Jan 24, 2016
1. A ARTE COMO OFICIO - Bruno Munar;
2. 0 DESIGN INDUSTRIAL E A SUA EsnTICA - Gillo Dortles3. ARTISTA E DESIGNER - Bruno Munar;4. APRENDIZAGEM DA FOTOGRAFIA� INICIACI\O - Miahael Longford
5. DESENHO DE PERSPECTIVA - Robe" W. Gill6. OESENHO BASICO-As OinAmicas�da Forma Visl;Ial-Maurice de Sausmarez7. PRDJECTAR A CIDADE MODERNA - L. Benevolo. Tommaso Giura Longo ..
e Carlo Melognni . , .' , ,-,,,_;,,_�;,;�:,,,,,,--��'L'::�,;j"��1ii�<";::,_::,\_,>�"HAPRENDIZAGEM DA FOTOGRAFIA- APERFEICO�MENT.o -Miah8elLa!1li'oi:<:li:i"+�� ':"r .. ' .'."FAfolTASIA. InvenQ.B!'I:- ,C;"rialividad�e,:, ImagI�8fi.��,�,�;._,:::,,���,;�:.:����n�:;�i7t����:#�i�-�:?;�.-'-. '.�:;' - AS. ORIGEN$.DAURBANISTICA. MODERNA,""'O"8rdc)�Benevolot"-:"''('t,�'''''' " .
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COLECCAO DIMENsoES
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LEONARDO BENEVOLO
•
as orlgens
da urbanfstica
moderna
•
EDITORIAL PRESENCA L1VRARIA MARTINS FONTES
BRASIL
•
PORTUGAL
A republica dos iguais, esse grande
albergue aberto a todos os hornens.
Do Manifesto dos Iguais. 1796.
Titulo original LE ORIGINI DELL' URBANISTlCA MODERNA@ Copyright by Gius. Laterza & FigH - BariTradU/;io de Conccil;8.0 Jardim e Eduardo L. Nogueira
Reservados todos os direitos
para a lingua portuguesa A
EDITORIAL PRESENCA, LOA.
Rua Augusto Gil, 3S.A - 1000 LISBOA
I. _", " _:.::i&"qff>.,..'"%;y-rw.tzfii.::t(f-7z'fi.....'r�7t'refi'ti-Y --�p T 7" �;., 't" ','me. sog l'tp'fti'TttnnrC1fflitiw-i �._�... --..�------�
�.
PREFACIO
A urbanistica moderna nlio surgiu contemporaneamente aos
processos tee-nicos e econ6micos que deram origem e implicaram
a transfornuu;ao da cidade industrial. mas formou-se posteriormente,
quando os efeitos quantitalivos das transforma�oes em curso se /or
naram evidentes e entraram em con/lito entre si, lornando inevitavel
uma intervenfBo reparadora.
Ainda hoje a tecmea urbanistica se encontra normalmente
atrasada relativamente aos aconlecimenlas que deveria contralar e
conserva 0 cardcter de urn remedio aplicado a posteriori. Torna-se
por isso importance estudar as primeirar experiencias urbanis/icas
apUcadas 00 ambiente industrial, para descobrir 0 motivo do alraso
{nidal.
o presente ensaio tern 0 prop6sito de por em evidencia, em
primeiro lugar, a dupla origem. teenica e moralista, dessas expe
riencias, e prop5e-se reconstruir paralelamente os dais tipas de mo.
vimentos dos primeiros refarmadares: as .transforma�oes econ6micas
e sociais que produziram os desequilibrios dos primeiros decenios
do seculo XIX. e as transformaroes da teoria politica e da opiniao
publica, para quem estes desequilibrios id nlia eram aceites coma
uma fatalidade inevildvel, mas se apresentavam coma obstdculos que
podiam e deviam ser removidos.
As primeiras tentalivas para corrigir os males da ddade indus
trial polarizaram-se em dois casos extremos: ou se defendia a ne
cessidade de recomefar do principio, contrapondo a cidade existente
novas formas de convivencia ditadas eXclusivamente pela teoria,
DU se procurava resolver os problemas singulares e remediar os
inconvenientes isoladamente, sem ter em canta as suas conexoes
e sem uma vislio global do novo organismo citadino.
Ao primeiro caso pertencem os chamados ut6picos - Owen,
Saint-Simon, Fourier, Cabet, Godin - que nao se limitam contudo
9
(
a descrever a sua cidade ideal. como Moro. Campanella ou Bacon,
mas se empenham em p6-kJ em pratica; ao segundo caso pertencem
os especialistas e funcionarios que introduzem na cidade os novos
regu/mnentos de higiene e as novas instokJ,Des e que. tendo deencontrar os meios tecnicos e juridicos para levar a cabo estas
modifica,Des. doo efectivamente inicio a modema legisla,oo ur
banis/iea.
A maior parte destas iniciaJivas, mesmo as aparentemente mais
tecnicas. possuem um fundo ideol6gico faci/mente reconhecive/. que
coincide em larga medida com os prim6rdios do socialismo modemo.
de tal modo que para encontrar noticias des/cs acontecimentos
convem consultar os manuals de hist6ria econ6mica e de his/aria
do socialismo, mais do que os livros tecnicos especializados.
Esta coincidencia s6 e porem verdadeira ote 1848, enquanto
o movimento operario nlio es/a ainda organizado contra os partidos
burgueses; de facto, nas experiencias urbanisticas deSle periodo con
fluem diversas correntes ideo/6gieas, desde 0 comunismo igualitd,io
de Cabet aD neocatolicismo trances.
Marx e Engels imprimem seguidamente aD movimento operaria
a viragem decisiva, e 0 socialismo marxisla, empenhado em explicar
a revolur;lio de 48 e 0 seu insucesso em termos estritamente p0
liticos, poe em evidencia as contradir;oes dos movimentos anteriores.
mas perde de vista a interliga,oo entre as instancias politica e
urbanistica, que apesar de formulada de um modo simplista fora
ate ai tenazmente mantida.
De ai em diante. a teoria politica menospreza quase sempre
as investigar;oes e as experiencias sectoriaf!, esjorr;ando-se por absor.
ver, sem deixar residuos, as propostas de reformas parciais na reforma
geral da sociedade, Por seu [ado; a cultura urbanisrica, isolada do
debate politico, configura-se cada vez mais coma uma simples tecnica
ao servir;o do poder constituido; mas nao se torna por isso politi
camente neutra, caindo sim no dmbito da nova ide%gia conser
vadora em jormllfao precisamente nesses anos, do bonapartismo em
Fran,a, dos grupos tcrics inovadores em lnglaterra. do imperialismo
bismarckiano no A lemanha.
Daqui deriva a fei,oo agn6stica e subaltema das principais
experiencias urbanislicas posteriores a 48. por tras da qual se esconde
o paternalismo politico da nova direita,
Esta e a tese central do Iivro. que contem ainda uma pista
para 0 debate contemporaneo, As instancias renovadoras da cultura
urbanistica moderna s6 podem efectivamente traduzir-se em realidade
se retomarem 0 contacto com as for,as politicas que tendem para
uma transformar;oo geral analoga da sociedade,
o debate cultural dos ultimos trinta anos ensinou a reconhecer
o conteudo politico virtual das op,Des urbanisticas. mas este reco
nhecimento manter.se.a apenas no dominio te6rico enquanto vigorar
o conceito da urbanistioa coma um campo separado de interesses,
que deve depois ser rekJcionado com os de natureza politica. 0 que
constitui justamente a heran,a actual da separa,oo entre os dois
termos operada em 1848,
Owen e Chadwick, se bem que apegados a uma ideia primi
tiva da pkJnifica,oo urbanistica. moslram-nos esta simples verdade:
que a urbanistica e uma parte do politica. necessaria para concre
tizar qualquer programa operalivo e simultaneamente nao redutive/
as f6tmulas programaticas gerais.
Para me/horar a distribui,oo territorial das actividades huma
nas e necessaria melhorar as rela�oes econ6micas e sociais de que
dependem essas actividades; por outro kJdo, noo basta me/horar
as rela�6es econ6mfcas e sociais para que as espaciais jiquem auto
maLicamente corrigidas.
Os tempos e os modos desta acr;1io sao infinitamente mais
complexos do que Owen poderia supor. mas 0 objectivo estabelecido
pela sua utopia continua ainda vdlido para os pIanos urbanistieos
contemporaneas: «Encontrar uma c%ca�lio vantaiosa para todos,
num sistema que permita a continullflio do progresso tecnico de
modo i1imitado».
Na Hist6ria da Atquitectuta Moderna tentei jd uma breve
reconstilui�lio destes acontecimentos. Fui induzido a vo/tar ao dis
curso de entdo, ndo por uma exigencia dialectica, talvez prematu
ra, mas devido a algumas experiencias recentes que tornaram ur�
gente a defini,oo de uma nova rekJ>oo entre urbanistica e politica.
e por conseguinle entre plani{ica,oo espacial e planifica,oo socia
-eeon6mica. Creio, a/em disso, ter indivldualizado a principal fra�
queza daquele discurso, isto e, 0 omisso con/ronto entre os aeon
tecimentos urbanisticos e arquitectonicos e a profunda transforma
,!io da conjuntura politica entre 1830 e 1850, e sobretudo a crise
de 1848, 0 esclarecimento dodo nestas paginas rectifica. a meu ver,
inclusive a exposi,oo dos acontecimentos do final do seculo e per
mite uma me/hor compreenslio dos movimentos de vanguarda de
Morris em diante, Deste modo. toda a Hist6ria da Arquitectura Mo
derna se poderia rever deste ponto de vista.. sem qualquer melindre
para 0 autor, uma vez aeeile 0 cardcter provisorio de um discurso
hist6rico que entra em Iinha de conta com os prop6sitos operativos
do nosso tempo; isto indica apenas que as candi,Des do nosso tra
balha mudam a todo 0 momento, exigindo uma continua revisdo
das nossas concep,Des sobre 0 passado recente.
