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DOI:10.5212/PraxEduc.v.9i2.0011
Processos constitutivos das polticas educacionais no mbito
municipal: a pesquisa-ao colaborativa
como postura epistemolgica, metodolgica e poltica
Constitutive processes of the education policies in the
municipal context: collaborative action research
as epistemological, methodological and political posture
Los procesos constitutivos de las polticas educativas en el
mbito municipal: la investigacin-
accin colaborativa como postura epistemolgica, metodolgica y
poltica
Dirlia Fanfa Sarmento*Cledes Antonio Casagrande**
Resumo: Este texto analisa os processos constitutivos das
polticas educacionais municipais, enfatizando as contribuies da
pesquisa-ao colaborativa nesses processos como postura que alimenta
o compromisso poltico, o pensamento crtico e as relaes cooperativas
para a constituio de comunidades de aprendizagem. Este artigo
articula as reflexes oriundas de uma postura meta-analtica do
prprio processo investigativo com a constituio das polticas
educacionais em tela, tendo como protagonistas os profissionais da
educao que atuam na Secretaria de Educao. Os achados, decorrentes
da anlise do contedo de documentos, dos registros de observaes, de
encontros formativos no Dirio de Campo e das entrevistas, sinalizam
que os impactos derivados da pesquisa-ao no so imediatos, mas
expectveis com o decorrer do tempo - tpico de grupos que partilham
e constroem cumplicidades cientficas, epistemolgicas e
pedaggicas.
Palavras-chave: Polticas Educacionais. Pesquisa-ao colaborativa.
Princpios epistemolgicos.
* Professora do Centro Universitrio La Salle de Canoas
(Unilasalle). E-mail: ** Ps-Doutorando em Educao do Centro
Universitrio La Salle de Canoas (Unilasalle). E-mail:
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Abstract: This text analyses the constitutive processes of the
municipal education policies, highlighting the contributions from
the collaborative action research in these processes as posture
which feeds the political commitment, the critical thought and the
cooperative relations for the constitution of learning communities.
This article articulates the reflection from a meta-analytical
posture of the investigative process itself with the composition of
the education policies brought into focus, having as protagonists
the education professionals who work in the Board of Education. The
findings, from the analysis of the documents content; the reports
of observations, of the formative meetings in the Field Diary and
of the interviews, signalize that the impacts derived from the
action research are not immediate, but expectable in the course of
time - typical of groups which share and build scientific,
epistemological and pedagogical complicities.Keywords: Education
policies. Collaborative action research. Epistemological
principles.
Resumen: Este texto analiza los procesos constitutivos de las
polticas educativas municipales, enfatizando las contribuciones de
la investigacin-accin colaborativa en esos procesos como una
postura que alimenta el compromiso poltico, el pensamiento crtico y
las relaciones cooperativas para la constitucin de comunidades de
aprendizaje. Este texto articula las reflexiones derivadas de una
postura meta-analtica del propio proceso investigativo con la
constitucin de las polticas educativas presentadas, teniendo como
protagonistas a los profesionales de la educacin que actan en la
Secretaria de Educacin. Los hallazgos, provenientes del anlisis del
contenido de documentos, de los registros de observaciones, de los
encuentros formativos en el Diario del Campo y de entrevistas,
sealan que los impactos provenientes de la investigacin-accin no
son inmediatos, pero esperables con el paso del tiempo-tpico de
grupos que comparten y construyen complicidades cientficas,
epistemolgicas y pedaggicas.
Palabras claves: Polticas Educativas. Investigacin-accin
colaborativa. Principios epistemolgicos.
Introduo
Este artigo tem como objetivo analisar os processos
constitutivos das po-lticas educacionais no mbito municipal,
enfatizando as contribuies da pes-quisa-ao colaborativa nesse
processo, na qualidade de postura epistemolgica e metodolgica que
alimenta o compromisso poltico, o pensamento crtico e as relaes
cooperativas para a constituio de comunidades de aprendizagem.
As reflexes aqui delineadas partem de um conjunto de aes
desenvol-vidas junto Secretaria Municipal de Educao de um municpio
situado na
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Regio Metropolitana de Porto Alegre, contemplando aes de ensino,
pesquisa e extenso. Dentre tais aes, destacamos a construo de uma
Poltica Pblica Municipal de Valorizao e Qualificao dos
Profissionais da Educao, a qual conferiu autenticidade e legitimou
a constituio de uma plataforma formativa direcionada aos
profissionais que atuam na rede pblica municipal.
No presente texto, partimos da seguinte situao problema: as
polticas educacionais de um sistema educacional municipal podem ser
constitudas desde a perspectiva da pesquisa-ao colaborativa? Quais
pressupostos tericos ne-cessitam fundamentar esse tipo de ao
prtica? Quais os ganhos possveis, em termos de aprendizagem e de
conhecimento, dos participantes de uma pesquisa--ao colaborativa em
polticas educacionais?
No intuito de discorrer sobre a situao problemtica apresentada e
ten-do presente o objetivo que nos propomos, este texto est
estruturado em trs sees. Na primeira seo, contextualizamos a
proposta da pesquisa-ao co-laborativa por meio de um exerccio
meta-analtico, identificando o campo, o horizonte terico e o
enfoque espistemolgico a partir do qual estruturamos a referida
investigao. Na segunda seo, discorremos sobre o estatuto
terico--prtico da pesquisa-ao colaborativa desenvolvida, bem como
explicitamos os elementos que caracterizam a realidade pesquisada.
Na seo seguinte, apresen-tamos ideias centrais oriundas da
interpretao e da anlise dos dados, refletindo sobre os avanos, os
desafios e as lacunas encontradas no decorrer da pesquisa.
Finalmente, tecemos algumas consideraes evidenciando os principais
achados do estudo e sinalizando questes para a sua
continuidade.
Contextualizando a proposta de uma pesquisa-ao colaborativa:
algumas consideraes premilinares
A pesquisa-ao colaborativa consiste, no entender de Carr e
Kemmis (1988), em uma abordagem pautada pelo princpio da
investigao-ao crtica. Nela, o investigador opta por uma posio
espistemolgica que leva em conta que seu olhar para a educao e no
sobre a educao, articulando teoria e prtica, de forma crtica, em um
processo de ao-investigao que parte da realidade e contribui com
ela (TELLO, 2012a, p. 295), visando melhoria dos processos e da
realidade na qual a pesquisa ao desenvolvida.
