B10 Economia DOMINGO, 23 DE OUTUBRO DE 2011 O ESTADO DE S. PAULO RIO Omodelodecrescimentopuxa- do pelo consumo e pelos servi- muitomaisdoqueaprodutivida- deindustrialporqueaCoreiadis- parouemrelaçãoaoBrasildesde osanos70. “A produtividade do trabalho dosserviçosnoBrasilhojeébem menosdametadedaqueladain- dústria, enquanto no começo dos anos 70 as duas eram mais ou menos a mesma coisa”, diz Ferreira.Segundosuasestimati- vas,aprodutividadedaindústria ceucercade 50%entre1970 ção de trabalhadores do setor agrícola de baixa produtividade paraosetorurbanoeindustrial. Masesseprocesso,continuao econ omi sta,tevepouco fôle go e ence rrou- se no fi m dos anos70. Aescassapoupançabrasileira,ca- racterísti ca constante da histó- ria econômic a do Paí s, limitou a capacidade de investiment o, quefoi aind a maiscompro meti - danacrisedadívidadosanos80. “Estábem docum do Ên f ase no consumo e nos ser v i ç os limita g an hos THIAGO TEIXEIRA/AE-25/ 8/2011 FernandoDantas / RIO OtrabalhonoBrasilnãosetor- nou mais produtivo ao longo dosúltimos30anos.Aproduti- vidade do trabalho, fator fun- damentaldocrescimentoeco- nômico sustentado, caiu en- tre1980e2008.Deláparacá,o indic adorrecuouna cris e glo- bal, depois se recuperou rapi- damente, mas parou de cres- cera part irdo segu ndosemes - trede 2010 . “O Brasil é um país no qual, nãoimportacomosemeçaapro- dutividade, nadaparece acon te- cer”,dizJoséAlexandreScheink- man, economista brasileiro da UniversidadePrinceton. Em 1980, um trab alha dorbra- sileiroproduziaemmédiaoequi- valenteaUS$21milporano.Em 2008, esse número havia caído paraUS$17,8mil.Houve,portan- to,quedade15%noperíodo.Es- ses dados fazem parte da Penn WorldTable,bancodedadosdo CentroparaComparaçõesInter- nacionais de Produção, Renda e Preços da Universidade da Pen- silvânia,comindicadoreseconô- micosde189paíseseterritórios. Osnúmerosvãoaté2008para amaioriadospaíses,inclusivepa- ra o Brasil. Os valores da Penn WorldTablesobreaprodutivida- dedotrabalhosãotodosconver- tidos para dólares de 2005, com paridade de poder de compra (PPP). Isso significa que a dife- rença de custo de vida entre os dife rent es país es é elim inada . Entre os 150 países da Penn WorldTablecomdadoscomple- tos de produtividade do traba- lho entre 1980 e 2008, o Brasil está em 130.º em termos de de- sempenhoneste período. OBrasilsóganhade21países, sendo11daÁfrica,incluindoCos- ta do Marfim, Malawi, Somália, Camarões,TogoeZimbábue.To- dososoutrospaísesafricanosti- veram desempenho melhor do queoBrasil. NaAméricaLatina,aevolução da produtividade do trabalho brasileira nas últimas três déca- das só não é pior do que a apre- sentada por Paraguai, Venezue- la,Nicarág ua e Haiti. Comparado a outras grandes economiasemergentes,ouapaí- sessul-americanoscomoArgen- tina e Chile, o Brasil tem o pior desempenho na produtividade do trab alhoentre1980 e 2008. A Argentina saiu de US$ 21,2 mil para US$ 24,8 mil (alta de 17%). O Chile, de US$ 15,1 mil para US$ 27,5 mil (82%). A Chi- na,de U S$1,2 milparaUS$ 10, 9 mil (778%). A Índia, de US$ 2,8 mil para US$ 7,8 mil (181%). E a Coreia, finalmente, de US$ 14 milpar a US$50 mi l (2 56%). Scheinkman nota ainda que, comoproporçãodaprodutivida- de do trab alhodos Estad os Uni- dos, o desempenho brasileiro nas últimas décadas também é muitoruim.