Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68,
dez./2012.DOI 10.4025/dialogos.v16supl.709 A memria dos carnavais
afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do
sculo XX* Zlia Lopes da Silva**
Resumo.Esteartigodiscuteamemriadoscarnavaisbrincadospelosnegros
nacidadedeSoPaulodasdcadasde20e30dosculoXX.Ocaminho
percorridoporessasreflexesvolta-sebuscadatrajetriadogrupoeos
espaosusadosparaexpressarassuasperformancesduranteasfestividades
dedicadasaMomo,espalhadaspelacidadedeSoPauloqueaindatinhamo
perfildossegmentosendinheiradosquecontrolavamosseuscircuitos.
Considerandoessaassertiva,areflexonessetextovolta-separaperscrutar
quaisforamosespaosforjadospelogrupoequaisestratgiasforamusadas por
essa comunidade para agregar-se aos festejos (oficiais ou no)
ocorridos na
cidade.E,igualmente,demarcaroformatoeosentidodasbrincadeiras
encenadas por esses pndegos na
conjuntura.Palavras-chave:Memriadoscarnavaisafro-paulistanos;Carnavaisdos
negros; Festejos de Momo. Memoirs of Afro-Brazilian carnivals in So
Paulo during the 1920s and 1930s
Abstract.CurrentanalysisdealswithmemoirsofCarnivalscelebratedby
NegroesinthecityofSoPauloduringthe1920sand1930s.Thenarrative
triestoinvestigatethetrajectoryoftheAfro-Braziliangroupandthespaces
usedtoexpressitsperformancesduringthefestivitiesdedicatedtoMomo
throughoutthecityofSoPaulo,whichwasstillcharacterizedbywealthy
peoplethatcontrolleditsseveralsections.Severaldiscussionsareendeavored
toperceivethespacesfabricatedbythegroupanditsstrategytogettogether
andcelebrateCarnival(officiallyornon-officially).Theformandmeaningsof
playful art represented by such festivities are also
highlighted.Keywords: Memoirs of Afro-Brazilian Carnivals in So
Paulo; Negro carnivals; Momo festivities.
*Artigo recebido em 22/10/2012. Aprovado em 14/11/2012. **Livre
Docente em Histria do Brasil. Professora do Departamento e do
Programa de Ps-Graduao em Histria da UNESP. Assis/SP, Brasil.
E-mail: [email protected] Dilogos (Maring. Online), v.
16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 38 La memoria de los
carnavales afro-brasileos de la ciudad de San Pablo durante las
dcadas de 1920 y 1930
Resumen.Esteartculodiscutelamemoriadeloscarnavalesprotagonizados
por los negros de la ciudad de San Pablo durante las dcadas de 1920
y 1930. El
caminorecorridoporestasreflexionesseorientaabuscarlatrayectoriadel
grupoylosespaciosusadosparamanifestarsusexpresionesdurantelas
festividadesdedicadasaMomo,realizadasendiversospuntosdelaciudadde
SanPablo,bajolainfluenciadelperfildelossegmentosadineradosque
controlabansuscircuitos.Enestesentido,lareflexindeltextoseorientaa
indagarsobrelosespaciosforjadospordichogrupoysobrelasestrategias
empleadasporelmismo,paraagregarsealosfestejos(oficialesono)
desarrollados en la ciudad. Tambin se busca demarcar el formato y
el sentido de los juegos escenificados por las comparsas en esta
coyuntura.
PalabrasClave:Memoriadeloscarnavalesafro-brasileos;carnavalesde
negros; festejos de Momo. Introduo
Nestetexto,serodiscutidasasmanifestaescarnavalescasda comunidade
afro-paulistana, nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX, na cidade de
SoPaulo,evidenciandosuasprimeirasorganizaesrecreativasqueforam
responsveispelaestruturaodessegrupoepororganizaressesfestejos.As
lideranasnegras,cientesdasdificuldadesparasuainseronomundodos
brancos,decorrentesdepreconceitos,criaramestratgiasparaenfrentaros
muitosdesafios,valendo-sedoreforodeseustraosculturais.Criaram,em
consequncia,vriasinstituiesquepassaramaagreg-los,taiscomo:os
clubes,osterreiros,oscordes,ranchoseblocoscarnavalescosepublicaes
peridicasquebuscaramvalorizarogrupoaodivulgaremosseuseventose
feitos.Almejavampromover,igualmente,odilogocomasociedademais ampla.
Emboraosespaosdeagregaodacomunidadeafrodescendente
sejammltiplos,nestetextopretende-seenfocarosfolguedoscarnavalescos
A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas
dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16,
supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 39
queseconstituramemelementosparaaorganizaodessacomunidadena cidade
de So Paulo, na passagem dos anos 20 aos 30 do sculo XX, a partir
de seus cordes, ranchos e blocos, tal o interesse do grupo por
essas festividades.
Caberessaltar,entretanto,queessasmanifestaesforamlidaspela
historiografia especializada da rea de Cincias Sociais no mbito da
dicotomia
carnavaldeelite/carnavalpopular,interpretaoqueseconsagrouequese
confundecomamemriadoscarnavaisdopassado.Essaleituraapoiou-seno
fatodeospalcosdasfestanascarnavalescasnoseremosmesmosparaos
diferentessujeitos,oqueserviuparaasuafixaoqueseamparouna
continuidadedashierarquiassociaisexistentesnasociedade,duranteessas
celebraes(QUEIROZ,1995;SIMSON,1989),situaoaparentemente
inquestionvel.Porm,nessasanlises,foramnegligenciadasasnuancespara
apreender os sentidos e a diversidade das brincadeiras
carnavalescas, durante os
DiasGordose,tambm,osdesdobramentoscausadospelainserodos
segmentospopulares,nadcadade30,noscircuitosdocarnavalelegantede
rua.Esseprocesso,contudo,nofoilinearemuitomenosisentodetenses.
Assim,seupercursoseracompanhadotomando-secomopontodepartidaa forma
como a imprensa diria cobriu as manifestaes desses pndegos, e o seu
contraponto,expressonosregistrosdosperidicosoriginriosdoprprio
grupo. 1. Os afro-paulistanos modelam seus espaos culturais e
miditicos Hconsenso,entreosestudiososdoassunto,dequeocarnaval
praticadopelacomunidadenegrafoi,emregra,ignoradopelosrgosde
imprensadiriadacidadedeSoPaulo,nasdcadasde10e20dosculo
passado.Asnotcias,antesescassas,comearamaaparecer,comcerta
regularidade,aps1930.Contudo,aindaeramextremamenteseletivase
desproporcionaisemrelaocoberturadocarnavaldaelite.Questoj Silva
Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012.
40 abordadaporOlgaVonSimsonqueobservouadesproporonotratamento
dadoaosfolguedosnegrosemrelaoaoscarnavaisdeoutrossegmentos
endinheirados. A imprensa noticiava com destaque o carnaval da
burguesia: o corso da Av. Paulista e os bailes em clubes e teatros
[...]. Quanto aos folguedos negros no havia referncia a eles, a no
ser simples meno na seo policial, quando alguma briga ou conflito
com a polcia era registrada (SIMSON, 1989, p.180).
Essaausnciadenotciassobreaparticipaodosnegrosnesses folguedos,
contudo, no significou que no tivessem ocorrido ou, mesmo, sido
registrados.Osseusperidicos,Clarim/SP(1923/1924),OClarimdAlvorada
(1924/1932),Kosmos/SP(1923-1924),Progresso(1928-1932),Chibata(1932),
Evoluo(1933),AVozdaRaa(1933-1937)noticiaramsucintamenteosseus
desfiles nos carnavais de rua e, tambm, em seus clubes, ao longo
das dcadas de 20 e 30 do sculo XX.
Antesdetratardequeformatalpresenafoiregistradaporesses peridicos,
convm esclarecer as condies de surgimento dessa imprensa no
cenriopaulistano.RogerBastide(1973)eMirianFerrara(1986)atribuema
suaemergnciasdificuldadesenfrentadaspelosnegros,emSoPaulo,na sua
convivncia com os brancos, no perodo posterior abolio, obrigando-os
a construir alternativas prprias para a manuteno de suas vidas em
todas asdimenses.AlgunshomensemulherescomoDionsioBarboza,Lino
Guedes,CelsoVanderley,SebastianaBarreto,entreoutros,destacaram-se
nesseprocesso,aoromperasbarreiraseospreconceitosquedificultavama
absorodesuacomunidadenasociedadepaulistana,construindoespaos
alternativosdeafirmaodesuaidentidadeporintermdiodacriaode
instituiesdiversasedeveculosqueampliaramaaoevozdogrupo,
comoasigrejas,osterreiros,osclubeseosjornaisqueforamosseusporta-vozes
mais eloquentes.A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade
de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring.
Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 41
Aimprensaassumiupapelestratgiconesseprocesso.Graasaela, tornou-se
possvel rastrear as notcias das comemoraes diversas de uma parte
dossegmentospopularesquehabitavaacidadedeSoPaulo.Apartirde
meadosdadcadade20,porexemplo,acomunidadenegraganhoumaior
visibilidadeeexpresso,eissosetraduziunaampliaodeseusveculosde
circulaodeideias.De1924a1932,OClarimdAlvoradacobriuoseventos
diversosemqueesteveenvolvidapartedacomunidadenegra.Emjunhode
1928,surgiuomensrioProgresso,depropriedadedoSr.ArgentinoC.
Wanderley, tesoureiro do Grupo Carnavalesco Campos Elyseos,
considerado pela imprensa de So Paulo rgo oficioso do referido
bloco. Em abril de 1933,
apareceoperidicoAVozdaRaa,comtiragemquevariavaentre1.000e 5.000
exemplares. mantido com auxlio da Frente Negra Brasileira.1
Essesperidicoserampequenasfolhasqueraramenteconseguiam
manter-seportempomaisprolongado.E,tambm,tiveramdificuldadepara
garantirregularidadedapublicaodeacordocomapropostainicial.Emseus
relatosmemorialsticos,osprotagonistasenvolvidosexplicamosmotivosdas
dificuldades desses peridicos que geralmente estavam associadas
carncia de
recursos(parasuapublicao)edeadesodaprpriacomunidade,situaes
expressas em seus apelos de ajuda e de queixas da falta de leitores
no mbito do
prpriogrupo.OClarimdAlvoradaqueixou-sedafaltadeapoioedeinteresse
dosmembrosdacomunidadeemrelaoaosseusjornais.Constatou,ainda,a
ausnciadepagamentodasassinaturasedeapoiosatividadesprogramadas
parasocorreroperidico,comoofestivaldananteorganizadopelocordo
1
Areferidaassociaofoicriadaem16desetembrode1931porArlindoVeigadosSantos,
IsaltinoVeigadosSantos,AlfredoEugeniodaSilva,PiresdeAraujoeRoqueAntoniodos
Santos com a inteno de organizar os negros em mbito nacional. A FNB
era dirigida por um
GrandeConselhocompostode20membroseumConselhoAuxiliarformadoporCabos
Distritaisdacapital.ComsedeemSoPaulo,eraintegradaporrepresentantesoriginriosda
capital, do interior e de outros Estados. Consultar: Ferrara (1986,
p.62; 73-74). George Andrews (1998) interpretou que os propsitos da
FNB eram a ascenso social do negro e comungava das
ideiasautoritriasfascistizantesemvoganoperodo,combatendooliberalismoeassumindo
posies xenofbicas, acompanhando os integrantes da Ao Integralista
Brasileira. Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p.
37-68, dez./2012. 42 carnavalesco CamposElyseos, em 1926, e que,
devido s chuvas na cidade, foi
umfracassototal,argumentoquedeixouinconformadoosresponsveispelo
jornaleco,quenoanoseguintelamentouoocorrido(OCLARIM
DALVORADA,17jul.1927).Mesmoassim,essaspublicaestiveram
significativopapelagregadorparasuasvanguardaseparademarcarassuas
lutas, aspiraes e engajamentos diversos, por se tornarem canais de
veiculao
dessasaspiraesederegistrosdesuasredesdesociabilidadeeconvivncia
social fixando, assim, a memria do prprio grupo e de suas
realizaes. Nessesentido,essaspublicaesprocuraramdefinircertoperfil,
inclusive com capas que visavam delinear o seu layout e objetivos
almejados. O ClarimdAlvorada, por exemplo, era um peridico que
tinha vinculao com os
cordescarnavalescosepodeservistocomosignodasquestesapontadase,
tambm, de uma experincia at certo ponto bem sucedida, considerando
que o jornal durou oito anos, em que pesem os percalos enfrentados
e as constantes queixas de seus responsveis. I magem1 O Clarim
dAlvorada. Fonte: Acervo do Cedap Unesp. A memria dos carnavais
afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do
sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68,
dez./2012. 43
Nessesimpressos,asperformancesdoscordesefolguedosnegros
noscarnavaispaulistanosforamdivulgadasempequenasnotas,suprindo,
assim,lacunasobreoassunto.Assuasmatriaspermitiramnosomente
acompanharasvriasatividadesgeradasnombitodessacomunidade,mas
tambmidentificarasdiferentesassociaesqueorganizaramoscidados negros
e, ainda, o papel que desempenharam em seu interior, incluindo
entre
elasalgunsdoscordeseblocoscarnavalescos.Essasvriasalternativas,
propiciadas aos diferentes pblicos da comunidade, sugerem,
igualmente, que
osseusmembrospartilhavamdasmesmaspreocupaesquebuscavamna distino e
nas regras de convvio, to caras ao mundo culto, formas de
demonstrar
oseuprocessocivilizatrio,bemcomosuasdiferenciaesinternasesuas
crenaspolticaseexpressesculturais.Tantofoiassimqueessesperidicos
registraramemsuaspginasnotciasquegarantiamaindividuaodeseus
membros. Para tal, destacaram os aniversrios, casamentos e mortes
e, ainda, os feitos e a notoriedade conquistada por membros da
comunidade negra cuja trajetria poderia servir de inspirao aos
demais, alm do engrandecimento e valorizao da raa. Noticiaram,
tambm, todos os tipos de festas, at aquelas
diretamenterelacionadascomasatividadescarnavalescas,evidenciandoque
osnegrostinhamumavidamundanae,talqualaelite,conheciamasregrasda
polidez,emclarocombateaopreconceitoqueimpediasuainseroplenana
sociedade brasileira. Nesse processo de interao da comunidade
negra, os clubes tambm
tiveramumpapelfundamental.Aooferecerematividadesmltiplas,essas
instituiesviabilizaramaessesestratossociaisaampliaodesuasrelaes
deconvvioeoengendramentodeprticassociaismaisdiversificadas.Essas
agremiaes assumiram, alm da demarcao dos parmetros da sociabilidade
desejadaparaosseusintegrantes,igualmente,opapeldedestaqueno
delineamentodaidentidadealmejadaapartirdesuasatividadesldicas Silva
Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012.
44 quermesses, piqueniques, serenatas, bailes e poltico-culturais
realizadas ao
longodosanos.Tantofoiassimque,passadoocarnaval,associedades
recreativasdefiniamoutrocalendriodeeventosquecompreendiam:as
festividadesdiversas(saraus,bailes,etc)ecomemoraesdedatascvicase
polticas, entre as quais a Lei urea, que aboliu a escravido no
pas.2 Nombitodessacomunidade,haviadiversidadedeinteressese
diferenciaes de ordem econmica que impunham o surgimento de espaos
desociabilidadedistintosparasuacirculaocomo,porexemplo,osclubes3
e,deordempolticaque,emalgumassituaes,impediramotrabalho
conjuntodessasentidades.4
Aheterogeneidadedeseusintegrantes,contudo,
noimpediuqueessasassociaesprocurassemavalorizaoepromoo
socioculturaldogrupo,deixandomargemalutacontraospreconceitos,
raramente explicitados em seus peridicos.
2 Em 1925, OClarimdAlvorada noticiou vrias festas que foram
organizadas por clubes como:
C.R.Paulistano,G.C.CamposElyseos,Club13deMaio,comseosolenee,emseguida,
baileemesadedoces.Juntamentecomoutrasatividades,osbailesconstituram-seem
elementos significativos na rede de relaes que garantiu a
sociabilidade do grupo e que ganhou
destaquenonoticiriodeseusperidicos.Em1926,omesmoperidicoOClarimdAlvorada
trouxenotciassobrefestasrealizadaspelasagremiaes,commotivaesdiferenciadas,
durante os meses de junho e julho. A saber: C.C.CamposElyseos - Em
24/07/1926 realiza, em sua sede, Festival danante em benefcio do O
Clarim dAlvorada; G.C. Barra Funda - realizou em
20/06/1926,ChDananteemhomenagemsAmadorasdoBarraFunda,emsuasedenarua
Lopes Chaves; Elite da Liberdade - Em 11/07/1926 realizou um sarau;
Brinco de Princezas - Matin
danante.Emsetembrodomesmoano,omesmojornalpublicounacolunaVidaSocialos
bailesnomeadosdematindanante(Kosmos),chdanante(G.C.BarraFunda)esoire
(CamposElyseos)realizadosemcomemoraoao7desetembropelasassociaesG.R.D.
