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O JINGLE E O JINGLE ELEITORAL Carlos Manhanelli
Os jingles esto entre ns como espectros . Sempre nos rondando o
tempo
todo, e h mais tempo do que imaginamos, eles se fazem presentes.
No adianta
resistir: quando menos esperarmos, estaremos cantarolando,
assoviando ou
batucando com as mos algo do tipo T na hora de dormir, No espere
mame
mandar, Passa passa o talco Rossi, Pipoca na panela, comea a
arrebentar/Pipoca com sal, que sede que d, No adianta bater, eu
no deixo
voc entrar, O tempo passa, o tempo voa, Estrela brasileira, no
cu azul ou
Dois hambrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles
e um po com
gergelim.No adianta pedir para a cabea esquecer, o jingle entra
em nossa
mente e ali dura por muitos e muitos anos. Com rimas e frases de
fcil absoro e
melodias e arranjos bem bolados, j se vo mais de 70 anos de
histria de jingles
no Brasil.
Antes dos anncios musicados, os mascates foram os precursores
do
anncio pblico de produtos, atravs dos preges, assemelhando-se
muito com os
jingles usados atualmente.
Jos Ramos Tinhoro assevera que "a ideia de usar frases musicais
para atrair compradores no era nova, pois, pelo menos desde o sculo
XIX, os vendedores de rua usavam esse mesmo esquema embora
confiando apenas no alcance da prpria voz ao gritar suas mensagens
sob a forma de prego". Seu livro Msica popular Os sons que vm da
rua dedica, inclusive, um captulo a esses preges comerciais:
baleiros, sorveteiros, amoladores, etc. (SIMES, 1990, p. 171)
A letra abaixo, cantada por um sorveteiro no Rio de Janeiro,
demonstra
claramente a proximidade:
Sorvetinho, sorveto Sorvetinho de iluso Quem no tem 200 ris No
toma sorvete no Sorvete iai de quatro colidade (sic)
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(SIMES, 1990, p. 172)
A rima utilizada desde os antigos preges do sculo XIX, para que
o
ouvinte possa guardar com maior facilidade a letra da propaganda
comercial
musicada (anncio): Se bem no escreveu no foi Abreu quem
vendeu
(FUNDAO JOO PINHEIRO, 1997, p. 97), atingindo com facilidade
o
analfabeto, j que outras formas, principalmente a escrita, muito
usada na poca,
s atingia a classe mais abastada.
O pblico, na maioria, analfabeto ou semialfabetizado, encontrava
nas rimas a indispensvel ajuda mnemnica para melhor guardar temas e
anncios (era o que os anunciantes desejavam, por isso buscavam os
poetas). Enfim, eles dessacralizaram o produto. Inteligentes,
descontrados, de certo modo anteciparam o ngulo do consumidor.
Casimiro de Abreu fez graa, Lopes Trovo fez pardia, Olavo Bilac fez
stira. Batendo na tecla alegre, divertida, lanaram a semente do que
mais distinguia a propaganda brasileira: o seu tom irreverente.
(RAMOS, 2005, p. 3)
Alis, de Olavo Bilac a quadrinha que propagava a classe dos
fsforos,
usado por altas autoridades nacionais e internacionais:
Aviso a quem fumante Tanto o Prncipe de Gales Como o Dr. Campos
Sales Usam Fsforo Brilhante (CARRASCOZA, 1999, p. 78)
As primeiras notcias que se tm sobre o uso da msica para
convencimento e propaganda de bens e servios remontam ao sculo
XVI, por
uma postura do ento donatrio das capitanias de So Vicente,
Martim Afonso de
Souza, conforme esclarece o texto de Roberto Simes:
... a 15 de junho de 1543, o donatrio Martim Afonso de Souza, na
capitania de So Vicente, baixava uma postura proibindo os
mercadores de, nos preges que antecediam as vendas, falar mal da
mercadoria dos concorrentes. O que nos permite supor que era
corriqueira a propaganda comparativa pejorativa a ponto de se fazer
necessria a fixao de normas de conduta tica em pleno sculo XVI.
(SIMES, 1990, p. 171)
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Ao p da letra, a palavra jingle quer dizer tinido, retinir
(barulho do sino), ou
seja, o alarido produzido com o intuito de chamar a ateno para
alguma coisa,
sino tocado de certa forma para cada mensagem. A Igreja Catlica
desenvolveu
toques de sino para cada ocasio, enviando mensagens populao
sobre os
acontecimentos. Para cada mensagem, um retinir do sino
diferente. Casamentos,
batizados, mortes, missas eram anunciadas nas cidades atravs do
toque dos
sinos. Hoje, ainda, em algumas cidades do interior, esse
expediente usado pelas
parquias locais. No caso da propaganda, o barulho do sino
fundamental para
divulgar as qualidades e propostas dos produtos e servios e, se
for muito bom,
servir de prefixo musical por muito tempo (os jingles da Varig,
depois de muito
serem lembrados por todos, j no falavam mais o nome da empresa:
apenas o
som orquestrado j remetia lembrana Tururu Tururu Tururu ouvia-se
Varig
Varig Varig; jingle Estrela brasileira, autor Archimedes
Messina).
