Eduardo Tomanik Modelamento do Desgaste por Deslizamento em Anéis de Pistão de Motores de Combustão Interna Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia Mecânica Orientador: Francisco Emílio Baccaro Nigro São Paulo julho 2000
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Eduardo Tomanik
Modelamento do Desgaste por Deslizamento em Anéis de Pistão de Motores de Combustão
Interna
Tese apresentada à EscolaPolitécnica da Universidade deSão Paulo para obtenção dotítulo de Doutor em Engenharia.
Área de Concentração:Engenharia Mecânica
Orientador:Francisco Emílio Baccaro Nigro
São Paulojulho 2000
SUMÁRIO
NOMENCLATURALISTA DE FIGURASLISTA DE TABELASRESUMO / “ABSTRACT”
ANEXO II- DADOS DE ENTRADA PARA O MODELO DE GREENWOOD
ANEXO III- PROGRAMA FONTE PARA CÁLCULO DAS PRESSÕES RUGOSAS ESUBROTINAS DE ACUMULO DE DANO E REMOÇÃO DE MATERIAL
Nomenclatura
A0: área aparente de contato [m2]Ac: área real de contato [m2]Ap: área real de contato plástico [m2]b: altura do anel [m]Di, di: dano [adimensional]Dn: diâmetro nominal do cilindro [m]E: módulo de Elasticidade ou de Young [GPa]F: força [N]F0(t), F1(t), F3/2(t), F5/2(t): integrais do modelo de Greenwoodgap: folga entre pontas do anel [m]Hm: espessura do filme de óleo, no ponto de menor separação [m]K: coeficiente adimensional de desgastek: coeficiente dimensional de desgaste [mm3 . (N.m)-1]P: pressão [Pa]Ph: pressão hidrodinâmica [Pa]Pgw: pressão de contato rugoso [Pa]t: razão separação das superfícies / rugosidade combinada [adimensional]Y: Limite de Escoamento uni-direcional do material (GPa)
Letras Gregas:): variação:: viscosidade dinâmica [Pa.s]8: ângulo de torção do anel [graus]7: parâmetro de filme, razão F/espessura do filme de óleo [adimensional]<: coeficiente de Poisson [adimensional, 0,0 a 1,0]0: densidade de asperezas por unidade de area [m-2]$: raio do pico das asperezas [m], admitido constante no modelo de GWF: desvio padrão da distribuição combinada das alturas (z) dos picos das asperezas [m]
Subscritos:ax: na direção axialgas: relativo aos gasesp: pistão
AbreviaçõesATS: “Anti-Thrust Side”, lado oposto ao de maior pressão do pistão e lado correspondente docilindroGNS: “Gas Nitrided Steel”, aço nitretado a gásG-W: Greenwood e Williamson (modelo de contato entre superfícies rugosas)MCI: Motor (es) de Combustão InternaMEV: Microscópio Eletrônico de VarreduraPMI: Ponto Morto InferiorPMS: Ponto Morto SuperiorPVD: “Physical Vapor Deposition” TS: “Thrust Side”, lado de maior pressão do pistão e lado correspondente do cilindro
LISTA DE FIGURAS
Fig.2.1- Taxa de desgaste e resistência elétrica de contato para um pino debronze deslizando contra um anel duro de stelita. HIRST apud HUTCHINGS (1992). 6
Fig.2.2- Mecanismos de desgaste por abrasão. ZUM GARH apud VATAVUK (1994). 9
Fig.2.3- Riscos de desgaste sendo interrompidos por carbonetos de Nióbio na facede contato de um anel de Ferro Fundido. VATAVUK (1994). 9
Fig.2.4- Taxa de desgaste em função da razão da dureza do abrasivo / dureza da superfície(Ha/Hs), para abrasão a 2 corpos. MOORE apud HUTCHINGS (1992) 10
Fig.2.5- Superfície de um cilindro que rodou com combustível com alto teor deenxofre. VATAVUK (1994) 14
Fig.2.6- Teoria da deformação plástica para a ocorrência de scuffing. 19
Fig.2.7- Scuffing em anéis de aço provocado por micro-trincas. Motor diesel, 1500 h de teste. YOSHIDA et al, 1997. 20
Fig.2.8- Efeito da rugosidade na resistência ao “scuffing”. Ensaio de bancada,anéis de aço nitretado revestidos com CrN atritando contra ferro fundido. YOSHIDA, 1990. 22
Fig.2.9- Evolução do perfil e da área de contato (“bearing area”) em função donúmero de horas de ensaio. TOMANIK & GALVANO, 1998. 27
Fig.2.10- Perfis de rugosidade de um cilindro novo e após 200 horas de ensaio em dinamômetro. Motor a gasolina. DEMARCHI, 1994. 29
Fig.2.11- Influência do modo de dirigir no desgaste de anéis, motores a gasolina. THOM et al, 1995. 30
Fig. 2.12- Influência do óleo no desgaste de anéis e cilindro. Motor Diesel automotivo. THOM et al, 1995. 31
Fig.2.13- Perfis desgastados da face de contato do anel. STECHER (s.d.) 36
Fig.2.14- Modelo de Hertz, esfera contra um plano rígido. 39
Fig.2.15- Representação esquemática do contato entre uma superfície rugosa e um plano rígido. Modelo de Greenwood e Williamson. 40
Fig.2.16- Aspereza idealizada, ilustrando a diferença entre o topo da aspereza (“summit”) e ospossíveis picos (“peaks”) registrados num perfil de rugosidade. 41
Fig.2.17- Distribuição da altura das asperezas plotada num gráfico de probabilidade normal. WHITEHOUSE, 1994. 45
Fig.2.18 - Probabilidade de que um pico tenha altura maior que a distância de separação (d), ou seja, que faça contato. (t= d/Fs). Valores tabelados por McCOOL, 1986. 46
Fig.2.19- Perfil da face do anel e produto da pressão de contato rugoso pela velocidade tangencial (“Wear Load”). Anel de 2º canalete, topo à direita. GULWADY, 1997. 53
Fig.2.20- Desgaste do anel/canalete. Anel de 1º canalete, motor diesel automotivo. TIAN (1997a, b) 55
Fig.3.1- Modelo esquemático do fluxo de gases por orifícios. 60
Fig.3.2- Pressão hidrodinâmica na face de contato do anel. 62
Fig.3.3- Fluxograma do cálculo das pressões atuantes na face de contato do anel. 65
Fig.3.4- Discretização da face de contato. 66
Fig.3.5- Viscosidade em função da temperatura. 67
Fig.3.6- Exemplo de pressões hidrodinâmicas e de contato rugoso sem e com correção da viscosidade pela pressão. 69
Fig.3.7- Curva de Stribeck 72
Fig.3.8- Cinemática do pistão. 76
Fig.3.9- Parcelas do ângulo que a face de contato faz com a parede do cilindro. 78
Fig.3.10- Modelo simplificado para cálculo da torção do anel. 80
Fig.3.11- Máximo ângulo de torção do anel. 81
Fig.3.12- Esquema da determinação das propriedades do cilindro que todos os pontos i do anel “percebem” num determinado instante, onde Gj é por ex. a rugosidade ou a dureza do cilindro no ponto j. 83
Fig.3.13- Comparação entre as aproximações para F5/2(t) de HU et al, 1994 (Hu) e de ARCOUMANIS et al, 1997 (Arc) com os valores tabelados em GREENWOOD e TRIPP, 1971 (G-T). 85
Fig.3.14- Comparação das pressões geradas pelo modelos de G-W e G-T. 86
Fig.3.15- Cálculo das pressões rugosas e hidrodinâmicas segundos os modelos de G-W e G-T para um determinado caso de anel. 87
Fig.3.16- Face de contato do 1º anel, cromado, motor a gasolina após 80 horas de ensaio em dinamômetro. 92
Fig.3.17- Anel de 1º canalete, aço nitretado, após 250 h de ensaio em motor diesel. A área clara é a região que se desgastou, mostrada em maior aumento à direita. A região escura, com riscos verticais ainda apresenta o acabamento original. 94
Fig.3.18- Mesmo anel da fig. anterior, região da ponta onde o desgaste é maior. Nesta região a área desgastada ocupa toda a altura do anel. 94
Fig.3.19- Foto em maior aumento do anel das figs. 3.18 e 3.19. MEV 95
Fig.3.20- Anel de 1o canalete cromado, motor diesel, após 1000 h de ensaio. MEV, à esquerda imagem secundária de eletrons (SEI), à direita imagem de eletrons retro-espalhados (“BEI”). 96
Fig.3.21- Divisão do desgaste em processos elementares. KIMURA & SUGIMURA, 1984. 98
Fig.3.22- Exemplo da discretização do perfil da face de contato de um anel de 1º canalete, quando novo. 99
Fig.3.23- Discretização do cilindro versus posições ocupadas pelos anéis em duas regiões. 104
Fig.4.1- Fluxograma geral do programa. 106
Fig.4.2- Fluxograma de calc. do dano acumulado, segundo a regra de ARCHARD. 108
Fig.4.3- Fluxograma da subrotina de remoção de material. 109
Fig.4.4- Face de contato do 1º anel prevista nos estudos de sensibilidade, após 500 interações. 113
Fig.5.1- Representação esquemática do pacote de anéis 115 Fig.5.2- Perfil medido da face de contato do 1º anel quando novo, posição a 90º da ponta. 116
Fig.5.3- Perfil adotado da face dos anéis quando novos. 117
Fig.5.4- Perfil típico de rugosidade da face de contato do 1º anel quando novo. Ra= 0,21; Rz= 2,14; Rmax= 3,4. (valores em :m) 117
Fig.5.5- Aspecto da face de contato do 1º anel em CrN aplicado por PVD. MEV 118
Fig.5.6- Seção transversal fraturada mostrando a camada de CrN aplicada por PVD sobre o aço nitretado. MEV 119
Fig.5.7- Perfil de dureza admitido para o cilindro. 120
Fig.5.8- Foto por replica do acabamento superficial do cilindro. 121
Fig.5.9- Perfil de rugosidade do cilindro. Ra= 0,83, Rz= 5,6, Rmax= 7,44 (valores em :m) 122
Fig.5.10- Deformação térmica do cilindro, Dn= 150 mm. FURUHAMA et al, 1981 123
Fig.5.11- Deformação radial e distribuição de temperatura ao longo do cilindro. 123
Fig.5.12- Deformações radiais do cilindro (KOCH, 1995) 124
Fig.5.13- Diagrama de pressão na câmara de combustão e da velocidade do pistão. 125 Fig.5.14- Principais dimensões do pistão (a 2500 rpm, máxima potência). 126
Fig.5.15- Representação do perfil deformado do pistão. 127
Fig.5.16- Detalhe do perfil e inclinação do 1º canalete. 127
Fig.5.17- Movimentação angular ("tilt") do pistão, no regime considerado. 128
Fig.5.18- Repres. esquemática da contribuição do pistão na inclinação do anel. 129
Fig.5.19- Perfil da face de contato dos anéis de 1º canalete. A linha continua éo perfil quando novo, as pontilhadas são após 100, 250, 500 e 750 horas de ensaio. 130
Fig.5.20- Face de contato dos anéis de 1º canalete, região das pontas. 5X 131
Fig.5.21- Detalhe da face de contato do 1º anel, após 750 h de ensaio. Região a 90º da ponta. Cilindro 3. 20 X. 132
Fig.5.22- Detalhe da face de contato do 1º anel, após 750 h de ensaio. Região da ponta. Cilindro 3. 20 X. 132
Fig.5.23- Valores medidos de aumento da folga entre pontas dos anéis de 1º canalete em GNS+CrN. 133
Fig.5.24- Valores medidos de var. radial dos anéis de 1º canalete em GNS+CrN 134
Fig.5.25- Valores medidos de variação radial, ao longo do perímetro, dos anéis de 1º canalete, em GNS + CrN, após 750 horas de ensaio. 134
Fig.5.26- Variação radial medida pela variação do perfil da face de contato, posição a 90º da ponta. 135
Fig.5.27- Perfil dos flancos do 1º canalete, após 750 h de ensaio. 136
Fig.5.28- Exemplo da medição da área espelhada no cilindro, após 750 h de ensaio. Cilindro 3, lado TS. 138
Fig.5.29- Ex. de gráfico de perfil de rugosidade do cilindro, após 750 h de ensaio. 139
Fig.5.30- Pressão dos gases, agindo nos anéis, no ínicio das interações de desgaste. 140
Fig.5.31- Espessura mínima calculada do filme de óleo entre anéis e cilindro. Início das interações (anéis e cilindros novos). 141
Fig.5.32- Espessura do filme de óleo, anel de 1º canalete quando novo. 142
Fig.5.33- Pressões hidrodinâmicas, 1º anel quando novo. 143
Fig.5.34- Pressões de contato rugoso, 1º anel quando novo. 144
Fig.5.35- Perfil da face de contato e dano acumulado na 1ª interação de desgaste. 145
Fig. 5.36- Perfil e dano acumulado durante a 10ª interação. 146
Fig.5.37- Espessura do filme de óleo após 10 interações. Posições TS e ATS. 146
Fig.5.38- Evolução do perfil desgastado do 1º anel. 148
Fig.5.39- Espessura do filme de óleo, 1º anel, após 500 interações. 148
Fig.5.40- Perfil calculado da face de contato do anel após 100 interações. 149
Fig.5.41- Filme de óleo calculado, perfil após 100 interações. 150
Fig.5.42- Pressões hidrodinâmicas, 1º anel após 100 interações, posição TS. 151
Fig.5.43- Pressões de contato rugoso, 1º anel após 100 interações, posição TS. 151
Fig.5.44- Pressões hidrodinâmicas, 2º anel quando novo. Lado TS. 152
Fig.5.45- Pressões rugosas, anel de 2º canalete quando novo. Lado TS. 153
Fig.5.46- Evolução do perfil desgastado do 2º anel. 154a- Como percebido pelo modelo b- Visualizando o desgaste radial.
Fig.5.47- Pressões de contato rugoso, 2º anel após 100 interações, posição TS. 155
Fig.5.48- Pressões hidrodinâmicas, anel de óleo quando novo, posição TS. 156
Fig.5.49- Pressões de contato rugoso, anel de óleo quando novo, posição TS 157
Fig.5.50- Evolução do perfil desgastado do anel de óleo. 158
5.51- Pressões de contato rugoso, anel de óleo após 100 interações, posição TS 158
5.52- Evolução do desgaste radial previsto para o cilindro. 159
Fig.6.1- Evolução do perfil, da face de contato do 1º anel, obtida experimentalmente e a prevista pelo modelo. 160
Fig.6.2- Comparação da taxa de desgaste radial prevista pelo modelo com a obtida experimentalmente. 162
Fig.6.3- Desgaste radial previsto para o pacote de anéis. 163
Fig.6.4- Valores previstos de desgaste radial, para o cilindro endurecido na região do PMS versus um com dureza superficial constante. 165
Fig.6.5- Comparação do perfil desgastado do 1º anel, após 500 interações, regime constante e regime variável de operação. 168
Fig.6.6- Espessura de filme de óleo, entre o 1º anel e a parede do cilindro, perfil desgastado noregime variável, após 500 interações. 168
Fig.II.1- Curva de porcentagem de material em função da profundidade (“Curva Tp”) e parâmetros Rpk, Rk e Rvk de rugosidade. 184
Fig.II.2- Perfil de rugosidade, não filtrado, cilindro quando novo, dir. longitudinal. 187
Fig.II.3- Perfil de rugosidade, após filtragem numérica, cilindro quando novo, direção longitudinal. 188
Fig.II.4- Trecho do perfil anterior (fig. II.3), trazido agora para uma mesma ampliação nos dois eixos. 188
LISTA DE TABELAS
2.1- Teorias térmicas para ocorrência de scuffing. 18
2.2- Principais características de camadas ou tratamentos superficiais anti-desgaste aplicadas em anéis. 24
2.3- Instrumentos e dispositivos de medição. DEMARCHI, 1994. 27
2.4- Taxa de desgaste em função da rotação. SCHENEIDER et al, 1988. 32
2.5- Coeficiente de desgaste, ensaio de bancada. KODALI et al, 2000. 35
2.6- Coeficiente de desgaste para anéis obtidos em bancada. PRIEST et al, 1999. 56
3.1- Parâmetros da equação de Vogel. 67
3.2- Valores de F5/2(t). 86
3.3- Valores das funções de G-W. 88
4.1- Estudo de sensibilidade, desgaste radial do 1º anel. 113
5.1- Ciclo de ensaio. 114
5.2- Dados dos anéis. 116
5.3- Composição do material do cilindro (% peso). 120
5.4- Ângulo formado na face de contato do 1º anel. 135
5.5- Área espelhada no cilindro, após 750 h de ensaio. 137
5.6- Desgaste medido no restante do pacote de anéis. 139
6.1- Desgaste radial (:m) dos anéis após 750 horas. 163
I.1- Valores típicos do coeficiente de desgaste. RABINOWICZ, 1984. 179
II.1- Parâmetros de entrada para o modelo de G-W 181
II.2- Rugosidade medida no cilindro 185
II.3- Rugosidade medida no 1º anel em GNS + CrN 186
II.4- Valores Calculados a partir do perfil de rugosidade. 189
RESUMO
O desgaste de anéis de pistão e cilindro foi modelado através de um programa computacional que
calcula as pressões hidrodinâmicas e de contato rugoso agindo nas superfícies deslizantes de
contato. Ambas pressões foram completa e acopladamente calculadas através de, respectivamente,
a equação de Reynolds e o modelo de Greenwood-Williamson. O movimento secundário do pistão
e as deformações de origem térmica no canalete foram consideradas, essa última foi verificada ser
fundamental na definição do perfil desgastado do anel de primeiro canalete. O modelo prevê a
remoção de material (desgaste), tanto nos anéis quanto no cilindro, em virtude das pressões de
contato rugoso através da lei de Archard e então recalcula o sistema, desse modo a evolução do
perfil das superfícies deslizantes pode ser previsto.
Os valores previstos de desgaste para o anel e cilindro são comparados com um ensaio em
dinamômetro de um motor diesel. Embora nenhuma tentativa seja feita para prever a exata taxa de
desgaste, os perfis desgastados foram previstos com razoável precisão. É sabido que o perfil da
face de contato, em especial do primeiro anel, afeta o consumo de óleo lubrificante, o atrito e a
resistência ao scuffing. Prevendo-se a evolução do perfil desgastado do anel, pode-se otimizar o
projeto do sistema através de simulação numérica, reduzindo-se o número dos usuais longos
ensaios de durabilidade.
“ABSTRACT”
Wear of piston ring and cylinder was modelled through a computer code that calculates the
hydrodynamic and roughness contact pressures acting in the contact surfaces. Both pressures are
fully and coupled solved through, respectively, Reynolds equation and Greenwood-Williamson
model. Piston secondary motion and piston groove thermal deformation are considered. The latter
was discovered to be fundamental in defining the top ring worn profile. Due to the rough contact
pressures, the model predicts material removal in both the piston ring and the cylinder surfaces and
recalculates the system, hence predicting the evolution of the worn sliding surface of both parts.
The predicted wear of the piston ring pack and cylinder model is compared with a 750 hours
medium duty diesel engine dynamometer test. No attempt was made to correlate the exact wear
rate, but the worn running profiles were predicted with reasonable precision. It is known that this
running profile, specially for the top ring, affects oil consumption, friction and scuffing resistance. By
predicting the evolution of the worn profile, one can be able to optimize piston ring system by
numerical simulation, reducing the number of long durability tests.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Francisco Nigro, por me mostrar escadas quando
eu só via muros.
A Marcia, Victor e Luiza. O amor e alegria deles não me deixaram
esquecer que a realidade é muito mais complexa, rica e gratificante
do que qualquer modelo computacional.
Aos meus colegas do grupo Mahle-Cofap, pelas eventuais ajudas,
mas principalmente pelo companheirismo.
1
1- INTRODUÇÃO
O sistema tribológico do anel de pistão é dos mais complexos: envolve superfícies não
conformes / cargas e velocidades variáveis / atrito hidrodinâmico e misto / presença de
partículas abrasivas / substâncias corrosivas resultantes da combustão / paradas e partidas do
motor. Todos estes fatores afetam o desgaste do anel. A geometria e a rugosidade das
superfícies atritantes modificam-se com o desgaste e estas modificações por sua vez alteram a
taxa e eventualmente os mecanismos de desgaste.