Kosmos (sede na rua Florncio de Abreu, 45), G.C. Barra Funda e
Campos Elyseos. 3 Estas associaes organizavam a comunidade negra e,
tambm, estabeleciam diferenas sociais
entreseusintegrantes.OsclubesElite,SmartClubeKosmosagregavamoshomensdecor
com algumas posses, em ntido esforo de diferenciao em relao
sociedade mais ampla e
prpriacomunidadenegra.Sobreesseassunto,ver:Andrews(1998,p.220).Paramais
informaes sobre outras associaes dos homens de cor, consultar:
Siqueira (2009). 4 As divergncias apontadas podem ser identificadas
com a criao da Frente Negra Brasileira, dirigida por Arlindo Veiga
dos Santos que se alinhou aos integralistas desagradando uma parte
de seus integrantes da capital, So Paulo, originando o rompimento
do grupo, por discordncias
poltico-ideolgicas.OsdissidentesdacapitalformaramoClubeNegrodeCulturaSocialea
Frente Negra Socialista. Ver tambm: Andrews (1998, p.239) A memria
dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de
20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec.,
p. 37-68, dez./2012. 45 Vale lembrar que nem sempre o dia a dia
dessas associaes foi marcado
dexitos.Emvriosmomentos,aimprensanegraregistrouospercalos
enfrentadosporessasagremiaes,quedesligaramdeseusquadros,anoaps
ano,muitosdeseusintegrantesporfaltadepagamentodascontribuies
mensais.Asmesmasdificuldadesenfrentaramosseusperidicos,comojfoi
assinalado anteriormente (O CLARIM DALVORADA,17 jul. 1927, p.2).
Emquepeseasituaoconstatada,noestemquestoarelevncia, os significados
e os papis assumidos por tais entidades na aglutinao e defesa de
seus interesses, construdos com base em sua rede de relaes sociais
que se ampliounoinciodosanos1930,comosurgimentodenovosgrupos
carnavalescos e com a presena das mulheres nesse processo (EVOLUO,
13 maio. 1933, p.5), a exemplo do Bloco das Baianas Teimosas (tambm
chamadas de
BaianasPaulistas)edoCamposElyseos,queteveapresenafemininaintegrando
suadiretoria.Mas,nestetexto,aintenoevidenciarcomoosperidicosda
comunidadenegraregistraramaperformancecarnavalescadessegrupoaolongo
dosanospesquisados,mesmosabendoqueospequenosregistrossobreo assunto
eram posteriores ao acontecido.
2.Oscordesnegrosnoscarnavaispaulistanos:dimensesda memria nos
registros de seus peridicos e de seus protagonistas
OsestudosdessesfestejospeloBrasilaforavmmostrandoqueo percurso do
carnaval atual nem sempre foi democrtico. O seu trao definiu-se
pelarecorrentepresenadaselitesnoseucomando,cujosresultadosforam
imprimirosseusvaloreseocontroledoscircuitosdessascelebraespor muito
tempo. At 1850, o carnaval era chamado de Entrudo e compunha-se de
diversosjogos5 que,desdeosculoXVII,dividiramaopiniodaselitese
5
Osjogosmaiscomunseram:abrincadeiradejogargua(svezessujaoudecheiro)nos
foliesouemquempassassepelarua;enfarinharosfoliesoutravestir-sedepalhao(ou
mascarado)earreliaraspessoascomabrincadeiravocmeconhece?,nemsempremuito
amistosa. Sobre isto, verCunha (2001). Silva Dilogos (Maring.
Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 46
autoridades,quepassaramaconsider-losperigosos,sujosegrosseiros.Em
meadosdosculoXIX,essesjogosdividiramosespaoscomochamado
carnavalelegantecompostodebailesdemscaras,dosprstitosdas
grandessociedadescarnavalescasqueexibiamricoscarrosalegricos,edo
corsodecarrosenfeitadospraticadopelasfamliasendinheiradas,em
sintoniacomosseusdesejosderefinamentoedeadesoaosparmetrosde
modernidade que se projetavam para o pas.
TalsonhomodernizadorprosseguiucomaRepblicaqueinstituiu novas regras
para a participao dos carnavais de rua e dos clubes, definindo a
obrigatoriedade de inscrio na polcia, das sociedades/clubes,
cordes, blocos ou grupos e o pagamento de taxa Prefeitura, se
quisessem desfilar, com seus
prstitos,nosespaospblicos,ourealizarosbailescarnavalescos.Ouseja,
essasagremiaesdeveriamregistrar-senaSecodeDivertimentosPblicos
daPrefeituraMunicipal,preenchendofichas,definindoascoresqueseriam
usadaspeloagrupamentocarnavalesconasapresentaesepagandoas
respectivastaxasparareceberoalvardeautorizaoparaoseventosem
espaosfechadosounarua.Paragarantirocontrole,noprpriodiade
carnaval,eraprecisoirPrefeituracarimbaroestandarte.Essasexigncias
foramreiteradaspelapolcia,aolongodasdcadasde20e30,eamplamente
divulgadas pela imprensa.
Osilncionosregistrosdaimprensadiriaemrelaopresena
popularnessesfolguedossuscitaindagaes:Qualeraentoaparticipao
popularnessesfestejos?EainserodosnegrosnoscarnavaisemSoPaulo
passava por quais circuitos?Avaliar at que ponto as lideranas
negras observaram as regras oficiais de solicitao dos alvars para
desenvolver as atividades de rua e dos clubes (em
decorrnciadasproibiesexpressascontrainiciativasespontneasde
pndegospelasruasdacidade,semautorizaoprvia,oumesmoograude A memria
dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de
20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec.,
p. 37-68, dez./2012. 47 tolerncia da polcia), ainda continua uma
hiptese de pesquisa a ser perseguida, mas de difcil alcance.6 Os
carnavalescos em suas memrias ou em relatos orais reafirmaram, em
diversas ocasies, que as dificuldades de aceitao dos desfiles
pblicosdosblocosdoshomensdecor,porpartedaselites,aindaeram
marcantesnodecorrerdosanos10(SILVA,2000,p.53).Asituao,
paulatinamente,modificou-seapartirdemeadosdosanos20,emboraas
exignciasderegistrocontinuassememvigor.Nessadcada,porm,no
contavamnemmesmocomoapoiodasesquerdas,quequalificavamessas
festividadesdealienadasemomentosdeorgiadeclasse7,aexemplodos
anarco-sindicalistasqueatribuamaessesfestejosrecorrentesameaass
mocinhas ingnuas dos segmentos populares que, nessa perspectiva,
eram alvos
preferenciaisdasinvestidaslibidinosasdosfilhosdaburguesia,vidospor
divertimentos sem compromissos. H informaes, na imprensa negra, da
participao dessa comunidade
nosfestejoscarnavalescos.OClarimdAlvorada,aexemplodosdemais
peridicosdogrupo,publicouemsuaspginas,nodecursodosanos20e30, entre
outros assuntos, a participao da comunidade negra nos bailes
realizados em seus clubes e, tambm, no carnaval de rua, com os
desfiles de seus blocos,
cordes,gruposeranchosqueseestruturaramapartirde1914,inicialmente
comoG.C.BarraFunda,em1919,comoG.C.CamposElyseos,seguidopor Nova
Aliana Lyra da Madrugada, em 1920 (O CLARIM DLVORADA, 05 jan.
1928,p.4).EsseengajamentonosfestejosmomescosforaregistradopeloO
Clarin(02 mar. 1924, p.2),ao publicar, sem detalhes, que a
comunidade tinha sua disposio os bailes nas sedes dos clubes: Flor
das Maravilhas, Princesa
6
Issoimplicariarastrearadocumentaopolicial,paraverificarasprisesocorridasduranteo
carnaval, ao longo dos anos investigados, empreitada difcil pela
ausncia de informaes, uma
vezqueacoberturadessesfestejos,feitapelagrandeimprensae,tambm,pelosperidicos
alternativos, bastante precria. 7 Os comunistas no discutiram este
assunto em seu principal peridico AClasseOperria. Ver tambm:
(SILVA, 2008, p. 55). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl.
