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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM CURSO DE ENFERMAGEM PATRICIA JACOSKI GASPARI SIMONE HERMAN ATENÇÃO A SAÚDE DA CRIANÇA: PREVENÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL BLUMENAU 2010
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Atenção a Saúde Da Criança Prevenção Da Obesidade Infantil

Nov 19, 2015

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Bianka Vieira

A obesidade é considerada em países desenvolvidos, um problema de saúde pública, e pela
Organização Mundial da Saúde, uma epidemia global (BRASIL, 2010). A prevalência de
obesidade também está crescendo intensamente, na infância e na adolescência, e tende a
persistir na vida adulta. Cerca de 50% de crianças obesas aos seis meses de idade, e 80% das
crianças obesas aos cinco anos de idade, permanecerão obesas (RAMOS; FILHO, 2003). Por
isso, a preocupação sobre prevenção, diagnóstico e tratamento da obesidade tem-se voltado
para a infância. O presente trabalho de conclusão do curso de Enfermagem da Universidade
Regional de Blumenau tem por objetivos conhecer as ações realizadas para a prevenção da
obesidade infantil em uma unidade pré-escolar, e propor ações educativas para prevenção da
obesidade infantil. È caracterizado como uma pesquisa qualitativa e descritiva, a partir do
desenvolvimento de entrevistas, com roteiro de perguntas semi-estruturado. A coleta de dados
foi realizada apenas com os profissionais que preencheram os critérios estabelecidos para a
seleção dos sujeitos, sendo eles os colaboradores do CEI e a profissional nutricionista da
Secretaria Municipal de Educação. Com a análise dos dados foram identificadas diversas
ações de prevenção da obesidade, desenvolvidas no Centro de Educação Infantil. As ações
realizadas no cotidiano do CEI, superou as expectativas, quanto a importância da alimentação
saudável, preparo e utilização correta dos alimentos e prática de atividades físicas, os
colaboradores mostraram-se ativos e preocupados quanto ao trabalho (ou ações) e superação
dos limites que muitas vezes são encontrados. Enquanto proposta o estudo sugere a
construção de uma horta na escola, para que as crianças possam exercer atividades ligadas ao
uso do solo, tais como revolver a terra, plantar, arrancar mato, podar e regar; e a realização de
palestras com o uso de técnicas construtivas, em conjunto com a nutricionista no CEI, local de
estudo. O Centro de Educação Infantil é um ambiente importante para o desenvolvimento de
ações de controle, combate, prevenção e promoção da saúde, junto a criança e família. Ao
final do estudo percebemos que a conscientização, tanto individual, quanto coletiva, produz a
qualidade na assistência, diminui os riscos e fortalece a prevenção.
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  • UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

    CURSO DE ENFERMAGEM

    PATRICIA JACOSKI GASPARI

    SIMONE HERMAN

    ATENO A SADE DA CRIANA: PREVENO DA OBESIDADE INFANTIL

    BLUMENAU

    2010

  • PATRICIA JACOSKI GASPARI

    SIMONE HERMAN

    ATENO A SADE DA CRIANA: PREVENO DA OBESIDADE INFANTIL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Enfermagem do Centro de Cincias da Sade da Universidade Regional de Blumenau para obteno do grau de Enfermeiro.

    Orientadora: Prof MSc. Andra da silva

    BLUMENAU

    2010

  • Dedico este trabalho a meus pais Gilmar (in memorian) e Rosemeri, ao meu irmo Jos, por compreender a minha ausncia quando a vontade era estar junto, por ouvir meus medos, angstias e anseios, por aceitar os meus nos, hoje no tenho tempo, no posso, estou ocupada agora, no vou poder ir. Pelos abraos, sorrisos e palavras de conforto. (Patrcia)

  • Dedico este trabalho, com muito amor, aos meus queridos pais Lo Herman e Anita Herman (in memorian) e s minhas irms Rose, Lurdes, Mrcia e Tere. Tambm dedico o trabalho a meu marido Pedro. Todos sempre me apoiaram e me deram fora nos momentos de fraqueza, juntos conquistamos esta vitria. (Simone)

  • AGRADECIMENTOS

    Agradecemos primeiramente a Deus, que nos deu fora para transpor os obstculos,

    serenidade e pacincia para enfrentar situaes difceis, nos iluminando nessa trajetria e

    dando foras para lutar e atingir os nossos objetivos.

    nossa orientadora, Prof MSc. Andrea da Silva, que com sua competncia

    profissional enriqueceu o nosso trabalho, sempre dando-nos sugestes e contribuies para a

    concluso dessa etapa, nos estimulando e nos recebendo de forma carinhosa e acolhedora.

    Agradecemos por sua amizade.

    nossa banca examinadora, Prof MSc. Silvana Scheidemantel Schroeder e Prof

    MSc. Rafaela Reis da Silva, pelas sugestes oferecidas durante o desenvolver da monografia.

    enfermeira Prof Nadia Lisieski e Dr Cludia Regina Lima Duarte da Silva pela

    oportunidade de aprendizado e carinho durante o perodo que desenvolvi minhas atividades

    com as mesmas.

    instituio que proporcionou a abertura do campo para a pesquisa, colaborando

    para o enriquecimento de nosso conhecimento.

    Aos colaboradores do Centro de Educao Infantil e a nutricionista da SEMED.

    A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contriburam para a elaborao deste

    estudo.

    s nossas famlias, que mesmo distantes, seguiram sempre nos apoiando e

    incentivando com muito amor e carinho.

    A todos os colegas, pelos momentos que passamos durante nossa trajetria

    acadmica e pelas amizades conquistadas.

  • A enfermagem uma arte; e para realiz-la como

    arte, requer uma devoo to exclusiva, um preparo

    to rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou

    escultor; pois o que o tratar da tela morta ou do

    frio do mrmore comparado ao tratar do corpo vivo

    o templo do esprito de Deus. uma das artes;

    poder-se-ia dizer a mais bela das artes .

    Florence Nightingale.

  • RESUMO

    A obesidade considerada em pases desenvolvidos, um problema de sade pblica, e pela

    Organizao Mundial da Sade, uma epidemia global (BRASIL, 2010). A prevalncia de

    obesidade tambm est crescendo intensamente, na infncia e na adolescncia, e tende a

    persistir na vida adulta. Cerca de 50% de crianas obesas aos seis meses de idade, e 80% das

    crianas obesas aos cinco anos de idade, permanecero obesas (RAMOS; FILHO, 2003). Por

    isso, a preocupao sobre preveno, diagnstico e tratamento da obesidade tem-se voltado

    para a infncia. O presente trabalho de concluso do curso de Enfermagem da Universidade

    Regional de Blumenau tem por objetivos conhecer as aes realizadas para a preveno da

    obesidade infantil em uma unidade pr-escolar, e propor aes educativas para preveno da

    obesidade infantil. caracterizado como uma pesquisa qualitativa e descritiva, a partir do

    desenvolvimento de entrevistas, com roteiro de perguntas semi-estruturado. A coleta de dados

    foi realizada apenas com os profissionais que preencheram os critrios estabelecidos para a

    seleo dos sujeitos, sendo eles os colaboradores do CEI e a profissional nutricionista da

    Secretaria Municipal de Educao. Com a anlise dos dados foram identificadas diversas

    aes de preveno da obesidade, desenvolvidas no Centro de Educao Infantil. As aes

    realizadas no cotidiano do CEI, superou as expectativas, quanto a importncia da alimentao

    saudvel, preparo e utilizao correta dos alimentos e prtica de atividades fsicas, os

    colaboradores mostraram-se ativos e preocupados quanto ao trabalho (ou aes) e superao

    dos limites que muitas vezes so encontrados. Enquanto proposta o estudo sugere a

    construo de uma horta na escola, para que as crianas possam exercer atividades ligadas ao

    uso do solo, tais como revolver a terra, plantar, arrancar mato, podar e regar; e a realizao de

    palestras com o uso de tcnicas construtivas, em conjunto com a nutricionista no CEI, local de

    estudo. O Centro de Educao Infantil um ambiente importante para o desenvolvimento de

    aes de controle, combate, preveno e promoo da sade, junto a criana e famlia. Ao

    final do estudo percebemos que a conscientizao, tanto individual, quanto coletiva, produz a

    qualidade na assistncia, diminui os riscos e fortalece a preveno.

    Palavras-chave: Obesidade. Criana. Enfermagem.

  • ABSTRACT

    Obesity is considered in developed countries a public health issue and by the World Health

    Organization a global epidemy (BRASIL, 2010). The prevalence of obesity is also growing

    intensively on childhood and adolescence and there is a tendency of continuation during

    adulthood. About 50 % of the children with overweight at 6 months of age and 80% of

    children with overweight will remain obese during adulthood (RAMOS; FILHO, 2003).

    Therefore the focus about prevention, diagnose and treatment of obesity has been directed

    towards childhood. This present work of conclusion of the Nursery Graduation Course at

    Universidade Regional de Blumenau has as objectives to list actions for the prevention of

    childhood obesity in a pre-school unit and to propose educational actions for the prevention of

    childhood obesity. It is caracterized as a qualitative and descriptive research starting from the

    development of interviews with a semi structured script of questions. The data collection was

    made only with the professionals who accomplished with the criteria set for the selection of

    individuals, being them workers from the CEI (Educational Infanthood Center) and the

    nutritionist from the Municipal Office of Education of Blumenau. With the data analysis as a

    starting point, a set of actions were established aiming the prevention of obesity and

    developed at the CEI. The actions developed at the daily routine of the CEI overcame the

    expectations, stressing the importance of a healthy nutrition, from the preparation of the food

    to the practice of physical activities, and showed the active and concerned approach of the

    staff of the CEI, overcoming difficulties and limits of all sorts found. As a proposal, this study

    suggested the construction of an kitchen garden at the school facility, allowing the children to

    do activities linked to the use of soil, such as revolving, sowing, cutting and watering the

    plants; and presentations of constructive techniques with the nutritionist from the CEI. The

    Educational Infanthood Center (CEI) is an important environment for the development of

    actions directed to the control, prevention of obesity and prevention of health of the children

    and their families. As the study was getting to conclusion we realized that both the individual

    and collective consciousness leads to quality in assistance while lowering the risks and

    strengthening the prevention of obesity.