Mas, espera, vamos deixar as coisas claras, porque, para seu
Messina, o que certo certo. O "Varig, Varig, Varig... que encerrava
todos os jingles, s vezes cantado, s vezes s orquestrado j existia
quando ele chegou empresa. Messina o tornou famoso, mas a criao, se
ele no se engana, foi do Titulares do Ritmo, um grupo de cegos
formado em Belo Horizonte nos anos 40. (AUTOR DE HITS, 2006)
As msicas comerciais, ou propagandas comerciais musicadas,
nasceram
muito antes dos jingles, que s vieram a se institucionalizar a
partir do rdio. O
primeiro registro histrico sobre propaganda comercial musicada
data de 1882,
quando foi elaborada uma propaganda comercial musicada para
medicamento
destinado digesto.
Foi em fins do sculo passado que a propaganda comercial musicada
comeou a aparecer no Brasil. Assim, era editada, em 1882, para
distribuio gratuita, a polca Imberibina, composta por Mariano de
Freitas Brito, em louvor a um medicamento para a digesto. Tambm em
louvor a um remdio a polca Lugolina", editada em 1894, com letra e
msica de Eduardo Frana, mdico, farmacutico e fabricante do produto
anunciado. (SIMES, 1990, p. 172)
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Grandes nomes tambm fizeram parte dos compositores de
propaganda
comercial musicada. O grande maestro Villa-Lobos comps uma
msica
enaltecendo as qualidades do famoso Guaran Espumante Antarctica
(a
Antarctica lanou seu guaran em 1921).
Na Discoteca Oneyda Alvarenga, no Centro Cultural So Paulo,
localizamos
algumas outras propagandas musicadas dessa poca, assinadas
por
compositores de prestgio. lvaro Souza comps uma para Mikanol, um
remdio
para tosse e bronquite. Otaviano Gaeto fez outra para o Licor
das Crianas. Para
o Caf Paraventi, Marcelo Tupinamb dedicou seu talento, enquanto
Eduardo
Souto declarou sua preferncia Cerveja Polar.
Mas, antes do rdio, como se veiculavam as propagandas
comerciais
musicadas?
As empresas forneciam partituras gratuitas para serem tocadas e
cantadas.
Tem especial importncia a produo dos cafs-cantantes, dos
chopes-berrantes
e dos teatros de revistas alm do carnaval, claro. Os
cafs-cantantes, mais
comportados, e os chopes-berrantes, mais escrachados, eram a
verso nacional
dos cabars europeus. Para estimular o consumo de bebida,
esses
estabelecimentos ofereciam espetculos curtos, marcados pela
pndega e pelas
msicas de letra maliciosa, que formaram o gosto do pblico (o
maxixe um dos
ritmos que provocou escndalo na sociedade de ento). Da vieram
muitas das
primeiras estrelas da nossa indstria fonogrfica, como Catulo da
Paixo
Cearense, Eduardo das Neves, Bahiano, Cadete, Geraldo e Mrio
Pinheiro.
Alguns autores creditam s partituras e a um de seus
reprodutores, o piano, as origens da msica de massa. Patrice Flichy
aponta a importncia deste instrumento musical nos lares de classe
mdia, no final do sculo passado, na sociedade europeia. O piano no
estava destinado apenas execuo de msicas clssicas, e as edies de
partituras indicavam uma grande variedade de canes populares, j
segmentadas em vrios estilos (religiosos, patriticos, baladas
sentimentais, canes cmicas) e com tiragens numerosas. Os editores
teriam sido ento os primeiros empresrios fonogrficos... (DIAS,
1963, p. 27)
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Os comerciais no rdio nasceram ao vivo, falados por locutores e
artistas,
feitos na sua maioria com certo tom humorstico, e nem sempre
chamavam a
ateno do prezado ouvinte.
O primeiro comercial da histria do rdio foi veiculado em uma
emissora
americana em 28 de agosto de 1922 e era simplesmente falado, com
uma
durao escandalosamente grande para os padres atuais: 10
minutos.
Recomendo a voc, que valoriza sua sade, suas esperanas e sua
alegria domstica, a se afastar das slidas massas de tijolos, onde
se v a luz do sol atravs de uma pequena fresta e onde crianas
crescem famintas por correr por gramados ou avistar uma rvore...
Amigo, voc e sua famlia merecem deixar a congestionada cidade e
desfrutar o que a natureza reservou para voc. Visite nossos novos
apartamentos em Hawtorne Court, Jackson Heights, onde voc vai
aproveitar a vida em um ambiente amigvel. (VIANNA, 2004, p. 37)
Constatou-se ento que todos cantavam as msicas famosas
irradiadas
pelo rdio e, sem muito esforo, percebeu-se que a msica era um
grande veculo
para levar a propaganda das marcas. Se as pessoas cantarolavam
msicas, por
que no cantariam a propaganda comercial musicada?
Os jingles aparecem institucionalmente nos EUA em 1926, como
forma de
viabilizar financeiramente as rdios que so autorizadas a
veicular comerciais para
ganhar seu sustento. Oficialmente, o primeiro jingle foi
produzido nos Estados
Unidos, em 1926, para o cereal matinal Wheaties, cujo slogan
principal Para
um caf da manh de campees (LIMA, 1995).
At ento, rdios eram consideradas sociedades culturais sem
fins
lucrativos. Permitiu-se legalmente o uso comercial das rdios em
1931, que da
para frente se espalham pelo mundo radiofnico e chegam ao
Brasil.
