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Ariano Suassuna
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Auto da Compadecida - policiamilitar.mg.gov.br · IV- Personagens Todas as personagens do Auto da Compadecida revelam dimensões alegóricas. A alegoria funciona como uma maneira

Nov 10, 2018

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Ariano Suassuna

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João Grilo engana Severino com uma gaita mágica que ressuscita mortos e Severino, crente que visitaria seu Padrinho Padre Cícero e depois voltaria, pede ao seu guarda que o mate. O subordinado vendo que seu chefe não voltava, mata João Grilo e foge.

Todos se encontram no céu para o julgamento final e, após uma discussão acirrada com o Diabo, João Grilo consegue a presença de Nossa Senhora que sugere ao filho, Jesus Cristo, que envie Severino diretamente para o céu, pois ele não era responsável pelos seus atos, que envie o Padeiro, a Mulher do Padeiro, o padre e o bispo para o purgatório, pois na hora da morte todos perdoaram seus agressores, e que João Grilo volte para terra.

Quando João Grilo volta, encontra Chicó e os dois conseguem fugir com Rosinha e seguem juntos seu caminho pelo sertão.

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I. O auto – de Gil Vicente a João Cabral

Auto é uma designação genérica para textos poéticos

(normalmente em redondilhas) criados para

representações teatrais em fins da Idade Média.

A maioria tem caráter religioso, embora a obra de Gil

Vicente profana nos ofereça vários exemplos de temática e

satírica- a farsa- sempre com preocupações moralizantes.

Padre Anchieta: autos na catequização.

No Brasil, especialmente no Nordeste, ainda

encontramos textos notáveis que revelam influência

medieval.

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Linguagem alcança sua forma final e definitiva.

O autor não propõe nenhuma atitude de linguagem oral

que seja regionalista.

Busca encontrar uma expressão para todos as personagens:

as diferenças nos registros da fala são estabelecidas pelos

próprios atores.

O texto serve de caminho para uma via

oral de

expressão.

APROPRIAÇÃO E RENOVAÇÃO

Referências: O dinheiro [O enterro do cachorro] História do

cavalo que defecava dinheiro. O castigo da soberba. As

proezas de João Grilo.

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III - A obra e sua estrutura.

Escrito com base em romances e histórias nordestinas;

3 atos.

O autor concebe a peça como uma representação dentro

de outra representação;

É bom deixar claro que seu teatro é mais aproximado dos

espetáculos de circo e da tradição popular do que do teatro

moderno.

O cenário fica a critério do diretor: pode ser uma igreja, o

céu, o inferno, etc...

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IV- Personagens

Todas as personagens do Auto da Compadecida

revelam dimensões alegóricas.

A alegoria funciona como uma maneira

de

“materializar” aspectos morais, ideais ou ficcionais.

Cabe salientar que parte das

personagens não apresenta nomes próprios, são

tipos.

Mesmo as que são nomeadas, como o padre,

funcionam como “figuras alegóricas”, por meio das

quais são satirizadas e criticadas as diversas classes

que compõem os estratos sociais.

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Personagem principal: João Grilo Outras personagens: Chicó, Padre João, Sacristão, Padeiro, Mulher do Padeiro, Bispo, Cangaceiro, o Encourado, Manuel, A Compadecida, Antônio Morais, Frade, Severino do Aracaju, Demônio. Personagem de ligação: Palhaço

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João Grilo: É uma figura típica do nordestino sabido,

analfabeto e amarelo. Habituado a sobreviver e a viver a partir e expedientes, trabalha na padaria, vive em desconforto e a miséria é sua companheira. Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma forma de crença arraigada na proteção que recebe, embora sem saber, da Compadecida. É essa convicção que o salva. E ele recebe nova oportunidade de Manuel (Cristo), retornando à vida e à companhia de Chicó. É uma oportunidade inusitada de ressurreição e retorno à existência. Caberá a ele provar que essa oportunidade foi ou não bem aproveitada.

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A Compadecida

Funciona efetivamente como mediadora, plena de

misericórdia, intervindo a favor de quem nela crê, como o

protagonista.

O Auto da Compadecida prioriza, portanto, “a situação

daqueles que se encontram em posição inferior na ordem

social. Por isso o protagonista não se identifica com aqueles

que detêm posições de mando”.

Alinhada à ideologia dos folhetos de cordel, a peça focaliza

“a sociedade do ponto de vista dos desprivilegiados”

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V – Enredo

A presença de João Grilo em todas as situações é

fundamental.

