre este filho teu?
- Tenho me esforçado para ensiná-lo os caminhos do Senhor.
E assim mesmo interrogar ao menino, dizendo-o:
- Filho, o que tem a dizer?
- Conheço meu dever. O ouvi mil vezes. Sei que devo arrepender-me, mas não o fiz nunca.
Oh, se entendêssemos este assunto e todas suas conseqüências encheria isto o nosso peito de
consternação e pena! Nossas entranhas arderiam como um vulcão. Haveria um grito de angústia
e terror ante a terrível culpa e espantoso fim de tal pecador.
Jovem, você vai marchar daqui com teus pecados? Se é assim, que anjo pode medir tua culpa?
Oh, quanto tempo leva Jesus com as mãos estendidas, sim, suas mãos sangrentas, suplicando-te
que o veja e vivas! Mil vezes e em infinitas maneiras tenho te chamado, mas você tem recusado;
tem estendido suas mãos, mas nem lhe tem olhado. Oh! Por que não te arrependes? Por que
você não diz "basta", já pequei o bastante? Não posso seguir pecando mais! Oh, pecador! Por
que queres viver assim? Queres ir ao inferno, sim, ao mais profundo inferno onde se pudéssemos
achá-lo teríamos que buscar-te mil anos cruzando fileiras de espíritos perdidos, menos culpáveis
que você, até poder chegar ao terrível fundo em que você terá se afundado? Oh, pecador? Que
inferno bastará para castigar uma culpa semelhante a sua!
A RELIGIÃO DA OPINIÃO PÚBLICA
"Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus"-- João 12:43.
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Estas palavras foram ditas com referência a certos indivíduos que recusaram que Jesus era o
Cristo, porque era um extremo impopular entre os escribas e fariseus e gente principal de
Jerusalém.
Há uma distinção clara entre o amor a si mesmo, ou seja, o simples desejo da felicidade, e o
egoísmo. O amor a si mesmo, o desejo da felicidade e o temor da desgraça, é constitucional; é
uma parte do marco mental dentro do qual Deus nos fez e é tal como se espera que sejamos; e
podemos mover-nos nele dentro dos limites da lei de Deus, sem que seja pecaminoso. Sempre
que nos permitimos algo contrário à lei de Deus, incorremos em pecado. Quando o desejo de
felicidade e o temor a desgraça passam a ser o princípio que controla nossa vida, e preferimos
nossa satisfação a outros interesses mais importantes, somos egoístas. Quando para evitar a dor
ou procurar nossa felicidade sacrificamos outros interesses maiores, infringimos a lei maior da
benevolência desinteressada, e já não se pode falar de amor a alguém, senão de egoísmo.
Descrevi em uma conferência anterior aos que professam religião que são movidos a executar
sua atividade religiosa por esperança e temor. Eles são movidos por amor a si mesmos, e
algumas vezes por egoísmo. Seu objetivo supremo não é glorificar a Deus, senão o assegurar
sua própria salvação. Lembremos que esta classe, e os verdadeiros amigos de Deus e do homem
se parecem em muitas coisas, e que caso se olhe só as coisas em que estão de acordo não se
pode distinguir uns de outros. É só quando se observam de perto naquelas coisas em que
diferem que se vê que o desígnio principal desta classe não é a glória de Deus senão assegurar
sua própria salvação. Desta forma podemos ver seu objetivo supremo desenvolvido, e vemos que
quando fazem as mesmas coisas que fazem aqueles cujo objetivo supremo é glorificar a Deus, o
fazem por motivos inteiramente diferentes, e por conseguinte os atos mesmo são de caráter
distinto também, à vista de Deus.
Vamos ver agora as características da terceira classe de cristãos professos, os que "amam mais
a glória dos homens do que a glória de Deus".
Não estou dizendo que o que tem conduzido a esta gente para a religião é a mera consideração
de sua reputação. A religião sempre foi impopular entre as grandes massas da humanidade para
que isto possa ser um incentivo. Senão que quero dizer que quando não é geralmente impopular
o professar religião, e não diminuirá a popularidade e alguém, senão que vai aumentá-la, em
muitos opera um motivo complexo: a esperança de assegurar a felicidade no mundo futuro, e de
aumentar a reputação aqui. Assim muitos são levados a professar religião quando, na realidade,
caso se lhes examina com cuidado, se verá que seu objetivo principal é a boa opinião que
merecem de seus próximos. Se tivessem que perder esta boa opinião, prefeririam não ser
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cristãos. Por isso, ainda que professam ser, o que conta mais para eles é não perder a boa
opinião que os demais têm deles. Não encontram a oposição e reprovação que encontrariam
caso se dessem a desarraigar o pecado do mundo.
Observe-se que os pecadores impenitentes sempre estão influenciados por uma dessas duas
coisas, em tudo o que se refere a religião. Ou bem o fazem com objetivo aos meros princípios
naturais, como amor a si mesmo ou autocompaixão, princípios que são constitucionais deles, ou
por egoísmo. O fazem ou bem com objetivo a sua própria reputação ou felicidade, ou para a
satisfação de algum princípio natural neles, sem caráter moral; e não por amor a Deus. Amam
"mais a glória dos homens do que a glória de Deus".
Vou mencionar várias coisas por meio das quais se pode averiguar o verdadeiro caráter desta
classe de pessoas das que estou falando, que fazem da glória dos homens um ídolo, apesar de
que professam amar a Deus de modo supremo. E são coisas pelas quais se pode ver eu
verdadeiro caráter.
1. Fazem o que o apóstolo Paulo disse que faziam certas pessoas em seus dias, e por cuja razão
permaneciam na ignorância das verdadeiras doutrinas; "se medem a si mesmos e se comparam
entre si."
Há um grande número de indivíduos que, em vez de fazer de Jesus Cristo o critério de
comparação e da Bíblia a regra de vida, evidentemente, seguem outro critério. Mostram que
nunca tinham pensado seriamente em fazer da Bíblia seu critério. A grande questão para eles é
se fazem tantas coisas em religião como os outros fazem, ou se são tão piedosos como os
outros, ou como outras igrejas que lhes rodeiam. Seu objetivo é manter uma profissão de religião
respeitável, em vez de inquirir seriamente sobre eles mesmos, o que a Bíblia realmente requer, e
de perguntar-se como atuaria Jesus Cristo neste ou naquele caso, olham simplesmente ao cristão
professo corrente, e estão satisfeitos com fazer o que é digno de louvor em sua estimação.
Demostram que seu objetivo não é fazer o que a Bíblia apresenta como dever, senão o que
fazem a grande massa de cristãos professos, que se considera respeitável, que assim está bem.
2. Esta classe de pessoas não se preocupam de elevar os padrões de piedade ao seu redor.
Não lhes preocupa o fato que os padrões de piedade se sua igreja sejam baixos, ou que é
impossível trazer a grande massa de pecadores ao arrependimento. Crêem que os padrões dos
tempos presentes são bastante altos. Sempre estão satisfeitos com os padrões presentes.
Quando os verdadeiros amigos de Deus e dos homens se queixam da igreja porque os padrões
da piedade são tão baixos, e tratam de elevá-los, lhes parece a estes que se trata de críticas, de Página | 31
entretenimento, de falta de sossego e de uma má atitude, como quando Jesus Cristo denunciou
aos escribas e fariseus, estes disseram dEle: "Tem um demônio." "Como! Ele está denunciando a
nosso doutores, e a nossos melhores teólogos, e inclusive se atreve a chamar-nos escribas e
fariseus hipócritas, e nos diz que a menos que nossa justiça exceda a desses, não podemos
entrar no reino dos céus. Que atitude tão péssima é esta?".
Uma grande parte da igreja nos dias de hoje tem este espírito, e os esforços para abrir os olhos
da igreja e fazer que os cristão vejam que vivem a um nível espiritual baixo e mundano, como
hipócritas, que impede realizar a obra de Deus, lhes levam a má vontade e reprovações. Se
esquecem que Jesus Cristo derramou sua maldições contra os que se consideravam piedosos
em seu tempo. Sua alma se enchia de indignação e as censuras brotavam de sua boca como
uma enchente. Sempre se queixava daqueles que deviam dar exemplo de piedade, e os chamava
hipócritas e lhes perguntava: "COMO ESCAPAREIS DA CONDENAÇÃO DO INFERNO?"
Não é de estranhar que quando tantos amam a glória dos homens mais do que a de Deus, as
pessoas se excitem e altere quando se lhes diz a verdade. Alguns estão muito satisfeitos com os
padrões da piedade presentes, e crêem que se faz muito nas Escolas Dominicais, e nas missões,
e em tratados. Pra que vem este para agitar as coisas? Ai! Ai! Quanta cegueira! Não se dão conta
que a vida da maioria dos que se dizem cristãos é quase tão diferente dos padrões de Jesus
Cristo quanto a luz é das trevas.
3. Fazem uma distinção entre os requerimentos de Deus que o sentimento público põe em vigor e
os que não são muito observados.
São muito escrupulosos em observar os requerimentos de Deus quando o sentimento público os
favorece de modo claro, mas não se preocupam no mais mínimo daqueles que o sentimento
público não realça. Vou dar uma ilustração disto. Me refiro aos esforços por fazer prevalecer a
temperança. Quantos tem que cedem ao sentimento público nisto. Se por exemplo o sentimento
público é a abstenção de bebidas alcoólicas do tipo de licores, por sua parte, eles se absteriam,
mas se o sentimento público não se importa com este assunto, o fazem. Mostram que seu
objetivo ao juntar-se a uma sociedade de temperança não é eliminar o monstro da intemperança,
senão manter sua reputação. "Amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus."
O mesmo podemos dizer de guardar o Dia de repouso; o fazem não porque amam a Deus, senão
porque é respeitável. Isto é evidente, porque o guardam enquanto estão entre seus conhecidos
ou onde se lhes conhece. Mas quando vão a pontos em que não se lhes conhece ou não há
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opinião pública desfavorável, eles não têm inconveniente em viajar e fazer outras coisas assim no
Dia de repouso.
De todas as coisas que são reprovadas pela opinião pública, estas pessoas se abstém, mas
fazem outras coisas, iguais e piores, sobre as que não há uma atitude de censura por parte do
público. Fazem aqueles deveres que a opinião pública espera, mas deixariam de fazê-los se
mudasse esta opinião. Não deixariam de assistir ao serviço religioso nos domingos, porque não
poderiam manter sua reputação pela religião se o fizessem. Mas descuidam de fazer outras
coisas que também são ordenadas pela palavra de Deus. Quando um indivíduo desobedece
habitualmente uma ordem de Deus, sabendo que é, é quase seguro que sua alma vive não por
consideração a autoridade de Deus, ao amor a Deus, senão por outros motivos. O mesmo pode
dizer-se da obediência que rende. O apóstolo deixou bem claro o assunto. "Qualquer que guarda
toda a lei e ofende em um ponto é culpável de toda ela"; isto é, dizer que não guarda nenhum
preceito da lei. A obediência às ordens de Deus implica um estado de obediência do coração, e
portanto, nada é obediência que não implique uma consideração suprema a autoridade de Deus.
Agora bem, se o coração de um homem é reto, considera tudo o que Deus manda mais
importante que qualquer outra coisa. E se um homem considera que há algo que tem mais peso
que a autoridade de Deus, isto é seu ídolo. Tudo o que consideramos de modo supremo, este é
nosso bem, seja a reputação, a comodidade, as riquezas, a honra, o que seja, isto é o deus de
nosso coração. Se um homem descuida habitualmente algo que sabe que é uma ordem de Deus,
ou que vê que se requer para impulsionar adiante o reino de Cristo, há uma demonstração
absoluta de que considera aquilo como supremo. Não há possibilidade de que Deus aceite seus
serviços. Pode estar seguro que toda a religião de tal é religião de um sentimento público. Se
descuida de algo requerido pela lei de Deus ou faz algo incompatível com ela, meramente porque
a opinião pública requer, com isto basta para demonstrar que obedece ao sentimento público e
não considera o glória de Deus.
O que pode contestar você mesmo disto? Você descuida de modo regular algum requerimento de
Deus porque não é posto em vigor pelo sentimento público? Você é dos que professam a religião
pela pressão do sentimento público e o demonstra cumprindo só aqueles requerimentos que
estes põem em vigor mas descuidas dos demais? Aos que demostram que têm mais
consideração às opiniões dos homens que aos juízos de Deus só se pode chamá-los de
HIPÓCRITAS.
4. Esta classe de professos é possível que se permitam pecados quando não se encontram em
sua casa, que não se permitiriam em casa. Este é o caso dos que se absteriam de beber vinho ou
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ir ao teatro em sua própria cidade, mas não têm inconveniente quando vijam em países em que
estes costumes são comuns.
5. Outra manifestação deste caráter é a comissão de pecados que se podem chamar secretos. A
abstenção dos mesmos é devida estritamente ao fato de que os outros o conheçam. Cada um
tem que se julgar a este respeito. Mas a palavra hipócrita tem que repetir-se aqui. E não temos
que esquecer que Deus não conhece a palavra secreto. Todos os pecados são cometidos à vista
de Deus.
6. Ou talvez entrem em omissões secretas do dever, que não são conhecidas dos demais. Não
faltarão a comunhão, como é natural, e aparecerão como muito piedosos no Domingo. Mas a
oração privada é desconhecida para estas pessoas. É fácil de ver que a reputação é seu ídolo.
Temem perder sua reputação mais que ofender a Deus.
O que responde você disso? É um fato de modo habitual a falta com teus deveres privados,
quando você é cuidadoso de executa-los em público? Se é assim, o que você me diz do seu
caráter? É necessário que te repita que ama a glória dos homens mais do que a de Deus?
7. A consciência desta classe de pessoas parece estar fundada em princípios distintos dos do
evangelho.
Parece que têm uma consciência para as coisas que são populares, mas que não têm
consciência naquelas que não requerem um sentimento público. Podemos lhes predicar
claramente seu dever, e demostrá-lo, e ainda é possível que confessem eles mesmos que é seu
dever, e, contudo, enquanto o sentimento público não o requer e não é algo que afeta sua
reputação, seguirão obrando como antes. Caso se lhes mostre um: "Assim diz o Senhor" e se
lhes faz ver que o curso que seguem é palpavelmente incompatível com a perfeição cristã e
contrário aos interesses do reino de Cristo, não por isso vão mudar. Deixam claro que não têm
em consideração os requerimentos de Deus, senão os requerimentos da opinião pública. Amam
mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
8. Estas pessoas geralmente temem muitíssimo que se lhes considerem fanáticos.
Não conhecem, praticamente pelo menos, o princípio de que "todo o mundo está equivocado!"
Esquecem que o sentimento público do muno está contra Deus em massa, e que todo o que tenta
servir a Deus deve em primeiro lugar fazer frente ao sentimento público do mundo. Eles têm que
dar-se bem em conta que este é um mundo de rebeldes, e o sentimento público está equivocado,
como o mostra o fato da controvérsia de Deus. Não têm os olhos abertos a esta verdade
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fundamental de que o mundo está equivocado, e que os caminhos de Deus vão diretamente em
direção oposta. Por conseguinte, é verdade, e sempre foi, que "todos os que vivem piedosamente
em Cristo Jesus sofrerão perseguição". Serão chamados fanáticos, supersticiosos, exagerados e
toda classe de coisas. Sempre foram e serão, em tanto que o mundo siga equivocado.
Mas esta classe de pessoas nunca vai mais além do que é compatível com as opiniões dos
homens mundanos. Dizem que devem fazer isto ou aquilo a fim de ter influência sobre eles. Por
cima disto tem que prevalecer a atitude dos verdadeiros amigos de Deus e dos homens. O
objetivo destes é voltar ao revés a ordem do mundo, botar o mundo de pernas para o ar, levar a
todos os homens à obediência a Deus e fazer que as costumes e instituições do mundo estejam
de acordo com o espírito do evangelho.
9. Eles tem sumo interesse em fazer-se amigos dos dois lados.
Seguem sempre um curso medíocre. Evitam a reputação dos extremos, de uma maneira ou de
outra são relaxados e sem religião. Tem sido assim durante séculos o fato que uma pessoa pode
manter-se como religioso sem ter que ser chamado fanático. E os padrões são todavia tão baixos
que é provável que a grande massa das igrejas protestantes estão procurando ocupar este
terreno mediano. Querem amidos nos dois lados. Não querem ser contados com os reprovados,
mas tampouco com os fanáticos. São CRISTÃOS DA MODA. E isto quer dizer que querem ser
populares. O tema religião é popular e eles desejam precisamente isto. Seguem também o que
está na moda no mundo. Seu objetivo na religião é não fazer nada que desgoste o mundo. Seja o
que seja o que Deus requeira estão decididos a ser prudentes, não incorrer nas censuras do
mundo e não ofender aos inimigos de Deus. Têm mais consideração aos homens do que a Deus.
E se as circunstâncias lhes levam a ter que ofender a seus amigos ou vizinhos ou a Deus, prefere
ofender a Deus. Se o sentimento público choca com as ordens de Deus sempre cedem ante o
sentimento público.
10. Farão mais para ganhar o aplauso dos homens que para ter a aprovação de Deus.
Isto é evidente pelo fato que obedecem só aos requerimentos de Deus que são sustentados pela
opinião pública. Não exercem a negação própria para ganhar os aplausos de Deus, e sim para
ganhar os aplausos dos homens.
11. Eles têm mais interesse em conhecer qual é a opinião dos homens que lhes rodeiam do que
de saber a opinião que Deus tem deles.
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Isto se aplica aos ministros. Lhes interessa mais saber o que pensam os ouvintes de seu sermão
que o que pensa Deus. E se em algo fracassaram lhes dói dez vezes mais que a idéia de que
tenham desonrado a Deus ou impedido a salvação das almas. E isto pode dizer-se também de
um diácono, um ancião ou um membro da igreja. Se oram em uma reunião, ou exortam, estão
mais preocupados pelo que pensam deles que de saber o que Deus pensa dele.
Se algum destes tem algum segredo que é descoberto o consideram um desastre muito maior,
pelo que lhes afeta a eles, que pelo fato de que Deus seja desonrado. E o mesmo se caem em
algum pecado aberto.
Estão mais preocupados de sua aparência ao olhos do mundo que aos olhos de Deus. Caso se
trate de mulheres (ainda que não são as únicas) se preocupam de que seu corpo apareça
cuidado e vestido com primor do que preparar seu coração que estará à vista de Deus. Não
guardará esforços, durante grande parte da semana, para assegurar-se dos aspectos externos no
Domingo diante da igreja, e talvez não passará nem meia hora em seu quarto preparando-se no
coração para aparecer ante os átrios de Deus. Todo o mundo pode ver, num instante, o que é
esta religião. Todo mundo sabe que é HIPCRISIA. Eles irão para a casa de Deus, com seus
corações escurecidos como a meia-noite, enquanto toda a sua aparência externa é bela e
decente. Eles devem apresentar-se bem aos olhos o homem, não importa como seja, ou em qual
Deus coloca os seus olhos. O coração pode estar nas trevas e desordenado e poluído, mas eles
não se importam, contanto que os olhos dos homens não detectem nenhuma mancha.
12. Recusam confessar seus pecados na forma que a lei de Deus requer, para que não sofra sua
reputação entre os homens. Estão ansioso de que o que confessem não seja incompatível com
sua reputação, mas não tanto da forma em que afetará seu caráter ou de se Deus ficará
satisfeito.
Que esquadrinhem seus corações os que fizeram confissão para ver o que é o que mais afetou a
sua mente ao fazê-la, o que Deus pensa deles ou o que pensam os homens. Tem recusado
confessar o que Deus quer que confesses, porque isto vai prejudicar tua reputação entre os
homens? Não vai Deus julgar teu coração?
13. Eles cederão ao costume que eles sabem que é prejudicial para a causa de Deus, e ao bem-
estar humano.
Um exemplo desta agressão é encontrado no jeito de se portarem no Reveillon. Quem não sabe
o costume de comportamento do Reveillon, pede seu vinho e sua comida cara e entretenimentos
custosos, e gastar o dia como eles querem, é um desperdício de dinheiro, ofensa a saúde e Página | 36
prejudicial as suas próprias almas e aos interesses de Deus. E ainda assim fazem isto. Diremos
nós que essas pessoas que farão isto, quando eles sabem que é prejudicial, que amam
supremamente a Deus? Não me importa que defendam isto como costume, ele é errado, e todo
Cristão deve saber que uma suprema consideração a Deus não é sua regra de vida.
14. Farão coisas de caráter duvidoso, ou coisas da qual a legitimidade têm só algumas dúvidas
em obediência ao sentimento público. O que faz algo de caráter duvidoso, que não está seguro
de que seja legítimo, está condenado à vista de Deus.
15. Com freqüência se "envergonham" de fazer o que é seu dever, e também de não fazê-lo.
Quando uma pessoa se envergonha de fazer o que Deus requer, até o ponto de não fazê-lo, é
evidente que sua reputação é seu ídolo. Tem muitos que se envergonham de reconhecer a Jesus
Cristo, de reprovar o pecado, de falar alto quando se ataca a religião. Se consideram a Deus
sobre todas as coisas, se envergonhariam do que é seu dever? Se envergonharia um homem de
defender a sua mulher se a caluniassem, ou a seus filhos se os atacassem? Não, é claro, se os
ama. O mesmo se pode dizer com respeito aos próprios país. Quem se envergonharia de
defendê-lo se fosse caluniado estando em um país estrangeiro?
Agora bem, estas pessoas das que falo não tomam uma posição clara quando estão entre os
inimigos da verdade, quando seriam objeto de reprovação, naquelas circunstâncias, se tomassem
essa posição. São muito valentes pela verdade quando estão entre amigos, e então fazem
ostentação de seu valor. Mas quando são postos a prova, vendem ao Senhor Jesus Cristo e o
negam ente seus inimigos, em vez de falar alto em sua defesa.
16. Se opõem a tudo o que interfere com sua complacência própria, e que faz nova luz com
respeito a coisas de caráter prático.
Ficam muito transtornados ante toda oposição que possa dar por resultado algum sacrifício
material, ou em seus hábitos de autocomplacência. E a única maneira de chegar a estas pessoas
é criando um sentimento público com respeito àquele assunto. Quando foi conseguido, apelando
a benevolência e a consciência de outros, que se crie um sentimento público na comunidade a
favor daquilo, então adotarão as novas proposições, mas não antes.
17. Eles estão sempre aflitos ao que eles chamam os extremismos do dia.
Eles estão com muito medo do "extremismo" do dia presente que destruirá a igreja. Eles dizem
que nós levamos as coisas muito adiante, e nós causamos assim uma reação. Pegue, por
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exemplo, a Reforma da Temperança. Os verdadeiros amigos da temperança agora sabem, que
álcool é a mesma coisa, ele é encontrado em qualquer lugar, e para salvar o mundo e banir a
intemperança, é necessário banir o álcool em todas as suas formas. O detalhe da Reforma da
Temperança nem ainda foi decidido. A massa da comunidade nunca foi chamada a alguma
negação própria por esta causa. Um caso em que isto incomoda é quando isto é quando isto
entra em questão ou quando o homem vai exercer a negação própria para destruir o mal. Se eles
tem permissão de continuar bebendo vinho e cerveja, isto não é negação própria para abandonar
as licores espirituosos. Isto é apenas uma mudança na forma em que o álcool é usado, e eles
podem beber tão livremente quanto antes. Muitos amigos da causa, quando eles viram que
multidões estavam investindo nela, estavam prontos para o grito de vitória. Mas a verdadeira
questão ainda não foi tentada, e multidões nunca vão render-se, até que os amigos de Deus e
dos homens possam formar um sentimento público forte o suficiente para aniquilar o caráter de
todo homem que não renuncie isto. Você encontrará muitos doutores da divindade e pilares da
igreja, que podem beber seu vinho, que pararão por aí, sem o comando de Deus, sem querer
saber da benevolência, sem desejo de salvar as almas, sem piedade do sangue humano,
moverão algumas pessoas, mas não poderão formar um sentimento público tão poderoso quanto
a disposição deles para fazer estas coisas, por causa do desgosto de perder a sua reputação.
Eles amam a glória dos homens.
E isto é uma questão em minha mente, um assunto de solene e ansiosa dúvida, se no presente
padrão baixo da piedade e decadência dos avivamentos religiosos um sentimento público pode
ser formado, suficientemente poderoso para fazer isto. Se não, nós estamos voltando para trás. A
Reforma da Temperança vai ser desmanchada como uma represa de areia, as comportas serão
abertas novamente, e o mundo vai ser empurrado para o inferno. E ainda assim milhares de
professos em religião, que querem agradar ao respeito público e ao mesmo tempo gostam de
seus próprios caminhos, estão chorando como se eles estivessem aflitos com o extremismo da
época.
18. Com freqüência se opõem aos homens, medidas e coisas, enquanto que não são populares
ou objeto de reprovação, mas quando são populares seguem a maioria.
Se um indivíduo vai pelas igrejas em um distrito e os desperta para um avivamento de religião,
enquanto que é pouco conhecido, estas pessoas não terão inconveniente em falar contra ele.
Mas se a coisa prospera e a pessoa ganha influência logo vão colocar-se a seu lado e elogiá-lo e
professarão ser seu melhores amigos. Ao Senhor Jesus Cristo lhe ocorreu o mesmo. Antes de
sua morte passou por graus distintos de popularidade. As multidões o seguiam quando ia pelas
ruas, proclamando: Hosana, Hosana. Mas observe-se que nunca o seguiram um passo mais além Página | 38
do que lhe seguia a popularidade. Tão pronto como o arrastaram, se voltaram contra ele e
gritaram: "Crucifica-o, crucifica-o!"
Esta classe de pessoas, que vão com a maré, se apartam de um homem quando sofre
reprovação e montam ao seu lado quando é honrado. Só há uma exceção. E ocorre quando já se
comprometeram demais em um movimento de oposição que não podem fazer marcha ré sem
tornar-se ridículo. Então ficam em silêncio.
Muitas vezes muitos membros se opõem a uma avivamento em uma igreja ao começar. Logo não
simpatizam na forma como se realizam as coisas, pois temem que tenha excitação demais e
coisas assim. Mas a medida que o trabalho progressa, acabam juntando-se com a multidão. Ao
fim, quando terminou o avivamento e a igreja volta a se esfriar, esta classe de pessoas são as
que voltam a renovar o trabalho de oposição a obra, e talvez, ao final, induzem a igreja a adotar
uma atitude negativa contra o mesmo avivamento em que eles mesmos participaram. Esta é a
maneira em que muitos indivíduos têm atuado com respeito aos avivamentos neste país. Se
deixaram influenciar pelo sentimento público e acataram o avivamento, mas pouco a pouco, ao
declinar o avivamento, renovam a oposição que há em seu coração e que tinham suprimido
enquanto que o avivamento era popular.
O mesmo tem acontecido na causa das missões até certo ponto, e se algo ocorre-se que
mudasse o favor do público, que é agora em sua maioria pelas missões, não teriam inconveniente
em apoiar aos que se opusessem a elas.
19. Caso se propõe alguma medida para fomentar e fazer prosperar a religião, são muito
sensíveis e escrupulosos de não fazer nada que não seja popular.
Se vivem em uma cidade perguntarão o que é que pensam as outras igrejas desta medida. E se é
provável que vá resultar em reprovação da igreja ou do ministro à vista dos infiéis, ou à vista das
outras igrejas, se encontram muito atormentados pelo mesmo. Não importa se a medida é boa,
ou quantas almas podem ser salvas por meio dela, o que não querem é que se faça nada que
possa lastimar a reputação de sua igreja.
20. Esta classe de pessoas nunca procuram elas mesmas formar um sentimento público em favor
da piedade.
Os verdadeiros amigos de Deus e dos homens sempre estão procurando formar sentimento
público, ou corrigi-lo em todos os pontos em que estão equivocados. Estão decididos de todo
coração a averiguar os males do mundo, a reformar o mundo, a eliminar a iniqüidade da terra.
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Esta outra classe sempre seguem o sentimento pública tal qual é, e seguem a corrente, como se
flutuassem na mesma, e por outra parte estão dispostos sempre a qualificar de imprudente ou
perigoso ao homem que vai contra a corrente, ou procura mudar a direção do sentimento público.
CONCLUSÃO
1. É fácil para as pessoas dar crédito para os seus pecados fazendo eles mesmos acreditarem
que certas coisas são atos de piedade.
Eles fazem coisas que externamente pertencem a piedade, e eles dão a si mesmos créditos de
pessoas devotas, quando seus motivos são todos corruptos e vazios, e nenhum deles se
aproximam para dar consideração suprema a autoridade de Deus. Isto é manifesto do fato que
eles não fazem nada exceto no que os requerimentos de Deus são levantados por um sentimento
público. A menos que você decida fazer TODOS os seus deveres, e conceda obediência em
todas as coisas, a piedade que você assume acredito que seja uma mera hipocrisia, e isto na
verdade é pecar contra Deus.
2. Há muito mais piedade aparente na igreja do que piedade real.
3. Há muitas coisas que os pecadores supõem ser boas, mas que é abominável a vista de Deus.
4. Mas pelo amor à reputação e medo da desgraça, quantos há na igreja que se permitem uma
apostasia deliberada?
Quantos há aqui, que vocês sabem que se permitiriam cair num vício deliberado, que estavam
nisto não para reprimir o sentimento público, o medo da desgraça e o desejo de ganhar o crédito
de virtude? Onde uma pessoa é virtuosa por uma consideração a autoridade de Deus mesmo que
o sentimento público o reprove com seu olhar de censura, isto é a verdadeira virtude. Caso
contrário, eles já receberam a sua recompensa. Eles fazem isto para terem aprovação aos olhos
dos homens, e eles conseguem. Mas se eles esperam alguma coisa que das mãos de Deus, com
certeza eles serão desapontados. A única recompensa que ELE entregará sobre estes hipócritas
egoístas é que eles serão condenados.
E agora eu desejo saber quantos de vocês se determinarão a fazer o seu dever, e todo o seu
dever, de acordo com a vontade de Deus, sendo o sentimento público o que seja? Quanto de
vocês concordarão em pegar a bíblia como sua regra, Jesus Cristo como seu modelo, e fazer o
que é CORRETO, em todas os casos, qualquer que seja o que o homem possa pensar ou dizer?
Qualquer um que não esteja disposto a usar esta base, deve considerar-se um estranho para a
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graça de Deus. Ele não está de nenhuma maneira no estado de justificação. Se ele não está
decidido a fazer o que ele sabe que é correto, seja qual for o sentimento público, isto é uma prova
positiva que eles amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
E deixe-me falar aos pecadores impenitentes presentes: Você vê o que é ser Cristão. É ser
governado pela autoridade de Deus em todos os casos, e não pelo sentimento público, é viver
não por medos e esperanças, mas pela suprema consagração a Deus. Você vê que se você
pretende ser religioso, você deve medir os custos. Eu não vou lisonjear você. Eu nunca tentarei te
agradar para te fazer religioso, lançando fora a verdade. Se você deseja ser Cristão, você tem
que se entregar por inteiro a Cristo. Você não pode flutuar ao longo do paraíso das ondas do
sentimento público. Eu não vou enganá-lo neste ponto.
Você pergunta, pecador, o que vai acontecer com todos esses que professam religião, com todos
que estão conformados com o mundo, e que amam mais a glória dos homens do que a glória de
Deus? Eu respondo: Eles irão para o inferno, com você e com todos os outros hipócritas. Tão
certo quanto que a amizade com o mundo é inimizade com Deus.
Por isso, saia do meio deles, meu povo, e sejam separados, e eu os receberei, diz o Senhor. Eu
serei um Pai para vocês, e serão filhos e filhas. E agora, quem fará isto? Diante da igreja e no
meio dos pecadores, quem fará isto? Quem? Quem é pelo Senhor? Quem está disposto a dizer:
"Não vamos muito longe com a multidão para o mal, mas estão determinados a fazer a vontade
de Deus, em todas as coisas, sejam quais forem, e deixe o mundo pense e diga de vocês o que
quiserem." Quantos de vocês estão agora dispostos a fazer isto, expressem isto levantando-se de
seus lugares diante da congregação, e ajoelhem-se, enquanto é oferecida uma oração, que Deus
aceite e sele seu solene pacto de obedecer a Deus de agora em diante em todas as coisas, seja
nos momentos bons ou seja nos momentos ruins.
A VERDADEIRA SUBMISSÃO
"Submetam-se, pois, a Deus."-- Tiago 4:7.
O tema desta mensagem é: "O QUE CONSTITUI A VERDADEIRA SUBMISSÃO"
Porém, antes de entrar na discussão do tema quero fazer dois comentários, introdutórios à
questão principal.Página | 41
1. Se algum dos crentes ouvintes está enganado com respeito a suas esperanças, e pôs uma
base falsa às mesmas, o erro fundamental em seu caso é que abraçou o que cria que era o plano
de salvação do evangelho por motivos egoístas. Teu coração egoísta não estava quebrantado.
Esta é a causa do engano, se o estás. Se teu egoísmo não foi submetido você está enganado em
tua esperança. Se você está, tua religião é em vão e em vão a tua esperança.
2. O outro comentário é que se alguém está enganado e tem uma falsa esperança está no
máximo perigo de reavivar sua antiga esperança sempre que volta a despertar-se para considerar
sua condição. É algo muito comum para estes que , depois de um período de ansiedade e
autoexame, descansam de novo sobre o antigo fundamento. A razão é que seus hábitos de
mente se fixam nesta causa e, por tanto, pela leis mentais, é difícil começar um novo curso. É
indispensável, por tanto, se há de começar bem, que vejas claramente que até agora tem estado
equivocado, de modo que não multipliques a classe de esforço que tem te enganado até agora.
Quem não sabe que há muitos debaixo deste engano? Quão freqüente jaz uma grande parte da
igreja fria e morta, até que começa um avivamento? Então os vemos agitados, e se acham
ocupados no que chamam de religião, e renovam seus esforços e multiplicam suas orações
durante uma temporada; e isto é o que chamam ser avivados. Mas isto é a mesma classe de
religião que tinham antes. Esta religião não dura mais que o entusiasmo público. Tão pronto como
o corpo da igreja começa a diminuir seus esforços para a conversão de pecadores, estes
indivíduos recaem em sua anterior mundanalidade, e chegam pronto ao que eram antes de sua
suposta conversão, na medida que o seu orgulho e o temor das censuras da igreja os permitam.
Quando volta o avivamento renovam o ciclo; de modo que vivem em espasmos, uma e outra vez,
reavivados e voltando atrás, alternativamente, toda sua vida. A verdade é que já estavam
enganado desde o princípio, por uma conversão espúria, na qual o egoísmo não foi nunca
quebrado; e quanto mais multiplicam esta classe de esforços, mais seguro é que vão ser
perdidos.
Vou entrar agora diretamente na discussão do tema e a esforçar-me para mostrar o que é a
verdadeira submissão do evangelho, na seguinte ordem:
I. Mostrarei o que não é a verdadeira submissão.
II. Mostrarei o que é a verdadeira submissão.
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I. Vou demostrar o que não é a verdadeira submissão.
1. A verdadeira submissão não é indiferença. Não há dois coisas mais diferentes que a
indiferença e a submissão.
2. Não consiste em estar disposto a pecar, se for necessário, para a glória de Deus. Alguns
supõem que a verdadeira submissão inclui a idéia de estar disposto a pecar para a glória de
Deus. Mas isto é uma equivocação. O estar disposto a cometer pecado é um estado mental. E o
estar disposto a fazer o que seja para a glória de Deus é escolher não pecar. A idéia de pecar
para a glória de Deus é absurda.
3. Não consiste em estar disposto a ser castigado.
Se estivéssemos no inferno, a verdadeira submissão requereria o estar disposto a ser castigado.
Porque então estaríamos seguros de que era a vontade de Deus que fossemos castigados.
Portanto, se estivéssemos em um mundo em que não tivesse provisão para a redenção dos
pecadores, e por isso, nele, o castigo fosse inevitável, seria nosso dever o estar dispostos a ser
castigados. Se um homem cometeu um assassinato, e não há outra maneira de garantir o bem
público a menos que seja enforcado, é seu dever estar disposto a que enforquem-no para o bem
público. Mas se tivesse outra maneira em que o assassino pudesse ficar vivo e restaurar o bem
público, não seria seu dever o estar disposto que enforquem-no. De modo que se estivéssemos
num mundo somente debaixo da lei, onde não houvesse plano para a salvação, e não houvesse
maneira de garantir a estabilidade de seu governo com o perdão dos pecadores, seria o dever de
todo homem o estar disposto a ser castigado. Mas tal como o mundo é, a verdadeira submissão
não implica o estar disposto a ser castigado. Porque sabemos que não é a vontade de Deus que
todos sejam castigados, senão ao contrário, sabemos que sua vontade é que todos se
arrependam e se submetam a Deus e sejam salvos.
II. Vou mostrar o que é a submissão autêntica.
1. Consiste no perfeito consentimento e aceitação em todos os tratos e dispensações
providenciais de Deus; tanto se referirem a nós, aos outros, ou ao universo. Algumas pessoas
dizem que consentem e aceitam, de modo abstrato, o governo providencial de Deus. Mas se
entrássemos em conversação com eles se pode ver que acham faltas nos presentes que Deus
fez muitas coisas. Se perguntam porque permitiu Deus que Adão pecasse. Ou porque permitiu
que o pecado entrasse no mundo em absoluto. Ou porque fez isto ou aquilo. Em todos os casos,
supondo que não pudéssemos indicar nenhuma razão que fosse totalmente satisfatória, a
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verdadeira submissão implica uma perfeita aquiescência em tudo o que Ele permitiu ou fez; e
sentindo isto, pelo que afeta a sua providência, tudo está bem.
A verdadeira submissão implica a aquiescência ao preceito da lei moral de Deus. O preceito geral
da lei moral de Deus é: Amarás ao Senhor teu Deus, de todo teu coração, e de toda tua alma, e
de toda tua força, e amarás a teu próximo como a ti mesmo." Talvez alguns digam: Eu estou de
acordo com este preceito e encontro que é reto, e não tenho nenhuma objeção a esta lei." Aqui
quero fazer cuidadosamente uma distinção entre uma aprovação constitucional ou natural da lei
de Deus e a verdadeira submissão à mesma. Não há mente que de modo natural, pelo sentido
comum do bom, não aprove esta lei. Não há nenhum demônio no inferno que não a aprove. Deus
constituiu a mente de tal forma que é impossível ser um ente moral sem aprovar esta lei. Mas não
é esta a aquiescência da que estou falando. Uma pessoa pode sentir esta aprovação em tão alto
grau que inclusive se deleite nela, sem haver-se submetido verdadeiramente à mesma. Tem duas
idéias incluídas na verdadeira submissão, sobre as quais desejo chamar vossa atenção.
(1) A primeira é que a verdadeira aquiescência à lei moral de Deus inclui a obediência real. É em
vão que uma criança diga que está conforme com os mandatos de seu pai, a menos que os
obedeça realmente. É em vão que um cidadão diga que está de acordo com as leis de seu país, a
menos que as obedeça.
(2) A idéia principal da submissão é ceder no que constitui o grande ponto de controvérsia. E se
trata disto: que os homens se apartaram em seu supremo afeto de Deus e de seu reino, e
estabeleceram seu interesse próprio como objeto de consideração equivalente. Em vez de
prestar-se para fazer o bem, como Deus requer, adotaram a máxima de que a caridade bem
entendida começa consigo mesmo". Este é o verdadeiro ponto em debate entre Deus e o
pecador. O pecador procura fomentar seu próprio interesse como seu objetivo supremo. Agora
bem, a primeira idéia implicada na submissão é o ceder neste ponto. Temos que deixar de pôr
nossos próprios interesses como supremos e deixar que os interesses de Deus e de seu reino se
levantem em nosso afeto tão acima de nossos interesses como o verdadeiro valor daquele é
superior a estes. O homem que não faz isto se rebela contra Deus.
Suponhamos a um chefe de estado que se propõe ao interesse geral e a felicidade da nação, e
promulga leis sabiamente adaptadas para este fim, e empreende este objetivo com todos seus
recursos, e que logo requer que todos seus súditos façam o mesmo. Logo suponhamos um
indivíduo que estabelece seus interesses privados em oposição ao interesse geral. É um rebelde
contra o governo e contra todos os interesses que o governo trata de fomentar. Logo, a primeira
idéia de submissão, pelo que afeta ao rebelde, é ceder neste ponto e seguir com o chefe e seus
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súditos obedientes em fomentar o bem público. Agora bem, a lei de Deus requer de modo
absoluto que subordinemos nossa felicidade própria à glória de Deus e o bem do universo.
Enquanto não fazemos isto, somos inimigos de Deus e do universo, e filhos do inferno.
E o evangelho requer o mesmo que a lei. É surpreendente quantos mantiveram que é reto que o
homem procure diretamente sua própria salvação e faça de sua própria felicidade o grande objeto
de sua atividade. Mas é evidente que a lei de Deus é diferente nisto, e que requer que cada um
ponha os interesses de Deus em lugar supremo. E o evangelho requer o mesmo que a lei. De
outro modo, Jesus Cristo seria ministro do pecado, e haveria vindo ao mundo levantar as armas
contra o governo de Deus.
É fácil mostrar com a Bíblia que o evangelho requer uma benevolência desinteressada, o amor a
Deus e amor ao homem, o mesmo que a lei. A primeira passagem que vou a citar é: Buscai
primeiramente o reino de Deus e sua justiça." O que significa isto? É estranho que recentemente
haja sido citado este texto para demostrar que é reto buscar primeiro a própria salvação ou nossa
felicidade, e fazer dela o objeto primário de nossos objetivos. Mas este não é o significado.
Requer que cada um procure fazer da prosperidade do reino de Deus seu primeiro objetivo. Eu
entendo que indica o dever de procurar a santidade e não nossa própria felicidade. A felicidade
está relacionada com a santidade, mas não é a mesma coisa, senão que o buscar a santidade ou
obediência a Deus e o honrá-lo e glorificá-lo é muito diferente de buscar de modo supremo nossa
própria felicidade.
Outra passagem é: Quer comeis ou bebeis, ou façais o que seja, faça-o tudo para a glória de
Deus." Sem dúvida! O que? Não podemos nem ainda comer ou beber para nosso prazer? Não.
Temos que satisfazer nossos apetites naturais para a comida, mas subordinando-o à glória de
Deus. Isto é o que requer o evangelho, pois o apostolo o escreveu à igreja cristã.
Outra passagem é: Não atente cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para
o que é dos outros." Mas é em vão eu tentar citar todas as passagens que ensinam isto. Pode
ver-se em quase todas as páginas da Bíblia alguma passagem que significa o mesmo, que nos
requer que olhemos antes não nosso próprio bem, senão o benefício dos outros.
E de novo: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs,
ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não
receba cem vezes tanto, já no presente, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições, e no mundo por vir a vida eterna." Aqui alguns tropeçam e dizem: Aqui tem uma
recompensa apresentada como motivo. Mas cuidado! O que você vai fazer, abandoná-lo tudo por
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amor à recompensa? Não; se trata de abandoná-lo por amor a Cristo e ao evangelho; e a
conseqüência será como se disse. Esta é uma distinção importante.
No capítulo 13 de Coríntios, Paulo da uma descrição plena do amor desinteressado, sem ele não
se é nada em religião. É notável o que diz, quanto pode fazer uma pessoa e, com tudo, se não há
amor, não ser nada. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse
amor, seria como o metal que soa, ou como o sino que tine. Ainda que eu tivesse o Dom de
profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que eu tivesse toda a fé, de
maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse
toda a minha fortuna para o sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria." Então, a verdadeira benevolência do
evangelho tem estas características: O amor é paciente, é benigno. O amor não inveja, não se
vangloria, não se ensoberbece. Não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios
interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija
com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." Notemos isto bem. Não tem o
egoísmo como fim, senão que busca a felicidade dos outros como seu grande objetivo. Sem esta
classe de benevolência, sabemos que não se tem uma partícula de religião.
Antes de seguir adiante desejo mencionar várias objeções a este ponto de vista que podem
aparecer na mente de vocês. O faço de modo especial porque alguns podem tropeçar aqui e,
depois de tudo, chegar a idéia de que é reto fazer que nossa religião consista em procurar nossa
própria salvação como o grande objetivo.
Objeção 1. Por que se dão as ameaças da Palavra de Deus, se obram o egoísmo influenciado
pelo temor da ira que virá?"
Pode-se dar muitas respostas a esta objeção.
Resposta. O homem está constituído de forma que pelas leis de seu ser teme a dor. As ameaças
das Escrituras, portanto, respondem a vários propósitos. Um deles é captar a atenção da mente
egoísta para que examine as razões que tem para amar e obedecer a Deus. Quando o Espírito
Santo obtém nossa atenção, então desperta a consciência do pecador e, o faz considerar e
decidir sobre as razões e o dever de submeter-se a Deus.
Objeção 2. Havendo-nos dado Deus esta capacidade para sentir o prazer e a dor, está mal ser
influenciados por eles?"
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Resposta. Não está bem nem mal. Esta sensibilidade não tem caráter moral. Se tivesse tempo
esta noite o consideraria em detalhe. Na moral há uma classe a ações que caem baixo a
denominação de considerações prudenciais. Por exemplo: Suponhamos que estou à beira de um
precipício, onde caso alguém se lance quebrará a cabeça. Se me advertem. Agora bem, se não
considero o aviso e me lanço e destruo a minha vida, isto será um pecado. Mas o fazer caso do
aviso, simplesmente, não é uma virtude. Não há virtude em evitar um perigo, ainda que muitas
vezes é pecaminoso não evitá-lo. É pecaminoso que o homem desafie a ira de Deus. Mas o
temer o inferno não é santo, como não é o temor de quebrar a cabeça se cair no precipício. É
simplesmente um ditado da própria constituição natural.
Objeção 3. Não nos diz a Bíblia que é nosso imediato dever o buscar nossa própria felicidade?"
Resposta. Não é pecaminoso buscar nossa própria felicidade segundo seu valor real. Ao
contrário, é um dever real o fazê-lo. E quem o descuida comete pecado. Outra resposta é que
ainda que é reto o buscar a própria felicidade, e as leis da mente requerem que tenhamos em
conta nossa própria felicidade, com tudo, nossa constituição mental não indica que o procurar
nossa felicidade como o bem supremo seja reto. Suponhamos que alguém dissesse que devido a
nossa constituição mental não indicasse que o procurar nossa felicidade como o bem supremo
seja reto. Suponhamos que alguém dissesse que devido a nossa constituição requiséssemos
alimento, por tanto, é reto buscá-lo como o bem supremo, Estaria isto bem? De modo algum; pois
a Bíblia proíbe de modo expresso uma coisa semelhante e diz: Quer comeis ou bebeis, ou façais
o que seja, faça-o tudo para a glória de Deus."
Objeção 4. A felicidade de cada um está posta principalmente em seu poder; e se cada um
buscasse sua própria felicidade, a felicidade de todos ficaria assegurada ao máximo que isto é
possível."
Esta objeção é preciosa. Nego a conclusão em conjunto porque:
(1) As leis da mente são tais que é impossível que alguém seja feliz quando faz de sua própria
felicidade o supremo objetivo. A felicidade consiste na satisfação dos desejos virtuosos. Mas para
serem satisfeitos, a coisa obtida dever ser a desejada. Para ser feliz, portanto, os desejos que
deverão ser satisfeitos devem ser retos, e portanto, devem ser desejos desinteressados. Se teus
desejos terminam em você mesmo; por exemplo, se desejas a conversão de pecadores com o
objetivo de aumentar tua própria felicidade, quando os pecadores são convertidos isto não te faz
feliz, porque isto não é o desejo terminado. A lei da mente, pois, faz que seja impossível, se cada
indivíduo persegue sua própria felicidade, que ele a obtenha. Para ser mais definido. Duas coisas
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são indispensáveis para a verdadeira felicidade. Primeiro, deve haver desejos virtuosos. Se o
desejo não é virtuoso, a consciência protestará contra ele, e portanto, a satisfação dará lugar à
dor. Segundo, este desejo deve ser satisfeito ao conseguir seu objeto. O objeto deve ser
desejado por si mesmo, do contrário a satisfação não seria completa, ainda que se obtivesse o
objeto. Se o objeto desejado é um meio para um fim, a satisfação dependerá de obter o fim por
este meio. Mas se a coisa foi desejada como fim, ou por si mesma, sua obtenção produzirá
satisfação sem mescla. A mente deve, deseja, pois não sua própria felicidade, porque por este
caminho não pode ser nunca alcançada, senão que o desejo deve terminar em algum outro
objeto que seja desejado por si mesmo, a conseqüência da qual seria a satisfação, e isto
resultaria na felicidade.
(2) Se cada um perseguisse sua própria felicidade como seu bem supremo, os interesses dos
distintos indivíduos entrariam em conflito e se destruiria a felicidade de todos. Isto é o que se vê
em todas as partes. Esta é a razão de todas as fraudes, violência, opressão e maldade na terra e
no inferno. É porque cada um persegue seu próprio interesse que os interesses de um chocam
com os de outro. O verdadeiro modo de assegurar nossa própria felicidade não é persegui-la
como um fim, senão perseguir outro objeto, que quando é obtido, possa proporcionar-nos
completa satisfação: a glória de Deus e o bem do universo. A questão não é se é reto desejar e
perseguir nossa felicidade, senão se é reto fazer de nossa felicidade nosso objetivo supremo.
Objeção 5. A felicidade consiste na satisfação dos desejos virtuosos. Então a coisa a que me
dirijo é satisfazer o desejo virtuoso. Não é isto apontar a minha própria felicidade?
Resposta. A mente não aponta à satisfação do desejo, senão à conseqüência da coisa desejada.
Suponhamos que você vê um mendigo, ao qual você dá um pão. Teu objetivo é aliviar ao
mendigo. Este é o objeto desejado, e quando o dá, teu desejo está satisfeito e você é feliz. Mas
se ao aliviar ao mendigo o objetivo era tua própria felicidade, então o aliviar ao pobre não
satisfará teu desejo, e você não terá satisfação dele.
Assim pois, tanto a lei como o evangelho requerem benevolência desinteressada como a única
condição abaixo da qual o homem possa ser feliz.