A introduo de mensagens comerciais transfigura imediatamente o
rdio: o que era erudito, educativo, cultural passa a transformar-se
em popular, voltado ao lazer e diverso. O comrcio e a indstria
foram os programadores a mudar de linha: para atingir o pblico, os
reclames no podiam interromper concertos, mas passaram a pontilhar
entre execues de msica popular, horrios humorsticos e outras atraes
que foram surgindo e passaram a dominar a programao. Com o advento
da publicidade, as emissoras trataram de se organizar como empresas
para disputar
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o mercado. A competio teve, originalmente, trs facetas:
desenvolvimento tcnico, status da emissora e sua popularidade. A
preocupao educativa foi sendo deixada de lado e, em seu lugar,
comearam a se impor os interesses mercantis. (ORTRIWANO, 1985,
p.15)
Em nossa concepo, jingle uma pea publicitria baseada em um
briefing que orienta o compositor na formao da letra e
melodia.
Segundo Pedro Nunes (COSTA; SILVA E BIANCO, 2003, p. 4), o
jingle
uma gravao publicitria essencialmente musical, com mensagem
cantada, cuja
primeira etapa de produo parte do briefing.
Sampaio tece o seguinte comentrio acerca do jingle:
As pessoas ouvem e no esquecem. aquilo que a sabedoria popular
denomina de chiclete de orelha. A vantagem dos jingles, em razo do
formato, que essas peas musicais contm, alm da mensagem, o clima, a
emoo objetivada e um expressivo poder de recall. O jingle algo que
fica, uma vez que as pessoas guardam o tema consigo, e muitos anos
depois ainda so lembrados pelos consumidores. Devido ao poder de
memorizao que a msica tem, o jingle uma alternativa de comunicao
muito poderosa. Sua nica limitao que, por ser msica e ter que
seguir uma mtrica, s vezes no se consegue colocar na pea todas as
informaes desejadas pela campanha publicitria. (SAMPAIO, 2003, p.
79)
Um dos objetivos do jingle, portanto, facilitar a memorizao, o
que os
especialistas chamam de recall. A sua fora est intimamente
relacionada ao grau
simultneo de persuaso decantatria e figurativa. O compositor tem
que ligar
fantasia e realidade e aliar isso capacidade de seduo, de
persuaso, fazendo
uma msica bastante compacta, rpida e que tenha, alm disso tudo,
poesia e
beleza.
Lula Vieira, publicitrio que se notabilizou pelo seu
conhecimento e acervo
de jingles, tendo inclusive um programa no rdio e na TV sobre
eles, em entrevista
concedida1 diz que:
Jingle uma ideia cantada, no apenas uma musiquinha que as
pessoas se lembrem ou uma letra fcil de se repetir, no uma
1 Entrevista concedida em 15 de maro de 2008, no Rio de
Janeiro.
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ideia repetida at o cansao, mas uma boa ideia cantada, uma coisa
que as pessoas acham importante e que, pela repetio e pela
embalagem musical, e pela simplicidade da letra, se torna
inesquecvel. Mas antes de mais nada, um bom jingle uma boa ideia.
(VIEIRA, 2008)
J o maestro Reginaldo Bessa3, um dos maiores jinglistas da
atualidade,
em entrevista, define jingle dizendo que: Antes de tudo o jingle
uma coisa que
parece fcil, mas muito difcil, tanto que so poucos os
profissionais que
conseguiram se estabelecer neste ramo no Brasil. Como dissemos,
o jingle
geralmente feito com 30 segundos, ou seja, existe uma tradio dos
30
segundos, e conseguir transmitir uma mensagem sobre um produto
nesse tempo,
dentro das vrias facetas que o produto tem (a sua colocao no
mercado, o seu
perfil, a classe que ele vai atingir), no coisa fcil. Fazer um
jingle de 30
segundos, msica e letra, que fique na cabea do ouvinte sempre um
grande
desafio. (BESSA, 2008)
Cid Pacheco, professor de comunicao poltica e marketing
eleitoral da
UFRJ, define jingle como sendo:
(...) primeiro de tudo, um jingle um anncio, e, sendo um anncio
ao qual se acrescenta msica, o objetivo central dele persuadir o
pblico, ou seja, quanto ao jingle comercial, visa fechar a venda de
um servio ou produto. Os jingles nascem com a necessidade de
massificao da propaganda, e atravs do veculo de massa rdio, na
dcada de 30. (PACHECO, 1993)
Foi com o rdio que os jingles se institucionalizaram como
forma-padro da
publicidade. Isso se deve em muito aos programas de rdio, em que
os textos
publicitrios eram cantados de improviso. Um programa em especial
deu grande
impulso produo dos jingles no pas, devido qualidade tcnica de
seus
redatores. Era o programa Cas, na Rdio Philips.
Com base nessas informaes e nesse conceito que se afirma que
o
primeiro jingle no Brasil nasceu em 1932, de um acordo entre o
apresentador de
rdio Ademar Cas e o dono de uma padaria, o qual, relutando, no
queria um
3 Entrevista concedida em 15 de maro de 2008, no Rio de
Janeiro.
