Apostila Texto e Gramática 4. Conteúdo Programático 4.1 Conceitos teóricos básicos VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 4.1.1 O modo de falar do brasileiro Alfredina Nery* Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos: 1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita; 2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo; 3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões. Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo. Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco. Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho. Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado. Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe. Simplificação da concordância: as menina/as meninas. Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças. Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora. Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também). Desnasalização das vogais postônicas: home/homem. Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe. Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor. Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama. Variações regionais: os sotaques Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma linguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil: Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo. Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação linguística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil. Antigamente "Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito
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Apostila Texto e Gramática
4. Conteúdo Programático
4.1 Conceitos teóricos básicos
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 4.1.1O modo de falar do brasileiroAlfredina Nery*Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos: 1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo; 3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões. Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo.
Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco.
Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.
Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado.
Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.
Simplificação da concordância: as menina/as meninas.
Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças.
Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora.
Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também).
Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.
Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.
Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor.
Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.
Variações regionais: os sotaquesSe você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma linguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil:
Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo.
Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação linguística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil.
Antigamente"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito
prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."
Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do século 21? Toda língua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era usado na época medieval.
Língua e statusNem todas as variações linguísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variações usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regiões, para percebers que há preconceito em relação a elas.
Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto:
O Poeta da RoçaSou fio das mata, canto da mão grossa,Trabáio na roça, de inverno e de estio.A minha chupana é tapada de barro,Só fumo cigarro de paia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papéDe argun menestré, ou errante cantôQue veve vagando, com sua viola,Cantando, pachola, à percura de amô.Não tenho sabença, pois nunca estudei,Apenas eu sei o meu nome assiná.Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastero, singelo e sem graça,Não entra na praça, no rico salão,Meu verso só entra no campo e na roçaNas pobre paioça, da serra ao sertão.(...)
Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por essa poesia? Patativa do Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa.
Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, já em 1922, enfatizou a busca por uma "língua brasileira".
Uma certa tradição cultural nega a existência de determinadas variedades linguísticas dentro do país, o que acaba por rejeitar algumas manifestações linguísticas por considerá-las deficiências do usuário. Nesse sentido, vários mitos são construídos, a partir do preconceito linguístico.
*Alfredina Nery Professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.
A linguagem é a característica que nos difere dos demais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião frente
aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano, e, sobretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social.
E dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os níveis da fala, que são basicamente dois: O nível de formalidade e o de informalidade.
O padrão formal está diretamente ligado à linguagem escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma maneira que falamos. Este fator foi determinante para a que a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais.
Quanto ao nível informal, este por sua vez representa o estilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que para a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira errônea é considerada “inculta”, tornando-se desta forma um estigma.
Compondo o quadro do padrão informal da linguagem, estão as chamadas variedades linguísticas, as quais representam as variações de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada. Dentre elas destacam-se:
Variações históricas:
Dado o dinamismo que a língua apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo bastante representativo é a questão da ortografia, se levarmos em consideração a palavra farmácia, uma vez que a mesma era grafada com “ph”, contrapondo-se à linguagem dos internautas, a qual fundamenta-se pela supressão do vocábulo.
Analisemos, pois, o fragmento exposto:
Antigamente “Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio." Carlos Drummond de Andrade
Comparando-o à modernidade, percebemos um vocabulário antiquado.
Variações regionais:
São os chamados dialetos, que são as marcas determinantes referentes a diferentes regiões. Como exemplo, citamos a palavra mandioca que, em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como: macaxeira e aipim. Figurando também esta modalidade estão os sotaques, ligados às características orais da linguagem.
Variações sociais ou culturais:
Estão diretamente ligadas aos grupos sociais de uma maneira geral e também ao grau de instrução de uma determinada pessoa. Como exemplo, citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos grupos, como os surfistas, cantores de happy, tatuadores, entre outros.
Os jargões estão relacionados ao profissionalismo, caracterizando um linguajar técnico. Representando a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissionais da área de informática, dentre outros.
Vejamos um poema e o trecho de uma música para entendermos melhor sobre o assunto:
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Oswald de Andrade
CHOPIS CENTIS
Eu “di” um beijo nela
E chamei pra passear.
A gente fomos no shopping
Pra “mode” a gente lanchar.
Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim.
Até que “tava” gostoso, mas eu prefiro aipim.
Quanta gente,
Quanta alegria,
A minha felicidade é um crediário nas
Casas Bahia.
Esse tal Chopis Centis é muito legalzinho.
Pra levar a namorada e dar uns
“rolezinho”, Quando eu estou no trabalho,
Não vejo a hora de descer dos andaime.
Pra pegar um cinema, ver Schwarzneger
E também o Van Damme.
(Dinho e Júlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassinas, 1995.)
- de grupo social para grupo social: pessoas que moram em bairros chamados nobres falam diferente dos que moram na periferia. Costuma-se distinguir o português das pessoas mais prestigiadas socialmente (impropriamente chamada de fala culta ou norma culta) e o das pessoas de grupos sociais menos prestigiados (a fala popular ou norma popular);
- de situação para situação: cada uma das variantes pode ser falada com mais cuidado e vigilância (a fala formal) e de modo mais espontâneo e menos controlado (a fala informal). Um professor universitário ou um juiz falam de um modo na faculdade ou no tribunal e de outro numa reunião de amigos, em casa e em outras situações informais.
Além dessas, há outras variações, como, por exemplo, o modo de falar de grupos profissionais, a gíria própria de faixas etárias diferentes, a língua escrita e oral.
Diante de tantas variantes lingüísticas, é inevitável perguntar qual delas é a correta. Resposta: não existe a mais correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada a cada contexto. Dessa maneira, fala bem aquele que se mostra capaz de escolher a variante adequada a cada situação e consegue o máximo de eficiência dentro da variante escolhida.
Usar o português rígido, próprio da língua escrita formal, numa situação descontraída da comunicação oral é falar de modo inadequado. Soa como pretensioso, pedante, artificial. Por outro lado, é inadequado em situação formal usar gírias, termos chulos, desrespeitosos, fugir afinal das normas típicas dessa situação.
Quando se fala das variantes, é preciso não perder de vista que a língua é um código de comunicação e também um fato com repercussões sociais. Há muitas formas de dizer que não perturbam em nada a comunicação, mas afetam a imagem social do falante. Uma frase como “o povo exageram” tem o mesmo sentido que “o povo exagera”.
Como se sabe, o coletivo, sob o ponto de vista do conteúdo, é sempre plural. Nada impede que, mesmo na forma singular, mande o verbo para o plural. Houve mesmo época em que o “chique” era a concordância com o conteúdo. Hoje, a concordância é com a forma. Nesse particular, há uma aproximação máxima entre língua e etiqueta social. No português atual, uma frase como “o povo exageram”, embora não contenha nenhum absurdo, deprecia a imagem do falante.
Os vestibulares inovadores exploram as variantes lingüísticas de uma maneira bem mais apropriada, reconhecendo a sua utilidade para criar variados efeitos de sentido: caracterizar personagens no interior de um texto narrativo; estabelecer relações de intimidade entre os falantes; ridicularizar pessoas que as utilizam inadequadamente, etc.
Os vestibulares tradicionais, quando tratam das variantes, quase só se preocupam com o que chamam de correção gramatical, postulando como falar correto apenas aquele que corresponde às normas da linguagem culta e formal.
Para resolver essas chamadas questões de correção de frases, é aconselhável adotar os seguintes cuidados:
- checar problemas ligados à acentuação, à crase e à grafia de palavras problemáticas (especialmente aquelas que têm grafias semelhantes);- observar o verbo em três níveis: - a conjugação; - a concordância; - a regência;- observar os pronomes em dois níveis: - a colocação; - o uso da forma adequada à sua função sintática;
- observar se as palavras estão empregadas na sua forma e no seu sentido correto. A questão que segue é um bom exemplo de proposta de correção lingüística no estilo tradicional.
(U. F. PERNAMBUCO) — Observe os inconvenientes linguísticos e reescreva a frase de forma que atenda à norma-padrão: Convidamos aos professores para que dê início as discursões dos assuntos em palta.
R.: Convidamos os professores para que dêem início às discussões dos assuntos em pauta.
Os vestibulares modernos exploram as variantes de maneira diferente, solicitando, por exemplo, comentários sobre o uso de certas variantes e propondo comparações entre elas, como na questão que segue.
(U. F. VIÇOSA) — Suponha um aluno se dirigindo a um colega de classe nestes termos: “Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me o livro.” A atitude desse aluno se assemelha à atitude do indivíduo que:
a) comparece ao baile de gala trajando “smoking”. b) vai à audiência com uma autoridade de “short” e camiseta. c) vai à praia de terno e gravata. d) põe terno e gravata para ir falar na Câmara dos Deputados. e) vai ao Maracanã de chinelo e bermuda.
Existe diferença, entre Norma Culta e Padrão Coloquial? 3 de maio de 2011
Norma culta é uma modalidade linguística escolhida pelos falantes escolarizados de uma sociedade como modelo de comunicação verbal. É a língua das pessoas elitizadas. Ela comporta dois padrões: o formal e o coloquial:Padrão formal – É o modelo culto utilizado na escrita, que segue rigidamente as regras gramaticais. Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como porque a escrita é supervalorizada na nossa cultura. É a história do “vale o que está escrito”.Padrão coloquial – É a versão oral da língua culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de liberdade e está menos presa à rigidez das regras gramaticais. Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita e, embora exista, a permissividade com relação às “transgressões” é pequena.Assim, na linguagem coloquial, admitem-se, sem grandes traumas, construções como “Ainda não vi ele”, “Me passe o arroz” e “Não te falei que você iria conseguir?”, inadmissíveis na língua escrita. O falante culto, de modo geral, tem consciência dessa distinção e ao mesmo tempo em que usa naturalmente as construções acima na comunicação oral, evita-as na escrita. Contudo, como se disse, não são muitos os desvios admitidos, e muitas formas peculiares da norma popular são condenadas mesmo na linguagem oral. Construções como “Nóis foi na fazenda” (o “na” ainda seria tolerado) e “Ele pagou dois milhão pelos boi” são impensáveis na boca de um falante culto em ambiente culto, pois passam a quem ouve a impressão de total falta de escolaridade de parte de seu autor. Já em ambiente inculto seriam apropriadas: é a história de “Em Roma, como (fazem) os romanos”. Por outro lado, usos próprios do padrão formal empregados na língua oral costumam parecer forçados ou artificiais no falar despreocupado do dia-a-dia e configuram o que se chama de preciosismo. É o caso de, num bate-papo, ouvir-se certos empregos do pronome oblíquo – “Ainda não o vimos por aqui” -, flexões do mais-que-perfeito do indicativo – “Eu ainda não entrara no Banco quando aquilo aconteceu” e, o que é pior, o uso da mesóclise*, como em “Você ver-se-ia em maus lençóis se continuasse a insistir naquilo”.Moral da história: assim como se usa traje apropriado para cada situação social, também se use o padrão linguístico adequado para as diferentes situações de comunicação social.*Mesóclise: É a colocação do pronome quando o verbo se encontra no futuro simples do presente ou no futuro simples do pretérito do indicativo, desde que não haja palavras que exerçam atração sobre ele, ou seja, a próclise. Mas isso é assunto para outro texto.
MUÇARELA OU MUSSARELA?___________________________________________
Vícios de Linguagem
Recentemente, em um concurso público, uma das questões de língua portuguesa pedia
aos candidatos que assinalassem a frase correta, cujo termo em questão era: mussarela ou
muçarela. No gabarito do concurso, constava que a frase correta era: O atacante Ronaldo,
[...] é incapaz de resistir a uma pizza de muçarela. Muçarela com [ç]? Tal fato causou
indignação em muitos candidatos e criou grande polêmica gramatical na cidade. Não foram
poucos os candidatos que entraram com recurso na prefeitura para reclamar dessa questão
da prova.
Veja você, como não é demais insistir nos textos e lições sobre as dúvidas de nossa
Língua, mesmo que nos pareçam corriqueiros e batidos. Naquele concurso, bom número de
candidatos errou a questão por seguirem o uso popular de uma palavra, e isso, em um
concurso, ou vestibular, não se admite. O que vale é a norma culta, os cânones gramaticais.
Esse confronto entre o uso popular e a norma culta, atinge até mestres graduados, como
é o caso do professor de língua portuguesa da USP, Ataliba Castilho, Autor do livro
"Gramática do Português Culto Falado no Brasil, que estranhou a grafia da palavra com "ç".
Dizia-se surpreso, achava que fosse com [ss], pois sempre escreveu e leu desse jeito. Mas,
vamos aos fatos:
Em nosso idioma, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) - uma espécie
de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua
portuguesa – é a autoridade oficial para nos dizer como “tal” palavra dever ser escrita e
falada. O VOLP é editado periodicamente pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Se você consultar o VOLP, vai encontrar como formas corretas: mozarela, muçarela e
muzarela. Sendo “muçarela” o termo “abrasileirado”. Portanto, as formas: moçarela,
morzarela, mossarela, mozzarela, murzarela, mussarela, muzzarela, não pertencem,
oficialmente, ao nosso idioma. Essa é a determinação, e ponto final. Qualquer discussão
sobre essa questão deve ser feita em outro plano. Porém, se você quiser grafar o termo fora
dessas orientações, nada o impede, mas diante da norma gramatical, você estará cometendo
um erro.
E por que o uso popular tradicionalizou o termo “mussarela”? Acredita-se que seja por
estar mais próximo do termo de origem mozzarella. A começar pelos estabelecimentos
comerciais que trabalham com a pizza. Você, provavelmente estranharia se lesse nos
cardápios pizza muçarela, ou mozarela, ou ainda muzarela. Mussarela, com certeza,
continuará prevalecendo nos cardápios e no uso popular, mas não esqueça que em um
concurso ou vestibular quem prevalece é a muçarela com [ç].®Sérgio.
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Para copiar este texto: selecione-o e tecle Ctrl + C.Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.Ricardo Sérgio
LÍNGUA ESCRITA E ORALNão se fala como se escreveAlfredina Nery*Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação "Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala."
Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabi iscrevê.
O comentário é do humorista Jô Soares, para a revista Veja. Ele brinca com a diferença entre o português falado e escrito. Na verdade, em todas as línguas, as pessoas falam de um jeito e escrevem de outro. A fala e a escrita são duas modalidades diferentes da língua e é com esse fato que o Jô brincou.
Na língua escrita há mais exigências, em relação às regras da gramática normativa. Isso acontece porque, ao falar, as pessoas podem ainda recorrer a outros recursos para que a comunicação ocorra - pode-se pedir que se repita o que foi dito, há os gestos, etc. Já na linguagem escrita, a interação é mais complicada, o que torna necessário assegurar que o texto escrito dê conta da comunicação.
