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Demóstenes mito e discursos políticos 15

Jul 25, 2016

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Esta obra procura interpretar uma relação íntima, mas nem sempre evidente, que envolve mito e política. Para tanto, o autor analisa quatro discursos políticos do orador ateniense Demóstenes e explora as intenções, formas, conteúdos e o alcance da oratória demostênica na tentativa de penetrar no imaginário de seus ouvintes no Período Clássico.
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Leonardo Lourenço

Demóstenes:mito e discursos políticos

São Paulo - 2015

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Criação de Capa Camila Morais

Ilustração da Capa Leonardo Lourenço

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Textual Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________L935d

Lourenço, Leonardo Demóstenes: mito e discursos políticos / Leonardo Lourenço. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0368-8

1. Ciência política - Filosofia. 2. Grécia - Política e governo - Até 146 a. C. 3. Democracia - Grécia - História - Até 146 a.C.. 4. Poder (Ciên-cias sociais) - Grécia - História - Até 146 a.C. I. Título.

15-22146 CDD: 320.01 CDU: 321.01________________________________________________________________27/04/2015 04/05/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Ao meu pai (1942-1994), a quem devo uma visão diferente e mais responsável sobre a história,

in memoriam

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Agradecimentos

Esta obra começou a dar seus primeiros passos no ano de 2003, quando eu estava no segundo ano de minha graduação em História.

É evidente que naquele momento, era só uma ideia, fruto de meu interesse difuso e pouco específico em mi-tologia. Foi somente graças ao professor Ettore Quaranta, meu orientador, com quem estou em dívida até hoje, e aos seus conhecimentos profundos em História Antiga, que uma vaga ideia pôde se tornar um trabalho de pes-quisa e, agora, um livro. Portanto, o primeiro agradeci-mento vai para ele.

Ao longo de um certo tempo, enquanto eu transfor-mava a matéria-prima bruta – a ideia inicial, por assim dizer – naquilo que ela viria a se tornar, um certo núme-ro de pessoas, de várias maneiras diferentes, me prestou

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inestimável ajuda: a professora Rosa Kulcsar, infelizmen-te já falecida, devido à paciente revisão e às dicas sem as quais eu não teria podido sair do abstrato para chegar à pesquisa concreta; o professor Álvaro Alegrette, gran-de incentivador dos seminários de pesquisa nos quais os debates entre alunos-pesquisadores e ele próprio sempre permitiam obter caminhos fecundos para o enriqueci-mento dos trabalhos; a professora Yone de Carvalho, que soube apostar e transmitir força àqueles que se sentiam desafiados a enfrentar uma pesquisa; e as professoras Marcia D’Alessio e Lucília Siqueira, cuja bagagem teóri-ca que me forneceram foi talvez a parte mais importante de minha formação.

E, finalmente, devo ressaltar que este trabalho não existiria sem a ajuda material e afetiva de minha prima Dirce, o apoio de minha mãe, meu porto seguro, e de minha esposa, companheira de todos os momentos.

São Bernardo do Campo, novembro de 2014.

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“A morte é o final a que chegam todos os homens e que não se pode evitar com a precaução de ficar fechado em

casa. O homem de coragem deve entrar nas empresas com uma confiança generosa e opor a todas as desgraças que o

céu lhe envia uma coragem invencível.”

DEMÓSTENES (384 a. C. – 322 a. C.)

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Prefácio

DEMÓSTENES: ORADOR E POLÍTICO

Muito embora esta obra não se caracterize por ser um relato biográfico, considero fundamental tecer algu-mas considerações sobre a figura de Demóstenes. Não se trata de detalhar aspectos da vida do orador que não estejam relacionados com sua atuação política, o que fu-giria de meu objetivo, mas de oferecer ao leitor um pano de fundo que permita situar exatamente como e por que Demóstenes proferiu os discursos político-deliberativos que serão analisados na sequência.

Uma vez que meu interesse recai sobre a história do pensamento político, especificamente neste estu-do, sobre o pensamento político na Grécia do Período

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Clássico (séculos V e IV a. C.), contexto particular que se conecta com os discursos demostênicos que propo-nho destrinchar, é mister construir um perfil do orador, principalmente a respeito de suas ideias políticas, para que fique bem-compreendido o foco de seu papel na formação do homem grego.

Não é necessário concordar total nem parcialmen-te com as posições de Demóstenes para se ter certeza de que ele foi o maior e mais importante orador da Grécia Antiga, sobretudo porque sua oratória se revestiu de for-tíssimo caráter político, da defesa incondicional da liber-dade, da democracia e da pólis ateniense contra a ambição de um inimigo externo que, por mais que representasse a possibilidade de reunificar a Hélade fragmentada devido aos inúmeros conflitos intestinos entre cidades-estado que marcaram o século IV a. C., jamais preservaria tradições e instituições que um dia haviam feito a grandeza, se não da Grécia inteira, de Atenas e de muitos de seus aliados.

