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Anais XI SNPPI 2015

Aug 07, 2018

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Manu Lima
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  • 8/20/2019 Anais XI SNPPI 2015

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    XI SIMPÓSIO NACIONAL DE PRÁTICAS

    PSICOLÓGICAS EM INSTITUIÇÃO 

    A ação da psicologia em saúde e educação:

    reflexões ético-políticas 

    Shirley Macedo

    Melina Pereira

    Waléria Mendes

    Organizadores

    ANAIS 

    UNIVASF 

    Petrolina –  PE2016 

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    Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca da UNIVASF.Bibliotecária: Maria Betânia de Santana da silva  – CRB4-1747

    Simpósio nacional de práticas psicológicas em instituição(11.: 2015 novembro 16 a 18: Petrolina, PE).

    S612a   A ação da psicologia em saúde e educação: reflexõesético-políticas : 16 a 18 de novembro de 2015 / organizadopor Shirley Macedo, Melina Pereira, Waléria Mendes.---Petrolina,PE: UNIVASF, 2016.

    270p : il. ; 29 cm.

    Vários autores

    ISBN 978-85-60382-64-4 

    1. Psicologia  – Políticas públicas. 2. Psicologia clínica dasaúde. 3. Plantão médico. 4. Psicologia - Congressos. I.Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

    CDD 150.63 

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     Coordenadora Geral do Evento: Bárbara E. B. Cabral

    (UNIVASF) 

    Comissão de Programação Científica 

    Shirley Macêdo Vieira de Melo - Coordenação (UNIVASF)

    Grace Liz Dantas Barros (UNIVASF)

    Gledson Wilber de Souza (UNIVASF)

    Lourivan Batista de Sousa (UNIVASF)

    Melina de Carvalho Pereira (UNIVASF)

    Ravena Moura Rocha Cardoso dos Santos (UNIVASF)

    Thalita Silva de Castro (UNIVASF)

    Waléria Mendes de Carvalho dos Anjos (UNIVASF)

    Comissão de Comunicação e Divulgação

    Erika Hofling Epiphanio –  Coordenação (UNIVASF)

    Clara Souza (UNIVASF)

    Emanoela Lima (UNIVASF)

    Jair Rocha (UNIVASF)

    Layta Sena (UNIVASF)

    Roseana Pacheco (UNIVASF)Marluce Silva de Lima (UNIVASF)

    Jaquelline Machado de Oliveira (UNIVASF)

    Rozelair Barreto (UNIVASF)

    Sonha Maria Coelho de Aquino (UNIVASF)

    Fernando Sá Bispo da Silva (UNIVASF)

    Marcelo Oliveira (UNIVASF)

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    Comissão Bem- Estar

    Silvia Raquel Santos de Morais –  Coordenação (UNIVASF)

    Catarine Gonçalves (UNIVASF)

    Karla Daniele Maciel Luz (UNIVASF)

    Priscila de Lima Souza (UNIVASF)

    Ramessa Florêncio Pereira da Silva (UNIVASF)

    Kathary Soares Silva (UNIVASF)

    Yasmin Albuquerque (UNIVASF)

    Comissão de Apoio Logístico

    Barbara E. B. Cabral –  Coordenação (UNIVASF)

    Ana Jamile Braga Maia (UNIVASF)

    Anne Crystie da Silva Miranda (UNIVASF)

    Catielli Dias (UNIVASF)

    Ana Jamile Braga Maia (UNIVASF)

    Erika Freire (UNIVASF)

    Fagner de Jesus Nascimento (UNIVASF)

    Gabriela Wrublebski (UNIVASF)

    Lusiane Miranda Palma (UNIVASF)

    Monzitti Baumann Almeida Lima (UNIVASF)

    Paola Cecato (UNIVASF)

    Stephanie Souza (UNIVASF)

    Thatiane da Silva Castro (UNIVASF) 

    Colaboradores Externos

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    MEMBROS DO GT-ANPEPP: PRÁTICAS PSICOLÓGICAS EM

    INSTITUIÇÕES: ATENÇÃO, DESCONSTRUÇÃO E INVENÇÃO.

    Carmem Lucia Brito Tavares Barreto  –   Universidade Católica de

    Pernambuco/UNICAP

    Darlindo Ferreira de Lima –  Universidade Federal de Pernambuco/UFPE

    Heloisa Szymanski  –   Grupo de Pesquisa do Diretório CNPq - Práticas

    Educativas e Atenção Psicoeducacional na Escola, Comunidade e Família

    ECOFAM

    Jurema Barros Dantas –  Universidade Federal do Ceará/UFCLuciana Szymanski  –   Pontifícia Universidade Católica de São

    Paulo/PUC-SP

    Maria Inês Badaró –  Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP

    Maria Julia Kovács –  Universidade de São Paulo/USP

    Maria Luisa Sandoval Schmidt - Universidade de São Paulo/USP

    Simone Dalla Barba Walckoff (UNICAP)

    Outras instituições parceiras:

    UPE –  Garanhuns

    Ana Maria de Santana

    Janne Freitas de Carvalho

    Suely Emília de Barros Santos

    ESUDA

    Luísa Manjorani Cardoso

    Maria Cláudia Pontual Peres

    Palestrantes

    Barbara E. B. Cabral (Univasf) 

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     Carmem L. B. T. Barreto (UNICAP)

    Erika Hofling Epiphanio (Univasf) 

    Maria Inês Badaró Moreira (UNIFESP-BS)

    Janne Freitas de Carvalho (UPE –  Garanhuns)

    Jurema Barros Dantas –  Universidade Federal do Ceará/UFC

    Heloisa Szymanski (Grupo de Pesquisa do Diretório CNPq - Práticas

    Educativas e Atenção Psicoeducacional na Escola, Comunidade e Família

    ECOFAM)

    Luciana Szymanski (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-

    SP)

    Maria Luísa Sandoval Schmidt (USP)

    Maria Júlia Kovács (USP)

    Shirley Macedo Vieira Melo (Univasf) 

    Simone Dalla Barba Walckoff (UNICAP)

    Sílvia Raquel Santos de Morais (Univasf) 

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    SUMÁRIO

    Apresentação…………………………………………………......15

    Conferência de Abertura............................................................. 18

    Ciranda Temática

    CT1 –  Formação profissional e política em diálogo com o

    pensamento de franco basaglia e hannah arendt 

    1.1  Notas reflexivas acerca da formação profissional e do trabalho

    em equipes de saúde................................................................49 

    1.2  Desinstitucionalização como conceito ferramenta para as

     práticas em saúde mental.........................................................58

    1.3  O pensamento de franco basaglia e a formação de profissionais

    de saúde...................................................................................64

    CT2 –  Plantão psicológico

    2.1  Plantão psicológico como acontecimento: ressonância do

    cuidado na prática clínica........................................................67

    2.2  Experiencia de plantão psicológico em hospitais, unidades de

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    cuidados paliativos e no laboratório de estudos sobre a

    morte........................................................................................72

    2.3  Sofrimento psíquico e sociedade: um ensaio sobre o plantão

     psicológico como uma prática clínica contemporânea.............81

    2.4  Plantão psicológico e compromisso ético-político: a

    experiência do CEPPSI/UNIVASF..........................................93CT3 –  Práticas Psicológicas e Processos de tornar-se Psicólogo

    3.1  Oficinas de desenvolvimento da escuta como prática clínica

    em instituição formadora de psicólogos.................................102

    3.2  Grupo de estudos: o NUEFE como espaço de formação para

    ser psicólogo...........................................................................111

    3.3  Panoramas da infância e da adolescência, um estudo

    fenomenológico sobre ações psicoeducativas em

    instituições..............................................................................121

    CT4 –  Possibilidades de ação clínica na perspectiva

    fenomenológica

    4.1 Perspectiva fenomenológica existencial: uma compreensão

    hermenêutica filosófica sobre as possibilidades de ação clínica

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    em instituições......................................................................136

    4.2 Psicologia do esporte: uma possibilidade da escuta clínica

    fenomenológica.....................................................................143

    4.3 A atenção psicológica à ação arendtiana no plantão

     psicológico.............................................................................151

    Rodas narrativas

    RN1  –  Clínicas e Práticas Fenomenológicas 

    1.  Uma proposta humanista-fenomenológica em clínica do

    trabalho: a hermenêutica colaborativa.................................161

    2.  Leitura gestáltica do processo de escolarização: uma clínica

    da neurose............................................................................163

    3.  Ação clínica no acontecer do viver cotidiano: compreensão

    fenomenológica....................................................................1654.  Experiência de segurados do INSS com grupos interventivos

    na Clínica Humanista-Fenomenológica do Trabalho..........167 

    5.  Hermenêutica familiar como recurso colaborativo na

     promoção do cuidado junto à criança..................................169

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    6.  Um estudo fenomenológico colaborativo com oficinas de

    desenvolvimento da escuta...............................................171

    7.  Experiência como participante em oficina de

    desenvolvimento da escuta...............................................173

    8.  O encontro reflexivo na pesquisa interventiva em psicologia:

    encaminhando direções....................................................1759.  Reflexões acerca da supervisão: primeira experiência

    enquanto plantonista na rua..............................................177

    10. O abrigar da escuta: compreensões acerca da ética e da

     política na experiência clínica..........................................179

    11.  Reflexões sobre o plantão psicológico no processo

    formativo do Psicólogo....................................................182

    12. O des-velar do caminhar: compreensões acerca da técnica no

    Plantão Psicológico..........................................................183

    13. Psicologia das emergências e dos desastres: SAMU e

    Plantão Psicológico..........................................................185

    14. Silêncios e barulhos: significando experiências em Plantão

    Psicológico com crianças.................................................187

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    15. Vida e morte: compreensões sobre suicídio em um Plantão