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comercial na rdio alegava que nunca ouvira um comercial de
padaria em
rdio. Cas ento fez uma oferta. Feito o trato, encomendou a
Antnio Gabriel
Nssara (Nssara) a composio e nasceu o primeiro jingle do rdio
brasileiro
promovendo o (depois famoso) po Bragana. (CAS, 1995) Mas Cas
estava decidido a dobrar o portugus e o convenceu com a seguinte
proposta: O preo o seguinte: vou colocar o anncio no ar. Se o
senhor gostar, paga, seno, fica de graa. (CAS, 1995, p. 49)
Quando Nssara ouviu essa histria (briefing passado por Cas),
inspirou-
se na nacionalidade do proprietrio da padaria e comps uma
quadrinha em ritmo
de fado. O primeiro jingle da histria da propaganda no rdio do
Brasil ficou assim:
AUTOR: Antnio Gabriel Nssara INTRPRETE: Almirante GNERO: Fado
ACERVO: Carlos Manhanelli MDIA: CD mp3 Oh, padeiro desta rua tenha
sempre na lembrana. No me traga outro po Que no seja o po Bragana.
Po inimigo da fome. Fome inimiga do po. Enquanto os dois se matam,
A gente fica na mo.
De noite, quando me deito E fao minha orao, Peo com todo
respeito Que nunca me falte o po. (CAS, 1995, p. 50)
O portugus, dono da padaria, ficou feliz da vida com a
propaganda de seu
estabelecimento e fechou um contrato de um ano de publicidade
com Cas.
Tambm so dessa fase vrios outros jingles feitos e cantados por
gente
famosa. Lembramos que nesse perodo no existia gravao para uso
radiofnico
dos jingles, os quais eram interpretados ao vivo por cantores e
cantoras ilustres da
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poca (Carmen Miranda, Francisco Alves, Mario Reis e Slvio
Caldas, para citar
apenas alguns).
Jararaca e Ratinho, famosa dupla sertaneja da poca, contam
em
entrevista concedida Rdio Nacional que houve ocasio em que
cantaram mais
de 100 vezes o mesmo jingle (Maria sai da lata leo Maria)
durante o dia em
que passaram no estdio.
Vrios foram os compositores que, j nessa fase, ganhavam
dinheiro
dedicando-se a criar jingles. Um dos mais famosos sambistas da
poca, Noel
Rosa, fazia composies ou pardias de suas prprias msicas para
alegrar os
fabricantes e lojistas. dele o jingle, que ficou famoso na poca,
para as Casas
Drago, da Rua Larga, no Rio de Janeiro:
Voc mais conhecido do que nquel de tosto mas no pode ficar mais
popular do que O Drago. (VIZEU, Carlos A., s.d., on-line)
O mesmo Noel, valendo-se da melodia de outra composio sua,
De
babado, fez uma adaptao para um cigarro ainda muito em voga:
voc a que comanda e o meu corao conduz Salve a Dona Yolanda a
Rainha Souza Cruz. (VIZEU, Carlos A., s.d., on-line)
Baseados nessas informaes, podemos afirmar que o jingle
nasce
oficialmente no Brasil, com essa denominao e estilo musical, em
1932, sendo
este o ano em que permitida a veiculao de peas publicitrias nas
rdios,
atravs do decreto 21.111 de 1o de maro de 1932. Na biografia de
Sivan Castelo
Neto encontramos mais uma evidncia de que o jingle nasce com
essa
denominao a partir da dcada de 1930.
A biografia de Sivan Castelo Neto registra que ele viveu seus
primeiros perodos de ouro em So Paulo. Participou de
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orquestras de vrios cinemas, como Odeon, Repblica e Royal. Em
1923, foi Diretor Artstico da Rdio Educadora. Depois, exerceu a
mesma funo na Rdio Bandeirantes: Meu pai teve bons perodos de
luminosidade em So Paulo, entre as dcadas de 1920 e 1940 diz Berto
Filho. Antes de alcanar prestgio, foi corretor de anncios de rdio.
Os textos, ele mesmo redigia e depois os lia no ar, alm de criar as
trilhas sonoras. Naquela poca, no se usava ainda a palavra jingle5
e a redao publicitria era feita intuitivamente, pois ainda no havia
escolas preparando profissionais para esse segmento. (Biografia
Sivan Castelo)
Conclumos ento que jingles comerciais so peas publicitrias,
que
nasceram para destacar qualidades de um produto, dando-lhe as
caractersticas,
composio, nome, resultados com o uso (utilidade, aval,
fabricante e diferena
dos outros produtos) e levando ao conhecimento do consumidor (e
o persuadindo
a adquirir) as qualidades e benefcios advindos da sua existncia
no mercado, e
para isso utiliza letras de fcil assimilao, rimas e melodias
positivas e marcantes
que formam o famoso chiclete de ouvido.
OS JINGLES ELEITORAIS NO BRASIL
Para que possamos entender a histria do jingle eleitoral no
Brasil e sua
trajetria, a diferena entre msicas polticas, stiras, msicas de
protesto,
pardias, galhofas e jingles eleitorais, temos que tomar por base
a histria da
msica poltica no Imprio, na Repblica Velha, a histria da
indstria fonogrfica,
a histria do rdio e por fim o caminho do jingle eleitoral no
Brasil at os dias de
hoje.
A msica com conotao poltica nasce ainda no imprio, retratando
o
ambiente e servindo como meio de protesto, na maioria das vezes
com muito bom
humor, contra o sistema ou a situao poltica do momento.
A msica As laranjas da Sabina, composta por Alusio Azevedo,
um
exemplo tpico de msica de protesto contra a monarquia.
5 Grifo nosso.
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Essas e tantas outras msicas da poca do Imprio sempre falavam
de
acontecimentos ou situaes polticas, satirizando ou menosprezando
os polticos.
nesse perodo, tambm, que nasce a indstria fonogrfica no Brasil.
