Page 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
NÚCLEO DE ESTUDOS DO SEMI-ÁRIDO - NESA
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE- PRODEMA
Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e
plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofídicas
Jeane Carvalho Vilar
Orientadores: Dr. Angelo Roberto Antoniolli
Dra. Maria de Fátima Domingues Furtado
2004
id23906406 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com
Page 2
ii
Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e
plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofídicas
Jeane Carvalho Vilar
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente� Prodema � Nesa, Universidade Federal de Sergipe, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre
em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
2004
id23897093 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com
Page 3
iii
Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e
plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofídicas
Jeane Carvalho Vilar
Banca Examinadora
Dr. Celso Morato de Carvalho
Universidade Federal de Sergipe - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
Dra. Maria de Fátima Domingues Furtado
Instituto Butantan- Secretaria da Saúde de São Paulo
Dr. Angelo Roberto Antoniolli
Universidade Federal de Sergipe
27.ii.2004
Page 4
iv
Dedico este trabalho aos meus
queridos pais: Joel e Hélia
Page 5
v
Agradecimentos
Ao Dr. Celso Morato de Carvalho, Universidade Federal de Sergipe, pelo constante
apoio, auxílio na bibliografia e, principalmente, pela agradável companhia durante a
execução do trabalho.
A Dra. Maria de Fátima Domingues Furtado, Instituto Butantan, São Paulo, que
orientou e incentivou a pesquisa em todas as fases, auxiliou na bibliografia e pela gentil
acolhida que tive no Instituto Butantan.
Ao Dr. Paulo Emílio Vanzolini, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo,
pelas sugestões, auxílio na bibliografia e, principalmente, pela amizade.
A Dra. Vera Lúcia Gomes Klein, Universidade Federal de Goiás e Dra. Lúcia Rossi,
Instituto de Botânica, São Paulo, que identificaram as plantas das famílias Cucurbitaceae e
Euphorbiaceae.
A médica veterinária Gina Maria Freire Brandão Linofi, Vigilância Epidemiológica,
Secretaria Estadual de Saúde de Sergipe, pelas informações dos acidentes ofídicos.
Ao Dr. José Wellington Carvalho Vilar, Centro Federal de Educação Tecnológica de
Sergipe, pelas valiosas sugestões.
Ao MSc. Clóvis Roberto Pereira Franco, que auxiliou nas edições de fotografias; Dr.
Carlos Dias da Silva Júnior e Dr. Angelo Roberto Antoniolli, professores da Universidade
Federal de Sergipe, que deram suporte durante as fases experimentais do trabalho.
Page 6
vi
Sumário
Resumo............................................................................................................................ xiii Abstract........................................................................................................................... xiv Introdução....................................................................................................................... 01 Literatura........................................................................................................................ 04
A origem e evolução do estudo dos venenos ofídicos............................................. 04 Plantas medicinais e ofidismo................................................................................... 09
Materiais e Métodos...................................................................................................... 14
1. Epidemiologia......................................................................................................... 14 2. Parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca.................................. 15 3. Verificação da eficácia das plantas..................................................................... 18
Resultados....................................................................................................................... 22
1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos.................................................................. 22 2. Parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca.................................. 33
Dose letal (DL50) ................................................................................................... 33 Dose mínima hemorrágica (DMH)...................................................................... 36
3. Eficácia das plantas............................................................................................... 37 Dose letal (DL50) ................................................................................................... 37 Inibição da letalidade........................................................................................... 38 Inibição da hemorragia local............................................................................... 44
Discussão......................................................................................................................... 60
1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos.................................................................. 60 2. Parâmetros biológicos do veneno botrópico....................................................... 70 3. Eficácia das plantas em inibir os efeitos do veneno de Bothrops jararaca..... 79
Conclusões....................................................................................................................... 87 Referências...................................................................................................................... 89 Apêndices........................................................................................................................ 98
Page 7
vii
Lista de tabelas
Tabela 1. Distribuições de freqüências do número de ampolas de soros antiofídicos
utilizados em Sergipe................................................................................... 26
Tabela 2. Coeficientes de incidência anuais dos acidentes ofídicos em Sergipe (1999-2002)............................................................................................................. 27
Tabela 3. Distribuição anual dos acidentes ofídicos por gênero de serpente.................. 27
Tabela 4. Distribuições de freqüências dos acidentes ofídicos por idade, sexo............... 27
Tabela 5. Sazonalidade dos acidentes ofídicos: proporção entre períodos seco (verão)
e chuva (inverno)........................................................................................... 28
Tabela 6. Acidentes ofídicos: associações entre sexo dos acidentados, período
analisado e sazonalidade............................................................................... 28
Tabela 7. Proporções dos acidentes ofídicos por região.................................................. 29
Tabela 8. Distribuições de freqüências dos acidentes ofídicos por regiões (1999-2002).............................................................................................................. 29
Tabela 9. Acidentes ofídicos, Sergipe (1999-2002): sintomas locais mais freqüentes
nas três horas do acidente e após este período.............................................. 31
Tabela 10. Envenenamentos ofídicos, Sergipe: alterações locais e sistêmicas................ 32
Tabela 11. Classificação de acidentes ofídicos de Sergipe quanto à gravidade dos
casos.............................................................................................................. 32
Tabela 12. Bothrops jararaca, proporção entre camundongos mortos e inoculados após 24 horas de observação......................................................................... 34
Tabela 13. Bothrops jararaca, DL50 do veneno: programa probítico da OMS............... 34
Tabela 14. Bothrops jararaca, valores probíticos do número de camundongos mortos
(y) sobre a concentração de veneno (x): programa probítico da OMS......... 34
Tabela 15. Bothrops jararaca, estatística da regressão do número de camundongos
mortos (y) sobre a concentração de veneno (x): comparações entre retas.... 34
Tabela 16. Bothrops jararaca, DL50 do veneno: comparações entre retas e programa
probítico da OMS.......................................................................................... 35
Tabela 17. Bothrops jararaca, diâmetro da área hemorrágica........................................ 36
Page 8
viii
Tabela 18. Bothrops jararaca, estatística da regressão do diâmetro da área
hemorrágica (mm) sobre a concentração de veneno.................................... 36
Tabela 19. Dose letal 50% (DL50) dos extratos das plantas............................................. 37
Tabela 20. Bothrops jararaca, homogeneidade entre os grupos controles: estatística
da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................... 38
Tabela 21. Bothrops jararaca, homogeneidade entre grupos controles: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)....................................................................... 38
Tabela 22. Apodanthera villosa, estudo piloto: estatística da distribuição de
freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................................................ 39
Tabela 23. Apodanthera villosa, estudo piloto: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)........................................................................................ 40
Tabela 24. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h). 40
Tabela 25. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h).................................................................................. 40
Tabela 26. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do tempo de
sobrevida dos camundongos (h)................................................................... 40
Tabela 27. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).... 41
Tabela 28. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................................................... 41
Tabela 29. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do tempo
de sobrevida dos camundongos (h).............................................................. 41
Tabela 30. Apodanthera glaziovii, Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h).................................................................................................................. 42
