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Como estudar elites Renato Perissinotto Adriano Codato (orgs.)
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A prosopografia explicada para cientistas políticos

May 14, 2023

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Drika Medeiros
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Como estudar elitesRenato PerissinottoAdriano Codato (orgs.)

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Como estudar elites

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ReitorZaki Akel Sobrinho

Vice ReitorRogério Andrade Mulinari

Pró-Reitora de Extensão e CulturaDeise Cristina de Lima Picanço

Diretora da Editora UFPRSuzete de Paula Bornatto

Vice-Diretor da Editora UFPRCláudio de Sá Machado Júnior

Conselho EditorialCleverson Ribas Carneiro

Cristina Gonçalves MendonçaEdson Luiz Almeida Tizzot

Emerson JoucoskiEverton Passos

Ida Chapaval PimentelJane Mendes Ferreira

José Carlos Cifuentes VasquezJosé Eduardo Padilha de Souza

Marcia Santos de Menezes

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Como estudar elitesRenato PerissinottoAdriano Codato (orgs.)

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® Renato Perissinotto e Adriano Codato (orgs.)

Como estudar elites

Coordenação EditorialLucas Massimo

Projeto Gráfico e Editoração EletrônicaIndústria Inc.

RevisãoLucas Massimo e Fernando Leite

CapaIndústria Inc.

Foto de capaRenato Perissinotto

Série Pesquisa, n. 290Ref. 823

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁSISTEMA DE BIBLIOTECAS – BIBLIOTECA CENTRAL

COORDENAÇÃO DE PROCESSOS TÉCNICOS

Direitos desta edição reservados àEditora UFPR

Rua João Negrão, 280 - CentroTel.: (41) 3360-7489

80010-200 - Curitiba - Paraná - Brasilwww.editora.ufpr.br

[email protected]

Esta obra foi publicada com recursos do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad) referentes ao projeto “Compo-sição e recomposição de grupos dirigentes no Nordeste e no Sul do Brasil” desenvolvido em parceria entre UFPR, PUC-RS e UFS.

Como estudar elites / Renato Perissinotto, Adriano Codato (orgs.). – Curitiba : Ed. UFPR, 2015.

319 p. : il. – (Pesquisa; n. 290)

ISBN 978-85-8480-038-4Inclui referências ao final de cada capítuloVários autores

1. Elites (Ciências sociais). 2. Metodologia. I. Perissinotto, Renato M. (Renato Monseff), 1964-. II. Codato, Adriano Nervo. III. Série.

CDD 305.5

Andrea Carolina Grohs CRB 9/1384

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"Toda pesquisa científica requer paciência, autodisciplina e uma ines-gotável capacidade de se aborrecer".

Terry Eagleton.

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Sumário

Introdução: como estudar elites? 9Renato Perissinotto e Adriano Codato

Apêndices metodológicos 279

Apêndice 1 | Como elaborar um survey 281Apêndice 2 | Como formar matrizes de dados biográficos 291Apêndice 3 | Como produzir uma ficha prosopográfica 301Apêndice 4 | Como preparar um questionário com questões abertas 309

Sobre os autores 318

Metodologias para a identificação de elites: três exemplos clássicos | Adriano Codato

O uso do survey no estudo do recrutamento político: limites e vantagens | Bruno Bolognesi e Renato Perissinotto

O desenho e as fontes da pesquisa com elites parlamentares brasileiras no século XX | Luiz Domingos Costa, Lucas Massimo, Paula Butture e Ana Paula Lopes

Análise de elites em perspectiva relacional: a operacionalização da Análise de Redes Sociais (ARS) Emerson Urizzi Cervi

Viagem pela alta hierarquia: pesquisa de campo e interações com elites eclesiásticas | Ernesto Seidl

Pesquisando grupos profissionais: dilemas clássicos e contribuições recentes | Fernanda Petrarca

Antropologia, política e etnografia: fronteiras disciplinares e trabalho de campo | Wilson José F. de Oliveira

Os empresários enquanto elite: a pesquisa empírica Paulo Roberto Neves Costa

A prosopografia explicada para cientistas políticos Flavio Heinz e Adriano Codato

Capítulo 1 15

Capítulo 2 33

Capítulo 3 63

Capítulo 4 95

Capítulo 5 121

Capítulo 6 151

Capítulo 7 187

Capítulo 8 217

Capítulo 9 249

Como estudar elites.indb 7 2/22/16 12:15 PM

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Introdução: como estudar elites?

GUIAS DE METODOLOGIA de pesquisa dão dois significados ao termo “método”: ora o entendem como a estratégia geral da investigação cien-tífica (com ênfase na lógica do trabalho, nos padrões de análise ou no me-canismo das explicações), ora como as técnicas de seleção, validação, pro-cessamento e análise de dados. Este livro concentra-se nas técnicas, mais exatamente nos procedimentos práticos para o estudo de um objeto em particular: os grupos dominantes na hierarquia social.

Não há uma receita para abordar esse assunto. As estratégias empregadas tendem a ser muito variadas e, em alguns casos, complementares. Essa di-versidade de procedimentos é resultado natural tanto dos múltiplos propó-sitos pretendidos pelos investigadores, quanto da variedade de evidências fornecidas por estudos com elites. Além disso, um procedimento – análise estatística inferencial com vinte mil candidatos a deputado ou etnografia multinível com um único caso – pode funcionar melhor num determinado estágio da pesquisa; outro procedimento, no estágio seguinte. Pesquisas

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como as de Donald Searing sobre as carreiras de políticos profissionais no “universo de Westminster”, interessadas em entender a ambição política, podem apelar tanto para a análise dos efeitos das regras sobre a configu-ração dos vários papéis sociais na instituição (lobistas, líderes de partido, ministros), quanto para as características pessoais daqueles que estão in-vestidos dessas funções, características essas verificadas em longas en-trevistas face a face com todo tipo de representante (insiders, outsiders, backbenchers, sindicalistas, empresários, etc.). O fundamental é saber que técnica empregar para que tipo de fenômeno, se e quando um determina-do artifício pode ou não ser bem aproveitado. Purismos metodológicos e a adição a procedimentos fixos para tratamento de dados empíricos reforçam identidades de grupos científicos, mas trazem prejuízo à ciência das coisas.

Quando se consulta a literatura já publicada sobre classes dirigentes, a disparidade de abordagens dos objetos empíricos e o caráter idiossincrático das questões de pesquisa nos faz perguntar se há qualquer sentido em reco-mendar algum procedimento. Justamente por isso, este livro evita prescre-ver receitas. Preferimos adotar o tom de “relato de campo” onde cada pes-quisador ou grupo de pesquisadores narra a marcha da sua investigação, as suas dificuldades e soluções práticas.

Todo trabalho de pesquisa vai da elaboração das questões a serem res-pondidas, passa pela definição do objeto, pela escolha das variáveis, pela identificação das fontes disponíveis e das evidências que delas se podem extrair, pela elaboração do instrumento de coleta de dados, pela coleta de dados propriamente dita, pela sua sistematização e ordenação, para, só en-tão, analisar todo o material e, enfim, apresentar os resultados.

Contudo, esses procedimentos anteriores à publicação dos resultados tendem a ser arquivados, ou, muitíssimo raramente, reutilizados em algu-ma nova investigação por outro pesquisador. De uma maneira ou de outra, ele quase sempre é mantido longe dos olhos do público. Assim, esse mesmo público se vê impedido de tomar contato com o longo percurso de apren-dizado prático que toda pesquisa envolve, seus erros e acertos, suas hesi-tações, os bloqueios sucessivos de caminhos e as más escolhas que sempre fazemos. É uma pena que seja assim, pois é certo que muito empenho indi-vidual poderia ser poupado se as experiências referentes aos procedimen-tos habituais de construção de uma investigação científica viessem a pú-blico com mais frequência. Com isso, tempo, energia e dinheiro poderiam ser mais bem direcionados e a própria apresentação de resultados finais poderia ser mais rápida. Enfim, conhecer as grandes e pequenas medidas

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Introdução

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práticas tomadas por outros camaradas da mesma área de estudos pode não apenas ajudar no desenvolvimento de mais trabalhos, como também representar economia de escala em termos de recursos e tempo.

Em alguns países, a exposição das decisões tomadas no curso de uma investigação é prática corrente. Há periódicos para veicular, ao invés dos resultados, os procedimentos intermediários da pesquisa científica. No Brasil, não há publicações dessa natureza em Ciência Política ou Sociologia Política, de modo que os dados referentes aos labirintos do trabalho cientí-fico raramente vêm à luz ou, quando vêm, aparecem na forma de relatórios burocráticos de difícil acesso, destinados apenas a prestar contas à agência de financiamento. Esta é a contribuição que este livro pretende produzir.

Não se pretende revelar os mecanismos de todo e qualquer tipo de pes-quisa social. Seria de pouca ajuda uma obra que fosse uma reunião alea-tória de pesquisas sobre “a política brasileira”, por exemplo, com pouco ou nenhum contato entre si. Por essa razão, este livro tem uma unidade temática. Todos os textos aqui reunidos trabalham com o problema das elites ou dos grupos dirigentes em diversas dimensões da vida social: eli-tes parlamentares, partidárias, eclesiásticas, econômicas, profissionais e elites de movimentos sociais.

O primeiro capítulo tenta ser uma exposição didática de alguns dos mé-todos de pesquisa consagrados para identificar grupos de elites. O segundo capítulo mostra como uma investigação sobre o processo de recrutamento e formação da nominata de candidatos dentro dos partidos políticos só po-deria ser levada a termo por meio da aplicação presencial de um questioná-rio. Uma vez tomada essa decisão, resta saber: qual seria o melhor forma-to do questionário? O terceiro, sublinha que o estudo diacrônico da classe política brasileira exige o uso intensivo de fontes documentais. Como são apresentadas nessas fontes as evidências necessárias ao entendimento do recrutamento e como se deve codificá-las? O quarto capítulo revela como a análise de redes pode captar padrões ideológicos nos processos de coaliza-ção política. Mas como usá-la? Quais são seus requisitos técnicos? O quinto capítulo discute os percalços para se ter acesso à elite de uma organização tão hermética como a Igreja Católica. Que estratégias o pesquisador deve adotar para facilitar o acesso à alta hierarquia e como comportar-se numa entrevista em que pesquisador e pesquisado pertencem a mundos tão dife-rentes? O sexto capítulo analisa as dificuldades para se definir o que é “pro-fissão”. Que procedimentos teóricos e metodológicos um pesquisador deve utilizar para delimitar um campo profissional? O capítulo seguinte relata os

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expedientes utilizados para o estudo de líderes de grupos que, normalmen-te, não são tidos como “elites”, como é o caso nos movimentos em defesa do meio ambiente. O oitavo capítulo analisa como é possível estudar a po-sição política de elites econômicas. Essa elite deve ser definida em termos patrimoniais (o tamanho da empresa) ou em termos de atuação institucio-nal em organizações de classe? Uma vez definido o grupo, como acessá-lo e que cuidados devemos ter ao formular questões sobre o que eles pensam sobre a política? Por fim, o capítulo nove apresenta um resumo do que é e de como se pode fazer prosopografia.

