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Exames de Diagnóstico Médico ENDOSCOPIA 26 27 Ficha 1.5 Ficha 1.5 mais frequentes nos homens, a par dos que afetam o pul- mão, a próstata e o estômago. Nas mulheres, é o segundo, logo a seguir ao da mama. A sua deteção precoce constitui, pois, uma questão de saúde pública da maior importância. Convém consultar o médico se tiver um ou mais dos seguin- tes sintomas: – vestígios de sangue nas fezes; – cólicas ou dores abdominais; – episódios repetidos de diarreia e/ou prisão de ventre que não tinha antes; – alteração do calibre e da regularidade das fezes; – vontade constante de defecar; – sensação de defecação incompleta; – fadiga inexplicável; – falta de apetite e perda de peso. Trata-se de sinais de alarme pouco específicos, que podem ter causas variadas e benignas (hemorroidas, úlceras, infla- mações, entre outros). Não deve pensar que, por apresen- tar alguns destes sintomas, tem cancro. Apenas um exame médico pode identificar a causa exata. Contudo, também não se deve cair no extremo oposto. Convém estar especialmente atento quando estes sintomas se manifestam depois dos 50 anos. Por exemplo, poderia ser um erro atribuir uma perda de sangue pelo ânus ape- nas a hemorroidas, mesmo que estas sejam visíveis num exame proctológico (veja a página 40). Antes disso, é pre- ciso excluir eventuais lesões no cólon esquerdo (a porção do intestino mais próxima do ânus), através da realização de uma sigmoidoscopia. A frequência do cancro do cólon aumenta com a idade, sobretudo a partir dos 50 anos. Quando diagnosticado cedo, e ainda limitado ao intestino, a cura é possível na maioria dos casos. Algumas pessoas correm um risco acrescido de desenvolver a doença, independentemente da idade, se: – tiverem um ou mais familiares em primeiro grau (mãe, pai, irmã, filho) com cancro do cólon; – sofrerem de doença de Crohn e/ou de retocolite hemor- rágica, duas patologias inflamatórias crónicas do intestino. O risco de cancro começa a aumentar entre sete e dez anos, após o início destas doenças; Colonoscopia e sigmoidoscopia A colonoscopia é a principal técnica para diagnosticar o cancro do intestino grosso (do cólon e do reto), também designado cancro colorretal. Este desenvolve-se lenta- mente e leva algum tempo a propagar-se o suficiente para causar sintomas. A deteção precoce, essencial nos indivíduos com fatores de risco, pode salvar vidas. Além da visão direta, este exame permite efetuar biop- sias de lesões suspeitas (pólipos, tumores, úlceras, entre outros) e, quando necessário, proceder ao seu trata- mento. A sigmoidoscopia apenas difere da colonoscopia pela extensão da área analisada e pelo aparelho utili- zado, que é um pouco mais curto. Quem deve fazer? De acordo com a Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva, em Portugal, todos os anos, mais de cinco mil pes- soas são afetadas pelo cancro do cólon e do reto. É um dos A maioria dos cancros do cólon desenvolve-se a partir de pólipos (crescimento anormal da mucosa do intestino). Inicialmente todos são benignos, mas alguns tornam-se malignos.
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Colonoscopia e sigmoidoscopia

May 11, 2022

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Page 1: Colonoscopia e sigmoidoscopia

Exames de Diagnóstico Médico ENDOSCOPIA

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Ficha 1.5Ficha 1.5

mais frequentes nos homens, a par dos que afetam o pul-mão, a próstata e o estômago. Nas mulheres, é o segundo, logo a seguir ao da mama. A sua deteção precoce constitui, pois, uma questão de saúde pública da maior importância.

Convém consultar o médico se tiver um ou mais dos seguin-tes sintomas:– vestígios de sangue nas fezes;– cólicas ou dores abdominais;– episódios repetidos de diarreia e/ou prisão de ventre que não tinha antes;– alteração do calibre e da regularidade das fezes;– vontade constante de defecar;– sensação de defecação incompleta;– fadiga inexplicável;– falta de apetite e perda de peso.

Trata-se de sinais de alarme pouco específicos, que podem ter causas variadas e benignas (hemorroidas, úlceras, infla-mações, entre outros). Não deve pensar que, por apresen-tar alguns destes sintomas, tem cancro. Apenas um exame médico pode identificar a causa exata.

Contudo, também não se deve cair no extremo oposto. Convém estar especialmente atento quando estes sintomas se manifestam depois dos 50 anos. Por exemplo, poderia ser um erro atribuir uma perda de sangue pelo ânus ape-nas a hemorroidas, mesmo que estas sejam visíveis num exame proctológico (veja a página 40). Antes disso, é pre-ciso excluir eventuais lesões no cólon esquerdo (a porção do intestino mais próxima do ânus), através da realização de uma sigmoidoscopia.

