RELATO DE CASO Unitlfrmos: arteria carotida interna, variariio anatomica. _ .A ANATOMICA DA ARTERIA CAROTIDA INTERNA - RELATO DE CASO A arteria carotida intema normalmente nao tem ramos em sua por9ao cervical, sendo que varia90es desta peculiaridade sao raras. A presen9a da arteria faringea ascenden- te como ramo da arteria carotida intema decorre de altera96es embriologicas. Inicial- mente foi detectada em dissec91io de cadaveres e, posteriormente, com 0 advento da arteriografia, em individuos vivos. Tais varia96es anatOmicas podem ser responsaveis por a1tera96es hemodinfunicas, vindo a participar da manuten9ao de fluxo cerebral do hemisferio cerebral. o caso relatado representa uma situa9ao em que houve oclusao de arteria carotida intema por degenera9ao aterosclerotica, porem com preserva9ao de fluxo cerebral atraves da arteria faringea ascendente como ramo anomalo da arteria carotida intema. Bonno van Bellen Responsavel pelo Servic;o, Livre - docente em Molestias Vasculares Peritericas pela UN/CAMP. Veridiana Porto Maggioli Ex-estagiaria do Servic;o Wolfgang G. Zorn Responsavel pelo Servic;o Trabalho realizado no Servi90 de Angiologia e Cirurgia Vascular Hospital Beneficencia Portuguesa - SP. Marcelo Augusto da Silva Buzato Ex-estagiario do Servic;o Elisangela Campaner Tribulatto Ex-estagiaria do Servic;o nesse periodo. Em fun9ao destes ultimos sintomas foi primeiramente avaliado por urn otorrinolaringologista que 0 encami- nhou ao cirurgiao vascular para investi- ga9ao de doen9a carotidea. Paciente eti- lista e tabagista cronico, hipertenso e portador de insuficiencia coronariana cro- nica, tendo ja sido submetido a tres angi- oplastias coronarianas sendo a ultima com coloca9ao de stent. Alem disso, apre- sentava doen9a obstrutiva femoro-popli- tea e pequeno aneurisma de aorta abdo- minal infra-renal que media 3 cm em seu maior diametro. Ao exame fisico apresentava-se em born estado geral, hidratado, corado, eupnei- co e acianotico. PA: 160 x 90 rnmHg, Fe: 72 bpm. Havia sopro carotideo sistolico bilateral. Bulhas cardiacas ritmicas, nor- mofoneticas, em dois tempos e sem so- pros. Murmurio vesicular mantido bila- teralmente sem midos adventicios. Pal- pa9ao abdominal mostrava dilata9ao aor- tica de aproximadamente 4 cm. Membros superiores sem achados relevantes. Em membros inferiores observou-se ausen- cia de deficit motor ou sensitivo, movi- mentos preservados, atrofia de pelos e unhas. Pulsos palpaveis apenas em seg- WDGH, 59 anos, masculino, branco, apo- sentado, apresentou episodio de amau- rose fugaz, a esquerda, ha cerca de dois anos associado a tonturas e zumbido A s varia96es anat6micas envol- venda as arterias carotidas in- temas sao raras. Foram inicial- mente observadas gra9as a achados de dissec9ao anatOmica de cadaveres e pos- teriormente vern sendo observadas como achados de arteriografia 7. Tais varia96es podem ser explicadas como decorrentes de uma anormalidade no desenvolvimen- to embrionano, durante a forma9ao do arco aortico e seus ramos 2. A arteria carotida intema e urn tronco de irriga9ao encefalica geralmente despro- vido de ramos. Em 1876, Krause 6 relatou a saida de ramos da arteria carotida inter- na como a arteria faringea ascendent8, a occipital, a facial acessoria e transversa observados em dissec9ao de cadaveres. Estas varia96es podem ter implica96es sobre a hemodinamica da irriga9ao cere- bral, como 0 foi no caso aqui descrito.
