O Novo Estdio Municipal de Braga
Rui Furtado Carlos Quinaz Renato Bastos
IntroduoO local era um monte com uma pedreira no seu topo e o
Cliente pretendia um estdio com 30.000 lugares. Eduardo Souto de
Moura imaginou um estdio com apenas duas bancadas como num teatro
grego, uma seria escavada na pedra; a outra surgiria do cho,
isolada. Uma opo mais convencional, com 4 bancadas, tinha
entretanto sido desenvolvida. Aceitando o risco e o seu maior
custo, o Cliente optou pela soluo mais arrojada. Havia pouca
informao geotcnica disponvel mas a rocha visvel na pedreira deunos
confiana para iniciar o estudo. A questo era saber se encontraramos
rocha boa em toda a profundidade, necessria para garantir as
inclinaes quase verticais dos taludes que a soluo de projecto
exigia. Quanto tempo levaria a escavar o monte numa profundidade de
cerca de 50 m e qual seria o custo desta obra? Estvamos no incio de
2000 e o Estdio deveria estar concludo at finais de 2003. Informao
preliminar recolhida em diversas fontes e um estudo geotcnico
preliminar aliviou as nossas preocupaes fundamentais: existia rocha
em profundidade mas teramos que ir adaptando o projecto ao nvel de
fracturao e aos lisos que fossemos encontrando. Veios e bolsas de
saibro poderiam aparecer, como sempre com o granito. O prazo da
obra no seria um problema se a empreitada pudesse comear depressa e
o custo da escavao poderia ser reduzido significativamente,
vendendo o material escavado. A empreitada de escavao veio a
iniciar-se em Agosto de 2000. Nesta altura, era j conhecida a
orientao desfavorvel da famlia principal de diclases do talude Sul,
o
que obrigou desde logo ao lanamento de uma empreitada especfica
de conteno daquele talude. Os mtodos de escavao e o tamanho dos
blocos que produziriam eram as principais condicionantes das
inclinaes que viramos a obter. Idealmente, os taludes deveriam ser
verticais. Partindo do layout geral e considerando margens para
fazer face a problemas que pudessem ocorrer durante a escavao, a
geometria do grande buraco foi definida e a metodologia e sequncias
de operao foram especificadas. A obra foi sendo desenvolvida com um
acompanhamento permanente e o projecto ajustado em funo do que se
ia encontrando. A situao mais dramtica da obra acabou sendo o
aparecimento de um veio de saibro, ligeiramente oblquo em relao
face do talude Sul, que no tinha sido possvel detectar no Estudo
Geotcnico. Afectando fortemente a inclinao do talude e obrigando a
um complicado sistema de conteno, a soluo foi mover a implantao do
estdio em cerca de 20 m para Norte de modo a assegurar que o talude
possuiria uma espessura de rocha suficiente na sua face exterior. A
cobertura constituiu o segundo grande desafio para a equipa. Ela
deveria reforar a ideia da integrao do Estdio no ambiente
envolvente. Deveria ser to leve e simples quanto possvel: arcos,
trelias, postes, cabos e membranas no encaixavam no conceito. Uma
cobertura suspensa como a do Pavilho de Portugal na Expo 98 acabou
por surgir como a soluo natural. Dispnhamos da rocha para ancorar
os cabos e a reaco da cobertura na bancada nascente ajudaria a
estabiliz-la. A dvida era o comportamento dinmico de uma cobertura
com um vo de 220 m e o facto de que teria de ser construda a 50 m
de altura (a pala do pavilho de Portugal tinha sido construda com
escoramento total a partir do solo). Clculos preliminares
intensivos e o estudo de estruturas semelhantes, em especial de uma
ponte de tubos construda na Argentina, revelaram a viabilidade da
soluo. Por outro lado, jogando com a geometria e o peso da laje de
cobertura seria possvel aspirar ao equilbrio dos momentos na
fundao, para combinaes permanentes de aces. Infelizmente, no
decurso do projecto, a incluso do programa (bares, instalaes
sanitrias, etc) e os necessrios ngulos de viso levaram alterao da
inclinao dos montantes da bancada Nascente, afastando-nos daquele
objectivo original. Uma estrutura de lminas paralelas garantiria a
rigidez necessria da Bancada Nascente e permitiria a integrao de
todos os bares, escadas e equipamentos necessrios. Numa atitude
conservadora, estvamos ainda agarrados ideia de uma cobertura
contnua. Esta soluo, no entanto, no permitia iluminao natural para
o relvado. A diviso da cobertura em duas teve ento de ser encarada
e testada. Foram efectuados estudos usando uma abordagem esttica do
vento, sendo a distribuio dos coeficientes de presso estabelecida
usando a bibliografia. O peso e a espessura da laje de cobertura
foram inicialmente definidos de modo a anular as foras ascendentes
do vento. A primeira anlise dinmica foi feita na Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto, atravs de um modelo
tridimensional de elementos finitos com o qual foi possvel
estabelecer os modos de vibrao e as suas frequncias. A resposta
estrutural da cobertura aco do vento em estado limite ltimo foi
igualmente calculada. Estes resultados mostraram que a soluo com
duas lajes independentes era possvel mas que a interaco dinmica
entre a cobertura e o vento deveria ser aprofundada em estudos
posteriores. O clculo dos esforos principais nos montantes e a
adequabilidade do solo de fundao revelou igualmente a razoabilidade
da soluo. O processo de construo foi estudado e uma soluo de lajes
pr-fabricadas deslizando sobre os cabos, solidarizadas entre si no
final, demonstrou ser exequvel
(tinha sido esta a soluo adoptada no aeroporto Dulles, em
Washington, h cerca de 30 anos). A estimativa de custos mostrou que
a soluo se poderia encaixar no oramento. Outros aspectos foram
ainda estudados e confirmados para validar a soluo: em dias
ventosos seria um estdio com duas bancadas confortvel para os
espectadores? As sombras dos cabos na zona central da cobertura
afectariam as transmisses televisivas? A ventilao e exposio ao Sol
do relvado seriam adequadas? O Conceito foi ento validado e o
Projecto de execuo iniciou-se.
Arquitectura e EngenhariaO programa era novo para toda a equipa.
Sem ideias pr-concebidas, comemos do zero. Juntamente com o
Arquitecto visitmos diversos Estdios construdos recentemente na
Europa, analisando e questionando as suas opes. Para este projecto,
Souto de Moura pretendia que as necessidades tcnicas da construo
determinassem o desenvolvimento do Projecto. Para alm,
naturalmente, do que resulta da definio dos espaos, o resultado
esttico da obra adviria de um intenso, exigente e estimulante
dilogo entre a arquitectura e a engenharia, em que o processo de
busca de solues s terminava quando o resultado agradava a ambas.
