Entrevista com Evandro Teixeira
http://zarzuelo.blogspot.com/2010_06_01_archive.html#140884027291652
4617em 3 de maio de 2010 Eu, como eu mesmo, estava nervoso. Eu,
como estudante de jornalismo, estava muito nervoso. Eu, como
fotgrafo... bom, eu estava suando em bicas. Tuuu... tuuu... a
quinta tentativa que eu fao do telefone da Rdio, e ele insiste em
no completar a chamada. Falei com o entrevistado h uma hora atrs,
ele disse para retornar em meia. Tuuu... tuuu... Al? Sotaque
nordestino carregado, a voz era de um homem mais velho que meu pai.
Com dificuldade para entend-lo, ouvi: - Espera a. Tudo bem, espero,
o Evandro Teixeira, afinal. Leitor, raciocina. Um. Dois. Trs.
EVANDRO TEIXEIRA, sim, senhor! Minha primeira entrevista importante
com, nada mais, nada menos, que um dos maiores fotgrafos do Brasil
e do Mundo, e de tabela, um dos meus maiores dolos. Como voc
ficaria ao conversar com um de seus maiores dolos? Eu estava, como
disse, suando em bicas. Pra quem no sabe, Evandro Teixeira um
fotojornalista brasileiro, e dos mais importantes, que registrou
muitas partes da histria deste pas com uma cmera na mo. Baiano de
nascena, mudou-se para o Rio de Janeiro e comeou sua carreira em
1958, no Jornal da Noite. Em 1963 foi para o Jornal do Brasil, um
dos maiores da poca, onde continua trabalhando at hoje. O Evandro j
exps em diversos pases, publicou livros de fotografia e tem muitas
fotos famosas que voc talvez conhea, mas nem sabe que so dele. E
sabe, eu no gosto de ficar puxando o saco de ningum, mas que o
currculo dele bom... Fazer o qu?
Enchente na rua Jardim Botnico, Rio de Janeiro, 1988
Chico Buarque, Tom Jobim e Vincius de Moraes, Rio de Janeiro,
1979
O Papa e mo misteriosa, Belm, Par, 1991
Ayrton Senna no GP Brasil, Rio de Janeiro, 1989 No faltam
motivos para eu querer entrevistar esse cara, e o primeiro simples:
eu gosto e, de certo modo, exero a fotografia. Sendo ele um dos
melhores, nada mais normal que admirar. Depois que ele um fotgrafo
que tirava fotos pra jornal um fotojornalista, uma referncia pra
quem conhece um pouco sobre. E o motivo ltimo que semestre passado,
na disciplina de Fotojornalismo I, minha turma teve de estudar a
vida desse homem at mais do que se precisava, tornando-nos, de
certo modo, sabedores profundos de Evandro Teixeira. A oportunidade
de entrevist-lo, que nunca me passou pela cabea, esmurrou a minha
cara quando as organizadoras do Floripa na Foto disseram Ah, sim,
tudo bem, esse o telefone dele, aqui . Na cara, assim mesmo, tipo .
A conversa que tive com o Evandro foi tima. Apesar da voz, conheci
um gurizinho de 75 anos, simples, bem-humorado e apaixonado pela
fotografia. Como bom baiano que , tem o sotaque forte (mesmo
morando no Rio desde 1963) e parece nunca ter cortado os laos que
tem com sua terra natal, Irajuba, a maior cidade do mundo, como ele
mesmo diz. Religioso e menino, a primeira coisa que fez foi me
interromper quando o tratei como senhor: - Primeiro que no tem
nenhum senhor aqui - Senhor t l no cu! Sem mais delongas, a
entrevista mais suada de minha vida (literalmente), com Evandro
Teixeira: O que senhor faz hoje exatamente no JB? Continua saindo
campo como antigamente ou resolveu ficar na parte da chefia? No
fotografo mais para o jornal, sou editor agora. Tem uma turma nova
muito boa, garotada de primeira linha. - Uma das fotos que mais me
impressionam a da tomada do forte de Copacabana, em 64. Como foi a
situao para conseguir aquela foto, em uma poca to turbulenta? Esse
tipo de foto exige um pouco de coragem, de habilidade, sorte... um
conjunto de coisas. Nessa foto especificamente, eu entrei com uma
cmera escondida, graas a um amigo, capito, e que jogava vlei comigo
na praia, ali, no Posto 6. No dia da revoluo a gente se encontrou e
ele disse que estava indo pro forte: Eu vou com voc!. Ele disse que
seria complicado, mas ns fomos juntos.
Eu tive que bater continncia tambm pra no ser notado e entrei.
Logo em seguida chegou o Castelo Branco e eu comecei a fotografar,
mas pouco depois me mandei, porque era capaz de eles me notarem, j
que eles estavam achando que eu era fotgrafo do Forte. Fotografei e
me mandei, pra no ser notado.
Tomada do Forte de Copacabana, Golpe Militar, Rio de Janeiro,
1964 - Considerando o novo meio das cmeras digitais, o que mudou no
modo de fotografar da sua poca para hoje em dia? Muitas coisas
mudaram, a fotografia teve um avano muito grande. Tem a questo
dessas facilidades de motor, da continuidade, da sequncia de
disparos. Hoje voc fotografa em ASA (ISO) 100 e de repente muda pra
1600 tudo isso no mesmo carto. Antes voc tinha que trocar de filme.
Hoje, com um notebook l no meio do serto do Brasil voc transmite
uma foto rapidamente. Antes, quando se viajava, a gente revelava os
filmes no banheiro, tinha que carregar todo o laboratrio... um
trambolho. Agora isso acabou, facilitou e ajudou muito o jornalismo
moderno. Claro que com essa modernidade, esse avano tecnolgico, a
fotografia se perdeu muito tambm, ficou um pouco massificada. A
turma hoje t muito mal acostumada no disparo, na hora de escolher
aquilo que vai fotografar, no selecionando nada. Eu diria que hoje
se faz mais quantidade do que qualidade. - Tem alguma foto que o
senhor fez que merecia ter tido mais destaque, mas por algum motivo
no teve? Alguma foto que ficou escondida, no apareceu como o senhor
gostaria... No, acho que o que pde ser feito foi mostrado e est a.
Claro que, lamentavelmente, por questes de segurana, eu deixei de
fazer algumas fotos. No Chile, por exemplo, ou era voc, ou a foto.
Ou voc fotografa, ou voc morre. Acho que, o que foi possvel
fotografar, eu fotografei. Tem muita coisa que eu gostaria de ter
registrado, mostrado, mas... a vida! As esperanas continuam!
(risos) - Alm desta situao no Chile, que outra situao o senhor
passou, no fotografou, mas gostaria muito de ter fotografado?
Muitas coisas aconteceram, muitas coisas acontecem, que eu gostaria
de documentar e no foi possvel ou no possvel. No Golpe Militar do
Chile houveram momentos dramticos, em que alguns jornalistas
morreram l do meu lado at. Ainda no Chile, no
necrotrio, tiveram fatos que eu presenciei e lamento no ter
podido fotografar, por exemplo. Porm, se voc v uma coisa, mas no
fotografa, isso nada. Na fotografia o importante a cena, o momento
inusitado. Eu acho que voc tem que mostrar aquilo que voc quer
contar, e no contar aquilo que voc viu isso pra quem escreve, e no
pra quem fotografa.
Estdio Nacional, Golpe Militar no Chile, Santiago, 1973 (uma das
poucas fotos que ele conseguiu fazer) - No livro 68 Destinos, o
senhor identifica pessoas da foto da Passeata dos Cem Mil e conta a
histria delas 40 anos depois do ocorrido. Como o senhor fez para
identificar as pessoas da foto? Tudo comeou quando eu fiz meu
primeiro livro de fotojornalismo, em 1983. Aquela foto foi
selecionada para entrar nele e a designer que estava trabalhando
comigo se achou na foto da Passeata. Por coincidncia, acabou
achando tambm o marido dela, que na poca no eram casados nem se
conheciam. Ela est na parte de baixo e ele no topo da foto; ela
estudante de design e ele de arquitetura. E a comeou a histria.
Eles foram encontrando os ex-colegas de faculdade, a notcia foi se
espalhando e surgiu a ideia de construir um projeto de achar as
pessoas daquela foto. Pus no meu site, buscamos essas pessoas e eu
fotografei elas 40 anos depois daquele dia, na Cinelndia, mesmo
lugar que a foto original foi tirada.
A Passeata dos Cem mil, em 1968 - E o processo de encontrar
estas pessoas levou quanto tempo? No foi um processo rpido assim.
Desde aquela poca at o lanamento do livro, praticamente. No final
eu j estava quase desistindo, mas no penltimo e ltimo ano, com a
propaganda mais pesada, comeou a surgir mais e mais gente, e hoje
temos 170 pessoas catalogadas. A o pessoal t me cobrando agora, mas
chega, no quero mais encontrar ningum, no! (risos). - Dentro dos
tipos de fotografia que existem, porque fotojornalismo e no outro
tipo? Eu j fotografei muito por a, no s fotojornalismo. J fiz muita
moda, viajando pela Europa e Estados Unidos, por exemplo. Mas
chegou um momento que eu cansei. No das mulheres - da moda! Me
enjoou muito, enchi o saco, aquela futilidade... por isso fiz uma
seleo e decidi por isso fotojornalismo. A entra esporte e tal, que
uma coisa mais prazerosa. plasticamente mais bonito, uma coisa que
me encanta fotografar. Uma Copa do Mundo de futebol, por exemplo,
uma Olimpadas. No significa que eu no ache importante a fotografia
de moda, tem grandes nomes por a, pelo Brasil e pelo mundo, mas
cada um na sua. - A questo do diploma de jornalismo para
fotojornalistas faz diferena ou a questo continua como antigamente,
sem a exigncia do canudo?
A concorrncia hoje em dia faz uma seleo muito grande e acaba
gerando uma demanda de cursos, equipamentos e de competncia,
principalmente. O diploma fica um pouco de lado por conta da
competncia do fotgrafo. - Com a popularizao de cmeras compactas
digitais e celulares com cmera, coisas que muitos tm a disposio
hoje em dia, os jornais e outros meios acabam comprando material
dos leitores. O fotojornalista perde espao? Hoje em dia, as
empresas esto pouco ligando para a qualidade, elas querem saber do
custo quanto mais elas puderem cortar, melhor. Essa questo da foto
dos leitores massificou a fotografia, que perdeu muito em
qualidade. Quem vive disso perdeu mercado e foi muito ruim, sim.
Nesse sentido, isso que o profissional deve buscar, a qualidade do
seu trabalho. - Por que PB? evidente que eu gosto muito do preto e
branco. No se pode desprezar o colorido, claro; agora, por exemplo,
eu estou fazendo um livro s com fotos coloridas. Hoje isso no mais
problema tambm com fotografia digital e a facilidade com que se
transforma uma foto colorida em preto e branco. Porm, se eu tivesse
que escolher entre cor e preto e branco, eu vou partir pro preto e
branco. uma fotografia mais dramtica, mais consistente, mais
realista. - Fotografia ou jornalismo? FOTOGRAFIA, com todas as
letras maisculas. E o jornalismo junto, claro, porque se a gente
fala de fotografia, est falando de tudo, de todos os horizontes,
inclusive fotojornalismo. - Nacionalmente, que nomes-referncia o
que o senhor cita? No Brasil temos muitos nomes bons que hoje em
dia no devem nada pra ningum. Sebastio Salgado, Orlando Brito,
Pedro Martinelli; e da gerao mais nova temos bons nomes aqui no JB,
no Globo... A fotografia do Brasil, hoje, uma das mais importantes
do mundo e no fica atrs de Frana e Estados Unidos. O que nos falta
aquela questo do intercmbio, do equipamento caro, das condies
mesmo. Querendo ou no a gente pobre. Os fotgrafos na Europa esto
toda hora mudando de equipamento, e no Brasil no h condies para
isso. Mas vale ressaltar, a fotografia brasileira no fica devendo
nada a ningum, respeitadssima. - O senhor tem alguma mania com o
trabalho? Mania? - Mania. - ... fotografar. Fotografar, fotografar
e fotografar! (risos) - Qual sua lente/objetiva preferida?
Eu gosto muito da grande-angular, que proporciona mais
mobilidade, mais profundidade de campo. Mas eu uso todas; a
70-200mm, 300mm... cada momento um momento, cada situao, uma
situao. - O que h de projetos para o futuro? O futuro s Deus dir!
(risos). Estou viajando pra Sua e pra Itlia agora em junho para
expor, e estou com dois livros projetados que devo comear agora,
mas por enquanto isso. - E os planos de algum dia se aposentar,
existem? Como diriam os franceses: Jam! (risos) - Que dica o senhor
d para um jovem jornalista? Eu no dou conselho nenhum, porque quem
d conselho Deus! (risos). Eu acho que voc tem que ter esperana,
insistir, continuar e acreditar em voc. Eu sempre acreditei em mim
e nunca acreditei que no daria certo. Tem que acreditar que o mundo
pequeno pra voc, que voc maior que o mundo!
Fotos retiradas do site do prprio
(http://www.evandroteixeira.net) Como disse, consegui o contato com
as organizadoras do Floripa na Foto
(http://www.floripanafoto.com)
EVANDRO TEIXEIRA: Mestre do Fotojornalismo"O Papa deve ter
recebido alguma mensagem para no contrari-lo no exerccio da
profisso".
As fotos de Evandro Teixeira, 37 anos como fotgrafo do Jornal do
Brasil, so aulas defotojornalismo para qualquer pessoa interessada
ou no em fotografia. Evandro consegue mostrar sua sensibilidade
desde um "Clvis" fotografado no meio da rua at as fotos feitas por
ocasio da primeira visita do Papa ao Brasil. At hoje ningum sabe se
Evandro tem algum acordo com Deus para demonstrar tanta
sensibilidade numa atividade to difcil que o fotojornalismo.
Evandro consegue, e o Papa deve ter recebido alguma mensagem para
no contrari-lo no exerccio da profisso. Alis, falando em Papa,
Evandro talvez seja o nico fotgrafo no mundo para quem Sua
Santidade toma a beno e se curva, atendendo aos seus pedidos, para
deixar que sua arte seja exercida em toda plenitude. Isso pode
parecer exagero, mas no . Era do conhecimento apenas do meio
jornalstico o que aconteceu com o Evandro por ocasio da visita do
Papa Joo Paulo II ao Brasil, em 1980. Quando o Papa se ajoelha para
beijar o cho, na chegada ao Galeo, ainda na pista, Evandro perde a
foto e no se faz de rogado e grita: "Repete a, Seu Papa". O que
pior, ou melhor, o Papa espantado repete. Evandro ento faz a foto e
com um sorriso malicioso, sorriso daquelas pessoas que tm
cumplicidade com Deus, diz; "A gente tem que tentar sempre a melhor
foto. At o Papa sabe disso". At a algum tempo, se algum comentasse
isso fora do meio, iam dizer que mentira. No . Tudo foi confirmado
e se tornou pblico com a matria do Caderno B do Jornal do Brasil de
09 de abril de 2000. Dessa maneira, expor o sagrado ficou fcil.
Percebemos isso quando vemos a foto do Papa olhando a mo que surge
do nada, querendo mostrar que aquele que ela est procurando o
fotgrafo escolhido e parece que o Papa pergunta: "Quem ele e o que
ele tem que eu no tenho?". Deus responde: "Ele tem mquina
fotogrfica e o Evandro Teixeira. Precisa mais?".
"Evandro talvez seja o nico fotgrafo no mundo para quem Sua
Santidade toma a beno e se curva, atendendo aos seus pedidos"
- Quem ele? - Pergunta o Papa.Ao fotografar a visita do rei
Olavo da Noruega ao presidente Costa e Silva, no Rio, 1967, Evandro
captou a demonstrao das intenes do ditador de planto queles que se
opusessem ao seu governo, pois foi na gesto de Costa e Silva que o
famigerado Ato Institucional n. 5 seria decretado em 14 de dezembro
de 1968. Seu olhar tomou ares premonitrios porque o AI-5 foi o
ponto de partida para os piores anos da ditadura militar. Era a
orientao para eliminar qualquer divergncia sobre qualquer aspecto
que pudesse surgir, fosse ele econmico, poltico, ideolgico,
cultural, educacional, etc. Generalizou-se, sem trocadilho, a
violncia, prises arbitrrias, espancamentos, tortura, atentados e
assassinatos.
"Seu olhar tomou ares premonitrios porque o AI-5 foi o ponto de
partida para os piores anos da ditadura militar"
Rei Olavo e Costa e Silva - 1967As fotos do livro "CANUDOS 100
ANOS" expostas no Instituto Cultural Villa Maurina, mostra um
sertanejo resistente, sofrido e um local onde as desigualdades, as
injustias, as diferenas culturais, sociais e econmicas permanecem
quase intocadas pela superexplorao de latifundirios.
"Evandro, com seu olhar, nos brinda com os grandes temas da
vida"
"Canudos - 100 Anos"
Canudos, a cidade de Antnio Conselheiro, smbolo de uma
resistncia que os poderosos quiseram destruir de todas as maneiras,
inclusive tentando afogar o aude de Cocorob, resiste e insiste em
mostrar com suas runas o arbtrio existente no pas. Isso
possibilitou ao Evandro fazer uma releitura de um fragmento da
Histria do Brasil e reescrever com imagens fortes, porm belas,
pequena, mas significativa parte da histria do autoritarismo
brasileiro. No se trata de uma simples exposio; nessa
retrospectiva, Evandro, com seu olhar, nos brinda com os grandes
temas da vida que so o homem, a natureza, a poltica, a liberdade, a
histria, a sociologia, a psicologia, o amor e a morte, a poesia na
foto das liblulas desafiando a ponta de baionetas, numa exposio de
armas de guerra do Paraguai, no Rio de Janeiro, 1966, em pleno
regime militar.
"Em pleno regime militar, a poesia, na foto das liblulas
desafiando a ponta de baionetas ".
Liblulas - 1966 Com a experincia de um profissional que cobriu
os mais importantes acontecimentos sociais, polticos e esportivos
do Brasil e do mundo, ns recebemos uma verdadeira aula de
Fotojornalismo e Histria dada por "Evandro Teixeira, um fotgrafo
brasileiro".
Everaldo d'Alverga Jornalista, Fotgrafo e Coordenador de cursos
regulares de Fotografia.
http://www.evirt.com.br/news/evandro.htm
Evandro Teixeira e JB | 47 anos de histria
Foto: Evandro Teixeira. Serto de Canudos Com o fim da edio
impressa do Jornal do Brasil (JB), na virada do ms de agosto para o
ms de setembro, um grande nome do fotojornalismo brasileiro viu-se
diante do dilema de continuar fotografando para a verso online do
JB ou encerrar uma histria de 47 anos de dedicao e fidelidade ao
jornal. Evandro Teixeira, atualmente com 73 anos, presenciou muitas
crises enfrentadas pelo peridico, mas ver decretado o fechamento do
jornal fundado em 1891, que tanto representou para a histria do
pas, foi a maior angstia. A histria de Evandro Teixeira, do JB e do
Brasil se misturam. Das viagens que realizou pelo jornal, o
fotgrafo guarda algumas recordaes impressas. Nas caixas de fotos e
livros removidas da redao para o apartamento na Gvea (RJ), algumas
surpresas. Como a imagem que acreditava perdida, da viagem que fez
de trem com o presidente Juscelino Kubitschek, em 1959, partindo do
Rio para o Planalto Central.
Foto: Evandro Teixeira. Tomada do Forte de Copacabana, Golpe
Militar, 1964
Foto: Evandro Teixeira. Passeata dos 100 mil, 1968 Na sala do
apartamento, mais captulos da histria do pas: a Passeata dos Cem
Mil, no Centro do Rio de Janeiro, um marco da resistncia contra a
ditadura em 1968; e um ensaio sobre os 100 anos de Canudos. Fora do
Brasil, o fotgrafo tambm documentou importantes fatos, como o
massacre do pastor fantico Jim Jones, quando 952 pessoas se
suicidaram na Guiana em 1978; o enterro de Pablo Neruda em Santiago
(Chile); e o golpe militar chileno que derrubou Salvador
Allende.
Foto: Evandro Teixeira. Enterro do poeta Pablo Neruda, 1973 Mas
o tema predileto de Teixeira o prprio povo brasileiro e sua
cultura. Baiano de Irajuba e filho de fazendeiros, estudou com o
fotgrafo Nestor Rocha, tio do cineasta Glauber Rocha, em Jequi, na
Bahia. Em Salvador, aprendeu com o grande fotojornalista Jos
Medeiros, que trabalhou durante 15 anos para a revista O Cruzeiro.
Aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, e, seis anos depois,
passou a integrar a equipe do Jornal do Brasil, onde trabalharam
grandes jornalistas e intelectuais, como Rui Barbosa, Joaquim
Nabuco, Joo Saldanha e Carlos Drummond de Andrade. Foi fotgrafo e
editor de fotografia do jornal marcado pela credibilidade e inovao,
um dos primeiros a dar destaque para a fotografia, inaugurando uma
tendncia que foi seguida pelos outros peridicos da poca.
Foto: Evandro Teixeira. Jogos Pan-Americanos de Indianpolis,
EUA, 1987 No JB, Teixeira vivenciou e teve que se adaptar s mudanas
trazidas pela era digital. Enquanto que, em 1963, cobria os Jogos
Pan-americanos em So Paulo e enviava os rolos de filmes por um
comandante da Ponte-Area para o aeroporto Santos Dumont, no Rio de
Janeiro; em 2007, transmitia as imagens dos Jogos Pan-americanos do
Rio segundos depois de serem registradas, de dentro do prprio
estdio, com um laptop e rede wireless.
Foto: Evandro Teixeira. Procisso dos Mortos nas runas da Igreja
Velha de Canudos
Fora do Jornal do Brasil, a rotina do fotojornalista d sinais de
que continuar agitada, com o desenrolar de diversos projetos,
pessoais e profissionais. Para o fim do ms de setembro, est
previsto o lanamento de um livro do autor, encomendado pela ONG
Viso Mundial, com fotos do Norte e Nordeste. E Evandro Teixeira j
tem vasto material para outro, sobre moradias brasileiras. Em
outubro, o fotgrafo d incio a um workshop de fotografia em Canudos.
Veja outras imagens de Evandro Teixeira aqui. Tags: 100 anos de
Canudos., Carlos Drummond de Andrade, enterro de Pablo Neruda,
Evandro Teixeira, fotojornalismo brasileiro, Glauber Rocha, JB, Joo
Saldanha, Joaquim Nabuco, Jogos Pan-americanos, Jornal do Brasil,
Nestor Rocha, O Cruzeiro, Passeata dos Cem Mil, Rui Barbosa
Evandro Teixeira, fotgrafo h 50 anos, fala sobre seu novo livro
e as curiosidades de sua carreira Por Eduardo Neco/Redao Portal
IMPRENSA De desfiles de escolas de samba aos velrios dos generais
da ditadura. De casamentos histria dos sobreviventes de Canudos.
Tanto os momentos histricos, quanto as banalidades do cotidiano j
foram registradas pelas lentes de Evandro Teixeira, um dos maiores
nomes do fotojornalismo brasileiro. Arquivo Pessoal Em 50 anos de
carreira, Evandro, como gosta de ser chamado, testemunhou as
transformaes da fotografia, a perda do glamour do jornalismo e os
acontecimentos mais importantes no Brasil e no mundo. Baiano de
Jequi, desde criana a arte esteve presente em sua vida. Quando
menino, improvisava um cinema com uma caixa de papelo e exibia
filmes trazidos de Salvador. Na adolescncia, considerou a idia de
ser escultor, mas ao ver uma srie de fotografias em uma edio do
jornal O Cruzeiro, Evandro descobriu que seria fotgrafo. "Aquilo [o
ensaio de O Cruzeiro] mudou a minha vida!". O incio de tudo foi na
cidade do Rio de Janeiro, em 1958, no jornal Dirio da Noite.
Teixeira ironiza sobre seus primeiros trabalhos: "Mal cheguei j me
disseram que eu seria fotgrafo de casamentos. A, ficava correndo o
dia inteiro atrs de cerimnias". Com muito bom humor, relata a vez
em que, com a ajuda do laboratorista, mudou a cor de um homem na
fotografia. "O editor no queria fotos de pessoas negras, mas sa e
encontrei o casamento de uma loura com um homem negro. Fiz a foto e
dei um jeito de mudar a cor do noivo". Quando a fotografia chegou s
mos do editor-chefe, Evandro quase foi demitido. "Tive que sumir
por uns tempos. Depois tudo ficou calmo", diz. Fotgrafo Evandro
Teixeira
Evandro Teixeira
Guerra dos Txicos, Favela Vila do Joo, no Rio de Janeiro (1998)
Em 1962, Evandro foi convidado a trabalhar no Jornal do Brasil,
segundo ele, a elite do jornalismo na poca. At hoje est no jornal e
concilia o dia-a-dia da redao com a publicao de documentrios e
livros. Evandro Teixeira
Joo de Rgis Entre os casos que marcaram sua carreira, est o
registro exclusivo da morte do poeta chileno Pablo Neruda. Por
conhecer Matilde, mulher de Neruda, Teixeira foi o nico a
fotografar o corpo do poeta. Evandro Teixeira
Cathy Freman segura a Trocha Olmpica, nas Olimpadas de Sidney
Evandro presenciou o drama do transporte do corpo para o local
escolhido por Matilde para o velrio. O comboio, composto por
amigos, familiares e Teixeira, seguiu para a propriedade. Evandro
contou ao Portal IMPRENSA que tiveram de improvisar uma ponte sobre
um rio para que chegassem casa do poeta. "Chegamos e vimos que o
riacho tinha se tornado um rio. No tinha como atravessar. Ento,
improvisamos uma ponte com portas e pedaos de madeira encontrados
no local". "68 destinos" Outro momento marcante de sua carreira foi
a cobertura da Passeata dos Cem Mil, que deu origem ao seu mais
recente trabalho, o livro "68 Destinos", que rene entrevistas com
100 pessoas identificadas na antolgica fotografia tirada em 1968,
no Rio. O livro consiste em relatar a histria dos personagens
registrados por sua cmera. Segundo Teixeira, a procura foi tanta,
que 170 pessoas foram catalogadas. Destas, 70 ficaram fora da
primeira edio, e por este motivo, o fotgrafo cogita o lanamento de
mais um volume."Eu penso em fazer mais um [livro] para colocar
estas 70 personalidades". O lanamento do livro est previsto para
maro, no aniversrio de 40 anos da passeata. Evandro Teixeira
Passeata dos 100 mil, Movimento Estudantil, no Rio de Janeiro
(1968) Quando interpelado sobre seus prximos trabalhos, Evandro
categrico: "Ainda fiz pouco. Tenho muita coisa pra fazer". O
fotgrafo se prepara para a cobertura das Olimpadas de Pequim e para
o lanamento de mais um livro, sem data prevista, que mostrar as
belezas da feira de So Cristvo, registradas por ele ao longo de 30
anos.
O documentarista da imprensa brasileira
Jos Reinaldo Marques 23/09/2005 O trabalho de Evandro Teixeira
materializa a modernidade, a urbanizao do Brasil. No h nada mais
brasileiro que sua fotografia." As palavras so do tambm fotgrafo
Sebastio Salgado, que sempre se entusiasma ao falar do colega, nico
outro brasileiro a figurar com ele na Enciclopdia Sua de
Fotografia. Em quase 50 anos de atividade profissional, e com
preferncia pelo fotojornalismo, Evandro j exps em vrios pases e
documentou de tudo, de Copas do Mundo e desfiles de moda a golpes
militares no Brasil, em 64, e no Chile, 73. Nascido em Jequi, no
interior da Bahia, quando criana ele sonhava ser escultor, mas
tambm gostava de brincar de cinema e, inspirado num primo que foi
convocado para a Segunda Guerra, pensou na carreira de aviador
militar. Passou a apreciar o fotojornalismo em 1954, atravs da
revista O Cruzeiro, que considera a grande escola da reportagem
fotogrfica brasileira: Ainda morava no interior da Bahia e ficava
impressionado com o trabalho dos
grandes fotgrafos da revista, principalmente o Jean Manzon e o
Jos Medeiros. Foi inclusive um ensaio sobre mes feito pelo
Medeiros, que depois veio a ser meu professor, que me transformou
definitivamente num apaixonado pela fotografia. Com o fotgrafo
Nestor Rocha, tio do cineasta Glauber Rocha, Evandro aprendeu os
primeiros segredos da profisso, fazendo fotos que chama de
acadmicas. Em seguida, foi estudar em Salvador, onde logo arranjou
uma vaga como estagirio no Dirio de Notcias. Em 1957, desembarcou
no Rio com a indicao de um amigo para procurar estgio no Dirio da
Noite, onde foi designado para registrar casamentos: O chefe de
redao me chamou e disse: Voc vai ser nosso santo casamenteiro. Vai
ter um carro, uma lista das igrejas, e sair para cobrir casamentos.
S no me traga fotos de pretos. No primeiro dia, consultando a
listagem, percorri vrias igrejas da cidade. Cheguei a uma onde um
negro ia se casar com uma loura. Peguei a Rolleiflex e fiz a foto.
Evandro conta que voltou para a redao preocupado e revelou seu
dilema para o laboratorista, que o consolou, dizendo: No tem
problema, pode deixar que ele vai ficar branco. Mais tarde, o chefe
da redao descobriu a falseta e, esbravejando, chamou-o sua sala
juntamente com o editor de Fotografia, ngelo Regato: O que houve?
Eu no te disse que no queria preto? Demite! A sorte, para Evandro e
para o fotojornalismo, que Regato apostou no talento do estagirio e
o mandou para casa at que ele amansasse a fera. Do Dirio da Noite,
Evandro foi para O Jornal, a revista Mundo Ilustrado e o Jornal do
Brasil, onde est at hoje. Chegou ao JB em 72 num momento em que o
dirio carioca se destacava Luiz Pinto dos demais, especialmente
pela valorizao da fotografia no seu noticirio e transformou-se num
dos grandes documentaristas da imprensa brasileira. Sua foto da
Passeata dos 100 mil, por exemplo, virou smbolo dos movimentos
populares contra a ditadura militar. Era junho de 68 e Evandro
devia acompanhar o lder estudantil Wladimir Palmeira, ento ameaado
de priso, do incio ao fim do ato que se realizaria na Cinelndia, no
Centro do Rio. Para fazer o registro histrico, ele subiu no
palanque e, apesar da represso policial, posicionou-se atrs de
Wladimir e conseguiu o clique. Publicada em livro em 82, a foto
virou novo projeto, 68: destinos, que pretende servir de resgate da
histria poltica do Pas nos ltimos 40 anos e contar, a partir de um
minucioso trabalho de pesquisa e identificao, como vivem atualmente
68 pessoas que participaram da passeata 55 j foram contatados. O
produto final desse trabalho ser exibido em exposio e tambm
publicado ao lado de textos dos jornalistas Fernando Gabeira,
Marcos S Corra, Augusto Nunes e Fritz Utzeri.
Eny Miranda Apesar de ter sido muitas vezes premiado, Evandro
prefere evitar o assunto. Em contrapartida, os olhos do fotgrafo
brilham ao falar de seus livros: alm do atual projeto, Canudos: 100
anos depois, Fotojornalismo (editado em 1982 e 1988) e Feira de So
Cristvo: o Nordeste aqui, que dever ser lanado pelo Senac.
Ele tambm no se furta a comentar que seus trabalhos esto sendo
exibidos em trs mostras simultneas na Frana, na Sua e em Braslia e
no esconde que considera a fotografia brasileira uma das melhores
do mundo: Ela no perde o encanto, apesar das nossas dificuldades
para realizar um bom intercmbio cultural e de todos os outros tipos
de sacrifcio impostos aos nossos profissionais.