Esses são os problemas que este livro procura responder. A enorme diversidade de questões é resultado da multiplicidade de objetos e de preocupações teóricas e metodológicas que orientam as pesquisas aqui relatadas. No entanto, a unidade da coletânea está garantida pelo fio que conduz todos os textos e que pode ser resumido na pergunta que dá título ao livro: como estudar elites?

Essa integração entre autores, temáticas, propósitos e objetos não é ca-sual. Por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad), financiado pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Supe-rior (Capes), professores de três instituições diferentes (Universidade Fe-deral do Paraná, Universidade Federal de Sergipe e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) trabalharam coletivamente, de 2011 a 2015, em projetos de pesquisa que tinham os grupos de elite como foco principal. Este livro é o resultado deste esforço de reflexão conjunta.

Curitiba, inverno de 2015.

Renato PerissinottoAdriano Codato

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Flávio HeinzAdriano Codato

9. A prosopografia explicada para cientistas políticos

DE UMA PERSPECTIVA diacrônica, sabe-se que estudos sobre elites podem iluminar transformações históricas de uma dada sociedade. Mais concre-tamente, podem nos dizer algo sobre essas mudanças se tomarmos as va-riações nos perfis das classes dirigentes como uma proxy de processos bem mais amplos, tais como a entrada e a saída de grupos e classes do restrito círculo das elites políticas, os movimentos de mobilidade social e substi-tuição geracional, as transformações dos prestígios relativos dos diferentes ofícios ao longo do tempo, a densidade dos aparelhos de representação (le-gislativos, partidos) e a operação dos seus respectivos filtros institucionais, a queda e a ascensão política de regiões específicas e o predomínio das suas classes dirigentes sobre o território nacional. No limite, estudos sobre perfis de elite permitem estimar movimentos de separação (ou não) das diferentes esferas das práticas sociais, em especial do universo político em relação ao mundo social1. Uma forma útil de aceder à análise histórica de grupos di-rigentes é através da prosopografia, ou a técnica das biografias coletivas2.

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1 Sobre esse ponto específico ver Love & Barickman (1986) onde se discute a separação entre Rulers e Owners. 2 Para uma discussão sobre os múltiplos sentidos do termo “prosopografia” e suas nuan-ças, ver Bulst (2005). Uma obra em português que traz textos úteis para se entender essa técnica de pesquisa com elites é a organizada por Heinz (2006b). 3 Sobre isso, ver Offerlé (1999) e Charle (2006b), para a França, e Keats-Rohan para o Reino Unido (2007).

O objetivo deste capítulo é comentar o significado de prosopografia e ilustrar como ela pode ser aplicada empiricamente. Na primeira seção en-fatizamos o que ela não é – uma mera análise da estatística descritiva de uma população determinada, em geral “de elite” – e o que ela deveria ser. Na segunda seção mencionamos os trabalhos mais acessíveis e mais dire-tamente ligados à temática das elites políticas que podem ser considerados como exemplos de uso do método prosopográfico. Na terceira e na quarta seções, expomos como a prosopografia foi empregada em dois estudos his-tóricos, de Ciência Política e de Sociologia Política, a partir dos relatos das nossas próprias experiências de pesquisa. Nas conclusões, sistematizamos algumas recomendações bem práticas para serem seguidas por quem pre-tende lançar mão dessa técnica de investigação social.

1. Prosopografia: a construção de um banco de dados

Consagrada pela pesquisa historiográfica e vinculada originalmente à His-tória Antiga (CHASTAGNOL, 1970), a prosopografia disseminou-se entre historiadores como um procedimento muito útil à análise de pequenas coletividades – parlamentares, grupos profissionais, funcionários gover-namentais, etc. –, permitindo acompanhar mudanças em suas respectivas composições sociais e, com isso, variações nos critérios de acesso às posi-ções de mando ao longo de sucessivas conjunturas3.

A definição canônica do que é a prosopografia pode ser encontrada em Stone:

A prosopografia é a investigação das características comuns de um grupo de atores na história por meio de um estudo coletivo de suas vidas. O método empregado constitui em estabelecer um universo a ser estudado e então investigar um conjunto de ques-tões uniformes – a respeito de nascimento e morte, casamento e família, origens sociais e posição econômica herdada, lugar de re-

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4 A propósito dos limites e vantagens do uso do survey no estudo do recrutamento polí-tico, ver o capítulo 2 deste livro (p.33).

sidência, educação, tamanho e origem da riqueza pessoal, ocupa-ção, religião, experiência em cargos e assim por diante. Os vários tipos de informações sobre os indivíduos desse universo são então justapostos, combinados e examinados em busca de variáveis significativas. Eles são testados com o objetivo de encontrar tan-to correlações internas quanto correlações com outras formas de comportamento ou ação (STONE, 2011, p. 115; grifos nossos).

Se para historiadores a prosopografia representa uma clara especializa-ção no plano metodológico, sendo seu emprego incomum fora do campo da História política e social de elites e de profissões, para os cientistas sociais ela não deve apresentar maior dificuldade: as operações básicas da prosopo-grafia assemelham-se muito àquelas da sociologia descritiva. Essa sociogra-fia, portanto, é bem familiar à maioria dos especialistas de seu vasto campo disciplinar. Prosopógrafos, entretanto, descrevem as propriedades sociais de grupos em perspectiva diacrônica, comparando períodos e monitoran-do alterações. É essa operação, a comparação das propriedades e atributos de coletividades no tempo e suas modificações estruturais, a característica central do método prosopográfico. A prosopografia pode ser, assim, uma al-ternativa para se estender a análise da atuação de elites políticas e grupos dirigentes a períodos de tempo mais recuados, permitindo obter ganhos explicativos no desvelamento de padrões de comportamento político, de reprodução e/ou renovação de famílias ideológicas e na explicitação de con-tinuidades e recorrências de longa duração na sociedade e na política.

Em si, a prosopografia não constitui um exercício complicado. O proble-ma é que, diferentemente da formatação de bases de dados obtidas a partir do uso de questionários padronizados aplicados a grupos de respondentes contemporâneos4, surveys que asseguram um elevado percentual de respos-tas válidas, ou simplesmente de respostas, na prosopografia, quanto mais distanciado no plano temporal se está dos agentes que se pretende analisar, mais frequentes serão os casos de insuficiência de informações, de lacunas nos documentos e de dados completamente perdidos (BURKE, 1991).

Uma peculiaridade dos estudos prosopográficos é que, quanto menos notório (ou mais obscuro) for o indivíduo em seu tempo e na sua sociedade,

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5 Ver, por exemplo, Abreu (2014), Abreu et al. (2001) e Monteiro (1994).

maior a probabilidade de inexistirem elementos confiáveis sobre sua vida e trajetória, e, sobretudo, dados que permitam comparar suas características sociais e culturais, seus percursos políticos, êxitos ou fracassos com os seus contemporâneos. Um exemplo notável disso são os dicionários biográficos, que trazem páginas e páginas cobrindo a trajetória de um Getúlio Vargas, de um Carlos Lacerda, de um Afonso Arinos, mas que são muito parcimo-niosos no trato dos assessores econômicos de Vargas no primeiro período presidencial ou de políticos muito menos visíveis que Lacerda ou Arinos no campo do poder. Confrontado permanentemente com o caráter lacunar da empresa biográfica coletiva, o historiador sempre pode recorrer à sua expertise profissional característica: o trato direto das fontes, a busca nos arquivos daquelas informações, por vezes fragmentadas, que faltam para se entender a carreira do deputado X ou a formação do burocrata Y. Cien-tistas políticos e sociais não estão preparados para o trabalho de arquivos, normalmente não conhecem seus meandros (onde estão as fontes menos conhecidas, que tipo de documentação pode fornecer a informação dese-jada), sua técnica (o que ler nos documentos, o que reter e o que ignorar) ou, ainda, seu tempo próprio de produção de evidências (longo, por vezes muito longo). Não obstante, cientistas políticos e sociais têm, no presen-te, lançado mão cada vez mais da prosopografia, recorrendo a informações fornecidas por instituições políticas ou culturais (dicionários biográficos ou anuários legislativos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal). Ao fazê-lo, contudo, incorrem em outros riscos, como aqueles relacionados ao alto grau de generalização das características sócio-profissionais de um indivíduo para o grupo como um todo ou ao peso excessivo concedido à autodeclaração profissional nas notas biográficas ali reunidas.

É preciso considerar que o pesquisador, empenhado em reconstituir biografias de indivíduos há muito tempo falecidos (a prosopografia é uma “biografia coletiva”, portanto, sua matéria-prima são informações bio-gráficas), está permanentemente sujeito aos vieses da produção da sua fonte usada com mais frequência: os dicionários biográficos, sejam insti-tucionais5, sejam sociais, como os anuários do tipo Who’s Who, em geral construídos a partir do método reputacional. Dicionários de biografias, po-líticas ou sociais, trazem um conjunto rico de toda sorte de informações

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6 Exemplos mais recentes de retomada de uma perspectiva prosopográfica exitosa no trato da política brasileira do século XIX são (MARTINS, 2007; VARGAS, 2010).

sobre membros de grupos dirigentes, mas precisam ser analisados à luz das circunstâncias específicas de sua produção, do formato escolhido para a apresentação dos dados, da participação do biografado na sua exposição, enfim, das intencionalidades editoriais presentes em cada um deles, come-çando da lista de quem merece ser biografado (HEINZ, 2011). Normalmen-te, a consulta a esses dicionários exige cautela e determinação em depurar as informações úteis em meio ao emaranhado discursivo que a reveste, operação semelhante àquela exigida no tratamento de outra fonte de pre-dileção de prosopógrafos: os necrológios.

