Universidade de Aveiro 2018 Departamento de Línguas e Culturas CÁTIA SOFIA DUARTE SOARES TRADUÇÃO DE FOLHETOS INFORMATIVOS: RELATÓRIO DE ESTÁGIO NA AP|PORTUGAL
Universidade de Aveiro
2018
Departamento de Línguas e Culturas
CÁTIA SOFIA
DUARTE SOARES
TRADUÇÃO DE FOLHETOS INFORMATIVOS:
RELATÓRIO DE ESTÁGIO NA AP|PORTUGAL
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Universidade de Aveiro
2018
Departamento de Línguas e Culturas
CÁTIA SOFIA
DUARTE SOARES
TRADUÇÃO DE FOLHETOS INFORMATIVOS:
RELATÓRIO DE ESTÁGIO NA AP|PORTUGAL
Relatório de Estágio apresentado à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Tradução Especializada, realizada sob a orientação científica da Doutora Maria Teresa Murcho Alegre, Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro
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o júri
presidente Professor Doutor Reinaldo Francisco da Silva Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro
Professora Doutora Anabela Valente Simões Professora Adjunta da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda da Universidade de Aveiro (arguente)
Professora Doutora Maria Teresa Murcho Alegre Professora Auxiliar da Universidade de Aveiro (orientadora)
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agradecimentos
Agradeço à minha família, em especial aos meus pais, pelo apoio que me deram ao longo do meu percurso académico. Agradeço à empresa AP|PORTUGAL pela oportunidade da realização de um estágio curricular e pelo apoio dado ao longo do mesmo. E, por fim, agradeço à minha orientadora Maria Teresa Murcho Alegre pela ajuda na realização deste relatório de estágio.
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palavras-chave
Tradução Especializada, Saúde e Ciências da Vida, Inglês-Português, Tradução de Folhetos Informativos, Problemas de Tradução, Géneros Textuais
resumo
O presente relatório expõe o trabalho realizado durante o estágio curricular na empresa de tradução AP|PORTUGAL, focando-se nos trabalhos de tradução feitos na área da saúde, que inclui maioritariamente a tradução de folhetos informativos. Deste modo, é apresentada uma análise teórica dos géneros e tipologias textuais, que depois é relacionada com os problemas de tradução que surgiram durante a tradução destes textos.
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keywords
Specialised Translation, Health and Life Sciences, English-Portuguese, Translation of Patient Information Leaflets, Translation Problems, Textual Genres
abstract
This report presents the work carried out during the internship at the translation company AP|PORTUGAL. It focuses on the translation work done in the health area, which mainly includes the translation of information leaflets. Therefore, a theoretical analysis of genres and text typologies will be presented, which is then connected to the translation problems that emerged during the translation of these texts.
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Índice
1. Introdução .................................................................................................................................. 5
2. O estágio..................................................................................................................................... 6
2.1. Apresentação da empresa ................................................................................................. 7
2.2. Fluxo de trabalho ............................................................................................................... 9
2.3. Tarefas realizadas ............................................................................................................. 11
2.3.1. Tarefa de Desktop Publishing ....................................................................................... 11
2.3.2. Tarefas de tradução, revisão e releitura ...................................................................... 13
2.4. Ferramentas de apoio à tradução utilizadas .................................................................... 16
2.4.1. Wordbee Translator ..................................................................................................... 17
2.4.1. Memsource Cloud ........................................................................................................ 22
3. Tradução na área da saúde ...................................................................................................... 25
3.1. Processo de tradução na área da saúde .......................................................................... 26
3.2. Tradução documental e tradução instrumental .............................................................. 29
3.3. Classificações textuais ...................................................................................................... 30
3.3.1. Folhetos informativos .................................................................................................. 35
3.3.2. Consentimento informado ........................................................................................... 37
3.3.3. Website e descrição de produto .................................................................................. 39
4. Problemas e dificuldades de tradução ..................................................................................... 40
4.1. Folhetos informativos ...................................................................................................... 41
4.1.1. Diferenças entre o género textual da cultura de partida e da cultura de chegada ..... 41
4.1.2. Falta de informação sobre o público-alvo e finalidade do texto ................................. 44
4.1.3. Terminologia ................................................................................................................ 45
4.1.4. Inconsistências ............................................................................................................. 50
4.1.5. Erros ............................................................................................................................. 50
4.2. Consentimento informado ............................................................................................... 54
2
4.3. Website e descrição de produto ...................................................................................... 56
4.3.1. Falta de informação sobre a finalidade do texto ......................................................... 56
4.3.2. Tradução do nome dos produtos ................................................................................. 56
4.3.3. Palavras e expressões sem equivalente na língua de chegada .................................... 57
4.3.4. Trocadilhos ................................................................................................................... 57
5. Conclusão ................................................................................................................................. 58
Referências Bibliográficas ................................................................................................................ 60
ANEXOS ............................................................................................................................................ 62
ANEXO I ............................................................................................................................................ 63
ANEXO II ........................................................................................................................................... 69
ANEXO III .......................................................................................................................................... 75
ANEXO IV .......................................................................................................................................... 79
ANEXO V ........................................................................................................................................... 85
ANEXO VI .......................................................................................................................................... 97
ANEXO VII ....................................................................................................................................... 101
Anexo VIII ....................................................................................................................................... 107
ANEXO IX ........................................................................................................................................ 111
ANEXO X ......................................................................................................................................... 117
ANEXO XI ........................................................................................................................................ 125
ANEXO XII ....................................................................................................................................... 129
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Índice de Figuras
Figura 1 - Reconhecimento ótico de caracteres através do ABBYY FineReader 11 ......................... 12
Figura 2 - Página inicial do Wordbee Translator .............................................................................. 17
Figura 3 - Secção «Status and Organisation» ................................................................................... 18
Figura 4 - Secções «Details» e «Documents»................................................................................... 19
Figura 5 - Editor do Wordbee ........................................................................................................... 20
Figura 6 - Página de um projeto de tradução no Memsource Cloud ............................................... 22
Figura 7 - Status do Memsource ...................................................................................................... 22
Figura 8 - Memsource Web Editor ................................................................................................... 23
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Número de ficheiros submetidos a DTP .......................................................................... 11
Tabela 2 - Número de projetos realizados e palavras trabalhadas por mês .................................... 14
Tabela 3 - Número de palavras traduzidas por área ........................................................................ 14
Tabela 4 - Pares de línguas ............................................................................................................... 15
Tabela 5 - Ferramentas de apoio à tradução utilizadas ................................................................... 16
Tabela 6 - Nível de codificação de cada função comunicativa ......................................................... 30
Tabela 7 - Examples of genres according to the main rhetorical purpose of the writer ................. 32
Tabela 8 - Genres according to overall social function .................................................................... 33
Tabela 9 - Textos da área da saúde a serem analisados .................................................................. 40
Tabela 10 - Títulos das secções de alguns folhetos informativos .................................................... 43
Lista de Siglas
CC: Cultura de Chegada
DTP: Desktop Publishing
FI: Folheto Informativo
LC: Língua de Chegada
LP: Língua de Partida
RCM: Resumo das Características do Medicamento
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TC: Texto de Chegada
TP: Texto de Partida
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1. Introdução
O presente relatório de estágio apresenta uma descrição do estágio curricular realizado na
empresa AP|PORTUGAL para conclusão do mestrado em Tradução Especializada na área da Saúde
e Ciências da Vida. Para tal é, em primeiro lugar, apresentada uma descrição da empresa e do fluxo
de trabalho utilizado na empresa. Posteriormente é feita uma descrição das tarefas por mim
realizadas durante o estágio. Essas tarefas incluem a tradução, revisão, releitura, pós-edição e
Desktop Publishing (DTP).
Após a conclusão da descrição do estágio, será feito um enquadramento teórico, onde
serão estabelecidas algumas bases para a análise dos géneros textuais e dos problemas de tradução
dos textos traduzidos durante o estágio. Assim, em primeiro lugar, é exposta uma definição de
tradução como um processo comunicativo. Seguidamente, essa definição é inserida dentro da
comunicação na área da saúde, de modo a obter-se uma definição da tradução na área da saúde e
ciências da vida. Posteriormente, são apresentadas as classificações de tipologias textuais e a sua
importância para a tradução e será feita uma análise dos géneros textuais traduzidos durante o
estágio. Os géneros textuais analisados no presente relatório são o folheto informativo (FI), o
consentimento informado (CI) e o website/descrição de produto.
Por fim, como já referido, será feita uma descrição dos problemas e dificuldades que foram
surgindo durante a tradução dos textos traduzidos durante o estágio. A análise foca-se
essencialmente nas dificuldades levantadas pelas diferenças de género textual existentes entre o
texto de partida (TP) e o texto de chegada (TC) pela utilização de terminologia da área farmacêutica
e médica e nos erros e inconsistências existentes no TP.
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2. O estágio
A principal razão pela qual decidi escolher um estágio curricular para finalizar o meu
mestrado em Tradução Especializada foi o facto de poder ganhar alguma experiência na área da
tradução. Desta maneira, teria a oportunidade de conhecer o método de trabalho necessário para
a realização de um projeto de tradução, desde a sua solicitação por parte do cliente, até à sua
entrega, bem como ter uma melhor perceção do trabalho feito numa empresa.
O estágio na AP|PORTUGAL teve a duração de 6 meses, tendo começado no dia 2 de janeiro
e terminado no dia 2 de julho.
O meu orientador na empresa foi o CEO da mesma, Mário Júnior, pelo qual fui
acompanhada. Também fui acompanhada por outros colaboradores da empresa, em questões
relacionadas com a realização de tarefas. Ademais, fui inserida no programa de estágios
curriculares da AP|PORTUGAL, o APP Academy, que visa apoiar os estagiários, através do
fornecimento de ferramentas para a realização do estágio e de formação.
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2.1. Apresentação da empresa
A empresa AP|PORTUGAL1 pertence ao grupo AP|LANGUAGE SERVICES, especializada em
serviços linguísticos, mais especificamente, tradução, transcrição e interpretação. Foi fundada em
1998, juntamente com ApoioXXI, que é um centro especializado no apoio psicológico e educacional
a crianças. Quer a AP|PORTUGAL, quer o ApoioXXI, estão localizadas em Vila Nova de Gaia. A
AP|PORTUGAL tem igualmente um escritório em Lisboa, mas este serve apenas para a receção de
documentos para tradução e entrega dos mesmos aos clientes.
O grupo AP|LANGUAGE SERVICES divide-se em três ramos: a AP|PORTUGAL - Language
Services, que é a vertente principal do grupo, a AP|ANGOLA - Language Services e a AP|BRAZIL -
Language Services, que fazem traduções para o português de Angola e o português do Brasil,
respetivamente. Dentro do ramo da AP|PORTUGAL existem ainda as divisões CONFERENCE
SERVICES, referente aos serviços de interpretação, e TECH LANGUAGE SOLUTIONS, referente aos
serviços de tradução e serviços adjacentes.
Na divisão TECH LANGUAGE SOLUTIONS, a AP|PORTUGAL fornece os serviços de tradução
técnica como, por exemplo, tradução jurídica, política, económica, empresarial e científica, e
localizações de sites e software. Como regra geral, todas as traduções são sujeitas a uma revisão
por parte de um tradutor/revisor que não realizou a tradução. A AP|PORTUGAL também oferece o
serviço de certificação de traduções, sendo estas certificadas por colaboradores da empresa com
formação jurídica. Estas certificações podem incluir uma Apostila da Convenção de Haia de 1961,
que certifica os documentos e faz com que estes sejam reconhecidos noutro país que faça parte da
Convenção de Haia de 1961.
Para além disso, a AP|PORTUGAL faz transcrições. Estas podem ser presenciais ou
transcrições de áudio, que são as mais solicitadas. As transcrições também podem ser ou não objeto
de tradução.
A empresa presta também serviços de legendagem em parceria com estúdios de
legendagem, nos quais se incluem também a legendagem para surdos.
Por fim e tal como referido, a AP|PORTUGAL também fornece o serviço de interpretação.
Os serviços de interpretação fornecidos são a interpretação simultânea, normalmente utilizada em
conferências ou congressos, a interpretação consecutiva, preferida em certos tipos de reuniões, a
interpretação sussurrada, a interpretação de liaison, ou community interpreting, geralmente
1 https://www.apportugal.com/pt/
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utilizada em serviços públicos e, por fim, a interpretação jurídica, que pode ser consecutiva no caso
de interrogatórios e simultânea no caso de julgamentos.
Tendo em conta que a AP|PORTUGAL fornece todos estes serviços, a empresa está dividida
em vários departamentos, com a finalidade de apoiar estes serviços e os seus colaboradores. Os
departamentos da AP|PORTUGAL incluem: o CATTI - Centro de Apoio ao Traduções, Transcritores
e Intérpretes; o DIRI - Departamento Informativo e de Relações Internacionais; o PACQ -
Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade e o Departamento Jurídico.
O CATTI - Centro de Apoio aos Tradutores, Transcritores e Intérpretes, tal como o nome
indica, é especializado no apoio aos tradutores, transcritores e intérpretes, através da gestão de
projetos e dos recursos humanos.
O DIRI - Departamento Informativo e de Relações Internacionais é responsável pela criação
de parcerias com empresas de tradução noutros países, a nível mundial. Para além disso, o DIRI
trabalha em parceria com o Departamento Jurídico, nos serviços de emissão de certificações e
apostilas reconhecidas internacionalmente, mas também no acompanhamento de interpretações
que necessitem de um acompanhamento legal e jurídico.
O PACQ - Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade trata de tarefas adjacentes
aos projetos de tradução, como o DTP e o controlo de qualidade. Este departamento tem como
responsabilidade garantir que os documentos traduzidos fiquem fiéis aos documentos originais, em
termos de formatação e paginação e, também, garante que as falhas não corrigidas pelos
tradutores e revisores não prejudiquem a qualidade do TC.
Todos estes departamentos ajudam a garantir a melhor qualidade dos serviços prestados
pela AP|PORTUGAL, visto que a AP|PORTUGAL está certificada pela Norma de Qualidade
Internacional ISO 17100:2015, uma norma que estabelece os processos e atividades, os recursos e
os meios pelos quais os prestadores de serviços de tradução devem fornecer as suas traduções.
Por fim, a AP|PORTUGAL pertence a várias associações de empresas de tradução e serviços
linguísticos nacionais e internacionais, tais como a GALA - Globalization and Localization
Association, ELIA - European Language Industry Association, ALC - Association of Language
Companies, ATC - Association of Translation Companies, ATA - American Translators Association,
LEXIS - Comunidade Internacional de Profissionais em Serviços Linguísticos, APET - Associação
Portuguesa de Empresas de Tradução, EUATC - Associação Europeia de Associações de Empresas
de Tradução e a APTRAD - Associação Portuguesa de Tradutores e Intérpretes.
