A NATUREZA SOB A PERSPECTIVA IMAGÉTICA DA INFÂNCIA Elisângela Madruga 1 Camila da Silva Magalhães 2 PARA COMEÇO DE CONVERSA... “Os homens inventaram o ideal, para negar o real”. Friedrich Nietzsche. A Gaia Ciência. As transformações socioambientais têm se tornado tema de discussões, cada vez mais recorrentes na atualidade. Vivemos um tempo onde a sociedade se preocupa com a formação do novo cidadão, um sujeito ecologicamente correto (CARVALHO, 2008), ambientalista, ou seja, o homem-natureza, que pode preservar e salvar o mundo da ação danosa do próprio homem. Mas que mundo, que natureza e que homem é esse? O filósofo contemporâneo Oswaldo Giacoia Jr. ao discutir o pensamento, a partir da filosofia de Nietzsche, afirma que, “O mundo, nada mais é do que uma representação da minha mente, e é essa representação que eu posso manipular, objetivar, controlar, dominar, prever, calcular etc” (GIACOIA JUNIOR, 2009, s/p). Nesse sentido, na correnteza de Nietzsche e Foucault, percebesse que verdades são produzidas, inventadas e idealizadas por um sujeito que fabrica e é fabricado por esse tempo histórico. Essas não só refletem os desejos e as ansiedades de uma sociedade, mas também, revelam como certos saberes ganham o estatuto de verdades universais, e passam a fazer do mundo “objeto da [...]representação” (GIACOIA JUNIOR, 2009, s/p) mental. Foucault comentando Nietzsche aponta que, “[...] Nietzsche se refere a essa espécie de grande fábrica, de grande usina, em que se produz o ideal. O ideal não tem origem. Ele também foi inventado, fabricado, produzido por uma série de mecanismos, de pequenos mecanismos” (2002, p.15). Depreende-se que esse mesmo homem que inventa, imagina e idealiza um mundo “natural”, também projeta a si próprio, tanto aquele que é bom, homem- natureza, como aquele que é mal, homem-destruidor. Tais projeções acabam por ter uma grande finalidade na 1 Aluna do curso de Pedagogia e bolsista de iniciação científica do Grupo de Estudo sobre Educação, Cultura, Ambiente e Filosofia – GEECAF da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. 2 Pedagoga formada pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Atualmente aluna de Mestrado do programa de Pós-graduação em Educação Ambiental-PPGEA e Tutora no curso de Pedagogia da mesma universidade na modalidade EAD.
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A NATUREZA SOB A PERSPECTIVA IMAGÉTICA DA INFÂNCIA
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A NATUREZA SOB A PERSPECTIVA IMAGÉTICA DA INFÂNCIA
Elisângela Madruga1
Camila da Silva Magalhães 2
PARA COMEÇO DE CONVERSA...
“Os homens inventaram o ideal, para negar o real”.
Friedrich Nietzsche. A Gaia Ciência.
As transformações socioambientais têm se tornado tema de discussões, cada vez mais
recorrentes na atualidade. Vivemos um tempo onde a sociedade se preocupa com a formação
do novo cidadão, um sujeito ecologicamente correto (CARVALHO, 2008), ambientalista, ou
seja, o homem-natureza, que pode preservar e salvar o mundo da ação danosa do próprio
homem. Mas que mundo, que natureza e que homem é esse? O filósofo contemporâneo
Oswaldo Giacoia Jr. ao discutir o pensamento, a partir da filosofia de Nietzsche, afirma que,
“O mundo, nada mais é do que uma representação da minha mente, e é essa representação que
Nesse sentido, na correnteza de Nietzsche e Foucault, percebesse que verdades são
produzidas, inventadas e idealizadas por um sujeito que fabrica e é fabricado por esse tempo
histórico. Essas não só refletem os desejos e as ansiedades de uma sociedade, mas também,
revelam como certos saberes ganham o estatuto de verdades universais, e passam a fazer do
mundo “objeto da [...]representação” (GIACOIA JUNIOR, 2009, s/p) mental. Foucault
comentando Nietzsche aponta que, “[...] Nietzsche se refere a essa espécie de grande fábrica,
de grande usina, em que se produz o ideal. O ideal não tem origem. Ele também foi inventado,
fabricado, produzido por uma série de mecanismos, de pequenos mecanismos” (2002, p.15).