Tabela 31. Jatropha mollissima, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h). 42
Tabela 32. Jatropha mollissima: estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h)................................................................... 42
Tabela 33. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do tempo de
sobrevida dos camundongos (h)................................................................. 43
Tabela 34. Jatropha elliptica, Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h)..... 43
Page 9
ix
Tabela 35. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 44
Tabela 36. Apodanthera villosa, homogeneidade entre grupos controles: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 44
Tabela 37. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 45
Tabela 38. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro
da área hemorrágica (mm)......................................................................... 45
Tabela 39. Apodanthera villosa, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).............. 45
Tabela 40. Apodanthera villosa, teste de Tukey , diâmetro da área hemorrágica
(mm)........................................................................................................... 45
Tabela 41. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre os grupos controles: estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área
hemorrágica (mm)...................................................................................... 47
Tabela 42. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 48
Tabela 43. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do
diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 48
Tabela 44. Apodanthera glaziovii, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 48
Tabela 45. Apodanthera glaziovii, teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica
(mm)........................................................................................................... 49
Tabela 46. Jatropha mollissima, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro
da área hemorrágica (mm), homogeneidade entre os grupos controles..... 51
Tabela 47. Jatropha mollissima, homogeneidade entre grupos controles: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 51
Tabela 48. Jatropha mollissima, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 52
Tabela 49. Jatropha mollissima, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro
da área hemorrágica (mm)......................................................................... 52
Tabela 50. Jatropha mollissima, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).............. 52
Tabela 51. Jatropha mollissima, teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm). 52
Page 10
x
Tabela 52. Jatropha elliptica, homogeneidade entre os grupos controles: estatística
da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)...... 54
Tabela 53. Jatropha elliptica, Anova, homogeneidade entre os grupos controles: diâmetro da área hemorrágica (mm).......................................................... 54
Tabela 54. Jatropha elliptica, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm)........... 55
Tabela 55. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da
área hemorrágica (mm).............................................................................. 55
Tabela 56. Jatropha elliptica, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).................. 55
Tabela 57. Jatropha elliptica, teste de Tukey (q), diâmetro da área hemorrágica
(mm)........................................................................................................... 56
Page 11
xi
Lista de figuras
Figura 1. Localização da região de Curituba, Sergipe..................................................... 18
Figura 2. Localização das regionais de saúde e os domínios morfoclimáticos das
regiões de Sergipe............................................................................................ 25
Figura 3. Regressão dos valores probíticos sobre as dosagens: comparações entre as
retas.................................................................................................................. 35
Figura 4. Apodanthera villosa, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e
veneno) e controle (veneno).......................................................................... 46
Figura 5. Apodanthera glaziovii, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato
e veneno) e controle (veneno)......................................................................... 50
Figura 6. Jatropha mollissima, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e
veneno) e controle (veneno)............................................................................ 53
Figura 7. Jatropha elliptica, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e
veneno) e controle (veneno)............................................................................ 57
Figura 8. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Apodanthera villosa e
Apodanthera glaziovii...................................................................................... 58
Figura 9. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Jatropha mollissima e
Jatropha elliptica............................................................................................. 59
Page 12
xii
Apêndices
Apêndice 1. Proporção de camundongos mortos/inoculados com relação à
concentração de extrato............................................................................ 99
Apêndice 2. Homogeneidade entre grupos controles: tempo de sobrevida (h)................ 100
Apêndice 3. Apodanthera villosa, estudo piloto: tempo de sobrevida (h)....................... 100
Apêndice 4. Apodanthera villosa: tempo de sobrevida (h).............................................. 101
Apêndice 5. Apodanthera glaziovii: tempo de sobrevida (h)........................................... 101
Apêndice 6. Jatropha mollissima: tempo de sobrevida (h).............................................. 102
Apêndice 7. Jatropha elliptica: tempo de sobrevida (h).................................................. 102
Apêndice 8. Apodanthera villosa: diâmetro da área hemorrágica (mm)......................... 103
Apêndice 9. Apodanthera glaziovii: diâmetro da área hemorrágica (mm)...................... 103
Apêndice 10. Jatropha mollissima: diâmetro da área hemorrágica (mm)....................... 103
Apêndice 11. Jatropha elliptica: diâmetro da área hemorrágica (mm)........................... 103
Apêndice 12. Diâmetro da área hemorrágica com relação à concentração de extrato..... 104
Apêndice 13. Espécies de plantas citadas como antiofídicas na literatura...................... 105
Page 13
xiii
Resumo
Foram analisados os aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos que ocorreram
em Sergipe no período 1999-2002 e verificado as ações de plantas indicadas popularmente
como antiofídicas na catinga, utilizando o veneno de Bothrops jararaca (Viperidae) como
modelo experimental.
No período analisado ocorreram 95 casos de acidentes ofídicos notificados; os
coeficientes de incidência anual variaram entre 0,16 a 0,88 casos por 10000 habitantes da
zona rural. Os homens foram mais atingidos; a maior ocorrência dos acidentes foi na faixa
etária até 20 anos; no período anual seco (setembro a abril) ocorreram mais acidentes.
Acidentes causados por Bothrops foram mais freqüentes (93%), seguidos por Crotalus
(5%) e Micrurus (1%). Dois acidentes notificados como tendo sido causado por Lachesis
provavelmente estão em erro. A soroterapia foi aplicada em pelo menos 65% dos casos, os
demais não constam nas notificações.
Para verificar as ações antiofídicas das plantas, primeiro foram determinados os
parâmetros biológicos das ações letais e hemorrágicas do veneno de B. jararaca, através de
comparações entre retas das regressões e análises probíticas. A DL50 do veneno foi 37.1g,
a DMH foi 0.24g; as doses-desafio utilizadas nos experimentos foram 2DL50(74.2g) e
5DMH (1.2g).
Três plantas da caatinga foram analisadas para verificar a inibição das ações
hemorrágicas e letais do veneno: Apodanthera villosa, batata-de-teiú (Cucurbitaceae);
Apodanthera glaziovii, cabeça-de-negro (Cucurbitaceae) e Jatropha mollissima, pinhão-
bravo (Euphorbiaceae). A planta Jatropha elliptica, batata-de-teiú (Euphorbiaceae),
coletada no cerrado do rio Tocantins (Peixe, To), também foi analisada. O extrato aquoso
da A. villosa (1mg) aumentou o tempo de sobrevida dos animais experimentais quando
comparado com os animais controles inoculados apenas com o veneno de B. jararaca. As
manchas hemorrágicas dos animais experimentais, inoculados com veneno mais os
extratos aquosos de A. villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg), A. glaziovii (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg), J.
mollissima (1.0, 3.0 e 6.0mg) e J. elliptica (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg), foram
significantemente menores do que os controles.
Page 14
xiv
Abstract
Epidemiological aspects of the ophidic accidents ocurred in Sergipe in the period of
1999-2002 were analysed and verified the actions of the �caatinga� plants popularly
indicated as antiophidic, using the venom of Bothrops jararaca as experimental model.
It was notified 95 cases of ophidic accidents in the analysed period; the annual
cofficient of incidence varied from 0.16 to 0.88 cases per10000 habitants in the rural zone.
Man were most hited; the major ocurrence of the accidents was in the age class up to 20
years; in the dry period (September to April) ocurred more accidents. Accidents caused by
Bothrops were the most frequent (93%); followed by Crotalus (5%) and Micrurus (1%).
Two accidents notified as beeing caused by Lachesis are probably in error. The
sorotherapy was applied in at least 65% of the cases, the others are not in the
notifications.
In order to verify the antiophidic actions of the plants, first it were determined the
biological parameters of the lethal and hemorragic actions of the venom of B. jararaca, by
comparisons between the regression lines and probitic analysis. The LD50 of the venom
was 37.1g, the MHD was 0.24g; the limit dose (dose-desafio) used in the experiments
were 2 LD50 (71.2g) and 5MDH (1.2g).