Assim, a prosopografia não se resume à produção de tabelas de frequ-ência com informações sócio-profissionais e de carreira sobre agentes po-líticos do passado, a partir de dados pré-construídos, mas à produção de uma base de dados que, em boa medida, reúna um conjunto de evidências fabricadas pelo pesquisador, isto é, informações que reconheçam o aspecto lacunar do perfil produzido como estruturado socialmente. E que busque superar esse aspecto com pesquisa documental minuciosa.

2. Monografias exemplares

Alguns dos melhores resultados obtidos pela aplicação do método proso-pográfico no Brasil estão na análise de grupos dirigentes. Referimo-nos, por exemplo, aos trabalhos de Barman & Barman (1978) ou o estudo de José Murilo de Carvalho (1996) sobre a elite política do Império e à vasta pesquisa compa-rativa empreendida por Joseph Love (1982), John Wirth (1982) e Robert Levine (1980) sobre as elites regionais de três estados da federação brasileira, cobrin-do o período que vai do início da Primeira República, em fins do século XIX, ao golpe do Estado Novo6. Estas três pesquisas tiveram seus resultados reexami-nados e submetidos a novo processamento computacional uma década mais tarde, resultando em um trabalho que, pelo volume e pela riqueza dos dados ali reunidos, constitui ótimo exemplo das imensas possibilidades da aborda-gem prosopográfica em estudos de elites (LOVE; BARICKMAN, 1991).

Embora a prosopografia de tradição francesa tenha se imposto paulati-namente entre os historiadores brasileiros nas últimas duas décadas, nota-damente através da divulgação dos trabalhos de Christophe Charle, as mais importantes contribuições para a história dos grupos dirigentes brasileiros

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foram gestadas no ambiente intelectual (e interdisciplinar) de cursos de História e Ciências Sociais de universidades norte-americanas. Evidente-mente não se deve imaginar que a prosopografia fosse desconhecida, e é provável que possibilidades de análise biográfica coletiva de grupos políti-cos dirigentes já tivessem sido identificadas por outros autores nos Estados Unidos. Mas a verdade é que a problemática do poder político e o lugar de seus agentes encontrou primeiro uma proposta metodológica clara e útil nas biografias coletivas produzidas nos departamentos de História e de Política Comparada latinoamericana de universidades norte-americanas. Segundo Love, “aquele foi um período [anos 1960/1970] em que, na Ciência Política e na História, havia muito interesse pelas elites. Houve também a possibilidade [...] de informatizar todos os dados, de utilizar o computa-dor para organizar e analisar as tendências estatísticas. Aproveitamos essa nova tecnologia para organizar as nossas pesquisas” (LOVE, 2003, p. 6).

Outros trabalhos, metodologicamente muito bem desenhados, oferece-ram boas ideias aos pesquisadores de grupos dirigentes. É o caso de Paul-An-dré Linteau (2006), que produziu ótima análise da elite política municipal de Montreal – prefeitos e conselheiros eleitos entre 1880 e 1914 –, destacando alguns elementos que foram centrais na completa reconfiguração das elites políticas locais, como a origem étnica dos representantes, a mudança do per-fil demográfico da cidade e de sua região circundante e a mudança no padrão linguístico local, com o ‘afrancesamento’ – via imigração massiva de popu-lação rural francófona convertida em novo eleitorado – de uma cidade cuja elite social e política fora, até então, exclusivamente anglófona. No trabalho de Linteau, a recomposição social do eleitorado de Montreal, num espaço de três décadas, explica a radical transformação social de sua elite política. O recurso deste autor, e de vários outros, ao estender as suas análises a qua-dros cronológicos amplos, permitindo comparar diferentes configurações temporais de grupos de elites, é uma característica muito positiva e muito estimulante permitida pela prosopografia. Outro célebre trabalho de inspira-ção prosopográfica é o de Cantón (1966). Originalmente uma dissertação de mestrado orientada por Seymour Lipset em Berkeley, ele analisou os parla-mentares argentinos em três momentos, 1890, 1916 e 1946, identificando as circunstâncias históricas, culturais, os determinantes políticos e socioeconô-micos ligados às mudanças produzidas na elite política da Argentina.

Na sequência apresentamos dois relatos de pesquisas conduzidas pelos autores deste capítulo, a construção dos problemas analíticos e como a pro-sopografia foi por nós empregada.

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3. Prosopografia na prática: estudando os políticos profissionais

A prosopografia, como vimos, é bem mais do que uma técnica de coleta de dados ou uma colagem de várias “histórias de vida”. Ela deve ser, antes de mais nada, um recurso para organizar, a partir de um problema socio-lógico determinado, os dados biográficos de um grupo para, aí então, se pensar as regularidades que há entre os atributos de seus atores conforme os contextos históricos, tal como proposto por Stone (2011). Esse primeiro relatório de pesquisa começa, portanto, circunscrevendo o problema ge-ral que uma análise prosopográfica com um grupo de elite pode enfrentar e como ele foi resolvido.

3.1. Transformando variáveis estruturais em nomes próprios

Na tese de doutorado Elites e instituições no Brasil: uma análise contextual do Estado Novo, defendida em 2008 na Unicamp (CODATO, 2008a), ten-tei dar conta de um paradoxo histórico nunca enfrentado diretamente até então pela Historiografia nacional e pelos estudos de Ciência Política no Brasil: como a “oligarquia”, isto é, a classe política dirigente de São Paulo, que se opôs à Revolução de 1930 e organizou o Levante Constitucionalista em 1932, pode alinhar-se a Vargas durante o Estado Novo, participar do seu governo e defender o regime?

Até onde recorda, São Paulo foi à guerra contra a União em 1932 em nome de uma nova ordem política. Seu objetivo principal era a devolução da auto-nomia estadual, comprometida pela “aventura de outubro” (isto é, a Revo-lução de 1930), pela inesperada e indesejada centralização política nas mãos de Vargas e de seu grupo íntimo e pela “invasão” tenentista nos negócios políticos do estado. Em editorial, o diário O Estado de S. Paulo lamentava os adiamentos seguidos da convocação da Assembleia Constituinte pelo Gover-no Provisório, reprovava o fato de São Paulo ainda não ser governado por um civil, paulista e prócer do Partido Democrático e se perguntava, dramatica-mente: “Haverá na história política de algum povo tragédia mais dolorosa do que a tragédia de São Paulo?” (apud Borges 1979, p.179).

Em 1945, boa parte da elite política paulista abrigou-se em um dos dois partidos nacionais herdeiros do “Ditador”, como aquele jornal chamou Ge-túlio Vargas durante anos. Na Assembleia Nacional Constituinte de 1946, São Paulo contava com uma bancada de trinta e oito representantes. Desse total, quase metade pertencia ao Partido Social Democrático e sete esta-vam filiados ao Partido Trabalhista Brasileiro. Dos pessedistas, nada menos do que doze deles haviam servido no regime Estado Novo. Dos petebistas,

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Como estudar elites

cinco ocuparam algum cargo na máquina política varguista. Praticamente setenta por cento da facção PTB/PSD da bancada estadual havia, então, em-barcado na ditadura de 1937 (CODATO, 2008b).

O que aconteceu nesse intervalo entre a Revolução de 1930 e a Constitui-ção de 1946 com essa classe política estadual? Como foi possível desarticular as poderosas organizações partidárias regionais, trocar praticamente todas as lideranças políticas nacionais, federalizar as grandes questões sociais e converter a ideologia do liberalismo oligárquico em estatismo autoritário?

A Revolução de 1930, e o conflituoso período político que se seguiu a ela, marcaram um importante processo de conversão no mundo das elites po-líticas brasileiras. Esse parecia ser a mim um dos problemas-chave dessa temporada. Como isso se deu? Qual a sua natureza? Que mecanismo insti-tucional tornou possível essa conversão? Essas eram então as minhas am-biciosas questões de pesquisa.

Ocorre que, embora a documentação histórica para esse período (ar-quivos privados, correspondências pessoais, documentos oficiais, depoi-mentos de protagonistas, memórias, etc.) trate quase exclusivamente das disputas políticas intrarregionais e inter-regionais, não existiam estudos sobre os políticos profissionais, como se poderia esperar. Os atores políti-cos foram tema quase sempre de biografias ou apareceram nas memórias e nas autobiografias, onde os feitos e os fatos da história de um indivíduo, suas amizades, inimizades, aspirações, frustrações, contavam mais do que a estrutura política na qual esses agentes estavam inseridos. Assim, quatro perguntas simples sobre os profissionais da política nos anos 1930-1940, tomados um como grupo de elite, quase nunca tinham sido postas pela li-teratura: quem são?; de onde vêm?; o que fazem?; como pensam?

Para formar uma visão de conjunto da transformação do perfil das elites, e uma visão particular da dinâmica política de cada unidade da federação após 1937, o período mais misterioso desse ciclo histórico, o ideal teria sido poder abordar três ou mais casos exemplares, Pernambuco, o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, por exemplo, como haviam feito Levine, Love e Wirth.

A quantidade de variáveis mobilizadas para radiografar a estrutura da eli-te política, o volume de informações exigido para tanto, aliada à barafunda da maior parte dos arquivos públicos, tornou inviável um exame da lógica política específica de diferentes estados e, na sequência, a comparação en-tre eles. Somem-se a esses empecilhos práticos a ausência de bibliografia sobre a elite política especificamente, resultado de dois preconceitos usu-ais presentes na maior parte dos estudos dessa área. De um lado, o caráter

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7 A observação é de Schwartzman, (1983, p. 367–368). Para uma explicação do argumen-to, ver Schwartzman (1982, p. 26; 36–37).

centralizador e a política de nacionalização do Estado Novo contribuíram para que houvesse grande desinteresse pela dimensão regional do regime (GERTZ, 1991, p. 112), já que se supunha que todas ocorrências da política estadual deveriam ser tão somente atualizações tardias do que acontecia no nível nacional. De outro lado, o tratamento padrão que em geral se dis-pensou ao período posterior à Revolução de 1930, entendido a partir de ca-tegorias societais ou econômicas sempre muito genéricas – “dinâmica de classes, formas de produção, estágios de desenvolvimento”7 –, relegou a segundo plano não apenas a política regional, mas a própria política insti-tucional e seus atores, os políticos profissionais.

