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O homem, a ciência e a vida: o movimento constante de repensar o mundo e os aprendizados. + artigos colunas matérias depoimentos
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DABIOM EM REVISTA

Mar 22, 2016

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Jorge Pereira

Uma publicação do Diretório Acadêmico de Biomedicina da UFPE
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Page 1: DABIOM EM REVISTA

O homem, a ciência e a vida: o movimento

constante de repensar o mundo e

os aprendizados.

+ artigos colunas

matérias depoimentos

Page 2: DABIOM EM REVISTA

| expediente |

REDAÇÃO Publisher|Diretor de Redação: Jorge Pereira Assistentes de Redação: Equipe DABIOM

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Texto: Adriana Marcolini, Ana Krepp, Pedro Caiado. Ilustração: Mariana Palma e Teresa Berlinck.

Publicidade The Cobra Snake [email protected] eCycle Brasil www.ecycle.com.br Katy Perry Brasil www.katyperry.com.br | Contato | [email protected] Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Todas as opiniões, informações e dados são de responsabilidade de seus respectivos autores. Não deve ser comercializada.

Page 3: DABIOM EM REVISTA

| editorial |

Nossa primeira edição está totalmente permeada na

reinvenção. Na capacidade do homem de se recriar e de se

adequar no universo da ciência e da vida dentro das mais

variadas perspectivas. Mas como toda reinvenção que se

preze, estamos buscando a inovação de nossas próprias

temáticas, e aqui vão algumas pesquisas dos mais variados

caminhos da nossa visão biomédica que sempre é permeada

pelas buscas dos conceitos básicos de ciência e que

conquistam, a partir deles, a capacidade de sempre exercer

mais interferências no conhecimento. Boa leitura!

Jorge Pereira

Page 4: DABIOM EM REVISTA

| sumário |

Contaminação Fúngica de

Plantas Medicinais

utilizadas em chás

Páginas Brancas

Análise de Correlação

do perfil lipídico e

dano oxidativo em

pacientes diabéticos

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CONTAMINAÇÃO

FÚNGICA

DE

PLANTAS

MEDICINAIS

UTILIZADAS

EM CHÁS

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Contaminação fúngica de plantas medicinais utilizadas em chás

Ravely Lucena Santos, Michelângela Suelleny de Caldas Nobre, Geovani Pereira Guimarães, Tassiana Barbosa

Dantas, Karlete Vania Mendes Vieira, Delcio de Castro Felismino, Ivan Coelho Dantas

Resumo

Este trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade microbiológica quanto à presença de fungos filamentosos em ervas do tipo Peumus boldusMolina (Boldo), Pimpinella anisum L. (erva-doce) e Matricaria chamomillaL. (Camomila) comercializadas na cidade de Campina Grande (Paraíba). Nove amostras de cada planta foram analisadas, totalizando 27 amostras, obtidas aleatoriamente nas feiras livres e barracas informais da cidade. Cada 10 g de amostra foram suspensas em 90 mL de solução salina 0,89% estéril, obtendo-se o concentrado, a partir do qual foram realizadas diluições sucessivas. A seguir, uma alíquota de 0,1mL de cada diluição foi semeada em placas de Petricontendo Ágar Sabouraud Dextrose, as quais foram incubadas à temperatura ambiente por cinco a dez dias. Após este período foram contadas as colônias fúngicas presentes e realizados seus respectivos microcultivos para identificação através de microscópio óptico. Foram encontrados fungos toxigênicos como Aspergillus sp., Penicillium sp. e Fusariumsp., estando o primeiro presente em todas as amostras avaliadas. Também foram identificados os fungos Exophiala sp.e Fonsecaea sp., que possuem importância clínica, podendo causar micose. A forma como estas plantas são armazenadas para comercialização e a falta de fiscalização torna questionável a qualidade das plantas comercializadas para obtenção de chás, o que pode comprometer a saúde do consumidor ao utilizar esses produtos na forma de Chá.

Palavras-chave: Medicina Popular. Comercialização. Qualidade Microbiológica.