Uma vez resolvidas estas objeções, voltemos agora a o que é a verdadeira submissão.
3. A verdadeira submissão implica aquiescência ao castigo da lei de Deus.
Novamente faço a distinção que fiz antes. Não estamos neste mundo simplesmente debaixo do
governo da lei nua. Este mundo é uma província do império de Jeová, e está em uma relação
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peculiar com o governo de Deus. Se rebelou; e logo foi feita uma provisão nova e especial, pela
qual Deus nos oferece misericórdia. As condições são que obedeçamos os preceitos da lei e nos
submetamos à justiça do castigo. É um governo pela lei, com o evangelho, agregado ao mesmo.
O evangelho requer a mesma obediência que a lei. Sustem os merecimentos do pecado e requer
que o pecador reconheça a justiça do castigo. Se o pecador estivesse meramente debaixo da lei
requereria que se submetesse ao castigo. Mas o homem não está, e nunca esteve, mesmo desde
a caída, debaixo do governo da mera lei, senão que sempre conheceu mais ou menos claramente
que se oferece-o misericórdia. Portanto, nunca se requereu que esteja disposto a ser castigado. É
neste aspecto que a submissão ao evangelho difere da submissão à lei. Debaixo da lei só, a
submissão consistiria em sua aceitação de ser castigado. Neste mundo a submissão consiste na
aquiescência à justiça do castigo, e enquanto a si mesmo, a admitir que merece a eterna ira de
Deus.
4. A verdadeira submissão implica aquiescência à soberania de Deus.
O dever de todo soberano é ver que seus súditos se submetam a seu governo. E é seu dever o
promulgar leis tais que cada indivíduo, se as obedece perfeitamente, vá fomentar o bem público
no maior grau possível. E por ele, se alguém recusa obedecer, é seu dever tomar ao indivíduo
rebelde pela força e fazer que se submeta ao interesse público da melhor maneira possível. Se
não quer submeter-se ao bem público de modo voluntário tem que fazê-lo de modo involuntário.
O governo tem que finalizá-lo enforcado, ou de alguma maneira colocá-lo como exemplo de
sofrimento; ou também se o bem público admite misericórdia, mostrá-lo misericórdia de tal
maneira que isto sirva para o interesse geral. Agora bem, Deus é um soberano, e a submissão
que requer é justa. Ele descuidaria seus deveres como governante se não o requeresse, e como
você recusou obedecer este requerimento, agora tem que colocar-se em sua mão para que
disponha de você, para o tempo e a eternidade, na maneira que melhor fomente os interesses do
universo. Você perdeu todo direito que tinha a uma porção de felicidade no universo ou a favor de
Deus. E o que se requer de você, agora, posto que não podes render obediência pelo passado, é
reconhecer a justiça de sua lei, e deixar teu destino futuro inteiro e incondicionalmente a sua
disposição, para o tempo e a eternidade. Você terá que se submeter com tudo o que tem e com
tudo o que é. Você perdeu tudo e deverá entregar tudo a sua disposição, na forma em que Ele te
chame, para favorecer os interesses de seu reino.
5.Finalmente requer submissão aos termos do evangelho. Os termos do evangelho são:
(1) Arrependimento, pena no coração pelo pecado, justificar a Deus e tomar sua parte contra de
você mesmo.
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(2) Fé, perfeita confiança em Deus, tal que te faça colocar-lhe corpo e alma, o que têm e és, em
suas mãos, para que faça contigo o que creia ser bom.
(3) Santidade, ou benevolência desinteressada.
(4) Receber a salvação como pura graça à qual não você não tem direito algum de acordo com a
justiça.
(5) Receber a Cristo como teu mediador e advogado, tua expiação, teu rei e mestre, e em todos
os cargos nos quais Ele se apresenta a você na Palavra de Deus. Em resumo, deve dar tua plena
aquiescência à forma de salvação designada por Deus.
Conclusão
I. Vês, pois, que há muitas esperanças falsas na igreja.
A causa é que muitas pessoas abraçam o que consideram o evangelho, sem render obediência a
lei. Estas tendências sempre se manifestaram entre os homens. Há uma certa classe que sustém
o evangelho e recusa a lei; e outra classe que aceita a lei e descuida o evangelho. Os
antinomianos desejam libertar-se da lei por completo. Supõem que a regra do evangelho é
diferente da lei; enquanto que a verdade é que a regra de vida é a mesma em ambos, e ambos
requerem benevolência desinteressada. Agora bem, se uma pessoa pensa que baixo o
evangelho pode evitar que a glória de Deus seja seu objetivo supremo, e em vez de amar a Deus
com todo seu coração alma e força, pode fazer de sua própria salvação seu objeto supremo, suas
esperanças são falsas. Abraçou outro evangelho, que não é o evangelho em absoluto.
II. O tema mostra como temos que enfrentar-nos com a objeção comum, que a fé em Cristo
implica fazer de nossa salvação nosso objetivo ou motivo supremo.
Resposta. O que é a fé? Não é crer que você será salvo, senão crer na palavra de Deus com
respeito a seu filho. Não se revela em parte alguma que você será salvo. Ele revelou o ato de que
Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. O que você chama fé é mais propriamente
esperança. A expectativa confiada de que você será salvo é uma inferência do ato de fé; e uma
inferência que têm o direito a ter quando você é consciente de obedecer a lei e crer no evangelho.
Isto é, quando você exerce os sentimentos requeridos na lei e o evangelho têm o direito a confiar
em Cristo para tua salvação.
III. É um erro supor que se desesperar pela misericórdia é essencial para a verdadeira
submissão.Página | 50
Isto se vê claro do fato que, baixo ao evangelho, todo mundo sabe que é a vontade de Deus que
toda alma que exerça benevolência desinteressada seja salva. Suponhamos que um homem vem
e me pergunta: O que devo fazer para ser salvo?" E eu o digo: Se você esperar ser salvo deve
entrar em desespero de chegar a ser salvo." O que pensaria? Que autor inspirado nunca deu
uma resposta ou instrução assim? Não, a resposta inspirada é: Amarás ao Senhor seu Deus de
todo teu coração." Arrependa-se" Creia no evangelho", e assim sucessivamente. Tem algo aqui
que implique desespero?"
É verdade que os pecadores às vezes se desesperam antes de obter a verdadeira paz. Mas qual
é o motivo? Não é porque o desespero seja essencial para a verdadeira paz, senão devido a sua
ignorância ou aos ensinamentos falsos que se deu a eles ou haver compreendido mal a verdade.
Muitos pecadores ansiosos se desesperam porque chegaram à falsa impressão de que pecaram
mais além do dia da graça, ou que cometeram o pecado imperdoável, ou que seus pecados são
graves de modo peculiar e a provisão do evangelho não os alcança. Alguns se desesperam por
esta razão: sabem que há misericórdia e que está disposta para ser-lhes concedida tão pronto
como cumpram com os requisitos, mas acham que todos seus esforços para a verdadeira
submissão são em vão. Se sentem orgulhosos e obstinados, e não podem dar seu próprio
consentimento aos termos da salvação. Talvez a maioria de indivíduos que se submetem, em
efeito, chegam a um ponto em que o dão por perdido. Mas é necessário isto? Esta é a pergunta.
Agora, como se vê, não é nada mais que sua própria maldade que os leva ao desespero. Estão
mal dispostos a lançar mão da misericórdia que se ofereceu-lhes. Seu desespero, pois, em vez
de ser essencial para a verdadeira submissão baixo o evangelho é incompatível com ele, e
ninguém pode abraçar o evangelho neste estado. É uma incredulidade horrível, pois é o pecado
do desespero; e dizer que é essencial para a verdadeira submissão é dizer que o pecado é
essencial para a verdadeira submissão.
IV. A verdadeira submissão é aquiescência a todo o governo de Deus.
É aquiescência a seu governo providencial, a seu governo moral, ao preceito de sua lei e ao
castigo de sua lei, de modo que o indivíduo admita que mereça um grande e eterno peso de
condenação de maneira muito elevada; e a submissão é aos termos da salvação do evangelho.
Baixo o evangelho não há ninguém que tenha o dever de estar disposto a ser condenado. É
totalmente incongruente com seu dever o estar disposto a ser condenado. O homem que se
submete à lei pura e consciente em ser condenado, esta tanto em rebelião como antes; porque
um dos requerimentos de Deus é que temos que obedecer ao evangelho.
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V. O chamar ao pecador para que esteja disposto a ser castigado é um grande erro por muitas
razões.
É por de lado o evangelho, e colocá-lo baixo outro governo do que existe. Põe diante dele uma
visão parcial do caráter de Deus, ao qual lhe requer que se submeta. Esconde os verdadeiros
motivos da submissão. Apresenta não ao Deus real e verdadeiro, senão a um ser distinto. É
praticar um engano nele, mantendo a idéia de que Deus deseja sua condenação e deve
submeter-se a ela; porque Deus deu seu solene juramento de que não deseja a morte do pecador
senão que se arrependa e viva. É uma calúnia contra Deus, e é acusá-lo de prejuízo. Todo
homem baixo ao evangelho sabe que Deus deseja que os pecadores sejam salvos e é impossível
esconder este fato. A verdadeira base sobre a qual deve-se colocar para a salvação é que não se
deve buscar a própria salvação, senão a glória de Deus; não se deve sustentar a idéia de que
Deus deseja ou intenciona que ele vá ao inferno.
O que diziam os apóstolos aos pecadores quando lhes perguntavam o que deviam fazer para ser
salvos? O que lhes disse Pedro no dia de Pentecostes? O que disse Paulo no cárcere? Que se
arrependam e abandonassem seu egoísmo e cressem no evangelho. Isto é o que os homens
devem fazer para serem salvos.
Há outra dificuldade ao tentar converter os homens, submetendo-os ao castigo voluntariamente.
É tentar convertê-los pela lei, pondo de lado o evangelho. É tentar fazê-los santos sem as
influencias apropriadas para fazê-los santos. Paulo tentou este método, conscientemente, e
encontrou que nunca dá resultado. No capítulo sete de Romanos nos dá os resultados de seu
próprio caso. O levou a confessar que a lei era santa e boa e que havia que obedecê-la; e aqui
ficou aflito, gritando: "O bom que quero fazer, não faço, senão o mal que não quero fazer, isto
faço." Precisamente, aqui o amor de Deus ao enviar a seu Filho Jesus Cristo se apresenta na
mente e faz a obra. No seguinte capítulo explica: "Porque, aquilo que a Lei fora incapaz de fazer
por estar enfraquecida pela carne, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do
homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a fim de que as
justas exigências da Lei fossem plenamente satisfeitas em nós, que não vivemos segundo a
carne, mas segundo o Espírito." Toda a bíblia testifica que é só a influência do evangelho que
pode levar os pecadores a obedecer a lei. A lei nunca pode fazê-lo. O apartar da alma os motivos
que constituem a essência do evangelho nunca converterá o pecador.
Sei que há algumas pessoas que crêem que se converteram dessa maneira, e que se
submeteram à lei de modo absoluto, sem influência alguma do evangelho. Porém, se escapou
deles por um só momento que Cristo morreu pelos pecadores, e que devem arrepender-se e crer
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se querem ser salvos? Estes motivos devem ter tido sua influência, pois em tanto que pensavam
que olhavam a lei pura esperavam que se cressem seriam salvos.
Suponho que o erro de tentar converter aos homens pela lei se acha aqui; na antiga noção de
Hopkins que os homens, para serem salvos, deviam estar dispostos a serem condenados. Esta
idéia prescinde do fato que este mundo está, e tem estado desde a caída, sempre baixo à
dispensação da misericórdia. Se estivéssemos baixo ao governo da mera lei, a verdadeira
submissão a Deus requereria isto. Mas os homens não estão baixo à lei neste sentido, nem
nunca estiveram; porque imediatamente depois da caída Deus revelou a Adão a intimações ou
indícios da misericórdia.
Há uma objeção que pode fazer-se e que vou contestar de antemão.
Objeção. Não é o oferecimento de misericórdia no evangelho de tal forma que pode produzir uma
religião egoísta?"
Resposta. A oferta de misericórdia pode ser pervertida, como qualquer outra coisa boa, e com ele
dar lugar a uma religião egoísta. E Deus sabia que podia ser assim quando revelou o evangelho.
Mas observe-se: Nada pode ser mais apropriado para submeter o coração rebelde do homem
que esta mesma demonstração da benevolência de Deus na oferta de misericórdia.
Houve um pai que tinha um filho rebelde e obstinado ao qual tratou de submetê-lo por meio de
castigos. Amava a seu filho e desejava que fosse virtuoso e obediente. Mas o filho parecia
endurecer seu coração contra seus esforços repetidos. Ao final o pobre pai estava tão
desanimado que caiu em choro compulsivo: "Meu filho! Meu filho! O que poso fazer? Posso salvá-
lo? O que mais posso fazer?" O filho olhava os castigos com a maior indiferença, mas quando viu
as lágrimas do pai rodar por suas bochechas, e ouviu seus soluços de angústia, caiu também em
lágrimas e gritou: Açoite-me, Açoite-me! Açoite-me, mas não chores!" Agora o pai havia achado a
maneira de submeter aquele coração endurecido como uma pedra. Em vez de aplicar-lhe a vara
de ferro da lei, o apresentou a sua alma; e qual foi o resultado? O derrotou numa submissão
hipócrita? Não, a vara fazia isto. As lágrimas de amor do pai quebrantaram seu coração e o
submeteram de modo verdadeiro à vontade do pai.
O mesmo ocorre com os pecadores. O pecador desafia a ira do Deus Todo-Poderoso, e se
endurece para receber os golpes do raio de Jeová; mas quando vê o amor do coração do Pai
Celestial, se há algo que ainda possa fazê-lo aborrecer-se e desprender-se de si mesmo, isto o
fará ver a Deus manifestar-se em carne, baixando-se a tomar a forma humana, pendurado na
cruz, e derramando lágrimas, suor e sangue de sua alma e morrendo na cruz. É isto adequado Página | 53
para fazer hipócritas? Não, o coração do pecador se derrete e grita: "Oh, faça qualquer outra
coisa, posso resisti-lo; mas o amor do bendito Jesus me constrange." É próprio da mesma
natureza da mente o ser influenciada desta maneira. Portanto, em vez de ter medo de mostrar o
amor de Deus aos pecadores, este é o único modo de submetê-los e fazê-los verdadeiramente
submissos e verdadeiramente benevolentes. A lei faz hipócritas, mas só o evangelho pode atrair
sua alma ao verdadeiro amor a Deus.
AS AÇÕES DUVIDOSAS SÃO PECAMINOSAS
"Tudo o que não provém da fé é pecado", Romanos 14:23
Os pagãos costumavam oferecer animais em sacrifício. Uma parte de cada animal sacrificado
correspondia ao sacerdote. Os sacerdotes costumavam mandar sua porção ao mercado para
vendê-la, e era vendida nos açougues como a outra carne. Os judeus cristãos que estavam
espalhados por todas as partes eram muito precavidos com a carne que comiam, para não
incorrer com isso levantavam dúvidas e criavam disputas e dificuldades nas igrejas. Este é um
dos pontos sobre os quais estava dividida a igreja de Coríntios, até que ao fim escreveram a
Paulo para que lhes desse instruções. Uma parte da Primeira Epístola dos Coríntios foi escrita
sem dúvida como resposta a estas perguntas. Parece que havia alguns que chegavam em seus
escrúpulos até o ponto de dizer que não era próprio comer nenhuma carne; porque se iam ao
mercado a comprá-la estavam sempre em perigo de comer carne que havia sido oferecida aos
ídolos. Outros criam que isto não importava; e que tinham direito a comer carne; e compravam a
que achavam no mercado, e não se preocupavam deste assunto. Para acabar esta disputa,
escreveram a Paulo, e este lhes responde no capítulo 8, e considera o tema em detalhe.
"com respeito aos alimentos sacrificados aos ídolos, sabemos que todos temos conhecimento. O
conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não
conhece como deveria. Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus. Portanto, em relação
ao alimento sacrificado aos ídolos, sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só
existe um Deus. Pois, mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra (como
de fato há muitos "deuses" e muitos "senhores"), para nós, porém há um único Deus, o Pai, de
quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de
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quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos. Contudo, nem todos têm esse
conhecimento. Alguns, ainda habituados com os ídolos, comem esse alimento como se fosse um
sacrifício idólatra; e como a consciência deles é fraca, fica contaminada."
"Sua consciência se contamina", isto é, se considera que foi oferecida a um ídolo e portanto está
praticando idolatria. O comer a carne em si é algo totalmente diferente.
"A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não
comermos, nem melhores se comermos. Contudo, tenham cuidado para que o exercício da
liberdade de vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos. Pois, se alguém que tem a
consciência fraca vir você que tem este conhecimento comer num templo de ídolos, não será
induzido a comer do que foi sacrificado a ídolos? Assim, esse irmão fraco, por quem Cristo
morreu, é destruído por causa do conhecimento que você tem."
Ainda que tenham conhecimento suficiente sobre o tema para saber que um ídolo não é nada, e
não pode haver nenhuma mudança devido a carne em si, contudo, se o vê comendo carne que
sabiam que havia sido oferecida a um ídolo, os que são débeis podem atrever-se a comer
sacrifícios assim, ou como um ato de adoração ao ídolo, supondo entretanto que estavam
seguindo o exemplo de irmãos com mais luz.
Mas o caso é que quando pecais assim contra os irmãos e fere a consciência débil deles, você
está pecando contra Cristo. "Quando você peca contra seus irmãos dessa maneira, ferindo a
consciência fraca deles, peca contra Cristo. Portanto, se aquilo que eu como leva o meu irmão a
pecar, nunca mais comerei carne, para não fazer meu irmão tropeçar."
Esta é a conclusão de um espírito de benevolência, o renunciar a comer carne antes que ser
ocasião de que o irmão débil seja atraído à idolatria. Pois de fato, o pecar contra um irmão débil é
pecar contra Cristo.
Ao escrever aos Romanos toca também este tema, pois a mesma disputa existia ali. Depois de
estabelecer alguns princípios e máximas gerais, dá a seguinte regra:
"Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos. Um crê que pode comer de
tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais."
Havia alguns entre eles que haviam decidido fazer um regime totalmente vegetariano, antes que
correr o risco de comprar carne oferecida em sacrifício aos ídolos. Outros comiam carne de modo
anormal, comprando o que se oferecia no mercado sem fazer perguntas por causa da
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consciência. Os que vivam de legumes acusavam ao outros de idolatria. Os que comiam carne
acusavam aos outros de superstição e debilidade. Isto era errôneo.
"Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo
não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou. Quem é você para julgar o servo
alheio? É para o seu senhor que ele está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é capaz de
o sustentar."
Havia também uma controvérsia entre os que observavam os dias festivos e os dias santos
judeus. Uma parte supunha que Deus o requeria e por isso os observavam. Os outros não se
preocupavam dele, porque supunham que Deus não requereria a observância.
"Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias.
Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que considera um dia
como especial, para o Senhor assim o faz. Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá
graças a Deus; e aquele que se obstem, para o Senhor se obstem, e dá graças a Deus. Pois
nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. Se vivemos,
vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer
morramos, pertencemos ao Senhor. Por esta razão Cristo morreu e voltou a viver, para ser
Senhor de vivos e de mortos. Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu
irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus. Porque está escrito: "Por mim
mesmo jurei, diz o Senhor, diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que
sou Deus". Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus. Portanto, deixemos de
julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou
obstáculo no caminho do irmão."
Agora, prestemos atenção no que diz:
"Se o seu irmão se entristece devido ao que você come, você já não está agindo por amor. Por
causa da sua comida, não destrua seu irmão, por quem Cristo morreu."
Isto é, sei que a distinção de carnes entre limpa e imunda não é obrigatória ante a Cristo, mas
para aquele que crê na distinção, é pecado o comer de modo indiscriminado, porque faz o que
crê que é contrário ao mandamento de Deus. "Todo alimento é puro, mas é errado comer
qualquer coisa que faça os outros tropeçarem." Todo homem deve estar persuadido em sua
mente de que faz o reto. Se um homem come carne chamada impura, não sendo claro em sua
mente que é reto, ofende a Deus.
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"É melhor não comer carne nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve seu irmão
a cair."
Esta é uma indicação muito útil para esses bebedores de vinho e esses glutões por cerveja, que
pensam que a causa da temperança vai ser arruinada impedindo o vinho e a cerveja, quando é
notório, para toda pessoa que tem o mínimo de observação, que estas coisas seja o impedimento
máximo para a causa em todo o país.
Tens tu fé? Tenha-a para contigo diante de Deus. Feliz é o homem que não se condena naquilo
que aprova. Mas aquele que tem dúvida é condenado se comer, porque não come com fé; e tudo
o que não provém da fé é pecado.
A palavra se condena significa se faz culpável de quebrantar a lei de Deus. Se um homem duvida
de se é legal fazer uma coisa, e enquanto está em dúvida a faz, desagrada a Deus, quebranta a
lei, e é condenado, tanto se a coisa fosse legal como se não. Quis explicar este texto em ralação
com o contexto, porque desejei clarear bem em vossa mente a retidão do princípio estabelecido:
Que o homem que faz aquilo sobre o que tem dúvidas de se é legal, peca e se condena por isto
diante da vista de Deus.
De se é legal em si, não é a questão. O que se diz é que se há dúvidas não é legal para ele.
Há uma exceção que teria que se notar aqui, e é que quando um homem de modo sincero e
pleno duvida da legalidade de omitir algo, e ao mesmo tempo duvida da legalidade de fazê-lo. O
presidente Edwards tratou deste ponto exatamente em sua resolução número 39:
"Resolvo não fazer algo sobre cuja legalidade tenho dúvidas, e tento, ao mesmo tempo,
considerá-lo e examiná-lo depois, sobre se é legal ou não: exceto no caso em que também
duvide sobre a legalidade de omiti-la."
Um homem pode ter dúvidas iguais sobre se está obrigado a fazer uma coisa ou a não fazê-la.
Então, tudo o que se pode dizer é que deve obrar segundo a maior luz possível que possa obter.
Mas quando duvida da legalidade da omissão, e contudo o faz, peca e se condena diante de
Deus, e tem que se arrepender ou ser condenado. Num exame mais detalhado deste tema me
proponho:
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I. Mostrar algumas razões pelas que um homem delinqüe quando faz aquilo sobre cuja legalidade
tem dúvidas.
II. Mostrar sua aplicação a um número de casos específicos.
III. Oferecer umas poucas inferências e comentários, segundo permita o tempo disponível.
I. Vou mostrar algumas razões em favor do correto do princípio estabelecido no texto, que se um
homem faz aquilo de que tem dúvidas de se é legal, se condena.
1. Uma razão pela que um indivíduo se condena se faz aquilo cuja legalidade tem dúvidas, é: que
se Deus iluminou sua mente até o ponto de fazê-lo duvidar da legalidade de um ato, tem a
obrigação de fazer um alto aqui e examinar a questão até que possa deixá-la estabelecida a sua
satisfação.
Para ilustrar isto, suponhamos que teu filho deseja fazer certa coisa ou suponhamos que ele foi
convidado pelos amigos dele a ir a alguma parte, e que duvida sobre se você lhe deixaria ir; não
custa muito ver que o dever de seu filho é perguntar a você. Se um dos amigos dele o convida
para ir em casa e duvida se você lhe deixaria ir, e contudo vai, não é isto mal de modo palpável?
Ou suponhamos que um homem vai parar como náufrago em uma ilha deserta, onde não há ser
humano algum, e se instala em uma cova solitária, considerando que está só e sem ninguém,
sem ajuda ou esperança; mas cada manhã encontra uma provisão de comida nutritiva preparada
para ele e depositada na boca de sua cova, suficiente para as necessidades do dia. Qual é seu
dever? Dirias que como não sabe se há algum outro ser na ilha não tem nenhuma obrigação para
ninguém? Não requer a gratidão que busque e encontre a este amigo não visto e lhe dê as
graças por sua amabilidade? Não pode dizer: "Duvido se haverá alguém aqui, e portanto não farei
mais que comer minha porção e não me preocupar, não me importa quem o coloque." O fato de
não buscar a seu benfeitor lhe faria culpável de uma grande maldade em seu coração, como se
soubesse quem o manda, e recusasse dar-lhe graças pelo favor recebido.
Ou suponhamos que um ateo abre seus olhos para a luz do sol, e respira o ar que o faz robusto e
sadio. Aqui há evidência suficiente de que existe um Deus para impulsioná-la a inquirir sobre este
Grande Ser que lhe provê estes meios de vida e de felicidade. E se não inquire e busca mais luz,
se não lhe importa, se dispõe seu coração em contra de Deus, mostra que tem o coração de um
ateo, além de ter o intelecto. Tem evidência, pelo menos, de que pode haver um Deus. Qual é
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pois sua obrigação? Simplesmente, com sinceridade e com um espírito reverente, como de uma
criança, inquirir acerca deste ser e render-lhe reverência. Se quando tem luz suficiente para
duvidar de se pode existir Deus, todavia vai atuando como se Ele não existisse, e não busca a
verdade e a obedece, mostra que há algo mal em seu coração que lhe faz dizer que não há Deus!
Suponhamos um deísta, e aqui temos um livro que diz ser uma revelação de Deus. Muitos
homens bons creram que ele é, verdadeiramente. As evidências são tais que satisfizeram a
algumas das mentes mais agudas e inquisitivas de que é verdade. Estas evidências, tanto
externas como internas, são de grande peso. O dizer que não há evidências, ou em todo caso,
faz duvidar de sua sinceridade. Há, pelo menos, evidência suficiente para criar dúvidas a respeito
de se é uma fábula ou uma impostura. Isto é na realidade só uma pequena parte, mas nos
bastará com isto. Agora bem, é seu dever o rejeitá-lo? Nenhum deísta pretende que pode estar
tão plenamente persuadido em sua mente até estar livre de toda dúvida. Tudo o que se atreve a
tentar é levantar perguntas e dúvidas. Aqui, pois, tem o dever de parar e não opor-se a Bíblia, até
que possa provar sem lugar a dúvida, que não é de Deus.
O mesmo com um unitário. Vamos a conceder (e não é este o caso de modo algum), que a
evidência na Bíblia não é suficiente para tirar todas as dúvidas de se Jesus Cristo é Deus;
contudo, oferece bastante evidência para levantar dúvidas no outro sentido, e ele não tem direito
a rejeitar a doutrina como falsa, senão que tem a obrigação de esquadrinhar humildemente as
Escrituras até achar satisfação. Agora bem, nenhum homem inteligente e sincero pode dizer que
as Escrituras oferecem a "não evidência" da divindade de Cristo. Oferecem, ao contrário,
evidência que convenceu e satisfez plenamente a milhares de mentes de primeira ordem, e
algumas delas tinham se oposto anteriormente a doutrina. Ninguém pode rejeitar a doutrina sem
alguma dúvida, porque aqui há evidência de que pode ser verdadeira. E se pode ser verdadeira e
há razões para duvidar de se não é, antes a rejeita a risco seu.
Vejamos o universalista. De onde há alguém que possa dizer que ele não tem a menor dúvida de
que não há inferno, um lugar ao qual vão depois de morrer os pecadores para um tormento
eterno? Se há alguma dúvida, tem a obrigação de parar e inquirir e buscar as Escrituras. Não
basta com que diga que não crê no inferno. É possível que exista, e se o rejeita e prossegue
obrando como se não existisse, isto lhe faz um rebelde em contra de Deus. Duvida de se há um
inferno que teria que evitar, mas atua como se estivesse certo e não tivesse dúvidas. Isto lhe
condena. Vi uma vez a um médico que era um universalista e que já foi para a eternidade para
comprovar a realidade de suas especulações. Este homem me disse que tinha fortes dúvidas da
verdade do Universalismo e que tinha mencionado suas dúvidas a um ministro dele, que lhe havia
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confessado que ele também duvidava desta verdade e que não cria que houvesse um
universalista no mundo que não tivesse dúvidas.
2. O fato de um homem fazer uma coisa sobre a qual tem dúvidas de se é legal, mostra que é
egoísta, e que tem outros objetivos além de fazer a vontade de Deus.
Mostra que o que quer fazer é dar-se satisfação. Duvida de se Deus aprovará o que pensa, mas
contudo, o faz. Não é este homem um rebelde? Se desejasse servir sinceramente a Deus, ao
duvidar, faria alto e inquiriria e examinaria até que estivesse satisfeito. Mas o ir adiante enquanto
está em dúvidas, mostra que é egoísta e mal, e que deseja fazê-lo tanto se lhe agradasse a Deus
como se não lhe agradasse, e que quer fazer, tanto se é bom ou mal. O faz porque quer fazê-lo,
não porque seja reto.
3. O obrar assim é uma acusação a bondade divina.
Supõe que não é certeza que Deus deu suficiente revelação de sua vontade, de modo que ele
possa saber qual é seu dever. De um modo virtual diz que o caminho do dever é duvidoso até o
ponto que tem que decidir ao azar.
4. Indica uma mente ofuscada e perecendo.
Mostra que prefere obrar mal que fazer uso da diligência necessária para aprender e conhecer o
caminho do dever. Mostra que ou é negligente ou é insincero em suas pesquisas.
5. Manifesta um espírito inconsiderado.
Mostra uma falta de consciência, uma indiferença para o reto, um pôr de lado a autoridade de
Deus, uma disposição a não fazer a vontade de Deus e que não lhe importa se Ele é complacente
ou não, uma temeridade em sua disposição que é a suma da maldade.
O princípio que se estabelece, pois, de modo tão claro, no texto e no contexto, e também no
capítulo lido de Coríntios, está plenamente sustentado pelo exame. Que se o homem faz uma
coisa, quando duvida da legalidade da mesma, peca, e é condenado diante de Deus, e tem que
se arrepender ou ser condenado.
II. Vou mostrar agora a aplicação deste princípio a uma variedade de casos particulares na vida
humana. Porém:
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Primeiro: mencionarei alguns casos em que uma pessoa pode estar em dúvidas com respeito à
legalidade de uma coisa igualmente sobre se tem que fazê-la ou não fazê-la.
Ponhamos como caso o tema do vinho na mesa de comunhão.
Como resultado dos esforços em favor da Reforma da Temperança [abstenção de bebidas
alcoólicas] se pôs sobre o tapete a questão do vinho na mesa do Senhor. Analisou-se a
quantidade de álcool de muitos vinhos e foi encontrado que é bastante alto, e portanto alguns
duvidam de se é próprio usá-los na celebração da mesa do Senhor. Para alguns o usá-los é parte
essencial da ordenança e aqui se terminou a questão. Para outros o fato de que seja vinho, ou
seja com álcool, não é essencial a ordenança, e neste caso usam outra bebida. Os dois pontos
de vista são defendidos por pessoas de consciência, desejosas de fazer o que é agradável a
vontade de Deus. Fica então os que têm dúvidas sobre o assunto. Espero que algumas pessoas
possam ter escrúpulos e devem usá-lo. Duvidam se podem usá-lo e duvidam se é legítimo usar
outra bebida. Aqui o caso é o apresentado abaixo, a regra do Presidente Edwards: "Quando é
duvidoso em minha mente, se devo fazê-lo ou omiti-lo", e sabemos que os homens deveriam
decidir segundo a máxima luz que possam obter, com sinceridade e com o desejo de agradar a
Deus.
Não tento vaguear na questão de se é legítimo usar vinho ou não a mesa de comunhão.
Apresento o caso como ilustração. Contudo posso fazer um par de comentários.
1. Por minha parte não vejo nenhum mal no uso de vinho comum na comunhão. Não me sinto
alarmado nem creio que haja perigo em tomar uma quantidade equivalente a um gole de vez em
quando, uma vez a cada mês ou dois. Não creio que possa dar lugar a doença da intemperança(e
intemperança, você sabe, é na realidade uma doença do corpo), ou será criado ou mantido um
menosprezo a causa. Nem creio que possa produzir dano à causa da temperança, como alguns
supuseram. E, portanto, o que se use vinho, tal como temos feito, eu estou persuadido em minha
própria mente que não é pecado.
2. Por outra parte, não creio que o uso do vinho seja de modo algum essencial a ordenança.
Muito já foi escrito e impresso sobre o tema, os quais tinham sido sem sentido e sem
conhecimento. Ao meu parecer há razões muito fortes disso mais do que em qualquer outro
assunto que já tenha sido exibido, mas o caso é que o vinho não é essencial para a ordenança.
Grandes problemas têm sido levantados para provar que nosso Salvador usou vinho que não era
fermentado, quando ele instituiu a ceia, e que neste caso não continha álcool. Certamente, este
tem sido o ponto principal da discussão. Mas este fato parece tão irrelevante quanto discutir a
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questão de que se ele usou pão de trigo ou de aveia, ou se era fermentado ou asmo. Por que não
discutimos esta questão com o mesmo interesse? Porque todas as considerações a respeito
disso não são essenciais.
Para deixar resolvida a questão do vinho ou não vinho, deveríamos nos perguntar qual é o
significado da ordenança da ceia. Com que propósito a estabeleceu o Senhor? Foi para tomar
artigos básicos para a vida: comida e bebida, e usá-los como representativos da necessidade e
virtude da expiação.
É claro que isto é o que pensava Cristo quando disse: "Minha carne é a verdadeira comida, e meu
sangue é a verdadeira bebida." Da mesma maneira que verteu água no templo e disse: "Se
algum tem sede, venha a mim e beba." O chamamos o "Pão da vida".
Era pois de costume o mostrar o valor dos sofrimentos de Cristo comparando-os ao alimento e à
bebida. Por que mencionou ao pão e não outro artigo de comer? Porque em seu país era o
alimento mais comum. Quando eu estava em Malta, deu a aparência de que uma grande parte
das pessoas viveu isolada de pão. Iam em massa para o mercado, e cada um comprava um
pedaço de pão integral, e paravam e o comiam. Assim o mais comum e o artigo mais
universalmente sadio de dieta é selecionado por Cristo para representar sua carne. Então porque
ele usou vinho para beber? Pela mesma razão; O vinho é a bebida mais comum do povo,
especialmente em suas alimentações, em todos esses países. Se vende por ali por cerca de um
centavo a garrafa, um vinho sendo mais barato que a menor cerveja aqui. Em Sicily fui informado
que o vinho era vendido por cinco centavos o galão, e não sei mas acho que estava tão barato
quanto a água. E você observará que a ceia do Senhor foi observada primeiro bem na época do
banquete da páscoa, na qual os judeus sempre usam vinho. O que o salvador quis dizer com esta
ordenança, então, é isto:- Como o alimento e a bebida são essenciais para a vida do corpo, do
mesmo modo meu corpo e meu sangue, ou seja a expiação, é essencial para a vida da alma. Por
minha parte estou plenamente convencido que o vinho não é essencial para a comunhão e não
teria inconveniente em dar água a qualquer indivíduo que a preferisse na consciência. Basta com
que seja a comida e a bebida mais comum no país, isto sustém a vida do corpo, e com isto basta
para a instituição. Se eu fosse um missionário entre os índios esquimós, onde eles vivem da
carne de sol e da água de neve, administraria a ceia com estas substâncias. A idéia a transmitir é
que não se pode viver sem Cristo.
Digo, pois, que se um indivíduo está plenamente persuadido em sua mente que não peca ao
fazê-lo, pode renunciar ao uso do vinho. Por minha parte, eu não tenho o menor inconveniente
em seguir usando o vinho, como sempre foi feito.
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Agora bem, não percamos de vista o grande princípio sobre o que estamos falando. E é este:
quando alguém tem dúvida sinceramente se é legal fazer uma coisa, ou duvida de modo sincero
também de se é legal o omiti-la, deve orar sobre o assunto e esquadrinhar as Escrituras, e cuidar
de obter o máximo de luz que possa sobre o tema e logo obrar. E quando o faz, não deve ser
julgado ou censurado de maneira nenhuma pelos outros, seja o que seja o curso que tome.
"Quem és tu para julgar ao servo de outro?" E ninguém está autorizado a fazer de sua própria
consciência a regra da conduta do próximo.
Um caso similar é quando um ministro está tão afastado que seja necessário que ele vá até ao
local no dia do descanso para pregar, como no caso dele pregar em duas congregações, e coisas
desse tipo. Aqui ele pode duvidar honestamente de qual é seu dever, nos dois pontos de vista. Se
ele vai, então ele passa como estranho por não considerar o dia do descanso. Se ele não vai,
então as pessoas não têm pregação. A direção é a seguinte, deixe-o analisar as Escrituras
Sagradas, e pegar a melhor luz que ele possa, faça disso um motivo de oração, considere isto a
fundo, e cumpra de acordo com o melhor juízo que possa ter.
Também tem o caso do professor de Escola Dominical, que pode viver longe da escola, e pode
ter a obrigação de viajar no sábado, caso contrário não terão aula. E ele honestamente pode
duvidar de qual é seu dever, e permanecer em sua própria igreja no sábado, ou viajar até lá,
cinco, oito, ou dez milhas, para um bairro afastado, para passar a aula da Escola Dominical. Aqui
ele deve decidir-se por sua conta, segundo a melhor luz que ele possa obter. E nenhum homem
pode deixar fazer-se juiz sobre um discípulo humilde e consciente do Senhor Jesus.
Como se vê todos estes casos se entende e fica claro que a intenção é honrar a Deus, e que a
dúvida consiste em qual é o curso de ação que lhe dará realmente honra. Paulo disse, com
referência a todas as leis desta classe: "O que faz caso do dia, o faz para o Senhor; e o que não
faz caso do dia, para o Senhor não o faz." A intenção é fazer o correto, e a dúvida está na
maneira de fazê-lo.
Segundo. Mencionarei alguns casos em que a intenção é má, como quando o objetivo é a
satisfação própria e o indivíduo duvida de se pode fazê-lo ou não legalmente. Vou me referir a
casos com respeito aos quais há diferenças de opinião, atos sobre os quais se pode dizer que um
homem tem dúvidas sobre sua legalidade.
1. Tome, por exemplo, o fazer ou vender bebidas alcoólicas.
Depois de tudo o que já foi discutido sobre este tema, e toda a luz que já foi posta sobre a
pergunta, há algum homem nesta terra que possa dizer que não há razão para dúvidas sobre a Página | 63
legalidade deste assunto. O mínimo que pode ser dito é que não há mente honesta que não traga
uma dúvida sobre isto. Suponhamos, certamente, que não há mente honesta que não saiba que
isto é ilegal e criminoso. Mas pegue a mais convincente suposição do destilador ou do vendedor,
e suponha que ele não está totalmente convencido de sua ilegalidade. O que deve fazer então?
Fechar os olhos à luz que possui e seguir adiante, sem considerar a verdade que está sempre
diante de seus olhos? Não. Ele pode criticar e pode criar objeções tanto como ele queira, mas ele
sabe que tem dúvidas acerca da legalidade de seu negócio. E se ele duvida, e ainda persiste em
fazê-lo, sem se incomodar para examinar e ver o que é certo, ele está tão seguramente
condenado como se estivesse de cara com o conhecimento. Você ouve que estes homens dizem:
"Por que? não estou completamente persuadido em minha mente que a Bíblia proíbe fazer ou
vender licores espirituosos" Bem, suponhamos que você não esteja completamente convencido,
suponhamos que todas as suas objeções possíveis e concebíveis e críticas não estão resolvidas,
o que fazer então? Você sabe que você tem dúvidas de sua legalidade. Não é necessário levá-lo
a convencer-se de que obra mal. Se você duvida de sua legalidade, e ainda assim persiste em
fazer isto, então você se põe a caminho do inferno.
2. O que diremos de uma pessoa que trabalha num emprego que lhe requer quebrar o dia de
repouso?
Pegue por exemplo, um posto de correios que se abre no domingo, ou numa barreira de pedágio,
ou num barco a vapor, ou em qualquer outro emprego que não é necessário trabalhar. Há sempre
coisas que devem ser feitas no dia de descanso, são trabalhos de absoluta necessidade e
misericórdia.
Mas suponhamos casos em que o trabalho não é essencial no total, como o transporte de correio
no Domingo. O mínimo que se pode dizer nestes casos é que a legalidade de um emprego assim
é duvidosa. E caso se persiste em fazê-lo peca. Deus deixou claro qual é a pena contra a lei e o
que não se arrepende irá para o inferno, Deus enviou a pena da lei contra eles, e se não se
arrependem devem ser condenados.
3. Possuir investimentos em companhias de barco e de trens, em estágios, em canais de barco,
&c. que quebrantam o dia de repouso.
Pode dizer qualquer dono verdadeiramente que ele não duvida da legalidade de tal investimento
de capital? Pode a caridade inclinar-se para este homem e dizer que ele não deve duvidar que tal
trabalho é de necessidade e misericórdia? Não é necessário neste caso demonstrar que isto é
ilegal, no entanto isto pode ser feito completamente, mas apenas para mostrar que quanto mais
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luz mais dúvida se cria de sua legalidade. Então se persiste em fazê-lo, com a dúvida insatisfeita,
ele é condenado e se perde.
4. Os mesmos pecados terão aplicação para todos os tipos de loteria e jogos de azar. Ele duvida.
5. Tome o caso destas satisfações de apetite, do qual são temas de controvérsia, e das quais
pelo menos podemos dizer que são duvidosamente corretos.
(1.) O beber vinho, e cerveja, e outros licores intoxicantes fermentados. No aspecto presente da
causa temperança, não é isto pelo menos duvidoso, ao fazer uso destas bebidas não é
transgredir a regra imposta pelo apóstolo, "Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer
outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça" Ninguém pode me
fazer crer que ele não tenha dúvida da legalidade de fazer isto. Não há prova exata de sua
legalidade, e há prova forte de sua ilegalidade, e todo homem que faz isto enquanto duvida de
sua legalidade, está condenado, e se ele persiste, é anátema.
Se há algum sofisma [argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que
supõe má fé por parte de quem o apresenta; ou, argumento que parte de premissas verdadeiras,
ou tidas como verdadeiras, e chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar
ninguém, mas que se apresenta como resultante das regras formais do raciocínio, não podendo
ser refutado; ou, argumento falso formulado de propósito para induzir outrem a erro] em tudo isto,
eu devo gostar de sabe-lo, pois não tenho desejo de enganar aos outros nem de ser eu mesmo
enganado. Mas estou inteiramente enganado se esta não é uma inferência simples, direta e
necessária do sentimento do texto.
(2.) O tabaco. Pode algum homem fingir que ele não tem dúvida que isto está de acordo com a
vontade de Deus para ele usar o tabaco? Ninguém pode fingir que não duvida de sua omissão
sobre estas coisas. Algum homem pode viver pensando que ele está preso no dever de fazer uso
de vinho, ou cerveja forte, ou tabaco, como um luxo? Não. Toda a dúvida está de um lado. O que
diremos então desse homem que duvida da legalidade disso, e ainda enche a cara dessa erva
venenosa? Ele está condenado.
(3.) Eu devo referir-me a chá e café. É conhecido geralmente, que estas substâncias não são
nutritivas ao final, e que próximo de oito milhões de dólares seja anualmente gasto para elas
neste país. Agora, algum homem fingirá que ele não duvida que a legalidade do gasto de todo
esse dinheiro em coisas que não servem para nada, e que SABE MUITO BEM, para quem tem
examinado este tema, serem positivamente danosos, intoleráveis para estômagos frágeis, e por
mais forte que seja pode estar disposto a ser machucado? E tudo isto, enquanto as diversas Página | 65
sociedades benevolentes deste tempo estão ruidosamente pedindo por AJUDA para enviar o
evangelho para o exterior e salvar o mundo do inferno! Pensar na igreja gastando milhões só em
gastos sobre suas mesas de chá, não há dúvida aqui?
6. Aplicar este princípio a diversas recreações.
(1.) O teatro. Há vastas multidões de professos em religião que assistem ao teatro. E contestam
que não encontram proibição na Bíblia. Agora, prestemos atenção. - Que cristão professo que
alguma vez foi ao teatro e não duvidou se o que ele estava fazendo era algo legal. De nenhuma
maneira, admito que é um ponto que é só duvidoso. Suponho que é um caso muito simples, e
pode ser mostrado que é, que é ilegal. Mas eu estou procurando agora somente aqueles de
vocês, se há algum aqui, que vão ao teatro, e tratam de esconder-se completamente no refúgio
de que a Bíblia não proíbe em nenhuma parte.
(2.) As festas de prazer, aonde vão e comem e brindam para satisfazerem-se. Não há razão para
duvidar que tal uso de tempo e dinheiro não é como Deus requer? Olhe ao pobre morrendo de
fome, e considere o efeito desta alegria e extravagância, e veja se você alguma vez irá a outra
festa como esta, ou fará uma, sem duvidar de sua legitimidade. Onde você pode encontrar um
homem, ou uma mulher, que chegará inclusive a dizer que eles não têm dúvidas? Provavelmente
não há mulher honesta que dirá isto. E se você duvida, e ainda assim o faz, você está
condenado.
Você vê que este princípio toca todas as classes de coisas da qual há uma controvérsia, e onde
as pessoas intencionam mudar de assunto dizendo que isto não é tão ruim quanto fazer e pronto,
e assim escapar-se da sentença condenatória da lei de Deus. Mas de fato, se há uma dúvida,
então é seu dever abster-se.
(3.) Tome o caso dos bailes, de leitura de novelas, e outros métodos de perder tempo. É esta
uma forma de gastar suas vidas? Pode dizer você que está sem dúvida sobre isto?
7. Fazer visitas no dia de descanso. A pessoa irá fazer uma visita, então dará uma desculpa
sobre ela: "Eu não sei se era realmente correto, mas eu pensei em me arriscar" Ele quebra o dia
de descanso já no coração, em todos os casos, porque ele duvida.
8. Conformidade com os costumes mundanos do Reveillon. - Então todas as senhoras estão em
casa, e os cavalheiros estão todos correndo pela cidade para visitá-la, e as senhoras fazem suas
grandes preparações, e trata-os com suas tortas, e seu vinho e seu ponche, suficiente para
envenená-los quase até a morte, e todas juntas prestando reverência à deusa da moda. Há
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alguma senhora aqui que não duvida da legalidade disto? Digo que isto pode ser demonstrado
que é uma maldade, mas apenas pergunto para as senhoras desta cidade. Isto não É
DUVIDOSO ou isto é tudo legal? Devo por em dúvida a sanidade do homem ou da mulher que
esteve sem dúvida da legalidade de algo semelhante a este costume, no meio de tal
intemperança predominante como a que existe nesta cidade. -- Quem entre vocês praticará isto
outra vez? Pratica-o se você se atreve - no risco de sua alma. Se você faz isso que é
simplesmente duvidoso, Deus o reprova e condena, e Sua voz deve ser considerada.
Sei que as pessoas tentam arranjar desculpas para o assunto, e dizer que está bem ter um dia
assim para tais apelos, quando cada mulher está em casa e cada homem livre de seu trabalho e
de tudo. E que está tudo muito bem. Mas quando se vê que isto é tão abusado, e produz tanto
mal, pergunto a cada cristão aqui, se você pode ajudar a duvidar de sua legalidade? E se é
duvidoso, isto nos traz baixo a regra: "Se aquilo que eu como leva meu irmão a pecar", se a
realização do Reveillon leva a tanta glutonaria, e a tanta bebedeira, e tanta maldade, isto não
bota a sua legalidade em dúvida? Sim, isto é o mínimo que pode ser dito, e aqueles que duvidam
e ainda assim fazem isto, pecam contra Deus.
9. Conformidade com as modas extravagantes da época.
Senhora Cristã! Você nunca duvidou? Você não duvida agora se é legal para você copiar estas
modas, trazida de países estrangeiros, e de lugares que são ainda uma vergonha para o nome
desta assembléia? Você não tem nenhuma dúvida sobre isto? E se você duvida e faz isto, então
você está condenada, e deve arrepender-se de seu pecado, ou você se perderá para sempre!
10. Os matrimônios entre cristãos com pecadores impenitentes.
Esta pergunta sempre acontece. "Mas depois de tudo você diz, não é certeza de que estes
matrimônios não sejam legais" Suponhamos que seja assim, ainda que a bíblia e a natureza do
caso não faça isto, pelo menos, não são duvidosos se são corretos? Pode ser demonstrado,
certamente, que é ilegal. Mas suponhamos que não poderia ser feita tal demonstração. Que
cristão alguma vez fez isso e não duvidou de que se era legal? E o que duvida está condenado.
Veja esta mulher ou este homem, cristãos que estão a ponto de fazer tal ligação - duvidando de
todas as formas se é correto - tentando orar a parte da consciência sobre o pretexto de estar
orando para ser iluminado, pedindo tudo sobre seu dever, e segue adiante com pressa - TENHA
CUIDADO - você sabe que duvida da legalidade do que você se propõe, e LEMBRE que aquele
que faz duvidando é anátema.
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Assim vocês vêem, meus ouvintes, aqui está um princípio que permanecerá fiel a você quando
você trata de repreender o pecado. E o poder da sociedade é empregado para vencê-lo e botá-lo
na defensiva, para trazer uma prova absoluta da pecaminosidade da prática de algo que seja
apreciável. Lembre - a responsabilidade de apresentar PROVAS não cabe a você, para mostrar
sem dúvida a ilegalidade de alguma coisa. Se você pode mostrar razão suficiente para questionar
sua legalidade, e criar uma dúvida válida que esteja de acordo com a vontade de Deus, então
você apresenta a responsabilidade de apresentar provas para o outro lado. E a menos que
possam remover a dúvida e mostrem que não há lugar para dúvidas, não têm direito para
continuar, e se continuam, então pecam contra Deus.
Conclusão
1. O conhecimento do dever não é indispensável para a obrigação moral, senão que a possessão
dos meios de conhecimento é suficiente para fazer a pessoa responsável.
Se uma pessoa tem os meios de saber se está bem ou mal fazer algo, tem a obrigação de usar
os meios que tem para pesquisar e decidir por sua conta e risco.
2. Se foram condenados aqueles que fazem algo cuja legitimidade têm dúvidas, quanto mais se
condenaram as multidões que estão fazendo continuamente o que sabem e confessam que está
mal?
Ai daquele que pratica o que condena! E "feliz é o que não se condena naquilo que se permite
fazer".
