UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO INGRID NOGUEIRA SOARES UM DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA ITINERANTE E NATUREZA: ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO NÔMADE PROJETO CASULO Natal – RN Novembro DE 2015
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
INGRID NOGUEIRA SOARES
UM DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA ITINERANTE E NATUREZA:
ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO NÔMADE
PROJETO CASULO
Natal – RN
Novembro DE 2015
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INGRID NOGUEIRA SOARES
UM DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA ITINERANTE E NATUREZA:
ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO NÔMADE
PROJETO CASULO
Trabalho final de graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Autora: Ingrid Nogueira Soares
Orientadora: Profª Maísa Fernandes Dutra Veloso
Natal – RN
Novembro de 2015
Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte / Biblioteca Setorial de Arquitetura.
Soares, Ingrid Nogueira.
Um diálogo entre arquitetura itinerante e natureza: anteprojeto de uma
habitação nômade, Projeto Casulo / Ingrid Nogueira Soares. – Natal, RN,
2015.
89f. : il.
Orientadora: Maísa Fernandes Dutra Veloso.
Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura.
1. Habitação – Natureza – Monografia. 2. Arquitetura – Baixo
I. Veloso, Maísa Fernandes Dutra. II. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE15 CDU 728.1
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Agradecimentos
Aos meus pais e irmão, meu porto seguro, aqueles que me conhecem só por um olhar.
Obrigado pelo apoio sempre.
À Liu, presente que a vida me deu.
Aos meus avós e a toda a minha família, em especial ao meu primo Yan, uma parte de mim.
Aos meus amigos de infância, amizade perene.
A Enrico, presença alegre e incentivadora.
À Professora Maísa Veloso, que aceitou me acompanhar durante a elaboração desse trabalho.
Orientadora perspicaz, com atitude e sensibilidade.
À Professora Glauce, que não pensou duas vezes antes de me auxiliar no embasamento
teórico, ao Professor José Neres e a Profa. Edna, pelas assessorias no projeto em madeira; ao
Professor Aldomar, sempre solícito, assim como Alice, Bartira e Bárbara Filipe, queridas.
Ao Professor Eugenio, figura mítica, com quem tive o privilégio de conviver.
À Professora Dulce, por todo o aprendizado que me proporcionou no GEHAU.
Ao sr. Mário, que com seu sorriso generoso faz do galinheiro um lugar ainda mais colorido.
Aos Boêmios, que me fazem sorrir ao refazer a trajetória vivida no curso, em especial à Alinne
(companheira de vida e trabalhos, por quem eu tenho uma admiração enorme), Babina
(generosa e inspiradora), Candido (amigo de outras vidas e também quem me ensinou a
colocar o papel na prancheta), Evane (irmã gêmea e futura sócia), Luiza (dupla perene,
companheira de barracas e outros rocks), Tisbe (vizinha e parceira para todas as horas),
Gabrielle Barros (a flor mais carnívora do meu jardim), Imigrante (que me conquistou com
seu jeitinho de ser e hoje é um fiel escudeiro), Filipe (por todas as crises de riso que ainda
vamos ter) e Carolzinha (pelos abraços nas horas mais certas).
À minha querida amiga Marina Regis, presença ilustre.
Ao Lado B (Fefo, Ray, Babina, Evane, Tisbe e Gabi), horas autoajuda, horas autodestruição,
vocês foram todas as doses que eu precisava para chegar ao fim desse trabalho.
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Ao Galinheiro, porque não? Lugar de personalidade forte, universo paralelo onde habitei.
Um brinde a todos!
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“Quem conhece o solo e o subsolo da vida sabe muito bem que um trecho do muro, um banco, um tapete, um guarda-chuva, são ricos de ideias ou de sentimentos, quando nós também o somos, e que as reflexões de parceria entre os homens e as coisas compõem um dos mais interessantes fenômenos da terra.” (Machado de Assis, Quincas Borba, 1891).
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Resumo
A distância entre o homem moderno e a natureza, somada a banalização da degradação
ambiental, gera, muito frequentemente, uma arquitetura que não leva em consideração o
meio ambiente ou o contexto em que está inserida, questões de grande destaque nos dias
atuais, onde acabam por surgir e se difundir linhas de pensamento que desenvolvem
estratégias para minimizar os impactos da construção civil sobre o meio natural.
Tudo isso ocorre enquanto a globalização e a era digital se intensificam, diminuindo as
"distâncias reais", relativizando fronteiras e aumentando a autonomia dos indivíduos. É nesse
contexto e analisando essas tendências, que o presente trabalho se propõe a projetar uma
estrutura arquitetônica móvel e de baixo impacto ambiental, que possa abrigar pessoas com
o desejo de estarem junto a natureza, possibilitando um contato mais harmonioso entre o
construído, o natural e o homem.
Palavras chave: Natureza, Arquitetura de baixo impacto ambiental, Arquitetura portátil
Abstract
The distance between modern man and nature, plus the trivialization of enviromental
degradation, generates, very often, an architecture that does not take under consideration
the enviroment or even the context which is in, issues of great importance nowadays. Where
strategies to minimize the damage that construction does to the natural world, eventually
emerge and spread.
All of this occurs while globalization and digital age intensifies, decreasing distances,
relativizing boundaries and increasing individual autonomy. It is in this context and analyzing
these tendencies, that the present paper proposes to project a mobile and of low
enviromental impact architectural structure that is able to shelter people with the desire of
being close to nature, making possible a more harmonious existance between the
exemplares que se relacionam com o momento de rápidas transformações em
que vivemos.
Justifica-se a escolha do referido tema por este se mostrar uma tendência
mundial na construção civil, no design e no cotidiano das pessoas. Estamos nos
referindo a uma geração ciente das questões ambientais e também
intimamente ligada ao versátil, leve, portátil, flexível dente outros adjetivos
buscados por essa vertente arquitetônica em crescimento.
É importante frisar que a relevância desse estudo está em criar possibilidades
adequadas ao contexto em que estamos inseridos, se mostrando uma
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alternativa arquitetônica pautada na reflexão sobre a atual relação do homem
com o meio ambiente. “Falar sobre arquitetura também é um falar sobre o
tempo” (SOCZ, 2009, P.51).
É nesse contexto que o presente estudo se propõe projetar uma estrutura
arquitetônica nômade e de baixo impacto ambiental, com o intuito de abrigar
pessoas que desejam um abrigo junto à natureza, para fins recreativos, de
trabalho ou que simplesmente estejam vivendo um fugere urbem1
momentâneo, possibilitando um contato mais harmonioso entre o construído,
o natural e o homem.
Com o intuito de compreender os princípios de uma arquitetura móvel e
ecológica, analisando referências, materiais e sistemas estruturais condizentes
com o tema, afim de aplicar tais estudos no tipo habitacional a ser
desenvolvido, a metodologia utilizada nesse trabalho incluiu pesquisas
bibliográficas em livros, artigos, sítios eletrônicos, revistas, dentre outros, com
autores nacionais e internacionais, dentre os quais podemos destacar
Dominique Gauzin-Muller (2010) e Eduardo Paz (2008), importantes no
embasamento sobre arquitetura ecológica e arquitetura transitória
respectivamente. Além disso foram consultados professores/profissionais,
fornecedores e instituições relacionados à temática.
A fim de atingir os objetivos definidos, o presente estudo foi divido em quatro
partes: Parte 1, intitulada Referencial Teórico Metodológico e Empírico,
subdivida em dois capítulos: o primeiro, que discorre sobre as relações entre
homem a natureza e a arquitetura, incluindo reflexões sobre a dinâmica
urbano/tecnológica em que vivemos e também sobre arquitetura ecológica.
Temas como arquitetura mínima e arquitetura livre de sítio também são
abordados, instigando um diálogo sobre o efêmero, o nômade e o compacto
em diferentes contextos históricos. O segundo capítulo apresenta o referencial
1 Fugere urbem: Termo em Latim que significa "fugir da cidade", do escritor clássico
Horácio. Fonte = www.soliteratura.com.br
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arquitetônico relacionado aos temas anteriormente expostos, exibindo o
trabalho de escritórios e organizações atuantes na área.
A parte 2 corresponde ao desenvolvimento do projeto arquitetônico, incluindo
o terceiro capítulo, o qual estuda possibilidades de sistemas estruturais, bem
como os pressupostos ambientais e legais que alicerçam o início do projeto. O
quarto capítulo, inicia a concepção projetual, apresentando as formas iniciais,
o partido arquitetônico, o programa de necessidades e estudos formais e
funcionais.
Na parte 3 consta o capítulo 5, o qual expõe o resultado projetual,
apresentando informações sobre a estrutura utilizada, assim como as
esquadrias e vedações, materiais, estratégias de conforto e instalações, além
de apresentar as imagens finais do projeto. A parte 4 finaliza esse estudo,
contendo as conclusões, referências, anexos e apêndices.
