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Jos Carlos Pachn MateosEnrique Indalcio Pachn Mateos
Tasso Julio Lobo
Taquiarritmias Ventriculares
5As taquiarritmias ventriculares podem ser extra-sstoles,
taquicardias,
flutterou fibrilao ventriculares. A taquicardia ventricular uma
suces-so de trs ou mais batimentos ventriculares com freqncia
cardacamaior que a do ciclo bsico (ver Figs. 5.4 e 5.6).
EXTRA-SSTOLESVENTRICULARES
Considera-se extra-sstole ventricular, tambm conhecida como
com-plexo ventricular prematuroou despolarizao ventricular
prematura, um ba-timento ventricular adiantado (precoce) em relao
ao ciclo bsico (geral-mente sinusal), (Fig. 5.1). Independentemente
da severidade, so muito fre-qentes nas cardiopatias ou mesmo no
corao aparentemente normal.
Mecanismo
As extra-sstoles ventriculares podem ser provocadas por
mecanismode reentrada, por atividade deflagrada ou por automatismo.
De uma for-
Fig. 5.1 Traado mostrando o registro de uma extra-sstole
ventricular isolada.
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ma geral, a reentrada o mecanismo mais freqente. Comumente
res-ponsvel pelas extra-sstoles originadas por substrato
antomo-histopato-lgico bem definido (fibrose, cicatriz, aneurisma,
bloqueio de ramo, etc.).A atividade deflagrada mais freqentemente
relacionada s extra-sstoles
originadas por distrbios eletrolticos, intoxicao medicamentosa,
sn-drome do QT longo, etc. O automatismo, tipicamente favorecido
pelascatecolaminas, freqentemente responsvel por extra-sstoles do
cora-o normal (automatismo normal) ou por parte das extra-sstoles
obser-vadas na fase aguda do infarto do miocrdio ou distrbios
eletrolticos(automatismo anormal).
Caracterizao Eletrocardiogrfica
Alm da precocidade, as extra-sstoles ventriculares tipicamente
sobatimentos aberrantes (morfologia, eixo e durao diferentes dos
batimen-tos sinusais) (Tabela 5.1). Alm do QRS, a onda T geralmente
alargadae tem polaridade freqentemente oposta ao QRS da
extra-sstole. As ori-ginadas na parede ventricular promovem uma
ativao monofocal dosventrculos, fora do sistema especializado de
conduo rpida. Neste caso,a ativao ventricular lenta origina um QRS
largo (geralmente maior que140ms). Muitas vezes, o sistema de
conduo participa da extra-sstole emmaior ou menor grau, reduzindo a
durao do batimento ectpico. Oexemplo maior desta situao o das
extra-sstoles originadas nos fasc-culos do sistema His-Purkinje
(extra-sstoles fasciculares), as quais tm oQRS mais estreito (at
120ms), e podem eventualmente ser confundidascom extra-sstoles
supraventriculares. A morfologia das extra-sstoles de-pende do
local de origem, do foco, do grau de participao do sistema
deconduo, da presena de refratariedade perifocal varivel e da
presen-a de batimentos de fuso. De um modo geral, as extra-sstoles
do ven-trculo direito tm morfologia de bloqueio de ramo esquerdo, e
aque-
las originadas no ventrculo esquerdo tm morfologia de bloqueio
deramo direito.
Intervalos de Tempo das Extra-sstoles
A. Intervalo de acoplamento: o intervalo entre o batimento do
rit-mo fundamental (geralmente sinusal) e a extra-sstole;
B. Pausa ps-extra-sistlica: o intervalo entre a extra-sstole e o
pr-ximo batimento do ritmo fundamental (geralmente sinusal). Podese
apresentar de quatro formas diferentes:1. Compensatria: quando o
intervalo RR que contm a extra-sstole igual a dois ciclos sinusais.
Geralmente ocorre porque a extra-ss-
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tole ocupa o sistema de conduo e bloqueia uma onda P (no
in-terfere no ciclo sinusal). tpica das extra-sstoles
ventriculares;2. Menor que compensatria: quando o intervalo RR que
contma extra-sstole menor que dois ciclos sinusais. Nestes casos,
ge-
ralmente a extra-sstole consegue conduzir at os trios,
capturan-do precocemente o n sinusal, que reinicia um novo ciclo a
partirdeste ponto (interfere adiantando o ciclo sinusal). Ocorre
mais fre-qentemente nas extra-sstoles supraventriculares, que,
obviamente,tm mais facilidade para capturar o n sinusal;3. Maior
que compensatria: quando o intervalo RR que contm aextra-sstole
maior que dois ciclos sinusais. Esta mais rara. Ge-ralmente a
extra-sstole captura o n sinusal atravs de conduoretrgrada e
provoca uma pausa por depresso de seu automatismo
(interfere atrasando o ciclo sinusal). Ocorre mais
freqentementena doena do n sinusal;4. Ausncia de pausa
compensatria: neste caso a extra-sstole pre-coce o suficiente para
permitir que nenhuma onda P seja bloqueada,ou seja, consegue-se
interpolar entre duas ondas P consecutivas;
C. Intervalo interectpico: o intervalo entre duas extra-sstoles
ven-triculares consecutivas;
D. Batimentos interectpicos: so os batimentos compreendidos
nesteltimo intervalo (Fig. 5.2).
Eventualmente uma extra-sstole ventricular cai entre dois
batimentossinusais e o segundo consegue chegar aos ventrculos.
Neste caso no exis-te pausa compensatria, e a extra-sstole chamada
interpolada. Geral-mente o intervalo PR do batimento que se segue
extra-sstole interpoladase apresenta prolongado. Isto se deve
penetrao retrgrada da extra-ss-tole pelo ramo do sistema
His-Purkinje do mesmo lado chegando ao n
Fig. 5.2 Intervalos de tempo num traado eletrocardiogrfico com
extra-sstoles. Nestecaso, a pausa ps-extra-sistlica compensatria (o
intervalo RR que contm a extra-
sstole igual ao dobro do intervalo RR anterior, ou seja, a soma
do intervalo de
acoplamento e da pausa ps-extra-sistlica igual a dois intervalos
RR).
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AV (conduo oculta), que por sua vez vai retardar a descida do
prximobatimento sinusal.
Classificao das Extra-sstoles Ventriculares
As extra-sstoles ventriculares podem ser classificadas de acordo
com:1. Foco de origem. De um modo geral, extra-sstoles
ventriculares de
mesma morfologia e mesmo intervalo de acoplamento so originadas
domesmo foco (monofocais), enquanto que aquelas com morfologia e
inter-valo de acoplamentos diferentes so originadas de focos
diferentes(multifocais ou polifocais) (Fig. 5.3-C). Eventualmente,
podemos obser-
var extra-sstoles ventriculares com mesmo intervalo de
acoplamento,porm com morfologias diferentes. Este fenmeno
geralmente se deve aextra-sstoles monofocais com variaes do ponto
de sada do foco, comaberrncia de conduo na parede ventricular ou
pela presena de bati-mentos de fuso. Neste caso, prefervel
denomin-las polimrficas emvez de polifocais.
2. Precocidade.Quanto precocidade, as extra-sstoles
ventricularespodem ser protodiastlicas, mesodiastlicas ou
telediastlicas, conformeocorram no incio, no meio ou no final da
distole. As protodiastlicas
coincidem em maior ou menor grau com o final da onda T,
ocasionandoo fenmeno R/T (R sobre T) (Fig. 5.4). Do ponto de vista
clnico, devido grande precocidade que impede um enchimento
ventricular adequado,esta extra-sstole geralmente no abre a valva
artica e ocasiona uma longapausa no pulso acompanhada de
sintomatologia significativa (palpita-es). Seu risco maior,
entretanto, reside na repercusso eletrofisiolgica.Devido
precocidade, esta extra-sstole pode coincidir com o perodovulnervel
do ventrculo induzindo taquiarritmias de alto risco como
ataquicardia e a fibrilao ventriculares, principalmente quando
existecomprometimento da funo ventricular ou qualquer outra condio
quereduza o limiar de fibrilao ventricular. Todavia, dificilmente
ocasionamproblemas no corao normal. As extra-sstoles telediastlicas
aparecem
Tabela 5.1Caractersticas Eletrocardiogrficas das Extra-sstoles
Ventriculares
QRS prematuro
QRS alargado (>120ms)QRS com morfologia aberranteQRS no
precedido por onda POnda T alargada geralmente oposta ao QRS
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tardiamente na distole. Esta caracterstica pode originar dois
fenmenosinteressantes: podem coincidir com o intervalo PR do prximo
bati-mento sinusal, originando batimentos aberrantes precedidos por
ondaP com PR curto que precisam ser diferenciados de uma
pr-excitaoventricular intermitente (Fig. 5.5). Quando so ainda um
pouco mais
tardias podem coincidir com o prximo QRS originando batimentosde
fuso (Fig. 5.3-A).
3. Quantidade.A quantificao das extra-sstoles ventriculares
impor-tante na avaliao do prognstico. Quando existe uma
extra-sstole apscada batimento sinusal denomina-se, bigeminismo,
(Fig. 5.3-A). Caso asextra-sstoles apaream aps cada dois ou trs
batimentos sinusais, utili-zam-se respectivamente os termos
trigeminismo(Fig. 5.3-B) ou quadrige-minismo. Consideram-se
extra-sstoles acopladasquando ocorrem duasextra-sstoles
ventriculares em seqncia (Fig. 5.3-C), e quando ocorremtrs ou mais
extra-sstoles ventriculares em seqncia, considera-se exis-tir
taquicardia ventricular(Fig. 5.4).
4. Captura Atrial.As extra-sstoles ventriculares podem ou no ser
con-
Fig. 5.3 Traado A: 1, 2 e 3: Extra-sstoles ventriculares
telediastlicas e bigeminadas.O batimento 3 surgiu tardiamente (aps
a onda P), ocorrendo uma fuso. Traado B:
Seqncia de extra-sstoles monomrficas a cada dois batimentos
sinusais: trigeminismo
ventricular. Traado C: Extra-sstoles ventriculares de diferentes
morfologias (polimrficas).O complexo 6 formado por duas
extra-sstoles consecutivas (pareadas).
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duzidas para os trios, dependendo da existncia ou no de conduo
ven-triculoatrial e do momento do ciclo cardaco em que ocorrem. A
condu-o ventriculoatrial est naturalmente presente em cerca de 70%
dos pa-cientes, podendo ser mediada pelo sistema de conduo normal
ou atra-vs de uma via anmala.
5. Complexidade. Quanto complexidade, as extra-sstoles
ventricu-lares podem ser simplesou complexas. As caractersticas de
cada catego-ria esto relacionadas na Tabela 5.2.
6. Classificao de Lown.Apesar de ser incompleta e passvel de
cr-
ticas, muitos autores utilizam a classificao de Lown para
identificar as ar-ritmias ventriculares (extra-sstoles e
taquicardia) numa escala de gravida-de que se aplica razoavelmente
para a cardiopatia isqumica (Tabela 5.3).
Tipos Especiais de Extra-sstoles
A forma mais freqente de extra-sstoles ventriculares ocasionada
pormecanismo de reentrada. Entretanto, outros tipos de
extra-sstoles ventri-culares menos freqentes a parassistolia e a
extra-sistolia oculta sorelacionadas a automatismo.