ABSTRACT

Fungal contamination of medicinal plants used in teas

The aim of this study was to assess the microbiological quality, with regard to the presence of filamentous fungi, of the tea herbs Peumus boldusMolina (boldo leaf), Pimpinella anisumL. (anise) and Matricaria chamomillaL. (wild chamomile) marketed in the city of Campina Grande (Paraiba State, Brazil). Nine samples of each plant, totaling 27 samples, were randomly collected in street markets and informal stalls in the city. In the laboratory, 10 g of each sample was ground and suspended in 90 mL of 0.89% sterile saline solution, affording the concentrate from which serial dilutions were obtained. Aliquots of 0.1 mL of each dilution were spread on plates of Sabouraud Dextrose Agar, which were then incubated at room temperature for five to ten days. After this period, the fungal colonies were counted, their morphology was analyzed and subcultures were made on slides for identification by optical microscope. Toxigenic fungi such as Aspergillussp., Penicilliumsp. and Fusarium sp. were found, the first being present in all plant samples. The fungi Exophialasp. and Fonsecaea sp., which are clinically significant as they can cause mycoses, were also identified. The method of storing these plants before sale and the lack of inspection raise questions about the quality of the marketed herbs, suggesting that the health of the consumer who uses these products to make tea could be harmed.

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Atividade leishmanicida in vitro de Eugenia uniflora e Momordica charantia

Karla Katiúcia Alves Santos, Miriam Rolón, Celeste Vega, Antonieta Rojas de Arias, José Galberto

Martins da Costa, Henrique Douglas Melo Coutinho

Resumo

A Leishmaniose Tegumentar Americana no Brasil é causada por uma variedade de espécies de Leishmania e uma grande diversidade destes parasitas pode ser encontrada na Região Amazônica. Revisões recentes na quimioterapia de leishmaniose enfatizam as deficiências dos agentes terapêuticos atualmente disponíveis e mostram a necessidade urgente de novos candidatos. Uma alternativa para substituir esses medicamentos são extratos naturais deEugenia uniflora e Momordica charantia. Foram preparados extratos etanólicos das folhas de E. uniflora e M. charantia.Para os testes in vitrode Leishmania brasiliensisforam utilizadas formas promastigotas. O ensaio de citotoxicidade foi realizado com linhagens de fibroblastos. Nossos resultados indicam que E. uniflora foi eficaz contra a cepa de parasita testada, representando uma fonte alternativa de produtos naturais com atividade contra L. brasiliensis.

Palavras-chave: Eugenia uiniflora. Momordica charantia. Leishmania brasiliensis. Atividade citotóxica. Promastigotas.

ABSTRACT

Antileishmanial in vitro activity of Eugenia uniflora and Momordica charantia

Cutaneous leishmaniasis is caused in Brazil by several species of the genus Leishmaniaand a wide variety of these protozoan parasites can be found in Brazil, mainly in the Amazon region. Recent reviews on the chemotherapy of leishmaniasis show the low effectiveness of the usual therapeutic agents, demonstrating the need for new drugs. An interesting possible alternative to the conventional drugs is offered by natural products extracted from Eugenia uniflora and Momordica charantia. Ethanol extracts were prepared from the leaves of Eugenia uniflora and Momordica charantiaand assayed in vitro against Leishmania brasiliensispromastigotes and fibroblasts to assess their antileishmanial and cytotoxic activities, respectively. Our results indicate that E. uniflora was active against the parasitic forms of L. brasiliensis.

Keywords: Eugenia uniflora. Momordica charantia. Leishmania brasiliensis. Cytotoxic activity. Promastigotes.

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ANÁLISE

DE CORRELAÇÃO

DO PERFIL

LIPÍDICO E

DANO OXIDATIVO

EM PACIENTES DIABÉTICOS

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Análise de correlação do perfil lipídico e dano oxidativo em pacientes diabéticos

Michele Maria Giacomini, Siomara Hahn, Salua Younes, Hugo Roberto Kurtz Lisboa, Luciano De Oliveira Siqueira

Resumo

O diabete mellitus(DM) é uma doença multifatorial que acomete diversos sistemas corporais com complicações teciduais e vasculares. Diversas hipóteses bioquímicas estão implicadas na indução das complicações tardias da diabete, como: radicais livres, rota dos polióis e glicação não enzimática de proteínas. O objetivo do presente estudo foi correlacionar o perfil lipídico e lipoperoxidação em indivíduos diabéticos. Realizou-se uma análise do perfil lipídico de 30 pacientes diabéticos do tipo 2, com uma média de 4 anos da evolução da doença. Analisou-se a concentração sanguínea de glicose, colesterol total, HDLc, LDLc, VLDLc, triglicerídeos, hemoglobina glicada e peroxidação lipídica (TBARS). Encontrou-se uma forte correlação entre a concentração de triglicerídeos, colesterol total e VLDLc com o dano oxidativo e uma fraca correlação com colesterol LDLc e HDLc. A análise dos resultados mostra uma forte correlação da lipoperoxidação lipídica com o perfil lipídico dos pacientes que pode reafirmar a necessidade de monitoramento dos lipídios plasmáticos como forma de prevenir complicações tardias inerentes ao diabete.