Espec., p. 37-68, dez./2012. 48
doSul,dosBandeirantes,XVdeNovembro,XIIIdeMaio,Unio Militar e o
Grupo dos Trs Carnavalescos. Ao longo dos anos pesquisados, as
notcias sobre os bailes nos clubes
daraaforamrecorrentes.Em1926,OClarimdAlvoradanoticiouos
retumbantesbailescarnavalescos(realizadospelas)sociedadesBrincode
Princezas, 15 de Novembro, Kosmos, 13 de Maio, Campos Elyseos,
Auri-verde, Paulistano
eoutrosmais.Informa-nos,ainda,queoBrincodePrincezas,na3feiraGorda,
ofereceutrsprmiossfantasias,selecionadascombasenosquesitos:luxo,
originalidadeebeleza.OsmesmosforamconquistadospelasSenhorasSebastiana
Oliveira,VirgniaSantoseEsmeraldaGodoy,respectivamente(21/03/1926,p.3).Chibata,
outro peridico da comunidade negra, noticiou os bailes
carnavalescos
realizados,em1932,pelasagremiaes:Kosmos,CamposElyseoseBrincode
Princeza (CHIBATA,fev. 1932,
p.2).Esseseventosseguiamosmesmosparadigmasdosbailesrealizados
nosclubesdaselitesquefaziamcertamesepremiavamasfantasiasmais
originais,luxuosasebelas,iniciativasquetinhamporobjetivogarantiro
interesseeaunicidadeaoseventosrealizadosnessesespaosfechadose,
distino, aos seus associados e
frequentadores.Oscarnavaisderuadoscordesegruposdessacomunidadetambm
foramrecorrentementenoticiadosporseusperidicos.NacolunaEchosdo
Carnaval, em 06 de abril de 1924, OClarin realou a passeata, pelas
principaes
viasdacidade,dosdoiscordesBarraFundaeCamposElyseos(que)vem
deannoemannoscolhendojustasvictrias,graasaobomgostoeaofino
espiritocomqueempublicoseapresentam(06abr.1924,p.4).
Paulatinamente, os cordes8 mencionados tornaram-se referncia no
apenas para a comunidade negra, mas tambm para a sociedade mais
ampla. Surgiram a
8
Nohaviaumaclaradistinoentreblocosecordes.Muitasvezeselessurgirameforam
registradoscomogrupoeassimcontinuarammesmoquandosuacaractersticaeestrutura
foram alteradas devido ao seu crescimento. A memria dos carnavais
afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do
sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68,
dez./2012. 49 partir de um grupo inicial familiar e de amigos que
habitavam espaos distintos
dobairrodaBarraFunda.Essasaes,contudo,iamalmdoscordes. Dionsio
Barboza, por exemplo, teve papel de destaque pela liderana assumida
naagregaodogrupo,aoorganizarpiqueniques,serestaseaparticipaonas
festasdeSoBomJesusdePirapora,entreoutras.E,tambm,notabilizou-se
pelacriaodaagremiaoG.C.BarraFundaqueagregouacomunidadenegra daquela
regio. Atrajetriadessasagremiaesjfoidevidamenteregistradapela
historiografiaespecializada,emboranemsemprehajaconsensonessa
rememorao.Porm,issonoumproblema,considerando-sequea
construodamemriadequalquergrupoouinstituiodefine-seemmeioa
controvrsias, disputas e esquecimentos (POLLAK, 1989), deixando
submersas
outrasvivnciascomofoipossvelpercebernosregistrosdaimprensadiria
sobreaausnciadessegruponosfestejoscarnavalescosocorridosnacidade.
Nombitodogruponegro,atrajetriadessescordesnofoidiferente.No
cotejamentosobreasorigenseospercursosdessasagremiaesconstatam-se
disputas,esquecimentosdasorigens,dedatasedeseusfundadores.Porm,a
controvrsiasobreostemposdistintosdefundaodessasagremiaesede
seusfundadorestraduzfragmentosdelembranasjesgaradasejparte
constitutivadamemriadoacontecercarnavalescodoprpriogrupo,cujo
marcotemporalpodedeslocar-seindefinidamenteporqueprescindede
qualquer dimenso factual para sua afirmao (NORA,
1993).AtrajetriadoG.C.BarraFundaemblemticaparaasdemais associaes,
no por ser a primeira, mas pelo papel aglutinador que exerceu na
comunidadenegradaBarraFunda.Oseucaminhofoirememoradopelos
peridicosdaraaeporseusprotagonistas,nasentrevistasdadass
pesquisadorasIdaMarquesBrittoeOlgaVonSimson,emmomentos diferentes
da dcada de 80, para os seus estudos do carnaval paulistano. O G.C.
Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68,
dez./2012. 50 Barra Funda foi fundado, em 1914, por Dionsio
Barboza, Victor de Souza, Luiz
Barboza.SegundointerpretaodeOClarimdAlvorada,elesderam(forma)
1iniciativadeumpequenogruponoqualtomarampartecomofigurade
destaqueoSr.SilvanoVidalSilveira,eAntenordosPassos,SebastioDias,
Tiburcio de Almeida e outros componentes (05 fev. 1928, p.4). I
magem2 Dionsio Barboza-Fundador do Camisa Verde. Fonte: (SIMSON,
2007, p. 300). I magem3 Sr. Victor (do cavaquinho), um dos
fundadores do Camisa Verde; Sr. Antenor do Clarinete e Sr Mximo do
violo. Fonte: (SIMSON, 2007, p. 304).
IdaMarquesBritto,emseulivroSambanacidadedeSoPaulo(1900-1930):umexerccioderesistnciacultural
utilizando-se de depoimentos de vrios
fundadores,expsversodiferentedasanterioresparaosintegrantesque
originaramoG.C.BarraFunda,aoenfatizarqueomesmofoicriadoporum
pequeno grupo de parentes e amigos, de seis a oito rapazes
companheiros de
jogodemalho(BRITTO,1986,p.73)lideradoporDionsioBarboza,Luiz
Barboza(irmo),ocunhadoComlioAires,entreoutros.Brittoinformouque
ogruposaiupelobairrocantandomsicaprpriaelevandocomo instrumento o
pandeiro e o chocalho feito de tampinhas de garrafas de cervejas
fazendo tchic, tichich, tchic. Da precria sada inicial, foram se
organizando,
calasesapatosbrancos,chapudepalhaecamisaverde,substituindoos A
memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas
dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16,
supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 51 trapos e remendos de sua
primeira exibio. No ano seguinte, foi acrescentada a surdinha e uma
caixa remendada. E, em 1920, sua estruturao j era outra, bem mais
complexa:Em1920tinhamjsuaorquestra:SirvanodeTieteseusaxofonemuito
velhoeremendado,JoodoBandolim,CapistanodoTrombone,Marcio,
Mario,JandiroeVitocomcavaquinhoseumclarinete,DionsioBarbozae
seupandeiroe,omaisimportante,osurdoouobumbonasmosde Marcelo Roque,
que comandava, l de trs, toda a bateria. Dos oito ou doze
participantesiniciais,passaramavintee,noaugedocrescimentoem1920,
eraaotodosessentahomens,sendoquenocomeoalgunssetravestiam (BRITTO,
1986, p.74).
Osregistros,veiculadospelaimprensanosanos30,apontavamcomo
vestimentadoG.C.BarraFundaumacalabrancaeumacamisaverdee,na
cabea,umcapacetedeestiloromano.Osseusdesfileseramanimadospelas
marchassambadas,easmsicascantadaseramdeautoriadecompositoresdo
prpriocordo,geralmentefeitascoletivamenteporDionsioBarboza,Joo Brs,
Feij (Jair Bento Ferreira) e Vitor (BRITTO, 1986, p. 76).
Naformaodocordoapareceramosconhecimentosevivncias
anterioresdeBarbozanocarnavaldoRiodeJaneiro,noranchodeReisdo
pastoril, notadamente nas figuras do mestre-sala e da
porta-bandeira, introduzida nas exibies pblicas. Abrindo o desfile
vinha o baliza, figura que teve origem e inspirao nos desfiles
militares. Depois de 1921, foram introduzidas as amadoras (que
executavam evolues) e, posteriormente, o abre-alas uma grande
alegoria
comafiguradeumfalco.Todasessasideiasforamintroduzidaspeloprprio
Dionsio Barboza. A esse respeito Britto esclarece:
Ogruposaanaordemseguinte:Balizanafrente,atrsseisbatedorescom bastes
s mos, o porta-estandarte, o mestre-sala, que corria desde o baliza
atabateria,asamadoras(depoisde1921)eogrossodocordo;os instrumentos
ficavam divididos: clarinete mais frente, uma caixa ao meio e
porfimosinstrumentosdecorda,opessoaldochoronafrentedabateria
quefechavaogrupo.Comessadivisoasseguravaadistribuiodosom,
todoscantandoascomposiesprpriasdogrupo,deautoriadeseus compositores
(1986, p.75). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec.,
p. 37-68, dez./2012. 52 Igualmente no h consenso quanto ao percurso
e ao dia do desfile do
cordo.NainterpretaodeBritto,ogruposaiuinicialmenteaosdomingos,
repetindo nos anos seguintes o mesmo roteiro.