Critrios claros e rigorosos eram acordados para disciplinar as
necessidades tcnicas da construo. As solues tcnicas deveriam
segui-los: alinhamentos, traados, espessuras, arestas tudo era
sujeito a critrios cuja validade era dada pela inexistncia de
solues ad-hoc. Rigor, leveza e simplicidade formal eram os
objectivos a perseguir. O resultado devia ser simples na forma e na
sua lgica construtiva. Mas a simplicidade formal s alcanada atravs
de um demorado e contnuo processo de aproximaes sucessivas que
termina, no raras vezes, em solues bem diferentes das ideias que
deram origem ao debate. Toda a equipa estava permanentemente
disponvel para questionar opes anteriores, deixando mesmo que por
vezes o tempo ajuzasse sobre a adequao das solues adoptadas,
simultaneamente de um ponto de vista estrutural e arquitectnico. No
Estdio de Braga, solues foradas acabaram sempre por, com o tempo,
ser alteradas. Arquitectos e Engenheiros trabalharam em conjunto
com vista a atingir um fim comum, que no era visto como exclusivo
de uns ou de outros. A ideia inicial de encaixar o Estdio na
pedreira, com apenas duas bancadas, iniciou um processo de Projecto
em que as solues encontradas foram resultando da confirmao e
consolidao de ideias cuja viabilidade era, partida, desconhecida. A
escolha inicial do caminho a seguir assentou mais frequentemente na
sensibilidade e no instinto do que em resultados conhecidos.
Seguiu-se-lhe o indispensvel processo de investigao e confirmao, em
que o critrio de aceitao das solues assentava numa rigorosa anlise
de custo/benefcio (funcional, tcnico, econmico e esttico). Estvamos
conscientes dos riscos inerentes ao desafio sistemtico dos limites
convencionais, controlando-o atravs de uma intensa metodologia de
investigao. Anlise de risco, redundncias, estudo do mesmo problema
por equipas independentes, cruzando resultados, permitiram-nos ir
gradualmente reduzindo as margens de segurana adicionais com que
inevitavelmente partamos. Este processo, que aproveita todos os
recursos e espao que lhe forem alocados, tinha que ser convergente.
O seu fruto era afinal a construo de uma obra havia prazos e custos
para cumprir. O pragmatismo e flexibilidade para isso necessrios
tiveram que estar presentes e foi preciso aceitar os limites que no
conseguimos
ultrapassar. A variedade e complexidade dos problemas tcnicos
que este projecto colocou constituram um grande desafio para toda a
equipa mas, simultaneamente, uma oportunidade de aprender que no
desperdimos. Uma palavra sobre o papel do Cliente - sem a sua
confiana e entusiasmo, em especial do Sr. Presidente da Cmara de
Braga, o sucesso do Projecto no teria sido possvel. gratificante
chegar ao fim da obra e constatar que falar da estrutura do Estdio
tambm falar da sua Arquitectura e que explicar a sua Arquitectura
contar a histria dos problemas que a Engenharia foi tendo que
enfrentar.
Descrio geralO Estdio Municipal de Braga est localizado em Dume,
no recinto do Complexo Desportivo de Braga, que integrar igualmente
um pavilho desportivo e uma piscina olmpica. O seu elemento mais
visvel , sem dvida, a cobertura. composta por cabos full locked
coil aos pares, afastados entre si de 3,75m, sobre os quais apoiam
duas lajes de beto que cobrem as duas bancadas do Estdio. Trata-se
de uma estrutura indita no s pelo seu vo (202m) como tambm pelo
facto de os cabos serem livres na zona central. Dado o seu carcter
inovador, estiveram envolvidas no seu projecto diversas entidades
nacionais e internacionais, tendo sido realizados 3 estudos do seu
comportamento ao vento (rgidos e aeroelsticos). A drenagem das guas
pluviais da cobertura feita ( semelhana da do Pavilho de Portugal
na EXPO 98), s para um lado, sendo recolhida por dois aquedutos em
ao inox, saindo em consola do talude. O caimento da cobertura
conseguido por variao do comprimento dos diversos pares de cabos ao
longo da cobertura. O remate das duas lajes de beto da cobertura
feito com uma trelia de seco transversal triangular, inicialmente
concebida como viga de rigidez e que acabou sendo o suporte dos
projectores de iluminao e das colunas de som. A cobertura apoia-se
em duas grandes vigas que fazem o coroamento das duas bancadas
nascente e poente, onde feita a ancoragem dos cabos. A bancada
nascente estruturalmente constituda por montantes (consolas) com
50m de altura que, ao serem furadas, do apoio s lajes dos diversos
pisos de foyers do Estdio. A sua estabilizao longitudinal
assegurada pelas lajes existentes sob os degraus das bancadas. Da
bancada nascente salienta-se a esbelteza dos montantes que tm
apenas 1,00m de espessura. Depois da cobertura, a bancada poente
talvez o elemento estruturalmente mais complexo, pela diversidade
de problemas encontrados: montantes ancorados em rocha e em saibro,
funcionamento de conjunto da estrutura com o solo, compatibilizao
do funcionamento estrutural de estruturas com rigidezes muito
diferentes, fundaes sobre banquetas instveis. De entre as diversas
solues encontradas, difcil destacar uma como digna de especial
referncia. O chamado relvado afinal o edifcio que se esconde
debaixo dele. Possui dois pisos e ocupa toda a rea do relvado.
Alberga um parque de estacionamento, os balnerios e todos os
servios de apoio ao EURO 2004. No coloca particulares dificuldades
estruturais, para alm do controle das consequncias da retraco e das
variaes trmicas, que levou utilizao de aparelhos de apoio no apoio
da laje do relvado, especialmente bem integrados pela Arquitectura.
A escavao e conteno de taludes necessria para a construo do Estdio
por si s uma grande obra. Deu origem escavao de 1.700.000 m3 de
saibro e rocha e obrigou conteno de grandes taludes de rocha em
que, infelizmente, as diaclases tinham uma orientao desfavorvel. A
conteno do talude foi feita com uma malha de ancoragens e pregagens
que asseguram a sua estabilidade. O comportamento dos taludes
avaliado por um conjunto de inclinmetros e clulas de carga, ligados
ao sistema de monitorizao do Estdio. Um complexo desta dimenso
obrigou naturalmente realizao de um conjunto importante de
infra-estruturas de que se destacam o desvio de um colector de
saneamento de Braga que atravessava o terreno, a canalizao de uma
linha de gua e a galeria tcnica
No presente texto so particularizados os aspectos mais
significativos de cada um dos elementos sucintamente descritos
atrs.
A CoberturaA cobertura do Estdio constitua naturalmente o maior
desafio pela sua dimenso e inovao. No h no mundo nenhuma cobertura
semelhante. O conceito que se pretendia materializar era o de um
conjunto de cabos em catenria espaados entre si de 1.875 m e
suspensos das vigas de coroamento dos montantes, dando apoio a duas
lajes independentes de beto que cobrem cada uma das bancadas. A
geometria escolhida para a cobertura resultava do compromisso entre
o objectivo do Arquitecto (arco invertido muito abatido) e o valor
dos esforos produzidos na estrutura pela componente horizontal das
foras dos cabos. A seleco do tipo de cabos constituiu, tambm, uma
importante deciso dado ser determinante para a definio das
caractersticas formais e tecnolgicas da cobertura. Duas opes se
colocavam: cabos do tipo full locked coil e cabos embainhados.
Estudadas as diferentes caractersticas das duas solues em termos de
durabilidade, dispositivos de ancoragem e dimensionamento, optou-se
pela soluo full locked coil, que conduz a seces inferiores. Em fase
de concurso, dada a grande importncia da tecnologia especfica de
cada fabricante de cabos, definiu-se que a execuo da cobertura
seria uma empreitada de Concepo/Construo, em que era dada liberdade
aos concorrentes para propor alteraes ao projecto original,
desenvolvido pela afassociados. A proposta vencedora do concurso do
ASSOC-Obras Pblicas, ACE / Soares da Costa propunha uma soluo com
cabos full locked coil (da Tensoteci) que diferia da soluo original
em trs aspectos: os cabos eram agrupados em pares afastados entre
si de 3.75m, a espessura das lajes de cobertura era uniforme e as
lajes seriam desligadas das vigas de coroamento. A responsabilidade
do projecto da cobertura passou deste modo a ser partilhada pela
equipa de projecto da Afassociados e pelo Adjudicatrio ASSOC-Obras
Pblicas, ACE / Soares da Costa / Tensoteci. As coberturas suspensas
colocam desafios especiais aos engenheiros estruturais. Estes
desafios so causados fundamentalmente pela aco do vento e pelo
processo construtivo. Pela sua dimenso e condies fronteira, uma
cobertura deste tipo no pode ser calculada com recurso a valores
regulamentares, recomendaes normativas ou experincias
anteriores.
O estudo do comportamento desta cobertura requer que se repensem
todos os procedimentos usuais de projecto a partir dos seus
fundamentos, desde o estabelecimento dos valores das aces a
considerar at previso da resposta da estrutura passando pela
possvel interaco entre ambos. Tornou-se, assim, necessrio recorrer
a modelos fsicos (ensaios em modelo reduzido) que completassem os
usuais modelos matemticos (algoritmos processados por clculos
automticos em computador) que, no caso presente, por muito
sofisticados que fossem no eram suficientes para, por si s, estimar
o valor das solicitaes, nomeadamente da aco do vento, e representar
o consequente comportamento da estrutura. Daqui resultou a
necessidade de realizar uma quantidade aprecivel de clculos e de
ensaios independentes quer sobre a soluo inicial quer sobre a soluo
final da cobertura que sero descritos adiante. O processo de
construo tambm apresentou grandes desafios. Como construir as palas
muitos metros acima duma base slida, numa rea enorme e de uma
maneira eficiente? E qual o efeito do processo construtivo na
geometria final dos cabos e consequentemente das palas? Esta soluo
de cobertura requer, naturalmente, uma estrutura que resista a
grandes esforos horizontais, gerados pelos cabos, a uma grande
altura acima das fundaes. Como tal, exige-se um dimensionamento
cuidado dos montantes das bancadas nascente e poente. Nesta ltima
existe ainda uma excelente rocha grantica cota dos cabos da
cobertura, para onde se transmitem as foras desses mesmos
cabos.
A anlise e o efeito do ventoNa vizinhana do local do Estdio, em
Merelim, tinha sido instalada uma estao meteorolgica moderna e
automtica, embora data do projecto, registasse apenas trinta meses
de existncia. Este anemmetro fornece valores das velocidades mdia e
mxima e suas direces a cada dez minutos. Esses dados so depois
tratados segundo procedimentos estatsticos estabelecidos14 que
permitem produzir curvas com as velocidades a considerar no local
do Estdio, para as diversas direces do vento. Para obter a descrio
do vento de projecto no local da obra para perodos de retorno de
100 anos foram usados os dados do anemmetro da Estao Meteorolgica
de Merelim tratados estatisticamente e convenientemente corrigidos
para ter em conta os escassos trinta meses de registos. Na anlise
dos valores extremos dos dados do anemmetro de Merelim recorreu-se
ao mtodo de Leiblein para velocidades de rajada independentes.
Admitiu-se uma distribuio de extremos de Fisher Tippet tipo 1 com
base no quadrado das velocidades do vento. Para a determinao dos
efeitos da topografia envolvente na velocidade mdia e na
intensidade de turbulncia do escoamento do ar na vizinhana do
Estdio foram realizados ensaios em tnel de vento sobre modelo rgido
escala 1:1500. Estes ensaios foram realizados na Rowan Williams
Davies & Irwin Inc. (RWDI, Canad). A obteno do historial de
presses dinmicas, em vrios pontos da cobertura, provocadas pela aco
do vento de projecto para cada uma das direces consideradas foi
efectuada a partir de ensaios em tnel de vento sobre modelo rgido
escala 1:400. A cobertura do modelo estava instrumentada com
sensores de presso em 200 posies distribudos pela sua face superior
e inferior. O registo das medies era feito de forma automtica,
tendo sido obtidas as respectivas sries temporais para ventos em 36
direces distintas. Estes ensaios foram realizados na Rowan Williams
Davies & Irwin Inc. (RWDI, Canad). O clculo da resposta da
estrutura aco dinmica do vento descrita pelo historial de presses
anteriormente obtido foi realizado de duas formas distintas.
0,3
A primeira, foi uma anlise dinmica determinista no domnio do
tempo, por integrao directa passo a passo das equaes de equilbrio
dinmico da estrutura baseadas numa anlise elstica e linear de um
modelo de elementos finitos de casca1 476 951 1426 1901 2376 2851
3326 3801 4276 4751 5226 5701 6176 6651 7126 7601 8076 8551 9026
9501 9976 10451 10926 11401 11876
0,2
0,1
0
-0,1
com matriz de rigidez geomtrica que se assumiu como constante. A
matriz de rigidez geomtrica foi obtida a partir dos esforos axiais
dos cabos devidos s cargas permanentes. Com esta anlise obteve-se a
resposta dinmica da estrutura aco dinmica do vento. O deslocamento
mximo calculado foi de 47 centmetros. A segunda, foi uma anlise
dinmica probabilista pelo Mtodo da Decomposio Ortogonal. Este mtodo
baseia-se no princpio de que um campo de presses multivariado e no
estacionrio pode ser eficazmente simplificado projectando-o num
espao gerado pelos vectores prprios da matriz de covarincia do
campo original. Esta tcnica apresenta duas grandes vantagens. Em
primeiro lugar, os novos campos (modos de presso) so mutuamente no
correlacionados. Em segundo lugar, o contedo energtico do campo
multivariado completo normalmente bem representado por um nmero
reduzido de componentes no espao transformado, permitindo a
representao do campo efectivo de presses por meio de poucos modos
de presso. Com esta formulao obtm-se a estimativa da componente
quasi-estacionria e da componente ressonante da resposta da
estrutura em termos de tenses e deformaes. Estes valores foram
usados no dimensionamento de diversos elementos estruturais da
cobertura. A modelao matemtica com base nos resultados dos ensaios
em tnel de vento daqueles primeiros modelos fsicos no permite
garantir a no ocorrncia de um comportamento aeroelstico da
cobertura. Alis, este tipo de comportamento das estruturas requer
estudos especializados de grande complexidade. O problema mais
delicado consiste na possibilidade do fluxo do vento em volta da
estrutura provocar um comportamento ressonante dessa estrutura.
Estas excitaes podem ser foradas desprendimento de vrtices ou
interactivas divergncia, galope ou flutter (esvoaar). Todos estes
tipos de comportamento tm definies tecnicamente especficas15.
Embora tenha sido considerado que um tal comportamento seria muito
improvvel, considerou-se conveniente desenvolver modelos fsicos
aeroelsticos a serem testados em tnel de vento A estabilidade
aerodinmica da soluo inicial ficou demonstrada por ensaios sobre um
modelo aeroelstico escala 1:200 realizado no Danish Maritime
Institute (DMI, Dinamarca). A no ocorrncia de fenmenos de
instabilidade aeroelstica da soluo final foi provada por ensaios
sobre um modelo igualmente aeroelstico escala 1:70 realizado no
Politcnico de Milano. Ambos os ensaios demonstraram a estabilidade
aeroelstica da cobertura, tendo o deslocamento mximo medido sido
quase igual ao deslocamento calculado. Todavia, na zona central,
onde existem apenas os cabos, possvel que estes possam exibir algum
daqueles comportamentos dinmicos. Assim, decidiu-se que os pares de
cabos sero ligados entre si e que a eles sero adicionados pequenos
amortecedores. Com o intuito de confirmar a validade da estimativa
dos valores do vento de projecto com base nos registos do anemmetro
de Merelim e de dissipar eventuais dvidas acerca da intensidade de
turbulncia do escoamento do ar no local do Estdio instalou-se um
anemmetro no local da obra cujos registos tm vindo a ser comparados
com os da estao meteorolgica de Merelim. Apresenta-se a ttulo
exemplificativo o grfico correspondente s velocidades mximas
referidas a perodos de 10 minutos do passado ms de Julho.
Salienta-se a coerncia entre os valores medidos nos dois
locais.
-0,2
-0,3
47cm
Velocidades m xim as do vento - Anem m etro em Merelim e em Obra
(Julho 2003) 10 9 8 velocidade do vento (m/s) 7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 dia 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
27 28 29 30 31 Obra (velocidade mxima) Merelim (velocidade
mxima)
Para estudar a sensibilidade dos esforos de flexo da laje de
cobertura a variaes das foras nos cabos realizou-se uma anlise
probabilista. Considera-se a cobertura composta por uma laje em
beto armado apoiada em n cabos e consideram-se os momentos
flectores em m pontos da laje. Para uma determinada combinao de
aces, os n cabos tm instaladas foras dadas pelo vector . Vrios
factores podem produzir uma variao aleatria dessas foras (desvios
na aplicao do presforo, distribuies no uniformes da temperatura,
fluncia diferencial). Considerase que estes efeitos so
representados pelo vector de variveis aleatrias com valor mdio e
desvio padro . O problema consiste, ento, em estimar a
probabilidade, Pf, dos momentos flectores aleatrios M resultantes
serem maiores do que os momentos resistentes Mu nos m pontos da
laje. Na resoluo deste problema faz-se uso de uma simulao
estocstica com base no mtodo de Montecarlo conjugada com o Mtodo
Orientado de Simulao para a gerao das variveis aleatrias .
O escoamento das guas pluviaisO escoamento das guas pluviais da
cobertura feito no sentido do talude nascente, com um caimento de
um por cento, que conseguido atravs da variao de comprimento dos
pares de cabos que a suportam. Duas grandes grgulas em ao inox
duplex, suspensas das lajes de beto encaminham a gua para os
aquedutos, tambm eles em ao inox, encarregados de a levar at rede
de guas pluviais e linha de gua existente no recinto do Estdio.
Estes aquedutos com cerca de 40 m de comprimento, dos quais 27 em
consola, apoiam-se nas banquetas do talude em pilares de
comprimento varivel, uma vez que as banquetas apresentam uma
inclinao significativa. A estabilidade lateral destes aquedutos
garantida por um par de escoras ancorado rocha do talude. As
dimenses destes dois dispositivos foram estabelecidas atravs do
estudo do escoamento da gua, tendo em conta a altura da queda,
limitada inferiormente pelo deslocamento previsvel da cobertura sob
a aco do vento.