Palavras-chave: Colesterol. Radicais livres. Hemoglobina glicada. Peróxidos lipídicos. Lipídeos. Diabete mellitus.

ABSTRACT

Correlation analysis of the lipid profile and oxidative damage in diabetic patients

Diabete mellitus(DM) is a multifactorial disease that affects several body systems, with vascular complications and tissue damage. Several biochemical mechanisms are hypothetically implicated in the induction of the late complications of diabete, such as the action of free radicals, glucose metabolism by the polyol pathway and non-enzymatic glycation of proteins. The aim of this study was to correlate the lipid profile and lipid peroxidation in diabetic subjects. An analysis of the lipid profile of 30 diabetic patients, with an average of 4 years since diagnosis. We analyzed the concentration of glucose, total cholesterol, HDLc, LDLc, VLDLc, triglycerides, glycated hemoglobin and lipid peroxidation (TBARS). Oxidative damage (TBARS) showed a strong correlation with the concentration of triglycerides, total cholesterol and VLDLc, and a weak correlation with LDLc cholesterol and HDLc. The strong correlation found between lipid peroxidation and the lipid profile of these patients reinforces the need to monitor plasma lipids in order to prevent late complications associated with diabete.

Keywords: Cholesterol. Free radicals. Glycosylated hemoglobin A. Lipid peroxides. Lipids. Diabete mellitus

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July 2012 Cover for the Sunday Review of The New York Times "The Ecology of Disease" "The Ecology of Disease"

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Você sabe cantar o nosso hino nacional? É provável que a maioria responda afirmativamente a essa pergunta, mas também é provável que boa parte das pessoas entoe os versos um dia memorizados sem entender ao certo o que querem dizer. Antigamente, os estudantes que prestavam exames vestibulares quase sempre tinham pela frente a tarefa de encontrar o sujeito dos versos iniciais do hino (“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ De um povo heroico o brado retumbante”). Identificar o sujeito de uma oração é o passo inicial da análise sintática. O sujeito é o termo sobre o qual recai toda a predicação, tudo o que se afirma na oração. Sujeito e predicado definem-se um em relação ao outro. Há quem pense que o sujeito de “ouviram” é indeterminado, como se estivesse sendo dito que alguém ouviu alguma coisa e que esse alguém estava às margens... Nada disso. O texto realmente oferece dificuldade à compreensão, porque seu autor lança mão de acentuada inversão sintática, o chamado hipérbato, uma figura de linguagem muito usada por escritores antigos, que imaginavam, por meio dela, dar aos textos certa “feição latina” (no latim, geralmente o sujeito ficava no fim do período). O que temos nessa passagem do hino é a descrição da cena do grito do Ipiranga. Na ordem direta, o período seria este: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico. Agora ficou simples, não? As margens do rio Ipiranga aparecem personificadas; é a elas que se refere a forma verbal “ouviram”. Se entendessem o que cantam, as pessoas teriam mais facilidade para memorizar os versos, coisa que, sabemos, não é nada fácil, independentemente do grau de patriotismo de cada um.

É fato que a operação mental de compreensão das partes da oração, do período e do texto como um todo ocorre naturalmente durante o processo de comunicação. Quando conversamos no nosso dia a dia, estamos praticando essa operação. É o entendimento das relações entre palavras, frases e

