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Grupo de Pesquisa da Comunicao e Sociedade do Espetculo II
Seminrio Comunicao e Cultura na Sociedade do Espetculo
Faculdade Csper Lbero 18 e 19 de outubro de 2013
O teatro contra o espetculo? (parte 2)1
Uma anlise do espetculo Bom Retiro 958 metros realizado pelo
Teatro da Vertigem
Antonio Luiz Gonalves Junior2
Resumo A partir das anlises efetuadas por Guy Debord e Helga
Finter, este estudo visa refletir sobre a
possibilidade da arte em resistir aos processos hegemnicos
operados pela cultura do espetculo,
especialmente no que diz respeito ao excesso das imagens que
circulam, responsveis, em sua medida,
pelo enfraquecimento da capacidade de simbolizao. Para isso,
sero examinados alguns aspectos da
execuo do espetculo Bom Retiro 958 metros, realizado pelo Teatro
da Vertigem, no bairro do Bom
Retiro, em So Paulo, entre 2012 e 2013.
Palavras-chave: cultura e sociedade do espetculo; teatro;
dramaturgismo; processos de criao;
experincia esttica; teatralidade crtica; espao urbano.
1 Esta "parte 2" indica a continuao de uma anlise anterior com o
mesmo ttulo que teve como objeto de estudo a interveno artstica
Cidade Submersa, realizada pelo Teatro da Vertigem, em 24 de
junho de 2011, no terreno baldio onde existiu a antiga estao
rodoviria da cidade de So Paulo, no
bairro da Luz. A interveno visou dar visibilidade aos aspectos
escondidos e submersos da cidade por meio da criao de um ambiente
arqueolgico e, assim, propiciar uma experincia sensorial, ldica
e
afetiva aos participantes que pudesse estimular possveis
reflexes acerca da complexidade e dinmica
dos processos urbanos e da vida na metrpole.
2 Mestre em Comunicao e Mercado e pesquisador do Grupo de
Pesquisa da Comunicao e
Cultura na Sociedade do Espetculo da Faculdade Csper Lbero. No
campo das artes ator, diretor e
dramaturgista (Antonio Duran), ps-graduado em Fundamentos da
Cultura e das Artes pela UNESP (IA-
SP).
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Da perspectiva do dramaturgismo (dramaturg), funo inscrita no
processo de criao
da obra teatral que tem, entre suas tarefas, encarregar-se da
pesquisa conceitual e
"alimentar" as demais reas criativas, assim como exercitar o
olhar crtico sobre o
prprio processo de criao, este estudo visa refletir sobre a
possibilidade de resistncia
da arte aos processos hegemnicos operados pela cultura do
espetculo. Especialmente
no que diz respeito proliferao e ao excesso das imagens que
circulam, responsveis
pelo enfraquecimento da capacidade de simbolizao, entendida como
uma ao
reflexiva dentro da experincia capaz de ressignific-la.
As anlises e prognsticos realizados por Guy Debord sobre a lgica
de operao da
sociedade de sua poca continuam sendo uma ferramenta eficaz, que
ajuda a distinguir
certas peculiaridades de funcionamento da cultura do espetculo
na contemporaneidade,
particularmente o que Debord denominou de "Espetacular
Integrado", posteriormente
aos modelos de "Espetacular Concentrado" e "Espetacular
Difuso".
O espetacular integrado se manifesta como concentrado e difuso
e, desde essa proveitosa unificao, conseguiu usar mais amplamente
os
dois aspectos. O anterior modo de aplicao destes mudou bastante.
No
lado concentrado, por exemplo, o centro diretor tornou-se
oculto; j no se coloca a um chefe conhecido, nem uma ideologia
clara. No lado
difuso, a influncia espetacular jamais marcara tanto quase todos
os
comportamentos e objetos produzidos socialmente. Porque o
sentido final do espetacular integrado o fato de ele ter se
integrado na prpria
realidade medida que falava dela e de t-la reconstrudo ao falar
sobre
ela. Agora essa realidade no aparece diante dele como coisa
estranha.