    Key-words: Obesity. Childhood. Nursery.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CEI Centro de Educao Infantil

    SEMED - Secretaria Municipal de Educao

    FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Epidemiolgica

    PCN Programa de Cincias Naturais

    FURB Fundao Universidade Regional de Blumenau

    OMS Organizao Mundial da Sade

    POF\IBGE Pesquisa de Oramentos Familiares

    MMHG Miligramas de Mercrio

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................................ 12

    2 OBJETIVOS............................................................................................................... 17

    2.1 Objetivo Geral. ........................................................................................................... 17

    2.2 Objetivos Especficos ................................................................................................. 17

    3 REVISO DE LITERATURA ............................................................................... 18

    3.1 OBESIDADE INFANTIL.......................................................................................... 18

    3.2 A CRIANA EM FASE PR-ESCOLAR E A OBESIDADE ................................. 21

    3.3 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL DO PR-ESCOLAR...... 22

    3.4 A CRIANA COM OBESIDADE E SUA INTERAO COM A SOCIEDADE .. 23

    3.4.1 Mudanas de Hbitos ................................................................................................. 24

    3.5 A OBESIDADE E SUAS CONSEQUNCIAS ........................................................ 26

    3.5.1 Hipertenso arterial .................................................................................................... 26

    3.5.2 Diabetes Mellitus Tipo II ........................................................................................... 27

    3.6 CENTRO DE EDUCAO INFANTIL................................................................... 30

    3.6.1 Organizao da educao infantil............................................................................... 30

    3.7 O BRINCAR .............................................................................................................. 31

    3.7.1 A importncia do brincar de 0 a 6 anos...................................................................... 33

    3.7.2 O brincar como recurso pedaggico........................................................................... 34

    3.8 O PAPEL DA ENFERMAGEM NA PROMOO DA SADE ............................ 35

    4 MARCO CONCEITUAL ........................................................................................ 39

    4.1 SOCIEDADE ............................................................................................................. 39

    4.2 SER HUMANO.......................................................................................................... 39

    4.3 CRIANA.................................................................................................................. 39

    4.4 OBESIDADE ............................................................................................................. 40

    4.5 ENFERMAGEM........................................................................................................ 40

    4.6 CUIDADO.................................................................................................................. 40

    4.7 PROMOO DE SADE......................................................................................... 41

    4.8 AMBIENTE FAMILIAR............................................................................................42

    5 METODOLOGIA .................................................................................................... 42

    5.1 TIPO DE PESQUISA................................................................................................ 42

    5.2 LOCAL DE PESQUISA ............................................................................................ 42

  • 5.3 SUJEITOS DE PESQUISA........................................................................................ 43

    5.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ...................................................... 44

    5.5 ANLISE DE DADOS.............................................................................................. 45

    5.6 ASPECTOS TICOS................................................................................................. 46

    6 AS AES DE PREVENO DA OBESIDADE INFANTIL

    DESENVOLVIDAS POR UM CENTRO DE EDUCAO INFANTIL ... ........ 48

    6.1 AES DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAO.................................. 48

    6.2 PREPARO E UTILIZAO DOS ALIMENTOS .................................................... 50

    6.3 CARDPIO BALANCEADO E DIFERENCIADO................................................. 52

    6.4 ATIVIDADE FSICA ................................................................................................ 53

    6.5 AVALIAO NUTRICIONAL................................................................................ 54

    6.6 ORIENTAO E FALA DOS PROFESSORES...................................................... 54

    7 AES EDUCATIVAS PARA PREVENO DA OBESIDADE INFANT IL.56

    7.1 HORTA ...................................................................................................................... 56

    7.1.1 Passos para o preparo da horta ................................................................................... 58

    7.1.1.1 Localizao................................................................................................................. 58

    7.1.1.2 Ferramentas ................................................................................................................ 58

    7.1.1.3 Preparo do canteiro..................................................................................................... 59

    7.1.1.4 Adubao dos canteiros............................................................................................. 59

    7.1.1.5 Covas e o seu preparo.................................................................................................60

    7.1.1.6 Sexto Passo: Como cuidar da horta............................................................................ 60

    7.2 OFICINA EDUCATIVA AOS PAIS E COLABORADORES DO CENTRO DE

    EDUCAO INFANTIL ........................................................................................................ 60

    8 CONSIDERAES FINAIS................................................................................... 63

    REFERENCIAS ..................................................................................................................... 66

    APENDICE A ENTREVISTA ........................................................................................... 72

    ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECID O .................. 73

  • 1 INTRODUO

    A enfermagem ao longo de sua trajetria busca melhores condies para que o ser

    humano possa viver com qualidade de vida. Em sua essncia a enfermagem, especificamente,

    produz o cuidado do ser humano, individualmente, na famlia ou em comunidade, de forma

    integral, com um olhar holstico. O profissional enfermeiro busca atravs do cuidado, a

    promoo, preveno e recuperao da sade. Florence Nightingale definiu o objetivo da

    assistncia de enfermagem como manter as pessoas nas melhores condies possveis, afim

    de que a natureza possa atuar sobre ela. Dessa forma existe o cuidado sem cura, mas no

    existe cura sem o cuidado (LEOPARDI, 1999).

    O cuidado necessita ser realizado com amor, devoo, compreenso, dedicao e

    conhecimento, lidamos com seres humanos, com seus sentimentos, restries, problemas,

    desafios e uma histria que pertence a cada ser.

    A busca pela qualidade de vida em sade faz emergir um dos grandes dilemas da

    nossa atualidade, a sade da criana, neste espao temporal a desnutrio deixa de ser o foco

    principal e passa a emergir a obesidade infantil.

    Ao longo de trs anos de ensino e aprendizagem no curso de Enfermagem, atravs da

    prtica vivenciada e conhecimento adquirido, buscamos nos aprofundar neste problema, que

    se tornou uma epidemia global. Buscamos conhecer qual a causa desse panorama alimentar

    em crianas, focando nossa ateno na idade pr-escolar, fase esta, onde estabelecida a

    iniciativa e aptido para o paladar, e os hbitos alimentares.

    Segundo Zach et al (2003) o planeta est engordando e a tendncia que este

    parmetro continue crescendo.

    Enquanto milhares de crianas morrem todos os dias por no ter o que comer, o

    abuso de alimentos e a vida sedentria, tambm esto no ranking das causas de mortalidade.

    Hoje vivemos um fenmeno que chamamos de transio nutricional, o qual sobrecarrega o

    sistema nico de sade com demandas crescentes de atendimento a doenas crnicas

    relacionadas obesidade.

    H uma dcada, o cardpio de crianas era baseado principalmente em arroz, feijo,

    carne e salada, sendo que nesta poca, o ndice de obesidade infantil era nfimo. Hoje a

    alimentao das crianas passou a ser composta por hambrgueres, batatas fritas, carnes

    gordurosas e molhos hipercalricos, o que ocasiona aumento nos ndices de colesterol e

    protenas e, consequentemente o ndice de obesidade aumenta. Alm disso, o computador e a

  • 13

    televiso vm roubando espao das brincadeiras que exigem esforos (COUTINHO, 1999).

    Nesta perspectiva ao longo dos ltimos anos foram observadas mudanas

    significativas de hbitos, como o consumo de alimentos industrializados, rotina de vida

    sedentria, os mesmos contribuem para o crescimento demasiado da obesidade em pessoas

    jovens. O reflexo deste processo para a sade de crianas e adolescentes alarmante e

    assustador, fazendo com que haja inmeros gastos pblicos no combate a obesidade e a sua

    preveno atravs de programas de educao. O aumento de peso entre crianas torna maior o

    risco para que elas venham a se tornar crianas obesas (BRASIL, 2010).

    O local de escolha para o desenvolvimento de nossa pesquisa foi um Centro de

    Educao Infantil. Definimos nosso pblico alvo e a faixa etria escolhida que compreende

    crianas dos 3 aos 6 anos, funcionrios da escola, professores, merendeiras e a nutricionista.

    A faixa etria escolhida se deve ao fato de que a obesidade pode ter incio em qualquer poca

    da vida, mas seu aparecimento comum especialmente no primeiro ano de vida e entre cinco

    e seis anos de idade (DAMIANI, 2002 apud GONALVES; GORAYEB, 2005).

    Entretanto, preciso considerar que a obesidade exige ateno especial em qualquer

    fase da vida. Deve-se ainda a escolha do grupo etrio para este estudo, devido ao fato de

    acreditarmos que os hbitos saudveis se desenvolvem no incio da vida e devem ser

    cultivados no inicio da infncia, para que sejam efetivamente integrados ao cotidiano e a

    maneira de viver o dia a dia. O tratamento do sobrepeso e da obesidade, implica em

    modificaes dos hbitos alimentares que precisam iniciar desde a primeira infncia que

    compreende a faixa de 0 a 7 anos de idade, pois:

    neste perodo da vida que a pessoa estrutura a maneira pela qual ela ir se confrontar com a realidade, atravs das mensagens recebidas primeiramente dos pais e da famlia, e que so inscritas no corpo e em seu imaginrio. Nesta fase inicia-se a estruturao de significados e de crenas sobre si mesmo (GIARETTA, 2007, p. 10).

    A criana aprende a gostar de alimentos que lhe so oferecidos com frequncia, e

    passam a gostar da maneira com que eles foram introduzidos inicialmente. nos pais e

    professores que nossa ateno se transforma em objeto de estudo. Cabe aos pais e aos

    profissionais do Centro de Educao Infantil, os quais esto inseridos no dia a dia das

    crianas, estabelecer hbitos alimentares saudveis e atividades fsicas direcionadas a esta

    fase da criana. A criana no possui a conscincia de adulto para poder verificar a diferena

    entre alimentos saudveis e alimentos agradveis a ela. desejvel que ela faa a ingesto de

    alimentos com baixos teores de acar e sal, de modo que esses hbitos perdurem durante a

    fase adulta (WHALEY, 1999). Porm, o que vemos diariamente que verses doces ou mais

  • 14

    condimentadas fazem com que as crianas no se interessem por consumir frutas, verduras e

    legumes na sua forma natural, sendo comum mes e cuidadoras oferecerem elas alimentos

    de sua preferncia.

    Desenvolver uma conscincia implica aprender as normas morais socioculturais da

    herana da famlia. Dependendo do tipo de atitude transmitida, as crianas aprendero no

    apenas os comportamentos apropriados, mas tambm valores tolerantes, tendenciosos ou

    prejudiciais em relao a suas bases tnicas. Grande parte desta influncia pode permanecer

    latente at que elas se associem as crianas ou adultos de uma herana diferente. Ento,

    dependendo do grupo em que esto, elas podem tornar-se aceitas ou condenadas por suas

    atitudes (WALEY, 1999).

    Embora seja mais fcil desenvolver do que mudar hbitos de vida em crianas e

    adolescentes, isso exige educao que precisa envolver os pais, educadores e profissionais da

    sade (BERGAMO, 2005).

    Os cuidados de enfermagem num Centro de Educao Infantil, vo desde

    desenvolver cuidados relativos a adaptao das crianas, provimento de sono e repouso, at a

    proteo contra doenas transmissveis e infeces. Ainda o acompanhamento do crescimento

    e desenvolvimento das crianas, proteo contra acidentes, e cuidados de enfermagem aos

    funcionrios da unidade (GASTALDON; MARTINS; POLTRONIRI, 2007).