3. Os hipócritas com freqüência tentam desculpar-se em suas dúvidas para escapar de fazer seu
dever.
O hipócrita não deseja receber mais luz, não deseja conhecer a verdade, porque não deseja
obedecer ao Senhor, e por isso se esconde em suas dúvidas, e lança a espada para a luz, e não
olha nem examina qual é seu dever, e a sua maneira trata de fugir escondendo-se da
responsabilidade. Mas Deus lhe tirará de detrás de se parapeito de mentiras, por meio dos
princípios apresentados no texto, ou seja, por suas mesmas dúvidas que o condenam.
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Há muitos que carecem de luz com respeito ao uso de bebidas intoxicantes. Não estão
convencidos de que seja mal. E se negam a ler folhetos ou artigos nos jornais, ou assistir a
reuniões em favor da temperança, por temor de que se lhes convença. Na realidade estão
decididos a permitir-se este pecado, com a esperança de esconder-se detrás de suas dúvidas.
Que melhor evidência se pode dar de que são hipócritas?
Quem nos Estados Unidos pode hoje em dia ter a menor dúvida do ilegítimo da escravidão? Com
tudo há muitos que nem querem ouvir falar deste tema, e se esquentam se é anunciado, e
chegou a ser proposto que se passem leis, tanto no norte como no sul, proibindo a discussão do
tema. Suponhamos que se passem estas leis, com o propósito de permitir a nação desculpar-se
por detrás destas dúvidas com respeito de se a escravidão é um pecado e que teria de aboli-la
imediatamente. Serviria isto para algo? De maneira nenhuma. Se continuam considerando a seus
próximos com uma propriedade na escravidão, em tanto que duvidam de sua legitimidade, se
condenam diante de Deus, e podem estar seguros que seu pecado os alcançará, e que Deus lhes
fará saber o que pensa deles.
É surpreendente considerar a loucura de alguns sobre este tema; como se ao recusar que lhes
clareiem as dúvidas podem conseguir desprender-se de seu pecado. Pensemos nas pessoas do
Sul: Há cristãos, inclusive ministros, que recusam ler um artigo sobre o tema da escravidão e
talvez, se o recebem, o devolvem com palavras insultantes ou ameaçadoras. Ameaçadoras! Por
que? Porque se trata de fazer-lhes ver qual é seu dever. Se pode demostrar de modo absoluto
que a escravidão é ilegal, e que é algo de que teriam que arrepender-se e renunciar a ela, como
de qualquer outro pecado. Porém suponhamos que eles só têm dúvidas da legitimidade da
escravidão, e não querem receber mais luz sobre este ponto. Isto lhes condena diante de Deus.
Que saibam que não podem fazer desaparecer estes fatos, que não podem desprender-se e
livrar-se deles. Enquanto tenham dúvidas de sua legitimidade, não podem reter a outros em
escravidão sem pecar; e o fato de que têm dúvidas, é demostrado no fato que se oponham a
discussão.
Podemos supor que haja alguns na parte sul do país que tenham dúvidas com respeito à
legitimidade de manter escravos e também com respeito a legitimidade de emancipá-los em seu
presente estado de ignorância e dependência. Isto cai dentro da regra do presidente Edwards, e é
seu dever não encolerizar-se contra os que lhes chamam a atenção sobre este caso, não
devolver os jornais sem querer lê-los, senão inquirir por todas partes para conseguir mais luz, e
examinar a questão sinceramente à luz da Palavra de Deus, até que todas suas dúvidas se
aclarem. E o mínimo que podem fazer, entretanto, é começar com todo seu poder e instruir aos
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escravos e educá-los com objetivo a que possam cuidar de si mesmos, tão pronto como seja
possível, e assim colocá-los em condições de dar-lhes liberdade.
5. É manifesto que há muito pouca consciência na igreja.
Basta com ver as multidões que persistem em fazer coisas sobre as que têm graves dúvidas de
se é legítimo fazê-las.
6. Há todavia menos amor a Deus que consciência.
Não se pode pretender que o amor a Deus é a causa de todas estas modas, estas liberdades e
todas as coisas sobre as que agente tem dúvidas de se são legítimas. Não persistem em fazê-las
porque amam muito a Deus. Não, não, senão que persistem em fazê-las porque querem fazê-las,
para sua própria satisfação, e preferem correr o risco de obrar mal a verificar para clarear suas
dúvidas. É pelo fato que têm pouco amor a Deus e se preocupam muito pouco com honrar a
Deus.
7. Não diga em vossas orações: "Senhor, se temos pecado nisto, perdoa-nos o pecado."
Se foi feito aquilo que cuja legitimidade você tem dúvida, pecou, tanto se o que tenha feito é bom
como se é mal. E você tem que se arrepender e pedir perdão.
E agora permita-me perguntar a todos os aqui presentes, vocês estão convencidos de que o fazer
aquilo sobre o que você tem dúvidas de se é legítimo é pecado? Se você está me falta só uma
pergunta para terminar. Você quer de uma vez abandonar aquilo sobre o que você tem dúvidas?
Toda diversão, liberdade, prática, costume! Você quer fazê-lo para não ter que se apresentar
diante do trono do juízo solene de Jesus Cristo para ser condenado? Se você não quer renunciar
a estas coisas, mostra que é um pecador impenitente e não intenciona obedecer a Deus, e se
não se arrepende, coloca sobre tua cabeça a ira e a condenação de Deus para sempre.
EGOÍSMO NÃO É RELIGIÃO VERDADEIRA
"Não busca seu próprio interesse" 2 Coríntios 13:5.
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Isto é, a caridade, o amor cristão, não busca seu próprio interesse.
O tema que penso desenvolver esta noite é o seguinte:
Que o dar consideração suprema a nossa própria felicidade não é compatível com a verdadeira
religião.
Esta proposição é naturalmente a primeira na série sobre as quais tenho trabalhado para ilustrar
as presentes mensagens, e teria sido a primeira a discutir se tivesse visto que a colocavam em
dúvida algum número considerável de cristãos declarados. Porém, posso dizer sinceramente que
quando comecei estas conferências não esperava ter nenhuma dificuldade aqui, portanto,
estabeleci que o egoísmo não é religião. E portanto tenho passado por cima deste ponto apenas
com uma leve tentativa de demostrá-lo. Porém, tenho visto que há muito cristãos professos que
defendem que a religião verdadeira tem como um de seus objetivos supremos a própria
felicidade. E penso que é necessário examinar o tema com mais cuidado, e argumentar a favor
do que creio que é a verdade. Ao estabelecer minha posição, desejo distinguir entre coisas que
são diferentes; portanto, penso:
I. Mostrar o que não se intenciona com a proposição anterior, que diz que dar consideração
suprema a nossa própria felicidade não é religião.
II. Mostrar o que isto significa.
III. Tentar demonstrá-lo.
I. Vou explicar o que não se intenciona com a proposição anterior.
1. O ponto em disputa não é se é legítimo ter em consideração a própria felicidade. Ao contrário,
se dá por admitido e mantido que uma parte de nosso dever é ter em consideração nossa
felicidade, segundo seu valor real, na escala apropriada com outros interesses. Deus nos ordena
que amemos ao próximo como a nós mesmos. Isto indica claramente nosso dever de amar a nós
mesmos com respeito a nossa felicidade, com a mesma regra que consideramos aos outros.
2. A proposição não é que não devemos considerar as promessas e ameaças de Deus como se
não afetassem a nós. É evidentemente correto considerar as promessas de Deus e as ameaças
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do mal e como nos afetam, segundo o relativo valor de nossos próprios interesses. Porém, quem
não vê que uma ameaça contra nós não é tão importante como uma ameaça contra um grande
número de indivíduos? Suponhamos uma ameaça contra você como indivíduo. É evidente que
isto não é tão sério como se incluísse também a sua família. Então, suponhamos que se estenda
a toda a congregação, ao estado, à nação e ao mundo. Aqui é fácil de ver que a felicidade de um
indivíduo, ainda que é grande, não se deve considerar como suprema.
Eu sou um ministro. Suponhamos que Deus me diz: "Se não fazes teu dever, te enviarei ao
inferno." Isto é um grande mal e tenho que evitá-lo. Porém suponhamos que me diz: "Se tua
gente não faz seu dever, todos irão ao inferno; porém se você faz seu dever fielmente,
provavelmente o resultado será que toda a congregação se salve." É reto que eu me sinta tão
influenciado pelo temor do mal a mim mesmo, como pelo medo de ter como resultado que toda a
congregação vá ao inferno? É evidente que não.
3. O ponto não é se nossos interesses eternos próprios devam ser atendidos com preferência a
nossos interesses temporais. Mantenho de modo expresso e o faço por meio da Bíblia, que
estamos obrigados a considerar nossos interesses eternos como de maior conseqüência que
nossos interesses temporais.
Por ele a Bíblia nos diz: "Trabalhai não pela comida que perece, senão para o que perdura para a
vida eterna." Isto nos ensina que temos que considerar o valor de nossos interesses temporais
como insignificantes em comparação com a vida eterna.
De modo que quando nosso Salvador diz: "Não façais tesouros na terra, onde a traça e a
ferrugem destroem, e onde os ladrões minam e roubam"; nos ordenando o mesmo dever, o de
preferir o eterno ao temporal.
Todavia outro exemplo. Quando Cristo enviou os seus discípulos de dois a dois, a predicar e
fazer milagres, regressaram felizes e entusiasmados porque inclusive os demônios os sujeitaram.
" Jesus lhes disse: Não vos alegreis porque os espíritos se vos submetem, alegrai-vos antes por
estarem os vossos nomes escritos nos céus." Aqui nos ensina que é um bem maior ter nossos
nomes escritos no céus que gozar do maior poder temporal ou autoridade, inclusive sobre os
mesmos demônios.
A Bíblia ensina por todas as partes que o bem eterno deve ser preferido em nossa conduta aos
bens temporais. Porém, isto é muito diferente de defender que nossos interesses próprios
individuais eternos é o objetivo supremo que temos que ter em consideração.
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4. A proposição não é que a esperança e o temor não devam influenciar em nossa conduta. Tudo
o que se implica é que, quando estamos influenciados pela esperança e temor, as coisas que
esperamos e tememos deverão ser postas em escala segundo seu valor real, em comparação
com os outros interesses.
5. O ponto é se as pessoas de quem nos fala a bíblia fizeram bem ao estar influenciadas em
algum grau de esperança e temor ou pela recompensa ou o gozo que tinham proposto adiante.
Isto já fica admitido. Noé foi movido pelo temor e construiu a arca. Porém, foi o temor de perecer
afogado ele mesmo, ou seja, o temor de sua própria segurança pessoal que o moveu de modo
principal? A bíblia não nos diz. Ele temeu pela segurança de sua família, e mais, temeu a
destruição de toda a raça humana, com os interesses que dependiam dele.
Sempre que se diz que um bom homem foi influenciado pelo temor ou pela esperança isto fica
admitido. Porém, para que este se ache em relação com nosso tema, tem que mostrar que esta
esperança ou temor com respeito a seus interesses pessoais era o motivo que o controlava.
Agora, isto não se afirma nas promessas e nas ameaças. Além do mais, como haveriam
obedecido, de outro modo, a segunda parte da lei: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo"?
II. Vou mostrar o que quer dizer a proposição, que a suprema consideração de nossos próprios
interesses não é conseqüente da verdadeira religião.
O ponto é se o considerar nossa felicidade como objetivo supremo é religião. E, se deveremos ter
nossa própria condenação mais que a condenação dos demais, e a desonra de Deus com ele. E
se temos que procurar nossa própria felicidade mais que felicidade de todos os demais e a glória
de Deus. E se fazemos isto, se estamos de acordo com os requerimentos da verdadeira religião
ou se isto não é compatível com a verdadeira religião. Este é o ponto exato da investigação e
desejo que o tenhamos presente de modo constante, e que não o confundamos com o outro a
que já me referi.
III. Prova da proposição.
Antes de proceder à prova da proposição, o fazer de nossa própria felicidade a consideração
suprema, não é compatível com a verdadeira religião, vou observar que toda verdadeira religião
consiste em ser no possível como Deus; em atuar nos mesmos princípios e bases, e ter os
mesmos sentimentos aos diferentes objetos. Suponho que isto não vá ser negado. Em realidade
não pode ser se temos a mente em bom estado. E logo observo como prova da proposição:
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1. Que uma consideração como objetivo de nossa felicidade não está de acordo com o exemplo
de Deus; senão que difere totalmente dele.
A bíblia nos diz que Deus é amor. Isto é, a benevolência é a suma total de seu caráter. Todos os
outros atributos morais, como a justiça, a misericórdia e outros, não são senão modificações da
benevolência. Seu amor se manifesta em duas formas. Uma que é a de benevolência, o querer
bem, o desejar a felicidade de outros. O outro é a complacência, o aprovar o caráter dos outros
que são santos. A benevolência de Deus afeta a todos os seres capazes de serem felizes. É
universal. À todos os seres Ele exerce o amor de benevolência. Em outras palavras, Deus ama a
seu "próximo" (ou seja, suas criaturas) como a si mesmo. Considera os interesses de todos os
seres, de um modo relativo a seu valor, como considera os próprios. Busca sua própria felicidade,
ou glória, como o bem supremo. Porém não porque é sua própria, senão porque é o bem
supremo ou sumo bem possível. A suma total de sua felicidade, como um ser infinito, é maior que
a suma total da felicidade dos outros seres, ou de todo possível número de criaturas finitas.
Vamos dar uma ilustração. Temos aqui um homem que é bondoso com os animais. Este homem
tem um cavalo que cai no rio. Requer a verdadeira benevolência que este homem se afogue para
tirar seu cavalo? Não! Seria uma benevolência desinteressada verdadeiramente nele, o que se
salvara ele, ainda que deixasse o cavalo que pereceria; porque sua felicidade é de muito maior
valor que a do cavalo. Isto se vê no instante. Porém, a diferença entre Deus e as criaturas é
infinitamente maior que entre o homem e o cavalo ou entre o anjo mais elevado e o inseto mais
insignificante.
Deus, portanto, considera a felicidade de todas as criaturas segundo seu valor real. A menos que
façamos o mesmo não somos como Deus. Se somos como Deus temos que considerar a
felicidade e glória de Deus baixo a mesma luz, isto é, como o bem supremo, além de tudo o que
existe no universo. E se desejamos nossa própria felicidade mais que a felicidade de Deus somos
total e infinitamente diferentes de Deus.
2. O ter a própria felicidade como o objetivo supremo não é compatível com a verdadeira religião,
porque é contrário ao espírito de Cristo.
Se nos diz: "Se alguém não tem o espírito de Cristo o tal não é dele." E isto se diz de modo
repetido dele, como homem, que não buscou seu próprio, que não buscou sua glória e outras
coisas assim. O que buscava? Era sua própria salvação pessoal? Não. Era sua própria felicidade
pessoal? Não. Era a glória do Pai e o bem do universo, por meio da salvação do homem. Veio
com uma mensagem de pura benevolência, para beneficiar ao reino de Deus, não para beneficiar
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a si mesmo. Este era "o gozo que lhe estava proposto" pelo qual "sofreu a cruz, menosprezando
a vergonha". Era este grande bem o que podia fazer que se lançasse a um grande sofrimento e
trabalho para a salvação do homem.
3. Considerar a própria felicidade como o objetivo supremo a perseguir é contrário à lei de Deus.
Já mencionei isto antes, mas aparece outra vez para redondear a presente demonstração. A
suma total da lei é: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, e de toda
tua mente, e de toda sua força; E amarás a teu próximo como a ti mesmo." Isto é o que nos
requer: benevolência a Deus e aos homens. O primeiro é realmente o amar a felicidade e glória
de Deus, diante de todas as coisas, porque é infinitamente digno de amor, desejável e é
propriamente o sumo bem. Alguns tem dito que não é nosso dever procurar a felicidade de Deus,
porque esta felicidade já é segura. Suponhamos agora que o rei da Inglaterra é perfeitamente
independente de mim, e tem sua felicidade segura sem contar comigo; me tira isto o meu dever
de desejar esta felicidade e regozijar-me nela? Que Deus seja feliz, independente de suas
criaturas, é esta uma razão pela qual não deveríamos amar sua felicidade e regozijarmos nela?
Isto me parece estranho.
De novo: Estamos obrigados pelos termos da lei de Deus a sentir complacência a Deus, porque
ele é santo, infinitamente santo.
E mais: Esta lei nos obriga a exercitar o mesmo desejo de bem ou benevolência aos outros que
exercitamos a nós mesmos; isto é, temos que buscar seus interesses e os nossos, segundo o
valor relativo dos mesmos. Quem de nós faz isto? E estamos obrigados a exercer o amor de
complacência aos que são bons e santos.
Assim que temos visto que a suma da lei de Deus é exercer benevolência a Deus e a todos os
seres, segundo seu valor relativo e complacência a tudo que é santo. Agora, digo que o
considerar nossa própria felicidade de modo supremo, ou o buscá-la como um fim supremo, é
contrário a esta lei, à letra e ao espírito. E:
4. É contrário ao evangelho como é contrário à lei.
Do capítulo em que tirei o texto lemos: "Ainda que eu fale as língua dos homens e dos anjos, se
não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o
Dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de
mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo
e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá."
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Notemos bem em que forte linguagem com que se expressa a idéia de que o amor, ou seja , a
benevolência, é essencial para a verdadeira religião. Vemos que desfaz toda classe de precaução
para assegurar-se de que não nos confundamos com respeito ao que quer dizer. Se uma pessoa
não tem amor verdadeiro, não é nada. E logo segue mostrando quais são as verdadeiras
características desse amor.. "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria,
não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda
rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta." Aqui se vê uma das peculiaridades principais deste amor e é que "não
busca seu próprio interesse". Notemos bem. Se é religião verdadeira, e se não é assim não é
religião, uma característica essencial é que "não busca o seu".
Podemos achar muitas passagens na bíblia que ensinam o mesmo. Lembremos: "O que queira
salvar sua vida, perdê-la-á." Aqui tem estabelecido o princípio do governo de Deus, que se uma
pessoa busca de modo supremo seu próprio interesse, vai perdê-lo.
O mesmo nos ensina o capítulo dez da mesma epístola, versículo 24: "Ninguém busque seu
próprio interesse, senão o do outro." E em vez de interesse podemos, da mesma forma, por
felicidade ou riqueza. De modo similar, no versículo 33 diz: "Também eu procuro agradar a todos,
de todas as formas. Porque não estou procurando o meu próprio bem, mas o bem de outros, para
que sejam salvos."
Portanto, eu digo que o fazer de nosso próprio interesse o objetivo supremo é contrário à lei e
também ao evangelho.
5. Também é contrário à consciência.
A consciência universal da humanidade tem decidido que o considerar a própria felicidade como
objetivo supremo não é virtude. Os homens sempre souberam que servir a Deus e beneficiar a
humanidade é reto, e que buscar de modo supremo o próprio interesse não é. Sempre
consideram que é mesquinho e depreciável que o indivíduo busque sua própria felicidade como
objetivo supremo e em conseqüência, tratamos com muito esforço para dissimular nosso egoísmo
e parecer benevolentes. É impossível que nenhum homem, a menos que sua consciência esteja
cauterizada pelo pecado ou pervertida por um falso ensinamento, não veja que é pecaminoso
considerar sua própria felicidade diante dos interesses que sejam de maior importância dos
outros.
6. É contrário à reta razão.
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A reta razão ensina que consideremos todas as coisas segundo seu valor real. Deus faz isto e
nós temos que fazer o mesmo. Deus nos dá a razão para este mesmo propósito. Que
ponderemos e comparemos o valor relativo das coisas. É um engano à razão negar que nos
ensina a considerar as coisas segundo seu valor real. E se é assim, preferir nosso próprio
interesse como objetivo supremo é contrário à razão.
7. É contrário ao sentido comum.
O que tem decidido o sentido comum da humanidade a respeito disso? Considere o sentido
comum da humanidade com respeito ao que se chama patriotismo. Nenhum homem tem sido
considerado como verdadeiro patriota, ao lutar por seu país, se seu objetivo tem sido secundário
a seus próprios interesses. Suponhamos que o objetivo de sua luta fosse que o coroassem rei;
daria alguém crédito a seu patriotismo? Não. Todos os homens estão de acordo que o patriotismo
se vê quando o homem é desinteressado, como por exemplo Washington, que luta por seu país
por amor. O sentido comum da humanidade tem mostrado a sua reprovação do espírito que
busca seu próprio interesse sem considerar os interesses dos outros. É evidente que todos os
homens pensam isto. De outro modo, por que nos mostramos tão ansiosos de parecer
desinteressados?
8. É contrário à constituição da mente.
Eu não digo que seja impossível por nossa constituição buscar nosso próprio interesse como
objetivo supremo. Senão que estamos constituídos de modo que se o fazemos, nunca o
conseguimos. Como já disse antes, a felicidade é a satisfação do desejo. Temos que desejar algo
e obter o objeto de nosso desejo. Agora, suponhamos que um homem deseja sua própria
felicidade, o objeto desse desejo tem que estar sempre diante dele, como sua sombra, e quanto
mais ansiosamente o persegue mais rapidamente foge. A felicidade está inseparavelmente unida
à conseqüência do objeto desejado. Suponhamos que desejo mil dólares. Isto é algo em que se
aplica o meu desejo, e quando o consigo estou satisfeito até que consigo estas coisas. Mas
suponho que o desejo é minha própria felicidade. O obter os mil dólares não vai fazer-me feliz,
porque este não é o ponto em que se aplica o meu desejo. E o mesmo é obter o relógio, ou o
vestido, não vai fazer-me feliz, porque não satisfaz meu desejo. Deus constituiu as coisas, deu
tais leis a nossa mente, que nunca podemos obter felicidade perseguindo-a. Esta mesma
constituição claramente indica o dever da benevolência desinteressada. Na realidade Deus fez
impossível que o homem seja feliz exceto na proporção em que é desinteressado.
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Aqui temos a dois homens andando por uma rua juntos. Chegam a um homem que foi atropelado
por um carro e jaz ferido. O levam ao médico. É evidente que a satisfação dos dois estará em
proporção a intensidade de seu desejo de aliviar-lhe. Se um deles sentia pouco interesse e se
preocupava pouco pelos sofrimentos do atropelado sua satisfação seria pequena. Mas se o
desejo do outro de ajudá-lo chegava à agonia, a satisfação deste será na mesma proporção.
Suponhamos agora a um terceiro que não tem desejo de aliviar ao desgraçado; o ajudar, para
este, não será causa alguma de satisfação. Passará de lado e o deixará morrer. Portanto, vemos
que a felicidade está em proporção ao desejo e a satisfação do mesmo.
Aqui observamos que para fazer a felicidade do desejo satisfeito completo, o desejo em si deve
ser virtuoso. De outro modo, se o desejo é egoísta, a satisfação será misturada com dor pelo
conflito mental.
Que tudo isto é verdade, é algo que podemos observar em nós mesmos, e podemos ter dele um
testemunho pessoal. E o negá-lo é o mesmo que acusar a Deus de ter nos dado uma constituição
que não nos permite ser felizes ao obedecer-Lhe.
9. Não é compatível tampouco com nossa própria felicidade, o fazer de nosso interesse o objetivo
supremo. Isto se segue do que já dissemos. Os homens desfrutam de um certo grau de prazer,
mas não de verdadeira felicidade. O prazer que não procede da satisfação de um desejo virtuoso
é uma ilusão enganosa. A razão pela qual a humanidade não acha a felicidade é que se afobam
por ela, a buscam. Se buscassem a glória de Deus e o bem do universo como fim supremo, a
felicidade os perseguiria.
10. Não é compatível com a felicidade pública. Se cada indivíduo procurasse como objetivo
supremo sua própria felicidade, estes interesses acabariam em conflito, chocariam, se seguiria
uma confusão e guerra universal como conseqüência do egoísmo universal.
11. Manter que o objetivo supremo de nosso interesse é religião verdadeira é contradizer a
experiência de todos os verdadeiros santos. Confesso que todo verdadeiro santo que conheço se
esforça para sair de si mesmo e considerar a glória de Deus e o bem dos outros como seu
objetivo supremo. Se não sabe isto, é porque não é santo.
12. Não é compatível tampouco com a experiência de todos os que tiveram uma religião egoísta,
e que ao encontrarem sua equivocação, procuraram religião verdadeira. Isto é uma ocorrência
comum. Eu conheci centenas de casos. Alguns membros desta igreja fizeram recentemente esta
mesma descoberta; e podem testificar por sua própria experiência, que a benevolência é a
verdadeira religião.Página | 78
13. É contrário à experiência de todos os impenitentes. Todo pecador impenitente sabe que seu
objetivo supremo é o fomento de seus próprios interesses e sabe que isto não é verdadeira
religião. Aquilo pelo que sua consciência o condena é isto: que considera seu próprio interesse
em vez da glória de Deus.
Agora, por um momento, demos volta à folha e admitamos que o supremo interesse por nossa
própria felicidade é a verdadeira religião; o que se segue disto.
1. Se é assim, Deus não é santo. Isto é, se o supremo interesse próprio é a nossa verdadeira
religião, segue que Deus não é santo. Deus considera sua própria felicidade, mas porque é o
maior bem, o sumo bem, não porque é sua. Mas Ele é amor ou benevolência; e se a
benevolência deixou de ser a verdadeira religião, então a natureza de Deus mudou.
2. A lei de Deus deve ser alterada. Se uma consideração suprema a nossa própria felicidade é
religião, então a lei deveria dizer: "Amarás a ti mesmo de todo coração e de toda tua alma, e de
toda tua mente, e com toda tua força, e a Deus e a teu vizinho infinitamente menos que a ti
mesmo".
3. O evangelho deve ser posto ao revés. Em vez de dizer: "Quer comais quer bebais, ou qualquer
outra coisa que fazeis, faça-o para a glória de Deus", deveria dizer: "Tudo o que façais faça-o
para vossa própria felicidade." E em vez de "O que queria salvar sua vida perder-la-á", deveria
dizer: "O que está ansioso de modo supremo por salvar sua vida, a salvará; mas o que é
benevolente, e disposto a perder sua vida pelos outros, a perderá".
4. As consciências dos homens deveriam ser mudadas de modo que testificarão a favor do
egoísmo e condenarão e reprovarão aquilo que soar como benevolência desinteressada.
5. A reta razão deve ser mudada para que não pese as coisas segundo seu valor relativo, senão
que decida a favor de nossos pequenos interesses como mais importantes que os de Deus e do
universo.
6. O sentido comum terá que decidir que o verdadeiro patriotismo consiste em que cada um
busque seu próprio interesse em vez do bem público e que cada um se favoreça tanto como
possa.
7. Tem que mudar a constituição humana. Se o supremo egoísmo é uma virtude, a constituição
humana está equivocada. Está feita de modo que possa ser feliz só sendo benevolente. Se esta
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doutrina é verdadeira e a religião consiste em buscar cada um sua própria felicidade como um
bem supremo, então quanto mais religião tem um homem mais desgraçado é.
8. E terá que mudar todo o marco da sociedade. Agora, o bem da comunidade depende da
extensão em que cada um considera o interesse público. E se esta doutrina é válida, tem que
mudá-la de modo que o bem público seja favorecido quando cada um considere como principal
seu próprio interesse sem consideração ao dos outros.
9. A experiência dos santos terá que ser invertida. Em vez de achar que quanto mais
benevolentes são mais religião têm e mais felicidade, tal como é agora, terão que testificar que
quanto mais procuram seu próprio bem, mais gozam da religião e do favor de Deus.
10. O pecador impenitente deverá testificar que é supremamente feliz com o máximo egoísmo, e
que encontrou a verdadeira felicidade nele.
Não temos que prosseguir provando mais, seria trivial. Com estas provas já basta, para
chegarmos à conclusão que nossa felicidade perseguida como objetivo supremo é algo
incompatível com a verdadeira religião.
Conclusão
1. Vemos porque, ainda que todos persigam sua própria felicidade, poucos a encontram.
O fato é claro. A razão é esta: a maior parte da humanidade não sabe em que consiste a
verdadeira felicidade, e a buscam onde não podem achá-la nunca. Não a encontram porque a
perseguem. Se volvessem e perseguissem a santidade, a felicidade perseguiria a eles. Se
escolhem a felicidade como objetivo, esta se escapa diante deles. A verdadeira felicidade
consiste na satisfação dos desejos virtuosos; e se eles procurassem glorificar a Deus e fazer o
bem, a encontrariam. A única classe de pessoas que nunca acham, neste mundo ou no vindouro,
são os que a buscam como objetivo.
2. A constituição da mente humana e do universo nos proporciona uma formosa ilustração da
economia de Deus.
Suponhamos que o homem pudesse achar a felicidade só perseguindo sua felicidade própria.
Então cada indivíduo teria só a felicidade que ganhasse, e toda a felicidade no universo seria só a
suma total do que os indivíduos tivessem conseguido, contrastada com a dor e miséria causadas
pelos interesses conflitantes. Agora, Deus constituiu as coisas de tal forma que, enquanto cada
um está procurando a felicidade dos outros, a sua própria fica assegurada e é completa. Quanto Página | 80
mais vasta e grande é a quantidade no universo, do que seria se o egoísmo houvesse sido a lei
no reino! Porque cada um que obedece a lei de Deus assegura a sua própria felicidade por sua
benevolência e a felicidade do conjunto é incrementada pela quantidade que recebeu de cada um
dos demais.
Muitos dizem: Quem procurará minha felicidade se não a faço eu? Se eu cuido só dos interesses
do próximo e descuido dos próprios, ninguém será feliz." Isto seria verdadeiro se o cuidar da
felicidade do próximo fosse em deterioração da própria. Mas se nossa felicidade consiste em
fazer bem e promover a felicidade dos outros, quanto mais conseguirmos para os outros, mais
fomentaremos a própria.
3. A consideração de nosso próprios interesses como objetivo supremo é egoísmo e nada mais.
Seria egoísmo em Deus se considerasse seu interesse de modo supremo por ser seu. E é
egoísmo no homem. Manter que uma consideração suprema a nossos interesses é verdadeira
religião sustém que o egoísmo é a religião verdadeira.
4. A consideração de nossos próprios interesses como objetivo supremo é egoísmo e nada mais.
Seria egoísmo em Deus se considerasse seu interesse de modo supremo por ser seu. E é
egoísmo no homem. Os que mantém que uma consideração suprema a nossos interesses por
cima dos interesses de Deus, dando preferência e colocando-os em oposição aos interesses de
Deus é egoísmo. E se isto é virtude, então Jesus Cristo, ao buscar o bem da humanidade, como
fez, se apartou dos princípios da virtude. Quem vai defender isto?
5. Os que consideram seus próprios interesses como supremo objetivo e pensam que têm
verdadeira religião se enganam. Digo isto solenemente, porque creio que é verdade, e o diria
ainda que esta fosse a última palavra que pudesse dizer antes do juízo. Ouvinte, qualquer que
seja, se está fazendo isto, não é cristão. Não diga que eu critico. O que faço é denunciar. Mas se
Deus é verdadeiro, e com a mesma segurança que tua alma irá ao juízo, te digo que não tem a
religião da Bíblia.
6. Alguns perguntarão: O que? Não temos que ter em consideração nossa própria felicidade?, e
se é assim, como temos que decidir se é suprema ou não? " Eu não digo isto. Digo que você
pode considerá-la segundo seu valor relativo. E agora, pergunto: Tem alguma dificuldade prática
aqui? Apelo às consciências. Você sabe bem, se é sincero, que é o que valoriza mais. Estão
esses interesses, teus próprios interesses por um lado e a glória de Deus e o bem do universo
por outro, tão equilibrados na tua mente que não sabes qual preferir? É impossível! Se você não
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é consciente de que prefere a glória de Deus a teus próprios interesses, como esta seguro de que
você existe, pode dar por garantido que você está equivocado.
7. É porque o gozo de muitos que professam religião depende de suas evidências. Estas pessoas
estão constantemente buscando segundo a evidência; e em proporção a sua variação, seu gozo
aumenta e diminui. Agora, se verdadeiramente consideram a glória de Deus e o bem da
humanidade, seu gozo não dependeria de suas evidências. Os que são puramente egoístas,
podem gozar muito na religião, mas é por antecipação. A idéia de ir ao céu é agradável para eles,
mas os que saem de si mesmos e são puramente benevolentes, têm um céu dentro de seu peito.
8. Como você vê aqui, todos os que não têm paz e gozo na religião antes de terem esperança
estão enganados. Talvez posso dar uma idéia da vossa experiência. Você foi despertado, e
afligido, como é natural que fosse, pelo temor de ir ao inferno. Pouco a pouco, talvez enquanto
você estava ocupado em oração, ou quando alguém conversou com você, a angústia
desapareceu de você. Você pensou que seus pecados foram perdoados. Um raio de esperança
entrou na sua mente, e você sentiu arder o coração; isto você tomou por evidência, e aumentou
ainda mais o gozo. Quão diferente é a experiência do verdadeiro cristão! Sua paz não depende
de sua esperança, senão que a verdadeira submissão e a benevolência produzem gozo e paz,
independentemente da esperança.
Suponhamos o caso de um homem na cadeia, condenado a ser enforcado no dia seguinte. Está
angustiado, andando em sua cela, esperando o dia. Mas chega um mensageiro com um perdão.
O preso toma o papel, o aproxima da luz da grade, lê a palavra "perdão" e quase desmaia de
emoção e salta de alegria. Ele assume que o papel é autêntico. Agora suponhamos que se trata
de uma falsificação. De repente todo o seu gozo desaparece. O mesmo caso é o da pessoa
enganada. Estava temendo ir ao inferno e naturalmente se regozija ao saber que foi perdoado.
Suponhamos que o diabo lhe diz, e ele crê, o gozo seria igualmente grande, contanto que creia
como uma realidade. O gozo do verdadeiro crente não depende da evidência. Se submete a mão
de Deus com tal confiança que este mesmo ato o dá paz. Teve um terrível conflito com Deus,
mas cedeu na controvérsia e de repente diz: Deus fará o que deve fazer, que Deus faça o que
quiser." Então começa a orar, está acalmado e em paz diante de Deus, e este mesmo ato lhe dá
uma calma e um gozo celestial. Talvez não tenha pensado na esperança. Talvez pode seguir
durante horas, um dia ou dois, cheio do gozo de Deus, sem pensar em sua própria salvação. Se
lhe pergunta se tem esperança nunca pensaram nisso. Seu gozo não depende de crer que foram
perdoados, senão que é um estado mental, um estar conforme com o governo de Deus. Neste
estado mental é impossível que não seja feliz.
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Deixe-me perguntar outra vez: Que religião você tem? Se você exercita a verdadeira religião,
suponhamos que Deus te pusesse no inferno e te deixasse exercer ali teu supremo amor a Deus
e o mesmo amor a teu próximo como a ti mesmo; pois bem, isto em si mesmo seria um estado
mental incompatível com o sentir-se desgraçado.
Quero que me entenda bem. Os que buscam a esperança sempre ficarão decepcionados. Se
você corre atrás da esperança, nunca terá uma boa esperança de nada. Mas se prossegue à
santidade, a paz e o gozo virão como resultado. É tua religião um amor à santidade, o amor de
Deus e às almas? Ou é só uma esperança?
9. Nisto se vê porque os pecadores ansiosos não encontram a paz.
Estão sempre olhando a sua própria culpa e perigo. Estão olhando a Deus como um Deus
vingador e se retraem de seu próprio terror. Isto lhes fará que alcançar a paz seja impossível.
Enquanto consideram a ira de Deus, que lhes faz tremer, não podem amá-lo, só podem tratar de
esconder-se dEle. Pecador ansioso, deixe-me te dizer um segredo. Se você segue olhando para
esta característica do caráter de Deus, você vai se conduzir ao desespero, e isto é incongruente
com a verdadeira submissão. Se você olha a todo seu caráter, e vê as razões pelas quais deve
amá-lo, e se lança a Ele sem reserva e sem desconfiança; e em vez de fugir dEle, vai diretamente
a Ele e lhe diga: Oh Pai celestial, não és inexplorável, és soberano, mas bom; me submeto ao
seu governo e me entrego a ti com tudo o que sou, corpo e alma, para o tempo da eternidade."
FALSOS PROFESSOS
TEXTO "Temiam a Jeová e honravam a seus deuses" (2 Reis 17:33)
Quando as dez tribos de Israel foram levadas cativas pelo rei da Assíria, seu território foi ocupado
por estrangeiros de diferentes nações idólatras, que não sabiam nada da religião dos judeus.
Assim que aumentaram os animais selvagens no país e os leões devoraram grande número de
pessoas, e eles pensaram que era porque não conheciam ao deus do país, e, portanto, sem
saber, haviam transgredido sua religião, e o haviam ofendido, e como resultado este deus lhes
havia enviado leões para castigar-lhes. Por isso fizeram um pedido ao rei e este lhes disse que se
procurasse um dos sacerdotes dos israelitas para que lhes ensinasse os costumes do deus da Página | 83
terra. Eles seguiram o conselho e conseguiram que um dos sacerdotes fosse a Betel e lhes
ensinasse as cerimônias religiosas e os costumes e ritos que tinham sido praticado ali. E lhes
ensinou também a temer a Jeová, como Deus daquele país. Mas contudo não lhe receberam
como seu Deus. O temiam, isto é, temiam sua ira e seus juízos, e os evitavam, executando os
ritos prescritos. Mas eles "serviam" a seus próprios deuses. Continuaram em seu culto idólatra, e
isto era o que queriam e preferiam, ainda que se sentissem obrigados a apresentar seus
respeitos e prestar reverência a Jeová como Deus do país. Há todavia multidões de pessoas que
professam temer a Deus, e que talvez sentem, até certo ponto, o temor de Deus, os quais, no
entanto, servem a seus próprios deuses, ou seja, dedicam seus corações de modo supremo a
outras coisas e há outros objetivos nos quais põem principalmente sua confiança.
Como se sabe, há duas classes de temor. Há o temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria,
e que se funda no amor. Há também o temor do escravo, que é o mero temor ao mal pessoal ou
dano, e que é puramente egoísta. Esta é a classe de temos que possuíam estes povos de que
nos fala o texto. Temiam que Jeová lhes enviasse seus juízos, se não executassem certos rituais,
e este era o motivo pelo que Lhe prestavam adoração. Todos os que têm este temor são
surpreendentemente egoístas, e ainda que professem reverência a Jeová, eles têm outros
deuses que amam e servem.
Há várias classes de pessoas das quais se pode aplicar isto, e meu objetivo esta noite é
descrever algumas delas, de tal forma que todos os que estão aqui, e possuem este caráter,
possam reconhecer-se e ver porque seus próximos conhecem e entendem seus verdadeiros
caráteres.
O servir a uma pessoa é ser obediente a sua vontade e dedicar-se aos interesses deste indivíduo.
Não se trata propriamente de servir nos casos em que só se executam certos atos, sem entrar no
serviço de uma pessoa, senão que o servir é fazer que a ocupação de alguém seja fazer a
vontade e procurar que prosperem os interesses da pessoa. O servir a Deus é fazer da religião o
assunto principal da vida. É dedicar o próprio coração, a vida, as potências, o tempo, a influência,
tudo, para fomentar os interesses que aumentem a glória de Deus. Quem são os que,
professando temer ao Senhor, estão servindo a seus próprios deuses?
Contesto: primeiro, todos os que não renunciaram de modo sincero e prático a propriedade de
suas possessões e as entregou para Deus.
É evidente por si mesmo que o que não fez isto não está servindo a Deus. Suponhamos que um
senhor deseja ocupar um empregado para que cuide de sua tenda e suponhamos que o
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empregado queira seguir atendendo a seu próprio negócio, e quando o amo diz ao empregado o
que tem que fazer, este replica: "Tenho tanto o que fazer com meu próprio negócio que não
posso fazer-me cargo disto" Não nos assombraríamos de um empregado assim, que recebe seu
salário mas não serve a seu amo? Do mesmo modo, quando um homem não renunciou a
possessão de si mesmo, não só em pensamento, senão praticamente, não tomou as primeiras
lições de religião. Não está servindo ao Senhor, senão que serve a seus próprios deuses.
2. O homem que não se ocupa do que lhe corresponde como parte de sua religião, não serve a
Deus.
Ouve-se às vezes alguém dizer: Estou tão ocupado todo dia nos negócios do mundo que não
tenho tempo de servir a Deus. Esse tal crê que serve a Deus um pouco pela manhã, e logo
atende a seu negócio. Este homem, vocês podem estar bem seguro, deixou sua religião assim
que disse suas orações. Está disposto, talvez, a dar a Deus um pouco de tempo antes do café da
manhã, antes de ocupar-se de seu próprio negócio; mas tão pronto como terminou vai para a sua
própria tarefa. Teme a Deus bastante, talvez para fazer suas orações pela manhã e pela noite,
mas serve a seus próprios deuses. A religião deste homem faz os demônios sorrirem. Ora muito
devotadamente, e logo, em vez de ocupar-se dos negócios de Deus, se ocupa dos próprios. Não
há dúvida que seus ídolos estão muito satisfeitos com este arranjo, mas Deus não está
complacente com isto.
3. De novo estão servindo a seus próprios deuses os que dedicam a Jeová o que lhes custa
pouco ou nada.
Há muitos que fazem consistir a religião em certos atos de piedade que não interfiram com seu
próprio egoísmo. Oram pela manhã com a família, porque podem fazê-lo quando é conveniente,
mas não permitem que o serviço de Jeová interfira com o serviço de seus deuses, ou que ponha
travas a que se enriqueçam ou gozem do mundo. Os deuses que vocês servem não se queixam
de vocês serem desvairados ou negligentes nos serviços que vocês prestam a Jeová.
4. Estão servindo a seus próprios deuses todos os que supõem que os seis dias da semana
pertencem a eles, e que só o Domingo é para o Senhor.
São milhares os que supõem que a semana é o tempo do homem, e só o Domingo é de Deus; e
que têm direito a fazer seu próprio trabalho durante a semana, e servir a si mesmo, e fomentar
seus próprios interesses contanto que guardem de modo estrito o Domingo e sirvam ao Senhor
neste dia. Por exemplo: um célebre predicador, ao ilustrar a maldade de quebrantar o dia de
repouso usou esta ilustração: "Suponhamos que um homem, que tem sete dólares no bolso, Página | 85
encontra a um mendigo em grande necessidade e lhe dá seis dólares, guardando-se um para ele;
e que o mendigo, vendo que o outro ficou com este dólar, às escondidas, fosse e o roubasse; não
depreciaria em vosso coração ao mendigo por sua atitude indigna?" Como se vê, se da a idéia de
que é muito mal agradecido o quebrantar o dia do Senhor posto que Deus deu seis dias ao
homem para ele, para servir a si mesmo e só se reservou o Domingo para Ele, e o roubar a Deus
o sétimos dia é uma ingratidão depreciável.
O que faz isso não serve a Deus em absoluto. Se você é egoísta durante a semana, você é em
toda ela. O supor que você tem piedade verdadeira implicaria que é um convertido durante o
Domingo e um não convertido a partir de Segunda. Se um homem se serve a si mesmo durante a
semana e realmente possui religião durante o domingo, isto só é possível se converter o domingo
para ele. Mas é esta a idéia do domingo? O que é um dia para servir a Deus em exclusão dos
outros? Está Deus necessitado de teus serviços no domingo para que siga funcionando o
universo? Deus requer todos nossos serviços tanto os seis dias da semana como no domingo, só
que designou o domingo para uns deveres particulares, e requer sua observância como dia de
repouso e abstinência de todo trabalho corporal e de todos os cuidados e fadigas que afetam este
mundo presente. Mas como Deus usa meios para realizar seus propósitos, e os homens têm
corpos além das almas, e o evangelho deve ser estendido e mantido com coisas desse mundo,
por isso Deus requer que trabalhes todos os seis dias em teu emprego secular. Mas tudo é para
seu serviço, o mesmo que o culto de adoração do domingo. O domingo não é dado para que
sirvamos a Deus mais que na segunda. Você não tem mais direito a servir a você mesmo na
segunda que no domingo. Se alguém não considerou assim este assunto, e imaginou que os seis
dias da semana eram seu tempo, mostra que é supremamente egoísta. Te peço que não
consideres que, nem na oração nem no dia do domingo, estais servindo a Deus em absoluto se o
resto da semana o consideras tempo para servir-se exclusivamente a você mesmo. Não
conheceu nunca o princípio radical de servir ao Senhor.
5. Os que se servem a si mesmos, ou seus deuses, não querem fazer nenhum sacrifício de
comodidade ou bem estar pessoal na religião.
Por exemplo, há muitos que objetam contra as igrejas livres (ou seja não oficiais, senão abertas
ao evangelho) sobre esta base, porque requerem fazer sacrifícios da satisfação pessoal. Dizem:
"Queremos estar sentados com nossas famílias" ou "Queremos que nossos assentos estejam
estofados" ou "Nós gostamos de sentar no mesmo lugar". Estes admitem que é necessário que
haja igrejas livres, a fim de que o evangelho seja predicado aos milhares que vão ao inferno nesta
cidade. Mas eles pessoalmente não estão dispostos a fazer estes pequenos sacrifícios, à
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comodidade pessoal, para abrir as portas da casa de Deus a esta massa de pecadores
impenitentes.
Estas pequenas coisas indicam às vezes muito claramente o estado do coração do homem.
Suponhamos que um criado teu te dissesse: "Não posso fazer isto porque interfere com meu
conforto pessoal." Não pode de faze-lo porque ele gosta de estar sentado em uma almofada. Ou
não pode faze-lo porque isto lhe separaria de sua família durante uma hora e meia. O que? É isto
prestar serviço? Quando um homem entra em serviço renuncia a seu bem estar e comodidade,
com olhos a servir a vontade de seu amo. Podemos pensar que se dedica de modo supremo ao
serviço de Deus, o que mostra que sua própria comodidade lhe é mais cara que o reino de Jesus
Cristo, e que preferiria sacrificar a salvação dos pecadores do que o estar sentado em um banco
duro ou estar separado de sua família durante uma hora ou duas?
6. Servem a seus próprios deuses os que dão seu tempo ou dinheiro quando apresentam a
oferta, de má vontade, por obrigação, e não com a mente disposta e com o coração alegre.
O que diria de teu servo se tivesse que estar despertando-o constantemente para que fizesse
algo em benefício seu? Dirá que é um servo cuidadoso? Quantos há que quando fazem algo para
a religião o fazem de má vontade? Custa para eles faze-lo. Se vai a um destes indivíduos e
queres que te dê dinheiro ou tempo em favor de um projeto, é muito difícil conseguir que te dê.
Parece que lhes vem um algo contra e que não é natural nele o faze-lo. É claro que não
considera os interesses do reino de Cristo na mesma medida que os dele próprios. Pode ter algo
do temor do Senhor, mas "serve" a outros deuses dele próprio.
7. Os que estão procurando fazer o menos possível pela religião, em vez do máximo, estão
servindo a seus próprios deuses.
Há multidões de pessoas que parece que sempre estão perguntando-se qual é o mínimo que
podem fazer por Deus, sem que seja demasiado pouco. Ouve-se a um indivíduo que faz suas
contas da renda do ano e se diz: "Fiz tanto este ano - vou dar tanto para beneficência &endash;
terei que dar tanto para a religião" (TER QUE dar para os interesses da religião) "tanto perdido
pelo fogo e tanto por más dívidas". E daí por diante. Está esse homem servindo a Deus? A idéia
de "ter que" não é a mais apropriada para servir a Deus. É um fato evidente que você nunca
colocou em seu coração o oferecer o que for possível para fomentar a religião no mundo. Se
tivesse feito, você se perguntaria: "Quanto posso dar este ano? Talvez possa dar tanto, ou,
melhor ainda, TANTO!".
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8. Os que estão acumulando riquezas para sua família, para aumentar seu poder, estão servindo
a seus próprios deuses e não a Jeová.
Os que estão procurando riqueza para suas famílias a uma esfera mais elevada, acumulando
riquezas para eles, mostram que têm como objeto de sua vida algo diferente que contribuir a por
este mundo baixo a autoridade de Jesus Cristo. Têm outros deuses aos que servem. Podem
fazer ver que têm ao Senhor, mas estão "servindo" a seus próprios deuses.
9. Os que estão fazendo que o objetivo de sua vida seja o acumular propriedades para poder
retirar-se do negócio e viver confortavelmente estão servindo a seus próprios deuses.
Há muitas pessoas que professam ser servos de Deus, mas que estão esforçando-se em
aumentar suas propriedades, e calculam retirar-se a uma casa no campo ou junto ao mar, a sua
conveniência. O que quer dizer isto? Te deu Deus direito a um perpétuo repouso, tão pronto
como tenha uma certa quantidade de dinheiro? Te disse Deus quando professaste entrar em seu
serviço, que trabalharia um certo número de anos e que logo gozarias de umas férias contínuas?
Te prometeu desculpar-se de fazer tudo o que possa de teu tempo e de teu talento, e que te
deixaria viver em comodidade no resto de seus dias? Se em tuas idéias estás fazendo estes
planos, posso dizer-te que não está servindo a Deus senão a teu próprio egoísmo e tua preguiça.
10. As pessoas que estão servindo a seus próprios deuses, preferem satisfazer seus próprios
apetites que negar-se a si mesmos as coisas que são desnecessárias ou danosas ainda que seja
com olhos ao bem.
Encontram-se pessoas que têm grande afeto a coisas que não lhes fazem nenhum bem, e
também outras formas de apetites artificiais por coisas que são positivamente repulsivas, e
seguem atrás delas e não há maneira de convencer-lhes de que as abandonem para seu próprio
bem. Estão estas pessoas absorvidas no serviço de Deus? Como é possível que não haja
maneira de convencer a alguns que abandonem o vício asqueroso de mascar TABACO? Uma
erva má, prejudicial à saúde e repugnante à sociedade; não podem abandona-la, nem que lhes
custe a morte!
Como é possível que o egoísmo predomine em tais pessoas? Isto mostra uma assombrosa
capacidade para o egoísmo. Com freqüência se vê a força do egoísmo em coisas pequenas
melhor que nas maiores. É feita evidente que a satisfação ou prazer próprio é a lei da vida, de
modo tão forte que não quer ceder nada, inclusive insignificâncias, ante aos interesses muito
maiores pelos que um teria que estar disposto a dar a própria vida.