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PARTE 1:
REFERENCIAL TEÓRICO
METODOLÓGICO E EMPÍRICO
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Capítulo 1: Relação Homem Natureza e Arquitetura
Fonte: http://vipantoja.tumblr.com/
Figura 1: Introdução de capítulo - Relação Homem Natureza e Arquitetura
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Este capítulo apresenta uma análise sobre as relações entre o homem, a
arquitetura e a natureza, adentrando o universo da arquitetura ecológica e
promovendo uma investigação conceitual e histórica sobre a presença do
efêmero, do nômade e do compacto na arquitetura.
1.1 Natureza, Homem e Arquitetura: Em Busca de Um Diálogo
Harmonioso
Sabe-se que desde os primórdios da existência humana, a proximidade com a
natureza foi intrínseca para a sua sobrevivência, fonte de nutrientes,
ferramentas e abrigo, a natureza participou da evolução humana. Hoje, depois
de tantas transformações ocorridas, essa dependência não diminuiu, o meio
ambiente continua sendo a nossa principal fonte de matéria prima e também
de elementos básicos para a nossa sobrevivência como a água, os nutrientes e
oxigênio, dentre outros.
Um dos temas enfatizados nos acordos internacionais e nas mudanças do clima é precisamente o da construção. Particularmente a civil. Cada vez se percebe melhor a forte demanda que ela exerce sobre recursos naturais (minerais e florestais) e energia (agregada ou inutilizada no processo). Isso obrigará governos e construtores a aprofundar e consolidar uma “cultura previdente”, que precisa ser fundamentada na ciência e na técnica e desenvolver-se, continuamente, nesses parâmetros. E, ao se falar de “ciência”, é preciso ir além das exatas e incorporar as humanas, entre elas as sociais (sociologia, economia, antropologia) e as do indivíduo (biologia e psicologia). Assim, a arquitetura deverá estar voltada para o meio ambiente e o homem, como expressão da inserção humana no ecossistema e na paisagem, no espaço natural e social. (GAUZIN-MÜLLER, 2011, P. 08).
Sendo assim, é válido refletirmos sobre o fato de que o nosso organismo foi
evoluindo nesse meio e que o distanciamento hoje vivenciado pode estar
desfavorecendo a nossa saúde. Nesse sentido, estudos nos mostram que a
nossa saúde está diretamente relacionada com o nosso contato com a
natureza, principalmente quando observamos que o meio natural fortalece
nosso corpo provendo diversos anticorpos necessários para o nosso bem estar.
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Seguindo essa linha de raciocínio, podemos citar o estudo de Ilkka Hanski, da
Universidade de Helsinque, divulgado no site da BBC2, o qual aponta que a
pouca exposição à natureza por parte dos moradores de áreas de urbanização
intensa, pode estar relacionada com o aumento da propensão a doenças como
alergias e asmas, sugerindo a preservação de áreas naturais fora de áreas
urbanas bem como um planejamento de cidades que inclua uma infraestrutura
verde.
A modernidade ocidental, revestida de uma crescente racionalização instrumental de controle da natureza, cindiu o homem em corpo e espírito, assegurando-lhe concretude ao físico/corpóreo. Essa cisão significou o desenlace simbólico de valores agregados ao homem por meio do inexplicável. Buscou-se, portanto, tudo explicar por meio do pragmatismo e, até certo ponto, do ceticismo. Entretanto, o controle sobre a natureza na verdade significou o seu descontrole, isto é, aperfeiçoaram-se métodos e técnicas no acelerado processo de industrialização, mas tal instrumental não possibilitou ao homem a compreensão de sua relação consigo mesmo e com a natureza. (SUASSUNA et al., 2005).
Vivemos em uma época pós Revolução Industrial e isso é uma informação
marcante para entendermos nossa relação com a natureza, que passou a ser
explorada massivamente, atendendo às novas demandas da sociedade. Além
disso, a impressão de que estávamos inseridos em uma fonte inesgotável de
recursos naturais levou (e ainda leva) muitos indivíduos a agirem de forma
puramente exploratória, imprudente e descontrolada em relação ao meio
natural, visando o lucro imediato, sem tomar medidas que possibilitem um
menor impacto ambiental.
De fato, a percepção da dimensão degradatória da ação humana nem sempre
existiu, mas hoje, na era informacional em que vivemos, essa noção está bem
clara. Por outro lado, as soluções para colaborar com a melhora desse quadro
surgem a cada dia, são novas técnicas, novos materiais e novas maneiras de
agir, para que tenhamos uma conduta mais amigável com meio ambiente.
2 British Broadcasting Corporation (emissora de televisão originalmente inglesa); Sítio: www.bbc.co.uk
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Nossa vida mudou de escala com a globalização dos intercâmbios e da comunicação, e com a tomada de consciência dos riscos ecológicos que ameaçam o planeta e seus habitantes. Além de novas estratégias energéticas e da introdução de uma abordagem ambiental no planejamento e no projeto das construções, nesse início do século XXI nos vemos diante de uma verdadeira escolha sobre o tipo de sociedade que queremos. (GAUZIN-MÜLLER, 2011, P. 08).
A construção civil é uma das indústrias que mais demandam recursos naturais,
seja na fabricação dos materiais a serem utilizados, no canteiro de obras ou na
implantação de um edifício em um determinado terreno, todas essas, dentre
outras etapas, irão interferir direta e indiretamente no meio ambiente. Sendo
assim, o estudo e a aplicação de estratégias que possam amenizar esse impacto
ambiental e contribuir para uma sociedade mais harmoniosa em seu contato
com a natureza é fundamental.
A construção, demolição, e reconstrução demandam não apenas um grande esforço humano, mas geram nesse processo diversos danos ambientais. A posição onde nos encontramos na ante-sala do esgotamento de recursos naturais brada por alternativas arquitetônicas que falem menos de modismos cíclicos e comportamentos frívolos. Falar sobre arquitetura também é falar sobre o tempo. (SCÓZ, 2009).
Partindo do princípio que a “sustentabilidade pode ser descrita como o estado
de equilíbrio, no qual condições ambientais, econômicas e sociais satisfatórias
estariam asseguradas para o presente, assim como para o futuro,
indefinidamente. ” (CÂNDIDO, 2012), não nos utilizaremos da alcunha
“arquitetura sustentável” nesse estudo, uma vez que consideramos tal
conceituação abrangente, envolvendo uma série de questões a serem
analisadas, as quais não terão espaço para serem atestadas nesse estudo.
Portanto, para esse trabalho, será mais adequado a utilização do termo
“arquitetura de impacto ambiental reduzido” ou denominação equivalente que
indique a preocupação em dialogar com o meio ambiente, se comprometendo
a buscar estratégias e premissas ecológicas a serem definidas desde a fase
inical do projeto. “O termo “sustentável” deve ser aplicado ao processo todo,
indicando um ciclo em que o tripé – meio ambiente/ promoção social/
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promoção econômica – cumpra seu papel, gerando o menor impacto possível
com o resultado mais eficiente. Logo, a “arquitetura ecológica responde
principalmente à questão ambiental desse tripé.”(AFLALO, 2011)
1.2 Uma Arquitetura Livre de Sítio
Pensar sobre uma arquitetura livre de sítio envolve temas como leveza,
portabilidade, mobilidade, provisoriedade, entre outras palavras chave que ao
mesmo tempo encaixam-se em uma forma atual de se pensar a arquitetura e
que também, de certo modo, retomam características utilizadas nos
primórdios da existência humana.
“Nessa contemporaneidade reafirmam-se as linguagens projetuais comprometidas com a retomada do racionalismo e com tendências minimalistas, visando a proposição de espaços que atendem à sociedade quanto a custo, praticidade sustentabilidade e flexibilidade.” (PADOVANO, 2010 apud ALBUQUERQUE, 2013).
Sabemos que uma das formas mais primitivas de abrigo humano (ainda
existente nos dias atuais) foi a construção de tendas nos abrigos nômades,
resultado da prática do nomadismo3, os iglus, as ocas indígenas, dentre outras
edificações que, em sua maioria, sendo executadas com materiais naturais,
eram construídas, habitadas, possivelmente abandonadas e reconstruídas por
seus usuários.
Fonte:hist6anoen2.blogspot.com
3 O nomadismo consiste em uma prática onde um homem ou grupos humanos vagueiam por diferentes territórios. Nesse processo de locomoção pelo espaço, essas comunidades utilizam-se dos recursos oferecidos pela natureza até esses se esgotarem. Com o fim desses recursos, esses grupos se deslocam até encontrarem outra região que ofereça as condições necessárias para a sobrevivência. (SOUSA, 2015)
Figura 3: Acampamento Nômade Figura 2: Oca Indígena
Fonte: www.cienciahoje.com.br
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Também devemos abordar o Movimento Moderno da arquitetura, iniciado na
Europa e datado do Século XX, ocorreu em um contexto de transformações
econômicas e sociais expressivas: Revolução Industrial, Guerras Mundiais,
aumento populacional, dentre outros fatores que contribuíram para mudanças
na demanda arquitetônica, as quais fomentaram a busca pelo
desenvolvimento de um projeto de arquitetura que se resolvesse em espaços
mínimos, com uma planta reduzida, moradias coletivas. Nesse momento, a
necessidade habitacional impulsiona, a arquitetura desenvolve e a tecnologia
possibilita a construção de casas em série.
A questão do espaço mínimo sempre serviu de estímulo à criatividade na arquitectura. Esse interesse pela optimização do espaço é alimentado pelo desafio de conseguir com o mínimo possível, que este se adeque às necessidades dos seus habitantes e aos potenciais usos que estes lhe poderão atribuir, de modo que estes espaços embora mínimos (ou precisamente por o serem) sejam interessantes e agradáveis, numa procura que tem por base uma visão poética do essencial. (GONÇALVES, 2013).
Um exemplo de vanguarda no contexto da arquitetura transitória é o
Archigram, grupo de arquitetos ingleses que atuaram na década de 1960, os
quais inspirados e motivados por tecnologia e inovação, idealizavam uma
arquitetura moderna, criticando a forma de produção da época e propondo
uma arquitetura nada convencional.
“Para uma outra sorte de elemento que constitui o espaço efêmero, recorreremos ao grupo inglês Archigram, que em seu projeto Living 1990 (1967) e suas múltiplas sondagens do futuro do domicílio, apontavam para a crescente importância dos aparelhos eletrônicos, não somente como utensílios eletrodomésticos, mas no próprio condicionamento do ambiente. O mesmo vale para ambientes provisórios, abertos. Eis o último dos recursos dos ambientes transitórios: as unidades de infra-estrutura portátil (...) O grupo Archigram experimenta ainda assentamentos temporários, como a Instant City (1969). Amplamente ancorados em meios de transporte – especialmente aqueles que nem o território percorrem, simplesmente pairando no lugar – potencializam o que hoje é usual, que é a possessão repentina de um lugar por uma atividade temporária, seja exposição ou festa rave, para posterior desaparição. ” (PAZ, 2008).
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Podemos destacar dois projetos elaborados pelo grupo Archigram, os quais se
configuram como uma importante fonte histórica para o projeto proposto
nesse trabalho: A Plug-In City 4 (figura 5), na qual os arquitetos interpretavam
a cidade como uma estrutura em parte fixa e com outras partes móveis e
dinâmicas; e O Living Pod Project (figura 6) “que era o estudo de uma casa
cápsula que poderia se transformar em uma casa trailer, podendo ser inserida
no interior de uma estrutura urbana plug-in ou ainda ser transportada e
implantada numa paisagem aberta.” (SILVA, 2004).
4 “A Plug-In City não é de fato uma cidade, mas uma megaestrutura em evolução constante que incorpora residências, transporte e outros serviços essenciais – todos transportáveis por enormes guindastes.” BARATTOM (2014).
Há entretanto pouca preocupação com a ecologia ou com a viabilidade dos
projetos idealizados pelo Archigram, fatores que se justificam pelo contexto
vivenciado na época, e que não abalam, nem diminuem o legado deixado pelo
grupo.
Os arquitetos do grupo defendiam uma abordagem high tech, inspirada no imaginário da era espacial, experimentando tecnologias de encaixe, ambientes descartáveis, cápsulas espaciais e imagens de consumo de massa, sem o compromisso de serem executadas e ou apropriadas pela sociedade. Tampouco demonstraram preocupação com as consequências sociais e ecológicas de suas propostas megaestruturais. (CAVALCANTE, VELOSO, 2011).
Percebe-se assim uma nova forma de analisar a relação entre as tecnologias
(tanto de materiais como a informacional), a sociedade e as formas de convívio
(tanto em ambientes públicos quanto em privados). Mobilidade,
transformação e mutabilidade são somados de forma a idealizar um novo
pensar arquitetônico, idéias instigantes e inovadoras, com desdobramentos
utópicos e imprecisos, mas que constituem uma preciosa base ideológica e
provocam reflexões pertinentes ainda nos dias atuais.
A casa responde a estímulos culturais, é produto das necessidades e possibilidades de determinada civilização. É bom lembrar do caráter transitório que os costumes têm, influenciando a habitação. A revolução tecnológica pela qual a humanidade passou no século XX provocou novas necessidades espaciais. (CASELLI, 2007, p.11).
Embora constituindo o alicerce que embasa e faz possível o desenvolvimento
desse projeto, os exemplos históricos da arquitetura mínima anteriormente
analisados, nos mostram um contexto social de necessidades eminentes, seja
por excesso populacional ou por um pós-guerra, no qual se vivia a urgência em
se reconstruir nações. Tais fatores não se relacionam com as circunstâncias
relevadas nesse trabalho. Aqui, estamos apresentando uma possibilidade de
arquitetura com fins recreativos/contemplativos, a qual, nesse caso, se
preocupa com o seu impacto ambiental e sua transportabilidade,
circunstâncias que indicam um produto arquitetônico compacto, sem excessos.
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Em nosso cotidiano, podemos notar a crescente manifestação de objetos e/ou
exemplares arquitetônicos que seguem uma lógica operacional semelhante às
referências históricas citadas É o caso das barracas para camping, trailers,
tendas de circo e de exposições momentâneas, foodtrucks (restaurantes sob
rodas), dentre outros abrigos momentâneos, cada um com sua demanda e
contexto, que dão suporte a essas ocupações temporárias em um determinado
espaço.
Ao analisarmos o contexto em que estamos inseridos, com a globalização e a
era digital que lhes são característicos, podemos afirmar que as noções de
fronteira se tornaram relativas, as distâncias se encurtaram e as modalidades
de trabalho se diversificaram (em alguns casos até deixando de ser
presenciais), a partir do momento em que os caminhos e informações se
tornaram mais acessíveis. Como resultado dos mesmos, podemos ressaltar a
tendência mundial de trabalho via digital, que a cada dia ganha mais adeptos:
são pessoas que não necessariamente necessitam de um local fixo/presencial
para trabalhar o que dá margem para que esses indivíduos vivam grande parte
do tempo como nômades modernos, desfrutando de uma fonte de renda que
Nessa conjuntura, devemos explorar tipos arquitetônicos que passam a
quebrar as amarras entre o construído e o seu local de inserção, uma
arquitetura que se apresenta livre de sítio e de fundações perenes em
localização.
Tal expressão da arquitetura pode ser classificada como efêmera, a qual obtém
conceitos abstratos, mas que pode ser entendida como algo que modifica os
espaços por um curto período. “Uma obra efêmera é aquela que tem, já em
seu início, a anuência que precisa ser desmontada”, como resume Eduardo
SOCZ (2009, P.53). Falamos então de uma arquitetura que deixa de existir
permanentemente, ou que está em constante transformação, montagem e
desmontagem.
“(...) Se a arquitetura troca de lugar, também se quebram os elos que ligam o projeto de uma edificação remontável com o sítio, ou melhor, a cada remontagem do espaço temporário surge uma nova relação do edifício com o meio onde o mesmo está inserido, transitoriedade que só é possível devido aos avanços tecnológicos que permitem que uma mesma estrutura física seja montada/desmontada/remontada em sítios distintos.” (ALBUQUERQUE 2013, P.32).
Há também o termo nômade, o qual responde ao anseio de estar presente em
diferentes paisagens, mas sem necessariamente ser desmontada;
diferenciação evidenciada por PAZ (2008), “Aqui vemos a necessidade da
distinção entre configuração e objeto. Podemos chamar um trailer de
arquitetura efêmera? Evidentemente, não. Temos a constância do construto,
e, devido a sua mobilidade, configurações temporárias – um nome mais
apropriado para tais objetos seria o de arquitetura móvel.”
Quando nos referimos ao projeto arquitetônico desenvolvido no presente
estudo, como é pensado para oferecer acomodação para viajantes não tendo
a intenção de ser desmontável, podemos entender que tal projeto pretende
ser mais semelhante a um trailer que a uma tenda; sua existência arquitetônica
anseia permanência, sendo variável apenas a sua localização. Assim sendo, fica
entendido que, para classifica-lo ou denomina-lo, podemos utilizar termos
como nômade, portátil, móvel e/ou itinerante. Sendo uma proposta para os
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que desejam um maior contato com a natureza e também uma opção mais
flexível de residência e/ou de local temporário de trabalho, dentre outros usos,
o abrigo portátil e itinerante é uma forma de conciliar moradia/estadia e
deslocamento. Nesse caso, o construído não se funde ao terreno em que se
insere, mas repousa sobre um determinado local temporariamente,
entendendo-se que, em breve, habitará outras paisagens.