    A Enfermagem, por ser uma profisso que integra cincia e arte do cuidar torna-se

    condutora do resgate do ser famlia saudvel na atualidade.

    Qualidade de vida o estilo de vida que permite que a pessoa desenvolva o mximo

    de potencialidades, viver, sentir, amar, trabalhar, um grau de vida encontrado de satisfao

    na vida familiar, amorosa, social e ambiental e a prpria esttica existencial (MINAYO;

    RUFINO; OMS, 2000). Tratar de um ser humano obeso um grande desafio e nem todos os

    profissionais envolvidos esto preparados e aptos a realizar.

    A obesidade infantil um problema de sade, e um desafio aos cuidadores, pois,

    ainda h pessoas que consideram uma criana obesa como sinnimo de sade. Uma criana

    obesa por sua vez, no possui a mentalidade e o conhecimento de um adulto. Para elas,

    principalmente nesta fase de conhecer que se encontram, uma reeducao alimentar pode ser

    sinnimo de castigo e repreenso. Desta forma atribui-se a obesidade infantil e os riscos para,

    principalmente a hbitos alimentares inadequados, a ausncia de atividades fsicas adequadas

    a cada fase de vida e a introduo no mercado de alimentos hipercalricos, ricos em lipdeos,

    carboidratos, gordura trans, a grande vil da obesidade (VIUNISKI, 2005).

  • 15

    A enfermagem deve delinear-se com uma estrutura que facilite a organizao com

    competncia, intervindo junto ao ser humano num relacionamento cooperativo, na sade da

    famlia olhando de maneira a compreender o problema, direcionando o foco da interveno

    num relacionamento cooperativo. A enfermagem deve saber trabalhar com a equipe

    multidisciplinar, com seus pacientes e familiares de forma tica, lembrar sempre que trabalha

    em defesa da vida, devendo garantir a todos, o direito sade.

    Um trabalho qualitativo realizado pela enfermagem crucialmente estabelecido pelo

    acolhimento ao paciente e preveno de riscos, ele o foco de trabalho onde se busca atend-

    lo de forma humanizada, embasado em conhecimento cientifico, atendendo suas necessidades,

    anseios e melhorando suas condies de sade.

    No entanto, a enfermeira desenvolvendo o papel assistencial e gerencial dos servios

    de sade, acaba exercendo muitas funes, limitando-se em alguns aspectos. Cabe a ns

    profissionais da sade termos o conhecimento e repass-lo a populao, esclarecer dvidas,

    ensinar cuidados, buscar alm da preveno a promoo da sade.

    A prevalncia de obesidade tambm est crescendo intensamente, na infncia e na

    adolescncia, e tende a persistir na vida adulta. Cerca de 50% de crianas obesas aos seis

    meses de idade, e 80% das crianas obesas aos cinco anos de idade, permanecero obesas.

    Alm disso, evidncias cientficas tem revelado que a aterosclerose e a hipertenso arterial

    so processos patolgicos iniciados na infncia, e nesta faixa etria so formados os hbitos

    alimentares e de atividade fsica (RAMOS; FILHO, 2003). Por isso, a preocupao sobre

    preveno, diagnstico e tratamento da obesidade tem-se voltado para a infncia.

    A preveno da obesidade infantil realizada atravs de uma metodologia para

    avaliao do problema, estabelecimento de riscos e a elaborao de medidas educativas que

    visam diminuir o risco de desenvolvimento da obesidade em crianas e de doenas

    relacionadas. Conhecendo os riscos temos armas para prevenir o problema.

    A obesidade considerada em pases desenvolvidos um problema de sade pblica, e

    pela Organizao Mundial da Sade (OMS) uma epidemia global. A obesidade consiste no

    resultado de um desequilbrio entre a ingesto calrica e os gastos energticos utilizados para

    a manuteno das diversas atividades orgnicas e outras atividades adicionais.

    Os tipos de problemas nutricionais variam entre regies geogrficas e

    administrativas, entre populaes urbanas e rurais, entre famlias de uma comunidade e

    crianas de uma mesma famlia. Essas variaes, em uma dimenso mais abrangente, podem

    ser explicadas pelo grau de desenvolvimento econmico, pela distribuio de riquezas e pelo

    nvel de estabilidade econmica, pelas prioridades atribudas aos gastos pblicos e pelo

    padro scio cultural da populao (BRASIL, 2010).

  • 16

    O aumento do consumo de alimentos industrializados nas ltimas trs dcadas por

    crianas em idade pr-escolar se relaciona ao crescimento de algumas doenas entre crianas

    e adolescentes. Se pessoas em uma faixa etria to jovem apresentam riscos para obesidade, j

    so obesas ou esto acima do peso tendem a sofrer mais cedo de problemas de sade como

    hipertenso, diabetes, distrbios respiratrios, cncer e outras doenas cardiovasculares.

    O aumento da obesidade na populao tem causado impacto na sade pblica e

    exigido recursos cada vez maiores no tratamento de doenas dela derivadas. Os efeitos

    negativos da obesidade afetam a sade e esto frequentemente ligados ao desenvolvimento de

    hbitos de vida inadequados ainda na infncia do indivduo (BRASIL, 2010).

    Durante dcadas a obesidade foi vista como sinnimo de beleza, bem estar fsico,

    riqueza e poder. Hoje ela constitui um importante problema de sade pblica, tanto pelo seu

    impacto na expectativa mdia de vida, como pela piora que causa na sua qualidade, sendo a

    principal causa de morte evitvel, ao lado do tabagismo (BRASIL, 2010).

    A aplicabilidade deste estudo foi viabilizada atravs da coleta de informaes

    relevantes a riscos apresentados por crianas pr-escolares em um Centro de Educao

    Infantil no municpio de Blumenau, atravs de uma pesquisa caracterizada como qualitativa e

    de campo. Aps estabelecidos critrios partimos s entrevistas, envolvendo os professores,

    merendeira e a profissional de sade nutricionista do Centro de Educao Infantil. O presente

    trabalho respondeu a seguinte pergunta: quais so as aes realizadas para a preveno da

    obesidade infantil em uma unidade pr-escolar?

  • 17

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo Geral:

    Conhecer as aes realizadas para a preveno da obesidade infantil em uma unidade

    pr-escolar.

    2.2 Objetivos Especficos

    a) identificar as aes de preveno desenvolvidas pela equipe do Centro de

    Educao Infantil;

    b) propor aes educativas para preveno da obesidade infantil.

  • 18

    3 REVISO DE LITERATURA

    3.1 OBESIDADE INFANTIL

    A obesidade considerada uma enfermidade crnica, representando, atualmente o

    principal distrbio nutricional. Tambm pode ser encarado como sndrome, algo de mltiplas

    facetas estando sujeita a diversos fatores que influenciam, sendo: meio ambiente, aspectos

    emocionais, culturas econmicas, sociais, ingesto de alimentos de alto valor calrico,

    sedentarismo, e estrutura familiar (SPADA, 2005).

    Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o Brasil tem cerca

    de 18 milhes de pessoas consideradas obesas, somando o total de indivduos acima do peso,

    o montante chega a 70 milhes, o dobro de trs dcadas atrs. Os resultados dos estudos

    epidemiolgicos na ltima dcada apontam a obesidade como importante condio que

    predispe a maior morbidade. A prevalncia da obesidade vem aumentando em todos os

    pases desenvolvidos. O excesso de peso e mortalidade condicionada pela obesidade decorre

    principalmente da maior ocorrncia de problemas cardiovasculares.

    A obesidade resultado de ingerir mais energia do que a necessria. No h dvidas

    que o consumo excessivo pode-se iniciar nas primeiras fases da vida, nas quais as influncias

    culturais e os hbitos familiares possuem um papel fundamental. Por isso dizemos que a

    obesidade possui fatores de carter mltiplo, tais como os genticos, psicossociais, culturais-

    nutricionais, endcrinos e metablicos (COUTINHO, 1999).

    A obesidade a doena crnica nutricional que mais vem crescendo no mundo, com

    consequncias desastrosas em todas as faixas etrias e todas as camadas da populao.

    Antigamente acreditava-se que s era gordo quem queria, que o obeso era um sujeito guloso,

    relaxado, sem fora de vontade e preguioso, hoje, so conhecidos mais de 200 genes

    diretamente implicados com a obesidade e existem mais de uma centena de outros, que esto

    sendo estudados, suspeitos de levar o organismo a aumentar de peso.

    Nas naes em desenvolvimento, ocorre um fenmeno chamado de Inverso

    Epidemiolgica. Significa dizer que as doenas infectocontagiosas que antes eram os

    principais problemas de sade dessas populaes, agora foram superadas por um grupo de

    enfermidades conhecidas como crnico degenerativas como diabetes mellitus tipo II,

    dislipidemias, as enfermidades cardiovasculares e a hipertenso arterial (VIUNISKI, 2005).

  • 19

    Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (2010) o aumento

    na frequncia de cncer de coln, reto e prstata tem sido observado em homens obesos,

    enquanto em mulheres se associa a maior frequncia de cncer de vescula, endomtrio e

    mamas. Alm disso, a obesidade predispe a outras condies mrbidas tais como coletitiase,

    esteatose heptica, osteoartrite, osteoartrose, apneia obstrutiva do sono, alteraes da

    ventilao pulmonar, alteraes dos ciclos menstruais e reduo da fertilidade, condies que

    apresentam melhora com a perda de peso. Embora ainda no existam dados suficientes para

    afirmar que o tratamento efetivo da obesidade reduz a mortalidade, no existem dvidas de

    que a reduo de peso da ordem de 5% a 10% uma medida efetiva no sentido de combater

    as condies mrbidas que aumentam o risco cardiovascular.

    Alguns medicamentos funcionam como grandes estimuladores de apetite ou

    provocam ganho de peso, podendo desencadear obesidade nas crianas. Drogas como

    corticoides (antialrgico) e anti-inflamatrios potentes derivados sintticos dos hormnios da

    glndula supra renal, quando usados de forma errada, podem gerar grandes aumentos de peso

    e reteno de lquidos e causar a Sndrome de Cushing. Esto presentes em alguns colrios,

    pomadas e gotas nasais que tambm podem ser absorvidas pelo organismo (VIUNISKI,

    2005).

    A inatividade e o sedentarismo nos seres vivos em seu ambiente natural esto sempre

    em atividade ou, pelo menos, aptos para uma ao em qualquer momento. Com a evoluo da

    civilizao trocamos o cenrio hostil das cavernas pr-histricas por confortveis casas com

    televiso e telefone. Passamos de uma vida de caadores nmades para uma existncia

    cercados de fast foods e tele pizzas. O progresso e o conforto trouxeram o sedentarismo e a

    inatividade. A quantidade de energia que precisamos gastar para nos alimentar, nos abrigar,

    nos transportar, nos aquecer e nos divertir, vem caindo vertinosamente com o passar dos anos

    (VIUNISKI, 2005).