Tendo presente essas dificuldades – fontes documentais, historiografia e, em especial, bibliografia sobre a política e os políticos –, decidi tratar do estado mais anti-varguista de todos: São Paulo. Além disso, decidi tratar de política e de políticos no período do Estado Novo, onde havia, visivelmente, menos presença e influência da classe política, já que parti-dos, parlamentos e eleições estavam proibidos. Logo, seria o momento e o lugar onde deveria haver, teoricamente, o maior conflito entre Getúlio Vargas e a oligarquia regional, essa última representada orgulhosamente pelos paulistas. Contudo, talvez esse problema muito empírico pudesse servir para se repensar questões mais amplas ainda, sobre como teria sido possível cooptar e disciplinar uma classe dirigente hegemônica e redefinir o padrão de desenvolvimento do país.

Assim, o tema “Getúlio Vargas versus a oligarquia paulista” pode ser con-vertido na forma mais tangível de se representar a contraposição entre um modelo agroexportador e um modelo urbano-industrial, o maior desafio histórico do pós-1930 no Brasil. Para utilizar a fórmula de Przeworsky e Teune (1970), ao armar o problema assim, converti, num primeiro momen-to, para enfatizar o pano de fundo estrutural para o assunto que escolhi es-tudar, nomes próprios em variáveis mais abstratas: Getúlio Vargas represen-tando a via de desenvolvimento mais moderna e os oligarcas de São Paulo, a via mais atrasada de desenvolvimento nacional. Esse conflito, que não é apenas econômico, no sentido ortodoxo do termo, mas fundamentalmen-te político, entre dois grandes projetos capitalistas (agrário e industrial), é central em qualquer relato ou explicação dos desdobramentos de 1930, já

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8 Conforme a observação clássica de Wright Mills, “o poder não pertence a um homem. A riqueza não se centraliza na pessoa do rico. A celebridade não é inerente a qualquer personalidade. Ser célebre, ser rico, ter poder, exige o acesso às principais instituições, pois as posições institucionais determinam em grande parte as oportunidades de ter e conservar essas experiências a que se atribui tanto valor” (MILLS, 1981, p. 19, grifos meus).

que estipula limites para a influência de agentes sociais, como as frações de classe. Contudo, ele não pode ser a explicação inteira da transformação histórica que se operou. Assim, esse período de transição capitalista deve-ria ser conhecido a partir das ocorrências concretas implicadas no proces-so de acomodação das diferentes facções da elite política ao autoritarismo varguista. Num segundo momento, que é o que nos interessa nesse relato sobre o emprego prático da prosopografia, eu então reconverti variáveis estruturais em nomes próprios. Ou seja: tive de dar nomes e sobrenomes, refazendo circunstâncias e arranjos entre uma elite política que passou a controlar o Estado nacional (a “varguista”) e outra elite que se viu, politica-mente, alijada dele. Esse foi, em essência, o que o Estado Novo representou para os paulistas. Para retomar a lamúria do editorialista de O Estado de S. Paulo, a grande tragédia do seu povo.

3.2. Fazendo a prosopografia da elite política paulista

O desafio principal que enfrentei em minha pesquisa não foi o de determi-nar que interesses econômicos “os políticos” de um lado e de outro represen-tavam ou a serviço de que fração de classe estavam, mas o da caracterização sociológica de um grupo de elite e a discussão das suas funções para a trans-formação de um dado sistema de dominação e acumulação. Em períodos de mudança social, é preciso lembrar, a natureza da elite política parece contar mais, ou mais decisivamente, que em períodos de reprodução social. Mo-mentos revolucionários, fases de modificação de regimes políticos ou fases de transição modo de um modo de acumulação a outro não são indiferentes ao tipo de elite que pilota o Estado e às suas escolhas estratégicas. 1930 e 1937 foram um pouco de tudo isso. Daí o foco nos agentes políticos.

Para definir quem fazia parte da elite diriegnte de São Paulo no pós-1937, adotei, tal qual o estudo clássico de Love (1982) sobre o estado na Primeira e Segunda Repúblicas, o critério posicional. A base de constituição desse grupo está na razão direta dos recursos institucionais – isto é, das posições políticas – que seus membros controlam8. Esse procedimento consiste em identificar as posições formais de mando numa comunidade (cargos,

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9 Sobre o método posicional, veja o capítulo 1 deste livro (p.20). 10 Para maiores detalhes do significado e funcionamento do DAESP, ver Codato (2011; 2014). 11 Havia sete secretarias no estado de São Paulo: Justiça, Fazenda e Tesouro, Viação e Obras Públicas, Educação e Saúde, Agricultura, Indústria e Comércio, Segurança Pública e a Secretaria de Governo

postos, funções); em seguida, discriminar os ocupantes dessas posições: a “elite”; por fim, analisar o contorno e a conduta desses agentes sociais a partir de uma série de variáveis pré-selecionadas9. Não utilizei, porque não me pareceu nem adequado, nem factível o critério reputacional (prestígio ou reconhecimento do grupo em questão). A reputação não seria um bom indicador porque se tratava de um período de transformação do universo das elites onde há, justamente, uma crise das reputações estabelecidas e, com a Revolução de 1930, a indução de outros juízos de reconhecimento político e prestígio social.

A fim de estudar a elite política paulista e sua relação com a ditadura de Vargas, elegi como objeto o Departamento/Conselho Administrativo do esta-do de São Paulo (DAESP)10. O universo da pesquisa compreendia os quatorze indivíduos que integraram o DAESP entre 1939 e 1945. Embora os integrantes desse aparelho não fossem uma amostra, em termos estatísticos, da clas-se política paulista, o número – apenas 14 – não é tão insignificante como pode parecer à primeira vista. Há, no caso de pequenos grupos, uma vanta-gem metodológica não desprezável em empreendimentos prosopográficos. Quanto mais variáveis forem integradas ao exame de um grupo de elite, mais revelador poderá vir a ser o estudo. Um questionário extenso, prevê Char-le, exige uma população-alvo bem concisa: “A multiplicidade das pequenas amostras, saturadas de informações e, se possível, comparáveis entre si ou com as de outros pesquisadores, parece preferível ao tratamento exaustivo das grandes amostras com poucas variáveis” (CHARLE, 2006a, p. 31).

Ao lado ou acima desse benefício metodológico, havia uma questão pro-priamente histórica. Love estudou todos os 263 indivíduos que formaram a elite política paulista entre 1889 e 1937. Para continuar sua pesquisa até 1945, mesmo acrescentando ao universo os secretários de estado11, os três interventores, o prefeito da capital, os chefes do Departamento das Muni-cipalidades (nomeados pelo Interventor), e considerando as poucas subs-tituições dos titulares dessas pastas ao longo do tempo, o grupo chegaria a pouco mais de trinta pessoas. Se somássemos os quatorze do DAESP, des-contássemos as sobreposições de nomes, o total da elite não seria nem 20%

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12 São Paulo, ou seja, as relações de suas elites políticas com a ditadura do Estado Novo se tornaram, assim, um “exemplo dramático” e não um “exemplo paradigmático”, isto é, um caso único, extraordinário e decisivo para a explicação do problema considerado. Sobre essa diferença ver Eckstein (1975, p. 79–137).

do universo estudado por Love. Porém, conforme minhas estimativas, a eli-te estadual no Estado Novo somaria algo em torno de quarenta pessoas que detinham posições chave na administração estadual. Ou talvez ainda me-nos: Amaral, adotando critérios semelhantes aos de Love, encontrou trinta e um indivíduos na elite política rio-grandense (AMARAL, 2005, p. 147). Logo, a corporação do Departamento Administrativo deveria representar algo em torno de 35 a 40% da elite política paulista naquele momento. Gru-pos minúsculos como esses não inviabilizam a pesquisa, é bom lembrar. Ao invés, são um sintoma dos regimes autoritários a serem explicados.

King, Keohane e Verba, preocupados com a possibilidade de encontrar regularidades na pesquisa social e com a capacidade dos nossos estudos conseguirem fazer generalizações, reconhecem que pesquisas circunscri-tas podem ser importantes se forem capazes de produzir resumos históri-cos detalhados ou “inferências descritivas”. O ponto fundamental, a meu ver, é que a ocorrência escolhida, se não pode permitir inferências causais definitivas, possui uma série de “implicações observáveis” (KING; KEOHA-NE; VERBA, 1994, p. 212). Certas ocorrências são mais significativas para o todo sem que se precise estudar tudo: todos os estados, todas as classes dirigentes estaduais, todos os conflitos políticos. São Paulo me pareceu, en-tão, uma espécie de caso-limite, onde as ocorrências históricas desse perío-do de transformações eram mais intensas12.

Para estudar os 14 do DAESP, elaborei uma ficha-padrão ou, conforme o termo técnico, um questionário biográfico onde dispus as informações reu-nidas sobre os membros da elite política de São Paulo em seis categorias. Elas englobavam os requisitos típicos para o exame de grupos dirigentes: 1) perfil social, 2) atividades profissionais, 3) situação econômica, 4) carreira política, 5) conexões interpessoais e 6) posições ideológicas. O corpus de infor-mações reunido no questionário biográfico não traduz, como é óbvio, todos os aspectos da vida de um indivíduo, mas somente aqueles que permitem cruzamentos e comparações e cuja finalidade é dar uma ideia bem precisa das características sociopolíticas do conjunto dos indivíduos estudados. Esse inquérito das biografias coletivas, tão exaustivo quanto as fontes to-

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13 A ficha prosopográfica depende do nível de profundidade e do grau de detalhe sobre as biografias coletivas que o estudo espera alcançar, além, é claro, das características que se quer relevar do grupo estudado. Aqui não há muitas receitas e os dados podem ser sistematizados num software mais simples (Excel, por exemplo) ou mais complexo, com mais recursos e projetado para esse fim (File Maker, por exemplo). Ou serem registrados em papel e datilografados, se você preferir. Uma sugestão simples e especialmente boa de Ferrari é elaborar, para aqueles indivíduos mais representativos do grupo em questão, para os quais se achou muito mais dados ou para aqueles que pretendemos construir um perfil individual, uma ficha em separado (FERRARI, 2010, p. 543). Discuti as formas concretas do adesismo da classe política de São Paulo ao Estado Novo e as sucessivas reconversões ideológicas de três membros do DAESP – Marcondes Filho, Miguel Reale e Marrey Júnior – num artigo em que a existência de fichas individuais foi muito útil. Ver Codato (2013).

leravam, permitiu assim reconstruir as trajetórias profissionais e os perfis sociais do grupo estudado. No Apêndice metodológico deste livro (Cf. apên-dice 3, p. 301) incluímos um exemplo de como o perfil de um indivíduo foi construído a partir dessas seis categorias listadas acima13.

