E-MAIL- [email protected] - HOME PAGE - www.aresb.com.br JULHO - 2016 - EDIÇÃO 197 Nelson Barboza Leite, um especialista no setor florestal, esclarece segundo a sua ótica, as verdades sobre a situação atual, e as perspectiva do presente e do futuro, aos novos Engenheiros Florestais, profissionais de áreas afins e aos novos negócios. crise afetou toda a econo- mia. No setor florestal os investimentos em novos projetos estão praticamente zerados! A prestação de serviço está com ociosidade, muitos viveiros fe- chando, enfim, toda a cadeia pro- dutiva é afetada. As grandes em- presas consumidoras também di- minuíram suas programações. Essa madeira que não está sen- do plantada vai fazer falta, lá na frente. Com certeza, teremos pro- blemas de suprimento de madei- ra em algumas empresas. Nesses momentos de crise é mais difícil para os profissionais sem muita experiência. Profissio- nais competentes criam empre- gos. Criam serviços especializa- dos e vencem com mais facilida- de esses períodos. É difícil para todos, mas os mais competentes e com alguma especialização, sempre conseguem melhores condições de trabalho. A compe- tência vale muito nesses momen- tos. É preciso lembrar que com- petência é a soma de conhecimen- to técnico e experiência com res- ponsabilidade, comprometimen- to, seriedade e, acima de tudo, ética. Acredito que essa crise vai abrir novos caminhos ao setor flo- restal brasileiro! A SILVICULTURA DE PRODUÇÃO ESTÁ MUITO LIMITADA AOS INTERESSES DE POUCOS CONSUMIDORES A silvicultura precisa ser repaginada. Estamos muito de- pendentes dos grandes produto- res de celulose e de painéis. A si- derurgia a carvão vegetal, por exem- plo, precisa ser revigorada como política de Governo, assim como a biomassa para geração de ener- gia, o desenvolvimento tecnológi- co para biorrefinarias, etc. Ficamos muito focados na pro- dução de madeira para um grupo restrito de consumidores! A silvi- cultura precisa olhar de forma mais abrangente para as neces- sidades da sociedade! Há neces- sidade dos serviços ambientais e sociais das florestas, da madei- ra para diversos usos e de inú- meros produtos da floresta. Ainda somos, apesar de determos a maior floresta tropical do mundo, o “país do ferro e do aço” e preci- samos mudar essa situação! Te- mos participação muito pequena no mercado internacional de pro- dutos florestais. Somos os cam- peões da celulose! Isso é muito pouco para o potencial que temos. Há espaço para muito mais! Pre- cisamos de alguma forma abrir oportunidades para nossas flo- restas naturais e para a silvicultu- ra com as espécies nativas! São mundos com muitas oportunida- des e fizemos muito pouco, ain- da! Não há o menor sentido para o país mais rico em biodiversida- de, ser reconhecido e respeita- do internacionalmente por sua sil- vicultura de meia dúzia de espéci- es exóticas! Com as espécies nativas, com certeza, também teremos madei- ra e outros serviços e produtos da floresta. Teremos chance de re- A vegetar as áreas ambientalmen- te mais sensíveis e nossas nas- centes! São dívidas que temos com as gerações futuras! Mas essas oportunidades precisam ser alavancadas com políticas públicas. E esse desafio preci- sa do empenho do engenheiro floresta! E precisamos fazer com que as universidades também assumam essa luta. A silvicultura de produção – a do metro cúbico – está muito limitada aos interes- ses de poucos consumidores. Gente que conseguiu financiar pesquisas e desenvolver o setor, mas que inibiu o surgimento de outras alternativas! Nada contra e mérito a quem conseguiu seus objetivos. Mas temos que registrar e lamentar a escassez de negócios e oportu- nidades dos demais segmentos da engenharia florestal! A silvicultura brasileira se de- senvolveu maravilhosamente bem. Pena que não deu oportuni- dade às espécies nativas. A ciên- cia para o eucalipto e o pinus atin- giu altíssimo nível de desenvolvi- mento. Somos campeoníssimos de produtividade e competitivida- de. Tudo como resultado do tra- balho das universidades, institui- ções de pesquisas e empresas. Há, no entanto, grande diferença entre o desenvolvimento das flo- restas plantadas e o tratamento que damos às florestas nativas. As diferenças são tantas, que fi- zeram com que cada assunto, fosse tratado em ministérios di- ferentes! Essa é uma aberração, quando se tem um Serviço Flo- restal Brasileiro. A ciência florestal se desenvol- veu sem se preocupar em distin- ção disso ou daquilo e o engenhei- ro florestal está preparado para li- dar com todos esses assuntos. Florestas plantadas e florestas naturais usam caminhos diferen- tes, mas se utilizam de base cien- tífica, que respeitando as particu- laridades de cada segmento! Pre- cisamos ser campeões de tudo isso! Há muito a se fazer, e as opor- tunidades estão à disposição! Precisamos desenvolver um amplo Programa de Comunica- ção que mostre a nossa ativida- de em toda sua abrangência. Co- municação profissional e institu- cional, que chegue às escolas e faça a sociedade sentir o valor de uma árvore plantada, de uma flo- resta comercial e de uma flores- ta natural. Coisas muito diferen- tes, com objetivos diferentes, mas essencialmente necessárias à sociedade. Há sempre espaço para novos procedimentos, novos produtos, enfim, inovações. Aqui entra a competência profissional. Em épocas de crise, tudo é mais difí- cil! Essa crise está mostrando a necessidade de se rever os pro- cedimentos silviculturais de alto custo, mesmo que sejam para au- mento da produtividade! Como usar clones de altíssima produti- vidade, mas que exigem altas do- sagens de adubo e são altamen- te sensíveis a mato-competição? Não é só uma questão econômi- ca. É acima de tudo, a falta de re- curso, que vai limitar a decisão! Como agir? Esse exemplo é em- blemático! * Fonte: Central Florestal