parágrafos que garante a apreensão do que se diz ou escreve. A falha na compreensão de uma ideia pode ser atribuída tanto à dificuldade da pessoa que lê quanto ao texto em si. Se faltarem, por exemplo, condições de saúde, concentração ou mesmo vocabulário, a pessoa terá dificuldade para ler. Pode ocorrer, porém, que o texto seja defeituoso, cheio de construções ambíguas, imprecisões, incoerências ou falta de coesão ou ainda que seja realmente complexo (vocabulário muito específico, frases muito longas, inversões sintáticas etc.). Os textos difíceis são, portanto, os defeituosos e os muito complexos. Os vestibulares mais recentes têm privilegiado a intelecção do texto como um todo, não mais a análise de períodos isolados, pois estes, afinal, sempre estão em um contexto, que contribui significativamente para o seu entendimento. Mesmo assim, os professores vêm observando entre os estudantes grande dificuldade de compreensão de textos médios, de caráter informativo, não raro extraídos de jornais e revistas. Hoje, nesses exames, não se cogita pedir aos candidatos que analisem o trecho do hino nacional, pois não se espera deles a capacidade de fazer malabarismos sintáticos. Os capazes de conseguir semelhante proeza, no entanto, não têm grandes problemas na hora de entender um artigo de revista ou uma página de livro de história. Embora a análise sintática, nos moldes em que era ensinada, tenha sido afastada das salas de aula, a percepção da articulação sintática do texto continua sendo a chave para uma leitura competente. FÃ DO ESCRITOR FRANZ KAFKA, THAÍS NICOLETI É AUTORA DO LIVRO REDAÇÃO LINHA A LINHA E CONSULTORA DE LÍNGUA PORTUGUESA. SEU E-MAIL É [email protected]

por: Thaís Nicoleti / 12/03/2013

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A boca fala do que está cheio o coração. A frase bíblica, contida no Sermão da Montanha (dentro do Evangelho de Mateus), poderia ser a síntese de um projeto criado por duas amigas que resolveram incentivar as pessoas a colocar para fora o que levam dentro do peito na forma de poesia falada. O Da Boca pra Fora nasceu da ancestral necessidade humana de expressão, não importa qual seja seu veículo. Com o amor pelos versos em comum, Patrícia Kalil e Karine Rossi tiveram a ideia de criar no Facebook uma página à qual as pessoas podem enviar vídeos recitando poemas com a imagem fechada em close na boca, tudo de maneira anônima, para incentivar os participantes. Basta ter uma câmera, ferramenta de praticamente qualquer celular atualmente. E depressa a coisa se espalhou pela rede e não para de ganhar seguidores.

O fato de não precisar se identificar é uma questão fundamental para o bom funcionamento do projeto. “O anonimato é a falta de necessidade ou mesmo desejo de reconhecimento. É a ação pela simples vontade de agir, pelo genuíno interesse de vivenciar algo. Tira-se o peso do ridículo, da autocrítica que segura tanta ideia boa”, define Patricia. “Declamar um poema libera muita emoção. É fácil ficar inibido. Mostrar somente a boca isenta. É como se ela fosse outra pessoa, uma identidade própria, despudorada, justamente por ser anônima”, complementa Karine.

Segundo as criadoras da página, Carlos Drummond de Andrade é o campeão dos escritores recitados nos vídeos. Mas há toda uma variedade de colaborações, desde poemas lidos em outros idiomas, em duplas ou até mesmo gente que manda textos de sua autoria. Desta maneira, o projeto pode ser considerado um sarau e um veículo de divulgação literária.

Para o poeta, professor e tradutor Paulo Henriques Britto, toda iniciativa que gera interesse por literatura é válida. A disseminação da poesia na internet pode levar ao descobrimento de novos autores. “A questão é saber se, com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo na rede, este evento vai atrair um número significativo de pessoas ligadas à poesia”, explica, lembrando que nem todo poema que funciona no papel se presta à leitura em voz alta e vice-versa, mas que há os que têm impacto nas duas maneiras.

Além do anonimato, o caráter gregário de uma rede social atrai as pessoas, na medida em que abre a possibilidade de diálogo. “O meio é perfeito. Poder dissipar doses de poesia de maneira tão rápida e simples é delicioso. Todo mundo perde um tempão lendo qualquer coisa na rede. Se a gente oferecer coisas interessantes, claro que serão absorvidas”, acredita Karine.

Juliana Cordaro, que mora em Natal, é uma das colaboradoras da página. “Achei bonito poder participar com a minha voz de um projeto como esse. Os poemas se transformam na boca de cada participante que lê, e senti curiosidade em saber como seria um saído da minha boca sendo filmada”, conta.