DesfilavamapportodaaBarraFunda,AvenidaSoJoo,subindoa
avenidaAnglicaataAv.Paulista,descendopelaAv.BrigadeiroLuiz Antonio
at o Largo So Francisco, Rua So Bento, o Tringulo at a Praa
doPatriarca.Depoisogrupovoltavacomamesmaorganizao,passava pelo
Correio, faziam uma parada para as mocinhas tomarem guaran, subia
aav.SoJooechegavafestivosededaBarraFunda,RuaConselheiro
Brotero,casadeDionisioBarbozaedepoisnaRuaVitorinoCarmilo,no mesmo
bairro (1986, p.75-76).
Simson(2007),porsuavez,assinalouqueogrupodesfilou
inicialmentena3feira,partindodobairroemdireoPraadaS,
repetindodiaepercursonosanosseguintes.Asnotciasveiculadaspelo
CorreioPaulistano,em1929,reafirmamqueoditocordodesfilavana3feira
Gorda. Porm,desde1919,oG.C.BarraFundapassaraadividirosespaos
pblicoscomoG.C.CamposElyseos,cordotambmdaBarraFunda,que
apareceucomumaestruturabemmaiselaboradaeintegradapor50rapazes.
Logosedestacoupelaqualidadedeseusinstrumentistas.Suascoreseramo
roxo(camisas)eobranco(calas).Traziacomoemblemaumanimal,misto
deguiaedrago,queoidentificavaemsuasapariespblicas,assim informa O
Clarim dAlvorada, em 1927.
NaanlisedeBritto,osCamposElyseosdestacavam-seporseus[...]
instrumentistas,comopredomniodapercusso,svezesemumnmero
superiora10:caixas,surdosebumbosdetodosostamanhos.Aestes
juntavam-se o grupo de choro, o chamado conjunto choro, com
trombone, o
clarinete,oviolo,banjos,chocalhos,pratosepratocombaqueta(1986,p.
77).SeemrelaoaoG.C.BarraFundaacontrovrsiaemrelaoaos
seusfundadores,asdvidasemrelaoaoG.C.CamposElyseosreferem-se A
memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas
dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16,
supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 53 sua data de fundao. Ida
Britto (1986) afirma que o grupo saiu pela primeira
vezem1917,comumconjuntode50pessoas,jportandocamisaroxae
calabranca.EraoriginriodoBlocodosBomios,quedesde1913existiade
formanoestruturadanaAlamedaGlette,naBarraFunda.Nainterpretao de
Simson (1989), a agremiao foi fundada em 1918 (como cordo), por um
grupodenegros,comsituaofinanceiraumpoucomelhordoqueaquelesque
formavamoCamisaVerdee,tambm,saasruass3feiras(CORREIO
PAULISTANO,08fev.1929,p.4).Mas,operidicoProgresso,vinculadoao
cordo, define sua origem em 1919.Essa associao carnavalesca no
desenvolvia enredo, mas definia um
temaparaapoiarassuasfantasias.Notinhasedeprpriaepodiainiciaro
seudesfiletantodaBarraFundaquantodequalqueroutropontodacidade.
DizBritto:AsmsicasdoCamposElyseoseramfamosaseoriginriasdeseu
ncleodecompositores:AlcidesMarcondes,JoodeSouza,Benedito
Carmelinho,pianistarespeitadoeoritmoeraamarchaenoasmarchas sambadas
do Camisas Verdes (Barra Funda) (1986, p.78).
Osucessodessasagremiaesmaterializou-seemsuasperformances
duranteosfestejoscarnavalescos,anoapsano,comoinformouOClarim
dAlvorada.Em1926,esseperidico,nacolunaEchosdoCarnaval,noticiouo
xitoalcanadopelosdoiscordesBarraFundaeCamposElyseos,graasao bom
gosto e ao fino esprito com que em pblico se apresentaram. (21 mar.
1926, p.3) Noanoseguinte(1927),osfoliesafro-paulistanoscontaramcom
mais uma agremiao, AFlordaMocidade, originada a partir da
dissidncia no
G.C.BarraFunda.Mas,aoqueparece,essarupturanocausouabalos
significativosnotrabalhodearregimentaodotradicionalcordoque,em
1928,demonstravaaampliaodonmerodeseusparticipantes,
estruturando-seporintermdiodaformaodecordesinternosquepermitiao
Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68,
dez./2012. 54
crescimentodoGrupoeaconsolidaodeumaestruturadescentralizada, capaz
de fortalec-lo e no o contrrio. Trazem nomes convencionais, exceto
Misria e fome que jocosamente faz crtica as prprias condies do
grupo e, por extenso, da sociedade.
Actualmente(1928)vemoGrupoCarnavalescoBarraFundapor
intermediodeseusfundadores,organizandooscordesinternosos
quaestemsidoaplaudidosedandoaomesmogrupoenorme
desenvolvimentotaescomo:MisriaeFomevictoriosoincontestavel;
oAngudaBahiananossorival;Camponesesnossorival;
Cozinheirosnossosdiscipulososquaestrazemcomochefeosr.Z m-m o
terrivel folgazo Carloca que s tem encontrado com o terrivel
paulista,C.edadoparatras;osr.JosAlexandreSilvanobiscoito,
mais...temqueperderporqueoC.nodorme.Aseguirtemosochefe
geralSrDionsioBarbozaauctoredirigentedoGrupoInfantilBarra
FundajuntamentecomosrJorgeRaphaelesforadoDirectordo
GrupoCarnavalescoBarraFunda,quetemprocuradooenlevodo mesmo.A seguir
temos um grupo de amadoras estas que sero o brao direito do Grupo
Carnavalesco da Barra Funda conforme suas foras legaes - so
ellasquedoasmaisbellasprovasCarnavalescaseemtodasasmais
distinctasfestasdestasociedadeempregandoseusesforos(OCLARIM
DALVORADA, 05 fev. 1928, p.4).
Nofinaldadcada,essescordesganharamdestaquesnonoticirio da imprensa
diria. Em 1929, o tradicional jornal Correio Paulistano mencionou
ocostumeirodesfiledoCamisasVerdes(G.C.BarraFunda),na3feirade
carnaval(dia12/01/1929),eodesfiledoCamposElyseos,compostode100
figurantes.Seguindoatradio,ojornaldescrevequeoprstitodocordo
CamisasVerdespercorreuinicialmenteasruasdobairro,dirigindo-seem
seguida ao centro da cidade, onde cumprimentar as altas
autoridades, visitar as redaces dos jornais, conforme a praxe dos
annos anteriores (CORREIO PAULISTANO, 08 fev. 1929, p. 4). Alm
dessa notcia, o Chibata ( fev. 1932, p.2) comentou sucintamente
osucessodoranchoDiamanteNegroedoscordesGrupodasBahianas,Grupo Vai
Vai e Grupo dos Desprezados (Interno dos Campos Elyseos). No ano
seguinte,
Evoluodestacou,emsuaspginas,asexibiesbemsucedidasdosranchos, A
memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas
dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16,
supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 55
cordeseblocosdacomunidadenegranocarnaval,enfatizandoopapel
desempenhadopeloInterventorparaobrilhodetaisfestejose,tambm,as
homenagensdoperidicoaosfeitosdanossagentecomosseusvitoriosos
cordes:asBahianas(Paulistas),osDesprezados,BarraFunda,CamposElyseos,
Mocidade,DiamanteNegro(rancho)eVaeVae (EVOLUO, 13 maio. 1933,
p.15). Nofinaldadcadade20,essescordespartilharoosespaos
pblicoscomoCordoEsportivoCarnavalescoVaiVai,fundadoem1930,no
Bexiga,porFredericoPenteado(Frederico),DonaIracema,Tino,Guariba,
Henrico,BeneditoSardinha,DonaCasturina,entreoutros. 9 Eraoriginrio
do clube de futebol Vai-Vai, em oposio a outro clube, o Cai Cai,
ambos da rua Marques Leo. O Vai Vai estreou naquele carnaval
fantasiado de marinheiro, de preto e branco, as mesmas cores do seu
clube de futebol. Como os outros cordes, o Vai Vai no tinha um
enredo, embora desenvolvesse temas para dar suporte s
suasfantasias;aestruturadeseusdesfileseratradicional(asfileiraslaterais),
mas,jincorporavaasnovidadesquefaziampartedosdesfilesdosoutros
cordes, como por exemplo, o estandarte carregado por uma mulher.
Oestandarte,porexemplo,vinhacarregado,pormulher,D.Iracema,uma
inovao de 1921 do cordo. Os Desprezados da Barra Funda, dirigido
pelo Neco.Nafrente,abrindoocortejo,estavamosbalizas,presenteD.Sinh,
entocom12anos,nicamulherdentre10rapazes.Logodepois,vinhaa
porta-estandarte, seguida de uma comisso situada entre fileiras
laterais, e no
meio,aporta-bandeira.[...]Nodecorrerdadcadade30,oVai-Vai introduziu
personagens de corte com a figura de uma rainha e de uma dama
queemobedinciaascoresdocordo,traziaindumentrianegra,sendo apelidada
de dama de negro iniciativa esta, na idia e na representao, de
D.Olmpia,umadasprimeirasfigurantesfemininascomquecontouoVai Vai
(BRITTO, 1986, p.79).