3.3. Multiplicando as fontes de dados

Recorde-se que meu objetivo central era analisar a forma, a direção e a natureza do processo de transformação das elites políticas no pós-1930 a partir do estudo descritivo do perfil social e profissional de um grupo pe-queno, mas potencialmente representativo, da elite política paulista.

Todavia, esse é um universo extremamente complexo e, da mesma manei-ra que se deve falar de classes dirigentes regionais, por oposição às nacionais, há também uma hierarquia ou uma estratificação propriamente política entre as várias facções oligárquicas estaduais. As posições de elite e os diferentes grupos derivados dessas posições, podem ter assim mais ou menos poder, prestígio, influência, autoridade, reconhecimento social, etc. Logo, existem, na política estadual, tanto uma alta oligarquia, quanto uma média e uma bai-xa oligarquias, sendo distintos seus respectivos poderes políticos e capacida-des sociais. Além disso, e o mais importante para a nossa discussão neste ca-pítulo, são distintas as informações disponíveis, em quantidade e qualidade, para os indivíduos que integram a elite política nacional, o pelotão de frente da elite política estadual e seus grupos subalternos, muitíssimo menos repu-tados. Esses últimos podem ser formados por coronéis do interior, mandões locais, caciques partidários, deputados com cadeiras cativas na Câmara Esta-dual, mas sem qualquer visibilidade para além das fronteiras do seu estado.

Um dos propósitos do autoritarismo do Estado Novo, para implementar o seu programa reformista, era controlar as “situações políticas estaduais”,

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14 Sobre a lógica de construção do DHBB, veja o capítulo 3 deste livro (ver p.78).15 Essas “Biografias políticas dos membros do Departamento Administrativo do estado de São Paulo durante o Estado Novo” estão disponíveis no site Research Gate: <http://bit.ly/1JNqUl9>. Acesso em: 7 set. 2015.

i.e., os poderes das oligarquias regionais. Dois expedientes políticos foram empregados sucessivamente pelo regime, com graus de sucesso muito altos. Primeiro, a nomeação de interventores federais no lugar dos gover-nadores (em 1937). Em seguida, a indicação dos conselheiros dos Departa-mentos Administrativos dos estados (1939), um dispositivo de supervisão do trabalho legislativo dos interventores. Esses departamentos estavam, e essa foi uma das principais conclusões do meu estudo, no princípio da fa-bricação de uma espécie muito própria de contra-elite regional, através do processo de reciclagem dos recursos humanos da própria elite. No entanto, ao menos em São Paulo, se os inquilinos do DAESP eram os “homens do armandismo” e os “paredros do PRP”, não estavam todos dentre os gran-des quadros políticos do estado. Nem sempre possuíam, naquela altura, em fins dos anos trinta, uma carreira política nacional. São, em sua maioria, políticos conhecidos, é certo, mas em São Paulo: deputados estaduais, di-rigentes de partidos da elite, editores de jornais políticos, militantes e ide-ólogos de movimentos de direita. Assim, reunir todas as informações mais significativas sobre eles, para reconstruir suas trajetórias sociais e perfis políticos e ideológicos, não foi uma tarefa tão simples.

Dos quatorze indivíduos que estudei, mais da metade não tinha um ver-bete no Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro (ABREU et al., 2001)14. Da-queles que o tinham, a maioria estava ou incompleta, ou com informações erradas. Por isso foi preciso multiplicar as fontes de dados utilizadas nessa investigação, lançando mão de arquivos privados de políticos mais destaca-dos, contemporâneos ao quatorze do DAESP, livros de depoimentos e me-mórias desses protagonistas (REALE, 1986), quando haviam, cartas pessoais e até mesmo entrevistas com descendentes. A pesquisa realizada na biblio-teca particular de Gofredo da Silva Telles Jr., um endereço onde havia as atas do Departamento paulista muito bem organizadas, valeu pelos documentos que pude ler, mas especialmente pelas muitas conversas – quase entrevistas – com o filho do presidente do DAESP, já um jovem político àquela altura.

Elaborei para cada conselheiro do DAESP um verbete biográfico o mais detalhado possível15. Nesses momentos é obrigatório não apenas contar com o

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16 Resumi uma parte dos resultados em Codato (2010).

acaso para topar com os dados que mais se precisará, mas alguma imaginação para cavar evidências onde for possível. Como a grande maioria deles virou nome de rua, consultei com grande proveito um livro chamado História das Ruas de São Paulo. No Banco de Dados Folha (da Folha de S. Paulo) consegui ler alguns necrológios em jornais velhos. Quando um desses atores havia sido (felizmente, para a pesquisa), secretário de estado, algumas secretárias, mas não todas, traziam uma curtíssima biografia que, às vezes, continha uma informação inédita. Refazer o cursus honorum, a sequência de posições políticas, foi, ao lado do perfil ideológico, uma das tarefas mais complicadas. Como, nesses casos de poucas pessoas, tudo é muito importante, ou ao menos nós temos a ilusão de que tudo deve afinal significar algo, foi preciso começar a estudá-los pelos Annaes da Câmara Municipal de São Paulo, uma publicação dificílima de se acessar, mas não tanto como o raríssimo livro manuscrito de assentamentos do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Propostas para admissão de sócios: 1933-1938.

O trabalho de Sérgio Braga, Quem foi quem na Assembleia Constituinte de 1946 (BRAGA, 1998), resolveu muitos problemas, mas apenas para aqueles integrantes do Departamento que, depois do Estado Novo, tiveram uma carreira nacional. Alguma coisa eu pude encontrar em O legislativo paulista (NOUH; CARNEIRO, 1983). Esse é um daqueles títulos que existem somen-te na Biblioteca da Divisão do Arquivo Histórico da Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, e ele está acessível desde que se saiba da existên-cia dessa repartição. As relações de conflito entre a elite nacional e a elite estadual são daqueles quebra-cabeças que exigem juntar muitos e muitos papéis antes de se tentar dar qualquer ordem a eles. Esses papéis, eu acabei encontrando-os em dois grandes Arquivos. Mas só se deve visitá-los depois que se souber muito bem o que irá procurar lá dentro: o Arquivo Getúlio Var-gas, no Museu da República (isto é, no Palácio do Catete); e os documentos do Gabinete Civil da Presidência da República (Série: Governos Estaduais) guardados nas latas do Arquivo Nacional16. Igual lição eu aprendi depois de ler a primeira vez os dois abundantes volumes dos Diários de Vargas. Desco-bertos apenas nos anos 1990, eles cobrem o interessantíssimo quotidiano da Presidência e do presidente entre outubro de 1930 e 1942, quando sua reda-ção é interrompida (VARGAS, 1995). Embora haja um bom aparato crítico, os

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nomes e as situações políticas nas quais os atores políticos estão implicados demandam, de quem lê esses calhamaços, grande conhecimento contextual para que as menções a fulano ou a sicrano façam algum sentido. E uma paci-ência incrível para se contentar com uma entrada do tipo “Golfe”, só isso, as-sim mesmo, num dia perdido de 1936 onde, aparentemente, nada aconteceu.

Credenciais sociais são encontráveis preferencialmente no que chamamos de “livros de sociedade”, como o Jubileu social: 1894-1944 (Imprensa Oficial do Estado, 1944). Alguns who’s who podem parecer, à primeira vista, bem dis-pensáveis, mas às vezes revelam-se inestimáveis, como o insubstituível Brasil e brasileiros de hoje, de Afrânio Coutinho (1961). Outros títulos, que só se con-sultam quando se precisa muito, do tipo Academia Paulista de Letras: 90 anos, é outra daquelas fontes autocongratulatórias que não se deve nunca esnobar. A nominata dos membros do glorioso Centro Acadêmico da Faculdade de Direito de São Paulo no início do século XX é essencial para se estabelecer, por exem-plo, quem foi contemporâneo de quem, de que geração era e que atividades po-líticas teve na juventude (MACHADO JR., 1993). A reportagem de Joel Silveira feita para a revista Diretrizes em 1943, e depois publicada como livro, Grã-finos em São Paulo, uma etnografia mais do que profissional dos salões das famílias quatrocentonas paulistas, é um desses achados que só se descobriria na pesqui-sa prosopográfica e que recompensa todo o esforço e tempo desperdiçado em horas de trabalho inútil. Com alguma sorte se pode contar com o fato de que ou-tro pesquisador obsessivo leu o Correio Paulistano, o jornal oficial do PRP, antes de você (PERISSINOTTO, 2001). Isso economizará muitos e muitos quilômetros de arquivo, principalmente se essa publicação não estiver digitalizada, como quase nada estava na primeira metade dos anos 2000. Mas nada poderá substi-tuir a leitura dos jornais da década de 1930 ou 1940, em papel, onde se pode de repente achar uma matéria perdida no rodapé da página ou uma menção que só para você fará sentido: Horácio Lafer, importante líder empresarial de São paulo, designado em junho de 1939 para integrar o DAESP, aparentemente sem ser consultado, escreveu ao Ministro da Justiça Francisco Campos alegando ter outros compromissos e solicitou a nomeação de um substituto17.

A parte do trabalho mais absorvente foi a de determinar o perfil político--ideológico dos membros do Departamento Administrativo de São Paulo. Estabeleci uma lista de todos os acontecimentos chave do intervalo 1920-

17 Ver O Sr. Laffer e sua nomeação para o Departamento Administrativo. Correio da Ma-nhã, 24 jun. 1939, p. 14. Jornal lido no Arquivo Edgard Leuenroth, em Campinas (SP).

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18 São eles: (1922) 18 do Forte; (1924-1927) Coluna Prestes; (1930) Revolução; (1931) Clube Três de Outubro; (1932) Levante Constitucionalista; (1932) Lado governista; (1935) Intentona Comunista; (1937) Golpe que instaura o Estado Novo; (1938) Revolta Integra-lista; (1932) Ação Integralista Brasileira; (1945) Golpe que põe fim ao Estado Novo.