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2.2. Fluxo de trabalho
Relativamente à tradução e serviços adjacentes, a AP|PORTUGAL tem um fluxo de trabalho
semelhante para a maioria dos projetos de tradução. Este fluxo de trabalho encontra-se em
conformidade com a Norma 17100:2015 e com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados,
seguidos pela empresa.
Geralmente, o cliente faz um pedido de orçamento que é da responsabilidade dos gestores
de projeto, apresentando os documentos físicos ou ficheiros para o cálculo do orçamento. Para tal,
e dependendo do tipo de documento ou ficheiro, os ficheiros passam pelo processo de DTP. O DTP
pode ser feito apenas para o cálculo do orçamento ou também para a preparação do ficheiro para
tradução.
Após o DTP, é criado um projeto no sistema de gestão de tradução escolhido pela
AP|PORTUGAL, o Wordbee Translator (Figura 2), com os documentos a traduzir. O projeto é
dividido em tarefas: tradução, revisão e controlo de qualidade e, se requerido pelo cliente,
releitura. De seguida, os documentos são submetidos para tradução, podendo ser traduzidos por
tradutores internos ou externos. No caso de grandes projetos com um prazo reduzido, o projeto
pode ser dividido em várias partes e atribuído a vários tradutores.
Após a realização da tradução, é feita a revisão, que, segundo a Norma 17100:2015,
consiste numa verificação bilingue do conteúdo traduzido em comparação ao conteúdo da língua
de partida (LP), de modo a corrigir os erros que possam ter surgido durante a tradução (Internal
Standard of Organization, 2015). E, caso seja requerido pelo cliente, pode ser feita uma releitura,
por outro tradutor ou revisor que não tenha feito a tradução e revisão, de maneira a verificar o
conteúdo revisto e aplicar as correções necessárias, antes da entrega final (Internal Standard of
Organization, 2015).
Para a tarefa de controlo de qualidade é também criada uma tarefa no Wordbee Translator
e o responsável pelo controlo de qualidade deve aceitá-la, transferir os documentos traduzidos e
revistos e realizar um controlo de qualidade na ferramenta Verifica QA, ou noutra ferramenta
solicitada pelo cliente. O Verifika QA é uma ferramenta de controlo de qualidade que verifica as
inconsistências, os erros ortográficos, o uso de maiúsculas e minúsculas, os números, espaços mal
colocados, repetição de palavras, entre muitos outros erros. A ferramenta cria um relatório em
formato de folha de cálculo, e, com base nesse relatório, o responsável deve fazer as correções
necessárias no Wordbee Editor ou na ferramenta de apoio à tradução utilizada. Só depois do
controlo de qualidade realizado é que o projeto pode ser entregue ao cliente. Caso o cliente tenha
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solicitado uma releitura, então a mesma deve ser efetuada após a realização do controlo de
qualidade.
O Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade também trata das não
conformidades dos projetos realizados no Wordbee Translator, pois a ferramenta atribui uma
pontuação ao tradutor e ao revisor, conforme o número de segmentos alterados durante a revisão
ou durante o controlo de qualidade. As traduções com uma pontuação maior que 7,5 pontos em
10 pontos, são traduções em conformidade. Às traduções com menos de 7,5 pontos, são
acrescentados mais 2 pontos, para compensar a margem de erro do Wordbee. Mas se, mesmo
assim, as traduções obtiverem menos de 7,5 pontos, as mesmas são consideradas traduções que
não estão em conformidade e, como tal, devem ser registadas num relatório de não conformidades
elaborado pelo Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade.
Finalmente, é necessária, por vezes, uma certificação da tradução, que é da
responsabilidade do Departamento Jurídico, e este processo normalmente acresce em custo e em
dias necessários para a conclusão do projeto.
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2.3. Tarefas realizadas
As principais tarefas que realizei foram traduções, revisões, releituras e DTP. Também
realizei, mais esporadicamente, pós-edições e transcrições áudio. O primeiro mês serviu para
conhecer a empresa e para fazer traduções e revisões internas e tarefas de DTP. Apenas a partir de
fevereiro é que comecei a fazer traduções, revisões e releituras para clientes externos.
Durante o estágio era necessária a criação de relatórios em formato de folha de cálculo,
onde eram registadas as tarefas realizadas, tais como os ficheiros submetidos a DTP, o código dos
projetos realizados e o número de palavras e as ferramentas de apoio à tradução utilizadas.
2.3.1. Tarefa de Desktop Publishing
Como referido anteriormente, no primeiro mês do estágio a tarefa mais realizada foi a de
Desktop Publishing. Esta tarefa consiste no levantamento do número de palavras de um texto, de
maneira a calcular-se o custo aproximado do projeto, ou então na criação e edição de um
documento Microsoft Word com o texto requerido para tradução, com uma formatação
semelhante ao documento original. Os meses em que realizei tarefas de DTP foram os meses de
janeiro, fevereiro e março, tal como mostra a Tabela 1, pois nos meses seguintes estava envolvida
em mais projetos de tradução.
Mês Número de ficheiros submetidos
a DTP
Janeiro 80
Fevereiro 27
Março 35
Abril -
Maio -
Junho -
Total 142
Tabela 1 - Número de ficheiros submetidos a DTP
O processo de DTP difere conforme o tipo de ficheiro do documento e a finalidade
pretendida. Nos casos de ficheiros editáveis como ficheiros do Microsoft Word, Excel e Powerpoint,
os gestores de projeto apenas precisam de inserir esses ficheiros no Wordbee Translator e aplicar
as memórias de tradução adequadas, para a ferramenta fazer o cálculo do custo do projeto
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automaticamente. No caso de ficheiros PDF editáveis, é necessário copiar o texto para um
documento Microsoft Word e verificar o número de palavras.
Em relação aos documentos não editáveis, como imagens e ficheiros PDF não editáveis, é
necessário utilizar uma ferramenta de reconhecimento ótico de caracteres. Na AP|PORTUGAL é
utilizado o ABBYY FineReader 11, que permite a identificação de diferentes idiomas e que, para
além de reconhecer texto corrido, também reconhece tabelas, facilitando a formatação do
documento. De seguida, o texto reconhecido é copiado para um documento Microsoft Word. Caso
o DTP seja apenas para o cálculo do orçamento, não se fazem modificações no(s) documento(s) e
este(s) são enviados para os gestores de projeto, de modo a que possam calcular o custo do projeto.
Juntamente com o(s) documento(s) do Microsoft Word, é enviado um relatório com informações
sobre os mesmos como, por exemplo, se estes são editáveis, não editáveis, ou parcialmente
editáveis; o número de palavras, de páginas e de ficheiros; os softwares utilizados para a extração
do texto; o cálculo aproximado do tempo necessário para a realização do DTP para tradução e
outras observações.
No entanto, se o DTP for para tradução o documento é formatado e editado de maneira a
ficar semelhante ao documento original. Contudo, a AP|PORTUGAL tem instruções de trabalho que
estabelecem qual o tipo de letra, cor e tamanho a ser utilizado em todos os DTP. O tipo de letra
utilizado é Calibri, a cor utilizada é o preto e o tamanho de letra é 11, mas tamanhos maiores ou
menores de tipo de letra podem ser utilizados, conforme a necessidade de destacar um título ou
diminuir o espaço que o texto ocupa. Outros aspetos como o espaçamento e os limites não estão
Figura 1 - Reconhecimento ótico de caracteres através do ABBYY FineReader 11
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definidos pelas regras de formatação dos DTP e também variam conforme o espaço que o texto
ocupa, visto que se pretende que o número de páginas do documento sujeito a DTP seja igual ao
número de páginas do documento original. Elementos como tabelas, cabeçalhos e rodapés são
formatados como tal, mas elementos como gráficos ou imagens que contenham texto não são
inseridos no documento, sendo apenas inserido o texto neles contido. Outros elementos como
carimbos, selos, logótipos e assinaturas são indicados no documento entre parêntesis retos e, caso
estes contenham texto, o texto é colocado à frente ou por baixo dessa mesma indicação, exceto no
caso das assinaturas.
Após a conclusão do DTP para tradução os ficheiros são enviados para os gestores de
projeto e os mesmos criam um projeto de tradução no Wordbee Translator, ao qual atribuem um
código que o identifica. No Wordbee Translator são inseridos os documentos a traduzir e os seus
originais, para que o tradutor/revisor possa consultá-los e verificar a formatação dos mesmos, de
maneira a que haja uma tradução mais precisa. Caso o projeto seja feito no Wordbee Translator,
são adicionadas, a esse projeto, as memórias de tradução necessárias, havendo memórias de
tradução para clientes específicos ou áreas específicas.
Para os projetos que não são feitos no Wordbee Translator e que são feitos noutras
ferramentas desktop como o SDL Trados Studio, o MemoQ Kilgray e o Memsource Desktop, apenas
são carregados os ficheiros no Wordbee, para que estes sejam abertos na ferramenta requerida.
Também podem ser concedidos os dados necessários para entrar na conta de uma ferramenta de
tradução em cloud, como por exemplo o Memsource Cloud ou o MemoQ Cloud Server. Por fim, o
projeto é atribuído a um ou mais tradutores e revisores, que podem ser tradutores internos ou
externos.
2.3.2. Tarefas de tradução, revisão e releitura
No primeiro mês do estágio realizei apenas traduções e revisões internas, que consistiam
em comunicados para os colaboradores da AP|PORTUGAL. Apenas a partir de fevereiro é que
comecei a traduzir para clientes externos. Grande parte das tarefas que realizei foram tarefas de
tradução, pois as tarefas de revisão ou releitura são normalmente atribuídas a tradutores com mais
experiência. Porém, foram-me atribuídas tarefas de revisão e releitura, quando estes não estavam
disponíveis. Também participei num projeto de pós-edição da área de e-commerce, que foi uma
tarefa que nunca tinha realizado durante o mestrado e que consiste na revisão e correção de
traduções realizadas por uma ferramenta de tradução automática. A tradução automática foi
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executada pelo Wordbee Translator, que utiliza o Google Tradutor como ferramenta para a
tradução automática.
Na Tabela 2 é possível ver o número de projetos, o número de palavras sujeitas a tradução,
revisão, releitura e pós-edição, por mês e o seu total.
Mês Tradução Revisão Releitura Pós-edição
Projetos Palavras Projetos Palavras Projetos Palavras Projetos Palavras
Janeiro 4 9855 1 472 - - - -
Fevereiro 9 24935 - - 1 4703 - -
Março 9 9799 3 8647 - - 1 31001
Abril 15 49252 1 755 - - - -
Maio 6 19416 - - 1 7492 - -
Junho 13 29814 4 1950 1 1405 - -
Total 56 143071 9 11824 3 13600 1 31001
Tabela 2 - Número de projetos realizados e palavras trabalhadas por mês
No mês de fevereiro traduzi textos de natureza jurídica como certificados, registos
criminais e apostilas, mas também textos da área da medicina e farmácia, como folhetos
informativos e consentimentos informados. Nos meses seguintes, participei em bastantes projetos
de tradução de websites da área de e-commerce e das áreas da tecnologia e engenharia, tendo
participado na tradução e revisão de um grande projeto de tradução de um website, que foi feito
em conjunto com outros tradutores. Na Tabela 3 é possível verificar as áreas nas quais trabalhei e
o seu número de palavras.
Área Tradução Revisão Releitura Pós-edição
E-commerce 56601 8320 7492 31001
Comunicação empresarial 29129 754 - -
Engenharia 17988 - 4703 -
Saúde e ciências da vida 16721 1478 - -
Tecnologia 3370 327 - -
Jurídica 1801 190 - -
Outras 17461 755 1405 -
Total 143071 11824 13600 31001
Tabela 3 - Número de palavras traduzidas por área
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Os textos da área de ciências da vida nos quais trabalhei incluem textos da área da
medicina, como formulários de consentimento informado, textos da área da farmácia, como
folhetos informativos e textos sobre equipamentos médicos e laboratoriais. Os textos da área da
engenharia incluem textos como manuais de operações, descrições de metodologias de um
levantamento de dados sísmicos e análises de modos de falhas e efeitos. Nos textos da área jurídica
estão incluídos certificados, apostilas, certidões, registos criminais e diretivas. Nos textos da área
de e-commerce incluí a tradução de websites que estejam relacionados com compras online. Os
textos da área da comunicação empresarial abrangem contratos, instruções para realização de
trabalhos e cartas. Os textos da área da tecnologia incluem manuais de instruções e descrições de
produtos eletrónicos, como eletrodomésticos. Por fim, na categoria «Outros» incluí textos de áreas
que não se inseriam nas áreas acima mencionadas e que não justificavam a criação de uma única
categoria/área na tabela, pois apenas tinha trabalhado um texto dessa área.
Através desta tabela é possível ver que uma área bastante procurada para tradução é a
área de e-commerce, possivelmente devido ao grande aumento de compras online. Em segundo
lugar, encontra-se a área da comunicação empresarial, pois contratos entre empresas de diferentes
países necessitam de ser traduzidos e, em terceiro lugar, encontra-se a área da engenharia, que
tem vindo a crescer como atividade nos últimos anos, por isso é normal que haja uma grande
procura de traduções dessa área. A área das ciências da vida encontra-se apenas em quarto lugar
e uma grande parte dos textos traduzidos foram folhetos informativos.
Par de Línguas Tradução Revisão Releitura Pós-edição
Inglês-Português 95940 8971 4703 31001
Alemão-Português 41466 2381 7492 -
Português-Inglês 5665 472 1405 -
Total 143071 11824 13600 31001
Tabela 4 - Pares de línguas
As LP com as quais trabalhei foram o inglês e o alemão, havendo, sem dúvida, uma maior
procura pela tradução do inglês para o português, como é possível verificar na Tabela 4. Também
fiz projetos com o inglês como língua de chegada (LC) e o português como LP, no entanto, grande
parte destes foram projetos internos, e não para clientes externos, pois a AP|PORTUGAL prefere
que o tradutor traduza para a sua língua materna. Contudo, por vezes, quando não há tradutores
disponíveis para traduzirem para a sua língua materna, a tarefa pode ser atribuída a outros
tradutores, que não são falantes nativos da língua em questão.
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2.4. Ferramentas de apoio à tradução utilizadas
Tal como foi mencionado anteriormente, a ferramenta de apoio à tradução de eleição da
AP|PORTUGAL é o Wordbee Translator. No entanto, também são utilizadas outras ferramentas,
tais como o SDL Trados, MemoQ Kilgray, MemoQ Cloud Server, Memsource Desktop, Memsource
Cloud, SDL Passolo, Wordfast, Translation Workspace, ApSIC Xbench, XTM International e o
Wordfast.