Three �caatinga� plants were analysed in order to verify the inhibiton of the
haemorragic and lethal actions of the venom: Apodanthera villosa, batata-de-teiú
(Cucurbitaceae); Apodanthera glaziovii, cabeça-de-negro (Cucurbitaceae) and Jatropha
mollissima, pinhão-bravo (Euphorbiaceae). The plant Jatropha elliptica, batata-de-teiú
(Euphorbiaceae), collected in the �cerrado� area of rio Tocantins (Peixe, To), was also
analysed. The aqueous extract of A. villosa (1mg) increased the survivorsip time in the
experimental animals when compared to control animals inoculated only with the venom
of B. jararaca. The hemorragic marks of the experimental animals, inoculated with venom
plus the aqueous extract of A. villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg), A. glaziovii (1.0, 3.0, 6.0 e
10.0mg), J. mollissima (1.0, 3.0 e 6.0mg) and J. elliptica (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg) were
significantly smaller then controls.
Page 15
1
Introdução
Ofidismo é o estudo do veneno de serpentes, cujo entendimento inclui não só os
aspectos relacionados à composição e ações destes, mas deve também englobar os demais
fatores diretamente relacionados aos envenenamentos, tais como, avaliações
epidemiológicas regionais dos acidentes ofídicos, análise dos parâmetros biológicos dos
venenos e aplicação da soroterapia (Vital Brazil, 1987; Raw et al., 1991; Furtado et al,
1991a, 1991b; Pinho & Pereira, 2001). Neste contexto, situam-se também as diversas
práticas populares utilizadas nos casos de envenenamentos por serpentes, dentre as quais,
a mais importante é a utilização das plantas medicinais regionais, como coadjuvantes à
soroterapia ou como medicamento alternativo aplicado na falta de recursos soroterápicos
(Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000; Mors et al, 2000; Cardoso, 2003).
Cerca de 300 espécies de serpentes estão distribuídas nas várias formações vegetais
da América do Sul; destas, aproximadamente 90 espécies são venenosas, pertencentes à
família Viperidae, repesentada por várias espécies dos gêneros Atropoides, Bothriechis,
Bothriopsis, Bothrocophias, Bothrops, Crotalus, Lachesis e Porthridium e família
Elapidae, com apenas um gênero sul americano, Micrurus, composto por diversas espécies
(Campbel & Lamar, 1989; Peters & Orejas-Miranda, 1986)
No Brasil, distribuídas em todos os domínios morfoclimáticos, ocorrem
aproximadamente 70 espécies de serpentes venenosas, pertencentes aos gêneros
Bothriopsis, encontradas na amazônia; Bothrops e Crotalus, na amazônia, caatinga,
cerrado e mata atlântica; Lachesis, na amazônia e mata atlântica e Micrurus, na amazônia,
caatinga, cerrado e mata atlântica (Peters & Orejas-Miranda, Vanzolini et al., 1980;
Vanzolini & Caleffo, 2002; Cunha & Nascimento, 1993). Estas espécies causam cerca de
vinte mil acidentes ofídicos por ano, com incidências que variam entre sete a vinte e quatro
casos anuais em cada cem mil habitantes, dependendo da região (Brasil, 1991,1999). Cerca
de noventa por cento dos acidentes são provocados por várias espécies do gênero Bothrops,
oito por cento dos envenenamentos são causados por Crotalus e, menos freqüentes, dois
por cento são causados por Micrurus e Lachesis (Brazil, 1901; Brasil, 1999; Amaral et al.,
id23886640 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com
Page 16
2
1986). Nas regiões mais carentes, com dificuldades de assistência à saúde, os índices de
acidentes ofídicos podem estar subestimados (Brasil, 1991,1999).
Apesar das estratégias do Ministério da Saúde em distribuir imunobiológicos, como
os soros antiofídicos, para as Secretarias Estaduais de Saúde, frequentemente os casos de
envenenamentos por serpentes (e outros animais) são tratados com preparados populares
feitos com plantas medicinais regionais. Muitas destas plantas estão identificadas, porém a
maioria nunca foi estudada para verificar suas ações e validar os usos, as quais são
indicadas por rezadores e raizeiros somente pelos nomes populares. Um problema sobre o
reconhecimento das plantas pelos nomes populares é que estes variam de região para
região, dificultando ainda mais os estudos. Por exemplo, as plantas cabeça-de-negro e a
batata-de-teiú são citadas na literatura como tendo propriedades antiofídicas, mas existem
pelo menos dez espécies com estes nomes, distribuídas em todas as regiões brasileiras
(Mors et al., 2000; Martz, 1992). Em 1998 foi criada a Subcomissão Nacional de
Assessoramento em Fitoterápicos (Conafit) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
do Ministério da Saúde. A Conafit recomenda que sejam realizados estudos sobre as
plantas medicinais regionais utilizadas popularmente, como forma de validar o uso das
plantas e proteger o patrimônio genético deste recurso natural (Brasil, 1999).
O presente estudo é sobre ofidismo, analisado sob três aspectos. O primeiro é uma
análise epidemiológica dos acidentes ofídicos que ocorrem na região de Sergipe, relatando
os índices de incidência por envenenamentos crotálico, botrópico, laquético e elapídico
ocorridos na região, bem como analisa as variáveis epidemiológicas associadas (Bochner
& Struchiner, 2003; Rouquayrol & Almeida Filho, 1999). O segundo é relacionado aos
parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca (Wied, 1824), cujos ensaios são
necessários para servirem como modelo (controle) na verificação da eficácia das plantas
estudadas. O veneno de B. jararaca foi escolhido como modelo porque não existe
disponível para estudo venenos das espécies de Bothrops da região e o veneno de
B.jararaca se ajusta perfeitamente para os objetivos do trabalho. O terceiro é com relação à
verificação da eficácia de plantas utilizadas popularmente como antiofídicas na caatinga de
Sergipe.
As metodologias da parte experimental são adequadas às questões para verificar se
os extratos das plantas inibem a hemorragia local causada pelo veneno botrópico e se
Page 17
3
diminuem o tempo de letalidade do veneno. Os aspectos bioquímicos, farmacológicos e
fisiológicos dos fenômenos observados são discutidos com base na literatura considerada
relevante no contexto das questões delimitadas no estudo. A epidemiologia dos acidentes
ofídicos da região de Sergipe é analisada entre 1999 a 2002, cujos dados estão
informatizados no Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde do Estado de
Sergipe. Os dados anteriores a 1999 não estavam disponíveis. O estudo como um todo �
plantas medicinais, veneno de B. jararaca e epidemiologia dos acidentes ofídicos �,
apresenta informações e discute resultados que, somados a outros, poderão contribuir com
as pesquisas da mesma linha que são realizadas por instituições acadêmicas, bem como
poderão contribuir com informações que possam ser utilizadas pelos órgãos
governamentais locais da área da saúde e meio ambiente.
A apresentação do trabalho está na seguinte seqüência: i) breve abordagem da
literatura sobre os aspectos populares e científicos do ofidismo e das plantas medicinais
utilizadas como antiofídicas. A literatura sobre ofidismo abrange a origem e a evolução do
estudo sobre os venenos de serpentes, até os estudos de Vital Brazil, porque após esta fase
os trabalhos tratam principalmente da bioquímica e da farmacologia, cuja literatura,
embora vasta, traz poucas informações gerais no contexto das questões da dissertação. A
literatura sobre plantas segue a mesma estratégia: uma abordagem sobre o conhecimento
popular das plantas, com base nas representações, até a década de 80, porque após este
período predominam os trabalhos sobre bioquímica e síntese dos produtos naturais das
plantas. Esta literatura é vasta e será melhor aproveitada nas discussões, ii) metodologia
do trabalho, descrevendo os métodos utilizados para a análise epidemiológica dos
acidentes ofídicos de Sergipe, mostrando a área de coleta das plantas, os protocolos
experimentais para os parâmetros biológicos do veneno e verificação da eficácia das
plantas; as estatísticas utilizadas são descritas em todas as análises, iii) resultados,
apresentados na seguinte ordem: 1. epidemiologia dos acidentes ofídicos; 2. parâmetros
biológicos do veneno de Bothrops jararaca � dose mínima hemorrágica (DMH) e DL50; 3.
eficácia das plantas � DL50, inibição da letalidade do veneno e inibição da hemorragia
local; iv) discussão dos resultados, v) conclusões gerais e vi) referências.