A escrita não reflete a fala individual de ninguém e de nenhum grupo social. Por essa razão, a fala e a escrita exigem conhecimentos diferentes. A maioria de nós, brasileiros, falamos, por exemplo, "Eli me ensinô". O português na variante padrão exige, no entanto, que se escreva assim: "Ele me ensinou". Essas diferenças geram muitos conflitos.
A leitura de um trecho do poema de Antonino Sales, "Malinculia", mostra as interferências da fala na escrita e como elas não anulam a expressividade poética de suas imagens.
Malinculia, Patrão, É um suspiro maguado Qui nace no coração! É o grito safucado Duma sodade iscundida Qui nos fala do passado Sem se torná cunhicida! É aquilo qui se sente Sem se pudê ispricá! Qui fala dentro da gente Mas qui não diz onde istá! (...)
(BAGNO, Marcos. "A Língua de Eulália: Uma Novela Sociolinguística)
A língua muda, ainda, conforme o grupo social, a região, e o contexto histórico. São as chamadas variações linguísticas. A gíria e o jargão são algumas dessas variações.
*Alfredina Nery Professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.
As modalidades orais e escritas não são só um instrumento utilizado para a comunicação ou veiculação de informações, mas principalmente como uma forma de mostrar socialmente aquilo que gostaríamos que os outros enxergassem uns aos outros, e ao mesmo tempo como vemos o outro de acordo com a nossa perspectiva de mundo, aquela que introjetamos ao longo da vida, onde a relação pensamento e linguagem são muitas próximas, ou seja, estão entrelaçadas ambas caminham juntas apesar de apresentarem diferenças na produção e representação, a fala e a escrita são antes de tudo, sistemas comunicativos que expressam a língua nas praticas sociais.
Atualmente já se houve falar com frequência que a linguagem escrita e a linguagem oral são duas modalidades de expressão verbal. Refletir sobre as relações e especificidades da fala e da escrita nos permite entender um pouco também sobre a gramática.A fala procede à escrita, no entanto, numa sociedade letrada, as duas modalidades convivem e se entrelaçam, há também sociedades que não utilizam registro escrito, mas a fala é comum a todos os povos.A fala é a modalidade mais utilizada em situações cotidianas e informais e a escrita é o registro permanente das idéias sociais.A fala e a escrita se apóiam em sons e letras articulados em sistemas de representação simbólica, isto é o homem construiu ferramenta para estabelecer relações sociais, principalmente as comunicativas e as transformou em práticas sociais. Essas práticas fazem parte da cultura, do modo de pensar, sentir, agir, julgar, ver e lógico falar e escrever. De acordo com alguns autores renomados como Fávero, Akinnaso, Chafe, Rojo e Halliday, as modalidades escritas e orais, vão de um nível mais informal aos mais formais, passando por graus intermediários demonstradas com a produção de textos, onde tais condições estão em estreita relação com o contexto, com as condições de interação, com os interlocutores e com o tipo de processamento da informação.Akinnaso (1982) afirma que fala e escrita apresentam formas superficiais diferentes e igual estrutura semântica subjacentes: utilizam o mesmo sistema léxico-semântico e variam, em particular, na escolha e distribuição de padrões sintáticos e de vocabulário, de acordo com a produção do texto, admitindo que os textos possam apresentar-se de varias formas, ou seja, ora se aproxima da fala como, por exemplo: os bilhetes domésticos, os bilhetes dos casais, cartas familiares e textos de humor, ora se aproximando do pólo da escrita, por exemplo: os discursos de posse de cargo, as conferências, as entrevistas especializadas e propostas de produtos de alta tecnologia por vendedores especialmente treinados.Conforme observa-se a oralidade e a escrita constituem duas possibilidades de uso da língua que utilizam o mesmo sistema lingüístico e que apesar de possuírem características próprias, não devem ser vistas de forma dicotômica, ou seja, escrita tem sido vista como de estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a fala, de estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto.Esta visão dicotômica entre oralidade e escrita, em que a primeira ocupava um lugar de supremacia sobre a segunda, permaneceu por muito tempo no meio lingüístico, sendo mudada a partir dos anos 80, quando os estudiosos começaram a vê-las como práticas sociais diferentes. A este respeito, Marcuschi (2000:17) ressalta que:Hoje predomina a posição de que se pode conceber oralidade e letramento como atividades interativas e complementares no contexto das práticas sociais e culturais. Uma vez adotada a posição de que lidamos com práticas de letramento e oralidade, será fundamental considerar que as línguas se fundam em usos e não o contrário.Chafe melhor estabeleceu as diferenças entre a linguagem oral e a linguagem escrita, apresentando uma proposta de analise, sendo capaz de estabelecer uma comparação.Ainda afirma Chafe que as pessoas não escrevem do mesmo modo que falam, corroborando a teoria de Goody e Watt (1968) acerca da diferença entre a oralidade e a escrita, contradizendo Bloomfield, em cuja concepção a linguagem escrita não passa de uma reprodução da linguagem oral, procurando identificar as diferenças para explicar as causas fundamentais de tais diferenças.Alguns fatores são responsáveis pelas diferenças entre linguagem oral e linguagem escrita: o contexto, a intenção do falante ou do escritor e o tópico do que se diz ou escreve.Focalizando o modo de os falantes e escritores selecionarem as palavras ou estruturas para expressarem suas idéias, observou que a escolha dos falantes é rápida, enquanto a dos escritores é lenta, por terem mais tempo para reproduzi-la e revisá-la. Com isso, a linguagem escrita tende a ter um vocabulário mais variado e de conveniência do usuário.A escolha lexical também proporciona ao usuário a exibição de um estilo próprio e o controle do grau de formalismo e coloquialismo de suas produções discursivas. Do vocabulário, um conferencista seleciona palavras e expressões que possam conferir ao seu texto um caráter mais ou menos formal, como o faz um escritor de uma carta, para dar ao seu texto um caráter mais ou menos coloquial. A esse respeito, a distinção entre fala e escrita não se faz com precisão, uma vez que as restrições operativas não se associam propriamente ao fator velocidade do processo. O grau de coloquialismo ou formalismo envolve decisões estilísticas e de domínio do léxico que podem transferir-se de um modo de produção para o outro com muita facilidade e propriedade.Falar e escrever são formas diferentes de dizer e expressar significados construídos na linguagem e pela linguagem, dentro de uma situação interativa social. Nesse sentido, Halliday (1989) propõe que falar e escrever, enquanto formas diferentes de dizer e modos diferentes de se expressar em significados lingüísticos, apresentam uma interface: a analogia
entre fala e escrita sustentada por três princípios. Um deles é que a escrita não incorpora todos os potenciais de significação da fala, pois deixa de lado as participações paralingüísticas e prosódicas e, a fala não apresenta os limites da sentença e do parágrafo; estas diferenças, porém, são de sinais e não de conteúdo. O outro é que não há necessidade de duas linguagens para a mesma função, pois uma seria a duplicação da outra. Logo, cada modalidade serviria para uma finalidade mais específica, sem perder sua característica fundamental de ser “linguagem”. Por último, fala e escrita planteiam diferentes aportes para a experiência: a escrita cria o mundo da coisas/objetos e a fala, o dos acontecimentos. Para esse autor, tais aportes seriam formas possíveis de se olhar para o mesmo objeto de conhecimento, ou seja, a experiência humana. O ser humano aprende ouvindo e falando, lendo e escrevendo, ou seja constrói significados mediante um sistema e uma estrutura samantica. Na medida em que as crianças pertencentes a culturas letradas vão-se desenvolvendo, suas interações passam a ser transpassadas pelo discurso escrito e as significações têm uma nova possibilidade de análise de construção além da oferecida pelo discurso oral, a saber, a do âmbito do discurso escrito. Dentro do espaço discursivo da interação, o discurso escrito sofre interpenetrações sociais e culturais, pois, em sua essência, está permeado pelos sentidos e valores da ideologia do grupo social. Essas interpenetrações se refletem nas formas de interação da criança com a escrita - objeto de conhecimento - dentro de um contexto sócio-histórico mais amplo, que “revela os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época” (Savioli e Fiorin, 1996:17).Segundo Rojo vêm focalizando sua atenção para questões da aquisição da escrita:Até recentemente a linguagem escrita não foi vista como processo de desenvolvimento ou construção. Assim, durante décadas, o desenvolvimento da escrita foi encarado como um treinamento de habilidades viso-motor e de transcrição de código sonoro em formas gráficas. Isto acarretou uma grande centração dos estudos no momento da alfabetização e na questão da correspondência grafema-fonema e dos aparatos orgânicos envolvidos na transcrição desta correspondência. É na escrita que a criança vai se explicitando segundo suas falas e lugares sociais, ampliando assim o processo de desenvolvimento, o leitor/escritor vai incorporando, gradualmente, a modalidade discursiva da escrita e as características dos papéis do leitor/escritor.
CONSIDERAÇOES FINAISConsiderando as diferenças (formais, funcionais e da natureza de estímulo) entre a linguagem oral e a linguagem escrita, concluem-se serem distintas tais modalidades. Porém, embora não seja a linguagem escrita à transcrição da linguagem oral, não se pode negar a semelhança de seus produtos, que podem expressar as mesmas intenções, já que a seleção de elementos lingüísticos de ambos se dá a partir de um mesmo sistema gramatical.O que não se pode negar é que a linguagem escrita e a linguagem oral não constituem modalidades estanques; apresentam diferenças devido à condição de produção, mas o processo se dá a partir da língua, que “é um conjunto de possibilidades lingüísticas, cujos usos se fazem de acordo com normas específicas a cada uma das modalidades”.A linguagem oral se caracteriza essencialmente por ser falada − natureza do estímulo, mas o fato de a linguagem oral ser produzida pela boca e recebida pelos ouvidos não é e nem pode ser o elemento fundamental para se determiná-la distinta da linguagem escrita no âmbito cientifico.REFERENCIAIS
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BECHARA, Evanildo. A correção idiomática e o conceito de exemplaridade. In: Azeredo, Jose c, Língua em debate: conhecimento e ensino. Petrópolis: Vozes, 2000, p.11-8.FÁVERO, Leonor Lopes et alli. Oralidade e escrita: perspectiva para o ensino da língua materna. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 2000.CASTILHO, Ataliba. T.de. A língua falada no Ensino de Português. São Paulo: Contexto, 2001.158p.
Que a linguagem escrita e a linguagem oral não constituem modalidades estanques, apesar de apresentarem diferenças devido à condição de produção, é um fato incontestável. Contudo, há particularidades de outras ordens que as tornam modalidades específicas da língua.
Tais particularidades são, de fato, elementos exclusivos de cada uma delas, como a gesticulação, por exemplo, na linguagem oral, e a reedição de texto, com apagamento do texto anterior, na linguagem escrita.
Certamente, as pessoas não escrevem exatamente do mesmo modo que falam, uma vez que se tratam de processos diferentes. Essas diferentes condições de produção para usos de diferentes intenções propiciam a criação de diferentes tipos de linguagem, que se agrupam nas duas modalidades da língua.
Fatores como: o contexto, a intenção do usuário e a temática, são responsáveis pelas diferenças entre a linguagem oral e a linguagem escrita, que, nem por isso, são estanques.
A LINGUAGEM ORAL E A LINGUAGEM ESCRITA,SEGUNDO CHAFE
Sem desprezar as diversas teorias acerca das modalidades de uma dada língua, este trabalho se deterá nos estudos de Chafe (1987), que melhor estabeleceu as diferenças entre a linguagem oral e a linguagem escrita, apresentando uma proposta de análise, a partir da qual foi possível se estabelecer uma comparação.
Chafe afirma que as pessoas não escrevem do mesmo modo que falam, corroborando a teoria de Goody e Watt (1968) acerca da diferença entre a oralidade e a escrita, contradizendo Bloomfield, em cuja concepção a linguagem escrita não passa de uma reprodução da linguagem oral.
“Writing is not language, but merely a way of recording language by means of visible marks.” (Bloomfield, 1933: 21)
Em trabalhos anteriores (Chafe, 1982, 1985 e 1986), o autor já demonstrava o seu interesse pelo assunto. Neles, procurou identificar mais precisamente as diferenças a serem encontradas nos dois tipos de linguagem usados por falantes e escritores, para em seguida tentar explicar as causas fundamentais de tais diferenças.
Nesses trabalhos, as observações feitas pelo autor se restringem a uma comparação entre os dois extremos da fala e da escrita: de um lado, a conversação, e do outro oposto, a escrita acadêmica.
Mais tarde, em parceria com Tannen (1987), o autor levanta a hipótese de que “diferentes condições de produção, assim como usos de diferentes intenções, propiciam à criação de diferentes tipos de linguagem” (cf. Chafe & Tannen, 1987: 390). No mesmo parágrafo, os autores demonstram acreditar que a conversação comum é a forma prototípica de linguagem, a partir da qual se deveriam comparar todos os outros gêneros quer sejam falados, quer sejam escritos.
Alguns fatores são responsáveis pelas diferenças entre linguagem oral e linguagem escrita: o contexto, a intenção do falante ou do escritor e o tópico do que se diz ou escreve.
Na caracterização dessas diferenças, Chafe (1987) analisou quatro tipos de produções discursivas coletados para um projeto de estudos: conversação e conferência (produções discursivas da oralidade), e carta e artigo acadêmico (produções discursivas da escrita).
Focalizando o modo de os falantes e escritores selecionarem as palavras ou estruturas para expressarem suas idéias, observou que a escolha dos falantes é rápida, enquanto a dos escritores é lenta, por terem mais tempo para reproduzi-la e revisá-la. Com isso, a linguagem escrita tende a ter um vocabulário mais variado e de conveniência do usuário.
A escolha lexical também proporciona ao usuário a exibição de um estilo próprio e o controle do grau de formalismo e coloquialismo de suas produções discursivas. Do vocabulário, um conferencista seleciona palavras e expressões que possam conferir ao seu texto um caráter
mais ou menos formal, como o faz um escritor de uma carta, para dar ao seu texto um caráter mais ou menos coloquial. A esse respeito, a distinção entre fala e escrita não se faz com precisão, uma vez que as restrições operativas não se associam propriamente ao fator velocidade do processo. O grau de coloquialismo ou formalismo envolve decisões estilísticas e de domínio do léxico que podem transferir-se de um modo de produção para o outro com muita facilidade e propriedade.
Chafe ressalta, ainda, que a unidade relevante da fala parece ser a entidade basicamente prosódica, que chama de “unidade de entonação”, a qual descreve em trabalho anterior (Chafe, 1985), corroborando a “hipótese de uma oração de cada vez”, de Pawley & Syder (1976).
Na escrita, as unidades de entonação são mais longas (em torno de nove palavras) do que na fala (em torno de seis palavras), que se limita em tamanho pela “memória de curto prazo” ou capacidade de “consciência focal” do falante e, provavelmente, pela consciência que esse tem das limitações de capacidade do ouvinte.