As ferramentas que utilizei durante o estágio para as traduções, revisões, releituras e pós-
edição foram o Wordbee Translator, Memsource Cloud, MemoQ Cloud Server, MemoQ Desktop,
SDL Trados Studio e Translation Workspace. Todavia, as ferramentas que utilizei com mais
frequência foram o Wordbee Translator e o Memsource Cloud, enquanto as outras ferramentas
foram utilizadas muito esporadicamente, tal como mostra a Tabela 5.
Ferramenta de apoio à tradução Tradução Revisão Releitura Pós-edição
Wordbee 83743 662 6108 31001
Memsource Cloud 53349 1154 7492 -
MemoQ Server Online 5665 - - -
MemoQ Desktop 314 1037 - -
SDL Trados Studio - 8644 - -
Translation Workspace - 327 - -
Total 143071 11824 13600 31001
Tabela 5 - Ferramentas de apoio à tradução utilizadas
Seguidamente, passo à descrição mais pormenorizada das duas ferramentas de apoio à
tradução mais utilizadas durante o estágio. Estas são ferramentas em cloud, por isso, apresentam
características diferentes das ferramentas desktop, que são geralmente mais utilizadas por
tradutores e ensinadas nos cursos da área da tradução como, por exemplo, o SDL Trados e o
MemoQ.
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2.4.1. Wordbee Translator
O Wordbee Translator é uma ferramenta de gestão de projetos de tradução, que permite
gerir projetos e atribuir as diferentes tarefas aos tradutores e revisores.
Na AP|PORTUGAL são utilizadas dois tipos de versões do Wordbee. Estas são a versão
Wordbee Translator Freelancer Standard que é a versão utilizada pelos tradutores na
AP|PORTUGAL (Figura 2) e que permite apenas a visualização das tarefas atribuídas e o uso do
editor de tradução. A versão Translator Freelancer também dispõe de uma outra edição a
Entrepreneur Edition (não utilizada na AP|PORTUGAL), que inclui as funcionalidades da edição
«Standard», mas que também apresenta funcionalidades para a gestão de projetos. Por outro lado,
existe a versão Wordbee Translator Enterprise, utilizada pelos gestores de projeto, que inclui todas
as funcionalidades da versão Freelancer Standard e inclui outras funcionalidades como a gestão de
projetos; gestão de clientes; a atribuição de tarefas («Jobs») aos diferentes intervenientes no fluxo
de trabalho/processo de tradução («Suppliers»); a gestão de memórias de tradução e de bases de
dados terminológicas; alinhamentos de traduções; e a criação de licenças simultâneas da versão
Wordbee Translator Freelancer Standard para os «Suppliers» que vão realizar as tarefas.
A versão que utilizei foi a Wordbee Translator Freelancer, com uma licença do APP
Academy, que é a licença criada especialmente para os estagiários curriculares da empresa.
Figura 2 - Página inicial do Wordbee Translator
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Tal como mostrado na Figura 2, na página inicial do Wordbee Translator é possível consultar
as tarefas e o seu respetivo estado, o prazo, o tipo de tarefa e o par de línguas. Também na parte
inferior direita pode-se ver quantas tarefas estão em progresso, quais é que têm prazo para o dia
em questão e quais é que estão em atraso. Para abrir uma tarefa deve-se clicar em «Select».
Depois de abrir uma tarefa surge uma página com os vários detalhes desta, assim como
mostra a figura anterior. Como explicado anteriormente, é necessário aceitar, ou rejeitar a tarefa.
As tarefas que ainda não foram aceites ou rejeitadas têm o estado de «Proposal». Quando estas
são aceites (selecionando «Accept proposal») ficam com o estado de «In progresso» e quando são
rejeitadas, ficam com o estado de «Proposal declined» (clicando em «Reject proposal»). Todas estas
informações sobre as tarefas estão presentes na secção «Status and Organisation» (Figura 3).
Após a conclusão da tarefa de tradução, o tradutor deve clicar em «Job completed»,
fechando assim a tarefa, para que a tarefa de revisão possa começar. Para a revisão e releitura, o
revisor e a pessoa encarregue pela releitura devem seguir os mesmos passos para aceitar a tarefa,
realizá-la e concluí-la.
Figura 3 - Secção «Status and Organisation»
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Figura 4 - Secções «Details» e «Documents»
Na secção «Details» (Figura 4) encontram-se os detalhes da tarefa, tais como as LP e LC, o
prazo e tipo de tarefa («Translation», «Revision», «Proofreading» e «Quality Control») e, por vezes,
a área à qual o TP pertence («Domain(s)»). Nessa secção também existe uma ligação para os
materiais de referência («Reference material»), onde são carregados os documentos e instruções
de trabalho da AP|PORTUGAL e que servem de referência aos tradutores na execução das suas
tarefas. Também são, por vezes, carregados os documentos originais não editáveis, para consulta
por parte do tradutor, e documentos de referência enviados pelo cliente. Quando os projetos são
traduzidos ou revistos numa outra ferramenta em cloud, como o Memsource Cloud ou o MemoQ
Cloud Server, colocam-se as ligações para esse projeto e as credenciais de acesso a este na secção
«Instructions». Nesta secção, também se podem encontrar instruções dadas pelo cliente.
Na secção «Documents», pode-se mudar o estado de cada ficheiro clicando em «Work
status», que pode ser útil quando existem muitos ficheiros para tradução e é necessário começar a
revisão antes da conclusão da tarefa de tradução, pois desta maneira o revisor sabe quais são os
ficheiros que já estão terminados e que podem ser revistos.
É também nesta secção que se carregam os ficheiros para tradução ou revisão em
ferramentas desktop. Para tal, clica-se em «Att». Após a realização da tradução ou revisão,
carregam-se os ficheiros e, se for o caso, as memórias de tradução atualizadas nessa mesma secção.
Só é possível concluir a tarefa após o carregamento dos ficheiros.
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Para começar a tradução ou revisão no Wordbee Editor deve-se selecionar «Conduct
work».
Resumidamente, o Wordbee Editor (Figura 5) tem quatro secções: uma secção com os
segmentos a traduzir, uma secção com ferramentas de verificação do texto e dois separadores no
lado direito («Segment Information» e «Translation Finder». O separador «Segment Information»
contém informações sobre as alterações feitas a um segmento; informações sobre o documento; a
pré-visualização do documento e uma ligação para a transferência do documento. O separador
«Translation Finder» apresenta várias secções para a pesquisa de termos e segmentos presentes
na memória de tradução («Memories»); para a pesquisa de termos na base de dados IATE
(«Dictionaries») e uma secção para tradução automática através do Google Tradutor («Machine
Translation»). Nesse mesmo separador também há uma secção chamada «Comments &
Discussion» onde o tradutor pode deixar comentários úteis para o revisor ou para quem está
responsável pela tarefa de controlo de qualidade.
Na parte superior encontra-se a secção relativa à filtragem de segmentos e edição e
correção do texto, onde é possível verificar os erros existentes na tradução. Para tal, deve-se
escolher a opção «Check». Nesta secção também existe uma opção para transferir um documento
bilingue (com o TC e o TP no mesmo ficheiro) em formato .DOCX ou .XLIFF. Para transferir o
documento, deve-se selecionar «Xliff/Word/Excel».
O Wordbee Translator é uma ferramenta útil para empresas, caso estas optem por uma
versão Enterprise, pois é, ao mesmo tempo, uma ferramenta de gestão de projetos e de clientes e
uma ferramenta de tradução, que inclui bases de dados e memórias de tradução. Como a versão
Enterprise permite a utilização de licenças simultâneas, é possível atribuir tarefas a tradutores
Figura 5 - Editor do Wordbee
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independentes e os mesmos podem realizar as tarefas no Wordbee Translator, sem que seja
necessário utilizar outra ferramenta ou instalar software no computador. Para traduzir/rever é
apenas preciso um navegador e uma boa ligação à internet, por isso, a ferramenta pode ser utilizada
em computadores nos quais as ferramentas desktop não funcionem corretamente.
O Wordbee Translator também tem a vantagem de ser fácil de utilizar, podendo assim ser
utilizado por tradutores que não se sintam muito confortáveis a utilizar ferramentas de tradução,
uma vez que a versão utilizada só contém as funcionalidades necessárias para a realização de
traduções ou revisões. Funcionalidades como a gestão de bases de dados, de memórias de tradução
e gestão de clientes não estão incluídas no Wordbee Translator Freelance Standard, o que faz com
que o trabalho realizado seja reduzido apenas às tarefas de tradução ou revisão. As tarefas
relacionadas com estas funcionalidades são atribuídas aos gestores de projetos.
Por fim, uma das maiores vantagens do Wordbee e de outras ferramentas em cloud é o
facto de as traduções serem automaticamente guardadas. Assim, na eventualidade da ocorrência
de algum problema com o computador ou com o software, a tradução realizada não é perdida e
pode ser acedida através de outro computador.
Tal como referido estas características são úteis para empresas que queiram trabalhar com
muitos tradutores independentes. No entanto, no caso de um tradutor independente que necessite
de uma ferramenta de apoio à tradução, onde possa trabalhar diariamente, a versão Wordbee
Translator Freelancer Standard não será uma boa opção, pois não oferece várias funcionalidades
úteis para o tradutor como, por exemplo, a gestão de projetos. Neste caso, a melhor solução seria
adquirir uma versão Wordbee Translator Freelance Entrepreneur, ou adquirir outra ferramenta.
Para além disso, o Wordbee Translator tem a grande desvantagem de utilizar o corretor ortográfico
do navegador, pelo qual está a ser acedido. Esta característica é uma desvantagem, uma vez que
grande parte dos navegadores não dispõem de um corretor com o novo acordo ortográfico e nem
corrigem erros gramaticais, que outras ferramentas de apoio à tradução corrigem. De maneira a
colmatar este inconveniente, na AP|PORTUGAL era aconselhada a realização de uma verificação
ortográfica no Microsoft Word, o que atrasa ligeiramente a entrega das traduções /revisões.
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2.4.1. Memsource Cloud
Uma outra ferramenta de apoio à tradução com a qual trabalhei durante o estágio foi o
Memsource Cloud. Tal como o Wordbee Translator, o Memsource é uma ferramenta em cloud. Esta
ferramenta foi utilizada essencialmente para a tradução de um website e, para tal, foi fornecida
uma conta à AP|PORTUGAL pelo cliente, por isso não tive acesso a todas as funcionalidades desta
ferramenta, tendo tido apenas acesso ao Web Editor.
Tal como é possível observar na imagem da página de um projeto de tradução (Figura 6) é
possível ver o nome do projeto, quem o criou e a data. Também é possível ver quais são as LP e LC
e se a tradução automática foi aplicada no projeto. Na secção «Jobs» estão presentes os ficheiros
a serem traduzidos e informações sobre estes, tais como a percentagem do trabalho que já foi
traduzida, o prazo e o estado do ficheiro. Também estão presentes opções para transferir o ficheiro
a traduzir, pré-traduzir o ficheiro, aplicando memórias de tradução e alterar o estado do ficheiro.
Figura 6 - Página de um projeto de tradução no Memsource Cloud
Figura 7 - Status do Memsource
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Tal como no Wordbee, é necessário aceitar as tarefas para que as mesmas possam ser
abertas e editadas, no entanto, no Memsource é necessário fazer esse processo para cada ficheiro.
Para tal, é necessário alterar o estado do ficheiro a traduzir, clicando em «Change Status» e
selecionar «Acepted by Linguist» (Figura 7). Para concluir a tradução, faz-se o mesmo processo, mas
seleciona-se a opção «Completed by Linguist». Também é possível rejeitar a tarefa clicando em
«Declined by Linguist».
O editor do Memsource (Figura 8) é básico e fácil de usar. Possui, no lado direito, um
separador para as entradas na memória de tradução ou da base de dados terminológica («CAT»).
Neste separador é também possível pesquisar termos ou segmentos («Search») e realizar o
controlo de qualidade, no separador «QA». O controlo de qualidade verifica erros na tradução, tais
como a ortografia, inconsistências, números, espaçamento, segmentos não confirmados ou vazios,
entre outros. No final de cada tradução/revisão, deve ser feito um «QA» e todos os erros devem
ser corrigidos ou ignorados, caso sejam falsos positivos, pois, caso contrário, não é possível concluir
o projeto.
Na parte superior, encontram-se ferramentas para a edição do texto, para filtrar o texto e
para exportação de um ficheiro bilingue, com a LP e a LC, em formato .DOCX ou .MXLIFF. Junto aos
segmentos, estão presentes ícones que informam sobre o estado do segmento. Quando este
apresenta um visto verde, quer dizer que o segmento está confirmado e quando apresenta uma
cruz vermelha, quer dizer que não está confirmado. Quando apresenta uma seta azul, significa que
a tradução vai-se propagar para outros segmentos repetidos, contudo é possível evitar isso clicando
nesse ícone, ficando com um traço vermelho por cima do mesmo. Também é possível ver a
Figura 8 - Memsource Web Editor
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percentagem das correspondências da memória de tradução, o que é útil para a edição de
segmentos com uma grande percentagem de correspondência, pois a ferramenta apresenta quais
os termos que devem ser alterados no separador do lado direito. Por fim, também é possível
adicionar comentários clicando no ícone do balão de fala. Quando este tem a cor azul, significa que
há um comentário.
Tal como o Wordbee Translator, o Memsource Cloud também permite a gestão de projetos
e de clientes e a realização de traduções numa só ferramenta. Todavia, como só tive acesso ao Web
Editor apenas posso dar uma opinião sobre este, em termos da sua usabilidade e funcionalidades.
O Web Editor apresenta praticamente as mesmas funcionalidades do Wordbee como, por
exemplo, memórias de tradução, bases de dados terminológicas, correção ortográfica, formatação
do texto e controlo de qualidade. No entanto, o Memsource Web Editor utiliza o seu próprio
corretor ortográfico, que é mais exato nas suas correções, pois utiliza o novo acordo ortográfico e
também corrige alguns erros gramaticais. Ademais, o Memsource Web Editor apresenta uma opção
de controlo de qualidade mais completa e precisa do que a opção de controlo de qualidade do
Wordbee. Esta característica é importante para mim, pois diminui a quantidade de erros efetuados
durante a tradução, reduzindo, assim, o tempo necessário para a correção ortográfica e gramatical.
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3. Tradução na área da saúde
Antes de apresentar uma definição da tradução na área da saúde, pretendo apresentar
uma definição mais genérica de tradução que possa ser aplicada a todas as áreas, onde esta
atividade pode ocorrer. De acordo com a Norma 17100:2015, que a AP|PORTUGAL cumpre, por
tradução entende-se «set of processes […] to render source language content […] into target
language content […] in written form» (Internal Standard of Organization, 2015, p. 1). No entanto,
essa definição é demasiado genérica, suficiente para definir tradução num documento legal como
uma norma, pois apenas se foca no processo de tradução e não se foca na dimensão comunicativa.