[ 1963]
10 11
I
A FORMA<;:AO DA CIDADE INDUSTRIAL
A hist6ria da urbanistica moderna e, numa primeira fasc, uma
hist6ria de simples factos: as mudancas produzidas gradualmente pela
revolu��o industrial nas cidades e nos campos s6 mais tarde suclaramente e sao percebidas como problemas, Quando as Quantidades
em jogo se tornam sufIclentemente grandes.
A prlmeira mudan,a declslva e 0 aumento de popula,ao, devido a diminui,ao da taxa de mortalidade que, pela primeira vez,
se afasta decididamente da de natalidade'. Este mecanismo de
1 A. populal;io inglesa comer;a a aumentar rapidamentc, a partir de
1760. Os calculos modernos, baseados nos numeros de entcrros e de baplismos,
estabelecem que em 1700 a populat;:io da Inglaterra e do Pais de Gales era
de doco milh6es e meio, e cm 1750 de seis milhoes e meio: mas em 1801,Quando se raz 0 primeiro recenseamento. ja subira para nove milhoes, Cem 1831 paracatorze milh6es. Sabe-se, por outro lade, que a natalidade_ ap6s urn leve aumento nos quatro primeiros decenios do seculo dezoitose mantem praticamente constanle em todo 0 periodo. corn urn indice vari4velde 36.6 a 37,7 poT mil, e nlo parece que a imigra�io de outros paises tenhasido consistente, mantendl>se certamente inferior a emigrac;io para as colonias.Em contrapartida a mortalidade, alta ate 1740 devido as car�ncias e aoalcoolismo, diminuiu gradualmente de 35,8 por mil no decenio de 1730-40para 21,1 por mil no decenio de 1811.21. Entre as causas desta diminuicao.Ashton enumera a lntrodu�io das culturas de tuberculos, que facilitou acria�io do gado no lnvemo e tornou possivel 0 reabastecimento de came(resca durante todo 0 ano; a substituicio dos outros cereais pelo trigo e 0maior consumo de verduras; 0 melhor asseio pessoal. devido ao maior consumode sablo e de roupa branca de algodio; a substitui�io da madeira peto tijolopara as paredes. do colmo pela ard6sia e pela pedra para os tclhados das casas:a diminuil;a.o dos fabricos industriais que se praticavam denlro das paredesdomesticas; os progressos da medicina e da cirurgia. 0 aumento dos hospitaise dos dispensarios;' a localiza�io mais facional dos dep6sitos de lixo e doscemiterios; 0 melhoramento dos esgotos e dos aquedutos nas cidades (Cr.T. S. ASHTON. Industrial R�l1olution).
13
;... •.
!
creSGimcnto da meSTe odgem a uma mudam;a da composiciio Jo\J��-OS: era 0 trabalho industrial, sobretudo 0 tcxtil, que desde ha muito
lnterna- aumenta a percentagem da populacao jovem, pela queda � estava organizado nos campos, nos domicllios. dos camponeses. Masa mortalidade infantil-' e t, 0 secular eqUili-t»/Il(» �- a antiga organiza9iio familiar, no ilmbito da qual as opera90es debno as circunstilncias nat 1 ual cada era9ao tendia a <.\ 'PI>. fia9ao, tecelagem e tintura eram realizadas pela mesma familia, que
ocu ar 0 lu ar das recedentes e a repetir 0 seu destino. suces-. L>ir� comprava a la bruta e vendia 0 produto acabado, era demasiado
s,vas geracoes encontram-se numa nova sltua9ao e tern e reso ver i?J--:r--' estatica e improdutiva para fazer face a procura de urn mercadocorn novos meios urn problema desconhecido. _._-... �. em continua expansao; por isso, os comerciantes preferiam fornecer
medida que aumenta 0 numero dos habitantes, muda a sua a materia-prima e receber 0 produto acabado, pagando 0 trabalho
distribui9ao no territorio como efeito das transforma90es economicas. feito por empreitada, podendo as diversas opera90es ser confiadas
As primeiras transforma90es dizem sobretudo respeito a organiza9ao a diferentes grupos de operarios especializados.
do trabalho, criando as premissas para uma mudan9a completa na Esgotadas porem as margens de malor. produtividade facul-
tecnica produtiva, que se reflecte il Sua volta sobre a organiza9ao tadas por este sistema, as exigencias da concorrencia impunham
acelerando 0 desenvolvimento e a eoncentra9ao do novo sistema uma ulterior diminui9ao dos custos e urn aumento das quantidades,
econ6mico. Por este motivo, a mudan9a da distribui9ao da popula9ao tendo estimulado uma serie de inven90es tecnicas que mudaram
provocada pelas primeiras transforma90es organizativas e acentuada radicalmente as condi90es de trabalho.
pelas inova90es t6cnicas, assume 0 caracter de uma verdadeira crise, Os teceloes usavam a maquina inventada em 1733 pelo relo-alterando bruscamente 0 antigo equilibrio entre cidade e campo joeiro J. Kay (fly shuttle), que permitia que cada operario traba-
e cnando novas tensoes que so a longo prazo se poderao reequilibrar. lhasse sozinho no tear sem 0 auxilio de urn ajudante que estendesseMas convem acompanhar ponto por ponto os efeitos das trans- os fios; a produ9ao continuava porem limitada, pela impossibilidade
forma90es economicas sobre 0 povoamente urbana e rural que se de produzir fio em quantidade suficiente, ate que em 1764 0 car-
delinearam em Inglaterra entre 1760 e 1830. pinteiro Hargreaves inventou urn novo tipo de maquina de fia9ao
A veda9ao[enclosurej* das antigas terras comuns em redor das (jenny) que tornava possivel a urn sO operario manobrar mais fios.
aldeias inglesas torna possivel uma melhor utiliza9ao do solo e trans- A jenny e a fly shuttle entraram assim nas casas rurais dos
forma gradualmente os cultivadores directos em rendeiros ou assala- distritos lanigeros e algodoeiros, modificando 0 ritmo de vida de
riados, coagidos a urn nivel de vida for9ado. pouco superior ao minimo cada componente valido da famnia. Mas a quantidade de fio e de
necessario para sobreviver'. A alternativa para este estado de coisas tecido produzido por cada maquina era necessariamente limitada pela
energia que 0 trabalho muscular permitia imprimir; para ir mais
alem era necessario substituir 0 bra90 do homem por urn impulso
rnecanico.
Em 1771, um barbeiro de Preston, R. Arkwright, inventou a
primeira maquina de fia9ao movida a energia hidraulica (water
frame). e em 1775 0 tecelao S. Crompton come90u a experimentar
uma maquina mais aperfei90ada, resultante de uma combina9ao
da jenny corn 0 novo tear a agua.
Estas in,-en90es deram il fia9ao uma vantagem temporaria
sobre a tecelagem, ate que em 1778 0 reverendo E. Cartwright
inventou a primeira tecedeira meclinica; pouco depois, entre 1785
e 1790, descobriu-se uma forma de substituir a energia hidrliulica
recorrendo.il maquina a vapor de Watt, patenteada em 1769.
A industria textil tinha portanto de abandonar a antiga orga
niza9ao dispersa e concenlrar-se em grandes oficinas onde pudesse
dispor da necessaria for9a motriz, primeiro proximo dos cursos
de agua e depois das minas de carvao, necessarias para alimentar
• Ernparcelamento e veda(:io das terns comuns, que passam a ter pro
prietario individual [N. T.}.
2 Em 1795. 0 subsidio que a rregucsia devia pagar aos trabalhadores
necessitados roi estabelecido pela Spetnhamland Resolution, determinando queeada ramOia tem direito a urna retribui�io minima, em con{orrnidade corno pre�o do plo, e que a freguesia deve completar 0 sahirio real ate llquele
nivel: «Quando urn peda�o de pio de urn gal30 custar urn "elirn. entio cadahomem pobre e laborioso recebera para a sua subsistcncia tres "elins !:'Cmanais.
ou atraves do seu trabalho e do da familia. ou do subsidio aos pobres. e parao sustento da sua mulher ou de qualquer outra pessoa da familia reeeber! um
"elim e seis pence. Quando 0 mesrno peda�D de pia custar um xelim e quatropence, entio cada homem pobre e laborioso recebera quatro xelios semanais
para 0 seu S'Ustento e um xelim e dez pence para 0 de urn outro membro
cia sua famnia. E assim por diante proporcionalmente ... «(cit. em Th� VillogtLabourer. J. L. e B. HAMMOND, London 1911, p. 139).
Oeste modo, 0 subsidio 80s pobres serviu. ate 1834 - quando 0 sistema
foi abotido- para manter os sal8rios agricolas baixos. assegurando aos tra
balhadores 0 minima vital mas excluindo Quatquer rnelhoria da sua condi�io.
14 15
Figura 1: A aldeia de BalseoU (Oxfordshire) em 1768. corn os terrenos co-
muns dados em coneesslo em pequenos lotes (em T. SHARP, English Panorama).Figura 2: A mesma aldeia ap6s a vedacio [emparcelamento] dos terrenoscomun, (em SHARP).