1945 e procurei reconstituir a posição de cada um diante deles (a favor ou contra; participou ou não; etc.)18. Às vezes só consegui evidências indiretas e de uma fonte surpreendente. No Arquivo Getúlio Vargas, guardado no Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, há muitos informes da polícia polí-tica ao presidente. O serviço de vigilância e espionagem do Estado Novo monitorava a correspondência que os líderes políticos de São Paulo, exi-lados no exterior, enviavam a suas famílias e as cartas que ex-colegas de partido (PRP, PD, PC) trocavam entre si fofocando sobre quem estava em ascensão, quem não junto ao Ditador. Os agentes abriam essas cartas, da-tilografavam o seu conteúdo, interpretavam e comentavam as avaliações dos remetentes, decodificando para a posteridade as referências cifradas a alguns dos nomes respeitáveis do estado. Havia também nesse papelório longas mensagens ou simples telegramas onde políticos, julgando-se bem informados, ou julgando que deveriam por bem informar o presidente da situação política no seu estado, faziam um relatório das posições abertas ou das intenções ocultas dos seus adversários, que eles próprios adivinhavam. Em seguida, sugeriam a Vargas que medidas tomar. Algumas vezes Getúlio até comentava uma dessas fofocas em seu Diário. Aí ficava perfeito.

Enfim, o que quero ressaltar é que essa multiplicidade de fontes, táti-cas, soluções ad hoc, a peregrinação por um sem-número de endereços é a única estratégia possível para estabelecer a biografia coletiva de um grupo, capturar suas especificidades e regularidades. Vejamos na sequência outra pesquisa e outros caminhos para fazer prosopografia.

4. Descobrindo os porquês da prosopografia: da classe no papel à classe social real

4.1. Da Burguesia aos burgueses em carne e osso

Meu primeiro contato com a prosopografia foi acidental. Embora já co-nhecesse o livro de Peter Burke sobre Veneza e Amsterdã no século XVII (BURKE, 1991), sequer lembrava do termo “prosopografia” quando me mudei para Paris em 1992 para fazer meu doutoramento. Eu concluíra um

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ano antes um mestrado sobre a organização patronal rural no Rio Grande do Sul nos embates que sucederam à apresentação do I Plano Nacional de Reforma Agrária da Nova República nos anos oitenta (HEINZ, 1991). Nessa dissertação, me interessara pelos atores centrais do processo político, que eram os líderes associativos do patronato rural no Sul do país. Entrevista-ra alguns deles e os tratara no texto de forma muito genérica como legíti-mos “representantes da burguesia agrária”. Todavia, faltaram-me, então, recursos teóricos e metodológicos que permitissem ir além dessa classi-ficação abstrata e pouco útil à explicitação das características sociais dos indivíduos escolhidos.

Essa primeira pesquisa revelara, contudo, uma grande diversidade de posturas e estratégias entre a “burguesia agrária” brasileira. Se um objeti-vo político geral parecia tê-los temporariamente associado, ficara eviden-te, por outro lado, sua diversidade interna, suas trajetórias distintas, seus perfis escolares e familiares característicos. Curiosamente, o problema que havia me impactado – a diversidade sob uma mesma classificação geral –, e para o qual eu não dispunha de qualquer estratégia de metodológica ou mesmo de instrumentos para descrever e pensar seus atributos específi-cos, não provocou nenhum questionamento por parte dos avaliadores na cerimônia de defesa do mestrado em Sociologia. Historiadores lidam com baixo grau de elaboração teórica, deixando-se, quase sempre, guiar-se pe-las fontes. Esse era o estágio no qual eu me encontrava e foi assim que eu apresentei os resultados daquela pesquisa.

Uma vez em França, deparei-me por acaso, enquanto organizava pilhas de papéis de minha primeira orientadora, Hélène Delorme, com um pe-queno recorte de um escrito de Christophe Charle, editado pela revista Liber, publicação encartada na Actes de Recherche em Sciences Sociales (CHARLE, 1990). O texto, uma resenha de vários trabalhos sobre elites e poder na Alemanha, trazia dois poderosos insights metodológicos que marcariam meu trabalho e os interesses novos de pesquisa: priorizar a dimensão comparativa (Charle evocava a configuração do poder político, econômico e cultural na Alemanha tendo em mente o caso francês, e vice--versa) e recorrer à elaboração de perfis sociais coletivos dos atores envol-vidos, isto é, a prosopografia.

A prosopografia e a comparação foram fundamentais para resgatar pro-blemas que haviam surgido durante a pesquisa de mestrado e que haviam permanecido sem resposta: quem eram os “fazendeiros” mobilizados na luta contra a reforma agrária?; que grupos compunham essa “classe”, o que

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os aproximava e os diferenciava?; que predicados sociais eram prevalentes nos grupos mais radicalizados, e quais pareciam viger entre os mais mode-rados?; o que o background social e cultural dos indivíduos participantes nos revelava sobre o ativismo político dos representantes do universo da grande propriedade no Brasil?

Essas muitas questões desembocaram num novo projeto de doutorado e em minha tese, Les fazendeiros à l’heure syndicale: représentation profes-sionnelle, intérêts agraires et politique au Brésil, 1945-1967 (HEINZ, 1996). Em resumo, tentei avaliar a reação à ampliação de direitos sociais a traba-lhadores rurais e a briga contra as iniciativas por reforma agrária a partir da análise da ação de duas organizações patronais, elaborando o perfil coleti-vo de seus dirigentes. O corte cronológico foi proporcionado pela própria história de uma das organizações, a Confederação Rural Brasileira (CRB), criada em 1951 a partir de uma lei de outubro de 1945, e que, por força da extensão do modelo urbano já consagrado à legislação sindical rural, dá lu-gar, em 1967, à Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

4.2. Selecionando os grupos estudados: a confecção da “amostra”

Se desde a dissertação de mestrado (1991) a questão da complementaridade e da tensão entre representação oficial (isto é, sindical, legal) e representação privada (associações não dependentes ou relacionadas formalmente à estrutu-ra do Estado) do patronato rural se fizera presente, na tese de doutorado pude então explorar os indícios oferecidos pela pesquisa prosopográfica através da análise comparada de duas entidades: a já mencionada CRB, “não-oligárquica mas clientelista, de ambição transregional, parlamentar e partidarista, ‘oficial’, sindical e ‘moderna’ na ótica das transformações do pós-30”; e a poderosa So-ciedade Rural Brasileira (SRB), a entidade “regional, paulista, liberal-conser-vadora, fortemente identificada com a Velha República oligárquica, nostálgica de um certo poder rural irreversivelmente declinante, antivarguista, constitu-cionalista em 1932 e sem partido em 1945” (HEINZ, 2006a, p. 130–131).

Para fazê-lo, avaliei duas amostras de grupos dirigentes (presidentes, vi-ce-presidentes, diretores, membros de conselhos superiores e consultivos), atuantes num período de pouco mais de quinze anos (de 1951 a 1967 para a Confederação Rural Brasileira; e de 1949 a 1966 para a Sociedade Rural Brasileira). Essas amostras, de sessenta e sete dirigentes da CRB e de vinte e sete da SRB, correspondiam, aproximadamente, a um terço do conjunto de diretores de cada uma das entidades no período, mais precisamente 32,9% de 194 líderes da Confederação e 35,5% de 76 comandantes da Sociedade.

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A constituição dessas amostras não, contudo, foi feita ao acaso:

Em face do problema fundamental da falta de informações gerais sobre as carreiras desses dirigentes, analisamos aqueles que estive-ram no centro do movimento de representação patronal rural dos anos 1945-1967, e cujas notas biográficas disponíveis, parciais ou integrais, nos possibilitavam reconstituir as estratégias profissio-nais e/ou políticas. Nossa escolha não [foi], pois, aquela que pode-ria garantir maior ‘confiabilidade sociológica’, uma vez que nossa amostra foi construída através de procedimentos não aleatórios de seleção, sujeita, portanto, à intervenção de critérios que não con-trolávamos. Se decidimos pelo estudo de dirigentes previamente ‘selecionados’ por fontes do tipo Who’s Who” – um procedimento imposto pelo caráter esparso ou incompleto de outros documentos –, é preciso reconhecer o quanto esta pré-seleção “editorial pode orientar o nosso trabalho. Com efeito, o que aparece no Who’s Who ou nos dicionários biográficos – notoriedade pública, laços familiares, riqueza, influência política, excelência profissional –, constitui capitais que não se encontram igualmente distribuídos ou disponíveis ao conjunto de dirigentes. Assim, a terça parte de diri-gentes incluídos na amostra possuía provavelmente capitais mais importantes que as duas terças partes restantes [...]. Realizamos uma escolha difícil, mas ponderada, entre o estudo de um grupo restrito e único, a elite de uma elite dirigente, sobre o qual poderí-amos estabelecer um perfil, e aquele de uma amostra talvez mais ‘representativa’ do conjunto dos dirigentes patronais, mas cuja exequibilidade era remota (HEINZ, 2006a, p. 131 nota 21).

O propósito geral da pesquisa era lançar luz sobre as conexões entre pro-priedade da terra, representação associativa e carreira política num período de profundas transformações do quadro legal das relações de trabalho e do direito fundiário no Brasil, período esse com crescente incorporação dos temas do universo rural à agenda política e parlamentar do País.

4.3. Correlações significativas entre perfis políticos e ações sociais

A pesquisa prosopográfica sobre parte da classe dirigente brasileira nos anos 1950 ajudou a revelar forte correlação entre militância associativa e carreira política dos diretores da CRB. Isso lhes seria de grande utilidade no

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ativismo parlamentar orientado para o que chamavam de a defesa das “cau-sas da agropecuária”. Havia entre os chefes da Confederação Rural Brasileira nada menos do que 29 deputados federais (com 60 mandatos somados até o final dos anos 1960) e oito senadores, duas dezenas de deputados estadu-ais, um número importante de secretários estaduais, diretores de agências estatais e ministros de Estado. No espectro partidário, dividiam-se entre a União Democrática Nacional (17 representantes) e o Partido Social Demo-crático (14). Havia ainda quatro políticos desse grupo de elite inscritos no Partido Trabalhista Brasileiro. A representação de políticos entre dirigentes da Sociedade Rural Brasileira era bem menos significativa: apenas cinco dos seus 27 dirigentes possuíam mandatos como deputados federais.