Page 18
4
Literatura
A origem e evolução do estudo dos venenos ofídicos
O conhecimento que os povos antigos tinham sobre ofidismo era fundamentado
principalmente nas representações, carregadas de simbolismos e em grande parte
religiosas. Dentre estas, destacava-se o mito de que as serpentes possuíam �espíritos
ruins�, os quais eram responsáveis pelos sintomas do envenenamento. Estes mitos não
impediram, entretanto, que Athanasius Kirsher, em 1675, incluísse várias espécies de
cobras na Arca de Noé idealizada por ele. Os escritos de Aristóteles (384 � 322 a.C.),
reunidos em nove volumes na sua �Historia animalium� e as descrições um tanto
fantasiosas de Plínio (23 � 79 d.C), reunidas em 37 volumes na sua �História Natural�,
foram os primeiros relatos sobre a história natural das serpentes, principalmente as
descrições de Aristóteles, que foi um grande zoólogo, o primeiro a classificar os
organismos com base nas características morfológicas (Goin, Goin & Zug, 1978; Medawar
& Medawar, 1977).
Os primeiros relatos sobre experimentos com venenos de serpentes foram publicados
em 1664 pelo italiano Francesco Redi (1626-1696). Ele relatou que o veneno das serpentes
se encontrava em um líquido amarelo, o qual fluía por sulcos através dos dentes. Redi
observou que alguns animais sobreviviam sem tratamento ao envenenamento por serpentes
e descreveu diferenças entre as venenosas e não-venenosas, utilizando os dentes como
principal caráter definidor. Estas diferenças foram também relatadas pelos naturalistas
ingleses John Ray em 1693 e Patrick Russel em 1787. Ray escreveu a clássica obra
�Synopsis methodica animalium quadrupedum et serpentini�, na qual diferencia as
serpentes peçonhentas das não peçonhentas (Goin, Goin & Zug, 1978; Habermehl, 1994;
Hawgood, 1999).
O primeiro experimento in vitro com venenos de serpentes foi realizado pelo inglês
Richard Mead, em 1708. Ele caracterizou o veneno de cobras no grupo dos ácidos, porque
associou algumas propriedades do veneno com compostos ácidos conhecidos na época. A
partir daí surgiu a idéia de que um álcali volátil, como o amoníaco, seria o antídoto para
venenos ofídicos.
Page 19
5
Um século após os experimentos de Francesco Redi, Ablé Felice Fontana (1730-
1805), também italiano, escreveu �Traité sur le vénin de la vipère�, um texto clássico de
toxinologia, traduzido do italiano e publicado em 1781. Ao lado dos trabalhos de Redi e
Mead, embora com muitos anos de diferença, os trabalhos de Fontana foram pioneiros em
utilizar a experimentação nos estudos sobre venenos de cobras. Felice Fontana descreveu a
glândula e o ducto de veneno, o sulco dos dentes e o mecanismo pelo qual as serpentes
articulam a boca e inoculam o veneno na presa. Ele descreveu também algumas ações
biológicas do veneno de Vipera berus (Viperidae), como a hemorragia e miotoxicidade,
além de ter demonstrado que o veneno de serpentes não era um ácido. Desse modo,
Fontana mostrou que o amoníaco utilizado nos envenenamentos ofídicos também não era
eficaz para neutralizar as ações do veneno de serpentes. Apesar disso, o uso do amoníaco
continuou a ser utilizado nos casos de envenenamentos durante os 100 anos seguintes
(Hawgood, 1995; Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000).
Um dos pioneiros nas pesquisas sobre os efeitos sistêmicos dos envenenamentos
ofídicos foi o médico inglês Joseph Fayrer (1824-1907). Ele trabalhou no Serviço Médico
da India e, em 1872, escreveu um tratado tão longo quanto o título �The thanatophidia of
India being a description of the venomous snakes of the Indian Peninsula with an account
of the influence of their poison on life and a series of experiments�. Fayrer relacionou com
o curare os efeitos do envenenamento por Naja naja (Elapidae) � bloqueio da junção
neuro-muscular. Em 1875 uma comissão médica da India apoiou definitivamente os
estudos de Fontana, Russel e Fayrer sobre a ineficácia do amoníaco em inibir o veneno de
serpentes e, em 1878, Brunton e Fayrer relataram que o permanganato de potássio destruía
in vitro a atividade letal do veneno de N. naja, mas não protegia completamente o
organismo quando submetido a altas doses de veneno (Hawgood, 1996, Otero, Fonnegra &
Jiménez, 2000).
Os estudos sobre a toxinologia de venenos ofídicos avançaram bastante durante a
segunda metade do século XIX. Em 1860, Silas Weir Mitchell descreveu a natureza
proteica do veneno de Crotalus horridus; em 1873, Brunton Fayrer relataram que a parada
respiratória era a causa da morte pelo envenenamento de C. horridus; em 1890, Victor
Razotzi mostrou experimentalmente que a parada respiratória causada pelo veneno de C.
Page 20
6
horridus era devido ao bloqueio da junção neuro-muscular, e que este veneno tinha ação
miotóxica sobre o músculo cardíaco e esquelético (Hawgood, 1996).
No Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1881, o fisiologista João Batista de
Lacerda relatou sobre a eficácia do permanganato de potássio (1%) em neutralizar in vitro
a ação letal do veneno botrópico. O estudo de Lacerda foi realizado independentemente
das pesquisas de Brunton e Fayrer de 1878, os quais também relataram o uso do
permanganato nos envenenamentos ofídicos. Embora ineficaz, o uso do permanganato foi
utilizado até o desenvolvimento da soroterapia (Brazil, 1911; Hawgood, 1996; Otero,
Fonnegra & Jiménez, 2000; Cardoso, 2003).
Quando o médico francês Albert Calmette (1863-1933) iniciou em 1891 seus
estudos sobre o veneno de Naja naja, no laboratório de Roux no Instituto Pasteur, nenhum
método era eficiente para neutralizar venenos de cobras. Fundamentado nas descobertas de
Behring e Kitassato sobre a imunidade contra as toxinas da difteria e tétano, publicadas
em 1890, Calmette verificou que doses repetidas do veneno de N. naja (recebido da
Indochina) injetadas em cavalos, conferiam imunidade aos animais. Estimulado pelos
resultados, Calmette aperfeiçoou o método para neutralizar o veneno de várias espécies de
serpentes e o seu eu protocolo foi adotado por Vital Brazil no Brasil em 1898, por
MacFarland nos Estados Unidos em 1899, por Tidswell na Austrália em 1901, por Lamb
na India em 1904 e por Ishizaka no Japão em 1907.
As pesquisas realizadas após a descoberta de Calmette apontaram para as
especificidades bioquímicas dos venenos, porque o soro elaborado com o veneno de Naja
não neutralizava o veneno de outras serpentes, nem mesmo as espécies da família
Elapidae. Calmette então formulou a hipótese de que os venenos de serpentes possuíam
dois tipos de proteínas (Hawgood, 1992, 1999; Vital Brazil, 1987): uma predominante nos
viperíneos, que era destruída pelo calor a 75-85oC, de alto peso molecular; outra
predominante nos elapídeos, mais resistente ao calor e de baixo peso molecular. Calmette
não testou a sua hipótese.
Coube ao médico brasileiro Vital Brazil Mineiro da Campanha dar continuidade aos
estudos de Calmette. Os experimentos de Vital Brazil sobre imunização de animais contra
o veneno de cobras foram iniciados em 1897, em São Paulo, num anexo do Instituto
Bacteriológico (posteriormente Instituto Serumterápico e atualmente Instituto Butantan,
Page 21
7
vinculado à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo). Vital Brazil foi quem
demostrou a especificidade do soro antiveneno e desenvolveu o soro monovalente contra o
veneno de Bothrops jararaca e Crotalus durissus terrificus (Hawgood, 1992; Vital Brazil,
1987; Raw & Sant´Anna, 2002).
Vital Brazil realizou vários estudos; no presente contexto destacam-se as suas
pesquisas sobre a catalogação das serpentes venenosas brasileiras, descrições da
morfologia dos dentes e glândulas de veneno, estudos sobre a toxicidade do veneno de
Crotalus durissus terrificus, Bothrops jararaca, B. alternatus e B. jararacussu para
determinar a dose letal (em microgramas) dos venenos e descrever os efeitos
fisiopatológicos dos envenenamentos (Brazil, 1901, 1901a). Num dos experimentos, ele
inoculou os venenos pelas vias gástrica (oral), hipodérmica, venosa, intramuscular e
intraserosa (intraperitoneal), utilizando pombos, cobaias, coelhos e cães. Ele distinguiu
dois fenômenos distintos das ações dos venenos sobre o organismo, os quais denominou
fenômenos locais e fenômenos gerais (sistêmicos), descrevendo também alguns sintomas
específicos.
Com relação à composição química dos venenos, Vital Brazil relatou a presença de
água, sais, materiais corantes e substâncias albuminóides, as quais considerou como partes
tóxicas do veneno. Após imunizar cães contra o veneno de cascavel e jararacas,
separadamente, ele verificou que o soro do animal imunizado contra o veneno da jararaca
não tinha ação sobre o veneno da cascavel, bem como o soro ativo contra o veneno
crotálico se mostrou inócuo sobre o veneno botrópico (Brazil, 1901b).
Atualmente o soro antiveneno ofídico é obtido de cavalos hiperimunizados contra o
antígeno correspondente � o veneno. Depois de aplicadas algumas doses, a concentração
de anticorpos é grande e o animal é sangrado. As hemácias são colocadas para decantar, o
soro é retirado e as hemácias devolvidas ao cavalo, para o animal não ficar anêmico. A
fração de imunoglobulinas é precipitada com sulfato de amônia e depois tratada com
pepsina para digerir as proteínas e remover o segmento Fc das moléculas de anticorpo;
estas neutralizam o veneno (Raw & Sant�Anna, 2002).
Vital Brazil abriu o caminho para os estudos sobre a toxinologia de venenos
ofídicos. A partir dos seus trabalhos no Instituto Butantan inicia-se uma nova fase (revisão
em Gutiérrez, 2002) na toxinologia de venenos de serpentes, com trabalhos cada vez mais
Page 22
8
voltados para estudos sobre a farmacologia e bioquímica dos venenos. Um dos trabalhos
pioneiros nesta área foi realizado por Slotta & Fraenkel-Conrat (1939), que purificaram e
cristalizaram a crotoxina, principal componente tóxico de várias espécies de Crotalus,
responsável pelas ações miotóxica e neutóxica do veneno crotálico. A descoberta da
bradicinina por Rocha e Silva, Beraldo & Rosenfeld (1949) inaugurou uma fase muito
importante na toxinologia de venenos ofídicos. A bradicinina, polipeptídeo isolado do
veneno de Bothrops jararaca, é liberada no plasma através da ação enzimática do veneno
botrópico e estimula a musculatura lisa, causando principalmente vasodilatação e aumento
da permeabilidade capilar.
Os trabalhos de Kondo et al. (1960) e Villarroel (1977) estabeleceram novos critérios
metodológicos das pesquisas sobre venenos de serpentes e soroneutralização cruzada. A
descrição da botroxina do veneno de Bothrops atrox, em 1976, por Stoker e Barlow, e os
trabalhos de Lomonte e Gutiérrez e colaboradores, nas décadas de 1980-2000, têm
contribuído com novas informações sobre os efeitos hemorrágicos causados pelo veneno
das viperíneas e crotalíneas, principalmente com relação ao estudo das miotoxinas
(proteínas com fosfolipase A2 da classe II) e metaloproteínas. Os trabalhos de Furtado e
colaboradores, realizados no Instituto Butantan nas décadas de 1980-90, estudaram vários
aspectos relacionados à variabilidade dos venenos de serpentes e propuseram
padronizações de métodos para verificar atividades indutoras de hemorragia, necrose,
edema e atividades caseinolíticas, bem como as atividades promotoras da coagulação do
fibrinogênio e do plasma.
A revisão mais recente sobre a toxinologia do veneno de serpentes foi realizada por
Gutiérrez (2002), a qual traz excelentes descrições dos principais estudos sobre a
composição química e mecanismo da ação das toxinas dos venenos de serpentes da
América do Sul. Gutiérrez descreveu as neurotoxinas dos venenos, as proteínas que afetam
a coagulação sanguínea, as inflamações e necroses musculares induzidas por toxinas dos
venenos, as metaloproteínas e fosfolipases. Além disso, ele analisou criteriosamente os
estudos sobre as novas terapias antiofídicas e estudos clínicos para compreensão da
fisiopatologia dos envenenamentos ofídicos, analisando também o desenvolvimento de
novas tecnologias para a melhoria da qualidade dos antivenenos produzidos nas
instituições sul-americanas.
Page 23
9
Plantas medicinais e ofidismo
O conhecimento sobre as plantas medicinais foi adquirido com base nas experiências
individuais e repassados pelas gerações através das representações populares. Os textos dos
babilônios, assírios e hebreus já traziam as utilizações terapêuticas de preparados com
plantas, mas foram os gregos quem sistematizaram o uso de plantas medicinais, através de
relatos contidos nas obras de Aristóteles (384-322 a.C.), Hipócrates (460-377a.C.) e
Teofrasto (370-285 a.C.).
Dentre os relatos importantes sobre fitoterapia, são relevantes as descrições de
Pedanius Dioscórides (século I d.C.), contidas no tratado �Matéria Médica� com cerca de
600 plantas medicinais conhecidas na época; as descrições do alquimista Celsius na obra
�De Medicina� que relata usos de plantas e demais preparados, inclusive algumas
prescritas como antídotos contra venenos de serpentes, e as descrições dos romanos Plínio
(61-113 d.C.) e Galeno (130-200 d.C.), as quais contêm diversos preparados de plantas
para tratamento de doenças, traumatismos e outras indicações, mais ou menos como
elaborados atualmente (Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000).
Durante a Idade Média houve uma sensível redução nos relatos sobre fitoterapia. Na
segunda metade do século XV e no final do século XVIII ressurgiram as obras sobre
plantas medicinais, com destaque para as idéias de Paracelso, explicadas na Teoria das
Assinaturas. De acordo com esta teoria, os deuses teriam colocado indicadores nas plantas,
como sinais para orientar os humanos a descobrir o valor curativo destas, os quais seriam
revelados por intuições e antropomorfias, através de tentativas e erros. Por exemplo,
poderiam servir como antiofídicas as plantas que apresentassem algum caráter que
lembrasse o zig-zag da locomoção de serpentes ou qualquer aspecto da planta ou dos
frutos e sementes que sugerissem alguma semelhança com cobras; as plantas que
apresentassem coloração avermelhada nos frutos, flores ou folhas serviriam como anti-
hemorrágicas, devido à semelhança com a cor do sangue (Otero, Fonnegra & Jiménez,
2000).