Fig. 5.4 Extra-sstoles ventriculares monomrficas pareadas
iniciadas com fenmenoR/T ( esquerda), ou na forma de uma salva de
trs extra-sstoles (taquicardia ventricular
no sustentada), tambm iniciada por fenmeno R/T (ao centro), ou
como uma extra-sstole
ventricular isolada, mesodiastlica ( direita).
Fig. 5.5 Traado mostrando pr-excitao ventricular intermitente.
Deve-se fazer odiagnstico diferencial com extra-sstoles
telediastlicas.
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Parassistolia Ventricular
A parassistolia um tipo de extra-sstole ocasionado por foco
autom-tico. Dependendo da localizao, pode ser atrial, juncional ou
ventricu-lar. A parassistolia formada pelo surgimento de um
bloqueio de entra-da no foco, cujas clulas passam a apresentar
atividade automtica pordeixarem de ser capturadas pelo ritmo
sinusal. Devido independnciado foco de origem, o intervalo de
acoplamento varivel e o intervalointerectpico mltiplo do ciclo
bsico do foco da parassistolia.
Extra-sistolia Oculta
Eventualmente, um foco de parassistolia apresenta bloqueio de
sadaparcial, de forma que somente consegue sairpara os ventrculos
quandoaproveita o rastro de supernormalidadedeixado por um
batimento sinusal
(facilitao de Wedensky). Apesar de originada por foco automtico,
comoa extra-sistolia oculta depende do batimento sinusal, a ectopia
surge sem-pre aps o mesmo intervalo de tempo, ou seja, apresenta
acoplamento cons-tante. O surgimento da ectopia vai depender de uma
coincidncia entre orastro do batimento sinusal e a ativao do foco
automtico ventricular.
Significado Clnico das Extra-sstoles Ventriculares
As extra-sstoles ventriculares so muito freqentes, mesmo na
ausn-cia de cardiopatia evidente. Da mesma forma que so
absolutamente in-cuas numa grande quantidade de casos, podem
indicar, em outros, um altorisco de morte sbita. Portanto, alm de
tratar eventuais sintomas, o car-
Tabela 5.2Classificao das Extra-sstoles Ventriculares Quanto ao
Grau de Complexidade.
As SimplesNecessitam das Trs Caractersticas, ao Passo que
SoConsideradas Complexasse Tiverem pelo Menos Uma das Cinco
Caractersticas da Coluna Direita
Simples (e) Complexas (e/ou)
Raras (< 20 por hora) e, Freqentes (> 20 por hora)
ou,Monomrficas e, Polimrficas ou,Mesodiastlicas ou Telediastlicas
(no Protodiastlicas (comprometem a onda T) ou,comprometem a onda T)
Bigeminadas ou,
Repetitivas (duas ou mais consecutivas)
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diologista dever avaliar cuidadosamente estas arritmias para
identificaro risco potencial e prevenir as possveis
conseqncias.
Sintomas
Freqentemente as extra-sstoles ventriculares so assintomticas,
sen-do detectadas como irregularidade do pulso em exames de rotina
ou mes-
mo pelo prprio paciente. A manifestao mais tpica, entretanto, so
aspalpitaes, geralmente provocadas pela dissociao AV momentnea e/ou
pela contrao ventricular vigorosa que segue a pausa
ps-extra-sist-lica. Muitas vezes os pacientes referem batimento na
garganta em decor-rncia da conduo ventriculoatrial ou dissociao AV,
originados pelaextra-sstole. Freqentemente observa-se um ciclo
vicioso no qual os pa-cientes sintomticos apresentam graus variveis
de ansiedade, que au-menta os nveis de catecolaminas favorecendo o
aumento da arritmia. Ra-ramente podem provocar tonturas ou
pr-sncopes. Em casos raros, quan-
do muito freqentes e persistentes, podem agravar ou precipitar
insufi-cincia cardaca. Eventualmente, casos de bigeminismo
persistente, pelofato de bloquearem uma em cada duas ondas P
originando umapausa ps-extra-sistlica,podem provocar sintomas de
baixo dbito cerebral, inclu-sive compulso lentoe sinais gerais de
bradiarritmia. Muitas vezes uma bra-dicardia favorece o surgimento
de bigeminismo (regra do bigeminismo),e este, por sua
vez,potencializaa bradicardia.
Prevalncia e Risco
A prevalncia das extra-sstoles ventriculares varia com o mtodo,
adurao da observao e o tipo de populao estudada. Normalmente
ten-
Tabela 5.3Classificao de Lown para as Arritmias
Ventriculares
Grau Extra-sstole
0 sem extra-sstoles1 < 30 extra-sstoles por hora2 > 30
extra-sstoles por hora3 extra-sstoles polimrficas4A extra-sstoles
acopladas4B taquicardia ventricular (3 extra-sstoles seqenciais)5
fenmeno R sobre T
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dem a aumentar a incidncia com a idade e com o tipo e o grau da
car-diopatia subjacente.
Extra-sstoles Ventriculares na Ausncia de Cardiopatia
Em pessoas normais, as extra-sstoles ventriculares so muito
rarasnum eletrocardiograma de rotina, porm ocorrem em at 80% dos
exa-mes de Holter1,2. Sua presena varia de 0,35% em recm-nascidos
aparen-temente saudveis3at 86% em adultos com mais de 60 anos4.
As extra-sstoles do corao normalfreqentemente representam um
pro-blema especial para o clnico. Pacientes, mesmo assintomticos,
podemter dificuldades profissionais pela presena da arritmia, sendo
impedidosde exercer atividades de risco. Outras vezes, os sintomas
so muito fre-
qentes e o tratamento clnico questionvel e pouco eficaz. Por
outrolado, dependendo do local de origem, podem ser totalmente
curadas atra-vs de ablao por radiofreqncia. A presena de
cardiopatia, entretan-to, pode ser um fator altamente desfavorvel
quanto ao prognstico, de-vendo ser rigorosamente investigada.
Extra-sstoles Ventriculares na Fase Crnica do Infarto do
Miocrdio
A presena de extra-sstoles ps-infarto do miocrdio fator
indepen-dente de risco para mortalidade total e para morte sbita.
Existe, entre-tanto, controvrsia a respeito de somente as formas
complexas das extra-sstoles (acopladas, bigeminadas, polimrficas ou
taquicardia ventricularno sustentada) serem relacionadas ao mau
prognstico ou tambm asformas simples. Outro aspecto diz respeito ao
nmero de extra-sstolespor hora, indicador de risco na era
tromboltica. Os trabalhos mais bemdesenhados para responder a estas
questes deixam claro que o nmerode extra-sstoles, (inclusive das
formas simples), fator independente de
risco na fase crnica do infarto do miocrdio5. Enquanto o
verdadeiro va-lor prognstico desta arritmia ps-infarto
definitivamente determinado,recomenda-se consider-la um fator de
risco independente para mortesbita, devendo ser avaliada e tratada
de forma individual. Uma aborda-gem adequada consta de uma avaliao
clnica detalhada, de ecocardio-grama para avaliar a funo
ventricular, de teste ergomtrico para avaliara presena de isquemia
e o comportamento da arritmia sob estresse e deeletrocardiograma de
alta resoluo para avaliar a extenso do substratoarritmognico. Caso
persista dvida quanto ao risco, pode ser necessrioum estudo
eletrofisiolgico invasivo para verificar a possibilidade de
in-duzir taquicardia ventricular sustentada e determinar o
tratamento final(farmacolgico, ablativo, cirrgico ou suporte
eltrico).
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Extra-sstoles Ventriculares na Cardiomiopatia Dilatada
Pelos menos 50% da mortalidade na cardiomiopatia dilatada so
pormorte sbita, e 75% a 80% dos casos se devem a taquiarritmias
ventricu-
lares e 20% a 25% se devem a bradiarritmias. De um modo geral,
quantomaior a freqncia e a complexidade das extra-sstoles
ventriculares, mai-or o risco de morte sbita. Entretanto, num
seguimento de 73 portadoresde cardiomiopatia dilatada durante trs
anos, os fatores de risco direta-mente relacionados morte sbita
foram a presena de bloqueio completode ramo esquerdo e de reduzida
frao de ejeo6. Um outro aspecto quedeve ser considerado que a
presena de extra-sstoles ventriculares muitofreqentes piora a funo
ventricular. A eliminao da arritmia nestes ca-sos com tratamento
farmacolgico ou ablao por radiofreqncia
pode melhorar a classe funcional do paciente7.
Extra-sstoles Ventriculares na Hipertrofia Ventricular
A presena de hipertrofia ventricular esquerda aumenta a
prevalnciade extra-sstoles ventriculares e o risco de morte sbita
mesmo na ausn-cia de hipertenso arterial e de coronariopatia,
principalmente se existemsinais de hipertrofia ao ecocardiograma e
ao eletrocardiograma8.
Extra-sstoles Ventriculares Induzidas por Exerccio
De um modo geral, a presena de extra-sstoles ventriculares
induzi-das por esforo fsico deve chamar a ateno para
coronariopatia, hiper-trofia miocrdica (principalmente a
obstrutiva), displasia arritmognicado ventrculo direito, sndrome do
QT longo, taquicardia ventricularadrenrgico-dependente, alm de
insuficincia cardaca. Esta condio mais difcil de avaliar nos casos
onde no h cardiopatia aparente. Num
grande estudo com seguimento de 6.101 pacientes assintomticos
por 23anos, foi verificado que a ocorrncia de extra-sstoles
ventriculares fre-qentes durante o esforo em pacientes
assintomticos est associada arisco aumentado em longo prazo de
mortalidade cardiovascular, indepen-dente de isquemia9.
Tratamento
O tratamento das extra-sstoles ventriculares uma das condies
maisfreqentes e um desafio para a moderna cardiologia. fundamental
tra-tar o risco e a sintomatologia, apesar de esta ltima
representar o motivoprincipal da consulta para a grande maioria dos
pacientes. Quando o ris-
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co baixo ou nulo, a extra-sistolia poder ser acompanhada sem
trata-mento, a no ser que exista sintomatologia no tolerada. Caso
contrrio,deve-se considerar o tratamento farmacolgico, a ablao do
foco deectopia ou o suporte eltrico.
Tratamento Farmacolgico
Aps cuidadosa avaliao de risco e das condies miocrdicas,
con-sideram-se as seguintes recomendaes gerais para o tratamento
farmaco-lgico da extra-sistolia ventricular:
As drogas da classe I devem ser evitadas quando existe
comprome-timento moderado ou severo da funo ventricular;
As drogas do grupo IA e o Sotalol esto contra-indicadas nos
casos
de QT longo; Na fase ps-IM, os betabloqueadores comprovadamente
reduzem
a extra-sistolia ventricular e a mortalidade; O benefcio dos
betabloqueadores tem sido maior na presena de
insuficincia cardaca; A amiodarona, associada ou no aos
betabloqueadores, tem mos-
trado efeito antiarrtmico significativo e capacidade de reduzir
amortalidade total nos casos de frao de ejeo menor que 30%;
Os antiarrtmicos dos grupos I e IV aumentam a mortalidade na
faseps-IM com funo ventricular comprometida;
Os antiarrtmicos do grupo I podem ser teis no controle dos
sin-tomas causados por extra-sstoles freqentes na ausncia de
cardio-patia evidente.