    O uso inadequado dos alimentos preocupante quando as crianas passam a se

    interessar mais pela aparncia e sabor dos alimentos do que pela fome propriamente dita.

    Certamente esse tipo de comportamento tem raiz no mau costume de agradar as crianas com

    guloseimas. Isso vai desde os avs queridos que sempre tem uma balinha para seus netinhos,

    passam por alguns mdicos, que tentam cativar seus pacientezinhos com alguma guloseima e

    chega a extremos como o da indstria farmacutica que propaga o delicioso sabor de frutas de

    seus potentes antibiticos (VIUNISKI, 2005).

  • 20

    Acreditamos que mais da metade do que comemos, o fazemos pelos olhos. Em outras

    palavras o fato de termos os alimentos perto e facilmente disponveis contribui para que estes

    sejam consumidos. Se ao chegar da escola a criana encontra na sala da casa uma caixa de

    bombons ela certamente se servir de um ou uns. Mas se essa mesma criana ao chegar em

    casa se deparar com uma linda cesta de frutas o que far. Para piorar quanto maior o teor de

    gorduras de alimentos mais apetitosos, maior grau de satisfao ele trar, porm, ser

    necessria uma quantidade maior para a criana atingir a saciedade, alm de saber que um

    grama de gordura fornece nove calorias enquanto um grama de acar ou protena fornece

    apenas quatro calorias.

    Existem perodos na vida em que aumentar de peso mais perigoso que em outros.

    Podemos engordar atravs do aumento de nmero das nossas clulas (hiperplasia) e tambm

    adiposas costumam aumentar de nmero desde o final da gestao at os 18 meses de idade e

    dos cinco aos sete anos, essas fases so de alto risco para desenvolver obesidade pelo aumento

    do tamanho das clulas de gordura (hipertrofia). Essas clulas podem aumentar ou diminuir

    de tamanho com o passar do tempo, porm, uma vez determinada sua quantidade, essas se

    mantm por toda a vida. mais difcil tratar pessoas com muitas clulas de gordura do que

    pacientes com adipcitos grandes (VIUNISKI, 2005).

    Na criana a clula adiposa, o tecido adiposo, a gordura, formam-se no primeiro ano

    de vida em grande quantidade. Mais ou menos 40% do peso da criana no fim do primeiro

    ano de vida correspondente a gordura. Na criana at um ano de idade, as clulas adiposas

    no se multiplicam, apenas acumulam gordura em seu interior. A quantidade mxima de

    gordura que cada clula consegue armazenar na criana ou no adulto um grama. Os bebs

    so gordinhos porque vo precisar dessas reservas de gordura quando comearem a andar,

    medida que a criana cresce em altura, essas reservas vo sendo consumidas. Quando ela

    chega aos cinco ou seis anos de idade, as reservas de gordura esto geralmente em seu nvel

    mais baixo (VARELA, 2005).

    As reservas de gordura devem permanecer baixas at os sete anos, quando voltam a

    crescer, mas hoje, as crianas comem muito mais alimentos doces e gordurosos e isso faz com

    que as clulas de gordura se desenvolvam mais cedo. Com quatro ou cinco anos, as crianas

    j produzem um tecido gorduroso que s deveria ser formado aos sete, os pais devem estar

    atentos a esse indcio de obesidade na criana. Se o pai observa que o filho est comeando a

    ganhar peso por volta dos quatro, cinco anos, requer a ateno e deve ser realizada a consulta

    a um pediatra. Pois nesta faixa etria no normal que a criana engorde. Na criana magra,

  • 21

    dos dois aos dez anos, ocorre apenas um pequeno aumento do nmero de clulas adiposas, as

    clulas existentes incham ou esvaziam seu contedo gorduroso de acordo com os gastos de

    energia do organismo. Nas crianas obesas as clulas adiposas tambm incham, acumulam

    gordura em seu interior, mas ocorre a formao de novas clulas, que vo armazenar mais

    gordura (VARELA, 2005).

    3.2 A CRIANA EM FASE PR-ESCOLAR E A OBESIDADE

    Atualmente vivemos o desenvolvimento de uma epidemia global em vrios pases,

    dentre eles o Brasil. Segundo dados da ltima Pesquisa de Oramentos Familiares

    (POF/IBGE), realizada em 2002/03 pelo Ministrio da Sade, 16,7% dos adolescentes entre

    10 e 19 anos tm excesso de peso e, destes, 2,3% obesidade (BRASIL, 2010).

    A obesidade se tornou uma epidemia que afeta 10% da populao infantil. Uma em

    cada trs crianas brasileiras entre sete e 12 anos esta acima do peso. E um nmero cada vez

    maior de mes, se desespera com a situao: a do filho que come demais (BRASIL, 2010).

    O aumento da obesidade relacionado com as grandes mudanas ambientais que

    ocorrem com o progresso das ltimas dcadas, com as pessoas vivendo em um estilo mais

    sedentrio e tendo acesso a alimentos ricos em gordura, calorias e pobre em fibras, descreve

    que a obesidade para os epidemiologistas tambm apresentam explicaes ambientais, tendo

    em vista que poucos ou quase nenhuma alterao gentica da populao tenha ocorrido nos

    ltimos tempos. Em contrapartida, as mudanas nos estilos de vida foram significativas

    (VIUNISKI, 2007)

    De acordo com Bergamo (2005), estima-se que apenas um tero das crianas

    pratique meia hora de atividades fsicas dirias, as crianas deixaram de brincar ao ar livre

    para permanecer em frente a computadores e televiso. necessrio que haja mudanas nos

    hbitos das crianas e adolescentes com a participao de adultos, profissionais de sade e

    famlia. Nos Estados Unidos, onde a obesidade atinge um nvel de 30% da populao, iniciou-

    se uma guerra contra as fast foods, considerados um dos maiores viles da obesidade

    (NEIVA, 2004).

    As mes e pais sempre ficam ansiosos quando os filhos no comem. Ver os netos

    gordinhos sempre foi a alegria das avs. Antigamente uma criana rechonchuda era admirada

    como saudvel. E com razo, pois naquela poca um mundo sem antibitico, sem

    saneamento, associado por epidemias de fome, a criana mais gordinha tinha muitas chances

  • 22

    de resistir. A necessidade de manter os filhos superalimentados nos perodos de fartura,

    alimentar foi to essencial a sobrevivncia da espcie humana que ainda hoje as mes

    enlouquecem quando os filhos no querem comer. Mas este padro esta mudando, muitas

    vezes os pais observam a criana e foram a alimentao, isso um ato que no correto. Ela

    sabe o quanto precisa comer. E se a me, o pai ou avs comeam a forar, a insistir para que a

    criana coma sem vontade, ela comea a perder a sensao de saciedade, de saber que j esta

    satisfeita. E mais tarde descobre que no consegue parar de comer (VARELA, 2005).

    3.3 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL DO PR-ESCOLAR

    A principal tarefa psicossocial desenvolvida pela criana no perodo pr-escolar

    adquirir o sentido de iniciativa. As crianas esto em um estgio de aprendizagem energtica.

    Elas brincam, trabalham e vivem a plenitude e tem uma sensao de realizao e de satisfao

    em suas atividades. O desenvolvimento do julgamento moral por parte das crianas mais

    jovens encontra-se no nvel bsico.

    H pouca preocupao, quando existente, sobre porque algo est errado. Elas se

    comportam ao sabor da liberdade ou da restrio que feita sobre as aes. Na orientao de

    punio e obedincia, as crianas julgam se uma ao boa ou ruim, dependendo dela resultar

    em recompensa ou punio. Quando as crianas so punidas por ela a ao ruim e quando

    elas no so punidas a ao boa, independente do significado do ato (WHALEY, 1999).

    Conforme Wong (1999, p. 26), [...] o crescimento e desenvolvimento so referidos

    como uma unidade expressa soma de numerosas mudanas que ocorrem durante a vida de

    um individuo. Este um processo dinmico que engloba varias dimenses inter-

    relacionadas.

    As crianas encontram-se no estgio de orientao instrumental simples, no qual as

    aes so direcionadas no sentido da satisfao de suas necessidades e, menos amide, das

    necessidades dos outros. A linguagem continua a se desenvolver durante o perodo pr-

    escolar. A fala permanece principalmente como um veculo de comunicao egocntrica.

    Os pr-escolares supem que todos pensam como eles e que uma breve explicao de

    seus pensamentos torna todo o processo de pensamento compreendido pelos outros. No

    desenvolvimento social aprendem a respeitar diferentes pontos de vista, argumentar,

    barganhar, cooperar e comprometer-se para manter amizades. Na famlia encontram proteo

    e apoio (WHALEY, 1999).

  • 23

    As realizaes biolgicas, psicossociais, cognitivas e sociais combinadas durante o

    perodo pr-escolar (3 a 5 anos) preparam os pr-escolares para a mudana mais significativa

    em seus estilos de vida. Seus controles dos sistemas corporais, a experincia de perodos

    curtos e prolongados de separao dos pais, a capacidade de interagir de forma cooperativa

    com outras crianas e adultos, o uso da linguagem para o simbolismo mental e o espectro de

    ateno e a memria aumentados, os capacitam para o prximo perodo importante, os anos

    escolares (WHALEY, 1999).

    3.4 A CRIANA COM OBESIDADE E SUA INTERAO COM A SOCIEDADE

    Quando crianas, os adultos de hoje jogavam bola, soltavam pipas e brincavam fora

    de casa. Hoje as ruas das grandes cidades so dominadas pelo trnsito intenso e no existe

    mais espao para as brincadeiras infantis. As crianas e os adolescentes passam horas, todos

    os dias diante do computador, da televiso e do videogame. Na hora das refeies os hbitos

    tambm no so nem um pouco saudveis, cheeseburgueres e outras comidas gordurosas

    fazem muito mais sucesso que alimentos leves e saudveis, como saladas.

    muito difcil convencer as crianas a comer verduras, pois no tem a mesma

    palatabilidade, o mesmo sabor que um hambrguer, naturalmente a criana no tem este tipo

    de preferncia. Neste caso novamente os pais devem estimular a criana para que prove estes

    tipos de alimentos, para que elas possam ver que estes alimentos tambm so gostosos. No

    fcil para uma criana lidar com o excesso de peso, quase sempre ela sofre na escola,

    deixada de lado nas brincadeiras, recebe apelidos e acaba ficando muito sozinha e quando

    chega a adolescncia o problema se agrava (VARELA, 2005).

    Convencer as crianas de que batata frita, ruim e que o bom fruta, cenoura e

    alface, uma tarefa difcil. Gordura pode fazer bem e importante para o crescimento das

    crianas, assim como o acar. Esses dois alimentos agora so vistos com outros olhos por

    especialistas. Quem come pouca gordura boa, precisa comer mais. Um exemplo de gordura

    boa o omega 3. Alm de prevenir ataques cardacos, depresses e ajudar na memria, ele

    seria capaz de aumentar a inteligncia das crianas. O importante no dizer aos pais para

    fazerem dieta, eliminando totalmente aucares e gorduras e sim, fazer uma dieta balanceada,

    em que todos os componentes, mais as protenas, devam ser inseridas na alimentao das

    crianas.