Embora seja objeto de muitos estudos científicos, o modelamento e equacionamento do
desgaste é ainda uma prática incomum na engenharia. MENG & LUDEMA (1995) dizem
que “... engineers and designers should have equations to predict wear rates.
Unfortunately the available equations are so confusing that few designers can use any
of them to predict product life with confidence. The desire for equations is particularly
urgent in "automated" design where most every other topic is more quantified than is
the topic of wear.”
Na indústria automobilística, além dos ganhos advindos de um sistema tribológico otimizado,
o desenvolvimento de técnicas de modelamento do desgaste se faz necessário para minimizar
o tempo e o custo de desenvolvimento de novos produtos. Este desenvolvimento, em geral, é
feito com longos testes de dinamômetro. O objetivo da tese é modelar o desgaste que ocorre
em anéis de pistão de 1º canalete de motores de combustão interna.
2
Este é o anel que está sujeito às condições mais severas de funcionamento. A tese pretende:
- equacionar o contato entre o anel e cilindro;
- estimar as pressões decorrentes deste contato;
- estimar, a partir de parâmetros levantados empiricamente, a taxa de desgaste;
- predizer as alterações da geometria da face de contato do anel com a parede do
cilindro, como essa geometria evolui ao longo da vida do motor e como essas
alterações afetam o desempenho do pacote de anéis.
O modelo será comparado com resultados experimentais obtidos em ensaio em
dinamômetro. A complexidade de um modelo como o proposto deve ser enfatizada: a
tribologia é ainda uma ciência mais fenomenológica que teórica. Pequenas alterações no
sistema são capazes de produzir taxas de desgaste com ordens de diferença; por este motivo,
o principal enfoque será na capacidade do modelo prever o perfil desgastado do 1º anel e o
comportamento tribológico deste perfil. Com a predição de perfis de anéis tribólogicamente
otimizados para uma determinada aplicação se espera reduzir o número de testes necessários
para esta otimização, bem como entender melhor as variáveis envolvidas. Isto geralmente é
impraticável num teste complexo e de difícil acesso como o de anéis de pistão num motor em
funcionamento.
3
2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1- MECANISMOS DE DESGASTE
Existem diversas classificações para os mecanismos de desgaste e a nomenclatura ainda está
por ser melhor definida. Dependendo do autor, o desgaste verificado em anéis de pistão é
descrito como “adesivo” (PINT & SCHOCK, 2000), “adesão durante o amaciamento
seguido de abrasão e corrosão durante o uso” (BARBER & LUDEMA, 1987), “micro-
polimento”(HILL et al, 1996); termos como “desgaste por deslizamento” e “desgaste
oxidativo” são também comuns na literatura. Isso de certa forma reflete a controvérsia
existente sobre os reais fundamentos físicos do desgaste. LUDEMA (1996) relaciona 34
termos diferentes ao discutir a nomenclatura para descrever o desgaste. Para efeito de
classificação, podemos grosseiramente dividir os principais mecanismos de desgaste em:
desgaste por deslizamento / por abrasão / por corrosão / por cavitação / por fadiga de
contato / por erosão.
2.1.1- DESGASTE POR DESLIZAMENTO
Em geral, quando 2 corpos lubrificados deslizam entre si, o óleo existente na região de
contato desenvolve pressões hidrodinâmicas que mantém as superfícies separadas. Sob
certas condições (baixas velocidades, por ex.), essas pressões não são suficientes para
manter essa separação e parte da carga é suportada pelo contato das asperezas existentes
nas superfícies. As asperezas em contato se deformam e se desgastam por um processo de
fadiga ou por arrancamento. O desgaste das asperezas geralmente produz uma superfície
4
1 Vide desenvolvimento no anexo I.
polida, o que melhora as condições hidrodinâmicas.
O desgaste por deslizamento é também chamado por alguns autores de desgaste por adesão.
Neste trabalho preferiu-se adotar a nomenclatura defendida por 2 livros-texto recentes:
HUTCHINGS (1992) e LUDEMA (1996): desgaste por deslizamento. Embora a adesão
exerça um papel importante, existem outros processos físicos e químicos agindo no desgaste,
quando 2 corpos deslizam entre si. Na área automotiva, o termo "desgaste adesivo" também
é associado à transferência macroscópica de material entre o anel e o cilindro (DEMARCHI,
1994), ou seja, a um desgaste bastante severo também denominado por "engripamento" ou
"scuffing", que será discutido no item 2.2.
O desgaste por deslizamento é comumente modelado pela equação de Archard1:
[ mm3/m] (2.1)QK W
H=
.
onde Q: volume desgastado do material mais mole, por unidade de distância percorrida.
K: coeficiente adimensional de desgaste [0..1]
W: carga normal [N]
H: dureza do corpo mais mole [N.m-2]
5
A equação de Archard é largamente utilizada pela sua simplicidade e também por permitir
quantificar a severidade do desgaste, em diferentes sistemas, pelo coeficiente K. O parâmetro
k= K/H [mm3(N.m)-1] é mais comum em aplicações de engenharia, e é denominado de
coeficiente dimensional de desgaste. k representa o volume [mm3] de material removido
por desgaste por unidade de distância percorrida [m] por unidade de carga normal no contato
[N].
HUTCHINGS (1992, p.84) analisa as relações embutidas na equação de Archard:
- o desgaste é proporcional à constante K. Entretanto, K não é uma característica dos
materiais e sim do sistema tribológico. A princípio, cada sistema teria que ser investigado para
determinação dessa constante.
- o desgaste é inversamente proporcional à dureza do corpo mais mole. Isso é geralmente
válido: aumentar a dureza da superfície é uma das práticas mais comuns para redução do
desgaste. Mas mesmo isso não é uma lei universal: sob determinadas condições o aço
inoxidável tem taxa de desgaste similar ao bronze, muito mais mole.
- o desgaste aumenta com a carga. Embora isso seja em geral verdadeiro, a linearidade
implícita na equação vale em intervalos relativamente pequenos. A fig.2.1 (HIRST apud
HUTCHINGS, 1992) mostra resultados de ensaio de pino de bronze contra um anel duro de
stelita.
6
1,E-06
1,E-05
1,E-04
1,E-03
1,E-02
1,E-011 10 100 1000
Carga (N)
Tax
a d
e D
esg
. (m
m3/
m)
0,00
0,01
0,10
1,00
Res
iste
ncia
()
Fig.2.1- Taxa de desgaste e resistência elétrica de contato para um pino de bronze deslizando
contra um anel duro de stelita. HIRST apud HUTCHINGS (1992).
Na fig. 2.1, a taxa de desgaste aumenta linearmente com a carga, o coeficiente de desgaste
dimensional (k) vale aproximadamente 2E-6 mm3.(N.m)-1 para cargas baixas. Nesta fase, a
resistência elétrica entre os corpos é relativamente alta, significando que o contato está
ocorrendo entre os filmes de óxido superficiais. Com uma carga entre 5 e 10 N ocorre um
brusco aumento na taxa de desgaste, da ordem de 100 X maior que anteriormente. Ao
mesmo tempo a resistência elétrica entre os 2 corpos cai rapidamente. O regime de desgaste
abaixo da transição é comumente chamado de desgaste moderado ("mild wear"), enquanto o
alto desgaste após a transição é chamado de desgaste severo. O desgaste moderado é
caracterizado por debris formado por pequenas partículas (tipicamente de 0,01 a 1 :m),
predominantemente constituídas de óxidos. Esse tipo de desgaste é também chamado de
desgaste oxidativo (“oxidative wear”), sendo a taxa de desgaste dependente das velocidades
7
de formação e arrancamento do óxido superficial; mas, ao contrário do que o nome pode
sugerir, a oxidação em geral reduz a taxa de desgaste, ao formar um filme duro e geralmente
com baixo coeficiente de atrito. A superfície desgastada geralmente apresenta aspecto
polido. Já o desgaste severo produz partículas metálicas muito maiores (20 a 200 :m) e,
conseqüentemente, a superfície tem aspecto rugoso. Por sua alta taxa de desgaste, sua
ocorrência é inaceitável na maioria dos sistemas mecânicos.
Apesar dessas limitações, a equação de Archard talvez seja a única sobre desgaste que tem
larga aceitação. Em resumo, pode-se dizer que ela é válida para um dado sistema (carga,
geometria, lubrificação etc.), desde que os regimes envolvidos não se alterem.
A equação de Archard prevê a taxa de desgaste do material mais mole, já sobre a taxa de
desgaste do material mais duro, a única citação encontrada foi a de BOOSER 1984 (p.
206), que diz que uma boa estimativa pode ser obtida pela relação entre a dureza do corpo
mais duro e a do mais mole (Hd/Hm)
(Hd/Hm) desgaste do mais duro/ do mais mole (em volume)
< 3 (Hm/Hd)2
> 3 3 (Hm/Hd)
8
2.1.2- DESGASTE ABRASIVO
O desgaste abrasivo ocorre pela ação de partículas duras pressionadas e deslizando sobre a
ou as superfícies. O desgaste abrasivo é denominado de 2 corpos quando uma das
superfícies tem partículas duras protuberantes, e de 3 corpos quando as partículas duras são
livres para rolar e deslizar entre as 2 superfícies. A taxa de desgaste é normalmente menor
nesse último caso. Eventualmente um processo de 3 corpos pode se transformar num de 2, se
a partícula dura penetrar e ficar impregnada numa das superfícies (usualmente a mais mole).
Neste caso, a maior taxa de desgaste geralmente ocorre na superfície mais dura e não na mais
mole.
O desgaste produzido por uma partícula abrasiva pode ser provocado por um processo de
microcorte, por um processo de fadiga causado pelo microsulcamento, ou por
microlascamentos se a superfície for frágil. A fig. 2.2 ilustra esses mecanismos.
A abrasão pode ser reduzida pela adição de partículas duras na matriz. Essas partículas
podem interromper os riscos (microcorte, microsulcamento), dependendo da distribuição e
tamanho relativos dessas em relação ao abrasivo. A fig.2.3 mostra um exemplo dessa
interrupção pela presença de carbonetos de Nióbio na face de contato de um anel de ferro
fundido nodular.
9
Fig.2.2- Mecanismos de desgaste por abrasão. ZUM GAHR apud VATAVUK (1994).
Fig.2.3- Riscos de desgaste sendo interrompidos por carbonetos de Nióbio na face de
contato de um anel de Ferro Fundido. VATAVUK (1994).
10
100 10 1 0,110-5
10-4
10-3
10-2
10-1
1
Ta
xa
d
e
de
sg
as
te
r
el
at
iv
a
(v
ol
um
e)
Ha / Hs
metais
cerâmicas
A dureza relativa das partículas é de fundamental importância: partículas com durezas
menores que a da superfície causam muito menos desgaste que partículas duras. Para
partículas significativamente mais duras, o valor exato dessa dureza tem menor influência. A
taxa de desgaste é muito sensível se a razão entre a dureza do abrasivo e a da superfície é
próxima de 1. Vide fig. 2.4.
Fig.2.4- Taxa de desgaste em função da razão da dureza do abrasivo / dureza da superfície
(Ha/Hs), para abrasão a 2 corpos. MOORE apud HUTCHINGS (1992)
Em M.C.I., as partículas que podem provocar o desgaste abrasivo podem ter diversas
origens. As principais são:
11
- cinzas e material carbonizado, resíduos sólidos da combustão. Mesmo que inicialmente
pequenas e moles, essas partículas podem se aglomerar e endurecer pela compactação
provocada pelo movimento secundário do pistão.
- partículas metálicas e óxidos provenientes do desgaste.
- poeira admitida junto com o ar e não bloqueada pelo sistema de filtragem.
- partículas metálicas oriundas dos processos de fabricação, que permanecem no motor por
limpeza deficiente.
- resíduos de areia utilizada na fundição do bloco e cabeçote, que permanecem no motor por
limpeza deficiente.
Segundo GAUTAM et al (1998) as espécies mais significativas do material particulado em
(0,31%), nitratos (0,09%) e silicatos (0,008%). A maior parte desse material resulta da
combustão incompleta do combustível e lubrificante e é constituída de agregados de partículas
pequenas e esféricas. Individualmente, as partículas têm aproximadamente 0,02 :m de
diâmetro e os agregados até 0,5 :m. A fuligem encontrada em motores Diesel contém
hidrogênio, oxigênio e enxofre, bem como componentes provenientes de aditivos do
lubrificante, como fósforo, zinco e cálcio. Gautam testa diversos óleos lubrificantes com 0 e
3% (em peso) de contaminação de fuligem e observa que o desgaste aumenta de 10 a 100%,
dependendo do óleo utilizado. A presença de altos níveis de fósforo e de aditivos
neutralizadores de acidez minimizam, em parte, os efeitos nocivos da fuligem.
12
Em MCI, a fuligem age não só como abrasivo. O depósito compactado no topo do pistão e
no fundo do canalete endurece, diminui a folga daquele com o cilindro e aumenta a força que
o pistão exerce contra o cilindro, aumentando o desgaste. O depósito no fundo do canalete
pode eliminar a folga radial anel/pistão e aumentar a pressão que o anel exerce contra o
cilindro. URABE et al (1998) examinam o efeito do uso de EGR ("Exhaust Gas
Recirculation", Recirculação do gás de escape) em motores Diesel e verificam que o desgaste
do anel foi 4 vezes maior do que sem o uso do EGR. Mesmo com o uso de filtros para
eliminar o material particulado, o uso do EGR dobrou o desgaste. Há que se destacar que no
trabalho de Urabe foram usados anéis de primeiro canalete sem revestimento. Em anéis
usuais, com revestimento resistente ao desgaste, a diferença deve ser, provavelmente, menor.
Urabe et al verificam que o atrito aumenta com o uso do EGR, mas que este aumento
deve-se principalmente ao depósito de carvão no fundo do canalete. Com o movimento
angular do pistão, o anel encosta nesse depósito e aumenta a força contra a parede do
cilindro. Mais recentemente, o mesmo Urabe, em co-autoria com ISHIKI et al (2000),
defende que mesmo sem o uso de EGR, o desgaste de anéis é provocado pela ação abrasiva
da esteadita presente no cilindro. O uso do EGR apenas tornaria o óleo lubrificante mais
propício para essa ação de corte (o que explicaria o aumento de desgaste nos anéis),
entretanto esta hipótese é no mínimo, polêmica.
BARBER & LUDEMA (1987), HAYNES apud MICHALSKI & PAWLUS (1994), entre
outros, sugerem que partículas abrasivas podem ser aprisionadas nos vales de brunimento e
nos veios de grafita existentes na parede do cilindro, o que diminuiria o desgaste abrasivo
13
provocado por essas partículas. Com o desaparecimento desses vales pelo desgaste,
aumentaria o desgaste abrasivo.
2.1.3- DESGASTE CORROSIVO
Em M.C.I., o desgaste corrosivo deve-se a reações químicas (devido a misturas óleo /
combustível) na face de contato anel/cilindro. A presença de enxofre no combustível aumenta
o desgaste corrosivo. O enxofre no combustível se oxida em SO2 ou SO3 que então reage
com água para formar H2SO3 ou H2SO4. Mesmo com baixos teores de enxofre, outros
ácidos se formam, como por exemplo o ácido nítrico (FURUHAMA, 1991). A presença de
detergentes alcalinos no lubrificante (CaCO3, sulfonatos, etc.) neutraliza os ácidos, formando
sulfato de Cálcio (CaSO4), água e dióxido de carbono. O desgaste corrosivo que pode ser
controlado pela presença de detergentes alcalinos no lubrificante. A alcalinidade dos
lubrificantes é designada pelo TBN (“Total Base Number”, Número de Basicidade Total).
Acredita-se que o desgaste corrosivo seja o mecanismo dominante quando o motor opera ou
muito frio ou muito quente (BECKER, 1998). Em particular, nota-se um grande aumento no
desgaste do cilindro quando a temperatura do parede do cilindro cai abaixo do ponto de
condensação dos produtos de combustão (BEHRENS, 1988). A corrosão pode ser
significativa em MCI que rodem com combustível com alto teor de enxofre, como em
motores marítimos, por exemplo. VATAVUK (1994) estuda o efeito de altos índices de
enxofre no combustível e adição de partículas duras tanto no anel como no cilindro. A fig.2.5
mostra a superfície de um cilindro que rodou com combustível com alto teor de enxofre; a
14
corrosão fez com que a steadita ficasse em alto relevo. O posterior arrancamento dessa
steadita provoca um maior desgaste por abrasão. SHUSTER (1999) encontra traços de
enxofre em anéis desgastados, mas conclui que a corrosão é um efeito de 2ª ordem, sendo a
fadiga de contato o principal mecanismo de desgaste atuante.
Fig.2.5- Superfície de um cilindro que rodou com combustível com alto teor de enxofre. A
seta 1 indica a fase steadita em alto relevo. A seta 2, grafita. Imagem de elétrons secundários,
M.E.V. VATAVUK (1994)
2.1.4- DESGASTE POR CAVITAÇÃO
No contato anel/cilindro ocorre apenas a deaeração gasosa: bolhas de gases são formadas
quando a pressão do filme de óleo cai abaixo da pressão de saturação dos gases dissolvidos.
15
A formação e colapso dessas bolhas é muita mais lenta do que na cavitação (bolhas de vapor
do líquido) e o decorrente dano / desgaste é desprezível.
2.1.5- DESGASTE POR FADIGA DE CONTATO
Vários autores consideram o desgaste provocado pela fratura das asperezas ou do filme
superficial sob ação de cargas alternadas como um mecanismo independente. Outros
preferem incluir esse fenômeno como um dos que compõem o desgaste por deslizamento.
Outros ainda só caracterizam como desgaste por fadiga se as macro-tensões envolvidas
forem altas. VATAVUK (1994) diz ser difícil a caracterização de fadiga na superfície de
anéis porque as macro-tensões são muito baixas. Entretanto, como será visto no item 2.4, as
tensões atuantes nas asperezas em contato são bastante altas. É geralmente aceito que os
assim chamados mecanismos de desgaste adesivo e oxidativo ocorram como resultado de
fraturas ao longo dos pontos microscópicos de contato (KIMURA & SUGIMURA, 1984).
Já em 1975, HALLING propõe que o desgaste originado do contato deslizante de 2
superfícies rugosas (o então chamado “desgaste adesivo”) pode ser descrito por uma lei que
contempla a probabilidade das asperezas se contatarem (o tratamento estatístico dado por
Greenwood-Williamson, que será visto mais a frente) e o número de ciclos para ruptura por
fadiga (a lei de Manson-Coffin para fadiga de baixo ciclo). Essa abordagem foi
posteriormente refinada por FINKIN (1978) que considerou que apenas os contatos
plásticos entre asperezas contribuem para o desgaste. Ambos concluem que o modelo de
Archard pode ser entendido como um caso particular de suas equações mais gerais.
HALLING & ARNELL (1984) propõem uma lei genérica para o desgaste em função das
16
(2.2)
micro-tensões e do expoente r de fadiga do material, definido pela lei de Wöhler:
onde ,1 é a deformação para falha em 1 ciclo e ,max é a máxima deformação ocorrendo no
contato em um ciclo de carregamento. O expoente de fadiga pode ser alternativamente
definido pelas tensões envolvidas. BULATOV & VEDERNIKOVO (1993) verificam, em
testes de bancada, que a resistência ao desgaste de anéis de pistão varia com o número de
deformações cíclicas que o anel sofreu anteriormente. KARKAMAR et al (1996) modelam o
desgaste ocorrendo por rolamento ou deslizamento usando o modelo de
Greenwood-Williamson para cálculo das tensões atuantes nos pontos de contato e a citada
relação de Wöhler para determinar o número de ciclos de contato para a remoção de uma
camada de material. USHIJIMA et al (1999) usam abordagem semelhante para estimar o
desgaste ocorrendo em bronzinas de MCI.
No clássico trabalho de SUH (1973), este propõe que o desgaste no deslizamento é causado
pela formação de vazios e trincas sub-superficiais provocadas pelas deformações plásticas
causadas pelas tensões atuantes, e que os então chamados desgastes “adesivo”, por fretting e
por fadiga, seriam todos provocados pelo mecanismo proposto. Suh propõe uma equação
para o volume desgastado total de um corpo duro deslizando sobre outro mais mole, mas a
equação depende de parâmetros empíricos relacionados com a topografia da superfície, bem
como de propriedades metalúrgicas relativamente complexas.