Patricia e Karine não pensam em parar por aqui. Com o crescimento da página, a ideia é juntar material para futuramente montar uma exposição audiovisual. “Tenho muito interesse por artes visuais. Comentei com alguns amigos artistas e galeristas a ideia de fazer uma exposição, com bocas em displays de diferentes tamanhos, com fones de ouvido pendurados. Quando você entrasse na sala, só encontraria bocas falando em velocidades e humores diferentes”, projeta Patricia.

por: Mauricio Duarte 05/06/2013

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| depoimentos |

Planos podem mudar, relacionamentos acabar, seu corpo pedir mais atenção ou uma crise profissional abalar o que parecia certo. Aí, meu caro, é preciso jogo de cintura e desprendimento para acolher as mudanças e impulsionar as novas ideias. A Revista

da Cultura conversou com pessoas que não titubearam quando perceberam a oportunidade de reinventar o corpo, a mente, a profissão ou um comportamento.

Aceitaram, assim, crescer e criar .

Por Ana Krepp

“Para mim, existir é mudar sempre. Felizmente, não consigo ver de forma diferente. É um abismo. Os excessos, o caos, o desequilíbrio, a queda. A plenitude, a calma, a volta para si.

Permitir tudo, perder-se e finalmente se encontrar. Não deixes de ser o que não és. O que nos resta e o que nos salva.

A beleza eterna do revés.” Ana Cañas, cantora

“No meu caso, seria melhor falar em ‘re-vida’. Nasci na Idade Média, vivi a infância sem eletricidade e sem água encanada. Depois de estudar música, passei por uma reformulação popular chamada Tropicalismo. Com tanto reinvento, revivo: depois de cada disco, é como se eu tivesse morrido.” Tom Zé, músico

“Quando estava casado e era pai de família, comecei a reconhecer minha homossexualidade – e aceitá-la. Num

processo longo e num resumo drástico, cheguei recentemente ao ponto em que os códigos de gênero já não

faziam sentido – assim como meu modo particular de trabalhar me pareceu um ciclo terminado. Adotei uma

conduta bem mais livre em relação às minhas criações e aceitei a transgeneridade como minha expressão pessoal.

Hoje, me vejo como uma mulher transgênero.” Laerte, cartunista

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por: Jairo Bouer / 06/06/2013

Ilustração: Marcelo Cipis

De acordo com estudo recente feito em São Paulo, há uma chance de nove em dez de você não concordar com o que vai ler em seguida, mas, mesmo assim, proponho que siga até o fim, já que esta coluna é justamente um espaço propício a tratar de temas que, em geral, estão longe de ser consenso. Vamos lá?

Depois da onda de crimes bárbaros cometidos por menores no Estado de São Paulo e em outras partes do país, a população tem se colocado cada vez mais a favor da redução da maioridade penal. Pesquisa do Datafolha de 17/04/2013 indica que 93% dos paulistanos defendem a mudança na lei atual.

Talvez o calor do momento tenha aumentado a pressão popular a favor da redução. Quem a defende argumenta que os jovens hoje são mais precoces e entendem muito bem as consequências do que estão fazendo. Se é assim, por que não penalizá-los de acordo com essa realidade? Para os defensores dessa lógica, a impunidade, as simples apreensões dos jovens e as penas mais curtas estão servindo como um estímulo à violência e ao crime.

Não concordo com essa posição por uma série de razões, mas, antes de me explicar, queria propor um exercício hipotético. Imagine que seu filho e um amigo, que tem quase a mesma idade, perto dos 18 anos, saíram juntos para uma balada. Os dois beberam um pouco mais, se envolveram em uma briga e quebraram uma garrafa na cabeça de outro jovem, que, por um azar do destino, teve uma artéria do pescoço cortada e morreu em poucos minutos. Ou ainda, eles pegaram um carro,

perderam o controle da direção, atropelaram e mataram um pedestre que atravessava a rua. Um dos dois (seu filho ou o amigo) completará 18 anos em três dias e, o outro, acabou de fazer aniversário de 18 anos há três dias. Pergunta simples: qual dos dois (o menor ou o maior) você gostaria que fosse seu filho nesse momento? Sem pensar, eu responderia que gostaria que meu filho ainda não fosse maior e, portanto, respondesse por esse crime em condições especiais. Por quê?

Longe de defender a violência, a impunidade ou de “proteger” quem comete crimes, eu entendo que jovens são impulsivos, têm seu sistema nervoso e emocional em maturação, podem errar, estão em processo de aprendizagem e, são, sim, passíveis de cometer atos gravíssimos sem que tenham, em princípio, como nesse caso imaginário, a intenção de ferir ou matar alguém.