Assim, por força de seu perfil social, da forma e da natureza da sua incorpo-ração ao universo político nacional, o ativismo dos dirigentes da Confederação Rural Brasileira era um híbrido muito interessante da época de mutações pelas quais passava o Brasil pós-Vargas: conservadores em questões relacionadas à propriedade da terra, seus dirigentes tenderam, entretanto, a apoiar ações go-vernamentais de extensão de direitos sociais a populações rurais. Ao mesmo tempo, somavam forças com setores menos transigentes em temas de política fundiária, especialmente face a proposições de reforma agrária. Nesse caso, se alinhavam com os dirigentes e as lideranças políticas ligadas à Sociedade Rural Brasileira. Mais conservadora e refratária a quaisquer variações no status quo, a SRB, entidade com pouquíssimos políticos parlamentares, mostrou-se, quase sempre, contrária a iniciativas governamentais no espaço rural.

Conclusões

A importância analítica dada ao estudo das propriedades e das trajetórias coletivas de um conjunto de agentes pressupõe um esquema interpretativo do mundo social. Esse esquema deriva, por sua vez, de dois princípios sub-jacentes: em primeiro lugar, o foco em agregados concretos de indivíduos, historicamente situados, é central para se entender o funcionamento do mundo social (no lugar de grandes abstrações teóricas como “classes so-ciais”, por exemplo); em segundo lugar, seus atributos, enquanto grupo, são relevantes para explicar tanto seus comportamentos efetivos (opções, decisões concretas, disposições subjetivas), como a configuração assumida pelas instituições (“Estado”, “regime político”, etc.).

Dito isso, recordemos então os elementos chave da definição de Stone (2011), citada no início deste capítulo. A prosopografia é, ao lado de outros artifícios também estudados nesse livro, uma técnica de pesquisa. Ela está

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Como estudar elites

baseada em recomendações bem simples e precisas. Depois da eleição do grupo a ser estudado, procura-se identificar suas características comuns fa-zendo uma “biografia coletiva” dessa confraria (uma biografia é a descrição dos fatos da vida de uma pessoa; aqui, de várias, que têm algo em comum). Todos os indivíduos são caracterizados a partir de uma série de atributos pré-definidos (familiares, sociais, políticos, econômicos, etc.). As informa-ções então obtidas são processadas para se estabelecer relações significati-vas entre elas. Toda dificuldade está em como proceder para produzir essas informações e, a partir dessa massa de dados, dar um sentido a ela que su-pere a mera descrição sociográfica do grupo.

Ferrari (2010) propôs três interrogações bem diretas, mas com um grande potencial heurístico para orientar aqueles que pretendem fazer análise prosopográfica.

Primeira pergunta: quem estudar e quantos estudar? A forma mais usu-al para identificar o grupo pesquisado é através do método posicional. Em prosopografia de grupos de elites, eles ocupam o topo das organizações, que podem ser partidos, parlamentos, associações civis, governos, buro-cracias, forças armadas, etc. É estratégico escolher indivíduos que perten-çam à mesma instituição, mas que ocupem, dentro dela, posições desse-melhantes. Isso permite revelar, por exemplo, a heterogeneidade presente num agregado social. Por outro lado, isso impede que se trabalhe com uma amostra aleatória de componentes da elite (FERRARI, 2010, p. 541–542).

O tamanho do grupo depende do tempo que pode ser despendido na pes-quisa e dos recursos humanos e materiais de que se dispõe. É preciso lem-brar que como se trata de construir um banco de dados da forma mais inter-pretativa possível, nossa experiência mostra que grupos muito grandes são viáveis apenas quando há poucas fontes a manejar e elas já são conhecidas pelo pesquisador. Grupos pequenos, por sua vez, podem exigir um traba-lho colossal de localização das informações, processamento dos dados e as fontes podem se multiplicar quase que indefinidamente, como no exemplo sobre a classe política paulista nos anos 1940. É bom evitar também aquela compulsão de encontrar tudo ou de ler tudo sobre o grupo19. Ferrari lembra que “à medida que se consultam mais fontes, os rendimentos são decres-centes pois muitas informações se repetem” (2010, p. 541).

19 Esse aspecto também foi discutido no capítulo 3 deste livro. Ver em particular o subi-tem sobre a seleção das variáveis, na p.68.

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Segunda pergunta: para quê usar a prosopografia? Um problema co-mum em pesquisas desse gênero é que, ao final, se coleciona um volume enorme de informações sobre origens sociais, ocupações, carreiras políti-cas, conexões sociais e, depois de tudo, não se sabe muito bem o que isso explica, nem para que serve. Por isso, toda pesquisa, use a técnica que for, tem de estar orientada para responder a uma questão maior, mais ambi-ciosa, onde os atributos de um grupo ou de um indivíduo façam sentido para além deles mesmos.

É encantador descobrir que o todo-poderoso Ministro do Trabalho e da Justiça de Getúlio Vargas, durante boa parte do Estado Novo, foi Marcon-des Filho. Que foi ele também o personagem principal de um programa semanal na Rádio Nacional, produzido pelo Departamento de Impren-sa e Propaganda do regime, Falando aos trabalhadores brasileiros, onde apresentava, em tom paternal, as leis sociais decretadas pelo Ditador. E que tudo isso é muito interessante justamente porque Marcondes Filho havia sido, nada mais, nada menos, que um daqueles membros legíti-mos e insignes da classe política paulista antivarguista. Ele foi secretário particular de Bernardino de Campos, líder do PRP, e afilhado político de Carlos de Campos, presidente do estado em começos dos anos 1920. Fun-dou e dirigiu o São Paulo Jornal, órgão mais popular do PRP, empastelado pelos insurrecionados durante a Revolução de 1930. Assinou, em 1932, o célebre Manifesto dos perrepistas contra o Governo Provisório que mais tarde conduziu São Paulo à guerra contra Getúlio. E também serviu o go-verno durante o Estado Novo; e fundou o PTB. Entretanto, tudo isso só faz sentido quando se pensa esse conjunto de informações factuais a par-tir do problema das relações intra-elites no pós-1930 brasileiro e por que e como esse transformismo político foi possível – ou o que ele simboliza de mais geral para entender esse período histórico. Assim, mais do que relações entre “pessoas”, seus motivos e objetivos, a prosopografia deve ajudar a esclarecer, através dos atributos coletivos que destaca, relações objetivas entre fenômenos sociais.

Terceira pergunta: como fazer prosopografia? Nenhuma grande ideia re-siste se não há dados disponíveis e acessíveis. Isso é tão óbvio e tão verda-deiro que não se entende porque não se começa a pensar já o projeto de pesquisa indicando onde se conseguirá as informações, se elas são viáveis e de que maneira se imagina que elas possam ser trabalhadas. Assim, na pesquisa prosopográfica, a primeira (e principal) reflexão que se deve fazer é sobre as fontes dos dados: sua natureza, potencialidades, limites.

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Como estudar elites

Cada tipo de fonte possui uma particularidade e os problemas de se traba-lhar com cada uma delas já são bem conhecidos. Memórias e autobiografias dão uma ordem e uma coerência às trajetórias dos indivíduos que nenhu-ma vida consegue ter. Jornais antigos misteriosamente adquirem aquela aura de verdade que basta uma notícia ou opinião estar impressa para que isso seja assumido como conhecimento objetivo, esquecendo-se que são produtos de múltiplas escolhas políticas, ideológicas, editoriais. Ler a his-tória do segundo governo de Getúlio Vargas no Última Hora é um risco que não se precisaria correr. Diários oficiais trazem dados oficiais (nominatas de políticos de um partido, datas de entrada e saída de cargos públicos) e é muito mais prático assumir uma informação factual registrada neles como verdadeira até que uma outra fonte a desminta. Atas parlamentares, discur-sos políticos, mensagens presidenciais registram aquilo que seus emissores querem que saibamos e somente à custa de muito esforço analítico se pode depreender desse material conflitos entre interesses, relações de força e hierarquias entre grupos políticos ou sociais.

Por fim: embora não seja obrigatório, espera-se, no texto ou na tese, que se faça um comentário crítico detalhado sobre o material primário ou se-cundário. Ele previne o leitor sobre quais informações foram extraídas, de onde, com que objetivos e como inferências foram feitas. Depois de tudo, a prosopografia da elite estará tão completa quanto possível.

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A prosopografia explicada para cientistas políticos

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Apêndices

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Apêndice 3 – Como produzir uma ficha prosopográfica1

ESTA É UMA TÍPICA ficha individual, saturada com o máximo de infor-mações disponíveis nas fontes e redigida como um verbete de dicionário histórico-biográfico. Durante a pesquisa, fichas individuais foram elabo-radas a partir de um questionário biográfico padronizado.

Esse questionário estava dividido em seis blocos de informações e, den-tro de cada bloco, havia uma série de variáveis significativas, como diria Stone (2011), para os objetivos da investigação:

perfil social (local e data de nascimento, filiação, escolarida-de, instituições escolares pelas quais passou e em que data); atividades profissionais (todas as ocupações que o indivíduo teve ao longo da vida, ordenadas conforme suas datas de en-trada e saída); situação sócioeconômica (derivada, indiretamente, das ocu-pações);

1)

2)

3)

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Como estudar elites

carreira política ou burocrática (todos os mandatos, fun-ções e postos ocupados, dispostos cronologicamente con-forme suas datas de entrada e saída e os partidos políticos correspondentes); conexões interpessoais (patrocínios políticos, negócios em comum, laços de casamento, de parentesco ou presença, nas mesmas instituições, ao mesmo tempo, que membros do De-partamento Administrativo paulista); eposições ideológicas (estimadas a partir do posicionamento e/ou participação nos principais eventos políticos do período estudado; da atividade jornalística ou literária).

Para construir esse perfil consultei nove fontes diferentes, referidas aqui no rodapé do texto. Note que a ficha é bastante completa porque se trata de um político bem importante, com uma carreira longa e de projeção nacional.

Marquei aqui em negrito as informações que correspondiam às variá-veis listadas acima a fim de destacar o que considerei como o mais impor-tante de reter.