Ablao por Radiofreqncia
A eliminao das extra-sstoles de forma definitiva e sem o uso
crni-
co de medicao , sem dvida, o tratamento que sempre gostaramos
deproporcionar a todos os pacientes. Esta a grande proposta da
ablao porradiofreqncia. Numa reviso recente de nosso material,
verificamos, em68 casos tratados e acompanhados por 4716 meses, que
a ablao de ex-tra-sstoles ventriculares sintomticas e refratrias
medicao em ven-trculos pouco comprometidos altamente eficaz,
permitindo a cura em89,3% dos casos10, na ausncia de complicaes.
Pode, desta forma, serconsiderada uma excelente opo teraputica (ver
Cap. 13). Os principaisobstculos so a dificuldade de se reproduzir
as extra-sstoles de formacontrolada e os freqentes casos de
extra-sstoles polifocais, principalmen-te quando existe
comprometimento miocrdico severo. Alm disto, de-pendendo da origem
da arritmia, a eliminao da extra-sstole no neces-
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sariamente suprime o risco da cardiopatia subjacente, podendo
continuarnecessria a terapia medicamentosa e/ou o suporte
eltrico.
Suporte Eltrico
Casos raros de extra-sstoles muito sintomticas dependentes
debradiarritmia, rebeldes ao tratamento farmacolgico e ablativo,
podemser corrigidos com implante de marca-passo convencional,
bicameral.Entretanto, o suporte eltrico mais comumente utilizado o
implante dedesfibrilador para tratamento primrio ou secundrio de
morte sbita (verCap. 14) nas patologias que, alm das extra-sstoles,
apresentam instabi-lidade eltrica miocrdica.
TAQUICARDIAVENTRICULAR
Considera-se taquicardia ventricular uma sucesso de trs ou mais
ba-timentos ventriculares (originados abaixo do n AV) numa
freqnciamaior que 100bpm.
Classificao e Tipos de Taquicardias Ventriculares
Durao
Sustentada.As taquicardias ventriculares so consideradas
susten-tadas quando tm durao maior que 30 segundos ou quando
reque-rem interveno teraputica imediata para evitar colapso
hemodinmi-co (Fig. 5.6-A);
No-sustentada.Quando a durao menor do que 30 segundos
(Fig.5.4);
Incessante.A taquicardia considerada incessante quando
recomeaespontaneamente de forma repetitiva aps alguns batimentos
sinusais, ge-ralmente no necessitando de extra-sstoles
deflagradoras. De um modogeral, a taquicardia incessante permanece
por tempo muito maior que oritmo sinusal num Holter de 24h.
Morfologia
Monomrficas.Quando os complexos QRS tm morfologia constan-
te (Fig. 5.6-A e B);Polimrficas.Quando existe variao da
morfologia de um QRS para
outro, na mesma derivao (Fig. 5.6-D).
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Regularidade
Regulares.Quando os intervalos R-R so iguais (Fig. 5.6-A e
B);Irregulares: Quando os intervalos R-R tm duraes diferentes
(Fig.
5.6-D).Forma de Incio
Paroxsticas.Quando tm incio e trmino sbitos;No-paroxsticas.
Quando tm incio e trmino gradativos (Fig. 5.6-C);
Fig. 5.6 Tipos de Taquicardia: A: Taquicardia ventricular
sustentada, regular. No possvel observar a atividade atrial. B:
taquicardia fascicular sustentada. As ondas P so
visveis (marcadas com *) e esto dissociadas do ritmo
ventricular, mostrando que no h
conduo retrgrada aos trios (dissociao AV) e confirmando o
diagnstico da origem
ventricular da taquicardia. C: Taquicardia ventricular
no-paroxstica. Observa-se que a partir
do complexo marcado com ** ocorre uma fuso progressiva at a
captura completa dos
ventrculos pela taquicardia. D: Tipo especial de taquicardia
ventricular polimrfica queapresenta mudana cclica da polaridade dos
complexos QRS, conhecida como torsade de
pointesou taquicardia helicoidal.
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Idioptica.Recebe esta denominao a taquicardia para a qual no
seencontra nenhuma etiologia (tambm chamada taquicardia do corao
nor-mal);
Fascicular.Trata-se de uma taquicardia originada nos fascculos
do sis-
tema His-Purkinje (ramos direito ou esquerdo ou nos hemi-ramos),
carac-terizada geralmente por QRS mais estreito que o da
taquicardia parietal(Fig. 5.6-B e Fig. 5.11);
Bidirecional.Tipo especial de taquicardia ventricular que
apresentacomplexos QRS com polaridades opostas numa mesma derivao
de for-ma alternada, comumente originada em portadores de sndrome
do QTlongo, de taquicardia ventricular adrenrgico-dependente ou na
intoxica-o digitlica;
Torsade de pointes.Trata-se de um tipo especial de taquicardia
carac-
terizada por surtos de taquicardia ventricular polimrfica
no-sustentada.Tipicamente, os complexos QRS, em cada surto, tendem
a inverter a pola-ridade na mesma derivao, originando o nome
caracterstico. uma arrit-mia grave que facilmente evolui para
fibrilao ventricular (Fig. 5.6-D).
Mecanismo das Taquicardias Ventriculares
Da mesma forma que as taquicardias supraventriculares, as
taquicar-dias ventriculares podem ser originadas por mecanismo de
reentrada, ati-vidade deflagrada ou automatismo (ver Cap. 8).
Reentrada.A reentrada no msculo ventricular, com ou sem a
parti-cipao do tecido especializado de conduo, o mecanismo
respons-vel pela grande maioria das taquicardias ventriculares. O
exemplo tpico a taquicardia paroxstica da fase crnica do infarto do
miocrdio. O cir-cuito de reentrada comumente formado numa rea de
cicatrizao ondeexistem cordes de clulas miocrdicas (tecido
excitvel, geralmente deconduo lenta e anisotrpica) entremeados com
material fibroso (teci-
do no-excitvel)(Fig. 5.7). A origem mais comum a cicatrizao
deixadapor um infarto do miocrdio, porm as miocardites, a doena de
Chagas,os aneurismas, as cardiomiopatias, as cicatrizes cirrgicas,
a displasia e asdoenas degenerativas tambm podem form-los.
As taquicardias ventriculares originadas por reentrada
geralmente somonomrficas paroxsticas, e na forma tpica uma
extra-sstole ventricu-lar o agente deflagrador.
Atividade deflagrada.Este mecanismo origina arritmias por
oscila-es de voltagem do potencial de ao na fase de recuperao.
Estas os-cilaes so conhecidas como ps-potenciais precoces quando
ocor-rem nas fases 2 e 3 e tardias quando ocorrem na fase 4 (Fig.
5.8)(verCap. 8). De um modo geral, os ps-potenciais precoces so
favorecidos por
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bradicardia, ao passo que os tardios so comumente induzidos por
con-dies que aumentam a freqncia cardaca.
Provavelmente, a taquicardia ventricular idioptica da via de
sada doventrculo direito, induzida por exerccio fsico, seja
originada por ps-potenciais tardios. Alm disto, acredita-se que
estejam diretamente envol-vidos com as arritmias observadas na
hipopotassemia, na hipocalcemia,nas arritmias de reperfuso (ritmo
idioventricular acelerado) e finalmen-te, nas arritmias da
intoxicao digitlica.
Automatismo.O automatismo uma propriedade normal das clulasdo n
sinusal, n AV e sistema His-Purkinje. Tambm existe nas
clulasmiocrdicas de forma quiescente. Quando o n sinusal deixa de
atuar,
marca-passos subsidirios do n AV e sistema His-Purkinje assumem
ocomando do ritmo cardaco, constituindo os ritmos de escape. No
obs-tante, em determinadas condies podem surgir focos de
automatismoanormal que competem com o marca-passo sinusal ou o
superam.
Tem sido observado que clulas do sistema His-Purkinje
aumentamconsideravelmente seu automatismo na presena de isquemia
devido auma hipopolarizao da membrana celular11. Alm disto, o
edema, o esti-ramento muscular, a hipxia, a hiperatividade
adrenrgica e o digital tam-bm so fatores causais. De forma contrria
ao automatismo normal, esteno suprimido pela hiperestimulao. mais
facilmente suprimido porbloqueadores de clcio do que de sdio.
Responde bem s catecolaminas,que normalmente esto aumentadas no
infarto do miocrdio.
Fig. 5.7 Histopatologia de uma regio arritmognica do miocrdio.
As trabculas fibrosase eletricamente inexcitveis esto coradas em
azul, ao passo que o miocrdio vivel est
corado em vermelho.
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O automatismo anormal o mecanismo da taquicardia ventricular
monomrfica que ocorre nos primeiros dias ps-infarto do
miocrdio.A avaliao das arritmias automticas pode ser difcil no
eletrocar-
diograma, sendo mais adequado avali-las pelo Holter. Neste
sentido,algumas observaes podem ajudar na suspeita diagnstica
(Tabela5.4).
Atividade Atrial Durante a Taquicardia
A conduo ventriculoatrial pode ser mediada pelas vias normais,
porum feixe anmalo ou por uma via beta (que, apesar de estar
freqente-mente relacionada a uma dupla via nodal, tambm pode
existir isolada-mente). Durante a taquicardia ventricular a conduo
ventriculoatrial
Fig. 5.8 Esquema dos ps-potenciais precoces (1) e tardios (2),
originando,respectivamente, extra-sstoles ventriculares muito
precoces (protodiastlicas) e tardias
(mesodiastlicas). No primeiro caso, ocorre interrupo da onda T
pela extra-sstole (R/T).
Eventualmente, devido grande precocidade, a ectopia pode no
ocorrer devido arefratariedade miocrdica. Na parte superior do
esquema observa-se que somente os ps-
potenciais que atingem o potencial limiar originam um novo
potencial de ao (C).
Os ps-potenciais A e B no atingem o potencial limiar,
restringindo-se a uma atividade
localizada, sem propagao.
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que determina se a atividade ventricular ser ou no conduzida aos
trios.Sua anlise muito importante, pois pode indicar com facilidade
a ori-gem da taquicardia.
Dessa forma pode existir:
Conduo VA 1:1: neste caso aps cada QRS largo da
taquicardiaexiste uma onda P retrgrada que s vezes pouco visvel
devido superposio com o QRS ou, mais freqentemente, com a ondaT
(Relao AV = 1) (Fig. 5.6-A);
Bloqueio VA fixo ou varivel: neste caso a onda P retrgrada
segueuma relao ventriculoatrial 2:1 ou tipo Wenckebach (Relao
AV< 1);
Ausncia de conduo VA: neste caso a atividade atrial coman-dada
pelo ritmo sinusal e se mantm independente dos ventrculos,que esto
numa freqncia mais elevada (Relao AV < 1) caracte-rizando a
dissociao AV(Fig. 5.6-B).
O diagnstico de taquicardia ventricular muito fcil quando
existebloqueio VA (independncia da atividade atrial), pois a
freqncia ventri-cular maior do que a atrial (Relao AV < 1)
indicando claramente quea arritmia se origina nos ventrculos.
Entretanto, quando existe conduoVA 1:1 (Relao AV = 1), o diagnstico
diferencial entre taquicardia ven-tricular e supraventricular com
aberrncia torna-se mais difcil, pois, es-
tando os dois territrios na mesma freqncia, no se tem indicao
ime-diata da origem (ver Cap. 3). Cerca 50% a 60% das taquicardias
ven-triculares apresentam conduo ventriculoatrial 1:1. Nestes
casos, umamassagem dos seios carotdeos pode, eventualmente,
provocar um blo-queio VA transitrio, facilitando o diagnstico.