Em mais de 45 anos captando flagrantes, registrando
personalidades e extraindo do cotidiano momentos de beleza,
alegria, violncia e dor, o fotgrafo Evandro Teixeira reservou
destaque especial em sua carreira para a Guerra de Canudos (1896
1897), que ocorreu no perodo da transio entre o Regime Imperialista
e o Republicano. Natural da Bahia, o fotgrafo cresceu ouvindo
histrias de Canudos e delas extraiu a vontade de recontar, em
imagens e texto, essa mesma histria. Um fascnio que cresceu ao ler
o clssico Os Sertes, de Euclides da Cunha, que cobriu a guerra como
correspondente do jornal O Estado de So Paulo.
a histria do pas, vivida e contada por gente simples, cuja fora
parece vir da agrura da terra, da beleza rude do serto. Por meio
das fotos apresentadas nessa mostra possvel encontrar trs Canudos:
"os vestgios da primeira Canudos, destruda pela guerra; as runas da
segunda Canudos, submersa pelo aude de Cocorob, e a Canudos
atual.
Em imagens comoventes, captadas pelo apurado olhar de um baiano,
elas revelam a realidade em preto e branco dos sertanejos
nordestinos. Os horizontes infinitos, a terra seca, o cinza da
vegetao, o silncio, e tambm a desolao e o abandono dos que vivem O
resgate sonhado, desde adolescente, nesse outro Brasil, parado no
tempo, foi concretizado em 1997, no centenrio escravizado,
despossudo. Para o do episdio, com o lanamento do livro fotgrafo,
essas imagens levam a Canudos 100 Anos. O desenvolvimento pensar em
uma guerra bem atual, em do projeto durou cerca de quatro anos. que
a terra disputada palmo a palmo, Nele, Evandro resgatou
sobreviventes e em uma luta pela mera sobrivncia. A herdeiros da
comunidade criada por partir delas, a memria de outra Antnio
Conselheiro, lder messinico guerra, surge na paisagem, na medida
que comandou milhares de seguidores na em que surgem as paragens
histricas Guerra de Canudos. A exposio de Canudos: o Local da
Degola, a Lagoa Evandro Teixeira Canudos apresenta do Sangue e o
famoso Vale da Morte. cerca de 50 imagens selecionadas entre as 100
fotos includas no livro. "O resultado uma crnica feita de Refiz a
trajetria de Conselheiro, imagens e texto que vai do serto
conversei com seus herdeiros, registrei clssico, dos cactos, da
terra rachada e lado a lado a antiga e a nova Canudos da seca, ao
serto pop, onde a pobreza (...) Canudos sinnimo de luta, de convive
com antenas parablicas. resistncia, de mudana, de esperana. Canudos
chegou a ter mais de 5 mil casas, tornando-se a maior cidade da
Bahia poca, com cerca de 25 mil habitantes.
O fotgrafo Evandro TeixeiraEvandro Teixeira iniciou a carreira
de fotgrafo em 1958, no jornal Dirio da Noite, no Rio de Janeiro.
Em 1963, foi para o Jornal do Brasil, onde permanece at hoje. Entre
outras premiaes importantes que recebeu ao longo da carreira,
destacamse o Prmio Especial da Unesco, o Concurso Internacional A
Famlia, em Tquio,no Japo (1993), e os Prmios do Concurso
Internacional da Nikon, Japo (1975 e 1991) e da Sociedade
Interamericana de Imprensa, em Miami, nos Estados Unidos. Editou em
1983 o livro Fotojornalismo, registrando acontecimentos nacionais e
internacionais marcantes desde a dcada de 60, com prefcio e textos
do poeta Carlos Drummond de Andrade e dos escritores Otto Lara
Resende e Antonio Callado. J em 1988, lanou a edio ampliada do
livro, no Rio de Janeiro, So Paulo e Basel (Sua), com novas fotos e
texto do jornalista Marcos S Correa. Em 1922, o livro
Fotojornalismo foi includo no acervo da Bibliotexa do Centro de
Artes Georges Pompidou, de Paris. Dois anos depois, em 94, tem o
currculo includo na Enciclopdia Sua de Fotografia, onde esto
registrados os maiores fotgrafos do mundo. As fotos de Evandro
Teixeira fazem parte dos acervos do Museu de Belas Artes, Zurique,
Sua; Museu de Arte Moderna La Tertulia, Cali, Colmbia; Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro; Masp e Museu de Arte Contempornea
de So Paulo. A exposio sobre Canudos j foi apresentada em Paris, no
ano Brasil na Frana, somando-se a dezenas de outras mostras
individuais e coletivas realizadas no Brasil e no exterior.