Quando o espetacular era concentrado, a maior parte da sociedade
perifrica lhe escapava; quando era difuso, uma pequena parte;
hoje,
nada lhe escapa. O espetculo confundiu-se com toda a realidade
ao
irradi-la. Como era teoricamente previsvel, a experincia prtica
da realizao sem obstculos dos desgnios da razo mercantil logo
mostrou que, sem exceo, o devir-mundo da falsificao era tambm
o
devirfalsificao do mundo. (Debord, 1997:173)
Para Debord no possvel distinguir entre o que a realidade
espetacular e a atividade
social efetiva, uma vez que "a realidade vivida materialmente
invadida
pelacontemplao do espetculo e retoma em si a ordem espetacular
qual adere de
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forma positiva." (...) "a realidade surge no espetculo, e o
espetculo real. Essa
alienao recproca a essncia e a base da sociedade existente"
(Dedord, 1997:15).
Esta impossibilidade de discernimento dificulta o acesso s
camadas mais prximas do
acontecimento real, e por sua vez do seu significado, visto que
a proliferao das
imagens e, geralmente, a explicao que vem junto com elas
banalizam e naturalizam
seu sentido, podendo provocar certa apatia da sensibilidade. O
que poderia ser dito, de
outro modo, nas palavras de Debord: " medida que a necessidade
se encontra
socialmente sonhada, o sonho se torna necessrio. O espetculo o
sonho mau da
sociedade moderna aprisionada, que s expressa afinal o seu
desejo de dormir. O
espetculo o guarda desse sono". (Debord, 1997:19). Para Guy
Debord, vive-se uma
vida adormecida, uma pseudo-vida que aceita reconhecer-se nas
imagens dominantes, e
quanto mais isso se d, menos compreende sua prpria existncia e
seu prprio desejo.
(Conf. Debord, 1997:24)
Desse ponto de vista sobre a sociedade contempornea, em seu
domnio espetacular
integrado, que este estudo pretende mapear e refletir, a partir
de trs dimenses da
execuo do espetculo Bom Retiro 958 metros, realizado pelo Teatro
da Vertigem no
bairro do Bom Retiro, em So Paulo, como o domnio das artes, em
particular o teatro,
o espao da fico e representao, pode se relacionar com o espao da
realidade
espetacular. Essas trs dimenses referem-se, primeiramente, a
fase anterior estreia do
espetculo, ao seu processo de criao, em especial o momento dos
exerccios de
experimentao, ensaios, improvisaes e workshops3 no bairro, que
na sua fase mais
intensa teve uma durao aproximada de 13 meses. Numa segunda
dimenso, a partir da
estreia do trabalho, o momento da experincia do espectador
quando a cena acontece.
Por fim, em sua dimenso aps o trmino da temporada de
aproximadamente 10 (dez)
meses, depois que o grupo de teatro partiu do bairro, o que
totalizou cerca de 02 (dois)
anos entre o incio dos ensaios mais intensos e o final da
temporada.
3 Workshops so cenas mais completas ou mais acabadas do que as
improvisaes dos atores
como uma resposta a temas ou perguntas propostas durante os
ensaios. Estas experimentaes dos
atores/performers se estendem a todas as reas de criao.
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Incises na realidade espetacular?
A hiptese mais geral que nessas trs dimenses ocorreram operaes
que efetuaram
incises na realidade espetacular. Primeiramente, durante o
processo de criao,
especialmente em sua etapa de pesquisa de campo e pesquisa
prtica, tentou-se
estabelecer contato com situaes que pudessem revelar e
aprofundar algum tipo de
leitura da complexidade do bairro. Nesse sentido, a investigao
levou o grupo a acessar
certa realidade objetiva ligada s condies materiais de produo da
vida do bairro,
como por exemplo: as visitas realizadas nas oficinas de costura
que prestam servios ao
comrcio e a indstria de produtos txteis e que se utilizam de mo
de obra de
trabalhadores bolivianos; os laboratrios de observao do consumo
de "crack", nas
ruas da regio do bairro da Luz; assim como as vivncias no
agitado ambiente comercial
das ruas do Bom Retiro. Desse modo, pode-se entender tais
atividades como uma
operao de inciso na camada mais superficial da realidade
espetacular que, ao mesmo
tempo que possibilitou o envolvimento do grupo com certo tipo de
atividade social
efetiva, tais atividades transformavam-se em material sensvel
para a elaborao de
improvisaes e micro-cenas dos atores, onde grande parte era
realizada nos mais
diversos espaos espalhados pelo bairro. Uma operao que inseria
e, simultaneamente,
friccionava as subjetividades da equipe de criao, especialmente
dos atores,
diretamente com as circunstncias da realidade viva do bairro. Um
espao urbano que
servia como espao de ensaio onde se exercitava teatralmente
formas e contedos que
diziam respeito realidade "sombria" do bairro, em especial quela
menos visvel na
vida diurna do bairro. Trabalho esse, que acabou por constituir
parte significativa do
substrato dramatrgico que comps o espetculo.