    Psicológico.......................................................................189

    16. Práticas Clínicas em Instituições: uma experiência numa

    casa de passagem..............................................................191

    17. Temporalidade em plantão psicológico na rua: reflexões

    sobre uma experiência......................................................193

    18. Desvelando sentidos da síndrome do pânico numa

     perspectiva fenomenológica existencial...........................195

    19. Velar des-vela vida? ........................................................197

    20.  Angústia e prática psicológica: diálogos a partir da

    fenomenologia existencial...................................................199

    21. Oncovida: uma intervenção grupal com pacientes

    oncológicos e seus familiares...........................................201

    22. Grupos terapêuticos com adolescentes: relato de

    experiência em uma clínica-escola...................................203

    23. O Desabrochar da formação de psicólogo: a clínica escola

    como possibilidade de atuação.........................................205

    24. Atendimento a famílias em clínicas-escola: interrogando a

     prática, propondo intervenções........................................207

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    25. Psicodiagnóstico Interventivo Colaborativo promoção do

    cuidado a criança na Clínica Escola.................................209

    26. Plantão Psicológico no serviço-escola da UNIVASF: um

    estudo descritivo...............................................................211

    27. Vozes e ruídos desvelando sentido na experiência de

     plantonistas.......................................................................213

    RN2 –  Práticas Psicológicas em Educação 

    28. Aconselhamento de carreira na formação de estagiários em

    Psicologia da UNIVASF..................................................215

    29. Entre trocas de saberes e experiências: assumindo novas

     parentalidades...................................................................217

    30. Orientação para pais: um relato de experiência...............219

    31. Formação de professores da educação inclusiva: atuação do

     psicólogo na instituição....................................................221

    32. Juventude crítica: relato de experiência de estágio em

    Psicologia.........................................................................223

    33. Práticas pedagógicas no mundo azul...............................225

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    34. Jovens assentados: histórias de vida e projetos de

    felicidade..........................................................................227

    35.  Metodologia científica como lume a prática a prática do

     psicólogo na intervenção psicossocial.............................229

    36. A flexibilização do tempo: a escola para um atendimento

    inclusivo...........................................................................231

    RN3 –  Psicologia e Políticas Públicas de Saúde 

    37. Os espíritos chegam à clínica: e agora?...........................233

    38. O lugar da técnica moderna na transformação dos

    ambientes e suas repercussões no existir.........................235

    39. Práticas psicológicas na atenção básica de saúde e proteção

    social básica da assistência...............................................237

    40. Refletindo sobre práticas de cuidado em unidades básicas

    de saúde............................................................................239

    41. Grupo de família promovendo o cuidado integral –  CAPS II

    Petrolina.......................................................................... 241

    42. Práticas psicológicas num serviço escola do sertão de

    Pernambuco: desafios e avanços......................................243

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    43. Modos de enfrentamento de cuidadoras de crianças em

    tratamento oncológico......................................................245

    44. Autonomia e liberdade: norteando a prática psicológica em

    hemodiálise......................................................................247

    45. Práticas psicológicas em instituições e pessoas surdas:

    (re)fazendo saberes e ações..............................................249 46. Atu(ação) de psicólogos (as) junto a moradores de

    rua.....................................................................................251

    47. CAPSi: o olhar infantil sobre o cuidar e o

     brincar..............................................................................253

    48. (Re)avistando a prática psicológica em saúde

     pública..............................................................................255 

    49. Estágio em Psicologia: contribuições a um dispositivo de

    Saúde Mental....................................................................256

    50. Loucura e Saber Científico-profissional: vozes da

    experiência.......................................................................258

    51.  Atenção Psicossocial e o trabalho com grupos terapêuticos

    no CAPS...........................................................................260

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    52. Mobilização antimanicomial e formação: extensão

    universitária propiciando o empoderamento

    coletivo............................................................................262

    53. Condições de trabalho e saúde mental no NASF de

    Petrolina/PE......................................................................264

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    Apresentação

    É com grande honra que o Vale do São Francisco recebe, de 16 a 18

    de novembro de 2015, o XI Simpósio Nacional de Práticas

    Psicológicas em Instituição, cujo tema central será “A ação

     psicológica em Saúde e Educação: reflexões ético-políticas”.

    A realização dos Simpósios Bienais tem sido uma das ações

    sistemáticas do Grupo de Trabalho: Práticas Psicológicas em

    Instituições: atenção, desconstrução e invenção, vinculado à

    Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia – 

     ANPEPP. A proposta deste GT, criado em 1994, consiste em

     promover uma produção de conhecimento que pense a ação

     psicológica nos mais diversos cenários, desde uma perspectiva

    interdisciplinar, voltando-se à implicação das práticas psicológicas

    na constituição de modos de subjetivação e nas dinâmicas de

    singularização da existência, em contextos institucionais. Mantem-

    se o foco em ações que reflitam a prática inovadora de atenção na

    saúde e na educação, sustentados por uma discussão ética

    comprometida com a diversidade humana, tendo como fundamento,

    i i l t f l i i t i l f l i

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    diferentes vertentes. Seu âmbito de influência tem sido a formação

    de profissionais compromissados com a transformação social, em

    direção a uma sociedade mais justa, à ampliação do conhecimento

    sobre as práticas psicológicas em diferentes contextos institucionais

    e a constituição de redes de cuidado em saúde e educação.

    Desse modo, há mais de uma década este grupo de pesquisadores

    tem se reunido regularmente para divulgar conhecimento produzido

     pelos trabalhos realizados em instituições de todo o país,

    comprometidos, então, com uma ampliação das possibilidades do

    fazer psicológico.

     Neste ano de 2015, marcado por intensos debates políticos,

    incertezas quanto aos rumos coletivos da nação e reflexões em

    torno da atuação ética no contexto das relações entre humanos, a

    11ª edição do Simpósio ocorre na região do semiárido nordestino,

    destacando, a partir do seu tema, uma das preocupações

    fundamentais do GT: a relação teoria-prática na ação de psicólogos

    nos diversos cenários, permeada por práticas de Saúde e Educação.

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    O XI SNPPI está sendo realizado pelo LETRANS (Laboratório de

    Estudos Transdisciplinares em saúde e Educação/Univasf), em

    articulação com todos os pesquisadores do GT-PPI, tendo o apoio

    de vários grupos de pesquisa e Laboratórios, a exemplo

    do LEFE (Laboratório de estudos e práticas em Psicologia

    fenomenológica Existencial/USP São

    Paulo); LACLIFE (Laboratório de Psicologia Clínica

    Fenomenológica Existencial- UNICAP); NUEFE (Núcleo de

    Estudos em Fenomenologia Existencial, Ação Clínica e Prática

    Psicológica/UPE- Garanhuns), o Grupo Práticas Clínicas em

    Instituições e Psicologia Comunitária /UFPE (do Curso de Saúde

    Coletiva no Centro Acadêmico Vitória-UFPE, que fica na cidade de

    Vitória de Santo Antão-PE).

    A Comissão Organizadora Local saúda a tod@s que virão se reunir

    conosco para compartilhamento de experiências, conhecimentos e

    reflexões a partir desse fio condutor!

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    CONFERÊNCIA DE ABERTURA

    Profª Drª Maria Luísa Sandoval Schmidt

    Começo agradecendo à comissão organizadora destesimpósio pelo convite para participar de sua abertura e pela

    organização primorosa e afetuosa de todo o evento.

    Quero também agradecer à Carmem Barreto pelo paciente e

    útil trabalho de recuperação da história do GT "Práticas

     psicológicas em instituição: atenção, desconstrução, invenção" por

    meio da consulta aos registros de nossos encontros nos Simpósios

    da ANPEPP e de nossos encontros locais, chamados jocosa ecarinhosamente de anpepinhas, de cuja série este encontro faz parte.

    Declaro meu prazer e contentamento em partilhar essa mesa

    com Carmem e Heloisa, queridas companheiras e interlocutoras

    nesta jornada de um grupo de trabalho que fará em breve 20 anos.

    Dou as boas vindas a todas e todos que participarão das

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    agradecimento a toda essa gente brava e valente que encarou as

    múltiplas tarefas de tornar o sonho e a vontade de fazer um

    encontro no sertão, realidade.

    Combinamos entre nós, participantes desta mesa de

    abertura, que cada uma traria algumas lembranças e dimensões da

    história do GT para que pudéssemos alimentar uma "conversa decomadres", fazendo jus ao espírito das rodas narrativas e cirandas

    de conversa que anima a programação deste encontro.

    Pensei, então, em partir de uma percepção que tive em

    minha primeira participação num Simpósio da ANPEPP, em 1998,

    em Gramado, a convite de Henriette Morato, percepção à qual

    frequentemente retorno. Ela é significativa porque assinala, do meu

     ponto de vista, potências, contradições e impasses da proposta deum simpósio nacional reunindo todos (ou quase todos) os

     programas de pós-graduação brasileiros. Essas potencialidades,

    contradições e impasses parecem abrir uma dimensão política que

    gostaria de por em tema.