Para melhor definir tradução, baseio-me na definição de Hurtado Albir, que considera a tradução
como «un proceso interpretativo y comunicativo que se desarrolla en un contexto social y con una
finalidad determinada» (2011, p. 41). É igualmente importante considerar as três características da
tradução: a tradução como um ato de comunicação, como uma operação entre textos e como um
processo mental.
Em primeiro lugar, o tradutor não deve só traduzir os aspetos linguísticos do texto, mas
também as intenções comunicativas, tendo em conta que cada língua as expressa de maneira
diferente e levando em consideração as características do público-alvo. Em segundo lugar, o
tradutor deve ter em consideração os mecanismos de funcionamento textual, como os elementos
de coerências e coesão, os géneros textuais e os tipos textuais, visto que estes diferem nas várias
línguas e culturas. Por fim, deve-se ter em conta que a tradução é um processo mental, por parte
do tradutor, que depende da compreensão do sentido do TP, para que este possa ser reformulado
na LC (Hurtado Albir, 2011, pp. 40–41).
É possível verificar que Hurtado Albir dá grande importância às diferenças linguísticas e
culturais e à finalidade comunicativa do TP, o que pode não parecer, à primeira vista, muito
relevante para a tradução na área da saúde, uma vez que há a crença de que a comunicação médica
é objetiva, neutra, impessoal, sem referências ideológicas ou propósitos retóricos e desprovida de
referências culturais. Para Montalt e Davies, tal não é verdade, pois os textos da área da saúde
possuem características de outros tipos de textos, diferentes níveis de formalidade e podem ter
traços de subjetividade. Ademais, a comunicação na área da medicina não está limitada a textos
altamente especializados para serem lidos apenas por especialistas e profissionais, mas inclui,
igualmente, participantes com vários níveis de conhecimento e especialização (2007, p. 45). Isto faz
com que as caraterísticas do público-alvo sejam também relevantes nas traduções desta área.
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A tradução na área da saúde envolve a tradução de comunicação criada em diferentes
especialidades médicas e de outras áreas como farmácia, bioquímica, biologia e química. Contudo,
também envolve outras áreas que não parecem estar relacionadas com medicina como a
psicologia, sociologia, economia e direito (Montalt & Davies, 2007, pp. 19–20). Assim, o tradutor ao
traduzir, deve ter conhecimento acerca destas áreas e deve compreender conceitos destas áreas
presentes no texto a ser traduzido, bem como a terminologia a ser utilizada (Montalt & Davies,
2007, pp. 23–26).
Ao contrário de outras áreas especializadas, o conhecimento médico e científico não é
gerado apenas por profissionais, mas também por doentes, pois estes fornecem as informações
necessárias aos profissionais para o progresso da investigação nestas áreas. Isto através de
formulários e questionários. Assim, o conhecimento médico tem diferentes níveis de
especialização, pois existe a necessidade de alcançar público que não possui muito conhecimento
na área da saúde. Os textos desta área podem ser altamente especializados ou de divulgação
científica, bem como uma combinação entre os dois (Montalt & Davies, 2007, pp. 46–47).
Como existem diferentes níveis de especialização e de público-alvo dentro a comunicação
médica, existe um vasto leque de géneros, que segundo Montalt e Davies, incluem géneros
altamente especializados e géneros mais gerais. Os autores afirmam que as convenções do género
são altamente importantes para a tradução do texto de partida em questão. O tradutor deve
igualmente conhecer fontes de informação atualizadas da área da saúde, tais como: explicações de
conceitos; glossários; nomenclaturas; classificações de doenças; listas com a denominação comum
internacional, nomes comerciais e nomes nacionais de fármacos; textos de diferentes géneros da
área da saúde; bases de dados; fóruns profissionais online e todos os recursos que o tradutor achar
necessário para a realização da tradução. Estas fontes de informação têm uma maior importância
caso o tradutor tenha pouco conhecimento médico e terminológico e caso não tenha familiaridade
com o género a ser traduzido (Montalt & Davies, 2007, pp. 23–26).
3.1. Processo de tradução na área da saúde
Montalt e Davies (2007) discutem os vários passos que um tradutor profissional deve
utilizar nas suas traduções da área da saúde. Os passos podem diferir, dependendo do tipo de tarefa
ou do texto.
O primeiro passo consiste na análise das necessidades do cliente, no qual são discutidas as
especificidades do projeto. Os autores referem a teoria de tradução de Christiane Nord, o
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funcionalismo, em que o tradutor deve ser leal às características da tarefa apresentadas pelo cliente
(Montalt & Davies, 2007, pp. 23–26). Deste modo, a realização de um «translation brief» é
essencial. O «translation brief» deve responder a questões como o público-alvo do TC; quando e
onde o TC será lido; o meio pelo qual o texto será transmitido e o motivo para a produção ou
receção do texto. Estas questões permitem a determinação da função comunicativa do TC, o que é
essencial para a escolha da metodologia de tradução (Nord, 1997a, pp. 47–48).
O segundo passo consiste na leitura e compreensão do TP. Para tal é necessário que o
tradutor entenda o texto completo e tenha um bom conhecimento dos conceitos e termos médicos
utilizados.
Em terceiro lugar, o tradutor deve criar um glossário ou atualizar um glossário existente,
de modo a que os termos utilizados sejam consistentes. Esse glossário pode ser utilizado
futuramente noutras traduções da mesma área, por isso a utilização de uma ferramenta de gestão
terminológica é bastante útil.
Seguidamente, o tradutor deve proceder à realização da tradução conforme as
especificações dadas pelo cliente. Neste passo, o tradutor deve-se focar não só no conteúdo do
texto, mas também na macroestrutura.
Após a realização da tradução, é realizada a revisão do TC, onde se corrigem os erros de
ortografia, gramática, sintaxe, estilo, coesão, consistência, pontuação e outros erros que possam
ocorrer. Depois da revisão, deve-se realizar uma releitura, de maneira a verificar se a leitura do TC
é fluida e se este parece ser um texto produzido na LC e não uma tradução.
Por vezes, pode ser feita uma revisão por parte do cliente, antes da entrega da tradução,
para verificar se o TC está conforme as especificações designadas por este.
Por fim, antes da entrega final ao cliente no formato requerido por este, é feita uma revisão
da formatação do texto, que incluí a revisão do tipo e tamanho de letra, da hifenização, da
paginação, entre outros.
Se compararmos o processo de tradução apresentado por Montalt e Davies, com o fluxo
de trabalho da AP|PORTUGAL, é possível ver que os dois são diferentes. A primeira diferença
encontra-se no primeiro passo, isto é, o «translation brief». Na AP|PORTUGAL, o «translation brief»
é realizado pelos gestores de projetos e não pelos tradutores. Ademais, as informações geralmente
fornecidas pelo cliente são: a(s) língua(s) de chegada; o prazo de entrega da tradução; a
necessidade da realização de uma certificação da tradução; se é necessário realizar uma releitura;
e, por vezes, o cliente também envia instruções para a realização da tradução, bem como, as fontes
que devem ser utilizadas. Contudo, raramente é pedido a adaptação de um texto completo para
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cultura de chegada (CC) ou uma adequação ao público-alvo, ou seja, a metodologia de tradução
utilizada é a tradução documental, mais precisamente, a tradução literal (explicadas na secção
seguinte). Visto que as adaptações e adequações eram apenas feitas a frases ou expressões que
são desconhecidas na LC e CC, como, por exemplo frases idiomáticas, estas frases podiam ser
substituídas por frases idiomática da LC e CC com significado semelhante. Essas adaptações e
adequações eram sujeitas a aprovação por parte do cliente.
O segundo passo do processo acima apresentado, também apresenta diferenças, uma vez
que não era feita uma leitura do texto antes do início da tradução, para poupar tempo e conseguir
cumprir o prazo.
Também a criação de glossários era omitida durante o estágio, pois era utilizada uma
ferramenta com memórias de tradução, que permitem a pesquisa de termos e frases utilizadas
anteriormente numa tradução, mantendo-se, assim, a consistência terminológica. Por esta razão
as bases de dados terminológicas também não eram utilizadas, salvo sob solicitação do cliente.
Por fim, os seguintes passos do processo acima descrito são realizados na empresa. No
entanto, a revisão é atribuída a um tradutor/revisor que não efetuou a tradução e a releitura está
encarregue a um tradutor/revisor que não efetuou a tradução ou revisão. Ademais, a releitura é
realizada apenas quando solicitada pelo cliente e é feita após a formatação do texto. No que diz
respeito ao passo da formatação do texto, este é feito durante o controlo de qualidade, que, por
sua vez, é o último passo do projeto de tradução, salvo se o cliente solicitar uma releitura ou
certificação da tradução.
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3.2. Tradução documental e tradução instrumental
Nord elaborou uma tipologia de tradução baseada na distinção entre a função do processo
de tradução e a função do TC, como resultado deste processo. Distingue, assim, entre tradução
documental e tradução instrumental (1997b, p. 47).
No caso da tradução documental, a função principal do texto é metatextual, em que o TC
está intrinsecamente ligado ao TP. Dentro deste tipo de tradução existem diferentes formas de
tradução: a tradução interlinear, a tradução literal, a tradução filológica e a tradução exotizante.
A tradução interlinear foca-se principalmente nas características morfológicas, lexicais ou
sintáticas. Na tradução literal há a intenção de reproduzir as palavras do original ao adaptar as
estruturas sintáticas e expressões idiomáticas à LC. O propósito foca-se na reprodução da forma da
LC e o processo de tradução foca-se nas unidades lexicais do TP. Esta metodologia foi a que mais
utilizei durante o estágio, pois muitas vezes não existiam indicações do cliente para adaptar o texto
à CC ou ao público-alvo. Em segundo lugar, Nord apresenta a tradução filológica que reproduz o TP,
mas adiciona explicações acerca da LC ou CC. E, por fim, quando a tradução deixa o contexto do TP
inalterado, criando estranheza ou distância cultural, alterando, assim, a função comunicativa do
texto, esta chama-se tradução exotizante. Esta metodologia é mais utilizada em textos literários
(Nord, 1997b, pp. 47–50).
Por outro lado, existe a tradução instrumental que pretende que o TC tenha as mesmas
funções do TP. Assim, os leitores do TC não devem aperceber-se que estão a ler uma tradução, o
que significa que o texto é adaptado às normas e convenções do tipo textual, género textual, registo
e tenor da cultura de chegada (Nord, 1997b, p. 52). Tal como acontece na tradução documental, a
tradução instrumental tem diferentes formas: a tradução equifuncional, a tradução
heterofunctional e a tradução homóloga.
Na tradução equifuncional existe a intenção de o TC desempenhar a mesma função do TP.
Tal como foi dito, o propósito desta forma de tradução é alcançar as funções do TP para o público
de chegada e o foco do seu processo de tradução são as unidades funcionais do TP. Na tradução
heterofuncional, o TC não possui a mesma função do TP. Nesta forma de tradução existe o
propósito de alcançar funções semelhantes do TP e o foco da tradução recai nas funções
transferíveis do TP. Finalmente, a tradução homóloga tenta reproduzir a função que o TP tem no
seu contexto literário no contexto literário do TC, isto é, o TC pretende representar o mesmo grau
de originalidade do TP (Nord, 1997b, pp. 47–51).
30
De maneira a que seja feita uma escolha entre estes métodos de tradução, o tradutor
necessita saber quais os propósitos comunicativos do TC. Para tal é necessária a realização de um
«translation brief», anteriormente explicado. Contudo, no contexto da empresa AP|PORTUGAL o
«translation brief» é realizado pelos gestores de projeto e não pelos tradutores e, como já referido,
os clientes normalmente não solicitam uma adaptação ou adequação do TC. Nord também
reconhece esses casos e afirma que:
Functional translation does not mean that source-culture conventions must be replaced by target-
culture conventions in each and every translation. Depending on the translation purpose and type,
the translator may opt for reproduction or adaptation. There are also translation tasks where some
kinds of conventions have to be reproduced whereas others should be adjusted to target-culture
standards […]. (Nord, 1997b, p. 57)
Isto é, dependendo do tipo e propósito da tradução, nem sempre é requerido aos tradutores que
as convenções culturais sejam adaptadas para a CC. Seguidamente é exposta uma definição de
convenção, relacionada com os géneros textuais, desenvolvida por Katharina Reiß.
3.3. Classificações textuais
Reiß, com base na classificação das funções de linguagem de Bühler, afirma que existem
três funções comunicativas: a função informativa, a função expressiva e a função operativa. Estas
funções comunicativas são determinadas pela intenção comunicativa do autor e permitem a
classificação de textos em tipologias.
Um texto tem função informativa, caso o autor pretenda transmitir informação ou
conhecimento; um texto tem função expressiva, caso o autor tenha a intenção de transmitir o
conteúdo de um texto de forma estilística; e um texto tem uma função operativa, caso o autor
queira persuadir o leitor (Reiß & Vermeer, 2014, p. 182). Cada função comunicativa está codificada
a diferentes níveis. A Tabela 6 mostra quais os diferentes níveis de codificação das três funções
comunicativas:
Funções comunicativas Nível de codificação
Função informativa Conteúdo
Função expressiva Conteúdo e organização estética
Função operativa Conteúdo, configuração persuasiva e, por vezes, organização estética
Tabela 6 - Nível de codificação de cada função comunicativa (Reiß & Vermeer, 2014, p. 183)
31
É possível identificar qual função comunicativa está presente num determinado texto. Para
tal, o tradutor deve identificar características semânticas ou pragmáticas como, por exemplo, rimas,
metáforas, leitmotifs e aspetos sintáticos e lexicais recorrentes que indicam que um texto possui a
função expressiva. Contudo, grande parte dos textos têm mais de uma função comunicativa,
fazendo com que estes sejam considerados híbridos. Reiß argumenta que, durante a tradução o
tradutor decide qual a função predominante reter, a não ser que a LC permita manter todas as
funções comunicativas do LP (Reiß & Vermeer, 2014, p. 184). Esta é uma das razões pelas quais as
tipologias textuais são importantes para a tradução, pois, segundo Reiß, o tipo do texto, e não só o
público-alvo e o propósito do texto, também influencia a metodologia e as estratégias aplicadas na
tradução de um texto (Reiss, 2000, p. 17).
Reiß também expandiu a definição dos géneros textuais, com base nas definições de Lux e
Pörksen, considerando os géneros como «[…] supra-individual types of speech and writing acts
associated with recurring communicative activities in which repeated occurrence has led to the
development of characteristic patterns of language use and text composition.» (Reiß & Vermeer,
2014, p. 161)
A repetição de padrões faz com que estes se tornem regularidades em certas situações
comunicativas, criando-se assim convenções. Uma convenção é, de acordo com Reiß, uma regra
não escrita e sujeita a alterações, que facilitam e guiam a comunicação e que mostram as
características de um texto, ou seja, são manifestações de um género textual (Reiß & Vermeer,
2014, pp. 164–166).