16 17
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a maquina de Watt. Por sua vez, a maquina a vapor permitia resolverdefinitivamente 0 problema da elimina�lio das infiltra�oes de aguanas minas, .revolucionando a tecnica de extrac�lio do carvlio etransformando a pr6pria mina numa oficina moderna.
No mesm<> periodo tornou-se de uso comum a inven�lio de
Darby que substituia <> carvlio vegetal pelo coque, na labora�liodos metais ferrosos, e em 1783 H. Cort descobriu a maneira deutilizar 0 carvlio nos processos de pudlagem e de laminagem; a si
derurgia tornou-se apta a alimentar a industria medinica nascente,
e ate as fundi�oes, como os altos fornos, se deslocaram das regioesde floresta para as regioes mineiras, favorecendo 0 nascimento de
grandes instala�oes de tratamento completo.Assim, consumaram-se durante uma unica gera�lio, entre 1760
e 1790, os progressos tecnicos que tornaram possivel urn aumento
ilimitado da produ�lio industrial'; 0 desenvolvimento das industrias
e a sua concentrar;3.0 em grandes oficinas at'rairam muitas familias
dos distritos agricolas do Sui para os distritos mineiros do Norte
e do Centro, e transferiram-nas das casas isoladas do campo para
os bairros compactos construidos nas proximidades das oficinas; nas
ceram assim, improvisadamente, novas cidades, e muitas das cidades
antigas cresceram desmedidamente'.
A associa�lio entre industria e cidade depressa se consolidou:
nas novas cidades, que se desenvolveram fora do sistema tradicional 117
dos burgos e freguesjas empresarios e operarios po�Iaos vinculos anacr6nicos do sistema corporativo isabelin"g; os empre� '.sarics contavam corn urna reServa de mao-de-:obra sempre sbun.dante e substituivel, enquanto os operaTios, se bem que cruelmente
explorados pelos novas pat roes, encontravam na cidade uma maiorvariedade de escolha e uma possibilidade de reconhecer-se coma
c1asse, de se organizarem em defesa dos interesses comuns�.
3 A produ�io de ferro passou de 17 000 toneladas em 1140 para
650000 em 1830; a industria do algodio trabalhava em .1164 (quando a jenny
roi descoberta) 8800 000 Jibras peso por ano, que aumentaram em 1115
- corn 0 aparecimento do tear a vapor - para 18 milh6es. em 1810 para
123 milhoes, e em 183Q para 273 milhOes de libr.. (er. C. BARBAGALLO.
Le Origini d�/a Grande Industria Contemporanea. F1oren�a 1951).
... Manchester, que em meados do seculo XVIII era uma aldeia de
12000 habitantes, transforma-se em 1800 numa cidade de 95000, e em 1850
atinge os 400 000 habitantes; entre meados dos anos 700 e dos anos 800,
Glasgow passou de 30 000 para 300 000 habitantes, e Leeds de 11 000 para
170000. Em Fran�a, Mulhouse passou de 10000 habitantes em 1812 para
36000 em 1836, e Roubaix de 8000 em 1816 para 65000 em 1866 (er. P.
LAVEDAN, Histoire de l'Urbanisme, vol. Ill, Paris 1958).
$ As primeiras associa�6es operarias, surgidas coma antitese das cor
pora�6es tradicionais, incorrem nas praibic;6es da lei francesa de 1191 e da
inglesa de 1800, revogadas respectivamenle em 1813 e em 1824.
Figura 3: Urna parte da perireria de Nottingham. onde 0 loteamenta privado
aeampanha a trac;ado da veda�ia (er. w. C. HOSKINS, The Making of
English Landscape).
18 19
OfI�&�'>;11>",,&
.���i liq: �t
--:--=�.�-_:�_.::-.-=-,:::,.;.::.==_::=.. =.::..=::..;;:;.::;.==========.="'�==='-..." ...''''''''-----------�----- --.--_..,--_.---�
Entretanto, devido as exigencias do comercio e especialmente
para 0 transporte das mercadorias pobres e pesadas como 0 carviio
e os minerais ferrosos, foi renovada a rede das vias de comuni.Ca9iio; as incomodas estradas das freguesias foram substituidas depois
de 1745 por novas estradas corn portagem, construidas por corn.
panhias privadas; os estuarios e 0 curso dos rios navegaveis foram
ligados por novoS canais ap6s os anos 60; outras companhias pri.vadas organizaram nas estradas e nos canais urn servi90 regularde diligencias e de embarca90es para 0 transporte de passageiros
e de mercadorias. Em 1767, R. Reynolds constroi 0 primeiro cardl
em ferro fundido para 0 transporte de carviio, e em 1801 entrou
ao servi90 a Surrey Iron Railway, a primeira empresa ferroviaria
para 0 transporte de mercadorias; mas so depois de 1825, a seguir
a inven9iio da locomotiva de Stephenson, se iniciou 0 desenvolvi
mento dos caminhos de ferro, marcando assim decisivamente os
decenios seguintes.
E em fun9iio da nova: rede de transportes e do movimento
comercial sempre em expansiio que convem interpretar 0 cresci.
mento sem precedentes de algumas cidades, para onde convergiam
as vias comerciais e oode se concentravam as alavancas de comancto.
financeiras e administrativas, da nova economia; no final dos aoes
700, Londres tinha ja urn milhiio de habitantes, e em 1841 estes
eram avaliados em 2235000, superando qualquer outra cidade pre.
sente e passada.
Este conjunto de transforma90es originou a mudan9a de do.
micilio e de modo de vida da maior parte da popula9iio inglesa.
e modificou a utiliza9iio do solo e a propria paisagem. E totalmente
nova a natureza dos fenomenos - a multidiio dos habitantes, 0 nu.
mero de novas casas. a capacidade das novas zonas industriais e
comerciais, os quil6metros de novas estradas e canais, 0 numero de
veiculos que circulam nas esiradas da cidade - e a velocidade dastransforma90es niio tern precedentes: cidades que nascem e duplicam
numa gera9iio, iniciativas especulativas que se concretizam pronta.
mente em estabelecimentos, estradas, canais e minas abertas em
poucos anos na paisagem agreste, altos fornos e chamines apon.
tadas para 0 ceu ao lado das torres das catedrais.
.A cultura politica e economica da opaca 0 tocada nlio tanto
,por �uilo que de novo se coostr6j mas pela queda das estrutura'i
.tJjdlclonals, e teoriza sobretudo a oposiciio aos vinculos e institujsw
-9,ue impedem a Jjvre expansio das novas inicia,tivas.
Os reformadores politicos usam a critica r,;;;on"l para demoliros privilegios do absolutismo, da hierarquia social, do dirigismo eco
nomico, e enquanto estudam corn cuidado as garantias do cidadlio
Figura 4: A aldeia industrial de Sunny Brow, Durham (em SHARP).
20 21
1,1
.-.....--::":_ .. _�.'''' .__ .; _.-.::.._.�-� . .:: ."' _.�:..:..�..._ .........--.:...:;
,
contra os abusos da autoridade, deixam na sombra 0 tipo de orga
niza9iio do novo Estado, concebido de preferencia coma urn espa�o
vazio onde 0 individuo e 0 poder publico se confrontam directa
mente, abstraindo de qualquer estrutura intermedia que perturbe essa
rela9iio: a realiza9iio do ideal democratico parece de facto condi-� I>.S fJ'III.'IJ,) �IAcionada a absor9iio de todas as «sociedades parciais» pela «republica» <ps T�l<"-S .so"""" A
soberana'. �"""Y'" E!>""'�.
Esta posiciio tearica, enquanto cp!oca em primeiro pIano os \.'V�.'> � ",,\>OM S"problemas politicos gerajs e cooStilucjooajs, menospreza os pro. f-Eb1Q.iNe� 0. 1'lZ.O�
I or anIzativos sectoriais ou redu-' -es dos po;.. ....e<>S NAS b""� "1lIC,
enunciados te ncos geralS. /off), 'l�� �.s-Qualquer dlhculdade encontrada, relacionada corn a sobrevi-"", ''fi'�I�p..I(N).
vencia de alguma institui9iio tradicional, favorece a forma9iio de
teorias que excluem qualquer forma de interven9iio publica nesse
sector. Durante a fome de 1797, Malthus enuncia a sua leoria da
popula9iio, demonstrando a inutilidade de qualquer lei para a ass is-
tencia aos pobres, e em 1817, durante a depressiio do pas-guerra.
Ricardo publica 0 seu tratado de economia politica defendendo a
aboli9iio dos impostos e das alfandegas.
Assim, enquanto 0 pensamento liberal consegue levar a re
m09iio das velhas restri90es legais e consuetudinarias - 0 que na
Europa e na America se realiza quase completamente entre 1776
e 1832 - as cidades e os campos permanecem praticamente privados
de controlos urbanisticos adequados.
A parte mais progressiva da cultura econamica e politica
persuade os governos e a opiniao publica a nao interferirem, e
porlanto a nao reconhecerem os problemas derivados das transfor
mac;oes em curso no territario; desacredita e enfraquece os metodos
tradicionais de controlo urbanistico, sem propor outros metodos em
alternativa, . do pelo contritrio nesta materia uma absurda
extensiio d laisse� laire (Adam Smith aconselha 0 governo a liber-
rose as propne a es do Estado para paga.r as dividas).