“OsEstadosUnidos sãoafronteira,eoBrasilnãoestá seaproxima ndo” , elediz. Naverdade,oBrasilconvergiu na direção dos Estados Unidos entre 1950 e 1980, e depois re- cuou de novo até 1988. Assim, a produtividade do trabalho no Brasil era 18% da americana em 1950,avançouaté40%em1980e volt ou para21% em 2008 . Emcomparação,aCoreiasaiu de 14% da produtividade do tra- balho americana em 1953 (pri- meiro ano com dados na Penn Worl d Tabl e) para27% em1980 e 60% em 2008. É interessante notar que, entre 1950 e 1980, o Brasil avançou mais rápido do queaCoreia. TantoosdadosdoBrasilquan- to da Coreia do Sul são da Penn Worl d Table,em PPP,e diferem dosvaloresdográficoaolado,do ConferenceBoard,emboraaten- dênci a sejaa mesm a. Para Scheinkman, a má per- formance brasileira deve-se a deficiências de educação e in- fraest rutura,à integraçãoainda baixa com a economia global, à baixa absorção de tecnologia, à faltadeinovaçãoemmuitosse- torese às dificuldadesburocrá- ticasparaformalizarouaumen- taro tamanh o dasempre sas. Elenota queprogramas como o Simp les,que aliviama tributa- ção para as pequenas empresas, ajudam na formalização mas se tornamumdesincentivoaocres- cimento. “As empresas não ga- nhamaescalanecessáriaparase tornarem mais produtivas, tro- cando-se um problema pelo ou- tro.” Schei nkmanressalva,porém, queaagriculturaéumsetorem que a produtividade teve gran- des avanços no Brasil. “As pes- soas reclamam da agricu ltura, mas não percebem que ela vai muitomelho r queos out rosse- toresemtermosdeprodutivida- de”,elediz. OeconomistaSamuelPessôa, da consultoriaTendências, acha que uma série de fatores inter- rompeu o bom desempenho da produtividade do trabalho no Brasil a partir do início da déca- dade80. Umdosmaisbásicosfoiaevo- lução da tecnologia a partir de meados dos anos 70, que come- çou a exigir trabalhadores com melhorqualidade educacional. “Aquele milagre brasileiro no pós-guerra,emumpaísdebaixís- simaescola ridad e,sem nenh um investimento em educação, se dissipou, porque a tecnologia mudounadireçãoderequererca- pitalhumano,queeraexatamen- te o que não tínhamos e ainda nãotemos”,diz Pess ôa. Produtividade br as ile ir a es tá p ara d a h á 30 anos Dad os da Uni ver sid ade da Pen sil vân ia mo str am que , ent re 151 país es , Br as il es tá em 130º , co m re cuo de 15% entre 1980 e 2008 ● Resultados Avançada. Máqu inasfazem colh eitaautomat izad a de cana -de- açúca r no inte riorde São Paul o: agric ultur a é um dossetoresem que a prod utiv idad e bras ilei ra obte veavanços nosúltimosanos Para Samue l Pessô a, intervencioni smo da era Gei sele atualmodelo econômicofreiam o avanç o da produ tivida de US$ 21 mil erao quanto umtrabalh ador brasileiro pro duzia porano, emméd ia, em1980 US$ 17,8 mil era o qua nto um trabalh ador brasile iro produzia porano, emméd ia, em200 8 15% foi a queda da produtividadedo trabalh ador brasile iro entre 1980e 2008 18% era a porc enta gem da produtividadebrasileira emrelaçãoàamerican a em1950 40% eraa porcen tag em da produtividadebrasileira emrelaçãoàamericana em1980 21% eraa porcentag em da produtividadebrasileira emrela çãoà ame ricana em200 8 QUEDA l Produtividade do trabalho no Brasil* INFOGRÁFICO/AE FONTE:IBRE/FGV *Evolução do PIB por hora trabalhada a preços de 2000; em número-índice, com primeiro trimestre de 1992 igual a 100, **Projeção do Ibre/FGV EM PORCENTAGEM POR TRIMESTRE 119,0 120,0 121,0 122,0 123,0 124,0 125,0 126,0 127,0 128,0 129,0 1º TRI 2008 128,9 3º TRI** 2011 EM DÓLARES POR TRABALHADOR POR ANO Coréia 40.000 50.000 60.000 50.989 BRASIL EM RITMO LENTO l Produtividade do trabalho PRODUTIVIDADE DO TRABALHO INFOGRÁFICO/AE 1960 2010 EM NÚMERO ÍNDICE Coreia do sul Índia China Brasil 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 O INDICADOR EUA é igual a 1 neste indicador. A produtividade coreana, por exemplo, equivale a 60% dos EUA Índice