A intenção dele é demonstrar as propriedades da linguagem falada e da linguagem escrita. Para isso, lança mão dos seguintes parâmetros: variedade de vocabulário, nível de vocabulário, construção de orações, construções de frases e envolvimento e distanciamento.
Variedade de vocabulário
De certo, falantes e escritores fazem a seleção de palavras e expressões para exprimirem os seus pensamentos.
Como não há uma relação perfeita entre o que a pessoa pensa e a linguagem que usa para a sua expressão, pois nem sempre se traduz automaticamente, com palavras apropriadas, o que se pensa, o usuário precisa ter um bom conhecimento da linguagem. Esse conhecimento inclui o conhecimento de um repertório de opções lexicais necessárias, que será ativado sempre que o usuário tiver que se expressar lingüisticamente.
Nível de vocabulário
Quanto ao nível de vocabulário, o autor assume que falantes e escritores não fazem a seleção de itens lexicais de um mesmo estoque. Ele considera haver palavras e expressões exclusivas de cada repertório e um sem-número de itens neutros, que ocorrem normalmente em ambos os repertórios. Os níveis se verificam nos distintos registros lingüísticos, considerando a adequação dos itens escolhidos e do repertório em si.
O autor observa que o vocabulário da fala é inovador e flutuante, enquanto o vocabulário da escrita é, em geral, conservador.
A linguagem escrita se enriquece com a ampliação do seu repertório, ao passo que a riqueza do repertório da linguagem falada constitui nas constantes transformações de sentido dos itens de seu repertório limitado.
Tal fato confirma que, apesar de os vocabulários de cada modalidade serem característicos, itens lexicais mais ou menos formais ou coloquiais podem ser utilizados pelo falante e pelo escritor quando lhes forem convenientes.
Construção de oração
A linguagem é mais do que um conjunto de palavras e expressões combinadas; como se dá essa combinação é o que mais importa para Chafe.
Para a discussão desse tópico, o autor se baseia na oração gramatical, mas considera mais realista proceder em termos de “unidade de entonação”, que inicialmente (Chafe, 1980) denominava “unidade de idéias”.
Chafe especula que tal unidade de entonação expressa o que está na “memória de curto prazo” do falante ou “focos de consciência” no momento de produção. Por ser limitada a capacidade do falante em manter a atenção em expressões extensas, a unidade de entonação da fala constitui-se de mais ou menos 6 (seis) palavras.
Construção de frase
Na fala, é comum o uso da conjunção “e” para ligar orações. Isto é, há uma forte tendência por parte dos falantes em produzir seqüências simples de orações coordenadas, evitando as relações interoracionais mais elaboradas, encontradas na escrita. A sintaxe elaborada requer maior esforço de produção do que os falantes possam normalmente aplicar, por isso a linguagem falada de qualquer tipo tende a coordenar orações mais freqüentemente que qualquer tipo de linguagem escrita.
A função da frase na linguagem oral é problemática, mas os falantes parecem produzir uma entonação final de frase quando julgam que chegaram ao fim de uma seqüência coerente. O que produz essa coerência pode variar de um momento para o outro.
Chafe reafirma que as frases da escrita são mais bem planejadas que as da oralidade, dando evidência do tempo e do esforço de sua construção.
Envolvimento e Distanciamento
Das propriedades da fala e da escrita que são atribuídas às diferenças entre os dois processos, a rapidez e a facilidade de esvaescimento da fala, quando opostos à cautela e a editabilidade da escrita, são as principais. Outra importante diferença entre a fala e a escrita é o relacionamento entre o emissor e o receptor.
A audiência da fala na maioria das vezes não só está presente como também pode participar física e efetivamente do processo, ao contrário do que ocorre na escrita cuja audiência é normalmente ausente e freqüentemente desconhecida.
Segundo Chafe, na linguagem falada há um envolvimento do falante com sua audiência, consigo mesmo e com a realidade concreta do que está sendo falado. A linguagem escrita carece de qualquer desses aspectos e pode mostrar indicações de distanciamento do escritor com sua audiência, consigo mesmo e com a realidade.
A NATUREZA DA LINGUAGEM ORAL
Considerando as diferenças (formais, funcionais e da natureza de estímulo) entre a linguagem oral e a linguagem escrita, conclui-se serem distintas tais modalidades. Porém, embora não seja a linguagem escrita a transcrição da linguagem oral, não se pode negar a semelhança de seus produtos, que podem expressar as mesmas intenções, já que a seleção de elementos lingüísticos de ambos se dá a partir de um mesmo sistema gramatical.
Chafe (1987), ao contrário, procura estabelecer diferenças entre elas. Diferenças que se verificam nas estruturas sintáticas e na formação dos períodos e, principalmente, no vocabulário, crendo, inclusive, que o repertório de uma é diferente do da outra.
O que não se pode negar é que a linguagem escrita e a linguagem oral não constituem modalidades estanques; apresentam diferenças devido à condição de produção, mas o processo se dá a partir da língua, que “é um conjunto de possibilidades lingüísticas, cujos usos se fazem de acordo com normas específicas a cada uma das modalidades”.
A linguagem oral se caracteriza essencialmente por ser falada − natureza do estímulo −, mas o fato de a linguagem oral ser produzida pela boca e recebida pelos ouvidos não é e nem pode ser o elemento fundamental para se determiná-la distinta da linguagem escrita.
Há gêneros intermediários que são produzidos de forma sonora e concebidos de forma gráfica e outros que são produzidos graficamente e concebidos sonoramente. Ainda há aqueles que, apesar de serem produzidos e concebidos exclusivamente de forma sonora ou exclusivamente de forma gráfica, são bastante semelhantes a gêneros da outra modalidade.
Assim, a natureza falada da linguagem oral não basta para distingui-la e isolá-la da linguagem escrita; elas não são estanques e isto fica patente na análise sob o ponto de vista de um contínuo tipológico.
Entretanto, há particularidades de outras ordens que tornam a linguagem oral uma modalidade específica da língua.
Tais particularidades são, de fato, elementos exclusivos da linguagem oral: a gesticulação é um deles. A fluidez das idéias expostas também é outra particularidade da oralidade. A velocidade da produção oral se dá em virtude de ser simultânea ao processo de produção em si.
Outra particularidade da linguagem oral, que é proporcionado pelo fato de o falante ter o controle da comunicação no momento de sua efetivação, é a eficácia na correção da informação em caso de incompreensão por parte do interlocutor.
Como o falante ouve junto com o seu interlocutor as suas palavras proferidas e pode controlar os seus efeitos a partir das reações do outro, pode ele corrigir com eficácia, por ser momentânea, as eventuais falhas de comunicação quando a informação desejada não se efetiva.
Essa característica, que é uma vantagem da linguagem oral, determina outra particularidade da fala: a cooperação dos participantes da comunicação. Normalmente, o conhecimento do que se diz é compartilhado pelo emissor e pelo receptor, que, normalmente coniventes na comunicação, facilitam o processo de produção daquele que por seu turno tem a responsabilidade da produção discursiva.
O conhecimento compartilhado dos participantes da interlocução oral também gera outra particularidade: a simplicidade sintática, à qual se relacionam várias outras características.
A sintaxe da linguagem oral é tipicamente menos bem elaborada que a linguagem escrita, por conter muitas “frases” incompletas, apresentar-se freqüentemente com simples seqüências de frases e poucas estruturas subordinadas.
Portanto, a simplicidade sintática deve ser entendida como estrutura de períodos curtos, em que as orações normalmente são ligadas ou pelas conjunções simples “e”, “mas” e “porém”, ou por marcadores discursivos do tipo “aí”, ou por orações absolutas, ou por frases nominais na maioria dos casos reduzidas a uma única palavra.
Assim, a fragmentação, que é causada pela falta de termos subentendidos e pelo uso de marcadores discursivos, é uma outra característica particular da linguagem oral. A fragmentação não deve ser confundida com uma “má formação da estrutura”, como entenderam certos teóricos.
A fala não existe para ser escrita, e da mesma forma, muitos textos escritos não são apreciáveis na fala; quando se tenta reproduzir um texto escrito como se fosse conversação, esse texto pode parecer estar mal formado.
Quanto ao nível de vocabulário, Chafe chega a declarar que o vocabulário da fala é diferente do da escrita. Prefiro acreditar que os repertórios são os mesmos; o que muda é o grau de formalismo ou coloquialismo, de que o próprio Chafe fala. Por essa razão, encontram-se, em ambos os gêneros de ambas as modalidades, um número muito maior de itens comuns, que Chafe denominou neutros e reconheceu ser a maioria.
É característico na linguagem oral o uso preferencial de declarações ativas como observaram Chafe e outros estudiosos, cada qual em suas obras acerca do assunto. A utilização de estruturas de voz passiva é muito pouco freqüente na linguagem oral. Quando ocorre, é do tipo analítico com o uso de auxiliar do tipo “ser” e normalmente a serviço da topicalização, que, inclusive, é outra característica da linguagem oral. A freqüência de termos topicalizados é flagrante.
Também constitui uma particularidade da linguagem oral a representação, por meio de uma pró-forma, do sujeito, que poderia ser elíptico em virtude de a flexão verbal já declarar a pessoa do discurso. Ocorre principalmente a representação do sujeito de 1ª pessoa por meio de um pronome pessoal. A reiteração desse tipo de sujeito é simplesmente efetiva em textos da linguagem oral.
Por último, outra característica da linguagem oral é a repetição de termos. Certamente esta prática tem a ver com a limitação do vocabulário e a conveniência da unidade de entonação, que se submete à elocução, que é o traço predominante da fala.
Quanto à questão do envolvimento e distanciamento, como já demonstrou Chafe, na linguagem oral se observa o caráter de envolvimento e de distanciamento que é determinado pelo contexto. Por poderem ser anulados pelo conteúdo apropriado, tais traços não caracterizam necessariamente a fala ou a escrita. É mais provável, porém, que o traço envolvimento, que pode ser do falante com a sua audiência (muito comum) ou consigo mesmo (não menos comum) ou com o que se está falando (também comum), se manifeste com mais freqüência na fala.
A NATUREZA DA LINGUAGEM ESCRITA
Assim como a característica fundamental da linguagem oral é o fato de ela ser produzida pela boca e recebida pelos ouvidos, a linguagem escrita se caracteriza fundamentalmente por ser escrita, ou seja, pelo fato de ser ela produzida pela mão e recebida pelos olhos.
Contudo, como já foi dito, não são esses os elementos fundamentais para distingui-las. Os motivos são os mesmos apontados no item anterior.
Também a escrita apresenta as suas particularidades de outras ordens que a tornam uma outra modalidade da língua.
A particularidade de maior importância da escrita é a correção gramatical, sob a qual estão a objetividade, a clareza e a concisão.
Por ser eminentemente uma forma de comunicação em que emissor e receptor estão distantes e, em muitos casos, desconhecidos um do outro, a objetividade, a clareza e a concisão são essenciais. Na falta de compreensão da informação transmitida, normalmente não tem o emissor outra forma de retificar a mensagem se não esperar pela resposta, que pode demorar muito tempo, para tentar numa tréplica, que pode não mais surtir efeito.
Por isso, a correção gramatical ser tão importante. Um texto em que o assunto é apresentado de forma objetiva, cujas idéias concisas (sem rodeios e bem organizadas) tornam o texto claro, tem tudo para ser compreendido pelo receptor e nele provocar o efeito desejado. Daí, ser o texto escrito essencialmente normativo, referencial.
Em nome da correção, a linguagem escrita apresenta um processo de produção muito lento. Não goza o escritor do direito de se valer de artifícios paralinguísticos com a gesticulação e expressão facial.
Não tem o escritor o controle do sistema de recepção em si; ele espera tê-lo, caso tenha a consciência de ter atendido às exigências da norma-padrão.
O escritor não sofre tanta pressão no momento de produção do seu texto, porque não tem as mesmas exigências do processo de produção da fala, em que se monitoram ao mesmo tempo o planejamento e a produto. É, contudo, a meu ver, exatamente o contrário o que ocorre. A responsabilidade do escritor é muito maior. Ele não conta com a conivência do interlocutor que lhe compartilhe um conhecimento do que se expõe. Como disse anteriormente, há casos que o interlocutor é desconhecido. Escrever é um ato solitário e sofre a imposição da correção; para não se correr o risco de ter o seu texto inutilizado por não se tornar um discurso (texto lido e compreendido), sofre o escritor a inexorável pressão da correção gramatical.
Por isso mesmo, o escritor examina o que escreve e usa um tempo considerável na escolha de suas palavras, consultando-as no dicionário quando é necessário.
Eis uma outra particularidade da modalidade escrita: o escritor determina o tempo de produção de seu texto. Nisso, pode comparar a sua produção com o que tinha em mente; mudar suas idéias; reorganizar o texto; acrescentar ou eliminar itens, até que o produto final surja.
O fato de ter o escritor a obrigação de redigir um texto de acordo com as normas de uso padrão nos faz enumerar outras particularidades da linguagem escrita.
A produção do texto escrito se dá de forma coordenada, pois requer planejamento: etapas são traçadas pelo escritor, que a todo o momento as checa, fazendo as mudanças
necessárias, para atender às exigências diversas (de ordem gramatical e / ou de outras ordens).
Sob este ponto de vista, pode-se dizer que o planejamento antecede a produção; e, mesmo que haja um replanejamento, durante a produção, ainda estará antecedendo-a, já que o produto constitui o elemento cabal. Não é exatamente esta a condição de produção do texto oral, cujos planejamentos e execução ocorrem simultaneamente, o que dificulta um replanejamento, que, quando ocorre, torna complexa a estrutura frasal, que só não terá abalada a sua compreensão, se certos elementos estiverem presentes: o conhecimento compartilhado; cooperativismo entre falante e ouvinte; o princípio da realidade; e recursos lingüísticos diversos.
A estrutura sintática da linguagem escrita tende a ser elegante, já sendo bem formada.
Nela se percebem sujeito e predicado, normalmente nesta ordem. Embora seja comum a ocorrência da oração bimembre em ordem direta, também é muito comum encontrarmos o que Givón (1979b) chama de estrutura de tópico-comentário. Ou seja, é comum encontrarmos termos deslocados para a posição de tópico − a posição inicial da oração, que normalmente é ocupada pelo sujeito.
Termos da oração (normalmente bimembre) são geralmente substituídos por orações subordinadas, constituindo períodos compostos. No encaixe dessas orações, o uso de conjunções e locuções conjuntivas é uma normalidade. Os períodos complexos normalmente são de bom tamanho na modalidade escrita, sendo os longos bem estruturados.
Complexidade da sintaxe é, portanto, mais uma característica da linguagem escrita.
Essa complexidade se refere a períodos compostos por subordinação, e não à falta de compreensão do enunciado.