  • 24

    Nada imobiliza mais uma criana saudvel do que a televiso, foi demonstrado que

    as crianas dos dois aos cinco anos assistem cerca de 20 horas de televiso por semana, e as

    crianas dos seis aos 11 anos assistem a 23 horas por semana. Se somarmos esse tempo no

    perodo de um ano veremos que as crianas passam na frente do televisor mais tempo do que

    outra atividade qualquer, exceto dormindo. Para agravar mais ainda a situao as crianas so

    submetidas a um bombardeio de propagandas, a maioria de guloseimas, que somadas

    inatividade e o mau hbito de comer diante da tela, como essa criana esta profundamente

    com o mundo irreal que se passa do outro lado do cubo de imagem, no se da conta da

    quantidade e da qualidade que esta ingerindo (VIUNISKI, 2005).

    Quando comparamos as atividades de lazer das nossas crianas, hoje com as

    brincadeiras das geraes anteriores percebemos que os passeios de bicicleta, bate bola no

    fundo de casa, pula cordas, amarelinha, pega-pega, brincadeiras de roda e inmeras outras

    diverses, foram substitudas pela televiso e jogos de computador. O efeito dessa queda no

    consumo dirio de energia, juntamente com uma maior oferta de guloseimas resulta em um

    aumento de peso mdio de crianas. comum adultos sofrerem com seu peso, muitas vezes

    esses problemas iniciaram na infncia. Sabemos dos diversos riscos para a sade que a

    acompanham e o que pior, o terrvel estresse psicolgico, a rejeio social e os traumas

    emocionais que essa criana vai carregar pela vida afora, a partir da preveno, possvel que

    essas crianas no se tornem obesas (VARELA, 2005).

    Se conseguirmos identificar quais as crianas correm maior riscos de se tornar obesas

    e, principalmente, se tivermos xito e modificar os fatores de riscos que podem ser

    modificados, estaremos prevenindo a obesidade infantil e certamente oferecendo uma melhor

    perspectiva de vida as pessoas. O ideal seria que todas as reas que trabalham diretamente

    com a criana: a famlia, escolas, creches e pediatras, estejam atentos para a questo da

    obesidade, seus fatores de riscos e medidas de preveno.

    3.4.1 Mudanas de Hbitos

    Segundo o Caderno de Ateno Bsica n23 do Ministrio da Sade, acar, caf,

    enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos, biscoitos recheados e outros alimentos

    com grandes quantidades de acar, gordura e corantes devem ser evitados, especialmente nos

    primeiros anos de vida. J foi demonstrado que o consumo desses tipos de alimentos esta

    associado ao excesso de peso e a obesidade ainda na infncia, condies que podem perdurar

  • 25

    at a idade adulta, alm de provocarem dislipidemias e alteraes da presso arterial, so

    causas de anemia e alergias. As crianas j nascem com preferncia ao doce, portanto oferecer

    alimentos adicionados de acar ou alimentos com grandes quantidades de energia faz com

    que a criana se desinteresse pelos cereais, verduras e legumes.

    As crianas tem preferncia por sabores doces e salgados e rejeitam sabores amargos

    e azedos. O sabor dos alimentos identificado por clulas especializadas, muito sensveis na

    ponta da lngua. As clulas responsveis pela identificao do gosto amargo esto localizadas

    na parte de trs da lngua e as responsveis pelo sabor azedo um pouco mais ao meio

    (VARELA, 2005).

    O sabor da gordura no detectado por clulas especializadas, mas age em todas as

    clulas gustativas ressaltando o sabor dos alimentos. Acar como a protena, cada grama

    libera quatro calorias. A gordura libera bem mais e tem o dobro do valor calrico da protena.

    Uma grama equivale a nove calorias (VARELA, 2005).

    Quando ingerimos carboidratos, como pes, farinha, arroz branco e batata, o

    pncreas obrigado a produzir insulina, para o organismo conseguir absorver as calorias que

    as molculas de carboidratos carregam. Mas nem todos os carboidratos fornecem o mesmo

    nmero de calorias. H os carboidratos simples como po, doces e batatas, que caem na

    circulao rapidamente e foram o pncreas a produzir muita insulina e por isso dizemos que

    eles tm ndice glicmico alto, absoro rpida, mais insulina. H tambm os carboidratos

    complexos, como o das frutas e dos cereais integrais, que so absorvidos mais devagar e

    exigem menos insulina, esses tm ndice glicmico baixo (VARELA, 2005).

    As fibras contidas nos vegetais, nas saladas, nas frutas, de um modo geral, quando

    ingeridos junto com os carboidratos, do mais trabalho para o aparelho digestivo e por isso

    reduzem o ndice glicmico dos outros alimentos. Ou seja, cada vez que ingerimos fibras

    vindas de legumes, frutas e verduras dificultamos a absoro de carboidratos. So poucas as

    escolas que oferecem alimentao saudvel na hora do intervalo, geralmente so servidos

    lanches como hambrgueres, pizzas, salgadinhos, doces e refrigerantes. Se j difcil para um

    adulto resistir, fica difcil a criana resistir a tentao (VARELA, 2005).

    possvel que haja correo na alimentao de uma criana se houver apoio da

    famlia, pois realizar dietas separadas ou comidas diferentes contribuem para que no haja

    sucesso no tratamento. As mudanas precisam ocorrer ainda no momento da compra dos

    alimentos, nas atitudes na hora da refeio. Devem ocorrer mudanas comportamentais,

    valorizando seis refeies por dia e observar a pirmide alimentar. preciso evitar comer

  • 26

    fora de horrio, evitar alimentos gordurosos e hipercalricos e incentivar o consumo de frutas

    e verduras. Realizar refeies com a famlia reunida, evitando assuntos desnecessrios mesa,

    preciso que os pais participem deste processo (VINIUSKI, 2007).

    A boa nutrio um ato de equilbrio, preciso saber escolher alimentos suficientes

    em protenas, vitaminas, minerais e fibras e com pouca gordura, sdio e acar. O consumo

    de energia precisa estar em equilbrio com o gasto de energia.

    Manter o peso adequado, evitar excesso de acar, ingerir alimentos variados, evitar

    excesso de sdio, evitar consumo de gorduras principalmente saturadas e colesterol, ingerir

    alimentos com quantidade adequada de amido e fibras podem ajudar a famlia na seleo de

    uma dieta saudvel (VTOLO, 2003).

    O apetite das crianas varivel assim como e de adultos. Este apetite pode variar de

    acordo com a fase de desenvolvimento, com o nvel de atividade em que se encontra com os

    gostos alimentares no momento. As necessidades das crianas podem ser melhores

    correspondidas atravs de uma alimentao equilibrada e variedade de alimentos.

    3.5 A OBESIDADE E SUAS CONSEQUNCIAS

    Atualmente a obesidade infantil se trata de um problema de sade pblica e a

    enfermagem tem um grande e importante papel nesse agravo. Alm de desenvolvermos aes

    para a preveno e promoo da obesidade preciso divulgar essa temtica entre a rea

    acadmica para que possamos contribuir para a sade pblica coletiva. A obesidade

    considerada uma enfermidade crnica, caracterizando-se pelo acmulo de gordura, em

    proporo que comprometa a sade, sendo as complicaes mais comuns a diabetes mellitus,

    complicaes cardiolgicas como a hipertenso arterial e coronariopatias e alteraes

    osteomusculares (CONSENSO LATINO AMERICANO EM OBESIDADE, 1999). As

    complicaes da obesidade infantil a longo prazo so inmeras, daremos destaques a diabetes

    mellitus e a hipertenso arterial.

    3.5.1 Hipertenso arterial

    Trata-se da presso exercida pelo corao sobre as artrias, que pode ser medida por

    dois valores, mximo (presso sistlica), que diz respeito presso que o corao faz para

    bombear o sangue em direo aos outros rgos e o mnimo (presso distlica) que se refere

    acomodao do sangue nos vasos sanguneos (SMELTZER, 2005).

  • 27

    Para adultos, a Organizao Mundial da Sade aceita como normal uma presso

    mxima de at 140 mmHg e uma presso mnima de at 90 mmHg (14 por 9). Entretanto, tem

    havido uma tendncia reduo desses nveis por conta da dificuldade em demarcar os

    limites entre os valores normais e a alteraes que indicam hipertenso. Suas artrias ficam

    apertadas e dificultam a passagem do sangue, razo pela qual o corao precisa exercer uma

    presso maior para bombe-lo (SMELTZER, 2005).

    importante controlar porque a expectativa de vida de uma pessoa com hipertenso

    40% menor que a de um indivduo sadio, ao longo dos anos. O fato que, ao esforar-se

    para bombear o sangue, o corao do hipertenso fica vulnervel insuficincia cardaca.

    Alm disso, devido ao aumento da presso, vai desgastando os vasos, que podem romper-se e

    causar o derrame cerebral. Esse desgaste ainda facilita o acmulo de placas de gordura nas

    artrias, predispondo o indivduo ao infarto. Outra consequncia grave o comprometimento

    do sistema de filtrao dos rins (BUSATO, 2009).

    A hipertenso arterial sistmica uma doena crnica que, quando no tratada e

    controlada adequadamente, pode levar a complicaes que podem atingir outros rgos e

    sistemas. No sistema nervoso central podem ocorrer infartos, hemorragia e encefalopatia

    hipertensiva. No corao, pode ocorrer cardiopatia isqumica (angina), insuficincia cardaca,

    aumento do corao e, em alguns casos, morte sbita. No sistema vascular, pode ocorrer

    entupimentos e obstrues das artrias cartidas, aneurisma de aorta e doena vascular

    perifrica dos membros inferiores. No sistema visual, h retinopatia que reduz muito a viso

    dos pacientes (BUSATO, 2009).

    3.5.2 Diabetes Mellitus Tipo II

    A insulina um hormnio produzido pelo pncreas, ao alimentar-se, o organismo

    transforma grande parte do alimento em acar (glicose) que o sangue levar para as clulas

    do corpo como energia. A insulina auxilia a entrada do acar nas clulas e controla sua taxa

    no sangue. Quando o organismo no produz insulina suficiente ou tem problema para us-la

    adequadamente, as clulas no absorvem suficientemente acar do sangue. O resultado

    uma alta na taxa de acar no sangue. Possuir Diabetes Mellitus tipo II, significa a no

    suficiente produo de insulina pelo organismo e/ou a incapacidade de us-la adequadamente.