17
2.2- SCUFFING (ENGRIPAMENTO)
Na área automotiva scuffing significa um desgaste, em geral catastrófico, com transferência
de material entre os pares atritantes e nítido aumento da rugosidade. Em português, é
geralmente denominado de “engripamento”, porque, em ocorrências no campo, o pistão não
consegue mais se mover e o motor trava. Em dinamômetro, em geral, consegue-se
interromper o ensaio antes do travamento total. Na literatura em inglês sobre tribologia,
scuffing tem significado ligeiramente diferente do descrito acima, bem como seu significado
difere entre os Estados Unidos e a Inglaterra. (HUTCHINGS, 1992).
Muitos pesquisadores observam que uma camada dura e branca (após “etching”) se forma na
maioria dos materiais ferrosos em testes de scuffing, lubrificados ou secos. Essa camada
branca é geralmente aceita como uma mistura de austenita, martensita e carbetos, ou mesmo
ferro fundido branco. ROGERS apud BARBER & LUDEMA (1987) defende que o
scuffing é causado pela contínua produção e fragmentação dessa camada branca, formando
partículas abrasivas e provocando maior desgaste. Em geral, acredita-se que essa camada
branca seja resultado e não causa do scuffing. A presença desta camada transformada,
freqüentemente separada do material original por uma camada revenida, sugere que as
superfícies que sofreram scuffing passaram por uma transformação de fase: formação de
martensita, devido a uma temperatura local muito alta provocada pelo atrito, e então um
rápido esfriamento pelo material do corpo. Supõe-se que a temperatura na superfície é de,
pelo menos, 720 C ( SHUSTER et al, 1999a), já que essa é a temperatura necessária para a
18
transformação austenítica. Pressões altas podem causar uma redução desconhecida nessa
temperatura crítica.
A ocorrência de scuffing em MCI pode ser caracterizada por (SHUSTER, 1999):
- aumento da rugosidade da face de contato do anel e do cilindro;
- transferência de ferro do cilindro para a face do anel;
- redução da dureza da camada de cromo do anel na região que sofreu scuffing;
- transformação martensítica em cilindros endurecidos ou na superfície do anel abaixo da
camada de cromo.
A tabela 2.1, baseada na revisão de BIN (1998), resume as teorias com ênfase nos aspectos
térmicos para explicar a ocorrência de scuffing:
Tabela 2.1- Teorias térmicas para ocorrência de scuffing
Potência Específica Scuffing é função da pressão média Hertziana vezes avelocidade de deslizamento. Esse produto, multiplicado pelocoeficiente de atrito, pode ser entendido como a razão dedissipação da energia de atrito por unidade de área nominalde contato.
Existe uma temperatura característica de scuffing para cadacombinação lubrificante/superfícies atritantes. O Scuffingocorre quando a máx. T no contato atingir um certo valorcrítico.
Amolecimento Térmico(AUE, 50s)
O calor gerado num determinado ponto de contato ("spot”)provoca aquecimento e expansão, produzindo uma "protuberância térmica”. Essa, por sua vez, gera mais atrito,o que aumenta a temperatura e a expansão local.Eventualmente, o filme de óleo é destruído, ocorrendo umamicro-solda e o “scuffing”.
Instabilidade termoelástica(DOWN, BURTON, 70s)
Propõe equações para velocidade e carga críticaspara ocorrência de scuffing, sob condições de altavelocidade de deslizamento .
19
rompimento deasperezas por fadiga
de baixo ciclo
aglomeração departículas, que se
deformam e encruam
um aglomeradofica grande o
suficiente parasuportar toda a
carga de contato
tensõesexcessivas
Temperatura localaumentaria
significativamente
mais deformaçãoplástica e aquecimento
o dano se propaga atéum estágiocatastrófico
asperezas sedeformam
plasticamente
Outros teorias priorizam os aspectos mecânicos, mais especificamente o aumento de
rugosidade provocado por deformação plástica. LUDEMA (1984) considera ser a fadiga de
baixo ciclo (regime plástico) a mais provável explicação para ocorrência de scuffing: algumas
asperezas se romperiam por fadiga de baixo ciclo após algumas dezenas ou centenas de
ciclos de deformação plástica. As partículas removidas se aglomerariam em partículas
maiores, que seriam repetidamente deformadas e encruadas ao passar pela região de contato.
Eventualmente, um desses aglomerados seria grande o suficiente para suportar toda a carga
de contato, produzindo tensões excessivas e aumentando, significativamente, a temperatura
local e alterando tanto o filme lubrificante quanto os filmes superficiais protetivos; isso
realimentaria o processo e propagaria o dano até um estágio catastrófico. Vide fig. 2.6.
Fig.2.6- Teoria da deformação plástica para a ocorrência de scuffing.
20
ampliado
Os critérios térmicos e o defendido por Ludema não parecem ser excludentes, e sim estágios
diferentes de um mesmo processo, iniciando com a deformação plástica, e num determinado
momento, evoluindo de um desgaste moderado para um catastrófico, onde os aspectos
térmicos seriam dominantes. Recentemente, vale citar o trabalho de KIM & LUDEMA
(1995), que conseguiram uma correlação muito boa entre ensaios de scuffing e as
propriedades de fadiga de baixo ciclo para aços SAE 4340.
YOSHIDA et al (1997) estudam a ocorrência de scuffing em anéis de aço nitretados a gás.
Após 1500 h de teste, os anéis falharam com destacamento de material, vide fig.2.7.
Seção Transversal:
Fig.2.7- Scuffing em anéis de aço nitretado provocado por micro-trincas. Motor diesel,
1500 h de ensaio. YOSHIDA et al (1997).
Trincas perpendiculares à superfície nuclearam-se e propagaram, até que, a uma determinada
profundidade, mudaram de direção, eventualmente se conectando e causando destacamento
21
macroscópico. O problema foi resolvido com a adoção de uma sobre-camada mais dura que
reduziu o desgaste, o que permitiu a manutenção de um perfil hidrodinâmico na face do anel e
conseqüente diminuição das tensões de contato.
2.2.1- Efeitos da rugosidade no scuffing
O efeito da rugosidade é complexo. Em geral, um acabamento mais fino implica numa
pequena deformação do filme de óxido e numa maior temperatura crítica. Entretanto, se a
superfície é demasiadamente lisa, qualquer pequena partícula de debris pode causar um dano
pequeno, que progride com o deslizamento entre as superfícies e pode chegar a um grande
dano. Para uma superfície polida, verificou-se que a temperatura crítica foi tão baixa quanto
para uma muito rugosa, BIN (1998).
A rugosidade superficial influencia fortemente 2 grandezas mensuráveis: coeficiente de atrito e
carga de scuffing. STAPH apud BIN (1998) verificou que um aumento da rugosidade
superficial reduz grandemente a carga necessária para scuffing e aumenta o coeficiente de
atrito no scuffing. Já a temperatura crítica, mencionada na hipótese de Blok, permaneceu
praticamente constante para diferentes rugosidades.
22
não ocorreu
0 5 10 15 20
0,2
0,5
2,0
3,0
Rz
Pressão de Scuffing (MPa)
YOSHIDA (1990) testa, em bancada, anéis de aço nitretados com cobertura adicional de
CrN e verifica que, enquanto com rugosidade Rz 0,2 :m não ocorre scuffing, com
rugosidades crescentes a carga necessária para scuffing diminui. Vide fig. 2.8.
Fig.2.8- Efeito da rugosidade na resistência ao scuffing. Ensaio de bancada, anéis de aço
nitretado revestidos com CrN atritando contra ferro fundido. YOSHIDA, 1990.
O ensaio descrito por Yoshida é peculiar por apresentar scuffing ocorrendo com coeficientes
de atrito bastante baixos (0,025 a 0,035) e por apresentar o molibdênio e o aço nitretado
com desempenho semelhante. O molibdênio é considerado como a melhor cobertura anti-
scuffing para anéis de pistão. BIN (1998) realizou uma série de testes de bancada com anéis
de pistão e pedaços de camisas de cilindro, principalmente de compósitos com matriz de
alumínio, e concluiu que a resistência ao scuffing diminui com o aumento da rugosidade do
cilindro, exceto para acabamentos muito finos, como por exemplo de 90 MPa (Ra= 0,10
:m) para 20 MPa (Ra= 0,45 :m). Já com Ra= 0,05 :m, a pressão de scuffing é 80 MPa,
mesmo valor que para Ra= 0,20 :m.
23
2.3- DESGASTE EM ANÉIS
2.3.1- CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA TRIBOLÓGICO
Os anéis de pistão, em especial o do 1º canalete, estão sujeitos a complexas e severas
condições tribológicas:
- velocidades médias de até 20 m/s. Como o movimento é alternado, a velocidade é variável,
sendo zero nos pontos de reversão e máxima aproximadamente no meio do curso.
- pressões de até 20 MPa (200 bar) em alguns motores Diesel de última geração.
Novamente, essa pressão varia ao longo dos 4 tempos do motor.
- a parede do cilindro é em geral de ferro fundido, com um típico acabamento superficial
denominado “brunimento”. A rugosidade superficial é da ordem de Rz= 6 :m (Ra
aproximadamente 1,0), quando nova.
- a temperatura da parede do cilindro é em torno do 100 C, enquanto a do 1º anel é da
ordem de 250 C.
- como conseqüência, o filme de óleo é da ordem de alguns poucos micrometros no meio do
curso, mas da ordem de apenas décimos de micrometro nos pontos de reversão - ou seja: da
mesma ordem que a altura das asperezas e portanto o regime de lubrificação é limite.
- o 1º anel, para motores Diesel, é em aço ou ferro fundido nodular, com um revestimento
anti-desgaste. Este revestimento é geralmente molibdênio, mais especificamente uma liga a
base de molibdênio, níquel e cromo aplicada por plasma, ou cromo duro depositado
eletroliticamente. Mais recentemente, têm-se desenvolvido também camadas de Nitreto de
24
Cromo (CrN) aplicadas por PVD (“Physical Vapor Deposition”) sobre aço inoxidável. A
tabela abaixo indica as principais características destes revestimentos.
Tabela 2.2- Principais características de camadas ou tratamentos
superficiais anti-desgaste aplicadas em anéis.
dureza
(HV)
espessura
(::m)
Rz*
(::m)
Molibdênio 325 min. 150 1
Cromo 800 min. 150 0,57
Aço nitretado 900 min. 100 0,35
CrN (sobre aço nitretado) ~ 2000 10 a 30 0,60
*quando nova
2.3.2- MÉTODOS DE MEDIÇÃO DO DESGASTE
O método mais comum de medição de desgaste de anéis é o aumento da folga entre pontas
(“gap”): monta-se o anel num padrão com diâmetro de furo conhecido e mede-se a folga
entre pontas do anel com uma lâmina cônica graduada, com resolução de 0,05 mm.
Comparando com o valor inicial, tem-se o aumento da folga entre pontas. Esse valor pode
ser entendido como a média de desgaste radial multiplicado por 2 B, uma vez que o que é
medido é a diferença entre um perímetro conhecido (do padrão) e o do anel. É comum
caracterizar a taxa de desgaste, medida pelo aumento da folga entre pontas, em unidades
como :m/100 h ou :m/1000 km. Como essa taxa costuma diminuir com testes mais longos
25
(maior desgaste ocorre durante o amaciamento), é preciso cuidado ao comparar valores
advindos de ensaios com diferentes durações.
Outro método bastante comum de medição do desgaste em anéis é a variação da espessura
radial. Deve-se notar que, em geral, o desgaste não é uniforme ao longo do anel, sendo maior
nas pontas. TRUHAN & COVINGTON (1993), por exemplo, verificam desgaste 150%
maior nas pontas do que a média ao longo do restante do anel. O maior desgaste usualmente
verificado nas pontas faz com que a medição do desgaste radial não possa ser substituída
pela do aumento da folga entre pontas. Mesmo que apenas numa determinada região o
desgaste radial seja excessivo, isso pode ser suficiente para inutilizar o anel, seja por acabar
com o revestimento anti-desgaste, seja porque essa região pode não contatar o cilindro em
momentos de pouca pressão dos gases, acarretando consumo de óleo e/ou “blow-by”
excessivo. O desgaste radial também pode ser avaliado pela variação do perfil da face de
contato.
Em trabalhos de desenvolvimento costuma-se também indicar o desgaste por perda de
massa. Mesmo que obtida através de uma balança microanalítica com resolução de 0,1 mg,
essa medida deve ser avaliada com cuidado: o baixo desgaste verificado em anéis (da ordem
de ~10mg/100h) pode induzir a conclusões equivocadas em decorrência de qualquer
transferência de material para o anel. Especialmente para revestimentos com porosidade
(molibdênio, por ex.) a medição por perda de massa é contra-indicada: é comum anéis
apresentarem ganho de massa, mesmo após longos ensaios.
26
Para anéis de óleo, a medição da perda de força tangencial é bastante útil. Estes anéis não
contam com a pressão dos gases para auxiliar a vedação de modo que a perda de força
tangencial, seja por desgaste na radial, seja no contato mola/corpo do anel, ou mesmo por
perda de eficiência por efeito térmico da mola (sem remoção de material), afetando
diretamente o desempenho do anel de óleo.
Para uma avaliação rápida, usualmente não numérica, usa-se também a porcentagem da
altura da face de contato já “desgastada” (“bearing area”). Dado seu perfil abaulado, o anel
faz contato, inicialmente, contra o cilindro numa faixa estreita, que vai aumentando com o
aumento do desgaste. A fig. 2.9 mostra uma evolução típica da área de contato em função da
duração do ensaio. Essa figura também ilustra como o desgaste depende fortemente do perfil
inicial. Abaulados maiores (raios menores de curvatura) na face de contato provocam
menores áreas de contato mas maiores desgastes radiais e consequentemente, maior variação
na folga entre pontas, para um mesmo volume de material removido. Um bom compromisso
desse abaulado inicial e de sua evolução ao longo da vida do anel é um dos desafios de um
bom projeto de anéis.
O anel também se desgasta em sua altura axial, mas, pelas baixas velocidades relativas
envolvidas, esse desgaste costuma ser da ordem de alguns poucos micrometros. Em motores
de automóvel, o desgaste que o anel provoca no canalete de pistão pode ser significativo,
mas motores diesel mais solicitados têm um porta-anel de material resistente ao desgaste,
sendo o desgaste do canalete desprezível nesses casos.
27
Fig.2.9- Evolução do perfil e da área de contato (“bearing area”) em função do número de
horas de ensaio. O perfil contínuo é o anel quando novo e as linhas pontilhadas são após 100,
250, 500 e 750 h de ensaio. TOMANIK & GALVANO (1998).
DEMARCHI (1994) lista a resolução e a incerteza da medição das principais características
de anéis, vide tabela 2.3.
Tabela 2.3 - Instrumentos e dispositivos de medição DEMARCHI (1994)
Característica Instrumento ou
dispositivo
Resolução Incerteza do processo
de medição (±)
Folga entre pontas
(mm)
Lâmina cônica 0,05 0,10
Espessura Radial
(mm)
Dispositivo com relógio
comparador
0,001 0,002
Massa
(mg)
Balança eletrônica
analítica
0,01 0,6
28
2.3.3- DESGASTE DO CILINDRO
A medição do desgaste no cilindro traz ainda maiores dificuldades. Medidas da variação
diametral confundem-se com deformações geométricas que o cilindro sofre e são, em geral,
de pouca utilidade, exceto no caso de desgastes muito grandes (da ordem de várias dezenas
de micrometros). Vale lembrar que um aumento de 100 :m no diâmetro do cilindro implica
diretamente num aumento da folga funcional entre pontas do anel B vezes maior (~ 300 :m).
Assim, uma medida usual na “prática de oficina” é a medição da folga entre pontas do anel
quando montado no cilindro. Durante a montagem de um motor novo, essa medida é
importante para verificar a adequação das peças. Na desmontagem, ela é uma medida do
desgaste combinado anel + cilindro.
O cilindro apresenta desgaste diferenciado ao longo de seu comprimento: maior no PMS do
1º anel (TING, 1980; ISHIZUKI et al, 1981; BARBER & LUDEMA, 1987), já que essa
região, como vimos, sofre as condições tribológicas mais severas. Esse desgaste, se
excessivo, provoca um pronunciado aumento localizado no diâmetro, que pode ser medido
através de um perfilômetro ou um rugosímetro usando um curso longo. Como o desgaste do
cilindro é bastante pequeno, uma medida usual, mas de difícil interpretação, é a variação da
rugosidade, vide a extensa discussão em PAWLUS, 1998. A fig.2.10 mostra perfis de
rugosidade de um cilindro, de motor gasolina, quando novo e após 200 horas de teste,
DEMARCHI (1994). Pawlus propõe o uso de parâmetros de amplitude de rugosidade para
medição de pequenos valores de desgaste no cilindro. Pawlus, entretanto, obtém valores de
29
antesdo ensaio
depoisdo ensaio
correlação dos valores de desgaste alcançados pelo método proposto e os com um "calibre
padrão” entre 0,41 e 0,62, mesmo na situação estudada pelo autor, provavelmente com
cuidados maiores que os usuais.
Fig.2.10- Perfis de rugosidade de um cilindro novo e após 200 horas de ensaio em
dinamômetro. Motor a gasolina. DEMARCHI, 1994
Uma outra medida de desgaste, em geral restrita a ensaios de desenvolvimento, é a medição
da área espelhada do cilindro. Como área espelhada ou polida se entende regiões onde os
riscos de brunimento desapareceram completamente. Embora existam equipamentos capazes
de fazer a medição dessa área por meios ópticos, eles não são de uso comum. Usualmente, a
medida da área polida é feita cortando o cilindro ao meio e demarcando a região onde os
riscos de brunimento sumiram e comparando com a área total do cilindro ou com a área
30
Taxa de desgaste (mg/1000km)
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
agressivo normal urbano
1o
2o
3o
percorrida pelos anéis. Assim, a área espelhada é usualmente dada como porcentagem de
uma dessas duas áreas, DEMARCHI (1994).
2.3.4- TAXAS DE DESGASTE E INFLUÊNCIAS NO DESGASTE DE ANÉIS
O desgaste dos anéis depende fortemente do ciclo de ensaio ou do modo de dirigir. A
fig.2.11 (THOM et al, 1995), mostra o desgaste verificado em motores de veículos com
diferentes utilizações.
Fig.2.11- Influência do modo de dirigir no desgaste de anéis, motores a gasolina. THOM et al
(1995).
O desgaste depende também da qualidade e do estado do óleo. A fig. 2.12, também de
THOM, mostra que o desgaste verificado com um óleo no final do intervalo de troca foi o
dobro que com o mesmo óleo no início de vida.
31
-10-505
1015202530
óleo novo óleo usado (7500 km)
nm/h anel
cil.
Fig.2.12- Influência do óleo no desgaste de anéis e cilindro. Motor Diesel automotivo.
THOM et al (1995).
A literatura apresenta valores de desgaste em anéis em variação de peso, de radial, de
aumento da folga entre pontas etc. As condições de teste são também as mais diversas: plena
carga, cíclica tentando reproduzir as condições de uso, cíclica (por ex. quente/frio) tentando
acelerar o desgaste etc. Essa abordagem, se por um lado é compreensível, por se tratar de
um componente industrial, muitas vezes em uma aplicação específica, por outro lado dificulta
o intercâmbio de experiências.
O desgaste de anéis e cilindro pode degradar o desempenho do motor; ISHIZUKI et al
(1981) verificaram experimentalmente num motor Diesel que a maior influência no consumo
de óleo (C.O.) foi o desgaste do cilindro.
32
Schneider et al (1988) estudaram o desgaste de anéis cromados de 1o canalete em motores
Diesel através da medição contínua da radiotividade da face de contato dos anéis,
previamente dopados por rádio isótopos. A partir dos valores medidos, o autor propôs uma
equação empírica para a taxa de desgaste:
W [nm/h] = a . e bT + c (2.3
)
onde T: tempo em horas de utilização do motor
a: taxa de desgaste com 0 horas, devido ao amaciamento
b: constante de tempo do amaciamento
c: taxa de desgaste após o amaciamento estar completo
Os autores observam que a taxa de desgaste diminui com o aumento da rotação do motor,
tanto durante o amaciamento quanto após. Isso fica mais claro se calcularmos a taxa de
desgaste após o amaciamento pelo numero de ciclos de potência (vide última coluna da
tabela).