As
primeiras gravaes so de msicas nascidas no Imprio, como relata
Franklin
Martins:
J na primeira fornada de gravaes, em 1902, aparecem msicas sobre
temas polticos, como Laranjas da Sabina, Saldanha da Gama e
Camaleo, compostas anos ou dcadas antes. Todas elas esto voltadas
para trs: abordam costumes parlamentares dos tempos do Imprio e
resgatam episdios ocorridos na turbulenta transio entre o fim da
monarquia e a consolidao da Repblica. Outras composies, como
Capanga Eleitoral ou Cabala Eleitoral, lanadas pouco depois, ainda
estariam marcadas pela mesma necessidade de ajustar contas com o
passado. (MARTINS, 2008)
Nasce a primeira empresa de gravaes no Brasil, fundada por Fred
Figner
em 1889. Em 1902, a Casa Edson se moderniza, abandonando a
gravao em
cilindros e comeando a comercializar os discos de gravao
lateral, de um lado
apenas, inventados por mile Berliner em 1887. O primeiro disco
gravado no
Brasil, pela prpria Casa Edson, foi o lundu Isto bom, de Xisto
Bahia,
interpretado por Bahiano (CHIADO BRASILEIRO, s.d., on-line).
J que falamos da indstria fonogrfica, temos que registrar os
primeiros
jingles gravados para uso nas rdios, que, coincidentemente, so
por mim
tambm considerados os primeiros jingles feitos para campanhas
eleitorais no
Brasil, como por exemplo: No se meta com seu Jlio, de Heckel
Tavares, foi
gravado em disco na voz de Luiz Peixoto em 1929 (XAVIER,
2008).
Como destacamos, no se pode falar de jingles sem antes conhecer
a
histria do rdio. Desde o nascimento desse novo veculo de
comunicao, no
mundo inteiro o rdio e a poltica tm caminhado juntos.
Na Alemanha, durante a revoluo de 1918-1919, cinco anos antes de
sua
regulamentao oficial, j se ouvia rdio. Nos Estados Unidos, a
partir de 1932, o
rdio seria a principal forma de comunicao entre o recm-eleito
Presidente
Franklin Roosevelt e o povo norte-americano, por meio das
transmisses do
programa Fireside Chats (Conversas ao lado da lareira). Na
Alemanha, no incio
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dos anos 30, Joseph Goebbels usa o rdio como meio ideal de
propagao
ideolgica. Naquela poca, 70% das famlias alems possuam rdio em
casa. O
rdio ganhou tamanha fora poca que Hitler patrocinou a fabricao
de um
receptor o Volksempfnger VE 301 , o rdio do povo, que ostentava
o
smbolo do III Reich (a guia) sob o dial, e cujo nmero de modelo
era uma
referncia data em que Hitler se tornara chanceler: 30 de janeiro
de 1933. Ainda
durante a Segunda Guerra Mundial, o rdio foi uma das maiores
formas de
resistncia, com as histricas transmisses da BBC de Londres.
Nos anos 40 e 50, na Argentina, Juan Domingo Pern fez do
rdio
instrumento de propaganda poltica. Eva Pern, oriunda do rdio
(desde a dcada
de 40 fazia programas romnticos radiofnicos), junta-se a Pern e
lana em 1944
o programa oficial de propaganda radiofnica Por um futuro
melhor, de exaltao
revoluo de 1943.
Na dcada de 50, o rdio foi instrumento de resistncia poltica em
Cuba,
usado pela guerrilha comandada por Fidel Castro. A rdio rebelde,
organizada por
Che Guevara, iniciou suas transmisses da Sierra Maestra em 24 de
fevereiro de
1958.
A primeira transmisso de rdio no Brasil foi realizada no dia 7
de setembro
de 1922, quando o ento presidente Epitcio Pessoa usou a estao
instalada no
alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, pela Westinghouse Electric
International,
para fazer um discurso em comemorao ao centenrio da
Independncia,
assustando os participantes da Exposio Internacional do Rio de
Janeiro, onde
havia 80 receptores trazidos dos Estados Unidos especialmente
para esse evento.
Durante toda a dcada de 20, as emissoras funcionaram sem
regras
prprias. As rdios se instalavam e recebiam do Departamento de
Correios e
Telgrafos o mesmo tipo de licena concedida para as estaes de
telgrafo.
Apenas na dcada de 30, durante o governo Vargas, as
emissoras
comearam a ter regras oficiais prprias. Vargas foi o primeiro a
perceber a
capacidade do rdio para um pas das dimenses do Brasil e o
utilizou
intensamente.
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Os presidentes que o substituram pelo voto direto tambm fizeram
uso
intenso do rdio para levar sua palavra populao, assim como o
regime militar.
Os presidentes eleitos diretamente, aps a dcada de 80, tambm
utilizaram o rdio para suas conversas informais com a populao.
Jos Sarney,
em 1985, com o seu Conversa ao p do rdio, inaugurou a nova fase.
Fernando
Henrique Cardoso colocou no ar o seu A palavra do Presidente, e
o Presidente
Lula mantm no rdio o seu programa Caf com o Presidente.
Nos anos 60, o regime militar introduziu a obrigatoriedade do
horrio
eleitoral gratuito, no rdio e na televiso, que tem validade at
hoje. H dcadas, a
cada ano eleitoral, repete-se a utilizao do rdio no Brasil para
arrebanhar
eleitores.