Depreende-se que esse mesmo homem que inventa, imagina e idealiza um mundo
“natural”, também projeta a si próprio, tanto aquele que é bom, homem- natureza, como
aquele que é mal, homem-destruidor. Tais projeções acabam por ter uma grande finalidade na
1 Aluna do curso de Pedagogia e bolsista de iniciação científica do Grupo de Estudo sobre Educação, Cultura,
Ambiente e Filosofia – GEECAF da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. 2 Pedagoga formada pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Atualmente aluna de Mestrado do
programa de Pós-graduação em Educação Ambiental-PPGEA e Tutora no curso de Pedagogia da mesma
universidade na modalidade EAD.
contemporaneidade, um deve acentuar o outro, ou seja, o homem-destruidor da natureza
acentua a necessidade da existência de um homem-natureza ou ecologicamente correto.
Segundo Nietzsche,
“[...] imaginemos ‘o inimigo’ tal como o concebe o homem do ressentimento - e
precisamente nisso está seu feito, sua criação: ele concebeu ‘o inimigo mau’, ‘o
mau’, e isto como conceito básico, a partir do qual também elabora, como imagem
equivalente, um ‘bom’ - ele mesmo! ...” (2009, p.28) [grifos do autor].
Percebe-se assim, na atualidade, a emergência de um discurso sobre uma natureza e
um mundo ameaçado, que precisa ser transformado urgentemente através das ações de
sujeitos conscientes de suas obrigações com o meio ambiente (GARRÉ, 2015). Um ideal cujo
repertório imagético é alimentado por meio de mecanismos econômicos e midiáticos. Esses
criam a imagem do bom, belo, correto, permitido, novo, ecológico, assim como seus
contrários, pois visam promover um modelo de sujeito que assumirá comportamentos que
constituirá uma sociedade consumista, porém não será mais qualquer consumo, agora será um
consumo ecologicamente correto ou verde. Nietzsche questionando os modelos de homens
ideais produzidos e afirma que, “quanto maior não é o valor do ser humano real, comparado a
um apenas desejado, sonhado, mentirosamente inventado? Um ser humano ideal? ... E apenas
o ser humano ideal ofende o gosto do filósofo” (NIETZSCHE, 2006, p.81) [grifo do autor].
Com essa compreensão, questiona-se quem é o sujeito a ser interpelado por
pensamentos como:
A utopia ecológica, como direção para a transformação social necessária para
garantir um futuro para todos, emerge da necessidade apontada pela crise ambiental,
crise planetária que vive a humanidade, resultado do modelo de civilização
construído sobre o projeto econômico que se estabeleceu principalmente a partir da
Revolução Industrial (TOZONI-REIS, 2008, p.54).
Depreende-se, que tais sujeitos sejam, principalmente, aqueles que serão os cidadãos
do futuro, a saber: a criança e o adolescente. Esses passam a ser capturados por enunciados
que propagam o discurso de crise ambiental. Segundo Revel, Foucault define discurso como
“[...] um conjunto de enunciados que podem pertencer a campos diferentes, mas que
obedecem, apesar de tudo, a regras de funcionamento comuns” (2005, p. 37). Por isso,
entende-se que, a força desse discurso advém principalmente dos diversos mecanismos
midiáticos. Assim, esses modelam pouco-a-pouco o homem ideal para a contemporaneidade,
o homem da crise ambiental e do “tempo líquido” (BAUMAN, 2001). Tempo que ratifica
cada vez mais a instabilidade de códigos e regras como pontos de orientação. Um tempo de
crise que é instaurado pela insatisfação do próprio ser humano e o anseio desesperado por um
futuro melhor. Esse panorama faz-se propício para a criação de um ideal de sujeito e de
mundo. Lefebvre discorrendo sobre Nietzsche, afirma que,
Según Nietzsche el momento en que surge la metafísica en Grecia es un momento de
decadência de la vitalidade. El pueblo griego se ha debilitado interiormente y no se
siente seguro en el mundo real. Entonces, se crea un mundo imaginario,
produciéndose así una escisión del mundo en un mundo real y un mundo ideal. El
mundo real es un mundo en el tiempo: el mundo del nacer y del parecer, de las
contradicciones, del dolor y de la muerte; el mundo de la ideas, en cambio, es un
mundo es un mundo fuera del tiempo, eterno, perfecto donde no existe el dolor ni la
muerte, al que se huye por no poder resistir más el mundo real. (1972, pg.36).