No Brasil, um dos primeiros relatos sobre o uso de plantas para inibir os efeitos de
envenenamentos por serpentes foi feito no século XIX, através das descrições das viagens
que os dois naturalistas bávaros Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Carl Friedrich
Page 24
10
Phillip von Martius (1794-1868) empreenderam por diversas regiões brasileiras entre
1817-1820, a convite da arquiduquesa Leopoldina, no contexto cultural da vinda de vários
naturalistas ao Brasil em meados do século XVIII (Vanzolini, 1996). Em 1818, Spix e
Martius relataram que no arraial do Rio Verde, Minas Gerais, usava-se uma planta
genericamente conhecida como cainca nos envenenamentos por Bothrops urutu
(Viperidae) (Sommer, 1953). Na caatinga e no cerrado a cainca é o nome comum que se dá
a várias espécies de plantas da família Rubiaceae, também conhecida como cipó-cruz e
caninana; na Amazônia é conhecida popularmente como raiz-preta (Chiococca anguifuga
Mart.) (= C. brachiata Ruiz & Pav.). Com a morte de Spix, seu fiel amigo Martius
prosseguiu o trabalho de catalogar os exemplares dele e descrever a flora brasileira em uma
coleção de 15 volumes, reunidos na �Flora Brasiliensis�, obra clássica publicada em 1882
por Martius, em Munique (Sommer, 1953; Vanzolini, 1996).
Os primeiros livros que descreveram as propriedades curativas das plantas
medicinais brasileiras foram �Ensaio sobre o cinchoeiro e sua influência nas virtudes da
quina�, escrito pelo português Bernardino Antonio Gomes em 1812, e o livro �Systema de
Matéria Medica Vegetal Brasileira�, escrito por Henrique Velloso D�Oliveira, em 1854
(Cardoso, 2003; D�Oliveira, 1854). Gomes cita a planta Aristolochia sp como antiofídica.
D�Oliveira comenta sobre o uso das plantas conhecidas pelas propriedades medicinais,
citando os nomes populares e científicos. Para acidentes ofídicos, ele relatou o uso da raiz
tuberosa da jararaca ou erva-de-santa-maria (Dracontium polyphyllum L., Araceae) (= D.
asperum C.Koch). Interessante é que o uso antiofídico desta planta era recomendado
devido à semelhança com a cor �sarapintada� das serpentes, de acordo com a Teoria das
Assinaturas, de Paracelso. As demais plantas citadas por D�Oliveira como tendo
propriedades antiofídicas foram: a raiz da Arisaema phythonium (= Zomicarpa phytonium
(Mart.) Schott, Araceae), planta da caatinga que os índios empregavam no local da picada
quando envenenados por cobras; a raiz de cipó-de-jarrinha ou milome (Aristolochia
antihysterica) (= A. triangularis, Aristolochiaceae); o alecrim-bravo (Hypericum
laxiusculum, Hypericineae); Eupatorium crenatum (= Mikania cordifolia, Asteraceae);
orelha-de-onça (Cissampelos ovalifolia Chodat & Hassl., Menispermaceae); a fruta-de-
pombo (Erythroxylon anguifugum, Erythroxylaceae); a erva-mular ou curraleira (Croton
sp, Euphorbiaceae) e o tuiuiá ou abobrinha-do-mato (Bryonia bonariensis ficifolio) (=
Page 25
11
Cayaponia bonariensis (Mill.) Mart. Crav., Cucurbitaceae). D�Oliveira cita no seu livro a
análise que Thomé Rodrigues Sobral fez da planta Aristolochia sp (citada Aristolochia
antihysterica), em Coimbra. Sobral encontrou �um princípio volátil aromático solúvel em
álcool, um princípio oleoso resinoso, um amargo análogo ao gentianino, uma porção
pequena de mucilagem, cal, potassa e ferro�, combinação que teria ação antiofídica
(D�Oliveira, 1854).
Ainda no final do século XIX, o botânico Schindler publicou no Rio de Janeiro um
catálogo das plantas medicinais brasileiras, com descrições das propriedades terapêuticas,
usos e doses administradas (Schindler, 1884). Ele relatou o uso de seis espécies de plantas
antiofídicas: i) a raiz do cipó-de-cobra (Cissampelos glaberrima St.Hill.,
Menispermaceae), ii) a raiz da orelha-de-onça (C. ebracteata, Menispermaceae), iii) o suco
do guaco (Mikania guaco Humb. & Bonpl., Asteraceae), iv) o suco da erva-de-cobra (M.
opifera) (= M. cordifolia Wild., Asteraceae), v) a raiz do para-tudo (Gomphrena officinalis,
Amaranthaceae), vi) o paracari ou hortelã-branco (Peltodon radicans Pohl, Labiatae).
Em 1888, Theodoro Peckolt e Gustavo Peckolt, pai e filho, escreveram um livro
sobre a história das plantas medicinais no Brasil, no qual constam descrições botânicas e
etnobotânicas, partes da planta utilizadas, composição química, usos industriais e
fitoterápicos e as doses utilizadas (Peckolt & Peckolt, 1888). Oito espécies de plantas,
pertencentes a 5 famílias, foram por eles descritas como antiofídicas: i) família Isoetaceae,
representada por Isoetes martii A. Braum, conhecida popularmente como batatinha-
d�água; ii) família Ophioglossaceae, representada por Ophioglossum palmatum Plum, cujo
nome popular é língua-de-víbora, é citada principalmente contra a mordida de �víboras�
(lagartos do gênero Diploglossus, que no imaginário popular vira cobra), e por Botrichium
virginicum Swartz, a língua-de-víbora-do-campo, iii) família Zamiaceae, representada por
Zamia brongniartii Wedd, popularmente conhecida como salgueiro-da-terra, da qual se
utiliza a goma do tronco contra mordidas de cobras, iv) famíia Commelinaceae,
representada por Tradescantia geniculata Velloso (= Gibasis geniculata (Jacq. Rohweder),
conhecida como trapoeiraba-efêmera, v) família Araceae, representada por Dracontium
polyphyllum L. (= D. asperum C. Kock, Araceae), popularmente conhecida como jararaca-
mirim; e Staurostigma luschnathianum C. Kock, popularmente conhecida como jararaca-
do-rio. Na maioria das preparações citadas por Peckolt & Peckolt (1888) eles
Page 26
12
recomendaram também o uso de cachaça com as plantas, cujas infusões deveriam ser
bebidas ou aplicadas no local da mordida da cobra. Em 1914, Gustavo Peckolt continuou o
estudo sobre a história das plantas medicinais e úteis do Brasil, que ele iniciou com seu pai
em 1888. Gustavo descreveu o uso das sementes do araticum (Annona furfuracea St.-Hill,
Anonaceae), cuja mistura com cachaça era indicada como um bom antídoto nos casos de
envenenamento por cascavel (Peckolt, 1914).