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Capítulo 2: Estudos de Referência
Fonte: http://saraheisenlohr.com
Figura 8: Abertura de capítulo – Estudo Referencial
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Com base em pesquisas na internet, foram encontrados inúmeros exemplares
arquitetônicos que se relacionam com os temas aqui trabalhados.
Experimentos projetuais elaborados em diversas partes do mundo, mas com
ideias bastante convergentes.
Não são raras as histórias de famílias, casais e até mesmo pessoas
desacompanhadas, que conciliam moradia/estadia e deslocamento, seja em
busca de novas experiências ou em busca de uma vida (ou apenas alguns dias)
sem excessos materiais, em prol de um diálogo harmonioso com meio
ambiente e do seu crescimento pessoal.
2.1 Referências Projetuais
2.1.1 Diogene – Rhnezo Piano
Rhenzo Piano, influente arquiteto da atualidade, desenvolveu o projeto
“Diogene”, nomeado em referência a Diógenes de Sinope, o filósofo grego que
dormia em uma jarra de cerâmica. O projeto consiste em uma estrutura
mínima, medindo 2,5m por 3m, com 2,3m de altura e pesando 1,2 toneladas,
projetada para abrigar um único indivíduo e descrito como um “lugar de retiro
voluntário”.
Apesar de sua forma bastante familiar a de uma casa, em cubo e com cobertura
em duas águas, Diogene é uma estrutura complexa projetada para funcionar
Figura 10: Diogene – Vista Externa Figura 9: Diogene – Vista externa
Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/
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independentemente do ambiente em que está inserido e pensada para ter um
bom desempenho térmico em diferentes condições climáticas.
Sendo uma estrutura rígida (não articulada), sua implantação no terreno ocorre
através de mini estacas em metal que assumem o papel de fundação para a
estrutura.
Figura 11: Diogene - Vista Interna Figura 12: Diogene - Planta Baixa
Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/
Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/
Figura 13: Diogene - Perspectiva Explodida
Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/
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O espaço interno é divido entre a área de convivência (quarto/sala/escritório)
e as áreas molhadas (cozinha e banheiro). Seus revestimentos exteriores são
painéis de alumínio escovado e em seu interior painéis de madeira laminada,
as janelas são em vidro triplo e toda a sua energia é captada por painéis solares.
O projeto também utiliza a opção de privada seca e de sistemas de ventilação
natural e reutilização de água da chuva - que pode ser filtrada e aquecida
através de um dispositivo locado no telhado, além disso, seu tamanho reduzido
possibilita o seu transporte por meio de caminhões ou guindaste.
Essas soluções de implantação, materiais e modo de obtenção de energia e
água são bastante relevantes para que o projeto tenha conexão com o meio
natural e para que também possa ser facilmente adaptado a diferentes
localidades.
Figura 14: Diogene - Fotografia Interna
Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/
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2.1.2 Ecocapsule – Nice Architecture
O escritório contemporâneo eslovaco, Nice Architecture, também elaborou um
projeto voltado ao estilo de vida nômade, a “Ecocapsule” que mede 4,45m de
comprimento, 2,25m de largura e 2,55m de altura.
Com design moderno, a Ecocapsule foi projetada para hospedar dois adultos e
seu programa contempla área para quarto/sala/escritório, BWC e cozinha,
além de área para depósitos internos e externos. Sua estrutura consiste em
uma capsula metálica ovalada a qual se implanta no solo através de sua
superfície inferior e de pequenos pés que conferem suporte estrutural.
Como estratégias energéticas o projeto dispõe de bateria recarregável, uma
turbina eólica e painéis solares, além disso, possui um sistema de reutilização
de água da chuva, oferecendo pia com água corrente, cuba sanitária e chuveiro
com banho quente.
Fonte: http://www.ecocapsule.sk/ecocapsule
v
Figura 15: Ecocapsule - Planta Baixa (imagem modificada plea autora)
Depois de observar as informações apresentadas no quadro resumo, ficam
claras diferenças e semelhanças que facilitam a elaboração de análises a
respeito das referências estudadas. Quanto ao tamanho, a média encontrada
nas referências é de 9,6 metros quadrados (menor área = 7,5m² e maior
11,22m²); A função específica de cada projeto também apresenta
diferenciações (temos um retiro pessoal, duas casas/abrigos e dois exemplares
de uso variável), o que também ocorre com seus programas de necessidades,
que variaram de “quarto/sala, bwc e cozinha” para “espaço versátil”.
Dentre as 5 referências apresentadas, todas são portáteis, porém sendo
Diogene, Ecocapsule e De Markies (estruturas rígidas, estas podem ser movidas
através de guindastes, caminhões, reboque, entre outros; enquanto os
exemplares Tetra Shed e Hexa Studies são desmontáveis, não havendo a
possibilidade de reboque, e sim o transporte de suas peças desmontadas por
meio de containers, caminhões, entre outros.
Sendo assim, a análise do quadro resultou na reflexão de que estamos
analisando projetos que manifestam diferentes tipos de portabilidade. Os
projetos “Diógene”, “Ecocapsule” e “De markie” são projetos com estruturas
rígidas e adaptados a diferentes contextos e que, cedo ou tarde, desaparecerão
de um determinado terreno e habitarão outros. Sendo, portanto,
essencialmente itinerantes, mas continuando estruturalmente intactos;
enquanto os projetos “Tetra Shed” e, principalmente, “Hexa Studies” se
mostram desmontáveis, logo, sua concepção já acontece levando-se em
consideração uma forma facilitada de montagem e desmontagem, tanto nas
escolhas estruturais, bem como de materiais facilmente encontrados no
mercado.
Sendo assim, percebemos que os projetos de estrutura rígida (não
desmontáveis), apresentam soluções arrojadas de conservação e geração de
energia, reaproveitamento de águas, com painéis solares, turbina eólica,
40
bateria recarregável, entre outras soluções que visam colaborar com o meio
ambiente no futuro, durante os anos de uso; já aqueles que são desmontáveis,
utilizam-se de materiais pré-fabricados, modulados, facilmente acessíveis e de
simples montagem, com foco no momento presente, e buscando que a sua
construção, assim como a desconstrução gere poucos resíduos e seja
respeitosa ao meio ambiente.
Observando esse resultado, é interessante perceber que estamos diante de
projetos com programas versáteis, que cumpriram as necessidades de seus
usuários de forma inteligente, moderna e compacta; apresentando soluções de
acordo com seu contexto e utilização preestabelecida.
Cabendo a este trabalho extrair o melhor aproveitamento dessas informações
referenciais apresentadas, pode-se afirmar que, o projeto arquitetônico
produto desse estudo, intenciona portabilidade (podendo ser guinchado por
veículos preparados), procurando margear a área média de 9,6m² encontrada.
Sua função será de moradia/hospedagem portátil para duas pessoas e,
portanto, seu programa estará diretamente relacionado a esse uso
(comportando áreas para dormitório, cozinha, BWC e sala/varanda).
Sua estrutura pretende ser rígida e resolvida com materiais de fácil acesso e
mão de obra, sendo também preocupado com questões ecológicas, o que, a
princípio sugere a utilização da madeira de reflorestamento como principal
matéria prima.
Além disso, por ansiar uma harmoniosa conexão com o meio ambiente e sítio
em que estará inserida, o exemplar arquitetônico a ser projetado pretende
pousar no solo e também se utilizar de estratégias de eficiência energética e
conforto ambiental, prevendo a utilização de painéis solares, baterias
recarregáveis e reutilização de água da chuva.
41
2.3 Organizações Atuantes na Área
2.3.1 – YES WE CAMP
Com sede em Marselha e Paris, França, o YES WE CAMP é uma organização sem
fins lucrativos, criada em 2013, que executa instalações temporárias, próprias
e contratadas, através de projetos participativos, para eventos coletivos
principalmente ao ar livre. Se trata de uma plataforma colaborativa que reúne
pessoas de diversas áreas e habilidades e cujo objetivo é elaborar uma
instalação em prol de uma experiência coletiva.
Figura 27: YES WE CAMP! - Projeto Participativo, Logomarca e Instalaçao arquitetônica
Fonte: www.yeswecamp.org
Os projetos buscam estruturas de boa portabilidade, com fácil e rápida
montagem e desmontagem, que gerem o mínimo impacto ambiental possível
e que sejam facilmente encontrados para uso. Além disso, o YES WE CAMP
42
anseia que suas instalações sejam uma espécie de laboratório para novas
técnicas construtivas, sendo assim, utilizam materiais inovadores e funcionais.
Existe um grupo fixo de colaboradores, que totaliza aproximadamente vinte
pessoas, porém, qualquer pessoa pode se inscrever para colaborar. Cada
instalação reúne pessoas com habilidades voltadas para aquela demanda
específica e pessoas locais também são recrutadas.
2.3.2 GET IT LOUDER – People’s Architecture Office
O GET IT LOUDER é uma exibição que ocorre a cada dois anos na China, com o
foco em uma produção inovadora de talentos em artes plásticas, literatura,
arquitetura, design, música e filme. Foi nesse contexto que, em 2012 o
escritório de arquitetura chinês “People’s Architecture Office”, sendo curador
do ano, estabeleceu o tema da bienal: “O futuro das Pessoas”.
Figura 28 GUET IT LOUDER - Mostra de Projetos (coletânia de imagens)
Fonte: http://www.peoples-architecture.com/
Demonstrando uma capacidade projetual arrojada, e apresentando uma
alternativa a aqueles que não têm condições de adquirir seu próprio teto na
China, os produtos apresentados pelo People’s architecture, dentre outras
estruturas leves e de fácil montagem, foram a casa e o jardim triciclo. Sendo o
primeiro, uma casa que comporta equipamentos para as necessidades básicas
do ser humano e que pode ser transportada através de um veículo de três rodas
movido pela força humana; e o segundo, um jardim que complementa a casa e
também pode ser transportado através de um triciclo.
43
Figuras 29 e 29: GUET IT LOUDER - Interior da Casa triciclo (coletânea de imagens)
Fonte: http://www.peoples-architecture.com/
A casa é modular e consiste em uma superfície sanfonada em plástico, a qual
permite entrada de luz externa e privacidade internamente. Essa estrutura
também pode se conectar a outras semelhantes e expandir seu espaço. Em um
módulo unitário, o programa do projeto consiste em: Pia, fogão, banheira e
quarto/sala. O jardim é um simples tanque para plantio.
2.3.3 Análise das Organizações Atuantes na Área
Ao observar a atuação duas organizações anteriormente mostradas, é
interessante analisar que ambas expressam ideias e ações que vão além do
puro objeto arquitetônico, além de mostrarem formas arrojadas de utilização
de materiais e de organização espacial, elas instigam uma reflexão sobre
urbanidade.
A primeira, o grupo “YES WE CAMP!” atua na elaboração de eventos e com suas
instalações preenche vazios urbanos, revigorando, mesmo que
temporariamente, áreas esquecidas das cidades, conseguindo se utilizar de
uma arquitetura de fácil execução, tanto em sua montagem como
44
desmontagem e também na escolha de matérias. São instalações que se
moldam e se modificam em cada contexto, inspirando e aproximando seus
visitantes e habitantes temporários com uma arquitetura palpável, acessível e
acolhedora.
A atuação do escritório chinês People’s Architecture Office por sua vez, ao
lançar o tema da bienal GETIT LOUDER convidando seus participantes “a
projetarem o futuro das pessoas”, apresenta uma opção de um micro jardim e
de uma micro moradia individual e portátil. É sabido e lamentável que, ainda
nos dias atuais, nem todas as pessoas têm acesso à moradia, e, por ter sido
apresentada por representantes do país mais populoso do mundo, essa visão
do futuro que foi apresentada, ganha um cunho ainda mais reflexivo.
É necessário reconhecer a importância desse modelo de projetar a arquitetura,
o efêmero, o portátil, o móvel e vários outros tipos arquitetônicos
relacionados, estão se estabelecendo e se inserindo em nosso cotidiano
progressivamente.
Estamos falando de uma arquitetura com um rápido poder de transformação,
característica que acompanha o acelerado ritmo mundial, por seu dinamismo
e também pela sua adaptabilidade a ambientes reduzidos e também aos
superdimensionados. Algo temporário, mas não descartável, leve e com uma
escala que nos faz enxergar o objeto arquitetônico como algo palpável,
estreitando relações entre o construído e seu usuário.
45
PARTE 2: DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO ARQUITETÔNICO
46
Capítulo 3: O Início do Projeto Arquitetônico
Figura 30: Abertura de Capítulo - O início do projeto Arquitetônico
Fonte: http://saraheisenlohr.com/
47
Diretrizes iniciais para a concretização da proposta de uma estrutura
arquitetônica leve e portátil.
Nesse capítulo são investigadas estratégias estruturais, bem como de materiais
sustentáveis, por meio de bibliografia e consulta a profissionais, além de
observar os condicionantes ambientais e legais que regerão o projeto.
3.1 Possibilidades de Sistemas Estruturais e Materiais de Baixo
Impacto Ambiental
Esse é um projeto de arquitetura nômade, preocupado com seu peso,
durabilidade, e impacto ambiental, sendo assim, a busca pela matéria prima
ideal para compor o sistema estrutural desse projeto, foi feita de tal maneira a
eleger um material de fácil acesso ao construtor, que apresentasse leveza,
resistência e também uma preocupação com o meio ambiente.
A busca por um material de fácil acesso comercial nos leva aos quatro materiais
mais utilizados estruturalmente para a construção civil: o concreto, a madeira,
o aço e a terra.
O quesito “leveza” somado ao processo, restringiu minhas opções para a
definição da tectônica do projeto entre o aço e a madeira. Por outro lado, a
preocupação em trabalhar com uma matéria prima capaz de se integrar com a
natureza da forma mais harmônica possível foi imprescindível para a escolha
final do material a ser utilizado nesse projeto, afinal, desde o seu princípio
foram estudadas formas de integração entre o homem, a natureza e
arquitetura.
De acordo com a lógica do desenvolvimento sustentável, é preciso limitar o uso daqueles que resultam de um processo de produção industrial pesado, com alto consumo de energia e a matéria prima não renovável como o aço e o concreto. (GAUZIN-MÜLLER, 2010, p123).
48
Nesse contexto, entendemos que a utilização da madeira seria a opção mais
indicada para esse estudo, afinal estamos falando de um material orgânico,
reciclável e renovável e que, além disso, absorve gás carbônico e libera oxigênio
no processo da fotossíntese, contribuindo para o combate ao efeito estufa, ao
contrário do aço, que apesar de ser reciclável, não é renovável e demanda um
gasto energético bastante elevado na sua fabricação
Depois de escolhida a matéria-prima predominante no projeto, o próximo
passo consistiu a escolha da madeira específica que seria utilizada. A princípio,
foi pensada uma espécie que tivesse como característica a leveza, que fosse
nativa do Brasil, que fosse cultivada na Zona Bioclimática 085, se possível aqui
no Rio Grande do Norte, e que o seu manejo fosse respeitoso tanto ao meio
ambiente quanto ao material extraído. Tais anseios foram importantes na
escolha do tipo de madeira que mais se adequaria ao projeto, mas é importante
ressaltar que essas premissas foram guias que indicaram caminhos nem
sempre convergentes.
Para tanto, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) foi consultado a fim de
embasar a análise e a comparação das espécies e famílias de árvores
pesquisadas, levando em consideração suas regiões de origem, de plantio e seu
manejo, além de dados sobre as densidades (kg/m³) - aparente e básica- de
cada tipo, assim como informações sobre tratamento e durabilidade. Como se
trata de um projeto com menos de 10m² de área total, as propriedades
mecânicas não foram critério relevante nessa etapa de escolha, afinal se trata
de uma dimensão reduzida requerendo um sistema estrutural de pouca
complexidade.
Sobre o comércio de madeira para a construção civil no Rio Grande do Norte,
nosso mercado é restrito, contando apenas com madeiras não reflorestadas e
advindas da região Norte, como exemplo a espécie Maçaranduba
(Manilkara spp.), a qual, segundo o IPT, apresenta densidade básica de 833
5O zoneamento bioclimático brasileiro apresenta oito zonas relativamente homogêneas quanto ao clima. A Zona Bioclimática 08 corresponde a uma vasta área do território do páis, incluindo uma parte do Rio Grande do Norte, na qual se encontra a cidade do Natal.
49
kg/m³ e de difícil tratabilidade a soluções preservantes hidrossolúveis, não
sendo adequada a sua utilização em áreas descobertas.
Figura 31: Massaranduba - Face radial (esquerda) e Face Tangencial (direita) (coletânea de imagens)
Fonte: http://www.ipt.br/
Visto isso, foram feitas buscas por madeiras de reflorestamento no Brasil; e
através de consulta ao LabSec UFRN (Laboratório de Sistemas Estruturais e
Construtivos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) soube-se da
ocorrência das duas principais árvores que foram introduzidas para
reflorestamento no Brasil: O Eucalipto e o Pinus, ambas não nativas do nosso
país, mas que se adaptaram bem e demonstram um ciclo de renovação
satisfatório.
