UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DESEMPENHO E QUALIDADE DO LEITE DE CABRAS SAANEN ALIMENTADAS COM DIFERENTES RELAÇÕES VOLUMOSO:CONCENTRADO, NO PRÉ-PARTO E LACTAÇÃO Autora: Maximiliane Alavarse Zambom Orientadora: Prof a Dr a Claudete Regina Alcalde Dissertação apresentada, como parte das exigências para obtenção do título de MESTRE EM ZOOTECNIA, no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá - Área de Concentração Produção Animal MARINGÁ Estado do Paraná Abril – 2003
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desempenho e qualidade do leite de cabras saanen alimentadas ...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DESEMPENHO E QUALIDADE DO LEITE DE CABRASSAANEN ALIMENTADAS COM DIFERENTESRELAÇÕES VOLUMOSO:CONCENTRADO,
NO PRÉ-PARTO E LACTAÇÃO
Autora: Maximiliane Alavarse ZambomOrientadora: Profa Dra Claudete Regina Alcalde
Dissertação apresentada, como partedas exigências para obtenção do títulode MESTRE EM ZOOTECNIA, noPrograma de Pós-Graduação emZootecnia da Universidade Estadual deMaringá - Área de ConcentraçãoProdução Animal
MARINGÁEstado do Paraná
Abril – 2003
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Acima de tudo o amor
Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria
como sino ruidoso ou como címbalo estridente.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda
a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não
tivesse o amor , eu não seria nada.
Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu
corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria.
O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de
orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita,
não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.
Gipson & Grossman (1989) relataram que o modelo de Grossman (multifásico) foi
eficiente tanto para descrever o comportamento da curva de lactação de vacas, quanto
para cabras.
Ribeiro et al. (1997) compararam funções matemáticas no ajuste da curva de
lactação de cabras mestiças, com produção de leite máxima de 1,8 kg, e verificaram que
qualquer uma das funções estudadas (função polinomial inversa, função quadrática e
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função quadrática logarítmica) poderia ser utilizada para representar a curva de lactação
média e individual do rebanho.
Willians (1993), testando vários modelos, para cabras em lactação, relata que a
diferença entre a variância residual do modelo de Wood com outros modelos, contendo
mais parâmetros, foi relativamente pequena. Isto sugere que o uso do modelo de Wood
pode ser adequado para estudar os fatores que afetam a curva de lactação de cabras.
No estudo com cabras mestiças, Saanen Macedo et al. (2001), concluíram que o
modelo de Wood não-linear foi que o melhor descreveu o comportamento da curva de
lactação, pois o mesmo apresentou menor variância quando comparado a outros
modelos. Os mesmos autores relatam que estratégias de suplementação com
concentrado podem afetar a curva de lactação de cabras, dependendo do sistema de
produção.
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Literatura Citada
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Desempenho e qualidade do leite de cabras Saanen alimentadas com diferentes
relações volumoso:concentrado, no pré-parto e lactação
RESUMO: Foram utilizadas 20 cabras leiteiras Saanen (± 58,5 kg), em
delineamento inteiramente casualizado, submetidas a diferentes relações
volumoso:concentrado nas rações (40:60, 50:50, 60:40, 70:30 e 80:20), com cinco
níveis energéticos (2,95; 2,83; 2,70; 2,58 e 2,46 Mcal de EM/ kg MS, respectivamente)
durante as fases do ciclo produtivo (pré-parto, início de lactação e após 60 dias de
lactação). Os objetivos deste trabalho foram: avaliar o desempenho e as características
qualitativas do leite e, descrever a curva de lactação das cabras. Os tratamentos não
influenciaram (P>0,05) no peso vivo (kg) das cabras, durante as fases. Com relação às
ingestões dos nutrientes (kg/dia) foram verificadas diferenças entre os tratamentos, de
acordo com cada fase. Quanto aos parâmetros sanguíneos (mg/dL) não foram
observadas diferenças (P>0,05) nos valores de uréia para nenhuma das fases analisadas,
porém para os valores de triglicerídeos e colesterol verificou-se diferenças (P<0,05),
dependendo da fase produtiva. A produção de leite foi influenciada (P<0,05) pelos
tratamentos, sendo que a ração que continha maior teor energético foi a que
proporcionou maior produção de leite (3,41 kg/dia). Não foram verificadas diferenças
(P>0,05) entre os tratamentos para os teores dos nutrientes do leite. Com relação aos
parâmetros do modelo, não foram verificadas diferenças (P>0,05) para os valores de a
(produção inicial), b (taxa de acréscimo de produção até o pico) e c (taxa de declínio de
produção após o pico). No entanto, foi observado um efeito linear decrescente
(Y=104,85-1,08x) para P (dia de produção no pico) e PP (produção no pico) (Y=5,05-
0,03828x). A relação volumoso:concentrado com maior nível energético apresentou
melhor desempenho produtivo dos animais, no entanto a qualidade do leite não foi
alterada.
Palavras-chave: cabras leiteiras, final de gestação, parâmetros sangüíneos, níveisenergéticos
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Performance and quality of milk of Saanen goats feeding with different roughage:
concentrate ratios, in the prepartum and lactation
ABSTRACT: Twenty Saanen goats (± 58.5 kg), in a completely randomized
design, were used, submitted to different roughage: concentrate ratios (40:60, 50:50,
60:40, 70:30 and 80:20) with five energetic levels (2.95; 2.83; 2.70; 2.58 e 2.46 Mcal de
EM/ kg MS, respecting), during the phases of productive cycle (prepartum, early
lactation and after 60 day of lactation). The objectives of this work were to evaluate the
performance and the qualitative characteristics of the milk, to describe the lactation
curve of the goats. The treatments did influence (P>0.05) the live weight (kg) of the
goats, during the phases. With regard to nutrients intake (kg/day) differences between
roughage: concentrate ratios in the ration were verified, according to each phase. For
blood parameters (mg/dl), differences (P>0.05) were not observed in the values of urea
for none of the phases analyzed, however for the triglycerides and cholesterol values it
was verified differences (P<0.05), depending on the phases. The milk production was
influenced (P<0.05) by the treatments in the beginning of lactation and after the peak of
production. Differences (P>0.05) for milk nutrients were not observed. With regard to
the model parameters differences were not observed (P>0.05) for the values of initial
production, increase rate of production until the peak and decrease rate of production
after the peak. However, a decreasing linear effect (Y=104.85-1.08x) for days of
production in the peak and production in the peak (Y=5.05-0.03828x) were detected.
The roughage: concentrate ratio, with greater energy level, indication the best
performance for to milk production, however, the quality of milk were not altered.
Key-words: dairy goat, pregnancy, blood parameters, energy level
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Introdução
Segundo o NRC (2001) e Mello Junior (2001), o período de transição compreende
o período de tempo entre as três semanas pré-parto e três semanas pós-parto.
Recomenda-se que neste período as rações, para animais em transição, sejam
formuladas com os mesmos ingredientes que serão usados para formular a ração de
lactação.