    Este problema em relao insulina afeta a maneira como o organismo processa os alimentos

    (CZEPIELEWSKI, 2009)

  • 28

    O Diabetes Mellitus tipo II mais comum em adultos acima de 40 anos,

    principalmente se estes esto acima do peso. Crianas e adolescentes acima do peso tambm

    podem ter este tipo de diabetes.

    A causa precisa do diabetes tipo II no conhecida. No entanto, medida que as

    pessoas envelhecem ou ganham peso, esto mais propensas a terem diabetes, pois o pncreas

    pode no funcionar adequadamente, ou as clulas podem se tornar incapazes de usar a

    insulina produzida por ele. Hereditariedade tambm um importante fator (CZEPIELEWSKI,

    2009)

    Segundo Smeltzer (2005), a Diabetes Mellitus tipo II pode causar os seguintes

    sintomas: aumento na mico, sede excessiva e ingesto de muito lquido, perda ou ganho de

    peso, viso embaada, infeces cutneas, infeces vaginais, cansao, cicatrizao lenta,

    sensaes no comuns de formigamento, queimao e coceira na pele, normalmente nas mos

    e ps, infeces no prepcio (pele que cobre o pnis) em homens no circuncidados. Os

    sintomas das complicaes envolvem queixas visuais, cardacas, circulatrias, digestivas,

    renais, urinrias, neurolgicas, dermatolgicas e ortopdicas, entre outras.

    Sintomas visuais apresentam viso borrada e dificuldade de refrao. As

    complicaes em longo prazo, envolvem diminuio da acuidade visual e viso turva que

    podem estar associadas a catarata ou a alteraes retinianas denominadas retinopatia

    diabtica. A retinopatia diabtica pode levar ao envolvimento importante da retina causando

    inclusive descolamento de retina, hemorragia vtrea e cegueira.

    Sintomas cardacos apresentam uma maior prevalncia de hipertenso arterial,

    obesidade e alteraes de gorduras. Por estes motivos e, principalmente se houver tabagismo

    associado, pode ocorrer doena cardaca. A doena cardaca pode envolver as coronrias, o

    msculo cardaco e o sistema de conduo dos estmulos eltricos do corao. Como o

    paciente apresenta em geral tambm algum grau de alterao dos nervos do corao, as

    alteraes cardacas podem no provocar nenhum sintoma, sendo descobertas apenas na

    presena de sintomas mais graves como o infarto do miocrdio, a insuficincia cardaca e as

    arritmias.

    Sintomas circulatrios se manifestam por arteriosclerose de diversos vasos

    sanguneos. So frequentes as complicaes que obstruem vasos importantes como as

    cartidas, a aorta, as artrias ilacas, e diversas outras de extremidades. Essas alteraes so

    particularmente importantes nos membros inferiores (pernas e ps), levando a um conjunto de

    alteraes que compem o p diabtico. O p diabtico envolve, alm das alteraes

  • 29

    circulatrias, os nervos perifricos (neuropatia perifrica), infeces fngicas e bacterianas e

    lceras de presso. Estas alteraes podem levar a amputao de membros inferiores, com

    grave comprometimento da qualidade de vida.

    Sintomas digestivos apresentam comprometimento da inervao do tubo digestivo,

    com diminuio de sua movimentao, principalmente em nvel de estmago e intestino

    grosso. Estas alteraes podem provocar sintomas de distenso abdominal e vmitos com

    resduos alimentares e diarreia. A diarreia caracteristicamente noturna, e ocorre sem dor

    abdominal significativa, frequentemente associado com incapacidade para reter as fezes.

    Sintomas renais evoluem lentamente e sem provocar sintomas. Os sintomas quando

    ocorrem em geral j significam uma perda de funo renal significativa. Esses sintomas so:

    edema de membros inferiores, aumento da presso arterial, anemia e perda de protenas pela

    urina.

    Sintomas urinrios os pacientes diabticos podem apresentar dificuldade para

    esvaziamento da bexiga em decorrncia da perda de sua inervao (bexiga neurognica). Essa

    alterao pode provocar perda de funo renal e funcionar como fator de manuteno de

    infeco urinria. No homem, essa alterao pode se associar com dificuldades de ereo e

    impotncia sexual, alm de piorar sintomas relacionados com aumento de volume da prstata.

    Sintomas neurolgicos o envolvimento de nervos no paciente diabtico pode

    provocar neurites agudas (paralisias agudas) nos nervos da face, dos olhos e das

    extremidades. Podem ocorrer tambm neurites crnicas que afetam os nervos dos membros

    superiores e inferiores, causando perda progressiva da sensibilidade vibratria, dolorosa, ao

    calor e ao toque. Essas alteraes so o principal fator para o surgimento de modificaes na

    posio articular e de pele que surgem na planta dos ps, podendo levar a formao de lceras

    (mal perfurante plantar). Os sinais mais caractersticos da presena de neuropatia so a perda

    de sensibilidade em bota e luva, o surgimento de deformidades como a perda do arco plantar e

    as mos em prece e as queixas de formigamentos e alternncia de resfriamento e calores nos

    ps e pernas, principalmente noite.

    Sintomas dermatolgicos os pacientes diabticos apresentam uma sensibilidade

    maior para infeces fngicas de pele (tinha corporis, intertrigo) e de unhas (onicomicose).

    Nas regies afetadas por neuropatia, ocorrem formaes de placas de pele engrossada

    denominadas hiperceratoses, que podem ser a manifestao inicial do mal perfurante plantar.

    Sintomas ortopdicos a perda de sensibilidade nas extremidades leva a uma srie de

    deformidades como os ps planos, os dedos em garra, e a degenerao das articulaes dos

    tornozelos ou joelhos.

  • 30

    3.6 CENTRO DE EDUCAO INFANTIL

    Partindo do dia a dia de educadoras infantis e do olhar sobre a infncia, sente-se a

    necessidade de aprofundar os estudos acerca da importncia do brincar na Educao Infantil.

    Com o ingresso da mulher no mercado de trabalho e o consequente aumento da participao

    efetiva das instituies na Educao Infantil e no desenvolvimento da criana, importante

    que se reflita cuidadosamente sobre a necessidade que ela tem desde muito cedo de

    comunicar-se e compartilhar de sua vida simblica com os adultos e outras crianas.

    Principalmente nos primeiros anos de vida o brincar, vem a ser uma situao

    altamente significativa para a formao da personalidade saudvel da criana, favorecendo

    sua sociabilidade e criatividade, ajudando-a inclusive a identificar, controlar e canalizar

    impulsos provenientes de fantasias agressivas para atividades mais adaptadas. Brincando as

    crianas tem a possibilidade de construir uma identidade autnoma, criativa, cooperativa. A

    criana que brinca adentra ao mundo do trabalho, da cultura e do afeto, pela via da

    representao. O Brincar caminho natural do desenvolvimento humano, competente nos

    seus efeitos e oferece a quem dele faz uso, a construo de uma base mais slida para toda a

    vida, pois capaz de atuar no desenvolvimento cognitivo e emocional de forma natural e

    harmnica.

    O brincar supera medos, angstias, criando situaes que do prazer. atravs das

    brincadeiras que a criana comea a se preparar para o aprendizado e crescimento pessoal,

    brincando ela aprende novos conceitos e informaes. A brincadeira parte integrante e

    fundamental no desenvolvimento infantil.

    3.6.1 Organizao da educao infantil

    A expanso da educao infantil no Brasil e no mundo vem acontecendo

    consideravelmente em razo de sua importncia no processo da construo de sujeito. A Lei

    de Diretrizes e bases da Educao Nacional (LDB) explicita no art.30, capitulo II, seo II

    dispe que: A Educao Infantil ser oferecida em: I - creches ou entidades para crianas de

    at trs anos de idade; II - pr-escolas, para as crianas de quatro a seis anos (BRASIL,

    1996). Com a aprovao da Lei 11.274 em 06 de Fevereiro de 2006, houve uma alterao dos

    artigos da Lei 9394/96 que regulamentam essa idade, a nova Lei dispe que o ensino

    fundamental obrigatrio, passa a ter durao de 9 (nove) anos, gratuito na escola pblica,

    iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, sendo que os Municpios, os Estados e o Distrito

    Federal tero at 2010 para implementar a obrigatoriedade (BRASIL, 2006).

  • 31

    Um fator importante na trajetria da educao, gerada pela sociedade a presso dos

    movimentos sociais organizados pela expanso e qualificao do atendimento. Historicamente

    essa demanda aumenta na medida em que a mulher necessita inserir-se no mercado de

    trabalho, ajudando no sustento da casa e havendo tambm uma maior conscientizao da

    necessidade da educao da criana, sustentada por uma ao pedaggica (BRASIL, 1998).

    Fato de muitas instituies atenderem em horrio integral implica numa maior

    responsabilidade quanto ao desenvolvimento e aprendizagem das crianas, assim como com

    os cuidados adequados de higiene e sade. Em alguns municpios, existe um tipo de prtica

    em que as crianas ficam em um perodo na creche e o outro na pr-escola. Nestes casos ou

    ainda naqueles em que h trocas de turnos de professores entre o perodo da manh e tarde,

    necessita-se de um planejamento em conjunto, evitando repeties de atividades ou lacunas

    no trabalho com as crianas. No desejvel que se atribua creche apenas um espao de

    cuidados fsicos e recreao, e a pr-escola o local onde se legitima o aprendizado, mas sim

    um local de desenvolvimento contnuo da criana desde o berrio at a pr-escola (BRASIL,

    1998).

    O trabalho direto com crianas pequenas exige que o professor tenha uma

    competncia polivalente, isto , cabe ao profissional da educao trabalhar com contedos de

    natureza diversos, que abrangem desde cuidados bsicos essenciais at conhecimentos

    especficos procedentes das diversas reas do conhecimento. Este carter polivalente

    demanda, por sua vez, uma formao bastante ampla do profissional que deve tornar-se,

    tambm um aprendiz, refletindo constantemente sobre a sua prtica, discutindo com seu grupo

    de trabalho, dialogando com as famlias e a comunidade, buscando constantemente

    informaes necessrias para o trabalho que desenvolve. So instrumentos essenciais para

    reflexo sobre a prtica direta com as crianas: a observao, o registro, o planejamento e a

    avaliao (BRASIL, 1998).

    Acerca de vrias discusses vm-se pensando na necessidade de trabalhar alm dos

    aspectos higinicos, atividades pedaggicas, o desenvolvimento psicomotor, cognitivos,

    afetivos e sociais. O educar est muito ligado ao cuidar e assim vice e versa, porque se pode

    ensinar cuidando, possibilitando assim que ocorra um avano significativo no processo

    ensino-aprendizagem (ZANELLA; CORD, 1999).

    3.7 O BRINCAR

    Brincar uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e

    autonomia de qualquer pessoa, em especial da criana. na brincadeira que a criana

    desenvolve algumas capacidades importantes, como: ateno, imitao, memria, imaginao,

  • 32

    amadurecimento, tambm algumas capacidades como a socializao, por meio da interao,

    da utilizao e experimentao de regras e papis sociais. O principal indicador da brincadeira

    entre as crianas o papel que assumem enquanto brincam (BRASIL, 1998).