Pelo próprio perfil do mercado brasileiro, as madeiras de reflorestamento parecem ser a saída mais adequada, uma vez que seu ciclo de renovação é relativamente curto e as distâncias entre as áreas reflorestadas e os principais centro consumidores são mais próximas. São também mais homogêneas e, se manuseadas corretamente, têm baixo impacto ambiental e a certeza de não liberação de CO2 na atmosfera. (GAUZIN-MÜLLER, 2010).
Os dados do IPT nos mostram que o Eucalipto apresenta duas espécies de
reflorestamento mais utilizadas para uso estrutural: o Eucalipto grandis
(Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden.) existente no Amapá, Bahia, Espírito
Santo, Góias, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo; Cuja Densidade de massa
(): aparente a 15% de umidade (ap, 15)= 500 kg/m³ e densidade Básica
(básica)= 420 kg/m³, com alburno permeável, mas cujo cerne se apresenta
50
difícil de ser tratado e o Eucalipto citriodora (Eucalyptus citriodora Hook.),
presente nos estados: Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
São Paulo. Com Densidade de massa ():
Aparente a 15% de umidade (ap, 15)= 1040 kg/m³
e Básica (básica)= 867 kg/m³, também com difícil tratabilidade no cerne.
Figura 32: Eucalipto-grandis – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea de imagens)
Fonte: http://www.ipt.br/
Figura 33: Eucalipto-citriodora – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea de imagens)
Fonte: http://www.ipt.br/
A madeira Pinus (Pinus elliottii Engelm.) por sua vez, é descrita pelo IPT como
sendo de fácil tratamento, estando presente nos estados brasileiros: Amapá,
Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo; além de apresentar uma
51
densidade de massa (): Aparente a 15% de umidade (ap, 15)= 480
kg/m³ e Básica (básica)= 400 kg/m³.
Figura 34: Pinus – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea de imagens)
Fonte: http://www.ipt.br/
Pensando no melhor manejo da madeira, nos focamos nas madeiras de
reflorestamento pesquisadas e dentre elas optamos pela madeira Pinus,
madeira largamente utilizada na construção civil, a qual apresenta melhor
resposta a tratamentos - característica que se apresenta positiva no preparo
para sua utilização na construção civil, afinal estamos nos referindo a
tratamentos contra xilófagos e também na proteção à água e umidade, fatores
que influenciam diretamente na resistência e durabilidade de uma estrutura
em madeira – e também uma menor densidade de massa, o que influencia em
um menor peso final da estrutura. Além disso, esta também está presente no
Espirito Santo, estado brasileiro que também faz parte da Zona Bioclimática 8,
área de enfoque desse estudo.
Segundo artigo de Oliveira, Cecílio e Pezzopane (2011) na Revista Floram do
Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Espírito
Santo, quatro espécies da madeira Pinus são cultivadas no Espirito Santo: o
Pinus elliottii, o Pinus oocarpa, Pinus taeda e o Pinus caribaea var. hondurensis,
sendo o Pinus elliotti a espécie mais difundida para a construção civil e por isso
a que será utilizada nesse estudo.
52
3.2 Pressupostos Ambientais
Uma das características mais marcantes do objeto arquitetônico fruto deste
trabalho é a sua capacidade de habitar diferentes paisagens. Sendo um projeto
nômade, seu paradeiro é incógnito, assim como seu tempo de permanecia em
determinado lugar.
Apesar de tal impermanência e independência, a concepção projetual desse
exemplar estabeleceu uma localização ideal baseada na posição geográfica do
litoral do Rio Grande do Norte.
A norma brasileira de Desempenho térmico de edificações (NBR 15220)
estabelece que o Brasil é divido em oito diferentes zonas bioclimáticas. Tal
divisão leva em consideração aspectos climáticos e não coincide com
demarcações territoriais em Estados, como indica a figura a seguir:
Figura 36: Zoneamento Bioclimático Brasileiro
Fonte: http://www.labeee.ufsc.br
A partir disso, podemos concluir que, para este trabalho, estamos nos referindo
à Zona Bioclimática 08, a qual abrange boa parte do litoral brasileiro, bem como
áreas não litorâneas.
Figura 35: Zona Biocilmática 8 (destaque para o Estado RN)
Para a maioria dos projetos arquitetônicos, aplicam-se os condicionantes legais
presentes em diversas legislações, como o Código de Obras, o Plano diretor,
dentre outras normas e regulamentos que embasam legalmente a
exequibilidade de uma obra arquitetônica.
Entretanto, essas legislações comumente consultadas, se mostram
direcionadas a construções fixas em um terreno, localizado uma determinada
cidade, ainda não sendo adaptadas a edificações transportáveis e compactas,
como é o caso desta que está sendo elaborada nesse trabalho.
Portanto, como base para o dimensionamento tanto o geral, quanto o
específico para cada cômodo, o programa de necessidades e a disposição dos
ambientes deste projeto, foram consultadas as referências, além da resolução
Nº210 de 13 de Novembro de 2006 do CONTRAN (Conselho Nacional de
Trânsito), a qual estabelece, dentre outros, os limites de dimensionamento
para veículos que transitem por vias terrestres e dá outras providências.
Segundo esta resolução (documento na íntegra nos anexos deste trabalho), as
máximas dimensões autorizadas para veículos com ou sem carga são de 2,60m
de largura e 4,40m de altura, sendo variável o comprimento máximo permitido.
Considerando que o objeto arquitetônico resultante deste trabalho será
transportado através de reboque acoplável em carro, podemos classificar o
todo (carro + reboque) como veículo articulado com duas unidades, do tipo
semi-reboque, para o qual a resolução estabelece um comprimento máximo
de 18,60m.
54
Capítulo 4: A Concepção Projetual: formas iniciais
Fonte: http://eugenialoli.tumblr.com
Figura 37: Abertura de Capítulo - A Concepção Projetual
55
Esse capítulo apresenta a evolução do projeto arquitetônico, desde o seu
conceito, partido até a análise das propostas projetuais.
4.1 O Partido Arquitetônico
Podemos considerar o partido arquitetônico desse projeto como resultado da
ideia central de que esta arquitetura proporcionasse uma integração plena do
homem com a natureza, o que seria traduzido através da tectônica utilizada e
da possibilidade de transporte do objeto arquitetônico. Estes aspectos
trouxeram limitantes dimensionais bastante significativos ao resultado final,
sobretudo quanto ao entendimento de uma habitação minimamente
confortável.
O problema da habitação mínima é o de estabelecer um mínimo elementar de espaço, ar, luz e calor, indispensáveis ao homem para que este possa executar suas funções vitais, sem restrições provocadas pela habitação, estabelecendo um modus vivendi mínimo em lugar de um modus non moriendi. (GROPIUS, 2013).
4.3 O conceito
O conceito que inspira esse projeto é o de
casulo, esta envoltória natural que ao mesmo
tempo abriga e prepara a borboleta para
amadurecer e voar livremente pela natureza,
sem uma rota pré-traçada.
Este conceito traduz metaforicamente a ideia
central do projeto e a relação
objeto/homem/natureza que aqui de
privilegia.
Figura 38: O Conceito
Fonte:
http://www.dancinphotos.net
/LoisGreenfield
56
4.4 Programa de Necessidades e Público Alvo
O estudo referencial elaborado no início do trabalho serviu como base para a
elaboração do programa de necessidades e a definição do porte do tipo
arquitetônico aqui trabalhado.
Sendo assim, pretendendo abrigar pessoas chegando a uma média de
tamanho de 9,6 metros quadrados (previsto na análise referencial),
estabelecemos que a edificação comportaria o máximo de duas pessoas e seu
programa de necessidades seria composto por quarto/sala, bwc e cozinha, com
possibilidade de varanda.
Estamos trabalhando no âmbito de um desejo individual, um estilo de vida
proposto, uma alternativa de abrigo. Dito isso, podemos caracterizar o nosso
público alvo como sendo constituído de pessoas as quais detém a vontade e a
coragem de experimentar momentos mais conectados com o meio natural,
indo de encontro às relações cada vez mais sintéticas que caracterizam o
cenário em que estamos inseridos.
São pessoas que, sozinhas ou com a companhia de um parceiro, almejam um
abrigo de contemplação e introspecção junto à natureza, ou que, de alguma
forma, relacionam seu trabalho com o meio natural e necessitam de um
apoio/moradia temporária em determinado lugar, também podemos citar os
viajantes assíduos, os quais desejam uma forma mais versátil de hospedagem,
dentre outras formas de utilizar e se relacionar com o projeto aqui elaborado.
Figura 39: Homem e Natureza
Fonte: http://moonandtrees.tumblr.com/
57
4.5 Estudos Formais e Funcionais
Os primeiros croquis de criação desse projeto foram inspirados no conceito
matrioska, bonecas russas, as quais são confeccionadas umas dentro das
outras, influência que pareceu bastante favorável ao tema aqui trabalhado,
afinal, tal conceito está diretamente relacionado à ideia de objeto compacto e
expansível.
Figura 40: Primeiros Croquis
Fonte: Acervo pessoal
Como percebemos na imagem a seguir, a primeira planta cumpria um plano de
necessidades composto por três cômodos: Quarto, Sala/Cozinha e Banheiro,
partindo do princípio de que havia um núcleo rígido o qual se expandia para
dois lados, opção descartada ao estabelecermos uma altura máxima externa
de 2,6m e interna de 2,2m.
Figura 41: Primeiros Croquís
Fonte: Acervo pessoal
58
A primeira proposta mais elaborada, a qual apresentava um programa de
necessidades composto pelos cômodos Quarto/Sala, Cozinha e Banheiro
(programa mantido para as próximas propostas). Este seria expansível apenas
em um dos lados, prevendo mobiliário flexível, instalações hidrossanitárias
abaixo do BWC e resultando em um formato de cubo.
Figura 42: Proposta 01 -Planta Baixa Recolhida
Fonte: Acervo pessoal
Figura 43: Proposta 01 - planta baixa expandida
Fonte: Acervo pessoal
Figura 44: Proposta 01 - Corte com Detalhe para a Caixa d'água Abaixo do Sanitário
Fonte: Acervo pessoal
59
Seguindo a mesma linha projetual, surgiu uma segunda proposta, dessa vez
com telhado em duas águas e caixa d’água verticalizada e locada ao lado do
BWC.
Figura 45: Proposta 02 - Planta Baixa Recolhida e Expandida
Fonte: Acervo pessoal
Figura 46: Proposta 02 - Corte
Figura 47: Proposta 02 - Maquete
Fonte: Acervo próprio
60
Ambas as propostas até agora apresentadas apresentavam áreas aproximadas
de 8,07m² quando expandidos e 5 m² quando comprimidos, também previam
utilização de estrutura metálica vedada com painéis sanduiche revestidos com
madeira, além de esquadrias do tipo tabicão. Esses pontos foram questionados
na pré-banca e em consultas posteriores a profissionais, afinal, a área do
projeto estava apresentando valores inferiores à média prevista pelo estudo
referencial (9,6m²), os materiais utilizados não condiziam com as intenções
ecológicas declaradas nos objetivos do trabalho e o método de expansão dos
módulos não estava claro.
Tais questionamentos instigaram alterações fundamentais no projeto, das
quais destaco a mudança na tectônica utilizada, visto que a utilização da
madeira como matéria prima estrutural se mostrou adequada para essa
edificação, constituindo um material renovável, reciclável, resistente, natural e
bem mais adaptado ao litoral que o aço previamente especificado.
A busca pelo sistema mecânico que possibilitaria a expansão e contração desse
objeto arquitetônico também estimulou transformações projetuais. Partindo
do princípio de que não seriam trabalhadas opções desmontáveis, os
mecanismos encontrados necessitavam de energia/aparato tecnológico os
quais não cabiam nessa proposta, fato que acarretou no abandono do conceito
matrioska de objeto expansível, dando lugar uma estrutura de núcleo rígido
com o conceito de casulo, o qual será detalhado no próximo capítulo.
61
PARTE 3: RESULTADO
PROJETUAL
62
Capítulo 5: Proposta Final do Projeto Arquitetônico
Fonte: http://eugenialoli.tumblr.com
Figura 48: Abertura de Capítulo - Proposta Final do Projeto Arquitetônico
63
Detalhamento e configuração final do projeto arquitetônico.
Para o dimensionamento específico dos elementos aqui descritos, foram
utilizadas as seguintes abreviações: L = Largura; H = Altura, C = Comprimento,
E = espessura e P = Peitoril.
5.1 Planta baixa e Zoneamento
O Projeto Casulo, resultado arquitetônico desse estudo, apresenta um
programa de necessidades básico de sala/quarto (3,60m²), cozinha (2,17m²),
BWC (1,22m²), circulação (0,43m²) área técnica (1,43m²), resultando em uma
área útil de 8,85m² e uma área total de 10,04m², valores dentro da média
prevista pelo estudo referencial (9,6m²). O pé direito predominante é de
2,26m, variando para 2,28m no banheiro.
Figura 49: Planta Baixa Humanizada
Fonte: Acervo Pessoal
O zoneamento do abrigo tem as divisões de área de convivência (quarto/sala,
cozinha circulação e banheiros e área técnica (indicada com o número 5 na
figura anterior) na qual fica toda a infraestrutura necessária para o abrigo
64
funcionar plenamente, contendo a caixa d’água, dois reservatórios de esgoto,
baterias, conversores e bomba além de espaço para outros itens: composteira,
caixa de ferramentas e escada aqui propostos.
5.2 Estrutura e Materiais
Esse tópico influenciou diretamente na configuração da proposta final, pois a
utilização do aço na estrutura foi repensada, percebendo-se que essa opção de
material ia de encontro a lógica da arquitetura ecológica, tão pretendida por
esse projeto, e por isso a definição da tectônica levada a diante foi a utilização
da madeira.
Das madeiras foi escolhida a Pinus, reflorestada, plantada no brasil e cuja
leveza e fácil tratabilidade justificam sua vasta utilização na construção civil.
Por se tratar de uma árvore conífera, resistente, mas bastante maleável, o
cerne estrutural do projeto precisaria ser bastante rígido, sendo resolvido
através de um sistema com oito pilares (H x L x E = 235 x 12 x 6 cm), 4 vigas
inferiores – baldrame (duas medindo H x L x E = 242 x 20 x 06 cm + duas com
400 x 20 x 06 cm) , 4 vigas superiores - cintamento superior (duas medindo H x
L x E = 242 x 20 x 06 cm + duas com 400 x 20 x 06 cm) e paredes, teto e piso
com uma estrutura de grelha com peças de 4 x 4 cm (paredes e teto) e 12 x 06
(piso), num sistema semelhante ao wood frame “sistema composta por perfis
de madeira que em conjunto com placas estruturais formam painéis estruturais
capazes de resistir às cargas verticais (telhados e pavimentos), perpendiculares
(ventos) e de corte transmitir as cargas até a fundação”. (PORTAL VIRTUHAB,
2013).
A estrutura bruta da edificação obteve fixação através de encaixes macho-
fêmea, reforçada com pregos a fim de proporcionar uma maior rigidez à
estrutura. No encontro das grelhas de teto e de piso com as vigas de contorno
também são utilizados conectores metálicos. O resto das fixações foram
resolvidas com parafusos autobrocantes galvanizados a fim de facilitar a
65
manutenção e contribuir para a durabilidade da estrutura. (Ver figuras 51, 52
e 53).
Figura 50: Estrutura com Pilares, Vigas, Grelhas de Piso Teto e Parede (com
espaçamento para janelas)
Fonte: Acervo pessoal
Fonte: Acervo pessoa
Figura 52: Encontro Entre Grelhas e Vigas de Contorno -Encaixe Fortalecido
com Conectores Metálicos
Fonte: Acervo pessoal
Figura 51: Encaixe Macho e Fêmea
66
É importante frisarmos que toda a madeira utilizada nessa estrutura deve ser
reta, seca e receber tratamento adequado para a prevenção contra insetos
xilófagos6 e umidade, além de não apresentar grandes nós. Os pregos e
parafusos utilizados devem ser galvanizados, afim de não oxidarem e assim
apresentarem eficácia duradoura. Além disso, é necessária a utilização de
silicone nas juntas entre placas, cantos de parede e ralos.
O transporte do abrigo projetado pode acontece por meio de reboque de aço
galvanizado acoplável em carro, ou guindaste.
5.2.1 Fundações
Sobre as fundações, estas correspondem a um dos principais anseios projetuais
desse exercício: que o construído pousasse no terreno, não exercendo grande
impacto ao solo.
Figura 53: Projeto Casulo sendo Rebocado
Fonte: Acervo próprio
Tal elemento também está diretamente relacionado à mobilidade do exemplar
projetado, afinal sua fundação depende da forma de transporte escolhida pelo
usuário. Ocorrendo o deslocamento por meio de reboque (priorizado nesse
trabalho), o abrigo projetado será fixado com de chapas metálicas em “L” (vide
Prancha 02) na base do reboque, permanecendo repousado ali mesmo, por
6 Segundo o Dicionário Aurélio, xilófago é o inseto que rói madeira e dela se nutre. Ferreira (2000)
67
outro lado, se tal edificação for transportada por meio de guindaste, o abrigo
poderá repousar em sapatas a serem dispostas no terreno e acopladas ao
objeto arquitetônico por meio de encaixe.