Reiß também refere que os géneros não ocorrem todos na mesma forma, existindo, assim,
«géneros complexos», «géneros simples» e «géneros complementares». Os géneros complexos são
géneros que estão incorporados noutros géneros. Por exemplo, o género novela pode conter
outros géneros como um artigo de um jornal. Os géneros simples são géneros que não apresentam
outros géneros incorporados. Um exemplo disso é o boletim meteorológico. Por fim, os géneros
complementares são géneros que requerem a existência de um texto principal, no qual se baseiam
como, por exemplo, um resumo ou uma crítica. Alguns dos géneros complementares referem-se
constantemente ao texto principal, por isso, o tradutor deve conhecer o texto principal para
entender melhor o texto complementar (Reiß & Vermeer, 2014, p. 162).
Se considerarmos as tipologias textuais propostas por Reiß, podemos verificar que os textos
a serem analisados no presente relatório são essencialmente textos do tipo informativo. Contudo,
um texto que não contém apenas uma função comunicativa é a descrição de produtos, inserida no
género website, uma vez que a descrição de produto tem a intenção de informar e persuadir o
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leitor a comprar o produto e, para tal, recorre, muitas vezes, à organização estética do conteúdo
do texto.
Montalt e Davies fazem uma distinção semelhante à distinção das tipologias textuais feita
por Reiß, no entanto, relativa aos géneros textuais, em que dividem os textos da área da saúde e
ciências da vida em três tipos básicos de géneros, segundo o propósito retórico do autor:
Overall rhetorical purpose of the writer Examples of genres
Instructional: give instructions to readers so
that they can carry out certain actions
Clinical guidelines, patient information leaflet,
manual.
Expository: provide information to readers Anatomical atlas, treatise, review article, case
report, first part of an informed consent.
Argumentative: convince readers Medical editorial, original article, poster in
health campaign.
Tabela 7 - Examples of genres according to the main rhetorical purpose of the writer (Montalt & Davies, 2007, p. 58)
Contudo, Montalt e Davies fazem distinção entre os propósitos retóricos instrucionais e
propósitos retóricos expositivos, enquanto Reiß considera que estes pertencem à mesma função
comunicativa: a função informativa. O primeiro propósito retórico relaciona-se com a intenção, por
parte do autor, de dar instruções, de maneira a que os leitores executem alguma ação, e o segundo
propósito retórico relaciona-se com a apresentação de informações, mas sem a intenção de fazer
com que o leitor execute alguma ação. Ademais, os autores não consideram o propósito expressivo
do autor de um texto na área da medicina. A classificação de Reiß é muito generalista e aplica-se a
todas as áreas de conhecimento, enquanto que as classificações feitas por Montalt e Davies
aplicam-se apenas à área da saúde.
Com base na classificação dos géneros textuais de Montalt e Davies relativamente aos seus
propósitos comunicativos (Tabela 7), conclui-se que o folheto informativo é um género com um
propósito retórico instrucional, o consentimento informado é um género com um propósito
retórico expositório. No entanto, a descrição de produto não se insere perfeitamente nesta
classificação, pois, de acordo com esta, a descrição de produto é apenas considerado um género
com um propósito retórico expositório.
Montalt e Davies distinguem igualmente os géneros da área da saúde segundo a função
social destes, tal como mostrado na Tabela 8:
33
Overall social function Example of genres
Preventing disease, educating the general public,
creating awareness of risks, etc…
Genres in institutional campaigns such as press
releases, information for patients, etc…
Carrying out domestic actions such as following a
diet, or a treatment… Diet, patient information leaflet, etc…
Communication new discoveries to non-specialized
readerships
Newspaper article, summary for patient,
mainstream book, non specialist manual, etc…
Teaching and learning how to become a health
professional
Text-book, manual, encyclopaedia, anatomical
atlas, etc…
Carrying out clinical practice, implementing new
techniques in clinical practice Patient’s history, guide of practice, manual, etc…
Selling products to professionals Patient’s history, guide of practice, manual, etc…
Communication new research to specialized
audiences
Original article, review article, scientific editorial,
etc…
Tabela 8 - Genres according to overall social function (Montalt & Davies, 2007, p. 58)
Como exposto anteriormente, os participantes na comunicação na área da medicina têm
diferentes níveis de conhecimento e especialização e, como tal, existem géneros (mostrados na
Tabela 8) que são utilizados para transmitir informações entre comunidades com o mesmo nível de
conhecimento da área da saúde e preencher lacunas existentes entre diferentes comunidades com
diferentes níveis conhecimentos (Montalt & Davies, 2007, p. 59). Exemplos disso são o folheto
informativo ou o consentimento informado que serão géneros textuais analisados neste relatório.
Tendo em conta as classificação dos géneros segundo a sua função social (Tabela 8), os
folhetos informativos inserem-se na categoria «Carrying out domestic actions such as following a
diet, or a treatment…», ou seja, são textos redigidos tendo em mente um público-alvo que, em
princípio, não terá muito conhecimento sobre medicina ou farmácia. Isto faz com que estes textos
tenham características diferentes de géneros textuais mais especializados, tal como será descrito
na secção seguinte. O mesmo acontece com o consentimento informado, que é redigido também
tendo em mente uma audiência que não tem um conhecimento médico aprofundado. Este género
textual não está incluído na Tabela 8, por isso incluiria este género na classificação «Preventing
disease, educating the general public, creating awareness of risks, etc…», pois a função do
consentimento informado é informar o participante num estudo, da execução deste, dos benefícios
e também riscos. Por fim, inseriria as descrições de produto na classificação «Selling products to
34
professionals», uma vez que as descrições são de dispositivos médicos que são utilizados em
hospitais em consultórios médicos e não por doentes.
Tal como Reiß, Montalt e Davies reconhecem a importância dos géneros textuais para a
tradução, visto que, as estratégias utilizadas, metodologia e procedimentos efetuados durante a
tradução dependem de fatores como a compreensão do TP. Por sua vez, a compreensão do TP
depende do conhecimento do tradutor e da familiaridade deste com o género do TP; o
reconhecimento de elementos estruturais do género, que fazem com o leitor crie expectativas
relativamente ao tipo de informação existente no texto; e depende das diferenças interlinguísticas
existentes entre a LC e a LP dentro do mesmo género textual (Montalt & Davies, 2007, p. 60).
Na secção seguinte serão apresentadas as características dos géneros textuais aqui
anteriormente referidos.
35
3.3.1. Folhetos informativos
Os folhetos informativos, também chamados de «bula», ou em inglês «patient information
leaflet» ou «patient package insert» são provavelmente o género textual da área das ciências da
vida mais lido por diferentes tipos de leitores. De acordo com a Diretiva 2004/27/CE (que altera a
Diretiva 2001/83/CE), que estabelece um código comunitário relativo aos medicamentos para uso
humano, «folheto informativo» significa «A literatura com informações destinadas ao utilizador,
que acompanha o medicamento.» (Parlamento Europeu, 2004, p. 36), no entanto, para um melhor
entendimento dos FI, é necessário olhar para a sua macroestrutura e conteúdo.
Os FI são emitidos pelos laboratórios farmacêuticos e estes devem estar de acordo com os
requisitos de uma entidade regulatória nacional ou, no caso de Portugal e de países-membros da
União Europeia, de acordo com a Agência Europeia de Medicamentos. Os FI são uma versão dos
RCM (um documento requerido pelas autoridades, que acompanha um pedido de autorização de
introdução no mercado de um medicamento) mais simples e fácil de entender e apenas com a
informação mais pertinente para o utente (Montalt & Davies, 2007, p. 68). De acordo com a Diretiva
2004/27/CE, os FI são elaborados de acordo com o RCM e devem incluir informações como:
1. o nome do medicamento, de acordo com a denominação comum, dosagem e
forma farmacêutica;
2. a categoria do medicamento;
3. para o que é usado o medicamento;
4. as contraindicações, precauções de utilização, interações medicamentosas e
outros tipos de interação, advertências;
5. posologia, modo, via e frequência de administração;
6. dependendo do medicamento: devem ser incluídas informações sobre a duração
do tratamento, o que fazer em caso de sobredosagem, o que fazer em caso de
esquecimento da toma de uma ou mais doses, indicação da existência do risco de uma
síndrome de privação e uma recomendação para consultar o médico ou farmacêutico em
caso de dúvida sobre a utilização do medicamento;
7. descrição dos efeitos secundários (reações adversas) e comunicação de efeitos
secundários;
8. chamada de atenção relativamente ao prazo de validade;
9. composição do fármaco em substâncias ativas e excipientes;
36
10. apresentação do medicamento e conteúdo da embalagem;
11. o nome e endereço do titular da autorização de introdução no mercado;
12. nome e endereço do fabricante;
13. a data da última revisão do folheto.
Para além disso, de acordo com a alínea b) do ponto 48), os FI devem ser elaborados de
maneira a que estes sejam compreendidos facilmente e de modo claro pelo utente (Parlamento
Europeu, 2004, pp. 48–49). Estes podem também incluir ilustrações que facilitem a compreensão
das informações (Parlamento Europeu, 2001, p. 87). Ademais, existe uma diretriz sobre a
«legibilidade» dos FI, a «Guideline on the readability of the labelling and package leaflet of
medicinal products for human use» da Comissão Europeia, que indica as recomendações para a
elaboração de FI, tais como, o tamanho e tipo de letra, a estrutura e formatação da informação, a
cor de impressão e tipo de papel e a sintaxe e o estilo de escrita a utilizar, entre outras
recomendações como, por exemplo, a utilização do braile. Em relação à sintaxe, a diretriz
recomenda que sejam utilizadas frases curtas com palavras simples, a utilização de listas com
marcas e a exposição de efeitos secundários deve ser feita de acordo com a ordem de ocorrência.
Relativamente ao estilo, deve ser utilizada a voz ativa em vez da passiva, as abreviaturas e
acrónimos devem ser evitados e deve-se utilizar, de preferência, os termos leigos em vez dos
termos médicos mais especializados, ou então estes devem ser explicados. O mesmo termo deve
ser sempre utilizado ao longo do folheto para assegurar a sua consistência (Comissão Europeia.
Direcção-geral das Empresas e Indústria, 2009, pp. 7–16). Todas estas recomendações têm como
objetivo a acessibilidade e compreensão dos FI e rótulos pelos utentes.
Os FI traduzidos durante o estágio não cumpriam com as especificações anteriormente
referidas, provavelmente porque eram folhetos elaborados fora da União Europeia.
37
3.3.2. Consentimento informado
O consentimento informado é um documento que um doente ou participante assina no
caso da realização de certos procedimentos médicos e no caso da participação em ensaios clínicos.
Qualquer tipo de investigação em humanos deve ser devidamente autorizada, tal como é
especificado na Convenção de Oviedo:
Qualquer intervenção no domínio da saúde só pode ser efectuada após ter sido prestado pela pessoa
em causa o seu consentimento livre e esclarecido. Esta pessoa deve receber previamente a
informação adequada quanto ao objectivo e à natureza da intervenção, bem como às suas
consequências e riscos. A pessoa em questão pode, em qualquer momento, revogar livremente o
seu consentimento. (Decreto do Presidente da República n.o 1/2001 de 3 de Janeiro, 2001, p. 27)
Assim, o CI é um documento importante para que o futuro participante num estudo possa tomar a
decisão certa de aceitar ou não aceitar participar num estudo. Contudo, é importante que o
documento tenha todas as informações necessárias e seja fácil de compreender pelo participante.
Em Portugal os CI têm de cumprir a Norma 015/2013 da Direção Geral de Saúde. A Norma
015/2013 refere que o CI:
A. […] [P]ode ser expresso de forma verbal oral ou escrita e contém em si, duas noções indissociáveis,
a de compreensão e autonomia.
B. A informação deverá ser facultada numa linguagem clara e acessível, baseada no estado da arte
e isenta de juízos de valor.
C. Para além da comunicação verbal e, sempre que possível, a informação e o esclarecimento devem
ser acompanhados de folheto explicativo da responsabilidade da unidade de saúde e/ou dos
profissionais de saúde.
D. A informação e o esclarecimento obrigam a um período de reflexão que emana da necessidade
da pessoa avaliar qualitativamente a informação e o esclarecimento recebidos.
E. A informação e esclarecimento aos menores deverão ser apropriados, em função da sua idade e
grau de maturidade.
F. O consentimento informado é, numa lógica negocial, um processo comunicacional, contínuo e
participado, através da interação estabelecida entre o profissional de saúde e a pessoa,
prolongando-se num tempo útil, definido em cada caso, pela situação de saúde em apreço:
1) O profissional de saúde tem o dever de averiguar se a pessoa entendeu a informação e o
esclarecimento que lhe foram prestados;
38
2) A revogação do consentimento informado, esclarecido e livre pode ocorrer a qualquer momento,
sem exigência de qualquer formalidade, e não pode acarretar qualquer prejuízo para a pessoa nos
seus correspondentes direitos assistenciais;
3) A renovação do consentimento informado, esclarecido e livre torna-se necessária sempre que
novos dados de diagnóstico, prognóstico ou terapêutica o tornem desatualizado.(Direção Geral da
Saúde, 2013, pp. 5–6)
Esta descrição articula-se com o parágrafo da Convenção de Oviedo supracitado.
No que se refere à estrutura do CI, Montalt e Davies afirmam que este tem duas partes. A
primeira parte é meramente informativa e contém informações sobre o estudo a ser realizado,
como, por exemplo, o tipo de estudo, os fármacos ou dispositivos a serem utilizados, a duração, os
riscos que este pode acarretar e os benefícios esperados. A segunda parte consiste no formulário,
que o participante tem de assinar, para que possa aceitar as condições estabelecidas no mesmo.
Normalmente existe uma declaração, que afirma que o participante pode desistir do estudo em
qualquer altura e outras declarações que indicam que o participante entendeu o estudo, que
recebeu toda a informação necessária e que teve a oportunidade de colocar questões sobre o
estudo (2007, p. 66).
Durante o estágio traduzi apenas parte de um CI, pois o projeto foi divido entre vários
tradutores. Na parte que eu traduzi estavam incluídos o formulário de CI e uma carta a enviar ao
médico de família, a informar o mesmo, que um dos seus pacientes iria participar num estudo.
39
3.3.3. Website e descrição de produto
À primeira vista um website não parece ser um género, pois um website pode ter diferentes
características, ter diferentes estruturas e mostrar diferentes conteúdos. Mas se considerarmos
que os géneros existem em estruturas hierárquicas, verificamos que o género website é um
«supragenre». Jiménez-Crespo afirma que
«‘Supragenres’ represent groupings of similar genres that do not correspond with specific concrete
genres: for example homepages, in which individuals (personal homepage), corporations (corporate
websites) or institutions (institutional websites) communicate with audiences globally in a process
mediated by the web.» (2013, p. 74)
Tal como existem «supragenres», também existem «subgenres», que surgem constantemente com
a introdução de novas funcionalidades nos websites.