Em outra dimenso, aps a estreia do espetculo, no que diz
respeito ao momento da
cena, em especial quanto a experincia do espectador, este
acompanhava por quase um
quilmetro a sequncia das cenas do espetculo que foram
distribudas por trs espaos
do Bom Retiro (um centro comercial, shopping center4, a rua e um
teatro
5 abandonado e
4 Lombroso Fashion Mall
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deteriorado). Esta deambulao cnica pelo bairro fazia com que o
espectador tivesse
que discernir de dentro de sua experincia entre o que era o
espao-tempo da fico e o
espao-tempo da realidade do bairro. Um modo de inciso na
realidade espetacular que
se dava por meio de uma vivncia limtrofe entre o real e a fico,
e por isso diversa da
cotidiana, que produzia certo tipo de deslocamento da percepo,
especialmente na rua,
uma vez que o espetculo era tambm uma interveno que abdicou de
exercer um
controle sobre o espao. Isto , a inteno do trabalho foi
instaurar diretamente a
materialidade da cena na materialidade da vida do bairro sem que
houvesse o
isolamento do espao da rua6 para que a cena acontecesse ou para
que o pblico
acompanhasse7. O que colocava o espetculo a merc de todo tipo de
acontecimento
inerente a vida do bairro, seja do maior fluxo de nibus s
sextas-feiras, em que muitas
vezes paravam ou diminuam a velocidade em ateno cena, ou dos
trabalhadores
noturnos e taxistas do bairro que se tornavam espectadores
assduos, ou mesmo a reao
de pessoas que chegaram a atirar ovos na cena, como tambm,
frequentemente,
transeuntes ou at famlias inteiras que se incorporavam ao pblico
e passavam a
acompanhar a pea.
Em um outro momento, numa dimenso mais ampla desta produo
artstica, aps o
trmino da temporada, possvel pensar tambm num outro tipo de
inciso que o
trabalho operou. Uma interveno no campo das foras simblicas
constitutivas do Bom
Retiro, em particular no que diz respeito interferncia no
significado do Teatro TAIB
e do ICIB (Casa do Povo), um teatro e centro cultural ligados
comunidade judaica
progressista, que aps se constiturem como espaos de ensaio e do
prprio espetculo,
passaram a ser alvo de maior ateno da comunidade, e que
atualmente vivem um
processo de retomada de suas atividades em ampla campanha de
restaurao8. Tanto
para a recuperao do teatro, como para tornar a Casa do Povo um
espao cultural que
5 Teatro TAIB (Teatro de arte israelita brasileiro), inaugurado
em 1960, instalado no edifcio do
Instituto Cultural Israelita Brasileiro, tambm conhecido como
Casa do Povo, construdo em 1953,
marcando o fim da Segunda Guerra e tambm em homenagem aos judeus
mortos no Holocausto. 6 O mximo de controle exercido, se podemos
falar assim, foi certo direcionamento antecipado
para que os carros diminussem a velocidade em dois cruzamentos.
7 Anexo I - Fotos (a), (b), (c), (d), (e) e (f) 8 Anexo II - Matria
Folha de So Paulo - 10 Agosto de 2013
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abrigar manifestaes da arte contempornea. Desta forma, temos uma
inciso que
interveio no campo simblico e que tem gerado uma consequncia
real.
Uma teatralidade crtica?