Ao focalizar os processos constitutivos das polticas
educacionais, entendemos que tanto os modos de conduo dos processos
quanto os resultados derivados deles refletem e traduzem concepes
epistemolgicas que nem sempre esto evidentes. Igualmente, quando o
pesquisador faz uma opo terico-metodolgica para investigar tais
processos, tambm no o faz de modo imune, neutro e descolado dessas
concepes. Ele carrega consigo suas crenas,
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seus valores, suas concepes e seus posicionamentos acerca do
conhecimento, da relao entre sujeito e objeto, da educao, da teoria
e da prtica, do seu prprio papel como pesquisador, da funo da
pesquisa na mudana, na constituio e na tranformao dos sujeitos e de
suas realidades.
Com base no exposto, articulamos as reflexes aqui explicitadas a
partir de uma postura meta-analtica, buscando contemplar uma
vigilncia epistemolgica (TELLO 2012a, 2012b) acerca do processo
investigativo1, bem como em relao ao processo de constituio das
polticas em tela. Nessa tentativa meta-analtica, pautada sobre a
dade processo investigativo e processo constitutivo, na qualidade
de pesquisadores e de sujeitos partcipes de ambos os processos,
tencionamos preservar uma posio alicerada em uma convico de que
toda investigao circunstanciada, no existindo neutralidade na
cincia e, tampouco, ausncia de referenciais ou de pr-conceitos por
parte dos envolvidos. Nesse sentido, entendemos que necessria uma
prestao de contas histrico-conceitual (GADAMER, 2007, p. 11) acerca
das teoriais, das espistemologias e das metodologias utilizadas. Ao
prestar contas da pr-conceitualidade para o nosso fazer
investigativo, temos conscincia de que estamos envolvidos em um
mundo da vida, que [...] constitui um horizonte e, ao mesmo tempo,
oferece um acervo de evidncias culturais do qual os participantes
da comunicao tiram, em seus esforos de interpretao, padres
exegticos consentidos (HABERMAS, 2002a, p. 416-417), bem como nos
permite estabelecer entendimentos, compartilhar perspectivas e
encontrar coletivamente solues aos problemas com os quais nos
defrontamos.
Entendemos que o campo da educao, contexto das polticas
educacio-nais, no est alheio s tendncias e aos confrontos tericos.
Tais tendncias e confrontos configuram-se, de modo geral, a partir
de uma intrincada relao entre os planos histrico-social, cultural e
econmico de uma determinada po-ca, dos planos pessoais e sociais
dos diversos atores e profissionais da educao, bem como do plano
das tradies e das prticas educativas j implementadas na histria.
Desde essa perspectiva, alinhamo-nos afirmao de Charlot (2006) de
que o campo da educao um campo mestio, visto que a educao uma rea
na qual circulam conhecimentos, prticas e polticas distintas.
Delimita-se assim uma primeira definio da disciplina educao ou
cincias da educao: um campo de saber fundamentalmente mestio, em
que se cruzam, se interpelam e, por vezes, se fecundam, de um lado,
conhecimentos,
1 Compartilhamos da perspectiva de Tello (2012a, 2012b) sobre a
necessidade de que, no campo das polticas educativas, as intervenes
e as pesquisas sejam realizadas sob o signo de uma vigilncia
epistemolgica. Essa vigilncia implica uma atitude prtica, por parte
do pesquisador, que leve em considerao a explicitao dos
pressupostos prvios a partir dos quais a investigao realizada, bem
como a existncia de um sistema cruzado de certificao, que envolva a
explicitao do posicionamento epistemolgico, da perspectiva
episte-molgica e do enfoque epistemetodolgico.
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conceitos e mtodos originrios de campos disciplinares mltiplos,
e, de ou-tro lado, saberes, prticas, fins ticos e polticos. O que
define a especificidade da disciplina essa mestiagem, essa
circulao. (CHARLOT, 2006, p. 9).
Assim, partimos do pressuposto de que tanto a educao quanto as
po-lticas relacionadas a ela precisam ser compreendidas em sua
complexidade e especificidade. Necessitam ser analisadas sob suas
diversas matizes, o que requer um olhar inter, multi e
transdisciplinar. Se, por um lado, a contribuio de di-ferentes reas
traduzidas em teorias, princpios e prticas , pode favorecer a
problematizao; por outro, dependendo da incurso e das interfaces
realizadas, pode acentuar as discrepncias de um campo do saber que,
por si s, pode ser considerado controverso.
Alm disso, toda ao, pesquisa ou poltica educativa possui ntima
rela-o com o contexto histrico-social no qual se insere e no qual
focada. Com isso, estamos afirmando que falar em processos
constitutivos de polticas edu-cacionais implica, necessariamente,
dar vozes ao contexto conceitual a partir do qual se fala e se age:
chave conhecer de onde falamos e agimos (BOURDIEU, 2004). Nesse
cenrio, no podemos deixar de considerar que vivemos em uma
sociedade marcada pela pluralidade e pelo relativismo; e que esses
fenmenos possuem influncia direta nas polticas e nas prticas
educacionais atuais, ou, se preferirmos, eles provocam consequncias
epistemolgicas e prticas na edu-cao. A sociedade contempornea, em
oposio ao pensamento e estrutu-rao conceitual da sociedade moderna,
permite que entrem em cena mltiplas possibilidades de fundamentao
do conhecer e do agir. Agora, a unidade da razo passa a ser
entendida em sua pluralidade de vozes, e a cincia convidada a
revisar seu estatuto de legitimidade, seu modus operandi e seus
efeitos. Ocorre, tambm, um rompimento epistemolgico com o conceito
de verdade universal, passando esta a ser entendida como uma
construo histrica, interpretada e falsevel. Nesse sentido, em
consonncia com a viso de Habermas:
As componentes do mundo da vida a cultura, a sociedade, e as
estruturas da personalidade formam contextos de significado
complexos que se co-municam entre si embora estejam incorporados em
substratos diferentes. O conhecimento cultural materializa-se em
formas simblicas em objetos uti-litrios e tecnologias, em palavras
e teorias, em livros e documentos, etc. tal como o faz nas aes.
Quanto sociedade, toma forma nas ordens institucio-nais, nas normas
legais ou nas redes de prticas e costumes normativamente regulados.
(HABERMAS, 2002b, p. 141).