Jiménez-Crespo também refere que uma classificação importante para a localização de
websites é a noção de géneros complexos. Jiménez-Crespo baseia-se na proposta de Martin e
Hanks, mas neste relatório irei utilizar a proposta de Reiß, já apresentada anteriormente, que é
muito semelhante à de Martin e Hanks. Esta noção pode ser aplicada aos géneros digitais, pois os
«subgenres» podem conter outros géneros textuais. Por exemplo, o «subgenre» blogue pode
conter outros géneros textuais, tais como uma receita ou um conto (Jiménez-Crespo, 2013, pp. 74–
75).
O website/ descrição de produto a ser analisado neste relatório consiste em pequenas
descrições de produtos de um website que vende dispositivos médicos. Logo, estas descrições de
produto são um «subgenre». Estas descrições de produto ajudam a vender um produto online
mostrando algumas das características do produto aos futuros clientes. Tendo em conta o tipo de
dispositivos e a sua utilização, é possível verificar que a audiência-alvo são profissionais de saúde.
40
4. Problemas e dificuldades de tradução
Para caracterizar os problemas de tradução encontrados ao longo do estágio recorre às
palavras de Montalt e Davies que definem um problema de tradução como:
A translation problem can be defined as a (verbal or nonverbal) segment that can be present either
in a text segment (micro level) or in the text as a whole (macro level) and that compels the translator
to make a conscious decision to apply a motivated translation strategy, procedure and solution from
amongst a range of options. (Montalt & Davies, 2007, p. 169)
Esta definição mostra que nem todos os problemas de tradução se relacionam apenas com as
palavras e frases existentes num texto, mas também com a macroestrutura deste, pois a
macroestrutura da CC, poderá ser diferente da macroestrutura da cultura de partida, como será
possível verificar nos problemas de tradução dos FI.
Assim, irei analisar os principais problemas que surgiram durante a tradução de textos da
área da saúde durante o estágio curricular e mostrar quais foram as soluções encontradas e
aplicadas. Na Tabela 9 estão presentes os textos que irei a analisar, bem como uma sigla atribuída
para referenciar os textos mais facilmente ao longo da análise. Nem todos os textos da área da
saúde traduzidos durante o estágio serão analisados, devido à sua relevância para o presente
relatório, ou porque não apresentavam grandes dificuldades e desafios na sua tradução.
Documento Sigla atribuída
Número de palavras Nome do Anexo
Folheto informativo: Amdipine FI1 689 ANEXO I
Folheto informativo: Cortec Plus FI2 839 ANEXO II
Folheto informativo: Dermosporin FI3 250 ANEXO III
Folheto informativo: Es-Loprot FI4 795 ANEXO IV
Folheto informativo: Diuret FI5 1730 ANEXO V
Folheto informativo: Fluderm FI6 729 ANEXO VI
Folheto informativo: Normisar Plus FI7 1452 ANEXO VII
Folheto informativo: Sergifex FI8 615 ANEXO VIII
Folheto informativo: Reliefal FI9 1056 ANEXO IX
Consentimento informado: Formulário CI1 362 ANEXO X
Consentimento informado: Carta CI2 835 ANEXO XI
Website: Descrição de produto DP1 307 ANEXO XII
Tabela 9 - Textos da área da saúde a serem analisados
41
A análise dos problemas de tradução será dividida por géneros textuais, com uma secção para cada
género textual traduzido: folheto informativo, consentimento informado e website/descrição de
produto. E, por sua vez, essas secções serão divididas em subsecções conforme o tipo de problema
como, por exemplo, problemas com terminologia, erros, inconsistências, entre outros.
4.1. Folhetos informativos
Ao longo do estágio curricular foram traduzidos doze FI. Desses doze FI, irei analisar nove,
provenientes do Paquistão: FI1, FI2, FI3, FI4, FI5, FI6, FI7, FI8 e FI9. Destes folhetos, o FI1, FI2, FI3,
FI4, FI6 e FI7 foram elaborados pelo mesmo laboratório fabricante (fabricante A), e o FI8 foi
elaborado um fabricante diferente (fabricante B). Por fim, o FI5 e FI9 não apresentam indicação do
país e fabricante, no entanto, provavelmente são do Paquistão, visto que pertencem aos mesmos
projetos de tradução dos restantes FI desse país.
4.1.1. Diferenças entre o género textual da cultura de partida e da cultura de chegada
O primeiro problema encontrado na tradução dos FI relaciona-se com a informação
apresentada e macroestrutura dos FI, visto que a macroestrutura e o conteúdo presentes são
diferentes dos FI elaborados em Portugal e aprovados pelo Infarmed. Isto dificulta a tradução e
compreensão dos FI pelo utente, pois estes não seguem as características e macroestrutura
esperadas de um FI português como, por exemplo, uma chamada de atenção para consultar o
médico ou farmacêutico em caso de dúvidas. Através de uma análise dos modelos de FI do
Infarmed2 foi possível encontrar características que estão presentes em praticamente todos estes
modelos. Estas incluem:
1. Composição do fármaco;
2. Chamada de atenção para o utente sobre leitura do folheto antes da toma do
fármaco, consulta junto ao médico ou farmacêutico na existência de dúvidas ou na
comunicação de efeitos secundário e chamada de atenção para a prescrição e cedência de
fármacos a outras pessoas com os mesmos sintomas;
3. Índice dos conteúdos do folheto;
4. Descrição do fármaco e utilização no tratamento de condições;
2 http://www.infarmed.pt/web/infarmed/modelos-de-rcm-e-fi
42
5. Modo de ação;
6. Em alguns casos, é apresentada uma explicação sobre a doença que o fármaco trata
e o tratamento dessa mesma doença, provavelmente mais utilizada em condições mais
comuns e nas quais é necessária uma maior educação do doente;
7. Contraindicações;
8. Advertências e precauções;
a. Utilização durante a gravidez e amamentação;
b. Utilização durante a condução de veículos e utilização de máquinas;
9. Conteúdo do fármaco e excipientes;
10. Instruções para a toma e a sua dosagem;
a. Sobredosagem
b. Esquecimento da toma
11. Efeitos secundários indesejáveis;
a. Comunicação de efeitos secundários
12. Instruções de conservação
13. Conteúdo da embalagem e outras informações
14. Titular da Autorização de Introdução no Mercado e Fabricante
15. Data da última revisão ou aprovação do folheto
Por outro lado, se verificarmos a macroestrutura de alguns exemplos de FI do Paquistão,
vemos que as secções presentes nestes folhetos são diferentes, tal como mostra a Tabela 10:
Amdipine (FI1) Dermosporin (FI3) Sergifex (FI8) Normisar (FI7) Reliefal (FI9)
Composition Composition Composition Composition Composition
Description Description Description Mechanism of
action Description
Pharmacokinetic
properties Indication Pharmacokinetics
Pharmacokineti
cs Indications
Indications Contra-indications Indications Indications and
usage
Contra-
indications
Dosage and
administration
Dosage &
administration Adverse reactions
Dosage and
administration Pharmacology
Adverse reactions Adverse reactions Contraindications Contra-
indications
Mechanism of
action
Contra-indications Precautions Dosage and
administration
Drug
interactions
Pharmacokineti
cs
Precautions Instructions Direction for use Warnings and
precautions
Dosage and
administration
43
Tendo em conta que o FI1 e FI3 são do fabricante A, o FI8 do fabricante B e o F9 de
fabricante desconhecido, é possível ver que as informações presentes nos FI diferem de folheto
para folheto, mesmo quando estes têm o mesmo fabricante. O que poderá ter a ver com os
diferentes tipos de fármacos ou poderá ter a ver com a falta de regulamentação relativamente às
informações que devem estar disponíveis num FI paquistanês. Isto é, o conteúdo de um FI do
Paquistão deve conter informações como o nome registado do fármaco, a sua denominação
comum internacional e, caso esta não exista, o nome estabelecido por uma farmacopeia; o nome
e número de licença do fabricante; o número de registo do fármaco; a data de validade; a dosagem
e instruções (Drug Regulatory Authority of Pakistan, 1986). Por outro lado, os FI em Portugal
contêm as informações descritas anteriormente, o que mostra que estes são mais completos. Além
do mais, não existem indicações sobre a forma como o FI deve ser redigido, ao contrário dos FI em
Portugal e na União Europeia. O que faz com que sejam os fabricantes a escolher a linguagem e
terminologia utilizadas, resultando em FI com uma linguagem que utiliza muita terminologia
especializada.
Também os títulos das secções dos folhetos (FI1 a FI9) seguem regras diferentes. Por
exemplo, o título da secção sobre a contraindicações do fármaco Maleato de enalapril e
Hidroclorotiazida é formulado como uma questão no FI modelo do fármaco, presente na página do
Infarmed: «O que precisa de saber antes de tomar <Nome do medicamento>?» enquanto que o
título dessa mesma secção no FI2 consiste apenas numa palavra: «Contra-indications». O mesmo
acontece no FI4, em que a secção sobre as indicações do fármaco tem o título de «Indications» e o
modelo do Infarmed utiliza «O que é <Nome do medicamento> e para que é utilizado». Nesta
secção do modelo do FI também é incluída uma descrição simples da farmacodinâmica do fármaco.
Drug interactions Presentation Instructions Undesirable
effects Overdose
Instructions Manufacturer Availability Instructions Symptoms
Presentation Manufacturer Availability Management
Manufacturer Manufacturer Warning and
precautions
Pregnancy and
lactation
Drug
interactions
Adverse
reactions
Presentation
Tabela 10 - Títulos das secções de alguns folhetos informativos
44
Os títulos do FI modelo do Infarmed são elaborados desta forma para que a leitura seja facilitada e
o texto seja mais bem compreendido pelos doentes.
Este problema poderia ter sido colmatado se o cliente tivesse dado indicações sobre a
macroestrutura a utilizar.
4.1.2. Falta de informação sobre o público-alvo e finalidade do texto
Outra dificuldade foi a impossibilidade de saber qual a finalidade destes FI ou se estes serão
utilizados em Portugal, fazendo com que não seja possível uma melhor tradução e adequação, visto
que também não houve nenhuma indicação para a adequação ao público-alvo dos folhetos por
parte do cliente. Assim, a opção foi fazer uma tradução documental, que não utiliza o mesmo nível
de linguagem dos FI do Infarmed, mas sim dos resumos das características do medicamento. Isto
traduz-se num maior nível de dificuldade, como mostra o Exemplo 1.
Exemplo 1 (FI4):
EN: «PHARMACODYNAMIC: Esomeprazole is the S-isomer of omeprazole and reduces
gastric acid secretion through specific targeted mechanism of action. It is a specific
inhibitor of the acid pump in the parietal cell.»
PT: «FARMACODINÂMICA: o esomeprazol é o isómero-S do omeprazol, que reduz a
secreção de ácido gástrico através de mecanismos específicos de ação. É um inibidor
específico da bomba de protões nas células parietais.» (FI4)
É possível comparar este exemplo com um Resumo das Características do Medicamento
(RCM) modelo do esomeprazol, presente no website do Infarmed ,e verificar que as informações
contidas nestes exemplos são muito semelhantes:
Modelo RCM do Infarmed: «O esomeprazol é o S-isómero do omeprazol, e reduz a
secreção ácida gástrica através de um mecanismo de ação altamente direcionado. É um
inibidor específico da bomba de protões da célula parietal.» (Infarmed, 2018)
45
Por outro lado, a seguinte frase do modelo do Infarmed do mesmo medicamento transmite e
informação mais pertinente e de forma mais simples:
Modelo FI do Infarmed: «<Nome do medicamento> contém um medicamento designado
por esomeprazol. Este pertence a um grupo de medicamentos chamados «inibidores da
bomba de protões». Estes medicamentos atuam reduzindo a quantidade de ácido
produzido pelo seu estômago.» (Infarmed, 2018)
A linguagem no exemplo anterior utiliza muita terminologia médica especializada e até informação
que não é relevante para o utente, em vez de utilizar termos leigos e frases mais simples e fáceis
de entender. A existência de informações muito detalhadas e pouco pertinentes para o doente
dificultam a tradução, pois este não segue as características e estrutura esperadas de um FI
português.
4.1.3. Terminologia
A dificuldade mais vezes encontrada na tradução destes FI foi, sem dúvida, a tradução de
terminologia. Isto inclui a tradução de termos especializados simples e complexos, de siglas e
acrónimos e inconsistências. Como os FI não sofreram uma adequação ao público-alvo (que, em
princípio, não terá muito conhecimento sobre farmácia e medicina), a terminologia existente
pertence a um nível bastante especializado. Isto aumenta a dificuldade da tradução, pois existe a
necessidade de encontrar a terminologia correspondente na LC. O que pode aumentar o tempo
necessário para traduzir, fazendo com que o prazo não seja cumprido, ou fazendo com que outros
aspetos da tradução sejam desconsiderados de certa forma.
Para encontrar a tradução de termos é sempre necessário fazer alguma pesquisa e, por
vezes, ler textos da área para entender certos termos ou frases, para que sejam traduzidos da
melhor forma. A maneira mais simples de o fazer é consultar FI, RCM e o Vademecum (que contêm
a denominação comum internacional dos fármacos) elaborados pelo Infarmed, de maneira a utilizar
a mesma terminologia utilizada nestes. No entanto, nem sempre era possível encontrar a tradução
dos termos nestes documentos, por isso foi necessário recorrer a outras fontes como websites e
dicionários sobre farmácia e medicina como, por exemplo, o glossário do website Médicos de
46
Portugal, o IATE, a Infopédia ou dissertações da área da saúde e ciências da vida de alunos e
investigadores das universidades portuguesas.
4.1.3.1. Termos simples
Em primeiro lugar, irei comentar as dificuldades levantadas pela tradução de termos
simples, ou seja, termos constituídos apenas por uma palavra. Nos parágrafos seguintes
apresentarei os termos simples que mais desafios colocaram na sua tradução. Principalmente
porque a sua tradução não é tão óbvia e estes levaram a uma maior pesquisa e comparação com
textos paralelos. Obviamente mais problemas de tradução surgiram durante a tradução de termos
simples, mas grande parte dessas traduções foram resolvidas de maneira mais simples e rápida,
através da consulta de dicionários e glossários.
O primeiro exemplo a apresentar é a tradução do termo «severe», presente em vários FI,
que se refere à gravidade de uma doença.
Exemplo 2 (FI4):
EN: «For patients with severe hepatic impairment the maximum dose is 20mg.»