    Para Bertholdo e Ruschel (2000), durante o brincar, a brincadeira ou o jogo, a

    criana constri o conhecimento. E para isso, uma das qualidades mais importantes do

    brincar, da brincadeira ou do jogo a confiana que a criana possui quanto prpria

    capacidade de encontrar solues, chegando a concluses de forma autnoma. Por isso, diz-se

    que o brincar no significa simplesmente recrear-se, mas forma mais completa da criana

    comunicar-se consigo mesma e com o mundo. Durante o processo de brincar est o

    pensamento, a verbalizao, o movimento, gerando canais de comunicao. A criana

    comunica-se atravs do ldico e por meio dele ir ser agente transformador, sendo o brincar

    um aspecto fundamental para chegar ao seu desenvolvimento integral.

    Segundo Maluf (2004) a relao entre a brincadeira e o desenvolvimento da criana

    permite que se conhea com mais clareza importantes funes mentais, como o

    desenvolvimento do raciocnio e da linguagem. Quanto mais a criana brincar, participar de

    atividades ldicas, mais buscas de conhecimento se manifestam e seu aprendizado acontecer

    de forma prazerosa, instigando a mesma a novas expectativas.

    As crianas usam a linguagem em suas brincadeiras a maior parte do tempo, mesmo

    quando conversam consigo mesmas ou com seus brinquedos. Um contexto onde isso acontece

    o brincar de faz-de-conta que geralmente acompanhado por complexas interaes

    lingusticas. O faz-de-conta proporciona s crianas no apenas comear de onde elas esto,

    mas interagir com suas experincias reais e imaginrias (MOYLES, 2002).

    Para Friedmann (1996) brincar envolve prazer, tenses, dificuldades e, sobretudo,

    desafios. Para Maluf (2004) as crianas, atravs do brincar, adquirem conhecimentos teis e

    interessantes enquanto desabrocham para a vida. E para Moyles (2002) a possibilidade de

    brincar de forma intencional, livre ou exploratrio, proporciona criana uma aprendizagem

    ativa por meio da qual os muitos preliminares do ser capaz de compreender e resolver

    problemas sero encontrados.

    O que se precisa entender que brincar coisa sria, que na brincadeira a criana se

    equilibra, desequilibra e reequilibra, recicla suas emoes e satisfaz sua necessidade de

    conhecer e reinventar a realidade, alm de sentir muito prazer em viver, mas para que isso

    acontea a criana precisa apenas brincar.

    atravs das brincadeiras que a criana comea a preparar-se para aprender,

    brincando ela aprende novos conceitos e informaes. Brincar atividade por excelncia para

    a criana e por meio dela que sua personalidade comea a despertar com isso se v diante de

  • 33

    novas situaes e consegue reconhecer as que j lhe so familiares. O ldico possibilita o

    estado da relao da criana com o mundo externo, integrando estudos especficos sobre a

    importncia do mesmo na formao da personalidade e de seu crescimento enquanto pessoa,

    seus valores morais, e suas relaes com o mundo dos adultos. brincando que a criana

    aprende de forma criativa, divertida e objetiva, e atravs das brincadeiras que ela expressa

    seus desejos, vontades e se volta ao mundo de fantasias que ela mesma cria.

    3.7.1 A importncia do brincar de 0 a 6 anos

    Brincar uma realidade cotidiana na vida das crianas, e para que elas brinquem

    suficiente que no sejam impedidas de exercitar sua imaginao. A imaginao um

    instrumento que permite s crianas relacionar seus interesses e suas necessidades com a

    realidade de um mundo que pouco conhecem, o meio que possuem para interagir com o

    universo dos adultos, universo que j existia quando elas nasceram e que s aos poucos elas

    podero compreender.

    Os jogos da criana pequena so fundamentais para o seu desenvolvimento e para a

    aprendizagem, pois envolvem diverso e ao mesmo tempo uma postura de seriedade. A

    brincadeira para a criana um espao de investigao e construo de conhecimentos sobre

    si mesma e sobre o mundo. Brincar uma forma da criana exercitar sua imaginao. A

    imaginao uma forma que permite s crianas relacionarem seus interesses e suas

    necessidades com a realidade de um mundo que esto descobrindo. A brincadeira expressa a

    forma como uma criana reflete, organiza, desorganiza, constri, destri e reconstri o seu

    mundo.

    A primeira infncia dividida em perodos, tomando-se em considerao os

    progressos mais significativos que vo sendo alcanados pela criana: do nascimento aos 4

    meses, dos 4 aos 8 meses, dos 8 aos 12 meses, de 1 a 1 ano e meio e de 1 ano e meio a 2 anos

    de idade. Essas divises so utilizadas para a classificao dos brinquedos que se sugerem

    para esses dois anos iniciais de vida em funo tambm dos locais de permanncia da criana

    (colo, bero, beb-conforto, banheira, trocador de roupa, sala, cercado, carrinho, cadeiro e

    quarto ou rea aberta).

    No decorrer do desenvolvimento a criana adquire varias habilidades como: andar,

    falar, escalar, e atravs da prtica repetitiva que ela passa dos simples exerccios no se

    comportando de forma puramente simblica no brinquedo, ela quer realizar seus desejos e ao

    pensar sobre os brinquedos, ela age introduzindo o mundo dos adultos com a fora,

    criatividade da brincadeira simblica que e chamada de faz-de-conta.

  • 34

    Ao brincar, afeto, motricidade, linguagem, percepo, representao, memria, e outras funes cognitivas esto profundamente interligadas. A brincadeira favorece o equilbrio afetivo da criana e contribui para o processo de apropriao de signos sociais. Cria condies para uma transformao significativa da conscincia infantil, por exigir das crianas formas mais complexa de relacionamento com o mundo. Isso ocorre em virtude das caractersticas da brincadeira: a comunicao interpessoal que ela envolve no pode ser considerada ao p da letra; sua induo a uma constante negociao de regras e transformao dos papis assumidos pelos participantes faz com que seu enredo seja sempre imprevisvel (OLIVEIRA, 2002, p.160).

    Ao brincar, a criana aprende a colocar em prtica suas ideias, criando suas prprias

    regras. A situao imaginria para si s, j tem as regras de comportamento e primeira

    manifestao da emancipao da criana em relao s restries situacionais. Essa situao

    de brinquedo exige que a criana haja contra o impulso imediato. O maior autocontrole da

    criana ocorre nas situaes de brincar como no faz-de-conta coletivo que no h a

    colaborao e nem a competio ocorrendo no jogo de regras. Por isso j se faz presente a

    necessidade de buscar um respeito ou aceitao ao grupo.

    A brincadeira desta forma um espao de aprendizagem onde a criana age alm do

    seu comportamento cotidiano e do das crianas de sua idade. Na brincadeira, ela age como se

    fosse maior do que na realidade, realizando simbolicamente o que mais tarde realizar na

    vida real. Embora aparente fazer o que apenas mais gosta, a criana quando brinca aprende a

    se subordinar s regras das situaes que reconstri. Essa capacidade de sujeio s regras,

    imposta pela situao imaginada, uma das fontes de prazer no brinquedo.

    3.7.2 O brincar como recurso pedaggico

    Vrios pesquisadores e educadores esto buscando uma nova viso sobre o brincar,

    reconhecendo que o mesmo algo importante e natural para a vida da criana. Se os

    principais tericos reconhecem que o ato de brincar vai alm do prazer, e contribui para o

    desenvolvimento cognitivo e emocional da criana, ento, os educadores precisam discutir

    com outros profissionais sobre como esse brincar pode ser organizado dentro do currculo,

    para que acontea um atendimento compartilhado e melhores condies para se colocar em

    prtica esse brincar como: planejamento, avaliao e desenvolvimento durante as atividades e

    experincias vividas pela criana.

    No h nenhuma definio que abrange todas as ideias e cada pessoa d sentido

    diferente ao brincar (MOYLES, 2006). Para que essas ideias e definies sobre o brincar

    sejam colocadas em prtica, importante observar, explorar e discutir com pais e professores

    sobre o que o brincar e o que ele pode fornecer para o desenvolvimento infantil.

  • 35

    Por meio do brincar as crianas entram no mundo do faz-de-conta, tendo

    oportunidade de modificar algo que no deu certo, o mesmo tentando recomear para chegar

    ao objetivo do que ela deseja com a brincadeira. Quando a criana est brincando, o professor

    pode estar atento s expectativas que surgem, intervindo se for necessrio. Valorizando as

    brincadeiras, as regras, ajudando-as com sinceridade a controlar seus impulsos, fracassos,

    encorajando-as a buscar novos desafios dando oportunidades de fazer suas prprias escolhas.

    A brincadeira contribui para o processo de socializao das crianas, oferecendo-lhes

    oportunidades de realizar atividades coletivas livremente, alm de ter efeitos positivos para o

    processo de aprendizagem e estimular o desenvolvimento de habilidades bsicas e aquisio

    de novos conhecimentos.

    Enfim, usados de forma consciente e bem planejada, os jogos e as brincadeiras

    tornam-se recursos didticos de grande valor no processo de ensino-aprendizagem, lembrando

    sempre que ao brincar a criana no est aprendendo somente contedos escolares, est

    aprendendo tambm algo sobre a vida.

    3.8 O PAPEL DA ENFERMAGEM NA PROMOO DA SADE

    As tarefas bsicas de enfermagem em atividades de preveno e promoo a sade

    consistem em realizar exames bsicos como verificao do peso e registro do valor nos

    grficos de crescimento (do pronturio e do carto da criana). Verificao da estatura e do

    permetro ceflico. Realizar consulta clinica individual: de acordo com a disponibilidade e

    nvel de complexidade do servio, podero ser realizadas por equipe multidisciplinar. A

    primeira consulta dever ser feita preferencialmente por enfermeiro ou mdico, podendo ser

    acompanhado posteriormente pelo tcnico, desde que no apresente problemas de

    interveno, e dever abranger os pontos seguintes:

    a) motivo da consulta deve-se perguntar as razes da consulta, problemas clnicos e

    motivo da referncia, caso ocorra;

    b) antecedentes familiares deve-se perguntar a idade e estado de sade dos pais,

    irmos, familiares prximos, especialmente sobre a existncia de doenas

    hereditrias e infecto-contagiosas. Levantar dados quanto ocorrncia de bitos

    existentes no primeiro ano de vida de irmos da criana;

    c) antecedentes fisiolgicos e patolgicos deve-se questionar sobre a gestao, o

    parto e o nascimento da criana. Colher informaes quanto ao peso da criana

    ao nascimento, problemas no perodo neonatal, existncia de outras internaes e

    estado vacinal;

  • 36

    d) histria alimentar deve-se perguntar sobre o aleitamento materno, abrangendo a

    frequncia das mamadas, e levantar problemas e dificuldades relacionados

    amamentao por exemplo, pega incorreta, posicionamento durante a

    amamentao, mamilos rachados, ingurgitamento mamrio.