Sob o olhar que o mundo estruturado simbolicamente, os conceitos
oriundos da cultura, da sociedade e da identidade pessoal so
(re)construdos mediante processos dialticos e constantes entre os
seres humanos e as
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instituies sociais, implicando um comprometimento vital desses
mesmos seres. Ento, a relao do ser humano com o mundo, espao de
configurao de si - na autoreconstruo da prpria identidade e das
estruturas de significado do prprio mundo -, consiste em uma relao
eminentemente simblica e mediada pela linguagem (HABERMAS,
2002a).
oportuno destacar que as polticas educacionais tm se constitudo,
cada vez mais, em temtica de investigaes as quais so desenvolvidas
a partir de diversos enfoques terico-metodolgicos e respectivos
pressupostos episte-molgicos que os fundamentam, conforme apontam
Azevedo e Aguiar (2001). Destacamos, nesse cenrio, as valiosas
contribuies de Telo (2012a, 2012b) so-bre o estatuto epistemolgico
das polticas educativas na Amrica Latina, espe-cialmente no que se
refere defesa desse campo como um espao de investiga-o no qual
possvel produzir, divulgar e aplicar conhecimento.
A pesquisa-ao colaborativa: um olhar da teoria prtica
A pesquisa-ao tem suas origens nos trabalhos do psiclogo social
Kurt Lewin, na dcada de 1940, o qual preconizou a importncia de um
modelo in-vestigativo que contemplasse o envolvimento entre o
pesquisador e os sujeitos pesquisados, promovendo a participao e o
comprometimento das pessoas em questes sociais. A partir da dcada
de 1960, vrias leituras surgem acerca da pesquisa-ao, especialmente
no que se refere questo da ao/interveno no tecido social, algumas
enfatizando a dimenso explicativa experimental e outras a
fenomenolgica ou dialtica (MIRANDA; RESENDE, 2006). A compreenso
sobre o conceito da pesquisa-ao requer, de certa forma, a reflexo
sobre a relao entre teoria e prtica, ganhando a ao/interveno
centralidade nessa modalidade de pesquisa. No dizer de Miranda e
Resende:
Tratar-se-ia, assim, de uma pesquisa que articula a relao entre
teoria e prtica no processo mesmo de construo do conhecimento, ou
seja, a dimenso da prtica que constitutiva da educao seria fonte
lugar privilegiado da pesquisa. Alm disso, a prpria investigao se
converteria em ao, em in-terveno social, possibilitando ao
pesquisador uma atuao efetiva sobre a realidade estudada. Reflexo e
prtica, ao e pensamento, plos antes con-trapostos, agora seriam
acolhidos em uma modalidade de pesquisa que con-sidera a interveno
social na prtica como seu princpio e seu fim ltimo. (MIRANDA;
RESENDE, 2006, p. 514).
No entender de Kemmis e McTaggart,
A pesquisa-ao uma forma de indagao introspectiva coletiva
empreendida pelos participantes em situaes sociais com objetivo de
melhorar a racionalidade e a justia de suas prticas sociais e
educativas, assim
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com sua compreenso destas prticas e das situaes em que estas tm
lugar. (KEMMIS; MCTAGGART, 1992, p. 9).
Realizar pesquisa-ao, segundo os autores supracitados, implica
planejamento, ao, observao, reflexo cuidadosa, sistemtica e regular
para alm da observao da vida cotidiana. Para eles, ao pesquisador
envolvido com pesquisa-ao competem quatro tarefas bsicas, a saber:
o plano ao organizada e antecipa a ao; a ao deliberada e
controlada; a observao tem funo de documentar os efeitos da ao
criticamente informada; e a reflexo rememora a ao tal como ficou
registrada pela observao. Franco, M. A. S. (2005) apresenta trs
dimenses que, comumente, mobilizam os pesquisadores a optar pela
pesquisa-ao:
a. quando a busca de transformao solicitada pelo grupo de
referncia equipe de pesquisadores, a pesquisa tem sido conceituada
como pesquisa-ao colaborativa, em que a funo do pesquisador ser a
de fazer parte e cientificizar um processo de mudana anteriormente
desencadeado pelos sujeitos do grupo;
b. se essa transformao percebida como necessria a partir dos
trabalhos iniciais do pesquisador com o grupo, decorrente de um
processo que valoriza a construo cognitiva da experincia,
sustentada por reflexo crtica coletiva, com vistas emancipao dos
sujeitos e das condies que o coletivo considera opressivas, essa
pesquisa vai assumindo o car-ter de criticidade e, ento, tem se
utilizado a conceituao de pesquisa--ao crtica;
c. se, ao contrrio, a transformao previamente planejada, sem a
participao dos sujeitos, e apenas o pesquisador acompanhar os
efeitos e avaliar os resultados de sua aplicao, essa pesquisa perde
o qualificativo de pesquisa-ao crtica, podendo ser denominada de
pesquisa-ao estratgica. (FRANCO, M. A. S., 2005, p. 485-486).
No caso de nosso estudo, possvel destacar, de forma articulada,
as duas primeiras dimenses apresentadas por Franco como propulsoras
da investigao sobre os processos constitutivos da Poltica de
Valorizao e Qualificao dos Profissionais da Educao no municpio,
conforme j referido anteriormente. Corroborando a posio de Franco,
M. A. S. (2005), entendemos que:
Se algum opta por trabalhar com pesquisa-ao, por certo tem a
convico de que a pesquisa e ao podem e devem caminhar juntas quando
se pretende a transformao da prtica. No entanto, a direo, o sentido
e a intenciona-lidade dessa transformao sero o eixo da caracterizao
da abordagem da pesquisa-ao. (FRANCO, M. A. S., 2005, p. 485).
Zeichner e Diniz-Pereira (2005) indicam as seguintes contribuies
da pesquisa-ao, tendo em vista a transformao social de uma
prtica:
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[...] 1. melhorar a formao profissional e, por conseguinte,
propiciar servios sociais (educao, sade etc.) de melhor qualidade;
2. potencializar o controle que esses profissionais passam a
exercer sobre o conhecimento ou a teoria que orienta os seus
trabalhos; 3. influenciar as mudanas institucionais nos locais de
trabalho desses profissionais (escolas, hospitais, agncias de
servio social etc.); 4. contribuir para que as sociedades tornem-se
mais democrticas e mais decentes para todos (ou seja, sua ligao com
temas de reproduo ou de transformao social). (ZEICHNER;
DINIZ-PEREIRA, 2005, p. 64-65).
Entretanto, necessrio ter presente a crtica feita por Miranda e
Resende (2006) quando as autoras discorrem sobre o risco do
praticismo que pode advir do posicionamento epistemolgico que
fundamenta a pesquisa-ao. As pesqui-sadoras alertam que
[...] deve-se insistir no risco de fazer com que a pesquisa-ao
seja convertida em estratgia de polticas pblicas com a finalidade
de imprimir reformas no campo da retrica e da ao do professor,
quando ento a sua discusso epistemolgica e conceitual se transfere
para normalizaes instituidoras da prtica docente. A instituio da
pesquisa como prtica comum e generalizada aos professores ou s
escolas desconsidera que ela requer suporte institucio-nal e
acadmico adequado, condies de trabalho compatveis, alm da dis-posio
e do interesse dos docentes. Sem essas condies, pode-se alimentar
uma retrica reformista que institui o imperativo de que o professor
assuma sozinho a deciso e o risco de se contrapor a uma realidade
que no d sinais de pretender se transformar. (MIRANDA; RESENDE,
2006, p. 517).
Partimos de uma compreenso de que o cerne da pesquisa-ao est no
fato de que no basta apenas compreender, mas preciso, a partir
dessa com-preenso, contribuir para a transformao tanto dos sujeitos
quanto de suas re-alidades e contextos.
Contexto do locus e da emergncia da temtica investigativa
O locus investigativo a Rede Pblica Munipal de Ensino de uma
cidade situ-ada na Regio Metropolitana de Porto Alegre. Tal
muncipio tem se constitudo em locus investigativo de nosso grupo de
pesquisa, desde o ano de 2006, no que se refere rea educacional,
contemplando-se tanto os profissionais que atuam no mbito da
Secretaria Municipal de Educao quanto aqueles dos contextos
educativos das escolas pertencentes a essa Rede. Dentre os estudos,
destacamos: A transio do Ensino Fundamental para nove anos
(financiada pelo CNPq); a Alfa-betizao nos anos iniciais do Ensino
Fundamental e formao de professores (financiada pelo Observatrio da
Educao INEP/CAPES); Formao de professores, interveno pedaggica e
avaliao da qualidade da educao (financiada pela Prefeitura
Municipal).
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Reiteramos a importncia da relao entre a Instituio de Ensino
Su-perior, locus privilegiado de construo do conhecimento e de
formao, e os sistemas de ensino presentes no entorno onde ela
exerce sua ao educativa. Ao assumir uma responsabilidade conjunta,
consolidam-se comunidades de apren-dizagem e aes colaborativas que
viabilizam, por um lado, apoio aos profissio-nais da educao bsica,
e, por outro, seus saberes, suas prticas e suas reflexes
configuram-se em retro-alimentao para as pesquisas desenvolvidas no
espao acadmico. Nessa relao dialgica e colaborativa, a produo do
conhecimento pode contribuir sobremaneira para a excelncia
educacional. Contudo, tal postu-ra, por parte dos pesquisadores,
requer um olhar diferenciado sobre seu prprio status de
pesquisador, estando vrios deles sentindo-se [...] cada vez mais
des-confortveis em sua posio de somente estudar o trabalho dos
outros e [...] cada vez mais aborrecidos em estar relevando falhas
de escolas e professores, obtendo com isso apenas vantagens em suas
carreiras acadmicas (ZEICHNER, 1998, p. 210). Nessa linha
reflexiva, conforme salienta Zeichner:
Tambm as estruturas das universidades, que desencorajam o
engajamento dos professores na discusso sobre a relevncia de suas
pesquisas ou no tra-balho colaborativo, precisam ser mudadas.
Concordo que estas e outras mu-danas sejam necessrias para
verdadeiramente eliminar a explorao de pro-fessores por
pesquisadores acadmicos, mas tambm penso que muito pode ser feito
para aumentar o padro tico e o nvel de democracia na pesquisa
acadmica, auxiliando a valoriz-la nas escolas. (ZEICHNER, 1998, p.
210).
Concluindo sua reflexo, o autor supracitado afirma que:
[...] preciso olhar muito de perto para o carter e para a
qualidade das co-laboraes em pesquisas para se determinar se h
realmente alguma mudan-a nos padres usuais dominantes na academia.
Pesquisa colaborativa um importante caminho para superar a diviso
entre acadmicos e professores, mas no qualquer pesquisa
colaborativa que faz isso. (ZEICHNER, 1998, p. 214).
A nossa insero como pesquisadores nesse locus investigativo e os
acha-dos dos estudos realizados viabilizaram o processo de
reelaborao das estrat-gias de ao, garantindo, dessa forma, o
movimento espiralado prprio da me-todologia da pesquisa-ao. Assim,
na sequncia da segunda fase da pesquisa, focamos na tematizao dos
processos constitutivos das Polticas Educacionais Municipais
oportunizando-se, dessa forma, novos espaos e tempos que foram
dedicados investigao de tal temtica.
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Espao temporal do estudo
Desde o ano de 2006, temos realizado pesquisas na rea
educacional, tendo como lcus investigativo o municpio em tela.
Dentre os achados dessas pesquisas, ficou evidenciado a
transversalizao das polticas educacionais no modus operandi, tanto
no mbito da Secretaria de Educao quanto no contexto das escolas. A
partir do ano de 2009, quando a atual gesto municipal assumiu o
governo, os estudos intensificaram-se focando a construo coletiva
de uma identidade educacional do municpio, a valorizao e a
qualificao dos profis-sionais da educao, e a revitalizao de
dispositivos legais como o Plano Muni-cipal de Educao, o Plano de
Desenvolvimento da Educao, o Projeto Poltico Pedaggico da
Secretaria Municipal e das prprias escolas pertencentes rede pblica
municipal.
Os achados decorrentes dos estudos anteriormente realizados,
sinalizan-do para a transversalizao das polticas educacionais no
modus operandi, tanto no mbito da Secretaria de Educao quanto no
contexto das escolas, foram corroborados quando, em 2010, nosso
grupo de pesquisa foi procurado por profissionais que atuavam na
Secretaria de Educao, os quais nos mobilizaram a auxiliar na
construo de uma plataforma de formao que contemplasse as reais
demandas formativas dos profissionais da educao da rede pblica
municipal. Podemos dizer que o movimento constitutivo da atual
Poltica de Valorizao e Qualificao dos Profissionais da Educao no
muncipio teve sua gnese e ganhou fora a partir desse encontro,
porque entendamos que no bastaria uma plataforma formativa se no
houvesse proposio e consolidao de uma po-ltica pblica que
legitimasse e viabilizasse sua consolidao. Assim, neste ano,
iniciamos a construo de uma pesquisa-ao colaborativa focando o
processo constitutivo das polticas, sendo a justificativa pela opo
dos pesquisadores por essa abordagem investigativa j apresentada
nas sees antecedentes.
Participantes do estudo
O estudo tem como protagonistas os profissionais da educao que
atu-am na Secretaria de Educao e compem a Diretoria de Educao
Infantil, a Diretoria Pedaggica, a Diretoria de Ensino Fundamental
e a Diretoria de Edu-cao Inclusiva. Esses profissionais so os
responsveis em mobilizar as equipes diretivas das escolas (direo,
vice-direo, superviso e orientao educacional) e os professores para
a construo coletiva e participativa das principais polticas
educacionais do muncipio, sendo esse o contexto indutor do
delineamento e da proposio de tais polticas.
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Entre os anos de 2010 e 2012, mantivemos um grupo composto por
seis profissionais integrantes das Diretorias anteriormente
citadas. Desses seis pro-fissionais, cinco professoras so
servidoras pblicas concursadas, e uma delas atua na modalidade de
cargo de confiana. Em termos de formao acadmica, duas professoras
possuem o ttulo de Mestre em Educao e as demais so es-pecialistas.
Uma das professoras j atuava na Secretaria desde o ano de 2006, e
as demais ingressaram na gesto no ano de 2009. A gesto
participativa e trans-parente o mote do iderio poltico-pedaggico do
governo municipal. Esse iderio tem contribudo para a discusso e a
construo coletiva de dispositivos orientadores da ao educativa no
mbito da rede pblica e sua articulao com a Universidade. Essa
articulao tem se constitudo em um diferencial para ambas as
instituies, considerando-se que a pesquisa, ao propiciar a anlise
reflexiva, a construo e a socializao do conhecimento, tambm
contribrui para repensar a educao no muncipio.
Instrumentos de coleta de dados e etapas constituintes da
abordagem metodolgica
No decorrer da pesquisa, foram utilizados para a coleta de
dados: a anlise documental (LAVILLE; DIONNE, 1999; PIMENTEL, 2001;
GIL, 2010; PDUA, 2011); o questionrio (LAVILLE; DIONNE, 1999;
MARCONI; LAKATOS, 2006); os registros de observaes dos encontros
formativos realizados no Dirio de Campo (BOGDAN; BIKLEN, 1994); e a
entrevista semiestruturada (MAY, 2004). Destacamos que tais
instrumentos, comumente adotados em outras abordagens
investigativas de cunho qualitativo, na pesquisa-ao colaborativa,
so utilizados pelos pesquisadores de forma mais interativa, dinmica
e participativa visando superar algumas limitaes presentes em cada
um deles.
Tendo presente as peculiaridades da abordagem metodolgica
adotada nesta investigao, com base no que sugerem Kemmis e
McTaggart (1992), apre-sentamos, na sequncia, a sistematizao das
etapas constituintes do plano de trabalho.
1 Etapa: Diagnstico-reconhecimento e fortalecimento de
identidade de grupo
O trabalho com o coletivo de participantes do estudo um dos
aspectos fundamentais na pesquisa-ao. Dessa forma, aes so postas em
prtica para viabilizar o processo de pesquisa diagnstica que compe
essa primeira etapa. Para tanto, aplicamos um questionrio a fim de
caracterizar os participantes e
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identificar suas concepes sobre a educao, o conhecimento, o
ensino e a aprendizagem, a formao docente e, tambm, suas prprias
demandas formati-vas para o exerccio de sua funo no mbito da
Secretaria.
No incio de 2013, o grupo de participantes do estudo sofreu
algumas al-teraes devido ao fato de ter ocorrido mudanas em termos
de cargos e atribui-es no mbito da Secretaria de Educao. Somos
sabedores que, em uma Secre-taria Municipal de Educao, as mudanas
em termos de gesto so constantes o que, no nosso entender, provocam
rupturas nos processos, sejam eles de cunho mais administrativo ou
pedaggico, na constituio e na consolidao de comu-nidades de
aprendizagem. Para minimizar essa ruptura, um novo diagnstico com
os entrantes e a retomada de pressupostos centrais foram
necessrios, a fim de assegurarmos a continuidade e o avano nas
reflexes e nas construes con-solidadas. Entretanto, o alinhamento
em termos de iderios, de propostas e de perspectivas tem se
constitudo um grande desafio para todos os participantes.
2 Etapa: Planejamento das aes
A proposio de espaos formativos ganha centralidade nesta segunda
etapa. Essa abordagem est circunscrita pela viso de que a educao
correla-ciona-se com um processo amplo de formao e de humanizao.
Assim sen-do, consideramos a formao como parte essencial do
processo investigativo (FRANCO, M. A. S., 2005; PIMENTA, 2005;
MONCEAU, 2005; ZEICHNER; DINIZ-PEREIRA, 2005; ELLIOT, 2000).
A pesquisa-ao pode agregar valor no processo de formao, sem, no
entanto, ser reduzida a ela, pois possibilita a interveno e a
transformao da realidade por parte dos envolvidos. A ao terica
emerge como processo social, humano e humanizador, por meio do qual
podemos compreender melhor a ns mesmos e ao mundo no qual vivemos.
Nesse vis, [...] o fato de teorizar forma parte do processo
dialtico de autotransformao e de mudana social: o proces-so atravs
do qual os indivduos reconstroem a si mesmos e, ao mesmo tempo,
reconstroem sua vida social (CARR, 1996, p. 15).
Dessa forma, no decorrer da pesquisa, foram realizados encontros
individuais e encontros formativos com os protagonistas de nosso
estudo, cujos focos temticos foram detectados durante a realizao da
primeira etapa da pesquisa. Assim, em um movimento dialtico e
dialgico, trabalhamos na perspectiva de formao com os
profissisonais da Secretaria, tendo em vista o empoderamento na
funo exercida e a sua constituio como partcipes e mediadores nos
processos de formao dos outros profissionais da educao da rede. Com
base na caracterizao que realizamos das professoras, ficou evidente
que, dentre as seis, somente uma tinha experincia de atuao na
Secretaria
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Municipal. As demais foram indicadas a assumir a Secretaria com
base no desempenho em suas escolas. Ora, todos temos cincia de que
so contextos e mbitos de atuao diferenciados, o que requer, das
professoras, alm de um perodo de adaptao nova funo, tambm um
conjunto de conhecimentos e de procedimentos relacionados gesto de
um macrosistema. Assim, de forma interseccionada, foi se
constituindo um processo formativo contemplando a formao do
formador de outros formadores.
Nos encontros formativos quinzenais com os profissionais da
Secretaria, os principais tpicos abordados, alm dos fundamentos
terico-metodolgicos da pesquisa ao-colaborativa, foram os
dispositivos legais orientadores da ao educativa na Educao Bsica
(Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (BRASIL, 1996);
Resoluo n 2/98, (CNE/CEB, 1998) e Resoluo n 3/2005 (CNE/CEB, 2005);
Parecer n 6/2005 (CNE/CEB, 2005); Parecer n 18/2005 (CNE/CEB,
2005)); a formao docente, o protagonismo e a autonomia do-cente; a
Epistemologia da prtica, o professor e a escola reflexiva. Para
tanto, valemo-nos dos pressupostos de autores tais como: Alarco
(1996, 2001), Schn (1992, 2000), Contreras (2002), Tardif (2010) e
Zeichner (1993), dentre outros. Nesse sentido, conforme aponta
Roldo (2007, p. 98), necessrio o saberfazer, saber como fazer, e
saber por que se faz.
Nessa etapa, os profissionais da Secretaria de Educao e os
pesquisado-res construram e aplicaram um questionrio para a
identificao das demandas formativas dos professores e dos gestores
da rede. A partir dos dados coletados, foram delineados os contudos
de cada formao, quanto extenso, os quais estruturam a oferta de
Cursos de Extenso para os professores, supervisores e orientadores;
e para os gestores (direo e vice-direo) das escolas de Educao
Infantil e do Ensino Fundamental.
3 Etapa: Aplicao de estratgias de ao, processo de
observao-registro e avaliao
Nessa etapa, deu-se incio aos Cursos de Extenso que foram
realizados na Universidade. Cada ao formativa teve o acompanhamento
sistemtico de um dos profissionais da Secretaria participantes de
nossa investigao com a fun-o de observar, interagir e registrar
dimenses e aspectos importantes observa-dos na formao. Mediante a
avaliao das formaes realizadas, expressas nas fichas de avaliao,
avaliadas positivamente tanto pelos participantes dos cursos quanto
pela equipe da pesquisa que acompanhou, fomos mobilizados a avanar
na proposta de formao. Nosso iderio inicial, para o qual fomos
mobilizados, era a construo de uma plataforma formativa composta
por outras modalidades alm da extenso. Nesse ponto, com base nas
expectativas dos profissionais da
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rede, o movimento realizado pelo coletivo de profissionais da
rede e com a sus-tentao do Secretrio de Educao, o governo municipal
foi mobilizado a fir-mar uma Poltica Municipal, a qual contemplou,
tambm, a aprovao do Plano de Carreira. Assim, surgiu a plataforma
formativa denominada Programa de forma-o continuada escola em
movimento saberes e fazeres em cena, subsidiada financeiramen-te,
de forma integral, pela Prefeitura Municipal. O Programa de formao
est estruturado nos seguintes ciclos formativos: a) Ciclo Formativo
I: aes voltadas extenso; b) Ciclo Formativo II: curso de
especializao, cuja matriz curricular construda coletivamente entre
a Universidade e a Secretaria de Educao, com base nas demandas
formativas e nas necessidades educacionais da rede pblica
municipal; c) Ciclo Formativo III: Mestrado em Educao; e d) Ciclo
Formativo IV: Doutorado em Educao. Com exceo das aes formativas em
relao extenso, em todas as demais, obrigatria a participao em
processo seletivo via edital pblico.
Em sua primeira edio 2010-2013, o Programa contemplou aes
for-mativas, no que concerne extenso, para 84 diretores e
vice-diretores, 22 orien-tadores, 22 supervisores e 120 professores
que exercem a docncia no Bloco de Alfabetizao (trs primeiros anos
do Ensino Fundamental). Paralelamente, a Prefeitura Municipal deu
84 bolsas integrais para professores da rede realizarem o Curso de
Ps-graduao lato sensu, desenhado coletivamente e em parceria com os
envolvidos (Ao Educativa no Ensino Fundamental) e 30 bolsas para os
professores da Educao Infantil (Ao Educativa na Educao Infantil)
focali-zando a realidade educacional das escolas municipais da
cidade. Como produtos desses cursos, so 114 monografias, realizadas
e direcionadas, exclusivamente, para a problematizao da educao
municipal.
Tambm, no ano de 2011, foram destinadas 10 bolsas integrais para
pro-fessores da rede que foram aprovados no processo seletivo do
Curso de Mes-trado em Educao. Todos os professores em formao
continuada, tanto na ps-graduao lato sensu quanto strictu sensu
realizaram suas monografias e disser-taes, respectivamente, focando
uma temtica relacionada educao munici-pal. Fruto de
descontinuidades e rupturas decorrentes de posies dogmticas e lutas
de poder, a consolidao dessa poltica atinge seu pice no ano de
2013, por meio do compromisso da gesto municipal com a oferta de
mais oitenta bolsas integrais para cursos de ps-graduao lato sensu
(40 bolsas para o curso de espe-cializao em Educao Inclusiva e 40
bolsas para o curso de especializao em Superviso e Orientao
Educacional) e dez bolsas para a ps-graduao stricto sensu (Mestrado
em Educao). Com a aprovao do Doutorado em Educao, est previsto
bolsas para os professores continuarem sua trajetria formativa.
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4 Etapa: Reflexo e reorganizao
Nessa etapa, ocorre o processo de re-elaborao das estratgias de
ao, garantindo, dessa forma, o movimento espiralado prprio da
metodologia da pesquisa-ao, o qual oportuniza a continuidade do
processo investigativo, seja aprofundando a temtica central que
originou o estudo seja abrindo novas fren-tes temticas. Nela, os
pesquisadores e os participantes revisitam a anlise, a interpretao
e a elaborao de concluses de forma pormenorizada a partir dos
registros, dos documentos, dos arquivos, etc., produzidos durante
as etapas ante-riores. o momento dedicado a revisar todo o
processo, procurando localizar os avanos, os desafios, as lacunas e
as limitaes vivenciadas tanto no processo de conduo da pesquisa-ao
quanto nas aes assumidas pelo coletivo. Na nossa pesquisa, a quarta
etapa ser concluda em 2014. Para essa concluso, estamos realizando
encontros cuja centralidade da discusso dar-se- a partir da anlise,
da avaliao e da organizao dos registros produzidos pelos
pesquisadores e pe-los partipantes do estudo. Com base nisso, sero
feitas anlises, interpretaes e proposies para desencadear outra
fase da pesquisa, cuja dinmica traduz-se em um movimento
espiralado, tal como idealizado por Lewin (2006). Esperamos, nessa
etapa, contar com a contribuio de dois pesquisadores colaboradores
es-trangeiros com o qual mantemos interlocues no decorrer deste
estudo, com o objetivo de possibilitar uma leitura crtica do
processo da pesquisa, assim como de intercmbio entre experincias de
pesquisa-ao colaborativa.
Tcnica de Anlise dos dados
A anlise dos dados coletados foi realizada por meio da Tcnica de
An-lise de Contedo proposta por Bardin (1988). Tal anlise integra
um conjunto de tcnicas que possibilitam, por intermdio de
procedimentos sistemticos de descrio do contedo, a realizao de
inferncias acerca da produo e/ou da recepo de determinada mensagem
(BARDIN, 1988). Em relao ao processo da anlise de contedo, Bardin
apresenta trs etapas: pr-anlise; explorao do material; e tratamento
dos resultados, inferncia e interpretao.
a) Fase de pr-anlise: Na fase de pr-anlise, realizamos o que
Bardin (1988) denomina de leitura flutuante, ou seja, uma leitura
geral estabelecendo o primeiro contato com os contedos coletados,
tendo-se presente as seguintes regras: i) Exaustividade: considerao
de todos os elementos presentes nos con-tedos; ii)
Representatividade: seleo daqueles elementos presentes nos
con-tedos que so representativos em relao ao que nos propomos
investigar. necessrio priorizar aqueles que possuem maior
significado e consistncia com relao aos objetivos do estudo; iii)
Homogeneidade: os contedos coletados sero agrupados considerando-se
a estreita relao com a categoria temtica;
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iv) Pertinncia: os contedos selecionados devero estar adequados,
em termos de informao, e corresponder aos objetivos e questes
norteadoras delineadas.
b) Fase de explorao: Nessa fase, definimos as categorias.
Optamos por utilizar como unidade de registro o tema, por ser ele
considerado, por Bardin (1988), o mais adequado para o tipo de
estudo proposto. Franco, M. L. P. B. (2005, p. 39) reafirma essa
ideia, destacando que essa unidade de registro a mais indicada para
ser utilizada em estudos que envolvam [...] representaes sociais,
opinies, expectativas, valores, conceitos, atitudes e crenas. A
categorizao, conforme explica Franco, M. L. P. B. (2005, p. 57),
[...] uma operao de clas-sificao de elementos constitutivos de um
conjunto, por diferenciao seguida de um reagrupamento baseado em
analogias, a partir de critrios definidos.
c) Fase de tratamento dos resultados, inferncia e interpretao:
Nessa fase, as categorias temticas foram submetidas a operaes de
decomposio de cada contedo identificado nos intrumentos de coleta
de dados utilizados. A par-tir das temticas captadas na anlise do
material, procedemos interpretao dos dados, procurando no perder a
viso de conjunto, considerando elementos con-textuais relevantes e
identificando possveis lacunas, contradies ou avanos.
Processos constitutivos das polticas pblicas municipais desde a
perspectiva de uma pesquisa-ao colaborativa: avanos, desafios e
lacunas
Entendemos que, nos processos constitutivos das polticas,
preciso ter presente que os profissionais da educao possuem saberes
(TARDIF, 2010) e so capazes de produzir conhecimentos. Tal
compreenso configura-se em uma das possibilidades para a superao da
controversa oposio entre teoria e prtica (BECKER, 1993), pois
demonstra, sob a tica da educao escolar, a necessria unidade e a
mtua dependncia dessas duas instncias.
Se, por um lado, a considerao das dimenses polticas, econmicas,
so-cioculturais e educacionais fundamental para a compreenso sobre
como se constituem as polticas educacionais no municpio, foco de
nossa investigao, por outro, tais dimenses constituem-se no prprio
objeto de estudo da poltica educacional. Tais polticas no esto
descoladas de um conhecimento histrico que se consolidou
paulatinamente e nem de um plano poltico do governo ins-taurado,
que se pauta em determinados princpios educacionais.
No decorrer da pesquisa e nela imersos, assumimos a posio de
traduto-res e de mediadores das mltiplas vozes advindas dos
diversos atores envolvidos na ao educativa, no mbito da Secretaria
Municipal de Educao. Assim, depa-ramo-nos com um cenrio demarcado
por contedos polissmicos e, por vezes,
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at antagnicos, o que exigiu do coletivo esforos para
ressignificar, interpretar, analisar, contextualizar e construir
uma sntese compreendida em uma perspec-tiva dialtica. A busca pela
produo de uma ao-reflexo crtica com os pro-fissionais da educao,
com vistas construo de aes colaborativas pela via de um processo de
investigao-formao, suscitou a necessidade de formao.
A formao foi essencial no decorrer da pesquisa, considerando-se
a ne-cessidade de reflexo acerca de alguns conceitos que
transversalizam o bojo es-truturante de vrias polticas educacionais
no muncpio, a saber: o sentido de investigao-formao; o conhecimento
pedaggico; a educao como prxis; o protagonismo e a autonomia
docente; o professor e a escola reflexiva.
Fundamentados em Carr (1996), entendemos que o que caracteriza a
prxis que ela consiste em uma forma de ao reflexiva, que pode
criticar e transformar a teoria que a rege. Nem a teoria, nem a
prtica gozam de proeminncia: cada uma modifica e revisa
continuamente a outra. Por isso, podemos entender a prtica
educativa como prxis pedaggica. Portanto, por prxis pedaggica
entendemos o agir que presentifica, sistematiza e implementa um
projeto de educao. Toda prtica educativa recorre a uma noo de
educao e a uma teoria educacional, das quais ela pode extrair
compreenses amplas acerca do mundo, da pessoa humana e da
sociedade.
Ao trazer tona as concepes dos participantes do estudo,
deparamo-nos com certo ecletismo terico e com vises, em alguns
casos, at dogmticas, oriundas de tendncias poltico-partidrias. No
podemos esquecer que, geralmente, aqueles que esto frente da gesto
em uma Secretaria de Educao, representam, quase que diretamente,
o(s) partido(s) poltico(s) que governa. Esse foi um dos desafios
encontrados, pois nem sempre foi vivel a construo de uma sntese
dialtica necessria para o avano em termos de proposio de ideias.
Outro aspecto a ressaltar que, ao nos debruarmos sobre a anlise
coletiva dos dispositivos existentes no mbito da Secretaria de
Educao, constatamos a precariedade dos registros existentes e da
escassez de informaes sistematizadas de forma orgnica. Nesse ponto,
outra contribuio do estudo foi a de auxiliar os gestores e suas
equipes na organizao e na sistematizao de registros essenciais ao
processo educativo.