Não há, portanto, fragmentação à semelhança do que se dá na linguagem oral. Na linguagem escrita, as estruturas tendem a ser completas, já que é a frase o seu traço característico.
Nos períodos em que há coordenação, figuram conjunções diferentes de “e”, “mas” e “porém”, além delas. Quando não ocorrem tais conectivos, ocorre a pontuação conveniente; marcadores discursivos típicos da escrita (os homógrafos: “e”, “mas”, “porém” e “então”, os principais) podem ocorrer, mas não com muita freqüência.
O vocabulário da modalidade escrita é muito variado e essencialmente conservador e dependente do grau do nível de formalismo, o que constitui mais uma de suas características particulares.
Como já observei anteriormente, não concordo com Chafe quando defende a hipótese de ser o vocabulário da escrita particular, composto de itens que não ocorrem na modalidade falada. Não se podem determinar quantos e quais os itens que não ocorrem numa dada modalidade, já que as duas se valem do mesmo sistema linguístico. Podem-se, decerto, relacionar itens, que dependendo do grau do nível de formalismo ou coloquialismo (definido pelo objetivo do usuário e do contexto em si) tenham a propensão de ocorrer ou não num dos gêneros de uma das modalidades. Na verdade, nada impede que o modalizador “aí”, por exemplo, típico da modalidade oral, seja usado num texto escrito.
Logo, é conveniente dizer que um vocabulário de nível mais formal que coloquial caracteriza a linguagem escrita, mas não é conveniente distinguir três tipos de vocabulário, como o fez Chafe: um que ocorre essencialmente na linguagem escrita; outro, essencialmente na linguagem oral; e outro que ocorre igualmente nas duas modalidades.
Ainda em relação ao vocabulário, é uma particularidade da escrita a ocorrência de nominalizações. O escritor procura não repetir estruturas sintáticas ou palavras, por isso é comum na escrita um grande número de sintagmas nominais modificados, isto é, transformações de verbos ou predicados em nomes.
Outra característica da escrita é a ocorrência de declarações passivas. Isto também marca a característica de procurar não repetir estruturas sintáticas e de formar estruturas de tópico. Na escrita, ocorrem os dois tipos de estruturas passivas: a analítica (com o auxílio de “ser” ou similar) e a pronominal (com o uso de pronome apassivador).
Ao contrário do que ocorre na fala, a elisão de termos é freqüente e, principalmente, a do sujeito. A representação física do sujeito de 1ª pessoa só ocorre quando se deseja um efeito estilístico.
Outra e última particularidade é a preocupação com a coesão referencial. A sinonímia, a elipse, a paráfrase e a substituição por pró-formas são artifícios comuns de serem observados nos textos escritos.
No que se refere à questão do envolvimento e distanciamento, como já foi visto anteriormente, ao contrário da modalidade oral em que predomina o traço de envolvimento, na escrita predomina o traço de distanciamento. Porém, como ambos os traços são determinados pelo contexto e, por conseguinte, podem ser anulados pelo conteúdo, não constitui o traço de distanciamento em si uma particularidade da linguagem escrita.
Admite-se, certamente, que o traço de distanciamento se manifeste com maior freqüência nos gêneros da modalidade escrita da língua, que se caracteriza por ser uma prática eminentemente solitária do escritor.
Assim, são a fala e a escrita dois modos bem diferentes de o usuário representar as suas experiências.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BROWN, Gillian. Teaching the spoken language. In: Association Internationale de Linguistic Apliquée. Brussel, Proceedings II: Lecture, 1981, p. 166-82.
CHAFE, Wallace; DANIELEWICZ, Jane. Properties of speaking and written language. In: HOROWITZ, Rosalind; SAMUELS, S. Jay (eds.). Comprehending oral and written language. New York: Academic Press, 1987, p. 83-113.
FÁVERO, Leonor Lopes et alii. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.
TANNEN, Deborah. The oral / literate continuum in discourse. In: –– (ed.). Spoken and written language: Exploring coherence in spoken and written discourse. Norwood, NJ: Ablex, 1984.
Na construção de um texto, assim como na fala, usamos mecanismos para
garantir ao interlocutor a compreensão do que se lê / diz.
Esses mecanismos lingüísticos que estabelecem a conectividade e a retomada do que foi escrito / dito são os referentes textuais e buscam
garantir a coesão textual para que haja coerência, não só entre os elementos que compõem a oração, como também entre a seqüência de
orações dentro do texto.
Essa coesão também pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado em conhecimentos anteriores que os participantes do processo têm com o tema. Por exemplo, o uso de uma determinada sigla, que
para o público a quem se dirige deveria ser de conhecimento geral, evita que se lance mão de repetições inúteis.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha imaginária - composta de termos e expressões - que une os diversos elementos do texto e busca estabelecer relações de sentido entre eles.
Dessa forma, com o emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substituição,
associação), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases, orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decorre daí a coerência textual.
Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa
incoerência é resultado do mau uso daqueles elementos de coesão textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais prejudica o entendimento do
texto. Construído com os elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara (1), “o enunciado não se constrói com um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência e independência
sintática e semântica, recobertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.
Desta lição, extrai-se que não se deve escrever frases ou textos desconexos – é imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o texto.
Além disso, relembre-se que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre os elementos que
compõem a estrutura textual.
Há diversas formas de se garantir a coesão entre os elementos de uma frase ou de um texto:
1. Substituição de palavras com o emprego de sinônimos ou de palavras ou expressões de mesmo campo associativo.
2. Nominalização – emprego alternativo entre um verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente
3. Repetição na ligação semântica dos termos, empregada como recurso estilístico de intenção
articulatória, e não uma redundância - resultado da pobreza de vocabulário. Por exemplo, “Grande no pensamento, grande na ação, grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhecido e só.”
(Rocha Lima)
4. Uso de hipônimos – relação que se estabelece com base na maior especificidade do significado de um deles. Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais genérico).
5. Emprego de hiperônimos - relações de um termo de sentido mais amplo com outros de sentido mais
específico. Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com gato.
6. Substitutos universais, como os verbos vicários (ex.: Necessito viajar, porém só o farei no ano vindouro) A coesão apoiada na gramática dá-se no uso de conectivos, como certos
pronomes, certos advérbios e expressões adverbiais, conjunções, elipses, entre outros. A elipse se justifica quando, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida é facilmente
identificável (Ex.: O jovem recolheu-se cedo. ... Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a
relação entre as duas orações.).
Dêiticos são elementos lingüísticos que têm a propriedade de fazer referência ao contexto situacional ou ao próprio discurso. Exerce, por excelência, essa função de progressão textual, dada sua característica:
são elementos que não significam, apenas indicam, remetem aos componentes da situação comunicativa.
Já os componentes concentram em si a significação.
Elisa Guimarães (2) nos ensina a esse respeito:
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem como os advérbios de tempo,
referenciam o momento da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade.
Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo ano, depois de (futuro).”
Esse conceito será de grande valia quando tratarmos do uso dos pronomes demonstrativos.
Somente a coesão, contudo, não é suficiente para que haja sentido no texto, esse é o papel da coerência, e coerência se relaciona intimamente a contexto.
Como nosso intuito nesta página é a apresentação de conceitos, sem aprofundá-los em demasia, bastam-
nos essas informações.
Vejamos como o examinador tem abordado o assunto:
(PROVA AFTN/RN 2005) Assinale a opção em que a estrutura sugerida para preenchimento da lacuna correspondente provoca
defeito de coesão e incoerência nos sentidos do texto.
A violência no País há muito ultrapassou todos os limites. ___1___ dados recentes mostram o Brasil como um dos países mais violentos do mundo, levando-se em conta o risco de morte por homicídio.
Em 1980, tínhamos uma média de, aproximadamente, doze homicídios por cem mil habitantes. ___2___,
nas duas décadas seguintes, o grau de violência intencional aumentou, chegando a mais do que o dobro do índice verificado em 1980 – 121,6% –, ___3___, ao final dos anos 90 foi superado o patamar de 25
homicídios por cem mil habitantes. ___4___, o PIB por pessoa em idade de trabalho decresceu 26,4%, isto é, em média, a cada queda de 1% do PIB a violência crescia mais do que 5% entre os anos 1980 e
1990.
Estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostram que os custos da violência consumiram, apenas no setor saúde, 1,9% do PIB entre 1996 e 1997. ___5___ a vitimização letal se distribui de forma
desigual: são, sobretudo, os jovens pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que têm pago com a própria vida o preço da escalada da violência no Brasil.
(Adaptado de http:// www.brasil.gov.br/acoes.htm)
a) 1 – Tanto é assim que
b) 2 – Lamentavelmente c) 3 – ou seja
d) 4 – Simultaneamente e) 5 – Se bem que
COMENTÁRIO: As lacunas no texto ocultam palavras e expressões que atuam como conectores – ligam
orações estabelecendo relações semânticas entre os períodos. A banca sugere algumas opções de preenchimento.
Dessas, a única que não atende ao solicitado é a de número 5, uma vez que a expressão “Se bem que”
deveria introduzir uma oração de valor concessivo, estabelecendo, assim, idéia contrária à que foi apresentada até então pelo texto.
Verifica-se, contudo, que o que se segue ratifica as informações anteriores ao fornecer dados
complementares às estatísticas sobre homicídios. Sendo aceita a sugestão da banca, a coerência textual seria prejudicada. Por isso, o gabarito é a opção E.
Todos sabem que as atuais demandas sociais requerem cidadãos capazes de exercer plenamente a sua cidadania. Isso implica saber analisar criticamente as realidades sociais e organizar a ação para intervir nessa realidade. Ou seja, a sociedade atual precisa de cidadãos atuantes, que não se limitem a observar a realidade, mas que nela saibam agir, examinar os fatos, articular acontecimentos, prever suas possíveis conseqüências para a qualidade de vida das pessoas, da cidade, do país, do planeta.
No mundo da informação isso significa, por um lado, saber lidar com a informação, que tem várias naturezas — matemática, científica, filosófica, artística, religiosa, por exemplo —, e vem de várias fontes e por vários caminhos — mídia impressa, radiofônica e televisiva, meio acadêmico e Internet, entre outros. Lidar com a informação significa apropriar-se de:
O cartaz é uma forma de escritaFoto: Acervo EducaRede
formas de obtenção da informação para conhecer o real; procedimentos que permitam o reconhecimento da pertinência e idoneidade da
informação;
recursos que possibilitem a divulgação da informação;
Por outro lado, exercer plenamente a cidadania significa saber agir utilizando a informação. Em uma sociedade letrada, obter informações analisá-las criticamente, saber divulgá-las e agir utilizando essas informações passa pelo domínio de um objeto social fundamental: a linguagem escrita.
Quando se fala em domínio da linguagem escrita, fala-se em saber lidar de maneira proficiente com todos os conhecimentos com os quais se opera nas práticas de linguagem. Quer dizer, fala-se em ler e escrever utilizando os procedimentos e estratégias que conferem maior eficácia aos textos produzidos e às leituras realizadas.
No texto “Sobre leitura e formação de leitores”, discutimos o que isso pode significar quando nos referimos à leitura. Agora, vamos priorizar o processo de produção de textos escritos.
Produzir textos: uma prática social
Assim como a leitura, a produção de textos escritos é uma prática de linguagem e, como tal, uma prática social. Quer dizer: em várias circunstâncias da vida escrevemos textos para diferentes interlocutores, com distintas finalidades, organizados nos mais diversos gêneros, para circularem em espaços sociais vários.
Por exemplo: ao lermos um jornal, se o tratamento recebido por determinado assunto em uma determinada matéria nos causar indignação — ou mesmo admiração — podemos escrever uma carta para o jornal manifestando nossa forma de pensar a respeito.
Se quisermos divulgar um serviço que prestamos, podemos escrever um anúncio para uma revista, para um determinado site, para um jornal; ou podemos escrever um folheto de propaganda para ser distribuído na saída do metrô, ou, ainda, organizar um outdoor para veicular informação a respeito do serviço nos lugares que se espera que circulem potenciais interessados no serviço divulgado.
Se pretendermos divulgar dados organizados de determinada pesquisa que realizamos, por exemplo, a respeito da evasão dos alunos, escrevemos um artigo acadêmico-científico, para ser publicado em uma revista de educação — ou um livro — que circule no espaço no qual essa discussão interesse.
Se quisermos ter notícias de um ente querido que se encontre distante de nós geograficamente, podemos escrever uma carta, ou enviar uma mensagem por e-mail.
Se desejarmos informar um possível contratante sobre nossa formação e experiência profissional para que ele possa avaliar se correspondemos às expectativas que a empresa tem para um provável funcionário, elaboramos um currículo.
Como se pode ver, produzimos textos em diferentes circunstâncias. A cada circunstância correspondem:
a) finalidades diferentes: manifestar nossa forma de pensar a respeito de determinada matéria lida; divulgar determinados serviços buscando seduzir possíveis clientes; convencer a respeito de determinadas interpretações de dados; obter notícias sobre um ente querido;
A linguagem do jornal é diferentedaquela do cartaz
b) interlocutores diversos: leitores de um determinado veículo da mídia impressa (jornal, revista); transeuntes de determinados locais (vias de circulação, rodoviária etc.); colegas de trabalho, leitores de determinada revista acadêmico-científica ou de determinado tipo de livro; um parente próximo ou um amigo; um possível contratante;
c) lugares de circulação determinados: mídia impressa; academia; família ou círculo de amizades; determinada empresa (esfera profissional); vias públicas de grande circulação de veículos e pessoas;
d) gêneros discursivos específicos: carta de leitores; anúncio; folheto de propaganda; outdoor; artigo acadêmico-científico; carta pessoal; currículo.
Quer dizer: escrever um texto é uma atividade que nunca é a mesma nas diferentes circunstâncias em que ocorre, porque cada escrita se caracteriza por diferentes condições que determinam a produção dos discursos. Essas condições referem-se aos elementos apresentados acima. Mas não apenas a eles. Um aspecto a ser considerado ainda é o lugar do qual se escreve.
Todos desempenhamos diferentes papéis na vida: o de mãe/pai, de filho/filha, de irmão/irmã, de associado de determinado clube, de consumidor de determinado produto, de cidadão brasileiro, o relativo à profissão que exercemos (professores, médicos, dentistas, vereadores, escritores, revisores, feirantes, digitadores, diretores de escola etc), entre outros. Cada um desses papéis estabelece entre nós e aqueles com quem nos relacionamos determinados vínculos, que implicam responsabilidades assumidas, pontos de vista a partir dos quais os acontecimentos são analisados, recomendações são feitas, atitudes são tomadas...
Ainda que esses papéis se articulem todo o tempo, uma vez que são todos constitutivos do sujeito e que, dessa forma, influenciam-se mutuamente, quando assumimos a palavra para dizer alguma coisa a alguém, um desses papéis predomina, em função das demais características do contexto de produção (sobretudo do lugar de circulação do discurso e do interlocutor presumido).