A frequência do cancro do cólon aumenta com a idade, sobretudo a partir dos 50 anos. Quando diagnosticado cedo, e ainda limitado ao intestino, a cura é possível na maioria dos casos. Algumas pessoas correm um risco acrescido de desenvolver a doença, independentemente da idade, se:– tiverem um ou mais familiares em primeiro grau (mãe, pai, irmã, filho) com cancro do cólon;– sofrerem de doença de Crohn e/ou de retocolite hemor-rágica, duas patologias inflamatórias crónicas do intestino. O risco de cancro começa a aumentar entre sete e dez anos, após o início destas doenças;

Colonoscopia e sigmoidoscopiaA colonoscopia é a principal técnica para diagnosticar o cancro do intestino grosso (do cólon e do reto), também designado cancro colorretal. Este desenvolve-se lenta-mente e leva algum tempo a propagar-se o suficiente para causar sintomas. A deteção precoce, essencial nos indivíduos com fatores de risco, pode salvar vidas. Além da visão direta, este exame permite efetuar biop-sias de lesões suspeitas (pólipos, tumores, úlceras, entre outros) e, quando necessário, proceder ao seu trata-mento. A sigmoidoscopia apenas difere da colonoscopia pela extensão da área analisada e pelo aparelho utili-zado, que é um pouco mais curto.

Quem deve fazer?

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva, em Portugal, todos os anos, mais de cinco mil pes-soas são afetadas pelo cancro do cólon e do reto. É um dos

A maioria dos cancros do cólon desenvolve-se a partir de pólipos (crescimento anormal da mucosa do intestino). Inicialmente

todos são benignos, mas alguns tornam-se malignos.

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Ficha 1.5Ficha 1.5

primeira abordagem, é indicada para doentes com sangue vivo nas fezes, pois, na maioria dos casos, a origem deste sintoma está no cólon esquerdo.

Antes do exameTanto a colonoscopia como a sigmoidoscopia requerem uma preparação minuciosa, pois a parte (ou a totalidade) do intestino a observar precisa de estar completamente limpa, sem fezes nem resíduos alimentares. Estes dificul-tam a observação, pelo que nalguns casos poderá ser necessário repetir o exame. Nos três dias que o antece-dem, o paciente deve adotar uma dieta à base de líquidos, para limitar a quantidade de resíduos nos intestinos. Deve ainda aplicar clisteres de limpeza na véspera e na própria manhã do exame. Em alternativa, na véspera à tarde, pode beber cerca de quatro litros de uma substância salgada ou com aroma de baunilha (adquirida na farmácia), ingerindo um copo a cada dez ou 15 minutos. Esta substância pro-voca diarreia e a evacuação das matérias fecais.

– sofrerem de polipose adenomatosa familiar ou de sín-droma de Lynch, duas doenças hereditárias raras;– tiverem história familiar ou pessoal de cancro ginecológico ou de esófago de Barrett.

A partir dos 50 anos, a população em geral deve fazer, anual-mente, a pesquisa de sangue oculto nas fezes, em três amos-tras consecutivas. A retossigmoidoscopia ou a colonoscopia poderão ser consideradas exames de rastreio alternativos. Se tiver um familiar que tenha desenvolvido um cancro color-retal antes dos 60 anos, este rastreio deve ser feito a cada cinco anos, a partir dos 50, por colonoscopia ou retossig-moidoscopia. Nestas situações, o rastreio pode realizar-se, pela primeira vez, dez anos antes da idade em que o familiar em questão foi diagnosticado. As pessoas com vários mem-bros da família com antecedentes deste cancro são consi-deradas de alto risco, pelo que o rastreio pode ser ainda mais apertado.

É possível realizar outros exames para o rastreio do cancro do cólon. É o caso do exame proctológico (veja a página 40), do clister opaco (veja a página 56) e da colonoscopia virtual (veja a página 62). Contudo, é sempre necessário recorrer à colonoscopia tradicional para extrair eventuais pólipos sus-peitos. Quanto à pesquisa de sangue oculto nas fezes (teste Hemoccult), os resultados nem sempre são fiáveis, pelo que deve ser complementado com outros métodos.

Em que consiste?

A colonoscopia e a sigmoidoscopia são muito semelhantes. Ambas utilizam um aparelho constituído por um tubo fle-xível e munido de uma aparelhagem ótica para observar o intestino grosso. A única diferença reside no comprimento do tubo, que é inferior no segundo caso (mede cerca de 60 centímetros), pelo que só permite visualizar até ao início do cólon descendente (parte mais à esquerda do cólon). Apesar deste inconveniente, a sigmoidoscopia tem algumas vanta-gens: exige uma preparação relativamente simples (bastam alguns clisteres na véspera e um laxante com magnésio, por exemplo), é mais rápida (demora cerca de dez minutos) e mais bem tolerada do que uma colonoscopia total. Numa

Corte e remoção de um pólipo através de

corrente elétrica.

Na colonoscopia examina-se todo o intestino grosso (assinalado a verde e a azul). Na sigmoidoscopia, o aparelho só permite observar até ao início do cólon descendente (a verde).

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Exames de Diagnóstico Médico ENDOSCOPIA

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Ficha 1.5 Ficha 1.5

As biopsias, quando necessárias, não são dolorosas. No total, o exame demora cerca de 30 minutos.