9
Essecordotransformou-senofinaldadcadade1960naEscoladeSambaVaiVai,e
permanece com suas luxuosas exibies, em preto e branco, nos
desfiles carnavalescos dos dias atuais. Silva Dilogos (Maring.
Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 56 As msicas
cantadas durante as exibies do cordo eram de autoria de
seuncleodecompositores:Tino,GuaribaeHenrico,conhecidossambistas
desse perodo. Alm dos fundadores, outros integrantes projetaram-se,
sobretudo
osmembrosdabateria,algunsdelestornaram-seapitadorescomoSr.Livinho
aclamadocomooPrimeiroapitadordeSoPaulo(SIMSON,1989,p.307),
PatoNguaeSebastioEduardoAmaral,ofamosoPRachado10,quese integrou ao
Vai Vai em 1933 (e tornou-se seu diretor de bateria,
posteriormente). I magem4 Sr. Livinho, um dos fundadores do Vai Vai
(primeiro apitador) fantasiado de Cossaco, 1933. Fonte: (SIMSON,
2007, p. 307). I magem5 - Pato Ngua, um dos principais apitadores
do Vai Vai. Fonte: (SIMSON, 2007, p. 308).
10
Entrevistagravadaem02/10/1981,noMuseudaImagemedoSom/SP.(Fita112.31-32
CarnavalPaulistano).SebastioEduardoAmaraleramineiroeem1934veioaSoPauloa
passeio,comamigos.Instalaram-senoBexigaarranjandotrabalhocomopedreiro,emboraem
Minas fosse padeiro. Em 1934, viu o VaiVai e resolveu se ligar ao
grupo. Em Minas tinha um bloco e j tocava surdo acompanhando
congada. Em seu depoimento diz que entrou para o Vai
VaipormeiodeseuamigoCota.Ficounafilaparaentrarnabateria.Esperoudoisanospara
entrar no surdo. Depois passou a tocar bumbo, em substituio a um
rapaz que morreu. Depois passou para apitador. No tinha interesse
de ser apitador, quando Pato Ngua se retirou,
assumiuessaposio.Ficoutrsanosdirigindoabateria.AmaralafirmaqueoVaiVaiteve
importncia significativa na dcada de 1930 e decaiu nas dcadas de
1940 e 1950.A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So
Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online),
v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 57 I magem6- Sebastio
Eduardo AmaralIn: Blog Multissamba Mestre P Rachado. Disponvel em:
http://multisamba.blogspot.com.br/2010/09/mestre-pe-rachado.html.
Acessado: 22 out. 2012.
VaiVaidestacou-seemrelaoaosoutroscordes,comolembra
SebastioEduardoAmaral,porprevalecerosinstrumentosdecouro,almda
caixa,rufo,pratoechocalho,quevinhamnafrentedosbumbosenormes,
sempremaisdeum.Depois,ocordocriouacaixacariocaqueproduziaum
somsemelhanteaorepiniquedostemposmodernos.Aparticipaodos elementos
de choro era menor entre os instrumentistas, como informa Amaral,
ementrevistaaIedaM.Britto,em1979.Emborafosseumcordodobairro Bexiga
e composto de ncleo familiar, tal qual os demais cordes, aglutinou
em torno de si folies originrios da Barra Funda ou integrantes do
Campos Elyseos. A memria dos carnavais dessa comunidade vai alm das
notcias sobre
aparticipaonosdesfilesocorridospelacidade.Noinciodadcadade30,a
FrenteNegraBrasileira(FNB)instituiuumcertameparaasagremiaes
carnavalescasdacomunidadenegraeofereceuataaArturFriedenreichem
homenagemaofamosojogadordefutebol,filhodealemoemeafro-brasileira ,
inaugurando uma situao peculiar no mbito desses festejos, uma
vezqueaspreocupaesdessaorganizaovoltavam-separaquestesgerais,
comoaeducaodogrupo,asmoradiasprprias,acessoaosempregos Silva
Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012.
58 pblicos,informadasporconcepespolticasdedireitaprximassdos
integralistas, atuantes na conjuntura.Embora no atuasse no
carnaval, a FNB procurou marcar sua presena
nacomunidadenegra,organizadaemtornodosfolguedosdeMomo,criando
umcertameque,emdetrimentodesercalcadonosmoldesdaqueles
patrocinadospelaselites,perseguiuumcaminhoprprio,valorizandoosseus
conesesmbolos,aohomenagearosmembrosproeminentesdeseugrupo. Mesmo
assim, teve dificuldade para garantir a unanimidade desejada, pois
nem todasasagremiaescompareceramaoevento,evidenciandoumalinhade
tenso entre a FNB e os outros grupos organizados dessa comunidade,
uma vez
quenopartilhavamdasmesmasposiespoltico-ideolgicas,muitoembora no
explicitassem essas diferenas. As informaes publicadas pelo
peridico A
VozdaRaaenfatizaramque[...]participaramdoconcursoosseguintes
cordes:CamisaVerde,BlocodoBoi,CordodasBahianas,Blocoda
Mocidade;nocompareceramaoconcurso,pormotivosqueaindaignoramos
osseguintes:Desprezados,Vae-Vae,CamposElyseoseDiamanteNegro(01 abr.
1933, p.3). 11 O certame, diferente dos demais, ocorreu no Clube S.
Paulo ao qual foi confiada a incumbncia de sua realizao. O desfecho
final ocorreu em baile convocado especificamente para a entrega do
trofu, cuja posse era apenas por um ano.
Nocarnavalde1934,novamente,temosnotciasdaocorrnciadetal certame,
embora a taa oferecida ao primeiro premiado tenha sido denominada
FrenteNegraBrasileiraenofaanenhumarefernciaaojogadordefutebol
homenageadonoanoanterior.NacolunaEcosdoCarnaval,publicadaemA
VozdaRaa, o jornal noticiou o concurso institudo pela
FrenteNegraBrasileira,
11 Est ausente desse concurso o GC CamposElyseos e alguns cordes
de sua rea de influncia, como VaeVae, Desprezados (grupo que saiu
do GC BarraFunda). Foi a partir desse grupo que
saiuaentidadeque,naconjuntura,faziaoposioFNB,pordiscordardesuasposies
poltico-ideolgicas. A memria dos carnavais afro-paulistanos na
cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos
(Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 59
entreoscordespaulistasquedisputavamartsticataa,oqualfoirealizado
na3feiradeCarnaval.Informou,ainda,queojulgamentofoifeitopela
seguinte comisso: Salatiel de Campos, Altino Mendes e Francisco
Lucrcio. Compareceramaoeventoosseguintesblocosecordes:Mocidadedo
Lavaps,CaveiradeOuro,BaianasCarnavalescas,FlordaMocidade,BlocoNaval,Vae
Vae,Desprezados.Oresultadodoconcursoapontouovitorioso,opopular
cordo G.C. Vae Vae que se apresentou com cento e tantas figuras
estandarte
balisas-comissodefrenteclarim-msica,fazendograciosasevolues,
cantandoasmarchasmaislindasinclusiveumaemhomenagemaF.N.B..O
segundolugarcoubeaoBlocoCarnavalescoFlordaMocidade.Outrosprmios
foramoferecidosaosbalizas:AoBalisadoG.C.VaeVaeumataa oferecida pela
Voz da Raa; Ao Balisa do Caveira de Ouro, Sr Avelino Traves uma
medalha de prata oferecida por esta redao; Ao Balisa Flor da
Mocidade, Sr.ValdomiroCorradosSantosumamedalhadeprata(AVOZDA RAA,
14 abr. 1934, p.3). 3. As barreiras para colocar o bloco na rua e
os novos aliados
Aaparenteausnciadeconflitonopodeconfundiroleitor,poisas
proibiesaosdesfilesdosblocosecordesquenotivessemoalvarda polcia
foram uma realidade vivenciada pelos negros (e demais folies
pobres), situao que se agravava pelo fato de no terem um espao
definido para suas
apresentaes,aocontrriodoqueocorriacomosdemaiscomponentesde
agremiaes da elite endinheirada. Por exemplo, os primeiros cordes
lutaram, sem sucesso, para desfilar nas avenidas centrais. Apesar
da investida fracassada, em todos os desfiles dirigiam-se ao centro
da cidade para prestar homenagem
autoridadepolicialmxima,pedindo,informalmente,asuaanunciaparaa
continuidadedodesfile.Tambmdesfilavamemfrenteaosgrandesjornais.