Passemos ento anlise da msica na Repblica Velha. As msicas
encontradas nesse perodo so todas, sem exceo, stiras, pardias ou
msicas
de protesto. Em nenhum momento antes de 1929 conseguimos
detectar qualquer
msica que tivesse as mnimas caractersticas para ser classificada
como jingle
eleitoral. Alis, nessa discusso que gostaramos de entrar neste
trabalho.
Existe uma grande confuso em vrios textos pesquisados, nos
quais
aparecem canes de protesto, stiras, msicas e hinos ufanistas ou
pardias
classificados como jingle.
Podemos definir um jingle poltico como sendo qualquer cano com
um propsito poltico e publicitrio. Esse objetivo pode ser tanto
conseguir apoio e votos para um poltico (partido, frente ou causa)
quanto para criticar e diminuir apoio e votos a outro poltico
(partido, frente ou causa) adversrio. (LOURENO, 2007, grifo
nosso)
Est evidente que msicas feitas para criticar e diminuir apoio no
so
jingles e sim stiras, pardias, galhofas ou msicas de protesto
contra isso ou
aquilo. Outro exemplo: Contudo, a histria do Jingle Poltico
inicia-se anteriormente, na campanha de 1914 do ento presidente da
Repblica, Marechal Hermes da Fonseca conhecido popularmente como
seu Dudu. (...) Ao contrrio de promover polticos, como acontece
hoje, o objetivo da maioria dos jingles daquela poca era destruir
reputaes. (DE POLI, 2007)
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Se o intuito do jingle enaltecer um produto ou um candidato, e
se
composto exclusivamente para isso, no podemos considerar msicas
de protesto
ou stiras contra esse ou aquele poltico como sendo jingles.
Outro exemplo que podemos fornecer sobre o engano. O jingle
poltico s
chegaria aos ouvidos das multides, no entanto, depois do
surgimento do rdio no
Brasil, em 1922, com o presidente Washington Luiz (Ele
paulista?/ sim
senhor/Falsificado?/ sim senhor) (MORAIS, 2002).
Por fim, questionamos a temporalidade em que se efetuam
trabalhos sobre
jingles. No estudo O jingle poltico brasileiro: da pr-histria do
rdio ao
desenvolvimento das campanhas eleitorais radiofnicas
(1910-1960), de Cristina
Lemos apresentado na Universidade Tuiuti, do Paran, em 2006
,
apresentam-se jingles de 1910. Se tivemos o incio da atividade
com jingles
eleitorais em 1929 (MARTINS, 2008) e a oficializao do jingle
como pea
publicitria para uso no rdio em 1931, impossvel seria termos
jingles antes
dessa data. Mesmo nos EUA, os jingles s foram oficializados com
essa
denominao no ano de 1926, quando autorizados a veicular em rdios
com o
intuito de propaganda.
Como j vimos, segundo Pedro Nunes (Costa; Silva e Bianco, 2003,
p. 4),
o jingle uma gravao publicitria essencialmente musical, com
mensagem
cantada, cuja primeira etapa de produo parte do briefing.
Da leitura efetuada nesses textos, podemos conceituar jingles
eleitorais
como peas compostas para atingir seus eleitores, de forma a
elevar as
qualidades do candidato no pleito eleitoral. So peas
publicitrias musicadas
compostas (feitas) sob encomenda, para valorizar um candidato a
cargo eletivo,
orientadas por um briefing, Conjunto de dados fornecidos pelo
anunciante para
orientar a sua agncia na elaborao de um trabalho de propaganda
(SHOW
TOPIC, s.d., on-line).
Jingle eleitoral no uma manifestao musical espontnea que nasce
de
qualquer movimento social ou cultural, de massas ou segmentado,
uma pea
publicitria. Ele instigado a existir. necessria uma vontade e
uma orientao
no sentido de faz-lo. Todo o resto das msicas de cunho poltico
ou so msicas
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de protesto contra governos j implantados, ou so msicas de
contrapropaganda,
ou stiras contra governantes e candidatos, ou pardias e
galhofas. No meu
entender, no h como conceituar as msicas de carter poltico de
jingle, j que
s existem jingles eleitorais ou comerciais, que elevam as
qualidades que
apresentam em suas letras.
Vamos analisar a msica citada no texto, que se refere ao seu
Dudu
(Hermes da Fonseca, 1914). A msica em questo Ai, Philomena.
Quem
explica Franklin Martins:
Trata-se de uma adaptao da popularssima polca Uma cano italiana,
parodiada a torto e a direito no Brasil a mais famosa talvez tenha
sido a cantiga de roda Viva Garibaldi. No caso de Ai, Philomena,
composta para a pea de teatro-revista do mesmo nome, brinca-se com
o marechal Hermes da Fonseca, presidente da Repblica de 1910 a
1914, que acabara de deixar o governo. Alguns esclarecimentos: 1)
Dudu era o apelido do marechal, dono de reluzente careca; 2) Hermes
da Fonseca era tido como um grande p-frio. (Mal assumiu o governo,
estourou a Revolta da Chibata [ver Os reclamantes]); sua primeira
mulher, Orsina, morreu no incio do mandato; e, enquanto era
presidente, o Brasil perdeu a soma de 2,4 milhes de libras
depositada num banco russo, que quebrou; 3) a segunda mulher do
marechal, Nair de Teff, que fazia caricaturas sob o pseudnimo de
Rian, era muito avanada para a poca. Por isso, vivia na mira dos
conservadores (durante um sarau, ao tocar ao violo o maxixe
Corta-jaca, tido como lascivo pelos caretas da poca, escandalizou a
elite carioca); 4) o marechal foi o primeiro presidente a viver no
Palcio Guanabara, embora mantivesse o Catete para os despachos
polticos e administrativos. Da a referncia casa que ganhou com os
cobres do Tesouro; 5) no est claro quem seria o Rainha, que no
Senado s dizia muito bem ao presidente, mas provavelmente trata-se
do senador gacho Pinheiro Machado, homem forte da Repblica na poca
e eminncia parda do governo Hermes da Fonseca. (MARTINS, 2008)
Autor: Jos Praxedes e Marinho Intrprete: Bahiano Gnero: Valsa
Gravadora: Casa Edson selo 195 RJ Mdia: CD mp3 Acervo: ABCOP A
minha sogra
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Morreu em Caxambu Com a tal urucubaca Que lhe deu o seu Dudu Ai,
Philomena Se eu fosse como tu Tirava a urucubaca Da careca [cabea]
do Dudu Dudu quando casou Quase que levou a breca Por causa da
urucubaca Que ele tinha na careca Na careca do Dudu J trepou uma
macaca E por isso, coitadinho que tem urucubaca Dudu tem uma casa E
com chave de ouro Quem lhe deu foi o Conde Com os cobres do Tesouro
Se o Dudu sai a cavalo O cavalo logo empaca S comea a andar Ao
ouvir o Corta-jaca Dudu tem uma casa Que nada lhe custou Porque
nesse "presente" Foi o povo que "marchou" Mas o Rainha Cavou o seu
tambm Dizendo no Senado To somente "muito bem" Eu me arrependo De
ter ido ao Caju E no ter vaiado A sada do Dudu Fala: Vocs esto
falando, ele nem faz caso. Est comendo do bom e do melhor, hein!
(ALENCAR, 1978)
Basta conceituar o que vem a ser stira e pardia, para que
encontremos
Ai, Philomena inserida nesses conceitos. Conceituando stira:
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Tipo de narrativa (literria, teatral, etc.) caracterizada pela
crtica picante, mordaz, burlesca de determinada situao social,
costumes, instituies ou pessoas. Encontrada j na comdia grega
primitiva, na poesia e na prosa da idade mdia, a stira situa-se
hoje entre as modalidades de expresso essencialmente ligadas ao
humor. Sem humor a stira mera injria, sem boa forma literria,
zombaria grosseira, chacota (Enc. Britnica). Assim, por meio do
humor, do burlesco, a stira pressupe uma atitude ofensiva, ainda
quando dissimulada; o ataque a sua marca indelvel, a insatisfao
perante o estabelecido, a sua mola bsica. (MOISS, in RABAA, 2002,
p. 660)
Conceituando pardia:
Uso de elementos de uma obra j existente, geralmente em tom
jocoso ou satrico, para produzir uma nova obra que apresente uma
relao de intertextualidade com a anterior. A pardia um recurso
originrio da linguagem literria, mas pode abranger vrios tipos de
linguagem, como teatro, msica, pintura, cinema, etc. (RABAA, 2002,
p. 551).
No so necessrias grandes anlises para perceber, atravs da letra
(e da
definio fornecida pelo Dicionrio de Comunicao), que esta pardia
nasce da
indignao da populao com o status quo, e no um jingle encomendado
como
pea publicitria do Seu Dudu ou de qualquer outro candidato ou
poltico, ou
seja, uma pardia em tom satrico e no se encaixa no conceito de
jingles, assim
como todas as msicas encontradas antes dos primeiros jingles
eleitorais,
compostos dentro de princpios mnimos de conceituao aceita para
essa
classificao feita de 1929, para a campanha de Jlio Prestes,
intitulados
Comendo Bola e Seu Julinho Vem.
Todos os exemplos utilizados antes de 1929 se caracterizam por
serem
stiras, galhofas ou msicas que apresentavam o dia a dia da
poltica brasileira,
como atesta o texto de Franklin Martins:
As composies da poca, no entanto, no se limitavam a fazer a
crnica de fatos e a destacar personagens da vida poltica nacional.