Por exemplo: um cineasta, quando em uma conferência ou mesa-redonda, ao analisar determinado filme, certamente produzirá um discurso permeado por análises técnicas e históricas. Isso ocorrerá não só porque o discurso será uma conferência, que poderá ter como interlocutores estudantes ou outros cineastas, ou porque circulará na esfera acadêmica, tendo, portanto, que se adequar a essas condições, mas também porque o cineasta não poderá, nessas condições enumeradas, produzir o discurso a partir do lugar de pai, por exemplo, ou de amigo de determinado empresário do ramo, sob pena de não ser eficaz.
Se estiver conversando com amigos em um encontro casual, ao contrário, o contexto de produção dado lhe permitirá assumir o lugar de espectador/apreciador da arte do cinema e seu discurso, certamente, não terá a mesma organização, nem a mesma escolha lexical, podendo ser mais descontraído, menos comprometido com argumentações coerentes com determinadas posições teóricas. E isto por causa de todas as condições de produção citadas, incluindo-se nestas o papel social de onde fala o produtor. Da mesma forma, se a uma pessoa for solicitado um discurso recomendando a redução do consumo de energia elétrica, este não será o mesmo, caso seja produzido a partir do lugar de deputado federal, de industrial do ramo da produção de lâmpadas, ou do lugar do pai que fala a seus filhos. Os argumentos serão diferentes porque, embora não apenas por este motivo, a relação entre os interlocutores instituiu compromissos diferenciados entre eles.
Ser um escritor proficiente, portanto, significa saber lidar com todas as características do contexto de produção dos textos, de maneira a orientar a produção do seu discurso pelos parâmetros por elas estabelecido.
Escrita: um processo individual e dialógico
Assim como a leitura, o processo de escrita é tanto uma experiência individual e única, quanto interpessoal e dialógica. É individual e única porque o processo de produção de um texto implica escolhas pessoais quanto a o que dizer e a como dizer: a seleção de tópicos a serem apresentados, das palavras a serem utilizadas, dos enunciados a serem organizados são escolhas do produtor do texto, que refletirão seu estilo de dizer.
Escrever é um processo interpessoal e dialógico porque todo texto sempre se relaciona, de alguma forma, com os textos já produzidos anteriormente no que se refere a:
o que se pode dizer por meio de determinados gêneros;
à forma de dizer (escolhas lexicais típicas do gênero, expressões usuais que acabam por caracterizá-los, por exemplo;
os textos produzidos e seu conteúdo, que podem marcar época, constituindo-se como referências;
os gêneros, propriamente, que também são construções históricas, e, dessa forma, modificam-se, caem em desuso, são criados.
No século XVII, era comum quando se pretendia visitar um parente ou amigo — ainda que residente na mesma cidade — escrever-se uma carta e entregá-la em mão, com a finalidade de avisá-lo de sua visita. Hoje essa prática caiu em desuso — e com ela a situação de utilização do gênero — tendo sido substituída por um telefonema, por exemplo.
As tecnologias digitais, por outro lado, acabam por criar novas possibilidades de interlocução escrita com pessoas distantes geograficamente umas das outras: por e-mail, enviando-se mensagens que ora se assemelham a bilhetes, ora a cartas, em tempo não-real, ou, ainda em chats, nos quais se pode conversar em tempo real com pessoas dos lugares mais longínquos do planeta. Criam-se, assim, se não novos gêneros, pelo menos modificações nos gêneros já existentes.
Uma carta de amor, por exemplo, possuía fórmula de iniciação e de conclusão muito diferentes no século XVII e atualmente. Dificilmente uma jovem hoje receberia uma carta que começasse com a expressão Estimada senhorita (ou Caríssima senhorita), ou que terminasse com a expressão Com votos de consideração e estima.
Na literatura, por exemplo, os poemas concretos passaram a existir a partir de determinada época, como resultado de necessidades estéticas historicamente construídas em um determinado período; por não corresponderem também às novas necessidades estéticas, gêneros como as cantigas de amigo, por exemplo, típicos da Idade Média, foram sendo preteridos pelos poetas e literatos.
As crônicas esportivas também foram gêneros que se constituíram em épocas recentes e apenas em determinadas culturas, como a brasileira. Na Suécia, por exemplo, este não é um gênero presente.
Há também textos que se referem a outros já escritos, chegando mesmo a conter citações explícitas.
Se quiser ver um exemplo dessa inter-relação que existe entre os textos — denominada também de intertextualidade — clique aqui.
Como é possível perceber, os textos que produzimos são resultantes das escolhas que fazemos quanto a o que dizer e como dizer em função das condições de produção colocadas. Essas escolhas não são aleatórias, mas determinadas historicamente. Quer dizer, em um dado momento histórico há um conjunto de possibilidades disponíveis e é no interior
desse conjunto que as nossas escolhas pessoais são feitas.
Partes dessas possibilidades relacionam-se aos gêneros do discurso.
Gêneros do discurso e textos
Os gêneros são formas de enunciados produzidas historicamente, que se encontram disponíveis na cultura, como notícia, reportagem, conto (literário, popular, maravilhoso, de fadas, de aventuras...), romance, anúncio, receita médica, receita culinária, tese, monografia, fábula, crônica, cordel, poema, repente, relatório, seminário, palestra, conferência, verbete, parlenda, adivinha, cantiga, anúncio, panfleto, sermão, entre outros.
Qualquer manifestação verbal organiza-se, inevitavelmente, em algum gênero do discurso, de uma conversa de bar a uma tese de doutoramento, quer tenha sido produzida em linguagem oral ou linguagem escrita.
Os gêneros podem ser identificados por três características fundamentais: o tipo de tema que podem veicular;
a sua forma composicional;
as marcas lingüísticas que definem seu estilo.
As diferentes manifestações verbais concretizam-se em textos — orais ou escritos — organizados nos gêneros. Estes se referem, portanto, a famílias de textos que possuem características comuns
Não é qualquer gênero que serve para se dizer qualquer coisa, em qualquer situação comunicativa. Se imaginarmos que alguém pretende discutir uma questão complexa como a descriminalização das drogas, ou como a pena de morte como forma eficiente de combate à criminalidade, essa pessoa precisará organizar o seu discurso em um gênero como o artigo de opinião, por exemplo. Esse é o gênero que pressupõe a argumentação em favor de questões controversas, mediante a apresentação de argumentos que possam sustentar a posição que se defende e refutar aquelas que forem contrárias à defendida no texto.
Se a finalidade, por outro lado, for relatar a um grande público um fato acontecido no dia anterior, o gênero escolhido pode ser a notícia. Se o que se pretende é orientar alguém para a realização de determinada tarefa, pode-se escrever um manual, ou relacionar instruções. Se se deseja apresentar algum ensinamento utilizando situações vividas por animais que representam determinadas características humanas, então a fábula é o gênero mais adequado.
Portanto, saber selecionar o gênero para organizar o seu discurso implica conhecer suas características para avaliar sua adequação:
às finalidades colocadas para a situação comunicativa;
ao lugar de circulação;
a um contexto de produção determinado.
Pode-se mesmo afirmar que o conhecimento que se tem sobre um gênero determina as possibilidades de eficácia do discurso.
Dessa forma, a proficiência do aluno em Língua Portuguesa depende também do conhecimento que ele possa ter sobre os gêneros e sua adequação às diferentes situações comunicativas. Suas características, portanto, devem ser objeto de ensino, precisam ser
Redação: exercício de escrita
Foto: Acervo EducaRede
tematizadas nas atividades de ensino.Os procedimentos de escrita
Além desse conhecimento, escrever pressupõe o domínio de determinados procedimentos: saber planejar o que vai ser escrito em função das características do contexto de produção colocado, saber redigir o que foi planejado, saber revisar o que foi escrito — durante o processo mesmo de escrita e depois de finalizado —, e saber reescrever o texto produzido e revisado.
Tais procedimentos precisam ser sempre articulados no processo de escrita, que é outra competência que também precisa ser constituída.
Nesse processo, conhecimentos de várias naturezas entram em jogo:
a) discursivos (relativos às características do discurso, como características do gênero no qual o texto será organizado, do contexto de produção especificado, por exemplo);
b) pragmáticos (relativos às especificidades da situação de comunicação e às diferentes práticas sociais de escrita);
c) textuais (relativos à linearidade do texto em si: relativos à sintaxe, pontuação, coesão e coerência);
Tabela traz regras já de acordo com a nova ortografia
Márcia Lígia Guidin*Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Tipo de palavra ou sílaba
Quando acentuar
Exemplos (como eram)
Observações(como ficaram)
Proparoxítonas sempre simpática, lúcido, sólido, cômodo
Continua tudo igual ao que era antes da nova ortografia.Observe:Pode-se usar acento agudo ou circunflexo de acordo com a pronúncia da região: acadêmico, fenômeno (Brasil) académico, fenómeno (Portugal).
Paroxítonas Se terminadas em: R, X, N, L, I, IS, UM, UNS, US, PS, Ã, ÃS, ÃO, ÃOS; ditongo oral, seguido ou não de S
Continua tudo igual.Observe:1) Terminadas em ENS não levam acento: hifens, polens.2) Usa-se indiferentemente agudo ou circunflexo se houver variação de pronúncia: sêmen, fêmur (Brasil) ou sêmen, fémur (Portugal).3) Não ponha acento nos prefixo paroxítonos que terminam em R nem nos que terminam em I: inter-helênico, super-homem, anti-herói, semi-internato.
Oxítonas Se terminadas
em: A, AS, E, ES, O, OS, EM, ENS
vatapá,igarapé, avô, avós, refém, parabéns
Continua tudo igual.Observe:1. terminadas em I, IS, U, US não levam acento: tatu, Morumbi, abacaxi.2. Usa-se
1. Se o i e u forem seguidos de s, a regra se mantém: balaústre, egoísmo, baús, jacuís.2. Não se acentuam i e u se depois vier 'nh': rainha, tainha, moinho.3. Esta regra é nova: nas paroxítonas, o i e u não serão mais acentuados se vierem depois de um ditongo: baiuca, bocaiuva, feiura, maoista, saiinha (saia pequena), cheiinho (cheio).4. Mas, se, nas oxítonas, mesmo com ditongo, o i e u estiverem no final, haverá acento: tuiuiú, Piauí, teiú.
Ditongos abertos em palavras paroxítonas
EI, OI, idéia, colméia, bóia
Esta regra desapareceu (para palavras paroxítonas). Escreve-se agora: ideia, colmeia, celuloide, boia.Observe: há casos em que a palavra se enquadrará em outra regra de acentuação. Por exemplo: contêiner, Méier, destróier serão acentuados porque terminam em R.
Ditongos abertos em palavras oxítonas
ÉIS, ÉU(S), ÓI(S)
papéis, herói, heróis, troféu, céu, mói (moer)
Continua tudo igual (mas, cuidado: somente para palavras oxítonas com uma ou mais
sílabas).
Verbos arguir e redarguir (agora sem trema)
arguir e redarguir usavam acento agudo em algumas pessoas do indicativo, do subjuntivo e do imperativo afirmativo.
Esta regra desapareceu. Os verbos arguir e redarguir perderam o acento agudo em várias formas (rizotônicas): eu arguo (fale: ar-gú-o, mas não acentue); ele argui (fale: ar-gúi), mas não acentue.
Verbos terminados em guar, quar e quir
aguarenxaguar, averiguar, apaziguar, delinquir, obliquar usavam acento agudo em algumas pessoas do indicativo, do subjuntivo e do imperativo afirmativo.
Esta regra sofreu alteração. Observe:.Quando o verbo admitir duas pronúncias diferentes, usando a ou i tônicos, aí acentuamos estas vogais: eu águo, eles águam e enxáguam a roupa (a tônico); eu delínquo, eles delínquem (í tônico).tu apazíguas as brigas; apazíguem os grevistas.Se a tônica, na pronúncia, cair sobre o u, ele não será acentuado: Eu averiguo (diga averi-gú-o, mas não acentue) o caso; eu aguo a planta (diga a-gú-o, mas não acentue).
ôo, ee vôo, zôo, enjôo, vêem
Esta regra desapareceu.Agora se escreve: zoo, perdoo veem, magoo, voo.
Verbos ter e vir na terceira pessoa do plural do presente do indicativo
eles têm,eles vêm
Continua tudo igual. Ele vem aqui; eles vêm aqui.Eles têm sede; ela tem sede.
Derivados de ter e vir (obter, manter, intervir)
na terceira pessoa do singular leva acento agudo;
na terceira pessoa do plural do presente
ele obtém, detém, mantém;eles obtêm, detêm, mantêm
Continua tudo igual.
levam circunflexo
Acento diferencial
Esta regra desapareceu, exceto para os verbos:PODER (diferença entre passado e presente.Ele não pôde ir ontem, mas pode ir hoje.PÔR (diferença com a preposição por): Vamos por um caminho novo, então vamos pôr casacos;TER e VIR e seus compostos (ver acima).Observe:1) Perdem o acento as palavras compostas com o verbo PARAR:Para-raios, para-choque.2) FÔRMA (de bolo): O acento será opcional; se possível, deve-se evitá-lo: Eis aqui a forma para pudim, cuja forma de pagamento é parcelada.
Trema (O trema não é acento gráfico.) Desapareceu o trema sobre o U em todas as palavras do português: Linguiça, averiguei, delinquente, tranquilo, linguístico.Exceto as de língua estrangeira: Günter, Gisele Bündchen, müleriano
RESUMO TEÓRICO:De acordo com Ulisses Infante, em 36 Lições Práticas, a ortografia é a parte da Gramática que se ocupa da correta representação escrita das palavras. É importante compreender que a ortografia é fruto de uma convenção. A forma de grafar as palavras é produto de acordos ortográficos que envolvem os diversos países em que a língua portuguesa é oficial. Grafar corretamente uma palavra significa, portanto, adequar-se a um padrão estabelecido por lei. As dúvidas à correção devem ser resolvidas por meio da consulta a dicionários e publicações oficiais ou especializadas.
1.1 Palavras que se escrevem com "ESA" burguesa, chinesa, despesa, escocesa, francesa, inglesa, japonesa, holandesa, mesa, pequinesa, portuguesa etc.BIZU
Se conseguirmos completar a frase "ELA É", a palavra será sempre com "S". Ex. Ela é chinesa. Ela é pequinesa.
1.2 Palavras que se escrevem com "EZA".alteza, avareza, beleza, crueza, fineza, firmeza, lerdeza, proeza, pureza, singeleza, tristeza, rijeza etc.
1.3 Palavras que se escrevem com "ÊS"burguês, chinês, cortês, escocês, francês, inglês, irlandês, montanhês, pedrês, português etc.BIZUSe conseguirmos completar a frase "ELE É", a palavra será com "S".Ex: Ele é cortês. Ele é burguês. Ele é francês.