5.2.2 Base/Piso
A base estrutural do projeto é composta por 4 vigas inferiores formando o
baldrame (duas medindo 242 x 20 x 06 cm + duas com 400 x 20 x 06 cm), as
quais são reforçadas por uma grelha em perfis de madeira (12 x 6 cm) com
espaçamento vertical de 100cm e horizontal de 75cm (eixo a eixo). A conexão
de tais elementos acontece através de ligações macho-fêmea somadas a
pregos (vigas entre si e perfis da grelha entre si) e, além disso, nas áreas onde
há o encontro entre a grelha e as vigas, conectores metálicos são adicionados
ao sistema de fixação.
Acima da grelha são fixadas duas camadas de chapas de compensado naval
(espessura = 2cm cada), exceto no BWC, onde há a aplicação de apenas uma
chapa de compensado naval as quais são tratadas e impermeabilizadas com
resina poliuretana a base de mamona. Todo o piso será revestido com réguas
vinílicas, também impermeabilizadas, com a mesma coloração das usadas na
fachada (cor de madeira clara semelhante ao Pinus).
5.2.3 Paredes Externas
No sistema aqui desenvolvido, as paredes aparentam um sanduíche estrutural,
sendo compostas por uma grelha com perfis de madeira (4 x 4 cm) e
espaçamento vertical e horizontal de 30cm (eixo a eixo), padrão que sofre
alterações para a criação dos vãos onde serão locadas as esquadrias. Os perfis
são conectados, entre si e também com as vigas e os pilares, através de ligações
macho-fêmea reforçadas com pregos.
Toda a grelha é preenchida por espuma de poliuretano de base vegetal
(mamona) conferindo proteção térmica (espessura = 4cm). A vedação da
parede acontece, na parte externa, com painéis de compensado naval
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(espessura = 20mm) e na parte interna com gesso acartonado
(espessura=12,5mm) material leve, de bom desempenho térmico e com
opções resistentes ao fogo.
Os painéis de compensado são fixados através de parafusos auto-brocantes e
revestidos externamente com impermeabilização a base vegetal (mamona)
para, em seguida receberem a aplicação do revestimento final, nesse caso
réguas vinílicas com cor semelhante à madeira pinus.
O gesso acartonado, devidamente impermeabilizado, recebe emassamento e
pintura na cor branca.
Figura 54: Perspectuva Esquemática da parede em Woodframe
Fonte: www.construtoraecoverde.com.br
5.2.4 Paredes Internas
A parede locada entre área de convivência e a área técnica é formada pela
junção de duas chapas de compensado naval de 2cm de espessura cada e
protegidas externamente com uma camada de réguas vinílicas brancas,
somada a um impermeabilizante com base vegetal. Entre as chapas é previsto
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um vão de 4cm, resultando em um colchão de ar e também possibilitando a
passagem de instalações elétricas em seu interior (devidamente separadas).
As paredes do BWC são compostas por chapas de compensado naval com 2cm
de espessura cada, coladas umas nas outras e devidamente impermeabilizadas
com rezina poliuretana com base de mamona.
5.2.5 Cobertura
A cobertura dessa edificação é composta por vigas que correspondem ao
cintamento superior (duas medindo 242 x 12 x 06 cm + duas com 400 x 12 x 06
cm), as quais são reforçadas por uma grelha com perfis de madeira (4 x 4 cm)
cujo espaçamento vertical e horizontal de 40cm (eixo a eixo). A conexão de tais
elementos acontece através de ligações macho-fêmea somadas a pregos (vigas
entre si e perfis da grelha entre si) e, além disso, nas áreas onde há o encontro
entre a grelha e as vigas, conectores metálicos são adicionados ao sistema de
fixação.
O telhado apresenta inclinação correspondente a 1% e se resolve através de
um mecanismo semelhante ao das paredes externas, sendo nesse caso
composto pela junção de duas chapas de compensado naval de 2cm de
espessura cada, intercalados por uma espuma de poliuretano de base vegetal
com 3cm de espessura. Esse painel sanduíche também funciona como isolante
térmico e deve ser fixado através de parafusos autobrocantes na grelha
descrita anteriormente, além de ser protegido externamente por meio de uma
resina impermeabilizante a base vegetal.
5.2.6 Fachadas
As quatro fachadas que constituem a edificação (imagens no item 5.3 sobre
esquadrias) podem ser descritas como: Fachada frontal composta pelo toldo
retrátil, a porta camarão (P01) e o banco retrátil (ver ítem 5.4), ambos
confeccionados com ripas de madeira pinus; A fachada posterior, contendo as
portas P03 e P04 de acesso À área técnica, além das outras duas, que são
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compostas por ripas em madeira pinus, os quais cumprem o papel de brises,
conferindo conforto térmico ao objeto construído, além de fazerem alusão às
cercas de faxina, elemento comumente utilizadas em nossa região.
Figura 55: Cerca de Faxina
Fonte: www.flickr.com/photos/valedaneblina/
5.3 Esquadrias
A concepção das esquadrias que compõem esse projeto arquitetônico foi
pensada visando, funcionalidade, aproveitamento de iluminação e ventilação
natural, ao mesmo tempo que considerou a nossa localização geográfica.
Nas fachadas, existem quatro conjuntos de portas. Primeiramente, na fachada
frontal (acesso ao interior do abrigo) há uma porta camarão (P01 segundo o
quadro de esquadrias) com quatro folhas (L x H x E = 58 x 180 X 3cm) composta
por perfis de madeira pinus (L x H x E = 3 x 180 x 3cm) unidos através de dois
filetes metálicos cilíndricos cada (E = 1cm). Tal esquadria cumpre o papel de
brise móvel para a porta de correr (P02) locada imediatamente ao lado, a qual
é composta por moldura de madeira pinus e visor de vidro com três folhas,
sendo uma fixa (L x H x E = 90 x 210 x 3cm) e duas móveis (L x H x E = 73 x 210
x 3cm). (Ver Figuras 57 e 58).
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Figura 57: P01 e P02
Fonte: Acervo pessoal
Além dessas também temos a P05 que dá acesso ao BWC, feita com chapa de
compensado com 02cm de espessura, impermeabilizada com resina
poliuretana de base vegetal (mamona) e pintada na cor branco.
De um total de oito, seis janelas estão distribuídas em igual quantidade entre
as fachadas laterais direita e esquerda, todas contam com brises fixos a sua
estrutura, a qual é composta de envoltório de pinus com vidro no visor. Devido
à disposição das grelhas e pilares e também a uma questão estética, todas as
janelas possuem larguras distintas e por isso são classificadas como tipos
diferentes.
Seus peitoris e alturas variam entre três opções: Para janelas comuns, peitoris
e alturas de 100cm e 107cm respectivamente; para a janela alta da sala 164cm
e 43cm e para a janela alta do BWC 166cm e 43cm.
Na fachada lateral direita, a J01 (L x H x P = 155 x 43 x 166cm) corresponde a
janela alta do BWC, com abertura tipo maxiar; a J02 (L x H x P = 28 x 107 x
100cm) e também tem abertura maxiar; a J03 (L x H x P = 122 x 107 x 100cm)
com abertura do tipo bandeira. (Vide figura 59).
Na fachada lateral esquerda a J04 (L x H x P = 156 x 43 x 164cm) apresenta
abertura do tipo maxiar, assim como a J05, cujas dimensões são L x H x P = 60
x 107 x 100cm. A J06 por sua vez (L x H x P = 30 x 107 x 100cm) dispõe de
abertura do tipo bandeira. (Vide figura 60).
Figura 56: P03 e P04
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Figura 58: J01, J02 e J03
Fonte: Acervo pessoal
Figura 59: J04, J05 e J06
Fonte: Acervo pessoal
As janelas J07 e J08 são venezianas de madeira fixa, locadas entre a área de
convivência e área técnica, sendo a JO7 (L x H x P = 1,30 x 18 x 208cm) e a J08
(L x H x P = 92 x 66 x 160cm). (Vide figura 61).
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Figura 60: Vista Interna da Área Técnica para Visualizar J07 e J07
Fonte: Acervo pessoal
5.4: Acessórios/mobiliário
Pensando em um melhor aproveitamento do espaço, três móveis foram criados
num processo de criação conjunto ao projeto arquitetônico. São objetos
versáteis, dobráveis e/ou recolhíveis, criados a partir da necessidade de