1 CLIMATOLOGIA DA REGIÃO LITORÂNEA CEARENSE O estudo climatológico, aqui apresentado, tem por objetivo apresentar uma caracterização climática da região litorânea do Estado do Ceará e dos principais sistemas convectivos atuantes na região. Foram estudadas as seguintes grandezas: temperatura, umidade relativa, insolação, velocidade e direção dos ventos, evaporação e evapotranspiração potencial. Para representar a climatologia da região foram selecionadas duas estações: Aracati e Fortaleza . 1.PRINCIPAIS SISTEMAS SINÓTICOS ATUANTES NO LITORAL CERARENSE Os principais sistemas sinóticos atuantes na região litorânea cearense são de uma maneira geral os mesmos que atual no Estado como um todo. Há uma menor influência, entretanto, dos sistemas frontais - que atuam mais ativamente no sul do Estado, e a maior influência das Linhas de Estabilidade, sistema resultante da proximidade do litoral. 1.1. Zona de Convergência Intertropical -ZCIT Reconhece-se como o principal mecanismo organizador de conveccção em todo o Ceará a proximidade da ZCIT. Esta zona é um verdadeiro cinturão de baixa pressão formado sobre os oceanos equatoriais e é assim denominada por se tratar da faixa para onde os ventos alísios dos dois Hemisférios convergem, constituindo uma banda de grande convecção, altos índices de precipitação e movimento ascendente. Ela se aproxima de sua forma quase linear sobre o Oceano Atlântico, onde se apresenta, geralmente, como uma faixa latidudinal bem definida de nebulosidade, onde interagem entre si a Zona de Confluência dos Alísios (ZCA), o Cavalo Equatorial, a zona máxima Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e a banda de máxima cobertura de nuvens convectivas, não necessariamente a uma mesma latitude, mas muito próximos uns dos outros (Uvo, 1989). A verdade é que o conjunto acima, como um todo, tem um deslocamento meridional durante o ano, podendo a ZCIT ser representada pelo deslocamento de apenas um dos elementos integrantes, devido a alta correlação existentes entre eles. É comum considerar o deslocamento da banda de máxima cobertura de nuvens como respresentativo do movimento da ZCIT.
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CLIMATOLOGIA DA REGIÃO LITORÂNEA CEARENSE
O estudo climatológico, aqui apresentado, tem por objetivo apresentar uma
caracterização climática da região litorânea do Estado do Ceará e dos principais sistemas
convectivos atuantes na região. Foram estudadas as seguintes grandezas: temperatura,
umidade relativa, insolação, velocidade e direção dos ventos, evaporação e
evapotranspiração potencial. Para representar a climatologia da região foram
selecionadas duas estações: Aracati e Fortaleza.
1.PRINCIPAIS SISTEMAS SINÓTICOS ATUANTES NO LITORAL CERARENSE
Os principais sistemas sinóticos atuantes na região litorânea cearense são de
uma maneira geral os mesmos que atual no Estado como um todo. Há uma menor
influência, entretanto, dos sistemas frontais - que atuam mais ativamente no sul do
Estado, e a maior influência das Linhas de Estabilidade, sistema resultante da
proximidade do litoral.
1.1. Zona de Convergência Intertropical -ZCIT
Reconhece-se como o principal mecanismo organizador de conveccção em todo o
Ceará a proximidade da ZCIT. Esta zona é um verdadeiro cinturão de baixa pressão
formado sobre os oceanos equatoriais e é assim denominada por se tratar da faixa para
onde os ventos alísios dos dois Hemisférios convergem, constituindo uma banda de
grande convecção, altos índices de precipitação e movimento ascendente. Ela se
aproxima de sua forma quase linear sobre o Oceano Atlântico, onde se apresenta,
geralmente, como uma faixa latidudinal bem definida de nebulosidade, onde interagem
entre si a Zona de Confluência dos Alísios (ZCA), o Cavalo Equatorial, a zona máxima
Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e a banda de máxima cobertura de nuvens
convectivas, não necessariamente a uma mesma latitude, mas muito próximos uns dos
outros (Uvo, 1989).
A verdade é que o conjunto acima, como um todo, tem um deslocamento
meridional durante o ano, podendo a ZCIT ser representada pelo deslocamento de
apenas um dos elementos integrantes, devido a alta correlação existentes entre eles. É
comum considerar o deslocamento da banda de máxima cobertura de nuvens como
respresentativo do movimento da ZCIT.
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Era de se esperar que a ZCIT se situasse sobre a Linha do Equador, porém,
devido a maior parte dos continentes se encontrar no Hemisfério Norte (HN) e a cobertura
de gelo ser maior na Antártica, a faixa de água do mar e ar mais aquecidos se localiza
não no Equador Geográfico, mas ao norte dele, no chamado Equador Meteorológico,
região esta onde a ZCIT permanece grande parte do ano. Ela se desloca na direção
meridional, entre 14o N e 02o S de latitude, seguindo, com certo atraso, o movimento intra-
anual do sul (Climanálise, 1986).