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DE CASO VARIA~AOANATOMICA DA ARTERIA CAROTIDA …jvascbras.com.br/revistas-antigas/2001/5/04/2001_a17_n5_ok-4.pdf · Em fun
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VARIA~AOANATOMICA DAARTERIA CAROTIDA INTERNA- RELATO DE CASO
A arteria carotida intema normalmente nao tem ramos em sua por9ao cervical, sendoque varia90es desta peculiaridade sao raras. A presen9a da arteria faringea ascendente como ramo da arteria carotida intema decorre de altera96es embriologicas. Inicialmente foi detectada em dissec91io de cadaveres e, posteriormente, com 0 advento daarteriografia, em individuos vivos.Tais varia96es anatOmicas podem ser responsaveis por a1tera96es hemodinfunicas,vindo a participar da manuten9ao de fluxo cerebral do hemisferio cerebral.o caso relatado representa uma situa9ao em que houve oclusao de arteria carotidaintema por degenera9ao aterosclerotica, porem com preserva9ao de fluxo cerebralatraves da arteria faringea ascendente como ramo anomalo da arteria carotida intema.
Bonno van BellenResponsavel pelo Servic;o, Livre docente em Molestias VascularesPeritericas pela UN/CAMP.
Veridiana Porto MaggioliEx-estagiaria do Servic;o
Wolfgang G. ~ ZornResponsavelpelo Servic;o
Trabalho realizado no Servi90 deAngiologia e Cirurgia VascularHospital Beneficencia Portuguesa- SP.
Marcelo Augusto da SilvaBuzatoEx-estagiario do Servic;o
Elisangela Campaner TribulattoEx-estagiaria do Servic;o
nesse periodo. Em fun9ao destes ultimossintomas foi primeiramente avaliado porurn otorrinolaringologista que 0 encaminhou ao cirurgiao vascular para investiga9ao de doen9a carotidea. Paciente etilista e tabagista cronico, hipertenso eportador de insuficiencia coronariana cronica, tendo ja sido submetido a tres angioplastias coronarianas sendo a ultimacom coloca9ao de stent. Alem disso, apresentava doen9a obstrutiva femoro-poplitea e pequeno aneurisma de aorta abdominal infra-renal que media 3 cm em seumaior diametro.Ao exame fisico apresentava-se em bornestado geral, hidratado, corado, eupneico e acianotico. PA: 160 x 90 rnmHg, Fe:72 bpm. Havia sopro carotideo sistolicobilateral. Bulhas cardiacas ritmicas, normofoneticas, em dois tempos e sem sopros. Murmurio vesicular mantido bilateralmente sem midos adventicios. Palpa9ao abdominal mostrava dilata9ao aortica de aproximadamente 4 cm. Membrossuperiores sem achados relevantes. Emmembros inferiores observou-se ausencia de deficit motor ou sensitivo, movimentos preservados, atrofia de pelos eunhas. Pulsos palpaveis apenas em seg-
WDGH, 59 anos, masculino, branco, aposentado, apresentou episodio de amaurose fugaz, aesquerda, ha cerca de doisanos associado a tonturas e zumbido
As varia96es anat6micas envolvenda as arterias carotidas intemas sao raras. Foram inicial
mente observadas gra9as a achados dedissec9ao anatOmica de cadaveres e posteriormente vern sendo observadas comoachados de arteriografia 7. Tais varia96espodem ser explicadas como decorrentesde uma anormalidade no desenvolvimento embrionano, durante a forma9ao doarco aortico e seus ramos 2.
A arteria carotida intema e urn tronco deirriga9ao encefalica geralmente desprovido de ramos. Em 1876, Krause 6 relatoua saida de ramos da arteria carotida interna como a arteria faringea ascendent8, aoccipital, a facial acessoria e transversaobservados em dissec9ao de cadaveres.Estas varia96es podem ter implica96essobre a hemodinamica da irriga9ao cerebral, como 0 foi no caso aqui descrito.