Ora, nesse contexto dos encontros formativos, a abordagem
terico-metodolgica adotada constituiu-se em elemento viabilizador e
propulsor do dilogo construtivo pautado pelo respeito pluralidade
(HERMANN, 2001) o qual foi um dos principais responsveis e
mobilizadores da ao reflexiva, contribuindo, assim, para a formulao
de polticas direcionadas Valorizao e Qualificao dos Profissionais
da Educao; a (re)vitalizao da Poltica de Monitoramento da Qualidade
da Educao Municipal; a (re)vitalizao das Diretrizes norteadoras do
Bloco de Alfabetizao e dos dispositivos legais,
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tais como: o Plano Municipal de Educao, o Plano de
Desenvolvimento da Educao, o Projeto Poltico-Peaggico da
Secretaria, dentre outros.
A ao formativa continuada com os gestores e as equipes da
Secretaria de Educao contribuiu para o empoderamento desses atores,
fortalecendo-os perante a prpria rede de ensino. A partir e
concomitamente a tal formao, foram adotadas estratgias formativas
as quais contemplavam, tambm, espaos e tempos para a construo
coletiva da poltica de formao continuada. Dessa forma, os
protagonistas deste estudo passaram a se constituir como
pesquisado-res de sua prpria prtica.
A construo e a consolidao de comunidades de aprendizagem,
compreendida sob a gide de grupos que partilham e constroem
cumplicidades cientficas, epistemolgicas e pedaggicas
(BRYDON-MILLER; MAGUIRE, 2009), requer um espao temporal que,
muitas vezes, difere do tempo de uma determinada pesquisa. Talvez
aqui resida uma das maiores contribuies da pesquisa-ao
colaborativa, na medida em que a concepo de movimento espiralado
viabiliza a continuidade do processo investigativo. Assim, nesse
movimento espiralado reflexivo que contempla o empoderamento dos
atores, o (re)planejamento, a ao, a observao e a reflexo, com base
nas relaes colaborativas, vai consolidando a ideia de comunidade de
aprendizagem, em que os participantes so compreendidos, tambm, como
pesquisadores e co-responsveis. Certamente esse entendimento e essa
construo paulatina que esto experienciando junto aos profissionais
da educao da Secretaria Municipal de Educao tem sido um diferencial
para que eles conduzam os processos constitutivos de (re)vitalizao
ou criao de polticas educacionais.
Em termos de lacunas e de desafios encontrados nos processos
consti-tutivos das polticas educionais, mais precisamente no caso
em pauta, foram a transitoriedade e as constantes alteraes dos
gestores no mbito da Secretaria de Educao. Essas alteraes, que no
ltimos dois anos se acentuaram, de certa forma comprometeram a
continuidade dos processos at ento instaurados, re-querendo do
grupo uma constante readequao. As rupturas e as descontinuida-des
em termos de (re)composio do grupo requerem, por vezes, um
constante reiniciar.
Quanto s limitaes do estudo, possvel destacar a questo temporal
da pesquisa, pois, quando almejamos tranformaes, necessrio um
proces-so longo e constante de reflexo-ao-crtica. Sabemos que os
impactos decor-rentes da pesquisa-ao no so imediatos, mas
expectveis com o decorrer do tempo. Como anunciamos na introduo
deste texto, desde o ano de 2006, es-tamos inseridos no locus
investigativo. Algumas transformaes j conseguimos vislumbrar, assim
como alguns retrocessos. Ficam alguns questionamentos sobre
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os quais ainda desejamos nos debruar acerca dos resultados
decorrentes das polticas construdas e delineadas coletivamente no
que tange a sua efetivao cotidiana. Tambm fica a questo quanto
representatividade das vozes que as constituram no contexto macro:
se estas foram fruto de uma intensa participa-o em que preponderou
a ao-reflexo ou de apenas concordncia. O olhar e a avaliao que
possumos perpassam pelo olhar e pela avaliao dos protagonistas que
lideraram essas aes com o coletivo de professores da rede.
Portanto, como o estudo focalizou o grupo de gestores da Secretaria
e suas equipes, e a ao realizada por estes no foi acompanhada por
meio de um processo investigativo, entendemos que a resposta a
algumas questes requer adentrar em outra fase da pesquisa-ao,
tematizando tais questes at ento no respondidas.
Consideraes finais
Entendemos que a proposta de uma pesquisa-ao participativa com
foco na construo de polticas educacionais para um contexto
especfico, como o caso do municpio em tela, consiste em uma
tentativa de superao das idiossin-crasias e dos problemas
metodolgicos e epistemolgicos que normalmente os pesquisadores
defrontam-se no campo educacional. Percebemos que o caso por ns
abordado contempla uma modalidade de investigao cientfica que parte
da realidade concreta dos sujeitos participantes da ao, envolvendo
pesquisadores e pesquisados na busca por solues que melhorem as
condies educacionais no referido municpio. Tal procedimento
explicita uma forma de aproximar a teoria da prtica. Explicita,
tambm, uma epistemologia que parte da realidade e contribui com ela
(TELLO, 2012a, p. 65).
Em relao metodologia participativa, demarcada pela pesquisa-ao
co-laborativa, cumpre dizer que a consideramos um claro exemplo da
possibilidade de construo da participao e da democracia. Trata-se
de um espao que con-grega a possibilidade de que cada participante
do processo de investigao-ao seja capaz de aprender, de construir e
de reconstruir os componentes estruturais do prprio mundo,
resignificando experincias e conceitos e, ao mesmo tempo,
constituindo um coletivo que sonha e age conjuntamente em prol da
construo de um projeto coletivo comum.
Os achados emergentes do estudo sinalizam para a relevncia da
pesqui-sa-ao colaborativa compreendida como postura epistemolgica,
metodolgica e poltica, pois por meio dela estamos consolidando, na
qualidade de grupo de pesquisa, uma trajetria coletiva que
contempla a ao-reflexo e a interven-o crtica no contexto
educacional local. Esse movimento dialtico e dialgico permite-nos,
como pesquisadores, uma ao investigativa e formativa com (e no para
ou sobre) os profissionais da educao da educao bsica do
municpio.
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Permite-nos, tambm, como formadores, sermos protagonistas nos
processos constitutivos na s das Polticas Educacionais Municipais
mas tambm dos seus modos de efeitvao no cotidiano.
Por fim, conforme salientado, ao final do ano de 2014,
procederemos ltima etapa da pesquisa, etapa na qual ocorrer o
processo de reelaborao das estratgias de ao, garantindo, dessa
forma, o movimento espiralado prprio da metodologia da pesquisa-ao.
Almejamos que as reflexes apresentadas no decorrer deste texto
possam contribuir para o avano das discusses atinentes s polticas
educacionais e pesquisa-ao colaborativa como postura
epistemol-gica, metodolgica e poltica.
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Recebido em 30/11/2013
Verso final recebida em 31/03/2014
Aceito em 07/04/2014
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