Muito se falou sobre o tema nas últimas semanas. Alguns se colocaram a favor da redução, outros contra. Alguns ainda defenderam uma espécie de escala, utilizada em outros países. Independentemente da idade, haveria maior tolerância inicial da Justiça, mas a reincidência colocaria o menor, para a lei, em condições semelhantes às de adultos que cometem crimes.

Reduzir a maioridade para 15 ou 16 resolve? Será que a questão não é muito mais ampla que um calendário arbitrário da maturidade neurológica ou comportamental humana? Ao mudar a lei, não estaríamos jogando para a mão da bandidagem jovens ainda mais imaturos e mais passíveis de repostas explosivas? Será que construir projetos de vida e educar para a convivência em sociedade não seriam medidas muito mais impactantes? Será que tratar a dependência de algumas drogas, como cocaína e crack, diretamente ligadas a comportamentos violentos, não surtiria mais efeito? E talvez, deixar um espaço na lei que possibilite às autoridades definir tratamentos diferenciados para aqueles menores que, de fato, não podem viver em sociedade por terem distúrbios de comportamento e de conduta severos?

É, não adianta sonhar e acreditar na utopia de um mundo melhor apenas reduzindo de 18 para 16 anos a maioridade penal. A realidade é mais profunda e complexa que isso. Que tal fazer o que pode ser feito?

JAIRO BOUER TAMBÉM ANDA CANSADO DE VIOLÊNCIA E DE CRIMES

HORRÍVEIS. MAS, JÁ HÁ ALGUM TEMPO, NÃO ACREDITA EM SOLUÇÕES

MÁGICAS PARA PROBLEMAS GRAVES

Page 18: DABIOM EM REVISTA

por: Silvia Campolim

Page 19: DABIOM EM REVISTA

Freud foi o primeiro a observar, há cerca de

cem anos, como grande parte da nossa vida mental opera inconscientemente. Sustentar essa opinião na ciência médica daquela época não foi simples, mesmo para o fundador da psicanálise. Hoje, a noção de que boa parte do nosso funcionamento mental ocorre inconscientemente é em geral aceita e as evidências mais dramáticas a esse respeito são observadas na clínica médica de pacientes que sofreram algum tipo de dano cerebral e que manifestam, por exemplo, dificuldade de estabelecer novas memórias. Tais pacientes não se lembram conscientemente, em geral, do que lhes aconteceu depois do dano cerebral ou doença. Se, por exemplo, uma lista de palavras for lida para eles, não se lembrarão após alguns minutos não só da lista como da leitura que dela lhes foi feita. No entanto, se esses mesmos pacientes forem estimulados a especular sobre que palavras foram lidas, serão capazes de mencionar de forma aleatória várias das que compunham a lista original – e em proporção mais elevada do que o acerto por mero acaso. Ou seja, eles conseguem lembrar das palavras inconscientemente. O termo técnico para esse tipo de lembrança é memória implícita, enquanto a recordação consciente é denominada de memória explícita.

Quanto da nossa vida mental seria consciente é a questão a que os neurocientistas contemporâneos tentam responder com evidências neurobiológicas. A consciência é uma parte bastante limitada da mente, afirmam Mark Solms e Oliver Turnbull, autores do livro The Brain and the Inner World, que traduz para o leigo a neurociência da experiência subjetiva. “Se a extensão da nossa consciência fosse, por exemplo, mensurada a partir da quantidade de informação que conseguimos guardar a cada momento no tempo, ficaríamos surpresos de saber que ela se restringe a apenas sete unidades de informação.” Não é por acaso que a maioria dos números de telefone tinham exatamente sete dígitos, segundo eles. Isso antes da era dos celulares e dos códigos das operadoras para as chamadas interurbanas, vale lembrar. Faça o teste

e tente discar para Belo Horizonte, por exemplo, sem olhar de novo para o número anotado em sua agenda eletrônica. Você vai conseguir teclar, sem olhar, os sete digitos iniciais, provavelmente. “A capacidade de memorizar uma relação numérica aleatória – no caso, um número de telefone – é um teste clínico padrão para avaliar aspectos da capacidade da memória de trabalho.” PROBLEMAS COGNITIVOS