PT: «A dose máxima para doentes com insuficiência hepática grave é de 20 mg.»
A tradução mais óbvia seria «severo», no entanto, nem sempre a mais correta ou a mais utilizada.
Após alguma pesquisa e comparação com FI aprovados pelo Infarmed, cheguei à conclusão de que
a tradução mais correta e utilizada seria «grave».
O segundo exemplo, refere-se à palavra «injection», que surge no FI8. Esta palavra poderia
ser traduzida como «injeção», mas, tal como o primeiro exemplo, a tradução não é assim tão
evidente. O termo correto e utilizado em FI sobre o mesmo fármaco é «solução injetável». Da
mesma forma, a palavra «vial», presente no mesmo FI, que poderia ser traduzida apenas como
«frasco» ou «ampola», surge como «frasco para injetáveis».
Por fim, uma dificuldade levantada pela seguinte frase foi a tradução dos termos «stinging»
e «burning».
Exemplo 3 (FI3):
EN: «The following adverse reactions have been reported […] erythema, stinging, blistering,
peeling, edema, pruritus, urticaria, burning, and general irritation of the skin.»
47
PT: «Foram comunicados os seguintes efeitos secundários […] eritema, sensação de picadas
ou ardor, vesículas, descamação, edema, prurido, urticária e irritações gerais da pele.»
O problema não residiu tanto na tradução dos termos, mas sim na sua colocação na frase. A palavra
«stinging», traduz-se como «sensação de picadas» e «burning» traduz-se mais corretamente como
«sensação de ardor», contudo pretendia não repetir a palavra «sensação» na mesma frase. Por
isso, decidi juntar os termos em português e traduzir como «sensação de picadas ou ardor».
4.1.3.2. Termos complexos
Os termos que ofereceram mais dificuldade durante a tradução foram os termos
complexos, que são termos que são constituídos por mais de uma palavra. A tradução destes
termos é mais difícil, pois é necessário perceber quais são as palavras que constituem esse termo,
o que nem sempre é fácil, e é necessário encontrar uma tradução em português que corresponda
totalmente a esse termo.
A primeira dificuldade que emerge no FI1 é a tradução do termo «peak blood levels», pois
não conseguia encontrar uma tradução correta e consistente em dicionários online, havendo
traduções como «pico de concentrações plasmáticas» e «pico sérico». Assim, a solução foi
pesquisar parte da frase «Amlodipine is well absorbed with peak blood levels between 6-12 hours
post dose.» em português no motor de pesquisa Google, de maneira a encontrar resultados que
mostrem qual pico é atingido após 6 a 12 horas da toma do fármaco. Feito isso, surgiram vários
resultados de FI que afirmavam que a amlodipina tinha picos séricos 6 a 12 horas após a sua toma.
Assim, decidi utilizar a tradução «picos séricos».
Existem outras ocorrências de termos com a palavra «peak», como «peak serum
concentration» (FI2), «peak plasma levels» (FI4), «peak plasma concentration» (FI1, FI7) e «mean
peak plasma concentration» (FI8), porém, a sua tradução foi muito mais simples, pois era possível
fazer uma tradução literal do termo e fazer uma pesquisa para verificar se esta era correta.
A segunda maior dificuldade surgiu no termo «β-adrenoceptor blocking agente», pois
surgiu a dúvida na tradução de «blocking agente» como bloqueador, dado que existe o termo
«bloqueadores beta-adrenérgicos», que tem o mesmo significado. Porém de maneria a que a
tradução ficasse mais próxima ao original, optei pela tradução «antagonistas dos adrenoceptores-
β».
48
Outra dificuldade que surgiu foi a tradução de «dry poder» do FI8. Inicialmente parecia ser
uma redundância, pois usualmente um pó é seco, mas após alguma pesquisa percebi que era um
termo utilizado na área da farmácia. Poderia ter traduzido este termo como «pó seco», pois existem
ocorrências desse termo em português noutros FI. No entanto, após a consulta de FI do mesmo
fármaco, decidi traduzir «dry powder» como «pó para solução».
4.1.3.3. Siglas e acrónimos
Uma outra dificuldade relacionada com a terminologia consiste na existência de acrónimos
e siglas. Por vezes as siglas e acrónimos são explicados no texto, mas muitas vezes isso não
acontece. Como é o caso da sigla «USP» presente no FI1, FI2, FI3, FI4, FI6, FI7 e FI8. Essa sigla surge
após o nome de uma substância ativa nos FI referidos. O mesmo acontece com a sigla «BP»
presente no FI9. Estas siglas estão presentes nestes FI, pois a Drug Regulatory Authority of Pakistan
estabelece que o nome de um fármaco estabelecido por uma farmacopeia pode ser utilizado num
FI Como as siglas «USP» e «BP», não são esclarecidas no texto seguinte, foi necessário pesquisar o
seu significado em glossários de siglas, de maneira a saber se era necessário traduzir estas siglas. A
sigla «USP» refere-se a «United States Pharmacopeia» que é um nome que não tem uma tradução
oficial em português, mas que por vezes é traduzido. No entanto, a sigla nunca é traduzida, por isso,
decidi não traduzi-la.
No caso da sigla «BP», que se refere à «British Pharmacopeia», existem vários resultados
com a tradução «Farmacopeia Britânica» e, até mesmo, com a tradução da sigla como «FB»,
todavia, os resultados eram poucos e não muito fiáveis. Assim, optei igualmente por não traduzir
esta sigla.
Outra sigla que surge sem qualquer elucidação é a sigla «AUC» presente nos FI1 e FI6. Esta
sigla significa «area under the curve», cuja tradução em português é «área sob a curva». E por causa
disso, tive a intenção de utilizar uma tradução que não utilizasse a sigla, no entanto, decidi utilizar
a sigla em inglês, visto que é a forma mais usual de utilização desta sigla em textos portugueses.
Uma outra sigla presente no FI1 é a sigla «ACE», que significa «angiotensin-converting
enzyme». Porém, neste caso a sigla foi traduzida para «ECA», visto que existe uma tradução
equivalente em português que é sempre utilizada.
A sigla «NQ», presente no FI6, foi mais difícil de resolver, pois não consegui encontrar
nenhum significado para esta sigla que fosse satisfatório e que se encaixasse neste contexto, até
49
que, através de pesquisas no website do laboratório fabricante, cheguei à conclusão de que «NQ»
era uma sigla que se referia ao nome do laboratório fabricante A e também encontrei textos da
área farmacêutica que referiam as «especificações do laboratório fabricante». Desta forma, a sigla
não poderia ser traduzida.
A sigla «GERD» (FI4) foi mais fácil de traduzir, pois antes da sua primeira ocorrência, já
existia uma explicação do seu significado, o que facilita a pesquisa da tradução em português. Para
além disso, a sigla pode ser traduzida para português como «DRGE», que foi a opção pela qual optei.
A mesma situação acontece com a sigla «NSAID» (FI7), que significa «Non-Steroidal Anti-
Inflammatory Drugs» e que é traduzida como «AINE». Contudo tem uma particularidade
interessante, pois a palavra «fármaco» («drug» em inglês) não é incluída na sigla e, como tal, decidi
adicionar a palavra «fármaco» antes do termo «anti-inflamatórios não esteroides».
Por fim, o caso da sigla «CSF» (FI8) foi desafiante, visto que também não existe uma
explicação da sigla no texto:
Exemplo 4 (FI8):
EN: «It crosses both inflamed and non-inflamed meninges, generally achieving therapeutic
concentrations in the CSF.»
PT: «Atravessa as meninges inflamadas e não inflamadas, geralmente atingindo
concentrações terapêuticas no LCR.»
Assim, tive de pesquisar o significado da sigla e segundo os resultados obtidos, esta poderia
significar «Cerebrospinal fluid» («líquido cefalorraquidiano» em português). Mas como não tinha a
certeza tive de ler alguns artigos sobre o líquido cefalorraquidiano para perceber exatamente o que
este era e se fazia sentido no contexto da frase do Exemplo 8. Assim que tive a certeza de que o
termo «Cerebrospinal fluid» se encaixava na frase, decidi utilizar a tradução da sigla em português,
«LCR».
50
4.1.4. Inconsistências
Nesta secção dos problemas de tradução irei focar-me em algumas inconsistências que
apareceram ao longo da tradução dos FI e que surgiram em vários e diferentes FI. Contudo irei
apenas incluir aquelas que ocorreram em diferentes FI do mesmo laboratório.
A primeira ocorrência de inconsistências surge nos títulos das secções dos FI1, FI2, FI3, FI4,
FI6 e FI7, do fabricante A, sobre os efeitos secundários. No FI1 e FI3 o título dessa secção é «Adverse
reactions», no FI2 é «Adverse effects», no FI4 é «Side effects» e no FI7 é «undesirable effects».
Nestes casos decidi traduzir todas estas ocorrência como «Efeitos secundários», pois é o termo
mais comumente utilizado nos FI do Infarmed.
Também nos títulos das secções sobre as interações medicamentosas dos FI do fabricante
A existem inconsistências. Nos FI1, FI2, FI4 e FI7 a secção tem como título «Drug interactions», por
outro lado, a mesma secção do FI6 tem como título «Drug interaction activities». Decidi,
igualmente, traduzir todas estas ocorrências como «Interações medicamentosas».
Uma inconsistência que surgia constantemente era a utilização de termos diferentes em
inglês para nomear a insuficiência hepática ou insuficiência renal. Por exemplo no FI, são utilizados
três termos diferentes para referir a insuficiência hepática: «impaired hepatic functions», «hepatic
impairment» e «hepatic insufficiency»; no FI4 também são utilizados três termos diferentes: «liver
dysfunction», «hepatic impairment» e «hepatic insufficiency». Traduzi estes termos como
«insuficiência hepática». No FI2 são utilizados dois termos diferentes que se referem à insuficiência
renal: «renal insufficiency» e «renal impairment» e, por fim, no FI5 são utilizados três termos
diferentes: «renal impairment», «impaired renal function» e «renal disfunction». Em todos estes
casos também traduzi como «insuficiência renal».
4.1.5. Erros
Algo que pode dificultar bastante a compreensão de uma frase ou até mesmo de um texto
são os erros existentes nestes. Os erros podem ser ortográficos, gramaticais, erros na construção
frásica, palavras repetidas, palavras trocadas, pontuação mal colocada, entre outros.
O primeiro erro que me chamou à atenção está presente na seguinte frase do FI1:
Exemplo 5 (FI1):
51
EN: «No dose adjustment of Amlodipine is required upon concomitante administration of
thiazide diuretics, b-blockers and ACE angiotensin, ACE converting, ACE enzyme inhibitors
(ACE inhibitors).»
PT: «Não é necessário um ajuste da dose de amlodipina após a administração concomitante
de diuréticos tiazídicos, bloqueadores-β e inibidores da enzima de conversão da angiotensina
(inibidores da ECA).»
À primeira vista pode parecer que não existe um erro, mas se pesquisarmos os termos «ACE
angiotensin», «ACE converting» e «ACE enzyme«, é possível verificar que a sigla«ACE» não deveria
estar aqui presente. Como dito anteriormente a sigla «ACE» significa «angiotensin-converting
enzyme», por isso, não é lógico que os termos «angiotensin», «converting» e «enzyme» sejam
utilizados em conjunto com esta sigla. Visto que, desta forma, «ACE converting», como exemplo,
significaria «angiotensin-converting enzyme converting». Assim, cheguei à conclusão de que houve
um erro de repetição por parte do autor do FI1 e que este queria apenas dizer «angiotensin-
converting enzyme inhibitors» e, como tal, a minha tradução foi «inibidores da enzima de
conversão da angiotensina».
No FI3 estão presentes dois erros de pontuação. O primeiro erro diz respeito à falta de um
sinal de pontuação na frase do seguinte exemplo:
Exemplo 6 (FI3):
EN: «The following adverse reactions have been reported in connection with the use of
Clotrimazole erythema, stinging, blistering, peeling, edema, pruritus, urticaria, burning, and
general irritation of the skin.»
PT: «Foram comunicados os seguintes efeitos secundários adversos com a utilização de
Clotrimazol: eritema, sensação de picadas ou ardor, vesículas, descamação, edema, prurido,
urticária e irritações gerais da pele.»
Nesta frase está presente uma enumeração de efeitos secundários, mas os dois pontos estão
ausentes antes do início dessa mesma enumeração, logo após a palavra «Clotrimazole». Dessa
forma, decidi incluir os dois pontos na minha tradução, pois sem a utilização destes dois pontos a
frase não parece natural.
O segundo erro de pontuação presente na frase do Exemplo 6, refere-se à colocação errada
de uma vírgula:
Exemplo 7 (FI3):
52
EN: «These include ringworm (tinea) infections, athlete’s foot, paronychia pityriasis,
versicolor, erythrasma, intertrigo, fungal nappy rash, Candida vulvitis and Candida balanitis.»
PT: «Estes incluem infeções por dermatófitos (tinha), pé de atleta, paroníquia, pitiríase
versicolor, eritrasma, intertrigo, eritema das fraldas causada por fungos, vulvite por Candida
e balanopostite por Candida.»
Uma vírgula foi colocada indevidamente entre as palavras «pityriasis» e «versicolor», enquanto que
deveria ter sido colocada uma vírgula entre as palavras «paronychia» e «pityriasis». Essa falha foi,
no entanto, corrigida na tradução.
No FI4 existe um erro de construção frásica, mostrado no Exemplo 7:
Exemplo 8 (FI4):
EN: «Diarrhoea, headache (both may be severe) nausea, constipation, flatulence, dizziness,
somnolence, insomnia and paraesthesia, rashes urticaria, bullous eruption, erythema
multiforme, angioedema, alopecia and photosensitivity reported, muscle and joint pain,
blurred vision.»
PT: «foram reportados efeitos como diarreia, cefaleias (ambas podem ser graves), náuseas,
obstipação, flatulência, tonturas, sonolência, insónias e parestesia, erupções cutâneas,
urticária, erupções bolhosas, eritema multiforme, angioedema, alopécia e
fotossensibilidade, dores musculares e articulares e visão turva.»
O erro surge na colocação do verbo «reported» que deveria ficar colocado após a enumeração de
efeitos secundários e não no meio destes. Além do mais, deveria ter sido utilizado o discurso
indireto «were reported», em vez de ter sido apenas utilizado «reported». Este erro não criou
grandes problemas na tradução para o português, apenas na compreensão da frase.
Outro folheto informativo que contém erros é o FI6. Na seguinte frase está presente um
advérbio erradamente colocado na frase e esse mesmo advérbio repete a ideia do advérbio
anterior:
Exemplo 9 (FI6):
EN: «Patient who are taking Fluconazole develop rashes during treatment should be
carefully monitored closely and drug is discontinued if lesions progress.»