Os arranjos urbanisticos barrocos, sobretudo algumas realiza
90es da corte da primeira metade dos anos 700, antecipam as vezes
de modo sugestivo a dimensiio espacial da cidade moderna (podemos
imaginar as alamedas de Versailles transformadas nos boulevards de
uma cidade do final dos anos 800, do mesmo modo que a forma
radiada desenhada pelos jardineiros reais nos Campos Elisios vira
de facto a constituir 0 tra9ado da Etoile haussmanniana), mas man-
tern-se de facto estranhos a dimensao temporal que condiciona assim
doravantc, e decisivamente, 0 novo ambiente urbana.
I Bta e a terminologia de Rousseau no seu Contrat Social de 1762.
22
SCOTLAND
INGLATEARA E GALES
Princtpels CII'I&is • rios
no Inicio do lI6cuIo XLX
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Figura 5: A rede de rios e canais navegiveis ingleses em 1800 (cf. E. L.
BOGART, Historia Economica do Europo).
23
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Figura 6: Vista de uma cidade calolica em 1440 (cf. A. W. PUGIN, Contrasts, 1836)
A cidade antiga mudava assim tao lentamente que podia a
qualquer momento considerar-se imutavel por tempo indefinido. Con
ceber uma pra�a. urn quarteirao DU uma cidade inteira significava
impor-Ihe, de uma vel para sempre, uma forma arquitect6nica
precisa, dotada de margens suficientes para absorver sem modifi
cac;:5es os previsiveis crescimentos futuros; por outras palavras. signi.
ficava aplicar a uma realidade em movimento lentissimo a maior
aproximac;;ao passivel de uma imagem de facto invariavel.
Mas esta aproximal'ao toma-se cada vez mais dificil a medida
que aumenta a velocidade das transformac;6es, enquanto a cultura
liberal destroi a confianl'a na iniciativa autoritaria, da Qual depende
a possibilidade de levar a cabo, corn coerencia, este tipo de ope
ra,ao. Por isso, a partir de meados dos anos 700 - enquanto a ar
quitectura alingia por si propria 0 maximo apuramento no planea
menta dos espac;os monumentais e na sua harmonizal;3o corn a
paisagem ur:bana OU natural - diminui a coerencia executiva e a
capacidade de actuar duradoiramente, corn semelhantes meios, no
tecido da cidade.
Nas pral'as reais de Paris. a regularidade arquitectonica e
obtida impondo uma fachada uniforme a muitos edificios inde.
pendentes. Mas Luis XIII. que completa em 1609 a realiza,ao
da Place des Vosges. reserva para si proprio a propriedade dos
dois pavilhOes axiais. Sob 0 reinado de Luis XIV, Mansart constroi
(entre 1685 e 1699) apenas as fachadas da Place Vendilme e da
Place des Victoires. que sao vendidas aos proprietarios dos terrenos,
contribuindo eles proprios para a construl'ao de alguns edificios
circundantes, que foram executados em nipida sucessao. Para
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Figura 7: Vista de uma cidade cat6lica em 1840 (em PUGIN).
Luis XV, Gabriel constroi igualmente apenas as fachadas dosedificios de cabeceira da Place de la Concorde. e as dos ediiiciosao longo da Rue Royale (1755-63), mas os edificios da retaguarda
so foram complerados muilos anos depais. Finalmente, quanto a
Rue de Rivoli, os arquitectos de Napoleao I, Percier e Fontaine,
fomeceram em 1805 apenas 0 desenho das fachadas, que os cons
trutores individuais se comprometiam a executar.
Analogamente, muitos dos mais admirados arranjos do final
dos anos 700 em Inglaterra - 0 Circus e 0 Royal Crescent de
Bath (J. Wood, 1764 e 1769), as celebres squares londrinas de
Bloomsbury (I775-1827), e mais tarde Regent's Street em Londres
(1. Nash, 1812) - <;onsistem numa arqJljtect"ra uniforme sobreposta
a yma multidio de casas independentes: a simetria e a unidade
de ers ectiva Assam d meios de controlo estrutural a meios
oatrolo aisa istic 0 re rnamento e a elegancia destes ul-
timos produtos da tradll'ao classica encobrem a separal'ao agora
total relativamente aos problemas da nova cidade, e impedem de
facto qualquer contacto entre esta tradi,ao e 0 ambiente que se
vai formando por efeito da revolul'ao industrial.
, Enquanto a grande burguesia londrigna se reune nos ambientesrequintados de Bedford Place e de Russel Square, os miseniveis
bairros orientais crescem compactos, sem pausa nem esperanc;a.
Rapidamente, a sua extensilo e os seus inconyenientes higjCnjc?s
Q,yseram em crise rode e cidade e foj necessaria conceber de ralz
UJDa nova metodp!ogia urbanistica sem qllaisqller ligacQe�oJll
'a antLl!3.-
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Figura 8: Paris. Place Vendome (vista do piano de Turgot. 1737). A prar;a.
foi projectada por Mansart entre 1685 e 1699. em honra de Luis XIV. mas
a panir de rinais de 1677 0 arquitecto associara-se a outros Hnanceiros para
adquirir e lotear os terrenos circundantes. Quando .os tccrenos Coram postos
i venda. Coi estabelecido que t(os compradores dos terrenos fronteiros i pra<;a
tomar-se-io proprietarios das fachadas que Sua Majestade rizer construir. e
poderio adquirir a extensao desejada. desde que nio seja inferior a duas
arcadas. Os compradores dos terrenos em redor da prac;:a e das ruas que a
circundam nio terao de pagar quaisQuer direitos por esta aquisi<;ao. salvo
os direitos senhoriais devidos aos anteriores proprietarios. segundo 0 decreta
do Conselho de Estado de 2 de Maio de 1686».
:::
Figura 9: Paris. Place de la Concorde (em R. AUZELLE. Encyclopedie de
rUrbanisme). Gabriel projectou em 1755 a decorac;:io da prac;:a, dedicada a
Luis XV. corn os arranjos ajardinados do lado das Tulherias e dos Campos
Elisios. a perspecliva para 0 Sena do lado do Palicio Bourbon. e as fachadas
dos dois edificios na embocadura da Rue Royale. As fachadas foram cons
truidas peLa autoridade cornunal e postas a venda do scguinte modo: «A Mu
nicipalidade encarregar.se-a da constrUl;ao das grandes fachadas na prac;:a e
da sua continuaclo para asruas: 0 terreno sobre ,0 qual se encontram tais
fachadas continuara a pertencer aos respectivos proprietarios, corn as fachadas
que a municipalidade cedera nas seguintes condic;:oes: 350 liras por braca
de coluoata. 300 por brac;:a de fachada de pedra. 250 por braca da continuacao
pelas ruas, com servenlia de passagem no pOrtico. que sera calculada para
tal em um quarto do valor do terreno» (1. INSOLERA. A spetti del Paesa.ggia
Urbana di Parigi. em «Urbanistica», n.' 32. p. 2l).
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Figuras 10 e 11: Bath, Queen's Square e 0 Royal Crescent (em AUZELLE).
John Wood iniciou a sua actividade de arQuitecto e empreiteiro em Bath,
precisamente corn 0 complexo de Queen's Square. Arrendou 0 terreno em
1724, par 99 aoos, e subarrendou os totes por 98 anos, deixando ao criterio
de cada um 0 interior dos edificios, mas impondo fachadas uniformes. A ope
ra�io roi repetida mais tarde no Royal Circus e, por seu filho John Junior, no
Royal Crescent (1769), Corn maiores dimensoes e exigencias arquitect6nicas
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Figura 12: Paris, Rue de Rivoli. A fachada foi desenhada per Percier eFontaine. ern 1806. e imposta a todes os ediricios do !ado setentrional da ruB.
Neste casa, a municipalidade farneceu apenas urn desenho, deixando a in i
ciativa privada lodos os encargos da construc;io.
Figura 13: Londres. os arranjos concebidos por John Nash para a Principe
Regente (em H. R. HITCHCOCK, Architecture. Nineteenth and Twentieth Cen.
turies). Nash iniciou 0 projecto em 1812. para valorizar urn grande terreno
de propriedade da Coroa; entre 1820 e 1830 foi fcito 0 parque publico - 0
Regent's Park - corn as casas circundantes. enquanto era aberta a nova rua
dc acesso a Picadilly Circus - Regent's Street - atraves de urn populosa Quar
teirlo. Nash construiu alguns dos ediricios em redor do parque e da rua,
actuando ainda coma empreiteiro privado, enquanlo em 1813. na qua
lidade de Superinlendente geral. teve a possibilidade de coordenar as iniciativas
dos outros empresirios e dos outros projectistas.
Nash teve a cotaboracio de Humphry Replon para os arranjos ajardi
nados. 0 conjunto de Regent's Park compreende ainda algumas vivendas
seohoriais isoladas e dois agregados de cottages. algumas em estilo c1assico e
oulras em estilo Tudor; as casas construidas ao longo dos lerTenOS perifericos
sio destinados i Brande burguesia, enquanto as casas ao tongo de Munster
Square sio acessiveis aos rccufSOS da clas.o;e media, e lodo a complexo e
servido por um mereado localizado Da margem oriental.
Assim. 0 parque e concebido quase coma urna cidade ideal. idnica
e abstracta. alheando-se dos verdadeiros problemas da cidade que se iam
agravaoda naqueles anos, como Chadwick se esforcava por demonstrar.
3031
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11
A EPOCA DAS GRANDES ESPERANCAS
(1815 -1848)
Quando em Junho de 1815 chega a Inglaterra a notieia da
vitoria de Waterloo, 0 alivio pelo final da guerra foi rapidamente
superado pelas preocupa90es relativas iI situa9ao intern.. agravada
par muitas dificuldades que 0 sucesso militar deixava inalteradas.
o velho Jorge III estava louco e as suas fun90es eram exer
cidas pelo corrupto Prineipe Regente. A politica externa era dirigida
pelo frio e impopular CasUereagh, que sete anos mais tarde se sui
cidaria perante a indiferen9a e a hostilidade dos seus concidadilos.
As despesas da guerra tinham causado uma progressiva infla<;ao,
duplicando quase 0 custo de vida entre 1790 e 1813; agora, 0 final
das restri90es de guerra colocava em crise quer 0 monop6lio dos co
merciantes ingleses nas rotas oceanicas, quer 0 monop6lio dos agri
cultores ingleses no abastecimento do mereado interno. 0 Parla
mento, dominado pelos proprietarios fundiarios, preparava-se para
aprovar a infausta lei proteccionista sobre 0 trigo que iria transferir
para os consumidores, e indirectamente para 0 custo da mao-de-obra
industrial, os encargos da crise agricola. 0 medo da Revolu9ao
Francesa transformara muitos conservadores Huminados, coma Burke,
em pregadores da violencia, e induzira 0 governo a reprimir corn
desusado rigor qualquer manifesta9ao nao conformista.
Entretanto, a revo!u9ao demografica e industrial transformara
ja radicalmente a distribui9ao dos habitantes no territorio, e as
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o capital investido sO podiam portanto ser aumentados reduzindo
os custos e baixando 0 mais possfvel 0 nive! das constru90es. Para
alem disso, a maioria das casas openuias de Manchester, de Leeds,
de Birmingham e dos suburbios de Londres fora construfda durante
as guerras napole6nicas, quando a madeira importada dos pafses
balticos come9ava a escassear, a mao-de-obra da constru9ao civil
se tornara mais dispendiosa e sobretudo as taxas de jura sabre 0
capita! aplicado iam subindo, mantendo-se altas ainda durante multos
anos ap6s 0 final do conflito. As condi90es do tempo de guerra
contribufram pois decisivamente para piorar a .qualidade dos novas
bairros.
Corn tudo isto, e provavel que as casas ocupadas pelas fami
lias operarias nas cidades nao fossem piores, consideradas uma a
uma, do que as casas do campo de onde essas mesmas familias
provinham em grande parte.
As paredes eram construidas em tijolo em vez de madeira,
e os telhados em ard6sia ou em pedra em vez de colmo; os quartos
cram mais acanhados, mas sem 0 estorvo e a poeiea das ffiaquinas
fiandeiras domesticas; os sanitarios estavam ausentes ou eram igual
mente primitivQs em ambos os casos.
A diferen9a e, em contrapartida, evidente, se se considerarem:
- os problemas derivados das rela90es reciprocas entre as
casas e os outros edificios, no corpo compacta da cidade industrial;
- a mudan9a de atitude dos habitantes relativamente aos in
cornados que sao constrangidos a suportar.
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IFigura 14: Glasgow, uma casa superapinhada ainda existente em 1948 (do
dournal» do Royal Institute of British Architects, 1948).
carencias dos novos locais de fixa<;ao come<;avam a manifestar-se
em larga escala, na ausencia de providencias adequadas.
As ramilias que abandonavam 0 campo e aFluiam aos aglome
rados industriais ficavam alojadas nos espa90s vazios disponiveis
dentro dos bairros antigos. ou nas novas constru,oes erigidas na
perireria, que depressa se multiplicaram formando bairros novas e
extensissimos em redor dos nucleos primitivos.
A constru9ao das novas casas ou a adapta,ao das existentes
era obra de especuladores privados - os ;erry builders - e, devido
ao jogo da concorrencia, a qualidade dos alojamentos, tal como
o valor dos salarios ou a extensao dos horarios de trabalho na oricina,
era quase em toda a parte a pior que as familias operarias estavam
dispostas a suportar. Os alugueres podiam variar apenas dentro de
Iimites muito estreitos, nivelados pelo mfnimo compativel corn a
sobrevivencia dos vendedores de for9a de trabalho; os lucros sobre
. As carencias higienicas relativamente suportaveis no campo
tornam-se insuportaveis na cidade, pela contiguidade e 0 numero
enormissimo das novas habita90es.
Enquanto cada casa tinha muito espa90 a sua volta, os de
jectos Ifquidos e s6lidos podiam ser eliminados corn facilidade, e
as diversas actividades que se realizavam ao ar livre - cria,ao dos
animais, trafego dos peoes e dos carros, os ;ogos das crian,as
podiam processar-se sem interrerirem demasiado entre si. Mas agora,
o adensamento e a extensao sem precedentes dos bairros operarios
tornam quase impossivel 0 escoamento dos detritos; ao longo das
ruas correm. os regos dos esgotos a descoberto, e qualquer recanto
arastado esta cheio de amontoados de imundfcies. Nos mesmissimos
espa<;os, promiscuamente, circulam os carros e os peoes, vagueiam
os animais, brincam as crian<;as.
3435
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Os bairros de habita�o sao construldos preferencialmente pr6
ximo dos locais de trabalho, pe10 que as casas e as oficinas ficam
amilido em contacto, alternando-se sem qualquer ordem e pertur
bando-se mutuamente. As oficinas impregnam as casas de fumo,inquinam os cursos de agua corn residuos, enquanto 0 trafego
industrial e penosamente tolhido pelo trafego residencial.
Este quadro ca6tico vai sendo continuamente alterado pelo
dinamismo dos seus pr6prios factores: as oficinas transformam-se
e arnpliam-se, as casas sao demolidas e reconstruidas, as orlas da
cidade avan�am para 0 campo sem se ordenarem num equilibrio
definido.
Eis a classica descri�ao de Manchester feita por Engels em
1845, utilizando muitos dados dos inqueritos e dos estudos efectua
dos nos decenios precedentes:
{Na cidade velha] as ruas. mesmo as melhorcs. sao estreitas e lor.
tUQsas, as casas sio imundas, velhas, a cair, e 0 aspecto das ruas laterais
e absolutamente horriveL Chegando a Long Millgale peta Igreja Velha. tem.se
logo A direita urna nia de casas antiquadas. nas quais nem urn. 56 das paredes
frontais se maoleve de pC: s10 os restas da velha Manchester pre.industrial.
cujos antiges habitantes se transreriram com os sew descendentcs para bairros
melhor construidos, abandonaodo as casas, que para eles se tioham tornado
demasiado miseraveis, a urn. casta de operarios rortemente mesclada de sangue
irlandes. AQui encontramo-nos realmente num bairro Quase manifestamente
openirio, vista que nem as lojas nem as tabemas se dio ao trabalho de
mostrarem urn pouco de asseio. Mas isto ainda nio e nada comparado corn
as vielas e os pitios que se estendem par detras, e aos quais ilpenas se chega
por meio de estreitas passagens cobertas atraves das quais nao passam nem
duas pessoas ao lado uma da outra.
E dificil imaginar a mistura desordenada das casas, escarnecendo de
qualquer urbanistica racional, 0 seu apiohamento, de tal ordem que se en
contram literalmente em cima uma das outras. E a culpa oio e somente
imputavel aos edificios sobreviventes dos velhos tempos de Manchester: em
tempos mais recentcs a confusio roi levada ao maximo. pais onde quer que
houvesse urn bocadinho de espaco entre as construc;Ocs da epoca precedente
continuou-se a construir e a rernendar, ate arrebatar entre as casas a ultima
unha de terreno livre ainda suscepdvel de ser utilizado. A prova�lo. apre
sentamos uma pequena pane da planta de Manchester; nio e sequer a parte
mais chocante e n10 representa nem urn decimo de toda a cidade velha.
36
-;--- .._--_._----- -...
Extensio • anln de 1&Q I!i!!!!!I de 1&Q a 1920
D_e_ tPChe.-
_ ""'"" ....... --Unhe .....
o de 1920 • 1940
� CanallNIitimo
Figura 15: 0 crescimento de Manchester (em P. GEORGES, L�s Yille�).
37
--
Figura 16
terrificantc das condi�6es deste patio naqueles tempos. Desde entaa, parece
que al8uma coisa Coi demolida e reconstruida; pelo rrienos, da Ducie Bridge
vCem�se ainda atgumas parcdes em ruinas e altos mont6es de entulho ao
lado de casu de construcao recente. A vista desta ponte - dclicadamente cs.
candida dos mortais nio muito altos por um parapeito de pedra e cal da
altura de urn homem - e em geral caracteristica de loda a zona. Em baixo
carre. ou melhor, estagna 0 Irk, urn rio estreito. escuro. fedorento, cheio
de imundicies e de detritos que atira para cima cia mat"gcm direita, mais
plana: corn 0 tempo seea. esta margem fiea coberta de repugnantes pocas
lamacentas, esverdeadas. de cujo (undo saem cootinuamentc ate A 5uperficie
bolhas de gas (elido que difundem urn mau cheiro intolerivcl ate para quem
est! sabre a pante, quarenta ou einquenta pes aeima do n{vel da 'cua. Para
a16m disso, a eada passo 0 rio 6 interrompido por altos diques, dentro dos
quais se depositam e apodreeem em grandes quantidades 0 lodo e os detritos.
Acima da ponte fieam grandes oficinas de curtumes, e mais acima ainda
tinturarias, moinhos para pulverizar ossos e gasOmetros. cujos eanais de escoa
menta c detritos desembocam todos no Irlc, que recehe ainda 0 contel1do dos
esgotos e latrinas vizinhos. E facit imaginar, partanto, qual a natureza do!
dep6sitos que 0 rio eneerra. Aos pes da ponte vc..se 0 entulho, a imundicie.
a sujidade e as ruinas dos pAtios que dio para a ingreme margem esquerda;
as easas sucedem-se imediatamente umas as outras e, devido a inclina.;lo da
margem, consegue ver-se urn bocado de cada uma: todas negra.. do fuma.
desfeitas, velhas, COrn os caixilhos e os vidros das janelas em peda.;os. 0 fundo
6 constituido por velhos estabelecimentos industriais semelhantes a quart6is2.
[ •.. JA cidade nova estende-se depois da cidade velha, sobre uma colina ar
gilosa entre 0 Irk e St. George's Road. Aqui desaparece qualquer fisionomia
de cidade; filas de isoladas casas ou grupos de ruas encontram�e dispersas
aqui e acola comopequenos aglomerados, sobre 0 desnudado terreno argiloso
onde nema erva cresce; as casas, ou ante!:, as cOl/ag�s. encontram-se cm
estado degradado, sem nunca tcrem sido reparadas, sujas, corn quartos em
caves humidas e insalubres; as ruas nio sic pavimentada� nenl po$Suem
canais de escoamento. mas albergam inumeras col6nias de porcos, fechados
em pequenos pa:tios e chiqueiros ou percorrendo Iivremcnte a encosta. Estas
ruas sio tio I.macentas que somente quando 0 tempo est' muito seco se
tem alguma possibilidade de as atravessar sem afundar os pes ate ao tomozelo
a cada passo. Nas vizinhanc;as de St. George's Road, as i1has de casas tomam-se
mais densas, e deparamos corn uma serie interminavel de caminhos, becos,
ruelas secund'rias e patios, cada vez mais numerosos e desordenados a medida
que nos vamos aproximando do centro da cidade. Em compensa.;ao, tomam-se
mais frequentes as ruas pavimentadas ou pelo menos corn passcios calcetados
e canais de escoamento; mas a porcaria e as carencias das ca�, particular.
mente as caves, mantem-se exactamente as mesmas.
E oportuno fazer aqui algumas observal;Oes de canicter geral sabre
o tipo de construl;oes pr6prias dos bairros operanos de Manchester. Vimos
como na cidade velha foi na maior parte das vezes 0 acaso a presidir ao
agrupamento das casas. Cada casa e construida sem qualquer preocupa.;ao
corn as restantes, e os recantos livres entre as casas recebem, a faIta de outro,
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Este esbo<;o e suficiente para caracterizar 0 urbanismo absurdo de todo 0
bairro, particularmente na vizinhan�a do Irk. A margem meridional do Irk i
aqul muito ingreme e corn uma altura entre quinze e trinta pes; sobre este in
greme declive estio construidas na maior parte das vezes tres filas de casas. a
mais baixa das quais se ergue quase imediatamente sabre 0 rio, enquanto a fa
chada da mais alta se encontra ao nivel das colinas de Long Millgate. Aa 10ngo
do rio estio ainda intercaladas fAbricas: tambem aqui as constru.;oes sio portanto
apertadas e desordenadas, tal como na parte inferior de Long MiIlgate. A direita
e a esquerda, uma quantidade de passagens cobenas conduzem da rua principal
aos numcrosos p.hios, entrando nos quais se depara corn uma revoltante
imundicie que nia tern igual, panicularrnente nos patios virados ao Irk. que
contSm as mais horrendas habita.;6es que eu alguma vez vira. Num destes
patios, mesmo it entrada, onde termina a passagem coberta. exisle uma latrina
privada de porta e tio imunda que os moradores, para entrarem e sairem
do patio. tern de atravessar uma po.;a lamacenta de urina putreracta e de
e:tcrementos que a circunda. E 0 primeiro patio junto ao Irk. por cima de
Ducie Bridge, se alguem liver vontade de 0 ir ver; em baixo, sob re 0 rio.
enconlram.se numerosas fabricas de curtumes, que empestam toda a zona
corn 0 fedor da putrefac.;ao animal. Nos patios por baixo de Dude Bridge
de9Ce.se alem disso por escadas estreitas e sujas. e s6 atravessando montaes
de escombros e de imundicies se consegue chegar as casas. 0 primeiro patio
por baixo de Ducie Bridge charna-se Alien's Court, e durante a c61era encon
trava.se' em condi.;6es lais que a policia sanitaria teve de 0 desimpedir. limpar
e desinfectar corn clora: 0 doutor Kay faz numa ,sua publica.;ao1 um relato
J. P. KAY, The Moral and Physical Condition of the Working Clauer.
Employed in the Cotton Manufactur� in Manchest�r. London 1832 [Nota
de EngelsJ. 2 F. ENGELS, A Situa900 da Clasu Operaria em Inglaterra (1845),
38 39
._- - -_.--�- ----------_ .."_._._--.�-
o nome de patios (courts). Nu partes mais novas deste e lloutros bairros
operirios. construldos nos primeiros tempos de norescimento da indUstria.observa-se um maior esforeo de sistemati%aC&o. 0 espaeo entre duas casas� dividido em pAtios mais regulares, ha maior parte de forma quadrada,aproximadamente do sesuinte modo:
.....
�Rua
Figura 17
dispostos assim de enliada e aos quais se tern acesso das rou atraves depassagens cobertas. Mu se a disposieio do lodo, privada de urn piano, erajs. nociva para a saude dos habitantes porque impedia a ventilacAo, este modode encerrar os operarios em patios cereados de construe6cs por todos os ladose-o ainda muito mais. 0 ar nio tern qualquer possibilidade de sair de 1&;as proprias chamines das casu constituem, ate se acender 0 lume. a unicavia de escape para 0 ar viciado dos patios. A isto vcm juntar-sc ainda 0 factode as casas em volta destes patios serem Da sua maioria duplas, unidas duasa duas pela parede posterior, 0 que e ja de si suficiente para impedir uma boaventila;io. E na medida cm que a polieia nio se ocupa das condieoes destespatios, polo que tudo aquilo quc para la e arremessado ai pode permanceertranquilamente, nio e caso para near admirado COrn a porearia e os mont6csde cinzas e de imundicics que neles existem. Estive em patios - nas proximi.dades de Millers Street - que se eneontravam pclo menes a meio pC abaixodo nivel da rua, e que nio possuiam 0 mfnimo canal de escoamento paraas aguas que ai se concentram durante as chuvas! Em tempos mais recentespassou-se a urn outro modo de construeio, que agora se tomou geral.
As c:ottag�s opc:rarias ja nlo slo construfdas isoladamente, mas quase sempreAs duzias, ou verdadeiramente aos montaes, construindo urn s6 empreiteireuma ou mais ruas A volta. A disposi�io � entia a seguinte: urn !ado � eonstitufdo por cottag�s de primeira fila. muito .rortunadas por possuirem umaporta traseira e urn pequeno pitio, e pclas quais � pedido 0 aluguer maiselevado. Por trts do muro dos patios destaS cottdg�S fica uma estreita ruela,a via secundaria (back stn�tJ. que � obstrulda por c'onstrue6es nas duas extre.midades e na qual desemboca uma estreita viela ou uma passalem coberta.As cotta,�i que dio para esta ruela secundaria pagam urn aluluer menordo que as restantes, e em leral sio as mais dcseuradas. As suu paredesposteriores sio comuns com a terceira fila de cottdges. que por sua vez dio
40
para a rua do lade Op05to e pagam um aluguer inferior ao da primeira fila,
mu superior ao da segunda. Eis pais, aproximadamente, a disposieao das ruas:
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....
Figura 18
Corn este sistema de constnu;ao, a ventila�o das cottages da primeira
rHa e bastante boa. e a das cottages da terceira fila nio � pelo menas piar
do que a das constro;5es correspondentes do velho slstema; mas a fila central
e mal ventiIada, pelo menas tanto como as casas dos patios. e a rua secunc4aria
e suja e s6rdida. nio menas do que OS' pr6prios patios. Os empreiteiros pre.
ferom cste sistema de constru�io porque economiza esp8!;O e pennite explorar
ainda mais os operarios melhor pagos, mediante os alugueres mais clevados
das cottages da primeira e da tcrceira fila. "Em toda a Manchester se encontramestes tres tipos de cottages, DU melhor, cm todo 0 Lancashire e York.shire,
frequentcmente misturados, mas na maior parte das vezes bastante separados.
o que permite deduzir a idade relativa dos varios bairros citadinos. 0 terceiro
sistema, 0 das ruas secund6rias. predomina decididamente no crande bairro
opcnirio a Este de St. Geotie's Road, dos doj$.. Iados"'de Oldham Road e de
Great Ancoats Street, e � tam�m 0 mais difundido nos outros bairros
operAnos de Manchester c dos seus suburbios.
No arande bairro ja mencionado, conhecido pelo nome de Ancoats, O$tio
situadas ao longo dos eanais a maior parte das grandes f'bricas de Manchester,
edificios eolossais de seis a sete andares, que corn as SUBS chaminis altaneiras
sobranceiram as pequcnas cottages opedrias. Por isso a populat;io do bairro
c principalmente constitufda por opcr.6.rios fabm e, nas ruas piores, por te
cel6es manuais. As ruas mais pr6ximas do centro da cidade slo as mais
antigas. e portanto as piores, mas mcsmo assim lageadas e providas de valetas
de escoamento: entre cstas contam.se as paralelas mais pr6ximas de Oldham
Road e de Great Ancoats Street. Mais para 1.6.. na direeeio Nordeste. existem
algumas ruas de construe1o nova; aqui as cottdges enfilciram-se Iimpas e
polidas, corn portas e janelas novas e envemizadas de fresco, e as divis6es
intcriores hem caiadas; as pr6prias ruas sio mais arejadas. corn espa!;os livres
maiorcs e mais frequentes. Mas isto reporta-se apenas a uma parte e nio a
maioria das habita�6es; ao que vem ainda somar-se 0 facro de em quasc
todas as cottdgel existirem caves habitadas. de muitas ruas nio serem pavi
mentadas nem providas dc valetas e. oobretudo, 0 facto de este aspecto limpo
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nie passar de aparancia. Aparencia essa que nlo dura mais de dez anos.
De facto, a estrutura das pr6prias cottates nio c menas reprovavel do que
a disposi�lo das ruu. De inicio, todas se apresentam limpas e s61idas. as
suas paredes macic:as de tijolo enchem a vista, e percorrendo urna destas
ruas opcrtrias, de construcao recenlc, sern ler em conta as ruas secundArias
au sern observar melhor a constrw;ao das pr6prias casas. nac se podc deixar
de partilhar a afinnacao dos industriais liberais de que em pane alguma os
operarios se encontram tao hem alojados come cm loglaterra. Mas, olhaodo
urn pouco mais de perto, va-se que as paredes dcstas collages sio 0 mais
fdgil que � passivel consti'uir. As paredcs exteriores. que swtem a cave, 0
andar t�rreo e 0 telhado tern, no maximo. a espessura de urn tijola, de tal
modo que em cada estrato horizontal os tijolos se encontram unidos pelo
lado mais comprido: mas tenho visto muitas cottages da mesma altura - e
algumas ainda cm construc;ao - nas quais as paredes exteriores tinham apenas
a espessura de meio tijolo, e em que os tijolos cram portanto aplicados nao ao
largo mas ao comprido. unindo-se 8ssim uns 80s outros pclo lado mais curto. Isto
acontece em parte para poopar material, e em parte tambem porque a� em
preiteiros nao sia os proprietarios do terreno mas, segundo 0 costume ingles,
tern-no alugado por vintc, trinta. quarenta. cinquenta ou ate por noventa anos,
decorridos os quais retorna ao antigo proprietario corn tudo 0 Que sobre ele
se encantra, sem que estc ultimo tenha de rcembolsar seja 0 que for pela
constru�io erguida. Por isso 0 arrendatario constr6i 'os edificios de tal modo
que, no fim do praze eantratual. estejam 0 mais passivel privados de valor;
e na medida em Que essas cottages sao frequentemente construidas apenas
vinte ou trinta anos antes de tal data. e facit compreender que os emprei
teiros nao estejam interessados em fazer corn etas grandes despesas. A isto
vem juntar.se 0 facto de estes construtores, na sua maioria pedreiros, car.
pinteiros ou industriais, gastarem pouea ou nada em repara�oes, em parte
para nao diminuirem os rendimentos provenientes dos alugueres, e em parte
tambem porque se avizinha 0 momento da restituic;io do terreno onde se
erguem as construc;oes; e a tudo isto vem ainda somar.se 0 facto de. devido
as crises comerciais e � consequente falta de trabatho, fiearem frequente.
mente ruas inteiras desert as, caindo as cottages rapidamente em ruinas e
tornandl?se inabitaveis3.
suas exalac;6es e escurecida e adensada por uma duzia de chamines; urna
massa de mulheres e de crianc;as mattrapilhas circulam pelas imediac;Ocs, sujas
coma os porcos que se deleitam nos mont6es de cinzas e nos lameiros; em
suma, toda a ZOna apresenta urn aspecto talvez mais desagradavel e repug.
nante do que os piores pAtios junto ao Irk. A ra�a humana que vive nestas
cottages a cair, por tras de janelas partidas e remendadas corn tela, por tras
de portas desconjuntadas e de caixilhoS' podres, ou nas caves humidas e
escuras. no meio de toda esta porcaria sem limites e deste mau cheiro, numa
atmosfera que parece propositadamente fechada, esta raca humana deve per.
tencer realmente ao mais baixo degrau da humanidade; esta e a impressao
e a conclusio que somos constrangidos a tirar tio 56 pelo aspecto exterior
do bairro. Mas que dizer ao tomar conhecimento de que em cada uma destas
casitas, que contern no maximo dais quartos e as aguas-furtadas, e quando
muite ainda uma cave, habitam em media vinte pessoas, ao saber que emtoda 0 'bairro existe uma unica latrina - naturatmente, na maior parte das
veze� impraticavel- para cada 120 pessoas. aproximadamente. e que nao
obstante todas as advertencias dos medicos, nao obstante a agitac;ia provocada
na policia sanitaria na Cpoca da c61era pelas condic;6es da «Pequena Irlandu,
ainda hoje, no ano da graca de 1844, as condi�6es se mantem quase as
mesmas de 18)1? 0 dautor Kay relata que nio somente as caves mas tambem
os andares t�rreos de todas as casas deste bairro sio humidos; que nurnerosas
caves, inicialmente aterradas, pOUCD tempo volvido foram de novo dcsobstruidas
e sio agora habitadas por irlandeses; que numa cave cujo pavimento $e en
contrava abaixo do nivel do rio, a tgua brotava continuamente por urn buraco
subterraneo tapado corn argila. peIo que D inquilino. urn teeelae manual,
era obrigado a esvaziar a sua cave atirando a agua para a rua4,
Eis efectivamente a descri,ao de urn bairro de collagesdegradado:
Engels de.screve os casos piores e nao a media. Todavia, a sua
recolha de situa,oes-limite e justilicada na medida ern que a opiniao
publica ja nao as considera admissiveis, independentemente da sua
difusao estatistica. Aqui reside 0 verdadeiro m6bil das denuncias
literatias contemponineas e das sucessivas ac,oes reformadoras.
Os inconvenientes do ambiente pre-industrial eram entendidos
como urn destino inelutavel; existiam desde tempos imemoraveis e
pareciam - pelo menos no horizonte de cada gera,ao - substancial
mente imutaveis.
Ern contrapartida, a cidade industrial e urn facto novo, surgido
num tempo limitado sob os olhos das mesmas pessoas que Ihe
suportam os inc6modos. E urn facto singular, perturba os habitos
e a capacidade de compreensao dos contemporaneos, mas parece
tudo menos fixo e inevitavel. Ainda nao se encontrou urn sistema
razoavel para comrolar os seus processos, mas parece natural que
a inventiva do homem e a lor,a das maquinas, tal como otiginaramesta realidade, possam tambem mudar-Ihe 0 curso.
Ern todas as epocas existiram miserias equipaniveis e talvezmesmo mais graves do que as de;critas por Engels e polos outros
Numa depressio bastante profunda. rodeada em semicircuto pelo Medlocke em todos os quatro lados par ahas fabricas e altas margens cobertas deconstruc;6es e areas terrapIenadas, estao cerea de 200 cottages reunidas emdois grupos. na sua maior parte corn a parede posterior comum duas a duas,e nas quais habita urn total de cerea de 4000 pessoas, quase tadas irlandesas.As cottages sio velhas. sujas e do tipo mais peQueno, as ruas sio desiguais.cheias de buracos e em parte nio pavimentadas e sem valetas. Imundicies,detritos e lama nauseabunda estlo dispersos por todo 0 Jado em enormesquantidades, no meio de Iameiros permanentes; a atmosfera e empestada petas
Op. cil. Op. cit.
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.-;l!f-
fi $' f It' escritores' dos prim6rdios do seculo XIX, e e possivel contrapor asI � . � r,(, suas descri�oes outros escritos mais antigos que repetem quase lite-
. �:::: raImente a mesma coisa; foi 0 que fez Barbagallo, citando textos. de Vauban (1698), de Boisgui1lebert (1697) e de Mereier (1783)'.
<t: De facto, a diferen�a na� reside nas coisas descritas, mas no tom
'If .�as descn�oes: EnsEe e resl naao na c re-mdustrial, e__�gQra<;i carrega 0 e revo a e ummado. oia obstante a grande mlseria� � 'do presentc, pets conhanca Dum fntut:o nu:lhor.
� ,A pobreza condicio snpt>rtada ha securos sem c$P.eranca
� At alternativas razoaveis - e Ignea rcconbecida coma «miseria», _q,!�!,
tl> dizer, 6 vista na perspectiva moderna de um mal que pode e deve!l.> - ser elimmado com os melOS a disposi�ao.
� j\ • A. Bevan escreve: «Por mlsena entendo uma conseiencia geral,Q i de priva�oes nao necessarias - e esta e a condi�ao normal de
milh6es de pessoas na moderna cidade industrial- unida a um
profundo sentimento de desilusao e de insatisfa�ao pela situa�aolocal actual. De nada serve replicar que as coisas sempre estaomelhor que outrora. As pessoas vivem no presente, na� no passado.o descontentamento nasce do contraste entre a .'5cr paSSJve e 0 gue cfec lvamente eXlsle Ha a unjversal J:-ius1ilicad�
. conviccio de Que a ,rBode massa de hQmcn� e mulheres se encontra
Eior do que poderia estan'.
Convem portanto buscar as origens do urbanismo moderno
na epoca em que as situa�oes de facto se concretizaram em medidasufieiente para provocar nao somente 0 mal-estar, mas tambem 0protesto das pessoas nelas envolvidas; aqui 0 discurso hist6rico deve
ser necessariamente alargado das fonnas de povo.mento il proble
ffiatica social da epoea, mostrando 0 correcto posicionamento daurbanistica moderna coma parte da tenlativa em curso para es
tender a todas as classes os beneficios potenciais da revolu�ao industrial. e pondo • claro de uma vez por todas a inevitavel implica,aopolitica inerente ao debate tecnico.
Nao e por acaso que se da precisamente em Manchester, em1819, 0 primeiro incidente importante que inaugura os conflitos sociais do seculo XIX: 0 epis6dio de Peterloo.
A politica repressiva do governo levar. as associa,oes openiri.se os radicais extremistas a pore m-se de acordo. Os operarios liam
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o «Policial Registef» de Cobbett, que desde 1816 era vendido a
dois pence. e 0 governo respondia mobilizando polieia e exercito,
ordenando pris6es preventivas, fazendo suspender as seculares gar.n
tias do habeas corpus.
A 16 de Agasta de 1819 - conta Trevelyan - fai autorizada para 0
campo de S. Pedro. em Manchester, a rcuRiao de urna multidio ordenada
e desarmada de 60 000 homens, mulheres c crian�as; mas dcpois, as autoridades
encarregadas da vigilancia, alannadas i vista de uma tal mullidao. maodaram
a miUcia a cavalo prcnder 0 orador, 0 conhecido radical Hunt. oa sltura em
que a rcuniao atingia 0 augc. Quando os militares. embrenhando--se entre a
multidio para cumprirem a missio. Coram vaiados e repelidos, as autoridades
ordenaram i. cavalaria de rcscrva que carrcgassc. 0 embatc empurrou a densa
massa de sefCS humanos praguejando e gritaodo para tora do campo, enquanto
a miHcia, formada por partidArios tories, brandia os sabres corn l05tO. Nos
recontros desse dia. pelo menos onze pessoas foram mortas ou morrerarn
na sequeneia de ferimentos; mais de uma centena ficou ferida pelos sabres
e varias outras centenas foram colhidas pelos cascos dos cavalos ou safram
maltratadas da rixa. 0 numero de mulheres feridas elevou-se a mais de uma
eentena1•
Este episOdio rapidamente sensibilizou a imagina�ao dos con
temporaneos, que 0 baptizaram corn 0 nome de «batalha de Peterloo•.
A hist6ria corroborou esta apreci'\,ao, e em todos os manu.is 0
nome de PeterIoo vem lado a lado, corn significativa simetria, corn 0
de Waterloo, re.l,.ndo 0 contraste entre 0 esplendor d. politica
externa e a obscuridade d. politica intern •.
Os contemporaneos foram sensibilizados nao pela natureza dos
factos nem pela crueldade das autorid.des responsaveis, que ceder.m
ao panico e nao propriamente a urn piano pre-estabelecido, mas pelo
sentimento de inutilid.de no comportamento das duas partes, .mbas
aparentemente bloqueadas num impasse sem saida.
A autoridade, adoptando uma posi,ao de for�a, na� podiaesperar qualquer resultado duradouro razoavel (a hist6ria inglesa
tornara desde ha tempo impossivel governar com tais meios); e os
manifestantes, por sua vez - os moradores das vielas e dos patios
descritos por Engels - eram movidos par uma revolta element.r.
ainda priv.da de perspectivas de aC\Oao definidas.
Cobbett inventara um termo significativo, a coisa, «par. de
sign.r 0 conjunto de ministros, de traficantes eleitorais, de jubil.dos.
de senhores, de eclesiasticos, de industriais que acorrentavam, tir.
nizavam e sangravam a Inglaterra»"; e contra uma imagem deste
I
� C. BARBAGALLO, Le Origin' del/a Grande Industria Con/tmporanea, eit. cap. XIX.
• Cit. in «11 Mondo», 20 de Dezembro de 1960.
1 G. M. TREVELYAN. British History in Nineteenth Century and
After (1922).
y Op. cit�.
4445
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I
tipo e que era dirigido 0 protesto dos manifestantes de Peterloo,\ ainda incapaz de apontar para objectivos precisos.
- A constatacao dos males da cidade industrial e 0 protesto dos \�,N 1'1seus hab.tantes pcrfiIam-sc pais, por agora, OHm vano jdeoJ6&icoque deixa a- sociedade dos primeiros decenios do seculo XIX mo- 1J'O'IQ.s ��mentaneamente privada de instrumentos para corrigir esses males t>(- "P\:.--JJSAlZ '"'�Jrulltauca: msuflctentes e desacreditados os anUgos instrum,<-ntos, P,-",,*� 0ainda nlQ ca@cteIiiados os novas. v�
;loravante trata-se de enc t v uma serie de
iniciatlvas In IVI ua,s de propostas, de Jeis capazes de saldar-sepor uma nova e coercnre experi,;;ncia' de caractcrjzar uma a uma
�s relcoes da «coisa». para ca.nsc.guir muda-la. .
o urbanismo moderno nao e apenas uma tentativa para re.
presentar visualmente este fen6meno, transferindo-o para a organi
zaeao dos espaeDS, mas intervem concretamente como um dos facto-res que cooperam na construeao de uma comunidade democratica.
A urbanistica perde assim a posieao de aparente distanciamentodos conflitos sociais, mantida ate entao a sombra do poder absoluto,e perde inclusive a aparente capacidade para regular com caracterdefinitivo, do alto, 0 equilibrio do povoamento; apresenta-se, maismodestamente, coma uma das tecnicas necessarias para definir esteequilibrio; nao insiste ja numa forma perfeita a realizar a partida,mas numa serie de modificaeoes parciais, num compromisso razoavelentre as for'Yas em jogo, a renovar continuamente de acoedo corno seu movfmento recfproco.
No periodo entre 1815 e 1848 - de Waterloo a revolueaoaeFevereiro - os aspectos tecnicos e os aspectos politicos da pesquisaurbanistica apresentam-se fortemente Iigados e quase incorporadosentre si.
Este e um aspecto caracteristico da cultura da epoca: bastararecordar 0 caso de Bentham, 0 filosofo radical que empenhou osmelhores anos da Sua vida e uma boa parte do scu patrimonio nava tentativa de realizar 0 seu «pan-optico», uma prisao modelo construida de lal modo que um so carcereiro pudesse ver todos os pri.sioneiros atraves de um sistema de espelhos, sem ser visto por eles.
A facilidade Com que eram associados argumentos tecnicos eideologicos em urbanistica parece-nos hoje desconcertante e ingenua,na medida em Q.ue resulta de uma avaliacao imperfeita das foreasem jogo e dos obstaculos reais a superar, e que virao gradualmentea clarificar-se nos periodos sucessivos. Todavia, esta capacidade deassociaeao mantem-se ainda fortemente sugesti.va, e testemunha aunidade ideal subjacente as diversas experiencias urbanisticas doseculo XIX, encaminhadas apes 1848 num sentido consideravelmente divergente.
46
c.��.t>�
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Por isso este periodo- que quanto aos efeitos das realizacoes
concretas pertence antes a pre-historia do urbanismo moderno - e
pelo contrario rico de assomos metodologicos tanto mais significativos.
Torna-se finalmente claro 0 duplo caracter, cientmco e mora
Iista, da urbanistica moderna; delineia-se a combinacao particular de
motivos que distingue tao claramente a aCeao responsavel dos seus
promotores, da accao subalterna ou Iiterariamente evasiva dos artistas
de uma epoca, e que pode ser descrita atraves das palavras de Brecht:
//
desdem e tenacidade, conhecimenlO e rebeliio
compreensio do panicuIar e do geraIl,
Neste ambito existem du�s linhas de aCeao, que por agorase apresentam claramente divididas: a que aborda os problemas da
urbanistica moderna partindo de urn modelo ideologico global, que
e apresentadn em alternativa a cidade existente e que se procura
realizar experimentalmente longe desta, ou entaD a que parte das
exigencias tecnicas individuais, ligadas ao desenvolvimento da cidade
industrial, e procura corrigir os seus defeitos isolados.
Ambas tendem a convergir e integrar-se, pois as tentativas
para realizar os modelos teoricos levam a teoria a confrontar-se
corn a realidade, enquanto as providencias para resolver os pro
blemas tecnicos isolados trazem a luz a interligaeao entre os di
versos problemas, e finalmente 0 problema unitario da planifi
cacao territorial.
Por isso, a nossa exposieao sera dividida em duas partes:
na primeira falar-se-a das utopias do secula XIX - as de Owen,
de Saint-Simon, de Fourier e de Cabet - e das experiencias para
po-las em pralica; na segunda examinar-se-ao as experiencias te6ricas
que a1teraram 0 equilibrio tradicional da utilizaeao do solo, e intra-
Figuras 19 e 20: 0 Pan.6ptico de Bentham.
, B. BRECHT, A Unh. de Condur. (1932).
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"
duziram portanto a exigencia de um novo equilibrio calculado_ Como
veremos, as principais iniciativas nao partem das grandes obraspublicas, mas dos multiplos inconvenientes de ordem higienica da
cidade industrial, que dependem de uma combina�ao de muitos
factores e requerem uma legisla�ao que rapidamente se estende do
campo sanitario ao campo mais geral da urbanistica.
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