Tabela 5.4
Sinais Eletrocardiogrficos de Automatismo. Diferente da
Parassistolia,Normalmente, os Ritmos de Escape e as Taquicardias
Automticas No T mBloqueio de Entrada no Foco
Achado Eletrocardiogrfico Arritmia Provvel
Batimentos de fuso ParassstoleIntervalo de acoplamento longo
Escape ventricularIntervalo de acoplamento varivel Parassstole
Aparecimento gradual Parassstole, taquicardia automticaAcelerao
e desacelerao graduais Taquicardia parassistlica, taquicardia
automticaFuso no complexo inicial Ritmo idioventricular acelerado,
parassstole
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Eletrocardiograma da Taquicardia Ventricular
Taquicardia monomrfica: a forma mais comum. Caracteriza-se por:A
- ritmo regular (FC > 100bpm);B - QRS largo e ectpico (QRS 120ms
e desvio do SQRS);C - pode ocorrer dissociao AV e batimentos de
captura e fuso (Fig. 5.6-B).Taquicardia polimrfica: o exemplo mais
tpico a torsade de pointes,
caracterizada por:A - surtos de alta freqncia;B - episdios no
sustentados;C - complexos QRS largos cuja polaridade
progressivamente se inverte;D - geralmente inicia-se por uma
seqncia curta-longa-curta ou por
acelerao da freqncia cardaca de base (Fig. 5.6-D).
Localizao do Foco de Origem pelo Eletrocardiograma
Nas taquicardias monomrficas, principalmente quando a freqnciano
muito alta e o QRS bastante alargado, possvel localizar o focode
origem com grande preciso analisando-se a morfologia do QRS nas12
derivaes eletrocardiogrficas convencionais.
Considerando estes aspectos, podemos citar alguns princpios
geraisque facilitam a localizao do foco arritmognico pelo ECG:
1. Se a taquicardia do ventrculo direito ou do septo
interventricu-lar direito, o QRS negativo em V1 e V2;
2. Se nasce no ventrculo esquerdo, geralmente positiva em V1 e
V2;3. Quando se origina na parede diafragmtica, desvia o eixo
para
cima no plano frontal;4. Se originria da base, o QRS
predominantemente positivo em V6;5. Se tem origem na ponta do
ventrculo esquerdo, tipo rS ou qS em
V6 (predominantemente negativa) e rR ou qR em V1 e/ou V2;6.
Quando se origina no ramo esquerdo, tem morfologia de bloqueio
parcial do ramo direito com eixo desviado para a esquerda ou
paraa direita se a origem for do fascculo pstero-inferior ou
ntero-su-perior, respectivamente;
7. Quando se origina no ramo direito, a morfologia geralmente
debloqueio incompleto do ramo esquerdo.
Tipos Especficos de Taquicardias Ventriculares
Taquicardia Ventricular Ps-Infarto do Miocrdio
A etiologia mais freqente da taquicardia ventricular a
coronariopa-tia, principalmente o infarto do miocrdio. Neste
sentido existem trs ti-pos de taquicardias diferentes.
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Nas primeiras 48 horas ps-infarto, a taquicardia pouco
freqente.Houve uma reduo ntida da incidncia de taquicardia
ventricular oca-sionada pelo uso de trombolticos12(em torno de 3,5%
dos casos no es-tudo GUSTO-1 que analisou 40.895 pacientes). Nesta
fase, a taquicardia
geralmente ocasionada por mecanismo de automatismo anormal ou
deatividade deflagrada.Aps as 48 horas iniciais, comea a ocorrer a
cicatrizao, sendo pos-
svel o surgimento de taquicardia por reentrada, ou seja, pode
ser provo-cada por estimulao ventricular programada. Neste caso,
quando a taqui-cardia surge espontaneamente, geralmente bastante
rpida e grave, co-mumente em casos com grandes reas de necrose e,
portanto, de mau prog-nstico.
Na fase crnica ps-infarto, principalmente seis meses a um ano,
que
ocorrem com mais freqncia as taquicardias paroxsticas
monomrficas.Entretanto, podem surgir at 10 ou 15 anos aps (quando a
taquicardia muito tardia mais provvel que se relacione a um
aneurisma ventricu-lar at 15% dos casos de infarto do
miocrdio).
Tratamento da Taquicardia Ventricular da Fase Crnica do Infarto
doMiocrdio
Tratamento da Crise
O tratamento imediato da crise de taquicardia ventricular
monomr-fica depende inicialmente de uma rpida avaliao clnica para
identifi-car o grau de comprometimento hemodinmico. Se a
taquicardia estiversendo mal tolerada, a cardioverso torcica
externa imprescindvel. Sehouver tolerncia sem hipotenso ou
insuficincia ventricular esquerdasignificativas, pode-se fazer
tratamento medicamentoso por via endoveno-sa. Os aspectos
principais deste tratamento esto expostos na Tabela 5.5.
Tratamento de Manuteno
As taquiarritmias ventriculares da cardiopatia isqumica crnica
soas principais causadoras de morte sbita nesta condio. Desta
forma, fundamental rever as atuais recomendaes para o tratamento
secundrioda morte sbita, no qual a taquiarritmia ventricular foi
comprovada, con-forme os critrios da Sociedade Europia de
Cardiologia (Tabela 5.6).
Nestas indicaes, considera-se: Classe I, as indicaes
definitivamente aceitas; Classe II,identifica as terapias que,
apesar de teis, no apresentam
consenso dos autores quanto sua indicao.
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Esta classe se divide em: IIa, quando a maior parte das
evidncias sugere seu uso, ou IIb, quando a recomendao menos
significativa. Finalmente, a Classe III, indica que a terapia ou a
tcnica ineficaz ou contra-indicada.
Taquicardia Ventricular na Cardiomiopatia Dilatada
A cardiomiopatia dilatada se caracteriza por grande variedade de
ta-quiarritmias ventriculares, tais como extra-sstoles
monomrficas,
Tabela 5.5Alternativas para o Tratamento Imediato da Crise de
Taquicardia Ventricular
Monomrfica Ps-IM
Taquicardia Ventricular Monomrfica
Mal tolerada
Cardioverso torcica externa imediata, sincronizada (100J a
360J). Overdrive com MPprovisrio ou definitivo sob programao
temporria
Bem Tolerada
Droga Dose EV Cuidados e Complicaes
Procainamida 10 a 15mg/kg Hipotenso, QT longo, BAVT, DM =
17mg/kg.
Melhor opo na ausncia de isquemiaAmiodarona 150mg/10 minutos
Repetir a cada 15minutos, DM = 2,2g/24h
Hipotenso, bradicardiaLidocana 0,5 a 0,75mg/kg Repetir a cada
5/10min at DM = 3mg/kg/h.
Iniciar infuso contnua 1 a 4mg/min. Cuidadocom depresso
respiratria e convulses
Sotalol 1 a 1,5mg/kg Hipotenso, QT longo, bradicardia, torsade
de pointes
Propafenona, Apesar de serem eficazes na reverso da TPV, estas
drogas devem
flecainamida, ser evitadas pelo fato de provocarem hipotenso
importante,disopiramida, depresso miocrdica significativa e aumento
da mortalidade nosquinidina pacientes com reduzida frao de ejeo
Ablao por RF Casos de TV bem tolerada, incessante ou rebeldes s
manobrasfarmacolgicas podem ser imediatamente tratados com ablao
dofoco arritmognico. A presena da TV facilita o mapeamento
MP provisrio Alm de -til na reverso por overdrivede casos
refratrios, podeevitar novas crises atravs de tcnicas de
sobre-estimulao
DM: dose mxima, MP: marca-passo, RF: radiofreqncia.
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polimrficas, isoladas, pareadas, taquicardias ventriculares
no-sustenta-das e sustentadas. Apesar da enorme diversidade de
etiologias da cardio-miopatia dilatada (Tabela 5.7), a gravidade
das arritmias nesta condio mais relacionada ao grau de
comprometimento miocrdico do que origem da cardiomiopatia.
na cardiopatia chagsica crnica que se encontra a maior
vari-edade de taquicardias ventriculares da cardiomiopatia
dilatada. Almde comprometimento difuso do miocrdio, comumente
ocorrem le-
Tabela 5.6Recomendaes para o Uso de Drogas,
Desfibriladores-Cardioversores
Implantveis, Ablao por Cateter e Cirurgia na Preveno Secundria
da MorteS-bita em Pacientes com Infarto do Miocrdio Pregresso e
Taquiarritmia
Ventricular Documentada, Conforme a Sociedade Europia de
Cardiologia
Classe I +++ Indicao totalmente aceitaClasse IIa ++ Evidncias
favorecem a indicaoClasse IIb + Utilidade/eficcia no totalmente
estabelecidasClasse III - Sem aplicao ou contra-indicada
Condio Recomendao
Morte S-
bita Recuperada (TV/FV) Desfibrilador +++ Betabloqueadores ++
Amiodarona ++ Bloqueadores de K+ - Bloqueadores de Ca++ -
Bloqueadores de Na+ -TV monomrfica bem tolerada Betabloqueadores
++
Amiodarona ++ Desfibrilador + Abla o + Cirurgia + Bloqueadores
de K+ - Bloqueadores de Ca++ - Bloqueadores de Na+ -
Observa-se que as drogas bloqueadoras de K+, Ca++ e Na+ so
contra-indicadas.
Quando a arritmia grave a ponto de levar a morte s-
bita,o tratamento de eleio odesfibrilador-cardioversor
implantvel.
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ses localizadas capazes de constituir reas de fibrose,
discinesias eaneurismas, o mais tpico deles conhecido como leso da
ponta ouleso em dedo de luva na ponta do ventrculo esquerdo (Fig.
5.9-A).Muitas vezes, o melhor tratamento a retirada cirrgica da
ponta
do VE.
Taquicardia Ventricular Polimrfica
Eventualmente, na cardiomiopatia dilatada ocorrem taquicardias
ven-triculares polimrficas. Trata-se de uma condio de extrema
gravidade,geralmente relacionada a graus avanados de deteriorao
miocrdica, agraves distrbios hidroeletrolticos, como conseqncia de
edema agudode pulmo ou decorrente de pr-arritmia. Acredita-se que a
leso hetero-gnea do sistema nervoso autnomo, que habitualmente
acompanha a fi-siopatologia da doena, seja um dos fatores que
favorecem o aumento doQT e as arritmias polimrficas (Fig.
5.6-D).
Tabela 5.7Principais Etiologias da Cardiomiopatia Dilatada. A de
Origem Isqumica
J Foi Estudada no Item Anterior
Etiologia da Cardiomiopatia Dilatada
Cardiomiopatia isqumicaCardiomiopatia infecciosa Viral, Chagas,
HIV, Doen a de Lyme, etc.Cardiomiopatia txica lcool, antiblsticos,
cocana, ac-mulo de arsnico e cobalto, deficincia de selnio,
etc.Cardiomiopatia familiarCondies hereditrias
Hemocromatose, doen
a neuromusculares, anemia sideroblstica, etc.Cardiomiopatia
peripartoTaquicardiomiopatiaCardiomiopatia do l-pus eritematoso
sistmicoSarcoidoseDoena celacaCardiomiopatia auto-imuneDist-rbios
endcrinosDesnutrio
Apn
ia obstrutiva do sonoNo-compactao ventricular
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Estudo Eletrofisiolgico Invasivo na Cardiomiopatia Dilatada
Nos pacientes com suspeita de taquicardia ventricular sustentada
ouregistro de taquicardia ventricular no sustentada, tem sido
possvel indu-zir as arritmias em 63% dos casos na nossa experincia.