Dirigiam-se,emseguida,aosclubesdaraalocalizadosnaregiocentralda
Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68,
dez./2012. 60
cidadedeSoPaulo,ondepodiamexibir-sesemsepreocuparemcomas
investidasdapolcia.Fugiraesseenquadramentosignificavaentrarem
confrontocomapolciaquetoleravaosfolguedosnegros,comsuasmarchas-sambadas,apenasduranteosdiasdefoliacarnavalesca(SIMSON,1989).O
sambista Alberto Alves da Silva, o Seu Nen da Vila Matilde, em
depoimento
aAnaBraia,falasobreessamemriadarepressopolicialaosmsicosnegros
nolivroMemriasdeSeuNendeVilaMatilde,noqualoautorcorrobora
informaesquejhaviamsidodadaspeloscontemporneos,sobrea
perseguiopolicialaosnegros,nosanos20esuaextensoaosamba,queera
tolerado apenas durante o carnaval.12
Asdificuldadesenfrentadaspelosnegrosemseucotidianoobrigaram-nosapensaroutrasestratgiasparacontornarasinterdieseproblemasque
noseresumiamapenassinvestidasdapolcia.Nosbairrosondemoravam, embora
fossem a maioria, tambm tinham que conviver com imigrantes pobres
decorbranca,dediferentesnacionalidades.NobairrodaBarraFunda,por
exemplo,tambmmoravamitalianos,portuguesesesrios.Eracomessa
populaoqueoscordesteriamdeestabelecerrelaescordiaisetentar
conquist-la, para poderem ocupar o espao comum das ruas para seus
ensaios e apresentaes (SIMSON, 1989, p.171). Sebastio Amaral tambm
fala sobre
essarelao,sobretudo,comositalianosbatateiroseossrios,informando que
ambos ajudavam financeiramente o Vai Vai.13
Entre os integrantes do cordo Camisas Verdes (G.C. Barra Funda)
havia preocupao em relao a essa aproximao. Com os italianos, ela
manifestou-sedediversasmaneiras:apoiofinanceiro(contribuionolivrodeouro),
12 Consultar sobre o assunto, o livro Seu Nen de Vila Matilde
(Alberto Alves da Silva) no qual o autor relembra que nos anos 19 e
20, o samba s era permitido nos dias de carnaval (SILVA; BRAIA,
2000, p. 53). 13 A presena de brancos no cordo Vai Vai somente
ocorreu em 1953, segundo o depoimento j citado, de Sebastio Amaral
(MIS - Fita 112.31-32 Carnaval Paulistano). A memria dos carnavais
afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas dcadas de 20 e 30 do
sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68,
dez./2012. 61
aplausosetorcida.Porm,aparticipaodebrancoscomointegrantesdos blocos
e cordes negros, segundo os depoimentos dos sambistas, no era bem
aceitapelosprpriosbrancosquehostilizavamaquelesque,emalgum
momento,manifestaraminteresseemintegrar-sebrincadeira.Nesse
particular,haviacertareciprocidade.Emboraasexplicaesdeambos
procurassemamenizarasdivergncias,elasnoconseguiramesconderqueos
obstculos eram tnicos e no culturais.
Emquepeseapaulatinaincorporaodosnegrosaosfolguedosmais
amplos,issonosignificouaeliminaodopreconceitoedaintolerncia,que
ainda definiam as relaes entre negros e brancos, nos anos 30. O Seu
Zezinho, docordoCamisasVerdes(emdepoimentoaoMuseudaImagemedoSom
MIS), msico que integrava o conjunto guias da Meia Noite, de maior
projeo de So Paulo, afirma que o grupo enfrentou muitas
dificuldades para tocar nas rdios locais, por causa do preconceito.
Em seu relato diz que era msico, mas
trabalhavaantes,parasobreviver,emtrabalhopesadocarregandosacasde
caf.Comomsico,informaquetrabalhounardioAlvorada,comogrupo
guias....Masnoconseguiugravarsuasprpriasmsicas,oquelevoua
desagregaodogrupo,anosdepois,porcausadosproblemasde
sobrevivncia:oscachserammuitobaixosenemtodososintegrantes
queriamviverexclusivamentedaatividademusical,comogostariaque
ocorresse.14 Aspesquisasqueabordaramoutrosaspectosenvolvendoa
comunidadenegrachamaramaatenosobresuaexcluso,inclusiveno
mercadodetrabalholivre,cujainseroocorreusobcondiesde
desigualdade,secomparadasadapopulaobranca(ANDREWS,1998). Outros
aspectos de seu cotidiano tambm foram afetados por essa
intolerncia.
14 Sobre o assunto, consultar o depoimento que se encontra no
Museu da Imagem e do Som de So Paulo. (MIS - Fita 112.4-5 Carnaval
Paulistano) e Moraes (2000). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16,
supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 62 O jornal AVozdaRaa, na matria
Os Sambas e os bailes, publicada em 30
desetembrode1933,protestoucontraotratamentodadoaosnegros,pelos
senhorios. Quando se candidatavam ao aluguel de um imvel, as
exigncias do
proprietrioiamdaproibioderecebervisitasataderealizarbailes,
deixando-ostolhidosemsuaprivacidade.Ironizaotrminodaescravidoe
defende o direito privacidade, como no seguinte trecho:
Atacasaquensalugamosepagamospontualmente,notemosodireito
defazerumdivertimento.Eupensoquedepoisquenstrabalharmosseis dias em
qualquer servio que seja para a manuteno da nossa prole, tambm
temosodireitodeprocurarmosumdivertimentoqualquerporem,licito,
comordemerespeito,quesoasprincipaesda(s)Bases(da)Educao(A VOZ DA
RAA, 30 set. 1933, p.3).
Emmeiosdificuldadeshouve,tambm,valorizaodonegrono
planosimblico,pelosintelectuaismodernistas,queemsuasrepresentaes
passaramaconsiderarasuacultura,comoospintoresTarsiladoAmaral,Di
Cavalcanti e Portinari e os escritores Jos Lins do Rego (Moleque
Ricardo - 1933)
eJorgeAmado(SubterrneodaLiberdade)oque,apesardospercalos,definiao
seu lugar na sociedade brasileira.
Essasaesforamalmdadimensosimblica.Em1935,oPrefeito
FbioPradooficializaosfolguedospraticadospelosranchos,blocose
cordes,aodefinirumlugarespecficoparasuaexibio.Certamente,o
intelectualmodernistaMriodeAndradefoipartcipedessadeciso,na
qualidadedeDiretordoDepartamentodeCulturadaPrefeituranaocasio15.
Tambmerasabidooseucontatocomoredutonegromaisinacessvelda Barra
Funda, devido ao seu interesse pela msica e demais expresses
culturais do grupo.
Assim,foinessecontextoque,noscarnavaisde1935a1938,as diversas
agremiaes dos negros e as das classes populares brancas
participaram
15 Informaes sobre a gesto de Mrio de Andrade, consultar Moya
(2011). A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So
Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online),
v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 63 dos desfiles
organizados pela Prefeitura da capital, que definiu como palco para
suasapresentaesaruaLberoBadar,distintodoespaocenogrficooficial
montadonaAv.S.Joo,destinadosexibiesdasgrandessociedades
carnavalescasprovenientesdaselitesouporelasapoiadas,qualificadasdeo
grandecarnavaloucarnavalburgus.Essaparticipaopressupunha
inscrever-seoficialmenteparaosdesfiles,nosdiasmarcadospelaPrefeitura,
paraaexibiodesuasagremiaesqueseriamavaliadasporespecialistas
definidospelaComissoOficialdosfestejos,segundoosquesitos:luxo,
originalidade,escultura,harmonia,indumentria,canto,evoluese
iluminao (CORREIO PAULISTANO, 05 mar. 1935, p.
7).Essasalteraesfaziampartedomovimentodenacionalizaodo
carnaval,queintroduziu,emsuaestrutura,aslendas,osmitosbrasileiros
diversoseasmsicas,osritmoseogingadoprovenientesdouniversoafro-brasileiro.
Durante esses festejos, a cada ano, foram institudos concursos para
elegerasmelhoresmarchasesambascarnavalescos.Essascanespassarama
animar os bailes pelo Brasil afora e, em So Paulo, deram vida s
exibies dos
desfilespblicos,considerando-sequeapenasosblocos,ranchosecordes
negrostinhamumncleodemsicosecompositores.Osdemaiscordes parodiavam
as letras das canes que faziam sucesso nas rdios (SILVA, 2008,
p.184).NocasodeSoPaulo,oscompositoresnegrosnochegarama alcanar a
mesma projeo obtida pelos seus colegas do Rio de Janeiro, embora
alguns tenham se destacado, como j assinalado anteriormente.