Percebe-se que, tal panorama tem promovido a constituição de ideários para o sujeito,
e se tratando da atualidade, vê-se que artefatos como: programas de TV, jogos, literatura
infantil etc., cumprem o papel de reproduzirem de forma potente os enunciados de uma crise
ambiental, assim como a necessidade de um sujeito ecologicamente e politicamente correto. O
filósofo Luiz Filipe Pondé ao criticar a fabricação do politicamente correto menciona que,
É a tentativa de reformar o pensamento tornando algumas coisas indizíveis; também
é a obscena, para não dizer intimidadora, demonstração de virtude (concebida como
a adesão pública às visões ‘corretas’, isto é, ‘progressistas’) por meio de um
vocabulário purificado e de sentimentos humanos abstratos (2012, p.3)
Trata-se, nessa perspectiva de uma performance para o novo cidadão, ou seja, um ideal
de sujeito que é projetado dentro da racionalidade neoliberal. Produzindo assim, modos de ver
o meio ambiente e de se tornar sujeito ecológico, correspondendo por sua vez, as necessidades
desse tempo histórico. Um modelo de sujeito que é idealizado, produzido e constituído por
um discurso de crise. Nesse sentido, nota-se na atualidade o surgimento de crianças
capturadas por esse discurso, que assumem e são chamadas a assumir o papel de cidadãos
conscientes. Essas, devem consumir de forma sustentável, o que contrasta por vezes com a
postura do adulto, que é consumidor, porém nem sempre sustentável. Passetti afirma que,
A educação de crianças está atravessada pelas novas formas de controlar o uso da
água para banho e escovação dentária, combinada com os impactos subjetivos
produzidos por desmatamentos e intempéries da natureza. Educação para melhorar
hoje para dar maior segurança no futuro: aprender a gerir a escassez é também
melhorar as condições de vida nas periferias, incentivo a participar, exercitar-se em
discussões democráticas com tomadas de decisões nas escolas por meio de
encenações de situações, jogos ou enfrentamento de uma controvérsia circunstancial,
combiná-las com internet, fazer da vida um jogo a partir de simulações e constituir a
conduta da criança resiliente.
A educação de crianças, e de jovens, em especial, em função da sustentabilidade
faz-se, agora, sim, com o grande poder da racionalidade neoliberal, [...] (2013, p.34)
[grifos do autor].
Entende-se nessa perspectiva, que existe não só uma performance desejada, mas
também um disciplinamento desse sujeito infantil. No entanto, não configurada pela força ou
pelos castigos corporais, e sim por aquilo que é bom, saudável, puro, responsável,
participativo, agradável, ambiental, ou seja, aquilo que conduz para a uma “qualidade vida”
da coletividade e de si. Por isso, o autor ainda aponta que,
O corpo útil e dócil das disciplinas não desaparece, apenas começa a ceder lugar a
um corpo que deve produzir inteligência: na empresa, nas fundações, institutos,
ONGs. Inteligência voltada ao desenvolvimento sustentável, proporcionando uma
disputa entre as forças empresariais, seus colaboradores e forças de confrontação,
reduzindo a política a soluções negociadas de conflitos. A produção de inteligência
funciona por meio de programações organizadas por interfaces e deve às práticas
diplomáticas em protocolos a projeção da efetivação de melhorias para um futuro
melhor para as gerações, como recomenda a Carta da Terra (ONU, 2000). Todos
devem saber controlar a si e aos outros, contando com suas referidas organizações,
aderindo aos monitoramentos normalizadores (IDEM, 2013, p.15) [grifos do autor].
Sob essa racionalidade os artefatos culturais tornam-se ferramentas bem articuladas
com os propósitos neoliberais. Esses, passam por sua vez, a produzirem significados, criam
modelos, legitimam verdades, representações e performances para a criança e o meio
ambiente. De acordo Costa, Silveira e Sommer,
[...] somos também educados por imagens, filmes, textos escritos, pela propaganda,
pelas charges, pelos jornais e pela televisão, seja onde for que estes artefatos se
exponham. Particulares visões de mundo, de gênero, de sexualidade, de cidadania
entram em nossas vidas diariamente. É a isto que nos referimos quando usamos as
expressões currículo cultural e pedagogia da mídia. Currículo cultural diz respeito às
representações de mundo, de sociedade, do eu, que a mídia e outras maquinarias
produzem e colocam em circulação, o conjunto de saberes, valores, formas de ver e
de conhecer que está sendo ensinado por elas. Pedagogia da mídia refere-se à
prática cultural que vem sendo problematizada para ressaltar essa dimensão
formativa dos artefatos de comunicação e informação na vida contemporânea, com
efeitos na política cultural que ultrapassam e/ou produzem as barreiras de classe,
gênero sexual, modo de vida, etnia e tantas outras (2003, p.57) [grifo do autor].