Iam mais alm: tambm criticavam os vcios e as insuficincias da
Repblica, to jovem e j to velha. Eleies em Pianc, de 1912, mostra
que as eleies a bico de pena e a
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degola dos candidatos eleitos tornavam a consulta s urnas um
jogo de cartas marcadas. Pai de toda a gente, provavelmente
composto um pouco antes de 1910, investe contra a poltica de
governadores, que assegurava o poder absoluto das oligarquias nos
Estados. A partir de 1915, as gravadoras, em estreita dobradinha
com os teatros de revista, aceleraram o ritmo de lanamento de
msicas polticas. Recorrendo aos gneros musicais mais populares na
poca as marchinhas, as modinhas, as polcas, as valsas, os lundus,
os maxixes, os caterets e, depois, os sambas , os compositores
passaram a mirar diretamente nos figures da poltica com galhofa e a
irreverncia. No houve presidente da Repblica, salvo Epitcio Pessoa,
que escapasse das gozaes. Hermes da Fonseca sofreu em Ai, Philomena
(1915), Wenceslau Braz em Desabafo Carnavalesco (1917), e Delfim
Moreira em Seu Derfim tem de vort (1919) infelizmente ainda no se
localizou uma gravao desse cateret engraadssimo. Tampouco a oposio
foi poupada. Que o diga Rui Barbosa, ridicularizado em Papagaio
Louro (1920). Nas eleies de 1922, quando o esquema do "caf com
leite", atravs do qual So Paulo e Minas revezavam-se na Presidncia
da Repblica, comeou a apresentar fissuras, o pas j assistiu a uma
verdadeira batalha musical, opondo Ai, eu M e Goiabada. As
composies, embora tomassem partido na campanha eleitoral, no eram
jingles e tampouco pareciam encomendadas. Na verdade, no apoiavam
candidatos. Simplesmente eram do contra, mas sem perder o bom humor
e sempre revelando certa dose de ingenuidade. Bernardes sofreu na
pele de seu M e Peanha pagou seus pecados como uma goiabada
estragada. Um esclarecimento: na poca, era comum o uso de metforas
sobre comidas ou bebidas para designar os estados: Minas era o
queijo, o leite ou a coalhada; So Paulo, o caf; o Estado do Rio, a
goiabada de Campos ou o arroz de Pendotiba; a Bahia, o vatap e a
pimenta. Tambm se abusava dos apelidos: Bernardes era o "Rolinha"
ou o "Seu M"; Rui Barbosa, o "Papagaio louro"; Hermes da Fonseca, o
"Dudu"; Wenceslau Brs, "So Brs"; Washington Luiz, o Bode ou o
Cavanhaque, e por a vai. Como se v, o Brasil urbano, onde se
produzia a maior parte das msicas da poca, ainda era muito rural.
(...) Em 1926, j sinalizando que o clima no pas era de degelo,
aparece Caf com leite, que mostra com humor e talento como a aliana
entre So Paulo e Minas fazia os presidentes na Repblica Velha. Sai
Bernardes, mineiro, e entra Washington Lus, paulista. A sensao
generalizada de alvio. Livres da censura e do medo de represlias,
os compositores no poupam crticas ao homem que havia governado com
mo de ferro o Brasil por quatro anos. Rolinha transforma-se no
Passarinho do m (mal) (1927), responsvel pelas desgraas de todos os
brasileiros. J o novo ocupante do Palcio do Catete recebido com
otimismo e simpatia, como atestam a toada Paulista de Maca e a
marcha
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O cavanhaque do bode, ambas de 1927. (MARTINS, 2008, grifo
nosso)
Vrios autores consagraram os jingles eleitorais como ferramenta
de
persuaso, comunicao, propaganda e marketing eleitoral. Vejamos
alguns
conceitos:
Jingle um discurso musical dirigido a um eleitor. Se for bem
feito, vai chegar ao corao dele, at mesmo antes de ter passado por
sua cabea. (MENDONA, 2001, p. 91) Jingle: sempre til em qualquer
campanha. A msica bem feita e com ritmo empolgante tem a vantagem
de atingir o lado emocional do eleitor. Deve, se possvel, trazer em
sua letra relao com a plataforma do candidato. (RAMOS, 2003, p. 74)
Jingle: mensagem do candidato em forma de msica, simples e
atraente, fcil de memorizar. (RECH, 2000, p. 99) Jingle aquela pea
musical complementar que procura traduzir em linguagem emocional o
que o eleitor deseja. Quando ele perfeito e funcional, tem que
traduzir o sentimento oculto do eleitor; aquilo que ns chamamos de
inconsciente, j que cada eleio tem seu perfil. (BESSA, in: PACHECO,
1993, p. 196) O jingle tem um papel fundamental, j que pode
transmitir, da maneira mais popular, o significado maior da
candidatura. E quando, alm disso, consegue exprimir o sentimento do
eleitorado, o jingle converte-se numa espcie de corrente emocional,
tornado-se a prpria alma da campanha. (TEIXEIRA, 2000, p. 91)
Jingles son mensajes musicalizados, que quedan grabados en forma ms
efectiva, que solo se dijeran con palabras y sin msica. (TOLEDO,
1985 p. 27) Os carros de som devem tocar a msica do candidato, com
seu nome, um bom slogan, de fcil recordao, e a ideia bsica contendo
propostas do candidato. (TORQUATO, 2002, p. 174) O jingle deve ser,
nesse sentido, a trilha mais bem estudada na campanha, j que
representa todo o sentimento que se espera que o eleitor
identifique no candidato. (ALVIM, 1995)
Conclumos ento que, nos casos dos jingles eleitorais, deve-se
respeitar o
ritmo e a melodia que melhor possa servir para a regio, poca,
moda, e que
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tenha o efeito de ser agradvel, de fcil assimilao e,
principalmente, que grude
como chiclete no ouvido dos eleitores, tendo um efeito
persuasivo para que possa
ser til campanha eleitoral, ou seja, consolidar as opinies que
nos sejam
favorveis ou modificar as adversas.
Atravs de nossas pesquisas e com a ajuda do Dicionrio Houaiss
de
Msica Popular Brasileira, de Ricardo Cravo Albin, que define
todas as outras
formas musicais, concluo este texto definindo jingles com a
frase do inesquecvel
Prof. Cid Pacheco: Um jingle um anncio. Sendo um anncio ao qual
se
acrescenta msica; o objetivo central dele persuadir o
pblico.
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