Diversos autorestm mostrado que na doena de Chagas a induo das
taquicardias mar-cador de morte sbita e mortalidade total14,15sendo
importante no plane-jamento teraputico16.
Tratamento da Taquicardia Ventricular da Cardiomiopatia
Dilatada
Assim como na cardiomiopatia isqumica, o tratamento pode ser
rea-lizado com medidas farmacolgicas e no-farmacolgicas.
Tratamento Farmacolgico
Os antiarrtmicos dos grupos I (A, B e C) e IV tendem a aumentar
amortalidade independentemente do efeito antiarrtmico. Somente a
amio-darona e alguns betabloqueadores tm mostrado valor na preveno
de
morte sbita. Isto tambm tem sido observado na doena de
Chagas
17
. Almdisto, o uso de bloqueadores enzimticos e bloqueadores de
aldosteronaso fundamentais na reduo da mortalidade, apesar de no
terem efeitoeletrofisiolgico direto.
Fig. 5.9 Taquicardias ventriculares paroxsticas, monomrficas,
sustentadas, nacardiomiopatia dilatada da fase crnica da doena de
Chagas, registradas no mesmo
paciente. Em A observa-se a taquicardia tpica desta patologia,
originada na ponta do
ventrculo esquerdo. O eixo do QRS est desviado para cima, para a
frente e para a direita,
contrapondo-se completamente ao eixo de um QRS normal. Na
ausncia de infarto apical, ocomplexo qS em V6 mostra que nenhuma
ativao se dirije para a ponta. Na realidade, a
ativao nasce na ponta e se dirije para a base. Neste caso, V6
visualiza somente a
cauda dos vetores, registrando um potencial totalmente negativo.
Em B, uma outra
taquicardia, um pouco mais lenta, originada na regio nfero-basal
do ventrculo esquerdo.
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Tratamento Cirrgico
Devido evoluo da ablao por radiofreqncia e dos
desfibrilado-res-cardioversores implantveis, tem aplicao muito
reduzida nos pa-
cientes com cardiomiopatia dilatada no-isqumica. fundamental,
en-tretanto, caso haja uma significativa alterao estrutural, como
umaneurisma ou valvopatia grave associada. No obstante, quando a
cardio-miopatia dilatada est numa fase muito avanada, o tratamento
indicado o transplante cardaco.
Ablao por Radiofreqncia atravs de Cateter
Nos portadores de taquicardias monomrficas sustentadas, bem
tole-
radas e reprodutveis no estudo eletrofisiolgico, possvel
localizar o focoarritmognico e elimin-lo com radiofreqncia na
maioria dos casos.Alm disto, quando o foco arritmognico no
totalmente eliminado, fre-qentemente pode ser modificado,
tornando-se ele mais responsivo aosmedicamentos. Na doena de
Chagas, temos eliminado a taquicardia em58% e obtido melhora clnica
em 75% dos pacientes. O problema quefreqentemente existem focos
mltiplos, reas de conduo lenta exten-sas, protegidas por fibrose ou
epicrdicas, que reduzem sensivelmente achance de sucesso.
Desfibrilador-Cardioversor Implantvel
o tratamento de escolha nos casos onde no se consegue elimi-nar
ou controlar a taquicardia com outras alternativas teraputicas.Sua
utilizao tem aumentado devido gravidade da taquicardia ven-tricular
na cardiomiopatia dilatada, sua alta relao com a mortesbita e aos
resultados pouco animadores das terapias farmacolgi-
ca e cirrgica.Nos portadores de cardiomiopatia dilatada com
bloqueio de ramo es-querdo, o quadro clnico melhora
consideravelmente com a ressincroni-zao ventricular. Neste sentido,
fundamental considerar esta possibili-dade caso seja necessrio
implante de marca-passo ou de desfibrilador-cardioversor.
Resumo do Tratamento da Taquiarritmia Ventricular na
Cardiomiopatia Dilatada
Evidentemente, este assunto est em franca evoluo e dever
sofreratualizaes constantes. Entretanto, no momento, vamos utilizar
o consen-
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so da Sociedade de Cardiologia da Europa (Tabela 5.8) para o
tratamen-to das taquiarritmias ventriculares de risco de morte
sbita na cardiomio-patia dilatada13, utilizando a seguinte
conveno:
Taquicardia Ventricular por Reentrada Ramo a RamoEste tipo
especfico de taquicardia geralmente ocorre em cardiomio-
patia dilatada isqumica e no-isqumica. Esta taquicardia
originada pormacro-reentrada utilizando estruturas normais do
territrio ventricular.Na sua forma mais tpica, o movimento de
reentrada sobe pelo ramo es-querdo, desce pelo ramo direito e
retorna ao ramo esquerdo atravs domiocrdio ventricular.
Conseqentemente, a morfologia da taquicardia de bloqueio de ramo
esquerdo porque o miocrdio ventricular ativado
a partir do ramo direito (Fig. 5.10).A associao de taquicardia
com freqncia alta e miocrdio severa-
mente comprometido facilmente evolui para fibrilao ventricular,
sen-do uma das causas de sncope e de morte sbita na cardiomiopatia
dila-tada.
Tabela 5.8Recomendaes da Fora-tarefa da Sociedade Europia de
Cardiologia
para o Tratamento das Taquiarritmias e Risco de Morte S-bitana
Cardiomiopatia Dilatada
Classe I +++ Indicao totalmente aceitaClasse IIa ++ Evidncias
favorecem a indicaoClasse IIb + Utilidade/eficcia no totalmente
estabelecidasClasse III - Sem aplicao ou contra-indicada
Terapia Recomendao
Inibidores da ECA +++ Betabloqueadores +++ Desfibrilador (Prev.
Secundria) +++ Desfibrilador (Prev. Primria) ++ Bloqueador de
aldosterona ++ Amiodarona ++*Abla o por radiofreqncia ++*Cirurgia
+*Drogas grupo I (FE 40) -
*Opinio do autor incluindo os casos de cardiomiopatia dilatada
de origem chagsica.
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Diagnstico da Taquicardia por Reentrada Ramo a Ramo
A histria clnica de cardiomiopatia dilatada com QRS largo tipo
blo-queio de ramo esquerdo e taquicardia grave sincopal ou
ressuscitada commorfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo o
quadro clnico pe-culiar desta patologia. Quando no h registro da
taquicardia, o estudo ele-
trofisiolgico invasivo fundamental e indispensvel para o
diagnstico.A presena de fibrilao atrial e extra-sstoles
ventriculares favorecem
o incio da taquicardia pela entrada retrgrada num dos ramos e
bloqueiono outro por refratariedade.
Tratamento da Taquicardia por Reentrada Ramo a Ramo
O tratamento farmacolgico no eficaz ou seguro nesta arritmia.
A
ablao por radiofreqncia o tratamento de eleio, permitindo a
curade todos os casos. Pode ser necessrio o implante de marca-passo
defini-tivo, o qual dever ser do tipo multisstio, tendo-se em conta
a presenade cardiomiopatia dilatada severa na grande maioria dos
casos.
Fig. 5.10 Taquicardia ventricular por reentrada ramo a ramo em
paciente portador decardiomiopatia dilatada com freqncia de 202bpm
evoluindo com sncopes de repetio e
dois episdios de morte sbita recuperada.
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Resumo da Taquicardia por Reentrada Ramo a Ramo
A taquicardia por reentrada ramo a ramo, tpica da cardiomiopatia
di-latada, pouco diagnosticada. Geralmente tem freqncia alta e
morfo-
logia tipo BCRE devido reentrada mais freqente (subida do
estmulopelo ramo esquerdo e descida pelo ramo direito), sendo causa
de mortesbita. O tratamento farmacolgico no eficaz e no seguro.
O diagnstico extremamente importante pela possibilidade
detratamento definitivo atravs de ablao por radiofreqncia do
ramodireito.
A cura pode ser obtida em todos os casos. Aps a ablao, deve ser
con-siderado implante de marca-passo multisstio caso haja
importante lesoresidual do sistema His-Purkinje.
Taquicardia Fascicular
uma taquicardia originada no sistema His-Purkinje caracterizada
porQRS relativamente estreito devido ativao ventricular muito
rpida(Fig. 5.11). Estas caractersticas justificam o fato de ser
freqentementediagnosticada erroneamente como taquicardia
supraventricular. tam-bm conhecida com taquicardia idioptica do
ventrculo esquerdoou taqui-cardia ventricular verapamil-sensvelou
taquicardia de Belhassen.
Quadro Clnico
Freqentemente as crises aparecem na terceira dcada, porm
muitasvezes os pacientes referem episdios desde a adolescncia. Na
maioria doscasos no h cardiopatia associada. Quase sempre existe
histria de pal-pitaes e tonturas.
Local de Origem e Eletrocardiograma
Na maioria dos casos, o eletrocardiograma durante o ritmo
sinusal normal. Sua morfologia mais tpica de bloqueio de ramo
direito comdesvio do eixo para a esquerda, lembrando um
hemibloqueio ntero-su-perior. O QRS relativamente estreito, medindo
entre 120 e 140ms.
Mecanismo
A resposta estimulao ventricular programada e o
comportamentofrente estimulao durante a taquicardia sugerem que o
mecanismo maisfreqente a reentrada dentro do sistema
His-Purkinje.
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Diagnstico
O quadro clnico e o padro eletrocardiogrfico geralmente
permi-tem o diagnstico sem dificuldade. O eletrocardiograma de alta
resolu-
o praticamente normal, assim como o ecocardiograma e a
ressonn-cia magntica. O estudo eletrofisiolgico intracardaco muito
impor-tante porque permite induzir a taquicardia, estudar sua
origem, estudara estabilidade eltrica ventricular e afastar outros
tipos de taquicardia. fundamental para o tratamento definitivo
atravs de ablao por ra-diofreqncia.
Tratamento
Apesar de ser uma taquicardia ventricular, mostra bons
resultados aotratamento com verapamil, que pode ser utilizado para
reverter e paraprevenir as crises.
Fig. 5.11 Taquicardia fascicular. Observa-se morfologia de BCRD
com eixo desviado paracima e QRS relativamente estreito (140ms).
Alm disso, existe dissociao AV (freqncia
atrial menor que a ventricular). Apesar de estar no territrio
ventricular, esta taquicardia foi
induzida e revertida por estimulao atrial transesofgica.
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As drogas do grupo III (amiodarona e sotalol) geralmente so
bastan-te eficientes na preveno das crises. As drogas do grupo I
(inclusive lido-cana), assim como os betabloqueadores, geralmente
so ineficazes.
O tratamento definitivo realizado com ablao por
radiofreqncia,
que apresenta uma eficcia de cura de 85% a 100%.Resumo
A taquicardia fascicular ocorre na ausncia de cardiopatia
estrutural.Geralmente benigna, bem tolerada. Ocasiona palpitaes e
raramente
sncopes. A taquicardiomiopatia ou morte sbita so muito raras
nestapatologia.
Geralmente se origina no fascculo pstero-inferior do ramo
esquer-
do, produzindo uma morfologia de BRD com eixo desviado para
cima.Pode ser induzida por estimulao ventricular.Geralmente o
ECGAR, o ecocardiograma e a ressonncia magntica so
normais (raramente est associada a microaneurismas do ventrculo
es-querdo).