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11. As pessoas que podem ser mobilizadas a ação mais facilmente quando se apela a seus
próprios interesses egoístas, mostram que estão servindo a seus próprios deuses.
Pode-se ver quais são os motivos que influenciam a estes homens. Suponhamos que desejas
que alguém contribua para a edificação de uma igreja? O que pode se fazer para convence-lo?
Fácil de fazer: se lhe mostra que isto vai melhorar o valor de sua propriedade, ou fazer progresso
no seu partido ou satisfazer alguma tendência sua egoísta, de alguma forma. Caso é estimulado
por estes motivos, mais que pelo desejo de salvar almas que se perdem e fazer progredir o reino
de Cristo, podes ver que nunca se consagrou a servir ao Senhor. Todavia está servindo a si
mesmo. Está mais influenciado por seus interesses egoístas do que pelos princípios da
benevolência sobre os que se baseia a religião. O caráter de um verdadeiro servo de Deus é
exatamente o oposto a este.
Consideremos o caso de dois servos ou empregados, um deles dedicado aos interesses de seu
amo, e o outro sem consciência ou sem interesse, exceto em assegurar-se o salário. Pode-se ir
ao primeiro e pedir-lhe algo e imediatamente deixará toda classe de considerações pessoais, e de
todo coração e alma se entregará a conseguir teu objetivo. O outro não atuará a menos que seja
por algum motivo egoísta, a menos que digas: "Vou aumentar teu salário ou te dar participação
no negócio", etc. Há uma diferença radical entre estes dois empregados, não é verdade? Não é
isto uma ilustração que tem seu lugar em nossas igrejas? Proponha um plano para fazer bem que
não custe nada, e todos estarão de acordo em segui-lo. Mas proponha um plano que requeira,
para entrar em efeito, que eles contribuam ao mesmo de modo pessoal: com dinheiro ou com
tempo, e verás que de imediato está todo mundo dividido. Alguns duvidam; outros apresentam
objeções; outros declaradamente se opõem ao mesmo. Alguns se alistam ao ponto, porque
sabem que podem fazer bem. Outros se retraem e encontram desculpas, até que encontra um
meio de estimular seu egoísmo em favor do plano. Qual é a diferença? Alguns deles estão
servindo a seus próprios deuses.
12. Pertencem a este grupo também os que estão mais interessados em outros temas que na
religião.
Se você encontra que estão mais dispostos a falar de outros assuntos ou mais interessados para
saber novas notícias, é que estão servindo a seus próprios deuses. Há multidões que se
entusiasmam numa questão bancária, ou sobre a guerra, ou sobre um incêndio, ou algo de
natureza mundana muito mais que sobre avivamentos, missões ou o que seja relacionado com os
interesses da religião. Você encontra que estão absorvidos na política ou na especulação
econômica; mas se lhes traz o tema da religião, aqui temem ou se abstém de mostrar muita
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emoção, isto mostra que este é um tema que não levam no coração. Um homem sempre se
entusiasma mais sobre o tema que tem mais próximo de seu coração. Menciona-o estes outros
temas e abrirá os olhos com atenção. Quando você vê que prefere a política ou as notícias como
tema de conversação mais do que a religião, é que seu coração não está nela; e caso queira
mostrar que é um servo de Deus, é porque é um hipócrita.
13. Quando uma pessoa sente mais zelo por sua própria reputação do que pela glória de Deus,
mostra que vive para si mesma, que serve a seus próprios deuses.
Se virmos a um homem mais importunado por algo que se diga contra ele do que contra Deus; a
quem serve? Qual é seu Deus, ele mesmo ou Jeová? Aqui temos um ministro que se altera
porque foi criticado sua erudição ou sua infalibilidade, ou sua dignidade, enquanto se mostra frio
como gelo quando se acumulam indignações contra o nome de Deus. É este homem um seguidor
de Paulo, que estava disposto a ser considerado um néscio pela causa de Cristo? Começou este
homem a aprender as primeiras lições sobre a religião? Se o fez, se regozijará de que seu nome
seja reprovado pela causa da religião. Não! Não está servindo a Deus; Está servindo a seus
próprios deuses.
14. Os que estão servindo a seus próprios deuses e que não estão fazendo da salvação de almas
o grande objetivo e ponto diretor de suas vidas.
O fim de todas as instituições religiosas, e o que dá valor a todas elas é a salvação dos
pecadores. O fim para o que Cristo vive, e pelo qual deixou sua igreja no mundo, é a salvação
dos pecadores. Este é um assunto que lhes interessa aos servos de Deus, e aos que foram
enviados, e se algum homem não faz disto seu objetivo principal não está servindo a Jeová,
senão que serve a seus próprios deuses.
15. As pessoas que só fazem um pouco para Deus, ou que não dão lugar a que ocorra muito para
Deus, não pode dizer-se propriamente que o servem.
Suponhamos que você é um servo professo de Deus. O fazes por Deus? Está procurando que
aconteçam coisas favoráveis para a causa de Deus. Você é instrumento na conversão de algum
pecador? Você está fazendo boa impressão em favor da religião ou ajudando ao progresso da
causa de Cristo? Você replica: "Isto eu não sei, mas suponho que sim; às vezes creio que amo a
Deus; mas que eu saiba não sei se estou fazendo nada em particular neste momento." Está este
homem servindo a Deus? Ou está servindo a seus próprios deuses? "Estou falando aos
pecadores &endash; diz -, mas eles não parecem muito interessados." Então é porque você NÃO
SENTE INTERESSE. Se teu coração não está nisso, não é estranho que você não possa fazer Página | 90
sentir nada aos pecadores. No entanto, se fazes teu dever, e tens teu coração na obra, os
pecadores têm que pelo menos senti-lo.
16. Os que buscam a felicidade na religião, antes de procurarem serem úteis, estão servindo a
seus próprios deuses.
Sua religião é inteiramente egoísta. Querem gozar da religião, e estão todo tempo procurando
como podem conseguir manter-se de bom humor, e como podem conseguir que suas atividades
religiosas sejam prazeirosas. E só vão ir a uma certa classe de reuniões, e estarão presentes só
quando haja um certo tipo de pregação que os deixe contentes; nunca fazem uma pergunta sobre
qual é a maneira em que se pode ajudar melhor a outros. Agora bem, suponhamos que teu
empregado fizesse isto, e que se estivesse esforçando constantemente para divertir-se e cresse
que já faz o que deve estando fechado na sala, num sofá, com um travesseiro debaixo da
cabeça, e recusando-se a trabalhar; o que pensaria de seu interesse em serví-lo? Isto é
precisamente o que fazem estes que professam serem servos de Jeová, que não querem fazer
nada, exceto estar sentados e esperar que o ministro os alimente. Em vez de buscar como fazer
bem a outros, o que procuram é serem felizes. Sua oração cotidiana não é como a do convertido
Saulo de Tarso, "Senhor, que queres que eu faça?", senão: "Senhor, diga-me como posse ser
feliz." É este o espírito de Jesus Cristo? Não, pois ele disse: "Me deleitei em FAZER TUA
VONTADE, oh Deus" É este o espírito do apóstolo Paulo? Não pois ele tirou as roupas que lhe
atrapalhavam e entrou de braços limpos no campo de TRABALHO.
17. Os que querem fazer de sua própria salvação o supremo objetivo na religião, estão servindo a
seus próprios deuses.
Há multidões na igreja que mostram com sua conduta e ainda confessam com suas palavras, que
seu grande objetivo é assegurar sua própria salvação, e seu grande alvo é por os pés dentro das
muralhas da Jerusalém celestial. Caso temos lido bem a Bíblia estes indivíduos acabarão num
lugar muito diferente. Sua religião é puro egoísmo. E "o que queira salvar sua vida perdê-la-á, e o
que está disposto a perder sua vida por amor a mim, a salvará"
Conclusão
1. Aqui se vê porque se realiza tão pouco no mundo em favor de Jesus Cristo.
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É porque há tão poucos que trabalham para Ele. É porque Jesus Cristo tem tão poucos servos
verdadeiros no mundo. Quantos há que professam nesta igreja, ou entre vossos conhecidos, que
estão realmente trabalhando por Deus, e fazendo que sua ocupação principal seja a religião, e
atuando para fazer progredir o reino de Cristo? A razão pela que a religião não vai adiante mais
rápido é que há muito poucos que contribuam a fazê-la ir adiante. Imaginemos um grupo de gente
num incêndio, tratando de tirar a mercadoria de uma tenda. Alguns vão tirando coisas, enquanto o
resto não se ocupa nisto senão que se divertem falando e distraindo aos que o fazem, com o que
na realidade torna para eles dificultoso o trabalho. Assim é na igreja. Os que desejam fazer a obra
se vêem estorvados pelos que vacilam, duvidam ou inclusive oferecem verdadeira resistência.
2. Veja porque há tão poucos cristãos com espírito de oração.
Como podem ter espírito de oração? Suponhamos um homem ocupado em planos mundanos, e
que Deus dá a este homem o espírito de oração. Naturalmente, vai orar pelo que tem em seu
coração; isto é, pelo êxito de seus planos mundanos, para servir a seus próprios deuses. Pode
dá-lo Deus espírito de oração para este propósito? Nunca. Que se dirija a seus próprios deuses
para ter espírito de oração, mas que não espere que Jeová lhe conceda o espírito de oração,
enquanto está servindo a seus próprios deuses.
3. Se vê, pois, que há uma multidão de pessoas que professam religião que não começaram a
serem religiosos ainda.
Alguém disse a um deles: "Crê você que sua propriedade e seu negócio são todos de Deus, e
que você os dirige por conta dEle?" "Oh, não &endash; contestou &endash; não cheguei tão
longe ainda." Não cheguei tão longe? Este homem faz muitos anos que professa religião e; ainda
não chegou a considerar que sua propriedade, seu negócio e tudo o que tem pertence a Deus?
Não há dúvida que está servindo a seus próprios deuses. Porque, quero insistir nisso, este é o
mesmo princípio da religião. O que é a conversão senão o mudar do serviço do mundo ao serviço
de Deus? E este homem todavia não se tocou que tem que ser um servo de Deus. E parece que
cre que deve progredir muito mais na religião, para chegar ao ponto em que tudo o que tenha
seja do Senhor.
4. É uma falta de sinceridade e honra o que as pessoas professem que servem a Deus e na
realidade sirvam-se a si mesmas.
Os que estão executando deveres religiosos por motivos egoístas, estão na realidade tratando de
fazer de Deus um servo seu. Se teus próprios interesses são teu objetivo supremo, todos teus
serviços religiosos são apenas desejos de induzir a Deus que faça prosperar teus interesses. Por Página | 92
que você ora, ou guarda o dia de repouso, ou dá apoio financeiro a projetos religiosos? Tua
resposta é: "Para fomentar minha própria salvação." Sem dúvida! Não para glorificar a Deus,
senão para assegurar o céu! Não vê que o próprio diabo faria isto se soubesse que poderia
conseguir seus objetivos com ele e continuar sendo diabo? O estilo mais refinado de egoísmos é
fazer que Deus, com todos seus atributos, seja alistado ao serviço de teu poderoso eu.
E agora, ouvinte, em que ponto você está? Estas servindo a Jeová, ou estás servindo a teus
próprios deuses? Tem feito algo por Deus? Tem estado vivendo como servo de Deus? Tem sido
debilitado o reino de Satanás com o que você tem feito? Poderia dizer: "Vem e te mostrarei este
pecador, convertido ou a este que tinha voltado atrás restaurado, ou a este santo débil apoiado e
ajudado"? Poderia apresentar testemunhas do que tem feito no serviço de Deus? Ou tua resposta
será: "Tenho vindo regularmente a reunião no domingo, e tenho escutado a pregação, e em geral
tenho assistido às reuniões de oração, e algumas tem sido excelentes e temos orado na família e
tenho lido a Bíblia duas ou três vezes ao dia." E em tudo isso tem sido meramente passivo,
quanto a fazer algo para Deus. Tem temido ao Senhor e tem servido a seus próprios deuses.
"Sim, mas vendi toda esta mercadoria, e consegui tanto dinheiro, do qual dei o dízimo para a
causa das missões."
Quem requer isto da tua mão, em vez de salvar almas? O enviar o evangelho aos pagãos e o
deixar aos pecadores a teu redor que vão ao inferno ante teus próprios olhos? Não se engane. Se
amasse as almas você se ocuparia no serviço de Deus, trataria de salvar almas aqui, e faria a
obra de Deus aqui. Quem poderia pensar que pudesse ser um missionário entre os pagãos
alguém que não disse nunca uma palavra aos pecadores que o rodeia aqui em casa? Ama esta
pessoa as almas? Um homem assim não pode ser enviado ao campo de missão. Este homem
não fará nada ali, pois não é capaz de fazê-lo aqui. E se tem a intenção de ganhar dinheiro para
enviá-lo às missões, sem procurar salvar pecadores aqui, é também um hipócrita.
O AMOR DE DEUS POR UM MUNDO PECADOR
"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" -- (João 3:16)
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O pecado é o mais custoso que há no universo. Não há nada cujo custo se compare. O ser
perdoado ou não ser perdoado, é algo de um custo infinitamente grande. Perdoado: o custo recai
principalmente no grande Substituto que obra a expiação; não perdoado: o custo recai na cabeça
do pecador culpável.
A existência do pecado é um fato que se pode observar em todas as partes. Há um pecado em
nossa raça e em formas terrivelmente graves.
O pecado é a violação de uma lei infinitamente importante, a lei designada e adaptada para
assegurar o maior bem possível do universo. A obediência a esta lei é de modo natural essencial
das criaturas. Sem obediência a esta lei não poderia haver bem-aventurança nem o céu.
Como o pecado é uma violação de uma lei muito importante, não pode ser tratado com ligeireza.
Não há governo que possa permitir-se tratar uma desobediência como trivial, posto que todo - o
total bem estar do governo e dos governadores - gira em torno da obediência. E necessário que
se guarde a lei e se castigue a desobediência em proporção ao valor dos interesses que se
comprometem no caso.
A lei de Deus não pode ser desonrada por nada do que tenha saído de suas mãos. Foi desonrada
pela desobediência do homem; por isso é necessário que Deus considere o caso para recuperar
sua honra. A maior desonra a lei se faz desobedecendo-a e desprezando-a. Tudo isto tem feito o
homem pecador. Por isso, esta lei, sendo não só boa, senão intrinsecamente necessária para a
felicidade dos governantes, passa a ser de todas as coisas a mais necessária para a felicidade
dos governantes, passa a ser de todas as coisas a mais necessária que o legislador reivindique.
Não pode por menos que fazê-lo.
Por isso, o pecado implica grandes despesas no governo de Deus. Ou bem a lei há de ser
executada as custas do bem estar da raça inteira, ou Deus há de submeter-se a sofrer os piores
resultados da falta de respeito a sua lei, resultados que de alguma forma devam implicar graves
despesas.
Tomemos por exemplo um governo humano. Suponhamos que as leis justas e necessárias que
impõe um governo são pisoteadas, desonradas. Num caso semelhante, a infração da lei deve ser
seguida pela execução do castigo, ou algo equivalente, provavelmente mais custoso. A
transgressão deve tirar felicidade em alguma parte, e em quantidade.
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No caso do governo de Deus pareceu aconselhável proporcionar um substituto, alguém que faça
possível salvar ao pecador e ao mesmo tempo honrar a lei. A pergunta, segundo os dados
anteriores é: Como tem que cobrar este dispêndio?
A Bíblia nos informa da maneira em que se deu a resposta. Quem ia fazer este sacrifício? Ia ser
por recrutamento, oferta? Ia ser por uma oferta voluntária, ou por contrato? Quem ia começar?
Quem ia a dar o primeiro passo neste vasto projeto? A Bíblia nos diz que o primeiro foi o Pai
Infinito. Ele encabeçou a oferta? Deu a seu Filho Unigênito - para começar- e havendo dado,
agrega a isto todo o necessário requerido pelo caso. Primeiro deu a seu Filho para fazer a
expiação requerida pela lei; logo deu e enviou a seu Santo Espírito para se encarregar da obra. O
Filho, por sua parte, consentiu em ser o representante dos pecadores, para que pudesse honrar a
lei, sofrendo nos lugar deles. Derramou seu sangue, pôs sua vida em sofrimento como sacrifício
gratuito ante o altar - Não recusou as piores humilhações e ofensas - de nada se retraiu, nem da
pior injúria que os homens malvados acumularam sobre Ele. E o Espírito Santo também se
dedica com esforço incessante a cumprir seu objetivo.
Teria sido um método muito simples o ter enviado a toda a raça pecadora ao inferno de uma vez.
Fez algo assim quando certos anjos "não guardaram o lugar que lhes correspondia". Teve uma
rebelião no céu. Deus não a tolerou ao redor de seu trono. Mas no caso do homem seguiu outro
curso: não só não os enviou ao inferno não, senão que desenhou um vasto plano de medidas,
incluindo algumas tão generosas como o sacrifício próprio, para recobrar as almas dos homens à
obediência e ao céu.
Para quem foi feita esta grande oferta? "De tal maneira amou Deus ao mundo" , significa a raça
humana. Por "mundo" temos de entender aqui não parte da raça, senão a raça inteira. Não só a
Bíblia, senão também a natureza do caso, mostra que a expiação devia ser feita para todo o
mundo. Porque, evidentemente, se não tivesse sido feita para toda a raça, ninguém nela podia
saber que tinha sido feita para ele, e portanto ninguém poderia crer em Cristo no sentido de
receber por fé as bênçãos da expiação. Se tivesse havido incertezas com respeito às pessoas
afetadas numa provisão limitada a oferta inteira haveria falhado pela impossibilidade de fé
racional em sua recepção. Suponhamos que em seu testamento um homem rico faz oferta de
certa propriedade a certas pessoas, descritas só com o nome de "os eleitos". Não são descritos
de outra maneira do que por este termo, e todos estão de acordo em que ainda que o que fez o
testamento pensava naqueles indivíduos definitivamente, no entanto, não deixou descrição
alguma deles, nem às pessoas, nem aos tribunais, nem a ninguém no mundo. Como é
compreensível um testamento assim é totalmente nulo. Não há ninguém no mundo que possa
reclamar seu testamento, nem ainda no caso que se descrevesse a estes "eleitos" como, por Página | 95
exemplo, residentes de Oberlin. Como não se diz que são todos os residentes de Oberlin, e como
não se diz quais, tudo é inútil. Todos têm em teoria iguais direitos mas ninguém tem um direito
específico, pelo que ninguém pode herdar. Se a expiação tivesse sido desta maneira, não haveria
homem algum que tivesse razão para crer que é um dos "eleitos" antes de receber o Evangelho.
Por isso, não se saberia quem tem autoridade para crer e receber suas bênçãos por fé. De fato, a
expiação deve ser totalmente nula -nesta suposição- a menos que haja uma revelação especial
feita às pessoas para as quais se destine.
Tal como é agora, o mesmo fato que um homem pertença a raça de Adão - o fato que seja
humano, nascido de mulher, é suficiente, em absoluto - O coloca no páreo. É um no mundo por
quem Deus deu a seu Filho, para que todo aquele que creia nEle não se perca, mas tenha vida
eterna.
O motivo subjetivo na mente de Deus para este grande dom é o amor, o amor ao mundo. Deus
amou ao mundo de tal maneira que deu a seu Filho para que morresse por Ele. Deus amou a
todo o universo também, mas o dom de seu Filho procedeu de seu amor por nosso mundo. É
verdade que neste grande ato procurou prover para os interesses do universo. Teve cuidado em
não fazer nada que pudesse no mais mínimo invalidar a santidade de sua lei. Do modo mais
cuidadoso procurou evitar qualquer erro com respeito à consideração à sua lei e aos elevados
interesses da obediência e felicidade de seu universo moral. Quis evitar para sempre o perigo de
que algum ser moral, nunca, se sentisse tentado a desprezar a lei moral.
Porém além do mais, não foi só por amor às almas, senão pelo respeito ao espírito da lei de sua
razão eterna que deu a seu Filho para morrer. Nisto se originou o propósito de entregar a seu
Filho. A lei, por si mesma, tem que ser honrada e considerada santa. Não pode fazer-se nada
incompatível com seu espírito. Tem que fazer tudo o possível para prevenir que se cometa
pecado e assegurar a confiança e amor de seus súditos. Tão sagrados considerou estes grandes
objetivos que consentiu em que seu Filho derramasse seu sangue, antes que arriscar o bem do
universo. Não cabe a menor dúvida que foi o amor e consideração pelo maior bem do universo o
que lhe fez sacrificar a seu querido Filho.
Consideremos com atenção a natureza deste amor. O texto faz uma ênfase especial nisto: que
Deus amou de tal maneira, seu amor foi de tal natureza, tão maravilhoso e tão peculiar em seu
caráter, que lhe conduziu a dar a seu próprio Filho para morrer. Implica-se mais, evidentemente,
nesta expressão que, simplesmente, sua grandeza. Este amor é peculiar, em especial, em seu
caráter. A menos que entendamos isto, correremos o perigo de cair no estranho erro dos
universalistas, que não param de falar do amor de Deus aos pecadores, mas cujas noções da
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natureza deste amor nunca conduzem ao arrependimento ou à santidade. Parece que pensam
que este amor é um simples bem natural, e concebem a Deus como um ser de bem natural, a
quem ninguém tem que temer. Estas noções não têm a menor influência à santidade, senão ao
contrário. Só quando entendamos o que é o amor em sua natureza sentimos seu poder moral de
fomentar a santidade.
Pode se perguntar, se Deus amou ao mundo com um amor caracterizado pela grandeza, e só
pela grandeza, por que não salvou a todo o mundo sem o sacrifício de seu Filho? Esta pergunta
basta para mostrarmos que há um significado profundo na palavra "de tal maneira", e isto deveria
colocar-nos ao aviso num estudo de seu significado.
1. Este amor em sua natureza não é complacência; um deleite no caráter da raça. Isto não podia
ser, porque não havia nada bom em seu caráter. Deus ter amado a raça com complacência teria
sido infinitamente degradante para Ele.
2. Não era uma mera emoção ou sentimento. Não era um impulso cego, ainda que alguns
parecem que supõem assim. Parece que freqüentemente se supõe que Deus atuou como fazem
os homens, levado pela emoção forte. Mas não poderia haver virtude nisto. Um homem pode dar
tudo num impulso cego de sentimento, e não é mais virtuoso por isso. Mas ao dizer isto não
excluímos toda emoção do amor de benevolência, nem do amor por parte de Deus a um mundo
perdido. Ele sentia emoção, mas não só emoção. Verdadeiramente, a Bíblia nos ensina em todas
as partes que o amor de Deus para o homem perdido em seus pecados era paternal - o amor de
um pai por seus filhos, neste caso, para um filho pródigo, rebelde, desordeiro. Neste amor tem
que haver misturado, naturalmente, uma profunda compaixão.
3. Por parte de Cristo, considerado como Mediador, este amor era fraternal. "Não se envergonhou
de chamá-los irmãos." Desde um ponto de vista atuou pelos irmãos e desde outro pelos filhos. O
pai o deu para esta obra e naturalmente simpatiza com o amor apropriado a suas relações.
4. Este amor tem que ser totalmente desinteressado, porque Ele não tinha nada que esperar ou
temer, nem nenhum proveito a obter como resultado de salvar a seus filhos. Na realidade, é
impossível conceber a Deus como egoísta, posto que seu amor abraça a todas as criaturas e
todos os interesses segundo seu valor real. Não há dúvida que se deleitou salvando a raça. Por
que não havia de ser assim? É uma grande salvação em todos os sentidos e aumenta de grande
maneira a bem-aventurança do céu, de grande maneira afeta a glória e bem-aventurança do
Deus Infinito. Eternamente se respeitará a si mesmo por este amor desinteressado. Ele sabe que
todas suas santas criaturas lhe respeitaram eternamente por sua obra e pelo amor que fez que
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tivesse lugar. Mas temos que dizer também, Ele sabia que não lhe respeitariam por sua grande
obra a menos que vissem que a teria feito pelo bem dos pecadores.
5. Este amor era zeloso, não o estado frio de mente que alguns supõem, não em abstrato senão
um amor profundo, zeloso, fervente, ardente em sua alma como um fogo que não se apaga.
6. O sacrifício foi de suprema abnegação. Não lhe custou ao Pai entregar a seu próprio Filho para
sofrer e morrer uma morte assim? Se isto não é abnegação, como vamos chamá-lo? Dar assim
seu Filho, com tanto sofrimento, não é a forma mais elevada de abnegação? O universo nunca
podia ter idéia de uma abnegação assim, se não visse.
7. Este amor era particular porque era universal; e também era universal porque era particular.
Deus amou a cada pecador em particular, e por isso o amor a todos. Porque os amou
imparcialmente, sem acepção de pessoas, os amou a cada um em particular.
8. Foi um amor muito paciente. Quão raro é encontrar a um pai que ame a seu filho tanto que
nunca esteja impaciente com ele. Deixe-me inquirir, vós que são pais, e diga-me se nunca
tiveram impaciência com respeito a vossos filhos, até o ponto que a pesar de suas provocações
tinham podido abraçá-los e amá-los, até que se arrependam por amor? Ou qual de vossos filhos
podem dizer: meu pai nunca perdeu a paciência comigo? Com freqüência ouvimos os pais
dizerem: amo a meus filhos, mas me acaba a paciência às vezes.
Mas Deus nunca se impacienta. Seu amor é profundo e tão grande que é sempre paciente.
Geralmente, quando os pais têm filhos inoportunos, estes são objeto de especial compaixão, e os
pais podem ter uma paciência infinita com eles; mas quando os filhos são maus, parece que
oferecem uma boa desculpa para que os pais sejam impacientes. No caso de Deus somos filhos
não inválidos, senão maus, com uma inteligência corrompida. Mas: Oh, assombrosa paciência,
tão desejosa de nosso bem, de nosso máximo bem estar, que ainda que nos comportemos mal
com ele, Ele sempre está disposto a bendizer-nos e derreter nossa rebeldia em penitência e
amor, por meio da morte de seu Filho em nosso lugar!
9. Este foi um amor ciumento, não no mal sentido, senão no bom sentido; no sentido de ser
extremamente cuidadoso para que nada ocorra que dane àquele a quem ama. Como o marido e
a esposa que se amam e sentem cuidados com respeito ao bem estar mútuo, procurando
fomentá-lo em todas as formas possíveis.
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Esta dádiva é feita realmente, não já prometida. A promessa foi comprida. O Filho veio, morreu e
pagou o resgate, uma salvação preparada para todos os que a aceitam.
O Filho de Deus morreu, não como alguns entendem, para satisfazer uma vingança, senão para
cumprir as exigências da lei. A lei tinha sido desonrada porque tinha sido infligida. Por isso Cristo
se encarregou de honrá-la para cumprir suas exigências, morrendo uma morte expiatória. Não
tinha que apaziguar o espírito vingativo de Deus, senão assegurar o máximo bem possível no
universo numa dispensação de misericórdia.
Havendo sido feita a expiação, todos os membros da raça têm direito à mesma. Está aberta a
todos os que queiram abraçá-la. Ainda que Jesus permaneça sendo o Filho do Pai, contudo, por
direito, pertence num importante sentido a toda a raça, a todos; de modo que todo pecador tem
um interesse em seu sangue se quer humildemente reclamá-la. Deus enviou a seu Filho para ser
Salvador do mundo, para que todo aquele que queira crer, aceite esta grande salvação.
Deus dá seu Espírito para que aplique esta salvação aos homens, Este vem a porta de cada um e
chama, para ser admitido se pode e mostrar a cada pecador que pode ter salvação agora. Oh,
que trabalho de amor é este!
Esta salvação deve ser recebida, em tudo, pela fé. Este é o único meio possível. O governo de
Deus sobre os pecadores é moral, não físico, porque o pecador é um ser moral, não físico neste
aspecto. Portanto, Deus pode influenciar em nós só se o damos nossa confiança. Nunca pode
salvar-nos meramente levando-nos a um lugar chamado céu, posto que uma mudança de lugar
não significa uma mudança voluntária de coração. Não pode haver, pois, outro caminho para ser
salvo que a simples fé.
Agora bem, não há que se confundir e supor que abraçar o Evangelho é simplesmente crer nos
fatos históricos sem receber verdadeiramente a Cristo como Salvador. Se este tivesse sido o
plano, Cristo não teria tido que fazer nada mais que descer ao mundo e morrer, e logo regressar
ao céu e esperar para ver quem ia crer nos fatos. Mas é muito diferente disto! Agora Cristo vem a
encher a alma com sua vida e seu amor. Os pecadores penitentes ouvem e crêem na verdade a
respeito de Jesus e logo recebem a Cristo em sua alma, para viver e reinar nela de modo
supremo e para sempre. Sobre este ponto há muitos que se equivocam dizendo: "Se creio nestes
fatos históricos, basta." Não, não! Isto não é assim, de nenhuma maneira. "Com o coração se crê
para justiça." A expiação foi realizada para prover o caminho em que Jesus alcançasse ao
coração dos homens e os atraísse em união e afinidade com Ele, para que Deus pudesse abraçar
com seu amor aos pecadores, para que a lei e o governo divinos não fossem desonrados com
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tais mostras de amizade mostradas por Deus aos pecadores. Mas a expiação de nenhuma
maneira salva aos pecadores, exceto nos sentido de que lhes prepara o caminho para entrar em
comunhão e afinidade do coração de Deus.
Agora, Jesus vem à porta de cada pecador e chama. Atenção! Por que chama? Porque não foi ao
céu e ficou ali para que os homens cressem nos fatos históricos e fossem batizados, como alguns
supõem, para salvação. Por outro lado, veja como alcançou, disse ao pecador o que tem feito, lhe
revela seu amor, lhe diz o santo e sagrado que é, tão sagrado que Ele não pode obrar de modo
algum sem referência a santidade de sua lei e a pureza de seu governo. Assim, imprimindo no
coração as mais profundas e amplas idéias de sua santidade e pureza, faz ênfase na
necessidade de um profundo arrependimento e o sagrado dever de renunciar ao pecado.
Conclusão
1. A Bíblia ensina que os pecadores podem perder seu direito ao novo nascimento e situar-se
mais além do alcance da misericórdia. Não faz muito que fiz notar a necessidade de guardar-se
contra os abusos de seu amor. As circunstâncias são tais que criam o maior perigo deste abuso
e, portanto, Ele deve fazer saber aos pecadores que não podem abusar de seu amor, e se o
fazem, não o farão com impunidade.
2. Baixo ao Evangelho os pecadores estão em circunstâncias da maior responsabilidade possível.
Estão no maior perigo de pisotear ao próprio Filho de Deus. "Vinde - disseram - matemo-lo, e
apoderemo-nos da sua herança" Quando Deus enviou ao final, a seu próprio Filho, o que
disseram? Agregaram a todos seus pecados e rebeliões anteriores o maior insulto possível a seu
glorioso Filho. Suponhamos que ocorresse algo análogo baixo a um governo humano. Ocorre
uma rebelião em uma das províncias. O rei envia a seu próprio filho, sem um exército, para
apaziguar a rebelião, com mansidão e paciência tratando de explicar-lhes as leis do reino e
exortá-los a obediência. O que fazem neste caso? De comum acordo se apoderam dele e lhe dão
a morte!
Mas você nega a aplicação disto e pergunta: Quem matou ao Filho de Deus? Não foram os
judeus? Ai! E, não tiveram todos vocês pecadores parte em sua morte? Não mostra o modo que
você trata a Jesus Cristo que está em plena simpatia com os antigos judeus que deram morte ao
Filho de Deus? Se tivesse estado ali teria gritado mais forte que eles: "Fora, Crucifíca-o!" Não tem
dito sempre: "Aparta-te de nós, porque não desejamos conhecer teus caminhos!"?
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3. Foi dito de Cristo, que sendo rico se fez pobre para que com sua pobreza pudéssemos ser nós
enriquecidos. Quão verdadeiro é isto. Nossa redenção custou a Cristo sua vida; era rico, mas se
fez pobre; nos chamou infinitamente pobres, mas nos fez ricos com todas as riquezas do céu.
Mas destas riquezas ninguém pode participar se não a aceitou de forma legítima. Têm que ser
recebidas nos termos propostos, ou a oferta passa despercebida, e o que não aceita fica mais
pobre que se não a tivessem posto ao alcance destes tesouros.
Há muitas pessoas que parece que compreendem mal todo este ponto. Parece que não crêem o
que Deus disse, senão que continuam repetindo: "Sim, sim. Se tão só tivesse salvação para mim,
se tivesse providenciado expiação para o perdão de meus pecados." Esta foi uma das últimas
coisas que ficou clara em minha mente antes de entregar-me totalmente na confiança de Deus.
Havia estado estudando a expiação; via seus aspectos teológicos, via o que exige do pecador,
mas me irritava e dizia, se me fizesse cristão, como poderia saber que Deus me recebeu? Baixo a
esta irritação disse coisas estúpidas e amargas contra Cristo, até que minha própria alma estava
horrorizada de minha maldade, e disse: "compensarei de tudo isto a Cristo se me é possível."
Nesta forma muitos avançam baixo ao ânimo que lhes dá o Evangelho, como se fosse só uma
aventura, um experimento. Dão um passo adiante cuidadosamente, com temor e tremor, como se
fosse extremamente duvidoso se há misericórdia para eles. O mesmo se passava a mim. Estava
caminhando ao escritório quando a pergunta me vinha na cabeça: O que está esperando? Você
não tem porque levantar tanta poeira. Tudo está providenciado. Só têm que consentir na
proposição, entregar teu coração neste instante, isto é tudo. E isto é tudo. Todos os cristãos e os
pecadores deveriam entender que todo o plano está completo, que todo o Cristo: seu caráter, sua
obra, sua morte expiatória, e sua incessante intercessão pertencem a cada um dos homens e só
é preciso aceitá-lo. Há um oceano cheio. Aqui está. Podes aceitá-lo ou não. Está ali, como se
estivesse na borda de um oceano de água pura e cristalina e estivesse morto de sede; podes
beber, e não você não tem por que temer que vai esgotar este oceano, e os outros vão ficar sem
água. Se te convida a beber, beba em abundância. Este oceano supre a todas tuas
necessidades. Você não tem por que ter em ti os atributos de Cristo, porque estes atributos
passam a ser praticamente teus para todo uso possível. Como diz a Escritura: Ele foi feito por
parte de Deus para nós sabedoria, justificação, santificação e redenção. O que mais necessita,
sabedoria? Aqui a tem. Justificação? Aqui está. Santificação? Está disponível. Tudo está em
Cristo. Você pode pensar em algo mais que necessite para tua pureza moral, ou para tua
utilidade que não o estar em Cristo? Nada. Tudo está providenciado aqui. Por tanto, não tem por
que dizer, como no hino:
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Irei a Jesus em meu pecado.
Como se tivesse uma montanha de rosa.
Talvez ele aceite meu apelo.
Talvez ele ouça a minha oração.
Não há "talvez" com Cristo. As portas estão abertas. São como as portas do Tabernáculo de
Broadway, em Nova York, que se abrem e ficam abertas, para que não possam fechar-se sobre
as multidões que passam por elas. Quando as construíram, fui aos obreiros e lhes disse que
tinham que permanecer abertas e fixas, e assim a construíram.
Assim a porta da salvação está sempre aberta, e ninguém pode fechá-la. Nem mesmo o diabo
nem seus anjos. Ali está, aberta de par em par, para todo pecador de nossa raça que queira
entrar por ela.
De novo, repito, o pecado é o mais custoso que há no universo. Você se dá conta, pecador, de
qual é o preço que foi pago para que pudesse ser redimido e feito herdeiro de Deus e do céu?
Oh, que custoso que resultou nós nos permitir a pecar!
Que custo enorme pagou o governo de Deus para redimir esta província de sua ruína! Falemos
sobre o pequeno preço que a Inglaterra e todas as outras nações pagaram; -- não é nada
comparado com o preço pago pelo pecado no governo de Jeová -- é uma taxa terrível! Pense no
mecanismo movido para salvar os pecadores. O Filho de Deus teve que ser enviado à terra. Teve
que enviar os anjos e os espíritos ministradores aos missionários, precisou do trabalho cristão, a
oração, e o choro da ansiosa solicitude: tudo para buscar e salvar aos perdidos. Que maravilhosa
contribuição foi imposta à benevolência do universo para eliminar o pecado e salvar ao pecador?
Que vergonha para os pecadores o aferrar-se a este pecado, apesar dos esforços feitos para
salvá-los, e que, em vez de envergonhar-se de seu pecado, se desentendem e dizem: "O que
importa! Que façam o que queiram os missionários e as mulheres piedosas para manter tudo isto
em marcha. Eu quero meus prazeres e isso é o que busco"!
Os pecadores podem muito bem se permitir o fazer sacrifícios para poder salvar a seus próximos
que ainda são pecadores. Paulo o fazia em favor de seus próximos. Ele viu que tinha feito sua
parte para fazê-los pecadores, e agora lhe correspondia fazer sua parte para convertê-los e fazer
que voltassem a Deus. Mas agora, este jovem crê que não se pode permitir ser um ministro, Página | 102
porque teme que não haverá fundos para sustentá-lo. Eles não devem nada para a graça que
salvou suas almas do inferno? Não tem que fazer nenhum sacrifício, havendo feito Jesus tantos
por ele? E outros cristãos também não têm orado e sofrido e trabalhado para a salvação de sua
alma? E quanto ao perigo de faltar pão na obra do Senhor, que confie em seu Grande Mestre! E
contudo devo dizer que as igrejas podem ser culpáveis de não sustentar devidamente a seus
pastores. Deus os deixará morrer de fome se não dão pão a seus ministros. Suas almas e as
almas de seus filhos padecerão fome, se eles com avareza não entregam o que Deus
providenciou para os que lhe dão o pão da vida.
Quanto custa livrar nossa sociedade de certas formas de pecado que ainda persistem para nossa
vergonha como por exemplo, a escravidão. Quanto já se gastou, e quanto mais fica por gastar até
que esta praga e maldição e pecado seja extirpada de nosso país! Esta é uma parte do grande
empreendimento de Deus, e Ele vai empurrá-lo até que seja terminado. Não obstante, Quão
grande é o custo! Quantas vidas e quanta agonia para livrá-los desse pecado!
Ai daqueles que se fazem ricos com os pecados dos homens! Pensemos nos que vendem rum,
tentando aos homens enquanto Deus trata de tirar os homens do propósito de entrarem nos
caminhos do pecado e da morte! Pensemos na culpa de todos os que se alistam contra Deus!
Cristo terá que se ver com eles, porque fazem uma obra contrária à dEle.
Nosso tema ilustra a natureza do pecado como mero egoísmo. Não importa quanto custa o
pecado para Jesus Cristo, quanto custa para a igreja, quanto custa para todos os que se
esforçam para extirpá-lo; o pecador quer permitir-se tudo e o fará na medida que possa. Quantos
entre vocês tem gastado suas lágrimas a vossos amigos e que tratam de sacá-los dos caminhos
do pecado? Não se envergonham vocês de que foi necessário fazer tanto em vosso favor, e
ainda não se decidem a renunciar a vossos pecados e entregar-se a Deus e a santidade?
Todo o esforço por parte de Deus e do homem é sofrimento e abnegação. Começando com o
sacrifício de seu amado Filho, tudo é levado com enormes sacrifícios e esforços - num dispêndio
grande e espetacular. Pense só no tempo em que estes esforços já estão sendo prolongados!
Quanta dor de muitas formas este empreendimento já causou e custou! Quantas lágrimas,
vertidas como água! Verdadeiramente tem custado muito esse mesmo pecado que você começa
a saborear como um bocado de doce debaixo de sua língua! Deus realmente só pode odiá-lo
quanto vê o quanto custa, e só pode dizer: Oh, não faça essa coisa abominável que eu odeio!
Mas Deus não está descontente com estas abnegações. Tão grande é sua alegria nos
resultados, que Ele estima todo o sofrimento comparativamente insignificante, assim como os
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pais terrenais desfrutam dos esforços para abençoar a seus filhos. Veja-os; Trabalham quase a
ponto de perderem suas mãos; as mães trabalham durante a noite para empreender com suas
agulhas até chegarem a passar mal com fatiga e cegueira, mas se você visse seu trabalho, então
você simplesmente veria também a sua alegria, então assim amam intensamente a seus filhos.
E este é o esforço, gozo e abnegação do Pai, do Filho e do Espírito Santo em sua grande obra
para a salvação humana. O que Lhes dá pena é que tantos recusem ser salvos. Não há nada que
dentro dos limites racionais não estejam dispostos a realizar para cumprir sua grande obra. É
assombroso pensar na forma em que toda a criação simpatiza, também, nesta obra e em seus
necessários sofrimentos. Voltemos à cena dos sofrimentos de Cristo. Poderia o sol nos céus
permanecer sem comover-se diante uma cena semelhante? Este se tornou escuro porque não
pôde contemplá-la. A natureza inteira viu o luto.
O tema nos ilustra por necessidade o valor de uma alma. Teria feito tudo isto Deus se tivesse
pouca estima pelos pecadores, como eles geralmente se consideram?
Os mártires e santos não se negam aos sofrimentos, enchendo neles o que falta aos sofrimentos
de Cristo; não na expiação em si, senão em subordinar as partes necessárias para o trabalho que
tem que fazer. O amor à abnegação é parte da natureza da verdadeira religião.
Os resultados justificaram plenamente este dispêndio. Deus contou o custo bem antes de
começar. Muito antes de formar um universo moral sabia perfeitamente o que ia custar redimir
aos pecadores, e sabia que o resultado justificaria amplamente o custo. Sabia a maravilhosa
misericórdia que se efetuaria; e o grande tamanho do sofrimento que se exigiria a Cristo; e que os
resultados dele seriam infinitamente gloriosos. Olho ao futuro, às idades vindouras, e contemplo o
gozo dos redimidos, no gozo de uma bem-aventurança eterna; não lhes bastava isto a seu
coração de infinito amor para alegrar-se? E que diremos de ti, cristão? Vai dizer que te dá
vergonha de pedir que se te perdoe? Vai dizer que não pode receber tanta misericórdia? Dirá
que: "É um preço de sangue, e como posso aceitá-lo?" ou bem "Como posso custar tanto para
Cristo?"
Você tem razão ao dizer que lhe custou muito, toda dor que sofreu, mas não tem que sofre-lo
outra vez, e não lhe custará mais pelo fato de você aceitá-lo; além do mais, Jesus Cristo não
sofreu mais do que era estritamente necessário para fazer a redenção.
E quando no futuro O vejas cara a cara, não vai adorá-lo pela sabedoria de seu plano e o infinito
amor que te trouxe a este mundo? E que dirias da assombrosa condescendência que lhe trouxe
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para resgatar-te? Não verteu tua alma, oh cristão, ante teu Senhor em agradecimento pelo que te
custou?
Diga agora, pecadores, vai vender os direitos de tua primogenitura? Quanto você receberá por
isso? Quanto você receberá pelos seus interesses em Cristo? Por quanto você vai vender sua
alma? Vender seu Cristo! Judas o fez por trinta moedas de prata; e desde então os céus têm
estado chorando gotas de sangue sobre nosso mundo culpável. Que preço você requeriria do
diabo para vender a ele a tua alma? Lorenzo Dow se encontrou uma vez com um homem,
enquanto estava cavalgando num caminho solitário para cumprir uma tarefa. Ao passar pelo seu
lado lhe disse: "Amigo, você já orou alguma vez?" "Não. Quanto dinheiro vai pedir-me por não
orar em absoluto a partir de agora?" "Um dólar - lhe contestou o outro." Dow lhe deu o dinheiro e
seguiu cavalgando. O homem pôs o dinheiro no bolso e seguiu cavalgando. Mas aos pouquinhos
começou a pensar. Quanto mais pensava no trato que havia feito pior se sentia. "Acabo de
vender minha alma por um dólar! Este homem tem que ter sido o diabo. Ninguém teria me
tentado desta maneira. Tenho que me arrepender com toda minha alma ou ser condenado para
sempre!"
Quão freqüentemente você tem entrado em tratos para vender a teu Salvador por menos de trinta
moedas de prata! Por uma insignificância!
Finalmente, Deus quer voluntários para ajudar em sua grande obra. Deus deu a si mesmo, deu a
seu Filho, e enviou seu Espírito; mas necessita-se de obreiros; e o que você vai dar? Paulo disse
que levava no seu corpo as marcas do Senhor Jesus. Você aspira tanta honra? O que fará você
por Ele, o que vai sofrer? Vai dizer: "Não, não tenho nada para dar"? Você pode dar a você
mesmo, teus olhos, teus ouvidos, tuas mãos, tua mente, teu coração, tudo; e sem dúvida nada do
que você tem é demasiado para que não lhe entregues a Ele nesta chamada. Quantos jovens
estão dispostos a ir, cujos corações estão saltando dentro do peito gritando: "Eis-me aqui! Envia-
me a mim!"?
AMOR É O TODO DA RELIGIÃO
"O amor não faz mal ao próximo; assim que a plenitude da lei é o amor."--Romanos 13:10
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Ao falar destas palavras procuro:
I. Fazer alguns comentários sobre a natureza do amor.
II. Mostrar que o amor é o todo da religião.
III. Algumas coisas que não são essenciais para o amor perfeito.
IV. Algumas coisas que são essenciais.
V. Alguns efeitos do amor perfeito.
I. Vou fazer alguns comentários sobre a natureza do amor.
1. O primeiro que vou fazer é que o amor pode existir em varias formas.
As duas principais, pelo que afeta à religião são a benevolência e a complacência. A
benevolência é um afeto da mente ou um ato da vontade. É o desejar bem ou o desejar aumentar
a felicidade de seu objeto. A complacência é estimação, aprovação do caráter de seu objeto. A
benevolência deve ser exercida a todos os seres, na margem de seu caráter moral. A
complacência é devida só aos bons e santos.
2. O amor pode existir bem como afeto ou como uma emoção.
Quando o amor é um afeto, é voluntário e consiste num ato da vontade. Quando é uma emoção,
é involuntário. O que chamamos sentimentos, ou emoções, são involuntários. Não dependem
diretamente da vontade. A virtude do amor é maior quando se manifesta em forma de afeto. A
felicidade do amor é maior quando se manifesta em forma de emoção. Se o afeto do amor é forte
produz um grau elevado de felicidade, mas a emoção do amor é a mesma felicidade.
Disse que a emoção do amor é involuntária. Não quero dizer que a vontade não tenha nada a ver
com ela, senão que não é o resultado de um ato mero ou direto da vontade. Ninguém pode
exercer a emoção do amor meramente por desejá-lo. E a emoção pode existir apesar da vontade.
Os indivíduos às vezes sentem que a emoção se levanta em sua mente, que sabem que é
imprópria e tratam com esforços diretos da vontade de eliminá-la de sua mente; e achando que é
impossível, chegam à conclusão de que não há controle destas emoções. Mas pode haver
controle por parte da vontade de uma maneira indireta. A mente pode fazer aparecer toda classe
de emoções que deseje dirigindo suficientemente a atenção a um objeto apropriado. Haverá uma
aparição proporcional à intensidade com que se fixe a atenção, assumindo que a vontade é reta
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com respeito ao objeto de atenção. O mesmo com respeito às emoções que são impróprias ou
desagradáveis; a mente pode desembaraçar-se delas, dirigindo a atenção inteiramente a outro
objeto, e não consentindo que os pensamentos permaneçam naquele.
3. Corretamente as emoções do amor a Deus são experimentadas quando exercemos amor a Ele
em forma de afeto.
Mas nem sempre é este o caso. Podemos exercer boa vontade a um objeto e, com tudo, às
vezes, não notamos uma sensação de amor. Não é certo que inclusive o Senhor Jesus Cristo
exerceu o amor a Deus em forma de emoção em todo momento. Pelo que podemos saber da
natureza de nossa mente, sabemos que uma pessoa pode exercer afeto, e ser guiada e
governada por ele, constantemente, em todas suas ações, sem sentir nenhuma emoção de amor
a este objeto naquele momento. Assim, um marido e um pai podem estar ocupados todo o dia
para o benefício de sua família, e ter sua mesma vida controlada pelo afeto a eles, enquanto seus
pensamentos não estão ocupados sobre eles de forma que façam sentir alguma emoção sensível
de amor por eles durante este tempo. As coisas sobre as quais esta ocupado podem absorver-te
de tal modo que sua mente apenas tem um pensamento para eles, e por tanto não pode sentir
emoção a eles, e com tudo esta governado em todo momento pelo afeto que lhes têm. Observe-
se aqui que uso o termo afeto, no sentido que o usa o Presidente Edwards, ao explicar-nos isto
em se célebre Tratado da Vontade. Uma afeto neste tratado é um ato de vontade ou volição.
4. O amor ao próximo implica, naturalmente, a existência do amor a Deus, e o amor a Deus
implica, naturalmente, o amor ao próximo.
O mesmo se declara no versículo oito. Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns
pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei." Porque o de: Não
adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não cobiçarás, e qualquer
outro mandamento, nesta máxima se resume: Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Aqui se
dá por definitivo que o amor a nosso próximo implica a existência do amor a Deus, de outro modo
não poderia dizer: O que ama ao próximo cumpriu a lei." O apóstolo Tiago reconhece o mesmo
princípio quando diz: Se vocês de fato obedecerem à lei do Reino encontrada na Escritura que
diz: "Ame o seu próximo como a si mesmo", estarão agindo corretamente" (Tiago 2:8). Aqui o
amor ao próximo se diz que constitui obediência a toda a lei. A benevolência, isto é, a boa
vontade ao próximo, naturalmente implica o amor a Deus. É amor à felicidade de ser. Assim que
o amor de complacência aos seres santos naturalmente implica amor a Deus, como ser de infinita
santidade.
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II. Vou mostrar que o amor é o todo da religião.
Em outras palavras, tudo o que se requer do homem por Deus consiste em amor, em várias
modificações e resultados. O amor é a suma total de todos.