É verdade que Alexandre, o Grande, filho de Fili-pe II, erigiu seu império mantendo um forte senso de preservação da cultura helênica, contudo, as invectivas de Demóstenes em relação à Macedônia não abordavam propriamente temas culturais, mas, sim, a questão da de-mocracia, da liberdade e da soberania dos gregos.

A importância de Demóstenes adquire dimensões ainda maiores quando se pensa que sua atuação política responde a uma proposta de reeducação política1, não só em relação aos cidadãos de Atenas, como no que diz respei-to a todos os cidadãos gregos. Em sua oratória, ele pregava

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a necessidade de atuação cívico-política, de abnegação, de sacrifício, de união e de um acentuado e solidamente de-finido posicionamento contra Filipe II. Tudo isso, não em um contexto qualquer, mas durante um período de crise social, política e econômica, no qual os gregos se encontra-vam apáticos e cindidos por interesses que só favoreciam os avanços conquistadores por parte do inimigo. Ao contrá-rio do Século de Péricles (balizado aproximadamente entre 440 a. C. e 404 a. C.), a própria atividade política que definia o cidadão grego se encontrava em franco declínio, substituída por um desinteresse altamente prejudicial, se-gundo Demóstenes, pelos assuntos públicos.

De acordo com o historiador Pierre Lèvêque2, De-móstenes encarnou como nenhum outro o que se pode chamar de “eloquência da paixão”. Seu grande talento oratório se revela de modo ímpar nos discursos polí-tico-deliberativos nos quais se opõe a Filipe II, sendo possível notar nos mesmos a influência de Tucídides no desprezo pelas regras de estilo, algo que poderia ser visto como falha estética, mas que por outro lado permitia que o orador atingisse efeitos surpreendentes, além de digressões e contextualizações das mais grandiosas. Em tais discursos, Demóstenes recorre ao uso de uma ima-gética expressiva, sem hesitar frente à violência dos ter-mos, tampouco ao emprego de expressões com inteira liberdade, o que os torna autênticos instrumentos de luta política e crença em um ideal.

Não somente o objetivo de Demóstenes, mas a própria necessidade de mexer com sentimentos pro-

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fundos e de reavivar o brio adormecido de seus ou-vintes, fizeram com que ele se distanciasse de formas estilísticas mais áridas, dando-lhe, desta forma, a pos-sibilidade de transbordar explicitamente a paixão pela liberdade e expor, sem meias palavras, o dever de ex-trema urgência em relação à ação política que ele tanto cobrava de seus concidadãos.

Não é por acaso que os discursos demostênicos se apresentam recheados de variações, ironias, hipérbo-les, ameaças, súplicas, podendo, em certas situações, flertar até mesmo com a carência de proporções e com o anacronismo, jamais, porém, desprovidos de paixão sincera. Muitas vezes, inclusive, analisar seus discur-sos com maior acuidade exige um distanciamento das passagens mais vibrantes. Um dos objetivos desta obra é justamente trazer à tona a oratória quase palpável de Demóstenes, ao mesmo tempo em que se procu-ra conferir a ela uma interpretação inserida dentro do quadro político vigente no século IV a. C.. Desde já, levanta-se a problemática: quais são os elementos que compõem a peça oratória demostênica?; como o ora-dor pretendeu atingir seu público ouvinte?; que alcan-ce foi capaz de obter?

Demóstenes foi perspicaz ao vislumbrar dois únicos caminhos para reunificar o mundo grego no século IV a. C.: o primeiro deles, que ele combateu, vinha do exte-rior, da terra conhecida como Macedônia, sob a batuta de Filipe II – o pan-helenismo macedônio. Tirano, Fili-pe II sabia bem como utilizar a força, mas era também

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hábil e dissimulado para negociar diplomaticamente, aproveitando-se exatamente da discórdia entre os gregos para selar alianças políticas que jogavam cidades umas contra as outras, mais do que já estavam, abrindo, assim, o caminho para suas ambições.

Uma vez submetendo a Grécia ao seu poder, o rei macedônio suplantaria de vez as formas democráticas de governo e as instituições gregas, o que, de fato, aca-bou acontecendo. Analisando em retrospecto, fica fácil concluir que a apatia grega funcionou, concomitante-mente, como causa e efeito da conquista macedônia. Filipe II não encontrou resistência significativa, o que lhe permitia avanços ao mesmo tempo em que costura-va alianças segundo seus interesses. A estratégia do rei macedônio lhe assegurava uma grande vantagem, pois não exigia quase nada por parte dos gregos, além da fraqueza de espírito e de uma tácita confiança em seu projeto unificador.

O caminho proposto por Demóstenes era mais difícil de ser viabilizado, já que implicava em renún-cias momentâneas para que os bons frutos pudessem ser colhidos futuramente, ainda mais considerando-se as cisões internas na Grécia. O pan-helenismo grego pau-tava-se no retorno à democracia do século V a. C. e no reavivamento da ação cívico-política. Tratava-se de uma proposta que demandava grande sacrifício para comba-ter o inimigo externo e dependente da revalorização do ideal do soldado-cidadão. Requeria, em suma, que os gregos, e os atenienses mais ainda, encarnassem o espíri-