O tratamento pode ser feito com verapamil (taquicardia
verapamil-sen-svel) ou drogas do grupo III. Comumente no responde a
betabloqueado-res ou s drogas do grupo I.
O tratamento definitivo de eleio a ablao por
radiofreqncia.Marca-passo e desfibrilador no esto indicados na
ausncia de outras
cardiopatias.
Displasia Arritmognica do Ventrculo Direito
Definio
Trata-se de uma patologia caracterizada por alteraes estruturais
do
ventrculo direito (dilatao, hipertrofia, aneurismas) associada a
taqui-cardias ventriculares sustentadas e no-sustentadas. causa
freqente demorte sbita em algumas regies (principalmente no sul da
Itlia)18. Suaetiologia ainda no est bem definida. Aparentemente uma
doena fa-miliar com padro de transmisso autossmica dominante e
penetrnciavarivel.
Incidncia e Prevalncia
A incidncia desconhecida, porm a prevalncia aproximadamente1 em
5.000, sendo maior em algumas regies como o sul da Itlia, onde
responsvel por mais de 12% dos casos de morte sbita em adultos
jovens.
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Anatomia e Histologia
Existe infiltrao fibrogordurosa e inflamatria da parede do
ventr-culo direito (vias de sada, ponta e/ou regio subtricuspdea)
que favore-
ce o aparecimento de aneurismas e de microaneurismas. O
comprometi-mento do ventrculo esquerdo raro. Cordes de
cardiomicitos isoladospor fibrose constituem reas de conduo lenta e
favorecem a reentrada.
Eletrocardiograma durante o Ritmo Sinusal
Dependendo do grau de comprometimento, pode estar
praticamentenormal ou reunir diversos sinais da patologia,
como:
Pode apresentar bradicardia e bloqueio AV do primeiro grau;
Padro de BRD ou QRS alargado (>110 em V1); Quando no existe
bloqueio de ramo, pode ser observado um es-
pessamento e prolongamento da poro final do QRS, mais eviden-te
em V1 e V2 (onda psilon que corresponde conduo lenta naregio de
infiltrao fibrogordurosa. tambm expresso eletro-cardiogrfica dos
potenciais tardios registrados pelo ECGAR);
Presena de ondas T invertidas em V2 e V3 sem BRD, aps os 12anos
de idade, bastante sugestiva da patologia;
Podem existir graus variados de extra-sistolia ventricular,
comu-mente com morfologia de extra-sstoles do ventrculo
direito.
Eletrocardiograma da Taquicardia
As taquicardias ventriculares da displasia arritmognica do
ventrcu-lo direito normalmente apresentam morfologia de BCRE (Fig.
5.12), comeixo desviado para a direita (quando originadas na via de
sada) ou, me-nos comumente, para a esquerda (quando originadas em
regio apical ou
parede inferior).A freqncia pode ser muito varivel, dependendo
do tamanho do cir-cuito de reentrada, da medicao em uso e do tnus
adrenrgico do mo-mento.
Quadro Clnico
O diagnstico geralmente feito na terceira dcada. muito raro
emcrianas. O paciente pode ser totalmente assintomtico ou ter
palpitaes,sncope ou morte sbita. As arritmias so geralmente
proporcionais aograu de comprometimento do miocrdio e, tipicamente,
so desenca-deadas por esforo fsico19.
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O ecocardiogramae a cintilografia miocrdicatm se mostrado
bastan-te til, permitindo detectar dilatao do ventrculo direito e
reduo desua frao de ejeo. Alm disto, podem identificar aneurismas
em algunscasos.
Da mesma forma, o cateterismo cardacocom ventriculografia
direita altamente sensvel (frao de ejeo do VD < 50% preditivo de
taquicar-dia ventricular).
Entretanto, o exame no-invasivo mais til na avaliao estrutural
des-ta patologia tem sido a ressonncia nuclear magntica. o nico
exame quepermite identificar a infiltrao gordurosa na parede do
ventrculo direito.
Um outro exame no-invasivo de grande importncia o
eletrocardio-gramade alta resoluo. Tem sido encontrado
sensibilidade de 81% e es-
pecificidade de 100% (na ausncia de infarto inferior). Nos
familiares depacientes o ECGAR positivo em 16% dos casos e somente
em 3% doscontroles.
A bipsia do miocrdio altamente especfica, porm normalmente no
feita na parede livre do VD (devido a alto risco de perfurao), onde
ge-ralmente existe maior comprometimento nesta patologia. Na juno
daparede livre com o septo, apresenta 67% de sensibilidade.
Tratamento
Podem ser utilizados os antiarrtmicos das classes I, II e III
porm, osmelhores resultados tm sido obtidos com sotalol.
Fig. 5.12 Taquicardia ventricular com freqncia de 150bpm,
originada por displasiaarritmognica do ventrculo direito com
morfologia de BCRE e eixo normal.
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A ablao por radiofreqncia reservada a casos rebeldes
terapiafarmacolgica. Nos casos refratrios a tratamento clnico e
ablao porradiofreqncia, o tratamento de escolha o implante de
desfibrilador-cardioversor automtico.
Resumo
A displasia arritmognica do ventrculo direito uma doena
estrutu-ral do miocrdio, geralmente progressiva, aparentemente
ocasionada poranomalia gentica e caracterizada por substituio
fibrogordurosa da pa-rede do VD.
causa de taquicardia ventricular (comumente com morfologia
deBRE), geralmente induzida por esforo e importante causa de morte
s-
bita durante atividade fsica em jovens.O ecocardiograma, a
ressonncia magntica e o ECGAR so fundamen-
tais para o diagnstico.Pode ser tratada com sotalol e
amiodarona, porm nos casos rebeldes
recomenda-se a ablao por radiofreqncia e/ou o implante de
desfibri-lador-cardioversor automtico.
Sndrome de Brugada
A sndrome de Brugada caracterizada por um padro
eletrocardio-grfico especfico morfologia de bloqueio de ramo
direito e suprades-nivelamento de ST de V1 a V3 intervalo QT normal
e arritmias ventri-culares com alto risco de sncopes e morte sbita.
Os oito primeiros ca-sos descritos por Brugada e Brugada20em 1992
apresentavam histria demorte sbita recuperada.
Fisiopatologia
A sndrome de Brugada essencialmente uma doena eletrofisiolgi-ca.
Os conhecimentos atuais indicam que causada por anomalia genti-ca
originada por uma mutao do gene SCN5A responsvel pela codifica-o da
protena que constitui os canais de sdio (canalopatia). Do pontode
vista anatmico, o corao normal.
A reduo da atividade dos canais de sdio na camada
subepicrdicafavorece uma repolarizao mais rpida nestas clulas,
reduzindo a dura-o da fase 2 (plat) em relao camada subendocrdica
(Fig. 5.13).Desta forma, logo aps a despolarizao surgem reas
repolarizadas aolado de outras ainda despolarizadas. O gradiente
eltrico resultante res-ponsvel:
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pela elevao do segmento ST em V1 a V3 conhecida como onda J(Fig.
5.14);
pela tendncia inverso da onda T21,22nas mesmas derivaes e, pela
instabilidade eltrica ventricular com predisposio a extra-
sstoles e taquicardia ventricular polimrfica.Alm de originar
alteraes eletrocardiogrficas, este gradiente eltrico
intra-mural favorece o surgimento de extra-sstoles com
acoplamentomuito curto (reentrada de fase 2) e de taquicardia
ventricular polimrfica,fibrilao ventricular e morte sbita.
Incidncia e Prevalncia
A sndrome de Brugada muito rara em nosso meio. Entretanto, muito
freqente em pases orientais, como Tailndia, Filipinas e Japo.
Diagnstico
O diagnstico definido pela histria clnica e pelo padro
eletrocar-diogrfico, distrbio de conduo pelo ramo direito e
supradesnivelamen-to de ST de V1 a V3. Muitos casos, entretanto,
apresentam eletrocardio-grama normal, sendo a patologia evidenciada
somente pelo teste dos blo-queadores de sdio. Quando surge
morfologia de bloqueio de ramo direitoe supradesnivelamento de ST
de V1 a V3, considera-se o teste positivo parao diagnstico de
sndrome de Brugada.
Fig. 5.13 Esquema dos potenciais de ao transmembrana na sndrome
de Brugada. Arecuperao mais rpida da camada subepicrdica em relao
subendocrdica causa umgradiente eltrico transmural. A diferena de
potencial momentaneamente resultante pode
ser suficiente para reexcitar as clulas, ocasionando uma
reentrada de fase 2.
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Prognstico
A sndrome de Brugada uma doena de alto risco de morte sbita
por
taquiarritmia ventricular, mesmo em pacientes assintomticos.
Estima-seque a probabilidade anual de evento arrtmico
potencialmente fatal sejade 13,7% nos pacientes recuperados de
morte sbita, 8,8% naqueles comhistria de sncope e 5% nos casos
assintomticos23.
Tratamento
A ausncia de uma origem focal das arritmias elimina a
possibilidadede tratamento atravs da ablao por radiofreqncia. Da
mesma forma,a inexistncia de alteraes estruturais consistentes24,
miocrdicas, val-vulares, coronrias e no tecido especializado de
conduo tornam impra-ticvel o tratamento cirrgico.
Fig. 5.14 Eletrocardiograma tpico da sndrome de Brugada
mostrando o padrosugestivo de bloqueio de ramo direito, elevao do
segmento ST de V1 a V3 e tendncia a
bloqueio AV do primeiro grau (Ramn Brugada Senior Foundation,
www.brugada.org).
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Tratamento farmacolgico.Infelizmente, o tratamento farmacolgico
ineficaz. Antiarrtmicos potentes como a flecainamida ou a
procainamidapodem agravar a anormalidade eletrofisiolgica, causando
pr-arritmia25,26.Paradoxalmente, a nica droga clinicamente
disponvel que mostra efeito ele-trofisiolgico favorvel a
quinidina27,28. Entretanto, at o momento no exis-tem dados clnicos
concretos que permitam recomendar a quinidina comouma alternativa
segura para a preveno de morte sbita nesta patologia.
O isoproterenol tem mostrado propriedade supressora da arritmia.
Suautilidade tem sido demonstrada em condies de extrema gravidade
comoa tormenta eltrica.
Desfibrilador-cardioversor automtico implantvel (DCAI). o
tratamen-to indicado para todo portador da sndrome de Brugada em
condio de ris-co. Estudos controlados comparando drogas e
desfibrilador sero de extre-
ma importncia nos prximos anos. Devido ao alto risco desta
sndrome, arandomizao entre DCAI e antiarrtmicos impraticvel, o que
ficou bemdemonstrado no estudo DEBUT29. Dessa forma, at que se
obtenham maio-res informaes de outros possveis antiarrtmicos, o
tratamento de pacien-tes com padro eletrocardiogrfico de Brugada
(espontneo ou induzido porteste farmacolgico) e taquiarritmia
ventricular grave, induzida por estudoeletrofisiolgico, deve ser
feito com implante de desfibrilador cardaco
Concluso
A sndrome de Brugada uma sria doena eletrofisiolgica
ocasionadapor anomalia gentica do canal de sdio.
Pode provocar fibrilao ventricular e morte sbita em at 10%
doscasos ao ano.
muito rara em nosso meio, porm comum em populaes de ori-gem
oriental (Tailndia, Filipinas, Japo).
O diagnstico eletrocardiogrfico, caracterizado pelo padro de
Bru-gada bloqueio de ramo direito com supradesnivelamento de ST em
V1
a V3 , pode existir espontaneamente ou somente aps
sensibilizaocom o teste da procainamida.