Nocarnavalde1935,porexemplo,houveumavastaprogramaode
eventospblicos,atumconcursooficialdemarchasesambas,masnoh
notciasdaparticipaodemsicosecompositoresnegros.Asnotcias
focalizamosdesfilesdegrupos,blocos,cordeseranchos16,cujospr-
16 A definio de cada categoria era feita pelo nmero de
participantes, a saber: Grupo - at 25
pessoas;Blocos-de25at50pessoas;Cordes-de50pessoasparacima;Rancho,
qualquer nmero de pessoas, sendo, porm, obrigatrio o enredo. Silva
Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012.
64 requisitos,paravencerocertame,seriamoseuenquadramentoaoscritrios
acimaespecificados.Ouseja,exignciasqueasentidadesnegrastinham
dificuldades em cumprir e, nesse sentido, estavam formalmente
concorrendo,
masemgrandesdesvantagensfrenteaosseusconcorrentesdeorigembranca.
Naquele ano, os inscritos foram os seguintes:
Grupos-Vindosdoserto-Nomemisturo-GrupoXdaRadio Educadora -
Veteranos da Serra.
Blocos-Franco-Brasileiro-BlocodoRoma-FlrdaMocidade- Mocidade do
Lavaps - Filhos da Candinha - Bloco Moderado - Cordo dos Innocentes
- Bloco do Jockey Clube Nossa Vida um Mystrio - Bloco da Banda
Auri-Furgente de Jundiahy - Bloco Banda.
Cordes-Luso-Brasileiro-Caveiranos-Gerandino-Terminiano-
CordoRugggerone-CamisasVerdes-CamposElyseos-Tenentesdo
Hispano-CaveiradeOuro-BahianasPaulistas-Vae-Vae-Marujos
Paulistas-CordoSammarone-CordoLiberdade-Peccadoressem
arrependimento - Bloco das Misses, de Santos.
Ranchos-GarotosOlympicos-DiamanteNegro-MimosoPrncipe
Negro-RanchoLuizGama-ArranchadosdeQuitauna(CORREIO PAULISTANO, 05
mar. 1935, p. 7).
Nohregistrossobreamsicaeotema,exibidospelosdiversos
gruposnessesdesfilesoficiais.Aparticipaonegranoconjuntodeeventos
realizadosnesseanoficourestritaaodesfiledosblocosecordes,marcando
umapresenasignificativamentedesigual,secomparadadosdemaiseventos
organizadospelosclubeseassociaesdaeliteedaclassemdia.Concorrer com
o luxo do carnaval da elite branca era extremamente difcil,
considerando-se a origem dessas agremiaes. Nos anos seguintes, os
blocos, ranchos e cordes fizeram sua exibies
naruaLberoBadar.Em1937,asassociaesinscritasforamavaliadaspelos
jurados:Prof.AchillesBlochdaSilva,FernandoMendesdeAlmeida,Menotti
delPicchia(literato),SerpaDuarteeCastroCarvalho(OESTADODES.
PAULO,11fev.1937,p.7).Em1938,osdesfilesforamseparadospelas
modalidadesranchos,cordes,blocosegrupos cadaumadelasjulgadas
porcritriosespecficos.Osranchosforamavaliadospeloenredo,luxo, A
memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So Paulo nas
dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online), v. 16,
supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 65
iluminao,evoluo,porta-estandarteemestre-sala17,eoscordespelos
quesitosluxo,iluminao,canto,evoluoebaliza.18 Eosblocosegrupos pelo
luxo, originalidade, canto e evoluo.19
Emboranosejapossvel,porfaltadeinformao,saberoquefoi
apresentadoporessescordesnosreferidosdesfilesquetraziamobaliza
frente, o estandarte e a no-obrigatoriedade de enredo , sabe-se que
a pugna para
integrar-seaoscarnavaisdacidadeeraantiga.Certamente,aspressesdos
segmentospopulares,tendocomoaliadospartedaselites,movidasporinteresses
mltiplos, entre eles os do comrcio, da indstria e dos meios de
comunicao de massa imprensa e rdios que viam a a possibilidade de
negcios lucrativos,
tornaramvivelessainsero.Umdosargumentosarroladospelaimprensa,em
algunsmomentos,foianecessidadedessafestarepublicanizar-separarecuperara
animao dos folguedos. Consideraes finais
Nestetexto,portanto,procurou-serefletirsobreoenvolvimentodos
negrosnoscarnavais(oficiaisouno)deruadacidadedeSoPauloe,emseus
clubes,nasdcadasde20e30dosculopassado.Aparticipaonoscertames
oficiaissomenteviabilizou-senagestodoPrefeitoFbioPrado,em
1935/1936/1937, graas presena de Mrio de Andrade frente da
Secretaria de Cultura e Recreao do Municpio de So Paulo que criou
modelo de apresentao
dasagremiaespopulares,nosespaospblicos,inclusiveasdosnegros.A
propostaenvolviaojulgamentodasexibies,pormsicos,literatoseartistas
17
AComissoJulgadoraeracompostadosseguintesmembros:Dr.MiguelPauloCapalbo;
EscultorVictorBrecheret;PintorB.BastosBarreto(Belmonte);JosdeCastroCarvalho;Dr.
Jos Corra da Silva Junior. 18
AComissoJulgadoraeracompostadosseguintesintegrantes:Dr.MiguelPauloCapalbo;
EscultorVictorBrecheret;PintorB.BastosBarreto(Belmonte);JosdeCastroCarvalho;Dr
Jos Corra da Silva Junior. 19
IntegravamaComissoJulgadora:Prof.AchillesBlochdaSilva;PintorJ.WashRodrigues;
Dr.RibasMarinho,lvaroVieira;MaurcioLoureiroGama(CORREIOPAULISTANO,26
fev. 1938, p. 10). Silva Dilogos (Maring. Online), v. 16, supl.
Espec., p. 37-68, dez./2012. 66
plsticos,deformaoacadmica,originriosdasescolasdeBelasArtesedos
ConservatriosdeMsica,reordenamentoqueserviudeparmetroparaos
carnavais
posteriores.Nota-se,nesseprocesso,acomplexidadedasrelaesculturaisentre
brancosenegros,comosugereThompson(1998,p.17),comelementos
consensuais,mastambmsituaesdeconflitoscujosresultadosforam,aps
insistentesnegociaes,nemsempreexplicitadas,paraaparticipaodos
carnavaisoficiaisdacidade.Essaquestofoiexploradacombaseemindcios
dispersos, tal a precariedade das notcias da presena do grupo
nestes festejos, at mesmo em seus peridicos, cujos registros
resumem-se a rpidos informes sobre os
desfilesdeseuscordeseranchospelasruasdacidade.Porm,asrelaesde
conviviabilidade,entrebrancosenegros,emboraperpassadaspordificuldadese
conflitos, elas no impediram prticas culturais partilhadas e,
tambm, dissonantes
nosmoldesdaacepobakhtiniana(BAKHTIN,1987),apartirdosanos30,
considerando-sequeasmsicaseritmos(marchasesambasprovenientesdos
ncleosculturaisnegros)chegaramaossalesfrequentadospelaselitesepelos
segmentosmdiosdasociedadebrasileiradeformadesigualnopas.Nocasode
SoPaulo,houvepartilhadosespaospblicosnocorso,comapresenados
caminhes(modalidadenoabordadanestetexto),enosdesfilesoficiaiseda
mdia(jornaiserdios).Porm,aincorporaopretendidapelosnegrosafro-paulistanos,nessaconjuntura,foiaqumdoesperadoporessesprotagonistas20,
vistoqueosmsicosdogrupotiveramdificuldadesdeinseronosespaos
culturais da cidade.21
20 O deslocamento de elementos da cultura negra para o mundo das
elites, como foi se explicitando nos carnavais do Rio de Janeiro,
nas dcadas seguintes, com festejos que passaram a ser regidos pelo
ritmoeogingadodosambaedobatuque,originriosdaqueleuniversocultural,redefine
paulatinamente o perfil dos carnavais do pas para os anos
seguintes, o que somente ocorreu em So Paulo no final dos anos 60,
com a oficializao das Escolas de Samba. Informa Sebastio Amaral que
o cordo Camisas Verdes e o Vai Vai somente mudaram para Escola de
Samba em 1971. 21 Esta questo foi discutida amplamente por Jos
Geraldo Vinci de Moraes (2000) que constata os
preconceitoseasdificuldadesparaosmsicosnegrosconseguiremespaosefinanciamentosnas
rdios da cidade e, tambm, as dificuldades de gravao de suas
msicas.A memria dos carnavais afro-paulistanos na cidade de So
Paulo nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX Dilogos (Maring. Online),
v. 16, supl. Espec., p. 37-68, dez./2012. 67 Fontes A VOZ DA RAA.
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