1.4 Palavras que se escrevem com "EZ"altivez, embriaguez, estupidez, intrepidez, palidez, morbidez, pequenez, talvez, vez, viuvez, sisudez, rigidez, surdez, maciez.
1.5 Palavras que se escrevem com "OSO", "OSA"audacioso, brioso, cauteloso, delicioso, formoso, gostoso, perigoso, pomposo, teimoso, valioso etc
1.6 Palavras que se escrevem com "ISAR"alisar, analisar, bisar, paralisar, pesquisar, pisar etc.BIZUPara que estes vocábulos se escrevam com "S", é necessário que no próprio radical já haja a letra "S".Ex.: AVISAR-AVISO, ANALISAR-ANÁLISE, BISAR-BIS, PARALISAR-PARALISIA, CATÁLISE-CATALISADOR-CATALIZANTE, PORTUGUÊS-PORTUGUESINHO, CASA-CASEBRE..
1.7 Palavras que se escrevem com "IZAR" (formador de verbos) "IZAÇÃO" (formador de substantivos).amenizar, avalizar, catequizar, desmobilizar, despersonalizar, esterilizar, estigmatizar, finalizar, generalizar, harmonizar, poetizar, profetizar, racionalizar, sensacionalizar, civilizar, civilização; humanizar, humanização; colonizar, colonização; realizar, realização.Obs. Não confunda com os casos em que se acrescenta o sufixo -ar a palavras que já apresentam S: analisar, pequisar, avisar.BIZUApesar de CATEQUIZAR se derivar de CATEQUESE, aquele termo se escreve com Z e este, com S. As palavras POETIZAR e PROFETIZAR não se derivam de POETISA e PROFETISA, mas sim de POETA e PROFETA. Por isso as primeiras se escrevem com Z e as últimas, com S.
1.8 Palavras que se escrevem com "S"A letra S representa o fonema /z/ quando é intervolálica: asa, mesa, riso.Usa-se a letra S:a) nas palavras que derivam de outra em que já existe S. (bizu 1.7)b) nos sufixos: -ês, -esa (para indicação de nacionalidade, título, origem) -ense, -oso, -osa (formadores de adjetivos) -isa (indicador de ocupação feminina): poetisa, profetisa, papisac) após ditongos: lousa, coisa, Neusa, ausência, naúsea.d) nas formas dos verbos pôr (e derivados) e querer: pus, pusera, pusesse; repus, repusera, repusesse; quis, quiséra. quisesse.Algumas palavrasanis, atrás, brasa, compreensão, conversível, coser(costurar), esôfago, esotérico, esoterismo, espectador, esplêndido, esterco, estéril, estorvo, extravasar, fusível, gás, gasolina, guisado, heresia, hesitar, hipnose, hipocrisia, imersão, misto, revés, sesta, asilo, isolar, isquemia, oscular, querosene, quis, quiser, puser, siso, poetisa, profetisa, sacerdotisa, submerso, usina, usufruir, usura, usurpar, versátivel, inserto (inserido), consertar(reparar), servo (servente), serração (ato de serrar), intensão (intensidade), colisão, impulso, imersão, inversão, maisena, pretensão, expansão, pretensioso, obsessão (mas obcecado), lilás, revisão, vaso, através, Isabel, ourivesaria. 1.9 Palavras que se escrevem com "Z"azar, azougue, azenha, azeitona, azeite, azinhavre, balizar, bizantino, bizarro, buzina, cozer (cozinhar), dezena, dizimar, fuzil, aprazível, deslize, falaz, fezes, fugaz, gazeta, giz, gozar,
2.5 Palavras que se escrevem com "G"a) nos substantivos terminados em agem, igem, ugem: aragem, barragem, contagem, coragem, malandragem, miragem, fuligem, origem, vertigem, ferrugem, lanugem, rabugem. Cuidado com as exceções pajem e lambujem.b) nas palavras terminadas em ágio, égio, ígio, ógio, úgio: adágio, contágio, estágio, pedágio; colégio, egrégio; litígio, prestígio; necrológico, relógio; refúgio, subterfúgio.Outrasangelical, aborígine, agilidade, algema, agir, agiota, apogeu, argila, bege, cogitar, drágea, faringe, fugir, geada, gengibre, gíria, tigela, rigidez, monge, ogiva, herege, genuíno, algemas, gergelim, gesso, egípcio, gironda, infrigir, bugiganga, viagem (substantivo), vagem, estiagem, folhagem, geringonça, ginete, gengiva, sargento, coragem, ferrugem, tragédia, gesto.
2.6 Palavras que se escrevem com "J"a) nas formas dos verbos terminados em -jar: arranjar (arranjo, arrajem, por exemplo); enferrujar (enferruje, enferrujem), viajar (verbo -> viajo, viaje, viajem);b) nas palavras oriundas do Tupi, africana e árabe ou de origem exótica: Jibóia, pajé, jirau, alfanje, alforje, canjica, jerico, manjericão, Moji.OUTRAS: igrejinha, laje, lajeado, varejista, sarjeta, gorjeta, anjinho, canjica, viajem (verbo), encorajem (verbo), enferrujem (verbo), cafajeste, cerejeira, injeção, enrijecer, berinjela, jejuar, jérsei, interjeição, jesuíta, jibóia, lambujem, majestade, jirau, ultraje, traje, ojeriza, jenipano, pajé, pajem, jeito, granja, projétil (ou projetil), rejeição, sarjeta, traje, jerimum.
2.8 A letra "H"hálito, hangar, harmonia, harpa, haste, hediondo, hélice, hemisfério, hemorragia, herbívoro (mas ervas), hérnia, herói, hesitar, hífen, hipismo, hipocondria, hilaridade, hipocrisia, hipótese, histeria, homenagem, horror, horta, hostil, humor, húmus.Em "Bahia", o H sobrevive por tradição histórica. Observe que nos derivados ele não é usado: baiano, baianismo. Referências Bibliográficas:
Gramática para concurso - Marcelo Rosental Gramática Ulisses Infante. Redação em construção - Agostinho Dias Carreiro.
Fonte: http://www.sofi.com.br/node/951
d) Hífen
O hífen representa um sinal gráfico, cujas funções estão associadas a uma infinidade de ocorrências linguísticas, tais como:
- ligar palavras compostas;
- fazer a junção entre pronomes oblíquos e algumas formas verbais, representadas pela mesóclise e ênclise;
- separar as sílabas de um dado vocábulo;
- ligar algumas palavras precedidas de prefixos.
Com o advento da Nova Reforma Ortográfica, houve algumas mudanças em relação à sua aplicabilidade. Sendo assim, dada a complexidade que se atribui ao sinal em questão, o presente artigo tem por finalidade evidenciá-las, procurando enfatizar, em alguns casos, o que antes prevalecia e o que atualmente vigora. Mediante tais pressupostos, constatemos, pois:
Circunstâncias linguísticas a que se deve o emprego do hífen:
# O hífen passa a ser usado quando o prefixo termina em vogal e a segunda palavra começa com a mesma vogal.
Nota importante:
- Essa regra padroniza algumas exceções já vigentes antes do Acordo.
auto-observação – auto-ônibus – contra-atacar
- Tal regra não se aplica aos prefixos “-co”, “-pro”, “-re”, mesmo que a segunda palavra comece com a mesma vogal que termina o prefixo.
Definição:Numeral é a palavra que indica número ou ordem de sucessão.Classificação dos numerais:a) cardinais: indicam quantidade. um, dois, três, quatro, cinco…b) ordinais: indicam ordem de sucessão. primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto…c) multiplicativos: indicam multiplicação. dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo…d) fracionários: indicam divisão, fração. meio, metade, um terço, um quarto…lista de numerais cardinais e ordinais
Leitura do cardinalNa leitura de numerais cardinais deve-se colocar a conjunção e entre as centenas e dezenas, assim como entre as dezenas e a unidade. 5 058 624 = cinco milhões cinqüenta e oito mil seiscentos e vinte e quatro leitura do ordinal.Quando à leitura do numeral ordinal, podem ocorrer dois casos:
a) Quando ele é inferior a 2 000, é lido inteiramente segundo a forma ordinal. 1 856o. = milésimo octingentésimo qüinquagésimo sexto;
b) Acima de 2 000, lê-se o primeiro algarismo como cardinal e os demais como ordinais. Modernamente, entretanto, tem-se observado a tendência a ler os números redondo segundo a forma ordinal. 2 648o. = dois milésimo seiscentésimo quadragésimo oitavo 10 000o. = décimo milésimo leitura do fracionário.O numerador de um numeral fracionário é sempre lido como cardinal.
Quanto ao denominador, podem ocorrer duas formas de leitura:
a) se for inferior ou igual a 10, ou ainda for um número redondo, é lido como ordinal 3/8 = três oitavos 6/10 = seis décimo 4/30 = quatro trigésimos 5/100 = cinco centésimos Exceções: ½ = meio; 1/3 = um terço;
b) se for superior a 10 e não constituir número redondo, é lido como cardinal, seguido da palavra avos. 4/18 = quatro dezoito avos 6/35 = seis trinta e cinco avos 8/125 = oito cento e vinte e cinco avos emprego de numeral cardinal ou ordinal 1. Na indicação de reis, papas, séculos, partes de uma obra, usam-se os numerais ordinais até décimo. A partir daí, devem-se empregar os cardinais. Século VII (sétimo século XX (vinte) João Paulo II (segundo) João XXIII (vinte e três)
Quando dois ou mais adjetivos se referem a um substantivo, este vai para o singular ou plural.
Exemplos:Estudo as línguas inglesa e portuguesa.Estudo a língua inglesa e (a) portuguesa.Os poderes temporal e espiritual.O poder temporal e (o) espiritual.
4. Ordinal + Ordinal + ... + Substantivo
Quando dois ou mais ordinais vêm antes de um substantivo, determinando-o, este concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
Exemplos:A primeira e segunda lição.A primeira e segunda lições.
5. Substantivo + Ordinal + Ordinal + ...
Quando dois ou mais ordinais vêm depois de um substantivo, determinando-o, este vai para o plural.
Exemplo:As cláusulas terceira, quarta e quinta.
6. Um e outro / Nem um nem outro + Substantivo
Quando as expressões "um e outro", "nem um nem outro" são seguidas de um substantivo, este permanece no singular.
Exemplos:Um e outro aspecto.Nem um nem outro argumento.De um e outro lado.
7. Um e outro + Substantivo + Adjetivo
Quando um substantivo e um adjetivo vêm depois da expressão "um e outro", o substantivo vai para o singular e o adjetivo para o plural.
Exemplos:Um e outro aspecto obscuros.Uma e outra causa juntas.
8. "O (a) mais ... possível" - "Os (as) mais ... possíveis" - "O (a) pior ... possível" - "Os (as) piores ..." - "O (a) melhor ... possível" - "Os (as) melhores ... possíveis"
O adjetivo "possível", nas expressões "o mais ...", "o pior ...", "o melhor ..." permanece no singular.
Com as expressões "os mais ...", "os piores ...", "os melhores ...", vai para o plural.
Exemplos:Os dois autores defendem a melhor doutrina possível.Estas frutas são as mais saborosas possíveis.Eles foram os mais insolentes possíveis.Comprei poucos livros, mas são os melhores possíveis.
9. Particípio + Substantivo
O particípio concorda com o substantivo a que se refere.
Exemplos:Feitas as contas ...Vistas as condições ...Restabelecidas as amizades ...Postas as cartas na mesa ...Salvas as crianças ...
Observação:"Salvo", "posto" e "visto" assumem também papel de conectivos, sendo, por isso, invariáveis: Salvo honrosas exceções.Posto ser tarde, irei.Visto ser longe, não irei.
10. Anexo / bastante / incluso / leso / mesmo / próprio + Substantivo
Essas palavras concordam com o substantivo a que se referem.
Exemplos:Vão anexas as cópias.Recebi bastantes flores.Vão inclusos os documentos.Cometeu um crime de lesa-pátria.Cometeu um crime de leso-patriotismo.Ele mesmo falou aquilo.Ela mesma falou aquilo.Elas próprias falaram aquilo.
11. Meio (= metade) + Substantivo
O adjetivo "meio" concorda com o substantivo a que se refere.
Exemplos:Meias medidas.Meio litro.Meia garrafa.
12. Meio (= um tanto) + Adjetivo
O advérbio "meio", que se refere a um adjetivo, permanece invariável.
Exemplos:Ela parecia meio encabulada.Janela meio aberta.
Observações:
1. Na fala, observam-se exemplos do advérbio "meio" flexionado. Tal fato pode ser explicado pelo fenômeno da "concordância atrativa", ou por influência do adjetivo a que se refere: "Ela está meia cansada".
Dessa concordância existem exemplos entre os clássicos: "Uns caem meios mortos". (Camões)
2. Em "meio-dia e meia", "meia" concorda com a palavra "hora", oculta na expressão "meio-dia e meia (hora)". Essa é a construção recomendada pela maioria dos manuais de cultura idiomática.
A construção "meio-dia e meio" também ocorre na fala; a forma "meio" permanece no masculino, por atração ou influência da forma masculina "meio-dia".
3. A palavra "meio" funciona como elemento de justaposição em "meias-luas", "meios-termos", "meios-tons", "meia-idade", etc.
13. Verbo transobjetivo + predicativo do objeto + objeto + objeto ... Verbo transobjetivo + objeto + objeto ... + predicativo do objeto
Verbo transobjetivo é o verbo que pede, além de um complemento-objeto, uma qualificação para esse complemento (= predicativo do objeto).
Nesse caso, o predicativo concorda com o(s) objetos.
Verbo transobjetivo
+ predicativo do objeto
+ objeto + objeto ...
JulgouConsidereiAchei
inocentesoportunassimpáticos
o pai e o filhoa decisão e a sugestãoa irmã e o irmão
Verbo transobjetivo
+ objeto + objeto ...
+ predicati
vo
JulgouConsidereiAchei
o pai e o filhoa decisão e a sugestãoa irmã e o irmão
inocentesoportunassimpáticos
14. Casa, página (+ número) + numeral
Na enumeração de casas e páginas, o numeral concorda com a palavra oculta "número".
Exemplos:Casa dois.Página dois.
15. Substantivo + é bom / é preciso / é proibido
Em construções desse tipo, quando o substantivo não está determindado, as expressões "é bom", "é preciso", "é proibido" permanecem no singular.
Exemplos:Maçã é bom para a saúde.É preciso cautela.É proibido entrada.
Observação: Quando há determinação do sujeito, a concordância efetua-se normalmente:É proibida a entrada de meninas.
16. Pronome de tratamento (referindo-se a uma pessoa de sexo masculino) + verbo de ligação + adjetivo masculino
Quando um adjetivo modifica um pronome de tratamento que se refere a pessoa do sexo masculino, vai para o masculino.