At o momento no h tratamento farmacolgico seguro. Todos os
ca-sos, considerados de alto risco recuperados de morte sbita ou
porta-dores do padro eletrocardiogrfico de Brugada com sncope ou
taquiar-ritmias ventriculares induzidas pelo estudo
eletrofisiolgico devem sertratados com implante de
desfibrilador.
Sndrome do QT Longo
Trata-se de uma -condio caracterizada por prolongamento anormal
dointervalo QT associada ocorrncia de taquiarritmias ventriculares
com
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alto risco de morte sbita, usualmente extra-sistolia e
taquicardia ventri-culares polimrficas. Pode ser congnita ou
adquirida. Na primeira, as cri-ses de arritmias freqentemente so
causadas por estresse fsico ou mental(adrenrgico-dependente). J na
forma adquirida, as crises comumente so
deflagradas por bradicardia ou pausas (bradicardia-dependente).
Existe,entretanto, certa superposio deste comportamento entre os
dois grupos.
Etiologia e Tipos de Sndrome do QT Longo
Classicamente, a forma congnita pode ser muito rara,
autossmicarecessiva, acompanhada de surdez (sndrome de
Jervell-Lange Nielsen) ou,mais freqente, sem surdez, autossmica
dominante (sndrome de Roma-no Ward). Um novo tipo, tambm raro,
acompanhado de anormalidades
musculoesquelticas e paralisia muscular peridica por hipocalemia
conhecido como sndrome de Andersen. Atualmente so conhecidos
pelomenos sete tipos diferentes da forma congnita da sndrome do QT
lon-go. Existem tambm os portadores da anomalia gentica que no
apresen-tam nenhuma manifestao clnica espontnea, porm podem
apresent-las diante de certas condies, como, por exemplo, uso de
certas drogas,estresse fsico ou alteraes eletrolticas (Tabela
5.9).
A forma gentica normalmente se caracteriza por uma histria
fami-liar bem definida, e a forma adquirida est relacionada ao uso
de certasdrogas, a leses do sistema nervoso central ou perifrico, a
distrbios ele-trolticos, etc.
Medida do Intervalo QT
Pode ser realizada em qualquer derivao, porm, mais
freqentemen-te, se utiliza a derivao D2. A medida feita do incio do
QRS at o finalda onda T, excluindo-se a onda U. Deve-se considerar
o QT corrigido para
a freqncia pela frmula de Bazzet:QT corrigido = QT medido (em
segundos)
intervalo RR (em segundos)
Considera-se anormalmente longo um QT corrigido maior que
450msno homem e maior que 470ms na mulher.
Fisiopatologia
Nos diversos tipos de sndrome do QT longo, seja por aumento na
fun-o do canal de sdio (retardo na inativao dos canais) seja por
reduona funo dos canais de potssio, ocorre retardo na repolarizao
celular
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que se manifesta por aumento do intervalo QT. Aparentemente, as
anor-malidades eletrofisiolgicas so heterogneas e se tornam muito
maisacentuadas diante de algumas condies, como a estimulao
autonmica,o estresse fsico e mental, as alteraes eletrolticas, a ao
de determina-das drogas, a isquemia, etc., conduzindo a
instabilidade eltrica, extra-sistolia, taquicardia polimrfica e
fibrilao ventricular.
Manifestao Clnica e Prognstico
As arritmias da sndrome do QT longo so tipicamente
extra-sstolesventriculares polimrficas, taquicardia ventricular
bidirecional, taquicar-dia ventricular polimrfica (tipicamente a
torsade de pointes) e a fibrila-o ventricular.
A sintomatologia comumente resultado do incio de um episdio
detorsade de pointese pode variar desde pr-sncope, convulso, sncope
at mortesbita. Freqentemente os episdios tm curta durao e trmino
espontneo,no deflagrando sintomatologia ou originando sintomas
irrelevantes.
Caracteristicamente as manifestaes da sndrome do QT longo
ten-dem a surgir na infncia ou na adolescncia. Geralmente so mais
preco-ces no sexo masculino (adolescncia) do que no feminino (idade
adulta).
Tabela 5.9Causas de QT Longo
Causas de QT Longo:
Congnita: S. de Jervell-Lange Nielsen, S. de Romano Ward, S. de
AndersenIdiopticaAdquirida:Distrbios metablicos: Hipocalemia,
Hipomagnesemia, Desnutrio grave, Dietas comprotena lquida, Anorexia
graveBradiarritmias
Antiarrtmicos:Quinidina, Procainamida, Disopiramida, Sotalol,
Dofetilide, Ibutilide,Mibefradil, Amiodarona
Antimicrobianos: Eritromicina, Azitromicina, Claritromicina,
Sulfametoxasol, Trimetoprim,Ketoconazol, Itraconazol, Pentamidine,
Ampicilina, Espiramicina, CloroquinaAnti-histamnicos: Terfenadina,
AstemizolePsicotrpicos:Tioridazina, Fenotiazinas, Butirofenona,
antidepressivos tri ou tetracclicos,Haloperidol, inibidores
seletivos da recaptao da serotonina, RisperidonaOutras causas:
Prolapso de valva mitral, infarto ou isquemia miocrdicos
lesesintracranianas; infeco por HIV, hipotermia, etc.
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A sncope a manifestao mais freqente, ocorrendo geralmente
entrecinco e 15 anos de idade. Uma histria familiar de morte sbita
fortepreditor de mortalidade.
Quanto ao eletrocardiograma, quanto maior o intervalo QT, maior
o
risco de morte sbita.A sndrome do QT longo tipo 1 geralmente tem
as arritmias deflagra-das durante esforo fsico, notadamente a
natao. J o tipo 2 mais comu-mente apresenta arritmias induzidas por
estresse mental, ocasionado, porexemplo, por fortes rudos,
principalmente durante descanso ou sono. Otipo 3 comumente
apresenta as arritmias em repouso ou durante o sono,sem uma relao
clara com uma condio de estresse.
Diagnstico
O diagnstico da sndrome do QT longo feito principalmente
pelahistria clnica, pela histria familiar freqentemente positiva na
formacongnita e pelo eletrocardiograma (Fig. 5.15).
Eletrocardiograma.Este exame mostra a caracterstica principal da
sndro-me alm das arritmias o QT longo, (Fig. 5.15). A medida do
intervalo QT fundamental e est definida no item Medida do Intervalo
QT. Alm disso,pode mostrar a disperso do intervalo QT (comumente
acima de 100ms).
Holter.s vezes o eletrocardiograma no mostra o intervalo QT
pro-longado. Neste caso, o Holter pode ser utilizado pelo fato de
permitir umaavaliao prolongada. Alm disso, pode mostrar
taquiarritmias ventricu-lares, perodos de bradicardia, relao das
taquiarritmias com alternnciasde ciclo, labilidade da onda T, relao
de arritmias com diversos tipos deestresse, etc.
Teste ergomtrico.Pode mostrar aumento do intervalo QT ou a
ausn-cia de encurtamento durante o esforo. Estas reaes so anormais
e suge-rem a presena da sndrome do QT longo. Alm disso, pode ser
til para
mostrar o surgimento de arritmias com o estresse fsico e para
controle daresposta teraputica ao tratamento com betabloqueadores e
marca-passo.
Eletrocardiograma de alta resoluo.No tem aplicao especfica
nasndrome do QT longo, pois as arritmias no dependem de reas de
con-duo lenta.
Ecocardiografia e ressonncia magntica.So teis para confirmar
aausncia de anormalidades estruturais ou para avaliar cardiopatias
asso-ciadas. Todavia, no tm participao especfica no diagnstico ou
avalia-o prognstica da sndrome do QT longo.
Estudo eletrofisiolgico intracardaco.Tem indicao limitada
porque,na maioria dos casos, as arritmias da sndrome do QT longo no
soreprodutveis pelo estudo eletrofisiolgico clssico.
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Estudo gentico.Ainda no utilizado rotineiramente, porm, o
diag-nstico e a estratificao de risco da sndrome do QT longo atravs
des-tes estudos esto sendo definidos, devendo ser largamente
utilizados emfuturo prximo30.
Tratamento
Sndrome do QT Longo Congnita
Todos os pacientes (sintomticos, assintomticos e portadores
silen-ciosos de genes) devem reduzir acentuadamente a atividade
fsica. Osesportes competitivos esto contra-indicados. Uma certa
liberdade paraesportes recreacionais no competitivos pode ser
considerada, com cau-tela, para os portadores da sndrome do QT
longo tipo 3. Esto absoluta-mente contra-indicados os medicamentos
e substncias que prolongam arepolarizao, tais como os bloqueadores
dos canais de potssio que po-dem induzir torsade de pointes, mesmo
em casos assintomticos. Da mes-
Fig. 5.15 Caso de sndrome do QT longo tipo 1. Observam-se as
ondas T amplas,monofsicas. Este paciente, com 12 anos de idade,
apresentou dois episdios de parada
cardaca. O intervalo QT medido (620ms) e o QT corrigido (567ms)
so bastante
prolongados. O intervalo QT corrigido > 500ms indicador de
alto risco. O traado inferior
mostra o incio de crises de taquicardia tipo torsade de pointese
foi obtido por ocasiodo ingresso na UTI.
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ma forma, tambm devem ser evitados os simpaticomimticos.
reco-mendvel que estes pacientes sejam portadores de um documento
com alista dos medicamentos proibidos.
Tratamento farmacolgico. Baseia-se no uso de betabloqueadores.
Es-
tudos retrospectivos tm mostrado benefcio inquestionvel. Numa
destasanlises, foram avaliados 233 pacientes sintomticos (sncope ou
recupe-rados de morte sbita) em seguimento de 15 anos. A
mortalidade foi 9% nogrupo tratado com betabloqueadores ou
denervado cirurgicamente (retiradado gnglio estrelado esquerdo)
contra 60% no grupo sem tratamento31.
Outras drogas.Foi demonstrado que a espironolactona, potssio
porvia oral, uma nova droga Nicorandil e o mexiletine apresentam
re-sultados variveis, no podendo ser recomendados como alternativa
tera-putica definitiva.
Denervao cirrgica. Est indicada essencialmente nos casos que
con-tinuam com sncope, apesar de uso regular com dose plena de
betablo-queadores ou quando h impedimento para a terapia
farmacolgica (por-tadores de bronquite asmtica, por exemplo).
Marca-passo cardaco.Est indicado nos casos com bloqueio AV e
sem-pre que existam arritmias ventriculares deflagradas ou
agravadas por bra-dicardia ou pausas. Podem ter especial indicao em
conjunto com a te-rapia betabloqueadora para evitar bradicardia
resultante da prpria aofarmacolgica.
A estimulao cardaca numa freqncia acima da freqncia
sinusalespontnea pode, reflexamente, inibir a ao simptica. Desta
forma, asobre-estimulaocom marca-passo parece ser altamente
promissora e estsendo clinicamente avaliada.
Desfibrilador-Cardioversor implantvel.Est indicado nos
sobreviven-tes de parada cardaca (indicao secundria). Sua indicao
primria,entretanto, ainda no est definida. Alm de ter a vantagem de
reverter umaeventual arritmia letal, o desfibrilador tambm inclui
os benefcios advin-
dos da estimulao cardaca devido sua funo marca-passo.Finalmente,
at o momento no existem dados que permitam determi-nar o valor do
tratamento farmacolgico profiltico em indivduos assin-tomticos com
intervalo QT prolongado e em portadores silenciosos degenes.