Diante do levantamento desses diferentes momentos na realizao do
espetculo Bom
Retiro 958 metros, em que possvel identificar situaes que
operaram certo tipo de
inciso nas camadas da realidade espetacular, o momento da
experincia do espectador
ser privilegiado, uma vez que parece condensar em si elementos
mais discernveis para
se pensar um tipo de operao que possibilitaria colocar prova a
espetacularizao da
vida cotidiana. Para isso, a ideia de uma teatralidade analtica
e crtica, discutida
por Helga Finter9, servir como referencial terico.
Utilizando-se tambm do conceito de "Espetacular Integrado", de
Guy Debord, para
pensar o que pode o teatro numa sociedade que se tornou a
abrangncia do prprio
teatro em sua dimenso espetacular, ela analisa a cena
contempornea alem no incio
do sculo XXI, em especial os trabalhos teatrais da gerao de
artistas mais recente,
entre eles os integrantes do selo Rimini Protokoll e Christoph
Schlingensief, e
estabelece algumas distines entre o que seria a teatralidade do
campo esttico e do
campo cotidiano. Ela destaca que a teatralidade do campo
esttico,
em vez do carter afirmativo do espetculo que confirma o
espectador no seu imaginrio, ela permite a este uma crtica da
sociedade do
espetculo, j que o espectador no s pode fazer nela a experincia
de
seu desejo de olhar, como tambm - graas dialtica cnica entre
presena e ausncia - pode experimentar o pacto performativo e o
horizonte de discursos.
Na mesma direo que Debord, para Finter a realidade espetacular
se d como natureza,
contudo, acrescenta, "o espetculo no consciente de sua
teatralidade", e "o teatro, por
outro lado, procede dela conscientemente por seu pacto simblico
constitutivo do
"como se". Instaura um dilogo com o ausente da imagem, uma
dialtica entre presena
e ausncia". (Finter, 2003). Citando as teorias francesas, em
particular de Roland
9 Professora de teoria, esttica e histria do teatro no Instituto
de Artes Cnicas Aplicadas de Giessen, na Alemanha.
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Barthes sobre punctum, Finter refere-se dialtica cnica entre
presena e ausncia para
instituir uma concepo diferente de teatralidade. Nesta operao
seria possvel nascer
uma teatralidade analtica e crtica "diante de uma teatralidade
convencional, da
realidade espetacular, que reflete apenas passivamente o olhar
do meio. (Cf. Finter,
2003). Uma teatralidade crtica que operaria certo tipo de cdigos
sensoriais que
desestabilizaria os sentidos e que tornariam incertas as
atribuies do que familiar
(heimlich) e do que sinistro (unheimlich).
Em Bom Retiro 958 metros, essa desestabilizao dos sentidos
possvel ser pensada
antes mesmo do incio da pea quando o pblico se deslocava do
ponto de encontro, a
Oficina Cultural Oswald de Andrade, at o lugar onde comeava o
espetculo, na rua
Prof. Cesare Lombroso, 259. No programa da pea10
, que o pblico recebia no ponto de
encontro, havia um pequeno mapa11
onde indicava o lugar do incio do espetculo para
o qual as pessoas tinham a opo de se deslocar livremente12
. Muitos, e dos mais
variados, foram os relatos daqueles que tiveram que discernir,
durante o percurso pela
rua, o que fazia ou no fazia parte da pea, mesmo no havendo
nenhum tipo de
proposio cnica: um grafite num muro, um catador de lixo que
trabalhava, um
amontoado de lixo em algum canto da rua, a presena de taxistas,
seguranas ou vigias
das lojas, algum odor mais acentuado, um carro com o som mais
alto que passava etc.