O brasileiro Manuel Pio Corrêa (1874-1934) foi naturalista do Jardim Botânico do
Rio de Janeiro e um dos pioneiros nos estudos sobre plantas medicinais. Todas as
informações relatadas por Pio Corrêa sobre a utilização das plantas foram reunidas em seis
volumes na clássica obra �Dicionário das plantas úteis do Brasil�, com a colaboração de
Leonam de Azeredo Penna. Cada espécie relatada apresenta uma diagnose, nomes
populares e informações sobre a utilização como alimento, aplicações industriais e
terapêuticas. As plantas citadas no dicionário como antiofídicas são (ver também Pio
Corrêa, 1909): a raiz do cipó-de-cobra (Cissampelus glaberrima St. Hil, Menispermaceae),
citada também por Shindler (1884); a erva-de-jararaca (Dracontium asperum C. Kock,
Araceae); as folhas de contra-cobra (Aegiphila salutaris H.B.K., Verbenaceae); a abutua-
miúda (Cocculus filipendula M., Menispermaceae); a contra-erva, calunga ou jarrinha
(Aristolochia trilobata, Aristolochiaceae); a batatinha-d�água (Isoetes martii, Isoetaceaea)
e o alecrim-bravo (Hypericum laxiusculum, Hypericineae). Estas duas últimas foram
também citadas por Peckolt & Peckolt (1888) e D�Oliveira (1854).
Silveira (1921) descreveu o uso do agrião-do-brejo, Eclypta alba (= E. prostrata (L.)
L. Asteraceae) contra picadas de serpentes, planta citada na literatura como antiofídica
desde 1882, quando Martius publicou a �Flora Brasiliensis�. Renato Braga escreveu um
também clássico trabalho sobre etnobotânica, �Plantas do Nordeste, especialmente do
Ceará� (Braga, 1960). Neste livro, ele relatou o uso de plantas indicadas nos casos de
envenenamentos por serpentes, como a raiz-preta (Chiococca anguifuga, Rubiaceae),
citada também por Martius em 1818; a milho-de-cobra (Dracontium asperum, Araceae),
também relatada como antiofídica por Pio Corrêa (1909); a língua-de-tiú (Casearia
sylvestris Swartz, Flacurtiaceae); a erva-de-cobra (Mikania cordifolia Willd, Asteraceae) e
o paracari ou hortelã-bravo (Peltodon radicans Pohl, Labiatae).
Page 27
13
Na década de 1980, houve um expressivo avanço nos estudos sul-americanos sobre
plantas medicinais, principalmente as antiofídicas: em vez de citar os usos das plantas
apenas com base nas representações populares, como ainda hoje ocorre na maioria das
publicações, os efeitos das plantas começaram a ser verificados biológica, bioquímica e
farmacologicamente, através de experimentos controlados (e.g. Pio Corrêa, 1909; Vieira,
1992; Caribé & Campos, 1997; Simões et al., 1998; Agra, 1996). Inicia-se então uma nova
fase, com trabalhos cada vez mais voltados para estudos sobre a bioquímica e síntese de
produtos naturais das plantas, como, por exemplo, a descoberta das cabenegrinas I e II,
substâncias isoladas de uma planta supostamente amazônica, que inativaram o veneno de
Bothrops atrox (Nakagawa et al.,1982).
No Brasil, o trabalho de Calixto e colegas, realizado em 1985, foi um dos pioneiros
nesta linha de experimentos controlados com plantas medicinais antiofídicas (ver Martz,
1992). Eles trabalharam com o extrato bruto de Mandevilla velutina (Apocynaceae) e o
veneno de B. jararaca, utilizando útero isolado de rato e verificaram que o extrato teve
ação sobre a bradicinina, um peptídeo hipotensor liberado pelo veneno de B.jararaca,
descoberto por Rocha e Silva e colaboradores em 1949. Assim foram os estudos com a
atropina, extraída de Atropa belladonna L. (Solanaceae), que protege o organismo contra
as ações sinérgicas da toxina F7 do veneno da mamba Dendroaspis polylepis polylepis
(Elapidae) e os trabalhos do químico de produtos naturais Walter Mors, cuja equipe de
colaboradores isolou os compostos wedelolactona, sitosterol e stigmasterol da planta
Eclipta prostrata L. (Asteraceae), mostrando que o extrato protegeu as ações miotóxicas
do veneno de Crotalus durissus, inibindo as ações das cininas. O estudo de Mors e
colaboradores utilizou preparações de músculo esquelético (Mors et al., 1989).
As melhores revisões sobre plantas antiofídicas são as de Martz (1992), sobre os
extratos de plantas com potencial em neutralizar as toxinas dos venenos de cobras, na qual
ele relata o uso de compostos isolados de plantas com ação antiofídica; Pereira et al.
(1994), sobre compostos isolados de plantas e descreve alguns prováveis mecanismos de
ação, e os estudos realizados por Castro et al. (1999) e Otero, Fonnegra & Jiménez (2000),
os quais verificaram a neutralização das ações dos venenos por alguns extratos de plantas
da Costa Rica e da Colombia, além de citarem cerca de 85 espécies de plantas utilizadas
como antiofídicas com base nos relatos populares.
Page 28
14
Materiais e Métodos
1. Epidemiologia
i) Coleta de Dados: Os dados para as análises epidemiológicas dos acidentes ofídicos
ocorridos em Sergipe foram obtidos nas fichas de notificação de acidente por animais
peçonhentos do Sinam Windows � versão 4.0\Documentação\Dicionário de
Dados\DICANIMAIS-DELPHI.doc 07/03/2002, os quais foram cedidos pela vigilância
epidemiológica da Secretaria da Saúde do Estado de Sergipe.
ii) Variáveis: Para as análises utilizei as seguintes variáveis: número de acidentes ofídicos
por ano, idade, sexo dos acidentados, tempo decorrido entre o acidente e o atendimento,
número de ampolas de soros antiofídicos (botrópico, crotálico, laquético e elapídico)
utilizadas durante o período e classificação quanto a gravidade do caso, segundo critérios
estabelecidos pela Fundação Nacional da Saúde (Brasil, 1999).
iii) Análise dos Dados: Para compor o quadro epidemiológico, inicialmente foram feitas as
distribuições de freqüências destas variáveis com relação ao município e mês de ocorrência
do acidente, tempo decorrido entre o acidente e o atendimento, partes do corpo atingidas e
às alterações locais e sistêmicas decorrentes dos envenenamentos ofídicos. Após verificar a
distribuição de cada variável, as seguintes análises foram feitas: i) a incidência dos
acidentes ofídicos (Rouquayrol & Almeida Filho, 1999) através do quociente entre o
número de casos ocorridos nas áreas rurais de Sergipe durante o período 1999-2002 e o
número de pessoas expostas, multiplicado pela população de referência, neste caso 10000
indivíduos, ii) as proporcões dos acidentes ofídicos com relação às diferentes regiões
ecológicas de Sergipe, idade e sexo dos acidentados e a sazonalidade dos acidentes, iii) os
sintomas (locais e sistêmicos) com relação ao tempo decorrido entre o acidente e a
soroterapia, iv) partes do corpo atingidas e gravidade dos casos. A estatística qui-quadrado
foi utilizada para verificar as hipóteses nulas de proporções iguais ou desiguais, conforme
o caso, e de homogeneidade entre as variáveis.