    Caso a criana no esteja em aleitamento exclusivo ou j tenha ocorrido o desmame,

    deve-se avaliar a qualidade e a quantidade de alimentos oferecidos, registrando tipo, forma de

    preparo frequncia das refeies. Questionar quanto ao perodo do desmame e ao tipo de

    alimento introduzido.

    Situao ambiental: deve-se questionar sobre as condies de moradia (nmeros de

    cmodos, gua encanada, coleta de lixo, sistema de esgoto) e local onde a criana permanece

    a maior parte do tempo.

    Ao realizar o exame fsico, a criana deve estar despida. Cabe a enfermeira realizar

    as seguintes aes:

    a) avaliao do crescimento envolve avaliar a curva de crescimento atravs do

    grfico, verificando outras medidas antropomtricas, como altura, idade e

    permetro ceflico;

    b) avaliao do desenvolvimento deve-se observar a criana quanto aos marcos de

    desenvolvimento alcanados, preencher e analisar a ficha utilizada durante o

    acompanhamento do desenvolvimento;

    c) avaliao final ao termino do exame, deve-se avaliar o crescimento, o

    desenvolvimento, o estado nutricional da criana, a situao vacinal e fazer o

    diagnostico de doenas, se presentes;

    d) realizar condutas traar condutas especificas relacionadas avaliao, conforme

    registrado anteriormente.

    Orientaes incluir nas orientaes aspectos relacionadas curva de crescimento,

    desenvolvimento, aleitamento materno, alimentos, estimulao da criana, higiene pessoal e

    ambiental. As orientaes podem ser realizadas individualmente ou em grupo, de acordo com

    a necessidade.

    Referncia encaminhar a criana para outros servios de sade, se necessrio, e

    enfatizar a importncia do retorno para unidade de origem. Agendamento agendar o retorno

    de acordo com o calendrio. Avaliao do desenvolvimento da criana: a avaliao do

    desenvolvimento ser realizada durante a consulta clinica. A criana dever estar confortvel

    e alerta para que no haja interferncia na interpretao do profissional. Sero avaliados os

  • 37

    marcos de desenvolvimento de acordo com idade da criana. A sala de consulta dever ter

    objetivos que possam ser utilizados como instrumentos na avaliao de desenvolvimento da

    criana como objetivos coloridos. A ficha de acompanhamento do desenvolvimento dever

    ser anexada ao pronturio para que os profissionais possam melhor avaliar a criana nas

    consultas subsequentes.

    Em cada comparecimento da criana ao Posto de Sade, realizar o acompanhamento

    do crescimento e desenvolvimento, orientao alimentar, verificao do esquema vacinal,

    atividades de educao para a sade.

    O programa de Ateno Integral a Sade da Criana do Ministrio da Sade ao

    acompanhamento do crescimento e desenvolvimento a sade da criana dispe de aes

    sendo elas:

    a) ateno humanizada e qualificada gestante e ao recm-nascido;

    b) triagem neonatal: teste do pezinho;

    c) incentivo ao aleitamento materno;

    d) incentivo e qualificao do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento;

    e) alimentao saudvel e preveno do sobrepeso e obesidade infantil;

    f) combate desnutrio e anemias carncias;

    g) imunizao;

    h) ateno s doenas prevalentes;

    i) ateno sade bucal;

    j) ateno sade mental;

    k) preveno de acidentes, maus-tratos/violncia e trabalho infantil;

    l) ateno a criana portadora de deficincia.

    Os profissionais de sade esto muito mais familiarizados a tratar crianas com falta

    de apetite, desnutrio e verminose do que com a obesidade. Muitos pediatras at fazem

    diagnsticos, porm no tem o treinamento necessrio para abordar corretamente este

    problema, o pior ainda que algumas famlias acham que crianas gordas so maravilhosas e

    saudveis, preciso mostrar que gordura no sinnimo de sade (VIUNISKI, 2005)

    O profissional de sade antes de tudo deve ser receptivo e conivente, uma boa dica

    sempre elogiar o progresso e as qualidades apresentadas. S o fato de comparecer a consulta

    j significa que de algum modo nosso o paciente deseja evoluir. A maior tarefa do

    profissional tcnico neste momento receber toda a famlia, aliviando a culpa que possa estar

    interferindo.

  • 38

    Sem a participao da famlia, vai ser complicado tratar uma criana obesa.

    comum os pais em uma primeira consulta chegarem irritados com os filhos ou mesmo com

    vergonha do mesmo, isso se os pais no forem obesos. Inmeras famlias abandonam o

    tratamento da criana, quando questionado o comportamento dos pais. O profissional seja ele

    mdico pediatra, endocrinologista, nutricionista, psiclogo, da rea de educao fsica ou

    enfermeiro deve ser capaz de entender os pais, sem preconceitos e sem incorrer no erro e

    formar uma boa aliana somente com a criana. O profissional deve ser capaz de lidar com os

    aumentos de peso dos pacientes com serenidade, no como algo pessoal, e nem co

    desistncia do tratamento.

    A Coordenao Geral da Poltica de Alimentao e Nutrio do Ministrio da Sade

    na Campanha Alimentao Saudvel para todos trs orientaes aos pais, sendo elas:

    1 faa pelo menos trs refeies (caf da manh, almoo e jantar) e dois lanches

    por dia. No pule refeies;

    2 inclua diariamente seis pores do grupo de cereais (arroz, milho, trigo, pes e

    massas) tubrculos como as batatas e razes como mandioca nas refeies. No

    pule nenhuma refeio;

    3 coma diariamente pelo menos 3 pores de legumes e verduras como parte das

    refeies e trs pores ou mais de frutas nas sobremesas e lanches;

    4 consuma diariamente trs pores de leite e derivados e uma poro de carne,

    ovos, peixes. Retire a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da

    preparao que torna esses alimentos mais saudveis;

    5 consumir no mximo uma poro por dia de leos vegetais, azeite, manteiga ou

    margarina. Fique atento aos rtulos dos alimentos e escolha aqueles com

    menores quantidades de gordura trans;

    6 evite refrigerantes e suco industrializados, bolos, biscoitos doces e recheados,

    sobremesas doces e outras guloseimas como regra de alimentao;

    7 diminua a quantidade de sal na comida e retire o saleiro da mesa. Evite consumir

    alimentos industrializados com muito sal (sdio) como hambrguer, charque,

    salsicha, linguia, presunto, salgadinhos, conservantes de vegetais, sopas,

    molhos e tempero prontos;

    8 beba pelo menos dois litros (seis a oito copos) de gua por dia. De preferncia ao

    consumo de gua nos intervalos das refeies;

    9 torne sua vida mais saudvel. Pratique pelo menos 30 minutos de atividade fsica

    todos os dias. Mantenha o peso dentro dos limites saudveis.

  • 39

    4 MARCO CONCEITUAL

    4.1 SOCIEDADE

    A sociedade consiste de seres humanos que interagem que interagem e que

    desenvolvem atividades diferenciadas que os colocam em diferentes situaes. Essas

    atividades ocorrem predominantemente em resposta, ou em relao a outro ser, de acordo com

    os significados e valores. A sociedade esta em constante formao e transformao de objetos,

    e na medida em que seus significados se modificam, modificam o mundo (HAGUETTE,

    2003).

    4.2 SER HUMANO

    O ser humano parte integrante do universo dinmico, e como tal sujeito a todas as

    leis que o regem, no tempo e no espao. O ser humano est em constante interao com o

    universo, dando e recebendo energia. O ser humano distingue-se dos demais seres do

    universo, por sua capacidade de reflexo. Dotado de poder de imaginao e simbolizao,

    podendo unir o presente, passado e futuro (HORTA, 1079 apud LEOPARDI, 2006).

    O ser humano um ser singular, histrico, em crescimento e desenvolvimento. Faz

    parte de uma famlia e de uma sociedade atravs da interao. Aprende atravs da interao

    simblica, famlia e da sociedade, percebe e desempenha papis a partir de normas e

    expectativas, sustentadas individualmente ou coletivamente por outros membros da sociedade

    para seus atributos e comportamentos. Sendo assim, cada ser humano solicitado a se integrar

    a mltiplos papis, tanto dentro quanto fora da famlia (SCHVANEVELDT, 1981, apud

    NITSCHKE, 1991, p. 66).

    4.3 CRIANA

    Segundo a Conveno sobre os Direitos da Criana (1990), artigo 1, criana todo

    o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicvel, atingir a

    maioridade mais cedo. Esta definio coincide com o conceito que consta no artigo 122 do

    Cdigo Civil: menor quem no tiver ainda completado dezoito anos de idade. A criana

    um ser em constante crescimento e desenvolvimento. um ser frgil, sensvel, sincera e

    ingnua. Faz parte de uma famlia e de uma sociedade cultural, na qual desempenha um papel

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    importante; nesta, recebe, processa, e transmite simbolicamente informaes importantes para

    sua formao. Toda criana digna de receber amor, respeito, ateno, educao, e sade.

    (GASTALDON; MARTINS; POLTRONIRI, 2007).

    4.4 OBESIDADE

    A obesidade uma enfermidade crnica que se acompanha de mltiplas

    complicaes, caracterizada pela acumulao excessiva de gordura em uma magnitude tal que

    compromete a sade. Obesidade ainda o resultado de ingerir mais energia que a necessria.

    Pode-se dizer que a obesidade possui fatores de carter mltiplo, tais como os genticos,

    psicossociais, cultural-nutricionais, metablicos e endcrinos. A obesidade, portanto, gerada

    pela interao entre fatores genticos e culturais, assim como familiares (COUTINHO, 1999).

    4.5 ENFERMAGEM

    O Ser-Enfermeiro um ser humano, com todas suas dimenses e restries, alegrias

    e frustraes; aberto para o futuro da vida, e nela, se engaja pelo compromisso assumido

    com a Enfermagem (HORTA, 1979).

    Enfermagem profisso, cincia, e arte que implicam um processo de interao entre enfermeiro e famlia, chamado de cuidado, na qual o profissional, ao desempenhar seu papel, busca compartilhar significados, smbolos, crenas, valores junto famlia, visando a promoo e a manuteno da sade familial, bem como a preveno e a recuperao da doena familial (NITSCHKE, 1991, p. 76).

    Enfermagem ainda profisso que visa o cuidar do outro com amor,

    responsabilidade, habilidade e respeito. auxiliar as pessoas que precisam, fornecendo nem

    sempre a melhor tecnologia ou a melhor tcnica, mas sim um simples ouvir, olhar e tocar com

    sensibilidade.

    4.6 CUIDADO

    um processo de interao entre