Nesta situao, deslocado de um lugar familiar de uma teatralidade
convencional, de um
estado mais seguro e confortvel de uma experincia que estaria
sob o controle da pea,
estabelecia-se para o espectador uma condio de estranhamento que
lhe solicitava um
discernimento, uma operao de reflexo dentro da experincia capaz
de signific-la
como realidade ou fico. Desta forma, possvel pensar que nesse
estado se opera uma
desestabilizao dos sentidos, um outro regime deslocado da
percepo do cotidiano
promovido pela iminncia de uma fruio esttica que ao mesmo tempo
abre uma
10 ver anexo III 11 ver anexo IV 12 Esse procedimento proposto
ao pblico foi inspirado a partir das prticas do movimento da
Internacional Situacionista, em particular a Deriva, que foi
utilizado pelo Teatro da Vertigem como
mtodo de pesquisa do espao urbano. A Deriva como tcnica de
passagem rpida por ambincias
variadas para o reconhecimento dos efeitos de natureza
psicogeogrfica e afirmao de um
comportamento ldico-construtivo. (Cf. Debord, 2003:87)
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condio de possibilidade para o espectador decidir olhar conforme
seu desejo,
inclusive de teatralizar conscientemente o que v e experimenta.
Como aponta Finter,
um olhar provocado pela experincia da teatralidade do campo
esttico e que o
espectador tem a opo de efetuar um pacto simblico ao decidir
reconhecer, dentre as
mesmas imagens e acontecimentos com os quais ele se depararia na
realidade
espetacular cotidiana, o que seria a fico, o teatro, e o que no
seria, configurando
assim, uma espcie de jogo em que o espectador, a partir da dvida
gerada pelo
estranhamento, opta por assumir a teatralizao da imagem ou do
acontecimento. Uma
operao que traz em si um reconhecimento da linguagem da
representao, isto , da
prpria lgica de funcionamento da cultura espetacular. Segundo
Finter, esta
teatralidade do campo esttico se distingue da teatralidade do
cotidiano, da realidade
espetacular e, que a partir dela, pode-se pensar num olhar
teatral que decodificaria e
separaria dois espaos distintos: o espao potencial da arte e do
teatro, e o campo da
realidade social, o que constituiria seu potencial crtico. A
possibilidade de nascer uma
teatralidade crtica se sustentaria a partir do deslocamento de
um olhar inocente e
aptico que, ao invs de aceitar reconhecer-se nas imagens
dominantes, as transforma
num "teatro ntimo", que ressignifica e desnaturaliza as imagens
e os acontecimentos da
realidade espetacular a partir de uma outra relao do espectador
com seu imaginrio.
Desse mapeamento, portanto, de possibilidades de incises na
realidade espetacular que
a realizao do espetculo Bom Retiro 958 metros efetuou, em
particular nesta chave de
uma experincia esttica crtica-construtiva, que este estudo
pretende continuar
investigando modos de resistncia da arte aos processos
hegemnicos da cultura
espetacular. At o momento, esta anlise parece apontar na direo
de que quanto mais
se sabe que a vida teatro, mais possvel se torna sua crtica. O
conhecimento das
estruturas teatrais ficcionais presentes na "fabricao" da
realidade espetacular
possibilitaria uma relao mais autnoma e crtica do espectador com
seu imaginrio e,
consequentemente, com a realidade.
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Referncias
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetculo Comentrios Sobre a
Sociedade do Espetculo. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 1997.
__________ . Teoria da deriva (1958). In: JACQUES, P. B. (Org.).
Apologia da Deriva: Escritos
situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra,
2003, p. 87-91.
FINTER, Helga. A teatralidade e o teatro - espetculo do real ou
realidade do espetculo? Notas sobre
a teatralidade e o teatro recente na Alemanha. Teatro Al Sur, n
25, out. 2003. Traduo autorizada para o evento Prximo Ato 2007,
promoo Ita Cultural, So Paulo, SP. Disponvel em
http://www.itaucultural.org.br/proximoato/pdfs/teatro%20coletivo%20e%20teatro%20politico/helga_fint
er.pdf - Acesso em 20 de novembro de 2013
Todas as fotografias foram realizadas por Flavio Morbach
Portella
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Anexo I - Fotos (a) e (b)
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Anexo I - Fotos (c) e (d)
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Anexo I - Fotos (e) e (f)
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Anexo II
Folha de So Paulo SBADO, 10 DE AGOSTO DE 2013
Casa do Povo, 60, volta cena cultural
Centro cultural no Bom Retiro, que abrigava escola de primeiro
grau e teatro, teve seu auge
nos anos 1960-1970
Projeto para reforma do edifcio modernista, na rua Trs Rios, foi
oferecido de graa pelo
arquiteto Isay Weinfeld
IARA BIDERMANDE SO PAULO
No bairro povoado desde sempre por imigrantes, o prdio de
fachada modernista pode passar
batido pelos que frequentam o Bom Retiro em busca de roupas
baratas vendidas no atacado.