1. A primeira prova que oferecerei é que o sentimento é ensinado no texto e em muitos outras
passagens da Escritura.
As escrituras ensinam claramente que o amor é a suma total de todos os requerimentos, tanto da
lei como do evangelho. Nosso Salvador declara que o grande mandamento: "Ame o Senhor, o
seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as
suas força" é a suma total da lei e dos profetas que implica e inclui tudo o que requerem as
escrituras, a lei e o evangelho.
2. Deus é amor, e o amor é ser como Deus, e ser perfeito em amor é ser perfeito como Deus é
perfeito.
Todos os atributos de Deus consistem em amor, obrando baixo certas circunstâncias e certos
objetivos. A justiça de Deus ao castigar aos maus, sua ira contra o pecado, e outros, são só
exercício de seu amor à felicidade geral de seu reino. O mesmo no homem. Tudo o que é bom no
homem é alguma modificação do amor. O ódio ao pecado é só amor à virtude. Até mesmo a fé
implica e inclui o amor, e a fé que não tem amor em si, ou não obra por amor, não é parte da
religião. A fé que pertence à religião é uma confiança afetuosa em Deus. Há uma classe de fé em
Deus que não tem amor. O diabo tem esta classe de fé. O pecador convicto a tem. Mas não há
religião nela. A fé poderia levantar-se inclusive à fé dos milagres, e com tudo, não haver amor
nela, e não conta para nada. O apóstolo Paulo no capítulo treze de Coríntios diz: "Ainda que eu
tenha o Dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz
de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei.""
O mesmo ocorre com o arrependimento. O arrependimento que não inclui o amor não é
arrependimento a Deus". O verdadeiro arrependimento implica obediência à lei do amor e uma
conseqüente oposição ao pecado.
III. Vou mencionar algumas coisas que não são essenciais ao perfeito amor.
1. O maior grau de emoção não é essencial ao perfeito amor.
É manifesto que o Senhor Jesus Cristo raramente tinha o mais alto grau de emoção de amor, e
com tudo, seu amor era sempre perfeito. Ele geralmente manifestava pouca emoção ou Página | 108
entusiasmo. O entusiasmo é sempre proporcionado à força das emoções, pois consiste nelas. O
Salvador parecia geralmente acalmado de um modo notável. Algumas vezes sua indignação era
grande, ou sua pena pela dureza dos corações dos homens; e algumas vezes lemos que se
gozava no espírito. Mas normalmente se achava sossegado e não manifestava uma alto grau de
emoção. E é claro que não é essencial para o perfeito amor o que a emoção do amor exista em
um alto grau.
2. O perfeito amor não inclui a idéia de incremento no amor ou crescimento na graça.
Suponho que o crescimento da mente em conhecimento, por toda a eternidade, naturalmente
implicará crescimento no amor por toda a eternidade. O Senhor Jesus Cristo em sua forma
humana, cresceu em estatura e em favor com Deus e com os homens. Sem dúvida, quando
criança, cresceu em conhecimento, e quando cresceu em conhecimento, cresceu em amor a
Deus, assim como no favor com Deus. Seu amor era perfeito quando era uma criança, mas
cresceu quando se fez maior. Como ser humano, provavelmente continuou crescendo em amor a
Deus enquanto viveu. Desde um ponto da mente natural vemos que pode ser assim com todos os
santos na glória que seu amor aumente por toda a eternidade, e com tudo sempre seja perfeito.
3. Não é essencial ao perfeito amor que o amor seja sempre exercido a todos os indivíduos de
modo igual.
Não podemos pensar em todos os indivíduos no mesmo momento. Não é possível inclusive
pensar em cada indivíduo que se conhece ao mesmo tempo. O grau de amor a um indivíduo
depende do fato que este indivíduo esteja presente nos pensamentos.
4. Não é essencial ao perfeito amor que haja o mesmo grau de espírito de oração para cada
indivíduo ou para o mesmo indivíduo em todo momento.
O espírito de oração não é sempre essencial para um amor puro e perfeito. Os santos do céu têm
um amor puro e perfeito para todos os seres, mas sabemos que não têm o espírito de oração
para ninguém. É possível amar a um indivíduo em alto grau e com tudo não ter o espírito de
oração para ele. Isto é, pode ser que o Espírito de Deus não te guie para orar pela salvação deste
indivíduo. Não se pode orar pelos maus no inferno. O Espírito de oração depende das influências
do Espírito Santo, que guia a mente à oração pelas coisas agradáveis à vontade de Deus. Não se
pode orar para toda a humanidade. Jesus Cristo o disse de modo expresso quando disse que não
orava por toda a humanidade: "Não rogo pelo mundo" Aqui tem ocorrido um grande erro com
respeito ao espírito de oração. Alguns supõem que os cristãos não têm feito todo seu dever
quando não tem orado com fé para cada indivíduo, em tanto que é um pecador na terra. Logo, Página | 109
Jesus Cristo tampouco haveria feito seu dever porque nunca fez isso. Deus nunca nos disse que
quer salvar a toda a humanidade, e nunca nos deu motivos para que o creiamos. Como temos,
pois, de orar com fé pela salvação de todos? Sobre o que deve descansar esta fé.
5. O amor perfeito não é incompatível com os sentimentos de fraqueza ou debilidade
constitucional que são uma conseqüência inevitável do esgotamento ou da má saúde.
Estamos constituídos de tal forma que a atividade natural esgota necessariamente nossas forças.
Mas o amor pode ser perfeito a pesar de tudo. Ainda que alguém possa sentir-se disposto a
deitar-se e dormir mais que a orar, o amor pode ser perfeito. O Senhor Jesus Cristo de vez em
quando sentia cansaço e esgotamento quando o espírito estava ainda disposto, mas a carne era
débil.
IV. O que é essencial para o perfeito amor.
1. Implica que não haja nada na mente incompatível com o amor.
Não pode haver ódio, malícia, ira, inveja, nem nenhuma outra emoção maligna incompatível com
o amor puro e perfeito.
2. Que não haja nada na vida incompatível com o amor.
Todas as ações, palavras e pensamentos devem estar continuamente baixo o controle inteiro e
perfeito do amor.
3. Que o amor de Deus seja supremo.
O amor de Deus seja completamente supremo e tão inteiramente por cima de todos os outros
objetos que nada possa comparar-se a Deus.
4. Que o amor a Deus seja desinteressado.
Deus é amado pelo que é; não por sua relação com nós, senão pela excelência de seu caráter.
5. Que o amor ao próximo seja igual, isto é, que seu interesse e felicidade sejam considerados
por nós como de igual valor que os nossos, e que ele e seus interesses sejam tratados em
consonância.
V. Vou mencionar alguns dos efeitos do amor perfeito.
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1. Um efeito do amor perfeito a Deus e ao homem será, sem dúvida, que me deleitarei na
abnegação por amor a fomentar os interesses do reino de Deus e a salvação dos pecadores.
Os pais afetuosos se deleitam em negar-se coisas a si mesmo com vistas a fazer mais felizes a
seus filhos. Ponhamos um pai: se entrega a um trabalho esgotador, sem contar o tempo, ao longo
de sua vida, para poder manter o bem estar de sua família. E não o conta como abnegação, nem
se queixa de que seja uma carga, senão que se deleita ao fazê-lo, porque ama a família. A mãe
deseja criar e educar bem a seus filhos. Incessantemente trabalha para que seu filho possa
adquirir o que ela espera que lhe fará um futuro mais prometedor ao filho. O Senhor Jesus Cristo
gozou mais satisfação em realizar a salvação da humanidade do que seus próprios santos podem
gozar-se em receber favores de suas mãos. Deu testemunho de que era o gozo proposto diante
dele que o fez sofrer a cruz e desprezar a vergonha. O apóstolo Paulo não contou como aflição
as penalidades que lhe iam acusando de um lugar a outro, em cárceres, açoitado, apedrejado,
tudo por amor do evangelho e para salvar almas. Outros indivíduos tem feito outras coisas com a
mesma mentalidade que o apóstolo.
2. Livra a alma do poder dos motivos legais.
O amor perfeito conduz uma pessoa a obedecer a Deus, não porque teme a ira de Deus ou
espera receber uma recompensa pelo que faz, senão porque ama a Deus e quer fazer a vontade
de Deus. Há dois extremos neste ponto. Uma classe faz que a virtude consista em fazer o reto
simplesmente porque é reto, sem referência à vontade de Deus, ou a alguma influência de Deus.
Outra classe faz que a virtude consista em atuar por amor no que se faz, mas sem referência à
autoridade de Deus, como Governante e Legislador. Ambos estão no erro. O fazer uma coisa
simplesmente porque se crê que é reta, e não por amor a Deus não é virtude. Nem é virtude o
fazer uma coisa porque se ama fazê-la, a margem da vontade de Deus. Uma mulher poderia
fazer certas coisas simplesmente porque lhe gosta de fazê-las, sem relação a seu marido, não
havia virtude em fazê-las, com respeito a seu marido. Se uma pessoa ama a Deus, tão pronto
como se sabe que é a vontade de Deus, o fará porque é a vontade de Deus. O amor perfeito
conduzirá a uma obediência universal, para fazer a vontade de Deus em todas as coisas, pelo
fato de que é a vontade de Deus.
3. O indivíduo que exerce perfeito amor estará morto para o mundo.
Com isto quero dizer que haverá eliminado a possibilidade da influência por considerações
mundanas. O amor perfeito terá eliminado o egoísmo, pois não haverá mais vontade além de
fazer a vontade de Deus, e não terá outro interesse aparte da glória de Deus. Não será
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influenciado pelo sentimento público; pelo que outros dizem e pensam. Uma mulher enamorada
pode, pelo afeto que tem em seu esposo, cortar com todos seus amigos, riquezas, deleites, para
juntar-se com aquele que ama no desterro, na desgraça ou na pobreza. Seu afeto é tão grande
que a faz gozosa, e abandona um palácio para ir viver em uma cabana, e com tudo é
perfeitamente feliz. Tudo o que seus amigos e família fazem para dissuadi-la não tem o menor
efeito em sua mente. Há um afeto que absorve tudo, que matou todas as outras influências que
atuavam nela. Não há mais que esta avenida para chegar a sua mente, só uma classe de
motivos, e nada mais que este afeto.
No que se refere à filosofia da mente o amor perfeito a Deus opera da mesma maneira. A mente
está tão cheia do amor perfeito que é impossível separá-la de Deus enquanto o amor continua
ativo. Se pode atar esta pessoa na estaca para ser queimada, depois de havê-la feito passar por
toda classe de humilhações e vitupérios, mas não deixa o amor de Deus e é feliz. Morreu para o
mundo mas não para Deus.
Quem não foi testemunho de casos de afeto que se aproximam ao grau que descrevi, quando a
pessoa, de fato, morreu para todas as outras coisas e só vive para o objeto de seu amor. Casos
assim se encontra em pais que desejam morrer quando seu filho morre, ou matrimônios em que o
esposo ou a esposa enfraquecem e morrem depois de ter falecido o cônjuge. O objeto de amor
na qual estava absorvida a alma desapareceu, "porque viver mais?" Isto se aplica ao indivíduo
que está cheio do perfeito amor a Deus, que deseja viver só de amor e servir a Deus; que morreu
para o mundo, para sua própria reputação e não deseja viver para nada mais que glorificar a
Deus, aqui, no céu ou em qualquer parte do universo.
Eu lembro de um amigo dizer, freqüentemente: "E não sei de ter pensado em viver um simples
momento para qualquer outro propósito além de glorificar a Deus, algo mais que eu deveria
pensar para saltar direto para o inferno." Isto foi dito sobriamente e intencionalmente, e toda a
vida deste indivíduo correspondia com a declaração. Ele foi inteligente, sóbrio e honesto, e eu
não tinha a menor dúvida que tinha sido a mais profunda convicção desta mente por anos. O que
foi isto além de um amor perfeito? O que mais faz qualquer anjo além disto? Seu amor pode ser
grande em sua proporção, porque sua força é grande. Mas o anjo mais elevado não poderia amar
mais perfeitamente para poder dizer sinceramente "Eu deveria preferir pensar em ir para o inferno
do que viver um momento para qualquer outra coisa além de glorificar a Deus" O que poderia
dizer Jesus Cristo além daquilo.
4. Apenas é necessário dizer que o amor perfeito da como resultado um gozo e uma paz
perfeitos.
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Quero voltar ao que diz o apóstolo no capítulo 13 de 1ª Coríntios ao falar do amor. "Ainda que eu
falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou
como a prata que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo
o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda
que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver
amor, nada disso me valerá". O amor nos dá longanimidade baixo à oposição ou dano. Este é um
dos efeitos do amor, o agüentar a provocação sem vingar-nos ou sem injuriar ao outro. O amor é
terno e afetuoso em suas relações com os outros, não é rude e não acusa dor a ninguém se não
é necessário. O amor não sente inveja nem desagrado pelos demais porque se têm mais em
conta os outros, são mais honrados ou mais úteis, o alcançam maior conhecimento, felicidade ou
piedade. Não se exalta com vanglória e orgulho, senão que se mostra sempre humilde. Não se
comporta indevidamente, senão que de modo natural tem uma disposição agradável e prazerosa
para com todos. Ainda que não conheça àqueles com quem se encontra na vida, atua com eles
com carinho e cortesia; não busca o próprio interesse, não é egoísta. Não é provocado
facilmente. Este é sempre o resultado do amor.
Uma mãe tem uma paciência inesgotável com seus filhos porque os ama. A pessoa obstinada,
que se enoja facilmente e indigna-se quando não são as coisas como quer e culpa os outros,
carece de amor. O ser provocado facilmente é um sinal de orgulho. O que ama não pensa o mal.
A pessoa suspeitosa dos motivos dos outros, que interpreta os atos e palavras dos demais baixo
a pior luz possível, não tem o Espirito Santo, senão que o diabo está nele. Há pessoas que
sempre estão suspeitando heresia ou má intenção nos demais. O amor se goza na verdade.
O homem que se goza na caída do vizinho, que está pronto para reivindicar-se, que exclama com
ira: "Viu? Eu não disse!", está muito longe do amor perfeito. O amor tolera tudo, crê tudo, ou seja,
esta disposto a aceitar algo como bom por pequena que seja a evidência em seu favor. Espera
tudo, ainda que haja razão para suspeitar o mal; enquanto que haja esperança interpretará
sempre no melhor sentido possível. Quando se vê a um indivíduo que não tem este espírito não
tem amor.
O amor não produz o mal de seu próximo. Nunca engana, defrauda, oprime, nem ainda deseja o
mal a seu próximo. O que ama não pode conceber a idéia de que outro possa ser seu escravo. A
escravidão nega os direitos do outro. O que furta sorrateiramente o gado do que trabalha não
ama. O que faz coisas assim é falso e hipócrita, se é que quer fazer ver que ama a Deus. Como
pode dizer que ama a Deus se prejudica a seu próximo?
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Vou fazer notar só outro dos efeitos do amor perfeito. De um modo uniforme se mostra nos
esforços para a santificação da igreja e a salvação das almas. Quando uma pessoa é negligente
ou deficiente em uma ou outra destas coisas, não é perfeita em amor, diga esta pessoa o que
diga.
Conclusão
I. Vemos aqui porque é verdade o que diz o apóstolo Tiago: "Se alguém se considera religioso,
mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!" (1:26).
O homem que professa ser religioso mas se permite falar mal de seu próximo com uma língua
sem freio, prejudica ao próximo e se engana a si mesmo se crê que há amor ao próximo nele.
Estranho amor!
II. Há muita luz às vezes na mente com respeito à religião, sem que haja amor nenhum.
Se vêem indivíduos que entendem muitas coisas, intelectualmente, sobre a religião, e que podem
apresentá-las a outros, quando se vê de modo evidente que não são ativados pelo espírito de
amor. Não têm a lei de amabilidade em seus lábios.
III. Aqueles indivíduos que têm muito conhecimento e zelo religioso, sem amor, não são fáceis de
amar e são pessoas perigosas.
São sempre pessoas criticonas, orgulhosas, cabeças-dura, e pensam grandes coisas de si
mesmas. Produzem uma grande impressão, mas não produzem verdadeira religião. Lhe
aparentam a alguém com zelo, mas não bem.
IV. A direção do zelo de um homem mostra o caráter de sua religião e por sua vez o determina.
Mostra se a luz de sua mente vai acompanhada de amor. Se é assim seu zelo não será sectário.
Se um homem está cheio de zelo e mal disposto contra todos os que não pertencem a sua seita
ou seu partido, este homem está muito longe do amor perfeito.
O verdadeiro amor não denuncia, não é duro. Se tem ocasião de falar das faltas dos outros o faz
de modo amável e com pena. O amor perfeito não pode falar de uma maneira áspera ou
insultante aos demais ou dos demais. Não fará muita ênfase nos meros detalhes circunstanciais
da religião nem será minucioso nas formas externas. Muitos lutam ferozmente por algumas
coisas, em favor ou em contra de certos pontos acessórios, mas se estamos cheios de amor isto
não é possível. O zelo que é regido pelo perfeito amor não se dedica a contendas sobre formas
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externas de religião nem em atacar erros mínimos. O amor faz ênfase no fundamental da religião.
Se adere aos cristão ferventes, qualquer que seja a denominação a que pertençam e os ama e se
deleita associando-se com eles.
Este zelo não ama as disputas nem as controvérsias. A pessoa que se deleita em reuniões
religiosas de caráter administrativo para entrar em toda classe de pontos contenciosos não está
cheio de amor. A mente cheia de amor preferirá não ter que assistir a este tipo de reuniões nas
que só é evidente o desejo de predominar. O que ama as controvérsias nos jornais não está
cheio de amor. Se fosse preferiria que o caluniassem, insultassem, rebaixassem, antes que
defender-se e replicar. Nunca voltaria mal por mal, senão, ao contrário, devolveria bênçãos. Na
medida que lhe é possível vive em paz com todos os homens.
V. Quanto do que se chama religião carece de amor.
Quanto do que passa por obras de religião é forçado por causas e influências externas e não pelo
poder interno do amor!! teria que ser melhor entendido este ponto, que a menos que seja o amor
o meio que move a ação, não importa o que esta seja: Louvor, oferta, oração, não há religião
nela.
Quanto entusiasmo que passa por religião carece de amor! Quanto zelo não tem religião! Se esta
pessoa é repreendida em algo se indigna e contesta com ira. Baixo a influência do amor perfeito
se daria conta que suas circunstâncias não lhe permitem o exercício deste espírito.
VI. As excitações e entusiasmos religiosos que não procedem do espírito de amor, não são
avivamentos religiosos.
Talvez a igreja esteja muito entusiasmada, e há muita agitação, muita movimentação e barulho,
mas não há ternura de espírito. Talvez os que se movem mostram um espírito insolente, rude, e
buscam rixas com os visitantes. Há espíritos rixosos, que se deleitam em provocar a outras
pessoas. Se deram casos inclusive de alguns que o fizeram para logo traze-los à convicção de
pecado e procuram sua conversão. Tudo isto são aberrações. Ainda que por outra parte o que
alguns em um avivamento estejam cheios de ira não é uma prova de que não há avivamento
religioso ali; mas quando a excitação geral tem este caráter ou prevalece nela este caráter, não
se trata de um avivamento religioso. Alguns podem ter o espírito de amor, mas os que estão
impregnados de um espírito contencioso, e buscam disputas não são verdadeiros religiosos.
VII. Quando as pessoas professam ser convertidos se o amor não é o rasgo prevalecente de seu
caráter não estão verdadeiramente convertidos.
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Por mais que apareça tudo bem em outros aspectos, ainda que tenham idéias claras ou
sentimentos profundos, se não têm o espírito de amor de Deus e não amam aos outros, se
enganam. Não se pode confiar nestes convertidos.
VIII. Vemos o que seria o mundo se a humanidade fosse acionada universalmente pelo espírito
de amor.
Sabemos que chegará o tempo em que ninguém irá querer lastimar ou destruir, em que o espírito
de amor prevalecerá de modo universal. Que mudança na sociedade! Os métodos de fazer
negócios mudarão, e toda relação será distinta, pois cada um buscará o bem dos outros tanto
como o próprio. Se algum dos crentes presentes pudesse visitar a terra baixo estas novas
circunstâncias, provavelmente não a reconheceria.
IX. O que Cristo quer é trazer a toda a humanidade baixo a influência do amor.
Não é este um objetivo digno? Ele veio para destruir as obras do demônio; e esta é a maneira de
fazê-lo. Suponhamos que o mundo estivesse cheio de pessoas como foi Jesus em sua natureza
humana, e comparemos Ele com o mundo que temos agora. Não seria uma mudança assim uma
honra para o filho de Deus? Que glorioso objetivo, encher a terra de amor!
X. É fácil ver o que faz que o céu seja o que é.
É o amor perfeito. E é fácil ver que o que faz que o céu pode começar na terra, nos que estão
cheios de amor. Quão doce é seu caráter; quanto deleite estar em sua companhia; que benção
viver perto deles; quão simples, amáveis, doces e cuidadosos são, evitando ofender, e amáveis
em tudo!
Podem os homens chegar a isto? Podem amar a Deus neste mundo com todo seu coração, toda
sua alma, sua força e sua mente? É nosso privilégio e dever possuir o Espírito de Cristo, e:
Vamos exibir o espírito do Diabo? Amados, que nossos corações sejam estabelecidos em amor
perfeito, e não demos descanso a Deus até que nossos corações estejam cheios de amor, e até
que nossos pensamentos e nossas vidas estejam cheios de amor a Deus e aos homens. Oh,
Quando chegará a este ponto a igreja? Só quando a igreja esteja cheia de amor será formosa
como a Lua, brilhante como o Sol, e terrível para toda a maldade, em lugares altos ou baixos,
"imponente como um exército em ordem!"
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LEVADO A CONHECER O SEU VERDADEIRO CARÁTER
"Examinai a vocês mesmos para ver se estão na fé; provem a vocês mesmos" -- 2ª Co 13:5.
Ao falar deste texto penso seguir a seguinte ordem:
I. Mostrar o que implica o mandamento deste texto.
II. A necessidade deste mandato.
III. A praticabilidade deste mandato.
IV. Dar algumas indicações a respeito da forma de executar este dever.
I. Vou mostrar o que significa o mandato do texto: "Examinai a vocês mesmos para ver se estão
na fé; provem a vocês mesmos".
Requer que entendamos nossos próprios corações, que demos os passos apropriados para
assegurarmos do nosso caráter real, tal como aparece à vista de Deus. Não se refere a uma
prova de nossa força, nosso conhecimento, e sim de nosso caráter moral, que deveríamos provar
de modo consciente, a fim de entender como está. Implica que deveríamos saber como Deus nos
vê, o que pensa de nós e se nos considera santos ou pecadores. Não é nada menos que uma
ordem positiva que averigüemos qual é o nosso verdadeiro caráter, e decidamos definitivamente
a coisa por nossa conta, se somos santos ou pecadores, herdeiros do céu ou herdeiros do
inferno.
II. Vou mostrar a necessidade deste requerimento.
1. É indispensável para nossa paz interior que provemos e averigüemos nosso verdadeiro caráter
tal como é diante da vista de Deus.
O indivíduo que não está seguro de seu verdadeiro caráter não pode ter paz interior. Pode estar
indiferente ou apático, em maior ou menor grau, porém a indiferença é bastante diferente da paz.
E alguns dos que professam religião, ou pessoas que seguem ouvindo o evangelho, podem
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chegar a esta apatia ou indiferença ao dado do tempo, até o ponto de suprimir todos os
sentimentos de desgosto e insegurança com respeito ao seu verdadeiro caráter e destino. Não
estou falando de hipócritas, que têm suas consciências cauterizadas, ou os debochantes, que
têm se apartado totalmente de Deus. Porém quanto aos outros, é estritamente verdadeiro que
podem dar resposta a essa pergunta a fim de gozarem da paz interior.
2. É essencial à sinceridade cristã.
Um homem cuja mente não clareou qual é seu verdadeiro caráter não pode dizer que seja sincero
quanto à religião. Se declara ser religioso quando não sabe de veras se é um santo, como pode
dizer que seja exatamente sincero? É meio hipócrita em seu coração. Assim que, quando ora,
está meio em dúvida sobre suas orações, se são aceitáveis por proceder de um filho de Deus.
3. Um conhecimento justo do próprio caráter é indispensável para ser útil.
Se uma pessoa tem que ir dando voltas constantemente na pergunta <<Sou Cristão?>>; se
estiver continuamente ansioso olhando a seu próprio estado e com duvidas de onde se encontra,
isto é um obstáculo a sua utilidade. Se quando fala aos pecadores não está seguro se ele não é
também deles, não pode exortá-los com confiança e simplicidade que poderia se soubesse que
tem seus pés na rocha. É uma idéia predileta de alguns a que é melhor que os santos se achem
sempre as escuras com respeito a isso, para que sejam humildes. Isto é como se o filho de Deus
tivesse sido calculado para fazer-lhe orgulhoso. Uma das considerações de mais peso no
universo para impedi-lo de desonrar a Deus, é saber que é filho de Deus. Quando uma pessoa
está em um estado de ansiedade em sua mente, só pode Ter pouca fé, e sua utilidade não pode
ser muita até que tenha resolvido esta questão.
III. A praticabilidade deste requerimento.
É uma idéia preferida de alguns que esta pergunta não pode ser respondida com certeza no
mundo. É assombroso o número de pessoas que há, que parecem fazer uma virtude das grande
dúvidas que têm a respeito se são cristãs. Durante centenas de anos se tem considerado por
muitos como uma circunstância suspeitosa, o que um que professa religião não estivesse cheio
de dúvidas. Muitos o consideram quase como um sinal certo de que estas pessoas não sabem
nada de seu próprio coração. Uma das perguntas que se tem feito aos candidatos à admissão na
igreja de modo geral tem sido: <<Tem algumas dúvidas de teu bom estado?>> E se o candidato
responde: << Oh, sim tenho grandes dúvidas>>, tudo vai bem, e se toma como evidência de que
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ele é espiritual, e que conhece a fundo seu próprio coração e tem um alto grau de humildade.
Porém, se não tem dúvidas, se toma como evidência de que conhece pouco seu próprio coração
e que é muito provável que seja um hipócrita. Em contra disto, eu sustenho que o dever que nos
manda este texto é um dever praticável e que os cristãos podem submeter-se a esta prova, saber
por eles mesmos e Ter uma segurança satisfatória de seu verdadeiro caráter.
1. Isto é evidente pela ordem do texto:<<Examinai a vocês mesmos para ver se estão na fé;
provai a vocês mesmos.>> Crerá alguém que Deus requer que nos examinemos e provemos a
nós mesmos e vejamos qual é o nosso verdadeiro caráter, quando se sabe que é impossível que
o saibamos?
2. Temos o melhor meio de prova possível, para provarmos a nós mesmos e conhecer nosso
caráter e este meio é a consciência, ou seja, o conhecimento que temos de nossas próprias
vivências.
A consciência nos dá a maior certeza possível quanto aos modos pelos quais tem de ser
determinado nosso caráter, e a grande pergunta pode ser contestada. Qual é nosso estado diante
de Deus? Podemos e deveríamos ter a mesma classe de evidência de nosso estado ante Deus
que temos de nossa existência. A consciência está constantemente testificando de nossos
estados mentais ou vivências e só é necessário que nós tomemos nota do que a consciência
testifica, e podemos resolver a questão com tanta certeza como podemos fazê-lo sobre nossa
existência.
3. Deus dá aos homens oportunidades constantes de pôr em ação o que está em seus corações,
para que nada possa impedi-los de chegar a uma decisão sobre este assunto, a não ser a
negligência.
Se os homens estivessem fechados em calabouços, onde não tivessem oportunidades de atuar,
e não pudessem ser influenciados pelas circunstâncias, e de modo algum se pudesse
desenvolver o estado de seu coração, não se poderia culpar de não conhecer a si mesmo.
Porém, Deus os coloca em circunstâncias em que estão nesta vida com o propósito, como disse
aos filhos de Israel, de que sejam provados, e possa conhecer o que há em seus corações e se
guardam seus mandamentos ou não. As coisas que nos rodeiam devem produzir uma impressão
em nossa mente, e conduzir-nos a sentir e atuar de alguma forma. E isto nos proporciona
oportunidades de conhecimento próprio, em que vemos o que sentimos e como nos inclinamos a
atuar nas circunstâncias tão diversas.
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4. Estamos ainda bem qualificados para provar nosso próprio caráter, porque temos uma regra
perfeita com que prová-lo.
A lei de Deus é um critério verdadeiro pelo qual podemos provar nosso caráter. Sabemos
exatamente o que é, e temos por tanto uma regra invariável e infalível pela que podemos
julgarmos a nós mesmos. Podemos trazer nossos sentimentos e ações a esta regra, e compará-
los com este estándar, e saber exatamente qual é seu verdadeiro caráter à vista de Deus, pois
Deus mesmo os prova pelo mesmo estándar.
5. Nossas circunstâncias são tais que nada pode conduzir-nos a enganarmos a não ser a
intenção insincera de fazê-lo.
Indivíduo que se engana a si mesmo não é só descuidado e negligente, senão também
fraudulento, do contrário não se enganaria a si mesmo. Deve ter um alto grau de prejuízo pelo
orgulho e se cegou a si mesmo, pois do contrário teria que saber que não é o que professa ser.
As circunstâncias que requerem o exercício de sua mente são tantas e tão variadas que deve ser
uma cegueira voluntária em que devem ter induzido em si mesmos se estão enganados. Se não
tivessem oportunidades para que se mostrassem seus sentimentos poderiam ser ignorantes. O
que nunca viu um mendigo poderia ser incapaz de dizer quais são seus sentimentos com respeito
aos mendigos. Porém, se o colocamos onde há mendigos a cada dia, será um cego voluntário ou
insincero se não sabe qual é a resposta de seu coração a respeito de um mendigo.
IV. Vou mencionar algumas coisas com respeito a maneira de executar este dever.
Primeiro: Negativamente.
1. Não se faz esperando que a evidência venha a nós.
Têm muitos que parece que esperam, em uma atitude passiva, com que a evidência chegue
neles para saber se são cristãos ou não. Parece que esperam que cheguem certos sentimentos
nele. Talvez oram sobre ele; talvez oram sinceramente, e logo que venha o sentimento que os
permitiriam ter evidência satisfatória de seu bom estado. Muitas vezes não fazem nada na religião
até que obtenham esta evidência, esperam e seguem esperando, numa expectativa inútil, de que
o Espírito de Deus venha algum dia e os tirará deste pântano, em que permanecem passivos e
inertes. Podem esperar até o dia do juízo e nunca clarearão nada.
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2. Não é por alguma intenção direta de forçar os sentimentos num exercício que teremos
evidência.
A mente humana está constituída de tal forma que nunca sentiremos se tratarmos de sentir. Pode
tentar com tanta determinação como queira, para ver se pode ter um sentimento particular. Teus
esforços para fazer aparecer sentimentos são totalmente inúteis e glosóficamente absurdos. Não
há dúvida neste momento diante da mente que possa produzir a emoção ou o sentimento. O
sentimento deve ser despertado na alma pelo fato da mente se fixar em algum objeto apropriado
para produzir sentimentos. Porém, quando a mente está fixa, não sobre o objeto, senão na
intenção direta de produzir o sentimento este não aparecerá. É impossível. A atenção tem que ser
absorvida por um objeto capaz de produzir sentimento, ou este não aparecerá. Pode fechar os
olhos e esperar para ver, ou fazê-lo em um quarto escuro. Em um quarto escuro não tem nenhum
objeto capaz de estimular a vista, e qualquer esforço para ver é inútil. Quando a atenção da
mente está dirigida para dentro e tenta examinar a natureza da emoção presente, esta emoção
deixa de existir no mesmo instante, porque a atenção já não está fixa no objeto que causa a
emoção. Ponho minha mão diante desta lâmpada, que projeta uma sombra; porém se tiro a
lâmpada, não há sombra. O mesmo pelo que se refere à mente que se aparta do objeto que
desperta a emoção; esta deixa de existir. A mente deve estar fixa no objeto, não na emoção, ou
não haverá emoção e conseqüentemente não haverá evidência.
3. Nunca conseguirá evidência passando o tempo lamentando-se pelo estado de seu coração.
Alguns passam o tempo em gemidos e queixas. <<Oh, não sinto nada, meu coração é tão
duro.>> O que está fazendo? Nada, senão gemer e chorar porque não sente. Talvez tratem de
esforçar-se para poder sentir! Isto não tem sentido. É como tentar voar. Enquanto se queixam,
gemem e pensam no duro de seu coração, não fazem nada, e o demônio se diverte.
Suponhamos que um homem se aparta do fogo e logo se queixa que tem frio; seus próprios filhos
vão rir dele. Se ele se afasta do meio de calor, Como não vai esfriar-se? E todas a queixas e
lamentações não vão tampouco serem úteis.
Segundo: Positivamente. O que devemos fazer para cumprir este dever?
Se queres provar o verdadeiro estado de seu coração com respeito a qualquer objeto, deve fixar
tua atenção neste objeto. Se deseja provar o poder ou o quanto é aguçada que é esta vista deve
aplicar esta faculdade ao objeto e logo provar o estado desta faculdade. Se coloque entre objetos
para provar tua vista; e entre sons para provar teu ouvido. E quanto mais você fecha os outros
sentidos para que os objetos não os estimulem, mais perfeitamente provarás a agudez de sua
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visão ou a perfeição de seu ouvido. Tem muitas coisas que podem distrair o coração. Quando
prestamos atenção a um objeto calculado para despertar sentimento, é impossível não sentí-lo. A
mente está constituída de tal forma que não pode evitar o sentir. Não é necessário parar e
perguntar <<Sinto calor?>> Já se sabe, porque sentimos. Se passar a mão rapidamente diante de
um foco de calor a sensação pode ser muito ligeira, quase imperceptível, porém se prestar
atenção a notará. Quando a impressão é leve requer maior esforço da atenção para percebe-la.
Até mesmo os sentimentos fugazes podem ser tão ligeiros que quase não ocupam nosso
pensamento e assim nos passam inadvertidos, porém não é por isso que são menos reais. Mas
pondo a mão um minuto junto com a lâmpada ardendo, a sensação se imporá por cima de outras
ocupações. Se a mente está fixa em um objeto capaz de estimular emoções de alguma classe, é
impossível não sentir as emoções em algum grau; e se a mente está em estado de máxima
atenção, é impossível não sentir as emoções num grau tal que nos demos conta de que existem.
Estes princípios nos mostrarão como devemos de fazer a prova de nosso caráter, e saber o
estado real de nossos sentimentos a qualquer objeto. É fixando a atenção em um objeto até que
nossas emoções estejam estimuladas e se façam conscientes.
Vou especificar outra coisa que devemos lembrar. Assegure-se de que as coisas nas quais
enfoca tua mente e sobre as quais desejas por em prova o estado de seu coração sejam
realidades.
Há uma grande quantidade de religião imaginaria no mundo, que as pessoas afetadas tomam
equivocadamente por real. Têm grandes sentimentos, suas mentes estão muito entusiasmadas e
o sentimento corresponde ao objeto contemplado. Porém, aqui está a causa do engano: o objeto
é imaginário. Não é que o sentimento seja falso ou imaginário. O sentimento é real. Não é que o
sentimento não corresponda ao objeto na mente. Corresponde a ele perfeitamente. Mas o objeto
é uma ficção. O indivíduo formou para si uma noção de Deus ou de Jesus Cristo, ou da salvação,
que está completamente fora da verdade, e seus sentimentos ante estas imaginações são os
mesmos que seriam produzidos pelos objetos verdadeiros, se sua religião fora verdadeira, pelo
qual se enganam. Aqui há induvidavelmente a maior fonte de esperanças e professões de fé
falsas no mundo.
V. Vou agora especificar as poucas coisas nas quais é teu dever provar o estado de sua mente.
1. Pecado: não teu pecado em particular, senão o pecado em geral, com um ultraje, como um
ultraje cometido contra Deus.
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Não tem que supor que chegarás a conhecer o verdadeiro estado de teu coração meramente
descobrindo em tua mente um forte sentimento de desaprovação do pecado. Isto pertence à
natureza de um ser inteligente como tal. Todos os seres inteligentes sentem desaprovação do
pecado, quando o considera de modo abstrato e sem referência alguma com a própria satisfação
egoísta. O demônio, sem dúvida, o sente. O demônio não sente mais aprovação pelo pecado do
que Gabriel. Ele culpa aos pecadores, condena sua conduta e sempre que não tem motivos
egoístas para sentir prazer pelo que fazem, aborrece o pecado. Nos mesmos malvados na terra
você pode encontrar um aborrecimento intenso ao pecado. Não há homem na terra que não
condene e aborreça o pecado em abstrato. A mente está constituída assim: o pecado é de modo
universal e natural aborrecido pela necessidade da razão e da consciência reta. Todo poder da
mente se rebela ante ao pecado. O homem sente prazer nos que cometem iniqüidades só
quando têm alguma razão egoísta para desejar que as cometam. Não há nenhum ser racional
que aprove o pecado como pecado.
Porém, há uma grande diferença entre a desaprovação do pecado, como algo abstrato, e detestá-
lo de coração e se opor ao mesmo, fundamentando isto no amor a Deus. Vou ilustrar a idéia.
Uma coisa é que um jovem veja que certo ato é mal, e algo mais o que o considere como um
ultraje contra seu pai. Aqui há algo mais acrescentado ao primeiro sentimento. Não só a
indignação contra o mal, senão seu amor ao pai que produz um sentimento de agravio misturado
com indignação quando o considera cometido contra Deus.
Se queres saber qual é teu sentimento contra o pecado, pergunta-se, pois, Quais são teus
sentimentos quando te moves entre pecadores e vês que infringem a lei de Deus? Quando ouve
que blasfemam, ou quebrantam o dia do Senhor, ou se embebedam, Quais são teus
sentimentos? Sente como o salmista quando escreveu: << Contemplei aos transgressores, e me
afligi, porque não guardavam tua palavra.>> Assim que diz: << Rios de águas correram de meus
olhos, porque não guardavam tua lei.>> E outra vez: << Horror tem se apoderado de mim, porque
os maus tem abandonado tua lei.>>
2. Tem que pôr a prova o estado de seus coração com respeito a seus pecados.
Olhe para trás, a teus pecados passados, lembre de tua conduta de outros tempos, e veja se de
um modo claro os condena e os aborrece, e sente o que sentiria uma criança afetuosa quando
trata de lembrar que desobedeceu a seu pai. É possível sentir uma forte convicção de pecado
com respeito a uma conduta anterior própria que foi um delito ou pecaminosa. Porém, o que é
importante é se este sentimento se acompanha das emoções de aflição e pena, por ter
desobedecido a Deus. Provavelmente há poucos cristãos que não têm olhado a sua antiga
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conduta com respeito a seus próprios pais com viva emoção e têm pensado no pai afetuoso ou
na mãe amorosa aos quais têm desobedecido e entristecido; e que tem sentido além do mais um
sentimento de desaprovação de sua conduta, e de profunda emoção de pena, que os inclinava a
chorar e até os forçava a verter lágrimas. Pois bem, este é o verdadeiro arrependimento com
respeito aos pais. E o arrependimento a Deus é o mesmo se é genuíno, e corresponderá em grau
com a intensidade da atenção com a qual a mente se fixa no objeto.
3. Queira pôr a prova teus sentimentos com respeito aos pecadores impenitentes.
Logo que você vê eles e tem tratos com eles, falando sobre o tema de suas almas, advertíndo-os,
do que dizem e do que sentem, coloque-se à corrente do estado real de seus corações, e logo
saberá o que você sente com respeito aos impenitentes. Não te feches em teu quarto e tente
imaginar a uma pecador impenitente. Podes trazer a tua mente um quadro que afete tuas
simpatias e te faça chorar e orar. Nada disso. Ponha teu coração em contato com a realidade viva
do pecador, raciocine com ele, exorte-o, vê suas preocupações, sua obstinação, sua
insinceridade, ore com ele se possível. Não pode fazer isto sem despertar emoções em tua
mente, e se é um cristão, despertará em você emoções misturada com pena, compaixão e
indignação, como sente Jesus Cristo e não ficará lugar para dúvidas sobre este ponto. Ponha tua
mente em contato com os pecadores, e mantenha-a aí, e presta atenção ao que sente.
4. Queira provar o estado de sua mente com Deus.
Concentre teus pensamentos diretamente em Deus. E não o faças segundo a imaginação de teu
próprio coração insensato, senão pegue a bíblia e aprende nela o que é a verdadeira idéia de
Deus. Não imagine sua forma, nem aparência, nem seu aspecto, senão ponha tua mente na
descrição bíblica ao que sente, faz e diz, e não pode menos que sentir. Aqui você achará o
estado real de teu coração. E mais, isto constituirá o estado real de seu coração sobre o qual
você não pode confundir-se.
5. Ponha em prova teus sentimentos com respeito a Cristo.
Tem que saber se amas ao Senhor Jesus Cristo ou não. Repasse as circunstâncias de sua vida,
e veja se aparecem como realidades em tua mente, seus milagres, seus sofrimentos, seu nobre
caráter, sua morte, sua ressurreição, sua ascensão, sua intercessão agora à destra do trono de
Deus. Você crê nestas coisas? Estão estas realidades em sua mente? Quais são teus
sentimentos à vista delas? Quando pensa em sua boa vontade para salvar, sua morte expiatória,
seu poder, se todas estas coisas são realidades para você, terá sentimentos dos quais será
consciente, e com respeito aos quais não será possível que te confundas.Página | 124
6. Quais são teus sentimentos com respeito aos santos?
Se voe quer por a prova teu coração com respeito a este ponto, se ama os santos, não deixe que
teus pensamentos viagem para os extremos da terra, senão deixe que tua mente se concentre
nos que tem perto e veja se os ama, se desejas sua santificação, se realmente queres que
cresçam na graça, se pode levá-los em teu coração ao trono da graça, e pedir a Deus que os
abençoe.
7. O mesmo com respeito aos avivamentos.
Se você quer saber o estado de teus sentimentos com respeito aos avivamentos, leia sobre eles,
pense neles, fixa tua mente neles, e não pode por menos que ter sentimentos que te darão
evidência do estado de seu coração. O mesmo se pode dizer dos pagãos, dos escravos, dos
viciados, da bíblia, de qualquer objeto de consideração piedosa. O único modo de conhecer o
estado de seu coração é concentrar tua mente na realidade destas coisas, até que sinta tão
intensamente que não haja erros possíveis com respeito a natureza de seus sentimentos.
Se você acha alguma dificuldade em conseguir que algum de estes pontos produza sentimentos,
é devido a uma entre duas razões, ou bem que tua mente está absorvida por outros aspectos da
religião, de modo que não te permite concentrar-se propriamente em algum ponto específico, ou
que teus pensamentos divagam soltos por todas as partes. O primeiro ocorre as vezes, e tenho
conhecido alguns cristãos que estavam muito aflitos porque não sentiam tão intensamente como
acreditavam que deviam, sobre alguns pontos. Como por exemplo, seus próprios pecados. A
mente de uma pessoa pode estar tão absorvida pela ansiedade, pelo trabalho e a oração pelos
pecadores, que se requer um esforço para pensar bastante sobre o conteúdo de sua própria alma
para sentir profundamente, e quando se põe de joelhos para orar por seus próprios pecados, este
pecador, com quem a pessoa estava falando antes, se apresenta vivamente em sua mente, de tal
forma que ela apenas pode orar por si mesma. Isto não deve ser considerado em contra da
pessoa: a razão pela qual não se sente sobre um ponto da religião é porque os sentimentos estão
tão absorvidos por outro, de igual importância. Porém, se teus pensamentos divagam por todas
as partes, e esta é a razão por não sentir com bastante intensidade qual é teu verdadeiro caráter,
se tua mente não se concentra na bíblia e se fixa em algum objeto de sentimento religioso, tenha
cuidado de você mesmo e endireite seus pensamentos com mão firme, até que sintas. A pessoa
tem controle de seus pensamentos: Deus colocou o controle da mente em sua mão. E desta
maneira, tem controle de seus sentimentos, fixando sua atenção no objeto sobre o qual quer
sentir. Concentre-se de modo determinado, decidido, sobre este ponto e torrentes de sentimentos
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brotarão de sua mente, e conhecerás qual é o estado de seu coração e entenderás teu caráter
real de acordo com a vista de Deus.
Conclusão
1. A atividade na religião é indispensável para o auto exame.
Um indivíduo não pode conhecer nunca o estado verdadeiro de seu coração a menos que esteja
ativo nos deveres religiosos. Se ele fecha-se em seu quarto, nunca poderá dizer quais são seus
sentimentos com respeito aos objetos que estão afora, e nunca poderá sentir propriamente sobre
eles, até que saia e atue. Como posso saber qual é meu sentimento real aos pecadores, se
nunca ponho minha mente em contato com eles? Se você vai ao teu quarto e com a imaginação
te fazes sentir sobre eles, não faz nada mais que enganar-se, pois não tem produzido um
sentimento verdadeiro, real. Se você quer por a prova a realidade de seus sentimentos aos
pecadores saia, adverte aos pecadores e logo você poderá ter a realidade de seus sentimentos
manifestada.
2. A menos que uma pessoa ponha a prova seu coração pela realidade das coisas, esta estará
constantemente submetida à ilusão, e se enganará de tudo.
Suponha um indivíduo que se fecha enclausurado, aparte da realidade do mundo, vivendo em um
mundo de sua imaginação. Passa a ser uma criatura perfeita de imaginação. O mesmo ocorre na
religião com os que não põem sua mente em contato com a realidade. Estas pessoas acreditam
que amam a humanidade, porém não os faz nenhum bem. Imaginam que aborrecem o pecado e
não fazem nada para destruí-lo. Quantas pessoas enganam a si mesmas por um entusiasmo da
imaginação exercida, por exemplo, sobre as missões; quanto comum é que haja pessoas que
põem uma grande quantidade de sentimento, e celebram reuniões de oração pelas missões,
porém realmente não fazem nada para salvar almas. Uma mulher pode passar o dia todo indo de
uma reunião de oração à outra para orar pela conversão do mundo, enquanto que seu marido
impenitente está com ela na cozinha e não o diz uma palavra dirigida para salvar sua alma o dia
todo o talvez todo o mês. Há pessoas que se levantam em reuniões públicas e falam de seu
sentimento pelos pagãos e não fazem o menor esforço direto para salvar os pecadores que os
rodeiam. Este é o resultado da imaginação. Não há realidade nesta religião. Se tivessem amor
real por Deus, amor pelas almas e piedade real, os quadros remotos dos pagãos pintados pela
imaginação não criariam mais sentimentos nele que a realidade que os rodeia.
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Não serve dizer que isto é porque sua atenção não está voltada para os pecadores que os
rodeiam. Ouvem proferir blasfêmias, e vêem que se quebranta o dia de repouso e outros vícios, e
a realidade desnuda está diante de seus olhos, um dia após o outro. E se isto não produz
sentimentos neles, é em vão fazer ver que sintam o que Deus requer com respeito aos pecadores
de países de onde seja. E mais, se tomarmos estes indivíduos agora estão cheios de sentimentos
pelos pagãos - transportando-os às Ilhas dos Amigos, ou a qualquer outro lugar, fora de sua
imaginação e em meio da crua realidade do paganismo, todo este sentimento profundo
desaparece. Podem escrever cartas cheias das abominações dos pagãos, e coisas assim, porém
seus sentimentos com respeito a sua salvação desapareceu. Se pode ouvir falar sobre os pagãos
de pessoas que nunca tenham convertido uma alma em casa; não cabe dúvida que tudo isto é
imaginação. Se não estimulam e fomentam os avivamentos em casa, onde entendem a
linguagem e têm acesso direto a seus vizinhos, muito menos se pode contar que fariam algo da
obra real para a religião em território pagão. As igrejas teriam que entender isto, e pensar nele
quando selecionam homens para as missões estrangeiras. Têm que saber que se a realidade
desnuda não estimula a pessoa para a ação, o diabo vai rir do que fariam um milhão desses
missionários.
O mesmo engano se manifesta com respeito aos avivamentos. Há indivíduos que são muito
amigos dos avivamentos. Porém notemos bem, sempre são amigos dos avivamentos em tempos
passados, os avivamentos abstratos, os remotos ou futuros. Porém com respeito aos
avivamentos presentes, sempre se encontram reservados ou duvidosos. Podem ler de
avivamentos dos dias do Presidente Edwards, ou na Escócia, ou no País de Gales, se
entusiasmam extraordinariamente e se deleitam. Podem orar: << Senhor, aviva tua obra; Oh,
Senhor, dá-nos estes avivamentos, um novo pentecostes, em que se convertam milhares em um
dia.>> Porém, coloque-os na realidade das coisas, e nunca há um avivamento que desperte neles
o menor interesse, ou os satisfazem. São amigos das ficções imaginárias de sua mente; podem
criar um estado de coisas que estimule seus sentimentos, porém a realidade crua não os põem
em uma atitude de cooperação e de ajuda real no avivamento.
Nos dias do nosso Senhor, as pessoas diziam que aborreciam os feitos daqueles que haviam
perseguido os profetas, e sem dúvida criam. Diziam: <<Se houvéssemos estado nos dias de
nossos pais não haveríamos sido participantes com eles do derramamento de sangue dos
profetas.>> Não há dúvida que se maravilhavam de que haviam feito aquelas coisas. Nunca
haviam visto um profeta; movia a imaginação deles, simplesmente. E tão pronto como apareceu o
Senhor Jesus Cristo, o maior dos profetas, na qual se centram todas as profecias, o rejeitaram e
finalmente lhe deram a morte, com tanta crueldade como haviam mostrados seus pais quando
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haviam matado um profeta. << Enchei a medida de vossos pais - os dizia nosso Salvador -, que
sobre vocês possa vir todo o sangue justo derramado sobre a terra.>>
A humanidade sempre tem se enamorado dos produtos da imaginação, desde todos os tempos e
tem tropeçado com eles e dado de cabeça no inferno. Olhe aos Universalistas. Imaginam que
Deus vai salvar a todo o mundo, em todos os casos, e que haverá um céu que acomodará a
todos; e logo que amam a este deus que fizeram, e o céu que imaginaram e talvez até choram de
amor. Seus sentimentos são às vezes profundos, porém são ilusórios, porque são excitados pela
imaginação e não pela verdade.
3. Quanto mais sai um indivíduo de si mesmo e faz coisas que não pertencem a ele, o tema de
seu pensamento, mais piedade terá, e mais se evidenciará esta piedade.
A religião consiste no amor, no sentimento reto e em fazer o reto, ou seja, o bom. Se, portanto
você deseja ter muita piedade, não pense que vai tê-la cultivando-a em formas que não façam
crescer esta piedade; isto é, retirando-te a um claustro e apartando-te de todo contato com a
humanidade. Se o Senhor Jesus Cristo houvesse considerado que estas circunstâncias eram
favoráveis para a piedade, nos haveria dito que o fizéssemos. Porém, Ele não pensava assim.
Portanto, planejou nossas circunstâncias tais como são, de modo que seu povo possa ter mil
oportunidades de exercer benevolência, de fazer o bem. E se saímos de nós mesmos e voltamos
de coração a estas coisas, não podemos por menos que crescer na piedade e ter evidência de
que cresce de modo satisfatório.
4. É só no aspecto do autoexame que podemos fechar-nos sistematicamente em nosso quarto
para executar nosso dever; isto é, quando queremos olhar para trás e examinar com calma os
motivos de nossa conduta passada. Nestes casos é freqüentemente necessário abstrair nossos
pensamentos e manter outras coisas fora de nossa mente para voltar a mente às coisas que
temos feito e os motivos pelos quais temos obrado. Para fazer isto de modo efetivo é necessário,
com freqüência, recorrer ao retiro, ao jejum e à oração. As vezes é impossível despertar
lembranças vivas do que desejamos examinar sem recorrer às leis da associação que venha a
ajudar-nos. Tentamos lembrar cenas passadas, e tudo parece confuso e às escuras, até que
damos com uma idéia associada e gradualmente nos apresenta a coisa fresca e recente adiante.
Suponhamos que me chamem como testemunha no tribunal com respeito a um incidente. Com
freqüência posso conseguir uma lembrança e então se aparecem todas as circunstâncias como
se tivesse ocorrido ontem. E assim achamos que ocorre com respeito ao exame a alguma parte
de nossa própria vida, que não virá por mais que nos fechemos em nós mesmos, nem meditando,
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nem orando, nem jejuando até que nos ponhamos em algumas circunstâncias que despertem as
idéias associadas e com elas os sentimentos que previamente havíamos tido.
Suponhamos um ministro que deseja lembrar e considerar seus sentimentos e o espírito com que
havia pregado há anos. Deseja saber quanta piedade real havia em seus labores. Poderá
conseguir muito em seu quarto de joelhos, por meio da ajuda da forte influência do Espírito de
Deus. Porém, obterá um resultado muito mais efetivo indo ao lugar e pregando ali outra vez. A
atitude exata que havia em sua mente pode reaparecer e estar diante de sua mente como uma
firme realidade.
5. Ao examinar a si mesmo tenha cuidado de evitar o esperar achar todas as graças do cristão no
exercício de sua mente num instante.
Isto é contrário a natureza da mente. Tem que dar-te por satisfeito se você acha que a atividade
de tua mente é reta, sobre o tema que está considerando. Se tem sentimentos inapropriados
naquele momento, isto é outra coisa. Porém, se você acha que as emoções naquele momento
são as devidas, não tire uma inferência equivocada porque você não encontra alguma emoção
reta que você esperava que estivesse presente. A mente está constituída de tal forma que só
pode ter uma série de emoções ao mesmo tempo.
6. Disto se pode compreender por que as pessoas, com freqüência, não sentem mais do que
sentem.
Seguem um curso não que é apropriado para produzir sentimento. Sentem, porém não sobre o
apropriado. A humanidade sempre sente sobre alguns pontos; e a razão pela que não sentem
mais profundamente sobre temas religiosos é porque sua atenção não está profundamente fixa
nestes temas.
7. Aqui se vê a razão pela qual tem uma diversidade tão estranha nas atividades dos cristãos
reais.
Há cristãos cujos sentimentos, quando têm sentimentos, são sempre de caráter alegre e
contente. Há outros cujos sentimentos são sempre tristes e deprimentes. Há os que seus
pensamentos estão dirigidos a objetos diferentes. Uma classe está sempre pensando em objetos
que os fazem sentir felizes; outros pensam no estado da igreja, no estado dos pecadores, e isto
pesa sobre eles como uma carga, como se houvesse uma montanha sobre seus ombros. Ambos
são religiosos, os sentimentos são retos, considerando os objetos que embargam sua atenção. O
apóstolo Paulo sentia continuamente aflição em seu espírito em conseqüência de seus irmãos.
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Não há dúvida que estava bem. O caso de seus irmãos que haviam rejeitado ao Salvador pesava
tanto em seu pensamento, a sentença que colocava sobre sua cabeça, estava constantemente
em sua mente, Como podia deixar de sentir o peso?
8. Observe a influência destas duas classes na utilidade dos indivíduos.
Se consideramos um cristão muito gozoso e feliz, veremos que geralmente não é um cristão
muito útil. Pelo comum, estes estão se deleitando no doce da religião, porém não fazem muito. Se
acham ministros que predicam muito sobre estes temas, e fazem a seus piedosos ouvintes muito
felizes no religioso, porém estes ministros raramente são instrumentos para a conversão de
muitos pecadores, por mais que sejam um refrigério e edifiquem aos santos. Por outro lado,
achamos a homens que estão profundamente saturados de agonia na alma, considerando o
estado dos pecadores e estes são instrumentos na conversão de outros. A razão é evidente. Os
dois predicam a verdade, os dois predicam o evangelho, em diferentes proporções, e os
sentimentos que despertam correspondem aos pontos de vista desde os que predicam. A
diferença é que o primeiro colabora com os santos e o outro converte os pecadores.
Se pode ver uma classe de pessoas que professam religião que sempre estão contentes e que
são agradáveis e amáveis como companheiros, mas que raramente se ocupam de arrancar os
pecadores do fogo. Achamos a outros que estão agonizando pelos pecadores, considerando seu
estado e suspirando por converter almas. Em vez de gozar de antemão o céu já na terra,
simpatizam com o Filho de Deus quando estava na terra e gemem em seu espírito passando toda
a noite em oração.
9. O verdadeiro espírito de avivamento é um espírito de desejo agonizante e oração pelos
pecadores.
10. Aqui se vê como se explicam teus próprios sentimentos em ocasiões diferentes. As pessoas
se perguntam às vezes por que sentem o que sentem. A resposta é clara. Sentem assim porque
pensam assim. Se diriges tua atenção a certos objetos terás os sentimentos que são produzidos
por estes pensamentos.
11. Se vê também porque os sentimentos de algumas pessoas são tão cambiáveis.
Há muitos cujos sentimentos estão sempre mudando e são variáveis. É porque seus
pensamentos não estão fixos. Se prestassem atenção e fixassem seus pensamentos, seus
sentimentos seriam regulados.
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12. Se vê a maneira de engendrar qualquer estado de felicidade desejado em sua mente, e como
engendrar algum estado desejado nos sentimentos de outros.
Ponha teus pensamentos num tema que seja apropriado para produzir estes sentimentos e limita-
se a eles, e os sentimentos se produziram sem falha.
13. Há multidões de pessoas piedosas que desonram a religião com suas dúvidas.
Estão perpetuamente falando de suas dúvidas, e chegam a conclusão precipitada de que não têm
religião. Em tanto que, se, em vez de fomentar e permanecer em suas dúvidas pusessem sua
mente sobre outros temas, em Cristo por exemplo, e saíssem a buscar pecadores e tratassem de
levá-los ao arrependimento, pode-se afirmar que seus sentimentos seriam retos, e se dissipariam
suas dúvidas.
Lembre-se de que não tem que esperar ter os sentimentos necessários para fazê-lo. Talvez
alguma das coisas que tenho dito não tenham sido entendidas propriamente. Não se tire a
inferência que tem que permanecer quieto e não fazer nada até que esteja convencido de que se
sente o que se deve. Coloque-se nas circunstâncias que te farão sentir de modo apropriado e
coloque-se a trabalhar. Por uma parte, a agitação e a ansiedade sem sentimentos não te serve
para nada, e por outra, o fechar-se no quarto e esperar que venham os sentimentos tampouco te
serve para nada. Tem que entrar em atividade e permanecer ativo. De outro modo nunca vai ter
os sentimentos apropriados. E logo mantenha tua mente constantemente baixo a influência dos
objetos que são apropriados para criar e manter vivos os sentimentos cristãos.
OS VERDADEIROS SANTOS
"Quem está por Jeová?"-- (Êxodo 32:26).
A pergunta foi dirigida por Moisés à nação que havia sido escolhida como povo de Deus,
imediatamente depois que abandonaram a Deus enquanto Moisés se encontrava no Monte,
quando adoraram ao bezerro de ouro que havia sido fundido para eles por Arão. Depois de
admoestar a nação culpável, lhes perguntou: "Quem está por Jeová?" Não é minha intenção
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entrar em detalhes da história deste caso particular, senão ir diretamente ao plano que tenho para
esta noite, e que consiste em mostrar que há:
TRES CLASSES DE CRISTÃOS PROFESSOS
I. Os verdadeiros amigos de Deus e dos homens.
II. Os que são movidos tão só pela esperança ou por temor, em outras palavras por amor a si
mesmos, ou seja, por egoísmo.
III. Os que são movidos pela opinião pública.
Estas três classes podem se distinguir prestando atenção às manifestações externas em suas
vidas que mostram qual é a pauta diretriz de sua religião. Não há que provar que as pessoas
podem adotar a religião por motivos diferentes, alguns por amor real a religião e outros por outros
motivos. As diferenças podem ser classificadas nestas três classes, e ao fixar-se no
desenvolvimento de seus motivos reais para fazerem-se religiosos, nos damos conta de seu
caráter. Todos professam serem servidores de Deus, e com tudo ao observar as vidas de muitos,
se faz manifesto que em vez de serem os servidores de Deus, alguns só tratam de fazer que seja
Deus o que sirva a eles. Seu objetivo principal é assegurar sua própria salvação, ou alguma outra
vantagem para si, por meio do favor de Deus. Procuram fazer de Deus seu amigo, para que
possam usá-lo por sua vez segundo sua conveniência.
I. Há uma classe de cristãos professos que são amigos de verdadeiros de Deus e dos homens.
Se alguém se fixa nas coisas que se desenvolvem do verdadeiro desígnio e objetivo de sua
religião, se vê que o são. A qualidade que descola neles é a benevolência verdadeira e sincera.
1. Manifestarão isto porque se esforçam em evitar o pecado.
Mostrarão que o aborrece neles mesmos e que o aborrece nos outros. Não justificam neles e o
aborrece nos outros. Não buscaram cobrir com desculpas seus próprios pecados, nem trataram
de cobrir ou desculpar os pecados dos demais. Em uma palavra, seu objetivo é a PERFEITA
SANTIDADE. Este curso de ação faz evidente que são verdadeiros amigos de Deus. Não quero
dizer com isto que cada verdadeiro amigo de Deus é perfeito, como não é perfeito todo filho
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obediente e afetuoso, nem cumpre sem falta seu dever sempre para com os seus pais. Mas se é
um filho obediente seu objetivo é obedecê-lo sempre, e se falta com respeito, de modo algum o
justifica ou se desculpa, ou trata de dissimulá-lo, senão que assim que pensa na coisa se sente
descontente consigo mesmo e condena sua conduta.
E assim estas pessoas que são verdadeiros amigos de Deus e dos homens, sempre estão
dispostos a queixar-se de si mesmo e a acusar-se e condenar-se pelas coisas que não estão
bem. Mas se vê que nunca acham faltas em Deus. Nunca se ouve que se desculpem lançando a
culpa em seu Criador, dizendo que não são capazes de obedecer a Deus, ou falando como se
Deus requeresse coisas impossíveis das criaturas. Sempre falam mostrando que estão
convencidos que o que Deus requer é reto e racionável, e eles são os que têm a culpa da
desobediência.
2. Manifestam um profundo aborrecimento pelos pecados dos outros.
Não tratam de dissimular os pecados dos outros, nem os desculpam, defendem ou passam por
alto, dizendo que "talvez isto" ou "talvez aquilo". Nunca se lhe ouve que se desculpem pelo
pecado. Tal como se indignam ante seu próprio pecado são justos também quando o vêem em
outros. Fazem-se responsáveis de sua terrível natureza, e a aborrecem sempre.
3. Outra coisa em que seu espírito se manifesta é sua diligência pela honra e pela glória de Deus.
Mostram o mesmo ardor para fomentar a honra e interesses de Deus que o verdadeiro patriota
ostenta a favor dos interesses e honra de sua pátria. O que ama de veras seu país, seu governo
e seus interesses põe seu coração em fazer progredir e em honrar a seu país. Ou mesmo um
filho que ama verdadeiramente a seu pai, nunca está contente até que possa fazer algo a favor
da honra e interesse de seu pai. E nunca se sente mais indignado do que quando alguém falta a
seu pai ou o injuria. Se ele vê seu pai desobedecido ou abusado por aqueles que lhe devem
obediência, amor e honra, seu coração se quebranta com uma indignada aflição.
Há multidões de cristãos professos, inclusive ministros, que são muito zelosos em defender seu
próprio caráter e sua própria honra. Mas esta classe se sente muito mais afetada quando a causa
que há de defender é a honra e interesse de Deus. Estes são os verdadeiros amigos de Deus e
do homem.
4. Mostram que participam nos sentimentos de Deus aos homens.
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Sentem pelas almas a mesma classe de simpatia que Deus sente. Não quero dizer no mesmo
grau, senão o mesmo tipo ou classe de sentimentos. Há neles um amor a suas almas e um ódio a
sua conduta. Há algo que poderia chamar-se uma simpatia constitucional ou natural, que permita
a pessoa sentir afeto pelos que estão em dificuldades. Isto é natural. Isto ocorre sempre, a menos
que um, motivado por alguma razão egoísta, tenha sentimentos de malevolência. É visto que se
enforcam a um malfeitor é natural sentir compaixão. O efeito ou simpatia que sentiriam os maus
por ele é distinto.
Há outra classe de simpatia peculiar que sente o verdadeiro filho de Deus e que manifesta aos
pecadores. É uma mistura de aborrecimento e compaixão, de indignação a seus pecados e
piedade a sua pessoa. É possível sentir este profundo aborrecimento ao pecado misturado com
profunda compaixão pelas almas, que são capazes de felicidade eterna mas contudo se dirigem a
sua desgraça eterna.
Vou explicar-me: há duas classes de amor: uma é o amor da benevolência. Este não faz
diferenças no caráter da pessoa amada, senão que simplesmente vê o indivíduo como exposto
ao sofrimento e à desgraça. Isto é o que sente Deus aos homens. A outra classe inclui a estima
ou aprovação do caráter. Deus a sente só aos justos. Nunca sente esta classe de amor aos
pecadores. Deus os aborrece infinitamente. Tem uma mistura de forte compaixão e
aborrecimento ao mesmo tempo. Os cristãos têm os mesmos sentimentos, ainda que não no
mesmo grau, mas têm os dois ao mesmo tempo. Provavelmente nunca se sentem bem a menos
que tenham estes dois sentimentos, compaixão e aborrecimento, em exercício ao mesmo tempo.
O cristão não sentirá o que Deus sente aos indivíduos, nem com respeito ao verdadeiro caráter
dos indivíduos, a menos que haja nele uma mistura dos dois ao mesmo tempo. Isto se vê como
uma característica surpreendente. O cristão reprova de modo claro e freqüente àqueles pelos
quais sente a mais profunda compaixão. Você não tem visto isto? Não tem visto um pai cheio de
compaixão pelo filho, repreendendo-lo com lágrimas e ao mesmo tempo com uma severidade que
faz tremer o pequeno ofensor. Jesus Cristo manifestou freqüentemente e intensamente estas
duas emoções. Chorou sobre Jerusalém, e contudo nos deixa a razão de uma maneira que
mostra esta ardente indignação sobre sua conduta. "Jerusalém, Jerusalém, que mata aos
profetas e apedreja aos que são enviados a ti!" Ah, que visão mais clara de sua maldade no
mesmo momento em que estava chorando de compaixão pela sentença que pertencia a eles!
O mesmo pode dizer-se desta classe de cristãos. Nunca se encontra a algum deles que se dirija a
um pecador meramente com a finalidade de fazer-lhe chorar porque outro está chorando por ele.
Mas suas ternas apelações vão acompanhadas de uma firme repreensão do pecado.
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Quero lembrar-los este ponto, que o verdadeiro amigo de Deus e do homem nunca se põe do
lado do pecador, porque nunca atua por mera compaixão. E ao mesmo tempo, nunca denuncia
ao pecador sem ao mesmo tempo manifestar compaixão por sua alma e um forte desejo de
salva-lo da morte.
5. É um objetivo proeminente destes cristãos, em todas suas relações com os homens, o procurar
faze-los amigos de Deus.
Tanto na conversação como na oração, ou atendendo aos deveres da vida, seu objetivo
proeminente é recomendar a religião e dirigir-lhes a glorificar a Deus. É muito natural que façam
isto, se são verdadeiros amigos de Deus. Um amigo verdadeiro do governo deseja que todo o
mundo seja amigo do governo. Um filho afetuoso deseja que todo o mundo ame e respeite a seu
pai. E se alguém está em inimizade com ele, se esforça para efetuar uma reconciliação. O
mesmo pode esperar-se de um verdadeiro amigo de Deus, que fará um objetivo proeminente de
sua vida, uma característica proeminente de seu caráter, o reconciliar os pecadores com Deus.
Agora bem, se esta não é a característica proeminente de teu caráter, se não é o ponto máximo
de interesse em teu pensamento e esforço em reconciliar aos homens com Deus, te falta a base
neste ponto. Por mais que possas ter aparência de religião te falta a característica diretiva e
fundamental da verdadeira piedade, a marca do caráter e objetivo de Jesus Cristo e dos
apóstolos e profetas. Olhe a eles, e veja suas figuras destacadas firmes e eternas, com esta
intenção básica em suas vidas. Deixe-me agora que te pergunte qual é o objetivo central de tua
vida, tal como te mostras em teu andar cotidiano. Não é levar a todos os inimigos de Deus à
submissão? Se não é assim, não há o verdadeiro amor de Deus em ti.
6. Onde há pessoas desta classe verás que evitam de modo escrupuloso tudo o que consideram
que pode contribuir a por estorvos a seu grande objetivo.
Procuram sempre evitar tudo o que pode impedir a salvação de almas, tudo o que pode distraí-los
de alguma forma da conversão de almas. A pergunta natural que se fazem, quando há algo
duvidoso não é: "É isto algo que Deus proíbe de modo expresso?" A primeira pergunta que
aparece de modo espontâneo em sua mente é: "De que forma afetará isto à religião? Terá
tendência a impedir a conversão dos pecadores, a estorvar o progresso dos avivamentos, a frear
as rodas do carro da salvação?" Se é assim, não necessitam que tragam as ameaças desde o
Sinai proibindo-o. Vêem que é contrário ao espírito da santidade e ao principal objetivo que têm
em vista.
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Demos uma olhada na reforma da temperança como uma ilustração disto. Aqui deixe-me dizer
que era a influência da intemperança no impedimento da conversão e salvação de pecadores que
tiraram primeiramente a atenção de homens benevolentes que iniciaram com a reforma, ao
pesquisar o assunto. E esta mesma classe de pessoa a leva adiante. Tais homens não ficam
parados criticando todos os passos do caminho, dizendo: "Beber rum não é proibido em nenhum
lugar da bíblia e eu não me sinto impelido de larga-lo." Eles vêem que isto impede o grande
objeto pelo qual eles vivem, e isto é suficiente para eles, eles o largam é claro. Eles evitam
qualquer coisa que eles vêem que impediria um avivamento, devido é claro, como um
comerciante que evitaria qualquer coisa que tivesse a tendência de prejudicar seu credito, ou que
abatesse seu objetivo em fazer dinheiro por seus negócios. Suponha um comerciante que
estivesse por fazer alguma coisa que você saiba que iria danificar seu crédito, e você vai até ele
como um grande amigo e aconselha a ele para não fazer isto, ele iria se virar e dizer: "Mostre-me
a passagem onde Deus proibiu isto na Bíblia?" Não. Ele não pede para você mostrar a ele nada
alem disso, que é inconsistente com o seu grande desígnio.
A pessoa que deseja intensamente a conversão dos pecadores não necessita uma expressa
proibição para deixar de fazer algo: lhe basta com ver que é um perigo para o principal objetivo de
sua vida.
7. Esta classe de cristão está sempre angustiada a menos que vejam que progride o trabalho de
converter pecadores.
Consideram que a igreja está num estado lamentável se não se convertem pecadores. Não
importa o demais, o rico que seja a congregação, o popular que seja o pastor, nem quantos
assistem às reuniões, nem quantos vão ouvi-lo; o que faz palpitar seu coração é ver que a obra
de conversão de pecadores está progredindo. Vêem que tudo o demais não é suficiente sem isto;
e mais, inclusive os meios de graça causam mais dano do que benefício a menos que o pecador
se converta.
Os que professam a religião assim têm grandes dificuldades com os que são religiosos por outros
motivos, e que portanto desejam manter tudo quieto, e que tudo siga "como sempre tem sido". E
notemos bem, se uma igreja tem uns quantos membros deste tipo não será muito confortável
para o pastor a menos que sua pregação vá dirigida a converter pecadores. Estes cristãos
reprovam às vezes a igreja, por viver fria e mundanamente. A igreja contesta: "Oh, estamos muito
bem, tudo vai prosperando, só são vocês os que estão desassossegados." Quando de fato seus
corações estão agravados e suas almas agonizam porque não se convertem pecadores e as
almas vão descendo ao inferno.
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8. Os verás, quando manifestam um espírito de oração, que rogam pelos pecadores, não por eles
mesmos.
Se você conhece o tom habitual das orações de uma pessoa se vê qual é a direção em que se
movem seus sentimentos. Se um homem é movido na religião pelo desejo de salvar sua alma,
principalmente, verás que ora basicamente por si mesmo, que seus pecados sejam perdoados,
que "goze" do Espírito de Deus, e coisas semelhantes. Mas se é um verdadeiro amigo de Deus e
do homem, se verá que a carga de suas orações é para a glória de Deus e a salvação dos
pecadores; e nunca é mais poderoso e abundante na oração do que quando fale de seu tema
favorito: a conversão dos pecadores. Vá a uma reunião de oração na que oram estes cristãos, e
em vez de vê-los que se fecham na casca de seus próprios interesses, passando toda oração
orando por si mesmos, passam toda a oração orando pelas almas dos pecadores. Creio que tem
havido cristãos deste tipo, tão absorvidos nos desejos da salvação dos pecadores, que durante
semanas não tem orado por sua própria salvação. Ou se oram em favor seu alguma vez, é para
que sejam revestidos do Espírito de Deus, para que possam sair e obrar poderosamente no nome
de Deus arrancando almas do fogo.
Os que estão aqui podem dizer-me que tal são vossas orações, se sentem e oram principalmente
por vocês ou pelos pecadores. Se não sabem nada do espírito de oração pelos pecadores, não
são amigos verdadeiros de Deus e dos homens. O que? Como você não pode sentir dor no seu
coração ao ver que os pecadores ao seu lado se dirigem ao inferno? Não sente simpatia pelo
Filho de Deus, que deu sua vida para salvar aos pecadores! Basta, basta!, não se necessita este
tipo de seguidores da religião. "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, o tal não é dele." Não me
diga que uma pessoa é religiosa quando repete suas orações como um pobre católico
supersticioso vai repetindo orações com as contas de seu rosário. Este homem se engana, se é
que se considera um verdadeiro amigo de Deus e dos homens.
9. Estas pessoas não querem perguntar quais são as coisas "requisitadas" que tem que fazer,
para que se convertam os pecadores.
Quando se dão em conta de algo que lhes parece prometedor na conversão dos pecadores, não
esperam a que se lhes mande que o façam com castigos e penas, no caso de omissão. Só
querem a evidência de que aquilo vai contribuir ao progresso do objetivo sobre o qual têm posto
seu coração, e ao qual se dedicam com toda sua alma. A pergunta que fazem não é: "O que é o
que se me manda fazer?", senão: "Em que maneira posso fazer algo mais para a salvação das
almas e a conversão do mundo a Deus?" Não esperam ordens específicas para dedicar-se às
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missões, à Escola Dominical ou qualquer outra empresa que prometa salvar almas; senão que
estão dispostos para toda boa obra e para trabalhar.
10. Outra característica destes cristãos é uma disposição a negar-se a si mesmo para fazer bem
aos outros.
Deus estabeleceu por todo o universo o princípio do DAR. Inclusive no mundo natural, os rios, o
oceano, as nuvens, todos dão. O mesmo ocorre em todo o reino da natureza e da graça. Este
princípio difusivo está reconhecido por todas as partes. Este é o mesmo espírito de Cristo.
Procura o bem dos outros, não o compadecer-se de si mesmo. Encontra sua maior felicidade em
negar-se a si mesmo e fazer bem aos outros. Isto é o que marca a esta classe de indivíduos,
sempre estão dispostos a negar-se a si mesmo prazeres e comodidades, inclusive o necessário,
quando, ao faze-lo, podem fazer um maior bem para os outros.
11. Estão pensando continuamente em novos meios e medidas para fazer o bem.
Isto é o que há que esperar de seu desejo contínuo de fazer bem. Em vez de dar-se por
satisfeitos, de ter feito o possível quando algo não sai bem, sempre estão pensando em outros
meios e maneiras de alcançar seu objetivo. Não são como as pessoas que estão satisfeitas
quando tem feito o que dizem ser seu DEVER. Um indivíduo que olha principalmente a sua
própria salvação, só está pensando em se faz seu dever ou cumpre esta responsabilidade, e com
isso se dá por satisfeito; pensa que já escapou da ira divina e que ganhou o céu, ao fazer o que
Deus lhe requisera que fizesse. Mas os dois da outra classe não se preocupam de ganhar o céu
ou evitar a ira divina, senão que seu objetivo básico é salvar almas e dar honra a Deus.
12. Sempre manifestam grande pena quando vêem que a igreja está dormindo e não faz nada
para a salvação dos pecadores.
Conhecem a dificuldade, a impossibilidade de fazer algo considerável para a salvação dos
pecadores enquanto que a igreja esteja dormindo. Vão a uma igreja em que a maioria não faz
nada para a conversão dos pecadores e flutuam seguindo a corrente do mundo. Os verdadeiros
amigos de Deus e dos homens se sentem apenados por este estado das coisas.
13. Estão apenados se vêem motivos para crer que seu pastor está contemporizando ou não
repreende a igreja de modo claro e decidido por seus pecados.
Os outros se encontram bem quando se lhes mimam balançando até terem sono, e desejam que
o pastor pregue palavras lisonjeiras, floridas, sermões eloqüentes e bajuladores, sem poder e
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sem força. Mas os verdadeiros cristãos não estão satisfeitos até que pregue com poder e
repreende, exorta e admoesta, com longanimidade e com doutrina abundante e estrita. Suas
almas não são edificadas ou não se satisfazem com algo que não seja sólido e a propósito para
fazer a obra para a qual o ministério foi estabelecido por Jesus Cristo.
14. Esta classe de pessoas sempre defendem a um ministro fiel que prega a verdade
atrevidamente e de maneira mordaz.
Não importa se as verdades que dizem se dirige a eles. Sabem que quando se apresenta a
verdade com força, as almas são alimentadas e crescem na graça. Podem orar por um pastor
assim. Pode ser que chorem em seu aposento e vertam sua alma orando por ele para que possa
ter o Espírito de Deus em si. Enquanto que os outros se queixam e lhe consideram exagerado,
eles estão a seu lado e iriam para a estaca com ele para dar testemunho de Jesus. E isto é pela
melhor de todas as razões, porque sua pregação cai bem com o grande objetivo pelo que vivem
estes cristãos.
15. Esta classe de cristãos está especialmente apenada quando os pastores pregam sermões
que não se adaptam para converter pecadores.
Quero dizer que quando um sermão não está designado para estimular e comover a igreja.
Outros podem aprovar o sermão, eloqüente, lúcido, sublime, mas eles não gostam, porque lhe
falta uma característica, a tendência a converter pecadores. Pode-se encontrar pessoas
entusiasmadas pelas doutrinas especiais, como a da eleição, e nenhum sermão vale nada a
menos que em alguma parte do mesmo se mencionem a "os eleitos", mas se alude uma doutrina
no sermão, estão satisfeitos, tanto se é apto para a conversão dos pecadores, se ouve um
sermão que não é de propósito para isto, considera que lhe falta o "importante" para ser um
sermão do evangelho. Mas se eles ouvem um sermão calculado para salvar almas, eles são
alimentados, e suas almas se regozijam.
Daqui se pode distinguir uma assombrosa diferença no juízo que as pessoas fazem sobre a
pregação. Na realidade não há melhor prova do caráter que esta. É fácil ver quem são os que
estão cheios do amor de Deus e das almas, pelo juízo que fazem sobre a pregação. Os
verdadeiros amigos de Deus e dos homens, quando ouvem um sermão que não é apropriado
para estimular e levantar o espírito da igreja e leva-los a ação, se não há aplicação aos
pecadores para que se convertam, consideram que este sermão não é para eles.
16. Vocês encontrarão esta classe de pessoas falando descontentemente sobre eles mesmos,
porque não fazem mais para a conversão dos pecadores.Página | 139
A pesar de quando fazem realmente para este objetivo sempre lhes parece que poderiam fazer
mais. Nunca estão satisfeitos. Não há limite a seu anelo para a conversão dos pecadores.
Recordo a um ancião que costumava orar até que estava exausto em favor de indivíduos, lugares
e para a conversão do mundo. Uma vez, quando se encontrava exausto com a oração, exclamou:
"Oh! Meu coração anelante e dolorido! Não há nada que satisfaça meus desejos insaciáveis pela
conversão de pecadores. Minha alma se parte desejando isto." Este homem, ainda que era mais
útil que a imensa maioria dos outros homens de sua idade, via tanto por fazer e desejava tanto
que a obra seguisse adiante e os pecadores fossem salvos, que seu corpo mortal não podia
sustenta-lo. "Vejo &endash; disse um dia &endash; que vou morrer por falta de força para fazer
mais para salvar almas de homens. Oh, quanto desejo mais força para salvar mais almas!"
17. Se você quer mover esta classe de pessoas deve usar motivos apropriados para este grande
objetivo.
Se você quer faze-los atuar, tem que lhes mostrar a situação dos pecadores, como desonram a
Deus, e pronto verá que suas almas ardem com num incêndio sem ter que apelar a suas
esperanças nem temores. Apresenta-lhes o grande objetivo. Mostra-lhes que podem converter
pecadores, e vão lutar com Deus em oração, suas almas e seus corações sofrerão e se
esforçarão até que os vejam convertidos e conformados com Cristo na esperança da glória.
Poderia mencionar muitas outras características que pertencem a esta classe de cristãos
professos, os verdadeiros amigos de Deus e dos homens, se tivesse tempo suficiente. Mas temos
que parar aqui. Veremos as outras duas classes na próxima noite de sexta-feira, se estivermos a
disposição e o Senhor permitir
Você pertence a esta classe ou não? Tenho mencionado certos fatos fundamentais, que, quando
existem, indicam o verdadeiro caráter dos indivíduos, ao mostrar qual é o principal desígnio e
objetivo de sua vida. Com eles você pode dizer qual é seu caráter. Quando chegue a outra parte
deste tema, me esforçarei para descrever a estes cristãos cuja diligência religiosa, orações e
esforços têm outro desígnio e mostram seu caráter e como se realiza este desígnio.
E agora, queridos, peço a vocês, com Deus por testemunha. Vocês têm estas características de
um filho de Deus? Sabem bem se lhe pertencem? Podem dizer: "Oh, Senhor, você sabe todas as
coisas, você sabe que te amo e estas são as características de meu caráter!"
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SOBRE NEGAR-SE A SI MESMO
" Jesus dizia a todos: Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me."--Lucas 9:23
A fim de compreender esta solene declaração de nosso Senhor temos que decidir um ponto de
grande importância: "Em que consiste a verdadeira idéia de tomar a cruz e negar-se a si
mesmo?"
Esta pergunta pressupõe a existência de apetites e inclinações que apelam à satisfação, à vida
fácil e mole, e logo significa, de modo evidente, que em alguns casos esta satisfação deve ser
recusada. Este é o ponto preciso do texto; um homem que quer seguir a Cristo deve negar-se a si
mesmo no sentido de negar-se a satisfação de todos os apetites e inclinações, sempre e quando
estas satisfações sejam proibidas pela lei do amor. Dentro dos limites da lei de Deus, estes
apetites de nossa constituição podem ser permitidos; mais além destes limites, devem ser
rejeitados. Em qualquer ponto em que vão em contra da lei de do amor de Deus ou o amor aos
homens, devem ser negados.
O que pede, portanto, a lei do reino de Cristo é que consulte e obedeça a vontade de Cristo em
todo este assunto da satisfação para consigo mesmo; que não obedeça aos desejos ou apetites -
que nunca satisfaça teu amor à aprovação - nunca busque forma alguma de desfrute pessoal em
desobediência a Cristo. Não deves fazer isto nunca quando sabes qual é Teu dever, pois do
contrário desagradarás a Deus, já que é evidente que Ele tem o direito de controlar tuas próprias
forças.
Baixo a este princípio você tem que fazer todo seu dever a seu próximo, seja aos seus corpos ou
a suas almas, negando todos os desejos e tendências mundanas que poderiam entrar em conflito
com teu dever, fazendo de Jesus Cristo mesmo teu modelo e que sua expressa vontade seja tua
regra perpétua de conduta.
Muitos vão perguntar-se: Por que exige Cristo de nós este negar-se a si mesmo?
Seria porque Deus quer ver que nos mortificamos, por que tem prazer em que crucifiquemos
nossa sensibilidade ao gozo, que ele mesmo nos deu? De nenhuma maneira. A verdadeira
resposta tem que ser encontrada no fato de que Ele nos fez seres morais e racionais: nossas Página | 141
faculdades racionais estão planejadas para controlar nossas atividades voluntárias, e nossa
natureza moral para fazer-nos responsáveis do controle de nós mesmos ao que Deus requer. Nas
ordens inferiores da criação que nos rodeia, vemos animais isentos de responsabilidade moral,
porque são irracionais e incapazes de ação moral responsável. Para eles, a tendência natural é a
lei, porque não conhecem outra. Mas nós temos uma lei mais elevada para obedecer. O maior
bem dos animais é proporcionado por sua obediência a mera lei física; mas não é assim com nós.
Nossos sentidos são cegos moralmente e portanto Deus nunca quis que regessem nossa vida.
Para proporcionar-nos uma regra apropriada, Deus nos deu a inteligência e a consciência. O
apetite, portanto, não pode ser nossa regra, entretanto é e tem que ser a regra de todos os
animais.
Agora bem, é um fato que nossos sentidos não estão em harmonia com nossa consciência, e que
às vezes pedem satisfação ou prazer quando, tanto a razão como a consciência, o proíbem.
Se nos entregamos ao domínio do apetite e dos sentidos sem norma ou critério, sem dúvida
vamos perder o caminho. Estes apetites crescem quando os mimamos; um fato que por si mesmo
explica porque Deus nunca quis que fossem nossa regra. Às vezes se formam apetites artificiais,
de tal natureza que seus efeitos são extremamente perniciosos.
Nestes casos somos lançados a um estado de guerra. Nossos apetites nos fazem apelação
constante, reclamando satisfação e liberdade, e a lei de Deus e a voz de nossa razão, fazem
apelação constante contra os sentidos, instando-os a que nos neguemos a nós mesmos e
encontremos nosso bem supremo na obediência a Deus. Deus e a razão requerem que nos
abstenhamos e resistamos aos pedidos do apetite de modo sério e firme. Notemos aqui que Deus
não requer esta resistência, sem ao mesmo tempo prometer-nos ajuda no conflito. É notável a
forma em que a ressaltada oposição aos apetites no nome de Cristo, baixo as exigências da
consciência, permitirá claramente vencê-los. Ocorrem casos, com freqüência, nos quais os
apetites mais despóticos e exigentes foram dominados pela vontade, baixo aos mandatos da
consciência e com a ajuda de Deus. Ao instante ficam subjulgados e a consciência fica em paz e
sossego.
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Vamos a considerar aqui com atenção o fato que nos damos em conta de ter uma natureza
espiritual e moral além da física. Temos uma consciência, e temos afetos referentes a Deus,
como também os temos com respeito as coisas terrenas. Há uma formosura na santidade, e há
coisas relacionadas com nosso gostos espirituais como há os físicos. Baixo ao próprio cuidado e
esforço, nossa natureza física se desenvolve até os objetos terrenos. Somos seres sociais em
nossas relações terrenas, e não menos em nossa natureza espiritual. Somos sociais
espiritualmente o mesmo que fisicamente, ainda que não nos demos conta disso, porque nossa
sociabilidade espiritual pode ter ficado sem ter sido cultivada e desenvolvida. Mas necessitamos
realmente de comunhão divina ou espiritual com Deus, comunhão social com nosso Criador.
Antes da regeneração, nossa capacidade moral era um deserto. Todos os homens têm
consciência e pode ser que se dêem conta disso, mas não têm afeto espiritual a Deus e por isso
supõem que a religião é algo muito seco. Não podem ver como podem gozar da presença de
Deus e da oração. Estão despertos para a comunhão e amizade terrenas, mas mortos para a
comunhão e amizade com Deus. Seu amor na forma de afeto tem sido atraído aos homens, mas
não a Deus. Parece que não se dão em conta de que eles têm uma natureza capaz de ser
desenvolvida em afetos de amor a seu divino Pai. Daqui que não vêem como podem gozar da
religião e seus deveres religiosos. A frieza da morte entra em suas almas quando pensam nele.
Este lado espiritual de nossa natureza necessita ser cultivado. Tem estado abandonado longo
tempo, e afastado, e tem uma grande necessidade de ser levantado. Mas para conseguirmos e
desenvolver o lado espiritual de nossa natureza, é indispensável que o lado mundano seja
afastado e rebaixado. Porque a carne é um perigoso inimigo da graça. Não há harmonia, senão
antagonismo e repulsão entre os afetos terrenos e os celestiais. A menos que subjulguemos a
carne, morreremos. E só quando mortificamos as obras do corpo, por meio do Espírito, podemos
viver.
A igreja de Roma em épocas passadas se distinguiu pelas mortificações à carne, externamente
consideradas. Estas mortificações foram eliminadas no mundo protestante, e com isso foi ao
extremo oposto. Entre todos os sermões protestantes que tenho escutado, não lembro de
nenhum sobre o tema de levar a cruz e negar-se a si mesmo. Devo crer que este tema é
descuidado em grande maneira em nossas igrejas protestantes. A Roma papal chegou a
extremos desbocados com esta idéia; os protestantes no oposto. Portanto, necessitamos fazer
um esforço especial para evitar esta tendência e entrar na razão, sentido e na Escritura.
Até que me converti nunca soube que tinha afetos religiosos. Não sabia, inclusive, que tinha
alguma capacidade para emoções espontâneas, profundas, que fluiriam a Deus. Isto era uma
ignorância escura e pavorosa, e é fácil supor que conhecia muito pouco gozo real enquanto que Página | 143
minha alma estava em perfeita ignorância da mesma idéia de gozo espiritual real. Mas vejo que
esta ausência de idéias corretas sobre Deus não é rara. Se buscamos encontraremos que esta é
a experiência comum das pessoas não convertidas.
Todos sabemos que a satisfação da natureza animal é o prazer: não prazer ou gozo da classe
mais elevada, mas um forma de prazer. Quanto mais gozosas hão de ser as satisfações de
nossos afetos morais mais nobres. Quando a alma chega a uma festa em seus afetos espirituais
começa a saborear a felicidade real, uma felicidade como a do céu! Temo que muitos não tenham
compreendido o que a Bíblia quer dizer com "bem-aventurança".
Agora temos que considerar bem que este lado espiritual de nossa natureza pode ser
desenvolvido e satisfeito só por meio de uma benevolente negação ou contrariedade de nossos
apetites, um contrariar os apetites baixo às exigências da benevolência real a nossos próximos e
a Deus. Este deve ser nosso objetivo; porque se fazemos de nossa felicidade pessoal nosso
objetivo, nunca vamos alcançar o gozo exaltado da verdadeira comunhão com Deus.
É curioso ver como a sensibilidade se relaciona com o negar-se a si mesmo, de modo que o
negar-nos a nós mesmos, por motivos retos, passa a ser o meio natural e necessário de
desenvolver nossos afetos espirituais. Começando com o tomar sua cruz, um vai, passo a passo,
amortecendo as auto-complacências, as auto-satisfações, e abrindo mais e mais seu coração
para a comunhão com Deus e a experiência mais madura de seu amor.
Uma nova razão pela que os homens deveriam negar-se a si mesmos é que é intrinsecamente
reto. Os apetites inferiores não deveriam reger-nos; as leis mais elevadas de nossa natureza sim
devem fazê-lo. A evidência que prova que o dever de seres criados racionalmente é usar sua
razão, e não degradar-nos ao nível das bestas.
Outra razão é que podemos permitirmo-nos, pois vamos a sair ganhando com ele. Admito que
quando nos resistimos e nos negamos às exigências da auto-satisfação, a coisa vai contra a
"felicidade" de modo direto; mas no lado espiritual ganhamos imensamente, muito mais do que
perdemos. A satisfação que conseguimos do negar-nos a nós mesmos é preciosa. É rica em
qualidade e profunda e larga como o oceano em sua importância.
Muitos pensam que se têm que encontrar prazer devem buscá-lo diretamente e fazer dele um
objetivo direto, buscando-o, além do mais, na satisfação de seus apetites. Não conhecem outra
forma de felicidade que esta. Parece que nunca conceberam a idéia de que o gozar realmente é
realmente o negar-se a si mesmo, plenamente, segundo as exigências da razão, o reto, e a
vontade revelada de Deus. Contudo, esta é a lei mais essencial da verdadeira felicidade. De onde Página | 144
se começa a evitar a cruz, ali termina a verdadeira religião. Você pode orar em sua família, pode
reprovar o pecado aonde queira que te ofenda, e pode fazer tudo isto sem negar-se a si mesmo
cristão; mas enquanto você vive em hábitos de auto-satisfação, não pode defender a Cristo e
fazer teu dever em todas partes com vigor, e especialmente te encontrarás debilitado quando o
caminho do dever te conduza a lugares em que sejam feridos teus sentimentos. E ninguém pode
esperar escapar deste tipo de situações sempre. Se você quer manter-se no caminho do dever
sem desviar-se, e gozar da vida real e da bem-aventurança, deve decidir-se a negar-se a si
mesmo o que Deus e a razão o peçam, e plenamente, até onde te seja requerido. Deste modo
ganharás mais do que vai perder. Se estás resolvido e decidido teu caminho será fácil e gozoso.
Ocorre às vezes que a corrente total dos sentimentos de um cristão é a auto-satisfação, de modo
que caso se lhe permite que e se guie por seus sentimentos sem dúvida terminará em um
naufrágio da alma. Deus, por sua parte, lhe encerra na fé simples. Então, se segue a direção do
Senhor, triunfará, e de repente sua alma "será como os carros de Abinabad". Se encontra em
minha mente agora o caso de um homem que viveu uma vez aqui. Depois de um período de vida
cristã, saiu do meio de nós, se apartou de Deus gravemente, se transformou praticamente num
infiel, se fez espírita swedenborgiano, chegou a ser rico, e quando alguém podia supor que havia
alcançado as alturas da felicidade terrena, e ele mesmo supunha, de repente entrou num período
em que se sentia totalmente desgraçado. Se viu forçado a voltar a si mesmo e disse: "Devo voltar
a Deus e fazer sua vontade, toda ela, seja o que seja, ou vou perecer". Vou extinguir toda afeição
do mundo", disse. "Nada que seja hostil a Deus vai ser tolerado por mim nem se quer um
momento." Tão pronto como fez isso, toda sua vida e seus gozos na religião regressaram nele.
Então sua esposa e seus vizinhos disseram dele: "É verdadeiramente um novo homem em Cristo
Jesus." A partir daquele dia a paz de Deus regeu seu coração e sua taça de gozo transbordou.
Qualquer homem, portanto, pode permitir-se negar-se a si mesmo, pois com isso abre seu
coração aos gozos da vida imortal e a paz. Este é o caminho real da felicidade.
Este ponto explica muitos dos fatos da experiência cristã que de outro modo parecem estranhos.
Aqui temos um homem que não pode orar diante de sua família. Inquire mais profundamente em
seu caso e provavelmente encontrarás que não pode gozar em nenhum de seus deveres
religiosos. Inquire mais na causa e encontrarás que não se nega a nada a si mesmo, que sua
vida está regida pelas leis da auto-satisfação. Como pode este homem agradar a Deus assim.
Outro não pode sair e confessar a Cristo diante dos homens. A verdade é provavelmente que não
decidiu negar-se a si mesmo nada. Ao contrário, a quem nega realmente é a Cristo. Esquiva a
cruz. Ah, este não é o caminho do céu. Neste caminho não se pode ter comunhão com Deus.
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Prova-o mais vezes e encontrará sempre o mesmo resultado: não há paz, não há comunhão com
Deus.
Nosso texto diz: "Tomem a vossa cruz diariamente." E isto é o que deves fazer. Este é o único
caminho possível para viver santamente. E deves fazê-lo de modo firme, sério, contínuo. Deve
ser a obra de sua vida, exceto quando haja descanso ao ganhar uma vitória substancial sobre
tuas tendências à auto-satisfação. Se um homem tenta dominar seu apetite pelas bebidas
alcoólicas e o faz só em ocasiões, digamos um dia ou uma semana, e logo se permite liberdades
entre estes períodos: deve fracassar totalmente. Nunca vai conseguir nada a menos que tome
sua cruz diariamente e a leve a todo tempo. Deve perseverar em absoluto, ou seus esforços não
servirão para nada. Precisamente, em proporção ao perseverante que seja em tomar sua cruz,
esta vai fazer-se mais ligeira e ele mais forte para levá-la. Quando um homem de modo resolvido
declara: com a ajuda de Deus nenhuma concupiscência, nenhum apetite vai dominar sobre mim,
e logo se mantêm firme, sairá vencedor. Ainda que ao princípio empreendas esta obra tremendo,
se persistes, ganharás terreno. Estes apetites vão poder cada vez menos em ti. O levar a cruz te
fará mais forte para a tarefa total da vida cristã.
O evitar a cruz entristece ao Espírito. Se descuidas de teu dever, se deixas de orar na família,
pelo fato talvez que há convidados presentes, podes estar seguro que isto entristece ao Espírito
de Deus. Satanás lança estas tentações em teu caminho, e você lhe dá toda classe de vantagens
contra ti. É possível que tentes orar nestas condições; mas, oh, Deus não está contigo! Tem
estado em uma situação em que devias ter feito algumas coisas desagradáveis à carne e ao
sangue; tem fugido de fazer teu dever; tem ido dormir quando devia fazer teu dever. O que
aconteceu então com a tua alma? Não apareceram espessas nuvens que interceptaram a luz de
rosto de Deus? Tiveste o consolo de sua presença? Tiveste comunhão com o Salvador? Faça
uma pausa, por um momento, e peça a resposta a seu coração.
Conclusão
Enquanto que sua sensibilidade religiosa não tenha se desenvolvido, a pessoa sente uma forte
atração pelos afetos do mundo. O que sabe dos afetos religiosos do coração? O que sabe do
amor real de Deus, ou da presença do testemunho do Espírito em seu coração de que é filho de
Deus? Na realidade, nada. Nunca foi mais além de suas tendências dos sentidos. Naturalmente
não tem dado ainda os primeiros passos ao desenvolvimento dos afetos celestiais do coração.
Por conseguinte só desfruta no que é terreno. Seu coração está aqui embaixo. Mas a medida que
se nega a si mesmo vai dando-se em conta e ajustando-se a sua natureza espiritual.
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É uma coisa grande e bem-aventurada para o cristão o achar que sua natureza vai sendo
conformada mais e mais, de modo progressivo, em Deus; o falar que vai avançando pelo bom
caminho e ajustando-se, baixo a graça divina, as demandas da benevolência.
Caso se persista em levar a cruz o resultado é um ambiente maduro espiritualmente. A alma
anela intensamente as manifestações espirituais e ama a comunhão com Deus. O ouvimos dizer:
Quão formoso são as lembranças daquelas cenas em que minha alma estava em tranqüilidade
diante de Deus! Como gozava minha alma de sua presença! Agora me dou em conta de um vazio
doloroso em mim, a menos que Deus esteja comigo.
Quando os homens se dedicam a buscar o prazer como um objetivo, sem dúvida vão fracassar
em conseguí-lo. Toda busca assim é precisamente em vão. A benevolência leva a alma mais
além de si mesma, e a dispõe a fazer a felicidade dos outros. Só então se consegue a própria.
Tua utilidade como cristão dependerá de que leves tua cruz e de tua firmeza neste curso da vida;
porque teu conhecimento das coisas espirituais, tua vitalidade espiritual, tua comunhão com
Deus, e numa palavra, tua ajuda do Espírito Santo, dependerá da fidelidade com que te negues a
si mesmo.
Se conheceu alguma vez a bem-aventurança da vida espiritual, e se teu coração tem sido
misturado com a imagem celestial, não pode voltar aos tesouros do Egito. Já não há a
possibilidade de que gozes das coisas terrenas como porção de tua alma. Isto já está
estabelecido. Abandona neste instante e para sempre todo pensamento de encontrar teus gozos
nas coisas egoístas e mundanas.
Aos jovens quero dizer: vossas sensibilidades são vivas, e se inclinam às coisas mundanas.
Agora é o momento de afastar com mão firme ao espírito do mimo e a complacência pessoal,
antes de que tenha ido longe demais para que possas dominá-lo. Você se sente tentado a ceder
a auto-satisfação? Lembre que é uma lei inalterável de tua natureza que deves buscar tua paz e
bem-aventurança em Deus. Você não pode encontrá-lo em nenhuma outra parte. Deve ter a
Jesus por amigo ou carecer de amigos para sempre. Tua mesma natureza exige que busques a
Deus como teu Deus - como Rei de sua vida -, a Porção de tua alma para a felicidade. Não pode
esperar que possa ser tal para ti a menos que te negues a si mesmo, tome tua cruz diariamente e
siga a Jesus.
Os que estão ainda em seus pecados não têm idéia de como podem gozar de Deus, e não
podem imaginar como pode o coração aderir-se a Deus, e chamá-lo por mil nomes carinhosos, e
derramar vosso coração em amor a Jesus, permita-me que os peça que considereis que uma Página | 147
comunhão assim com Deus existe, que há um gozo assim em sua presença, e que podem tê-lo
ao preço de negar-se a vocês mesmos e de uma devoção total e íntegra a Jesus; não de outra
maneira. E por que não fazem esta decisão? Já dizem: Toda a taça de prazer mundano está
vazia, seca, inútil. Deixe-a pois, solte-a. Desprendam-se do mundo e elejam um gozo mais puro,
melhor e que permanece para sempre.
O VERDADEIRO E O FALSO ARREPENDIMENTO
“A tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação e não produz remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte."-- 2º Coríntios 7:10
Neste capítulo, o apóstolo se refere a outra epístola que tinha escrito antes a igreja de Coríntio,
sobre certo ponto, no qual os coríntios eram culpáveis. Aqui fala do efeito que com ela conseguiu,
a leva-los ao verdadeiro arrependimento. Produziu-lhes tristeza da que é segundo Deus. Isto era
uma mostra que o arrependimento era genuíno.
"Vejam o que esta tristeza segundo Deus produziu em vocês: que dedicação, que ansiedade para
estarem isentos de culpa, que preocupação, que desejo de ver justiça feita! Em tudo vocês se
mostraram inocentes a esse respeito." (2a Coríntios 7:11).
No versículo que tomei como texto fala de duas classes de tristeza causada pelo pecado, uma
obra arrependimento para salvação, a outra obra para morte. Paulo alude ao que se costuma
chamar as duas classes de arrependimento. E este é o tema do que quero falar esta noite.
ARREPENDIMENTO VERDADEIRO E ARREPENDIMENTO FALSO
Ao falar deste tema me proponho a mostrar:
I. O que é o arrependimento verdadeiro.
II. Como se pode conhecer.
III. O que é arrependimento falso e espúrio.
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IV. Como se pode conhecer.
Já é hora de que os que professam ser religiosos aprendam a discriminar muito mais do que
fazem com respeito à natureza e ao caráter de vários aspectos da religião. Se fosse assim, a
Igreja não estaria cheia de professos falsos e sem proveito. Ultimamente tenho me dedicado a
examinar, uma e outra vez, a razão pela que há tanta religião espúria, e tenho procurado
averiguar a causa deste problema. É notório que há multidões de pessoas que se consideram
religiosas e que não são, a menos que a Bíblia seja falsa. Por que há tantos que se enganam?
Por que têm a idéia de que tinham se arrependido quando todavia são pecadores impenitentes. A
causa está, sem dúvida, na falta da instrução que lhe permitiria discriminar com respeito aos
fundamentos da religião, e especialmente com respeito ao que é arrependimento verdadeiro e
arrependimento falso.
I. Vou mostrar agora o que é verdadeiro arrependimento.
Implica uma mudança de opinião com respeito à natureza do pecado, e esta mudança de opinião
vai seguida de uma mudança correspondente dos sentimentos com respeito ao pecado. O
sentimento é o resultado do pensamento. E quando esta mudança de opinião é tal que produz
uma mudança correspondente de sentimento, se a opinião é reta e há o sentimento
correspondente, isto é verdadeiro arrependimento. Deve ter a opinião reta. A opinião adotada
agora deve ser uma opinião semelhante a que Deus tem com respeito ao pecado. A tristeza
segundo Deus, tal como Deus requer, deve proceder de um ponto de vista com respeito ao
pecado como o que tem Deus.
Primeiro: Tem que haver uma mudança de opinião com respeito ao pecado.
1. Uma mudança de opinião com respeito à natureza do pecado.
Para o que se arrependeu verdadeiramente o pecado lhe parece algo muito diferente que a
aquele que não se arrependeu. Em vez olha-lo como uma coisa desejável ou fascinante, lhe
parece algo aborrecível, detestável, e se assombra de que havia desejado algo assim. Os
pecadores impenitentes podem olhar o pecado e ver que está destruindo-os, porque Deus vai
castiga-los por este pecado; mas, depois de tudo, parece tão desejável em si; o amam tanto, que
não querem separar-se dele. Se o pecado pudesse terminar na felicidade, esta seria sua porção
definitiva. Mas, para o outro, o que se arrepende, é diferente; este olha sua própria conduta com
algo aborrecível. Olha para trás e exclama: "Que detestável, que odioso, quão digno do inferno; e
isto estava antes em mim!"
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2. Uma mudança de opinião do caráter do pecado com respeito a sua relação com Deus.
Os pecadores não vêem porque razão Deus ameaça o pecado com castigos tão terríveis. O
amam tanto que não podem ver porque Deus tem que considera-lo merecedor de um terrível
castigo. Quando são convencidos do pecado o vêem baixo a mesma opinião que um cristão, e só
desejam a mudança de sentimento correspondente para chegarem a ser cristãos. Muitos
pecadores vêem sua relação com Deus como merecedora da morte eterna, mas seu coração não
vai com sua opinião. Este é o caso dos demônios e dos espíritos maus no inferno. Note-se, no
entanto: é necessária uma mudança de opinião para o verdadeiro arrependimento e sempre lhe
precede. O coração nunca vai a Deus com um verdadeiro arrependimento a menos que haja uma
mudança prévia de opinião sem arrependimento, mas não há arrependimento genuíno sem uma
mudança de opinião.
3. Uma mudança de opinião com relação às tendências do pecado.
Antes o pecador pensa que é incrível que o pecado possa ser merecedor, por si só, de um
castigo eterno. É possível que mude de ponto de vista quanto a esta opinião sem que se
arrependa, mas é impossível que alguém se arrependa verdadeiramente sem uma mudança de
opinião. O homem vê o pecado em sua tendência, como destruidor para ele, e para os demais, a
alma e o corpo, para o tempo e a eternidade, e discrepando com tudo o que é bom e feliz no
universo. Vê que o pecado é apropriado em suas tendências para causar dano a todos e a ele
mesmo, e que não há remédio para ele mesmo exceto o abster-se de modo universal ao mesmo.
O diabo o sabe também. E é possível que saibam alguns pecadores que se encontram agora
nesta congregação.
4. Uma mudança de opinião com respeito ao merecimento do pecado.
A palavra traduzida com arrependimento implica tudo isto. O pecador descuidado carece quase
de idéias retas, inclusive quanto ao que se refere a esta vida, com respeito ao merecimento do
pecado. Ainda supondo que admite em teoria que o pecado merece a morte eterna, não o crê. Se
cresse seria impossível seguir sendo um pecador descuidado. Está enganado se supõe que ele,
de modo sincero, aceita a opinião de que o pecado merece a ira de Deus para sempre. Mas o
pecador que foi despertado e convencido já não tem dúvidas mais disto do que da existência de
Deus. Vê claramente que o pecado merece o maior castigo da parte de Deus. Sabe que isto é um
simples fato.
Segundo: No verdadeiro arrependimento tem que haver a mudança de sentimento
correspondente.Página | 150
A mudança de sentimento se refere ao pecado em todos estes pontos: sua natureza, suas
relações, suas tendências e seu merecimento. O indivíduo que se arrepende verdadeiramente
não só vê o pecado como detestável e ruim, merecedor de aborrecimento, senão que realmente o
aborrece, o odeia em seu coração. Uma pessoa pode ver o pecado como prejudicial e
abominável; contudo seu coração o ama, o deseja, se adere a ele. Mas quando se arrepende
verdadeiramente o aborrece de todo seu coração e renuncia ao mesmo.
Em relação com Deus seu sentimento com respeito ao pecado é tal como este merece. E aqui há
a fonte desta torrente de tristeza no qual os cristãos irrompem, quando contemplam o pecado. O
cristão o vê quanto a sua natureza, e simplesmente, sente aborrecimento. Mas quando o vê em
sua relação a Deus, então chora; as fontes de sua tristeza seguem manando, e quer livrar-se
dele, prostrar-se e deixar correr uma torrente de lágrimas por seus pecados.
Logo, quanto às tendências do pecado, o indivíduo que se arrepende verdadeiramente o vê tal
como é. Quando olha o pecado em suas tendências, se desperta nele um desejo veemente de
pará-lo, de salvar as pessoas de seus pecados, de fazer voltar para trás o curso do avanço da
morte. Acende-se seu coração, se põe a orar, a trabalhar, a arrancar os pecadores do fogo com
toda força, a salva-los das terríveis tendências do pecado. Quando o cristão põe sua mente nisto,
vai mover-se para que os homens renunciem a seus pecados. É como se visse aos homens
beber veneno, que sabe que os destruirá, e levanta a voz, adverte-os que VIGIEM.
Ele sente o correto, quanto ao merecimento do pecado. Ele não tem apenas uma convicção
intelectual que o pecado merece uma punição perpétua, mas ele sente que isso é tão certo e tão
racionável, e tão justo para Deus condena-lo para a morte eterna, que está longe de encontrar
falha na sentença da lei que condena ele, ele acha a maravilha do céu, a maravilha das
maravilhas, que Deus pôde perdoa-lo. Em vez de pensar que é duro, ou severo, ou cruel da parte
de Deus, que pecadores incorrigíveis vão para o inferno, ele contempla uma excessiva
indignação que ele não se enviou para o inferno ele mesmo, e que toda essa culpa do mundo já
não foi há muito tempo lançada no fogo sem fim. A última coisa do mundo que ele iria reclamar é
que todos os pecadores não são salvos, mas Oh, é uma maravilha da misericórdia que todo o
mundo não está condenado. E quando ele pensa que é um pecador salvo, ele sente uma gratidão
que ele nunca conheceu semelhante até ele ser cristão.
II. Vou mostrar quais são os frutos ou efeitos do arrependimento genuíno.
Quero mostrar a vocês quais são as obras do verdadeiro arrependimento e deixar claro em vossa
mente que podem saber de modo infalível se arrependeram ou não.
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1. Se teu arrependimento é genuíno há em tua mente uma mudança consciente nos pontos de
vista e nos sentimentos com respeito ao pecado.
Disto você será tão consciente como foi antes de uma mudança de vista e de sentimentos com
respeito a qualquer outro tema na vida. Como se pode saber? Porque neste ponto houve uma
mudança em você, as coisas velhas já foram abandonadas e tudo se fez novo.
2. Quando o arrependimento é genuíno, a disposição para voltar a pecar desaparece.
Se você se arrependeu de veras já não ama o pecado; não se abstém dele por medo, não o evita
pelo castigo, senão que o odeia. O que você diz disso? Você tem a segurança que sua
disposição de cometer o pecado desapareceu? Olhe os pecados que você costumava praticar
quando era impenitente. O que te parecem agora? Parecem-te agradáveis? Você gostaria de
voltar a praticá-los se fosse desafiado? Se for assim, fica a você a disposição para pecar, e que
só foi convencido do pecado. Tuas opiniões sobre o pecado podem ter mudado, mas se
permanece o amor ao pecado, tenha a absoluta certeza de que é todavia um pecador
impenitente.
3. O arrependimento genuíno obra uma reforma na conduta.
Entendo que esta idéia está principalmente indicada no texto onde diz: "A tristeza que é segundo
Deus produz um arrependimento para salvação". O arrependimento segundo Deus produz uma
reforma da conduta. De outro modo, é uma repetição da mesma idéia; ou seja, que o
arrependimento produz arrependimento. Por isso suponho que o apóstolo está falando de uma
mudança na mente que produz uma mudança de conduta que termina na salvação. Permita-me
agora perguntar se você está realmente reformado. Abandonou teus pecados? Ou está
praticando eles ainda? Se for assim, ainda é um pecador. Não importa quanto haja mudado tua
mente, se não trouxe uma mudança de conduta, tua reforma real não é arrependimento segundo
Deus, ou seja, o que Deus aprova.
4. O arrependimento, quando é verdadeiro e genuíno, conduz a confissão e a restituição.
O ladrão não se arrependeu enquanto que guarda o dinheiro que roubou. Pode ter convicção de
pecado mas não arrependimento. Caso tenha se arrependido, devolve o dinheiro. Se você me
defraudou e não me devolve o que me tirou injustamente, ou se injuriou ou prejudicou a alguém e
não retificou o dano que causou, pelo que te corresponde, não se arrependeu verdadeiramente.
5. O verdadeiro arrependimento é uma mudança permanente de caráter e de conduta.
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O texto diz que e arrependimento para salvação, do que "não traz remorso". O que quer dizer o
apóstolo com esta expressão senão que o verdadeiro arrependimento é uma mudança tão
profunda e fundamental que o homem não volta atrás do mesmo outra vez? As pessoas o lê às
vezes como dizendo: um arrependimento do qual a pessoa não está arrependida. Mas isto não é
o que diz. Repito: é um arrependimento do qual, o que o faz, já não volta atrás. O amor ao
pecado é verdadeiramente abandonado. O indivíduo que se arrependeu verdadeiramente, que
mudou suas opiniões e seus sentimentos, já não mudará outra vez, não voltará a amar o pecado.
Lembre isto bem, que o pecador penitente verdadeiro experimenta sentimentos dos que não
voltará a arrepender-se. O texto diz que são "para salvação". Vai direto ao mesmo descanso do
céu. A mesma razão pela que termina em salvação é que não volta a arrepender-se de havê-lo
feito.
E aqui não posso por menos que fazer ressaltar que se vê porque a doutrina da Perseverança
dos Santos é verdadeira, e o que significa. O verdadeiro arrependimento é uma mudança de
sentimentos tão completo e o indivíduo que o experimenta chega a aborrecer de tal modo o
pecado, que perseverará nele, e não voltará atrás de seu arrependimento para voltar ao pecado
outra vez.
III. Vou falar agora do falso arrependimento.
O arrependimento falso ou espúrio nos é dito que é do mundo, a tristeza do mundo; isto é, a
tristeza pelo pecado que procede de considerações e motivos mundanos, relacionados com a
vida presente, ou no máximo, considera a "própria felicidade" num mundo futuro, sem olhos à
verdadeira natureza do pecado.
1. Não se fundamenta numa mudança de opinião como o que se especificou que pertence ao
verdadeiro arrependimento.
A mudança não é em pontos fundamentais. Uma pessoa pode ver as más conseqüências do
pecado num ponto de vista mundano, e pode estar cheio de consternação. Pode ver a forma
terrível em que afeta seu caráter, ou põe em perigo sua vida; que se algo de sua conduta
escondida fosse descoberta, sofreria a vergonha e o opróbrio e isto lhe enche de temor e mal-
estar. É muito comum que haja pessoas que tenham esta classe de tristeza do mundo, quando
haja alguma consideração mundana no fundo de tudo.
2. O falso arrependimento está fundamentado no egoísmo.
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Pode tratar-se de um forte sentimento de pena na mente do indivíduo, por haver feito o que fez,
porque vê as más conseqüências que lhe vai produzir, porque lhe faz sentir desgraçado, ou lhe
expõe a ira de Deus, ou prejudica sua família ou seus amigos, ou porque produz dano para ele,
no tempo ou na eternidade. Tudo isto é puro egoísmo. Pode sentir remorso na consciência, um
REMORSO que lhe rói e lhe consome, e não ser verdadeiro arrependimento. Pode chegar a ser
temor &endash; um temor terrível, profundo &endash; da ira de Deus e os tormentos do inferno, e
contudo ser puramente egoísta, e em tudo ele não sentir firme ódio ao pecado, e não haver
sentimentos em seu coração de que correspondam às convicções do entendimento em relação
com a infinita maldade do pecado.
IV. Vou mostrar como se pode conhecer este arrependimento falso ou espúrio.
1. Deixa os sentimentos sem mudar.
Deixa no coração uma disposição para o pecado intacta e sem submeter. Os sentimentos em
relação à natureza do pecado não mudaram, e o indivíduo ainda sente o desejo de pecar.
Abstém-se de faze-lo, não porque o aborrece, senão porque teme suas conseqüências.
2. Leva à morte.
Leva a uma dissimulação hipócrita. O indivíduo que passou por um verdadeiro arrependimento
está disposto a que se saiba que se arrependeu, que era um pecador. O que só tem um falso
arrependimento dá toda classe de desculpas e mentiras para encobrir seus pecados e tem
vergonha de seu arrependimento. Quando o chamamos para o banco dos penitentes cobre seus
pecados com toda classe de desculpas, tratando de dissimula-los, e de atenuar sua gravidade.
Caso fale-se de sua conduta passada sempre o faz em termos suaves e favoráveis. É visto nele
uma constante disposição a encobrir seu pecado. Este arrependimento conduz à morte. O faz
cometer um pecado atrás de outro. Em vez de uma sincera expressão sentida e franca, com o
coração aberto, se vê um palavreado, um alisar e dissimular as coisas, atenuando-as de tal forma
que a confissão se converte em não confessar nada.
O que você diz disso? Você se envergonha de que alguém te fale de seus pecados? Se for
assim, tua tristeza é só tristeza do mundo, e obra para a morte. Quantas vezes se vêem
pecadores que tratam de evitar a conversação sobre seus pecados e ao mesmo tempo se
chamam buscadores ansiosos, e esperam fazer-se cristãos desta maneira. Esta classe de tristeza
também se encontra no inferno. Não há dúvida que os desgraçados habitantes do abismo
desejam escapar da presença de Deus. Não é esta a tristeza que se encontra no céu pelo
pecado. Esta tristeza é franca, simples, aberta e plena. Esta tristeza não está em desacordo com Página | 154
a verdadeira felicidade. Os santos transbordam felicidade, e contudo, sentem tristeza plena,
franca, por seu pecado. Mas esta tristeza do mundo está envergonhada de si mesma, é pobre e
mesquinha e leva a morte.
3. O falso arrependimento produz só uma reforma parcial da conduta.
A reforma que produz a tristeza do mundo se estende só às coisas das quais o indivíduo foi
convencido com força. O coração não mudou. É visto que evita só aqueles pecados cardinais dos
quais se tem mostrado a evidência nele.
Observe este jovem convertido. Caso esteja enganado, encontra que só há uma mudança parcial
em sua conduta. Foi reformado em certas coisas, mas há muitas coisas más cuja prática ainda
continua. Se você entra em intimidade com ele, em vez de falar que esta temendo a aparição do
pecado por todas as partes, e eficaz para descobrir tudo o que seja contrário ao espírito do
Evangelho, você o verá, talvez, estrito com respeito a certas coisas, mas frouxo em sua conduta e
relaxado em suas opiniões e olhos em outros pontos, e muito distantes de manifestar um espírito
cristão com respeito a todo pecado.
4. Em geral, a reforma produzida por uma tristeza falsa é temporal inclusive naquelas coisas que
foram reformadas.
O indivíduo está recaindo continuamente em seus antigos pecados. A razão é que a disposição a
pecar não desapareceu, só está detida ou restringida pelo temor, e tão pronto como tem
esperança e pertence à igreja, e está corroborando de modo que seus temores têm minguado, se
lhe vê gradualmente recaindo em seus antigos pecados. Está foi a dificuldade da casa de Israel,
que lhe fez cair constantemente na idolatria e outros pecados. Só tinham tristeza do mundo. É
visto agora em todas as partes na igreja. Os indivíduos se reformam durante um período, entram
na igreja e recaem em seus velhos pecados. É disto que isto é esfriar-se na religião, e voltar
atrás, e coisas assim, mas a verdade é que sempre amaram o pecado, e quando se lhes oferece
a ocasião, voltam a ele, como a porca lavada que voltou a revolver-se na lama, porque não deixa
de ser o que era.
Queria que entendessem este ponto bem. Aqui está o fundamento de todas essas adequações e
iniciações em religião que se vêem com tanta freqüência. As pessoas se sentem despertados,
convencidos, pouco a pouco se lhes entra a esperança e se estabelecem em uma falsa
segurança, e logo se deslizam. Talvez vigiem bastante como para não serem expulsos da igreja,
mas os fundamentos do pecado não foram quebrados, e voltam a seus caminhos antigos. A
mulher frívola segue sendo frívola, e o homem cobiçoso e avarento segue amando o dinheiro Página | 155
como antes, e segue ao mundo tão ansiosamente e devotadamente como antes de juntar-se à
igreja.
Você pode ir por todos os estratos da sociedade e nos casos em que há conversações a fundo
verá que os pecados em que mais cometiam antes da conversão se encontram muito remotos
agora. O convertido verdadeiro é o que com menos probabilidade vai cair neles de novo, porque
os aborrece ao máximo. Mas o que vive enganado e orientado segundo o mundo, sempre tende a
cair nos mesmos pecados. A mulher que ama os vestidos volta a cair de novo com toda a sua
glória, e fracassa como ela costumava fazer. A fonte do pecado não foi quebrada. Não purificou a
iniqüidade de seu coração, senão que permaneceu neles em todo momento.
5. É uma reforma forçada.
A reforma produzida pelo falso arrependimento não é só uma reforma parcial e uma reforma
temporal, é também uma reforma forçada e obrigada. A reforma do que se arrependeu de veras é
de coração; já não tem disposição para o pecado. Nele se cumpre a promessa da Bíblia.
Encontra em realidade que: Os caminhos do sábio são prazerosos; todas suas sendas são paz."
Encontra que o jugo do Salvador é fácil e a carga é ligeira. Tem notado que os mandamentos de
Deus não são gravosos, senão que enchem de gozo. Que são mais desejáveis que o ouro, sim,
mais que o ouro refinado; mais doces que o mel e que a colméia. Mas esta classe de
arrependimento espúrio é muito diferente: é um arrependimento legal, o resultado do temor e não
do amor; um arrependimento egoísta, longe da mudança de coração voluntário, livre, desde o
pecado à obediência. Se há alguns indivíduos aqui que têm esta classe de arrependimento
sabem bem que não se abstêm do pecado porque estão decididos a faze-lo, porque o odeiam,
senão que o fazem por outras considerações. Se trata de que a consciência interfere e o impede,
ou é o temor de que possam perder sua alma, ou perder sua esperança, ou perder seu caráter
mais bem que o aborrecer o pecado ou amar o dever.
Estas pessoas necessitam ser empurradas ao cumprimento do dever por meio de uma passagem
expressa da Escritura, pois do contrário encontram desculpas para o pecado, e se escapam do
dever, e crêem que não passa nada com faze-lo. A razão é que amam seus pecados e se não
fosse porque não se atrevem a quebrar descaradamente o mandamento expresso de Deus,
praticariam o pecado. Quando há verdadeiro arrependimento não acontece isto. Se há algo que
parece contrário a grande lei do amor, a pessoa que tem verdadeiro arrependimento o aborrece e
o evita, tanto se existe um mandamento expresso de Deus sobre aquilo ou como se não existisse.
Mostra-me um homem assim, e te direi que não tem necessidade de mandamentos para abster-
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se de beber bebidas fortes ou traficar com elas. Isto é contrário a grande lei da benevolência e ele
não infringiria, como não roubaria, blasfemaria ou cometeria nenhuma outra abominação.
De modo que o homem que tem verdadeiro arrependimento não necessita que lhe digam. "Assim
disse Jeová", para abster-se de oprimir a seu próximo, porque não faria nunca nada mau. Quão
certamente aborreceria qualquer coisa deste tipo caso tivesse se arrependido verdadeiramente
do pecado.
6. Este arrependimento espúrio conduz a um sentimento de justificação própria.
O indivíduo que tem este arrependimento pode saber que Jesus Cristo é o único Salvador dos
pecadores e pode professar que crê nele e que somente confia nele para a salvação, mas, depois
de tudo, está na realidade pondo dez vezes mais sua confiança em sua reforma do que em Jesus
Cristo, com olhos para a salvação. E se quer observar seu próprio coração se dará conta disso.
Pode que espere a salvação de Cristo, mas de fato insiste mais em reformar-se, e sua esperança
está fundamentada mais nisto que no sacrifício de Cristo. Está remendando sua própria
justificação.
7. Conduz a falsa segurança.
O indivíduo supõe que a tristeza do mundo que teve é o verdadeiro arrependimento, e confia
nela. É um fato curioso que, enquanto que pude averiguar o estado mental desta classe de
pessoas, parece que dão por definitivo que Cristo as salvará porque sentiram tristeza por seus
pecados, ainda que não são conscientes de que tenham sentido que descansam em Cristo. Eles
têm sentido tristeza, e isto lhes tem dado alívio. Têm se sentido melhor e agora esperam ser
salvos por Cristo, quando sua própria consciência lhes ensina que nunca tinham confiado de
coração em Cristo.
8. Endurece o coração.
O indivíduo que tem esta classe de tristeza se torna mais duro em seu coração, em proporção ao
número de vezes que exercitou esta tristeza. Se tem emoções fortes de convicção de pecado e
seu coração não foi quebrantado e fluído ao exterior, as fontes do sentimento vão se secando, e
seu coração é cada vez mais difícil de alcançar. Considere um cristão real, que se arrependeu de
veras, e cada vez que se dá conta disto vai prostrando-se mais e mais diante de Deus, e se torna
mais doce, mais emocionado, mais terno, e mais submisso à bendita Palavra de Deus, enquanto
que vive, e por toda a eternidade. Seu coração entra no hábito de ir ao compasso das convicções
de seu entendimento e se volta mais dócil e tratável, como um neném.
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Aqui há a grande diferença. As igrejas ou os membros individuais, que tem só este
arrependimento do mundo passam por um avivamento, se despertam e se embaraçam e logo se
esfriam outra vez. O processo pode se repetir, e se encontrará que desta vez são mais e mais
difíceis de despertar, até que finalmente se voltam tão duras como a pedra, e já não podem ser
avivadas outra vez. Em oposição a estas igrejas há as igrejas e os indivíduos que tem
experimentado o verdadeiro arrependimento. Se estes passam por avivamentos sucessivos, se
encontra que cada vez são mais ternos e maduros até que chega um momento em que quando
ouvem o toque da trombeta do avivamento, já ficam elétricos e ardem, dispostos para o trabalho.
Esta distinção é tão evidente como a que há entre a luz e as trevas. Pode se observar entre as
igrejas e entre os membros das igrejas. O princípio se vê ilustrado nos pecadores que, depois de
haver passado por vários avivamentos acabam desviando-se da religião, e ainda que os céus
enviem nuvens de misericórdia sobre suas cabeças, não fazem caso ou as rejeitam. É o mesmo
nas igrejas e nos membros; se eles não têm o verdadeiro arrependimento cada nova experiência
endurece mais seu coração e faz mais difícil que sejam alcançados pela verdade.
9. Cauteriza a consciência.
É provável que estas pessoas ao princípio sintam inquietude quando a verdade ilumina sua
mente. Pode que não tenham tanta convicção como um cristão real. Mas o cristão real está cheio
de paz ao mesmo tempo que as lágrimas fluem de sua convicção de pecado. E cada nova
convicção lhe faz mais cuidadoso, vigilante, tenro, até que sua consciência se torna como a
menina dos olhos, tão sensíveis que a simples aparência de mal lhes ofende. Mas a outra classe
de tristeza, que não conduz a uma renuncia sincera do pecado, deixa o coração mais duro do que
antes, e pouco a pouco cauteriza a consciência como faria um ferro incandescente. Esta tristeza
produz morte.
10. Rejeita a Jesus Cristo como base de sua esperança.
O depender da reforma, ou da tristeza, ou do que seja, não conduz a confiar em Jesus Cristo, de
tal modo que o amor de Cristo lhe constrange para trabalhar todos os dias de sua vida por Cristo.
11. É passageiro, temporal.
Esta classe de arrependimento é aquele do que quem se arrepende. Pouco a pouco, se
encontrará que estas pessoas acabam envergonhando-se dos sentimentos profundos que tinham
tido. Não querem falar deles, e se o fazem é de modo leviano e frio. Pareciam muito emocionados
durante o avivamento, e mostravam atividade e interesse, como os demais, ou até mais, e é
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provável inclusive que fossem extremistas. Mas, uma vez o avivamento tenha terminado se
oporão a tomar novas medidas, irão mudando e se envergonharão de sua diligência. Na realidade
se arrependem de seu arrependimento.
Estas pessoas, depois de que tenham se filiado à igreja, se envergonham de terem se sentado no
banco dos penitentes. Quando tenha passado o auge do avivamento, começarão a falar contra o
excesso de entusiasmo e a necessidade de serem mais sóbrios e conseqüentes na religião. Aqui
está o segredo: seu arrependimento é tal que se arrependem do mesmo.
Às vezes encontram-se pessoas que professam terem se convertido num avivamento que se
voltam contra as mesmas medidas, meios e doutrinas que professaram quando se converteram.
Não ocorre isto com o verdadeiro cristão. Este não se envergonha nunca de seu arrependimento.
Jamais se sentiria envergonhado da emoção que sentiu no avivamento.
Conclusão
1. Do dito nos damos conta de uma razão pela que há tanta religião que podemos chamar
espasmódica na igreja.
Confundiram a convicção de pecado com a conversão; a tristeza segundo o mundo, com a
tristeza segundo Deus que produz arrependimento para salvação, do que não há que ter remorso.
Estou convencido, depois de anos de observação, que aqui temos a verdadeira razão do
presente estado deplorável da Igreja em todo o país.
2. Vemos porque os pecadores baixo convicção sentem e pensam que é uma grande cruz o
fazer-se cristão.
Crêem que é uma grande prova o renunciar a seus companheiros infiéis e o renunciar a seus
pecados. Enquanto que, se seu arrependimento fosse verdadeiro, não considerariam que é uma
cruz o renunciar a seus pecados. Lembro quais eram meus sentimentos quando vi pela primeira
vez jovens que se faziam cristãos e se uniam a Igreja. Pensava que era uma coisa muito boa, em
conjunto, o ter religião, porque com isso salvariam suas almas, e iriam ao céu. Mas naquele
tempo sempre me parecia que era uma coisa muito triste. Nunca sonhava que depois estes
jovens iam ser totalmente felizes. Creio que é comum crer que, ainda que a religião é algo bom
em conjunto, e bom ao final, não é possível ser feliz na religião. Tudo isso é devido a uma
equivocação feita com respeito à verdadeira natureza do arrependimento. Não compreendem que
o verdadeiro arrependimento conduz a um aborrecimento daquelas coisas que se amava antes.
Os pecadores não vêem que seus amigos que se fazem verdadeiros cristãos, sentem
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aborrecimento por toda classe de frivolidades e loucuras, bailes e festas mundanas, e as
diversões pecaminosas e que o amor destas coisas é crucificado.
Conheci a uma jovem que se converteu a Deus. Seu pai era um homem orgulhoso, mundano. Ela
antes se vestia com grande luxo, ia a uma escola de dança e aos bailes. Depois de converter-se
seu pai não queria que ela abandonasse estas coisas. Tentou obriga-la a ir. Ele mesmo a
acompanhava à escola de dança e a obrigava a bailar. A jovem tinha que faze-lo e muitas vezes
enquanto estava na pista caia em choro pela dor e o aborrecimento que sentia por tudo aquilo.
Por que? Porque se arrependia verdadeiramente destas coisas, com um arrependimento pelo
qual não tinha pesar. Como lembraria esta jovem, o ver-se naquele ambiente, a seus antigos
companheiros, e como aborreceria a alegria anterior, e como desejaria encontrar-se em uma
reunião de oração e ser feliz nela? Esta é a equivocação do impenitente, ou aquele que só tem
sentido a tristeza segundo o mundo, com respeito ao cristão verdadeiro e sua felicidade.
3. Aqui podemos ver o que passa aos cristãos professos que crêem que é uma cruz o ser muito
rigoroso na religião.
Estas pessoas estão pondo sempre desculpas por seus pecados e defendendo certas práticas
que não estão de acordo com a religião estrita. Mostram que ainda amam ao pecado e seguirão
nele enquanto e até onde se atrevem. Se fossem verdadeiros cristãos, o aborreceriam e
considerariam que é uma cruz o serem arrastados a ele.
4. Aqui se vê a razão pela que alguns não sabem o que é gozar da religião.
Não estão contentes e alegres na religião. Estão apenados porque têm que separar-se de tantas
coisas que amam, ou porque têm que renunciar a certa quantidade de dinheiro. Encontram-se
como em brasas constantemente. Em vez de regozijar-se em toda oportunidade de negar-se a si
mesmo, e gozar-se na verdade, por mais crua que seja, é uma grande prova que lhes digam que
façam seu dever, quando este interfere com suas inclinações e hábitos. A pura verdade lhes
molesta. Por que? Porque seus corações não desfrutam fazendo seu dever. Se gostassem
dariam graças por cada oportunidade de faze-lo, e isto lhes fariam felizes.
Sempre que você vê essas pessoas, se eles se sentem exprimidos e angustiados porque a
verdade pressiona eles, se seus corações não se renderam e na prosseguiram com a verdade,
HIPÓCRITA é o nome de todos esses professos de religião. Se você vê que eles estão
angustiados como pecadores ansiosos, e que quanto mais você indica os pecados deles mais
eles ficam angustiados, você pode ter certeza, que eles nunca se arrependeram realmente de
seus pecados, nem se entregaram para Deus.Página | 160
5. Vemos porque muitos convertidos professos, que ao tempo de sua conversão davam mostras
de encontrarem-se afetados por ela de grande maneira, depois se tornam apóstatas.
Sentiam-se profundamente convencidos e molestados, e depois que encontraram alívio seu gozo
foi grande e foram felizes durante um tempo. Mas, pouco a pouco, declinaram, e finalmente se
apartaram. Na realidade, ainda que alguns chamem isto o cair da graça, a verdade é que se
apartaram dentre nós porque não eram dos nossos. Nunca tinham se arrependido com o
arrependimento que destrói a disposição para o pecado.
6. Por isso os que tornam atrás são tão desgraçados.
Talvez alguém infira que eu suponho que todos os verdadeiros cristãos são perfeitos no que digo
sobre a disposição ao pecado, que é destruída e mudada. Não pode-se tirar esta inferência. Há
uma diferença radical entre o cristão que volta atrás e o hipócrita que volta de sua profissão. O
hipócrita ama o mundo e se goza regressando ao mesmo. Pode ter algo de temor e de remorso, e
de apreensão sobre sua perda de caráter, mas depois de tudo ama o pecado. Não é este o caso
do cristão que volta atrás. Este perde seu primeiro amor, logo cai numa tentação e entra em
pecado. Mas não o ama; se sente amargurado por ele; infeliz e afastado do lar. Naqueles
momentos não possui o Espírito de Deus, nem o amor de Deus em exercício que lhe impede cair
em pecado, mas não ama o pecado; se sente desgraçado. É muito diferente do hipócrita. Aquele,
quando abandona o amor de Deus, pode ser entregue a Satanás durante um tempo, para a
destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo, mas não pode voltar a gozar do pecado
como antes, nem deleitar-se como antes nos prazeres do mundo. Não pode submergir na
iniqüidade. Enquanto continua vagueando, é um miserável. Se há um assim aqui esta noite, você
sabe disso.
7. Compreende-se porque os pecadores convencidos temem prometer que vão a renunciar a
seus pecados.
Dizem que não se atrevem a faze-lo, porque têm medo de que não poderão cumprir a promessa.
Esta é a razão: "Amam ao pecado". O alcoólico sabe que ele gosta de rum, e ainda que possa
ver-se constrangido a cumprir sua promessa e abster-se do mesmo, contudo, seu apetite o
deseja. E o mesmo ocorre com o pecador convencido. Sente que ama o pecado, que seu contato
com o pecado não foi quebrado ainda, e não se atreve a dar sua promessa.
8. Por isso alguns que professam religião se opõem às promessas.
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É pelo mesmo princípio. Amam tanto a seus pecados que sabem que seus corações procurarão
encontrar satisfação e temem prometer renunciá-los. É por isso que muitos que dizem ser
cristãos recusam unir-se à igreja. A razão secreta é que sentem que seus corações ainda
desejam o pecado, e não se atrevem a entrar sob as obrigações do pacto da igreja. Não querem
estar submetidos à disciplina da igreja no caso que pequem. Este homem sabe que é um
hipócrita.
9. Os pecadores que têm tristeza do mundo podem ver agora onde está a dificuldade, e qual é a
razão pela que não se convertem.
Suas opiniões intelectuais do pecado podem ser tais que se seus corações correspondessem às
mesmas seriam cristãos. E talvez pensem que o seu é um arrependimento verdadeiro. Mas se
estivessem dispostos a renunciar ao pecado, não teriam medo de dar a promessa e fazer o
mundo saber que a fizeram. Se algum dos tais está aqui que passe adiante e sente-se neste
banco. Se você está disposto a renunciar ao pecado, está disposto a fazer uma promessa, e
disposto que todo mundo saiba que o fez. Mas se você resiste a convicção, quando teu
entendimento está iluminado para ver o que você tem que fazer, e teu coração vai ainda atrás dos
pecados, trema, pecador, diante da perspectiva que te espera. Tuas convicções não te servirão
para nada, só te servirão para fundir-te mais no inferno por tê-las resistido.
Se você está disposto a renunciar a teus pecados, você pode mostrá-lo na forma que disse. Mas
se ainda ama a teus pecados e quer retê-los, você pode seguir sentado em teu assento. E agora:
"Vamos dizer a Deus em oração que estes pecadores não estão dispostos a renunciar a seus
pecados, e que ainda que estão convencidos de estar no erro, amam seus ídolos e querem segui-
los?" Que o Senhor tenha misericórdia deles, porque seu destino é terrível.
SERMÃO - AMÓS 3:3 “Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”
Rev. Charles G. Finney,
Querido Sr. Finney
Fazendo toda a fé de que a publicação deste sermão o qual o senhor pregou em nossa cidade
pouco tempo depois da abertura do presente período do Presbitério de Troy, tendo como texto
“Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”, e porque poderá essencialmente fazer Página | 162
progredir os interesses do Reino do Redentor, nós, os membros do Presbitério, pedimos de todo
o coração uma cópia do mesmo para a imprensa.
Com o amor e na comunhão da fé do evangelho
Samuel W. Nay, I. B. Goodrich, Nathan S. S. Beman, John P. Cushman, Jonathan Kuchel, John
E. Baker, Joseph Brown, Thomas McGee, John Younglove, Amos Savage, John B. Shaw,
Thomas fletcher, John Hendricks, Zebulon R. Shepherd, Timothy Graves.
IRMÃOS,
O vosso escrito na comunicação que me fizeram em pedir uma cópia para a imprensa, foi de todo
extemporâneo e me apanhou desprevenido. Após haver pregado sobre esse mesmo assunto, eu
apenas escrevi umas linhas após o sermão, extraindo os pensamentos principais. Se sois de
opinião que, mesmo que minimamente, ele irá promover os objectivos a que vos propondes
alcançar, submeto-o à vossa discrição, com um pedido ao Senhor pela Sua bênção sobre o
mesmo.
O vosso irmão nas cruzadas do evangelho,
C. G. FINNEY
Troy, 30 Março, 1827
UM SERMÃO,
Amós iii. 3.
“Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”
Nas Escrituras Sagradas, nós com muita frequência achamos um tom negativo seguido dum
ponto de interrogação. Esta frase é um desses casos. Devemos deduzir daqui que o profeta
insinua que dois nunca andarão juntos a menos que estejam de comum acordo naquilo que
fazem.
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Para que duas pessoas estejam de pleno acordo uma com a outra, implica muito mais que estar
de acordo em teoria, em compreensão mútua; Não poucas vezes vemos pessoas estarem de
acordo em teoria, mas que nas suas práticas divergem imensamente e estão em desacordo de
princípio e sentimento. As suas compreensões podem vir a abraçar as mesmas verdades, mesmo
estando seus corações diferenciadamente afectados pelas mesmas. Santos e pecadores ímpios
com muita frequência abraçam os mesmos credos em toda a teoria, enquanto nos é de todo
evidente que diferem largamente em sentimento e na prática dos mesmos.
Temos razões para vir a crer que anjos e demónios apreendem as mesmas verdades sobre os
mesmos assuntos intelectualmente, mas que no entanto estas os afecta muito distintamente.
Estes efeitos muito distintos, produzidos em mentes diferentes através das mesmas verdades,
devem-se o estado distinto dos sentimentos e do parecer de seus próprios corações em
indivíduos distintos e diferenciados. Noutras palavras, a diferença de efeito, consiste
simplesmente na forma como a pessoa recebe para ele essas mesmas verdades, ou as sente ao
contemplá-las de facto. Observamos também e vemos acontecer que, as mesmas coisas e as
mesmas verdades afectarão a mesma mente diferenciadamente em ocasiões distintas. Isto deve-
se, também, ao estado de espírito em que se acha quem ouve as mesmas coisas por alturas e
com afeições distintas. Ou melhor, esta diferença consiste na maneira diferenciada na qual a
mente se encontra a dados momentos. Todo o prazer e dor, a miséria e a felicidade, terão seu
dizer e parecer devidamente formulado quando ouvem as mesmas coisas. Toda a satisfação e
insatisfação, dor ou prazer, que sentimos ao vermos a verdade ou outra coisa qualquer que nos
seja apresentada ao pensamento, dependem inteiramente do estado de espírito no qual se
encontram nossas mentes em dados momentos, consistindo os mesmos apenas nessa sujeição
aos afectos e emoções do momento, condicionado emocionalmente, escravizado e dependente
de quem ouve quando ouve. Quanto maiores e mais emotivos vierem a ser estes tons de
sentimento, mais estas verdades serão colocadas de forma relevante à nossa percepção e maior
será nosso prazer perante as mesmas coisas. Mas caso as mesmas verdades não caiam bem ao
parecer presente dessas mesmas condicionantes emotivas, elas nunca nos satisfarão em dado
momento. Se estes forem contra o nosso estado de aceitação dum dado momento e caso
recusemos mudar e transformar os nossos pareceres sentimentais sobre esses mesmos
assuntos, olharemos para os mesmos através da nossa indiferença, ou desgosto caso as nossas
afeições contribuam para uma assimilação contrária àquilo que se pretende. Se houver
persistência nessa apresentação, pode dar-se uma certa forma de resistência clara também,
frontal e erudita, caso nossos pareceres sejam confrontados e contrariados abertamente. É claro
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que defenderemos ou recusaremos certos assuntos abertamente, conforme estiverem nossos
corações.
Nós não apenas nos desinteressamos ou desaprovamos e desgostamos de certos aspectos de
certos assuntos que nos são apresentados, os quais nos conferem certos pareceres emotivos de
pronto, engolindo-nos junto com o que sentimos ou não queremos sentir sobre esse mesmo
assunto, mas também, caso essa mesma coisa nos seja apresentada de forma a passar muito
para além ou aquém do nosso próprio parecer e estado de espírito real, as nossas condicionantes
emotivas permanecerão intocáveis e caso se persista em ser pontiagudo sobre certos pareceres,
as pessoas ou se desinteressarão ou se irritarão contra os mesmos de pronto. Se o assunto
exibido estiver fora do contexto de luz que possamos ter em dado momento, os nossos tons
sentimentais nunca se alistarão com eles. E caso os assuntos sejam frios e para nós de certa
forma repugnantes quando apresentados ao raciocínio daquele momento, se mantivermos estes
afectos em alto tom de discordância, nosso coração sente que não será alimentado, mas
obstruído. Se todos os assuntos forem apresentados acima ou abaixo do mundo sentimental que
nos afecta em dado momento, nossos afectos mastigam-no, tentando manifestar-se, muitas
vezes descontroladamente, a menos que se desinteressem por completo deles. Se for o caso de
estarmos em estado entusiástico em dado momento sobre dados assuntos, estaremos inseguros
caso a verdade nos seja apresentada friamente; se estivermos frios e nos for apresentada
calorosamente, teremos também uma mesma reacção adversa. Apreciamos ou depreciamos,
participamos ou recusamos participar quando a temperatura de todo o decurso das coisas vier a
ser distinto do nosso.
Estas são as verdades a que a experiência de qualquer homem dará testemunho, as quais
ocorrem dentro de quaisquer parâmetros, mediante qualquer circunstância. Estas verdades são
inerentes dentro da própria natureza do homem. Apresente a um ardente político o seu assunto
preferido através da sua luz favorita e assim que lhe tiver sido ganho afectivamente, forneça um
toque de elegância e eloquência às suas palavras, faça com que elas lhe queimem os instintos e
o ardor de sua mente e ele se deleitará imensamente consigo. Mas em seguida, tente mudar o
seu tom caprichosamente, permita que sua fogosidade se esfrie, coloque ainda a sua questão
favorita através duma luz mais medonha e verá logo que ele perde interesse em ouvi-lo por mais
um instante, tornando-se mesmo inquieto e sobre brasas, caso sinta aquela necessidade de
agradar pessoas e de se agradar a si mesmo. Mas logo, introduza a morte e o assunto duma
condenação eterna e ele se chocará imensamente. Se o pressionar muito, ele se ofenderá e sairá
desgostoso dali.
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Esta perda de interesse nos seus assuntos favoritos, é a consequência natural de se haver
retirado perante a mente aquela fogosidade que arde nele, de forma a deitar água fria sobre seus
afectos quentes ainda. Um homem ou mulher ressente-se e sente-se desgostoso sobre a maneira
conforme se lida com seu assunto preferido, pois apresenta-se algo de forma a que seus
sentimentos actuais não corroboram de maneira nenhuma. A menos que escolha mudar seu
sentir quando você lhe muda o assunto ou a forma de o apresentar, ele não terá opção senão a
de desgostar-se com toda aquela situação medonha para ele.
Um qualquer músico requintado ouve atentamente em ruptura sentimental e harmoniosa cada
nota duma sinfonia que lhe agrade ao ouvido. Mas coloque ali umas notas fora de lugar, distorça
um pouco o som e verá as suas feições transfigurarem-se como se estivesse em dor por um
momento. Se aumentar a discórdia de notas e a dissonância da peça musical, logo ele tratará de
abandonar o local desgostoso e profundamente irritado. Suponhamos que gosta de música
apenas, mas que se encontra num estado de espírito melancólico e profundo; que está em
grande aflição mesmo; que está prestes a dedicar-se ao choro; logo, a melodia duma harpa será
como algo sublime sobre seu ouvido e seu coração se derreterá, suas lágrimas fluirão muito e
rapidamente. Mas agora começam a soar as baterias e os tambores e passos de dança
barulhentos e seus ouvidos se ressentem disso porque a melodia da harpa foi ofuscada com algo
que ele não desejava ouvir. Que faz: Entope seus ouvidos enterrando seus dedos neles e sai dali
desgostoso sem vacilar sequer! A harpa retocou-lhe um ponto enternecido do seu coração, caiu
bem ao seu sentir. Por essa razão se sentiu gratificado e plenamente satisfeito e tocado. Mas
aquela música martirizante ofendeu-o estonteantemente. Seu estado de espírito estava
melancólico demais para ter porque suportar tal coisa que considerou como uma agressão.
Suponhamos agora por um momento que seu coração brilha e reflecte sentimentos religiosos
profundos e que neste preciso momento está inteiramente contrário à introdução de outro assunto
e seu estado de espírito está longe de aceitar sentir algo sobre qualquer outra coisa. Suponha
também que ouve um homem frio e perdido orar perto de si. Enquanto ele estiver frio e
insensivelmente hipócrita, você acha-se quente e enternecido sobre o assunto de Cristo e não se
acha na onda sonora de tudo quanto lhe vem ao ouvido. Sente-se logo fora de comunhão com
aquela oração, mesmo que esta ditasse as mesmas palavras que você oraria naquele momento,
só que através de outro coração. É de esperar que se sinta desgostado com aquela frieza toda.
Suponha que, como Paulo, você revela e manifesta “grande tristeza e incessante dor no seu
coração”, Rom 9:2 pelos pecadores que se encontram em perdição à sua volta; que “o Espírito o
ajuda na fraqueza; não sabendo como pedir como convém, tendo o Espírito mesmo a interceder
em si por si com gemidos inexprimíveis”, Rom 8:26. Neste estado de espírito, você ouve alguém
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orando, mas nunca menciona em toda a sua oração a salvação desses mesmos pecadores
perdidos; passa a ouvir um ministro da palavra que não faz alusão ao facto sequer, o qual lida
com o assunto de forma desprovida de sentimentos de amor e misericórdia, intercedendo diante
de Deus. É apenas de esperar que se desinteresse e se desligue sentimentalmente e
abruptamente desse estado de coisas. Mas suponhamos que é um homem morno e ouve alguém
que prega conforme a verdade, cheio de amor em sua voz, pronto a exortar e a clamar ao
arrependimento e de seguida ora intercedendo e derramando todo o seu coração diante de Deus!
Caso segure ainda seus pecados, seu sentimento não se pronunciará sobre aquela beleza toda.
Se através de orgulho e obstinação, amor ao mundo e afeição ao mundo carnal se prevenir de
ouvir que está errado e perdido, é obvio que se recusa a definir sua vida mediante o assunto que
lhe soa inconveniente mesmo que admita que cada palavra ali pronunciada seja pura e que seu
coração ateste à verdade produzida ali diante de seus olhos. Mas acha logo que a pessoa em
questão se encontra muitos graus acima da temperatura que devia estar, orando e falando com
todo seu coração de forma erudita e sinceramente enternecedora. Logo se irrita que aquele
homem fale assim de todo coração e naquele tom, fazendo-o a si estremecer e temer que tudo
quanto diz é verdade. Quanto mais real for e parecer ser o tom de sua voz, mais ele será
desprezado e pouco atraente a seu parecer e olhar. Quanto mais ele insistir, tanto mais desligado
e mais afastado se sentirá daquele discurso. Quanto mais certo ele estiver, tanto mais oposição e
engano o irão dominar a nível de sentimento.
Aqui, em ambos os casos, aqueles cujas afeições sentimentais convergem para uma comunhão e
um entendimento pela sintonia, tanto com aquele que ora como com o que fala, nunca se sentirão
perturbados, mas antes agradados com o desenrolar das coisas. Aqueles que estão num estado
de espírito morno e desprezível, estarão em sintonia com o homem frio e dirão mesmo que “falou
muito bem! Bom discurso!” O seu prazer será pequeno, pois as suas afeições são de calibre
baixo e medíocre, mas estarão agradados com toda aquela situação. Aqueles que nem algo
sentem em dado momento, ou se acham amargurados com outros assuntos que não foram
tocados ali, é óbvio que nem se sentirão tocados e levados nem por um nem por outro, criticando
tanto um como o outro, mesmo usando da verdade que sabem existir contra o homem morno e
deslavado e da mentira contra que está bem com Deus. Porém, todos quantos se envolvem
emocionalmente com aquele homem ardente e fogoso em sentimento genuíno, mostrarão
interesse em cada palavra sua. Serão elevados ao tom de quem eleva e subjugados ao tom de
quem subjuga. Se o homem for genuíno e quente, quando ele estiver ao rubro, todos estes
passarão pelo mesmo, pois viverão aquilo que ouvem. Mas a mente carnal e os que estão frios,
nunca permitirão que seus sentimentos subam e sentem-se necessariamente perturbados e
ofendidos com todo aquele fogo.
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Levando em conta estas observações, podemos apreender e deduzir o seguinte:
Em primeiro lugar, porque certas pessoas muitas vezes pertencendo a credos diferentes em
teoria e em doutrina sacramental, estarão muitas vezes se entendendo e se acordando, andando
juntos durante um certo percurso em toda a harmonia e afeição. Será tão só porque sentem o
mesmo e com a mesma intensidade. As suas “diferenças” nem são levadas em linha de conta,
pois nem estão para estar conscientes delas! Caindo no agrado uns dos outros, nem se
assimilarão que tem diferenças doutrinárias, pois andam juntas porque seus corações concordam
entre si e estão em sintonia na própria batida e no ritmo com que batem.
De novo: podemos verificar porque razão muitos recém-convertidos adoram estar juntos,
associando-se uns com os outros mesmo sem ser necessário reunir esforços para juntá-los. Eles
sentem o mesmo, passam pelo mesmo e serão dum mesmo coração comum. Eles andam juntos
porque sentem o mesmo.
Uma vez mais: vemos porque razão, também, os mornos que professam a fé e os pecadores
tornados impacientes pelos seus pecados, têm um mesmo desagrado mútuo quando existem
avivamentos religiosos e estes sejam reais. Não será com pouca frequência que os ouvimos
queixarem-se contra os módulos das pregações, contra o jeito de pregar e de orar, para não
objectarem contra a Bíblia em si. As suas objecções serão sempre o de descobrir erro com tudo
quanto se desenrola por ali e corroboram-se entre argumentos, tornando-os mesmo comuns se
for caso para isso e se o sentimento contrariante estiver em alta e em franco desenvolvimento
comum. Os argumentos que arranjam serão sempre para suportarem as suas objecções. A razão
para isso se estar a dar, será porque aquilo que sentem é quase sempre comum. É o fogo que
está no ar que compromete o seu gelo, pois derrete-se com calor. Por essa razão, mesmo que as
pessoas sejam teimosas e diferenciadas, andarão juntas porque seus sentimentos concordam e
estão em conluio e em pleno contra uma mesma coisa.
Também: entendemos a razão porque muitos crentes e ministros mesmo, com alguma
frequência, objectam contra aquilo que chamam de “novos métodos”, opondo-se sempre a uma
obra real com argumentos e porque razão estarão em sintonia com muita frequência com os
ímpios, sendo pregadores. O facto é que, havendo chegado de lugares onde nunca
experimentaram qualquer cena de avivamento, nem a nível pessoal, nem a nível experimental,
com frequência se sentem lesados e constrangidos (compungidos mesmo), por causa do calor e
da veracidade daquilo que vêem sair da Bíblia. Tanto as orações, como as pregações e as
conversações em tempo real, estão muitos graus acima da sua própria temperatura. Muitas
vezes, prejuízos por estarem e se acharem sedeados em diferentes denominações e credos,
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nunca são levados em conta, para que se possam opor a quem prega a partir dum coração
purificado, ou contra quem está em estado de espírito de o ouvir, tendo um mesmo sentimento de
orgulho em comum, a mesma inveja, o mesmo desejo para com as coisas do mundo ou algo
parecido, colocando seus sentimentos em cadeia e em sintonia forçada para se tabelarem e
elevarem contra uma obra que consideram sempre uma agressão, mesmo quando ninguém lhes
direccionou qualquer palavra. Envolvem-se, mesmo sem estarem envolvidos, sem que ninguém
haja feito algo para os envolver directamente em tudo quanto se faz por ali. Não entram na
sintonia, no espírito de toda a obra e têm um mesmo covil.
Enquanto seus corações forem e estiverem vivendo do erro, eles seguramente se entrincheirarão
contra qualquer coisa e andarão milhas para se envolverem em algo que nem lhes diz respeito. E
quanto mais certo estiver o estado das coisas, quanto mais acertado e concertado puder vir a ser
toda a onda de avivamento comum a todos, quanto mais espontâneo vier a ser o movimento,
mais desagradados se sentirão e maior sintonia existirá entre opositores, mesmo que estes antes
tivessem diferenças de estrutura entre eles próprios, pois suas diferenças acharam tanto
consenso, como um certo inimigo comum. O erro junta e une saduceus com fariseus quando a
verdade implica com suas consciências – é uma luta interior comum que os move, pois seu sentir
é pesado. Não quero aqui justificar os ímpios quando estes se unem “contra o Seu ungido e os
príncipes juntos conspiram contra o Senhor” Sal.2:2, parecendo estar em apoio a quem se
arremete contra os avivamentos. Nem tão pouco pretendo fazer passar a ideia de que, dentro de
tudo quanto fazem, haja algo de bom ou de certo, quando são ofensivos. Sabemos mesmo que
muitas coisas poderão existir, muitas razões que apoiem este estado de coisas, que são de
lamentar, os quais devem antes ser analisados e corrigidos através de cuidados acrescidos. Mas
mantendo toda a verdade fora da polémica deles no que toca a nossa parte, estando seus
corações errados, qualquer coisa que venha criticar será sempre muito bem recebida porque é
esse o seu estado de espírito – o do confronto. Enquanto o coração permanecer naquele estado
de erro e de amargura, tudo que caia lá se contaminará e se tornará egoísta, deturpando todos os
motivos logo ali. As melhores características serão sempre as mais ofensivas para com Deus e a
verdade. E caso este coração permaneça no erro, se obtiver um rasgo e uma visão de tudo
quanto se passa nos céus de bom, sendo essa visão real e saturada de sentimento genuíno e
real, seria para eles como se estivessem ouvindo blasfemar e crucificariam por blasfémia. Seus
sentimentos seriam assolados com toda a amargura dos infernos e atormentariam todos quantos
eles achassem ser os maiores responsáveis pela amarga experiência interior que sentem dentro
de si mesmos e lhes é comum a todos. O único remédio que temos para oferecer, será tão só
“Arrependei-vos e convertei-vos” e não necessariamente daqueles pecados que estão à mostra
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apenas. Assim que se houverem arrependido, as coisas certas lhes serão de inteiro agrado e
nunca será necessário conquistá-los para se agradarem delas como antes se pensaria fazer.
Podemos assim perceber o que está por detrás de ministros e crentes quando estes se
diferenciam da metodologia vivente das medidas de sabedoria que Deus concede a dados
momentos para se alcançar certas coisas que Deus em pessoa manifesta e revela. O homem que
sente que as coisas eternas lhe estão chegadas ao coração e que vive e convive mediante
valores eternos, terá um distinto raciocínio de juízo justo sobre essa metodologia, caso esta seja
de facto inspirada em dado momento. E se a metodologia vier a ser diversificada mediante a
unção e a celeridade que Deus fornece em lugares distintos de trabalho árduo, mesmo assim seu
juízo acerca das coisas, será sempre justo. O homem cujo coração se quebrante
instantaneamente pelos pecadores em perdição, achará tais métodos belos e providos de toda a
sabedoria e unção de Deus, enquanto que um pecador achará que a oposição é que estará a ser
ungida por Deus. Um coração justo e justificado achará mesmo necessário toda aquela
ordenação na pregação, sua linguagem plana e específica, pontiaguda como uma lança e achará
esses métodos os maiores e os melhores sinais de amor real para com uma raça perdida e
carecida voluntariamente de Deus. Falará de toda a obra de Deus de forma afectiva e seu
coração se emocionará sempre que alguém se salve, mesmo sendo seu inimigo. Achará também
que qualquer recusa à salvação como a coisa mais imprudente e o acto mais criminoso que se
pode praticar em toda a terra, enquanto que aqueles que sentem pouco sobre o bem do assunto
e do estado das coisas, sentirão que uma recusa daquelas é um acto digno de registo.
Cada pecador impenitente (mesmo que fale de Deus ou não), vê pouco ou nenhum do perigo que
incorre e não aceita esclarecimento sobre o assunto. Satisfará sua alma com vento e através de
métodos distintos dos que são aprovados lá em cima, entretendo dentro de si aquelas noções do
que é para si a verdadeira sabedoria. Vemos que estas pessoas que alegam ter a tal sabedoria
que os distingue de muito outros, que por consequência a praticam conforme muito bem
entendem em tempos distintos de aceitação do seu coração. De facto, as noções de um homem
imprudente sobre tudo o que é sábio a seu ver, no tocante às medidas que se tomam para se
promoverem avivamentos reais de religião, devem depender em muito do estado de espírito e
sentimental do seu coração e arredores. O que seria de absoluta prudência e sabedoria para
alguns, é uma afronta para outros. O imprudente num seria considerado como algo prudente e
sábio por outro e vice-versa. Tudo dependeria do seu estado de espírito em dado momento. Será,
em dados momentos, extremamente dificultado formar uma opinião geral a qual se expressa livre
e publicamente, quando publicamente se envereda por caminhos de oposição frontal (a qual não
é de maneira nenhuma condenada e evitada pela palavra de Deus), sem ser possível evitar
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penetrar numa certa situação de sentimentos e circunstancias onde tanto o individuo e a
comunidade se desviarão do bom senso e da salvação. O agrado a pessoas não deve determinar
as nossas acções e nem tão pouco o desagrado. Caso os crentes e os ministros pudessem ter
estas coisas sempre em mente, muita coisa que é distintamente falta de amor e desprovido de
caridade, tanto em palavras como em certas actuações, seriam evitadas. A censura não elimina a
verdade, mas a aceitação e a adopção dum coração verdadeiro, elimina toda a censura. Muita
coisa seria evitada que obstrui directamente o caminho da justiça e da verdade quando estas são
levadas a cabo por Deus. Bastará tão só nunca entrarmos e encetarmos pela onda das opiniões,
nem a favor, nem contra.
De novo: vemos como os crentes mornos e enrijecidos, juntamente com todos pecadores, nunca
são tocados e penetrados pelas palavras duma pregação ou oração e duma forma de pregar que
soa bem e convenientemente ao ouvido de quem tem um tipo de ouvido que faz qualquer
sacrifício para se sentir bem em seu estado selvagem. Tais pregações nunca têm o poder de
arrebatar toda a sua atenção e nunca os afecta realmente. Também não os comove nem os
demove de virem ouvir. Podemos verificar porque razão, então, num real avivamento promovido e
acarinhado por Deus em presença real, os pérfidos e os ímpios se sentem incomodados e
perturbados com as palavras planas, directas e bem intencionadas de quantos estejam apenas
com um alvo em mente: nunca a glória do homem, mas a salvação e a glorificação de Deus; é
dentro dum avivamento que os esfriados e os crentes que nunca se quererão converter, fazem
todos os esforços para trazerem e fazerem deslocar até eles pregadores frios e endurecidos –
como eles se encontram – e adoram sua forma de pregar, enaltecendo mesmo tudo quanto se
faz. Isto revela porque razão, em tempos de avivamento, os crentes mornos e prontos a serem
cuspidos da boca de Deus, se queixam e exigem que seu ministro volte aos métodos antigos,
anteriores ao avivamento. Gostariam que ele “viesse a ser ele mesmo de novo”, dizem. A razão
desta ocorrência é clara e sintomática: antes nunca os demolia nem demovia de seus altares e
agora compunge-os e perturba seu sono infernal de seus aposentos carnais.
Assim, podemos aprender a fazer uma estimativa das nossas próprias opiniões e as opiniões de
ministros e outros crentes sempre que nossos afectos estejam em maus lençóis. Como é que tal
homem ou mulher aprova e em que sentido concorda ou discorda sobre tudo quanto é dito e
feito? Qual será também a opinião sobre os métodos usados para alcançar os fins? Inúmeras
perguntas e tantas outras questões, são colocadas e respondidas sem que se leve em conta o
estado do coração de quem inquire, suas afeições daquele momento. Na grande maioria dos
casos, cometemos um grande crime dando muito valor às nossas próprias opiniões, ou às dos
outros, se não levarmos em conta que tipos de coisas se passam no coração das pessoas, pois o
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seu estado de espírito ou o nosso moldam a essência daquilo que vemos e ouvimos. É quase
seguro e certo que, caso as emoções se alterem por qualquer motivo, veremos as coisas num
outro prisma, alterando a luz que temos sobre esse mesmo assunto. O Presidente Edwards
adoptou uma resolução própria de que “ele actuava sobre as coisas quando as via claramente à
luz das coisas do evangelho e da religião” (caso não as visse claras, não actuava sobre elas).
Sabemos também que as igrejas são de forma geral impulsionadas para os avivamentos de
religião. Mas em todas as igrejas existem tantos hipócritas que, quando estes se dão de facto e
não são emoção ou tagarelices apenas, estes hipócritas são confrontados em seu estado de
espírito animalesco e sentem-se grandemente perturbados com aquele estado de coisas por se
considerarem muito espirituais e desejarem continuar assim. O fogo dentro de certas pessoas
incomoda-os ao ponto de se oporem a Deus em pessoa. Mas basta apenas que uma grande
parte de crentes genuínos despertem do seu sono infernal para que se tornem altamente
contagiantes a nível geral, os quais actuam sobre os sentimentos de quem se acha espiritual e
pretende liderar uma oposição que só pode ser activa porque não entendem que se devem
despertar também. Ofendem-se com muita facilidade, são enciumados, invejosos e sentem-se
sempre repreendidos com qualquer palavra, pois o que os confronta é a vida que vêm e não
suportam. Cada passo dos que se despertam são vistos como uma afronta, mesmo que os
crentes nem sequer tenham a intenção de os confrontar ou a ideia do que se estará a passar
entre eles. A vida de Deus é um confronto para esses, fale-se bem ou mal, para a esquerda ou
para a direita, consideram tudo o que fazem como uma cabala e uma afronta pessoal e planeada
contra seus pesados sentimentos que encobrem e sonegam todo o tipo de pecados neles
mesmos.
O ciúme e a inveja sobem de tom, pois a bênção de Deus é clara sobre quem está bem com
Deus e estes prosperam a olhos vistos e quanto mais activos e viventes de forma real e genuína
forem os crentes, tanto mais estes hipócritas se sentem confrontados pela versão de nova vida
que os fez despertar para uma nova oposição. Os espirituais sobem a escala espiritual e tomam
as rédeas da proeminência e bênção, ascendem em santidade (o que os confronta ainda mais),
são meigos e compassivos e enquanto sobem a escadaria de Jacob, os opositores descem dela
a olhos vistos, o que os leva ou a arrependerem-se eventualmente, ou a tornarem-se cada vez
piores para que se veja sua maldade ainda com mais destaque. Esta situação é a vontade de
Deus, pois assim os hipócritas se chegam a ver e tomar nota deles próprios – o seu mal se
destaca até para eles mesmos. Os crentes, em vez de se sentirem amargurados, devem-se
prevenir em maior santidade ainda, sendo ainda mais eficazes, para que seu mal contraste ainda
mais. Os crentes devem seguir vivendo suas vidas sem se perturbarem muito por estas
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manifestações que podem tentar pela amargura, má-língua, entre outras coisas. Os seus
sentimentos santos destacam-se porque é a vontade de Deus que assim seja e a menos que os
crentes se entreguem à oposição, logo Deus estabelecerá Seu Reino entre todos eles. Mas fica
claro que até lá, existirá sempre uma clara divisão entre trevas densas e luz que faz com que os
lados distintos nunca mais tenham como e porque andar juntos e concordarem e estarem de
acordo. Eles não estão de acordo, mesmo que falem a mesma coisa. Este estado de coisas
dentro duma igreja, clama a olhos vistos para uma introspecção de motivos, de vida, de coração
em toda a igreja em geral e estes divisionismos que são causados pelo pecado existente que
agora não tem mais como se esconder e camuflar pelo avivamento, sairão das suas tocas que
entretanto se inundaram de água viva. É de lamentar que exista pecado para que este estado de
coisas persista dentro de igrejas que pregam e divulgam um Salvador de todo o pecado. Mas
devem ser circunscritos a estas causas, maioritariamente.
Agora vemos porque razão, muitas vezes, os ministros são depostos em avivamentos reais.
Acontecerá sem qualquer razão aparente sem que seja culpa desse mesmo ministro, apenas
porque os restantes membros da sua igreja nunca entram no mesmo Espírito de avivamento e
preferem agarrar seu pecado com as duas mãos. Caso o seu próprio sentir seja posto em fogo
ardente e tornado evidente através destas circunstâncias, por Deus e, este ministro, sinta a
perdição do seu povo e sinta um afecto especial pela honra de seu Mestre e Senhor e ele tente
abrir uma das mãos deles no mínimo, ele sem margem para duvida pressionará com a chama da
verdade e os irritará em seus bancos de pecado promíscuo e seu fogo e sua fogosidade a favor
do seu Rei e Senhor os irritará, até que se sintam ofendidos ou se convertam logo ali. Se
pressentirem o erro dentro de si mesmos, quanto mais irresistível for a sua persuasão e seus
meios para o conseguirem, mais ofendidos estes se sentirão. Vemos a razão porque Paulo
muitas vezes tinha de abandonar certos lugares de trabalho (por vezes deixando lá alguns de
seus colaboradores), achando mesmo necessário fazê-lo. Os estridentes se endureciam de dia
para dia, contradizendo as suas palavras e vida real e vivificante, blasfemando incoerentemente e
falando mal do caminho com frequência e de preferência diante das multidões que estavam para
ouvir o evangelho.
Outro caso pode vir a ocorrer quando são as pessoas que despertam e se tornam vivos e
edificantes enquanto seu ministro dorme profundamente sem querer despertar de seu sono
profundo. Isto certamente colocará uma parede intransponível entre ministro e crentes,
destituindo a confiança nele por completo. Em ambos os casos, os ministros e os ouvintes
acham-se numa situação de nunca poderem comungar em seu andar, mesmo que se expressem
através das mesmas palavras. Eles não andam juntos porque não estão de acordo e nem podem
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estar. No primeiro caso, que o ministro obedeça rigorosamente ao mandamento de Cristo, o qual
dita que “saiam daquela cidade, sacudindo o pó dos vossos pés, em testemunho contra
eles”, Luc.9:5. No último caso, que toda a igreja sacuda, não o pó, mas o ministro de cima de si
para fora dos seus átrios. Isso servirá de repreensão como serviu a Miriam. Estarão muito melhor
sem ele, do que com ele. “Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem
os pastores apascentar as ovelhas? Mas não apascentais as ovelhas! Portanto, ó pastores, ouvi a
palavra do Senhor: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu estou contra os pastores; das suas
mãos requererei as minhas ovelhas e farei que eles deixem de apascentar as ovelhas, de sorte
que não se apascentarão mais a si mesmos. Livrarei as minhas ovelhas da sua boca, para que
não lhes sirvam mais de pasto”, Ez.34:2,3,9,10.
O presidente Edwards relata o seguinte: “Se que ministros não pregam dentro da doutrina
perfeita, ou nunca sejam totalmente dedicados e laboriosos, se manifestarem perante os seus
que são dúbios e Sua obra não os afecta com a seriedade a que ela deles requer e compele,
esse mesmo povo suspeitando dele, seu ministro nunca conseguirá mais que afastá-los dele e
feri-los para sempre e irremediavelmente caso estes sejam sinceros e honestos neles mesmos.
Mas caso este ministro manifeste pouca doutrina e muita vida e amor real que o ocupem em toda
a sinceridade, granjeará o respeito de todos, incluindo de seus inimigos. Mas no caso anterior, se
o seu povo for pressionado a crer que tal obra é de Deus quando não é, tendo o exemplo de tudo
quanto se passa noutras vilas e cidades bastante claros em suas mentes, estes exemplos
influenciariam mais estas multidões que as pregações de apostasia de coração que ouvem de
suas bocas. Poucos exemplos reais surtirão maior efeito que suas palavras e a balança penderá
contra si oportunamente. Os labores de ministros mortos nunca surtirão efeito sobre uma multidão
que se quer salvar de facto. Na verdade, as opiniões desse seu ministro, não apenas alcançarão
a suspeição do povo em geral, mas criará também uma certa suspeição entre eles próprios, caso
algum apoio a esse ministro resulte dentro dessa mesma multidão. As suspeitas serão
generalizadas e comuns e, os divisionismos, também. Acharão que é algo do mesmo espírito e
de fermento que se pode tornar numa epidemia geral entre eles e abominam tal coisa prestes a
tornar-se fedorenta mesmo, exalando horror. E o que será tudo isto em efeitos reais, senão um
efeito perverso sobre uma suspeição na palavra que é a verdade, colocando as pessoas a
falarem sobre futilidades sem fim à vista (pois o mal não tem fim enquanto ruge), desencorajando
novos convertidos a congregarem na igreja, pois perdem a confiança num evangelho o qual
deveria ser manifesta e claramente puro, tal qual este é na sua essência. O povo, assim que um
evangelho quiser brotar que seja real, estão tendencialmente em aptidão para demoli-lo porque
estão em estado de sítio contra os púlpitos, porque suas mentes fazem referencia ao ministro que
conhecem. Nós que somos ministros da Palavra mais fiel da Terra, olhando para esta obra de
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ano para ano com um semblante aturdido e magoado, manteremos as ovelhas decididamente
afastadas de seus pastos, em vez de estarmos a alimentá-las devidamente e dar-se-á o caso de
estas ovelhas então serem melhor servidas sem qualquer ministro na realidade. E isto em tempos
com este!
“Mas nós que nos dedicamos a este ofício sagrado, temos de ter o grande cuidado em nós
mesmos, de como andamos entre as ovelhas e o arado e de que forma nos comportamos nestes
últimos tempos ainda. Uma coisa de menor relevância num ministro, obstruirá sempre qualquer
obra de Deus mais do que em outra pessoa qualquer. Se mantivermos nosso silêncio, ou se
falarmos pouco sobre a Obra em publico ou nas orações, ou se estivermos revelando cuidados a
mais quando nos expressamos sobre o trabalho, pode vir a ser interpretado como preocupação
pelos ouvintes de forma geral de que, nós que somos tidos como seus guias espirituais, por quem
se isolam e olham para segurarem em exemplos fixos de instrução espiritual, serão admitidos no
hospital da suspeição. E isto terá como efeito prático o espalhar dessa mesma suspeição entre
muita gente e entre aqueles que falam entre eles com a finalidade de avaliar situações. Será
assim que consequências desagradáveis irromperão entre o rebanho. E caso nós nos achemos a
contrariar e a impedir a Obra de Deus, cujo dever é antes promovê-la e instalá-la em definitivo,
como poderemos esperar vir a beneficiar de Sua gloriosa manifestação em santidade? E
mantendo gente consciente ou inconscientemente neste labirinto de coisas, manteremos as
pessoas fora do reino de Deus também. Daí resultam as palavras terríveis de Cristo contra os
líderes religiosos de então, as quais deveríamos ter em conta também em dupla relação a nós:
“Mas ai de vós, hipócritas! Porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais,
nem aos que entrariam permitis entrar”, Mat 23:13. Se mantivermos as ovelhas fora do alcance
de Cristo, como e com que palavras responderemos por elas diante do grande e Sumo-Pastor, o
Qual comprou todos aqueles através de Seu sangue precioso e as entregou aos nossos
cuidados? Eu humildemente desejaria que cada ministro do evangelho se mantenha longe de ser
morto em relação ao evangelho e que obtenha visões claras sobre tão grandiosa obra, evitando
ser manifestamente descomprometido da Sua Obra e que se investigue em seu próprio coração
se tem estado a comprometer nascimentos entre o rebanho, ou mesmo a ser estéril por pecado
seu e sem bênção da parte de Deus. Peço a Deus então que essa esterilidade não lhe seja
perpétua”.
Podemos assim verificar que todos quantos professam a fé e são carnais, em conjunto com
pecadores irascíveis, são tendencialmente colocados na taberna de sentimentos animais contra
tudo quanto for verdade. Não será invulgar de todo em avivamentos de religião, deslumbrarem-se
grandes movimentos concertados de oposição carnal. Por essa razão se deve distinguir entre
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santo e oponentes carnais, para que nunca se cometa o erro de se fazer passar o mau como bom
e vice-versa. A promessa é clara: “Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio;
entre o que serve a Deus e o que o não serve”, Mal 3:18. Que este tipo de sentimento antagónico
seja espevitado durante avivamentos de religião, é de se esperar, pois está dentro dos
parâmetros de toda a obra de Deus, na sua globalidade geral. Estes sentimentos contraditórios
podem ser excelentes ocasiões de franco crescimento, como podem ser o inverso, dependendo
de que rumo tomam os fieis. Por essa razão, escolher-se objectar contra aviamentos por estas
coisas virem a ser reais, será um absurdo ainda maior.
Uma vez mais – podemos verificar também porque razão pecadores impenitentes não se dão
muito bem com avivamentos. É apenas porque Deus está entre eles. Eles na verdade odeiam
Deus e se inimizam contra a Sua realidade em sua essência. Porque Deus os comanda a
renascerem do seu mal para a luz, criando neles um novo coração e por serem assim ruins, Deus
deseja deles obediência imediata nesse aspecto – nada de adiamentos. Esta será a razão
principal porque os pecadores necessitam de um novo coração para estarem de acordo com
Deus. Mas estando estes sob a influencia da sua mente carnal, a qual brota inimizade contra
Deus quando Ele se manifesta, (Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois
não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser Rom 8:7), estes claramente se tornam
arrogantes, manifestando repudio e ódio contra uma realidade de vida evidenciada entre eles, a
qual nem sempre reconhecem como sendo Deus diante deles próprios para estarem bem. Se
Deus fosse irreal, nada disto se estaria a dar. Assim que Deus se manifesta, a proporção da sua
oposição revela a necessidade real dum coração novo. Por essa razão verificamos que, quanto
mais um avivamento depõe as armas carnais e pára de destilar coisas manifestamente errantes e
erradas, tanto mais ofenderá corações que se acham ainda em suas perversões malignas.
Quanto mais se manifesta de Deus e quanto menos das imperfeições humanas ali presentes,
tanto mais trarão à vida a oposição e a inimizade de corações que se tornam ultra-carnais pela
manifesta luz que se fez sentir em seu meio.
Mais ainda – poderemos assim obter uma avaliação real de avivamentos que são apenas
aparentes, pela manifesta falta de oposição de quem se encontra em estado dormente e
pecaminoso. Caso as pessoas que estão sob as influencias duma mente carnal nunca se
manifestem contra a obra de Deus, deve-se maioritariamente a uma de três causas: 1. Ou estão
profundamente convictos de seus pecados, de tal forma que nem se atrevem a manifestar-se em
oposição, (mesmo que a nível de coração sejam ainda manifestamente inimigos de Deus e
opositores do Espírito Santo); 2. Não existe nada do Espírito Santo entre ou dentro deles; 3. E,
algo que acontece com frequência, as verdadeiras virtudes do Espírito Santo são claramente
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sonegadas por um discurso demoníaco a partir do púlpito, pouco claro e sob custódia do
pretender-se envolver e misturar a santidade com os sentimentos carnais de alguns com receio
de os vir a perder, camuflando assim a Obra de Deus com o lixo que se encontra dentro dum
mundo frívolo e pouco coerente dos corações do homem, dando cobertura ao animal que se acha
sentado dentro da igreja apenas porque se acha lá e se deseja que lá permaneça. Qualquer coisa
que possa e tenha como manter um pecador de obter uma visão e percepção real de toda a sua
inimizade austera contra Deus, mantendo-a antes adormecida para que o próprio nunca se veja
tal qual ele é, quando colocado perante a verdade dos factos sobre seu próprio coração,
tendencialmente evita que haja e reaja uma certa oposição à obra que Deus tenta promover em
seu meio. E tudo quanto tenha como demover o pecador e oferecer-lhe uma nítida visão do ímpio
ao próprio perante Deus, do seu próprio estado de alma e coração, provocará oposição clara.
Toda essa excitação oposicionista nunca deve impressionar ninguém, pois um certo monstro foi
retirado do seu sono de quietude. Qualquer avivamento que não promova ou não provoque a
oposição dos ímpios muito naturalmente, é supra-falso, ou então nunca é conduzido de modo a
que se manifeste o dedo de Deus apontando e tocando consciências de verdade. Existe um
impedimento claro à manifestação e exaltação da mão de Deus. Por essa razão não se vê
oposição entre os pecadores e os crentes mornos e adormecidos.
Daí extraímos que, quanto mais puros forem os meios e as virtudes dos santos na conversão dos
ímpios, promovendo os avivamentos, quanto mais quem prega for salvo da enfermidade e da
fraqueza e da enfermidade de espírito, quanto menos simpatia e condolência se achar que
favoreça o pecado e o estado pecaminoso dos pecadores, quanto mais conforme a imagem de
Deus original entre os homens manifestarem vir a ser todos os santos sem excepção, tanto mais
a oposição terá e descobrirá razões firmes de e para se opor claramente. Enquanto o coração do
homem estiver em erro e deformado, é evidente que quanto mais aguda e mais clarividente for a
verdade dos factos que sejam possíveis de serem contemplados pessoalmente através de
pecadores irascíveis, tanto mais a contradição se envolverá com toda a obra de Deus que seja
clara e evidente perante olhos e corações carnais em franco estado de inimizade contra Deus.
Podemos esperar ver tanto do mal quanto for a proporção real do bem nunca sonegado nem
sonegável.
Onde parece que as coisas são iguais, faladas da mesma forma e expressadas através da
mesma linguagem, onde no entanto a natureza e a vida das coisas é distinta, a verdade destaca-
se pela provocação incondicional, quase involuntária daquela inimizade nativa que existe no
coração do homem de facto e a qual sempre esteve ocultada dos olhos até do próprio, porque a
verdade nunca se manifestou de forma real. Quanto mais errados estiverem os corações dos
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homens, tanto mais acertada deve ser tornada a pregação e a exposição da verdade. Que nunca
se pense que somos apologistas ou recomendamos que se pregue de maneira ofensiva e
voluntariamente intencionada e virada para a provocação da inimizade. Nem suponhamos que o
evangelho não pode ser pregado ou exposto através dum espírito mau e amargurado e que os
meios que se usam para promover aquilo que pretendemos não possam ser execráveis, pois
podem ser ofensivos em vez de promoverem verdade de espírito e verdade em forma de vida.
Todas essas práticas devem ser evitadas e anuladas veementemente também. Mas insistimos,
mesmo assim, que as coisas santas são inconscientemente ofensivas para os pecadores e que
os santos não devem evitá-las mas antes promovê-las ainda que sem nunca perderem seu
espírito de profunda gratidão e amor real. Os corações perversos sentir-se-ão bem onde as
pessoas sejam tão pouco santas quanto eles serão em sua essência, independentemente das
palavras que se possam vir a usar. É óbvio que ser compreensivo pode vir a dar aprovação e
guarnecimento à perversidade interior de cada homem ou mulher dentro da igreja e no mundo. A
consciência pode mesmo aprovar os feitos de cada qual, caso os corações sejam iguais e as
palavras sejam distintas. Mas quem não é santo, nunca aprovará a santidade quando esta
extravasa e inunda a partir das vidas dos que são santos de facto. A santidade é ofensiva, não
porque tenha algo de errado, mas porque tem algo de certo e muito bom e se confronta com o
erro e nunca escolhendo caminho, provoca uma inimizade não menos sólida que até ali esteve
profundamente adormecida em outras circunstâncias. Neste caso, se um pecador ou um crente
estiver sob o domínio duma mente carnal, a qual é na realidade uma inimizade activa contra Deus
pessoalmente e activada assim que Ele se manifesta de forma real e coerente, se estiver
confortavelmente a ouvir um sermão e uma certa exposição de todo o evangelho e se agrada
daquilo que ouve, será tão só porque o verdadeiro carácter de Deus não está a ser devidamente
exposto ou contemplado de forma prática e visível. Deus não está a ser exibido, mas talvez
explicado apenas. Existe algo que impede o pecador de apreender o verdadeiro carácter de Deus
à luz do seu próprio estado de espírito e coração. Se Deus for devidamente exibido, ninguém
poderá evitar que um certo tipo de rancor em forma de oposição clara e evidente e que uma
inimizade efervescente saia da sua toca onde hibernou desde que o pecador nasceu sem nunca
haver dado sinal de vida até então. Caso então a pregação seja a mais acertada e mesmo assim
o pecador não seja espevitado e tocado para a auto-preservação e rancor, existe algo muito
deficiente em quem prega, pois se o pecador se agrada da pregação certa, algo é pouco real com
a vida de quem prega e acusa esterilidade profunda – é Deus quem dá filhos. Quem prega assim
é pouco sério e real, ou falta-lhe a unção de Deus por alguma razão, ou algo mais de muito
errado se passa, a qual coisa tem de vir a ser imediatamente descoberta e devidamente exposta
à luz de Deus e prontamente banida dali, sob pena de que, quem prega, vir a pagar tanto pela
sua, como pela alma de todos quantos o ouvem. A vida de quem prega previne e impede Página | 178
claramente que as outras pessoas se salvem. A pregação deveria sempre poder realçar que o
pecador de facto, em toda a verdade, está em estado real de inimizade contra Deus e que odeia
Deus na sua essência. Falar de Deus nunca será ter e demonstrar Deus na Sua essência e real
realidade – será preciso que Ele se apresente de facto pessoalmente como Ele é ao pecador em
questão. Como Deus é verdadeiro, o pecador ressente-se sempre que é devidamente exposto a
toda a verdade em forma de realidade – algo que o pecador odeia que seja feito com ele e muitas
vezes sem se dar conta.
Vemos então quão grande é a tolice de todos quantos trabalham de forma a agradar pessoas,
gente cujos afectos são na realidade uma inimizade clara, mas até ali adormecida, contra Deus.
Nunca um pecador se sentirá completo com algo santo – terá de virar santo antes, no mínimo de
raiz, de coração por obra de Deus no interior invisível de cada um individualmente. Estando estes
em estado invulgarmente adormecido de inimizade contra Deus e tudo quanto é bom mas real,
(pois o bom em palavra saindo duma boca má nunca os afecta realmente), se houver uma
pregação que não os afecte, existe algo contraditório em tudo quanto fazemos e expomos.
Isto explica também a razão porque muita inimizade e má-língua são avivadas em paralelo com
os avivamentos de religião, conquanto sejam de facto reais e santificadores, dando glória a Deus
em todos os sentidos de palavra de vida real, se a palavra expuser a Vida de facto.
Será o efeito natural dos avivamentos puros que esta inimizade se revele e manifeste – nada
disso nos deveria surpreender, na verdade. Avivamentos nesta terra onde nos encontramos,
retiram a inimizade da sua toca de hibernação. Perturbarão sempre os espíritos do erro. Assim
que o amor e a verdade entram em contacto directo e nos terrenos do erro e da inimizade
execrável contra Deus, os reais sentimentos do inferno se despertarão. Isto nunca terá porque ser
evitado, dentro ou mesmo fora da igreja. É de realçar que isso aconteça de facto. Sempre que o
Espírito Santo entra em cena com a Sua característica principal (que é a santidade, daí “Espírito
Santo”), se e quando estiver operante de facto, a inimizade e a convicção seguem-se sempre.
Caso isto não aconteça, algo está determinantemente errado. Quanto mais certos e santos forem
as emoções e todo o sentir real de cada santo, tanto mais falta de santidade se provocará e se
manifestará de forma evidente e real dentro desse meio, caso estejam ímpios num raio
alcançável pela real imagem da verdade virtual. A menos que os pecadores e todos os que são
ímpios de essência se submetam àquela rigorosa e virtuosa lei de Deus em forma de vida
exposta, haverá sempre um despontar dum espírito discordante. Os santos nunca terão porque
andar com os ímpios e os ímpios se ressentirão disso mesmo, pois nada daquilo será agradar o
que são em sua forma e vivência conforme conhecem o “amor”, como o conheceram até ali.
Quanto mais santos os santos forem, tanto maior será o abismo entre eles até chegar aquele dia Página | 179
quando a eternidade os separará definitivamente e para sempre – cada um para o seu lugar de
eleição e preferência.
Isto revela-nos que as diferenças entre céu e inferno, no tocante à sua moralidade e carácter,
felicidade e miséria, consiste maioritariamente no real sentir das respectivas características de
cada qual, das quais, numa delas, Deus se deleita e convive de forma real, participativa mesmo,
enquanto que com a outra se afasta definitivamente e os entrega ao seu ser desprezível para
sempre e definitivamente. Os habitantes do céu e do inferno, estão separados por mais que um
abismo.
Isto demonstra também, para além de qualquer contradição, que nenhum pecador poderá ser
deixado a considerar-se salvo, a menos que nasça de novo. Se este se considerar salvo nesse
estado, será por culpa exclusiva de quem quer ser agradável e conivente com ele, saldando-se a
obra assim na sua consequente perdição como o efeito nefasto e principal de tal procedimento.
Noutras palavras, será impossível pela natureza das coisas, que pecadores andem e convivam e
participem das alegrias dos que são santos aprovados por Deus, que se sintam bem entre os
anjos, sem que sua natureza haja sido transformada de facto. Os ímpios não terão como e
porque andar entre os santos com alegria e em conivência, pois “Pelo que os ímpios não
subsistirão, nem os pecadores na congregação dos justos”; Sal.1:5. Assim que os crentes param
de andar e se envolver “segundo o curso deste mundono qual outrora andaram”, Ef.2:2, os
pecadores “acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução,
blasfemando de vós”, 1Ped.4:4. Assim que os crentes se despertam da sua sonolência profunda
e se tornam seres espirituais e activos e activados e abençoados por Deus em presença real,
tornam-se mais celestiais de facto, “os dias dos céus sobre a terra”, dissolvendo seus males e
anulando sua conduta anterior por causa e efeito da vida em seu novo coração; os pecadores,
porém, estarão uniformemente compostos e associados, esquecendo e ignorando mesmo as
diferenças entre eles, para se erguerem contra o “seu ungido” Sal.2:2 – por isso se amotinam.
Eles tentarão ainda imaginar e conceber e fazer entender que existe algo de errado existe, de
facto, mas entre os crentes, pois acham que se ofendem porque os crentes nunca amam nem
apoiam, quando a inimizade é sua e apenas existente em si próprios. Os avivamentos ofendem
os pecadores de todos os quadrantes, os de dentro e de fora da igreja. Mas a verdade é que, o
pouco que existe de certo entre os crentes, a par do muito de Deus que se vê entre eles, os
ofende na realidade, servindo-se de auto-acusações que ignoram e revertem a seu favor contra
os crentes de eleição. Mas, onde os santos se assemelhem a anjos em toda a santidade, tanto ou
mais santos que os anjos possam ser nos céus, os pecadores terão consequentemente de se vir
a distanciar do curso das coisas reais, a menos que se arrependam e convertam. Quanto mais se
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avançar em toda a santidade, tanto mais abismal será a diferença de vida e tanto maior a
impossibilidade de andarem juntos, pois não estão de acordo. A eternidade separá-los-á em
definitivo, no entanto.
Como ultimo comentário, digo que isto manifesta e revela porque razão as vidas e as palavras de
todos os profetas de Cristo e dos apóstolos e dos avivamentos de séculos anteriores dentro da
igreja virtual e real, terminou em morte. Também que detonou uma maior oposição a partir dos
lideres religiosos, do que de pecadores ímpios que nem as sinagogas frequentavam. Estes
pregadores eram considerados ofensivos e nefastos em virtude das suas vidas serem santas e
santificadoras também. Existe uma menor oposição hoje, apenas porque os crentes se tornaram
cada vez mais iguais ao “curso deste mundo” e não porque o mundo houvesse mudado para
melhor.
Nunca será de ser negado que os santos naqueles dias “experimentaram escárnios e açoites e
ainda cadeias e prisões. (37) Foram apedrejados e tentados; foram serrados ao meio; morreram
ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e
maltratados (38) (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes e pelas
covas e cavernas da terra”, Heb 11:36-38.
Não pode ser negado, nem será, que a pregação e as palavras de Cristo, de todos os profetas e
dos apóstolos e dos ministros primitivos, eram acompanhadas de vida e provocava a oposição
dos religiosos, os quais professavam santidade e exclusividade absoluta como forma de se
sentirem seguros e fortificados em suas próprias trincheiras de engano. Isso dava-se com muito
mais frequência do que se dá hoje, infelizmente. Muito menos deve ser sonegado que os que
professavam a religiosidade e santidade absoluta e absolutista e a religião, eram os que se
constituíam como a nata de toda a oposição frequente – a dos pecadores cessava, a deles nunca
cessou até aos dias de hoje. Foram eles que instigaram os Romanos a crucificar Cristo, depois
foram eles que mataram os santos e crucificaram os apóstolos. Até mesmo os doutores de toda a
lei e os mais sábios entre o povo, se acotovelavam para fazer o mal e para evitarem que a
multidão lhes deixasse de dar ouvidos e ouvissem o discurso e o decurso da verdade. “Ele tem
demónio e enlouqueceu! Porque o ouvem ainda?” Estes lideravam as oposições por todo lado,
entre os apóstolos, nos avivamentos nos quais eles se encontravam e achavam envolvidos. Com
frequência, os apóstolos eram acusados e tidos como “Estes que têm transtornado o mundo e
chegaram também aqui”, Act 17:6. Os pecadores eram de forma geral endurecidos através
destes opositores, os quais persistiam em não deixar entrar quem pudesse ainda entrar. Lemos
que eles “encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam” Act 13:45. Lemos sobre
descrições de “como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Página | 181
Caminho diante da multidão”, Act 19:9, tanto que muitas vezes os apóstolos eram forçados a
deixar os locais por uns tempos para que os escolhidos ainda pudessem e tivessem como e
porque ser alcançados, abandonando os locais de trabalho sob circunstancias deveras
humilhantes e muitíssimo degradantes, escapando para por as suas vidas a salvo. Estes são
factos incontestáveis e lamentáveis, os quais nunca nos devem envergonhar, caso os
encontremos em nossos caminhos santos ainda.
Este texto ganha assim a sua relevância principal, pois nunca ninguém terá porque andar junto
não estando de acordo. Todas estas coisas atribuem sempre uma veracidade a tudo quanto os
verdadeiros profetas falam e dizem e da vida que os faz realçar e destacar entre muitos e revelam
que nem por essa razão Cristo e os apóstolos eram os culpados desta situação, nem tão pouco
que não eram santos e puros em seus motivos quando abriam suas bocas apenas porque havia
oposição. Também não prova que eram imprudentes, que sua pregação era severa, quando
Cristo a considerou branda e leve mesmo como jugo; prova apenas que existe algo de muito
errado nos avivamentos actuais. O facto relevante é que todos os profetas eram um tanto mais
santos em suas vidas entre o povo, tanto mais audazes e fiéis na entrega das mensagens que
inundavam seu próprio ser por dentro, que Cristo era tanto mais inquisidor e prescutante e
manifestamente alguém que convencia de todo o pecado, pleno de verdade e virtude, simples em
sua forma de pregar, conclusivo, coerente com a vida que detinha n’Ele na mais pura santidade e
castidade real e não legalista, estando de tal forma “separado dos pecadores” em toda a sua
vivência que acrescia ao contraste, mesmo andando entre eles e comendo com eles à mesma
mesa; que os apóstolos eram concludentes e persistentes e simples na forma e na vida que
levava a verdade e o caminho às pessoas que os ouvissem ainda, que suas vidas eram de uma
abnegação tal que transparecia até perante seus opositores reais e carnais (e que era isso que os
fazia oporem-se frequentemente a eles), de tal forma que os pecadores, para andarem com eles
teriam necessariamente de se converter e acabar em concórdia com sua essência e vida real. A
menos que estivessem de acordo – e porque Cristo ou os apóstolos não mudariam – não
andariam juntos. Todos os meios que promoviam estes avivamentos eram integrais, racionais e
visíveis, tanto mais santos do que são hoje. Existe uma grande simpatia para o modo de vida de
todos os tipos de pecadores hoje em dia, por todo o lado. Existem igrejas que chegam a ser
transformadas em covis de leões, mais mundanas que o mundo. Não existia nada dentro da
igreja primitiva daquela suavidade da hipocrisia e sua mansidão era real e efectiva; haveria muito
menos simpatia igual à do “curso deste mundo” onde tudo se aceita e se promove como bem
desde que agrade e tenha características de vir a agradar, estabelecendo mesmo uma linguagem
muito própria e comum e perceptível e audível – aceitável mesmo – embelezando o pecado e
dando cobertura ao mal pela aceitação, de todo designado a nunca tornar a vida difícil a quem
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está em calmaria no vale da morte, recebendo e concebendo o aplauso popular de preferência.
Os apóstolos eram dos que “pelo contrário, rejeitavam as coisas ocultas, que são vergonhosas,
não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; mas, pela manifestação da
verdade, se recomendavam à consciência de todos os homens diante de Deus. (3) Mas, se ainda
o evangelho estava encoberto, é naqueles que se perdem que estava encoberto, (4) nos quais o
deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz
do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”, 2Co 4:2-4.
Estêvão era santo ao ponto de, depois de uma mensagem que perscrutou todo o íntimo dos seus
ouvintes, fazendo-os ver mesmo toda a verdade sem o poderem negar a não ser pela malícia, os
provoca e induz a “gritarem com grande voz, taparem os ouvidos e arremeterem unânimes contra
ele” também, Act 7:57. Mas isto nunca provará que ele foi imprudente em seu discurso. O feito
que os avivamentos actuais são muito mais silenciosos e graduais em seu progresso, do que
eram em Pentecostes e muitos outros lugares distintos e criam um muito menor alvoroço entre os
mundanos e os carnais que professam Deus e concluem por eles que serão santos, em nada
pode comprovar que os métodos e os meios de avivamento tenham evoluído e que sejam
entretanto melhor aceites e os pecadores melhor entendidos do que então. Também não
podemos deduzir que os ministros e os crentes que se envolvem na promoção destes ditos
avivamentos, sejam de forma alguma de maior prudência e de maior eficácia que os apóstolos.
Se isto vier a ser afirmado, será tão só porque os crentes actuais se entregaram a um certo
espírito orgulhoso de presunção e não porque seja verdade. Também não poderemos afirmar que
o coração dos homens entretanto mudou, apenas porque o verdadeiro carácter de Deus é pouco
revelado e sonegado ostensivamente. Também não será porque o carácter de Deus se tornou
menos ofensivo contra todo o tipo de pecador, interno e externo a toda a igreja. Não, nunca! O
facto relevante será de que, tanto os profetas como Cristo e seus apóstolos, eram tanto mais
santos e concisos, quanto eram perspicazes e audazes em tudo quanto empreendiam, estando
muito menos conformados com este mundo de loucos e insensatos; numa só palavra, eles
sempre foram muitos mais prudentes e muito mais celestiais que nós e isto poderá ser medido e
avaliado pela oposição que desencadearam entre as hostes terrenas e carnais. As suas razões
eram mais provocadoras e muito mais reais, tanto quanto eram mais odiadas pelos homens.
Hoje prega-se pelo prestígio, pelo caminhar normal deste mundo. Reavivamentos reais dos seus
dias eram muito mais livres e menos submetidos a meios e a políticas de empreendimentos
carnais e sua autoria era claramente a “mão nua de Deus”. Estas serão as razões porque elas
faziam muito mais barulho através da mansidão, alcançavam muito mais com muito menos
recursos, do que todos os avivamentos que desfrutamos hoje, pois despertavam e assolavam
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muito mais coisas e poderes do inferno e da terra contra eles mesmos. Eles literalmente viravam
o mundo do avesso, transtornavam todo lugar por onde passavam, pois assumiam claramente
que nenhum homem pode, ao mesmo tempo, “servir a Deus e a Mamon”. Era verdadeira a
afirmação então de que, “todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padeceriam
múltiplas perseguições”, 2Tim.3:12. Era entendido e tido como real então que, se os ministros
“ainda agradassem aos homens, nunca poderiam ser servos de Cristo”. Toda a igreja e o mundo
nunca concordavam para andarem juntos e fazerem uma mesma fila de gente. Eles não estavam
de acordo em relação a nada. Vamos então evitar sermos cruéis ao ponto de nos exercitarmos na
presunção, imaginado sermos mais sábios que eles, pois seus frutos falam por eles mesmos e
chegam até nós hoje ainda para vermos e aprendermos. Não imaginemos estar acima deles
apenas porque sabemos como conviver e dominar aquela mente “carnal que é inimizade contra
Deus”, para evitarmos ser perseguidos e inquiridos pelo mundo também. A santidade traz
perseguição inevitavelmente e pode trazer fonte de amargura até nós, a qual devemos sempre
evitar sem demovermos nossos espíritos de enfrentar quem confronta – que batam em nada.
Vamos assumir que se os ímpios convivem melhor connosco, se suas vidas são mais facilitadas
quando em pecado, tanto com a nossa forma de vida como com as nossas pregações, será tão-
somente porque somos muito menos santos, menos celestiais, menos com e como Deus, menos
do que aquilo que nossos antepassados foram. Se andamos de bem com os ímpios e os mornos,
ou se eles andam connosco, será porque estamos de acordo e nosso espírito é o mesmo que o
deles; “Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”