    Vinha reclamando muito dos congressos e encontros

    acadêmico científicos que haviam se tornado já àquela época

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    questões da pós-graduação nacional. Os espaços mais amplamente

    coletivos eram totalmente ocupados pelos porta-vozes da CAPES

    que aproveitavam a presença de todos os programas para "passar os

    seus recados". Era o reinado dos tecnocratas da CAPES e seus

     power points poderosos que ocupavam todo o tempo disponível e

    não davam nenhuma chance de manifestação da atenta e

     preocupada plateia de pesquisadores que eram chamados a

    responder com prontidão e eficiência às imposições do

     produtivismo.

    Fiquei com uma forte sensação desta divisão: uma ocasião

    muito interessante para o intercâmbio e debate de ideias, práticas,

     pesquisas, intervenções e uma ocasião singular, única para

    organizar e encaminhar propostas e reivindicações quanto à política

    acadêmico-científica que era desperdiçada por nós e,

     propositalmente, controlada pela fala dos tecnocratas.

    Apenas em 2006, no simpósio de Florianópolis, pela minha

    lembrança, um grupo de pesquisadores usamos a hora do almoço

     para fazer um debate político sobre a forma do Simpósio da

    ANPEPP e sobre a necessidade de democratização da participação

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    nos espaços mais amplamente coletivos. Essa movimentação deu

    origem aos Foruns (ética em pesquisa, política científica de pós-

    graduação, articulação graduação e pós-graduação - ensino). Esses

    foruns foram, durante um tempo, espaços ricos de apresentação e

    debate de temas pertinentes à pós-graduação e funcionaram de

    maneira mais democrática, com tempo e condições de participação

    de interessados e interessadas nos assuntos tratados. Mais que isso,

     passaram a ser instâncias legítimas e legitimadas para a construção

    e encaminhamento de propostas em nome de pesquisadores e

     programas.

    Mais recentemente, os simpósios da ANPEPP têm tido um

    número vertiginosamente maior de GTs e de participantes e, ao

    mesmo tempo, os Foruns, e falo especialmente daquele de ética que

    tenho acompanhado desde seu nascimento, têm se apresentado

    menos democráticos, assolados, de novo, por membros de

    comissões da própria ANPEPP que se instalam com seus power

     points, ocupando algumas vezes mais de 90% do tempo para a

    reunião com suas apresentações. Pontos polêmicos não podem ser

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    debatidos e os encaminhamentos nem sempre são decididos de

    maneira democrática.

    Portanto, parece-me que a possibilidade de uma participação

    democrática e politicamente informada é uma questão em aberto;

    mas possivelmente para poucos e poucas colegas: uma grande

    maioria tem a expectativa de receber as instruções de como fazerdaqueles que representam a CAPES e outras instâncias de

    avaliação. A relação entre produção e avaliação parece ser um

    elemento que, já bastante presente no final dos anos 90, torna-se

    cada vez mais determinante nos e para os simpósios nacionais.

     No âmbito de nosso GT, tenho recordações de certa

    inquietação: em Águas de Lindóia, talvez em 2002, reclamamos

    formalmente da ausência de espaço coletivo de debate dos temas pertinentes ao conjunto dos programas e do uso que representantes

    da CAPES faziam dos poucos momentos coletivos. A assembleia

    ou plenária geral era sempre feita quando o simpósio já estava

    esvaziado e havia pouca influência do coletivo mais amplo nas

    decisões e encaminhamentos feitos em nome da Associação

     Nacional.

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    A história da política dos simpósios é acompanhada de uma

    história da política de nosso GT.

     Nomeio alguns princípios que atravessam essa história e que

    atribuem uma face ao GT: o apego e respeito à pluralidade,

     buscando sustentar afinidades e divergências teóricas,

    metodológicas e interventivas; o interesse por composições einterlocuções interdisciplinares, no interior da psicologia e na

    relação com outras áreas, especialmente a filosofia; a identificação

    (identitária) com as perspectivas fenomenológicas e existenciais; a

    escolha por um posicionamento crítico em relação à tendência

    hegemônica da ciência positivista em nosso mundo e meio,

     praticando pesquisas sobretudo qualitativas de recorte interventivo

    e participante; o apreço pelas práticas cotidianas como origem de

    questionamentos e tensionamentos com a teoria consagrada e como

    lugar de invenção e descoberta.

    Esse conjunto de princípios, professados e buscados, nem

    sempre alcançados, não tenho dúvidas, está na base de um intento

    constante de construir e garantir espaços coletivos de participação

    democrática: nos simpósios nacionais, em nossos encontros locais,

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    em nossas práticas de pesquisa, ensino e extensão nas instituições

    universitárias e nos territórios em que agimos.

    Praticar a democracia é mais importante do que meramente

     professá-la. Espero que possamos aproveitar essa maravilhosa

    oportunidade de fazê-lo nesses dias tão generosamente

     programados por aqueles e aquelas que aqui nos recebem.

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    Profª Drª Carmem Lúcia Brito Tavares Barreto

    Prof. Heloisa Szymanski

    Primeiro gostaria de dizer da minha alegria de participar

    deste primeiro momento do nosso encontro, recebendo todos vcs,

     junto com a comissão organizadora, no meu nordeste querido, no

    sertão pernambucano.

    E chegado o momento de comemorar a nova configuração do nosso

    grupo, depois de tantas mudanças: alguns membros se afastaram e

    outros passaram a compor o GT, permitindo abrir e/ou consolidar as

     perspectivas traçadas como orientadoras de nossa produção e

     pesquisa . Acreditamos que este momento é decisivo para confirmar

    o direcionamento do grupo, apesar de saber que tal caminhar deve

    ser sempre revisto possibilitando mudanças ou ampliações de

    interesses e temáticas, procurando manter a aderência com o

    objetivo que desde o inicio foi se delineando na formação do GT

    “PRATICAS PSICOLÓGICAS EM INSTITUIÇÕES:

    ATENÇÃO, DESCONSTRUÇÃO E INVENÇÃO” 

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    Com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e

     pesquisas, respeitadas as metas acima citadas, o GT vem

     promovendo, regularmente, há dez anos, Simpósios Nacionais de

    Práticas Psicológicas em Instituições, realizados nas instituições de

    origem dos membros do grupo. Nesses Simpósios, o GT segue um

    formato participativo, incluindo também alunos de pós-graduação e

    de iniciação científica, que possibilita, além da produção científica,

    uma preparação do GT para os Simpósios bienais da ANPEPP. Esse

    formato resultou, em 2007, 2008 e 2009, 2010 nos VII, VIII, IX e X

    Simpósios Nacionais do GT, na publicação de anais (eletrônicos)

    com trabalhos completos e no encaminhamento de produções

    conjuntas para um livro. Após um intervalo, estamos reunidos em

    2015, aqui em Petrolina para participar do XI Simpósio Nacional de

    Praticas Psicológicas em Instituições.

    Para participar desta mesa, tive a curiosidade de fazer um

    levantamento de nossa historia, para assim ir tentando configurar as

    linhas de pesquisas e orientações teórico-metodológicas que foram

    se delineando, como também ir acompanhando nossa jornada que

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    hoje se configura com uma nova organização, alem de contar com

    novos membros desde a reunião de Bento Gonçalves.

    Nossa historia começou em 1994, em Caxambu, no V

    SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIENTÍFICO EM

    PSICOLOGIA da ANPEPP, com a criação do GT

    “Problematização das relações entre teoria e prática em

    Psicologia Clínica”, sob a coordenação de Marília Ancona-Lopez.

     Naquele momento as discussões versaram sobre a compreensão de

    subjetividade entreposta como condição de conhecimento e de

    compreensão dos fenômenos humanos, bem como as relações

    tensionais entre teoria e prática, na perspectiva de investigação em

    Psicologia Aplicada, questionando o estatuto de cientificidade sob o

     ponto de vista tradicional. A discussão já estava dirigida para a

     possibilidade do estabelecimento de novo paradigma e

    conhecimento de ciência que leve em conta a especificidade própria

    do fenômeno estudado.

    Em 1996, em Florianópolis, no VI SIMPÓSIO DE PESQUISA E

    INTERCÂMBIO CIENTÍFICO EM PSICOLOGIA da ANPEPP, o

    GT di id d i t t d t d R li iã i d b

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    a coordenação de Marília Ancona-Lopez e, outro, permanecendo no

    tema das relações entre teoria e prática, sob a coordenação da Profa.

    Henriette Tognetti Penha Morato. A leitura e discussões dos

    trabalhos no GT permitiram a seus participantes aproximarem-se da

     presença necessária de um movimento desconstrutivo subjacente às

    temáticas em discussão, respeitando-se a especifidade dos vários

    recortes e a singularidade de cada trabalho. Dado o

    encaminhamento do questionamento, o grupo de trabalho

    considerou apresentar uma mudança na sua denominação. As

     pesquisas realizadas durante os GTs revelaram, através da

     problematização das relações entre teoria e prática em Psicologia

    Clínica, uma nova direção na condução do tema. É no contexto das

     práticas psicológicas em instituições de saúde e educação que tem

    se descortinado a pluralidade teórica, demandando do psicólogo em

    formação um ancoramento na experiência como modo de inventar

    outras possibilidades de intervenção para além das “tradicionais”.

    Dentro dessa nova perspectiva, o GT optou por adotar desde então o

    nome “Práticas psicológicas em instituições: atenção,

    desconstrução e invenção”. Propôs-se, assim, a encaminhar seus

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    trabalhos nessa esfera de investigação e questionamentos para sua

    discussão no VII Simpósio.

    A partir de 1998, no VII SIMPOSIO, realizado em

    Gramado, o GT concentrou sua produção de conhecimento no

    campo das pesquisas participantes e interventivas, uma vez que

    essa modalidade de pesquisa estava atravessada pela ênfase do

    grupo na relação indissociável entre teoria e prática. Focalizou  as

     práticas psicológicas em instituições públicas e privadas no campo

    da educação e saúde, sobretudo, mas não exclusivamente, tendo

    como fundamento teórico-metodológico a fenomenologia

    existencial e a fenomenologia em suas diferentes vertentes. O

    conceito de instituição foi posto em discussão, tomando como um

    dos eixos centrais dessa discussão o problema do singular nos

    contextos de intensa institucionalização. Nessa direção, expandiu-

    se a noção de instituição para compreendê-la em suas formações

    historicamente sedimentadas em modos cotidianos impessoais de

    existência. 

    Em 2000, no VIII SIMPOSIO realizado em SERRA NEGRA ,

    b d GT õ t ã d d

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    grupo, ou seja, “Práticas psicológicas em instituições: atenção,

    desconstrução e invenção”, uma vez que vem sendo elaborada

     produção conjunta dos participantes, privilegiando a explicitação da

    atenção às demandas sociais. Tal posicionamento se apresenta

    depois do encaminhamento de práticas psicológicas que se

     propunham a desconstruir a hegemonia do pensamento da

    modernidade, considerando as demandas do momento

    contemporâneo. As investigações dirigem-se, agora, para

     problematizar as relações tensionais entre tais práticas e as

    instituições nas quais se efetivam. Nesse sentido, buscou-se refletir

    em que medida e quais as brechas que poderiam ser entrevistas pela

     promoção de tais práticas, visando que, efetivamente, possibilitem

    transformações tanto para o campo de atuação do psicólogo (e

    outros profissionais de saúde e educação), quanto para sua

    formação e oferecimento de melhoria de serviços com qualidade à

    comunidade. Para isso, partiu-se das condições do mundo e

    sociedade atuais, para buscar no modo de ser e viver do homem

    contemporâneo em confronto com a tecnocracia científica, quais as

     possibilidades e que desafios se impõem aos investigadores

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    da humanidade às portas do terceiro milênio. Ao reconhecer tais

    condições, nova atitude é demandada dos pesquisadores imersos no

    tecido social que envolve suas práticas interventivas, o que pode

     promover situações de aprendizagem aos futuros profissionais e

     pesquisadores, bem como revelar, no outro polo, adesões

    dogmáticas da própria comunidade assistida quanto às suas

    expectativas para a vida. Ou seja, seu imaginário, ou melhor, as

     brechas do humano entre atenção e hábito.

    Uma das questões bastante discutidas durante a reunião,

    trazidas por Henriette Morato, referia-se à compreensão das

    diferenças entre pedidos, queixas e demandas de instituições e suas

    diferenças e semelhanças com pedidos, queixas e demandas dos

    usuários dos plantões nas instituições em que se desenvolviam

     plantões psicológicos. Esta modalidade de prática era a mais

    discutida no GT, além do questionamento da psicologia clínica

    associada exclusivamente à prática consultorial. Falava-se muito de

    ampliação do sentido de clínica psicológica. Do ponto de vista da

     prática psicológica no campo da educação pensou-se na ampliação

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    O X SIMPOSIO aconteceu em 2004, em Aracruz teve como

    temática geral:

    - Projeto de avaliação das praticas psicológicas

    desenvolvidas pelos integrantes do GT, surgidas a partir de

    instituições universitárias e com caráter investigativo, critico e

    formador, perspectivam queixas e demandas da clientela no

    contexto da vida atual e de instituições nas quais o trabalho se

    realiza. Privilegiou discussões sobre a contextualização das praticas

     psicológicas; reinteração do compromisso ético-politico dessas

     praticas no contexto de desafio; discutir o caráter dialógico-

    constitutivo dessas práticas na relação com a população atendida;

    questionamento acerca de possíveis formas de reificação dessas

     práticas e do sofrimento humano, via crenças, representações

    sociais, imaginário humano; analise critica da política de educação

    e saúde; forma de investigação participativa interventiva e

    questionamento metodológico; ressignificação da atenção

    psicológica  como eixo norteador atitudinal das praticas

     psicológicas em instituições; exploração da eficácia dessas práticas.

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    Elza Dutra apresentou seu Projeto de Pesquisa voltado para discutir

    à ideação e tentativa de suicídio entre estudantes de medicina de

    duas capitais nordestinas.

     Nilson Gomes definiu como marco norteador de sua pesquisa a

    “Análise da prática terapêutica (Teoria dialógica) em rede social”.

    Maria Luisa Schmidt demonstrou seu interesse pela discussão

    teórico-metodológica da pesquisa participante de base etnográfica.

    OProjeto de Pesquisa em desenvolvimento dizia respeito ao

    itinerário entre cuidado e desamparo, buscando quais os acessos dos

    usuários aos Serviços de Saúde na cidade de São Paulo. Apresentou

    seu interesse por pesquisa interventiva com agentes comunitários de

    saúde da Vila Dalva em São Paulo.

    Vera Cury tem como interesse investigar a “Apreensão de

     processos essenciais presentes nas práticas como ajuda

     psicológica”. 

    Heloisa Szymanski desenvolveu os seguintes Projetos de Pesquisa:

    1) Práticas educativas na família e na creche: constituição de

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    Fazendo uma breve analise das temáticas pesquisadas consegue-se

    delinear alguns direcionamentos: atitude clinica numa perspectiva

    fenomenológica; formação de profissionais de saúde; serviços

    ofertados aos usuários da rede pública de saúde; integração entre

    ensino, pesquisa e extensão. Tais temáticas vão se consolidando e

     passarão a compor o perfil do GT.

    Alem dessa atividade, discutiu-se o modo de funcionamento do

    GT, tendo sido aprovadas as seguintes propostas:

    1 - esforço sistemático para debates teóricos e metodológicos no

    clareamento de conceitos relevantes à temática do grupo, advindos

    do exercício de pesquisadores;

    2 - definições claras da concretização desse esforço através do

    estabelecimento de metas para cada evento acordado, ou seja,

    tarefas a serem realizadas compartilhadamente entre alguns

    membros e apresentadas/discutidas no encontro;

    3 - sustentação das afinidades e divergências para com ideias

    fecundas que surgirem, assim como de suporte para a produção de

    análise das pesquisas interventivas realizadas;

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    4 - manutenção de convites para participação em bancas de defesa

    entre os membros do gt, mesmo que para suplência, garantindo as

    leituras como conhecimento das produções dos colegas.

    Já no XII SIMPOSIO, realizado em Natal em 2008, após dez

    anos de interlocução e reflexões, o grupo empenhou-se em criar

    corpos conceituais que refletissem esse outro modo de pensar/fazer

    a psicologia, não capturado em modelos, mas tendo como

    referência a experiência e afirmação das singularidades. Sustentado

    na Ética, este empenho envolve pesquisadores, alunos e população,

    uma vez que implica no resgate do “senso comum”, fundamental na

    transformação das atuais relações sociais autoritárias e normativas,

    calcadas na ignorância/ilusão, em relações horizontais nas quais,

    através do exercício do pensamento, se construa conhecimentos

    comuns àquele grupo. Nesse encontro também foi feita uma análise

    de produção do GT considerando as práticas, as metodologias e os

    contextos das pesquisas realizadas por seus participantes. Tal

    análise possibilitou a apropriação de uma pluralidade rica de

     perspectivas metodológicas (participante de cunho etnográfico,

    cartográfica, interventiva, genealógica), assim como de contextos

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    O compromisso do grupo em produzir conhecimentos

    comprometidos com a transformação psicossocial aparece como

    objetivo principal, comum a todos os pesquisadores. Nesse sentido,

     pretendia-se:

    - Refletir sobre as pesquisas desenvolvidas no grupo, procurando

    avaliar em que medida os conhecimentos produzidos têm

    propiciado transformações tanto na formação do profissional,

    como nas relações sociais das populações envolvidas, assim como

    os desafios, limitações e conquistas em sua efetivação.

    - Avaliar o alcance destas pesquisas no estabelecimento de redes e

    intercâmbios com os diversos setores da sociedade (órgãos gestores,

    instituições formais e informais de educação e saúde, representantes

    comunitários, profissionais e agentes de saúde e educação, entre

    tantos outros) comprometidos e empenhados com tais

    transformações.

    O XIII SIMPOSIO aconteceu em 2010 –  FORTALEZA. Noencontro foi feito uma avaliação de configuração do GT,

    acentuanado-se a característica de produzir conhecimento embasado

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    na fenomenologia existencial, sustentada no tensionamento teórico-

     prático, uma vez que todos compartilham a importância de

     pesquisas interventivas, inseridas em contextos públicos e privados,

    voltadas para a transformação das relações sociais ou dos modos

    existenciais restritivos do poder-ser humano. Tal processo exige um

    compartilhamento constante que sustente a angústia advinda da

    afirmação do singular nos contextos institucionais. Nessa medida,

    amplia-se a noção usual de instituição na direção de compreendê-la

    como todas as orientações gerais historicamente sedimentadas que

    estruturam os modos cotidianos impessoais de existência. A

    dinâmica de construção dessa proposta realiza-se por meio de

    encontros, parcerias e intercâmbios regularmente promovidos pelo

    grupo, resultando no desenvolvimento de práticas inovadoras em

    saúde e educação. Nessa direção, os objetivos propostos no

    Simpósio anterior foram revistos e formalizados: 

    Objetivos e propostas de trabalho definidas:

    Como objetivo principal, comum a todos os pesquisadores,

    mantém-se o compromisso do grupo em produzir conhecimentos

    tid t i t t d

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    historicamente instituídos de subjetivação e as dinâmicas de

    singularização da existência. Nesse sentido, pretende-se:

    1 - refletir sobre as pesquisas desenvolvidas no grupo,

    considerando em que medida os conhecimentos produzidos: a)

    têm colaborado na formação de profissionais compromissados com

    a transformação social em direção a uma sociedade mais justa e

    tolerante com as diferenças; b) como as instituições se apropriam

    das propostas que apresentamos; c) como as populações envolvidas

    respondem às nossas práticas; d) quais desafios, limitações e

    conquistas temos encontrado em nossas trajetórias;

    2 –  compreender as implicações dessas pesquisas no

    estabelecimento de redes e intercâmbios com os diversos setores da

    sociedade (órgãos gestores, instituições formais e informais de

    educação e saúde, representantes comunitários, profissionais e

    agentes de saúde e educação, entre outros).

    XIV SIMPOSIO –  BELO HORIZONTE, 2012

    Do ponto de vista teórico, foi possível notar uma certa hegemonia

    do pensamento de Martin Heidegger subsidiando a crítica de um

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    certo humanismo romântico, colocando em questão noções se

    sujeito e subjetividade igualmente românticas, no entanto, sem

    exclusão de outras leituras fenomenológicas e existencialistas, bem

    como de autores capazes de tensionar estas vertentes, como o caso

    de Friedrich Nietzche.

    A percepção desta pluralidade e destes tensionamentos levou à uma

    revisão que culminou com a proposição, na última reunião do GT

    no Simpósio de Belo Horizonte em 2012, de uma assunção positiva

    e construtiva desta pluralidade, buscando a constituição de um

    espaço mais amplamente interdisciplinar, no interior do espectro

    das fenomenologias. qualificar o GT, parece importante identificá-

    lo com os matizes fenomenológicos, com abertura para o diálogo

    com outras teorias: reafirmando seu caráter de lugar de interlocução

     para as pesquisas que realizamos e para o debate

    teóricometodológico no campo das práticas psicológicas em

    instituições de saúde e educação.

    XV SIMPOSIO –  BENTO GONÇALVES, 2014

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    A proposta, aqui apresentada para o Simpósio de 2014,

    consubstancializa mudanças decididas na direção de reforçar o GT

    como lugar de interlocução e criação de rede de saberes.

    Para qualificar o GT, parece importante identificá-lo com os

    matizes fenomenológicos, aberto a interlocuções com outras teorias:

    reafirmando-se como grupo de interlocução para as pesquisas que

    realizamos e para o debate teórico-metodológico.

    As mudanças tratam, por um lado, portanto, de retomar e afirmar

    vocações que estão na origem de sua fundação: partir do estudo das

     práticas para fazê-las tensionar a teoria e tomar as diferenças como

    oportunidade de enriquecimento e diálogo profícuo. Por outro,

    ensejam uma renovação da própria constituição do GT e de sua

    organização.

     No plano de sua constituição, houve a saída de quatro integrantes e

    o convite para a entrada de sete novos pesquisadores. Estes novos

     pesquisadores representam aberturas de diferentes teores: a leitura

    de autores de interesse para o GT, nomeadamente, Jean-Paul Sartre,

    Hannah Arendt, Michel Henry, Enrique Pichón-Riviére, Franco

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    Basaglia; o aprofundamento do diálogo entre psicologia e filosofia;

    o acesso a realidades sócio-culturais fora do eixo das capitais

     brasileiras; a continuidade em novos contextos do estudo das

    articulações entre práticas psicológicas e políticas públicas de saúde

    e educação.

     No plano da organização, pretendemos instalar a prática de enviar

    as comunicações sobre andamento de nossas pesquisas com

    antecedência para todos os participantes, para que possamos

    reservar o momento de encontro no Simpósio para s discussão das

    mesmas. O GT deve manter os encontros que realiza anualmente,

    reunindo seus pesquisadores, seus alunos e outros interessados,

    assim como as parcerias e intercâmbios regulares para ministração

    de cursos, condução de seminários de pesquisa, participação em

     bancas examinadoras, planejamento de publicações e realização de

     pesquisas coletivas.

    Concluindo, o grupo tem como foco as práticas psicológicas em

    instituições, configurando olhares e visões críticas ao paradigma

     positivista, a partir de perspectivas fenomenológicas com abertura

    i t l õ t b d t ó i B

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     populações às práticas estudadas; os desafios, as limitações e as

     potências gerados em suas trajetórias;

    2 –  compreendendo suas implicações no estabelecimento de redes e

    intercâmbios com os diversos setores da sociedade (órgãos gestores,

    instituições formais e informais de educação e saúde, representantes

    comunitários, profissionais e agentes de saúde e educação, entre

    outros).

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    CIRANDA TEMÁTICA I

    FORMAÇÃO PROFISSIONAL E POLÍTICA EM

    DIÁLOGO COM O PENSAMENTO DE FRANCOBASAGLIA E HANNAH ARENDT

    1.1 NOTAS REFLEXIVAS ACERCA DAFORMAÇÃO PROFISSIONAL E DO TRABALHOEM EQUIPES DE SAÚDE

    Profª Drª Barbara Eleonora Bezerra Cabral

    Professora adjunta do Colegiado de Psicologia e do Colegiado dasResdiências Multiprofissionais em Saúde da Universidade Federal

    do Vale do são Francisco/Univasf. 

    Laboratório de Práticas Transdisciplinares em Saúde e Educação –  LETRANSE-mail: [email protected]

    Integrando a Ciranda Temática intitulada "Formação

     profissional e política em diálogo com o pensamento de Franco

    Basaglia e Hannah Arendt", a proposta de comunicação tem o

    objetivo principal de estimular o debate acerca da formação de

     profissionais de saúde –  dentre os quais, os psicólogos –  tendo em

    vista o desafio do trabalho em equipe. Pretende-se ressaltar,

    sobretudo, o caráter simultaneamente técnico e político da atuação

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    modos de discussão da teoria, na insuficiente articulação teórico-

     prática, em práticas pedagógicas verticalizadas, dentre outros. Tais

    aspectos dificultam a possibilidade de intervenções atravessadas

     pela integralidade e pela articulação dos representantes dos diversos

    núcleos profissionais, quando se deparam com as

    demandas/necessidades das pessoas nos territórios “vivos”. Em

    função disso, o país tem experimentado iniciativas de reorientação

    da formação profissional, induzidas por programas como o Pró-

    Saúde, PET-Saúde e VER-SUS, que se centram na proposta de

    aproximação ensino-serviço, valorizando a realidade das redes

     públicas de atenção à saúde.

    A pesquisa proposta teve como um dos seus principais

    resultados a necessidade de ampliação da própria questão-bússola,

    que não pôde ser sustentada em sua intenção de compreender a

     prática de psicólogos em equipe. Como um dos efeitos produzidos a

     partir da cartografia das práticas das equipes NASF, tornou-se

    determinante discutir o trabalho em equipe, para além das

    especificidades nucleares, ainda que tenha se mantido a

    compreensão que cada núcleo profissional resguarda singularidades

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    e particularidades. Borrar tais fronteiras disciplinares foi se

    caracterizando como uma atitude demandada no cotidiano de

    cuidado.

    Outro “achado” que remete ao que de fundamental a

     pesquisa revelou –  ou, quiçá, tenha simplesmente reafirmado –  foi a

    compreensão da potência do trabalho em equipe como produçãocoletiva, pela via da ação transdisciplinar, tecida como algo

     possível, acessível, transformada em ato pelos profissionais no

    encontro entre si e com os próprios usuários que recorrem aos

    dispositivos de cuidado. Cabe, então, caracterizar tal ação

    transdisciplinar mais propriamente. O trabalho em equipe precisa

    extrapolar a simples soma de diversos olhares e perspectivas, pela

    valorização do encontro entre profissionais de diferentes áreas, com

    compartilhamento do(s) projeto(s) de atenção em saúde e

    elaboração de modos de cuidado/intervenção que decorrem da

    invenção e construção conjunta.

    Desse modo, a principal direção emergente –  como sentido –  

    foi a de que os encontros constituem fontes primordiais de produção

    e criação de novos modos, estratégias, métodos: aí residiria o

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    fundamental da aposta trans. O “ pulo do gato” no trabalho em

    equipe é puro movimento e processo, em busca constante de

    consistência e afinação, aspectos que se constroem coletivamente e

    são passíveis de contínuas recomposições.

    A aposta trans não cabe nas prescrições, passando pela

    criação na hora, em ato e incorpora contornos próprios em cadacontexto, a partir dos encontros e misturas que ali ocorrem. É

    transpassada pela criação- poiesis, estando para além das

    especialidades –  embora não as negue – , caracterizando-se como

    inventiva e jamais prescritiva. Não cabe nas normatizações e

    implica, portanto, ousadia, transformação e, fundamentalmente, a

    sustentação de tensão, pelo exercício de borrar as fronteiras que sua

    ação põe em ato. Apenas pode se apoiar no hiato do que está

     prescrito, em meio ao inusitado das situações com que os

     profissionais se deparam na atenção à saúde. Momentos trans são,

    assim, possíveis e não devem ser engessados ou padronizados,

     porque se alimentam do inusitado.

    Essas circunscrições de um trabalho em equipe como

     produção coletiva, que parece se alinhar às demandas e

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    necessidades que são apresentadas aos profissionais nos contextos

    das redes públicas, não somente de saúde (e aqui se destaca a

    intersetorialidade como outra diretriz importante para uma atuação

     pertinente), apresentam questões diversas à formação desses

     profissionais. Então, retoma-se o fio condutor da comunicação-

     provocação: que modos seriam próprios e pertinentes para o

    engendramento de processos formativos que possibilitem aos

     futuros profissionais uma margem alargada de trânsito e produção

    de cuidado nas redes? 

    Compreende-se que os ensaios de respostas a questões como

    essa deverão ser múltiplos e distanciados de perspectivas

    normativas, protocolos, regras ou modos rígidos de intervenção,

    enfim, “modelos”, em geral, idealizados. A própria palavra

    intervenção comporta em seu seio a invenção, entre humanos.

    Entretanto, assumir tal atitude enquanto formador ou profissional

    destoa dos “imperativos” contemporâneos, com raízes em séculos

    anteriores, matizados por perspectivas disciplinares, de controle, de

    dominação, de normatização, que assumem “novas” roupagens

    como a supervalorização da prática/conhecimento baseado em

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     proposta por Benevides (2005) ao refletir sobre a prática de

     psicólogos no SUS.

    De Hannah Arendt, serão resgatadas: a perspectiva de ação,

    como constitutiva dos humanos, destacando-se seu sentido

    originário de “iniciar”, e reflexões acerca do governar e executar

    (Arendt, 2001), além do conceito de banalidade do mal (Arendt,1993; 2013), a partir de que aprofunda compreensões sobre o

    exercício do pensamento como via possível –  apesar de todas as

    suas limitações –  de impedir catástrofes, pessoais, ou mesmo

    coletivas.

    Para finalizar esse resumo da proposta de comunicação-

     provocação, resgato mais uma vez um fragmento da tese: a garantia

    de espaços coletivos se revela como caminho auspicioso para possibilidades de ação transdisciplinar como produção coletiva,

    sendo crucial o investimento na expansão da habilidade de

     sustentar a tensão, que continuamente virá à tona no contexto da

    atenção à saúde. Para tanto, torna-se imprescindível o exercício de

    comunicação entre integrantes das equipes, pela disponibilidade de

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    Arendt, H. (2013) Eichmann em Jerusalém. São Paulo:Companhia das Letras.

    Basaglia, F. (2005) O circuito do controle: do manicômio àdescentralização psiquiátrica. In: Franco Basaglia. PauloAmarante (org.). Escritos selecionados. Rio de Janeiro:Garamond, 237-257.

    Benevides, R. (2005). A psicologia e o sistema único de saúde:quais interfaces? Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, ago.17(2), 21-25.

    Ceccim, R. (2008) Equipe de saúde: a perspectiva entre-disciplinar

    na produção dos atos terapêuticos. In: Roseni Pinheiro; RubenAraújo de Mattos (orgs.). Cuidado: as fronteiras daintegralidade. 4 ed. Rio de Janeiro:IMA/CEPESC/ABRASCO, 261-280.

    Cabral, B. E. B. (2011) Sustentando a tensão: um estudo

    genealógico sobre as possibilidades de ação transdisciplinarem equipes de saúde. 185 f. Tese (Doutorado em Psicologia).Programa de Pós-Graduação em Psicologia. UFES, Vitória-ES.

    Larrosa, J. (2002) Notas sobre a experiência e o saber deexperiência. Revista Brasileira de Educação. Campinas, 19,20-28.

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    1.2 DESINSTITUCIONALIZAÇÃO COMOCONCEITO FERRAMENTA PARA AS PRÁTICAS

    EM SAÚDE MENTAL

    Profª Drª Maria Inês Badaró Moreira

    Professora do Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletivada Universidade Federal de São Paulo –  Baixada Santista.

    Responde pelo Módulo de Saúde Mental e supervisiona estágios emSaúde Mental para o curso de Psicologia; Professora do Módulo deProdução de Narrativas para o Eixo Comum dos cursos do Institutode Saúde; Professora da disciplina Saúde Mental e Saúde Coletiva

     para a Pós-Graduação da UNIFESP-BS e está na equipe de tutoria edocência da Residência Multiprofissional em Rede de Atenção

    Psicossocial da Unifesp –  Baixada Santista.

    E-mail: [email protected]  

    Esta comunicação se insere na roda de conversa "Formação

     profissional e política em diálogo com o pensamento de Franco

    Basaglia e Hannah Arendt". Tem como objetivo principal

    apresentar contribuições da perspectiva desinstitucionalizante para a

    formação de psicólogos a partir do pensamento de Franco Basaglia.

    Trata-se de trabalho em andamento e vivido como processo,

    colocado em análise no sentido de partilhar e constituir possíveis

    i l õ A dif iê i l d d

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

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     para isso é fundamental o compartilhamento de conhecimentos

    vindos das diferentes fontes e formas de organizar o que saber/fazer

    das pessoas. Assim, apontamos para a necessidade de formação de

     profissionais da saúde que consigam atuar com o sofrimento como

    um fenômeno complexo, que busque um fazer clínico pautado na

     produção coletiva e no protagonismo dos usuários.

    Serão apresentadas ações de ensino, pesquisa e extensão 

    em que diferentes protagonistas são convidados para proposição e

    composição de ações de ensino-aprendizagem em saúde mental que

    faça sentido para os usuários do serviço, seus familiares e busque

    atingir a comunidade em que vive. Ao assumir a perspectiva

    desinstitucionalizante, estas experimentações de práticas e ideias

     podem promover o deslocamento necessário da tríade

    doença/tratamento/cura que tem sustentado as ações em saúde em

    direção de espaços de encontro e convívio com o

    sofrimento/existência/projeto de vida.

    Este relato apresenta e coloca em análise algumas

    experimentações e vivências, em desenvolvimento, que pretendem

    liti ã d áti d id d ti d

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    formação, em busca de possíveis caminhos de superação da

    distância entre atuação profissional e política.

    Os preceitos e a experiência Italiana são direcionamentos de

    experimentações e definem a abertura para o encontro com o

    homem, distanciando dos rótulos que ele carrega. Assim, ao

    trabalhar com a perspectiva da desinstitucionalização, compreende-

    se que um fazer clínico é também político na medida em querequer

    que o trabalho terapêutico seja voltado para a reconstituição de

     pessoas, como sujeitos de suas histórias.

    Palavras-chave: Formação do Psicólogo; Saúde Mental;

    Desinstitucionalização; Franco Basaglia, Sofrimento psíquico.

    Referências

    BASAGLIA, F. Psiquiatria alternativa: contra o pessimismo darazão, o otimismo da prática. São Paulo: Ed. Brasil Debates, 1982.

    BASAGLIA, F. A instituição negada: relato de um hospital psiquiátrico 3. ed. São Paulo: Graal, 1985.

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    1.3 O PENSAMENTO DE FRANCO BASAGLIA E A

    FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE

    Profª Drª Maria Luisa Sandoval Schmidt 

    Professora Titular da Universidade de São Paulo-USP

    [email protected]

    A presente comunicação faz parte da roda de conversa com

    título "Formação profissional e política em diálogo com o

     pensamento de Franco Basaglia e Hannah Arendt". Tem como

     propósito chamar a atenção para contribuições do pensamento de

    Franco Basaglia na esfera da formação de profissionais de saúde.

    Trata-se de análise do texto do autor, em co-autoria com Franca

    Basaglia Ongaro, chamado "Los crímenes de la paz" que está nolivro por eles organizado "Los crímenes de la paz: investigación

    sobre los intelectuales y los técnicos como servidores de la

    opresión".

    A análise permite compreender os comprometimentos éticos

    e políticos de intelectuais e técnicos do campo da saúde mental e

    deles derivar uma série de problemas postos à formação destes

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    enfermeiros e a centralidade da prospecção das necessidades da

     população usuária de serviços de saúde mental como organizador

     potente de ações politicamente comprometidas com a emancipação.

    Palavras-chave: Profissionais de Saúde; Sociedade; Saúde Mental;

    Política; Ética; Franco Basaglia.

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    Dentre as diversas formas de participação nessa nova

    configuração em que se constrói a psicologia destacamos as práticas

     psicológicas clínicas em instituições. O plantão psicológico tem

    sido uma dessas práticas que vem encontrando um espaço cada vez

    mais amplo de desenvolvimento articulando fundamentalmente três

    características que consideramos importantes: a democratização ao

    acesso aos serviços de psicologia; a rediscussão dos modelos

    técnicos de intervenção e a dimensão de uma ação ética na medida

    em que possibilita pensar o cuidado como acontecimento

    transformador em seu tempo próprio de transformação.

    Será sobre essa última dimensão que iremos focar nossa

    reflexão, pois se a princípio o plantão parece se sintonizar com a

     premissa de um tempo histórico líquido (Bauman, 1998), no qual

    tudo frui em um desfacelamento incessante e impossibilitador de

    constituição de sentido e significado próprios, será justamente no

    sentido oposto que postulamos sua ação.