Dentro dessa perspectiva, é que se faz relevante esse trabalho investigativo, visto que,
tais indicações emergem de um tema tão recorrente que é a crise ambiental. Nesse sentido,
convém ressaltar que se centraliza a presente investigação na infância, especialmente com
crianças de 7 aos 10 anos, por entender que na atualidade tem surgido mecanismos de
sensibilização ecológica destinada a esses, já que esses fazem parte da “categoria de futuros
cidadãos”. Para dar conta deste texto, apresentamos rastros de acontecimentos que tornaram
possível falar no sujeito ecologicamente correto. A seguir pontuamos algumas análises a partir
de dados preliminares.
ALGUNS TRAÇADOS DA PRODUÇÃO DO SUJEITO ECOLOGICAMENTE CORRETO
NA CONTEMPORANEIDADE
As décadas de 70, 80 e 90 configuraram-se como períodos marcantes no Brasil, e é
justamente nesse momento histórico que surge um olhar preocupado com a criança, o
adolescente, a natureza e, por sua vez, com o futuro do planeta. No entanto, convém ressaltar
que tal olhar foi impulsionado principalmente por movimentos ambientalistas fortemente
ativos fora país.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, UNESCO,
em 1974 foi responsável por patrocina o seminário que deu origem a então carta de Belgrado
sobre a Educação Ambiental (REIGOTA,2012, p.513), a qual tornou-se um marco nas lutas
ambientais. Segundo site da UNESCO no Brasil,
A Representação da UNESCO no Brasil foi estabelecida em 1964 e seu Escritório,
em Brasília, iniciou as atividades em 1972, tendo como prioridades a defesa de uma
educação de qualidade para todos e a promoção do desenvolvimento humano e
social. Desenvolve projetos de cooperação técnica em parceria com o governo –
União, estados e municípios –, a sociedade civil e a iniciativa privada, além de
auxiliar na formulação de políticas públicas que estejam em sintonia com as metas
acordadas entre os Estados Membros da Organização (UNESCO, 2014).
Organizações como o Banco Mundial e UNESCO apresentam como lógica o
desempenho como performance, principalmente a educacional, por julgar um indicador
importante de desenvolvimento nos países (HAGTTE, 2013). Os investimentos para um
futuro sustentável, por sua vez, recaem sobre o sujeito e a natureza, como aponta Passetti no
seguinte trecho:
A sustentabilidade firma-se como o meio para o capitalismo realizar de maneira
adequada, adaptável e consensual sua utopia de um futuro melhor desde o presente.
As intervenções na natureza por meio de regulamentações internacionais
repercutem em regulações nacionais, as empresas aderem à responsabilidade social,
cresce o investimento em redutores de vulnerabilidades, aplica-se com rigor o IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), convoca-se à participação para medidas
pacificadoras e missões de paz, amplia-se o leque de seguranças, incluindo
alimentação, clima, securitizações e leva-se adiante as Metas do Milênio, para a qual
a Rio +20 apresentou-se como fórum de tendências e espaço para implementações
da economia verde e de institucionalização da cultura de paz;[...] (2013, p.23)
[grifos do autor].
Nesse sentido, nota-se a grande mobilização dessas organizações em financiar projetos
que potencializem o sujeito a se tornar produtivo e proativo na coletividade, visando, por sua
vez, o aumento dos índices de eficiência desses, como indica a página de informações
adicionais do site da UNESCO,
Por meio de um processo inovador, o setor de Ciências Humanas e Sociais da
Representação da UNESCO no Brasil seleciona projetos submetidos por
organizações não governamentais para receber benefícios financeiros, bem como
assessoria programática da UNESCO, dando início a um processo de transferência
de conhecimento. Muitas dessas iniciativas são respostas locais para minimizar
problemas e induzir o aperfeiçoamento de políticas públicas, além do reforçar
lideranças locais.
As propostas dos projetos a serem selecionados são analisadas com base em normas
nacionais e internacionais em que a criança e o adolescente são vistos como o bem
maior de uma sociedade. Apesar dos projetos serem apoiados pelo Programa
Criança Esperança por um período de dois anos, prioridade é dada àqueles que
evidenciam sustentabilidade e que oferecem treinamento técnico e profissionalizante
para os jovens (UNESCO, 2014).