2.4- Taxa de desgaste em função da rotação (SCHNEIDER et al, 1988)
rpm
taxa de desgaste
[nm/h]
b
[h-1] [nm/1000 ciclos de potência]
a c
1200 145 30,3 -0,012 0,84
1500 124 26,9 -0,018 0,60
1800 73 20,2 -0,011 0,37
2100 58 13,8 -0,02 0,22
33
Os autores também verificam o esperado aumento da taxa de desgaste com a Pressão Média
Efetiva e que apenas 10% do cromo removido da face de contato é retirado do sistema pelo
filtro de óleo, sendo que os 90% restantes recirculam com o óleo. Essas partículas de cromo,
pequenas demais para serem removidas pelo filtro, podem causar desgaste abrasivo. Apenas
com a drenagem e troca de óleo essas partículas foram removidas.
FRITZ (1990) mede continuamente o desgaste de anel de 1º canalete num motor Diesel (500
h de ensaio, Pressão Média Indicada = 2,3 MPa, pressão máxima de combustão de 14,5
MPa, máximo de 1200 rpm) e obtém valores de 45 a 60 nm/h. DEMARCHI (1994) estuda
a influência de diversas variáveis como revestimento, matéria-prima, perfil da face de contato
e ovalização do anel em MCI à gasolina. MICHALSKI & PAWLUS (1994) testam
diferentes materiais e acabamento superficiais de cilindro sob condições abrasivas, e verificam
que o ranqueamento de desgaste é invertido ao se passar de testes em bancada para testes
em motor, pelo menos neste caso, inviabilizando o uso de testes de bancada. Em cilindros de
ferro fundido, o mecanismo de desgaste predominante parece ser polimento (HILL, 1996),
onde os riscos de desgaste são em pequeno número e o desgaste parece ocorrer gradual e
uniformemente. BUDINSKI apud HILL (1996) define polimento como a “remoção
progressiva, não intencional, de material da superfície pela ação atritante de outro corpo sob
condições que o material é removido sem visível riscamento, fratura ou deformação plástica.
34
(2.4)
(2.5)
KNOWLAND & RUSSELL (1996) propuseram uma equação empírica para estimar o
desgaste acelerado que ocorre durante amaciamento. Segundo os autores, a taxa instantânea
de remoção do material pode ser estimada por:
onde " = (B. A1. Dn. b) / (Fb.Vp)
$ = A2 / Vp
( = B. A3.Dn.b / Fb.Vp
Vp: velocidade do pistão
b: altura do anel
W: altura gasta do anel
Fb: força de atrito devido ao contato das asperezas
A1, A2, A3 constantes empíricas
Uma análise dos termos da equação mostra sua desnecessária complicação e utilidade
discutível: (Fb.Vp) / (B. Dn. b) pode ser entendido como uma potência de desgaste por
unidade de área do anel. Chamando esse termo de wl, a equação (2.4) pode ser reescrita:
ou seja, bastante similar a (2.3):
35
- para tempos longos, a taxa de desgaste tende à A3, constante.
- no início da vida (t Y0) a taxa de desgaste vale A1 + A3.
- para tempos intermediários, o incremento da taxa decresce exponencialmente, com
expoente A2.
Os autores apresentam, sem maiores detalhes, gráficos de taxa de desgaste ao longo do
ângulo do virabrequim (da ordem de 2E-11 mm/s nos pontos de reversão do movimento, por
grau do virabrequim), bem como estimativas do perfil desgastado do anel, inclusive para
diferentes regiões do anel, mas igualmente sem fornecer detalhes.
FROLUND & SCHRAMM (1997) compilam da literatura os valores experimentais, que
variam de 0,6 a 3,4 :m, de filme de óleo remanescente na parede de cilindros de MCI em
funcionamento. KODALI et al (2000) ensaiam diferentes materiais de cilindro em bancada
contra anel cromado, sendo seus resultados resumidos na tabela 2.5.
Tabela 2.5- Coef. de desgaste, ensaio de bancada KODALI et al (2000)
FoFo cinzento, especialmente ligado 3,96 . 10-11 5,85 . 10-11
* contendo 350 ppm de ferro, 4,5% fuligem e TBN 3,5 (quando novo: 7,0)
36
Mudança contínuana curvaturaBom
Mudança descontínuana curvaturaSuscetível à scuffing
Mudança descontínuana curvaturaDesgaste alto
Mudança contínuana curvaturaDesgaste altoMarcas de scuffing
O perfil da face de contato, que se modifica durante a vida do motor devido o desgaste, tem
forte influência no desempenho do anel. Vários estudos, teóricos ou experimentais, abordam
esse assunto. FURUHAMA & HIRUMA (1975) estudam a formação do perfil abaulado do
anel em funcionamento e supõem que scuffing ocorre se esse perfil provocado pelo desgaste
for inadequado; STECHER (s.d.) chega à conclusões semelhantes, vide fig.2.13. YOSHIDA
et al (1991) estudam o consumo de óleo num motor Diesel em função do valor do abaulado
e do ângulo da face de contato do 1º anel. MIHARA & INOUE (1995) estudam a influência
do perfil desgastado no consumo de óleo e concluem que o típico perfil abaulado assimétrico
resulta principalmente da inclinação do anel dentro do canalete e propõem um perfil ótimo
quanto ao consumo de óleo. Como já citado, YOSHIDA et al (1997) estudam falhas em
anéis de 1º canalete em aço nitretado e concluem que essas foram causadas por pressões de
contato excessivas provocadas pela formação de um perfil hidrodinamicamente inadequado.
Fig.2.13- Perfis desgastados da face de contato do anel. STECHER (s.d.).
37
(2.6)
2.4- CONTATO ENTRE SUPERFÍCIES RUGOSAS
2.4.1- Modelo de Hertz para o contato de uma esfera contra plano
Quando 2 superfícies são pressionadas, o contato ocorre, inicialmente, em poucos pontos,
nos picos das asperezas mais altas. Com o aumento da pressão, mais asperezas vão
progressivamente entrando em contato e as mais altas vão se deformando, permitindo o
contato das menores. A área real de contato é, em geral, muito menor que a área aparente.
Para efeito de análise, o contato entre 2 superfícies rugosas é usualmente modelado como o
contato entre uma superfície suposta lisa, rígida e plana e uma outra com rugosidade igual à
rugosidade combinada das 2 superfícies originais.
As asperezas individuais são bastante "suaves". Inclinações maiores que 10 graus são
bastante raras e a maioria das asperezas têm inclinação muito menor (HUTCHINGS, 1992).
Estudando o comportamento de asperezas individuais, é conveniente modelá-las como
protuberâncias perfeitamente lisas, de formato esférico. Quando uma esfera de material
elástico é pressionada contra um plano com uma carga normal W (fig.2.14), o contato entre
os 2 corpos se dará numa área circular de raio a [m], dado pela equação de Hertz (1881):
onde W: carga normal [N]
r: raio da esfera [m]
38
(2.7)
E': um módulo de Elasticidade [N/m2] que depende dos módulos de Elasticidade, E1
e E2 e dos coeficientes de Poisson, <1 e <2, dos materiais da esfera e do plano:
A área de contato entre a esfera e o plano é dada então por:
Área de contato = BB.a2 ññ 0.83 BB . (W r / E'' )2/3 (2.8)
A pressão média é dada por Pm = W / área de contato, mas não é uniforme, sendo que a
pressão máxima ocorre no centro, caindo para zero nas bordas do contato (vide fig. 2.14). A
pressão máxima (Pmax) vale aproximadamente 1,5 Pm. Hertz também estudou as tensões de
cisalhamento ao longo da profundidade do plano. A máxima tensão de cisalhamento ocorre a
uma profundidade de ~0,48 a e vale ~ 0,47Pm (ou 0,31 Pmax). Admitindo que a deformação
plástica ocorra quando a tensão de cisalhamento, Jmax, atinja metade da tensão de
escoamento unidimensional Y (critério de Tresca), temos que nesse momento Pm vale 1,1 Y.
Se a carga continua sendo aumentada, a região plastificada cresce em direção à superfície.
Tanto teórica quanto experimentalmente se levantou que a pressão média também aumenta
(assintóticamente) até atingir um máximo de 2,8 Y, WILLIAMS, 1994, item 3.5.1.
39
Fig.2.14- Modelo de Hertz, esfera contra um plano rígido.
Com a ocorrência de deformações plásticas, a distribuição elíptica assumida por Hertz não é
mais válida, o que significa também que Pmax é diferente de 1,5 Pm. Veremos a frente que
diversas verificações mostram que o contato é plástico na maioria dos acabamentos de
engenharia. Mesmo assim, as equações de Hertz ainda são usadas por duas razões:
- a imprecisão cometida é da mesma ordem que a dos demais parâmetros envolvidos, por ex.
do valor do módulo de Elasticidade dos materiais.
- Após um primeiro contato onde ocorra a deformação plástica, os demais contatos se
comportam elasticamente (“shakedown mechanism”).
Hertz também admitiu que não existe atrito entre os corpos em contato, o que, em princípio,
impediria seu uso no modelamento de corpos deslizando com contato rugoso.
Tal limitação também é desprezada. Se o coeficiente de atrito é menor que 0,3, os erros são
pequenos. (WILLIAMS, 1994).
40
regiões de contato
linha de referência
da superfície rugosa
zid
d = separação entre os corposzi = altura da aspereza em relação à linha de referência
plano liso
Fig. 2.15- Representação esquemática do contato entre uma superfície rugosa e
um plano rígido e liso. Modelo de Greenwood e Williamson.
A deformação normal ()z) que a esfera sofre pode ser calculada por:
(2.9)
(2.10)
2.4.2- Modelo de Greenwood-Williamson
O modelo mais utilizado de contato entre superfícies rugosas foi apresentado por
GREENWOOD e WILLIAMSON (G-W) em 1966. O modelo de G-W admite que a
superfície rugosa tem picos com formato esférico de raio $, que se distribuem uniformemente
sobre a superfície, com densidade por unidade de área = 0. A outra superfície é admitida
rígida, lisa e plana. Os picos da superfície rugosa têm altura aleatória e se deformarão
elasticamente quando carregados de acordo com as equações de Hertz; a fig. 2.15 mostra o
contato entre a superfície rugosa e um plano rígido.
41
topo da aspereza(“summit”)
z
(2.11)
A altura dos picos individuais acima do plano de referência é z. É importante ressaltar que as
medidas usuais de rugosidade não registram necessariamente (e em geral não o fazem) a
ocorrência da máxima altura de uma aspereza. A distribuição de altura e a densidade dos
“topos” (“summits”) que farão inicialmente contato não é a mesma dos picos registrados nas
medidas de rugosidade. Imaginemos a ponta de um rugosímetro passando pela aspereza
idealizada da fig. 2.16; apenas o percurso que passasse pelo topo seria capaz de medir a
altura real da aspereza, embora todos os outros registrassem a ocorrência de um pico
(“peak”). Por ser mais usual, será mantida a terminologia “pico”, mas o leitor deve estar
atento ao fato de que o modelo de G-W contempla, na verdade, os topos das asperezas.
Fig. 2.16- Aspereza idealizada, ilustrando a diferença entre o topo da aspereza (“summit”) e
os possíveis picos (“peaks”) registrados num perfil de rugosidade.
Admite-se que a altura dos picos tenha uma certa distribuição estatística. Essa distribuição
pode ser descrita pela função densidade de probabilidade N(z), tal que:
42
(2.12)
(2.13)
de forma que todos os picos sejam incluídos. A probabilidade de que uma aspereza faça
contato com a superfície plana é a probabilidade de que a altura (z) dessa aspereza seja
maior do que a separação (d) entre os planos referência:
e o número de contatos entre asperezas e o plano liso (por unidade de área)
Uma dada aspereza, inicialmente com altura zs, terá então sido comprimida de um montante
*s dado por: *s = zs - d . A área de contato entre a aspereza e a superfície lisa será uma
pequena região circular, digamos de área Ai e raio ai, tal que: Ai = B . ai 2
Se esse contato permanecer no campo elástico e se as tensões de um contato não afetarem
os contatos vizinhos (ou seja, se a distância entre as asperezas em contato for grande se
comparada com a área de contato), podemos tratar cada contato de aspereza como um
contato Hertziano entre uma esfera e um plano. A relação entre a área de contato e a
deformação é dada pela eq. (5), substituindo )z por *s = (zs - d) :
Ai = B . ai 2 = B . $ . (zs - d) (2.14)
43
(2.15)
(2.17)
A área total de contato A é a soma de todos os contatos entre asperezas:
onde A0 é a área aparente de contato; 0.A0 é o número total de asperezas.
Do mesmo modo, a carga wi suportada nesse típico contato, é dada pela eq. (2.9):
(2.16)
e a carga total W é a soma de todos os contatos, de modo que:
O número total de contatos n, a área A e a carga de contato W, dados respectivamente pelas
equações (2.13), (2.15) e (2.17), dependem claramente da distribuição N(z) adotada. Se a
altura da aspereza segue uma distribuição exponencial, as integrais podem ser resolvidas
analiticamente e tanto o número de contatos quanto a área real de contato são linearmente
proporcionais à carga total W. Com o aumento de carga, o tamanho de cada ponto de
contato aumenta, mas mais asperezas entram em contato, de modo que o tamanho médio dos
pontos de contato permanece o mesmo. Se o contato é plástico, a pressão é constante e já
atingiu seu máximo, novamente a área real de contato também é linearmente proporcional à
carga aplicada.
44
Greenwood e Williamson definiram um índice de plasticidade do contato, R:
(2.18)
onde, H: dureza de indentação da superfície rugosa
FS: desvio padrão da distribuição de altura das asperezas (Rq)
(FS / $) 1/2 é aproximadamente igual à inclinação média das asperezas. A ocorrência de
deformação plástica nos contatos é determinada pelo valor de R. Para valores de R < 0,6, a
deformação plástica nas asperezas só ocorre com pressões nominais de contato muito altas;
já para valores de R > 1, a maioria das asperezas se deforma plasticamente, mesmo sob
pressões nominais muito baixas. Para metais, com acabamentos usuais de engenharia, R tem
valor entre 0,1 e 100. Mesmo metais polidos tem R maior que 1,0 e o contato entre
asperezas será majoritariamente plástico (HUTCHINGS, 1992). A carga suportada por cada
aspereza será proporcional à sua área de contato, a área total de contato será proporcional à
carga normal aplicada e independente da exata distribuição estatística da alturas. Já para
cerâmicas e polímeros, que têm menor razão E'/ H, o contato é mais provavelmente elástico.
Embora existam índices ligeiramente diferentes (por ex. vide WHITEHOUSE, 1994, p. 769
), o índice de plasticidade R de Greenwood é um marco na caracterização do
comportamento elástico/plástico do contato, em função da rugosidade das superfícies. Suas
implicações no estudo de atrito, desgaste e lubrificação são inúmeras.
45
0,1
1
5
20
50
80
95
99
99,9
99,99
0,1
1
5
20
50
80
95
99
99,9
0,5 1 1,5 altura (µm)
2 4 6 8 altura (µm)
todas asperezas
todas asperezassó os picos
só os picos
Embora a distribuição exponencial descreva razoavelmente o decil das maiores asperezas em
muitas superfícies reais, foi verificado experimentalmente que a distribuição Gaussiana
descreve melhor a distribuição das alturas. Os gráficos da fig. 2.17 mostram uma superfície
com distribuição normal e uma que teve seus picos removidos; os picos remanescentes mais
altos podem continuar sendo considerados como uma distribuição normal.
Fig.2.17- Distribuição da altura das asperezas, plotada num gráfico de probabilidade normal.
WHITEHOUSE (1994)
Para uma distribuição Gaussiana, as equações (2.13), (2.15) e (2.17) precisam ser integradas
numericamente mas, para quantidades fisicamente razoáveis, os resultados não são muito
diferentes dos obtidos com a distribuição exponencial. Os valores das integrais podem ser
46
1 Em hidrodinâmica, t= (d/Fs ) é conhecido por 7, parâmetro de filme.
2Corrigindo-se o claro erro de tipografia nos valores de t= 2,1 a 2,3
(2.19)
1,E-05
1,E-04
1,E-03
1,E-02
1,E-01
1,E+000 1 2 3 4t
F 0(t )
calculados com auxílio da curva normal, de média 0 e desvio padrão 1. Usando a função
probabilidade de densidade normal N(x), a probabilidade de que um pico tenha altura, acima
do plano de referência, maior que d é:
onde Fs é o desvio padrão das alturas das asperezas, F0(t) é a área sob a curva normal à
direita do valor t = (d/FS)1. A fig. 2.18 mostra os valores calculados de F0(t), a partir dos
valores tabelados por McCOOL (1986)2.
Fig. 2.18- Probabilidade de que um pico tenha altura maior que a distância de separação (d ),
ou seja, que faça contato (t = d/FS). Valores tabelados por McCOOL, 1986.
47
(2.20)
(2.21)
(2.23)
(2.22)
De modo similar, a área de contato e a carga total podem ser calculadas com ajuda das
funções F1(t) e F3/2(t):
onde:
F0(t), F1(t) e F3/2(t) podem ser calculados por métodos numéricos ou encontrados em tabelas,
por ex. em GREENWOOD & TRIPP (1971) e McCOOL (1986).
2.4.3- Contatos plásticos segundo o modelo de Greenwood-Williamson
Uma determinada aspereza começará a se deformar plasticamente quando a máxima tensão
de cisalhamento atingir metade da tensão de escoamento unidimensional. Vimos que, para
uma esfera contra um plano, isso significa:
JJmax = 0,31 Pmax > Y/2 (2.24)
lembrando que Pmax = 1,5 Pm e usando as equações (3), (4) e (5), obtemos que o inicio da
48
(2.25)
(2.26)
(2.28)
(2.29)
(2.30)
deformação plástica ocorre quando:
ou
zs > d + wp (2.27)
então todo pico cuja altura exceder (d + wp) sofrerá alguma deformação plástica. A
densidade de contatos plásticos pode ser estimada então por:
de modo semelhante à (2.20), a área de contatos plásticos é dada por:
e a razão entre a área de contato plástica e a área total de contato por:
Quanto maior (wp / Fs), menor o número de contatos plásticos. Note-se que, exceto por uma
constante, wp é o inverso de R2 (índice de plastificação definido em (2.18)).
49
(2.31)
(2.32)
McCOOL, 1986 compara os valores numéricos obtidos com modelos posteriores e mais
complexos que os do modelo de Greenwood-Williamson e verifica que as pressões e áreas
de contato obtidas são da mesma ordem.
A hipótese do modelo de G-W de que o pico das asperezas é circular foi relaxada num
modelo posterior (GREENWOOD & TRIPP, 1971). O modelo de Greenwood-Tripp
considera a solução de Hertz para o contato de 2 parabolóides (o que inclui esferas e
elipsóides radialmente simétricos). A solução de Hertz aplica-se apenas aproximadamente já
que, dificilmente, as 2 asperezas estarão alinhadas. Devido ao desalinhamento entre as
asperezas, a força normal suportada se decomporá numa vertical e numa tangencial.
Entretanto, a inclinação das asperezas é tão pequena que o erro cometido pode ser ignorado.
Para o caso de 2 parabolóides a carga total por unidade de comprimento é dada por:
ou usando a mesma metodologia da eq. (2.20)
F5/2 podendo ser calculado de maneira similar a F0, F1 e F3/2.
50
2.5- MODELOS DE SIMULAÇÃO DE ANÉIS
A bibliografia sobre modelos de simulação do comportamento dos anéis é extensa. Na
década de 90, podem ser destacados, por exemplo, os trabalhos de KERIBAR et al (1993),
TIAN et al (1997a), ARCOUMANIS et al (1997) e KNOPF et al (1998). No Brasil, 2
dissertações de mestrado sobre o assunto foram apresentadas: ZOTTIN (1992) e
TOMANIK (1993). Entre os programas de simulação de anéis disponíveis no mercado,
podem ser citados: CASE (Southwest Research Institute), RINGPAK (Ricardo Software) e
GLIDE (AVL). A maioria dos trabalhos na área considera um modelo bidimensional
(axi-simétrico), no qual o pacote de anéis é modelado como um "labirinto de orifícios". As
principais grandezas calculadas são o fluxo de gases da câmara de combustão para o carter
do motor ("blow- by") e mais recentemente, o consumo de óleo lubrificante. O contato entre
as superfícies (comumente) e o desgaste (eventualmente) são, em geral, modelados utilizando
respectivamente os modelos de Greenwood e o de Archard. O modelo de Greenwood tem
sido usado pelo menos desde a década de 80 (RUDDY, 1982) e ainda hoje é o mais
utilizado.