O principal objetivo na implantação de um manejo nutricional diferenciado no
período de transição é maximizar o consumo de alimentos no pós-parto, fornecendo ao
animal condições para aumentar a produção de leite. Assim, o pico de produção tende a
ser maior, além de haver uniformidade na produção.
Para Economides & Louca (1987), existe uma alta correlação (r=0,81) entre a
produção total na lactação e os dias de maior produção no início de lactação. A ingestão
de alimentos por cabras no final de gestação e logo após o parto é baixa, porém tende a
aumentar cerca de 40% nas primeiras semanas de lactação, atingindo o máximo
consumo entre a sexta e décima semana após o parto, no entanto o pico de produção de
leite ocorre antes deste período, entre a quarta e sétima semana, (Hadjipanayiotou,
1987). O nível de energia da ração de cabras lactantes afeta a ingestão de matéria seca, e
em conseqüência, o ganho de peso, produção e teor de gordura do leite, pico e
persistência do ciclo de lactação (Silva et al., 1996).
Arruda et al. (1996), trabalhando com cabras mestiças (Alpina x Moxotó) aos 100
dias de gestação fornecendo três dietas distintas, verificaram que os animais que
receberam suplementação energética e protéica durante o período final de gestação,
apresentaram maior produção de leite na lactação subseqüente.
Rodrigues et al. (2001), avaliaram os últimos 30 dias de gestação de cabras
Alpinas, as quais estavam divididas em três grupos, recebendo dietas com 13% de
proteína bruta e 1,0; 1,4 ou 1,7 Mcal EL/kg MS. Neste experimento constatou-se
diferenças quanto à ingestão de matéria seca (IgMS, kg/dia e %PV), encontrando-se
maiores ingestões para as dietas com 1,4 e 1,7 Mcal EL/kg MS e para ingestão de fibra
em detergente neutro (IgFDN, kg/dia e %PV) verificou-se que esta foi menor para os
animais que recebiam o maior nível energético.
O nível de extrato etéreo na dieta pode influenciar nos níveis de colesterol e
triglicerídeos no sangue. Beynen et al. (2000), trabalhando com cabras Dutch White
(58,8 kg) gestantes e em lactação, encontraram maiores quantidades de colesterol e
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triglicerídeos (mmol/L) no plasma destes animais, quando os mesmos receberam dietas,
contendo aproximadamente 8,0% de extrato etéreo (EE), comparada a uma dieta com
2,6% de EE.
Adogla-Bessa & Aganga (2000), trabalhando com cabras da raça Tswana, (30 kg),
iniciou o fornecimento de três níveis energéticos, logo após o parto. As dietas
continham 10% de PB. Os autores verificaram que a maior ingestão de energia
metabolizável (IgEM, Mcal/kg MS) associada a maior IgMS (kg/dia), acarretou em
maior produção de leite.
Goetsch et al. (2001), trabalharam com cabras Alpinas (59kg), em três fases
distintas: lactação avançada, período seco e início de lactação, subseqüente. Os autores
trabalharam com diferentes relações volumoso:concentrado e diferentes níveis
energéticos, para cada fase estudada. Não foram encontradas diferenças para IgMS em
nenhuma das fases estudadas. Porém verificaram-se diferenças quanto ao peso vivo do
animal, produção e qualidade do leite, de acordo com o nível energético de cada período
estudado.
Lu et al. (1987), trabalhando com duas densidades de energia na ração (58% e 72%
NDT; 2,55 e 3,17 Mcal ED/kg de MS, respectivamente), observaram que a ingestão de
matéria seca foi negativamente relacionada com o aumento da densidade energética da
ração. Os valores obtidos foram de 2,77 e 1,96 kg de MS/ dia, para as rações de baixa e
de alta energia, respectivamente.
No entanto, Osuji (1987), utilizando rações isoprotéicas com 1,3; 2,1; 2,2 e 2,6
Mcal ED/kg de MS, não registrou diferenças na ingestão de matéria seca das cabras,
sendo que os valores obtidos foram de 2,77%; 3,11%; 3,07% e 2,95% do peso vivo,
respectivamente. Da mesma forma Silva et al. (1999), trabalhando com cabras mestiças
(45,3 kg), usando três níveis energéticos nas rações (2,85; 2,97 e 3,20 Mcal ED/kg de
MS) não observaram mudanças na ingestão de MS (1,56; 1,76 e 1,68 kg de MS/dia) e
no teor de gordura do leite. Porém, observaram menor perda de peso nos animais que
receberam a ração com maior nível energético, isto ocorreu em função da redução da
mobilização de reservas orgânicas para produção. Quanto à produção de leite, a resposta
foi semelhante entre as rações com 2,97 e 3,20 Mcal ED/kg de MS, sendo estas maiores,
quando comparada a 2,85 Mcal ED/kg de MS.
A qualidade do leite está diretamente relacionada com o tipo e a qualidade da dieta
dos animais. O tipo de volumoso utilizado, a concentração energética e protéica da dieta
pode afetar a composição do leite.
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Ribeiro et al. (1997), trabalhando com cabras leiteiras, verificaram que durante a
produção de leite ao longo da lactação, a composição do leite variou para os teores de
proteína, cinzas, gordura e lactose. Sendo que para gordura e lactose, o nível de
produção de leite também influenciou em seus teores.
Um aspecto importante na exploração da caprinocultura de leite é conhecer o
comportamento produtivo do animal ao longo da lactação, visto que esse conhecimento
dá condições de se estabelecer estratégias de manejo nutricional, a fim de maximizar a
produção. Estas informações são obtidas através do estudo do comportamento da curva
de lactação (Macedo et al., 1999).
Existem diferentes modelos matemáticos que descrevem o comportamento da
curva de lactação, no entanto, os parâmetros utilizados nos modelos, nem sempre se
ajustam adequadamente, pois há um grande número de fatores que podem estar
influenciando na produção.
O método mais comumente usado para determinar o comportamento regular da
curva de lactação utiliza os próprios dados experimentais em função do tempo, que é
contínuo e capaz de ser diferenciado, através de toda lactação (Cappio-Borlino et al.,
1997).
O modelo de Wood tem sido usado na maioria dos estudos de curva de lactação,
pois permite a estimativa de características básicas da curva, como produção máxima,
tempo para se atingir essa produção e persistência, com apenas três parâmetros (Wood
1967, citado por Ribeiro & Pimenta Filho, 1999).
Ribeiro et al. (1997) compararam funções matemáticas no ajuste da curva de
lactação de cabras mestiças, com produção de leite máxima de 1,8 kg, e verificaram que
qualquer uma das funções estudadas (função polinomial inversa, função quadrática e
função quadrática logarítmica) poderia ser utilizada para representar a curva de lactação
média e individual do rebanho.
Willians (1993), testando vários modelos, para cabras em lactação, relata que a
diferença entre a variância residual do modelo de Wood com outros modelos, contendo
mais parâmetros, foi relativamente pequena. Isto sugere que o uso do modelo de Wood
pode ser adequado para estudar os fatores que afetam a curva de lactação de cabras.