É útil para…

… diagnosticar precocemente lesões malignas ou pré-malig-nas do cólon;… encontrar as causas de certos sintomas, como perda de sangue nas fezes ou alterações no trânsito intestinal. Por vezes, tais sintomas devem-se a patologias inflamatórias do intestino (por exemplo, doença de Crohn ou colite ulcerosa);… colher pequenos fragmentos de tecido (biopsias) através de uma pinça incorporada e, eventualmente, proceder ao tratamento de diversos tipos de lesões (pólipos, úlceras, entre outros).

Estes exames apresentam algumas limitações quando ape-nas há alteração do funcionamento intestinal e não se encon-tram lesões da mucosa. Nestes casos, a avaliação pode ser complementada com outros exames.

Quais os riscos?

São exames bastante seguros. Os riscos variam consoante a pessoa, a utilização de medicamentos e os procedimentos complementares. Existindo remoção de pólipos, há um risco ligeiramente superior, embora ainda assim reduzido, de per-furar o intestino.

Podem surgir outras complicações, como o desmaio, devido à dor, e hemorragia não controlada. Esta última é mais fre-quente em doentes que tomem anticoagulantes ou antiagre-gantes para tornar o sangue mais fluido, como os salicilatos (Aspirina). Por isso, estes fármacos devem ser suspensos alguns dias antes.

Durante o exame

O exame decorre com o doente deitado, em posi-ção confortável. O colonoscópio é introduzido no ânus e vai progredindo lentamente ao longo do intestino grosso. Este aparelho tem um canal para insuflar ar, o que dilata o cólon e melhora a visualização, mas pode causar algum descon-forto. Parte desse ar é depois retirado através do próprio aparelho, aliviando a distensão.

Regra geral, a colonoscopia é bem tolerada e raramente causa dor intensa. Porém, as pessoas mais sen-síveis ou com um intestino difícil (muito longo ou com mais curvas do que o habitual, por exemplo) podem tomar medi-camentos para aliviar o desconforto. Nalguns casos, recorre--se a sedação. O paciente fica meio adormecido, embora sem anestesia geral, pois continua a respirar pelos seus pró-prios meios. Após o exame, é normal que não se recorde do que aconteceu.

ATENÇÃO!

Siga rigorosamente todas as instruções para a preparação anterior ao exame. Caso contrário, os resultados podem não ser conclusivos e será necessá-rio repeti-lo.

Na colonoscopia, o doente está muitas vezes sedado. As imagens podem ser vistas no monitor.

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Vesícula

Canal pancreático e via biliar

Duodeno

Exames de Diagnóstico Médico ENDOSCOPIA

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Ficha 1.6Ficha 1.6

tos (por exemplo, Aspirina), pode ter de suspender o trata-mento. Caso seja necessária uma intervenção terapêutica, a coagulação do sangue tem de estar normal, para que não haja o risco de hemorragias. Daí que também possam ser realizadas, previamente, análises ao sangue.

Durante o exame

Este exame é efetuado num hospital, por um gastrentero-logista, e requer equipamento de raios X. Demora entre 30 minutos e duas horas.

O paciente é sedado e fica meio adormecido. Os sinais vitais são observados (tensão arterial, pulso e frequência respiratória), o que exige a presença de um anestesista. Dei-tado sobre o lado esquerdo, o doente pode sentir apenas

CPREA colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é indicada para diagnosticar e tratar as doenças que afetam as vias biliares e o pâncreas devido a fato-res ambientais, dietéticos e hereditários. Por exemplo, cancros, cálculos, estenoses inflamatórias e roturas (após traumatismo ou cirurgia). Nalguns casos, a CPRE pode mesmo evitar uma intervenção cirúrgica, mas a sua utili-zação deve ser bastante ponderada, pois trata-se de uma técnica invasiva. Existem outros exames, como a ecogra-fia abdominal, que podem ser realizados primeiro e for-necem, muitas vezes, resultados conclusivos, embora não tenham as possibilidades terapêuticas da CPRE.

Em que consiste?

Trata-se do estudo do calibre, comprimento e trajeto das vias biliares (colangiografia) e dos canais pancreáticos (pancreatografia).

Para tal, recorre-se a um endoscópio, que é introduzido na garganta até à segunda parte do duodeno. Este aparelho possibilita a administração de uma substância de contraste, através de um cateter, num orifício (papila) localizado na parede da segunda parte do duodeno. O produto de con-traste vai opacificar as vias biliares e pancreáticas e o seu percurso é captado através de um aparelho de raios X.

Por vezes, pode associar-se à CPRE o estudo das pressões (ou manometria) das vias biliares, dos canais pancreáticos e da papila, onde existe uma estrutura muscular tipo válvula de controlo, o esfíncter de Oddi.

Antes do exame

A CPRE não exige preparação especial. O doente deve manter-se em jejum (de sólidos e líquidos, incluindo água) durante cerca de seis horas antes do exame.

Quem toma medicamentos anticoagulantes e antiagregan-tes, que evitam a coagulação do sangue, como os salicila-

O contraste é introduzido através

do endoscópio, permitindo observar

as vias biliares e pancreáticas.