Entretanto, embora a previsão do blow-by e mesmo a do consumo de óleo lubrificante já
estejam se tornando prática de engenharia, a estimativa do desgaste ainda é feita ou por ensaios
de bancada de validade por vezes discutível ou por longos e custosos ensaios em motor. Com
durabilidade requerida de centenas de milhares de quilômetros, torna-se evidente a necessidade
de métodos preditivos para uso na fase de projeto do motor. A seguir, serão abordados os
trabalhos na área de modelamento do desgaste de anéis:
51
1 TING adota este procedimento para explicar o desgaste diferenciado circunferencial do
cilindro, maior no lado de maior pressão.
TING (1980) descreve os passos básicos para cálculo do desgaste de cilindros:
1- Obter a curva da pressão de combustão para o motor e o regime em estudo.
2- Admite-se que a pressão agindo atrás do 1º anel é igual à pressão de combustão. Calcular a
pressão agindo nos demais anéis do pacote.
3- Calcular o filme de óleo na face de contato do anel a cada ângulo do virabrequim.
Determinar as regiões onde o filme de óleo é menor que o limite para lubrificação
hidrodinâmica.
4- Determinar a pressão nominal de contato entre os anéis e o cilindro ao longo dos 4 tempos do
motor.
5- Calcular as forças laterais do pistão atuando nos lados de maior e de menor pressão.
Convertê-las em pressão nominal de contato dos anéis1.
6- Somar as pressões calculadas nos passos 4 e 5 para cada um dos anéis.
7- A cada altura do cilindro determinar a somatória das pressões nominais de contato.
8- Estimar o desgaste no cilindro através da equação de Archard.
Os passos de 1 a 4 são hoje calculados pelos programas de simulação de anéis, o 5 pode ser
feito com a simulação do movimento secundário do pistão. Os passos 6 e 7 são apenas uma
somatória de valores calculados nos passos anteriores. Finalmente, o passo 8 seria o cálculo do
desgaste ocorrendo no cilindro. Ting não prevê o cálculo das pressões devido ao contato rugoso,
provavelmente por limitações computacionais da época. Outro aspecto não considerado é a
variação das superfícies ao longo da vida do motor.
52
Os trabalhos seguintes ao de Ting procuraram melhorar o modelamento, tanto das condições
atuantes nos anéis (pressões, lubrificação etc.), como do contato entre superfícies rugosas.
HANNOSCHOCK (1985) usa a equação de Archard e o modelo de Greenwood & Williamson
num programa de simulação de anéis, para estudar o desgaste do anel e cilindro. O programa
RINGPAK calcula o produto da pressão de contato rugoso ao longo do perfil, pela velocidade
instantânea do anel. Esse produto é denominado de “Wear Load”. Mas os valores calculados,
em geral, não concordam com o desgaste verificado experimentalmente. A fig. 2.19,
reproduzida de GULWADY (1997) mostra os valores calculados para o 2º anel. Pelos valores
mostrados, o desgaste deveria se concentrar na região inferior da face de contato, enquanto que
em geral acontece o contrário (vide por ex. a fig, 2.20). Gráficos semelhantes de “Wear Load”
são obtidos para anéis de 1º canalete. A partir do "wear load", a taxa de desgaste poderia ser
calculada pela equação:
(2.33)
onde A é a área do anel, ou seja também seguindo a lei de Archard. Um dos problemas em se
usar a lei de Archard é que não existem valores confiáveis para o coeficiente de desgaste.
53
1E-3 2E-3 3E-3Distância ao longo da altura do anel
1E-3 2E-3 3E-3Distância ao longo da altura do anel
Wea
r lo
ad
(MW
/m2
2
4
6
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fa
ce
(
µm
)
Fig. 2.19- Perfil da face do anel e produto da pressão de contato rugoso pela velocidade
tangencial (“Wear Load”). Anel de 2º canalete, topo à direita. GULWADY et al (1997).
TIAN et al (1997 a), concluem que o maior desgaste na parte superior da face de contato do
anel de 1º canalete é devido ao desgaste do flanco inferior do canalete. Essa conclusão não
parece concordar com as próprias medições apresentadas. Vide reprodução na fig. 2.20. É
nítido o resultante perfil cônico do 1º anel, bem como o desgaste na lateral inferior do anel. Mas
o desgaste no flanco inferior do canalete parece muito pequeno para explicar tanto o perfil
cônico da face de contato, como o desgaste na lateral inferior do anel. O mesmo autor num
outro trabalho (TIAN, 1997b) conclui que o desgaste anel/canalete tende a criar um ângulo
54
constante de desgaste. Analisando a fig. 2.9 é possível perceber que o ângulo da face de
contato parece assumir um valor constante já com 250 h e que não continua a aumentar, o que
seria esperado se esse ângulo fosse provocado pelo desgaste do canalete.
RICHARDSON & KRAUSE (1998) utilizam o programa RINGPAK para estudar a influência
de valores admitidos de desgaste, na face de contato e na altura de anéis e do cilindro no
consumo de óleo e blow-by de 2 motores Diesel. Concluem que a influência depende do motor
e que o desgaste da face do anel tem maior peso do que o desgaste da parede do cilindro, bem
como que o desgaste da altura do anel tem pouca influência. Se por um lado este trabalho
procura prever a influência do desgaste, por outro não prevê de quanto seria esse desgaste. A
modelagem dos perfis desgastados é também bastante simplista.
KNOPF (1998) utiliza o modelo de Patir e Cheng para calcular a lubrificação mista; considera
diferentes orientações da rugosidade e a possibilidade de deformações plásticas no contato
rugoso, mas ainda não considera a deformação do canalete, nem tão pouco tenta prever a
evolução do desgaste.
55
10 µm
500 µm
lateral inferior
lateral superior
Desgaste lateral do anel1
23
1 2 3
A
A
B
C500 µm
10 µm
BC
1
2
3
1 2 3
antes doteste
depois doteste
Desgaste do canalete
Desgaste da face de contato
Fig. 2.20- Desgaste do anel/canalete. Anel de 1º canalete, motor Diesel
automotivo. TIAN (1997a, b)
56
Muito recentemente foram publicados 2 trabalhos sobre o modelamento do desgaste de anéis de
pistão: PRIEST et al (1999) utilizam um modelo de simulação do pacote de anéis e valores
experimentais do coeficiente de desgaste, obtidos em bancada, para prever o desgaste dos
anéis. Os autores correlacionam a espessura do filme de óleo com um determinado valor de
taxa de desgaste, se aquela for menor que 4 vezes a rugosidade combinada; também limitam o
valor mínimo para a espessura em metade dessa rugosidade. Aparentemente não resolvem de
forma acoplada as pressões hidrodinâmicas e as de contato rugoso. A tabela abaixo reproduz os
valores experimentais de taxa de desgaste obtidos pelos autores.
Tabela 2.6- Coef. de desgaste para anéis obtidos em bancada
Temperatura( C )
condição dolubrificante
k 0
(mm3 mm-1 N-1)
200 novo 2 . 10-13
300 novo 4 . 10-12
300 degradado 5 . 10-11
PINT & SCHOCK (2000) partem de um modelo comercial de simulação de anéis para prever o
desgaste de anéis; ao contrário do usual na literatura, os autores utilizam Rz (e não Rq) como
descritor da distribuição da altura das rugosidades; admitem também como limite para contato
rugoso 1 e não 3 ou 4 vezes a rugosidade combinada. Consideram que se a espessura do filme
de óleo for menor que a rugosidade combinada, toda carga é suportada pelas asperezas.
Concluem que o perfil desgastado do anel é definido pelo seu movimento angular dentro do
canalete.
57
3- MODELO FÍSICO COMPUTACIONAL
Para modelamento da evolução do perfil da face deslizante do anel ao se desgastar é
necessário um equacionamento detalhado das forças atuantes no anel, o que é bastante
complexo dada a característica transitória dos fenômenos que ocorrem num MCI: num motor
a 2500 rpm, a pressão atuante no 1º anel varia de atmosférica a mais de 15 MPa e a
velocidade de 0 a mais de 15 m/s num intervalo de tempo de 48 milisegundos. Para
equacionamento das forças atuantes no anel partiu-se do programa de computador descrito
em TOMANIK (1993) e foram feitos os seguintes melhoramentos:
- cálculo da posição axial contínua do anel dentro do canalete;
- inclusão da torção do anel e do canalete;
- melhor descrição do perfil da face de contato;
- cálculo das pressões de contato rugoso.
Além disso, como contribuição fundamental para o desenvolvimento do tema, foram criados
algoritmos de:
- cálculo da taxa de desgaste;
- cálculo da evolução do perfil desgastado e de sua influência no sistema.
Nos itens a seguir, apresentaremos as principais características do modelo físico-
computacional desenvolvido. Vale mencionar que como primeira aproximação optou-se por
desconsiderar os efeitos das deformações elásticas dos anéis e cilindro na geometria de
contato.
58
(3.1)
3.1- MODELO DA DINÂMICA DE ANÉIS
3.1.1- Forças agindo no anel
Força própria - O anel de pistão em seu estado livre, fora do cilindro, não possui raio de
curvatura constante. Sua forma livre é projetada para que, quando montado no cilindro, o
anel exerça uma pressão, em geral não uniforme, ao longo de seu perímetro. Já o anel de óleo
tem uma seção transversal relativamente esbelta e depende da ação de molas ou expansores
para conseguir as pressões próprias relativamente altas (até 2,5 MPa). A força própria do
anel é denominada força tangencial e é um dado importante de projeto e controle de produto.
Quando em funcionamento, a pressão própria sofre a influência do gradiente de temperatura
existente entre a face interna e externa do anel, bem como das deformações do cilindro. No
modelo se admitiu que a pressão seja uniforme ao longo do perímetro do anel, calculada pela
equação 3.1, e que não se altere com o desgaste.
Força dos gases - O fluxo de gases pelo pacote de anéis gera pressões variáveis ao longo
dos 4 tempos do motor e em cada sub-volume da região dos anéis. O fluxo de gases é
calculado admitindo um modelo bi-dimensional onde cada canalete e intercanalete é um sub-
volume conectado por orifícios. Esses orifícios são a folga entre pontas do anel e a folga axial
entre o anel e o canalete. A fig. 3.1 mostra esquematicamente esse modelo, que é aplicado na
59
grande maioria dos programas de simulação de anéis, sendo que as áreas de passagem entre
anel e canalete variam conforme a posição axial do anel. Basicamente admite-se que:
- A pressão acima do 1o anel, a cada instante, é igual à da câmara de combustão. Essa
pressão da câmara é um dado de entrada, podendo ser obtida experimentalmente ou
calculada por programas de simulação de combustão.
- A pressão abaixo do anel de óleo é igual à do cárter e constante ao longo dos 4 tempos do
motor, sendo facilmente medida. Em geral, é pouco maior que a pressão atmosférica.
- O fluxo de gases é um regime transiente, adiabático, satisfazendo a lei dos gases perfeitos.
- A temperatura do gás é igual a média das paredes que o circundam a cada instante.
- A perda de carga pelo fluxo circunferencial é desprezível.
- A vazão em massa dos gases por um orifício, enquanto o escoamento não estiver blocado,
pode ser calculada por:
(3.2)
onde Cd: coeficiente de descarga, admitido = 0,86
A: área de passagem pelo orifício
P0, T0: pressão e temperatura à juzante
Pe: pressão à montante
k: razão entre os calores específicos à pressão e a volume constante
Para um determinado valor de P0 e T0, à medida que Pe é reduzida, a vazão mássica cresce
até quando a velocidade no orifício atinge a sônica; qualquer redução maior de pressão não
60
Fig. 3.1- Modelo esquemático do fluxo de gases por orifícios.Pressões:- P0: do land do anel anterior- P1: do land do anel sendo calculado- P2: do land do anel posterior- Pb0: do volume atrás do anel anterior- Pb1: do volume atrás do anel sendo calculado Fluxos (em massa):- f_in: entrando no intercanalete, através da folga entre pontas do anel anterior- f_out: saindo do intercanalete, através da folga entre pontas do anel- f_bin: entrando no intercanalete, através da eventual folga axial do anel anterior - f_bout: saindo do intercanalete, através da eventual folga axial do anel
provoca aumento de vazão mássica (escoamento blocado); a equação anterior se resume à
de vazão crítica:
(3.3)
É feita uma estimativa inicial para a pressão em cada volume e, assim, a vazão em massa
instantânea em cada orifício e a resultante variação de pressão em cada volume podem ser
calculadas. O processo é repetido para cada grau do virabrequim, até que as pressões
resultantes tenham convergido dentro de uma certa precisão.
61
A variação de pressão em cada volume, resultante da vazão dos gases é:
(3.4)
e o fluxo total ao longo do ciclo (“blow-by”):
(3.5)
Com o desgaste radial, a folga entre pontas do anel aumenta e consequentemente a área do
orifício. Despreza-se o desgaste axial, que em geral é da ordem de poucos micrometros,
muito menor que a folga axial anel/canalete.
Força hidrodinâmica - O anel de pistão é modelado como um mancal de deslizamento, com
velocidade e carregamento variáveis. A cada instante, a velocidade é definida pela cinemática
primária do pistão (vide eq. 3.27) e o carregamento é dado pela somatória da força dos
gases e própria do anel. A partir da equação de Navier-Stokes para escoamentos, chega-se
à equação geral de Reynolds, a partir das hipóteses habituais, listadas a seguir:
a) fluxo laminar;
b) forças de campo = 0;
c) forças de inércia desprezíveis;
d) espessura do filme pequena quando comparada com as outras dimensões;
e) em cada posição (x,z) a pressão, densidade e viscosidade são constantes ao longo do
filme;
f) nas superfícies de contato a velocidade do lubrificante é igual à do corpo;
62
h(x)
P1
P2
Hm
PH(x,t)
xy
g) comparados com du/dy e dv/dy, todos os outros gradientes de velocidade são
desprezíveis;
fica:
(3.6)
Fig. 3.2 - Pressão hidrodinâmica na face de contato do anel
Assumindo ainda que:
h) o lubrificante é incompressível e portanto D constante;
i) a viscosidade é constante no filme de óleo: M(1/:) / Mz = 0;
obtemos:
(3.7)
63
Considerando a parede do cilindro estacionária (U2= V2= 0), sendo V1= dh/dt e
desprezando a variação da pressão no eixo z, obtemos finalmente a equação unidimensional
de Reynolds:
(3.8)
Integrando duplamente em relação à x:
(3.9)
onde PH(x) é a pressão hidrodinâmica no ponto x e C1 e C2 são constantes de integração
determinadas pelas condições de contorno:
- PH(0) = pressão na borda de ataque do anel = P1
- PH(b) = pressão na borda de saída do anel = P2
Além disso, impõe-se a condição de contorno usualmente aplicada à equação de Reynolds:
zerar todas as pressões que pelo cálculo resultarem negativas (fisicamente o fluído não resiste
à tração):
se PH (x) < 0 então PH (x) = 0, dPH /dx = 0 (3.10)
Para cálculo da distribuição da pressão hidrodinâmica é necessária também, a descrição do
perfil do anel. O perfil da face de contato de cada anel é um dado de entrada do modelo, que
vai modificando-se com o desgaste. O perfil hidrodinâmico instantâneo depende da inclinação
relativa entre o anel e a parede do cilindro. O cálculo dessa inclinação é detalhado mais a
64
frente. No modelo, o perfil é fornecido discretizado em 100 pontos ao longo da altura do anel
(coordenada x na fig. 3.2). Uma vez determinadas as constantes C1 e C2, a solução da
equação 3.8 pode ser obtida a partir do necessário equilíbrio: a pressão do filme de óleo
deve equilibrar a carga radial aplicada pelo anel em cada instante (a aceleração radial do anel
é considerada nula).
(3.11)
onde pb é a pressão dos gases agindo no diâmetro interno do anel.
A solução numérica deste problema é obtida de maneira iterativa: adota-se inicialmente uma
espessura mínima de filme de óleo Hm; calcula-se a carga suportada por este filme; se a força
for maior que a necessária para o equilíbrio, uma nova estimativa (espessura maior que a
anterior) é feita, procedendo-se o contrário se a força for menor; assim sucessivamente até
que o equilíbrio em cada instante seja satisfeito dentro de uma tolerância pré-definida.
Se a separação definida pelo filme de óleo for menor que um certo limite num determinado
ponto do perfil do anel, começam a agir forças de contato rugoso, as quais serão descritas no
item 3.3. Uma visão geral do algoritmo das forças atuantes no perfil da face de contato do
portanto o material escoou plasticamente nos pontos de contato. Nesses pontos a pressão de
contato pode assumir valores de até aproximadamente 3 vezes o limite de escoamento
uni-direcional. Para cálculo do número de asperezas com contato plástico, utiliza-se o
parâmetro de limite plástico normalizado (wp / Fs)
wp / Fs = 6,4 . 66.10-6 .( 2 / 115 )2 / 0,24.10-6
= 0,53 (McCool obteve 0,58)
A razão entre a área de contatos plásticos em relação à total de contato é dado pela eq.
(2.30):
Ap/Ac = 17% (McCool obteve 15,1%)
Estendendo esse exemplo vamos agora admitir que nesses 17% de área de contato a pressão
tenha atingido o valor de 2,8.Y = 5,6 GPa, pode-se calcular a pressão P'atuante no restante
da área de contato:
P’ = (2,1 GPa - 0,17 . 5,6 GPa) / 0,83 = 1,4 GPa
ou seja, um valor também bastante alto (70% do limite de escoamento).
92
3.4- MODELO DE DESGASTE
3.4.1- Mecanismo de desgaste atuante em anéis de pistão
Baseando-se na observação de peças ensaiadas, admitiu-se o seguinte modelo para o
desgaste em anéis de pistão de MCI:
- inicialmente existe uma alta taxa de desgaste porque as superfícies ainda são não conformes
e as rugosidades são relativamente altas. As partículas removidas (debris) agem como
abrasivo e provocam riscos na face de contato do anel e cilindro. A fig. 3.16 mostra a face de
contato do 1º anel, cromado, motor a gasolina, após 80 horas de ensaio em dinamômetro.
Fig.3.16- Face de contato do 1º anel, cromado, motor a gasolina após 80 horas de ensaio
em dinamômetro.
93
Esses riscos tem poucos micrometros de largura e profundidade (vide ISHIKI et al, 2000).
Onde o filme de óleo entre o anel e o cilindro é maior, existe pouca interação e o acabamento
superficial do anel é preservado, como veremos nas fotografias seguintes. O desgaste radial é,
em geral, ainda muito pequeno.
Passada essa fase inicial, as partículas maiores tendo sido removidas do sistema por filtragem
do óleo, bem como as tensões de contato reduzidas porque as superfícies se tornaram mais
lisas e mais conformes, o mecanismo de desgaste passa a ser outro. A fig. 3.17 mostra o
aspecto típico da superfície de anéis testados em motor, a região que se desgasta tem
aspecto brilhante e liso, sua rugosidade vale cerca de Ra 0,10 :m. Alguns riscos ainda são
visíveis, mas eles tendem a desaparecer com durações maiores do ensaio, bem como em
posições do anel onde o desgaste é maior (em geral nas pontas, vide fig. 3.18). Com maior
aumento, fig. 3.19, são visíveis pequenas crateras (“pittings”), sugerindo que o mecanismo
preponderante de desgaste é a fadiga de contato.
94
Típico aspectoda face de contato
região desgastada“bearing area”
1 mm 1 mm
P o n t o s n o c i l i n d r oP o s i ç õ e s o c u p a d a sp e l o 1 o a n e lL e g e n d a :D i s c r e t i z a ç ã o d o C i l i n d r o- 2 0 . 0- 1 7 . 5- 1 5 . 0- 1 2 . 5Di
st
.ân
ci
a
ao
P
MS
(
mm
)
1 mm 1 mm
Fig.3.17- Anel de 1º canalete, aço nitretado, após 250 h de ensaio em motor diesel. A área
clara é a região que se desgastou, mostrada em maior aumento à direita. A região escura,
com riscos verticais ainda apresenta o acabamento original.
Fig.3.18- Mesmo anel da fig. anterior, região da ponta onde o desgaste é maior. Nesta região
a área desgastada ocupa toda a altura do anel.
95
350x 1.000x
350x 1.000x
Posição oposta às pontas, 250 h
Posição próxima às pontas, 250 h
Fig.3.19- Foto em maior aumento do anel das figs. 3.17 e 3.18. MEV
96
A fig.3.20 mostra um anel cromado, motor diesel, após 1000 h de ensaio. Os “pittings”se
concentram nas bordas das fissuras existentes do cromo. As fissuras funcionam como
concentradoras de tensão e micro trincas surgem devido à ação de repetidas deformações
plásticas causadas pelas pressões de contato. Mecanismo similar para o desgaste normal de
anéis cromados é descrito por SHUSTER et al (1999b).
Fig.3.20- Anel de 1o canalete cromado, motor diesel, após 1000 h de ensaio. MEV, À
esquerda, imagem de elétrons secundários (SEI). À direita, imagem de elétrons retro-
espalhados (“BEI”).
97
3.4.2- Cálculo da evolução do perfil desgastado.
Para calcular a evolução do perfil do anel em função do desgaste foi admitido que:
- O desgaste é uniforme ao longo do perímetro do anel.
- O desgaste é proporcional à intensidade e freqüência do contato entre as asperezas das
duas superfícies. O contato entre asperezas ocorre quando o filme de óleo lubrificante é
menor que um determinado valor, o qual depende da rugosidade combinada das superfícies
deslizantes. O contato rugoso é modelado conforme o modelo de Greenwood-Williamson.
Após um determinado intervalo de tempo, o desgaste modifica a rugosidade e o perfil das
superfícies deslizantes. Com a mudança do perfil e da carga suportada pelas asperezas, a
espessura de filme de óleo também se modifica, o que pode alterar a intensidade do contato
das asperezas e a taxa de desgaste. Mecanismos similares de desgaste tem sido propostos
por diversos autores, por ex. KIMURA & SUGIMURA (1984) de onde foi reproduzida a
fig. 3.21. A iniciação e crescimento de trincas não são calculados no modelo proposto, já que
isso exigiria uma carga computacional muito grande; de maneira simplificada admite-se que
ocorre remoção de material num ponto quando o dano acumulado nesse ponto atinja um
valor crítico. Esse valor crítico e a quantidade de material removido foram arbitrariamente
definidos, de modo a compatibilizar a velocidade de execução do programa com um passo
de remoção pequeno o suficiente para garantir a convergência e uma “suave” evolução do
perfil desgastado. Vale lembrar que o modelo se propõe a prever a evolução do perfil
desgastado e não a taxa de desgaste propriamente dita.
98
5Fisicamente cada ponto representa uma fatia axial do anel.
Condições de Operação
Microgeometria dasSuperfícies
Formação dos pontos de contato real
Ação das forças nos pontos de contato real
Distribuição de tensões e deformações
Acumulo de dano na sub-superfície
Inicio e propagação de trincas
Remoção de partículas
Desgaste
Modificação da Microgeometria
Fig.3.21- Divisão do desgaste em processos elementares. KIMURA &
SUGIMURA, 1984
A remoção de material a cada interação é suficientemente pequena para que as condições de
operação e tribológicas atuantes no sistema possam ser consideradas constantes. O modelo
alerta se a remoção por interação é maior que um determinado valor.
O perfil da face de contato do anel pode ser discretizado por 100 pontos5. Vide fig.3.22.
99
0
10
20
30
40
50
60
0 20 40 60 80 100
z
x
% da altura do anel
Per
fil
( µµm)
Cada ponto da face de contato pode ser caracterizado por:
- sua posição relativa X em relação à altura do anel, topo: i= 100;
- seu perfil (z i ) em relação ao ponto mais proeminente;
- sua rugosidade, definida pelo desvio padrão da altura (FS), densidade e raio médio
dos picos;
- propriedades do material: módulo de Elasticidade (E) e tensão limite de escoamento
(Y);
- dano acumulado, função da tensão que atuou no ponto, dividida pelo limite de
escoamento.
Fig. 3.22- Exemplo da discretização do perfil da face de contato de um anel de 1º canalete,
quando novo.
Em função das tensões atuantes, é atribuído um certo dano a cada ponto do anel e do
cilindro. É adotado um multiplicador para diminuir o número de interações necessárias para
100
simulação de um determinado valor de desgaste. Esse multiplicador pode ser ajustado
arbitrariamente, mas não pode ser muito grande para garantir que a evolução do perfil
desgastado seja suave. O incremento de dano ()D[i,t]) no ponto i, a cada instante é dado
por uma das diferentes “regras” descritas a seguir, que são parâmetros de entrada do
programa computacional:
- Lei de Archard - Como vimos no capítulo 2, o volume de material removido por distância
percorrida pode ser modelada pela eq. (2.1):
(2.1)
lembrando que o coeficiente de desgaste K, é em geral desconhecido e que a velocidade de
remoção admitida pelo modelo é arbitrada, o incremento de dano a cada interação pode ser
definida como:
(3.42)
onde Pgw: Pressão de contato rugoso no ponto i
Y: tensão de escoamento unidimensional do material, Y= HV /2,83, sendo HV a
dureza em Vickers (WILLIAMS, 1994 eq. 3.93)
)s: distância percorrida no intervalo de tempo correspondente a um intervalo angular
do virabrequim. O modelo utiliza 1 grau de virabrequim como intervalo.
101
6arbitrado de modo a garantir um tempo razoável de computação.
Fadiga - Tentou-se também uma expressão que considerasse, ainda que aproximadamente, a
ação da fadiga nos pontos em contato. Definiu-se o dano por fadiga como:
(3.43)
onde Pgw[i,t] /(Ac/A0): a pressão real, de contato rugoso, atuante no ponto num dado
instante.
m: expoente de Wöller de fadiga, admitido igual a 2,
Ap/Ac: fração, em área, de contatos que estão com deformação plástica.
Não foram modelados os desgastes abrasivo nem corrosivo, que com certeza devem
participar do processo. Essa simplificação é também admitida nos demais modelos recentes
de desgaste de anéis (PRIEST et al, 1999; PINT & SCHOCK, 2000), considerando apenas
a operação de motores em condições especiais de ensaio em dinamômetro.
- quando o dano acumulado num certo ponto atinge um certo valor crítico6, a rugosidade
neste ponto diminui. Mas o perfil ainda não se altera.
- quando o dano acumulado num certo ponto atinge um outro valor crítico, maior que o
anterior, ocorre remoção local de material (Zi diminui). A rugosidade local cresce. O dano
local acumulado é reduzido, mas não zerado.
- a cada interação, o processo se repete com os perfis do anel e do cilindro calculado na
interação anterior.
102
- a folga entre pontas do anel aumenta de acordo com a remoção de material na face de
contato.
- a superfície quando nova pode ter e geralmente tem um certo nível de dano prévio,
provocado pelas operações de usinagem.
- as interações de cálculo são repetidas até que ocorra um dos seguintes:
- um determinado número de ciclos tenha sido calculado (500 por exemplo)
- o fluxo de gases (blow-by) pela folga entre pontas do anel atinja valores muito altos
- o desgaste do canalete do pistão é desprezado, o que é bastante razoável para pistões de
motores diesel com porta-anel em material resistente ao desgaste.
103
3.4.3- Desgaste do cilindro
- O desgaste do cilindro é calculado de maneira similar ao dos anéis, mas para o cilindro
apenas o a regra de Archard foi implementada. Como o cilindro é, em geral, mais mole que o
anel e como a pressão é igual nas duas superfícies num dado instante e posição, o cilindro
acumula mais dano. Vale mencionar entretanto, que sendo a superfície do cilindro
significativamente maior que a do anel, a profundidade de desgaste no cilindro é menor.
- Como o sistema de referência para cálculo das pressões de contato rugoso acompanha
cada anel, a discretização dos pontos ao longo do cilindro não corresponde à discretização
da face de contato do anel a cada posição deste. Para diminuir o esforço computacional foi
feita a simplificação que para o cilindro as pressões de contato rugoso se concentram no
centro da face de contato do anel e são distribuídas proporcionalmente nos pontos vizinhos
do cilindro ao centro do meio do anel; metodologia similar à descrita em 3.3 para cálculo das
propriedades do cilindro. A fig.3.23 mostra a posição do centro dos anéis em relação às
posições do cilindro para o caso que vai ser descrito no item 5. Observar também que o
espaçamento entre os pontos no cilindro é menor que o espaçamento percorrido pelos anéis
em 1 grau do virabrequim, mesmo na região de máxima velocidade do pistão.
104
-100
-98
-96
-94
-92
-90
-88
-86
-84
-82
-80
Posições no ângulo 85
-45,0
-42,5
-40,0
-37,5
-35,0
-32,5
-30,0
-27,5
-25,0
-22,5
-20,0
-17,5
-15,0
-12,5
-10,0 Anéis Cilindro
1o
2o
3o
Anéis Cilindro
Distância ao
topo do
Cilindro
(mm
)
Distância ao
topo do
Cilindro
(mm
)Região próxima ao topo Região próxima ao meio do curso
Fig. 3.23- Discretização do cilindro versus posições ocupadas pelos anéis em 2 regiões:
próximo do topo do cilindro e no meio do curso. Note-se que as posições no cilindro são
eqüidistantes, enquanto que a dos anéis dependem da distância percorrida em 1 grau do
virabrequim.
105
4- PROGRAMA COMPUTACIONAL
O modelo foi implementado através de um código computacional em “Turbo Pascal V7.0".
Embora o programa fonte tenha mais de 1600 linhas, os requisitos de memória e o tamanho
do código executável são bastante baixos (respectivamente, 1 Mb e 40 kb). Necessita-se,
entretanto, de uma alta velocidade de processador; a execução de 500 interações de
desgaste demora cerca de 6 horas num Pentium III de 600 MHz. A fig. 4.1 mostra o
fluxograma geral do código.
Dado o tamanho do programa completo, no anexo III é reproduzido o programa fonte de
uma versão simplificada do modelo. Essa versão calcula o filme de óleo, as pressões
hidrodinâmicas e de contato rugoso, e as frações de área em contato (Ac/A0) e de contatos
plásticos (Ap/Ac), que surgem num perfil carregado quando esse desliza sobre outra superfície.
Esta versão foi utilizada, por exemplo, para gerar os resultados das fig.3.6 e 3.15. As
subrotinas de cálculo de dano e remoção de material, não presentes nessa versão
simplificada, são listadas à parte, também no anexo III e são comentadas mais à frente (vide
fig. 4.2 e 4.3). Detalhes do cálculo das forças atuando nos anéis podem ser encontrados em
TOMANIK,1993.
106
- Fluxo e pressões gasosas- Forças agindo no anel- Pos. axial do anel dentro do canalete
repeat
Acumula Dano
For v:= 0 to (Nang-1)
Calcula Velocidadee aceleração do pistão
For g:= 1 to pack
For s:= 1 to 2
Until fim
Remove material
s
g
v
Loop nos 720 graus do virabrequim
(4 tempos do MCI)
lados de maior e menor pressão do pistão
Loop nos anéis
Calcula: - face rotacionada - Contato Lubrificado
Fig.4.1 - Fluxograma geral do programa. Cada “loop” principal (do “repeat” até o “Until
fim”) é uma interação de desgaste.
107
A pressão de contato rugoso, segundo o modelo de Greenwood-Williamson, atuando em
cada fatia i do anel é expresso por Pgw[i]; enquanto Y[i] representa o limite de escoamento
uni-direcional do material (que pode ser entendido como uma medida de sua dureza
superficial) nessa fatia. A fig.4.2 mostra o fluxograma da subrotina de cálculo do dano
acumulado, segundo a lei de Archard (eq.3.42); o cálculo pela lei de fadiga é semelhante,
apenas utilizando-se a eq.3.43 para o dano no anel. A constante multiplicadora, ac,
representa o número de ciclos idênticos do motor (sem remoção de material e conseqüente
alteração das condições no anel) a cada interação do programa, multiplicada pelo coeficiente
adimensional de desgaste admitido internamente no programa. Nos casos apresentados no
capítulo 5 utilizou-se ac = velocidade angular do motor [rpm] dividido por 10. A variável a[i]
distribui a pressão atuando no ponto i do anel para os dois pontos vizinhos do cilindro,
segundo a “regra da alavanca” (vide item 3.4.3 e fig. 3.12).
108
for i:= 1 to Np
Pgw[i]>0 ?
no anel: D[i]:= D[i] + ac . (Pgw[i] / Y[i]) . ∆sno cilindro: Dc[j-1]:= Dc[j-1] + ac . (a[i] . Pgw[i] / Y[j-1]) . ∆s Dc[j]:= Dc[j]+ ac . ((1-a[i]) . Pgw[i] / Y[j]) . ∆s
Para cada anel, a cada grau do virabrequim
N
S
loop na face do anel
Fig.4.2- Fluxograma de cálculo do dano acumulado, segundo a regra de Archard.
A fig.4.3 mostra o fluxograma da subrotina de remoção de material para o anel. Note-se que
z[i] aumenta com a remoção de material, ou seja, afastando o perfil do anel da parede do
cilindro. Ao final dessa subrotina o código verifica qual é o mínimo afastamento z[i] do perfil
do anel, e subtrai esse valor de todos os pontos do perfil, “fazendo” novamente o ponto mais
proeminente do perfil do anel retornar à mesma distância da parede do cilindro que ocupava
antes da remoção de material.
109
for i:= 1 to Np
D[i] > lim1?
Rugosidade[i]:= 0,99 . Rugosidade[i]
Para cada anel, ao fim de uma interação (720 graus do virabrequim)
Fig. 5.38- Evolução do perfil desgastado do 1º anel.
Fig. 5.39- Espessura do filme de óleo, 1º anel, após 500 interações.
149
0
5
10
15
20
25
30
0 20 40 60 80 100face de contato do anel (% da altura)
Z (u
m)
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
z1_100z0di D
ano na interação
Para efeito de ilustração vamos estudar em mais detalhe o comportamento calculado após
100 interações. O perfil resultante da remoção de material prevista pelo modelo é mostrada
na fig. 5.40. Diferentemente da fig.5.38, aqui se preferiu representar o perfil contatando a
parede do cilindro. O desgaste radial calculado é da ordem de 2 :m, mas a parte cônica já
ocupa perto de 40% da altura do anel, situação semelhante à verificada no anel ensaiado
após 100 h (vide fig. 5.18). O máximo dano por interação (di) agora reduziu-se para cerca
de 0,6 e é praticamente constante sobre o perfil cônico formado pelo desgaste.
Fig.5.40- Perfil calculado da face de contato do anel após 100 interações.
O aumento de folga entre pontas, tanto do 1º anel quanto dos demais é ainda muito pequeno
e o fluxo e as pressões dos gases são praticamente idênticos aos iniciais (fig. 5.30).
Entretanto, devido à mudança de perfil, o filme de óleo já é bastante diferenciado entre as
posições TS e ATS (vide fig. 5.41). As figs. 5.42 e 5.43 mostram, respectivamente, as
150
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 180 360 540 720ang. do virabrequim
Hm
(um
)
TSATS
pressões hidrodinâmicas e de contato rugoso na face do anel, lado de maior pressão (TS).
Comparando as pressões de contato rugoso do anel quando novo (fig.5.43) com o do anel
desgastado após 100 interações (fig.5.34) percebe-se que o valor máximo reduziu-se
praticamente à metade (de 95 para 52 MPa) e o ponto de máximo deslocou-se em direção à
borda inferior do anel; as pressões se distribuem por uma faixa maior do anel o que faz com
que o dano total (que pode ser entendido como a taxa de remoção de material) não diminua
na mesma proporção que o valor máximo de pressão de contato rugoso. Esse tópico será
melhor discutido à frente. Note-se também que desapareceram as pressões de contato que
existiam nos outros pontos de reversão (0º, 180º e 720º) no anel quando novo.
Fig.5.41- Filme de óleo calculado, perfil após 100 interações.
151
21,8
29,0
0
180
360
720
540
40
60
80
20
0
0,0
7,2
14,5
100
ângulo
face
de
cont
ato
Ph [MPa]
0
180
360
540
720
51,00
38,25
25,50
12,75
100
20
80
60
40
0
ângulo
face
de c
onta
to
Pgw [MPa]
Fig.5.42- Pressões hidrodinâmicas, 1º anel após 100 interações, posição TS.
Fig.5.43- Pressões de contato rugoso, 1º anel após 100 interações, posição TS.
152
0
180
360
540
720
13,00
9,75
6,50
3,25
100
20
80
60
40
0
ângulo
face
de
cont
ato
Ph [MPa]
5.7.2- Anel de 2º canalete
O anel de 2º canalete tem perfil inicial mais cônico que o anel de 1º canalete. Isso é feito para
reforçar a ação raspadora de óleo e porque esse anel fica submetido a menores pressões
gasosas, não necessitando, portanto, de um perfil tão hidrodinâmico quanto o 1º anel. A
fig.5.44 mostra as pressões hidrodinâmicas no anel quando novo.
Fig.5.44- Pressões hidrodinâmicas, 2º anel quando novo, lado TS.
153
0
180
360
540
720
3,92
2,94
1,96
0,98
100
20
80
60
40
0
ângulo
face de c
ontato
Pgw [MPa]
Devido ao perfil cônico inicial do 2º anel e às maiores pressões gasosas ocorrendo nos
tempos de expansão e escape, as pressões rugosas atingem um máximo de 4 MPa
aproximadamente a 540º (vide fig.5.45). Essas pressões são bem menores que as que atuam
no anel de 1º canalete, mas o modelo prevê um maior desgaste em razão da menor dureza do
2º anel mas principalmente devido as pressões de contato rugoso agirem durante uma maior
distância percorrida pelo anel. A fig.5.46 mostra a evolução do perfil desgastado na face de
contato do 2º anel.
Fig.5.45- Pressões rugosas, anel de 2º canalete quando novo, posição TS.
154
0
5
1 0
1 5
2 0
2 5
3 0
0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 1 0 0
face do ane l (% da a l tura )
z (u
m)
z_0
z2_10
z2_50
z2_100
z2_200
z2_300
z2_400
z2_500
0
5
1 0
1 5
2 0
2 5
3 0
0 2 0 4 0 6 0 8 0 100
F a c e d o a n e l ( % d a a l t u r a )
z (u
m)
z_0
10i
50i
100i
200i
300i
400i
500i
a
b
Fig.5.46- Evolução do perfil desgastado do 2º anel.
a- Como percebido pelo modelo b- Visualizando o desgaste radial
Após 100 interações, o modelo prevê um desgaste radial de aproximadamente 2 :m para o
2º anel. As pressões hidrodinâmicas são muito semelhantes as do anel quando novo (fig.5.44)
155
0
180
360
540
720
2,52
1,89
1,26
0,63
100
20
80
60
40
0
ânguloface
de contato
Pgw [MPa]
e não serão repetidas. Ao contrário do 1º anel, o anel de 2º canalete não tem seu
desempenho hidrodinâmico melhorado com o desgaste, o que não deve ser entendido como
um mau comportamento: desde que o desgaste e atrito não sejam excessivos, é desejável que
o anel continue a ter uma boa ação de raspagem do filme de óleo. A fig. 5.47 mostra as
pressões de contato rugoso no 2º anel, após 100 interações. Observa-se a ampliação das
faixas de ângulo de virabrequim nas quais ocorre contato rugoso.
Fig.5.47- Pressões de contato rugoso, 2º anel após 100 interações, posição TS.
156
0
180
360
540
720
5,52
4,14
2,76
1,38
100
20
0,00
80
60
40
0
ângulo face de c
ontato
Ph [MPa]
5.7.3- Anel de óleo.
A face de contato do anel de óleo é bem mais estreita que a dos anéis de compressão (0,30
versus 3,0 mm) e embora as pressões de gás sejam baixas (vide fig.5.30), a pressão própria
do anel de óleo é cerca de 1,8 MPa. Essas duas características, aliadas à um perfil
hidrodinâmicamente desfavorável, fazem com que surjam pressões de contato rugoso durante
uma maior porção do curso. A fig. 5.48 e 5.49 mostram, respectivamente, as pressões
hidrodinâmicas e de contato rugoso calculadas para o perfil novo.
Fig.5.48- Pressões hidrodinâmicas, anel de óleo quando novo, posição TS. Em destaque, o
mesmo gráfico visto de uma perspectiva diferente mostrando que as pressões máximas
ocorrem no meio do curso, como esperado.
157
0
180
360
540
720
21,00
15,75
10,50
5,25
100
20
80
60
40
0
ângulo face
de
cont
ato
Pgw [MPa]
Fig.5.49- Pressões de contato rugoso, anel de óleo quando novo, posição TS.