A peça gira em torno dele, do ponto de vista estrutural.

Habituado a sobreviver e a viver a partir de expedientes,

trabalha na padaria, vive em desconforto e a miséria é

sua companheira.

Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma

forma de crença arraigada na proteção que recebe,

embora sem saber, da Compadecida.

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PERSONAGENS SITUAÇÃO PARTICIPAÇÃO DE JOÃO

João Grilo, Chicó,

Pe. João

A benção do cachorro da

mulher do padeiro

O cachorro pertence ao Major

Antônio Morais.

João Grilo, Chicó,

Pe. João, Major Antônio

Major O Pe. está maluco, benze

todo mundo.

João Grilo, Pe.

Mulher, Padeiro,

João,

Chicó,

Sacristão, Bispo

Chegada do

Antônio

O testamento do

cachorro

O cachorro enterrado em

latim e tudo mais.

Fonte: Padeiro e a Mulher

João Grilo, Chicó, Mulher A Mulher lamenta a perda

do cachorro

João arranja-lhe um gato que

descome dinheiro.

João Grilo, Chicó, Bispo,

Padre, Sacristão, Mulher,

Padeiro, Severino do

Aracaju, Cangaceiro

O assalto do Cangaceiro A gaita que fecha o corpo e

ressuscita (bexiga). Todos

morrem, exceto Chicó.

Manuel,

todas as

Demônio,

Palhaço,

personagens

Ressurreição no

picadeiro.

Julgamento pelo Diabo e

por Manuel

Forçar o julgamento, ouvindo

os pecadores.

Todos (exceto Chicó), A

Compadecida

Condenação

dos pecadores Apelo à misericórdia da

Virgem Maria.

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“Espero que todos os presentes aproveitem os

ensinamentos desta peça e reformem suas vidas, se bem

que eu tenha certeza de que todos os que estão aqui são

uns verdadeiros santos, praticamente da virtude, do amor

a Deus e ao próximo, sem maldade, sem mesquinhez,

incapazes de julgar e de falar mal dos outros, generosos,

sem avareza, ótimos patrões, excelentes empregados,

sóbrios, castos e pacientes. E basta, se bem que seja

pouco.”

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A função cênica do Palhaço – porta voz do autor – é abrir e fechar o espetáculo.

O Palhaço tem também a função de descrever, de forma antecipada e didática, o clima da peça, apresentar atores, assim como despertar a curiosidade da platéia sobre o desfecho e adverti-la para que mantenha distanciamento crítico e consciência crítica.

No Auto da Compadecida, portanto, percebe-se uma função metateatral (metalinguística), exercida pelo Palhaço, que conduz o espetáculo à maneira circense:

“Ele se dirige ao público, anunciando o que está por vir e fazendo comentários. Na sua qualidade, ele não se mistura à ação da peça. Aparece, sim, no prólogo do início de cada ato e no epílogo. Porém, em uma de suas intervenções torna-se também ator, ou melhor, curinga, pois participa da cena do enterro de João Grilo”.

Os personagens simbolizam pecados (maiores ou menores), que recebem o direito ao julgamento, que gozam do livre-arbítrio e que são ou não condenados.

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Pela estrutura da peça, podemos notar que sua intenção clara e expressa é de natureza moral, e de moral católica; e que os componentes estruturais do texto revelam personagens que simbolizam pecados (maiores ou menores), que recebem o direito ao julgamento, que gozam do livre-arbítrio e que são ou não condenados.

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VII- Conclusão

A criação artística, o teatro em particular, deve levar o povo, a

cultura desse povo a ele mesmo.

Daí o circo, seu picadeiro e a representação dentro da

representação.

Mais que representar a realidade regional e cultural de um

povo, o que importa é criar um projeto que defina ideias e

concepções universais (as da igreja, no caso) com o fim de

conscientizar o público.

Criar um texto teatral é, antes de tudo, criá-lo para uma

encenação, daí a absoluta liberdade que o autor dá para

qualquer modalidade de encenação.

Ariano reescreve e recontextualiza gêneros medievais em

produtos culturais populares nordestinos, questionando

procedimentos de exclusão social, política e religiosa, por meio

de personagens de extração popular.

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Com base na análise do filme O Auto da Compadecida, responda:

1- Ariano Suassuna espelhou-se nas obras de um importante autor humanista para a construção de suas peças. Quem é esse autor?

2- Qual tema abordado na peça de Ariano?

3- O que o autor pretende retratar ao humanizar personagens como Manuel e a Compadecida?