Exemplos:Sua Santidade está esperançoso.Referindo-se ao Governador, disse que Sua Excelência era generoso.
17. Nós / Vós + verbo + adjetivo
Quando um adjetivo modifica os pronomes "nós / vós", empregados no lugar de "eu / tu", vai para singular.
Exemplos:Vós (= tu) estais enganado.
Nós (= eu) fomos acolhido muito bem.Sejamos (nós = eu) breve.
Fonte: http://www.pucrs.br/manualred/nominal.php
b)Regência
Regência Verbal e Nominal
Definição:
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que ocorre entre um verbo (ou um nome) e seus complementos. Ocupa-se em estabelecer relações entre as palavras, criando frases não ambíguas, que expressem efetivamente o sentido desejado, que sejam corretas e claras.
REGÊNCIA VERBAL
Termo Regente: VERBO
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de conhecermos as diversas significações que um verbo pode assumir com a simples mudança ou retirada de uma preposição. Observe:
A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.A mãe agrada ao filho. -> agradar significa "causar agrado ou prazer", satisfazer.
Logo, conclui-se que "agradar alguém" é diferente de "agradar a alguém".
Saiba que:
O conhecimento do uso adequado das preposições é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e também nominal). As preposições são capazes de modificar completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os exemplos:
Cheguei ao metrô.Cheguei no metrô.
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração "Cheguei no metrô", popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é muito comum existirem divergências entre a regência coloquial, cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes formas em frases distintas.
Regência é a parte da Gramática Normativa que estuda a relação entre dois termos, verificando se um termo serve de complemento a outro. A palavra ou oração que governa ou rege as outras chama-se regente ou subordinante; os termos ou oração que dela dependem são os regidos ou subordinados.Ex.: Aspiro o perfume da flor. (cheirar)/ Aspiro a uma vida melhor. (desejar)
Regência Verbal
1- Chegar/ ir – deve ser introduzido pela preposição a e não pela preposição em.Ex.: Vou ao dentista./ Cheguei a Belo Horizonte.
2- Morar/ residir – normalmente vêm introduzidos pela preposição em. Ex.: Ele mora em São Paulo./ Maria reside em Santa Catarina.
3- Namorar – não se usa com preposição. Ex.: Joana namora Antônio.
4- Obedecer/ desobedecer – exigem a preposição a. Ex.: As crianças obedecem aos pais./ O aluno desobedeceu ao professor.
5- Simpatizar/ antipatizar – exigem a preposição com. Ex.: Simpatizo com Lúcio./ Antipatizo com meu professor de História.
Estes verbos não são pronominais, portanto, são considerados construções erradas quando os mesmos aparecem acompanhados de pronome oblíquo: Simpatizo-me com Lúcio./ Antipatizo-me com meu professor de História.
6- Preferir - este verbo exige dois complementos sendo que um usa-se sem preposição e o outro com a preposição a.
Ex.: Prefiro dançar a fazer ginástica.
Segundo a linguagem formal, é errado usar este verbo reforçado pelas expressões ou palavras: antes, mais, muito mais, mil vezes mais, etc.
Ex.: Prefiro mil vezes dançar a fazer ginástica.
Verbos que apresentam mais de uma regência:
1 - Aspirara) no sentido de cheirar, sorver: usa-se sem preposição. Ex.: Aspirou o ar puro da manhã.b) no sentido de almejar, pretender: exige a preposição a. Ex.: Esta era a vida a que aspirava.
2 - Assistir
a) no sentido de prestar assistência, ajudar, socorrer: usa-se sem preposição. Ex.: O técnico assistia os jogadores novatos.
b) no sentido de ver, presenciar: exige a preposição a. Ex.: Não assistimos ao show.
c) no sentido de caber, pertencer: exige a preposição a. Ex.: Assiste ao homem tal direito.
d) no sentido de morar, residir: é intransitivo e exige a preposição em. Ex.: Assistiu em Maceió por muito tempo.
3 - Esquecer/lembrar
a) Quando não forem pronominais: são usados sem preposição. Ex.: Esqueci o nome dela.
b) Quando forem pronominais: são regidos pela preposição de. Ex.: Lembrei-me do nome de todos.
4 - Visar
a) no sentido de mirar: usa-se sem preposição. Ex.: Disparou o tiro visando o alvo.
b) no sentido de dar visto: usa-se sem preposição. Ex.: Visaram os documentos.
c) no sentido de ter em vista, objetivar: é regido pela preposição a. Ex.: Viso a uma situação melhor.
5 - Querer
a) no sentido de desejar: usa-se sem preposição. Ex.: Quero viajar hoje.
b) no sentido de estimar, ter afeto: usa-se com a preposição a. Ex.: Quero muito aos meus amigos.
6 - Proceder
a) no sentido de ter fundamento: usa-se sem preposição. Ex.: Suas queixas não procedem.
b) no sentido de originar-se, vir de algum lugar: exige a preposição de. Ex.: Muitos males da humanidade procedem da falta de respeito ao próximo.
c) no sentido de dar início, executar: usa-se a preposição a. Ex.: Os detetives procederam a uma investigação criteriosa.
7 - Pagar/ perdoar
a) se tem por complemento palavra que denote coisa: não exigem preposição. Ex.: Ela pagou a conta do restaurante.
b) se tem por complemento palavra que denote pessoa: são regidos pela preposição a. Ex.: Perdoou a todos,
8 - Informar
a) no sentido de comunicar, avisar, dar informação: admite duas construções:
1) objeto direto de pessoa e indireto de coisa (regido pelas preposições de ou sobre). Ex.: Informou todos do ocorrido.
2) objeto indireto de pessoa ( regido pela preposição a) e direto de coisa. Ex.: Informou a todos o ocorrido.
9 - Implicar
a) no sentido de causar, acarretar: usa-se sem preposição. Ex.: Esta decisão implicará sérias conseqüências.
b) no sentido de envolver, comprometer: usa-se com dois complementos, um direto e um indireto com a preposição em. Ex.: Implicou o negociante no crime.
c) no sentido de antipatizar: é regido pela preposição com. Ex.: Implica com ela todo o tempo.
10- Custar
a) no sentido de ser custoso, ser difícil: é regido pela preposição a. Ex.: Custou ao aluno entender o problema.
b) no sentido de acarretar, exigir, obter por meio de: usa-se sem preposição. Ex.: O carro custou-me todas as economias.
c) no sentido de ter valor de, ter o preço: usa-se sem preposição. Ex.: Imóveis custam caro
Regência Nominal:
Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) são comparáveis aos verbos transitivos indiretos: precisam de um complemento
O complemento nominal é para o nome o que o objeto indireto é para o verbo, e apresenta regência. (Assim como os verbos, alguns nomes apresentam mais de uma regência)
acessível a, para, por adequado a, com, para afável com, para comalheio a amoroso com, para, para com análogo a ansioso de, poranterior aaparentado comapto para, aatentado a, contraatento a, em, para avaro deaversão a, para, poravesso a, de, emávido debacharel embenefício abom paracapaz de, paracego a
dúvida acerca de, em, sobreempenho de, em, porentendido emerudito emescasso deessencial paraestranho aexato emfácil a, de, parafavorável afalho de, emfeliz com, de, em, porfértil de, emfiel a firme emforte de, em fraco para, com, de, emfurioso com, degrato a hábil emhabituado em
necessário a, em, paranegligente emnobre de, em, pornocivo aobediente a obsequioso comorgulhoso com, para comparco em, deparecido a, com, em passível depeculiar a, deperito empernicioso apertinaz empiedade com, de, para, para com, por pobre depoderoso para, compossível deposterior aproeminência sobreprestes a, para
certo decheiro a, decobiçoso decomum a, deconforme a, comconstante emcontente com, de, em, porcontemporânea de, a contíguo acontrário acruel com, para comcuidadoso comcúmplice em, decurioso de, pordesatento a descontente comdesejoso dedesfavorável a desleal a devoto a, dedevoção a, para com, pordiferente dedifícil dedigno dediligente em, paraditoso comdiverso dedoce adócil a dotado dedoutor emduro de
horror ahostil a, para comida aidêntico aimediato aimpaciência comimune a, deimportante contra, paraimpróprio parainábil parainacessível para, a incapaz de, paraincompatível comincompreensível parainconstante emincrível a, parainédito aindeciso emindiferente aindigno deindulgente para, para cominerente ainsensível aintolerante com, para comleal alento emliberal commaior demau com, para commenor demorada em natural a, de, em
prodígio de, empronto para, empropício a, parapropínquo depróprio para, deproveitoso apróximo a, dequerido de, porrespeito a, com, de, em, entre, para com, por rico de, emsábio em, parasensível a, parasito em, entresituado a, em, entresoberbo comsolícito com, de, em, para, para com, porsujo de temível a, para transido desuspeito a, detemeroso atriste de, comúltimo em, de, aunião a, com, entreúnico em, a, entre, sobreútil a, paravazio devisível a vulgar a, em, entre
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando desempenha função de complemento. Vamos entender, primeiramente, como o pronome pessoal surge na frase e que função exerce. Observe as orações:
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia lhe ajudar.
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto. Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo função de complemento, e conseqüentemente é do caso oblíquo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso, o pronome oblíquo “lhe” da segunda oração aponta para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe).
Importante: Em observação à segunda oração o emprego do pronome oblíquo "lhe" é justificado antes do verbo intransitivo "ajudar" porque o pronome oblíquo pode estar antes,
depois ou entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso "ajudar ") estiver no infinitivo ou gerúndio.
Exemplo: Eu desejo lhe perguntar algo.
Eu estou perguntando-lhe algo.
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente dos segundos que são sempre precedidos de preposição.
Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que estava fazendo.
Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que eu estou fazendo.
Colocação pronominal
De acordo com as autoras Rose Jordão e Clenir Bellezi, a colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem.
São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos.
O pronome oblíquo átono pode assumir três posições na oração em relação ao verbo:
1. próclise: pronome antes do verbo
2. ênclise: pronome depois do verbo
3. mesóclise: pronome no meio do verbo
Próclise
A próclise é aplicada antes do verbo quando temos:
• Palavras com sentido negativo:
Nada me faz querer sair dessa cama.
Não se trata de nenhuma novidade.
• Advérbios:
Nesta casa se fala alemão.
Naquele dia me falaram que a professora não veio.
• Pronomes relativos:
A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje.
Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram.
• Pronomes indefinidos:
Quem me disse isso?
Todos se comoveram durante o discurso de despedida.
• Pronomes demonstrativos:
Isso me deixa muito feliz!
Aquilo me constrangeu a mudar de atitude!
• Preposição seguida de gerúndio:
Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais indicado à pesquisa escolar.
• Conjunção subordinativa:
Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram.
Ênclise
A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A ênclise vai acontecer quando:
• Verbo estiver no imperativo afirmativo:
Amem-se uns aos outros.
Sigam-me e não terão derrotas.
• O verbo iniciar a oração:
Diga-lhe que está tudo bem.
Chamaram-me para ser sócio.
• O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da preposição "a":
Naquele instante os dois passaram a odiar-se.
Passaram a cumprimentar-se mutuamente.
• O verbo estiver no gerúndio:
Não quis saber o que aconteceu, fazendo-se de despreocupada.
Despediu-se, beijando-me a face.
• Houver vírgula ou pausa antes do verbo:
Se passar no vestibular em outra cidade, mudo-me no mesmo instante.
Se não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas.
Mesóclise
A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito:
Antes de tudo, reflitamos sobre a estrutura de um texto: parágrafos devidamente organizados e interligados entre si por meio de harmoniosa junção de elementos coesivos, ideias dispostas em uma dada sequência lógica, de modo a formar um “todo” coerente. Eis alguns dos elementos essenciais à perfeita compreensão de qualquer discurso.
Contudo, há que se mencionar acerca de alguns entraves que porventura tendem a surgir, implicando diretamente na falta dessa perfeição. Para sermos mais precisos, voltemos nosso foco para a última das considerações supracitadas, retratadas por “ideias dispostas em uma dada sequência lógica, de modo a formar um ‘todo’ coerente”. Esse todo deixa de ser coerente quando há a ruptura de similaridade entre os elementos textuais.
Ressaltemos, pois, as palavras de Othon M. Garcia proferidas em seu Comunicação em Prosa Moderna, as quais ele revela sobre tal ruptura:
“Se coordenação é, como vimos, um processo de encadeamento de valores sintáticos idênticos, é justo presumir que quaisquer elementos da frase – sejam orações, sejam termos dela–, coordenados entre si, devam – em princípio, pelo menos – apresentar estrutura gramatical idêntica, pois –como, aliás, ensina a gramática de Chomsky – não se podem coordenar frases que não comportem constituintes do mesmo tipo. Em outras palavras: as ideias similares devem
corresponder forma verbal similar. Isso é o que se costuma chamar paralelismo ou simetria de construção”.
Diante de tais pressupostos, podemos dizer que o paralelismo se caracteriza pelas relações de semelhança entre palavras e expressões, materializadas por meio do campo morfológico (quando as palavras pertencem a uma mesma classe gramatical), sintático (quando as construções das frases ou orações são semelhantes) e semântico (quando há correspondência de sentido).
De forma a constatá-los, analisemos os casos nos quais se detecta a falta de paralelismo de ordem morfológica:
Sua saída se deve a mágoas, humilhações, ressentimentos e a agressores que tanto pretendiam ocupar seu cargo dentro da empresa.
Constatamos que há uma ruptura de ordem morfológica, evidenciada pela troca de um substantivo por um adjetivo, ou seja, o termo “agressores” em detrimento a “agressões”. Portanto, o discurso carece de uma reformulação, evidenciada por:
Sua saída se deve a mágoas, humilhações, ressentimentos e a agressões por parte daqueles que tanto pretendiam ocupar seu cargo dentro da empresa.
No campo sintático:
A preservação do meio ambiente representa não só um dever de cidadania e é para que o planeta sobreviva.
Aqui, o correto seria utilizarmos a conjunção aditiva “mas também” em vez do conectivo “e”, visto que o discurso revela a ideia de adição no que se refere às consequências oriundas de tais ações. Assim, a mensagem se evidenciaria da seguinte forma:
A preservação do meio ambiente representa não só um dever de cidadania, mas também contribui para que o planeta sobreviva.
No campo semântico:
Há um trecho retirado da obra machadiana, retratado por: Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.
Mesmo sabendo das reais intenções do autor, Machado de Assis, detectamos uma quebra de sentido em relação ao tempo, uma vez que para ironizar o interesse de Marcela, ele introduz outra ideia, desta vez relacionada não mais à noção de tempo, mas à quantidade propriamente dita.
Baseados em tais conhecimentos, partamos para conferir alguns casos representativos de paralelismo.
quanto mais...tanto mais.
Atualmente, quanto mais nos qualificamos, (tanto) mais conseguimos uma boa colocação no mercado de trabalho.