    A partir de uma leitura fenomenológica existencial o plantão

     psicológico configura-se como uma modalidade da prática

     psicológica que se caracteriza principalmente por se constituir em

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    uma intervenção em situação de crise. Dito de outra forma, uma

    forma de inter(in)venção que se dá como espaço/tempo de

    acolhimento do sofrimento humano e ao mesmo tempo espaço de

    instauração de outro modo de estar-no-mundo tão original a ponto

    de implicar a afirmação de novas formas de produção de sentido e

    significado, ou seja, um acontecimento afirmativo do modo de ser

    cuidado.

     Nossa experiência mais significativa com o plantão se deu

     por meio da prática do plantão psicológico na Delegacia

    Especializada no Atendimento a Mulher (DEAM). Realizamos

    uma pesquisa nas DEAM’as de Petrolina-PE e Juazeiro-BA

    (Lima,2012), na qual foi possível compreender que por se dar em

    uma instituição que lida com a violência esta esteve de alguma

    forma atravessando o saber-fazer do plantão.

    A intervenção principal do plantão foi o modo de ser plantão

    em que os plantonistas se dispõe em situação de plantão. A abertura

    ao encontro, a escuta atenta e sensível, embora sejam fundamentais

     para a ação do plantão não são suficientes para garantir uma forma

    de relação na qual a usuária do plantão pode desprender-se da

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    vivência de impotência advinda da violência e se ligar ao encontro

     potencializador do trânsito entre o ôntico e o ontológico ali na

    situação do plantão.

    A possibilidade de acompanhar a usuária no plantão a partir

    de uma postura inter(in)ventiva na qual a linguagem se desprende

    de uma dimensão cotidiana e passa se constutuir como clareira(Heidegger, 2002). Na e pela linguagem o novo irrompe como

    eminentemente outro para aquele que fala. Estar atento para

    apreender com o outro esse “novo sentido” que emerge do seu

    linguajar cotidiano parece remeter a um acontecimento que permite

    que cuidando com-o-outro faça que o usuário-cuide-de-si.

    A dimensão inesperada, a quebra dos chamados settings

    tradicionais, o desprendimento do tempo cronológico são condiçõesque geralmente estão presentes em um encontro do plantão. Desta

    forma será justamente essa abertura ao incerto que o plantão pode

     possibilitar a instauração de espaço criativo para construção de

    novo começo próprio, originário para aqueles que o procuram. A

    dimensão do acontecer originário permite a criação de espaços para

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    a transformação daqueles que se encontram no plantão, mesmo que

    esse seja um encontro único.

    Portanto, reside nessa condição a dimensão ética do existir

    em situação de crise, ou seja, um momento intenso no qual ruptura

    e recomeço se fazem presentes como possibilidades vivas que

    encontra no inusitado do encontro com desconhecido a sua aberturaacontecimental e quanto a esta não há controle ou predição por

     parte do plantonista apenas o acompanhar cuidadoso do se mostrar

    do encontro. A essa forma de estar-no-mundo no encontro nos

    inclinamos chamar de acontescência do cuidado.

    Palavras-chave: Plantão psicológico; acontescência; cuidado;

     prática clínica.

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    2.2 EXPERIENCIA DE PLANTÃO PSICOLÓGICOEM HOSPITAIS, UNIDADES DE CUIDADOS

    PALIATIVOS E NO LABORATÓRIO DE ESTUDOSSOBRE A MORTE

    Profª Drª Maria Julia Kovács

    Professora Livre Docente do Instituto de Psicologia da USP

    E-mail: [email protected]

    O plantão psicológico se configura como espaço de

    acolhimento e escuta da demanda de quem nos procura para

    esclarecer o caminho percorrido pelo cliente até o momento. É um

    espaço para aprofundar a experiencia de sofrimento e também as

    formas de lidar com situações de conflito em sua vida, como

    apontam (Breschgliari et.al, (2013). Mahfoud (2013) refere que o

     plantão psicológico é o momento em que a pessoa pode se

    confrontar com sua vida na presença de um plantonista, psicólogo

    ou estagiário, disponível para lidar com o desafio do que ainda não

    se conhece e que abarca uma diversidade de situações a serem

    conhecidas naquele momento.

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    Procuramos adaptar experiências de plantão psicológico em

    instituições com características diversas, valorizando sua ação como

     porta de entrada em locais onde acorrem pessoas gravemente

    enfermas e em processo de luto.

     Nos hospitais desenvolvemos o trabalho de plantão

     psicológico para funcionários de saúde, após experiência detrabalho com grupos vivenciais para enfermeiros e técnicos de

    enfermagem. Como apontamos (Kovács, 2010), o cotidiano dos

     profissionais de saúde frente à morte envolve escolhas difíceis,

    gerando estresse e conflito. Na mentalidade da morte interdita não

    se autoriza a expressão de emoções e dor, levando ao adoecimento e

    aumento dos casos de depressão, aumentando a incidência da

    Síndrome de Burnout entre profissionais de saúde. Não conseguir

    evitar a morte ou aliviar o sofrimento traz ao profissional a vivência

    de sua finitude. Estabelece-se relação entre sofrimento, colapso e

    luto não reconhecido entre profissionais de saúde, ao perderem

     pacientes com quem estabeleceram vínculos. O plantão psicológico

    foi proposto à equipe de enfermagen nas dependências de um

    hospital de ensino. Os grupos vivenciais tiveram procura pela

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    equipe, graças à organização da coordenação de enfermagem da

    instituição, liberando os profissionais para a atividade. Após a

    realização do grupo experiencial fizemos a proposta de plantão

     psicológico aos profissionais, aí como busca individual. Esta

     proposta não teve a mesma freqüência que os grupos, havendo

     pouca procura pelo plantão. Os plantonistas estavam numa sala no

    mesmo andar dos funcionários. Tentamos compreender o motivo

    desta pouca adesão possivelmente pelo fato do plantão ocorrer no

    local de trabalho dos funcionários e sua procura ser entendida como

    exposição do estado de sofrimento, que poderia ser mal interpretada

    na unidade. Um ponto de discussão sobre plantão psicológico em

    instituições é: como oferecer plantão psicológico no local de

    trabalho do funcionário. 

    Apresentamos a seguir o projeto de implantação de plantão

     psicológico para pacientes, familiares e profissionais de uma

    Unidade de Cuidados Paliativos. (Kovács, et al, 2001). Pacientes

    com câncer avançado apresentam vários sintomas incapacitantes,

    sendo o principal a dor. A família passa por estágios de adaptação,

    observando-se dificuldades na comunicação e isolamento. Os

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     programas de cuidados paliativos têm como foco o alívio e controle

    de sintomas, com ênfase na qualidade de vida e diminuição do

    sofrimento. O plantão psicológico oferece espaço de escuta

    favorecendo um acolhimento da demanda. Realizamos uma

     pesquisa com os seguintes objetivos: Estudar a implantação de um

    serviço de plantão psicológico em uma ala de cuidados paliativos de

    hospital de referencia em oncologia numa cidade do interior de São

    Paulo, descrevendo as necessidades dos pacientes, da família e da

    instituição; avaliar a proposta do plantão psicológico ouvindo a

    clientela beneficiária; elaborar um projeto de plantão psicológico

     para este grupo. Os dados foram coletados durante atendimentos

    quinzenais. Os temas trazidos pelos pacientes foram: dor nas

    dimensões física, psíquica, social, espiritual e distúrbios na

    comunicação. Para os familiares os temas foram: tristeza pela perda

    do paciente pelo adoecimento e futura morte, e distúrbios na

    comunicação. O plantão psicológico favoreceu: esclarecimento das

    necessidades, expressão dos sentimentos, facilitação de

    comunicação. Entre os aspectos a serem aprofundados observou-se:

    significado da doença, formas de enfrentamento das

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    facilitou a acolhida da demanda dos pacientes e familiares neste

    tipo de unidade possibilitando encaminhamento a recursos

    competentes. Vários pacientes e familiares (vistos como unidade de

    cuidados) se beneficiariam de um atendimento mais longo, sendo

    importante a presença do psicólogo como membro efetivo na

    equipe multidisciplinar de atendimento em programas de cuidados

     paliativos, bem como, uma rede de atendimento na cidade para a

    realização destes atendimentos. Entre os pontos a serem discutidos

    havia também a circunstancia de que os plantonistas (alunos de

    iniciação científica e eu como coordenadora) éramos da capital e o

    oferecimento do plantão era vinculado ao dia em que a equipe

    viajava até o hospital. No dia em que era oferecido o plantão

    atendíamos todos os interessados, configurando-se como plantão de

    encontro único, constituindo-se em espaço de acolhida e escuta. O

     plantão neste local envolveu as plantonistas em situações

    complexas em que o setting tinha que ser improvisado nos quartos e

    numa sala de estar do programa. Esta atividade de plantão

    infelizmente foi interrompida, pois o projeto foi encerrado. Foi

     proposta a continuidade do plantão com os profissionais do

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     pacientes, também tínhamos a perspectiva de compartilhar como os

    atendimentos dos pacientes com doença avançada sensibilizavam as

     plantonistas, ainda alunas de graduação.

    Apresentamos a seguir os atendimentos a pessoas enlutadas

    e com ideação suicida no Laboratório de Estudos sobre a Morte

    (LEM) no Instituto de Psicologia da USP. (www.lemipusp.com.br).Estes atendimentos se configuram como primeiro encontro, uma

    forma de plantão psicológico, em que abrimos a disponibilidade de

    escuta da demanda de quem nos procura. A partir deste primeiro

    atendimento e junto com o cliente combinamos encontros pontuais

    de orientação e esclarecimentos ou atendimento regular na forma de

     psicoterapia. Como atualmente o LEM conta com 4 participantes

     psicólogos disponibilizamos alguns horários de atendimento entre

    nós. Temos também uma lista de credenciados composto por ex-

    orientandos de mestrado e doutorado, que disponibilizam um

    horário gratuito para atender quem nos procura. Realizamos

    também plantão telefônico, ou por internet ajudando na busca de

    cuidados a pessoas vivendo situações de perda ou com ideação

    http://www.lemipusp.com.br/http://www.lemipusp.com.br/

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    suicida, bem como encaminhamento de bibliografia para estudantes

    e profissionais interessados.

     Nestas três modalidades apresentadas, o plantão psicológico

    demanda dos plantonistas o que foi ressaltado em alguns textos

    sobre plantão psicológico, destacando os escritos por Mahfoud

    (2012, 2013) e Schmidt (2004) e o trabalho que há anos é realizadono Serviço de Plantão Psicológico ( SAP) fundado por Rachel

    Rosenberg. Em 2013 a equipe do SAP elaborou o capítulo “Plantão

    Psicológico em Centro Escola, tradição, reinvenções e rupturas”

    (op. cit)em que traçamos a trajetória do plantão psicológico no

    Serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia

    da USP, com as transformações promovidas desde a sua fundação.

     Neste artigo discutem-se formas de atendimento vinculadas às

    demandas da clientela, que atendemos. O que permanece invariável

    em todas as modalidades de atendimento apresentadas é a

    disponibilidade para escuta do plantonista, esclarecimento da

    demanda e do sofrimento de quem nos procura. Mais do que

    oferecer caminhos, busca-se traçá-los junto com o cliente.

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    Palavras chave: plantão psicológico, instituições de saúde,

    sofrimento humano, Laboratório de Estudos sobre a Morte.

    Referências

    Breschliari J.O. Eisenlohr, G.V.; Fujisaka, A P; Kovács, M.J.;

    Rocha, M.C & Schmidt, M.L. (2013). Plantão psicológico emCentro-Escola. In: M.A.Tassinari; A.P.S. Cordeiro & W,T.

    Durange.(Orgs). Revisitando o plantão psicológico centrado na

     pessoa. Curitiba, Editora CRV, 61-82.

    Kovács, M.J. (2010). Sofrimento da equipe de saúde no contexto

    hospitalar. Cuidando do cuidador profissional. Mundo da Saúde,

    (impresso), v.34, 420429.

    Kovács, M.J.; Kobayashi, C.; Santos, A.B.B. & Avancini, D.C.F.

    (2001). Implantação de um serviço de plantão psicológico numa

    unidade de cuidados paliativos. Boletim de Psicologia, 51(114),01-22.

    Mahfoud, M (2012). A vivencia de um desafio. In: M. Mahfoud

    (Org.) Plantão psicológico. Novos horizontes. São Paulo,

    Companhia Ilimitada, 17-29.

    Mahfoud, M. (2013). Desafios sempre renovados: plantão

     psicológico. In: Tassinari, M.A Tassinari; A.P.S Cordeiro. &

    T.G. Durange (Orgs). Revisitando o plantão psicológico

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    Schmidt, M.L. Plantão psicológico, universidade pública e política

    de saúde mental. Estudos de Psicologia, Campinas, v.21, n.3,

     p.173-192, setembro/dezembro 2004.

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    mais avançada tecnologia, aqui incluído o arsenal

     psicofarmacológico; em seguida, pelos mais variados tipos de

    terapia, incluindo aí aquelas originárias dos Centros Acadêmicos

     bem como aquelas que surgem por modismos e misticismos de todo

    gênero.

    Pressionado a assumir responsabilidades crescentes nummundo em permanente e rápida mudança, o “indivíduo incerto”,

    como definido por Ehrenberg (1999; 2004), e fragmentado de nossa

    contemporaneidade, mergulha na fadiga, insônia, ansiedade,

    indecisão, assimiladas a um quadro de depressão, que se naturaliza

    como modo de ser e de estar-no-mundo. Tornam-se cada vez mais

    f requentes na clínica demandas de um sujeito que “refere um agir

    compulsivo, desinibido, destituído de culpam cujas narrativas estão

    repletas de lamentações que ambicionam o encontro triunfal com o

     bem-estar supremo” (Lemos, Rodrigues e Monteiro, 2014, p.33). É

    dentro deste quadro de eterna busca por um “estado de melhora”,

    que este estudo se insere, procurando entender os modos de

    desvelamento do sofrimento psíquico na contemporaneidade, sua

    relação com uma demanda pela psicoterapia e, sobretudo, a

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     possibilidade de uma prática clínica contemporânea vocacionada

     para o acolhimento destas demandas para promoção de saúde.

    Como bem nos lembra Rebouças e Dutra “o mundo contemporâneo

    demanda novas formas de conhecimento, busca um paradigma não

    mais baseado numa verdade universal, mas em múltiplas verdades,

    constituídas a partir da singularidade do ser humano, do seu

    contexto e de sua história” (2010, p.3). 

    A psicologia clínica contemporânea nos coloca diante de

    situações imprevisíveis que põem em questão nossas teorias e

     práticas. Tendo como base analisadora uma perspectiva

    fenomenológica existencial, este estudo pretende problematizar as

    novas enunciações do sofrimento psíquico no contexto

    contemporâneo e a modalidade clínica do plantão psicológico como

    uma prática comprometida com a emergência de novos sentidos.

    Uma prática que precisa, na atualidade, estar voltada para a

    singularidade se (re) inventando, ousando, arriscando, enfim, em

    movimento e em permanente construção. Assim, partimos do

     pressuposto que a uma prática clínica comprometida com a

     promoção de saúde não pode estar circunscrita em um único saber

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    ou ser compreendida a partir de uma única lógica. O plantão

     psicológico favorece a experiência na qual o psicólogo se apresenta

    como alguém disposto, presente e disponível e não apenas como

    detentor do conhecimento técnico. E isto seria um estar junto, um

    inclinar-se na direção sofrimento, deixando-se afetar para

    compreender. “A proposta do plantão é aceitar manter -se junto com

    o cliente no momento presente, na problemática que emerge,

     promovendo uma melhor avaliação dos recursos disponíveis,

    ampliando, assim, seu leque de possibilidades”. (Rebouças e Dutra,

    2010, p.5). Assim, podemos partir da premissa de que a

    contemporaneidade tem demandado uma postura clínica

    multiprofissional e transdisciplinar.

    O sofrimento psíquico nesse contexto do contemporâneo

    deve ser pensado como um fenômeno entrelaçado ao nosso viver,

    assim como a busca incessante por meios de atenuar tal sofrimento.

    A História da Medicina, da Psiquiatria e da Psicologia tem nos

    apontado a universalidade do sofrimento psíquico, as diferentes

    representações que o tema adquiriu, bem como a incansável busca

    das diversas práticas terapêuticas que se produziram no sentido de

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    apaziguar, ou mesmo curar, as inúmeras formas de expressão do

    sofrimento. Entretanto, temos observado que desde a modernidade,

    especialmente no século XX, o discurso sobre o sofrimento

     psíquico tem impregnado a vida cotidiana de maneira inédita,

    revelando-se objeto de uma grande preocupação social, política e de

    saúde mental. Revistas de grande circulação, acadêmicas ou não,

    têm procurado elucidar o público sobre esta questão. A preocupação

    está também nas universidades que vêm produzindo,

    sistematicamente, uma discussão profícua sobre o tema (Giovanni,

    1980; Lefèvre, 1991; Pignarre, 1999; Birman, 2001, 2002, 2013;

     Nascimento, 2003; Solomon, 2002). Quais as razões desta situação?

    Quais transformações sociais engendraram tamanho relevo aos

     problemas psíquicos? Neste contexto, atualmente, a interface entre

    questões sociais e questões mentais parece ser de tal ordem que se

     pode conceber a emergência de uma nova linguagem e de um novo

    espaço de representação em torno da noção de sofrimento psíquico.

    As discussões sobre sofrimento psíquico têm mobilizado

     pesquisadores nas mais diferentes áreas e nossa inquietação se

    configura em torno da possibilidade de analisar os diferentes modos

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    de enunciação do sofrimento psíquico na contemporaneidade a

     partir da hipótese geral de que numerosas doenças e problemas da

    sociedade se apresentam atualmente sob o termo “Sofrimento

    Psíquico” e passam a propor soluções em termos de “saúde

    mental”, mais especificamente, em termos de uma intervenção

    medicamentosa. Assistimos a uma crônica patologização da vida

    cotidiana. Um fenômeno que parece estar transformando situações,

    antes consideradas naturais de serem enfrentadas durante a vida, em

    episódios que merecem ser tratados e solucionados por um conjunto

    de saberes ávidos em responder os dilemas do existir humano.

    De maneira sistemática esquecemos que o sofrimento é

    constitutivo da condição humana. Adotamos a premissa de que é

     proibido sofrer. De modo mais radical podemos supor que vivemos

    uma sensação generalizada e aguda de que a vida, tal como se

    apresenta, incerta, imprevisível, vulnerável, efêmera, não pode ou

    deve ser boa o suficiente. Tal ideologia estabelece uma condição de

    eterna busca por um bem-estar inatingível, por uma certa imunidade

    ao sofrimento, por uma receita de prolongamento da juventude e

     possibilidade diária de felicidade.

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    Trata-se de um horizonte histórico de sentido que revela de

    modo crescente a experiência generalizada da inquietude, do