Pode-se ainda perceber no documento intitulado Manifesto 2000 UNESCO (Cultura
da paz), alguns dos ideais e objetivos dessa organização. Assim, essa menciona que,
O ano 2000 precisa ser um novo começo para todos nós. Juntos, podemos trans-
formar a cultura da guerra e da violência em uma cultura de paz e não-violência.
Para tanto, é preciso a participação de todos. Assim, transmitiremos aos jovens e às
gerações futuras valores que os inspirarão a construir um mundo de dignidade e
harmonia, um mundo de justiça, solidariedade, liberdade e prosperidade. A cultura
de paz torna possível o desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente e
o crescimento pessoal de cada ser humano (UNESCO, 2000).
Na esteira desse pensamento, percebesse diversos movimentos buscando promover a
conscientização da sociedade e do poder público para a “salvação” da criança, do adolescente
e do planeta. Para tanto, surgem subsequentes ações como: Criança esperança, criado pela
rede Globo- 1989; O estatuto da criança e do adolescente - ECA - 16/07/1990; Educação
ambiental – 1990; Cria o conselho nacional dos direitos da criança e do adolescente-
CONANDA, lei 8.242, de 12/10/1991; Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento – Rio / 92; Fundo nacional da criança e do adolescente - DEC,
1.196, de 14/07/1994; Criança Esperança ao completar 10 anos, tem o apoio do UNICEF e a
UNESCO -1995; Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – 1996; I Conferência Nacional
de Educação Ambiental, em Brasília – 1997. Declaração de Brasília para a Educação
Ambiental; Programa Nacional de Educação Ambiental - 1999 e a Política Nacional de
Educação Ambiental.
A idealização do meio ambiente e do sujeito ecologicamente correto, ganha apoio e
legitimação através de ações políticas, midiáticas, educacionais etc. Todos, de forma
participativa, passam a projetar o futuro. Para isso, os discursos produzidos nos artefatos
culturais, programas de TV, literatura infantil, jogos etc., darão os elementos que irão compor
o repertório imagético da sociedade, mas que se perpetuará como comportamento na infância.
De acordo com Serrão-Neumann, que mostra compartilhar com essa visão,
Numa perspectiva futura, o destino dessas paisagens, ou seja, a materialização, ou a
não-materialização, desse ideal de preservação está intimamente relacionada com a
história do lugar, e de como seus habitantes se identificam com o lugar. [...] Além
disso, nossa vivência, memória e fantasia que se manifestam nas circunstâncias
atuais e que configuraram a paisagem anteriormente, podem ser transformadas
conforme as novas contingências que são trazidas pelos propósitos futuros. Assim,
ao se analisar a paisagem como produto histórico, social, não podemos
desconsiderar a influência que as implicações cotidianas, políticas e cientificas
exercem sobre os atores sociais, e o papel que desempenham nesse processo de
produção de paisagens (BECK, 1992). (2007, p. 37).
Ao trazer esses excertos a discussão, intenciona-se ressaltar “os interesses
desinteressados da sociedade civil [que] passam a compor com os interesses da economia
política, por meio das conexões inacabadas entre indivíduos e as variadas comunidades em
torno do futuro melhor para as gerações” (PASSETTI, 2013, p.20) [grifos do autor]. Nessa
perspectiva, observa-se o quanto organizações, governos e sociedade estão empenhados na
produção do sujeito ecologicamente e politicamente correto.
OS TRAÇADOS E ALGUMAS ANÁLISES DA PESQUISA EM EVIDÊNCIA
Iniciar uma pesquisa é com certeza um desafio para qualquer pesquisador, pois, como
ressalta Marques (2006, p.105), é “nessa caminhada do simples ao complexo por retificações
e aproximações sucessivas, [é que] alternam-se e se complementam o empírico e o teórico da
pesquisa [...]”. Por isso, exige do pesquisador bem mais que sensibilidade, para compreender
como os sujeitos, desse tempo, fabricam e são fabricados por regimes de verdades. Nesse
sentido, requer um olhar imbuído de uma “hipercrítica” (VEIGA-NETO, 1995), que se
coloque a analisar, observar as rachaduras desse contemporâneo ou “[...] para nele perceber
não as luzes, mas o escuro” (AGAMBEN, 2009, p.62).
Tendo essa perspectiva, é que o presente trabalho tomará como ferramenta
metodológica, os estudos acerca da análise do discurso desenvolvida por Michel Foucault
(2002), visto que, se entende que educação ambiental é na atualidade um dispositivo que atua
nos artefatos culturais para estabelecer relações de verdades (GARRÉ, 2015). Nesse sentido,
Foucault define dispositivo como,
[...] um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições,