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Anais Uel 2015

Jul 07, 2018

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Diogo Silva
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    No entanto, Rago, ao analisar os jornais anarquistas do período, ressalta a presença feminina na organização e no discurso operário. Essa presença que autoraaponta não é só na resistência explicita (as trabalhadoras têxtis que foram às ruas em

    1917), mas a resistência cotidiana, lembrando que os questionamento dessas mulheresultrapassam a condição de trabalho, questiona-se a própria construção da mulher(RAGO, M.1985).

    Percebemos que encontrar um fio único para as manifestações éimpossível, pois elas se constituíram de fatores diferenciados e difusos. A colaboraçãode Margareth Rago foi importante por destacar que as estratégias anarquistas buscavamintervir em problemas que iam para além do campo econômico (o que, regra geral, não

    era muito não valorizado pelas análises marxistas de orientação ortodoxa), elesquestionavam toda a estrutura burguesa, inclusive a moral familiar, como sabiamentedestacou Rago.

    Kazumi Munakata também salienta a intensa influência anarquista nasgreves de 1917, desde sua proliferação anterior (1904). O autor se destaca aoestabelecer uma relação entre o anarquismo e o liberalismo, como já visto, ele afirmaque ambos não queriam a intervenção do Estado nas relações de trabalho, entendiam, o

    trabalho como acordos privados. Assim, Munakata ressalta a importância dessasideologias libertárias nas greves e principalmente, estabelece os ganhos dessasmanifestações.

    O autor afirma que um dos principais ganhos dessas grandes greves foi omaior controle das relações de trabalho, o exemplo disso foi a criação das tabelas eregulamentos que muitos trabalhadores estabeleceram (MUNAKATA, K. 1984). Aestratégia desses trabalhadores, segundo Munakata, era de criar associações de

    trabalhadores, de determinado oficio e estabelecerem normas e regras a serem seguidas pelas empresas, naquele determinado trabalho (MUNAKATA, K. 1984). A principalregra estabelecida por essas associações/comissões operárias estava relacionada aosalário e às condições de trabalho.

    Essas associações eram responsáveis principalmente pelo mercado detrabalho, pois eles mediavam as contratações, assim, se um patrão não cumprisse asnormas daquele sindicato de oficio, dificilmente ele conseguiria contratar mão de obra(MUNAKATA, K. 1984, pág.19).

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    Assim, Munakata afirma que o sindicato é de certo modo aceito pelos patrões, e esse sucesso se deve à organização e mobilização constante dos trabalhadores,além de resolverem os conflitos sem a intervenção do Estado (anarquistas e sua

    resistência ao Estado), e também os modos de assistência social, como as caixas deauxilio em caso de acidentes, atraíram os trabalhadores (MUNAKATA, K. 1984).

    Desse modo, o autor também desconstrói o mito da “infantilidade” daclasse operária antes de 1930, ao apresentar os diversos modos de resistência implícitose explícitos, que garantiram alguns ganhos para os trabalhadores, principalmente, apósas grandes manifestações de 1917.

    Acreditamos que uma das fontes que mais contribuiu aqui para ressaltar

    os próprios aspectos nacionais nessas grandes greves, foi o trabalho de Silvia Magnani(MAGNANI, S. 1982). Como já enfatizado, o trabalho da autora ainda retrata umatendência teórica dos anos anteriores à década de 1980.

    A autora ao apresentar a teoria da “planta exótica”, visa desconstruir aideia da resistência operária como importada. Essa teoria muito difundida pela eliterepublicana, entendia que o anarquismo veio totalmente de fora, pois o brasileiro é“cordial”, os estrangeiros são os “culpados” (MAGNANI, S. 1982, pág.17). O trabalho

    de Magnani é fundamentado em destruir esse mito e provar que a situação econômica e política do Brasil daquele período era fértil às ideias libertárias. A autora ressalta que;

    [..] os comportamentos políticos do operariado, ainda quecontraditórios entre si ou ambíguos, seriam explicitados pelaconfiguração social; o anarquismo teria correspondido a certosaspectos da configuração social, não permanecendo a transposição deum ideário político-ideológico europeu (MAGNANI, S. 1982, pág.29).

    A autora entende, desse modo, que no período da Primeira República ostrabalhadores não tinham nenhum tipo de representação (em um sentidoinstitucionalizado, como já nos habituamos atualmente), e aceitaram as liderançasanarquistas, principalmente, por serem operários também, diferentemente de muitoslíderes socialistas, que não eram operários.

    Essas organizações operárias, segundo Magnani eram difusas, como seevidenciou nas greves, devido, como já abordamos ás diferenças entre os setores

    econômicos e regiões, entretanto, a autora salienta um aspecto novo ao estabelecer o

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    paternalismo oligárquico como uma das causas da debilidade operária naquele período(MAGNANI, S. 1982, pág.31).

    Entretanto, ela salienta eu os industriais também eram subordinados as

    oligarquias, ou seja, também não possuíam forte representatividade, sendo assim, aautora aponta que a classe operária na Primeira República era débil, mas os industriaistambém não se constituíam em uma força política representativa (MAGNANI, S. 1982).

    Magnani se aproxima de Kazumi Munakata ao afirmar que estesanarquistas aceitavam a constituição liberal dos direitos individuais e, desse modo,lutavam contra o patronato e não contra o Estado. Destaca-se que, a autora não entendeisso como algo negativo, mas como parte daquele processo histórico, a especificidade

    do Brasil, devido às políticas oligárquicas e ao preconceito com os imigrantes, fizeramcom que tais anarquistas lutassem mais por direitos e reformas do que a própriadestruição do Estado, como na Espanha e na Itália (MAGNANI, S. 1982).

    A autora descreve que a organização anarquista já influenciava as grevesde 1907 em São Paulo, por meio da ação direta e não havia intervenção do Estado parao diálogo, somente uma intervenção repressiva. Essas manifestações já exigiam a jornada de oito horas. Essa exigência além de dar o tempo do lazer aos trabalhadores,

    também diminuiria o desemprego, já que aumentariam os turnos. No entanto, osindustriais alegaram que os países desenvolvidos ainda não tinham aprovado essa jornada, e também isso aumentaria os preços dos produtos, recusando as exigências, queseriam retomada mais tarde em 1917.

    Desse modo, Magnani conclui em seu trabalho que teoria anarquistaencontrava confirmação na organização estatal brasileira, principalmente, por meio das políticas oligárquicas e repressivas que não permitiam a participação operária na

    política institucional. Magnani ressalta que não se deve invalidar a influênciaanarquista, afirmando ser ela uma mera importação de ideias, pois a exclusão política,social e cultural dos trabalhadores lhes proporcionaram a difusão de ideais libertários. Etambém, seguindo o raciocínio de De Decca (DECCA Edgar, S. 1979), não se podeconsiderar esses anarquistas como “vencidos” ou “perdedores” já que não almejavam participar das relações políticas institucionalizadas, mas, destruí-las.

    O historiador Francisco Foot Hardman (HARDMAN, F. 1984), ao focarseus estudos sobre a cultura da classe operária, entende que concomitante as práticas de

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    resistência anarquista, a burguesia também criou estratégias de controle, portanto, oautor, assim como Magnani, também ressalta os aspectos específicos da sociedade brasileira, segundo ele;

    O mutualismo foi virtualmente soterrado pela luta de classes: a classeoperária, sob a influência anarco-sindicalista, desenvolveu as ligas deresistência e sindicatos de ofícios vários; a burguesia, através doEstado e da Igreja, tomava iniciativas no campo da filantropia e do paternalismo assistencialista (HARDMAN, F. 1984, pág.33).

    Assim, ele entende que a própria classe é definida em determinadosentido histórico, e possui formas nacionais especificas, e como veremos, isso nãosignifica que as relações com o “internacional” seja descartada.

    Hardman, assim como Magnani ressalta que o anarquismo era umaideologia que se reafirmava na realidade brasileira, principalmente, devido à segregaçãosocial, cultural e até geográfica dos operários, ou seja, não havia nenhum tipo derepresentatividade reconhecida pelos patrões (HARDMAN, F. 1984, pág.60).Entretanto, diferentemente de Silvia Magnani, Hardman destaca as vilas operárias como parte desse isolamento e segregação dos trabalhadores, sendo assim, os trabalhadoresrurais vivenciavam a dominação estratégica das oligarquias, e os trabalhadores urbanos,também vivenciavam diferentes estratégias de controle da burguesia, entre elas, as vilasoperárias. Entende-se a vila operária como estratégia de controle tendo que ela segregao operário, já que ela se localiza no mesmo local de trabalho, a distribuição dostrabalhadores nesses espaços também supõe uma lógica disciplinar (a igreja, a escola e omercado, tudo no mesmo local, evitando que o operário tenha que sair de sua vila).

    A contribuição de Francisco Hardman é notável, pois o autordiferentemente dos demais aqui apresentados, estuda as práticas culturais de resistência,entendendo que a cultura está intrínseca as resistências políticas e sociais. O autor paraexemplificar isso se utiliza dos exemplos das festas e festivais organizados pelosoperários, que tinham o propósito de propaganda, arrecadação de fundos para amanutenção dos jornais e escolas e claro, para ressaltar os vínculos e práticas culturais(HARDMAN, F. 1984).

    Entretanto, o autor problematiza esses aspectos culturais e afirma queessa “cultura” anarquista não pode ser entendida como algo puro e próprio da classe,

    pois é notável seu paradoxo entre o separatismo e a assimilação. Sendo que, ao mesmo

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    tempo que se diferenciavam por meio do teatro e das publicações em jornais, essasfestas foram se tornando populares, não apenas anarquistas, desse modo, o autorentende que mesmo sendo contraditória, é importante reconhecer a influência dessas

    tendências na formação e construção das manifestações que ocorreram durante toda aPrimeira República.

    Assim, percebemos que a classe, como já afirmou Thompson, não é algoestável ou imóvel, ela se estabelece no processo de luta, e a cultura, muito criticada edesvalorizada por análises marxistas, está intrínseca as organizações de resistência, serelacionando com os fatores econômicos, sociais e políticos, ele ainda afirma que, comodizia Michelle Perrot, “a greve é também uma festa” (HARDMAN, F. 1984, pág.193).

    Acreditamos que a principal contribuição de Francisco Hardman para acompreensão das manifestações de 1917, está em entender essas greves para o além doeconômico e do político, mas também atentar para o cotidiano e as práticas culturais dostrabalhadores, ou seja, uma gama de fatores inter-relacionados. Portanto, a partir dasvilas operárias, por exemplo, se consolidava as experiências em comum e estabeleciamdiferentes relações, tanto de resistência, quanto as de sujeição à classe dominante.

    Entendemos que a organização documental feita pelos professores Paulo

    Sérgio Pinheiro e Michael Hall (PINHEIRO, P. & HALL, M. 1981), constitui umimportante acervo para o estudo do período e possibilita aos pesquisadores do tema,uma melhor compreensão do período estudado e, inclusive, a melhor percepção dosmotivos que levaram estes trabalhadores a desencadearem as maiores greves do Brasil.Os autores, como já mencionados, apresentam farta documentação sobre as condiçõesde vida, as organizações, a resistência e sobre as greves que ocorreram durante todo o período recortado, demonstrando o caráter espontâneo27 de algumas greves e outras

    mais organizadas e planejadas, pois a organização operária não é homogênea.A organização documental demonstra, na maior parte, as denúncias deexploração e os modos de vida dos trabalhadores rurais e urbanos. As denúncias maisfrequentes são principalmente em relação a habitação e a falta de direitos em relação aossalários, pois não há ninguém que garanta o cumprimento das garantias básicas dostrabalhadores (PINHEIRO, P. & HALL, M. 1981).

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    Utilizo o termo espontâneo para referenciar estes movimentos em sua especificidade de organização –dispersa-, pois era um período de construção de um movimento, não acabado.

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    Os autores apresentam um artigo que relata justamente isso que estamosafirmando, é um artigo do anarquista Gigi Damiani publicado em 1920 em São Paulo;

    Mas não há juízes ali? Existem sim, e até demais; mas eles são

    simples empregados do Estado e o cargo que ocupam é dado a eles de presente pela oligarquia que domina, ou pelos fazendeiros que osinvestiram do poder de dar ordens ao carcereiro, justamente paramandar na prisão os próprios inimigos, os próprios adversários e oscolonos que não achassem do seu próprio agrado os usos e oscostumes medievais da fazenda; usos e costumes que vão da juscosciandi,à compensação negada, às chicotadas e ao tiro de carabinaque alcança os que desertam do feudo (PINHEIRO, P. & HALL, M.1981, pág.294).

    Esse artigo apresentado pelos autores, exemplifica uma parte das revoltasdos trabalhadores na Primeira República, nesse caso, especificamente, dos anarquistasque tecem críticas e fortes denúncias em seus jornais.

    Assim, as relações de trabalho especificas da sociedade brasileira que sedestacava pela forte produção agrícola e pelo nascimento do capitalismo industrial, proporcionaram modos singulares de exploração, como já bem falamos das relações

    oligárquicas.Desse modo, os autores apresentam discursos que se contrapõem,

    contribuindo assim para uma compreensão mais ampla das relações e fatores que serelacionam.

    Considerações finaisEsses autores, como já afirmamos, buscaram demonstrar que as

    manifestações ocorridas em 1917 e que continuaram até 1921, foram frutos de problemas específicos da sociedade brasileira daquele período, não significando que,deve-se excluir a influência internacional do bolchevismo (posterior a 1917), mas sim,reconhecer que não foram apenas importações de ideias, sejam elas anarquistas ousocialistas, mas todo o complexo político, econômico, social e cultural brasileiro deu“vida” a esses pensamentos e utopias.

    REFERÊNCIAS:

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    DECCA, Edgar Salvadori De.1930: O silêncio dos vencidos.Editora Brasiliense, SãoPaulo, 1981.HARDMAN, Francisco Foot.Nem Pátria, Nem Patrão! Vida operária e cultura

    anarquista no Brasil.Brasiliense, São Paulo, 1984.HEBLING, Cristina Campos.O sonhar libertário: movimento operário nos anos1917 a 1921.Editora Pontes (Unicamp), São Paulo, 1988.MAGNANI, Sylvia Lang.O movimento anarquista em São Paulo (1906-1917).SãoPaulo, Brasiliense, 1982.MUNAKATA, Kazumi.A legislação trabalhista no Brasil.Editora Brasiliense, SãoPaulo, 1984 (Coleção Tudo é história).

    PAOLI, Maria Célia.Os trabalhadores urbanos na fala dos outros: tempo, espaço eclasse na história operária brasileira.Encontro da Associação Brasileira deAntropologia, Rio de Janeiro (UFRJ), 07/10/1982.PINHEIRO, Paulo S. & HALL, Michael M.A classe operária no Brasil.Condições devida e de trabalho, relações com os empresários e o Estado (1889-1930),Vol.II.Brasiliense, São Paulo, 1981.RAGO, Margareth L.Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar, Brasil 1890-

    1930.Editora Paz e Terra, São Paulo, 1985.

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    A CRÍTICA A IMIGRAÇÂO CHINESA NO BOLETIM “A IMMIGRAÇÂO” E A DISCUSSÃO DO IMIGRANTE IDEAL

    Arthur Daltin Carrega (Mestrando no Progr. de pós-grad. em História. UNESP/Assis)

    Orientador: Prof. Dr. Paulo Cesar GonçalvesPALAVRAS-CHAVE: IMIGRAÇÃO CHINESA – SOCIEDADECENTRAL DEIMIGRAÇÃO – IMIGRANTE IDEAL.

    A Sociedade Central de Immigração (SCI) foi fundada no Rio de Janeiro,em outubro de 1883 motivada pela iminente transição da mão de obra nos latifúndios,decorrente do processo de abolição da escravidão, e pela grande quantidade de terrasdevolutas ou improdutivas ainda encontradas no país. Foi fundada por três importantesimigrantes germânicos, os alemães Carl von Koseritz (1830 – 1890) e Herman OttoBlumenau (1819 – 1899) e ainda o austríaco Hugo Grubber. Fundaram a Sociedade sobo discurso de que os estadistas, capitalista e proprietários brasileiros desconheciam asvantagens da imigração europeia e as desvantagens do latifúndio, assim se dispuseram alutar para que esta tese se formasse em todo país.28

    O projeto imigrantista da SCI tinha duas etapas bem definidas. (1)transformar o Brasil para que o país tivesse condições de receber imigrantes europeus egarantir a eles a possibilidade do progresso exclusivamente por meio de seu trabalho.(2) Convencer os europeus por meio da propaganda a escolher o Brasil como sua nova pátria.

    Para os integrantes da Central o desejo de emigrar estava ligado a uma criseeconômica e social na Europa, a qual não permitia que os camponeses e trabalhadoresrurais realizassem o sonho de adquirir uma pequena propriedade e retirar dela seu

    próprio sustento. Assim defendiam a tese de que para garantir o fluxo imigratórioespontâneo e constante, e por consequência a ocupação dos territórios devolutos noBrasil, seria necessário garantir aos imigrantes o acesso à pequena propriedade e ascondições politicas e jurídicas para que este obtivesse o progresso.

    O projeto descrito acabou derrotado e não teve força suficiente para alterar alei de terras de 1850 que permitia a concentração fundiária e continuou sendo um

    28 HALL, Michael M. “Reformadores de classe média no Império Brasileiro: A Sociedade Central de

    Imigração”. Revista de História. São Paulo, ano XXVII, v. LIII, 1976. p. 148.

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    obstáculo à obtenção de terras a baixo custo.29 No entanto as discussões e reflexões daSCI a respeito da formação da nação chamam a atenção pela presença de importanteshomens do período e pela discussão em torno do progresso e da nação, ainda em

    formação.Foi composta principalmente por profissionais liberais urbanos da cidade do

    Rio de Janeiro, mas atuou através de sociedades filiais em outras províncias do Brasilcom destaque para o Paraná e o Rio Grande do Sul. Os principais líderes eram: OescritorAlfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, ouVisconde de Taunay (1843 –1899), respeitado escritor e politico influente, ocupou cargos parlamentares e chegou aser presidente de província no Paraná, onde procurou valorizar a politica de fundação de

    núcleos coloniais defendidas pela SCI. André Pinto Rebouças (1848 – 1898), já muitoconhecido por opiniões radicais dentro do movimento abolicionista e devido àsretaliações que sofreu de senhores de escravos, antes mesmo da fundação da Sociedade.Henrique Beaurepaire Rohan (1812 – 1894), primo de Taunay e primeiro presidente daSCI, conhecido pelo trabalho como militar.30 Podemos destacar ainda José Américo dosSantos, também engenheiro. Ferreira de Araújo, que era jornalista e Wenceslau deSouza Guimaraes, presidente do gabinete português de Leitura e diretor da SCI.

    Eram influenciados por teses científicas ligadas ao positivismo de AugustoComte (1798 – 1857), o qual acreditava no progresso da humanidade dependia daevolução das ciências. Eram influenciados ainda pelo darwinismo social e peloevolucionismo de Hebert Spencer (1820 - 1903), que aplicou teorias naturais de CharlesDarwin (1809 – 1862) a análises da sociedade e pelo determinismo de Henry ThomasBuckle (1821 – 1862), historiador britânico autor de Historia da Civilização Inglesa(1857),que propôs uma analise histórica com atenção exclusiva para dados estatísticos.

    As influências intelectuais e a grande presença de estrangeiros europeus, oufilhos de europeus, no quadro de membros da SCI permitem mostrar que a Sociedadecorroborou com o discurso mais conhecido do período de que a civilização estaria maisdesenvolvida do outro lado do atlântico. Acreditavam que se fosse desencadeado um

    29 MESQUITA, Sergio Luiz Monteiro. A Sociedade Central De Imigração E A Política ImigratóriaBrasileira (1883-1910). Dissertação de Mestrado de programa de pós-graduação em História daUniversidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, setembro de 2000. p. 175.

    30HALL, Michael M. “Reformadores de classe média no Império Brasileiro: A Sociedade Central de

    Imigração”. p.148.

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    processo de imigração europeia para o Brasil o desenvolvimento material, social ecultural seria atingido naturalmente, pois o gosto pelo trabalho na lavoura e o desejogarantir sustento a família já seriam parte da cultura dos imigrantes.

    Nesse sentido é possível identificar quem a Sociedade Central deImmigração considerava como “imigrante ideal” para o desenvolvimento do seu projeto, ou seja, para a formação da “grande nação” brasileira, desenvolvida material,cultural, econômica e socialmente. Apostavam no imigrante europeu, que conhecesse otrabalho na lavoura e migrasse espontaneamente, para isso deveria ser atraído ao país pelas condições de prosperidade oferecidas.

    Para atrair esse imigrante a SCI propunha uma serie de mudanças nas leis e

    nas estruturas do país, que podemos dividir em dois grandes campos de discussão: Oacesso à propriedade privada e as garantias das liberdades individuais. No primeirocampo temos a proposição de alterações na lei de terras de 1850, que seria responsável por aumentar o acesso a pequena propriedade e desestimular a posse de grandes propriedades. Para a Central as terras deveriam ser loteadas e vendidas a preçosacessíveis e os impostos deveriam ser cobrados de acordo com o tamanho da terra. Éinteressante ressaltar que a terra para a SCI deveria ser transformada em um atrativo

    para os imigrantes europeus, que já cruzaram o atlântico em busca de melhorescondições de vida.

    O segundo campo seria responsável por garantir ao imigrante as liberdadesindividuais para ser aceito socialmente no Brasil e assim compor a sonhada nação proposta. Temos que lembrar que o país estava em um período de transição da mão deobra escrava para a livre, e ainda eram muito destacados na sociedade os valores moraisdos tempos de colônia. Assim era necessário transformar as leis de forma que elas

    também atendessem a esse novo elemento identificado: o trabalhador livre.Sobre este tema a SCI propôs um projeto que garantisse aos imigrantes aliberdade religiosa, propondo a promulgação da lei do casamento civil e dasecularização dos cemitérios. A revogação da lei de locação de serviços de 1871, queavaliavam permitir muitas arbitrariedades ao senhor de terras. Para a SCI o imigrantedeveria ter garantido ainda a escolha do lote que seria comprado, a província e a culturaque decidisse plantar.

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    Nesse sentido fica clara a importância que teria a propaganda a serdesenvolvida internamente e externamente. A primeira responsável por desenvolver adiscussão a respeito da figura do imigrante, do trabalho livre e dos problemas nas leis

    do país que pudessem ser obstáculos para a imigração espontânea. A segunda,desenvolvida na Europa, deveria ser fiel e bem desenvolvida, buscando valorizar a produtividade do solo, o clima favorável, a receptividade do povo, e as normas jurídicasliberais. Evidentemente que esta segunda etapa só seria possível caso as transformações politicas propostas fossem atendidas. No primeiro boletim publicado este projeto ficaclaro no estatuto:

    “ Art. 2.° A medida que os seus meios o permittirem, encarregar-se-ha asociedade:§ 1° De fundar e manter nesta corte um escriptorio de informações aosimmigrantes, que os aconselhará e guiará na escolha do seu destino,fornecendo-lhes todos os esclarecimentos necessários e fiscalisando também por parte da sociedade o tratamento que os colonos recebam a bordo dosnavios que os conduzem ao paiz, a sua accommodação e tratamento nahospedaria official desta corte, seu transporte para as provincias, collocação,etc.§ 2.° De influir, quer pelo uso do direito de petição, quer pela imprensa, querfinalmente pelas relações e posição dos seus membros, afim de seremdecretadas todas as reformas necessárias para que o estrangeiro ache umaverdadeira pátria no Brazil, sendo tomadas todas as medidas precisas para arecepção e collocação de immigrantes, medindo-se terras em extensãosufficiente, etc.[...]§ 4.o De crear, logo que for possível, um grande órgão de propaganda nesta

    corte, para formar opinião no paiz e exercer conveniente influencia sobre amarcha das cousas publicas em relação á immigração européa.§ 5.° De, finalmente, quando houver meios para isso, promover propagandadirecta nos paizes da Europa, que melhores immigrantes forneçam.”31

    Sobre as principais transformações politicas propostas pela SCI destacam-se: A mudança na lei de terras, já citada. O latifúndio é inclusive considerado pelaCentral como um dos símbolos do atraso brasileiro. A revogação da lei de locação de

    31 A immigração. Reimpressão dos boletins nº 1 ao nº 4. p. 1.

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    serviços de 1871, que era considerada em alguns casos uma “escravidão branca”. A promulgação da lei do casamento civil, ainda inexistente no Brasil poderia afastar osimigrantes não católicos que pretendiam emigrar e pelo mesmo motivo religioso a

    secularização dos cemitérios.As transformações propostas e os serviços de imigração que seriam

    disponibilizados teriam a função de atrair esse imigrante ideal o qual a sociedade seinteressava. É importante notar que o imigrante ideal não é apenas o europeu, masaquele que estaria disposto a contribuir para a formação da nação brasileira.

    Acreditavam que os europeus teriam um perfil mais próximo ao que procuravam. É importante perceber ainda que os imigrantes pretendidos seriam os que

    chegassem de maneira espontânea e que migrassem com a família, pois esta seria agarantia do trabalho e das intenções de permanência.

    A SCI em muitos casos buscava debater a figura desse imigrante nas paginas do boletim. Tentavam mostrar a ideia do imigrante que chegava com intençõesde formar no Brasil sua nova residência, contrariando a visão majoritária de políticos ede latifundiários brasileiros que acreditavam que os imigrantes chegavam com intençõesde enriquecer e voltar à terra de origem. Taunay, em discursos na câmara dos deputados

    e posteriormente no senado do império defendia a tese de que se fossem garantidas ascondições de progresso do imigrante, ele não teria mais vontade de deixar o país, teriaaqui justamente o que procurava quando emigrou. Em discurso na assembleia dodeputados publicado no boletim numero 6 em outubro de 1884 Taunay afirmou:

    “Si esse homem vem da Europa, foi pela esperança das vantagens que poderia auferir, em vista dos salários promettidos, que lhe pareceramsufficicntes em relação ao pouco que recebia no seu paiz.

    Uma vez aqui, verificado o seu engano, quer o nobre deputado que elle ousiga para a cadeia, ou então desembolso dinheiro, cousa que do certo não possue, pois que si emigrou foi para ganhar aquillo que não tinha?”32

    Através deste discurso a SCI considerava seu projeto verdadeiramente patriótico e as ideias receosas quanto à dignidade do imigrante europeu e suas pretensões no Brasil chamavam de “nativismo”, que podemos entender como uma

    32 A Immigração. Boletim número 6. pag. 2.

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    acusação de falso patriotismo, sobre as diferenças entre os termos Taunay refletiu no boletim numero 10, de abril de 1885.

    “Nada mais contrario ao progresso real das novas nações americanas do queo sentimento tamanho e pernicioso, que os pensadores do séculodenominaram nativismo e muitos ainda confundem com patriotismo [...]O nativismo o a mescla de obsoletos e ridículos preconceitos dos tempos passados e bárbaros e da ignorância dos factos de hoje; o patriotismo, aoenvez traz a consideração sensata o justa das necessidades da terra natal, quer

    sejam de ordem material, quer moral.” 33

    É interessante pensar ainda que a SCI não pretendia separar as naçõeseuropeias que migrassem, apesar de reconhecer as diferenças entre elas, tinham aintenção de ocupar os núcleos coloniais fundados de maneira aleatória e promovendo a propaganda de todos em todos os países europeus que disponibilizassem imigrantes. Aformação da nação aqui seria desenvolvida pelo ensino do português e pela integraçãoentre esses povos que aconteceria de maneira natural e em longo prazo.

    Nesse sentido a SCI criticou duramente a proposta da imigração chinesa,

    que também surgiu no contexto de debates para a solução do problema da mão de obra.Homens importantes do período chegaram a discutir a hipótese e considerar como ummeio eficaz e barato, como Quintino Bocaiúva (1836 – 1912), conhecido jornalista queatuou posteriormente no processo de proclamação da republica de 1889. Para Bocaiuva,os imigrantes asiáticos tinham contribuído significativamente para o progresso decolônias da Inglaterra e da França, chamava a atenção ainda para regiões do Peru, NovaGranada e União Americana34.

    No entanto, mesmo aqueles que consideravam os “chins” como opção paraocupar o trabalho deixado pelos escravos temiam as divergências culturais. Os chineseseram considerados “pior que os negros”, “sem amor ao trabalho”, “entregues ao viciodo ópio”, “atrasados intelectualmente”, “cultivavam hábitos anti-europeus”35.

    33 A Immigração. Boletim número 10. pag. 2.

    34 COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 5º edição. São Paulo: UNESP, 2010. p. 181

    35

    GONÇALVES. Mercadores de Braços: Riqueza e Acumulação na Organização da EmigraçãoEuropéia ao o novo mundo. 2008.p. 162.

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    As propostas de imigração chinesa podem ser entendidas como intermediariaentre a manutenção da escravidão e o trabalho livre, já que aceitariam salários mais baixos. Maria José Elias, em comunicação citou varias experiências com a introdução

    de trabalhadores chineses no país, que acabaram sendo consideradas pouco satisfatórias,o que também foi usado como argumentos contra esta opção.36

    Integrantes da SCI estão entre os principais opositores ao projeto da imigraçãochinesa, acreditavam que os asiáticos eram de natureza “corrupta e débil” e que apesarde parecer uma opção viável aos grandes produtores de café devido ao baixo custo desua contratação, em longo prazo seria responsável por afastar o imigrante europeu, poisreduziria consideravelmente os salários, que estariam entre os principais objetivos dos

    imigrantes europeus.37

    “Teria ainda muito que dizer, mais precisa ser breve. Aliás o assumptointeressa de perto o fim principal da reunião, pois o contraria de frente.Bastará, com effeito, o simples annuncio de que os chins vão ser importados para o Brazil, para que a Europa cesse qualquer movimento emigralorio. É preciso contar com isto. Uma cousa exclue radicalmente a outra, de maneiraque, enquanto a Republica Argentina, como muito bem ponderou o Sr. Carlos

    do Koseritz, estiver innoculado em suas veias sangue generoso, forte, vivo,enérgico, receberemos nós para companheiros da grande obra nacional osdecrépitos fiilhos do Celeste Império!Já o disse, mas repetirá : o chim afugenta irremediavelmente o immigranteeuropeu, o aniquilla, do mesmo modo que a moeda fraca expulsa a forte e afaz desapparecer. Em outra ordem de considerações, mas nodesenvolvimento da sua these, prova o Sr. Escragnolle Taunay que oexemplo dos Estados Unido tem servido no espirito daquelles que nosdirigem, para medidas precipitadas e quasi absurdas em alguns dos seus

    resultados.”38

    36ELIAS, Maria José.Os debates sobre o trabalho dos chins e o problema da mão de obra no Brasildurante o século XIX. p. 698.

    37 A immigração. Reimpressão dos boletins nº 1 ao nº 4. p. 4.

    38 A immigração. Reimpressão dos boletins nº 1 ao nº 4. p. 4.

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    No trecho é possível identificar ainda a origem dos argumentos de Taunay.Ele se baseia em exemplos dos Estados Unidos, que são citados muitas vezes nas paginas do boletim estudado. Para a SCI a imigração europeia foi a principal

    responsável pelo desenvolvimento nacional que o país norte americano teve ao longo doséculo XIX.

    Em um texto publicado no boletim numero 3, Taunay apoia suaargumentação em um relatório do estado da Califórnia e em um comentário do entãosenador,Frank Morrison Pixley (1825 – 1895):

    “Leam-se os relatórios do Rev. Otis Gibson, do Dr. II. Poland, de David

    Woods; lea-se o pro-cesso da commissão nomeada no Congresso Americanoe apresentado a 17 de Fevereiro de 1876, e ficar-se-ha horrorisado da possibilidade de abrir-se o Brazil a semelhante gente, qualquer que seja ocaracter em que venha, já simples e miseráveiscoolies. sujeitos a castigoscorporaes, já imigrantes livres, como pomposamente querem agoru desfarçaraquelles mesmoscoolies.De 40.000 chins, disse o senador Pixley que ha em S. Francisco, 10.000 sãovagabundos e criminosos e 10.000 entregam-se á prostituição.”39

    No texto Taunay faz um apelo aos senhores terras que procuravamalternativas para a solução da escassez na demanda da mão de obra, para que nãooptassem pelo chinês, que seriam facilmente contratados e não gerariam altos custos.Para Taunay a imigração chinesa acabaria por destruir o projeto principal da SCI aoafastar o imigrante europeu e assim a possibilidade de formar uma “grande nação”.

    Outras criticas, como a de Enês de Souza, denunciavam o caráter semi-servil do projeto da imigração chinesa, usando termos como “segunda escravidão” ou“escravidão disfarçada”, afirmava ainda que os chineses representariam “machinasvivas de trabalho”, logo não teriam intenções de progresso e seriam facilmenteexplorados pelos proprietários das terras. Em ata o autor propõem “repelir a praga”, pois“Na obra da regeneração nacional o chim é um mal, um grande mal, pois continua umaviciosíssima disposição que cumpre combaterá todo o transe”.40

    39 A immigração. Reimpressão dos boletins nº 1 ao nº 4. p. 9.

    40 A immigração. Reimpressão dos boletins nº 1 ao nº 4. p. 3.

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    A imigração chinesa acabou fracassando e a partir de meados dos anos 80do século XIX as referencias aos trabalhadores asiáticos diminuíram nos boletins daSCI. Ganharam muito mais destaque as questões referentes aos problemas decorrente

    das formas de contratação pelos produtores paulistas e os problemas decorrentes ascondições jurídicas e politicas a que os imigrantes estariam sujeitos.

    Apesar de não ser o principal problema debatido pela Sociedade Central deImmigração no boletim A Immigração, as reflexões sobre os trabalhadores chineses esobre a cultura chinesa merecem alguma atenção. Para Taunay e outros escritores do boletim os chineses não seriam capazes de conduzir a nação ao projeto patriótico e progressista que tinham em mente. Pautados de teorias cientificas classificavam a

    humanidade em raças e colocavam os europeus em uma condição de superioridade.Assim concluímos que os europeus eram preferidos pela Sociedade, graças a

    uma condição natural e cultural favorável. Esse estrangeiro, já teria o desejo deenriquecimento e do progresso pessoal. Se colocado em condições adequadas,conduziria o Brasil ao progresso material e social assistido nos Estados Unidos nasdécadas anteriores.

    REFERÊNCIAS:Boletim A Immigração. (1883 a 1891). Periódico. Disponível em:

    COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 5º edição. São Paulo: UNESP, 2010ELIAS, Maria José.Os debates sobre o trabalho dos chins e o problema da mão deobra no Brasil durante o século XIX. In. Anais do VI simpósio nacional dos professoresuniversitários de história:Trabalho livre e trabalho escravo. Goiânia. 1971. Euripes

    Simões de Paula (org.). ANPUH. São Paulo 1973. pp. 697 – 715.GONÇALVES, Paulo Cesar. Mercadores de Braços: Riqueza e Acumulação naOrganização da Emigração Européia ao o novo mundo. Tese de doutoramento. SãoPaulo: FFLCH/USP, 2008.HALL, Michael M. Reformadores de classe média no Império Brasileiro: A SociedadeCentral de Imigração. Revista de História. São Paulo, ano XXVII, v. LIII, 1976. pp.147 – 171.

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    MESQUITA, Sergio Luiz Monteiro. A Sociedade Central De Imigração E A PolíticaImigratória Brasileira (1883-1910). Dissertação de Mestrado de programa de pós-graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro,

    setembro de 2000.

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    A ECONOMIA COLONIAL BRASILEIRA E SEUS INTÉRPRETESCaio Cobianchi da Silva (História – UEM)Denis Carlos Moser Ieni (História – UEM)

    PALAVRAS-CHAVE: BRASILCOLONIAL. CAIOPRADOJÚNIOR. JOÃOLUÍSFRAGOSO.

    INTRODUÇÃOEste artigo tem como proposta, para além de realizar uma discussão

    bibliográfica referente ao Brasil colônia, analisar alguns pensadores do período colonial.Buscaremos entender como, a partir de variados pressupostos – políticos e/ou teóricos –esses pensadores caracterizam seu modelo econômico. Dentre os autores escolhidos para análise estão Caio Prado Júnior, por oferecer uma visão que foi predominante e pouco contestada pelo menos até a década de 1980, e também João Luís Fragoso,expoente de um historiografia que vem repensando as perspectivas mais tradicionais.Além disso, trouxemos para o debate a interpretação de Laurêncio de Jesus, porconsiderarmos dissonante das anteriores.

    Enquanto analisamos a perspectiva de Caio Prado Júnior a partir de sua relaçãocom o posicionamento político do autor, optamos por analisar os demais autores a partir

    de suas bases teórico-metodológicas. O resultado é o de três propostas diferentes entresi. Por vezes, a colônia é inserida em um regime capitalista, por vezes, em umaeconomia pré-capitalista, ou então considerada simplesmente como economia colonial.Tais considerações refletem contradições empíricas, mas também teórico-metodológicase políticas. Objetivamos assim demonstrar como o período colonial vem sendo pensadoe repensado e como o trabalho historiográfico é construído no trato dessa temática.

    CAIO PRADO JÚNIORO historiador Claudinei Magno Mendes (online) procura examinar como a

    historiografia brasileira tratou do debate entre Caio Prado Júnior e o Partido ComunistaBrasileiro (PCB) acerca das relações de natureza feudal e semifeudal na América portuguesa. Ao trabalhar com essa questão, o autor fornece certo procedimento para seentender a interpretação caiopradiana da história do Brasil.

    Caio Prado Júnior questionava a interpretação dos comunistas, segunda a qual o

    Brasil da segunda metade do século XX se encontrava em fase de superação das

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    relações de natureza feudal ou semifeudal, rumo ao capitalismo. Tal ideia decorria danoção de que todos os países atravessariam as etapas formuladas por Karl Marx:comunidade primitiva, escravidão, feudalismo, capitalismo e socialismo. Para Prado Jr.,

    a economia brasileira era essencialmente mercantil e voltada para o mercado externo, portanto, sendo totalmente o inverso de uma economia feudal, que teve sua decadência justamente quando neste tipo de economia introduziu-se o comércio (MENDES,online).

    Segundo Mendes, a historiografia utilizou do antagonismo entre Caio PradoJúnior e o PCB para inseri-los em posições totalmente opostas. Enquanto o intelectual paulista é visto de um prisma positivo do qual concebeu o marxismo de uma forma

    criativa, adaptando-o às condições brasileiras, o Partido Comunista, por sua vez,inserido em um quadro inverso ao caiopradiano, é apresentado de uma forma negativa, pelo fato de conter uma concepção dogmática do marxismo, “que resultou naformulação de uma interpretação esquemática e mecanicista da história do Brasil”(online, p. 200).

    Mendes ao analisar a historiografia indica “que seus procedimentos impedem acompreensão das razões que levaram tanto o Partido Comunista como Caio Prado

    formular suas interpretações” (online, p. 201). Tais interpretações não teriam emanadode suas concepções de marxismo, mas da maneira como encaravam o capitalismo.Enquanto o Partido Comunista considerava o capitalismo uma etapa necessária para odesenvolvimento das forças produtivas e, por isso mesmo, considerava-o de uma perspectiva positiva, Caio Prado acreditava que “era necessário reformar o capitalismoe, com isso, impedir ou atenuar os conflitos para que não descambassem para a luta declasses e para a radicalização, o que beneficiariam apenas os setores dos revolucionários

    do movimento operário (MENDES,online, p. 209-10).Percebe-se, assim, que a afirmação da existência, ou inexistência, de umanatureza feudal no Brasil decorria da forma com que seus intérpretes se posicionavam politicamente diante de questões contemporâneas. Todavia, a aparente contraposiçãonão pode esconder a proximidade de seus postulados. Junto à noção de feudalismo noBrasil está implícito que o mesmo não poderia encaminhar-se diretamente para osocialismo, “postulava-se a necessidade de uma revolução democrático-burguesa pararemover os obstáculos que impediam o desenvolvimento do capitalismo, para, aí sim,

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    num futuro mais ou menos remoto, propor a revolução socialista”. Também Caio PradoJúnior elaborou uma interpretação na qual se consubstanciava a ideia de que era preciso,antes de propor o socialismo, cumprir uma etapa intermediária (MENDES, 2013, p.

    208).Desta forma, para compreendermos a interpretação caiopradiana acerca da

    história brasileira, acreditamos ser necessário refletir sobre sua postura política diantedos eventos presentes. Na obraFormação do Brasil contemporâneo, o historiadorencontra no período colonial o ponto chave para a sustentação de sua argumentação.Para Prado Jr. (1961), seria preciso entender o período colonial e o que dele resultou para se compreender a formação do Brasil contemporâneo (do século XX).

    Já nos primeiros parágrafos da obra (1961, pg. 5-6), Caio Prado assinala que oinício do século XIX representava o resultado da colonização e início de um processoessencial para se entender o Brasil contemporâneo. Um processo de renovação, quesignificava os primeiros passos para o estabelecimento de uma economia autônoma.Vale notar que, para o historiador, o processo de transformação ainda não havia secompletado em seus dias, ou seja, não houve uma ruptura brusca com o passadocolonial. Exemplo disso é que instituições que se constituíram no período de

    colonização, como o trabalho forçado, a produção extensiva destinada ao mercadoexterno, consequentemente, um mercado interno deficiente e as relações de classe decunho colonial, ainda estavam presentes em sua época (1961, pg. 6-7). Com isso, oautor expõe elementos que permitem caracterizar o molde Brasil colônia pensando noque devia ser superado e nas transformações desejadas.

    Para Caio Prado (1961) a história do Brasil possuía um sentido, consequênciados desdobramentos da história europeia, que era atender às necessidades comerciais

    externas ao próprio país. O comércio, portanto, era visto como eixo central da históriacolonial. Atentemos-nos ao excerto a seguir, onde o historiador expõe sua concepção:

    As colônias existem e são estabelecidas em benefício exclusivo dametrópole; êste benefício se realiza pela produção e exportação, paraela, de gêneros de que necessita, não só para si própria, mas paracomerciar com o supérfluo no estrangeiro; que, finalmente, o povoamento e organização das colônias deve subordinar-se a taisobjetivos, e não lhes compete se ocuparem em atividades que nãointeressam o comércio metropolitano. Admite no máximo, mas comoexceção apenas, a produção de certos gêneros estritamente necessários

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    à subsistência da população e que seria impraticável trazer de fora(PRADO JR., 1961, pg. 120).

    Desta forma, teria se estabelecido no Brasil um ambiente voltado àsnecessidades alheias. Caio Prado o caracteriza, sobretudo a partir da efetivaescravização negra, como formado em larga escala por grandes unidades produtorascom muitos trabalhadores subordinados a ela (1961, pg. 23). Grande propriedade,monocultivo e trabalho escravo eram as instituições que melhor caracterizavam o período colonial.

    Concluímos que o ponto de partida da análise de Caio Prado é a relaçãoconflituosa entre Metrópole e colônia; a divergência de interesses entre os agentes dos

    dois lados do Atlântico; a ideia de exploração da colônia; a ênfase na produção voltada para fora e na dependência do mercado externo. Essa análise assume um caráter dedenúncia na medida em que o historiador defendia a consolidação do mercado interno brasileiro via intervenção estatal. O passado colonial era visto como sinônimo de atrasoe precisava ser superado, portanto, seu posicionamento político de conflito com ocapitalismo liberal, ou mesmo com o socialismo, o levou a compreender a história doBrasil de uma forma específica, que era a da transição de uma economia colonial para

    uma economia autônoma.

    LAURÊNCIO DE JESUSLaurêncio de Jesus critica as interpretações de autores como Caio Prado Júnior,

    Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Roberto Simonsen e, sobretudo, CelsoFurtado, as quais, em suas palavras “são trabalhos de natureza historiográfica, nos quaisse verifica que os homens, que são a própria essência da história, não se fazem

    presente” (1994, p.14).Para entendermos essa afirmação é preciso verificar os pressupostos sobre os

    quais o autor aborda a própria história. Apoiando-se em Aristóteles, parte da premissade que “existe adequação do homem ao mundo e este (mundo) concretiza-se pelas reaisnecessidades da existência dos próprios homens” (1994, p. 98). Se pensarmos na jámencionada análise de Caio Prado, veremos que ao trabalhar com osentido dacolonização, o historiador está considerando que a economia brasileira ao voltar-se ao

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    mercado externo não atende às reais necessidades do homem colonial, ou seja, não háuma adequação do homem à sua realidade, contrariando os postulados de Aristóteles.

    Tais críticas tomam mais corpo ao se direcionarem a Celso Furtado. Para Jesus,

    Celso Furtado, em razão de seu posicionamento político, considerou que a economiaagrário-exportadora brasileira era responsável pelo atraso do país em relação aosdemais. Isso porque, dada as relações econômicas desiguais estabelecidas entre os polos, a Metrópole enriquecia a custa da colônia. Desta forma, o historiador teriasubordinado o processo histórico à sua concepção política e econômica dedesenvolvimento, considerando que a economia brasileira transitaria de um capitalismoincipiente para um capitalismo industrial, o qual o próprio Furtado buscava fomentar.

    Analisando teóricos liberais como Adam Smith, John Locke entre outros, Jesus procura demonstrar que seus valores estavam presentes no Brasil e que, portanto, acolônia estava alinhada aos países europeus, comercializando de igual para igual.Observa-se que tanto para Furtado quanto para Jesus, o Brasil estava inserido em umcontexto capitalista, contudo, se para o primeiro o progresso da nação só ocorreriaquando a economia se voltasse para dentro, para o segundo, os homens coloniais jáatendiam, ou buscavam atender, suas reais necessidades de vida.

    O capitalismo, para Jesus, seria a forma de produção que se erguia contra aanterior - feudal -, questionando a relação entre poder e improdutividade mantida pelanobreza. A riqueza e a posse de terras agora provinham do trabalho e não mais dodireito divino. Uma vez que o trabalhador conseguiu acumular riqueza, não mais produzindo para a subsistência, pôde iniciar relações de troca com seus iguais. Assim,“compreende-se como sendo uma forma social nova essa sociedade na qual os homens produzem e trocam livremente suas mercadorias. A necessidade dessa nova forma de

    trabalho e da troca identifica-se como sendo o modo pelo qual a existência humana serealiza” (1994, p. 92). Jesus reconhece que tal ordem não surgiu de forma homogênea por toda parte, vejamos:

    Na metade do século XVI já estão maduras as condições para que ocapital mercantil se imiscua na produção. As relações de produçãometropolitanas não deixavam grande margem à sua ação. Dentro doterritório nacional português, a aristocracia dividia o poder com a burguesia mercantil, gerando uma conciliação que impedia arenovação no campo e o desabrochar de relações capitalistas de

    produção. Entretanto, a burguesia tinha as mãos livres para agir forade Portugal. O mundo colonial seria seu campo de ação. Neste espaço

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    econômico a burguesia estaria livre das interferências políticas esociais das outras classes existentes no território metropolitano(FIGUEIRA; MENDESapud JESUS, 1994, p 146).

    Observa-se, assim, que o autor considera a colônia como o espaço encontrado pela burguesia para cumprir sua função, local onde pôde atender suas exigênciashistóricas e suprir suas necessidades por meio das relações capitalistas (1994. 146-7).Disso decorre que os sujeitos históricos residentes na colônia expressavam amentalidade capitalista, como se vê, por exemplo, em Antonil, para quem o serreconhecido como senhor do engenho na sociedade burguesa requeria cabedal (capital).

    O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque trazconsigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. E se for, qualdeve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasilo ser senhor de engenho, quanto proporcionalmente se estime ostítulos entre os fidalgos do Reino (ANTONILapud JESUS, 1994, p.147).

    Contudo, apesar de comparação entre a estima em ser senhor de engenho nacolônia com a de ser nobre em Portugal, ambas as posições não eram equalizadas,“porquanto a nobreza permanece em Portugal sob a inércia e a burguesia mercantil

    completa a transformação da sociedade em sociedade capitalista ao constituir a classedos senhores de engenho”, cuja função seria extrair sobretrabalho e trocar o açúcar pormercadorias do mercado mundial (1994, p. 147-8). Nota-se ainda que “Antonil procuraincutir no senhor de engenho os hábitos de moderação, economia, dedicação à produção, tratamento igualitário em relação aos vizinhos e outros homens livres a eleligados, etc., que são os hábitos da burguesia laboriosa e não os da nobreza ociosa”.(1994, p. 148-9).

    Outros indícios de que o senhor de engenho era reflexo da sociedade capitalistaseria o fato de que, se o nobre se caracteriza pela sua hereditariedade e considera otrabalho degradante, o senhor de engenho vivifica suas forças através do trabalho (1994, p. 149). Gorender elucida ainda melhor essa diferenciação:

    O senhorio de engenho no Brasil não equivalia à nobreza feudal doReino. Em primeiro lugar, não haveria barreiras jurídicas de qualquerespécie que impedissem o plebeu de ascender à posição de senhor deengenho. Para tanto, bastava dispor de uns tantos milhares decruzados, próprios ou emprestados. Em consequência, o statussenhorial dispensava a origem nobre e tampouco requeria a concessão

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    formal de um título de nobreza. Por último, a condição estamentalestava sempre marcada pela ambiguidade, pois o senhor de engenhonão passava, afinal, de proprietário de um estabelecimento dependentede resultados mercantis. Com a perda do engenho – ocorrência nadaincomum -, perdia-se a equívoca condição estamental (GORENDER,apudJESUS, 1994, p. 149).

    A crítica maior de Jesus em relação à interpretação de Celso Furtado é a de queo Brasil se via prejudicado pela deterioração dos termos de troca e, portanto, atrasadoem relação aos demais países. Em sua perspectiva o Brasil teria entrado no mercadomundial em termos de igualdade. Contudo, não é o propósito deste trabalho analisar avalidade das teorias econômicas de um ou outro autor. O que se buscou foi entendercomo a partir das mesmas foram construídas as interpretações acerca da história doBrasil. Jesus ao considerar que “a colonização foi uma saída para aqueles que,desejando se afirmar na nova ordem social, não conseguiram fazê-lo em seus países”,entendeu a colônia como capitalista e seus sujeitos históricos como expressão dessemodelo econômico (1994, p. 154).

    JOÃO LUÍS FRAGOSOPara compreendermos a interpretação de Caio Prado Júnior foi preciso nos

    atentar às formas com quais o mesmo se posicionava politicamente perante questões desua época. No caso de João Luís Fragoso, porém, devido à pequena produçãohistoriográfica a seu respeito e ao fato de não encontrarmos um projeto políticoimplícito ou explícito, insistiremos em outros aspectos.

    Observamos que as críticas de Laurêncio de Jesus a Celso Furtado foram pautadas não só em questões de ordem empírica, mas também na sua concepção dehistória, que se baseia em postulados aristotélicos. Por isso, para entendermos a

    interpretação de Fragoso acerca da realidade colonial acreditamos que também seja preciso recorrer aos seus aportes teórico-metodológicos.

    A historiografia brasileira acerca do período colonial, influenciada por umvocabulário de cunho marxista e neodependentista, se concentrou por muito tempo emtemas de estrutura econômica, de classe e de raça. Segundo Schwartz,independentemente dos posicionamentos políticos e metodológicos, os pesquisadoreschegaram a um consenso “quanto à ideia do Brasil como uma colônia mercantilista cuja

    economia se estruturava no latifúndio escravista orientado para exportação, liderada por

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    uma aristocracia de fazendeiros que determinava de várias formas sua vida social”(1999, p. 129).

    Porém, a partir das décadas de 80 e 90, a denominadaEscola do Rio, da qual faz

    parte João Luís Fragoso, começou a fazer críticas incisivas no intuito de romper comantigas abordagens, com a noção de que a economia colonial era um mero apêndice daeconomia europeia. Segundo Maria Linhares, buscava-se por à prova esquemasexplicativos clássicos, sobretudo, no que concerne à dependência estrutural da colôniaem relação ao mercado internacional, de forma que “osentido da colonização, naexpressão de Caio Prado Júnior, perdeu a sua significação teleológica de mão única – asituação do colono e suas determinações externas – para ganhar novas dimensões”. A

    preocupação dos novos pesquisadores foi buscar novas fontes, novas perspectivasteóricas e substituir uma visão generalizante, por uma mais localizada, enfocando asestruturas internas da colônia. “O quadro apontado é o da colônia que se move, comseus comerciantes e sua lógica própria, forjando mecanismos de acumulaçãocompatíveis com seu universo”41 (LINHARES, 1998, p. 12).

    Schwartz considera que o ataque de historiadores aos modelos clássicos vemtanto daqueles que privilegiam temas marxistas de estrutura econômica e suas relações

    com a organização da sociedade como objetos de análise, entre os quais podemoscolocar João Fragoso, quanto de estudiosos mais interessados nas atitudes e ideias quese formaram em meio a estas estruturas e relações42 (1999, p. 29). Neste artigoanalisaremos os estudos de Fragoso justamente por ter sido uma das bases para as novas pesquisas e por entrar em contraste com as perspectivas historiográficas analisadas emcapítulos anteriores43.

    41

    Apesar da preferência por estudos mais localizados, em contraposição aos estudos de Caio PradoJúnior, por exemplo, Schwartz aponta que Fragoso acabou fazendo generalizações, ao invés de destacar“aspectos cronologicamente limitados a uma conjuntura histórica, deixa um tanto implícita sua percepçãode que seriam características estruturais do Brasil colonial” (1999, p. 131).42 Nas palavras de Schwartz, “por mais que as críticas colocadas pela escola do ‘Pequeno Brasil’ tenhamquestionado a natureza da economia colonial, um ataque potencialmente mais radical à historiografiatradicional partiu da mudança de foco das questões socioeconômicas para o estudo das ideias e atitudesque informavam as relações sociais e de gênero dentro de uma sociedade escravistas multirracial. Atendência dos estudos históricos para examinarem as estruturas mentais, a cultura popular e a esferadoméstica passou a ter um impacto profundo na maneira com que os estudiosos do passado brasileiroagora pensam a histórica colonial” (1999, p. 135).43 Schwartz aponta que Homens de Grossa Aventura, principal obra de João Luís Fragoso, não constituiumaterial absolutamente novo. Trabalhos de autores como Russel-Wood, Pierre Verger, Roberto do

    Amaral Lapa e outros já haviam analisado algumas questões presentes na obra. Contudo, o historiadorteve o mérito de prestar mais atenção às implicações teóricas que os demais (1999, p. 130).

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    Observamos que para Laurêncio de Jesus alguns atores históricos do períodocolonial expressavam valores capitalistas, o que era reflexo da posição de igualdade (emtermos de mercado) alcançada pela colônia em relação às demais regiões do mundo.

    Apesar de não coincidir com esta interpretação, Fernando Novais apregoava que atransferência de renda gerada nas terras brasileiras para a Metrópole correspondia àsnecessidades históricas de transição de uma economia feudal para uma economiacapitalista na Europa (1969, p. 52). A análise de Fragoso vai à contramão de ambas as perspectivas.

    O ponto de partida para entendermos a realidade econômica da colônia emFragoso é voltarmos os olhos para a situação da Metrópole portuguesa. Questionando as

    análises que colocam o capitalismo como destino manifesto proporcionado pelaexperiência colonial, observou que a sociedade lusa era essencialmente agrária earistocrática e que a absorção da renda colonial tinha por objetivo manter a classe de privilegiados no poder, portanto, manter as estruturas e seguir para o não capitalismo. OEstado, que sobrevivia graças aos rendimentos ultramarinos, ocupou um espaço privilegiado na atividade comercial, como armador, mercador, explorando monopólios eetc. Desta forma, ao atuar como empresário “não realizando investimentos produtivos –

    pelo contrário, incentivando o crescimento da burocracia e do consumo conspícuo -, oEstado surge como variável fundamental para a própria reprodução da sociedade pré-capitalista” (FRAGOSO, 1998, p. 81).

    Fragoso ressalta ainda que o Estado buscou fazer alianças com fraçõesdominantes agrárias, que encontraram nos investimentos ultramarinos uma saída para acrise do campo, e com os mercadores. Estes ao invés de criarem uma nova mentalidadeque os afastasse da classe dominante, tenderam à aristocratização. Uma vez que

    perceberam que por meio do comércio ultramarino podiam acumular riquezas e alcançaruma posição privilegiada na sociedade, canalizaram pesados recursos adquiridos naesfera mercantil para atividade de cunho senhorial (1998, p. 82).

    Ao reinterpretar a história da sociedade lusa, Fragoso proporcionou aos pesquisadores novos caminhos para se pensar a colônia, já que a “reinterpretação docomércio português atlântico implica a necessidade de se revisitar o funcionamento daeconomia colonial por ele gerada” (FRAGOSO, 1998, p. 86). Desde então muitas pesquisas vem sendo realizadas com a premissa de que os homens que se dirigiam para

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    a colônia levavam consigo valores de uma sociedade bastante hierarquizada, que primava pela aquisição destatus por meio da aristocratização.

    Voltando os olhos para a caracterização do modelo econômico adotado na

    colônia, Fragoso apoia-se em Karl Marx, segundo o qual o que distingue as diferentesformações econômicas é a forma pela qual se extrai o sobretrabalho. Diferentemente docapitalismo, onde a produção é autodeterminada, no escravismo colonial a produção e aapropriação do trabalho não remunerado não seriam as únicas condições para areiteração do sistema. A extração do sobretrabalho na colônia era, por vezes, desviadada produção e destinada a investimentos que garantiam a reprodução de uma sociedadehierarquizada. Deparamos-nos com uma sociedade onde a produção e o uso mercantil

    do sobretrabalho não eram fins em si mesmos. Fragoso esclarece a questão referindo-se, por exemplo, ao “progressivo abandono dos grandes senhores de terras e de escravos domundo dos negócios, ou seja, a sua não-preocupação – a partir de um certo patamar deriqueza e poder – em ampliar indefinidamente os seus bens econômicos” (FRAGOSO,1998, p. 33).

    Fragoso também demonstra uma não preocupação de negociantes quanto àreiteração de seus negócios, afinal, os mesmos, após enriquecerem, abandonavam o

    trato mercantil, mesmo sendo mais lucrativo, e reinvestiam na aquisição de terras eescravos. Portanto, “nota-se que a reiteração da produção no escravismo colonial (a suaforma de produzir sobretrabalho) confunde-se com a recorrência de sua hierarquiasocial fundada nostatus” (1998, p. 35).

    Podemos destacar então duas contribuições de pesquisa oferecidas por Fragoso para se pensar a América portuguesa: primeiramente, a análise de mecanismos internosda sociedade colonial, buscando entender como os homens que para cá vieram

    desenvolveram mecanismos e instituições que estavam de acordo com suas reaisnecessidades; por segundo, refletir sobre como as práticas e costumes oriundas daMetrópole refletiram na sociedade colonial e a configuraram.

    CONSIDERAÇÕES FINAISDeparamos-nos no decorrer deste artigo com três perspectivas, embasadas em

    variados pressupostos, que permitiram aos pesquisadores lidarem com a realidadeeconômica colonial de modo a concebê-la sobre diferentes prismas.

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    Caio Prado Júnior refuta a interpretação do Partido Comunista, rejeitando osconceitos de modo de produção – seja feudal ou capitalista – para o entendimento daHistória do Brasil. O historiador, por opor-se ao socialismo e ao capitalismo em sua

    forma liberal, apregoa a necessidade de uma economia voltada para o mercado interno esua interpretação do passado é resultado deste posicionamento, de forma que a teoria desentido da colonizaçãorefere-se justamente à transição de uma economia colonial parauma economia autônoma.

    Em Laurêncio de Jesus, fundamentado em Aristóteles, observamos críticas àsinterpretações de Caio Prado Júnior e Celso Furtado. Pois para ele, os homens, que sãoos agentes da própria história, estavam configurando a economia colonial de acordo

    com suas reais necessidades de vida. Em outras palavras, a colônia seria o espaço privilegiado para a burguesia cumprir sua função histórica, realizando suas atividades por meio do trabalho e da troca. Para Jesus o Brasil fazia parte de uma economiacapitalista.

    João Luís Fragoso, por sua vez, também acredita que os atores históricos daAmérica portuguesa agiam de acordo com suas necessidades, algo que só pôde serobservado a partir de uma metodologia voltada para uma história local, em

    contraposição ao estudo generalista de Caio Prado. Contudo, reconhece que os homensque se dirigiam para a colônia estavam imbuídos de ideais aristocratizantes, passandolonge do característico de uma sociedade capitalista, voltada para o lucro.

    Não esperamos com este trabalho esgotar as análises dos autores em questão,mas apenas demonstrar como a economia colonial pode ser pensada e como os pressupostos – teóricos, metodológicos e políticos -, que são uma escolha consciente ouinconsciente de cada pesquisador, se inserem e modificam os resultados da pesquisa.

    REFERÊNCIAS

    LINHARES, Maria Y. L. Prefácio. In: FRAGOSO, João L. R. Homens de Grossa Aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830).Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998, p. 9-13.FRAGOSO, João L. R. Homens de Grossa Aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1998.

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    JESUS, Laurêncio de. Duas concepções do desenvolvimento do Brasil. Dissertação(mestrado). Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Programa de Pós-Graduaçãoem Ciências Sociais, 1994.

    MENDES, Claudinei M. M. A questão do Feudalismo no Brasil: um debate político.Disponível em: . Acesso e:10/05/2015 NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do Antigo Sistema Colonial. In: Brasil emPerspectiva. São Paulo: DIFEL, 1969.PRADO JÚNIOR, Caio.Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 6. ed. SãoPaulo: Brasiliense, 1961.

    SCHWARTZ, Stuart. Mentalidades e estruturas sociais no Brasil colonial: umaresenha coletiva. Economia e Sociedade, n. 13, Campinas, 1999.

    http://www.hottopos.com/notand32/12claudinei.pdfhttp://www.hottopos.com/notand32/12claudinei.pdf

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    O QUE O BRASIL CANTAVA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL?

    Ester Gonçalves da Silva (Graduação em História, Universidade Estadual de Londrina)Francisco César Alves Ferraz (Orientador, Iniciação Científica)

    PALAVRAS-CHAVE: SEGUNDAGUERRAMUNDIAL, MÚSICA, RÁDIO.

    INTRODUÇÃO O que os brasileiros cantavam? É provável que houvesse uma variedade de

    gêneros musicais e temas. Mas, é impossível esgotar toda essa diversidade musical emapenas um artigo. Aqui, pretende-se analisar, com a pequena bibliografia pesquisada,alguns aspectos do Rádio, da censura, das músicas ouvidas e/ou cantadas até 1945.

    A FEB vai para a Itália em início de 1944 e, segundo a historiadora Maria ElisaPereira, os meios de comunicação estavam sob censura do Departamento de Imprensa ePropaganda (DIP)44 principalmente após 1942, por causa da guerra.

    Desse modo, os programas de rádio e os jornais que, aliás, também eramcensurados, estavam contribuindo para divulgar um patriotismo e justificar a entrada doBrasil na guerra.

    Os meios de comunicação começaram a ser utilizados para a consolidação dogoverno de Vargas, por meio de propagandas, principalmente após 1934, pois, segundoo historiador Orlando de Barros, em seu livro A guerra dos artistas,“na data referida, eum ano depois da ascensão do nazismo, Simões Lopes45 viajou à Alemanha paraobservar o funcionamento do Ministério da Propaganda que Goebbels46 dirigia”, e omesmo se entusiasmou com o sistema nacional-socialista, a sistematização da propaganda e a metodização do governo. O estudioso mostra que “o conselho foi, em

    parte, aceito e posto em prática, contudo parcialmente, pela limitação imposta pelos

    44 O DIP, segundo Francisco José Paschoal, foi instituído em 1939, embora fosse precedido por outrosórgãos que tinham funções parecidas, como por exemplo, o Departamento Oficial de Publicidade (DOP)em 1931 e o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC) em 1934. Esses órgãos tinhamcomo função regulamentar os meios de comunicação, principalmente o rádio, cuidando da ‘imagem’ quese passava do Brasil tanto no interior do país quanto no exterior.45 Este era o então oficial-de-gabinete (correspondente ao atual Gabinete Civil) da Secretaria daPresidência da República.

    46

    Joseph Goebbels foi Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, de 1933 a 1945.

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    interesses privados, e, mais adiante, condicionado pela aliança com os Estados Unidos.(...)” (p.70).

    1 - O RÁDIO

    Em 1940, a Rádio Nacional, cuja sede se situava no Rio de Janeiro, foiincorporada ao Estado e, para Barros, a partir desse ano e até 1955 foi o períodoconsiderado como o apogeu do rádio, pois houve uma grande expansão pelo país (p.66).Além disso, durante a guerra, o rádio teve papel fundamental para a divulgação dosacontecimentos nos campos de batalha, além da produção cultural de escape, ou seja,

    programas com temas alheios ao conflito, para que a população suportasse as privaçõesdo período; além de ajudar na promoção da política de boa-vizinhança e pan-americanismo47 dos Estados Unidos.

    Segundo Pereira, os principais tipos de música na época eram canções patrióticas, marchas e hinos, tendo a predominância da paródia. Mas a autora deixaclaro que as músicas não tinham somente características da ideologia do governoVargas, porém, incluíam também valores do cotidiano da população.

    Além disso, a canção estava presente nos jingles, nos concursos musicais e programas de rádio que tinham duração de vários dias. Um exemplo é o programa“Canção do Expedicionário”, no qual “se escolheria “o melhor canto de guerra”, para oqual Guilherme de Almeida escreveu a letra padrão a ser musicada pelos candidatos”.(PEREIRA, p. 26, 2008) A melodia de Spartaco Rossi foi vencedora.

    Porém, foi cunhada também uma paródia da Canção do expedicionário que,segundo Pereira, foi proibida, pelo DIP, de ser cantada. Parece ter sido criada por várias

    pessoas, provavelmente soldados, e, em vez de versos que idealizavam o soldado brasileiro e a nação, possuía um caráter mais realista, ou seja, mostrando como antesvivia ou de onde vinha o soldado que seguia para a guerra, como por exemplo, nessaestrofe:

    47 A política de boa-vizinhança foi implementada durante o governo de Franklin Delano Roosevelt nosEstados Unidos (1933 a 1945), e era uma estratégia dos E.U.A. para se relacionar com os países daAmérica Latina, para isso foi adotada “a negociação diplomática e a colaboração econômica e militar como objetivo de impedir a influência européia na região, manter a estabilidade política no continente eassegurar a liderança norte-americana no hemisfério ocidental”. Pan-americanismo é uma doutrina

    estadunidense que defende uma aliança entre os países do continente americano.

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    Não venho da “Pátria Amada”, Não venho do “Céu de Anil”,Vim do sertão, da queimada,Do verdadeiro Brasil.Vim dos brejos e dos rios.De cercanias agrestesEu venho do casarãoDe horrores, misérias, pestesQue é a casa de Correção.48

    Diferente da imagem que a canção “oficial” parece passar: Venho do além desse monteQue ainda azula o horizonte,

    Onde o nosso amor nasceu;Do rancho que tinha ao ladoUm coqueiro que, coitado,De saudade já morreu.Venho do verde mais belo,Do mais dourado amarelo,Do azul mais cheio de luz,Cheio de estrelas prateadasQue se ajoelham deslumbradas,Fazendo o sinal da Cruz !49

    A canção de Guilherme de Almeida e Spartaco Rossi parece ter sido concebida para ser cantada na Itália, mas, Maria Elisa Pereira nos fala que o disco com a mesmasó foi lançado em outubro de 1944, sendo que os embarques ocorreram de julho de 44a fevereiro de 45, o que deixa pouco provável que tenha sido cantada nos campos debatalha. Portanto, essa canção foi imposta como “um marco musical do conflito”, mas

    pouco significou aos soldados durante a guerra. (PEREIRA, p. 4, 2008)

    48 Trecho da Canção proibida do expedicionário (Raridade). Disponível em: Acesso em 22out 2015.49 Trecho da Canção do Expedicionário – Exército Brasileiro. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/exercito-brasileiro/cancao-do-expedicionario.html > Acesso em 23 out

    2015.

    https://poemia.wordpress.com/2008/05/06/cancao-proibida-do-expedicionario-raridade/https://poemia.wordpress.com/2008/05/06/cancao-proibida-do-expedicionario-raridade/

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    Assim, havia aquelas canções que eram veiculadas na mídia comercialmente eoutras que tinham um cunho mais popular ou até mesmo aquelas cantadas e/ouelaboradas pelos combatentes na Itália.

    2 - “MANTER A ORDEM”

    Quanto às músicas populares é indispensável considerar a discussão dahistoriadora Maria Ângela Borges Salvadori, que nos traz questões a respeito dasmanifestações culturais vistas como sendo da população menos abastada e que acabamse tornando uma “cultura popular”50. Em seu artigo “Malandras canções brasileiras”

    (1986), a autora inicia-o resgatando aspectos do início do século XX quando, com os processos de urbanização e industrialização, a desigualdade se torna cada vez maior e aísurge a necessidade de “manter a ordem”.

    Assim, a partir de propagandas do seu governo, Getúlio Vargas procura imporvalores por meio místico, ou seja, criando heróis, ‘exaltando’ culturas – como aindígena, a caipira, os que moram nos morros – colocando-as como amantes do trabalhoe que ajudam no crescimento da nação. Além das propagandas, por meio de cartilhas,

    filmes escolares e programas de rádio, costumava-se também buscar elementos dacultura popular, das classes menos favorecidas, para “legitimá-los”, ou melhor, ter ocontrole dessa cultura em suas mãos e fazer com que ela se molde aos ideais dogoverno; para isso, Vargas se mostra de caráter populista, ou melhor, tenta agradar o povo por meio de pequenas benfeitorias.

    Um exemplo disso, já que é o tema trabalhado aqui, é a música. O Estado percebendo que esta é uma ‘boa ideia’ para pacificar o indivíduo pobre vai também,

    com certeza, utilizá-la para esse fim. Barros, concordando com Antônio Pedro diz que

    O governo se valia da inconsistência ideológica das massas, emgrande parte formada por camponeses recentemente emigrados para ascidades. Serviam bem a esse propósito as canções exaltadoras, pois

    50 Utilizamos aqui a definição ‘cultura popular’ do antropólogo e sociólogo Denys Cuche que a definecomo “culturas de grupos sociais subalternos” e são construídas “numa situação de dominação”,considerando que são “nem por completo dependentes nem por completo autónomas, nem de pura

    imitação nem de criação pura.” No caso do governo Vargas, há a tentativa de inserir alguns valores deexaltação do trabalho, da nação nas várias formas de expressão da cultura popular.

  • 8/18/2019 Anais Uel 2015

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    Anais daXV Semana de História

    V Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em HistóriaSocial

    Encontro das Especializações em História Encontro Estadual da ABED (Assoc. Brasileira de Estudos de Defesa – PR)

    ISBN: 978-85-7846-361-8

    comunicavam a crença n