Entretanto, a evidncia crescente de que o primeiro sintoma pode
sera morte sbita sugere que devemos iniciar a terapia
betabloqueadora emtodos os portadores potenciais da sndrome com
intervalo QT prolongado.
Sndrome do QT Longo Adquirida
Neste caso, fundamental a eliminao do fator causal com a
retira-da de condies precipitantes e a correo de anormalidades
metablicas
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(hipocalemia por exemplo). Numa condio de emergncia, outras
me-didas podem ser necessrias, dependendo da gravidade do
quadro:
Na presena de extra-sistolia ventricular polimrfica ou de
torsade depointes,recomenda-se iniciar com injeo endovenosa de
sulfato de mag-nsio (2g/2minutos, repetindo-se, se necessrio, 15
minutos aps). ne-cessria ateno especial com possvel depresso
respiratria
Recomenda-se aumentar a freqncia cardaca basal. Isto pode ser
ob-tido com isoproterenol endovenoso, porm mais adequado a inserode
um marca-passo provisrio, aumentando-se a freqncia cardaca atque o
intervalo QT corrigido se torne menor que 0,45s.
A hipocalemia deve ser prontamente corrigida. Entretanto,
mesmocom o potssio extracelular normal, pode haver benefcio com uma
su-plementao adicional. A administrao de potssio intravenoso na
dose
de 0,5meq/kg (mximo de 40meq) pode aumentar a concentrao desteon
em 0,7meq/l (corrigindo a durao do QT e as anormalidades da ondaT),
favorecendo o controle das arritmias;
Na intoxicao por quinidina, a alcalinizao do plasma atravs da
in-fuso de bicarbonato de sdio bastante til. Tem efeito imediato na
re-duo da quinidina livre pelo fato de promover sua imediata ligao
comas protenas plasmticas, reduzindo o intervalo QT. necessrio,
entre-tanto, estar atento ao surgimento de hipocalemia, que dever
ser imedia-tamente corrigida.
Drogas do grupo IB como o mexiletine e a difenilidantona
reduzemo intervalo QT e podem ser teis como medida complementar no
trata-mento imediato de condies crticas.
Resumo
A sndrome do QT longo uma anomalia eletrofisiolgica associadacom
alto risco de morte sbita. Pode ser congnita ou adquirida.
As arritmias so extra-sstoles ventriculares polimrficas,
taquicardia
ventricular bidirecional, taquicardia ventricular polimrfica
tipo torsadede pointese fibrilao ventricular.
A histria pregressa de sncopes, morte sbita recuperada, morte
s-bita de parente prximo, intervalo QT corrigido > 500ms e a
presena desurdez congnita, sindactilia, anormalidades esquelticas e
paralisia mus-cular peridica so preditores de alto risco.
A forma congnita ocasionada pelo menos por sete anomalias
gen-ticas conhecidas que bloqueiam os canais de potssio (tipos 1,
2, 4, 5, 6 e7) ou liberam o canal de sdio (tipo 3).
O tipo 1 geralmente tem crises por estresse fsico, o tipo 2 por
estres-se mental e o tipo 3 (o mais grave, allica da sndrome de
Brugada) tendea apresent-las mesmo em repouso e durante o sono.
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Atividade fsica competitiva est contra-indicada.Os
betabloqueadores e o marca-passo esto recomendados como pre-
veno primria.Os desfibriladores-cardioversores implantveis esto
indicados nos
casos recuperados de morte sbita ou quando sintomas graves
persistemcom o tratamento farmacolgico.
A sndrome do QT longo adquirida deve ser tratada com a retirada
dosfatores causais.
Taquicardia Ventricular Polimrfica Catecolaminrgica
Esta entidade clnica foi descrita por Coumel em 1978.
caracteriza-da por taquicardia ventricular polimrfica induzida por
ao adrenrgica
em portadores de corao estruturalmente normal e intervalo QT
normal.Os pacientes tm histria pregressa de sncopes e histria
familiar de sn-copes e morte sbita em 33% dos casos.
Eletrocardiograma
O eletrocardiograma em ritmo sinusal no apresenta nenhuma
anor-malidade especfica. A taquicardia polimrfica (Fig. 5.16-A),
porm oscomplexos QRS podem assumir um padro tipicamente
bidirecional (Fig.
5.16-B) (esta morfologia tambm pode ser observada na sndrome do
QTlongo). Durante o teste ergomtrico ou infuso de isoproterenol,
freqen-temente possvel reproduzir a taquicardia que surge comumente
comfreqncia sinusal maior que 120bpm.
Etiologia e Fisiopatologia
O estudo familiar mostra um padro de transmisso monognica
au-tossmica dominante. O mapeamento gentico e o comportamento da
ta-
quicardia sugerem que seja provavelmente originada por anomalia
dogene que codifica a protena que constitui os receptores
ryanodina. Estesreceptores regulam a sada do clcio do retculo
sarcoplasmtico para ocitoplasma, permitindo o acoplamento
excitao-contrao. Recentemen-te, Priori e cols. demonstraram
claramente a anomalia gentica destes re-ceptores (RyR2) em quatro
famlias portadoras de taquicardia ventricularpolimrfica
catecolaminrgica33.
Quadro Clnico e Avaliao de Risco
Os principais dados so provenientes do estudo de Leenhardt
eCoumel. Existe histria familiar de sncope ou morte sbita em 33%
dos
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casos, e os sintomas aparecem em mdia aos 7,8 4 anos. A maior
partedos bitos ocorre na segunda dcada da vida. A avaliao de risco
feitaessencialmente pelo quadro clnico, pois as taquicardias no so
induzi-das por estimulao ventricular; entretanto, o estudo
eletrofisiolgico in-vasivo pode mostrar a ausncia de outras
etiologias e a reprodutibilidadeda taquicardia com infuso de
isoproterenol.
Tratamento
Existem poucos dados para definir uma conduta teraputica
seguranesta patologia; contudo, recomenda-se suspender a atividade
fsica e otratamento ininterrupto com betabloqueadores. Nos casos
graves, a mor-talidade alta mesmo sob tratamento clnico adequado,
sendo necessrioo implante de um desfibrilador-cardioversor
automtico (aproximada-mente 30% dos pacientes).
Resumo
A taquicardia ventricular polimrfica catecolaminrgica uma doen-a
rara, familiar, com transmisso autossmica dominante e causa demorte
sbita em crianas e adolescentes.
A forma tpica aparentemente se deve a anomalia gentica dos
receptoresryanodina que controlam a liberao de clcio do retculo
sarcoplasmtico.
A disfuno promove aumento de clcio intracelular, o que
favoreceas taquiarritmias ventriculares por atividade
deflagrada.
O tratamento feito com bloqueio adrenrgico (suspenso de
ativida-de fsica e uso de betabloqueadores).
Os casos graves (sintomas muito precoces e morte sbita de
parenteprximo) devem ser tratados com implante de
desfibrilador.
Fig. 5.16 Taquicardia ventricular catecolaminrgica polimrfica
(A) e bidirecional (B).Observa-se a evoluo para fibrilao
ventricular nos dois casos. Publicado por Priori e cols.32
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Taquicardia Ventricular do Corao Normal
O aspecto mais interessante deste tipo de arritmia que, exceto
pelofoco da arritmia, o corao normal sob os pontos de vista
estrutural, fun-
cional e eletrofisiolgico. Se considerarmos que sua manifestao
maiscomum na forma de extra-sstoles do mesmo foco, veremos que se
tra-ta de uma arritmia muito freqente e de grande relevncia clnica
pelogrande nmero de consultas cardiolgicas. Desta forma, a
denominaomais adequada seria taquiarritmia ventricular do corao
normal.
Tipos de Taquiarritmia Ventricular do Corao Normal
Quanto durao, pode se apresentar na forma de extra-sstoles
iso-
ladas, pareadas, taquicardia ventricular no-sustentada
repetitiva (conhe-cida como taquicardia de Gallavardin) e,
finalmente, numa forma maisrara, como taquicardia ventricular
sustentada, todas originadas do mesmofoco (Fig. 5.17).
Quanto origem, podem ser do ventrculo direito (a mais freqente)e
do ventrculo esquerdo (incomum).
Quadro Clnico
Grande parte dos pacientes totalmente assintomtica, sendo a
arrit-mia descoberta em exames admissionais, pr-natais, escolares
ou pr-ope-ratrios. Quando sintomticos, a queixa praticamente
constante em
Fig. 5.17 Traado de Holter mostrando a taquiarritmia ventricular
do corao normal. Nomesmo minuto observam-se trs formas:
extra-sstoles isoladas, pareadas e taquicardia
ventricular no-sustentada. Este padro pode se repetir pelas 24h
do Holter, porm
freqentemente ocorrem longos perodos sem nenhuma arritmia.
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todos os casos a palpitao. Comumente as extra-sstoles isoladas
sosuficientes para que muitos pacientes tenham sintomatologia
altamentedesconfortvel e incapacitante. As tonturas so menos
freqentes e as sn-copes so raras. Como regra, exceto pelo ritmo, o
exame cardiolgico
totalmente normal.Localizao do Foco Arritmognico
A localizao mais freqente na via de sada do ventrculo
direito,geralmente logo abaixo da valva pulmonar, comumente na face
septal.Entretanto, o foco pode estar localizado em qualquer parte
da circunfe-rncia, que compreende a seco transversal da via de
sada. Esta locali-zao gera a morfologia mais freqente, que de
bloqueio completo de
ramo esquerdo com eixo desviado para baixo (Fig. 5.18). Outras
locali-zaes menos freqentes so o ventrculo esquerdo, principalmente
logoabaixo da valva artica, nos seios coronrio e no-coronrio. Esta
locali-zao produz a morfologia de bloqueio completo de ramo direito
comeixo desviado para baixo e para a direita.
Em nossa srie de 68 pacientes, observamos que a localizao do
foco arrit-mognico foi ventrculo direito em 47 pacientes (69%),
sendo Via de Sada/VD:81%; para-Hissiana: 10%; outros: 9% e
ventrculo esquerdo em 21 pacien-tes (31%), sendo Via de Sada do VE:
47%; septo apical: 26%; outros: 17%.
Mecanismo
O mecanismo desta arritmia ainda controverso. Alguns casos
tmcomportamento sugestivo de micro-reentrada. Outras vezes levam a
crerque se trata de atividade deflagrada. Esta origem reforada pela
sensi-bilidade desta arritmia a verapamil, adenosina e
betabloqueadores. Noobstante, o dado mais significativo que a
origem focal, de pequena ex-
tenso, podendo ser totalmente eliminada com pequenas leses de
ablaopor radiofreqncia.
Diagnstico
fundamental que se afastem a hipertrofia, a isquemia, a
cardiomio-patia dilatada, as condies agudas como a miocardite e os
distrbios ele-trolticos, as canalopatias (sndrome do QT longo,
sndrome de Brugadae a taquicardia ventricular polimrfica
catecolaminrgica) e a displasiaarritmognica do ventrculo direito.
Neste caso, o teste ergomtrico, oecocardiograma, o
eletrocardiograma de alta resoluo e a ressonnciamagntica so exames
decisivos. Na maioria dos casos, o eletrocardiogra-
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ma to tpico que no necessrio realizar todos os exames para se
con-cluir o diagnstico.
Eletrocardiograma. norma