As variações sazonais da precipitação no estado do Ceará parecem estar
intimamente ligadas às oscilações latitudinais da ZCIT sobre o Atlântico, sendo a estação
chuvosa coincidente com a posição mais ao sul que a ZCIT atinge durante os meses de
março a abril. A medida que essa começa o seu retorno para o HN, atingindo sua máxima
posição norte em agosto e setembro, o ar ascende sobre a ZCIT e descende sobre o
Atlântico Subtropical Sul, criando condições pouco propícias à formação e nuvens sobre a
região (estação seca).
1.2. Vórtices ciclônicos de ar superior - VCAS
A região litorânea do Ceará, assim como todo o restante do Estado, é
influenciada, além da ZCIT, por vários sistemas meteorológicos transientes que atuam
como forçantes para organizar a convecção nessas regiões. Um desses sistemas é o
VCAS (Kousky e Gen, 1981).
Esses vórtices formam-se sobre o Atlântico Sul, principalmente durante o verão
do HS (sendo janeiro o mês de atividade máxima), e adentram freqüentemente nas áreas
continentais próximas a Salvador (13o S, 38o W) tendo um efeito pronunciando na
atividade convectiva sobre toda a região Nordeste.
As “baixas frias da alta troposfera” (ou VCAS) constituem sistemas de baixa
pressão, cuja circulação ciclônica fechada caracteriza-se por baixas temperaturas em seu
centro (com movimento subsidente de ar seco e frio) e temperaturas mais elevadas em
suas bordas (com movimento ascendente de ar quente e úmido). Com relação às
características de tempo relacionadas a estes sistemas, observam-se condições de céu
claro nas regiões localizadas abaixo de seu centro e tempo chuvoso nas regiões sob sua
periferia. Em geral, a parte norte do Nordeste, onde o Ceará se situa, experimenta um
aumento de nebulosidade associada a chuvas fortes à medida que o vértice se move para
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a costa; as partes sul e central do Nordeste, por sua vez, apresentam diminuição de
nebulosidade
Os mecanismos de formação dos VCAS de origem tropical não são totalmente
conhecidos. No entanto, Kousky e Gan (1981) sugerem que a penetração de sistemas
frontais, devido a forte advecção quente que os procede, induzem a formação dos VCAS,
especialmente nas baixas e médias latitudes. Esta advecção amplifica a crista de nível
superior, e consequentemente o cavado a leste formando, em última instância, um vórtice
ciclônico sobre o Atlântico.
1.3. Linhas de Instabilidade - LI
As brisas marítimas e terrestres são circulações locais que ocorrem em resposta
ao gradiente horizontal de pressão que, por sua vez, é provocado pelo contraste de
temperatura diário entre oceano e continente (Chandler, 1972 e Hawkins, 1977).
Uma das características da brisa marítima consiste na formação de uma linha de
Cumulonimbus (Cbs) ao longo do extremo norte-nordeste da América do Sul, que pode se
propagar como uma LI, ocasionando chuvas nas áreas litorâneas do Ceará. Este
desenvolvimento ao longo da costa sofre variação sazonal tanto na localização como na
freqüência de aparecimento. Variações na intensidade também ocorrem no decorrer do
ano. Os fenômenos de grande escala reforçaram ou inibem os efeitos provocados pelas
circulações locais (Riehl, 1979). Uma série de distúrbios de escala sinótica (1000 a
7000km) influenciam diretamente essas circulações no sentido de aumentar (ou diminuir)
suas atividades. Entre estes sistemas podemos criar o deslocamento de massa de ar frio
para regiões mais quentes formando zonas frontais e a mudança sazonal do escoamento
atmosférico nos centros de pressão e da posição da ZCIT. As Linhas de Instabilidade são
mais freqüentes ao norte do Equador no inverno e primavera do HS, embora as mais
intensas ocorram, em geral, ao sul do Equador, durante o verão e outono do HS, quase
sempre associadas à intensa atividade convectiva da ZCIT. Nos meses em que não há
desenvolvimento da linha convectiva na costa Norte-Nordeste do Brasil, a ZCIT está
deslocada para a sua posição mais ao norte ou há forte convergência na parte oeste do
continente produzindo movimento subsidente e ausência de precipitação na costa Norte-
Nordeste do Brasil.
Embora o desenvolvimento das LI associadas à brisa marítima sejam
dependentes da localização e intensidade de sistemas sinóticos, tal atividade convectiva
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pode, em alguns casos, formar-se isoladamente sob influência apenas da diferença de