O subtítulo acima é a expressão genérica para os diversos problemas de memória que indivíduos de todas as idades podem apresentar, dependendo das suas circunstâncias de vida e do ambiente ao redor. Crianças com dificuldades de aprendizagem têm distúrbios de memória originados por doenças do desenvolvimento, como, o transtorno do déficit de atenção (TDAH) ou por experiências traumáticas; vítimas de trauma cranioencefálico, o chamado TCE, ou de transtornos de estresse pós-traumático (TEPT) – duas condições muito associadas com a violência, o trânsito e o estilo de vida atual – também apresentam distúrbios de memória, assim como indivíduos estressados, que trabalham sob muita pressão e não dormem direito. A pesquisa científica em torno da memória, consciente e inconsciente, e sua relação com a saúde do cérebro focaliza hoje esses problemas cognitivos e, ainda, os processos envolvidos no envelhecimento saudável. Por exemplo, os fatores que protegeriam o cérebro de idosos que envelhecem com saúde, apesar de o órgão apresentar os sinais patológicos das doenças relacionadas às demências. O conceito de reserva cognitiva, uma hipótese levantada há mais de 20 anos pelos especialistas, está hoje bem estabelecido na literatura médica como fator neuroprotetor e pode ter impacto não apenas em idosos.

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Os avanços consideráveis, obtidos nos últimos 30 anos, na compreensão dos mecanismos biológicos da plasticidade neural e da memória, no nível dos processos moleculares específicos nos neurônios, também abrem caminho, atualmente, para o desenvolvimento de novas terapias estimuladoras da cognição, observa o bioquímico Rafael Roesler, pesquisador do Departamento de Farmacologia, do Instituto de Ciências Básicas da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, desde 2008, membro do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM). Usando animais de laboratório como modelos experimentais, Roesler pesquisa diferentes tipos de memória que podem ser facilmente ampliados pelo tratamento com fármacos estimulantes dos sistemas de neurotransmissores, como a noradrenalina, a acetilcolina e a dopamina. “Os sinais desencadeados por esses e outros neurotransmissores aumentam a expressão de genes e a produção de proteínas, levando a alterações estruturais nas sinapses que possibilitam o armazenamento de memórias.” PESQUISA DE BANCADA A questão da modulação da memória por drogas, principalmente hormônios e neurotransmissores, é muito importante hoje para o desenvolvimento da farmacologia e de novas terapias, explica o cientista Ivan Izquierdo, que dirige o Centro de Memória do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica, em Porto Alegre (PUC-RS).“Quando corremos ou ficamos nervosos, por exemplo, liberamos adrenalina, e esse hormônio, embora não chegue ao cérebro, atua reflexamente sobre ele por meio de receptores vinculados à pressão arterial, produzindo efeitos indiretos, entre os quais o de modular a memória”, diz. “Se, de repente, há liberação de adrenalina no organismo, é possível memorizar ou lembrar com mais facilidade alguma coisa relacionada com aquele momento.” Outros hormônios fazem isso, inclusive a cortisona, continua Izquierdo. “Quando há liberação de corticoides pelas glândulas suprarrenais, uma memória que acaba de ser adquirida ou está sendo evocada no momento pode melhorar ou piorar.” A descoberta de que a memória pode ser modulada pela ação de vários hormônios e neurotransmissores é a base também para a compreensão do papel das emoções na formação e extinção de memórias”, afirma o cientista, que está trabalhando com esse tema. As primeiras tentativas concretas de desenvolvimento de fármacos facilitadores da cognição para uso terapêutico em humanos focalizaram o sistema de sinalização celular, no qual o composto químico monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) desencadeia uma sequência de eventos bioquímicos estimulantes da expressão de genes nos