Alexandre Marcondes Machado Filho (1892-1974)

Marcondes Filho nasce a 31 de agosto de 1892 em São Paulo (SP) e falece na mesma cidade a 16 de outubro de 1974. Filho do industrial Alexandre Marcondes Machado e Maria Albertina Marcondes Machado, cursa o pri-mário e o secundário no Colégio São Luiz, completa os estudos superiores na Faculdade de Direito de São Paulo, a 7 de dezembro de 1914, e torna-se secretário particular de Bernardino de Campos, líder do Partido Republi-cano Paulista (PRP). Ainda como estudante, “trabalhou no escritório do jurista Alfredo Pujol, companheiro e advogado de Rui Barbosa na Campa-nha Civilista (1910) [...]. Graças a essas atividades, desde sua juventude Marcondes Filho conviveu com o mundo político, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro” (FGV-CPDOC, 1983, p. 2083).

Casa-se com Maria Mercedes Marcondes Machado e deixa de ser promo-tor público para montar seu escritório privado como advogado na capital

4)

5)

6)

1 Ficha biográfica a partir dos dados prosopográficos mencionada no capítulo 9 “A proso-pografia explicada para cientistas políticos”.

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Como produzir uma ficha prosopográfica

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paulista. Especializado em Direito Comercial (falências), conta-se que sua banca era uma das mais ativas e requisitadas da cidade. Marcondes Filho é um dos fundadores do Instituto dos Advogados de São Paulo (BRAGA, 1998, p.688). Jornalista, cria e dirige, em 1927, o São Paulo Jornal, órgão mais popular do Partido Republicano Paulista (PRP). Foi também redator de O País2. A partir de 1940, é diretor do jornal A Noite.

Tendo sua candidatura o aval de Carlos de Campos, presidente do es-tado, Marcondes Filho torna-se vereador pelo PRP à Câmara Municipal de São Paulo na 12ª Legislatura (MILLIET, G.; GAMA JR., F. I. DA, s.d.), entre 15 de janeiro de 1926 e 15 de janeiro de 1928, sendo imediatamente promovido a líder da bancada. É eleito duas vezes deputado federal: de 1927 a 1929 e em 1930. O primeiro mandato de deputado federal coincide com o de Marrey Júnior pelo Partido Democrático (PD). Na Câmara, “con-tinuou a combater o PD e tornou-se importante auxiliar de Manuel Vila-boim e de José Cardoso de Almeida, que lideravam a maioria parlamentar em apoio ao governo de Washington Luís” (FGV-CPDOC, 1983, p. 2083). Apoia a candidatura de Júlio Prestes à Presidência da República contra o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas, preferido do PD.

É eleito para o segundo mandato de deputado, em 1930, juntamente com Armando Prado, João Carvalhal Filho e Cirilo Júnior (todos pelo PRP), e fica no cargo de maio a outubro, já que todas as atividades parla-mentares são suspensas com a deflagração da Revolução de 1930, a 3 de outubro. Contrário ao movimento, perde o mandato, tem seu periódico, São Paulo Jornal, empastelado pelos revoltosos, abandona a política par-tidária e volta e exercer a advocacia.

Em 1932, é um dos signatários do Manifesto divulgado a 19 de janeiro deste ano redigido pelo PRP contra o Governo Provisório de Vargas. Com a derrota do movimento constitucionalista, Marcondes Filho afasta-se da vida política.

Só volta a ocupar cargos públicos quando é convidado por Getúlio Var-gas para ser vice-presidente do Departamento Administrativo do Estado de São Paulo (DAESP) em 1939. Permanece na função até 1941. No final desse ano, Marcondes é indicado presidente da União Cultural Brasileira (UCB), “uma entidade fundada por defensores” do Estado Novo. Mirando

2 Cf. notas explicativas a Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães et alli (1982, p. 393)

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Como estudar elites

o plebiscito a ser realizado em 1943, conforme a Constituição de 1937, “a UCB estaria fadada [...] a transformar-se num embrião de partido políti-co”. Ela deveria organizar e dirigir a força política dos trabalhadores urba-nos a fim garantir apoio ao ditador (PARANHOS, 2007, p.133).

De 1941 a 1945 Marcondes Filho é Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio:

Em dezembro [de 1941], Vargas convidou Marcondes Filho para o cargo [de ministro do Trabalho, em substituição ao in-terino Dulfe Pinheiro Machado], ressaltando sua ligação com São Paulo, onde se encontrava grande parte da indústria ins-talada em território nacional. Segundo o historiador João Fos-ter Dulles, essa escolha teve relação com a crise política que em meados do ano levara à demissão do interventor paulista, Ademar de Barros (FGV-CPDOC, 1983, p. 2083).

Assume o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e ao mesmo tempo começa um programa semanal na Rádio Nacional produzido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, Falando aos trabalhadores brasi-leiros. Reportando as decisões do MTIC, “a história das leis sociais, seu con-teúdo, seus pontos polêmicos, tudo isso era tratado pelo ministro em tom pedagógico e até mesmo paternal” (GOMES, 1988, p.233) no show de rádio.

Entre 1942 e 1943 é também ministro interino da Justiça e Negócios Interiores. É efetivado no cargo em 1943 e o exerce até 1945.

Durante o Estado Novo [...] foi um dos principais organiza-dores da Conferência dos Conselhos Administrativos dos Estados realizada no Rio de Janeiro - DF (1943) e um dos idealizadores e Presidente do CNPIC [Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial] durante o Estado Novo (1944-1945). Um dos mais destacados dirigentes ideológicos do Estado Novo, durante sua gestão no Ministério do Traba-lho coordenou os trabalhos que resultaram na implantação da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho[...] [em 1o. de maio de 1943]. No curso de sua gestão ministerial, implantou um programa radiofônico semanal (Hora do Brasil) desti-nado a propagar a ideologia oficial do regime estado-novista (BRAGA, 1998 p. 688-689).

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É contra o movimento de redemocratização em 1945. Marcondes Filho elabora o documento que serve de base à lei Constitucional nº 9 (Ato Adi-cional), que concentra a iniciativa política da transição no Executivo fe-deral. Deixa em março de 1945 o Ministério da Justiça e passa a cuidar da organização do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), agremiação da qual se torna vice-presidente de honra.

É pelo PTB de São Paulo que Marcondes Filho se elege senador em 1945 à Assembleia Constituinte, que ocorreria em 1946 e substituiria a Carta do Estado Novo.

Único senador eleito pelo PTB para a Assembleia [Constituinte de 1946], assumiu o mandato já em andamento dos trabalhos constituintes, na 61a sessão, a 13 de maio de 1946. Embora, de acordo com João Almino (1980, p. 342), Marcondes Filho, “segundo a correspondência pessoal de Vargas (CPDOC), te-nha sido designado para coordenar a posição do PTB na Cons-tituinte”, em virtude de enfermidade, o senador petebista foi pouco atuante em plenário [...] Também em virtude da do-ença que lhe acometeu durante o processo de elaboração cons-titucional, não pôde exercer de fato a liderança da bancada petebista na Constituinte para a qual havia sido indicado, que foi exercida na prática pelo Deputado Gurgel do Amaral (PTB-DF) (BRAGA, 1998 p. 689).

Em 1947 é membro da Comissão Interparlamentar de Direito Social. O cargo de senador se estende até 1950, recandidata-se e é novamente elei-to para o período 1951-1954. Nesse segundo mandato, assume a presidên-cia da Comissão de Reestruturação do PTB (1951) e, durante quase toda a legislatura, a vice-presidência do Senado Federal. Em 1954, é presidente do Senado. Marcondes Filho é membro da Comissão de Justiça e da Co-missão Revisora do Código Comercial. Em 1955, é indicado novamente ministro da Justiça e Negócios Interiores, agora no governo Café Filho, mas logo se retira da vida política.

Durante sua trajetórita, publica vários livros, entre eles: Discursos: legislatura federal de 1927-1929. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1930.; Vocações da unidade: conferências e discursos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1941; Unidade moral e social. Rio de Janeiro: s. c. p., 1942; An-teprojeto da nova Lei de falências. Rio de Janeiro: Ministério da Justiça

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Como estudar elites

e Negócios Interiores, 1943; Pro brasilia fiant eximia: discurso proferi-do no Senado Federal, na sessão de 22 de janeiro de 1954. São Paulo: Martins, 1954; Publica ainda alguns artigos, como O momento consti-tucional brasileiro (MACHADO FILHO, 1943, p.1-18) e Algumas Casas de Parlamento da Europa (MACHADO FILHO, 1957).

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Referências

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Sobre os autores

é professor de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e editor da Revista de Sociologia e Política (www.scielo.br/rsocp). Realizou estágio de pós-doutorado no Centre européen de sociologie et de science politique de la Sorbonne (CESSP-Paris). Coordena o Observatório de elites políticas e sociais do Brasil (http://observatory-elites.org/). É pesquisador do CNPq.

é mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-Gradua-ção em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutoranda em Ciência Política na Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul.

é professor de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e pesquisador do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latino-Americanos (NEPPLA) da mesma universidade e do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP/UFPR).

é doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e professor do Progra-

Adriano Codato

Ana Paula Lopes

Bruno Bolognesi

Emerson Urizzi Cervi

Page 50: A prosopografia explicada para cientistas políticos

Sobre os autores

319

Ernesto Seidl

Fernanda Rios Petrarca

ma de Pós-Graduação em Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Uni-versidade Federal de Sergipe (UFS). É pesquisador do CNPq.

é pós-doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professora do Programa de Pós-Gradu-ação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e pesquisadora do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP).

é doutor em História e Sociologia do Mundo Contemporâneo pela Université de Paris X (Nanterre), professor visitante do Pro-grama de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do Núcleo de Pesqui-sa em Sociologia Política Brasileira (NUSP-UFPR).

é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Editor Exe-cutivo da Revista de Sociologia e Política (www.scielo.br/rsocp) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP-UFPR).

é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Po-lítica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e do Cen-tro Universitário Uninter e pesquisador do Núcleo de Pes quisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP-UFPR).

é mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-Gradua-ção em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP-UFPR).

é doutor em Ciência Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Professor do Programa de Pós-Gradu-ação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR). É pesquisador do CNPq.

é pós-doutor pela University of Oxford, professor do Pro-grama de Pós-Graduação em Ciência Política da Universi-dade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP/UFPR). É pesquisador do CNPq.

é doutor em Antropologia Social pela Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul, professor do Programa de Pós--Graduação em Sociologia e do Programa de Pós-Gradua-ção em Antropologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Pesquisador do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS) e do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil (UFPR).

Flávio Heinz

Lucas Massimo

Luiz Domingos Costa

Paula Butture

Paulo Roberto Neves Costa

Renato Monseff Perissinotto

Wilson José Ferreira de Oliveira