PT: «Os doentes que tomam fluconazol e desenvolvem erupções cutâneas durante o
tratamento devem ser cuidadosamente acompanhados e o fármaco deve ser
descontinuado caso as lesões progridam.»
53
O advérbio «closely» deveria ter sido omitido ou colocado junto do advérbio «carefully», criando,
assim, a seguinte frase: «[…] should be carefully and closely monitored […]». Na minha tradução
decidi omitir esse advérbio, optando pela tradução acima apresentada, pois considero que ambos
os advérbios transmitem ideias muito semelhantes.
Na mesma frase do Exemplo 8 também está evidente um erro gramatical, dado que
«Patient» não está em concordância com o verbo que está no plural. Erro que foi corrigido na
tradução.
Por fim, no mesmo FI está exposto um erro ortográfico.
Exemplo 10 (FI6):
EN: «These have rarely resulted in a fatal.»
PT: «[…][E]stes raramente resultaram numa fatalidade.»
Em vez da palavra «fatal» deveria estar presente a palavra «fatality», de modo a que a frase fizesse
sentido. Esse erro foi corrigido no momento da tradução.
54
4.2. Consentimento informado
Tal como referido, durante o estágio traduzi parte de um CI, traduzindo apenas o formulário
de consentimento informado (CI1) e uma carta dirigida ao médico de família do participante no
estudo (CI2). Como este CI segue as especificações sobre CI da Direção Geral da Saúde, a linguagem
utilizada era clara e simples, em que as maiores dificuldades recaiam na tradução de nomes de
entidades, bases de dados e estudos e na tradução de siglas. Para além disso, havia a dificuldade
acrescida de manter a consistência entre os diferentes textos que estavam a ser traduzidos por
outros tradutores, pois a memória de tradução do Wordbee Translator não atualizava
imediatamente os termos introduzidos recentemente. Para atenuar essa dificuldade, foi criado um
documento em formato de folha de cálculo no Google Docs, que permite a edição do documento
por várias pessoas ao mesmo tempo, e que servia para a criação de uma espécie de bases de dados
para os termos com várias ocorrências. Primeiramente, irei tratar dos problemas de tradução dos
formulários de CI e, de seguida, tratarei dos problemas da carta.
No que diz respeito ao formulário de CI, a primeira dificuldade encontra-se no título. A
dúvida persistia na tradução do nome da base de dados «The European NAFLD Registry» e do nome
do ensaio «LITMUS (Liver Investigation: Testing Marker Utility in Steatohepatitis», pois não tinha
certeza se deveria traduzir o nome ou não, ou se deveria colocar a tradução do nome entre
parêntesis na primeira ocorrência do termo, de maneira a que o público-alvo perceba o que significa
o nome, enquanto que nas seguintes ocorrências o texto permanecia na LP. Após consulta com os
outros tradutores decidi optar pela colocação da tradução entre parêntesis, fazendo, assim, uma
tradução filológica. Ficando, então, «Registo Europeu de DHGNA» e »Investigação sobre o fígado:
utilidade do marcador de teste na esteato-hepatite», como tradução. Contudo, após consulta com
o cliente, este preferiu que não fosse colocada nenhuma tradução entre parêntesis e que nem fosse
feita nenhuma tradução. Algo que foi depois corrigido na minha tradução pelo revisor.
A segunda dificuldade encontrada surge na tradução da sigla «PI», dado que não sabia o
seu significado. Deste modo, decidi pesquisar o seu significado no dicionário online The Free
Dictionary3, que mostra uma definição como «principal investigator»,o que parece ser uma
definição adequada para este contexto. Na tradução para português decidi não utilizar uma sigla,
pois existem poucas ocorrências desta sigla com o significado de «investigador principal».
3 https://medical-dictionary.thefreedictionary.com/P.I
55
A terceira dificuldade também se foca na tradução de uma sigla. Tinha algumas dúvidas na
tradução da sigla «NHS», que significa «National Health Service». Não sabia se teria de a traduzir,
pois a mesma poderia se referir ao Serviço Nacional de Saúde inglês. Porém após uma melhor
análise do contexto decidi traduzi-la e, também, porque mesmo que a sigla se referisse ao Serviço
Nacional de Saúde inglês, esta podia ser traduzida. Por fim, surgiu uma dificuldade na tradução do
termo «sponsor» na frase apresentada no Exemplo 10:
Exemplo 10 (CI1):
EN: «I understand that the study sponsor and/or others working on study sponsor’s behalf
[…].»
PT: «Compreendo que o promotor do ensaio e/ou outros que estão a trabalhar em nome
do promotor […].»
A dificuldade surgiu, pois a tradução mais comum, para mim, de «sponsor» é «patrocinador», que
significa o mesmo que «promotor». No entanto, após consultar um glossário elaborado pela
Roche4, preferi optar pela tradução «promotor», visto que é a palavra mais utilizada em ensaios
clínicos.
Alguns dos problemas de tradução da carta dirigida ao médico de família eram os mesmos
problemas do formulário de CI, por isso, vou focar-me apenas nos problemas ainda não discutidos.
Os maiores problemas surgiram na tradução de algumas siglas presentes na carta.
A primeira dificuldade surge na tradução da sigla «GP», que significa «general practitioner», e
que traduzi como «médico de clínica geral», mas que não tem sigla correspondente. Por isso decidi
utilizar um termo e não uma sigla para a tradução. O mesmo acontece com a tradução da sigla
«DOB», que significa «date of birth», mas como não existe uma sigla correspondente em português,
decidi traduzir como «data de nascimento».
Por fim, tal como acontece na primeira dificuldade do formulário de CI, decidi colocar uma
tradução do nome da entidade Innovative Medicines Initiative (IMI2) entre parêntesis, para que o
público geral entendesse melhor o significado desta entidade. Porém, tal como aconteceu no
formulário, a tradução teve de ser retirada durante a revisão, devido a indicações do cliente.
4 https://www.roche.pt/corporate/index.cfm/farmaceutica/ensaios-clinicos/glossario-ensaios-clinicos/
56
4.3. Website e descrição de produto
Tal como referido anteriormente, as descrições de produto pertencem ao tipo operativo,
tendo estas a função informativa, a função operativa e também a função expressiva, o que faz com
que a tradução tenha aspetos diferentes dos textos já analisados. Tal como Reiß refere, quando um
texto tem mais de que uma função comunicativa e não é possível reproduzi-las a todas na tradução,
é necessário averiguar quais as funções mais importantes e que deve manter no TC (Reiß &
Vermeer, 2014, p. 184). Felizmente, neste caso não foi necessário escolher qual função manter,
pois foi possível reproduzir todas as funções na LC.
4.3.1. Falta de informação sobre a finalidade do texto
Tal como acontece nos folhetos informativos, não foi transmitida informação suficiente
para a identificação da finalidade das descrições de produto. É possível que estas descrições sejam
utilizadas em websites de venda de dispositivos médicos, que não sejam o próprio website da
empresa, visto que no fim do documento é apresentada uma pequena descrição da mesma. Porém,
estas também poderiam ser utilizadas no website do fabricante dos dispositivos. Também é
bastante provável que estas descrições sejam acompanhadas por uma imagem, às quais não tive
acesso, o que dificulta a tradução. Uma vez que, desta maneira, não é possível articular o conteúdo
do texto com o conteúdo das imagens e até mesmo perceber melhor o produto que está a ser
apresentado.
No entanto, penso que o público-alvo deste texto são profissionais da área da saúde, devido
ao tipo de dispositivos apresentados, como já foi anteriormente mencionado.
4.3.2. Tradução do nome dos produtos
A maior dificuldade na tradução do nome dos produtos foi perceber se a sigla «ABPM»
deveria ser traduzida ou não. Dado que «ABPM», significa «Ambulatory blood pressure
monitoring», e que possui uma sigla equivalente em português, «MAPA» (monitorização
ambulatorial de pressão arterial), a opção mais óbvia seria traduzir a sigla. Contudo esta sigla tem
um número associado (por exemplo, «ABPM-05») e após consultar o website da Meditech, percebi
que esta sigla se referia ao modelo do dispositivo e, deste modo, decidi não traduzi-la.
57
4.3.3. Palavras e expressões sem equivalente na língua de chegada
As descrições de produto não utilizam muita terminologia especializada, por isso os
problemas de tradução focam-se em palavras utilizadas no dia-a-dia e que não são da área da
saúde.
A primeira dificuldade apareceu na tradução da palavra «misdiagnosis», visto que não há
uma palavra equivalente em português. Por isso a solução passou por traduzir o significado dessa
palavra, que basicamente significa «diagnósticos incorretos», que foi essa a tradução escolhida.
A segunda dificuldade manifestou-se no adjetivo «sleep-friendly»:
Exemplo 11 (DP1):
EN: «ABPM-05 has a sleep-friendly algorithm and it is among the smallest and lightest
Holters on the market.»
PT: «O ABPM-05 tem um algoritmo que não perturba o sono e é o holter mais pequeno e
leve do mercado.»
«Sleep-friendly» também não tem equivalente em português e, tal como o exemplo anterior, a
solução passou por traduzir o significado da expressão neste contexto.
4.3.4. Trocadilhos
Estas descrições de produto são um caso interessante, pois, ao contrário dos outros textos
que eram textos informativos, este texto pertence ao tipo de texto operativo, pois tem a intenção
de cativar o leitor e convencê-lo a comprar um produto. O tipo operativo pode também ter uma
função expressiva, que é o que acontece neste caso.
A frase «Don´t miss a beat!» é um exemplo do mesmo, uma vez que é um jogo de palavras,
que se refere ao ritmo das batidas do coração, pois o produto que está a tentar vender é um
monitor holter que monitoriza a atividade cardíaca, utilizando uma frase conhecida que significa
não abrandar ou não parar. Felizmente, foi possível encontrar um trocadilho em português que
tivesse o mesmo significado. Assim, a melhor tradução que consegui encontrar foi «Não saia do
ritmo!», que tem o mesmo significado de não parar e que também se relaciona com a
monitorização cardíaca, devido ao termo «ritmo cardíaco».
58
5. Conclusão
O presente relatório apresentou o trabalho realizado durante o estágio curricular na
empresa AP|PORTUGAL e uma análise dos textos da área da saúde que foram traduzidos durante
o mesmo.
Após a elaboração deste relatório e após ter estudado mais aprofundadamente as teorias,
que os autores dos estudos de tradução afirmam que podem ser aplicadas ao processo de tradução,
foi possível verificar que nem sempre é possível a teoria ser aplicada, principalmente quando se
trabalha numa empresa com um fluxo de trabalho definido. Por exemplo, o processo de tradução
apresentado anteriormente por Montalt e Davies (2007), aplica-se melhor a um tradutor
independente, visto que supõe que o tradutor que realizou a tradução é o mesmo que fará a revisão
e releitura. Ademais, este processo pode ser mais facilmente aplicado a apenas um tradutor, que
decide o processo que pretende desempenhar, do que a uma empresa que já tem um processo de
tradução e intervenientes no mesmo definidos. Nas empresas de tradução, ou neste caso, na
AP|PORTUGAL, tal como mostrado no presente relatório, todas as tarefas presentes no processo
de tradução/fluxo de trabalho são desempenhadas por diferentes colaboradores, nunca havendo
um colaborador que faça duas tarefas diferentes dentro no mesmo projeto. Geralmente, cada
empresa adota um processo de tradução/fluxo de trabalho que se adapta melhor às características
da empresa e que aumenta a produtividade desta.
O presente relatório também expôs os principais problemas sentidos durante a tradução
de textos da área da saúde. Grande parte destes problemas são, sem dúvida, de ordem
terminológica. Mas enquanto os problemas na tradução de termos podem ser resolvidos através
da utilização de recursos, como dicionários, glossários, artigos da área, textos paralelos, consulta
com especialistas da área, entre outros recursos relevantes, outros problemas podem ser mais
complicados de resolver.
A maior dificuldade sentida na tradução nos textos analisados foi a falta de informação
sobre a finalidade do texto e público-alvo. Uma dificuldade que foi mais sentida durante a tradução
dos FI e do website e descrições de produto. Esta falta de informação dificultou, por exemplo, a
tradução dos FI, por causa das diferentes características dos mesmos, comparados com os FI de
Portugal. E como não houve indicação por parte do cliente para adaptar e adequar os FI à CC, a
solução foi fazer uma tradução documental, que reproduzisse apenas os aspetos linguísticos da LP
no TC e adaptasse as estruturas sintáticas e expressões idiomáticas. Contudo, penso que esta
dificuldade poderia ter sido colmatada com a realização de um «translation brief», de modo a
59
facilitar a minha tradução e adotar as técnicas e métodos de tradução mais adequados. Tal como
referido anteriormente, as teorias dos estudos de tradução são mais fáceis de aplicar a tradutores
independentes do que a empresas, uma vez que tradutor independente tem a possibilidade de
realizar um «translation brief» diretamente com o cliente, em vez de utilizar intermediários, como
os gestores de projeto. Mas mesmo assim, tal nem sempre é possível, devido ao desconhecimento
por parte do cliente da importância da cedência de informações úteis para a realização da tradução,
ou devido à indisponibilidade do cliente, ou por falta de tempo para a realização da tradução, que
faz com que a tradução seja iniciada de imediato.
Esta diferença entre a teoria e a prática, foi um aspeto do qual estava à espera, pois já tinha
a noção de que os prazos para a realização de uma tradução eram apertados. E, por causa disso,
alguns passos dos processos de tradução defendidos por autores dos estudos de tradução são
omitidos como, por exemplo, a leitura do TP antes do início da tradução. Por isso, é sempre útil ter
a experiência de trabalhar numa empresa, mesmo que tenhamos a intenção de trabalhar como
tradutores independentes, pois desta maneira, percebemos melhor aquilo que a profissão de
tradutor acarreta e quais atualmente são as maiores necessidades no mercado de tradução.
Por mais experiência que tenha, dificuldades serão sempre sentidas no momento de
traduzir, mas, apesar disso, penso que com a realização do estágio na AP|PORTUGAL e com a
realização deste relatório, onde faço uma reflexão sobre o trabalho feito, terei uma melhor
perceção daquilo que é necessário para fazer uma boa tradução.
60
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ANEXOS
ANEXO I
Folheto informativo: Amdipine
ANEXO II
Folheto informativo: Cortec Plus
ANEXO III
Folheto informativo: Dermosporin
ANEXO IV
Folheto informativo: Es-Loprot
ANEXO V
Folheto informativo: Diuret
ANEXO VI
Folheto informativo: Fluderm
ANEXO VII
Folheto informativo: Normisar Plus
Anexo VIII
Folheto informativo: Sergifex
ANEXO IX
Folheto informativo: Reliefal
ANEXO X
Consentimento informado: Formulário
ANEXO XI
Consentimento informado: Carta
ANEXO XII
Website: descrição de produto
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