Assim como 2º anel, essas pressões de contato rugoso, agindo durante uma parcela
considerável do curso, provocam um desgaste previsto sensivelmente maior que o do 1º anel.
A fig. 5.50 mostra a evolução do perfil desgastado do anel de óleo.
158
0
10
20
30
40
50
60
0 20 40 60 80 100
face do anel (% da altura)
z (u
m)
z3_0z10
z50z100z200
z300z400
z500
0
180
360
540
720
2,0
1,5
1,0
0,5
100
20
80
60
40
0
ângulo face
de conta
to
Pgw [MPa]
Fig.5.50- Evolução do perfil desgastado do anel de óleo.
Fig.5.51- Pressões de contato rugoso, anel de óleo após 100 interações, posição TS.
159
-165
-150
-135
-120
-105
-90
-75
-60
-45
-30
-15
0
0 1 2 3
desgaste (um)
dist
ânci
a ao
top
o (m
m)
d0
d10
d50
d100
d200
d300
d400
d500
5.7.4- Cilindro
Em virtude de sua maior área, o desgaste radial do cilindro é significativamente menor que a
dos anéis. A fig.5.2 mostra a evolução do desgaste previsto para o cilindro; o máximo
desgaste radial é cerca de 2 :m e acontece próximo ao PMS do 1º anel; no restante do
cilindro o desgaste previsto é bem menor, praticamente zerando no meio do curso, voltando a
aumentar na região de PMI dos anéis.
Fig.5.52- Evolução do desgaste radial previsto para o cilindro.
160
10 µ
m
1 mm
0
5
10
15
20
25
30
0 20 40 60 80 100
Face do anel (% da altura)
z (um
)
novo
10i
50i
100i
200i
300i
400i
500i
experimental
modelo
6- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A formação do perfil desgastado da face de contato do anel de 1º canalete foi prevista com
razoável precisão; a fig. 6.1 compara os valores previstos com os obtidos no ensaio. A
inclinação prevista para o perfil cônico resultante foi de 0,14º, comparável ao valor
experimental de 0,19º ±0,06 (vide tabela 5.4).
Fig.6.1- Evolução do perfil da face de contato do 1º anel obtida experimentalmente e
prevista pelo modelo.
161
O deslocamento do contato para a região superior do anel também foi bem reproduzida pelo
modelo. Tal deslocamento é provocado pelas deformações térmicas do pistão, que inclinam o
canalete; no caso estudado (motor diesel, regime de plena carga) efeitos de desgaste do
canalete e inclinação do anel foram insignificantes na determinação do perfil do 1º anel. Mas,
diferentemente do verificado experimentalmente, o ângulo previsto pelo modelo assume um
valor constante desde as 1as interações, enquanto que a parte desgastada do anel apresentava
uma inclinação bem menor na 1ª desmontagem do ensaio (100 h). Lembrando que nenhuma
tentativa foi feita para prever-se o valor exato de remoção de material, vale a pena comparar
a evolução da taxa de desgaste radial prevista com a real; para tanto foi arbitrado
corresponder o valor de desgaste obtido após 500 interações com o verificado após 750
horas de ensaio, conforme mostrado na fig.6.2. Enquanto que a taxa prevista de desgaste
radial é praticamente constante desde o início, a taxa real foi relativamente maior até 250
horas. A maior taxa relativa prevista pelo modelo para o final do processo, possivelmente
está relacionada à menor sustentação hidrodinâmica, que o perfil desgastado calculado
apresenta em relação ao experimental. Outro possível efeito é a modificação de rugosidade
admitida no modelo, cujo valor limite (0,1 :m, após “amaciamento”) permaneceu superior ao
medido.
No caso estudado, o perfil de desgaste previsto pelo modelo foi pouco sensível a introdução
de rotação no anel. Isso provavelmente é devido ao fato de que o pistão considerado tem
pouca variação de inclinação no intervalo próximo aos 360o do virabrequim (vide fig. 5.17),
onde ocorre a maior parte do desgaste do 1º anel e seu perfil é definido. Num pistão, ou
condição de operação do motor, que apresentasse uma alteração de inclinação nessa região,
a rotação do anel produziria um perfil mais arredondado.
162
0
2
4
6
8
10
12
0 2 5 0 5 0 0 7 5 0
horas de ensaio
des
gas
te r
adia
l (um
)
100 200 300 400 500interações
experimentalmodelo
Outras causas, para o arredondamento do perfil, não abordadas pelo modelo, podem incluir
algum desgaste abrasivo pelas próprias partículas de desgaste, e o fato de que as condições
de funcionamento durante o ensaio sempre apresentam alguma variação aleatória em torno de
valores médios, enquanto que o modelo considerado foi determinístico.
Fig.6.2- Comparação da taxa de desgaste radial prevista pelo modelo com a obtida
experimentalmente.
163
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0 100 200 300 400 500
interações
desg
aste
rad
ial p
revi
sto
(um
) 1c2c3c
Mesmo sujeitos à cargas menores que o 1º anel, o modelo previu um maior desgaste radial
para os anéis de 2º canalete e de óleo (vide fig.6.3). Esse maior desgaste foi também
observado no ensaio, embora com razões maiores que as previstas (vide tabela 6.1).
Tabela 6.1- Desgaste radial (:m) dos anéis após 750 horas
experimental previsto
anel ) radial razão com
o 1º anel
) radial razão com
o 1º anel
2º anel 18 2,0 10,7 1,3
anel de óleo 43 4,8 19,1 2,4
Fig.6.3- Desgaste radial previsto para o pacote de anéis.
164
O desgaste previsto para o cilindro corresponde qualitativamente ao verificado no ensaio,
embora os baixos valores não permitam uma determinaçào experimental precisa. No entanto,
quando se avalia o perfil de rugosidade inicial do cilindro (fig.5.9) e os perfis após 750 h
(fig.5.29) observa-se que os valores previstos de desgaste para o cilindro são bastante
representativos. Vale lembrar também que o cilindro é desgastado pelo contato com o pistão,
o que deve explicar as áreas espelhadas fora da região do PMS do 1º anel (vide fig.5.28), o
efeito do pistão não é considerado no modelo.
Para efeito desta discussão foi simulado um caso, idêntico ao do capítulo 5, mas sem
endurecimento do cilindro na região de PMS. A fig. 6.4 compara o desgaste previsto para o
cilindro nos 2 casos. O modelo previu que um cilindro não endurecido teria desgaste cerca de
duas vezes maior na região do PMS, o que justifica a adoção desse tratamento térmico, pelo
menos no caso estudado.
O desgaste reduz as pressões de contato rugoso, embora podendo gerar perfis
hidrodinâmicamente inadequados; o modelo prevê que o anel de 2º canalete tem sua taxa de
desgaste aumentada após 200 interações, uma vez que o perfil desgastado cônico do anel
afeta as pressões de contato rugoso. A previsão das pressões de contato rugoso durante a
vida do motor podem ajudar muito no estudo do scuffing, embora isto não tenha sido
tentado no presente trabalho.
165
- 1 6 5
- 1 5 0
- 1 3 5
- 1 2 0
- 1 0 5
-90
-75
-60
-45
-30
-15
0
0 1 2 3
desgaste ( u m )d
istâ
nci
a ao
to
po
(m
m)
d0
d 1 0
d 5 0
d100
d200
d300
d400
d500
-165
-150
-135
-120
-105
-90
-75
-60
-45
-30
-15
0
0 1 2 3 4 5
Desgaste (um)
Dis
tânc
ia a
o to
po
(mm
) w0
w10
w50
w100
w200
w300
w400
w500
Cilindro endurecido no PMS Dureza superficial constante
Fig.6.4- Valores previstos de desgaste radial, para o cilindro endurecido a região do PM
versus um com dureza superficial constante.
Embora macroscópicamente reproduzindo de maneira geral a evolução do perfil desgastado
do anel, pelo menos três grandes limitações são observadas no modelo desenvolvido:
1- sob ação das altas pressões de contato rugoso previstas, as propriedades microscópicas
tanto das superfícies em contato, quanto do lubrificante devem ter importância considerável.
O papel tribológico dos filmes de óxido superficiais, dos aditivos EP (Extrema Pressão) do
lubrificante, das partículas duras presentes na matriz dos materiais etc., não são considerados
pelo modelo.
2- é improvável que ocorram diferenças tão significativas de espessura de filme de óleo, entre
166
as posições TS e ATS do anel, como as previstas pelo modelo. O maior desgaste no lado
com menor espessura de filme de óleo e a rotação do anel tenderiam a produzir um sistema
mais uniforme do que o previsto pelo modelo.
3- o modelo foi incapaz de prever bordas arredondadas na superfície deslizante, como as
usualmente verificadas em anéis, mas também em outras peças deslizantes em geral.
Quanto à 1ª limitação, parece ao autor que o Estado da Arte e os recursos computacionais
disponíveis ainda não permitem o desenvolvimento de um modelo que considere tanto os
aspectos macroscópicos quanto os que ocorrem a nível praticamente molecular para um
sistema mecânico complexo quanto o de anéis de pistão em funcionamento, pelo menos não
sem o trabalho de uma grande equipe multi-disciplinar. Quanto às outras duas limitações,
ambas parecem ser oriundas de simplificações do modelo que serão discutidas a seguir:
- o modelo considera que o motor funciona exclusivamente num determinado regime, o que
na prática não acontece. O funcionamento do motor é interrompido e partido periodicamente;
a maioria dos ensaios é cíclico, etc., de modo que a inclinação que o anel faz contra a parede
do cilindro se altera com essas mudanças de regime o que levaria a formação de perfis
diferentes. O perfil final é o resultado de diferentes inclinações, e portanto mais arredondado,
com bordas menos pronunciadas que as previstas pelo modelo. Esse perfil mais
“arredondado” é menos sensível às diferentes posições em relação ao plano do pino, como
previsto por exemplo para o anel quando novo. Para investigar o funcionamento em
condições variadas de operação, simulou-se um caso fictício e de certo modo artificial, onde
a cada 10 interações, uma tinha o ângulo de inclinação do canalete zerado no momento da
combustão, partindo e retornando suavemente ao seu valor original (0,30º ) ao longo dos
720º de virabrequim da interação. A fig.6.5 compara o perfil desgastado do 1º anel, após
500 interações para esse caso fictício com o previsto no capítulo 5. A variação da inclinação
167
do canalete produziu um perfil mais parecido com o verificado no ensaio, com um patamar
próximo à borda inferior. Esse novo perfil é menos sensível às posições de TS e ATS,
produzindo espessuras de filme mais uniformes (vide fig.6.6) do que o perfil desgastado sob
regime constante (vide fig.5.39).
168
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1 0
0 2 0 4 0 6 0 8 0 100
misto
z 1 _ 5 0 0
regime variável
regime constante
z (µ
m)
face do anel (% da altura)
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
0 90 180 270 360 450 540 630 720
ang. do virabrequim
Hm
(um
)
TS
ATS
Fig.6.5- Comparação do perfil desgastado do 1º anel, após 500 interações, regime constante
e regime variável de operação.
Fig.6.6- Espessura de filme de óleo, entre o 1º anel e a parede do cilindro, perfil desgastado
sob regime variável, após 500 interações.
169
7- CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
1- O modelo desenvolvido contribui de maneira significativa para uma melhor compreensão
do fenômeno de desgaste em anéis de pistão. Apesar da complexidade do fenômeno, foi
possível modelar os aspectos fundamentais de carregamento, sustentação hidrodinâmica e
contato rugoso, os quais permitem entender o desgaste tanto ao longo de um ciclo do motor,
como ao longo da vida útil dos anéis. O modelo pode ser estendido, sem grandes
dificuldades, para outras superfícies deslizantes.
2- O modelo de Greenwood-Williamson, acoplado à programa de simulação de anéis, foi
capaz de prever com razoável precisão a evolução do perfil desgastado do anel de 1º
canalete. Os valores previstos de desgaste radial para os demais anéis do pacote e para o
cilindro também corresponderam razoavelmente aos valores obtidos experimentalmente.
3- O perfil desgastado do 1º anel é definido principalmente pela geometria instantânea do anel
/ cilindro. Essa geometria, por sua vez, é determinada fundamentalmente pela inclinação do
canalete devido às deformações térmicas e mecânicas. No caso estudado, os efeitos de
desgaste no canalete, inclinação do anel etc., não foram significativos.
4- A compreensão da distribuição de pressões de contato e distribuição de danos na face do
anel ao longo do curso do pistão, abre a possibilidade para otimizações, via simulação
numérica, do projeto do anel. Perfis visando uma maior durabilidade e menor suscetibilidade
à falhas como scuffing podem ser investigados.
170
Como sugestões de trabalhos futuros podemos mencionar:
1- A utilização do modelo desenvolvido em diferentes condições de operação de motores,
não só para melhor avaliar o potencial do modelo como também para otimizar o projeto de
anéis / pistão.
2- O equacionamento e inclusão no modelo de sustentação hidrodinâmica, do efeito de
redução de densidade e viscosidade do óleo devido o aumento de temperatura (“thermal
wedge”). Para filmes lubrificantes tão finos como os calculados e submetidos a altas razões de
cisalhamento, esse efeito pode ser significativo. Sua inclusão poderia permitir uma predição
mais realista das condições tribológicas dos anéis. Da mesma maneira, o efeito da redução de
viscosidade devido altas razões de cisalhamento (“shear thinning”) precisaria ser considerado,
especialmente para o anel de óleo que opera com filmes de lubrificante muito finos, mesmo
nos pontos de máxima velocidade.
3- Uma melhor caracterização da superfície rugosa, seja através da obtenção experimental
dos dados de entrada do modelo de Greenwood, seja pelo desenvolvimento de metodologias
que diferenciem os “picos” dos “vales” de uma superfície rugosa, utilizando parâmetros como
Rpk e Rvk, de modo a eventualmente distinguir a espessura do filme para efeitos
hidrodinâmicos, da espessura para efeitos de contato rugoso.
4- A obtenção de valores experimentais, através de ensaios em bancada, do coeficiente de
desgaste da equação de Archard, para as diferentes condições tribológicas encontradas ao
longo do curso do pistão, permitiria não só validar o modelo desenvolvido, mas também
predizer as taxas de desgaste esperadas no motor. Isso possibilitaria, por exemplo, prever a
171
variação esperada de desgaste com o aumento da potência do motor ou de sua temperatura
de funcionamento.
5- A inclusão no modelo da distribuição dos valores calculados, através de abordagens
estatísticas como as citadas em McCOOL (1988), por exemplo, possibilitaria a investigação
das pressões de contato extremas, que são relevantes na ocorrência de falhas em operação.
6- A predição do aumento local de temperatura (“Flash temperature”) pelo deslizamento com
contato rugoso e de sua influência no óleo lubrificante (redução/aumento da viscosidade,
degradação devido oxidação etc.) e na superfície (dilatação térmica da aspereza, oxidação
etc.), poderia ajudar a esclarecer a ocorrência de scuffing.
172
8- REFERÊNCIAS
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177
ANEXO I - COEFICIENTE DE DESGASTE
Quando duas superfícies em contato deslizam uma sobre a outra, uma delas ou ambas sofrem
desgaste. Este tipo de desgaste é usualmente modelado pela chamada equação de Archard.
Pela sua importância e pela definição do coeficiente de desgaste K, uma explicação mais
detalhada é dada neste anexo. A explicação segue em linhas gerais o capítulo 5 do livro texto
de HUTCHINGS (1992). O modelo de Archard parte do princípio que o contato entre
corpos ocorre onde as asperezas se tocam e que a área real de contato é a soma das áreas
individuais de contato entre as asperezas. Esta área é praticamente proporcional à carga
aplicada e pode ser admitido que para a maioria dos contatos entre metais a deformação das
asperezas é plástica. Admite-se que as asperezas tem formato esférico quando vistas de cima.
Assim, quando duas asperezas estão em contato e alinhadas, a carga normal (δW) suportada
por este contato é:
δW = P . π . a2 (I .1)
onde P : tensão de escoamento para a aspereza deformada plasticamente
a : raio da área de contato
Com o deslizamento entre as duas superfícies, a carga suportada por este contato é
transferida progressivamente para o contato entre duas outras asperezas que estão em
processo de contato em algum outro lugar da superfície. Com a continuidade do
deslizamento, novos contatos são continuamente formados e desfeitos. O desgaste por
deslizamento é devido ao destacamento de material destas asperezas. O volume de cada um
178
1 Hutchings considera que P = H e um fator de proporcionalidade 1/3 para chegar na
mesma equação.
Q = K . W / H
destes destacamentos depende do tamanho da junção entre asperezas da qual este material
se originou. Admite-se que o volume de material removido, δV, em cada arrancamento é
proporcional ao cubo do raio de contato a, e se admite arbitrariamente que este volume pode
ser considerado igual ao de uma semi-esfera de raio a. Embora esta última hipótese não
implique que as partículas de material removido sejam esféricas.
δV = 2 . π . a3 / 3 (I .2)
Nem todos os contatos entre asperezas geram remoção de material. Vamos denominar de K
a fração de contatos que geram remoção. Deste modo, a taxa de volume de material
removido por unidade de distância, δQ, entre duas asperezas é dada por:
δQ = K . δV /(2 . a) = K . π . a2 / 3 (I .3)
e o volume total é a soma das contribuições sobre toda área real de contato:
Q = Σ δQ = K/3 Σ π . a2 (I .4)
a carga total de contato é dada por
W = Σ δW = P Σ π . a2 (I .5)
Portanto: Q = K . W / (3 . P) (I .6)
Considerando que a pressão P de contato plástico é igual á dureza do material mais mole
dividido por aproximadamente 3 temos1:
(I .7)
179
2 Neste caso preferiu-se manter a nomenclatura adotada pelo autor. Ao longo da tese, este tipo
de desgaste é denominado “por deslizamento”. Rabinowicz denomina o desgaste adesivo ultra moderado
de “burnishing” e o caracteriza pela remoção de material em escala molecular.
O coeficiente de desgaste, K, é adimensional e sempre menor que 1. Ele é muito usado por
ser simples e por dar uma indicação da severidade do desgaste. Embora no modelo de
Archard este coeficiente tenha o significado de ser a fração (ou probabilidade) de contatos
entre asperezas removendo material, o coeficiente K pode, e é também entendido com outros
significados, por exemplo, o inverso do número de ciclos de deformação necessários para
uma partícula ser removida por fadiga. A tabela I.1 fornece os valores típicos do coeficiente
de desgaste K para diversos sistemas tribológicos. RABINOWICZ (1984).
Tabela I.1- Valores Típicos do coeficiente de desgaste
RABINOWICZ, 1984
adesivo2 abrasivo corrosivo por fratura desuperfície
10 -3 a 10 -7 10 -2 a 10 -5 10 -2 a 10 -5 10 -4 a 10 -8
Fig.II.3- Perfil de rugosidade, após filtragem numérica, cilindro quando novo, direção
longitudinal.
Fig.II.4- Trecho do perfil anterior (fig. II.3), trazido agora para uma mesma ampliação nos
dois eixos.
189
A tabela II.4 mostra alguns valores calculados pela regra acima, bem como a diferença de F
com os valores de Rq medidos pelo equipamento. Embora os valores de F tenham
concordado razoavelmente com os medidos, os de 0 diferem em uma ordem de grandeza
dos medidos. Tentou-se também o cálculo das derivadas por 5 pontos, mas os valores
obtidos não foram muito diferentes dos apresentados com 3 pontos e essa tentativa de se
calcular os parâmetros de GW foi abandonada, optando-se por adotar no modelo os valores
de ARCOUMANIS et al (1997).
Tabela II.4- Valores Calculados a partir do perfil de rugosidade
cilindro dir m0 m2 m4
F
(:m)
0
109 m-2
$
(:m)
F $ 0
calc calc/med
calc calc calc
novo L 0,7854 0,0150 0,00370 0,89 1,10 7,57 10,93 0,07
T 0,7208 0,0050 0,00098 0,85 1,27 6,07 21,21 0,11
1/2
curso
L 0,5129 0,0125 0,00308 0,72 1,08 7,55 11,98 0,07
T 0,5346 0,0050 0,00190 0,73 1,14 8,46 17,91 0,11
Pela sua importância na caracterização de superfícies rugosas, sugere-se como trabalho futuro
o desenvolvimento de técnicas para obtenção dos parâmetros de G-W, o que parece
envolver principalmente a aquisição do perfil de rugosidade com maior resolução.
190
ANEXO III - Programa fonte para cálculo das pressões rugosas e subrotinas deacumulo de dano e remoção de material.
Program GW_model;(* modelo de GW para um perfil lubrif. deslizando *)(* autor: Eduardo Tomanik - [email protected] *)
USES CRT, DOS; (* Units do urbo Pascal *){$I-} { Disable I/O checking }{$R+} { Enable range checking }
Const dh_dt= 0; (* nao considera efeito squeeze *) Np= 100; (* numero de pontos no perfil *) maxt_ext= 20; maxt_int= 5;Type St20= string[20]; St7= string[7];VAR Preal: single; dt: integer; tx, (* dist na altura do CG ao top *) ty (* dist do CG ao pto mais saliente da face de ctato *) : single; frot: array [1..Np] of double; twist: single; minf: real; nomearq: string; PH, PGW: Array [1..Np] of single; face: array [1..100,1..3] of real; (* i= 1 bottom, i= Np top *) (* face[i, 1]: abaulado [um] face[i, 2]: standard deviation of the summits [um] face[i, 3]: dano acumulado *) SAE: word; Temp_oleo: single; arq_i, arq_o: text; i: integer; converg, R, carga, F_gw, b, (* altura *) Vp: single; t_ext, t_int, g,v: integer; hmin: double; pin, po, FatH, (* Forca de atrito hidrodinamico *) FatB (* Forca de atrito Boundary *) : single; sok: string; ok: char; maxhm, (* lim. superior, menor filme com R < carga aplicada *) minhm (* lim. inferior, maior filme com R > carga aplicada *) : double;
191
h_area, diam, GWlimit, (* 3 ou 4 sigma *) Ss, (* Sigma dos summits *) beta, (* raio dos summits *) DSUM, (* densidade dos summits por m2 *) E, (* E composto *) Y, (* modulo de ruptura *) GW, (* Cte fora da integral F1.5 de Greenwood e Williamson *) mu_B, (* coef. de atrito Boundary *) wp, (* dist para plastico, vide McCool pag. 44 *) Ac_A0, (* razao Actato/A aparente *) Ap_Ac (* razao Aplast/A aparente *) : single; li, ls, (* limites p/ hm *) mu0, (* nominal viscosity *) muP (* viscosity corrected by pressure index *) : single; VSR: double; (* very small Roughness, convergence limit *) conv: boolean; tent (* num. de tentativas p/ equilibrar a Res *) : integer;(* ---------------------------------------------------------------- *)Function POW(A,B : single) : single; (* A elevado a B *)begin if a=0 then POW:= 0 else if a<0 then POW:= -exp(b*ln(-a)) else POW:= exp(b*ln(a));end;{------------------------------------------------------------------- }FUNCTION ARCSIN (X : DOUBLE) : DOUBLE; BEGIN (* answer returned in radians *) IF X = 1.0 THEN ARCSIN := Pi / 2.0 ELSE IF X = - 1.0 THEN ARCSIN := Pi / - 2.0 ELSE ARCSIN := Arctan(X / Sqrt(1.0 - Sqr(X)))END;{------------------------------------------------------------------- }Function Viscosidade (grade: shortint; T: single): single;(* Vogel equation, T em C, visc. em Pas.s *)
Const a: array [2..5] of single = (4.987, 2.37, 2.37, 1.963); b: array [2..5] of integer = (1028 , 1361, 1396, 1518 ); c: array [2..5] of single = (108 , 123, 121.7, 122.6);VAR gi: shortint;begin gi:= grade div 10; viscosidade:= a[gi]*1E-5*exp(b[gi]/(T+c[gi]));end;{------------------------------------------------------------------- }Procedure Phidro (anel, ang: integer; Vp, Pin, Po, Carga: single;
192
VAR Fat: single; VAR hmin: double);VAR Hmean, (* aux. para calc das integrais *) c1, c2 (* ctes de integracao *) : double; i: integer; wet_perc, (* % molhada (Ph>1 bar) para correcao pela Pressao *) Fatw (* Fat wedge *) : single; I1, I2, I3: array [1..Np] of single; (* integrais *)(*-----------------------------------------------------*)Function Calcula_alfaP(grade: shortint): double;(* indice de corr. da viscosidade pela pressao, alfa em Pa-1 *)Const a0: array [2..5] of single = (113.4, 229.3, 321.7, 574.7);VAR gi: shortint;begin gi:= grade div 10; Calcula_alfaP:= (0.6 + 0.965*ln(a0[gi])/ln(10))*1E-8;end;(* ---------------------------------------------------------------- *)Function Pres_Ef (P: single): single;VAR aux: single; begin Pres_Ef:= exp(Calcula_alfaP(SAE)*P);end;(*----------------------------------------------------*)Procedure Somatorias;VAR i: integer; x: double;begin I1[1]:= 0; I2[1]:= 0; I3[1]:= 0; (* Integrais de x= 0 ate'0 = 0 *) for i:= 2 to Np do begin (* hmin + face[i,1,g] é o filme no pto i *) HMean:= hmin + (frot[i]+frot[i-1])/2; I1[i]:= I1[i-1] + (b/Np)*1/Sqr(HMean); x:= b*(i-1)/Np; (* pos ao longo do anel, i= 1 > x= 0 *) I2[i]:= I2[i-1] + (b/Np)*x/pow(Hmean,3); I3[i]:= I3[i-1] + (b/Np)*1/pow(Hmean,3); end;end;
Function Px (k: byte): single; (* PH = f(x) segundo Reynolds *)VAR aux: single;begin aux:= -6*muP*Vp*I1[k] + 12*muP*dh_dt*I2[k] + c1*I3[k] + c2; if aux <= 0 then Px:= 0 (* dPx/dx tambem *) else Px:= aux;end;
(*==================== Procedure Phidro====================*)begin Somatorias; c2:= Pin; INC(t_int); wet_perc:= 1; (* para evitar dividir por zero da 1a vez*)
193
if t_ext>1 then (* no inicio PH=0 *) begin wet_perc:= 0.0; for i:= 1 to NP do if Ph[i]>1E5 then wet_perc:= wet_perc+1/Np; end; if (wet_perc= 0) then wet_perc:=1; muP:= mu0*Pres_Ef((Carga-F_gw)/(wet_perc*H_area)); (* admite uma correcao da viscos ao longo de todo anel, usando como
Pmedia a Phidro calculada na interacao anterior *) R:= 0.0; c1:= (Po - Pin + 6*muP*Vp*I1[Np]- 12*muP*dh_dt*I2[Np])/I3[Np]; for i:= 1 to Np do (* Res por unidade de comprimento *) begin PH[i]:= Px(i); R:= R + PH[i]*H_area/Np; end; (* Calculo da Forca de Atrito *) FatH:= 0.0; Fatw:= 0.0; if (hmin-Ss) > Ss/20 (* criterio de convergencia *) then begin (* atrito hidrodinamico *) for i:= 1 to Np do (* simplif: Fat nao tem correcao por P *) Fatw:= Fatw -mu0*Vp*(b/Np)/(hmin + frot[i]); FatH:= (Fatw)*diam*pi; (* calc por unidade de perimetro *) end else if Vp>= 0 then FatB:= FatB; (* inverte o sinal *) write(' h: ',hmin*1E6:6:3,' ',chr(230),'m > R:',R:5:0,' Fat:',(FatH+FatB):3:0); write(' > f: ',abs((FatB+FatH)/(R+F_gw)):3:2,' F_gw: ',F_gw:5:0); gotoxy(70,whereY); writeln((R+F_gw)/Carga:5:2,' '); end;(* ---------------------------------------------------------------- *)Function F0(t: double): double;beginif t<3 then F0:=-7.97644E-5*pow(t,6)+4.70151E-3*pow(t,5)-3.93940E-2*pow(t,4) +1.10974E-1*pow(t,3)-2.26998E-2*pow(t,2)-3.94608E-1*t+4.99873E-1 else F0:= 111.24*exp(-3.7522*t);end;(* ---------------------------------------------------------------- *)Function F1(t: double): double;beginif t<3 then F1:= -7.163e-4*pow(t,6)+7.86431e-3*pow(t,5)-2.83941e-2*pow(t,4) +9.21055e-3*pow(t,3)+1.95747e-1*pow(t,2)-4.99283e-1*t+3.98891e-1 else F1:= 62.041*exp(-3.9792*t);end;(* ---------------------------------------------------------------- *)Function F3_2(t: double): double; (* F3/2*)beginif t<3 then F3_2:=
-5.59306E-2*pow(t,3)+3.2596E-1*pow(t,2)-6.17398E-1*t+4.29964E-1 else F3_2:= 58.788*exp(-4.085*t);end;(* ---------------------------------------------------------------- *)Procedure face_twist(ang: double); (* ang em radianos *)(* face orig, twist, ty. Sai a face apos twist: f_rot[1 to Np] *)(* sentido do anel, twist positivo levanta o anel *)VAR xafter: array [1..Np] of double; x_orig, y, r_cg, max_x_after: double;begin if ang= 0 then for i:= 1 to Np do frot[i]:= face[i,1] else begin max_x_after:= 0; for i:= 1 to Np do begin y:= i*b/(2*Np); x_orig:= ty-face[i,1]; r_cg:= Sqrt(Sqr(x_orig)+Sqr(y)); xafter[i]:= r_cg*cos(ang + arcsin(y/r_cg)); if xafter[i]>max_x_after then max_x_after:= xafter[i]; end; for i:= 1 to Np do frot[i]:= (max_x_after-xafter[i]); end;end;(* ---------------------------------------------------------------- *)Procedure Entra_Dados;VAR lixo: integer; alt: array [1..Np] of single; (* tem no arq mas nao e'usado *)begin assign(arq_i,'gw2_in.txt'); reset(arq_i); readln(arq_i,diam); (* diam do motor, m *) readln(arq_i,b); (* altura do anel *) readln(arq_i,SAE,Temp_oleo); (* oil grade, Tempewrature *) if (SAE <20) or (SAE>50) then begin writeln('version use only SAE grade between 20 and 50 '); writeln('program will terminate, change input data'); end; mu0:= viscosidade(SAE,Temp_oleo); readln(arq_i,Gwlimit); (* hmin/sigma lim do ctato rugoso *) readln(arq_i,Ss); (* Sigma dos summits *) readln(arq_i,beta); (* raio dos summits *) readln(arq_i,Dsum); (* densidade dos summits por m2 *) readln(arq_i,E); (* E composto *) readln(arq_i,Y); (* tensao de ruptura *) readln(arq_i,mu_B); (* Boundary Friction Coef. *) readln(arq_i,hmin); (* chute inicial de Hm *) close(arq_i); ClrScr; write(' nome do arq. com o perfil ?');readln(nomearq); assign(arq_i,nomearq); reset(arq_i);
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for i:= Np downto 1 do (* invertido pque no arq. 1o pto é o top *) begin readln(arq_i,lixo,alt[i],face[i,1]); (* no arq. tem o i p/ facilitar conferencia *) face[i,1]:= face[i,1]*1E-6; face[i,2]:= SS; face[i,3]:= 0; end; close(arq_i); ty:= 2E-3; (* na versao completa depende da radial do anel *) F_gw:= 0; GW:= (4/3)*DSUM*E*Sqrt(beta)*pow(Ss,3/2); h_area:= 2*Diam*pi*b; (* area do anel *) write(' Pressao? (100 bar (10^5Pa)) '); readln(sok); g:= 0; repeat if sok='' then carga:= 100 else val(sok,carga,g); until g=0; carga:= carga*1e5*h_area; (* bar em Pa, pressao em forca *) pin:= 0; po:= 0; (* P atmosferica, na verao completa varaia *) repeat write(' Vpistao? (1 m/s) '); readln(sok); if sok='' then vp:= 1 else val(sok,vp,g); until g=0;end;(* ---------------------------------------------------------------- *)Procedure Calc_GW (hmin,Ss: double; carga: single; Var F_gw,Fat_gw:single);VAR i, (* contador do indice da face, 1 a Np pontos *) kt (* contador de fatias com contato para calc. do Ac_A0 *) : shortint; Hx, (* dist. do perfil no pto x ao plano *) t (* razao H_x/Ss *) : double;begin F_gw:= 0; FatB:= 0; kt:= 0; Ac_A0:= 0; Ap_Ac:= 0; for i:= 1 to Np do begin Hx:= hmin + frot[i]; t:= Hx/face[i,2]; (* face[i,2] é o Ss combinado *) if t<GWlimit then begin kt:= kt+1; PGW[i]:= GW*F3_2(t); if PGW[i] > 3*Y then PGW[i]:= 3*Y; (* plastic limit *) Ap_Ac:= Ap_Ac + (F1(t+wp)/F1(t))/Np; F_gw:= F_gw + PGW[i]; if Vp <> 0 then FatB:= FatB + mu_B*PGW[i]; Ac_A0:= Ac_A0 + pi * Beta*face[i,2]*DSum*F1(t); end; end;
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Ac_A0:= Ac_A0/kt; (* divide só pelas fatias que tivera ctto *) F_gw:= F_gw*h_area/Np; FatB:= FatB*h_area/Np; if Vp>0 then FatB:= -FatB; (* atrito eh sempre contrario a V *)end;(* ---------------------------------------------------------------- *)PROCEDURE INICIO;VAR i: integer;begin VSR:= Ss/100; (* minimo p/ conv., aliviado se nao tiver ctato *) if carga/100 <= 1 then converg:= 1 else converg:= carga/100; g:=1; conv:= false; li:= 0.75*hmin; ls:= 1.25*hmin; minhm:= 0; maxhm:= 50*1E-6; wp:= 6.4*(Beta/Ss)*pow(Y/E,2); (* plastic compliance *)end;(* ---------------------------------------------------------------- *)begin Entra_Dados; Inicio; write(' ang. de twist (em graus )? '); readln(twist); twist:= pi*twist/180; (* converte para radianos *) conv:= false; t_ext:= 0; face_twist(twist); (* calc. o abaulado rotacionado *) repeat (* tent. ext *) INC(t_ext); t_int:= 0; repeat (* tent. int *) if (hmin/Ss) < GWlimit then Calc_GW(hmin,Ss,carga,F_gw,FatB); if (Vp <> 0) AND (mu0<>0) (* Phidro(anel, ang, Vpistao, Pi, Po, Carga, VAR: Fat,hmin) *) then Phidro(1, 2, Vp, Pin, Po, Carga, FatH, hmin) else R:= 0; if abs(R-(carga-F_gw))<converg then conv:= true else begin if R>(carga-F_gw) then begin li:= hmin; minhm:= li; end else begin ls:= hmin; maxhm:= ls; end; hmin:= (ls+li)/2; end; until (t_int>maxt_int) or (ls-li<=VSR) or (conv=true); if (R>(carga-f_gw))
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then begin li:= hmin; ls:= 1.25*hmin; if (ls>maxhm) then ls:= maxhm; end else begin li:= 0.75*hmin; ls:= hmin; if (li<minhm) then li:= minhm; end; if ((maxhm-minhm)<=VSR) and (ABS(R-(Carga-F_gw))<0.01*(Carga-F_gw)) then begin conv:= true; writeln(chr(7),' CONVERGIU: Hm varia < 0.01 e R < 1%'); delay(1000); end; until (t_ext>maxt_ext) or (conv=true); if conv=false (* se nao convergiu assume (maxHm+minHm)/2 *) then begin Hmin:= (maxhm+minhm)/2; gotoxy(3+8*g+(g-1),16); write(' *',R:6:0); gotoxy(3+8*g+(g-1),17); write(' ',hmin*1E6:5:2); end; if Ac_A0>0 then Preal:=(f_gw/h_area)/(Ac_A0*1e9); assign(arq_o,'gwi_out.txt'); (* arquivo de resultados *) rewrite(arq_o); write(arq_o,'Greenwood & Williamson Model '); writeln(arq_o,' ang. de twist= ',twist*180/pi:4:2); writeln(arq_o,'D=',diam*1e3:5:1,' b=',b*1e3:3:1,'mm visc:',mu0:5:3,'Pa.s P_corr: ',(muP/mu0-1)*100:2:0,'%'); write(arq_o,'E: ',E/1e6:7:0,'N/mm2 Y= ',Y/1e6:7:0,' N/mm2'); writeln(arq_o,' Ss: ',Ss*1e6:3:2,'um Beta:',beta*1e6:5:0,'umDens:',DSum/1e9:4:0,'E9/m2'); writeln(arq_o,'Vp: ',Vp:5:3,'m/s P:',(Carga/h_area)/1e5:8:1,'E5 Pa(=bar) '); write(arq_o,' > H: ',R/carga:3:2,' B: ',F_GW/Carga:3:2); write(arq_o,' Hmin: ',Hmin*1e6:3:2,'um '); write(arq_o,' Ac/A0: ',100*Ac_A0:4:2,'% Pr= ',Preal:5:3,'GPa'); writeln(arq_o,' Ap/Ac:',100*Ap_Ac:3:1,'%'); writeln(arq_o,' i PH(MPa) PRug ab(um) abtw SS(um) '); for i:= 1 to Np do (* Pressoes em MPa *) begin write(arq_o,i:5, PH[i]/1e6:10:2, PGW[i]/1e6:10:2); write(arq_o,face[i,1]*1E6:9:2, frot[i]*1E6:9:2,face[i,2]*1E6:9:3); writeln(arq_o,' '); end; close(arq_o);end.
(* ------------- fim do programa simplificado --------------------- *)
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Procedure Acumula_dano;
VAR i : integer; vm, (* velocidade "media", na verdade mediana, no trecho *) cte, ds : double;begin vm:= (Velocity(curso,2*pi*rpm/60,teta,rp^.prev^.ang)+vel)/2; ds:= ABS(vm)*dt; cte:= b[g]/(Npc*dxB); (* razao comp. do anel / compr do cil *) for i:= 1 to Np do if PGW[i,g] > 0 then begin (* dano no cilindro *) (* posicao do cil. acima do anel *) D_inst[0,rp^.ic[g]-1]:= D_inst[0,rp^.ic[g]-1]+ acel_wear*
case wear_law[g] of (* Archard *) 1: begin face[i,3,g]:= face[i,3,g]+ acel_wear*(PGW[i,g]/Y[g])*ds; D_inst[g,i]:= D_inst[g,i]+ acel_wear*(PGW[i,g]/Y[g])*ds; end; (* Fatigue *) 2: begin if AP_Ac[i,g]>0 then face[i,3,g]:= face[i,3,g]+ acel_wear*AP_AC[i,g]*Sqr((PGW[i,g]/AC_A0[i,g])/Y[g])*ds; end; end; (* case *) end; (* PGW > 0 *)
end;{--------------------------------------------------------------------}Procedure Remove_material;CONST remocao= 0.01E-6; (* 1/100 de micro por remocao *)VAR minf: double;begin (*---------------------- Desgaste no cilindro ---------------------*) for i:= 0 to Npc do begin (* bore *) if bore.dano[i]> dano1 then (* redução da rugosidade *) begin bore.rug[i]:= 0.99*bore.rug[i];
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if bore.rug[i]<0.1E-6 then bore.rug[i]:= 0.1E-6; while (bore.dano[i]> dano2) do begin bore.wear[i]:= bore.wear[i] + remocao*1E6; (* 1E6: um > m*) bore.dano[i]:= bore.dano[i] - dano2/2; end; end; end; (* bore *) (*----------------------- Desgaste nos aneis ----------------------*) for g:= 1 to pack do begin for i:= 1 to Np do if face[i,3,g]> dano1 then (* redução da rugosidade *) begin face[i,2,g]:= 0.99*face[i,2,g]; if face[i,2,g]<0.1E-6 then face[i,2,g]:= 0.1E-6; (* Min Rq *) while (face[i,3,g]> dano2) do begin face[i,1,g]:= face[i,1,g]+remocao; face[i,3,g]:= face[i,3,g]-dano2/2; end; end; (* dano1 *)
minf:= 1000; (* calculo do perfil desgatado *) for i:= 1 to Np do (* acha o pto mais externo do abaulado *) if face[i,1,g]<minf then minf:= face[i,1,g]; if minf>0 then begin for i:= 1 to Np do (* abaixa todos os ptos deste tanto *) face[i,1,g]:= face[i,1,g]-minf; (* pto extremo= zero de perfil*) gap[g]:= gap[g] + 2*pi*minf; (* novo valor do gap *) end; end; (* g *)end;