neurônios, acrescenta o pesquisador Rafael Roesler. “Hoje, também há testes com fármacos experimentais que estimulam as proteínas receptoras do neurotransmissor glutamato na superfície dos neurônios.” Esse neurotransmissor é encontrado em concentrações altas no cérebro; sua atividade excitatória atua sobre os neurônios de praticamente todo o sistema nervoso central. Outros mecanismos celulares e moleculares, em particular os associados aos prejuízos de memória observados em pacientes com doenças neurodegenerativas, são objeto de estudos promissores. No Laboratório de Biologia e Desenvolvimento do Sistema Nervoso, da Faculdade de Biociências da PUC-RS, por exemplo, a pesquisadora Nadja Schroder, especializada em biologia celular e molecular, trabalha com modelos animais pré-clínicos a fim de prospectar novos alvos para o desenho de compostos. “Durante a última década, estudos em seres humanos de imageamento por ressonância magnética (MRI) demonstraram que há uma correlação entre o acúmulo de ferro em áreas cerebrais e um pior desempenho em testes cognitivos.” Segundo ela, trabalhos com testes de memória em ratos, desenvolvidos dentro desse modelo de sobrecarga com ferro, comprovaram que o mesmo pode ser utilizado para a testagem de compostos destinados ao tratamento dos prejuízos cognitivos que acompanham o envelhecimento. “Tais trabalhos podem apontar, inclusive, para novas indicações de fármacos que já estão disponíveis no mercado, como as estatinas.” REABILITAÇÃO PÓS-TCE E RESERVA COGNITIVA As influências moduladoras atuam sobre toda a memória declarativa (episódica), normal ou alterada, mas o objetivo da pesquisa de drogas é o tratamento dos casos em que há alteração. Drogas moduladoras de memória podem desempenhar um papel importante no tratamento do comprometimento cognitivo próprio do envelhecimento e também na reabilitação cognitiva de pacientes de trauma cranioencefálico (TCE), que enfrentam variados problemas de memória. A prática de tratar pacientes de TCE de forma integrada, com a orientação de neurologista e emprego de medicação moduladora da memória, é, ela mesma, muito recente. Não tem mais de cinco anos e começou, de forma pioneira, nos Estados Unidos. Antes dela, o atendimento das vítimas de TCE se limitava à reabilitação neuropsicológica (treino de memória e habilidades cognitivas) e fisioterápica. O neurologista Renato Anghinah, criador do primeiro ambulatório brasileiro de assistência a vítimas de TCE do país, que funciona no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é, por enquanto, o único especialista brasileiro nessa área, com título obtido na norte-americana National Brain Injury Society (NABIS). “A entrada

do neurologista na cena da reabilitação representa uma mudança de paradigma”, ele disse, durante o primeiro simpósio brasileiro sobre TCE, realizado no Hospital Samaritano, em São Paulo, no final de maio. A instituição privada é responsável pelo segundo Centro de Atenção e Reabilitação em TCE aberto no país dentro desse modelo de assistência integrada ao paciente, com equipe multidisciplar, orientação de neurologista e tratamento medicamentoso. A Associação Brasileira do Trauma Cranioencefálico, criada por ocasião do simpósio, pretende disseminar esse modelo pelo país, para fazer frente à gravidade e amplitude dos casos de TCE.

Cerca de 500 mil pessoas sofrem trauma cranioencefálico no Brasil, anualmente, segundo as estatísticas. Acidente de trânsito com atropelamento é a primeira causa; queda da própria altura e violência, como ferimento por arma de fogo ou pancada na cabeça, vêm em seguida. Acidentes na prática de esportes também entram nessa estatística. Do total de vítimas, 100 mil morrem poucas horas após o evento. Dos casos restantes, quase 70% são traumas leves, que nem chegam às emergências. “O indivíduo bate a cabeça no jogo de futebol, fica tonto, mas não vai para um hospital fazer exames, e as sequelas irão aparecer lá na frente, no baixo rendimento escolar ou profissional, por exemplo”, diz Anghinah. A reserva cognitiva, mencionada como fator neuroprotetor no envelhecimento, pode fazer diferença na reabilitação desses pacientes, dependendo do dano cerebral. O conceito assume que indivíduos com um desenvolvimento cognitivo maior ao longo da vida – seja porque estudaram até a universidade, leram muito e, além disso, têm uma vida social ativa – dispõem de rede de sinapses entre as células mais ampliada e, consequentemente, têm mais recursos para enfrentar os eventuais danos ao cérebro que vêm com a idade, ou mesmo de forma inesperada. O neurologista Paulo Caramelli, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, que vem conduzindo um estudo sobre envelhecimento saudável na cidade de Caeté, perto de Belo Horizonte, afirma que essa diferença é estatisticamente relevante e pode ser observada no estudo Pietá, em andamento. A média de anos de estudo é baixa entre os 639 idosos avaliados na pesquisa – cerca de dois-três –, mas, mesmo assim, a apresentação de demência é mais comum entre os anafalbetos, quando comparados aos alfabetizados. “Veja você, mesmo entre uma população de escolaridade muito baixa é possível observar como o analfabetismo é extremamente nocivo para a saúde do cérebro.”

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