Dentro do edifcio, que completa 60 anos neste ms, a histria
outra. Gente que viveu a poca
de ouro do lugar --onde funcionava uma escola, um teatro e um
centro de cultura-- e pessoas
que no viveram nada daquilo batalham para ocupar o local.
A Casa do Povo, nome de guerra do Instituto Cultural Israelita
Brasileiro, foi criada por imigrantes judeus progressistas e de
vrias correntes de esquerda que se estabeleceram no Bom
Retiro a partir da Primeira Guerra.
O auge do centro foram as dcadas de 1960-1970 e a decadncia, os
anos 1980.
Uma foto do prdio degradado postada no Facebook, h cerca de trs
anos, foi a deixa para que
ex-alunos do Scholem Aleichem, a escola da Casa do Povo,
voltassem ao local e iniciassem o
projeto de revitalizao.
"Primeiro, tivemos que sanear financeiramente. Agora, a coisa
ganhou vida, comeou a pulsar de novo", diz o neurologista Jairo
Degenszajn, presidente do conselho deliberativo da Casa do
Povo.
A ajuda surge de vrios lados. O projeto de reforma do prdio est
sendo feito gratuitamente
pelo arquiteto Isay Weinfeld.
O francs Benjamin Serousse, que foi curador do Centro de Cultura
Judaica, soube do trabalho e juntou-se voluntariamente ao conselho.
Serousse tem usado seus contatos na rea cultural para
atrair parceiros e ateno ao centro.
Em 2012, o Teatro da Vertigem estreou "Bom Retiro 958", pea
ensaiada no local e que
acabava no cenrio de um teatro em destroos: o Taib, da Casa do
Povo.
Grupos de dana comearam a usar o espao para residncia artstica.
Um deles, o Lote#2, que
entrou para o projeto Rumos, do Ita Cultural, fez sua apresentao
do projeto l, em junho.
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O enorme salo onde o grupo se apresentou, antigamente dividido
em salas de aula, ganhou
pintura nova e extintores de incndio patrocinados pelo
banco.
Em julho, a Feira de Arte Impressa Tijuana reuniu mais de 50
expositores no prdio.
Novas parcerias tambm alimentam o projeto de revitalizao, diz
Mila Zacharias, da Anamau,
empresa de produo e consultoria em artes que tambm se uniu
voluntariamente ao grupo.
Uma dessas parcerias, com a Bienal de Arquitetura e o Instituto
Goethe, vai levar os expositores
alemes da bienal para as salas da Casa do Povo, em outubro.
VANGUARDA
As origens do instituto cultural so anteriores construo do
prdio, projeto de Mange,
Martins e Engel.
Pai da Casa do Povo, o Centro Cultura e Progresso realizou, por
exemplo, a primeira exposio
de HQ no Brasil, em 1951, que contou com originais de autores
como Alex Raymond ("Flash
Gordon") e Al Capp ("Ferdinando").
A escola Scholem Aleichem, outra iniciativa do grupo, foi
fundada em 1934, com uma proposta
pedaggica vanguardista para a poca.
O teatro Taib veio depois. Projetado pelo arquiteto Jorge
Wilheim, foi inaugurado em 1960.
Naquela dcada e na seguinte, a atividade cultural e poltica era
intensa.
Nos anos 1980, por razes que vo do xodo da comunidade judaica do
bairro ao isolamento
ideolgico das esquerdas, a atividade minguou, a escola fechou e
o centro se esvaziou.
Na boa fase atual, os 60 anos da Casa do Povo sero comemorados
nos dias 23 e 24 com
seminrios e debate com a urbanista Raquel Rolnik sobre as
necessidades culturais da cidade.
"A regio voltou a entrar no circuito cultural de So Paulo, mas
faltam espaos menos
tradicionais. A Casa do Povo ressurge em boa hora", diz
Degenszajn.
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Anexo III
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Anexo IV