VARIACAO ANATOMICA DA ARTERIA CAROTIDA INTERNA - RELATO DE CASO MARCELO AUGUSTO DA SilVA BUZATO E COlS.
Figura 1 - Angiografia demonstrando estenose de aproximadamente 60% de arteriacar6tida interna esquerda.
terias carotidas comum, intema e extemabilateralmente. A arteria carotida comumorigina-se, adireita, do tronco braquiocefilico e, aesquerda, do arco da aorta.Nao emite ramos cervicais e divide-se,em intema e extema, na altura da bordasuperior da lamina da cartilagem tireoidea, 0 que corresponde aquarta vertebra cervical. A arteria carotida intemanormalmente nao emite ramos cervicais,penetra no cranio atraves do canal caro-
nfvel cervical, anteriores (arterias tireoidea superior, lingual e facial), posteriores (occipital e auricular posterior), medial (farfngea ascendente) e terrninais (temporal superficial e maxilar) 5.
A arteria farfngea ascendente e urn pequeno vasa que se origina no contomomedial da arteria carotida extema, ascendendo entre a arteria carotida intema e aparede da faringe para a qual fomece ramos 3.8. Em 14% dos casos, ela se origina
mento femoral bilateral com sopro em arterias femorais.Em fun<;ao dos sintomas neuro-oftalmologicos, foi submetido a arteriografia cervico-craniana que demonstrou: extensaplaca de ateroma na bifurca<;ao carotfdeaesquerda, estendendo-se apor<;ao inicial da carotida intema, com multiplas ulcera<;6es, algumas de contomos irregulares, havendo uma estenose com comprometimento luminar de aproximadamente 60% (Fig. I) e obstru<;ao da arteriacarotida intema direita em sua origem comrecanaliza<;ao logo acima do ponto deoclusao atraves de fluxo retrogrado peloramo posterior da arteria farfngea ascendente (Fig.2 e 3).
o sistema carotfdeo e composto pelas <tr-
Figura 3 - Recanaliza9ao de por9ao distal de arteria car6tida interna direita (car int) pelaarteria farfngea ascendente (Faring).
Figura 2 - Oclusao na origem da arteria.car6tida interna direita.
tfdeo do osso temporal e terrnina na fossa craniana media, dividindo-se nas arterias cerebrais anterior e media 5. 0 segmento cervical da arteria carotida intemae posterior a arteria carotida extema nasua origem, podendo ser postero-Iateralou postero-medial. Ocasionalmente e medial aarteria carotida extema 4. Raramente pode apresentar ramos anomalos comoa arteria farfngea ascendente, a arteria occipital e a arteria farfngea inferior 5,8. A
arteria carotida extema e 0 outro ramo daarteria carotida comum e emite ramos, ao
da arteria occipital 4. Hi relato de umaserie de dissec<;ao de cadiveres, pela quala arteria farfngea ascendente origina-seda arteria carotida intema em 9% dos caSOSI.
A explica<;ao da presen<;a de ramos originando-se da arteria carotida interna aoinves da arteria carotida externa baseiase na origem embriologica destas arterias. Segundo Lasjaunas (8), urn dos maiores anatomistas do seculo, a arteria farfngea ascendente e uma arteria branquial,metamerica, sendo, por analogia, vestf-
VARIA9AO ANATOMICA DA ARTERIA CAROTIDA INTERNA - RELATO DE CASO MARCELO AUGUSTO DA SILVA BUZATO E COLS.
6. Krause W - Varietiiten der Arteria caroti- tomy ofcraniofacial arteries. Vol 1: 129-
3. Dangelo JG, Fattini CA - Anatomia hu- da interna und ihrer Aste. Henle J - Han- 146.mana sistemica e segmentar. 2a edic;:'ao, dbuch der systematischen Anatomie des