Macedo et al. (2001), num estudo com cabras mestiças Saanen, concluíram que o
modelo de Wood não-linear foi que o melhor descreveu o comportamento da curva de
lactação, pois o mesmo apresentou menor variância quando comparado a outros
modelos. Os mesmos autores relatam que estratégias de suplementação com
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concentrado, podem afetar a curva de lactação de cabras, dependendo do sistema de
produção.
Os objetivos do trabalho foram avaliar o desempenho e as características
qualitativas do leite de cabras leiteiras Saanen submetidas a diferentes relações
volumoso:concentrado, durante o pré-parto e lactação e descrever a curva de lactação
das cabras, por meio do modelo de Wood não-linear, avaliando o efeito dos tratamentos
sobre os parâmetros da curva de lactação.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Setor de Caprinocultura da Fazenda Experimental
de Iguatemi e no Laboratório de Análise de Alimentos e Nutrição Animal, da
Universidade Estadual de Maringá (UEM), no período de janeiro a dezembro de 2002.
Em janeiro e fevereiro de 2002 foi realizada a sincronização de cio e cobertura
(monta natural) de 30 cabras da raça Saanen, as quais foram cobertas com machos da
raça Boer. As cabras utilizadas eram multíparas com peso vivo médio de 58,50 kg.
O programa de sincronização de cio utilizado foi o método do uso das esponjas
vaginais, citado por Ribeiro (1998). Sendo o tratamento utilizado: esponja empregnada
com progesterona sintética (45 mg de acetato de fluorogestona), a qual permaneceu na
vagina da cabra por 11 dias; 48 horas antes da remoção da esponja (9º dia) foi injetado,
via intramuscular, 200 a 300 UI de PMSG e 50 a 100 µg de prostaglandina F-2α
sintética. Com a retirada da esponja, os animais entraram em cio, aproximadamente 48
horas após, sendo realizada a cobertura das cabras. Cerca de 21 dias após a cobertura foi
feito o repasse com o rufião para verificar se as cabras retornaram ao cio. Trinta dias
após a cobertura foi feita a ultrassonografia para confirmação da prenhez, sendo que do
grupo de cabras que foi coberto, cinco destas não emprenharam.
Aproximadamente 30 dias antes da data prevista para o parto, iniciou-se o
fornecimento dos tratamentos aos animais, sendo que do grupo de cabras prenhes
selecionou-se 20 cabras para serem utilizadas no experimento.
Os animais eram mantidos em baias individuais, contendo bebedouro e comedouro,
onde permaneciam confinados. A alimentação era feita duas vezes ao dia, às 8:00h e
15:00h. Logo após a alimentação da manhã os animais eram soltos em um solário para
TABELA 2. Composição química das rações, com base na matéria secaTABLE 2. Chemical composition of the rations, dry matter basis
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
40:601 50:50 60:40 70:30 80:20MS (%)DM (%)
90,48 90,40 91,65 91,72 92,44
PB (%)CP (%)
15,05 15,27 15,29 15,26 15,03
EE (%)EE (%)
6,81 5,81 5,01 3,71 3,00
FDN (%)NDF (%)
35,19 41,95 47,85 53,31 57,27
FDA (%)ADF (%)
20,13 24,99 28,94 32,16 36,01
Lignina (%)Lignin (%)
3,99 5,10 5,89 6,26 6,67
Celulose (%)Cellulose (%)
15,73 18,82 21,28 25,80 27,73
CHOT (%)2
CHOT (%)72,03 72,20 72,34 73,34 72,98
Cinzas (%)Ash (%)
5,90 6,47 7,34 7,19 8,84
Ca (%)3
Calcium (%)0,45 0,45 0,45 0,45 0,45
P (%)3
Phosphorus (%)0,32 0,32 0,32 0,32 0,32
EM (Mcal/kg MS)3
ME (Mcal/kg DM)2,95 2,83 2,70 2,58 2,46
NDT (%)3
TDN (%)85,84 81,70 77,56 73,42 69,28
1Tratamentos: 40 % volumoso + 60% concentrado, 50 % volumoso + 50% concentrado, 60 % volumoso+ 40% concentrado, 70 % volumoso + 30% concentrado, 80 % volumoso + 20% concentrado1Tratament: 40% roughage + 60% concentrate, 50% roughage + 50% concentrate, 60% roughage +40% concentrate, 70% roughage + 30% concentrate, 80% roughage + 20% concentrate2Estimado através da fórmula de Sniffen et al. (1992): CHOT = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas) 2Formula estimated through of Sniffen et al. (1992): CHOT = 100 – (%CP + %EE + % Ash )3Valores obtidos de dados tabulares para as estimativas da composição das rações (NRC, 1996).3Values tabulated to the estimate of ration composition (NRC, 1996).
Período de lactação
O período de lactação dos animais foi dividido em duas fases, sendo a primeira
equivalente aos 60 dias inicias de lactação e a segunda fase equivaleu aos 90 dias
seguintes à primeira fase, isto é, do 61º dia ao 152º dia de lactação. A lactação foi
dividida em duas fases para avaliar o desempenho dos animais. A definição da duração
21
de cada fase foi de acordo com a duração do ciclo produtivo da cabra leiteira adulta,
segundo Ribeiro (1998).
Logo após o parto e durante aproximadamente 60 dias de lactação as coletas de
sangue, leite e a pesagem dos animais eram realizadas semanalmente; após a ordenha e
antes da alimentação da manhã. Após o 60º dia de lactação, as coletas e a pesagem dos
animais foram realizadas quinzenalmente.
Durante o período de lactação houve o controle diário de produção de leite. Para a
análise da composição e qualidade do leite, foram coletadas amostras (8:00 e 15:30h), a
partir de sete dias de lactação, sendo estas acondicionadas em frasco plástico contendo
conservante Bronopol, (2-bromo-2-nitro-1,3-propanodiol). Avaliando-se nas amostras
os teores de: sólidos totais, proteína bruta, gordura e lactose, através do analisador
infravermelho (Bentley 2000). A contagem de células somáticas foi executada por um
contador eletrônico (Somacount 500), onde os núcleos das células são corados e
expostos a um raio laser, refletindo luz vermelho (fluorescência). Estas análises foram
feitas no Laboratório do Programa de Análises do Rebanho Leiteiro do Paraná
(PARLPR) da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa.
Os dados foram analisados, utilizando-se o programa SAEG e o modelo estatístico
escolhido foi:
Yij= µ + b1 (V –Vm)i + eij
Onde:
Yij: observação do animal j recebendo o volumoso i, i = 40, 50, 60, 70 e 80;
µ: constante geral;
b1: coeficiente linear de regressão da variável Y em função do tratamento i, i = 40, 50,
60, 70 e 80;
V: efeito do volumoso i, i = 40, 50, 60, 70 e 80;
Vm: média do volumoso i, i = 40, 50, 60, 70 e 80;
eij: erro aleatório associado a cada observação.
O modelo utilizado para análise dos parâmetros da curva de lactação foi através do
modelo de Wood não-linear, Macedo (1999) verificou que este modelo foi o que
melhor descreveu a curva de lactação de cabras Saanen, conforme segue abaixo:
Y = AnBexp(-Cn)
22
Onde:
Y = produção de leite em (kg) ao tempo t (dias de lactação)
A = produção de leite inicial (kg)
B = taxa de acréscimo de produção até o pico
C = taxa de declínio de produção após o pico
n = dia de lactação
exp = exponencial
A partir dos parâmetros do modelo são analisados o dia de produção no pico (P) e
produção de leite no pico (PP).
Onde:
P = B/C
PP = A(B/C)Be-B
Os efeitos dos tratamentos nos parâmetros do modelo foram avaliados através da
análise de variância, utilizando-se o mesmo modelo estatístico descrito anteriormente.
Resultados e Discussão
Pré-parto
As médias observadas para peso vivo e ingestões de matéria seca, matéria orgânica,
proteína bruta, extrato etéreo, carboidratos totais, fibra em detergente neutro e nutrientes
digestíveis totais durante o período pré-parto, encontram-se na Tabela 3.
O fornecimento dos tratamentos durante os 21 dias antecedentes ao parto não
influenciaram (P>0,05) no peso vivo (kg) das cabras.
Durante os 21 dias pré-parto não foram observadas diferenças (P>0,05) em relação
à ingestão de matéria seca (IgMS) em kg/dia, %PV e g/PV0,75, matéria orgânica,
proteína bruta, carboidratos totais, fibra em detergente neutro e nutrientes digestíveis
totais. A IgMS neste período foi de 1,83% do peso vivo (PV), em média. A baixa
ingestão nesta fase fisiológica se dá, devido à limitada capacidade de ingestão, pois é no
terço final da gestação que ocorre o maior crescimento do feto, o que leva à uma
redução no volume do rúmen, devido à compressão do útero, podendo acarretar em
23
reduções de 25% a 35% do consumo (para vacas). No entanto, no presente trabalho
foram observadas reduções de 72,86% na ingestão de matéria seca, na média dos
tratamentos, havendo uma variação de 29,57 à 100,62%.
TABELA 3. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) ecoeficiente de variação (CV) para peso vivo (kg), ingestões de matériaseca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), extratoetéreo (IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro(IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT) de acordo com asrelações volumoso:concentrado (V:C) em rações para cabras Saanen noperíodo pré-parto
TABLE 3. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) for liveweight (kg), intake of dry matter (IDM), organic matter (IOM), crude protein (ICP),ether extract (IEE), total carbohydrates (ICHT), neutral detergent fiber (INFD) andtotal digestible nutrients (ITDN) according to roughage:concentrate (R:C) ratio inration for Saanen goats in prepartum
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
Com relação à ingestão de extrato etéreo (IgEE), observou-se um efeito linear
(P=0,0002), pois ao mesmo tempo em que se aumentava o teor de energia, em função
do acréscimo de óleo vegetal na ração elevava-se à ingestão de extrato etéreo (Figura 1).
Rodrigues et al. (2001), trabalhando com cabras gestantes da raça Alpina, com três
níveis de energia na dieta (1,0; 1,4 e 1,7 Mcal EL/kg MS ou 1,62; 2,21 e 2,78 Mcal
EM/kg MS), encontraram diferenças (P<0,05) para IgMS entre a dieta com menor nível
de energia e as demais. A IgMS para as dietas com maiores teores de energia foi de 1,72
%PV, dados estes semelhantes aos encontrados no presente estudo. Isto provavelmente
ocorreu, devido aos níveis de energia de 2,21 e 2,78 Mcal EM/kg MS serem mais
próximos dos níveis trabalhados.
Goetsch et al. (2001), utilizando cabras Alpinas (65,9 kg de PV) nas diferentes
fases fisiológicas, avaliaram diferentes relações volumoso:concentrado, para cada fase.
Durante o período pré-parto, trabalharam com três relações diferentes, sendo estas,
35:65, 50:50 e 65:35, os níveis energéticos eram 2,65; 2,42 e 2,18 Mcal EM/kg MS,
respectivamente. Os autores não encontraram diferenças (P>0,05) para ingestão de MS
(kg/dia) entre os tratamentos avaliados, sendo que a média de IgMS foi de 2,17 kg de
MS/dia, valor este superior ao encontrado no presente trabalho (1,10 kg de MS/dia), isto
se deve provavelmente ao maior peso dos animais do referido experimento, além dos
teores de energia metabolizável (EM) serem menores.
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0,12
40 50 60 70 80%Volumoso na ração
% Roughage in the ration
IgEE
(kg/
dia)
IEE
(kg/
day)
FIGURA 1. Ingestão de extrato etéreo (kg/dia) em função da % de volumoso na raçãoFIGURE 1. Ether extract intake (kg/day) in function of the % of roughage in the ration
Y=0,165-0,0017xR2=0,89
25
Na Tabela 4 podemos observar os parâmetros sanguíneos dos animais submetidos
aos devidos tratamentos. Com relação aos parâmetros sanguíneos não foram observadas
diferenças (P>0,05) para os valores de colesterol e uréia, no entanto, para triglicerídeos
(mg/dL) verificou-se um efeito linear (P=0,046), pois as rações com maior valor
energético estavam associadas com o maior teor de extrato etéreo, em função de
maiores níveis de óleo na ração. Assim, quanto maior foi a IgEE, maior foi a
concentração TG no soro. Na figura 2 podemos observar o comportamento da
concentração de TG no soro em função do teor de volumoso na ração.
Beynen et al. (2000) estudaram a influência de gordura na dieta, nas concentrações
de colesterol e triglicerídeos no plasma de cabras Dutch White vazias (PV de 58,8 kg) e
verificaram que a utilização de altos níveis de óleo na dieta (8,5%) elevou os níveis de
colesterol e triglicerídeos no plasma, comparado a uma ração sem adição de óleo.
TABELA 4. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) ecoeficiente de variação (CV) dos parâmetros sanguíneos (colesterol,triglicerídeos e uréia; mg/dL) no soro de cabras Saanen em período pré-parto, recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado
TABLE 4. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) of bloodparameters (cholesterol, triglicerides and urea, mg/dL) in the serum of Saanengoats in the prepartum period, receiving rations with different roughage:concentrate ratios
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
detergente neutro e nutrientes digestíveis totais.
As diferentes relações volumoso:concentrado não influenciaram no peso vivo (kg)
das cabras durante o início de lactação. No entanto, podemos observar (Tabela 5)
através das equações de regressão, um efeito linear decrescente para as ingestões. Para a
ingestão de matéria seca (IgMS) em kg/dia (Figura 3), foram verificadas diferenças
(P=0,0176) entre os tratamentos, sendo que conforme aumentava a inclusão de
volumoso na ração, havia diminuição na IgMS, o mesmo comportamento foi verificado
para IgMS (%PV) (P=0,0036) e IgMS (g/PV0,75) (P=0,0040).
Y=50,794-0,3222xR2= 0,87
27
TABELA 5. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) ecoeficiente de variação (CV) para peso vivo (kg), ingestões de matériaseca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), extratoetéreo (IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro(IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT) de acordo com asrelações volumoso:concentrado (V:C) em rações para cabras Saanen noinício de lactação.
TABLE 5. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) for liveweight (Kg), intake of dry matter (IDM), organic matter (IMO), crude protein (ICP),ether extract (IEE), total carbohydrates(ICHOT), neutral detergent fiber (INFD),total digestible nutrients (ITDN) according to roughage:concentrate (R:C) ratio inrations to Saanen goats in early lactation.
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
1NS=P>0,051Not significant at 5% of probability by F test
28
1,51,61,71,81,9
22,12,2
40 50 60 70 80%Volumoso na ração% Roughage in the ration
IgM
S (k
g/di
a)ID
M (k
g/da
y)
FIGURA 3. Ingestão de matéria seca (kg/dia) em função da % de volumoso na raçãoFIGURE 3. Intake of dry matter (kg/day) in function of the % of roughage in the ration
Goetsch et al. (2001), utilizando cabras Alpinas (55 kg de peso vivo) em inicio de
lactação, avaliaram a influência de três dietas pré-parto, com diferentes relações
volumoso:concentrado (35:65, 50:50 e 65:35, os níveis energéticos eram 2,65; 2,42 e
2,18 Mcal EM/kg MS respectivamente) na lactação subseqüente. A ração de lactação
tinha uma relação volumoso:concentrado de 50:50, com 2,42 Mcal de EM/ kg de MS,
47,6% de FDN e 16,7% de PB. Os autores não observaram diferenças (P>0,05) no peso
vivo e na IgMS (média de 2,16 kg /dia), resultados estes diferentes do obtido no
presente trabalho.
Adogla-Bessa & Aganga (2000), trabalhando com cabras da raça Tswana, na
África, com peso vivo médio entre 25 e 32 kg, em início de lactação, avaliaram a
influência do nível de ingestão sobre o desempenho produtivo. Foi utilizada uma ração
com 3,27 Mcal EM/kg MS e 10% PB. Os autores observaram resultados para IgMS
diferentes entre os tratamentos (119,3; 103,3 e 74,3 g/PV0,75, equivalendo a dietas com
alta, média e baixa energia, respectivamente), resultados estes semelhantes aos
observados neste estudo (Y=138,06-0,84x). Ambos estudos verificaram um efeito linear
negativo quando da inclusão de maiores níveis de volumoso na ração.
Brown-Crowder et al. (2001) avaliaram a inclusão de diferentes níveis de gordura
na dieta (0; 1,5%; 3,0%; 4,5% e 6,0%) de cabras Alpinas (47 kg PV) em início de
lactação. As rações tinham 2,7%; 4,1%; 5,4%; 6,8% e 8,1% de EE, 2,44; 2,53; 2,60;
2,69 e 2,72 Mcal de EM/kg de MS, 38,9%; 37,9; 34,0%; 34,0% e 34,6% de FDN,
Y=2,79-0,0157xR2=0,85
29
respectivamente. Não foram observadas diferenças (P>0,05) no peso vivo e na IgMS
(kg/dia). A partir destes resultados, verifica-se que até o nível de 8,1% de EE na ração,
para cabras em início de lactação, não há limite de ingestão de matéria seca. Neste
estudo, também não foi verificado limitação da ingestão nas rações com maior teor de
EE (6,81%), sendo que as menores ingestões foram para as rações com maior
quantidade de volumoso. Assim, teores de EE até 8,0% na ração de início de lactação,
não deprime a ingestão, pois provavelmente, o controle da ingestão esteja mais
correlacionado com o nível energético e relação volumoso:concentrado.
Com relação às ingestões de matéria orgânica, proteína bruta, extrato etéreo,
carboidratos totais, fibra em detergente neutro (Figura 4) e nutrientes digestíveis totais,
foram verificadas diferenças (P<0,05) entre os tratamentos.
0,9
1
1,1
1,21,3
1,4
1,5
1,6
1,7
40 50 60 70 80% Volumoso na ração% Roughage in the ration
IgFD
N (k
g/di
a)IN
DF
(kg/
day)
FIGURA 4. Ingestão de fibra em detergente neutro (kg MS/dia) em função da % devolumoso na ração
FIGURE 4. Intake of neutral detergent fiber (kg/day) in function of the % of roughage in theration
As médias observadas, equações de regressão e, coeficientes de determinação e
variação, para produção de leite (kg/dia), eficiência de produção de leite (produção de
leite:IgMS) e parâmetros sanguíneos de cabras Saanen em início de lactação, recebendo
rações com diferentes relações volumoso:concentrado, encontram-se na Tabela 6.
Y=2,26-0,0156xR2=0,81
30
TABELA 6. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) ecoeficiente de variação (CV) para produção de leite (PL), produçãoleite:IgMS (PL:IgMS) e parâmetros sanguíneos (colesterol, triglicerídeose uréia; mg/dL) no soro de cabras Saanen em início de lactação,recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado.
TABLE 6. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient variation (CV) for milkproduction (PL), milk production:IDM (MP:IDM) and blood parameters (cholesterol,triglicerides and urea; mg/dL) in the serum of Saanen goats in early lactation,receiving rations with different roughage:concentrate ratios.
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
A produção de leite, durante os 60 primeiros dias de lactação, foi influenciada pela
relação volumoso:concentrado na ração, observando um efeito linear negativo
(P=0,006) em função do aumento da quantidade de volumoso na ração (Figura 5).
A eficiência de produção de leite (produção leite por IgMS) não foi influenciada
(P>0,05) pela relação volumoso:concentrado, isto, devido à produção de leite ter
acompanhado a IgMS, assim, os animais que obtiveram maiores produções, também
foram os animais que mais ingeriram ração. Resultados estes similares aos obtidos por
Adogla-Bessa & Aganga (2000), os quais trabalharam com cabras da raça Tswana, na
África, com peso vivo médio entre 25 e 32 kg, em início de lactação, e avaliaram a
influência do nível de ingestão sobre o desempenho produtivo. Foi utilizada uma ração
com 3,27 Mcal EM/kg MS e 10% PB. Os autores verificaram que a maior ingestão de
energia metabolizável (IgEM, Mcal/kg MS) associada a maior IgMS e IgPB (kg/dia),
acarretou em maior produção de leite, no entanto a conversão de leite não foi diferente
entre as dietas, pois a produção de leite acompanhou linearmente a IgMS.
31
1,8
2
2,2
2,4
2,6
2,8
3
3,2
3,4
40 50 60 70 80%Volumoso na ração
% Roughage in the ration
Prod
ução
leite
(kg/
dia)
Milk
pro
duct
ion
(kg/
day)
FIGURA 5. Produção de leite (kg/dia) em função da % de volumoso na raçãoFIGURE 5. Milk production (kg/day) ) in function of the % of roughage in the ration
Os resultados observados para produção de leite e eficiência de produção de leite
(efeito linear decrescente em função do nível de volumoso na ração), foram distintos
dos resultados obtidos por Brown-Crowder et al. (2001), os quais verificaram um efeito
quadrático da produção de leite em função dos teores de EE na ração. Isto é, houve um
aumento da produção de leite até o nível de 5,4% de EE, a partir deste valor começou a
haver queda na produção. Em relação à eficiência de produção foi verificado um efeito
linear decrescente em função do acréscimo de gordura na ração. Provavelmente, estas
discordâncias se deram em função dos altos teores de EE usados por Brown-Crowder et
al. (2001), além dos mesmos, terem trabalhado com menores níveis de energia na ração.
Com relação aos parâmetros sanguíneos obtidos no soro, não foram observadas
diferenças (P>0,05) entre os tratamentos para colesterol, triglicerídeos e uréia, sendo os
valores médios de 103,5; 15,3 e 40,7; respectivamente. O valor médio observado para
uréia no soro foi semelhante ao observado por Brown-Crowder et al. (2001), os quais
obtiveram o valor de 38,6 mg/dL. Cabiddu et al. (1999) avaliaram três rebanhos
caprinos (raça Corsican) com 80 dias de lactação, no Mediterrâneo, e os valores obtidos
foram de 98,4; 12,78 e 35,17 mg/dL; para colesterol, triglicerídeos e uréia,
respectivamente.
Ŷ=4,65-0,0335xR2=0,74
32
Lactação (61 a 152 dias)
A segunda fase do ciclo produtivo de cabras leiteiras adultas é mais simples do que
o período inicial de lactação, pois nesta fase a capacidade de ingestão está normalizada
(Ribeiro, 1998). Assim, na Tabela 7, são apresentadas as médias observadas, equações
de regressão e, coeficientes de determinação e variação para peso vivo (PV) e ingestões
(IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro (IgFDN) e nutrientes
digestíveis totais (IgNDT), para cabras Saanen em lactação recebendo diferentes
relações volumoso:concentrado na ração.
As diferentes relações volumoso:concentrado nas rações não influenciaram no peso
vivo (kg) das cabras após o pico de lactação. Também, não foram observadas diferenças
(P>0,05) para IgMS (kg/dia; %PV e g/PV0,75) e IgCHOT (kg/dia).
Ribeiro (2000), trabalhando com cabras Saanen em lactação, testando volumosos,
utilizou ração com relação volumoso:concentrado de 50:50 (2,54 Mcal de EM/kg MS;
18% proteína digestível), para avaliar a influência da fonte de volumoso na ração, sobre
as ingestões de matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro. O autor
verificou diferenças entre os volumosos estudados e para IgMS observou que os
maiores valores foram para feno de alfafa (2,60 kg/dia ou 5,54% PV), quando
comparado a silagem de milho (1,84 kg/dia ou 3,74% PV), no entanto, o feno de aveia
(2,05 kg/dia ou 3,91% PV), não diferiu dos outros volumosos utilizados, resultados
estes similares aos obtidos no estudo (Y=2,33 kg/dia; 3,82% PV).
Silva et al. (1999), trabalhando com 18 cabras SRD (45,3 kg PV), avaliaram a
utilização de diferentes relações volumoso:concentrado (T1=62:38; T2=52:48 e
T3=42:58), com diferentes níveis energéticos (T1=2,34; T2=2,44 e T3=2,62 Mcal de
EM/ kg MS), no desempenho destes animais. Nos 105 primeiros dias de lactação
avaliados não encontraram diferenças (P>0,05) para IgMS (3,88 %PV ou 98,93
g/PV0,75), resultados estes similares aos obtidos neste estudo (IgMS de 3,82 %PV ou
106,00 g/PV0,75).
Lu et al. (1987), utilizando cabras Alpina e Nubianas, nas primeiras 20 semanas de
lactação, avaliaram dois níveis energéticos na ração (2,09 e 2,60 Mcal de EM/kg MS,
com 15% de PB) e verificaram diferenças (P<0,05) quanto a IgMS, sendo que esta foi
33
menor (1,96 kg/dia) para as rações com maior nível energético comparada à ração com
menor valor calórico.
TABELA 7. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) ecoeficiente de variação (CV) para peso vivo (kg), ingestões de matériaseca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), extratoetéreo (IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro(IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT) de acordo com asrelações volumoso:concentrado (V:C) em rações para cabras Saanenapós 60 dias de lactação
Table 7. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation(CV) for liveweight (Kg), intake of dry matter (IDM), organic matter (IOM),crude protein (CP),ether extract (IEE), total carbohydrates(ICHOT), neutral detergent fiber(INFD) andtotal digestible nutrients(ITDN) according to roughage:concentrate (R:C) ratio inrations to Saanen goats after 60 days of lactation.
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
Goetsch et al. (2001), utilizando cabras Alpinas (59 kg de peso vivo) em lactação
(63 a 112 dias), avaliaram a influência de quatro relações volumoso:concentrado
(T1=80:20; T2=65:35; T3=50:50 e T4=35:65), com diferentes níveis energéticos
(T1=2,18; T2=2,34; T3=2,49 e T4=2,62 Mcal de EM/kg MS) e média de 15% PB nas
34
rações. Verificaram que os tratamentos analisados não influenciaram (P>0,05) na IgMS
(média de 2,16 kg/dia), sendo os valores obtidos por estes autores, semelhantes ao
observado no presente estudo (Y=2,33 kg/dia).
De acordo com a Tabela 7, pode-se observar o efeito linear negativo (P<0,05) para
IgMO (kg/dia) (Figura 6), IgPB (kg/dia), IgEE (kg/dia) e IgNDT (kg/dia) em relação
aos tratamentos. Para a IgFDN (kg/dia), foi observado efeito linear positivo (P=0,016),
como demonstrado na Figura 7.
A Tabela 8, apresenta as médias, equações de regressão e, coeficientes de
determinação e variação para produção de leite, eficiência de produção (produção de
leite:IgMS) e parâmetros sanguíneos obtidos no soro, de cabras Saanen após 60 dias de
lactação, recebendo diferentes relações volumoso:concentrado na ração.
2
2,2
2,4
2,6
2,8
40 50 60 70 80%Volumoso na ração
% Roughage in the ration
IgM
O (k
g/di
a)IO
M (k
g/da
y)
FIGURA 6. Ingestão de matéria orgânica (kg/dia) em função da % de volumoso naração
FIGURE 6. Organic matter intake (kg/day) in function of the % of roughage in the ration
Y=3,27-0,0148xR2=0,61
35
0,900
1,000
1,100
1,200
1,300
40 50 60 70 80% volumoso na ração% Roughage in the ration
IgFD
N (k
g/di
a)IN
DF
(kg/
day)
FIGURA 7. Ingestão de fibra em detergente neutro (kg/dia) em função da % devolumoso na ração
FIGURE 7. Intake of neutral detergent fiber (kg/day) in function of the % of roughage in theration
As diferentes relações volumoso:concentrado na ração, influenciaram linearmente
(P=0,003) a produção de leite, após 60 dias de lactação, como pode ser visualizado na
Figura 8.
Ribeiro (2000) avaliou a utilização de diferentes volumosos na dieta (50% de
volumoso + 50% concentrado, com 2,54 Mcal de EM/kg MS e 18% de proteína
digestível) de cabras Saanen em lactação, e observou uma produção de leite de 2,43
kg/dia para o feno de aveia, resultado este semelhante aos valores obtidos para a
produção de leite com 30% de concentrado + 70% de volumoso (2,58 Mcal de EM/kg
MS e 15% PB), demonstrando que a produção de leite, provavelmente, está relacionada
ao nível energético da ração.
Foram observadas diferenças lineares para eficiência de produção de leite
(P=0,025); isto ocorreu em função das relações volumoso:concentrado não terem
apresentado diferenças (P>0,05) na IgMS, mas terem influenciado linearmente na
produção de leite (Figura 9). Assim, os animais ingeriram em média a mesma
quantidade de ração, mas produziram diferentemente entre os tratamentos, ressaltando a
melhor eficiência de produção de leite com rações mais energéticas.
Y=0,62+0,0078xR2=0,66
36
TABELA 8. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) ecoeficiente de variação (CV) para produção de leite (PL), produçãoleite:IgMS (PL:IgMS) e parâmetros sanguíneos (colesterol, triglicerídeose uréia; mg/dL) no soro de cabras Saanen após 60 dias de lactação,recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado
TABLE 8. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) for milkproduction (MP), milk production:IDM (MP:IDM) and blood parameters(cholesterol, triglicerides and urea; mg/dL) in the serum of Saanen goats after 60days of lactation, receiving rations with different roughage: concentrate ratios
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
FIGURA 8. Produção de leite (kg/dia) em função da % de volumoso na raçãoFIGURE 8. Milk production (kg/day) in function of the % of roughage in the ration
Y=4,95-0,0384xR2=0,94
37
0,9
1
1,1
1,2
1,3
1,4
1,5
40 50 60 70 80% Volumoso na ração
% Roughage in the ration
Efic
iênc
ia d
e pr
oduç
ão le
iteM
ilk p
rodu
ctio
n ef
ficie
ncy
FIGURA 9. Eficiência de produção de leite (produção leite:IgMS) em função da % devolumoso na ração
FIGURE 9. Milk production efficiency (milk productin:IgMS) in function of the % ofroughage in the ration
Em relação aos parâmetros sanguíneos, os tratamentos não apresentaram diferenças
(P>0,05) nos teores de triglicerídeos e uréia no soro sanguíneo. Entretanto, foi
observado um efeito linear negativo (P=0,027) do colesterol no sangue (Figura 10). A
partir destes resultados nota-se que os níveis energéticos das rações com maiores
quantidades de concentrado estavam acima das exigências dos animais, neste período.
Pois, o excesso de energia na ração estava sendo acumulado na forma de colesterol no
sangue.
Os valores médios encontrados para uréia no soro (56,00 mg/dL) foram superiores
aos observados por Mouro (2001), que foi de 38,30 mg/dL; a qual trabalhou com cabras
Saanen após 100 dias de lactação, avaliando a substituição do milho pela farinha de
varredura de mandioca na alimentação destes animais, as rações tinham em torno de
73% de NDT e 16% de PB.
Cabiddu et al. (1999), quando avaliaram três rebanhos caprinos (raça Corsican)
com 140 dias de lactação, observaram valores médios de 130,34; 18,96 e 42,2 mg/dL;
para colesterol, triglicerídeos e uréia, respectivamente. Valores estes similares aos
obtidos neste estudo.
Y=1,80-0,0099xR2=0,72
38
115
120
125
130
135
140
145
150
40 50 60 70 80% Volumoso na ração
% Roughage in the ration
Col
este
rol n
o so
ro (m
g/dL
)C
hole
ster
ol in
ser
um (m
g/dL
)
FIGURA 10. Concentração de colesterol no sangue (mg/dL) em função da % devolumoso na ração
FIGURE 10. Concentration of cholesterol in blood (mg/dL) in function of the % of roughagein the ration
Período de lactação total (1 a 152 dias)
A qualidade do leite está diretamente relacionada com o tipo e a qualidade das
dietas que os animais consomem, não havendo grandes variações durante o estádio de
lactação. Assim, foi avaliada a qualidade do leite durante a lactação como um todo (7 a
152 dias). Na Tabela 9, encontram-se as médias, equações de regressão e coeficientes
de determinação e variação, da produção e composição (gordura, proteína, lactose,
sólidos totais e contagem de células somáticas) do leite de cabras Saanen em lactação,
submetidas a diferentes relações volumoso: concentrado.
Com relação às características qualitativas do leite, não foram verificadas
diferenças (P>0,05) quanto aos percentuais de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e
contagem de células somáticas (CCS, cél/mL x 1000) no leite de cabras Saanen
submetidas a diferentes relações volumoso:concentrado. No entanto, quando analisada a
quantidade em g/dia dos nutrientes do leite foi verificado diferenças, havendo um efeito
linear negativo em função da % de volumoso na ração. Estas observações ocorreram em
função das diferenças encontradas para produção de leite, assim a quantidade de
nutriente do leite acompanhou a produção de leite.
Y=173,74-0,65xR2=0,63
39
TABELA 9. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) ecoeficiente de variação (CV) para produção de leite total (PLT)percentagem e produção (g/dia) de gordura, proteína, lactose, sólidostotais (ST) e contagem de células somáticas (CCS; cel/mL x 1000) doleite de cabras Saanen (1 a 152 dias de lactação), recebendo rações comdiferentes relações volumoso:concentrado
TABLE 9. Means, regression equation, coefficient of variation (CV) for total milk production(MPT) percentage and production (g/dia) of fat, protein, lactose, total solid (TS)and somatic cell count (CCS; cel/mL x 1000) of milk of Saanen goats (1 to 152days of lactation), receiving rations with different roughage:concentrate ratios
Relação volumoso:concentradoRoughage:concentrate ratio
1NS=P>0,051Not significant at 5% of Probability by F test
Ribeiro (2000), trabalhando com cabras Saanen em lactação, recebendo uma
relação volumoso:concentrado de 50:50 (2,54 Mcal de EM/kg MS; 18% proteína
digestível), avaliou a influência da fonte de volumoso na ração sobre a produção de leite
e alguns parâmetros qualitativos do leite e, não observou diferenças quanto à produção e
porcentagens de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e CCS (cél/mL x 1000).
Porém, quando avaliou a produção (em g/dia) dos nutrientes do leite, verificou
diferenças entre os volumosos estudados, sendo que os maiores valores foram para feno
de alfafa quando comparado a silagem de milho, no entanto, o feno de aveia não diferiu
40
dos outros volumosos utilizados. Estes resultados se deram em função dos resultados
observados para ingestão de matéria seca, os quais foram de 2,60; 1,84 e 2,05 kg dia,
para feno de alfafa, silagem de milho e feno de aveia, respectivamente.
Mir et al. (1999), trabalhando com cabras Alpinas (74,3 kg) em final de lactação,
avaliaram a inclusão de óleo de canola à ração (2,63 Mcal EM/kg MS e 15%PB), e não
verificaram diferenças quanto à produção de leite e teores de proteína e lactose no leite.
Porém, observaram um efeito linear positivo para o teor de gordura no leite, em função
do uso de óleo na ração.
Segundo Haenlein (2001), a contagem de células somáticas (CCS) para o leite de
cabra deve ser inferior a 1 milhão de células/mL, valor este superior ao leite de vaca, o
qual deve ser inferior a 750.000 células/mL, isto ocorre devido a diferenças fisiológicas
e microbiológicas entre os leites de cabra e vaca. Os valores encontrados neste trabalho
foram de 786.840 células/mL, valores estes inferiores ao limite de 1 milhão de
células/mL.
A partir dos parâmetros do modelo Wood não-linear, foram determinadas as
variáveis: dia de produção no pico (P, em dias) e produção de leite no pico (PP, kg/dia).
Os valores médios de produção de leite (kg), dos parâmetros do modelo Wood não-
linear, e das variáveis derivadas deste modelo são apresentados na Tabela 10.
A produção total de leite de cabras Saanen recebendo diferentes rações foi
influenciada linearmente (Y=741,50-5,525x) de acordo com o nível de volumoso na
ração, sendo estes valores superiores aos observados por Macedo et al. (1999), o qual
relatou uma produção média de 290,70 kg em 215 dias de lactação.
Com relação aos parâmetros do modelo não foram verificadas diferenças (P>0,05)
para os valores de a (produção inicial), b (taxa de acréscimo de produção até o pico) e c
(taxa de declínio de produção após o pico) em função da relação volumoso:concentrado.
No entanto, para as variáveis calculadas a partir dos parâmetros do modelo, foram
detectadas diferenças (P<0,05), com efeito linear decrescente para P (dia de produção
no pico) e PP (produção no pico).
Os resultados observados indicam que a relação volumoso:concentrado, com
diferentes níveis energéticos, afeta o dia de pico de produção e a produção de leite no
pico de lactação. Assim, rações com maiores níveis energéticos elevam estes valores,
acarretando em maiores produções na lactação e provavelmente aumentando a
persistência da lactação.
41
TABELA 10. Valores médios da produção de leite (PL) e dos parâmetros do modeloWood não-linear, e variáveis derivadas (P e PP), da curva de lactação decabras Saanen recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado
TABLE 10. Avarage values of milk production (MP) and of Wood non linear model’s, andderived variables (P e PP), of lactation curve of Saanen goat, receiving rations withdifferent roughage:concentrate ratios.
VariablesP 70,85 46,50 27,38 35,07 20,97 Y=104,85-1,080x 0,81 60,53PP 3,42 3,35 2,29 2,81 1,86 Y=5,05-0,03828x 0,77 26,011NS (P>0,05)1NS (P>0,05)2Parâmetros do modelo: a=produção inicial; b=taxa de acréscimo de produção até o pico; c=taxa declíniode produção após o pico2Model parameters: a=initial production; b=rate of increase to peak; c=rate of decline after peakproduction;3Variáveis: P=dia de produção no pico; PP= produção no pico3Variables: P=day of peak production; PP= production peak
A Figura 11 apresenta as curvas reais de produção de leite na lactação de cabras
Saanen, recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado. Observa-se
que as rações com maiores quantidades de concentrado acarretaram em maiores
produções de leite durante o decorrer da lactação, mostrando assim, a maior persistência
de produção de leite ao longo das semanas.
A variação de peso vivo (kg) ao longo do ciclo produtivo não foi influenciada pela
relação volumoso:concentrado da ração. No entanto, houve variações de peso, devido a
fase produtiva em que o animal encontrava-se. A Figura 12, apresenta esta variação ao
longo do ciclo produtivo.
42
Produção de leite (kg/dia)Milk production (kg/day)
1,001,502,002,503,003,504,00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 SemanaWeek
Leite
(kg/
dia)
Milk
(kg/
day)
40:60
50:50
60:40
70:30
80:20
FIGURA 11. Produção de leite (kg/dia) de cabras Saanen recebendo rações comdiferentes relações volumoso:concentradoFIGURE 11. Milk production (kg/day) of Saanen goats receiving rations with different
roughage:concentrate ratios.
Peso vivo (kg)Live weight (kg)
50,0055,0060,0065,0070,0075,0080,0085,00
4 2 0 2 4 6 8 10 12 14 18 22
Peso
viv
o (k
g)Li
ve w
eigh
t (kg
)
40:6050:5060:4070:3080:20
FIGURA 12. Peso vivo (kg) de cabras Saanen no ciclo produtivo recebendo rações comdiferentes relações volumoso:concentrado
FIGURE 12. Live weight (kg) of Saanen goats in productin cicle receiving rations withdifferent roughage:concentrate ratios.
A queda no peso, logo na primeira semana de lactação, é devido as perdas
decorrentes do parto. Porém, a diminuição de peso vivo ocorre até aproximadamente
quatro a cinco semanas de lactação (Figura 12), pois neste período a cabra está em
balanço energético negativo, isto é, o animal não consegue ingerir a quantidade de
nutrientes necessários para produção de leite e sua manutenção.
Parto (kidding)
SemanasWeek
43
As relações volumoso:concentrado com diferentes níveis energéticos influenciaram
na ingestão de matéria seca ao longo do ciclo produtivo, como pode ser visualizado na
Figura 13 .
Durante o período pré-parto a ingestão de matéria seca pelo animal é deprimida,
devido a compressão do rúmen pelo útero grávido. No início de lactação a IgMS
aumentou gradativamente, tendo a máxima ingestão ocorrido entre a oitava e décima
quarta semana de lactação, período em que houve maior ganho de peso e maior
produção de leite. Neste período, as cabras estavam em balanço energético positivo,
pois a ingestão de matéria seca estava maximizada.
Ingestão de matéria seca (kg/dia)Dry matter intake (kg/day)
0,10
0,60
1,10
1,60
2,10
2,60
3,10
4 2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
IgM
S (k
g/di
a)ID
M (k
g/da
y) 40:6050:5060:4070:3080:20
FIGURA 13. Ingestão de matéria seca (kg/dia) de cabras Saanen norecebendo rações com diferentes relações volumoso:conce
FIGURE 13.Dry matter intake (kg/day) of Saanen goats in production cicle rwith different roughage:concentrate ratios.
Conclusões
No período pré-parto as diferentes relações volumoso:co
influenciaram no desempenho dos animais.
Durante o período de lactação, o maior nível energético na
proporcionou maior produção de leite, no entanto, não houve
características qualitativas do leite.
sParto (Kidding)
s
SemanaSemana
ciclo produtivontradoeceiving rations
ncentrado não
ração foi o que
alterações nas
Week
44
Literatura citada
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