O processo de construoO processo de construo desta cobertura tem
trs problemas fundamentais: a pormenorizao das palas, o sistema de
montagem e o efeito do processo de montagem nas formas dos cabos
suspensos. A espessura da laje de beto armado de 200 milmetros,
tendo este valor resultado do compromisso entre a necessidade de
massa estabilizadora e a minimizao do seu peso. Claro, por razes
prticas e econmicas, o escoramento e a cofragem tinham de ser
evitados. Portanto, a considerao de elementos pr-fabricados era
inevitvel. Os elementos escolhidos foram painis com as dimenses
tipo de 1,8 metros por 3,75 metros. Por baixo, tm uma chapa de ao
que d o acabamento e que se estende para fora dos limites do beto
pr-fabricado para fornecer a
cofragem para a execuo in situ das juntas entre os painis. Os
painis tm ainda peas metlicas que permitem a sua interligao, com
parafusos, durante o processo de montagem Os elementos
pr-fabricados so montados sobre os cabos, no topo das bancadas.
Cada novo elemento ligado ao elemento prvio com parafusos, e os
elementos deslizaro ao longo dos cabos por gravidade. Quando todos
os elementos estiverem colocados, as juntas transversais e
longitudinais entre os painis so betonadas.
Controlo de geometria e monitorizaoO carregamento correspondente
instalao dos cabos e dos painis pr-fabricados da cobertura
constituiu um verdadeiro ensaio de carga dos elementos estruturais
do Estdio, por esta razo a resposta de todo o sistema estrutural,
em termos de tenses e deformaes, foi acompanhada com cuidado
especial de modo a poder identificar e analisar antecipadamente
possveis desvios em relao ao comportamento terico previsto. O
acompanhamento fase a fase da resposta da estrutura durante a
montagem da cobertura bem como a sua interpretao mecnica foram uma
garantia de que no haveria surpresas na geometria final pretendida
para o sistema de cabos que do forma a esta cobertura nica. A forma
final da cobertura seria sempre funo do peso da cobertura, da fora
instalada nos cabos e da rigidez dos elementos de suporte (viga de
coroamento e montantes das bancadas). A importncia relativa de
qualquer um destes factores foi avaliada e o acompanhamento da
resposta da estrutura incluiu obrigatoriamente as parcelas
referentes a cada um deles. Para este efeito tornou-se necessrio
efectuar um controlo apertado de todas as cargas aplicadas aos
cabos da cobertura. Em conjunto com o registo das cargas aplicadas,
as operaes de controlo geomtrico com recurso aos levantamentos
topogrficos e a recolha e tratamento da informao fornecida pelo
sistema de monitorizao (instrumentao interna da estrutura e
instrumentao dos macios rochosos e fundaes) foram imprescindveis
para a anlise do comportamento da estrutura durante a montagem da
cobertura do Estdio. O acompanhamento do comportamento dos
elementos estruturais do Estdio durante a montagem da cobertura foi
realizado recorrendo informao recolhida pelo sistema de
instrumentao instalado, nomeadamente: Clulas de carga nos cabos da
cobertura. Instrumentao interna da estrutura de beto (extensmetros,
clinmetros e termmetros nos montantes da Bancada Nascente)
Instrumentao dos macios rochosos e fundaes Clulas de carga nas
ancoragens ao terreno. Inclinmetros in place. A organizao e a
interpretao dos dados recolhidos durante todo o processo permitiram
que, no espao de tempo que decorreu at final da montagem dos
elementos da cobertura, os modelos matemticos usados em fase de
projecto fossem continuamente aferidos e, eventualmente, corrigidos
para serem coerentes com os valores medidos em obra. Assim se
definiram os critrios para o estabelecimento da correco a efectuar
geometria terica de referncia da cobertura para ter em conta o
comportamento real da obra e as condies climatricas da data em que
foi realizado o ajuste final de geometria previsto desde incio.
Salienta-se que a existncia de desvios na geometria da cobertura
e/ou nas foras instaladas nos cabos em relao aos valores previstos,
obrigaria a uma anlise cuidada da sua repercusso na forma final da
cobertura e nas foras finais dos cabos (tendo presente os limites
regulamentares usados em fase de projecto). Em fase de servio, a
monitorizao estrutural do novo Estdio Municipal de Braga ser
realizada atravs de um sistema de controlo electrnico de diversos
parmetros estruturais, tanto estticos como dinmicos. O referido
sistema ser gerido informaticamente, permitindo o registo de dados
discretos ou o registo quase em contnuo, de acordo com a natureza
da grandeza a medir e a localizao do instrumento. Alm dos sensores
de instrumentao esttica j mencionados (quer na estrutura de beto,
quer nos macios rochosos) salienta-se a monitorizao de carcter
dinmico constituda por 3 acelermetros triaxiais colocados nos
pontos de maior amplitude de vibrao da cobertura e por clulas
medidoras da presso do vento em vrios pontos da face inferior e
superior das palas da cobertura.
A Bancada NascentePercorendo a alameda de acesso ao estdio,
atinge-se a Bancada Nascente cota +98.00. A bancada apoia-se em
dezasseis lminas verticais (montantes) de espessura constante e
igual a 1,0 metro, que arrancam cota +87,80 e atingem a cota
+142.85. O acesso s bancadas faz-se por rampas alternadamente
descendentes e ascendentes. As rampas descendentes permitem cruzar
um amplo espao existente imediatamente abaixo da cota do relvado,
dando acesso Bancada Poente. As rampas ascendentes permitem ter
acesso aos lugaras das bancadas superior e inferior, e a todas as
reas de apoio existentes nesta bancada como as zonas de circulao,
as instalaes sanitrias, os camarotes e os bares. A circulao
vertical realiza-se por escadas localizadas entre montantes que,
apartir da cota +110, tm os patamares intermdios em consola (para
fora dos montantes). Existem ainda dois elevadores panormicos que
permitem o transporte de cargas e pessoas entre as cotas +98 e a
cota +112. As infraestruturas hidrulicas e elctricas
circulam no interior dos montantes e das lajes, desde o nivel da
fundao at ao nvel da cobertura. Estruturalmente, a Bancada Nascente
funciona sem qualquer junta de dilatao. Assim, o conjunto dos 16
montantes com as lajes dos pisos e das bancadas, estabilizam a
estrutura desta bancada tanto s aces verticais como s horizontais.
Desde o incio do projecto que se percebeu que uma cobertura
suspensa entre as duas bancadas, teria como principal condicionante
a estrutura do lado Nascente, em que a anoragem dos cabos feita a
mais de 50 metos da cota de fundao. A estrutura desta Bancada
deveria assim ajustar-se o mais possvel a esta realidade, tendo
havido a preocupao de ajustar a geometria dos montantes de modo a
que a resultante da combinao das aces gravticas da bancada com as
elevadas foras transmitidas pela cobertura minimizasse os
desiquilibrio de momentos ao nvel da fundao. Numa primeira fase,
este objectivo foi parcialmente atingido. Com o evoluir do projecto
e com a implementao das exigncias de funcionalidade do Estdio, o
equilibrio ao nvel da fundao no foi totalmente conseguido,
mantendose no final um razovel ajuste da soluo. Na anlise da
estrutura da Bancada Nascente utilizaram-se diversos programas de
clculo de estruturas bidimensionais e tridimensionais
representativos de toda a estrutura da bancada. Ao nvel das aces, a
ssmica condicionou o dimensionamento dos elementos verticais,
devido ao elevado peso existente cota mais alta, isto , ao nvel da
cobertura. Dado tratar-se de uma estrutura sem juntas de dilatao, a
temperatura e a retraco revelaram-se igualmente aces de grande
importncia no dimensionamento final. Foi devido a estas aces que, o
piso cota +93,24 foi projectado completamente desligado dos
montantes, criando-se um sistema de prticos independentes que, no
entanto, se apoiam na fundao dos montantes. Os montantes so em beto
armado (C35/45 + A500). As faces laterais so em beto vista, tendo a
arquitectura desenhado toda a estereotomia das cofragens. Para a
circulao horizontal existem trs grandes aberturas circulares, uma
com 14 metros de dimetro e as outras duas com 8,5 metros, que so
atravessadas por lajes com uma extenso de aproximadamente 125
metros. As lajes dos pisos apoiam-se nos montantes e em vigas
metlicas sempre que o local de apoio so as aberturas circulares.
Nesta zona as vigas metlicas funcionam em conjunto com as lajes
como vigas mistas. As escadas so em beto armado e apoiam-se entre
montantes, vencendo um vo livre de 6,5 metros. No topo dos
montantes existe uma viga de grande rigidez segundo a direco dos
cabos da cobertura (viga de coroamento), que garante a transio
entre os cabos da cobertura e os montantes. Ao nvel das fundaes,
apareciam os trs tipos de estratos definidos no reconhecimento
geolgico-geotcnico (ZG1, ZG2 e ZG3). Esta heterogeneidade mereceu
especial importncia tendo-se efectuado vrias anlises
representativas do comportamento global da estrutura com interaco
solo-estrutura. Atendendo sensibilidade da estrutura a
assentamentos de apoio manifestada nos modelos numricos, optou-se
por uma substituio dos terrenos de menor qualidade por beto
ciclpico, garantindo assim que toda a estrutura est fundada sobre
rocha.
A Bancada PoenteA bancada Poente do estdio encontra-se encaixada
num macio grantico cuja cota superior corresponde ao nvel da praa
que lhe d acesso. nesta bancada que, durante o Euro 2004, ficaro
instaladas todos os jornalistas e VIPs, contando ainda com reas
reservadas restaurao. As reas ocupadas pelos pisos abaixo da cota
do relvado (+98.00), destinam-se a zonas de circulao, balnerios,
posto mdico, bombeiros, etc. A circulao vertical processa-se
por
escadas e por elevadores que, na sua maioria, so panormicos. A
relao dos espaos de circulao situados sob as bancadas com o
marcante talude rochoso, caracterizado por cortes irregulares e
fortemente diaclasado, tinha que ser privilegiada no Projecto.
Nesse sentido, a estrutura das zonas de circulao e comunicaes
verticais deveria ser o mais leve possvel, deixando o protagonismo
para a rocha e a sua ligao com os montantes de apoio da cobertura.
Tirando partido do facto da praa superior (Poente) se encontrar
mesma cota da cobertura, a estabilizao da estrutura s aces
horizontais transmitidas pelos cabos da cobertura conseguida por
ancoragens directas ao macio. Existem nesta zona de transio, entre
a cobertura e o macio, dezoito montantes com uma espessura
constante igual a 1,0 metro, que se ajustam s irregularidades do
talude. As lajes dos pisos so invertidas, isto , alinham a sua face
inferior com a face inferior das vigas que lhe do apoio. Sobre
estas lajes inferiores existem lajes mistas que se apoiam em blocos
de beto e que vencem vos de aproximadamente 2,4 metros. Deste modo,
entre a laje inferior e as lajes mistas, conseguem-se espaos com
altura livre de aproximadamente 65 cm, utilizados para a passagem
de condutas das Instalaes Hidrulicas, Elctricas e AVAC. Os degraus
das bancadas so prfabricados e apoiam-se em vigas inclinadas em
beto armado e pr-esforado, continuas ao longo de 16 alinhamentos na
direco dos eixos dos montantes. Imediatamente abaixo dos degraus
das bancadas, colocam-se painis pr-fabricados. Dadas as
caractersticas do macio de fundao, as fundaes da estrutura so do
tipo directo (sapatas). O apoio de pilares e montantes em zonas do
macio bastante fragmentado e na proximidade da crista de taludes,
obrigou a que fossem executadas estabilizaes locais com recurso a
ancoragens definitivas. A estrutura da bancada Poente, sendo
porticada, poderia, tal como acontece com a maioria das estruturas
deste gnero, ser considerada auto-suficiente para travamento
segundo o plana horizontal. Dada a esbelteza dos pilares e o modo
quase sempre excntrico com que as vigas se apoiam, limitou essa
possibilidade. Houve assim que tirar partido das lajes cota 112 e
116, pisos 2 e 3 respectivamente, que funcionando como diafragmas
horizontais rgidos, conferem um adequado travamento s aces
horizontais apesar do reduzido nmero de ligaes destas aos
montantes. A irregularidade existente ao nvel dos pisos e a
configurao das bancadas (inclinadas), obrigou a que todo o clculo
se efectuasse sobre modelos tridimensionais globais. Nestes modelos
representaram-se vigas, lajes, pilares e paredes, de acordo com os
espaos requeridos pela Arquitectura. Esta estrutura, dotada de um
elevado grau de hiperestacidade, muito sensvel a asentamentos de
apoio, o que obrigou a um grande cuidado no controlo de possveis
assentamentos no s atravs do clculo da estrutura considerando a
interaco solo/estrutura, mas tambm ao melhoramento e uniformizao do
comportamento do solo de fundao. As reaces da cobertura e as
componentes horizontais da reaco das bancadas determinaram o
dimensionamento dos montantes. Sendo esta uma pea fundamental para
a estabilidade global do estdio, e encontrando-se os montantes
fundados em zonas de caractersticas geotcnicas diversas, houve que
desenvolver modelos representativos da interaco solo/estrutura que
permitiram confirmar o dimensionamento das ancoragens e confirmar o
estado de compresso permanente entre os montantes e o talude em
rocha. Desta forma foi possvel confirmar o equilbrio global dos
montantes em relao s cargas a eles transmitidas e proceder ao seu
dimensionamento interno, incluindo as fundaes. O nvel superior das
ancoragens transmite de um modo quase directo a maior percentagem
de carga horizontal ao macio rochoso. O nvel inferior de ancoragens
desempenha uma papel fundamental na correco da orientao da reaco do
montante na sua fundao, cuja resultante fica assim orientada para o
interior do macio, necessrio face ao estado de fracturao do macio
sob a fundao.
Em face da sensibilidade da estrutura a assentamentos e
atendendo ao papel fundamental que as ancoragens desempenham no
equilbrio global da estrutura do Estdio, houve que definir um
faseamento construtivo que viabilizasse a entrada em funcionamento
da estrutura conforme projectado. O facto de haver vrias peas
presforadas e de 5 montantes se encontrarem fundados em saibro
reforaram essa necessidade. Esta necessidade contrariava no entanto
a questo de a fora das ancoragens no dever ser aplicada na
totalidade antes de ser executada a cobertura, uma vez que lhe
corresponderia uma compresso exagerada no macio. Foram ento
simulados e calculados diversos cenrios para diversos faseamentos
possveis, tendo-se concludo pela aplicao de apenas 20 % da fora das
ancoragens antes da execuo da cobertura, deixando para depois o
tensionamento final, o que obrigou verificao da capacidade
resistente das diferentes peas tendo em vista os esforos
resultantes da aplica co destas cargas numa estrutura hiperesttica
j construda. A construo dos montantes 1 a 5, assentes em saibro
(mais deformvel portanto) iniciou-se com a construo de uma viga de
fundao ancorada ao macio tendo sido de imediato aplicada a
totalidade da fora prevista, de modo a que a estrutura final fosse
construda j depois dos assentamentos se verificarem. Nos montantes
assentes sobre rocha ( 6 a 18 ), de modo a minimizar os efeitos dos
assentamentos que o elevado estado de fracturao do macio fazia
prever, foram realizadas ancoragens provisrias que lhe conferiram
um estado de pr-compresso, e que foram sendo desactivadas em
simultneo com o tensionamento das ancoragens definitivas.
O RelvadoA entrada das viaturas para o estdio faz-se atravs de
um tnel pr-fabricado com o topo em abobada, inserido num dos
taludes que delimitam a Poente o relvado. O acesso a partir do tnel
d ligao directa ao piso -2 (+87,80). Nesta rea existe um amplo
espao para estacionamento de viaturas ligeiras e autocarros. Junto
rea da Bancada Poente localiza-se o programa definido pela UEFA
para utilizao durante o EURO2004, onde se destaca um auditrio,
salas de recepo, salas de trabalho, etc. Ainda neste piso,
localizam-se as cisternas para rega de segurana contra incndios,
assim como outras infraestruturas elctricas do estdio. O piso -1,
cota +93,24, consiste num amplo espao de circulao entre as bancadas
Nascente e Poente e ainda numa rea destinada aos balnerios de
jogadores, treinadores e rbitros. Esta rea delimitada por uma
parede em beto vista. O relvado localizase cota +98,0 e tem uma
dimenso de aproximadamente 125x80 m2. Em todo o contorno do campo
de jogos (relvado), existe um fosso fechado por um gradil metlico,
que permite a entrada de luz para o piso -1 e, simultaneamente, a
circulao nesta zona de pessoas e viaturas em caso de emergncia. A
drenagem do relvado assegurada por um sistema de drenos instalados
sobre o relvado e ainda por pendentes superficiais. As guas
drenadas so conduzidas a uma caleira perifrica, ao longo do
permetro do relvado. semelhana do que acontece nas Bancadas
Nascente e Poente, as infraestruturas elctricas e hidrulicas
existentes nas reas em que exista beto vista, tais como: iluminao,
sistemas de deteco de incndio, CCTV, etc, encontram-se no interior
destes elementos (lajes e pilares). Estruturalmente, a zona ocupada
pelo Relvado formada por pilares de seco circular com dimetro
constante de 0,70 metros, que apoiam as lajes fungiformes dos pisos
-1 e 0. Estes pilares tm um espaamento regular em planta com 9,35 m
numa das direces e 7,5 m na outra. A laje do piso -1 macia e tem
uma espessura total constante de 0,35 m. A laje que d apoio ao
campo de jogos tem uma espessura constante de 0,50 m e suporta,
para alm das cargas prevista no relvado, toda o sistema que
constitui o relvado e perfaz uma espessura mdia total de 1,10
metros, onde se incluem os sistemas de impermeabilizao e drenagem
inferior. No topo dos
pilares existem capiteis troncocnicos com um dimetro mnimo de
0,70 m e mximo de 3,90 m. Existem pilares fundados imediatamente
abaixo do piso -1 e outros sob a laje trrea do piso -2. A diferente
rigidez entre estes dois tipos de pilares, foi o motivo para a
colocao de aparelhos de apoio em neoprene cintado no topo dos
pilares mais rgidos (fundados abaixo do piso 1), evitando assim
esforos exagerados resultantes da retraco do beto e de gradientes
trmicos. A necessidade da colocao destes aparelhos de apoio
condicionou a configurao final do remate entre o topo dos pilares e
o capital troncocnico, criando-se um aspecto visual idntico entre
os pilares com aparelho de apoio e os que no o tm (com
continuidade). As fundaes so do tipo directas (sapatas).
Escavao geral e contenoPara se construir o estdio no interior de
um Monte Castro, foi necessrio retirar aproximadamente 1,7 milhes
de m3 de material rochoso. Apesar do primeiro reconhecimento
geolgico-geotcnico realizado no local, revelar um granito
heterogneo, com boas caractersticas mecnicas em algumas zonas
apresentando-se noutras bastante alterado, o decorrer da escavao,
confirmou um cenrio pior: o talude maior (Nascente) tinha
apresentava-se bastante diaclasado, com inclinaes na direco do
prprio talude variando entre 45 e 50. Esta realidade inviabilizou a
obteno de uma parede vertical como pretendido inicialmente,
obrigando criao de banquetas e conteno de todo o talude. A escavao
teve assim que decorrer de um modo muito mais lento j que a conteno
prevista em projecto (ancoragens e pregagens) deveria de evoluir,
de cima para baixo, ao ritmo da escavao. Apesar disso, houve zonas
em que no foi possvel evitar deslizamentos de blocos, da resultando
as superfcies visveis do talude de rocha os lisos. Como resultado
destes deslizamentos e de uma falha entretanto detectada, com uma
orientao NW-SE, houve que proceder a uma translao do Estdio para
Poente em relao ao inicialmente previsto em cerca de 20 metros.