Ambas as estruturas paralelísticas foram utilizadas no sentido de indicar uma progressão entre os termos constituintes.
seja... seja; quer...quer; ora...ora.
Cuide sempre de suas atitudes, seja em casa, seja no trabalho.
Quer queiras, quer não, terás de aproveitar essa oportunidade.
Constatamos que o paralelismo se deveu à noção de alternância (primeiro exemplo), como também à de posição (segundo exemplo).
não... e não/nem.
Não conseguimos viajar nesse ano, nem no anterior.
Tal recurso é utilizado na intenção de enfatizar uma sequência de ações negativas.
por um lado..., por outro.
Se por um lado agradou aos convidados, por outro desagradou à família.
Constata-se que o emprego das estruturas paralelísticas foi na intenção de estabelecer uma comparação, aludindo a aspectos negativos e positivos mediante uma ação.
tanto...quanto.
A despedida é extremamente ruim, tanto para quem parte, quanto para quem fica.
Identificamos que as estruturas introduzem tanto a ideia de adição quanto de equiparação ou equivalência.
Tempos verbais.
Se todos comparecessem, haveria mais cooperação.
Se todos comparecerem, haverá mais cooperação.
Inferimos que o emprego do pretérito imperfeito do subjuntivo (comparecessem) se adéqua ao futuro do pretérito do indicativo (haveria), bem como o futuro do subjuntivo se adéqua ao futuro do presente.
A duplicidade de sentido, seja de uma palavra ou de uma expressão, dá-se o nome de ambiguidade. Ocorre geralmente, nos seguintes casos:
Má colocação do Adjunto Adverbial
Exemplos: Crianças que recebem leite materno frequentemente são mais sadias.
As crianças são mais sadias porque recebem leite frequentemente ou são frequentemente mais sadias porque recebem leite?
Eliminando a ambiguidade: Crianças que recebem frequentemente leite materno são mais sadias. Crianças que recebem leite materno são frequentemente mais sadias.
Uso Incorreto do Pronome Relativo
Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes que estava sobre a cama.
O que estava sobre a cama: o estojo vazio ou a aliança de diamantes?
Eliminando a ambiguidade: Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes a qual estava sobre a cama.
Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes o qual estava sobre a cama.
Observação: Neste exemplo, pelo fato de os substantivos estojo e aliança pertencerem a gêneros diferentes, resolveu-se o problema substituindo os substantivos por o qual/a qual. Se pertencessem ao mesmo gênero, haveria necessidade de uma reestruturação diferente.
Má Colocação de Pronomes, Termos, Orações ou Frases
Aquela velha senhora encontrou o garotinho em seu quarto.
O garotinho estava no quarto dele ou da senhora?
Eliminando a ambiguidade: Aquela velha senhora encontrou o garotinho no quarto dela. Aquela velha senhora encontrou o garotinho no quarto dele.
Ex.: Sentado na varanda, o menino avistou um mendigo.
Você já começou a escrever e não parou mais e acabou transformando aquele período em um longo parágrafo?
Se sim, cuidado, neste espaço você pode ter feito uso das frases siamesas. Sim, é isso mesmo, são chamadas assim por analogia a “irmãos siameses”, aqueles que nascem unidos por uma determinada parte do corpo.
Assim, o mesmo acontece com as orações. Às vezes nos empolgamos em escrever e esquecemos de acentuar, colocar vírgulas, conectivos (e, mas, porém, então, entretanto, etc.) e pontos (final, de exclamação, de interrogação, dois pontos, e assim por diante).
Observe: A jovem já estava ansiosa seria um ótimo dia de aula sua turma iria apresentar uma peça teatral para a escola inteira a fim de arrecadar fundos para o bazar cultural.
É muito comum ver períodos longos iguais a esse, apontado acima, bem como nos menores: Ele não concordava com a correção era necessário falar com o professor.
As ideias dos exemplos acima estão sendo exploradas como se fosse apenas uma, já que não há elemento de ligação entre as orações.
Vejamos como ficariam os períodos acima se fossem escritos com a pontuação correta:
A jovem já estava ansiosa, seria um ótimo dia de aula, pois sua turma iria apresentar uma peça teatral para a escola inteira, a fim de arrecadar fundos para o bazar cultural.
E
Ele não concordava com a correção, era necessário falar com o professor.
Como vimos, é muito importante ficar atento à pontuação e ao uso dos conectivos, pois podem mudar todo o sentido de um texto ou do que se quer falar.
Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
As frases SIAMESAS caracterizam-se por apresentar idéias ligadas incorretamente, ou seja,
frases distintas, que possuem enunciado completo, são apresentadas como se fosse uma só,
por não haver elemento de ligação entre elas, como sinais de pontuação ou conectivos. Este
nome é devido à analogia de irmãs ou a irmãos siameses (crianças que nascem unidas por
uma parte do corpo)
Veja alguns exemplos:
- Letícia estava muito ansiosa teria que fazer a cirurgia o mais breve.
A frase acima é siamesa, para evitar este erro, podemos usar sinais de pontuação:
- Letícia estava muito ansiosa. Teria que fazer a cirurgia o mais breve.
- Letícia estava muito ansiosa; teria que fazer a cirurgia o mais breve.
Como escrever com frases curtas, construções nominais e fragmentadas
1. Introdução
A FRASE NOMINAL é a frase que prescinde de verbo, constituída, portanto, apenas por nomes.
É característica de muitos provérbios e máximas: Cada louco com sua mania; Cada macaco no seu galho.
É uma frase curta, incisiva que tanto pode expressar ações quanto apontar os elementos essenciais de um quadro numa descrição.
"A cama de ferro, a colcha branca, o travesseiro com fronha de morim. O lavatório esmaltado, a bacia e o jarro. Uma mesa de pau, o tinteiro niquelado, papéis, uma caneta. Quadros nas paredes".
(Érico Veríssimo, Clarissa, p. 220)
Na literatura brasileira contemporânea, quase todos os novelistas e cronistas dela servem, quase sempre na descrição.
A FRASE FRAGMENTADA é geralmente uma oração subordinada ou um adjunto que se apresentam isoladamente, isto é, não anexados à oração principal.
Othon Garcia, em "Comunicação em prosa moderna", p. 100, dá bem a idéia do que é frase fragmentada:
"A festa de inauguração da nova sede estara esplêndida. Gente que não acabava mais. Todos muito animados. Mas uma confusão tremenda. E um calor insuportável. De rachar. De modo que grande parte dos convivas saiu muito antes de terminar, muito antes mesmo da chegada do Governador. Porque era impossível agüentar todo aquele aperto, aquela confusão. E principalmente o calor".
Os períodos do texto são, na verdade, "pedaços" de períodos, verdadeiros fragmentos. São frases fragmentadas.
De acordo com a sintaxe ortodoxa, o período (e a pontuação) deveria ser assim construído:
Mas uma confusão tremenda e um calor insuportável, de rachar, de modo que grande parte dos convivas saiu muto antes de terminar, muito antes mesmo da chegada do Governador, porque era impossível de agüentar todo aquele aperto, aquela confusão, e principalmente o calor."
A frase fragmentada é um recurso de estilo, próprio da literatura moderna.
A FRASE CURTA, incisiva, direta também é característica da literatura moderna, ao contrário do período longo, característica do classicismo, do parnasianismo e do romantismo.
É um estilo entrecortado, soluçante,"asmático", na expressão de Othon Garcia. Ou um estilo "picadinho", segundo José Oiticica.
Não raro, frases nominais, fragmentadas e curtas se misturam, dando como resultado um estilo "estertorante", "convulsivo", "asmático", segundo, ainda, expressões de Othon Garcia.
Observe uma vez mais o texto "Por uma aprendizagem natural da escrita", onde aparecem frases curtas, nominais e fragmentadas.
Por uma aprendizagem natural da escrita
Sem professor. Sem aula. Sem provas. Sem notas.Sem computador. Sem dom. Sem queda. Sem inspiração.Sem estresse!Só tu.Tu e tu. Tu e o texto. Tu e a folha em branco.Que impassível espera ser preenchida, para entretecer contigo a teia de palavras que liga todas as dimensões de tua existência, nesta travessia de comunicação de ti para contigo, de ti para o outro.Sem.Só tu.Com teu ritmo. Com tua pulsação. Com paixão.Na aventura do cotidiano. De resgatar a memória.De fecundar o presente. De gestar o futuro. Anunciando esperanças. Denunciando injustiças. In(en)formando o mundo com tua-vida-toda-linguagem.Sem!Levanta tua voz: em meio às desfigurações da existência, da sociedade, tu tens a palavra.A tua palavra. Tua voz. E tua vez.
Gilberto Scarton
O leitor que quiser mais informações relativas a esses tipos de frase, fará bem consultar a excelente obra de Othon Garcia "Comunicação em prosa moderna".
2. Textos
2.1 Textos-modelos
Letra de Música
Germano Jacobs
Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Àquela hora, sete da noite, o bar estava cheio. Ele se encontrava sozinho, numa mesa no canto, quase escondido. Devia ter 45 anos e gostava de conversar consigo mesmo, de relembrar os bons tempos, aqueles que não voltam mais, essas coisas sentimentais do lugar-comum. Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Vai ao banheiro. Volta. Continua o ritual. Droga de vida, os bons tempos não resolvem coisa alguma. Parece letra de música destas duplas que infestam o rádio, mas os últimos anos foram uma sucessão de dramas. Dramas, não, dramalhões. Encontrar a mulher na cama com seu melhor amigo foi o começo. Bem que andava desconfiado, mas como é que podia imaginar tamanha sem-vergonhice? Ela ainda riu na sua cara,o seu amigo vestiu-se calmamente, fazendo pouco caso de sua presença. Quase que pediu desculpas por encontrá-los em adultério. Mais tarde perdoou a mulher, mas ela preferiu mesmo ficar com seu melhor amigo. Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Tosse. A desgraçada está voltando. Tosse. Vinte anos na mesma empresa. Auxiliar de contabilidade. Cumpridor de seus deveres, de jamais faltar ao serviço. Certo dia, sem mais nem menos, o aviso de demissão. "Por que eu, o que fiz, em que falha incorri?" "Contenção de despesa", a resposta, "a crise está braba". Sem mulher e sem emprego. E o emprego? Faz a escrita contábil do bar que freqüenta, da verdureira da esquina, da sapataria de um compadre seu, vai se virando. Ganha para comer, pagar o quartinho da pensão e tomar a cerveja de todos os dias. É o único luxo que se permite. Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. O dois filhos, de 19 e 17 anos, estão por aí, no mundo. Eles que se virem. Ele quer ficar só, os outros que se danem. Se conseguisse esquecer da mulher, tudo seria diferente. Aí é que está, mesmo que continuasse a traí-lo, com seu melhor amigo, com quem quer que fosse, não importa, suportaria tudo para estar junto dela. Isso o deixa louco de raiva: "Que merda de homem sou eu?", se pergunta, e encontra à sua frente o copo de cerveja e o cigarro. Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Tem certeza que nunca vai encontrar resposta. E continua o ritual.
Felicidades
Beertolt Brecht - Poemas
O primeiro olhar da janela de manhã.O velho livro perdido e reencontrado.Rostos animados.A neve, a sucessão das estações.Jornais.O cachorro.A dialética.Tomar um banho, nadar um pouco.A música antiga.Sapatos macios.Compreender.A música nova.Escrever, plantar.Viajar, cantar.Ser Camarada.
2.2 Textos de alunos
Inocentes Reflexões
Renata Eichenberg
Viver é desejar. Realizar nossos sonhos. Crescer. Amadurecer. Amar. Descobrir.
Procurar. Acredito ser a vida preciosa, atraente, misteriosa, surpreendente. Não basta apenas vivê-la, temos que sonhá-la, imaginá-la, supô-la, adivinhá-la. Se eu pudesse ter sete vidas, certamente teria sete desejos, sete anseios, sete amores, sete pais, sete filhos, sete sonhos. Como só tenho uma, porém intensa e preciosa, espero, durante a minha vivência terrena:
• conhecer muitos lugares, povos, costumes, tradições; • provar todas as formas e tipos de chocolates; • escrever, pelo menos, uma obra; • ter dois filhos, uma menina e um menino; • viver em uma praia tranqüila; • sentir, todo o dia, o cheiro de terra, mar, areia; • ter coragem de mergulhar, conhecendo os mistérios da água; • ver o pôr-do-sol sem a sombra de um arranha-céu; • viver a vida inteira ao lado de um único homem; • amar e ser amada; • sugar a essência do mundo; • provar de todos os vinhos; • arrancar suspiros;
• simplesmente viver.
Devastação
Scheila Feijó Fantinels
Noite escura. Chuva caindo lá fora. Continua chovendo. O cachorro late prevendo alguma coisa.
Aumenta a chuva. Granizo. Vento. Chuva. Começo a sentir medo.
A água ultrapassa as portas. Telhas voam e não ouço nada. Pavor. Choro.
Os minutos parecem horas. Rezo... Silêncio. O pesadelo acabou.
Devastação. Árvores caídas, casas derrubadas, lágrimas, alguns feridos.
Ninguém segura a natureza.
Fonte: http://www.pucrs.br/gpt/fragmentadas.php
e)Pontuação
Por Araújo, A. Ana Paula de
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Veremos aqui as principais funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua portuguesa.
Ponto1- Indica o término do discurso ou de parte dele.- Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que se encontra.- Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite.- Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava. 2- Usa-se nas abreviações- V. Exª.- Sr.
Ponto e Vírgula ( ; )1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma importância.- “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma…” (VIEIRA) 2- Separa partes de frases que já estão separadas por vírgulas.- Alguns quiseram verão, praia e calor; outros montanhas, frio e cobertor. 3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos, decreto de lei, etc.- Ir ao supermercado;- Pegar as crianças na escola;- Caminhada na praia;- Reunião com amigos.
Dois pontos1- Antes de uma citação- Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto: 2- Antes de um aposto- Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite. 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento- Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a rotina de sempre. 4- Em frases de estilo direto- Maria perguntou: – Por que você não toma uma decisão?
Ponto de Exclamação1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto, súplica, etc.- Sim! Claro que eu quero me casar com você! 2- Depois de interjeições ou vocativos- Ai! Que susto!- João! Há quanto tempo!Ponto de InterrogaçãoUsa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)
Reticências1- Indica que palavras foram suprimidas.- Comprei lápis, canetas, cadernos…2- Indica interrupção violenta da frase.“- Não… quero dizer… é verdad… Ah!” 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida- Este mal… pega doutor? 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito- Deixa, depois, o coração falar…
VírgulaÉ usada para vários objetivos, mas em geral usamos a vírgula para dar pausa à leitura ou para indicar que algum elemento da frase foi deslocado da sua posição canônica.
BibliografiaROCHA LIMA, Carlos Henrique da.Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 45ª edição. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.