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Apostila PCP Seg Trabalho

May 30, 2018

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    CAPTULO I

    INTRODUO

    "Dirigir estratgicamente los riesgos supone que stos van a ser considerados comoparte de la competitividad empresarial, asignndose los recursos empresariales

    necesarios hacia la consecucin de mejoras en su posicin relativa futura."Miguel ngel Martnez Martnez (1994)1.1. INTRODUO1.2. OBJETIVOS DO TRABALHO1.2.1. OBJETIVOS GERAIS1.2.2. OBJETIVOS ESPECFICOS1.3. IMPORTNCIA DO TRABALHO1.4. METODOLOGIA1.5. ORGANIZAO DO TRABALHO

    1.1. INTRODUOAtualmente, os conceitos de "Qualidade e Competitividade" vem sendo difundidos e

    empregados por um nmero cada vez maior de empresas que descobriram a uma fonte deganhos sociais, econmicos e financeiros, e acima de tudo uma excelente forma decompetitividade empresarial.Sabe-se da relevncia que o conceito de qualidade vem cada vez mais adquirindo em mbitomundial. Qualidade de produtos, qualidade de servios, gesto da qualidade total, controle daqualidade, sistema da qualidade, garantia da qualidade. Uma das reas de grande repercussodos conceitos de qualidade refere-se qualidade dos consumidores internos, oscolaboradores, e dentro desta categoria se encontra o aspecto da segurana no trabalho.Desta forma, tem-se a convico de que imprescindvel ao abordar-se o tema qualidade,incluir o aspecto segurana. Na verdade, pode-se dizer que o sistema que faz a qualidadeacontecer a preveno, ou seja a minimizao dos erros e falhas (acidentes) antes que osmesmos ocorram, pois ao prevenir-se as no-conformidades est-se evitando suas

    conseqncias. importante ao abordar-se o tema preveno que o objetivo no seja apenasevitar leses pessoais, como tambm as materiais e ambientais, alm de todos aquelesincidentes que venham a provocar paradas de produo e, portanto, perdas devido anormalidades no sistema.Atualmente, organizaes de todos os tipos esto sendo, cada vez mais, conscientizadas aalcanar e demonstrar um desempenho satisfatrio em relao segurana e sade de seuscolaboradores. Isso em funo de uma mais ampla compreenso das repercusses dasegurana que se tem podido chegar, graas s novas metodologias de abordagem sistmicano assunto, bem como das crescentes exigncias de legislao e sindicatos, da preocupaode empresas na busca de maior produtividade e competitividade e da maior conscientizao dasociedade em geral quanto necessidade de melhorar a qualidade de vida no trabalho.Empregar recursos na melhoria das condies de trabalho dos colaboradores considerado

    um verdadeiro investimento pela grande maioria dos empresrios de ponta, pois resulta nocrescimento qualitativo e quantitativo da produo e na consequente elevao dos benefciospara a empresa. Cabe a empresa como um todo, desde a alta administrao at os escalesmais baixos buscar a formao e implementao de polticas de gerenciamento de riscos quetornem a mesma competitiva no mercado.Assim, com este intuito, que mecanismos foram e vem sendo desenvolvidos para otimizar aperformance organizacional. Na investigao destes mecanismos e ferramentas sob umenfoque sistmico, possvel ainda, controlar um maior nmero de fatores que intervm noprocesso.

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    Ao analisarmos as organizaes como sistema, podemos vislumbrar e delimitar de formaampla o funcionamento do sistema e as situaes danosas pertinentes a certa atividade, ouseja, podemos descrever os eventos envolvendo riscos acima dos padres normais e que, dealguma forma e sob certas condies, podem vir a transformar-se em uma situao indesejvelno transcorrer do processo ou da execuo da atividade. Conhecendo-se os focos geradoresde determinado evento indesejado pode-se atuar diretamente sobre eles, buscando solues

    ou alternativas com o objetivo de obter resultados satisfatrios quanto sua minimizao e/oueliminao.Delimitado o problema possvel, de forma mais objetiva, formular alternativas para a reduoou eliminao dos efeitos danosos, e mais facilmente chegar a definio de quais alternativasdevem ser realmente implementadas.O processo decisrio torna-se ento necessrio, dado que a implementao das alternativasrequer disponibilidade de recursos (pessoais e financeiros). Esta disponibilidade por sua vez,est limitada capacidade de gerao de recursos da empresa e parcela do oramentodesignada pela mesma para a rea em questo.Assim sendo, a questo : "em qual ou quais pontos devemos investir os recursos disponveispara que a relao custo/benefcio seja otimizada?", ou seja, quais as alternativas que seimplementadas possibilitaro a maximizao do retorno com o mnimo de perdas.

    A abordagem proposta para auxiliar este processo decisrio, est fundamentada em suamodelagem e anlise via programao linear inteira.Pretende-se, desta forma, proceder a estudos de anlise de riscos e sensibilidade, verificandoa prioridade dos programas de segurana, bem como avaliar at que ponto estes programaspodem e devem ser implantados de modo que a relao custo/benefcio seja favorvel.Prope-se neste trabalho o desenvolvimento de um modelo matemtico que envolva oprocesso de deciso em termos das alternativas de investimentos em segurana queminimizem e/ou eliminem os acidentes, de forma a selecionar o subconjunto de alternativasque produzam uma maior reduo nas perdas, ou seja, o maior retorno possvel e a otimizaona aplicao dos recursos disponveis no tempo.

    1.2. OBJETIVOS DO TRABALHO

    1.2.1. OBJETIVOS GERAISInvestigar o processo de gerenciamento de riscos de acidentes de trabalho sob um enfoquesistmico, agregando o conhecimento das tcnicas existentes de identificao de perigos eanlise e avaliao de riscos seleo eficiente de alternativas de investimentos;Propor uma metodologia que auxilie o processo de tomada de deciso frente s diversasoportunidades de investimentos, quanto a aspectos relacionados engenharia de seguranaem geral;Comprovar analiticamente que investir em procedimentos de segurana, mais especificamenteem medidas e polticas preventivas, um negcio vantajoso e uma forma de competitividadeempresarial.1.2.2. OBJETIVOS ESPECFICOSEstudar e revisar os conceitos bsicos do processo de gerenciamento de riscos;

    Pesquisar as tcnicas de identificao de perigos, anlise e avaliao de riscos;Aplicar as tcnicas estudadas para a descoberta e soluo de problemas reais;Desenvolver um modelo matemtico que auxilie no processo de tomada de deciso quanto alocao eficiente dos recursos destinados segurana;Validar o modelo proposto atravs de sua aplicao a uma situao real.1.3. IMPORTNCIA DO TRABALHONo universo empresarial, a logstica relacionada engenharia de segurana do trabalho temdemonstrado, atravs das estatsticas, um elevado nmero de acidentes. A maioria deles, porno levarem a danos pessoais, quase sempre desprezada. Contudo, sabe-se que esses

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    acidentes: materiais, com danos propriedade e ainda os quase acidentes, somam umaquantia considervel de custos adicionais. Acredita-se que esses acidentes, se devidamenteanalisados podem ser prevenidos e/ou controlados podendo tornar-se fatores de diferencialcompetitivo na competitiva economia desta dcada.A importncia deste trabalho encontra-se, principalmente, relacionada ao fato que ao aplicar-setcnicas de gerenciamento de riscos, consegue-se delimitar de forma ampla o funcionamento

    do sistema, detectando os fatores indesejveis e possibilitando mais facilmente a formulaode sugestes e solues para a eliminao e/ou reduo das perdas. Aliando-se a elas, osmodelos matemticos vm auxiliar na tomada de deciso e no gerenciamento eficiente dosrecursos.1.4. METODOLOGIAA metodologia consiste na aplicao das tcnicas de identificao de perigos, anlise eavaliao de riscos para detectar situaes indesejveis, descrevendo os possveis fatorescausais e delimitando a problemtica em estudo.Empregar as tcnicas estudadas como instrumento de planejamento e engenharia, buscando oentendimento detalhado do sistema, possibilitando a melhoria de segurana e confiabilidade domesmo.Conhecendo-se o sistema em estudo e delimitada a problemtica, desenvolver a partir de

    programao linear um modelo matemtico que maximize o benefcio atravs da minimizaodas perdas.Para exemplificar o modelo ser realizada uma coleta de dados para posterior aplicao prticado modelo matemtico proposto. O mesmo ser implementado no software "GAMS".1.5. ORGANIZAO DO TRABALHOEste trabalho apresenta-se estruturado em sete captulos, alm deste introdutrio.O captulo dois apresenta uma descrio da Engenharia de Segurana do Trabalho. Comosurgiu, evoluiu e os principais estudos realizados de forma a fazer com que a Engenharia deSegurana passasse de um enfoque meramente informativo para uma cincia onde soabordados aspectos tcnicos, administrativos e gerenciais.No captulo trs, aborda-se o prevencionismo como principal meta da Engenharia deSegurana. O enfoque dado por Bird no Controle de Danos, Fletcher no Controle Total de

    Perdas e a introduo da Engenharia de Segurana de Sistemas pelo engenheiro WillieHammer.O gerenciamento de riscos sob o enfoque de segurana apresentado no captulo quatro.Neste captulo so descritas tambm as fases do processo de gerenciamento de risco:identificao de perigos, anlise e avaliao de riscos e o tratamento de riscos.No captulo cinco, como ferramentas que subsidiam as trs primeiras fases do processo degerenciamento de riscos so descritas as principais tcnicas utilizadas para este fim.Um modelo para seleo de alternativas de investimentos em segurana desenvolvido nocaptulo seis. O modelo de programao linear inteira, onde so considerados custos ebenefcios proporcionados pela implantao de um programa de manuteno preventiva e osriscos envolvidos antes e depois da implementao de cada alternativa proposta.Para validar o modelo proposto, no captulo sete foi realizado um estudo de caso aplicado a

    uma empresa de transportes urbanos.O oitavo e ltimo captulo reservado s recomendaes e s concluses do trabalho.

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    CAPTULO II

    EVOLUO HISTRICA DA ENGENHARIA DE SEGURANA DO TRABALHO

    "Historicamente, el hombre ha tenido que convivir con el riesgo ... En el desarrollo

    humano, su prorpia evolucin y el entorno natural y tecnolgico plantean un universo deriesgos, que desde un nivel elemental cuando el hombre aparece sobre la Tierra, llega a

    alcanzar una extrema complejidad en el momento presente, caracterizado por laconcurrencia de mltiples y sofisticados sistemas, interrelacionados a nivel local y

    global."Francisco Martnez Garcia (1994b)2.1. INTRODUO2.2. HISTRICO2.3. A ENGENHARIA DE SEGURANA TRADICIONAL2.4. ESTUDOS REALIZADOS2.4.1. ESTUDOS DE H.W. HEINRICH E R.P. BLAKE2.4.2. ESTUDOS DE FRANK E. BIRD JR.

    2.4.3. ESTUDOS DA INSURANCE COMPANY OF NORTH AMERICA2.4.4. ESTUDOS DE JOHN A. FLETCHER E H.M. DOUGLAS2.4.5. ESTUDOS DE WILLIE HAMMER2.5. CONSIDERAES GERAIS

    2.1. INTRODUOConfome afirmam ANSELL e WHARTON (1992), o risco uma caracterstica inevitvel daexistncia humana. Nem o homem, nem as organizaes e sociedade aos quais pertencepodem sobreviver por um longo perodo sem a existncia de tarefas perigosas.Desde as pocas mais remotas, grande parte das atividades s quais o homem tem sededicado, apresentam uma srie de riscos em potencial, freqentemente concretizados emleses que afetam sua integridade fsica ou sua sade.

    Assim, o homem primitivo teve sua integridade fsica e capacidade produtiva diminudas pelosacidentes prprios da caa, da pesca e da guerra, que eram consideradas as atividades maisimportantes de sua poca. Depois, quando o homem das cavernas se transformou em arteso,descobrindo o minrio e os metais pde facilitar seu trabalho pela fabricao das primeirasferramentas, conhecendo tambm, as primeiras doenas do trabalho, provocadas pelosprprios materiais que utilizava.Aps a revoluo industrial, as relaes entre o homem e seu trabalho sofreram drsticasmudanas. O homem deixou o risco de ser apanhado pelas garras dos animais, para submeter-se ao risco de ser apanhado pelas garras das mquinas.Junto com a evoluo industrial proporcionada pelas novas e complexas mquinas, surgiramos riscos e os acidentes da populao trabalhadora. Face s exigncias de melhores condiesde trabalho e maior proteo ao trabalhador, so dados os primeiros passos em direo

    proteo da sade e vida dos operrios. A Engenharia de Segurana toma forma e com osestudos de Ramazzini - o Pai da Medicina do Trabalho -, passando por Heinrich, Fletcher, Bird,Hammer e outros evolui e muda conceitos, ampliando sua abordagem desde as filosofiastradicionais at nossos dias.O processo tradicional de segurana baseado em trabalhos estatsticos, que servem paradeterminar como o trabalho afeta o elemento humano, atravs de um enfoque altamentefilosfico, mas sem tomar atitudes concretas frente ao alto ndice de acidentes, d lugar novos conceitos, e os acidentes deixam de se tornar eventos incontrolveis, aleatrios e decausas inevitveis para tornarem-se eventos indesejveis e de causas conhecidas e evitveis.

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    Sem desmerecer as filosofias tradicionais, pois elas so um instrumento valioso e o passoinicial para buscar eficazmente no apenas a correo mas a preveno dos acidentes, torna-se imperativo para o desenvolvimento e crescimento social e econmico de uma nao, quetanto os rgos governamentais quanto a iniciativa privada vejam no homem sua riqueza maiore compreendam que investir em segurana um timo negcio.2.2. HISTRICO

    As atividades laborativas nasceram com o homem e sempre houveram condies e atosinseguros. O problema dos acidentes e doenas profissionais acompanha o desenvolvimentodas atividades do homem atravs dos sculos. Partindo da atividade predatria, evoluiu para aagricultura e o pastoreio, alcanou a fase do artesanato e atingiu a era industrial, sempreacompanhado de novos e diferentes riscos que afetavam e ainda afetam sua vida e sade.Na poca atual, o trabalho humano vem se desenvolvendo sob condies em que os riscos soem quantidade e qualidade mais numerosos e mais graves do que aqueles que h mais decem anos eram ameaa ao homem na sua busca diria de prover a prpria subsistncia.O homem pr-histrico procurava proteo contra animais ferozes adestrando-se na caa evivendo em cavernas. Inicialmente, a maneira com a qual subsistia e enfrentava os perigos eradevida sua astcia, inteligncia superior e uso de suas mos. Com a descoberta do fogo edas armas e a prpria organizao tribal com maior planejamento e ao grupal, o homem

    evoluiu cientificamente e obteve maior proteo, porm, novos riscos foram introduzidos. Ainveno do machado de pedra, um avano para assegurar alimentao para si e sua famlia,incorria em graves acidentes devido prticas inseguras em seu manejo. Portanto, tanto ohomem pr-histrico quanto o da Idade da Pedra j estavam constantemente expostos aperigos na vida diria, em sua luta pela existncia.Correr riscos pois, uma histria antiga.Antes da Revoluo Industrial, com o artfice individual e ainda quando a fora usada era emgeral a humana ou a trao animal, os acidentes mais graves eram devidos quedas,queimaduras, afogamentos, leses devidas a animais domsticos. Com a aplicao da energiahidrulica manufatura, seguida da aplicao da mquina a vapor e eletricidade, ocorreu umaevoluo grandiosa na inveno de novas e melhores mquinas que acompanhassem aindustrializao, incorporando novos riscos e tornando os acidentes de trabalho maiores e mais

    numerosos. Mesmo assim, pouco se falava em sade ocupacional.O desenvolvimento tecnolgico e o domnio sobre foras cada vez mais amplas, deramnascimento a uma extensa gama de situaes perigosas em que a mquina, as engrenagens,os gases, os produtos qumicos, a poeira, etc., vem envolvendo o homem de tal forma queobrigam-no a agir com cautela enquanto trabalha, uma vez que est suscetvel, a qualquermomento, de sofrer uma leso irreparvel ou at mesmo a morte.Juntamente com a evoluo industrial, as pessoas e empresas passaram a ter umapreocupao maior com o elevado ndice de acidentes que se proliferava. Nos temposmodernos, uma das grandes preocupaes nos pases industrializados com respeito sadee proteo do trabalhador no desempenho de suas atividades. Esforos vem sendodirecionados para este campo, visando uma reduo do nmero de acidentes e efetivaproteo do acidentado e dependentes. No sem motivos que as naes vem se

    empenhando em usar meios e processos adequados para proteo do homem no trabalho,procurando evitar os acidentes que o ferem, destroem equipamentos e ainda prejudicam oandamento do processo produtivo.Embora como citado, o trabalho, os riscos inerentes a ele e os acidentes tenham surgido naTerra junto com o primeiro homem, as relaes entre as atividades laborativas e a doenapermaneceram praticamente ignoradas at cerca de 250 anos atrs. Foi no sculo XVI quealgumas poucas observaes comearam a surgir, evidenciando a possibilidade de que otrabalho pudesse ser causador de doenas.

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    De acordo com SOTO (1978), as primeiras referncias escritas, relacionadas ao ambiente detrabalho e dos riscos inerentes a eles, datam de 2360 a.c., encontradas num papiro egpcio, o"Papiro Seller II", que diz: "Eu jamais vi ferreiros em embaixadas e fundidores em misses. Oque vejo sempre o operrio em seu trabalho; ele se consome nas goelas de seus fornos. Opedreiro, exposto a todos os ventos, enquanto a doena o espreita, constri sem agasalho;seus dois braos se gastam no trabalho; seus alimentos vivem misturados com os detritos; ele

    se come a si mesmo, porque s tem como po os seus dedos. O barbeiro cansa os seusbraos para encher o ventre. O tecelo vive encolhido - joelho ao estmago - ele no respira.As lavadeiras sobre as bordas do rio, so vizinhas do crocodilo. O tintureiro fede a morrinha depeixe, seus olhos so abatidos de fadiga, suas mos no param e suas vestes vivem emdesalinho". Em 460 a.c. Hipcrates, considerado o Pai da Medicina, tambm fala dos acidentese doenas de trabalho. No incio da era crist, Plnio novamente retoma o problema. Mas foiGeorge Bauer quem fez um estudo concreto sobre as doenas que afetam os trabalhadores.Como refere Hunter apud NOGUEIRA (1981), em 1556 George Bauer, conhecido por seunome latino Georgius Agrcola publicava o livro "De Re Metallica", onde foram estudados osproblemas relacionados extrao de minerais argentferos e aurferos e fundio de prata eouro. Ele discute os acidentes do trabalho e as doenas mais comuns entre os mineiros, emdestaque a "asma dos mineiros", que segundo Agrcola era provocada por poeiras corrosivas,

    cuja descrio dos sintomas e rpida evoluo da doena demonstraram tratar-se de silicose,mas cuja origem no ficou claramente descrita por Agrcola. Onze anos aps a publicaodeste livro aparece a primeira monografia sobre as relaes entre trabalho e doena, de autoriade Aureolus Theophrastus Bembastus von Hohenheim - o famoso Paracelso -, entitulada "Dosofcios e doenas da montanha", onde foram realizadas numerosas observaes relacionandomtodos de trabalho e substncias manuseadas, com doenas. Fala, na sua obra, da silicose edas intoxicaes pelo chumbo e mercrio sofridas pelos mineiros e fundidores de metais.Apesar da importncia destes estudos, os mesmos permaneceram ignorados por mais de umsculo, no sendo feito nada a respeito da proteo e sade do trabalhador.Foi apenas em 1700, com a publicao da obra "De Morbis Artificum Diatriba" do mdicoitaliano Bernardino Ramazzini que o assunto de doenas do trabalho comeou a ter maiorrepercusso. Ramazzini, considerado o Pai da Medicina do Trabalho, descreveu uma srie de

    doenas relacionadas a cerca de 50 profisses, deixando uma pergunta no ar "Qual suaocupao?", qual no seja alertar para a desinformao quanto ao risco das inmeras doenasque qualquer trabalhador poderia estar sendo alvo.Mesmo sendo um marco para a Engenharia de Segurana, o trabalho de Ramazzini foipraticamente ignorado por quase um sculo, pois na poca ainda predominavam ascorporaes de ofcio com nmero pequeno de trabalhadores, com sistema de trabalhopeculiar e, por este motivo, com pequena incidncia de doenas profissionais.Com o aparecimento da primeira mquina de fiar, a Revoluo Industrial Inglesa entre 1760 e1830 veio a mudar profundamente toda a histria da humanidade. O advento das mquinas,que fiavam em ritmo muitssimo superior ao do mais hbil artfice, a improvisao das fbricase a mo-de-obra destreinada, constituda principalmente de mulheres e crianas, resultou emproblemas ocupacionais extremamente srios. Os acidentes de trabalho passaram a ser

    numerosos, quer pela falta de proteo das mquinas, pela falta de treinamento para suaoperao, pela inexistncia da jornada de trabalho, pelo rudo das mquinas monstruosas oupelas ms condies do ambiente de trabalho. A medida que novas fbricas se abriam e novasatividades industriais eram iniciadas, maior o nmero de doenas e acidentes, tanto de ordemocupacional como no-ocupacional.Diante do quadro apresentado e da presso da opinio pblica, criou-se no ParlamentoBritnico, sob a direo de sir Robert Peel, uma comisso de inqurito, conseguindo em 1802 aaprovao da primeira lei de proteo aos trabalhadores, a "Lei de Sade e Moral dosAprendizes", estabelecendo a jornada diria de doze horas de trabalho, que proibia trabalho

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    noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das fbricas duas vezes por ano etornava obrigatria a ventilao destas. Esta lei foi seguida de diversas outras complementares,mas mesmo assim, parcela mnima do problema foi resolvida, pois as leis, devido forteoposio dos empregadores, geralmente tornavam-se pouco eficientes.Em 1830, o proprietrio de uma fbrica inglesa, descontente com as condies de trabalho deseus pequenos trabalhadores, procurou o mdico ingls Robert Baker- que viria a ser nomeado

    pelo parlamento britnico como Inspetor Mdico de Fbrica-, para auxili-lo quanto a melhorforma de proteger a sade de seus operrios. Baker, conhecedor da obra de Ramazzini e hbastante tempo estudando o problema de sade dos trabalhadores aconselhou-o a contratarum mdico para visitar diariamente o local e estudar a influncia do trabalho sobre a sade dospequenos operrios, que deveriam ser afastados de suas atividades quando notado que estasestivessem prejudicando a sade dos mesmos. Era o surgimento do primeiro servio mdicoindustrial em todo o mundo.O fato acima veio a culminar em 1831 com um relatrio da comisso parlamentar de inqurito,sob a chefia de Michael Saddler, que finalizava com os seguintes dizeres: "Diante destacomisso desfilou longa procisso de trabalhadores - homens e mulheres, meninos e meninas.Abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada um deles eraclara evidncia de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem para com o

    homem, uma impiedosa condenao daqueles legisladores, que quando em suas mosdetinham poder imenso, abandonaram os fracos capacidade dos fortes". Em 1833, com oimpacto deste relatrio sobre a opinio pblica, foi baixado o "Factory Act, 1833", a Lei dasFbricas, a primeira legislao realmente eficiente no campo da proteo ao trabalhador, o que

    junto com a presso da opinio pblica, levou os industriais britnicos a seguirem o conselhode Baker. Neste mesmo ano, a Alemanha aprovava a Lei Operria. Criam-se assim osprimeiros esforos do mundo industrial de reconhecimento necessidade de proteo dosoperrios, fruto das reivindicaes dos operrios.Em 1842, na Esccia, com James Smith como diretor-gerente de uma indstria txtil, houve acontratao de um mdico cujas incumbncias iam desde o exame admissional e peridico ata orientao e preveno das doenas tanto ocupacionais como no ocupacionais. Passaramento a existir as funes especficas do mdico na fbrica.

    A partir da, com o grande desenvolvimento industrial da Gr-Bretanha, uma srie de medidaslegislativas passaram a ser estabelecidas em prol da sade e segurana do trabalhador. Desdea expanso da Revoluo Industrial em diversos pases do resto da Europa, houve oaparecimento progressivo dos servios mdicos na empresa industrial, sendo que em algunspases, sua existncia passou de voluntria, como na Gr-Bretanha, a obrigatria.Nos Estados Unidos, os servios mdicos e os problemas de sade de seus trabalhadores notiveram ateno especial, apesar do acentuado processo de industrializao a partir da metadedo sculo passado. Os primeiros servios mdicos de empresa industrial comearam a surgirno incio do presente sculo, a partir do aparecimento da legislao sobre indenizaes emcasos de acidentes de trabalho. O objetivo bsico dos empregadores era ento reduzir o custodas indenizaes, sendo que nos ltimos trinta-quarenta anos houve tal ampliao noprograma, que os servios mdicos passaram a existir no somente nas indstrias cujo risco

    ocupacional fosse grande, mas tambm naquelas cujo risco era mnimo. Excelentes resultadosforam obtidos neste pas, levando os servios mdicos industriais a serem voluntariamenteinstalados nas fbricas, sendo que em 1954 deu-se origem aos princpios bsicos que devemguiar o funcionamento desses, estabelecidos pelo Council of Industrial Health da AmericanMedical Association e revistos em 1960 pelo Council on Occupational Health da mesmaassociao.A conscientizao e os movimentos mundiais com relao sade do trabalhador no poderiadeixar de interessar Organizao Internacional do Trabalho (OIT) e Organizao Mundialda Sade (OMS). Desta forma, em 1950, a Comisso conjunta OIT-OMS sobre Sade

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    Ocupacional, estabeleceu de forma ampla os objetivos da Sade Ocupacional. O tema, desdeesta poca, foi assunto de inmeros encontros da Conferncia Internacional do Trabalho aqual, em junho de 1953, adotou princpios, elaborando a Recomendao 97 sobre a Proteo Sade dos Trabalhadores em Locais de Trabalho e estabeleceu, em junho de 1959, aRecomendao 112 com o nome "Recomendao para os Servios de Sade Ocupacional,1959".

    A OIT define o servio de sade ocupacional como um servio mdico instalado em umestabelecimento de trabalho, ou em suas proximidades, com os objetivos de:- proteger os trabalhadores contra qualquer risco sua sade, que possa decorrer do seutrabalho ou das condies em que este realizado;- contribuir para o ajustamento fsico e mental do trabalhador, obtido especialmente pelaadaptao do trabalho aos trabalhadores, e pela colocao destes em atividades profissionaispara as quais tenham aptides;- contribuir para o estabelecimento e a manuteno do mais alto grau possvel de bem-estarfsico e mental dos trabalhadores.O Brasil, como o restante da Amrica Latina, teve sua Revoluo Industrial ocorrendo bemmais tarde do que nos pases europeus e norte-americanos, por volta de 1930, e emborativssemos em menor escala a experincia de outros pases, passamos pelas mesmas fases,

    sendo que em 1970, se falava ser o Brasil o campeo de acidentes do trabalho.Os servios mdicos em empresas brasileiras so razoavelmente recentes, e foram criados poriniciativa dos empregadores, consistindo inicialmente em assistncia mdica gratuita para seusoperrios, geralmente vindos do campo. Estes servios tinham carter eminentemente curativoe assistencial e no preventivo como recomendado pela OIT. Os movimentos nascidos com ofim de que o governo brasileiro seguisse a recomendao 112 no surtiram resultado, esomente em junho de 1972 o Governo Federal baixando a Portaria no3.237 e integrando oPlano de Valorizao do Trabalhador, tornou obrigatria a existncia dos servios mdicos, dehigiene e segurana em todas as empresas com mais de 100 trabalhadores.Segundo MACHER (1981), no h dvidas de que as doenas oferecem um srio obstculo aodesenvolvimento scio-econmico de um pas, pois um trabalhador debilitado tem em grandeparte sua capacidade de produo restringida, como pode ser verificado mais claramente nos

    pases latino-americanos, cujo desenvolvimento ainda no proporcionou uma viso realmenteclara da necessidade de se investir no bem-estar fsico e mental de nossos trabalhadores.Conforme evoca o crculo vicioso da pobreza de Winslow, "a pobreza leva a doena e esta porsua vez a produzir mais e mais pobreza", podemos nos reportar ao fato de que muitostrabalhadores que vivendo em condies inadequadas de habitao, saneamento, alimentaodeficiente, baixa renda, com pouca ou nenhuma instruo em termos de higiene e grandeexposio s doenas contagiosas, levam a uma situao de perdas para o pas, tanto noaspecto econmico-financeiro quanto no humano-social. Os acidentes e doenas ocupacionaisreduzem grandemente a capacidade da parcela mais significante de uma nao, a populaoeconomicamente ativa, pela gerao de incapacidade ou morte dos trabalhadores.Os pases da Amrica Latina sofrem pelos elevados ndices de incapacidade produzidos poracidentes e doenas profissionais, que se colocados em termos monetrios, as cifras

    resultantes causariam realmente impacto. Talvez seja este alto custo em acidentes do trabalhoum dos fatores que impede muitas empresas, principalmente latino-americanas, de competir nomercado aberto. E ainda, muitos empresrios, ou por ignorncia ou por expectativa desmedidade lucros imediatos, no percebem que a proteo do trabalhador em suas funes e nacomunidade um bom negcio.Na Latino Amrica utiliza-se como recurso para sair da etapa de subdesenvolvimento umacelerado processo de industrializao a curto prazo, trazendo inegveis benefcioseconmicos, mas que por outro lado colocam o homem sob condies arriscadas, tanto em seumeio de trabalho quanto na comunidade. MACHER (1981), enfatiza que antieconmico

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    buscar o desenvolvimento industrial de um pas sem resolver as conseqncias tcnicas,sanitrias e sociais que este processo traz consigo, pois no balano final verificar-se-ia quesomente os custos de enfermidades e acidentes j seria superior aos novos bens produzidos.Conforme sugere MARTHA (1981), no pode-se esquecer que por trs de qualquer mquina,equipamento ou material est o homem, a maior riqueza da nao, e se no bastasse isso paraavaliarmos a importncia da Segurana e Medicina do Trabalho, pode-se pensar que, enquanto

    uma indstria automobilstica tem capacidade de produzir mais de 1.000 automveis por diacom a ajuda humana, necessita-se de no mnimo 20 anos para formar um homem.Torna-se imperativo que as prprias empresas com o passar do tempo passem a compreendera necessidade de prevenir acidentes e doenas ocupacionais, dado os danos e custos queproduzem. Ao se estabelecer a obrigatoriedade das empresas de dispor de serviosespecializados em segurana, higiene e medicina do trabalho, tm-se o propsito de evitar queacidentes e doenas ocupacionais ocorram e, em conseqncia, reduzir-se ao mnimo osdanos que ocasionam.2.3. A ENGENHARIA DE SEGURANA TRADICIONALSegundo DE CICCO e FANTAZZINI (1993), "o sistema convencional de anlise tem um carterpuramente estatstico e est baseado em fatos ocorridos (acidentes), sendo os ndices daretirados de discutvel representatividade para o estabelecimento de aes de controle que

    reflitam coerentemente a potencialidade dos riscos presentes em cada ambiente de trabalho".Sob o mesmo aspecto, de acordo com IIDA (1991), no sistema tradicional os acidentes soanalisados pela freqncia de ocorrncia e um relatrio com descrio sumria dos mesmos.Os relatrios geralmente apresentam poucas informaes quanto s condies de trabalho nolocal do acidente, no fornecendo subsdios suficientes para que essas condies sejamaperfeioadas.De acordo com KLETZ (1984?), o mtodo tradicional de identificao de perigos, utilizadodesde os princpios da tecnologia industrial at nossos dias , era o de se implantar uma fbricae esperar para ver o que ocorria, ou seja, deixar que os acidentes ocorressem para s entotomar alguma atitude a respeito. Este tipo de mtodo at poderia ser admissvel antigamente,quando as dimenses do risco eram limitadas, mas de maneira alguma so concebveis hojeem dia, em que a evoluo tal, que em funo de maquinrios, equipamentos e do prprio

    desenvolvimento do homem, acidentes podem acarretar consequncias de elevada gravidade.No modelo tradicional os programas de segurana so bastante limitados, baseando-se emalguns princpios j ultrapassados para o presente como: preveno de leses pessoais;atividade reservada para rgos e pessoal especializado; aes reativas e no preventivas,baseadas em fatos j acontecidos - os acidentes, e; aceitao do acidente como fatoinesperado e de causas fortuitas e ou incontrolveis.Vejamos porque estes princpios ou filosofias bsicas da engenharia de segurana tradicionalso consideradas limitadas dentro da realidade atual:a) Segurana vista como sinnimo de preveno de leses pessoais:Inicialmente a segurana nasceu e prosperou como atividade para fazer frente aos excessospraticados pelas empresas contra a fora de trabalho. A preocupao em termos de seguranaera totalmente voltada para morte ou leses incapacitantes permanentes dos trabalhadores. A

    partir de acordos e algumas leis especficas foram criados alguns planos de assistncia,beneficiando o empregado e sua famlia. Com o passar do tempo e com os avanos das lutassociais, alm dos planos de assistncia, os trabalhadores passaram a ser cobertos por segurose outros dispositivos que os protegia no apenas contra as leses incapacitantes permanentesmas tambm pela perda momentnea da capacidade de trabalho. Mais tarde, tiveram atenoespecial outras formas de leses pessoais, inclusive as que no afastavam o indivduo dotrabalho.O fato das empresas adotarem planos para reduzir as leses dos trabalhadores no aconteceude forma voluntria, mas devido presso dos altos gastos financeiros oriundos das

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    indenizaes e seguros, s reivindicaes sociais e discriminao caso no acompanhassemos novos rumos da segurana.Desta forma, apesar dos avanos, os acidentes que no envolvessem pessoas no tinhamvalor nenhum, embora muitos destes acidentes possussem as mesmas causas ou causassemelhantes aos acidentes com pessoas. O motivo deste desinteresse, talvez fosse devido aosimples desconhecimento do alto ndice de ocorrncia dos acidentes, bem como dos custos

    que acarretavam.Apesar da evoluo em que chegamos atualmente, em termos de engenharia e segurana dotrabalho, esta filosofia perdura at hoje em grande parte das empresas e rgos do governo,principalmente nos pases subdesenvolvidos, sendo que grande parte dos acidentes como:quebra de equipamentos, interrupo do processo produtivo e agresses ao meio ambiente,no so nem mesmo registrados e muito menos analisados ou divulgados.b) O acidente sendo mal definido:Os acidentes eram considerados fatos inesperados, de causas fortuitas e/ou desconhecidas.Esta definio errnea coloca os acidentes, em grande parte, como ocorrncias inevitveis eincontrolveis. Esta constatao leva as pessoas em geral e a organizao como um todo, aum estado de inrcia frente aos acidentes, sem que seja tomada nenhuma atitude para suapreveno. Esta inrcia poderia ser explicada por uma concluso lgica de que sendo o

    acidente inevitvel, nada poderia ser feito para evit-lo.No entanto, sabe-se que os acidentes com causas fortuitas ou desconhecidas devem-segeralmente a fatores incontrolveis da natureza como terremotos, maremotos, raios, etc.,sendo os demais acidentes geralmente previsveis e, portanto, controlveis.Atualmente os acidentes so considerados como fatos indesejveis, podendo as causas damaior parte dos mesmos serem conhecidas e controladas. Este controle depende da eficinciadas equipes e pessoas envolvidas, ficando tanto a investigao quanto a preveno aliadasaos materiais e recursos disponveis e capacidade, iniciativa e criatividade do pessoal tcnicode segurana e da alta administrao da empresa.c) Programas direcionados para fatos j acontecidos:Os programas tradicionais de segurana eram desenvolvidos para agir aps os acidentes jterem acontecido tendo, quanto muito, um carter corretivo. A postura era esperar os acidentes

    acontecerem para s ento agir, atacando as conseqncias ou evitando acidentessemelhantes. No existia de forma alguma o enfoque preventivo.A preocupao com segurana preventiva ocorreu apenas mais tarde, quando surgiram osconceitos de ato inseguro e condio insegura. Os enfoques tradicionais passaram, ento, aser substitudos por outros mais modernos, com uma maior preocupao com os acidentespessoais e perdas a eles associadas, bem como com as perdas relativas a outros tipos deacidentes e no apenas os que envolvessem pessoas.Hoje, existem modelos que procuram explicar o acidente, mostrando-o como sendo um eventoparticipante de uma cadeia que possui: um antes, um durante e um depois. Conhecendo-se osestgios desta cadeia possvel identificar os pontos de ataque para mudar, controlar ouinterromper a cadeia original, com o objetivo de evitar ou reduzir a probabilidade de ocorrnciade acidentes e as perdas deles originrias.

    d) As atividades de segurana sendo centralizadas por pessoas e rgos especializados:O fato de nos modelos tradicionais a segurana ser desenvolvida por rgos especializadosacabou por deixar os executantes pouco informados e pouco capazes de agir de formapreventiva, j que a mesma vem de outros rgos, de outras pessoas. Deste modo, por noconhecer em profundidade todos os trabalhos executados numa empresa, o profissionalespecializado de segurana fica impossibilitado de prever e, por conseguinte, prevenir de formacompleta os perigos inerentes aos trabalhos os quais no domina. Por ser tarefa de um rgoespecializado, os trabalhadores e pessoas que no fazem parte da rea de segurana acabam

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    por achar que esta tarefa no de sua responsabilidade, havendo descomprometimento porparte dos mesmos.Atualmente sabe-se que para ser completa e eficaz, a segurana deve nascer e progredir juntocom a tecnologia da rea. Toda a organizao deve estar integrada, e todo trabalho deve serpensado e planejado com segurana sendo, portanto, a execuo segura uma decorrncianatural.

    Na dcada de 60 j sabia-se que programas com a filosofia tradicional limitava as atividades desegurana, havendo estagnao de resultados e desmotivao, alm de falta de interesse,tanto por parte de empregados como das chefias e superviso. Diversos autores quebuscavam em seus estudos intensificar as atividades de segurana nas empresas, e com issoobter melhores resultados nas estatsticas e nos custos, apontavam as limitaes da filosofiatradicional.No entanto, mesmo tendo conscincia das limitaes do sistema convencional de anlise deriscos, no deve-se, sobremaneira, desprez-lo ou minimizar sua importncia. Os ndices,taxas e medidas fornecidas pelo mesmo nos so importantes instrumentos para servir de bases modernas tcnicas de anlise de riscos, para efetuar inferncias, conhecer e avaliar aseveridade dos riscos potenciais nos ambientes de trabalho, estabelecer prioridades eprogramas e, principalmente, dar o primeiro passo para controlar e, o que mais importante,

    detectar falhas ou imprevistos antes que ocorram os acidentes podendo, assim, preven-los.Desta forma, no cabe desprestigiar totalmente os programas tradicionais, pois qualquerprograma de segurana, pelo simples fato de existir, j um fator positivo. Os mtodostradicionais tm, isso sim, alcance limitado frente aos problemas e exigncias, hojecaractersticas, tanto de rgos governamentais quanto da iniciativa privada.Pode-se concluir que na filosofia tradicional as causas fundamentais e bsicas dos acidentesno eram atacadas simplesmente por no serem devidamente conhecidas. As pessoas e aestrutura como um todo tinham uma posio passiva, esperando um fato por eles consideradoinevitvel - o acidente, para s ento agir ou melhor, reagir formando equipes para combateremergncias sem nenhum carter preventivo. Pouca ou nenhuma ateno era dada a danosmateriais e ambientais que pudessem ocorrer, sendo os acidentes que no envolvessempessoas considerados como decorrncia normal da atividade. Desta forma os custos dos

    acidentes no eram conhecidos, j que os pessoais so de difcil quantificao e os outroseram aceitos como custos normais de produo. Como decorrncia de todo o processotradicional, os empregados, chefias e superviso ficavam pouco engajados e poucocomprometidos com as atividades e resultados envolvendo segurana.Foi graas aos estudos de Heinrich, Bird, Fletcher e depois Hammer (abordados a seguir) quea engenharia de segurana passou a ter um outro enfoque, dando surgimento s doutrinaspreventivas de segurana. Segundo esta nova viso, a atividade de segurana s eficazquando essencialmente dirigida para o conhecimento e atuao no foco, nas causas dosacidentes, envolvendo para isso toda a estrutura organizacional, desde os nveis mais altos dechefia e superviso at o mais baixo escalo.2.4. ESTUDOS REALIZADOSDiversos autores se destacaram e desenvolveram importantes estudos buscando uma melhor

    compreenso dos problemas relativos segurana, propondo metodologias para mudana noestilo de abordagem e trabalhando na obteno de melhores resultados. atravs desta mudana de abordagem que o termo acidente passa a ter outra conotao,que de causas fortuitas, desconhecidas e incontrolveis passou a ser visto como sendoocasionado por causas indesejveis que podem ser conhecidas previamente e, portanto,controladas. O acidente passou a ser visto de forma mais ampla, onde sem relegar osacidentes com leses pessoais, passaram a ser considerados acidentes todas aquelassituaes que de forma direta ou indireta viessem a comprometer o bom andamento doprocesso produtivo, quer pela perda de tempo, pela quebra de equipamento ou qualquer outro

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    incidente envolvendo ou no o homem, provocando ou no leso, mas que tenha provocadodesperdcio, ou seja perdas tanto a nvel monetrio quanto pessoal.2.4.1. ESTUDOS DE H.W. HEINRICH E R.P. BLAKE - (Idia de acidentes com danos propriedade - acidentes sem leso)Foram os primeiros a apontar que apenas a reparao de danos no era suficiente e sim anecessidade de aes to ou mais importantes, que alm de assegurar o risco de acidentes

    (pela abordagem tradicional acidente = leso) tendessem a preven-los.Heinrich pertencia a uma companhia de seguros dos Estados Unidos e em 1926, a partir daanlise de acidentes do trabalho liquidados por sua companhia, iniciou uma investigao nasempresas em que os acidentes haviam ocorrido, tentando obter informaes sobre os gastosadicionais que as mesmas haviam tido, alm das indenizaes pagas pelo seguro. Os dadosrefletiam a mdia da indstria americana, no sendo sua inteno, no entanto, generalizar estaestimativa para todos os casos de levantamento de custos de acidentes nas empresas.Desta forma, Heinrich chamou de custos diretos os gastos da companhia seguradora com aliquidao de acidentes, e de custos indiretos as perdas sofridas pelas empresas em termos dedanos materiais e de interferncias na produo. Com relao a estes custos, em 1931 Heinichrevelou em sua pesquisa a relao 4:1 (custos indiretos : custos diretos) entre os custos dosacidentes, ou seja, os custos indiretos eram cerca de 4 vezes maiores do que os custos diretos,

    para a indstria como um todo.De acordo com DE CICCO (1984) a consistncia e o significado da proporo de 4 para 1 soextremamente fracos, e o fato de no ter sido utilizado nenhum modelo padronizado para oclculo dos referidos custos torna o emprego desta proporo totalmente invivel, alm do que,a necessidade da realizao de estudos especficos e da no generalizao deriva tambm dofato de que esta relao poder variar de 2,3:1 at 100:1, no sendo objetivo do autor aplicar talproporo em casos individuais e especficos.Em 1947, a partir dos estudos de outro norte-americano R.H.Simonds apudDE CICCO (1984),os termos custo direto e custo indireto de Heinrich foram substitudos, respectivamente, porcusto segurado e custo no segurado. O mtodo proposto por Simonds, para o clculo doscustos de acidentes, enfatiza a realizao de estudos-piloto em cada empresa, dos custosassociados a quatro tipos bsicos de acidentes: leses incapacitantes, casos de assistncia

    mdica, casos de primeiros socorros e acidentes sem leso.Foi Heinrich quem introduziu pela primeira vez a idia de acidentes sem leso, ou seja, osacidentes com danos a propriedade. Sob este enfoque so considerados todos aquelesacidentes que, de uma forma ou de outra, comprometem o andamento normal de umaatividade, provocando danos materiais.As propores obtidas entre os diversos tipos de acidentes: com leso incapacitante, comleses no incapacitantes e acidentes sem leso, obtidos pelos estudos de Heinrich, so osrepresentados na figura 2.1.De acordo com a pirmide de Heinrich observa-se que para 1 acidente com leso incapacitante, correspondiam 29 acidentes com leses menores e outros 300 acidentes sem leso. Estagrande parcela de acidentes sem leso no vinha sendo considerada, at ento, em nenhumaspecto, nem no financeiro e nem no que tange aos riscos potenciais que implica sade e

    vida do trabalhador caso algum fator contribuinte (ato ou condio insegura) ostransformassem em acidentes com perigo de leso.

    PIRAMIDE HEINRICH

    Heinrich apudHEMRITAS (1981), em sua obra "Industrial Accident Prevention", aponta queos acidentes de trabalho, com ou sem leso, so devidos personalidade do trabalhador, prtica de atos inseguros e existncia de condies inseguras nos locais de trabalho. Supe-se, desta forma, que as medidas preventivas devem ater-se ao controle destes trs fatores

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    causais. Neste ponto, pode-se ter uma idia da importncia e do no esquecimento dosmecanismos tradicionais, pois o reconhecimento e identificao das causas podem serrealizados atravs da coleta de dados durante a investigao dos acidentes. O uso dosquadros estatsticos baseados nesta coleta podem ser fundamentais para elaborao eprogramao da preveno de acidentes.Anos mais tarde, R. P. Blake analisando o assunto sob o mesmo ponto de vista de Heinrich,

    chegou a formular com ele afirmativas e sugestes, visando a diminuio da perda poracidentes. Do ponto de vista destes autores as empresas, mais do que promover medidas deproteo social a seus empregados, deveriam efetivamente preocupar-se em evitar osacidentes, sendo eles de qualquer natureza. Esta sugesto estava calcada no pressuposto deque, segundo suas observaes, apesar das empresas direcionarem esforos na proteosocial de seu empregado, as perdas materiais com acidentes continuavam a ser de grandemagnitude sendo que, muitas vezes, os acidentes com danos propriedade tinham as mesmascausas ou, pelo menos, causas semelhantes aos dos acidentes pessoais.2.4.2. ESTUDOS DE FRANK E. BIRD JR. - (Controle de Danos, Preveno de Perdas,Controle de Perdas)Apesar de j haver sido alertado por Heinrich duas dcadas antes, foi somente na dcada de50 que tomou forma nos E.U.A um movimento de grande valorizao dos programas de

    preveno de riscos de danos materiais.O Conselho Nacional de Segurana dos E.U.A., em 1965, concluiu que em dois anos o pashavia perdido em acidentes materiais uma parcela que se igualava ao montante de perdas emacidentes pessoais, chegando as perdas a uma cifra de US$ 7,2 e US$ 7,1 bilhes para danosmateriais e pessoais respectivamente. E mais, em 1965 os acidentes com danos materiais nasempresas superavam, quase em duas vezes, as perdas com danos materiais em acidentes detrnsito no ano de 1964, ficando as perdas em um valor de US$ 1,5 bilhes para estes e deUS$ 2,8 bilhes para aqueles. Nesta mesma poca estimativas semelhantes comearam a serrealizadas pelas empresas.Em 1915 a Luckens Steel, empresa siderrgica da Filadlfia, havia nomeado um Diretor deSegurana e Bem-Estar conseguindo, com isto, reduzir, at 1954, o coeficiente de freqnciade 90 para 2 acidentes pessoais por milho de homens-hora trabalhados. Igual sucesso,

    porm, no obteve na reduo dos acidentes graves com danos propriedade sofridos pelaempresa neste mesmo ano. Os controles de medio de custos e programas executadosdurante os 5 anos subsequentes serviram para mostrar gerncia, os grandes danosincorridos na empresa por decorrncia de acidentes materiais. Em 1956, reconhecendo aimportncia do problema, os acidentes com danos propriedade eram, ento, incorporadosaos programas de preveno de leses j existentes na empresa.Face aos resultados satisfatrios obtidos, o ano de 1959 foi adotado como base para o futuro,sendo o custo dos danos propriedade observado neste ano-base de US$ 325.545 por milhode horas-homem trabalhadas. Em 1965 o mesmo custo era estimado em US$ 137.832 pormilho de horas-homem trabalhadas, com uma reduo, durante estes 7 anos, de US$187.713.Na Luckens Steel, Bird desenvolveu seus estudos e iniciou um programa de Controle de

    Danos, que sem descuidar dos acidentes com danos pessoais - o homem o fatorpreponderante em qualquer programa de engenharia de segurana -, tinha o objetivo principalde reduzir as perdas oriundas de danos materiais. A motivao inicial para seu trabalho foramos acidentes pessoais e a conscincia dos acidentes ocorridos durante este perodo com ele eseus companheiros de trabalho, j que o prprio Bird fora operrio da Luckens Steel. Estesdois fatores aliados levaram-no a se preocupar com a rea de segurana. Os quatro aspectosbsicos do programa por ele elaborado foram: informao, investigao, anlise e reviso doprocesso.

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    Em 1966, baseando sua teoria de Controle de Danos em uma anlise de 90.000 acidentesocorridos na Luckens Steel, durante um perodo de mais de 7 anos, observou que do total, 145acidentes foram incapacitantes, 15.000 acidentes com leso e 75.000 foram acidentes comdanos propriedade. Assim, Bird chegou a proporo entre acidentes pessoais e com danos propriedade mostrada na figura 2.2.Pela pirmide de Bird, na figura 2.2., observa-se que para cada acidente com leso

    incapacitante, ocorriam 100 pequenos acidentes com leses no incapacitantes e outros 500acidentes com danos propriedade.Bird, em seu trabalho, tambm estabeleceu a proporo entre os custos indiretos (no-segurados) e os diretos (segurados), obtendo a proporo 6,1:1. O objetivo do estabelecimentode tais custos foi o de mostrar como cada empresa pode estimar os seus individuais. Caberessaltar que a proporo de Bird (6,1:1) no mais significativa do que a proposta, porexemplo, por Heinrich (4:1), e que cada empresa deve, na verdade, fazer inferncias sobre osresultados dos prprios dados levantados.

    PIRAMIDE DE BIRD 1966

    Ao invs de simples slogans, como era comum na poca, o trabalho de Bird teve o mrito de

    apresentar dados com projees estatsticas e financeiras, alm das perdas materiais epessoais sofridas pela empresa.Apesar disto, nos ltimos 10 anos no houve diminuio significativa na taxa de freqncia deacidentes havendo, isso sim, uma diminuio de cerca de 50% na taxa de gravidade dosmesmos.Segundo Bird apudOLIVEIRA (1991) a forma de se fazer segurana atravs do combate aqualquer tipo de acidente e que a reduo das perdas materiais liberar novos recursos para asegurana.Mais tarde, os estudos de Bird foram denominados de Controle de Perdas e os programasgerenciais como Administrao do Controle de Perdas, cuja viso, anos mais tarde, foibastante ampliada pelos estudos de Fletcher que incorpora outros fatores como: proteo aomeio ambiente, qualidade, projeto, confiabilidade, etc.

    2.4.3. ESTUDOS DA INSURANCE COMPANY OF NORTH AMERICA (ICNA) - (Dadosestatsticos sobre acidentes pessoais e materiais)Seguindo-se aos estudos de Bird, em 1969 a ICNA analisou e publicou um resumo estatsticode dados levantados junto a 297 empresas que empregavam cerca de 1.750.000 pessoas,onde foram obtidos 1.753.498 relatos de ocorrncias. Esta amostra, consideravelmente maior,propiciou chegar-se a uma relao mais precisa que a de Bird e Heinrich quanto proporode acidentes, alm de incluir um fato novo - os quase acidentes.Como pode-se observar na figura 2.3, as propores obtidas pela ICNA demonstram que, paracada acidente com leso grave associam-se 10 acidentes com leso leve, 30 acidentes comdanos propriedade e 600 acidentes sem leso ou danos visveis - os quase acidentes.Cabe aqui ressaltar a importncia da incluso dos acidentes sem leso ou danos visveis, pois,por serem quase-acidentes os mesmos nos revelam potenciais enormes de acidentes, ou seja,

    situaes com risco potencial de ocorrncia sem que tenha havido, ainda, a perda pessoal ouno pessoal.PIRAMIDE DA ICNA 1969

    Apesar do objetivo da ICNA ser exclusivamente econmico-financeiro, os resultadosapresentados so de grande importncia no s para evitar as perdas materiais, mas tambmpara evitar as perdas pessoais, j que se o acidente "quase ocorreu", a perda tambm "quaseaconteceu" e se realmente ocorresse, poderia ser tanto material como pessoal.2.4.4. ESTUDOS DE JOHN A. FLETCHER E H.M. DOUGLAS (Controle Total de Perdas)

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    Os estudos de Fletcher e Douglas vieram aprofundar os trabalhos de Bird.Em 1970, Fletcher props o estabelecimento de programas de Controle Total de Perdas, ouseja, a aplicao dos princpios do Controle de Danos de Bird a todos os acidentes commquinas, materiais, instalaes, meio ambiente, etc. sem, contudo, deixar de lado aes depreveno de leses.Objetivando reduzir e eliminar todos os acidentes que pudessem interferir ou paralisar o

    sistema, os programas de Controle Total de Perdas preocupam-se com todo e qualquer tipo deevento que interfira negativamente no processo produtivo, prejudicando a utilizao plena dopessoal, mquinas, materiais e instalaes.A filosofia de Fletcher a que mais se aproxima dos modernos programas de segurana. Caberessaltar, que apesar de generalizar as atividades para outros campos no pessoais, osacidentes pessoais so obrigatoriamente parte integrante dos programas de segurana queseguem esta filosofia.2.4.5. ESTUDOS DE WILLIE HAMMER (Engenharia de Segurana de Sistemas)Apesar do grande avano ocorrido com as filosofias de Controle de Danos de Bird e ControleTotal de Perdas de Fletcher, as mesmas incluam somente prticas administrativas, quando osproblemas de preveno de perdas tambm exigiam e exigem solues de ordem tcnica.A partir de 1972, criou-se uma nova mentalidade, fundamentada nos trabalhos de Willie

    Hammer, atentando-se para a necessidade de dar um enfoque sob o ponto de vista deengenharia s abordagens de administrao e de controle de resultados preconizados porHeinrich, Bird, Fletcher e outros. Segundo ele, as atividades administrativas eram muitoimportantes, porm, existiam problemas tcnicos que obrigatoriamente teriam que ter soluestcnicas.A experincia na rea de projetos e participao na fora area e nos programas espaciaisnorte-americanos permitiu ao engenheiro e especialista na rea de Engenharia de Seguranade Sistemas, Willie Hammer, reunir as diversas tcnicas utilizadas na fora area e aplic-las,aps adaptao, na indstria. Estas tcnicas, com alto grau de integrao com a Engenhariade Confiabilidade, demonstraram ser de grande valia na preservao dos recursos humanos emateriais dos sistemas de produo.Os estudos de Hammer vieram ajudar a compreender melhor os erros humanos. Muitos desses

    erros so provocados por projetos ou materiais deficientes e, por este mesmo motivo, devemser debitados organizao e no ao executante - o operrio.2.5. CONSIDERAES GERAISA partir dos estudos realizados, grande desenvolvimento ocorreu na rea de segurana.Passando de um enfoque puramente informativo para corretivo, preventivo e por ltimo umenfoque que, englobando todos os demais, procura integrar toda a organizao num esforoconjunto de dar proteo ao empregado, resguardando sua sade e sua vida e propiciando oprogresso da organizao como empresa.Como concluses e resultados dos enfoques abordados pode-se citar vrios pontos:a) Os enfoques tradicionais e os programas de segurana dirigidos apenas preveno deleses esto corretamente sendo substitudos por outros, onde todas as ocorrncias queinterfiram na produo e na plena utilizao dos recursos, alm da proteo ao meio ambiente

    so consideradas em conjunto, isto sem colocar a proteo pessoal em segundo plano. Muitopelo contrrio, ao abranger um nmero maior de situaes, maior ateno e proteo se d aohomem, objetivo primeiro de todo e qualquer programa;b) Os estudos de Bird e seus antecessores, que deram forma a sistemtica de Controle deDanos, fornecem mtodos para aferir, controlar e projetar as possveis perdas dos sistemasprodutivos, por isso no devem ser preteridas;c) Os preceitos formulados por Bird e a complementao dada por Fletcher e Douglaspermitiram a criao de uma doutrina administrativa, permitindo s empresas estabelecerprogramas gerais de segurana, que alm de considerar os danos pessoais, tambm considera

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    outros danos, como os danos propriedade e ainda os quase-acidentes. As tcnicas derecursos humanos, de motivao, treinamento, dinmica de grupo, que so conceitosconsagrados de administrao de empresas, juntamente com outras tcnicas sistemticas declculos, correlaes e projees de custos so utilizadas por estas doutrinas, aplicando-as spossveis perdas advindas de acidentes com danos pessoais e materiais. Alm destastcnicas, outras j aplicadas na segurana tradicional foram adaptadas, ampliando seu enfoque

    para programas mais participativos e responsveis do ponto de vista das gerncias, em todosos nveis e mais abrangentes quanto s reas envolvidas;d) Tornou-se necessrio uma viso mais tcnica para complementar os estudos de Bird eFletcher, pois os problemas relacionados com o processo produtivo, a manuteno e o projetotinham, at ento, solues especficas muito no plano filosfico. Conforme preconizado porHammer, a viso tcnica aliada doutrina administrativa permite o conhecimento dos riscos deuma atividade atravs de custos mais baixos. Embora possa-se pensar que estes programasesqueam o homem e fixam-se nos resultados econmico-financeiros, a experincia temmostrado que estes programas so eficazes tanto para reduo de perdas materiais quanto depessoais. Quando corretamente aplicados, estes programas podero melhorar a segurana deforma direta, como tambm na aplicao dos recursos financeiros advindos da reduo dasperdas dos acidentes;

    e) O trabalhador, ao participar de um programa mais amplo poder conhecer melhor os riscos aque est exposto e quais as medidas eficazes para sua reduo ou eliminao, pois atravs deeducao e treinamento ele ser mais preciso nas suas atividades, j que possuir um maiorconhecimento da tecnologia que opera reduzindo, por sua iniciativa ou exigindo de terceiros, osefeitos da mesma sobre si.

    CAPTULO IIIA ENGENHARIA DE SEGURANA DO TRABALHO E O PREVENCIONISMO

    "... O prevencionismo em seu mais amplo sentido evoluiu de uma maneira crescente, englobandoum nmero cada vez maior de fatores e atividades, desde as precoces aes de reparao de

    danos (leses) at uma conceituao bastante ampla, onde se buscou a preveno de todas assituaes geradoras de efeitos indesejados ao trabalho."Francesco M.G.A.F. De Cicco e Mrio Luiz Fantazzini ( 1979)3.1. INTRODUO3.2. A EVOLUO DO PREVENCIONISMO3.3. DEFINIES BSICAS3.3.1. A TEORIA DOS PORTADORES DE PERIGOS3.4. CONTROLE DE DANOS3.5. CONTROLE TOTAL DE PERDAS3.6. ENGENHARIA DE SEGURANA DE SISTEMAS

    3.1. INTRODUONa dcada de 60 os trabalhos de diversos autores de renome mundial apontavam para aineficcia e pobreza dos enfoques dos programas de engenharia de segurana tradicional.Dado o seu enfoque limitado e calcado basicamente sobre algumas estatsticas que norefletiam a gravidade real do problema, o que ocorria era uma estagnao de resultados, nohavendo suficiente engajamento por parte de empregados e empregadores.Os estudiosos do problema analisaram aspectos concernentes engenharia de segurana elanaram as "doutrinas preventivas de segurana".

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    Estas doutrinas formam hoje o que chamamos de "Preveno e Controle de Perdas",concebidas como um conjunto de diretrizes administrativas, onde os acidentes so vistos comofatos indesejveis, cujas causas podem ser evitadas.As doutrinas possuem vises diferenciadas sobre os acidentes, suas causas e conseqncias,como tambm sobre as medidas preventivas a adotar. Porm, embora diferentes, elas tmcomo ponto em comum o princpio de que a atividade de segurana s eficaz quando,

    conhecidas as causas dos acidentes fixa-se a atuao sobre as mesmas, buscando a suaeliminao e necessitando para isso, o envolvimento de toda a estrutura organizacional.Nesta abordagem considera-se que existem perdas empresariais como: produtos fora deespecificao, agresso ao meio-ambiente, perdas com materiais, desperdcios e paradas deproduo, que so provocadas por causas semelhantes s perdas provocadas por acidentescom leses pessoais.Dentro da metodologia de Preveno e Controle de Perdas, a teoria de Controle de Danos deBird ampliada pelo Controle Total de Perdas de Fletcher e, aliados aos conceitos tradicionaisde segurana, enfatizam a ao administrativa na tarefa de preveno e controle das perdas.J a Engenhaira de Segurana de Sistemas ampliando tal postura, defende que problemastcnicos prescindem de solues tcnicas.Modernamente, a divulgao e aplicao das metodologias de Anlise de Segurana de

    Sistemas com o auxlio da Teoria da Confiabilidade, vem consolidando o conceito de que aPreveno e Controle de Perdas uma diretriz de posturas administrativas, com o objetivoprincipal de conhecer os riscos de uma atividade e promover medidas tanto administrativasquanto tcnicas para seu controle e preveno.3.2. A EVOLUO DO PREVENCIONISMOO incio da Revoluo Industrial em 1780, a inveno da mquina a vapor por James Watts em1776 e do regulador automtico de velocidade em 1785, marcaram profundas alteraestecnolgicas em todo o mundo.Foi este avano tecnolgico que permitiu a organizao das primeiras fbricas modernas, aextino das fbricas artesanais e o fim da escravatura, significando uma revoluo econmica,social e moral.Porm, foi com o surgimento das primeiras indstrias que os acidentes de trabalho e as

    doenas profissionais se alastraram, tomando propores alarmantes. Os acidentes detrabalho e as doenas eram, em grande parte, provocados por substncias e ambientesinadequados, dadas as condies subumanas em que as atividades fabris se desenvolviam, egrande era o nmero de doentes e mutilados.Apesar de apresentar algumas melhoras com o surgimento dos trabalhadores especializados emais treinados para manusear equipamentos complexos, que necessitavam cuidados especiaispara garantir maior proteo e melhor qualidade, esta situao ainda perdurou at a PrimeiraGuerra Mundial. At esta data apenas algumas tentativas isoladas para controlar os acidentese doenas ocupacionais haviam sido feitos. A partir de sua real constatao surgem asprimeiras tentativas cientficas de proteo ao trabalhador, com esforos voltados ao estudodas doenas, das condies ambientais, do lay-out de mquinas, equipamentos e instalaes,bem como das protees necessrias para evitar a ocorrncia de acidentes e incapacidades.

    Durante a Segunda Grande Guerra, o movimento prevencionista realmente toma forma, pois foiquando pde-se perceber que a capacidade industrial dos pases em luta seria o ponto crucialpara determinar o vencedor, capacidade esta, mais facilmente adquirida com um maior nmerode trabalhadores em produo ativa.A partir da, a Higiene e Segurana do Trabalho transformou-se, definitivamente, numa funoimportante nos processos produtivos e enquanto nos pases desenvolvidos este conceito j popularizado, os pases em desenvolvimento lutam para implant-lo.Nos pases da Amrica Latina, a exemplo da Revoluo Industrial, a preocupao com osacidentes do trabalho e doenas ocupacionais tambm ocorreu mais tardiamente, sendo que

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    no Brasil os primeiros passos surgem no incio da dcada de 30 sem grandes resultados, tendosido inclusive apontado na dcada de 70 como o campeo em acidentes do trabalho. Apesardisto, pode-se dizer que atualmente ns, latino-americanos, evolumos muito neste campo.A problemtica econmica, scio-econmica, humana, psicolgica tem tal magnitude que pode-se afirmar que um pas em vias de desenvolvimento s sair deste estgio com sucesso, se osacidentes e doenas do trabalho estiverem sob controle.

    Sob o aspecto humano, a preservao da integridade fsica um direito de todo o trabalhador,pois a incapacidade permanente para o trabalho poder transform-lo num invlido, com aconseqente perda para a Nao.Segundo HEMRITAS (1981), a Segurana do Trabalho, para ser entendida como prevenode acidentes na indstria, deve preocupar-se com a preservao da integridade fsica dotrabalhador e tambm precisa ser considerada como fator de produo. Os acidentes,provocando ou no leso no trabalhador, influenciam negativamente na produo atravs daperda de tempo e de outras conseqncias que provocam, como: eventuais perdas materiais;diminuio da eficincia do trabalhador acidentado ao retornar ao trabalho e de seuscompanheiros, devido ao impacto provocado pelo acidente; aumento da renovao de mo-de-obra; elevao dos prmios de seguro de acidente; moral dos trabalhadores afetada; qualidadedos produtos sacrificada.

    De acordo com SOTO (1978), as cifras correspondentes aos acidentes do trabalhorepresentam um entrave ao plano de desenvolvimento scio-econmico de qualquer pas,cifras estas que se avolumam sob a forma de gastos com assistncia mdica e reabilitao dostrabalhadores incapacitados, indenizaes e penses pagas aos acidentados ou suas famlias,prejuzos financeiros decorrentes de paradas na produo, danos materiais aos equipamentos,perdas de materiais, atrasos na entrega de produtos e outros imprevistos que prejudicam oandamento normal do processo produtivo.Desta forma, de algumas dcadas passadas at nossos dias, estudiosos dedicaram-se aoestudo de novas e melhores formas de se preservar a integridade fsica do homem e do meioem que atua, atravs do controle e, o que mais importante, da preveno dos riscospotenciais de acidentes.Assim, em diversos pases surgiram e evoluram aes voltadas, inicialmente, preveno de

    danos causados s pessoas advindos de atividades laborais. Foram elaboradas normas edisposies legais com o fim social de reparao de danos s leses pessoais. Surge o segurosocial, realizando, at hoje, aes assegurando o risco de acidentes, ou seja, o risco de leses.Entretanto, a medida que a preocupao quanto a reparao das leses se avolumava,estudiosos como H.W. Heinrich e Roland P. Blake apontavam com outro enfoque, onde almde assegurar o risco de leses, indicavam a importncia de aes que tendessem a prevenir osacidentes antes dos mesmos se tornarem fato concreto.Juntamente ao seguro social, comearam ento a desenvolverem-se estudos e criaram-setcnicas que propiciaram a evoluo do prevencionismo.Um dos primeiros e significativos avanos no controle e preveno de acidentes foi a teoria deControle de Danos concretizada nos estudos de Bird e complementada pela teoria de ControleTotal de Perdas de Fletcher. Com a Engenharia de Segurana de Sistemas introduzida por

    Hammer, surgem as tcnicas de anlise de riscos com o que hoje se tem de melhor empreveno. A viso do acidente sobe a um patamar onde o homem o ponto central, rodeadode todos os outros componentes que compe um sistema: equipamentos, materiais,instalaes e hoje, numa viso mais moderna de qualidade, o meio ambiente e a preservao natureza. Cabe ressaltar que ao buscar-se o objetivo abrangente da preveno e controle deperdas, quer pelo Controle de Danos, Controle Total de Perdas ou Engenharia de Seguranade Sistemas, se est buscando mais intensamente a proteo do homem.Antes de iniciarmos ao estudo das teorias de controle e preveno de perdas e das tcnicaspor elas utilizadas, e facilitar seu entendimento, necessrio introduzir algumas definies

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    bsicas dos termos fundamentais em gerenciamento de riscos como: ato inseguro, condioinsegura, perigo, risco, acidente, etc., que veremos a seguir.3.3. DEFINIES BSICAS"Acidentes ocorrem desde os tempos imemoriais, e as pessoas tm se preocupado igualmentecom sua preveno h tanto tempo. Lamentavelmente, apesar do assunto ser discutido comfrequncia, a terminologia relacionada ainda carece de clareza e preciso. Do ponto de vista

    tcnico, isto particularmente frustrante, pois gera desvios e vcios de comunicao ecompreenso, que podem aumentar as dificuldades para a resoluo de problemas. Qualquerdiscusso sobre riscos deve ser precedida de uma explicao da terminologia, seu sentidopreciso e inter-relacionamento."De acordo com a assertiva de Hammer apud DE CICCO e FANTAZZINI (1994), importanteque antes de prosseguir o estudo quanto evoluo do prevencionismo e gerenciamento deriscos em geral, sejam definidos alguns termos bsicos.Incidente Crtico (ou quase-acidente): qualquer evento ou fato negativo com potencialidadepara provocar dano. Tambm chamados quase-acidentes, caracterizam uma situao em queno h danos macroscpicos ou visveis. Dentro dos incidentes crticos, estabelece-se umahierarquizao na qual basear-se-o as aes prioritrias de controle. Na escala hierrquica,recebero prioridade aqueles incidentes crticos que, por sua ocorrncia, possam afetar a

    integridade fsica dos recursos humanos do sistema de produo.Risco: - Como sinnimo de Hazard: Uma ou mais condies de uma varivel com potencialnecessrio para causar danos como: leses pessoais, danos a equipamentos e instalaes,danos ao meio-ambiente, perda de material em processo ou reduo da capacidade deproduo. A existncia do risco implica na possibilidade de existncia de efeitos adversos. -Como sinnimo de Risk: Expressa uma probabilidade de possveis danos dentro de um perodoespecfico de tempo ou nmero de ciclos operacionais, podendo ser indicado pelaprobabilidade de um acidente multiplicada pelo dano em valores monetrios, vidas ou unidadesoperacionais. Risco pode ainda significar: - incerteza quanto ocorrncia de um determinadoevento (acidente); - chance de perda que uma empresa pode sofrer por causa de um acidenteou srie de acidentes.Perigo: Como sinnimo de Danger, expressa uma exposio relativa a um risco que favorece a

    sua materializao em danos. Se existe um risco, face s precaues tomadas, o nvel deperigo pode ser baixo ou alto, e ainda, para riscos iguais pode-se ter diferentes tipos de perigo.Dano: a gravidade da perda, seja ela humana, material, ambiental ou financeira, que podeocorrer caso no se tenha controle sobre um risco. O risco (possibilidade) e o perigo(exposio) podem manter-se inalterados e mesmo assim existir diferena na gravidade dodano.Causa: a origem de carter humano ou material relacionada com o evento catastrfico(acidente ou falta) resultante da materializao de um risco, provocando danos.Perda: o prejuzo sofrido por uma organizao sem garantia de ressarcimento atravs deseguros ou por outros meios.Sinistro: o prejuzo sofrido por uma organizao, com garantia de ressarcimento atravs deseguros ou por outros meios.

    Segurana: a situao em que haja iseno de riscos. Como a eliminao completa de todosos riscos praticamente impossvel, a segurana passa a ser um compromisso acerca de umarelativa proteo da exposio a riscos. o antnimo de perigo.Ato inseguro: So comportamentos emitidos pelo trabalhador que podem lev-lo a sofrer umacidente. Os atos inseguros so praticados por trabalhadores que desrespeitam regras desegurana, que no as conhecem devidamente, ou ainda, que tm um comportamentocontrrio preveno.Condio Insegura: So deficincias, defeitos ou irregularidades tcnicas na empresa queconstituem riscos para a integridade fsica do trabalhador, para sua sade e para os bens

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    materiais da empresa. As condies inseguras so deficincias como: defeitos de instalaesou de equipamentos, falta de proteo em mquinas, m iluminao, excesso de calor ou frio,umidade, gases, vapores e poeiras nocivos e muitas outras condies isatisfatrias do prprioambiente de trabalho.Acidente: uma ocorrncia, uma perturbao no sistema de trabalho, que ocasionando danospessoais ou materiais, impede o alcance do objetivo do trabalho.

    3.3.1. A TEORIA DOS PORTADORES DE PERIGOSTendo como ponto de partida a sistematizao do evento chamado acidente, Skibadesenvolveu a teoria dos portadores de perigos, apresentada em SELL (1991).Sob um enfoque mais filosfico dos termos fundamentais definidos em 3.3., Skiba consideraque o perigo uma energia danificadora que quando ativada pode provocar danos corporaise/ou materiais. Esta energia danificadora pode estar associada tanto uma pessoa como a umobjeto, considerados aqui os fatores do sistema de trabalho.A pessoa e o objeto podem ser portadores de perigos em determinadas circunstncias. Se aenergia danificadora associada a eles for repetidamente ativada, ocorre uma coliso entre apessoa e o objeto. A perturbao no sistema de trabalho ocasionada pela coliso repentina einvoluntria entre os fatores do sistema - pessoa e objeto, caracteriza o acidente, que impede oalcance do objetivo de trabalho.

    A figura 3.1. mostra, segundo Skiba apud SELL (1991), a distino entre perigo e risco. Aoredor dos portadores de perigo pode-se representar a rea perigosa. O risco gerado pelainterseco dessas duas reas, de pessoa e objeto. No havendo interseco entre as reasperigosas de pessoa e objeto, no haver risco para a pessoa.

    DISTINO ENTRE PERIGO E RISCO

    Kirchner baseando-se na teoria de Skiba, desenvolveu um modelo representando a gnese doacidente de trabalho, apresentado na figura 3.2. e transcrito de SELL (1991).

    GNESE DE ACIDENTE DO TRABALHO

    O modelo evidencia as relaes entre os fatores determinantes da ocorrncia de acidentes detrabalho e deduz medidas eficazes para a preveno destes acidentes. A cada portador deperigo - pessoa, objeto ou ambos, est associada uma energia danificadora, resultante da foraentre energia atuante e a resistncia especfica do corpo da pessoa a essa energia atuante.Quando a diferena positiva, a energia danificadora causa danos corporais, se for nula ounegativa, ela no tem efeito malfico sobre a pessoa.Quando houver possibilidade de interao direta entre objeto portador de perigos e pessoapericlitante, existe uma condio de risco. Nos perigos indiretos, h praticamente sempre umacondio de riscos presente, quando a pessoa periclitante ela mesma a portadora dosperigos. Por sua conduta a pessoa periclitante ou qualquer outra pessoa no diretamenteligada ao sistema de trabalho pode ou no realizar as condies de risco, assim sendo, apessoa exerce influncia decisiva sobre a gerao de riscos e ocorrncia de acidentes.

    Um acidente ocorre quando houver a realizao das condies de risco em conjunto com umaou mais pr-condies crticas na atividade, o acaso, que favorecem a ocorrncia do evento.As pr-condies crticas na atividade so influenciadas pelos modos de conduta das pessoase pela atividade em si, e delas depende se o evento ser um acidente ou quase-acidente.Ento, a atividade que uma pessoa executa num sistema de trabalho, influenciada pelascondies inerentes a essa atividade, que juntamente com fatores pessoais e familiaresdeterminam os modos de conduta de uma pessoa no sistema de trabalho. assim que, com aeliminao de perigos associados ou inerentes atividade, pode-se influenciar positivamente aconduta das pessoas no trabalho.

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    3.4. CONTROLE DE DANOSEsta teoria nasceu dos estudos de Frank Bird Jr. e est baseada na anlise de cerca de 90.000acidentes ocorridos, em um perodo de mais de sete anos, na Luckens Steel, empresametalrgica na qual ele prprio trabalhava.Para BIRD (1978), "os mesmos princpios efetivos de administrao podem ser usados paraeliminar ou controlar muitos, seno todos, os incidentes comprometedores que afetam a

    produo e qualidade". Segundo ele, prevenindo e controlando os incidentes atravs docontrole de perdas, todos: pessoas, equipamentos, material e ambiente, estaremos protegidoscom segurana. importante observar que nasce aqui um novo conceito: os acidentes com danos propriedade. Anteriormente aos estudos de Bird, acidentes eram somente aquelesacontecimentos que resultassem em leso pessoal. A partir dos estudos de Bird, alm dasleses pessoais tambm comearam a ser considerados como acidentes, quaisqueracontecimentos que gerassem danos propriedade, ou seja, aqueles acontecimentos queprovocassem perdas para a empresa, mesmo que substanciais, em termos de materiais eequipamentos.Para Bird apud DE CICCO e FANTAZZINI (1986), um programa de Controle de Danos aqueleque requer identificao, registro e investigao de todos os acidentes com danos

    propriedade e determinao de seu custo para a empresa, sendo que todas estas medidasdevero ser seguidas de aes preventivas.Desta forma, um dos primeiros passos para a implantao de um programa de Controle deDanos a reviso das regras convencionais de segurana. Portanto, uma regra nos padresconvencionais como: "quando ocorrer com voc ou com o equipamento que voc operaqualquer acidente que resulte em leso pessoal, mesmo de pequena importncia, voc devecomunicar o fato, imediatamente, a seu supervisor", para se enquadrar dentro da metodologiade Controle de Danos deve ser alterada para: "quando ocorrer com voc ou com oequipamento que voc opera qualquer acidente que resulte em leso pessoal ou dano propriedade, mesmo de pequena importncia, voc deve comunicar o fato, imediatamente, aseu supervisor".Para este exemplo, observa-se que a regra original foi mantida, havendo apenas uma

    complementao, tornando-a mais abrangente. De qualquer forma, importante que ao sealterar qualquer regra, total ou parcialmente, esta modificao deve ser claramente conhecidapor todas as pessoas envolvidas, desde a alta direo da empresa at todos os trabalhadoresdos escales inferiores. Este um ponto fundamental para o sucesso de um programa deControle de Danos, caso contrrio, a mudana de enfoque no passar do papel.Tambm importante a conscincia de que um processo de mudana requer um perodoplanejado, de educao e comunicao, at que os motivos, objetivos e importncia de talmudana sejam assimilados por todos.Conforme DE CICCO e FANTAZZINI (1986), o programa de Controle de Danos, para serintroduzido na empresa, requer trs passos bsicos:a) verificaes iniciais; b) informaes dos centros de controle e; c) exame analtico.a) Verificaes iniciais

    Nesta etapa, procura-se tomar contato com o que j existe na empresa em termos de controlede danos, como funciona, os resultados alcanados, etc.. Mais precisamente, significaestabelecer contato e conhecer o departamento de manuteno.De acordo com DE CICCO e FANTAZZINI (1986), deve-se discutir o programa de Controle deDanos com o chefe deste departamento pois, segundo ele, os responsveis pelo servio demanuteno cooperam mais espontaneamente quando imbudos de um sentimento departicipao no planejamento do programa. aps as verificaes iniciais que se observa a existncia de problemas reais, tanto do pontode vista humano como econmico, e que, desta forma justificam a execuo do programa.

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    b) Informaes dos centros de controle nesta etapa que ocorre um controle concreto dos danos pela manuteno, considerada ocentro de controle. aqui que registram-se os danos propriedade, devendo o sistemadesenvolvido para tal, faz-lo da forma o mais objetiva e simples possvel. Sabe-se tambmque as empresas diferem entre si, portanto, o sistema de registro de informaes deve seraquele que melhor se adapte aos procedimentos j existentes da empresa.

    Pode-se citar como exemplo de sistema de registro de informaes, o sistema de etiquetas e osistema de ordens de servio.No sistema de etiquetas, como o prprio nome j diz, etiquetas so colocadas em todos osequipamentos ou instalaes que necessitem reposio de componentes ou de reparos,provenientes de acidentes.J o sistema de ordem de servio determina que, quando for necessrio o reparo dedeterminado equipamento e este seja devido a acidente, a pessoa que requisitar o servio deveindicar na folha do pedido que o mesmo devido a acidente, e desta forma fica registrada aocorrncia do acidente. Todas as folhas de registro dos tempos de execuo dos reparos e asde requisies de material relacionadas com este tipo de ordem de servio deve serdevidamente identificada a ela, para possibilitar ao departamento de contabilidade a tabulaoe registro peridico do tempo total de execuo dos reparos e dos custos com material

    empregado relativos queles equipamentos ou instalaes danificados face acidentes.Outros tipos de sistemas de informaes podem ser adotados pelos centros de controle, desdeque se adaptem rotina da empresa e atendam aos objetivos a que se prope.c) Exame analticoA implantao de um sistema, seja ele na rea de segurana ou em qualquer outra rea,necessita de um certo tempo de adaptao e aprendizado para chegar maturao e a nveisconsiderveis de eficincia.Num primeiro momento de um programa de Controle de Danos, importante que seja feitauma reviso nos sistemas de registro para certificar-se de que a identificao dos trabalhosprovenientes de acidentes esteja sendo realizada de forma correta. interessante tambm, que dentro de cada empresa seja questionado quais os acidentes quedevem ser investigados: se todos, ou somente os que acarretem maior custo.

    De acordo com Bird apud DE CICCO e FANTAZZINI (1986), nos primeiros estgios doprograma de Controle de Danos, os acidentes a serem investigados deveriam ser somenteaqueles de maior monta, e medida que o mesmo fosse se desenvolvendo, progredisseembarcando tambm os menores.Sob o ponto de vista econmico, j verificou-se a necessidade de se investigar todo e qualqueracidente com dano propriedade, seja ele grande ou pequeno, pois conforme estudos jrealizados, inclusive na mesma Lukens Steel, demonstraram que os custos resultantes doconjunto de pequenos acidentes tinham uma cifra considervel. Os pequenos acidentes,mesmo com seu custo unitrio bem menor, pela grande quantidade em que ocorrem resultamem uma quantia nada desprezvel.Se considerarmos o ponto de vista humano, que deve ser sempre a maior preocupao, aocontrolarmos os acidentes com danos propriedade estaremos poupando o homem, j que

    grande parte das leses pessoais tem seu foco nas mesmas causas daqueles acidentes comdanos propriedade. Ainda, considerando a afirmao de BIRD (1978) "todos os acidentes soincidentes, mas nem todos os incidentes so acidentes", percebe-se claramente que aidentificao e preveno anterior ao fato (acidente) um grande passo para a diminuio deacidentes (perdas) reais.3.5. CONTROLE TOTAL DE PERDASEsta teoria foi proposta em 1970, pelo canadense John A. Fletcher.Fletcher partiu do pressuposto de que os acidentes que resultam em danos s instalaes, aosequipamentos e aos materiais tm as mesmas causas bsicas do que os que resultam em

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    leses, sendo que o objetivo do Controle Total de Perdas o de reduzir ou eliminar todos osacidentes que possam interferir ou paralisar o sistema.Enquanto a segurana e medicina do trabalho tradicional se ocupava da preveno de lesespessoais, e o Controle de Danos de Bird dizia respeito aos acidentes que resultem em lesopessoal ou dano propriedade, o Controle Total de Perdas envolve os dois conceitosanteriores no que se refere aos acidentes com leses pessoais e danos propriedade

    englobando ainda: perdas provocadas por acidentes em relao exploses, incndios, roubo,sabotagem, vandalismo, poluio ambiental, doena, defeito do produto, etc.Ento, em termos gerais, pode-se dizer que o Controle Total de Perdas envolve: -preveno deleses (acidentes que tem como resultado leses pessoais); - controle total de acidentes(danos propriedade, equipamentos e materiais); - preveno de incndios (controle de toodasas perdas por incndios); - segurana industrial (proteo dos bens da companhia); - higiene esade industrial; - controle da contaminao do ar, gua e solo; - responsabilidade peloproduto.Para FERNNDEZ (1972), o conceito de Controle Total de Perdas desenvolveu-se e evoluiu,no pensamento dos profissionais de segurana durante muitos anos, com o fim de inverter atendncia ascendente do ndice de leses. Segundo ele, para implantar-se um programa deControle Total de Perdas deve-se ir desde a preveno de leses ao controle total de

    acidentes, para ento chegar-se ao Controle Total de Perdas. De acordo com o mesmo autor, aimplantao de um programa de Controle Total de Perdas requer trs passos bsicos:determinar o que se est fazendo; avaliar como se est fazendo e; elaborar planos de ao queindiquem o que tem de ser feito.Desta forma, segundo Fletcher apud DE CICCO e FANTAZZINI (1986), um programa deControle Total de Perdas deve ser idealizado de modo que venha a eliminar todas as fontes deinterrupo de um processo de produo, quer resultando em leso, dano propriedade,incndio, exploso, roubo, vandalismo, sabotagem, poluio da gua, do ar e do solo, doenaocupacional ou defeito do produto, e segundo ele os trs passos bsicos para a implantao deum programa de Controle Total de Perdas so: a) estabelecer o perfil dos programas depreveno existentes na empresa; b) determinar prioridades e; c) elaborar planos de ao paracontrole das perdas reais e potenciais do sistema.

    a) Perfil dos programas de preveno existentesAntes da implantao de qualquer novo mtodo ou programa, um primeiro passo buscarconhecer o que est sendo feito na empresa neste sentido e de que maneira. necessriopesquisar quais so as reais necessidades da empresa. Se j existe algum programa emandamento, analisar se o mesmo est sendo realizado de forma correta e eficaz. Isto possvel atravs do estabelecimento dos perfis dos programas de preveno existentes.Para que um perfil possa fornecer de forma adequada estas informaes, segundo DE CICCOe FANTAZZINI (1986), o mesmo deve ser dividido em sees que contenham os vrios itensou pontos que possam ser abrangidos pelo programa de preveno. Para estes itens,formulam-se questes, que quando respondidas iro permitir determinar o grau de execuo oude implantao em que se encontra o programa sob anlise. Para isto necessrio adotar umaescala de avaliao, que permite determinar at que grau o item foi implantado e quo efetivo

    ele . A escala sugerida por Fletcher apresentada no quadro 3.1.

    ESCALA SUGERIDA POR FLETCHER PARA AVALIAO DO PROGRAMA DESEGURANA

    Estabelecida a escala pode-se, para cada seo analisada, determinar a pontuao obtida, querepresenta a situao atual da empresa em termos de desempenho nesta seo.b) Determinao das Prioridades

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    Consiste em determinar as prioridades que devem ser adotadas pelo programa geral deControle Total de Perdas.De posse do perfil do programa estabelecido na fase anterior, pode-se confrontar a situaoatual obtida pela pontuao atravs da escala estabelecida e a situao ideal para cada seo,caso o programa estivesse completo, isto , a situao em que todos os itens estivessemsendo executados o melhor possvel, com pontuao mxima.

    O resultado do confronto destas duas situaes (situao ideal - situao atual), nos fornece adeficincia do programa que est sendo executado que, uma vez determinadas, nos permite apriorizao das sees que necessitam de maiores esforos.c) Elaborao dos planos de aoEstabelecidas as sees prioritrias necessrio elaborar para cada uma delas o respectivoplano de ao, que ter o objetivo principal de prevenir e controlar as perdas reais e potenciaisoriundas de acidentes.No plano de ao devem ficar claros: o objetivo geral ao que o mesmo se destina, os objetivosespecficos a curto, mdio e longo prazo, os recursos humanos e materiais necessrios parasua implantao e execuo, o custo estimado de implantao do plano, estimativas dasperdas atuais e potenciais futuras, a data em que o plano est iniciando e a data prevista paratrmino do mesmo.

    3.6. ENGENHARIA DE SEGURANA DE SISTEMASO prevencionismo, desde as precoces aes de preveno de danos, evoluiu englobando umnmero cada vez maior de atividades e fatores, buscando a preveno de todas as situaesgeradoras de efeitos indesejados ao trabalho.Embora as abordagens modernas assemelham-se em seus objetivos de controle e prevenode danos, elas diferem em aspectos bsicos.Enquanto uma corrente, como o caso do Controle de Danos e do Controle Total de Perdas,baseados em aspectos administrativos da preveno e aliados s tcnicas tradicionais e outrasmais recentes, enfatizam a ao administrativa de controle, a outra corrente procura dar umenfoque mais tcnico da infortunstica, buscando para problemas tcnicos, solues tcnicas.Esta ltima corrente o que foi denominado de Engenharia de Segurana de Sistemas, sendouma metodologia para o reconhecimento, avaliao e controle dos riscos ocupacionais, com

    ferramentas fornecidas pelos diversos ramos da engenharia e oferecendo novas tcnicas eaes para preservao dos recursos humanos e materiais dos sistemas de produo.Ao se analisar mais a fundo as abordagens de Controle de Danos e Controle Total de Perdasde Bird e Fletcher respectivamente, chega-se a concluso que os mesmos esto baseadosunicamente em prticas administrativas, carecendo de estudos e solues tcnicas, como o exigido pelos problemas inerentes Preveno de Perdas na Segurana do Trabalho.A mentalidade de dar um enfoque tcnico Engenharia de Segurana fundamentou-se em1972 pelos trabalhos de um espe