Para a estabilizao dos taludes utilizaram-se ancoragens e pregagens
definitivas, realizadas com vares em ao de alta resistncia com
dimetros 36 e 32 mm respectivamente. A fora instalada nas
ancoragens de 600 kN e o ao do tipo 835/1030. O Talude Poente, com
dimenses muito menores que o nascente, apresentava problemas de
estabilizao muito menores que o Nascente j que a inclinao das
famlias de diclases principais era favorvel. A estabilizao deste
talude foi garantida tambm com a utilizao de pregagens e
ancoragens. Os taludes foram instrumentados com 10 clulas de carga
nas ancoragens e com quatro inclinmetros in place com um
comprimento total de 20 metros/cada. As leituras destes sensores tm
sido regularmente acompanhadas de modo a serem avaliadas eventuais
fenmenos no espectveis no macio. Futuramente, tanto as clulas de
carga como os inclinmetros in place sero integrados no sistema
global de monitorizao da estrutura do estdio que far uma gesto
automtica e permanente de todos os sensores instalados.
Infra-estruturasO terreno onde se vai localizar o Complexo era
atravessado por uma linha de gua que corria ao longo do vale e por
um colector de saneamento da cidade de Braga. Ambos tiveram que ser
desviados, provisoriamente primeiro, durante a construo e
definitivamente no final. A linha de gua foi canalizada sob a
actual Praa Nascente, descarregando num canal a cu aberto. O
desnvel entre a praa nascente e a sua ligao a jusante, vencido
atravs de diversas quedas de gua. O colector de saneamento segue
agora dentro da galeria tcnica que liga o Estdio Rotunda, sob a
avenida de acesso. Esta galeria, realizada com box-culverts
pr-fabricados, transporta ainda os cabos de alimentao de
electricidade, telefones e o ramal de abastecimento de gua. A
implantao de qualquer destas infraestruturas obrigou execuo de
valas com profundidades significativas (15 m nalguns casos) e adopo
de solues diversas para a sua fundao, dada a heterogeneidade dos
solos atravessados, que iam desde a rocha (na zona do Estdio) at
grandes espessuras de material aluvionar na zona do vale.
Quantidades GeraisEmpreitada de Escavao Volume de rocha escavada
Volume de saibro escavado
Agosto 2000 a Fevereiro 20021.013.515 m 698.496 m
Empreitada de Conteno de Taludes Ancoragens Pregagens
Agosto 2000 a Fevereiro 20025.504 m 724 m
Empreitada de Estruturas
Fevereiro 2002 a Setembro 200388.958 m 14.722.495 kg 1.006.81 kg
107.296 kg 230.580 m 1.3.736 m (517.657 kg)
Beto Ao A500 em armaduras ordinrias Ao em perfis e chapas Ao
Inox Cofragem Cabos em Full Locked Coil na cobertura
Arranjos Exteriores
Junho 2003 a Setembro 2003
reas pavimentadas reas ajardinadas
37.530 m 9.800 m
A equipaUm Projecto de Engenharia quase sempre um acto colectivo
cujo resultado final depende do contributo de toda a equipa. O
Projecto do novo Estdio Municipal de Braga disso um bom
exemplo:
Cliente: Projecto: Arquitectura: Projecto Geral:
CMARA MUNICIPAL DE BRAGA SOUTO MOURA ARQUITECTOS Lda Eduardo
Souto de MouraCarlo Nozza Ricardo Meri, Enrique Penichet, Atsushi
Hoshima, Diego Setien, Carmo Correia, Lusa Rosas, Jorge Domingues,
Ricardo Rosa Santos, Jos Carlos Mariano, Joo Lima
Paisagismo: Consultores: Engenharia: Coordenao: Estruturas:
Daniel Monteiro Arup Associates Dipesh Pattel (Programa do
Estdio) AFASSOCIADOS Projectos de Engenharia, SARui Furtado Rui
Furtado Carlos Quinaz Renato Bastos, Pedro Mos, Rui Oliveira,
Rodrigo Andrade e Castro, Pedro Pacheco, Miguel Paula Rocha, Antnio
Andr, Joo Dores, Srgio Vale, Nuno Neves, Rafael Gonalves, Andreia
Delfim, Miguel Braga, Joo Coutinho, Antnio Monteiro Maria Elisa
Parente, Joana Neves Antnio Jos Rodrigues Gomes, Antnio Ferreira,
Lus Fernandes (RGA) Jos Silva Teixeira, Tiago Fernandes (RGA)
Christian Aoustin (GERISCO) Estevo Santana, Joo Burmester
Inst. Hidrulicas: Inst. Elctricas: Inst. Mecnicas: Segurana:
Escavao: Arruamentos e Infraestruturas: Consultores:
Estevo Santana, Joo Burmester Antnio Silva Cardoso (Geotecnia)
CG (Geotecnia) OVE ARUP & PARTNERS Andrew Allsop / Andrew
Minson (Estudo do Vento) RWDI Mark Hunter / Michael Soligo (Ensaios
em modelo rgido) DMI Danish Maritim Institut Aage Damsgaard
(Ensaios em modelo aeroelstico) Instituto Construo da FEUP Elsa
Caetano (Dinmica)
Projecto final dos cabos Cobertura:
TENSOTECI SOARES DA COSTA, SA
-
Massimo Marini Massimo Majowietcki Lus Afonso Diogo Santos
Fiscalizao:
CMARA MUNICIPAL DE BRAGA DOMSUManuel Afonso Basto Carlos Amaral
Lus Almeida, Filipe Vaz, Eduardo Leite, Paula Pereira, Cidlia
Rodrigues, Mrcia Rodrigues, J. Rodrigues
Construo:
Escavao geral: Conteno: Estruturas, Instalaes, Acabamentos e
Espaos Exteriores:
Aurlio Martins Sobreiro Adrito Faneca ACE-ASSOC / TECNASOL Mrio
Duarte, Joo Falco ACE ASSOC / SOARES DA COSTA, SALionel Correia
Jorge Oliveira, Mrio Duarte, Mrio Pereira, Santos Costa
AnexoGaleria de Desenhos