Page 29
15
2. Parâmetros biológicos do veneno de Bothrops jararaca
Os seguintes testes foram realizados para analisar os parâmetros biológicos do
veneno: dose letal 50% (DL50) e dose mínima hemorrágica (DMH). Estes testes são
importantes para verificar as doses-desafios e a eficácia das plantas em inibir o veneno.
i) Veneno: Mistura de veneno liofilizado de B. jararaca, procedente da Seção de Venenos
do Instituto Butantan. A mistura foi estocada e mantida a -20ºC até o momento de uso.
ii) Animais: Camundongos Swiss, não-isogênicos, de ambos os sexos, pesando entre 18 e
22 g. Os animais foram fornecidos pelo Biotério Central da Universidade Federal de
Sergipe.
iii) Dose Letal 50% (DL50): A DL50 é a unidade tóxica do veneno, definida como a
quantidade de veneno capaz de em 48 horas provocar a morte de 50% dos animais
inoculados por via intraperitoneal (Vilarroel, 1977). Com base na DL50 foi determinado a
concentração da dose-desafio dos experimentos de inibição da letalidade do veneno pelos
extratos.
iv) Experimentos e concentrações DL50: Fiz seis experimentos em dias diferentes para a
determinação da dose letal do veneno de B. jararaca; destes, quatro foram utilizados para
análises porque apresentaram relação mortos/nº de animais inoculados proporcional ao
aumento das concentrações do veneno. Os dois primeiros foram descartados porque as
doses não estavam bem determinadas e ficaram muito baixas (sobreviveram todos os
animais) ou muito altas (morriam todos os animais). As concentrações do veneno em todos
os experimentos foram: 23.0, 27.6, 33.1, 39.7 e 47.6 µg. O intervalo entre as doses foi
estabelecido com base na DL50 do veneno de B. jararaca já determinado no Instituto
Butantan, por isso a menor dose de 23.0µg, menor do que a DL50 do veneno, foi
estabelecida como um dos extremos; a partir desta foram determinadas as demais doses
utilizando um fator de diluição de 1.2 (padronizado para estudos com veneno). Para cada
concentração foram utilizados seis camundongos, inoculados via intraperitonial (i.p.) com
0,5 ml de veneno dissolvido em NaCl 0,9%.
Page 30
16
v) Análise dos dados DL50: A dose letal 50% do veneno foi determinada com base na razão
entre os camundongos mortos e o número total de animais inoculados com o veneno,
valores que expressam a freqüência com que uma observação está acima do valor esperado
na distribuição normal, conhecida como valores probíticos (Fisher, 1949). Foram
utilizados dois métodos para encontrar os valores probíticos: o primeiro foi através do
programa de computador elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para
determinar a regressão linear e a dose letal 50%; o segundo foi através de regressões
lineares, utilizando a variável dependente (y) como probit e a variável independente (x)
como log da dose, o �b� é o aumento dos valores probíticos de acordo com o aumento do
log da dose. Nos ensaios biológicos com venenos de serpentes, geralmente a distribuição
de freqüência da dose letal individual não é normal, quando a dose de veneno é colocada
na abscissa; para torná-la normal ou aproximadamente normal a dose foi transformada em
unidades logaritmizadas. Estas doses transformadas são freqüentemente chamadas
dosagens (Sokal & Rholf, 1995). As comparações entre os dois métodos foram feitas para
verificar se os resultados eram iguais. A seqüência de análise dos dados foi: i) para cada
experimento determinei a regressão linear e a DL50 no programa, ii) depois as doses foram
logaritimizadas e substituídas nas respectivas equações da regressão (x), para encontrar o
valor probítico de cada dose (y), iii) para cada experimento fiz uma regressão para verificar
correlações entre as doses e os valores probíticos, iv) após determinar a regressão para
cada experimento, fiz uma comparação simultânea entre as 4 retas das regressões
(Vanzolini, 1993), v) por último fiz uma análise probítica conjunta para encontrar a DL50
de todos os ensaios. O resultado da análise probítica conjunta foi comparado com a
equação geral das 4 retas para verificar e confirmar as análises (Fisher, 1949; Fisher &
Yates, 1953; Zar, 1996).
vi) Dose Mínima Hemorrágica (DMH): A dose mínima hemorrágica é definida como a
menor quantidade de veneno (g) capaz de produzir uma área hemorrágica de 10 mm de
diâmetro em animais experimentais (Castro et. al., 1999; Furtado et. al., 1991, Bolaños,
1984). Com base na DMH foi determinada a dose-desafio utilizada para testes de inibição
da hemorragia local do veneno pelos extratos.
Page 31
17
vii) Experimentos e concentrações DMH: Fiz cinco experimentos para determinar a DMH
do veneno de B.jararaca. Apenas dois experimentos foram utilizados para análise por
apresentarem resultados mais coerentes, com diâmetros da hemorragia cerca de 10mm e
proporcionais às concentrações do veneno. Os demais foram descartados, porque as doses
utilizadas eram muito baixas (os animais não apresentaram hemorragia) ou muito altas
(hemorragia maior do que 10mm). Experimento 1: concentrações 0.10, 0.14, 0.18, 0.22 e
0.26 µg. Experimento 2: concentrações 0.14, 0.18, 0.22, 0.26 e 0.30 µg. Para cada
concentração foram utilizados 4 camundongos. Os camundongos receberam injeções
intradérmicas no abdome com doses crescentes de veneno (0,1ml/animal) dissolvido em
NaCl 0,9%.
viii) Análise dos dados DMH: Duas horas após injetados, os camundongos foram
sacrificados, a pele removida e esticada em placa de vidro, sobre a qual a mancha
hemorrágica foi copiada em papel milimetrado. Ao redor da mancha hemorrágica forma-se
um edema, não copiado no papel. O número de quadrículas contidas na mancha é a área
hemorrágica, inferida através da área da circunferência a = ð r², transformada para
diâmetro = 2 √a/ð (Bolaños, 1984). A determinação da dose mínima hemorrágica foi feita
da seguinte maneira: i) análise de regressão, tendo sido encontrado duas equações, uma
para cada experimento, cujas variáveis dependentes são os diâmetros das áreas
hemorrágicas (y) e as independentes são as concentrações do veneno (x), ii) substituição da
variável dependente (y) por 10mm (diâmetro padrão da DMH), que constitui a dose
mínima hemorrágica, iii) as doses mínimas hemorrágicas foram praticamente idênticas
(0.23g e 0.24g), por isso os experimentos foram somado e feita uma análise conjunta
dos experimentos para encontrar a dose mínima hemorrágica do veneno. As análises
estatísticas seguiram os protocolos e algoritmos usuais (Vanzolini, 1993; Zar, 1996).
Page 32
18
3. Verificação da eficácia das plantas
Os seguintes ensaios foram realizados para verificar a toxicidade das plantas e testar
a eficácia destas sobre o veneno de B. jararaca: DL50, análise da letalidade e testes de
inibição da hemorragia comparados com grupos de controle.
i) Material botânico: As plantas utilizadas para verificar as ações antiofídicas foram
coletadas na região de caatinga de Curituba, Sergipe (09o41�S, 37o53�W) (Figura 1) durante
2002/2003, com base nas informações de benzedores e moradores locais. Adicionalmente,
foi incluída nas análises uma amostra de plantas da região do cerrado de Peixe, rio
Tocantins, no Estado homônimo, indicada popularmente na região como antiofídica e
conhecida como batata-de-teiú.
Curituba, Se: batata-de-teiú (Apodanthera villosa C. Jeffrey, Cucurbitaceae).
cabeça-de-negro (Apodanthera glaziovii Glaziou ex Cogniaux,
Cucurbitaceae).
pinhão-bravo (Jatropha mollissima (Pohl) Baill, Euphorbiaceae).
Peixe, To: batata-de-teiú (Jatropha elliptica (Pohl) Muell. Arg., Euphorbiaceae).
As plantas foram coletadas e herborizadas com material fértil para identificação. O
restante do material foi coletado em quantidades suficientes para preparar os extratos
aquosos. As cucurbitáceas foram identificadas no Departamento de Botânica da
Universidade Federal de Goiás; as euforbiáceas foram identificadas no Instituto de
Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Figura 1. Localização da região de Curituba, Sergipe.
Curituba
Rio São Francisco
Oceano Atlântico
Page 33
19
ii) Preparação do extrato aquoso: As raízes tuberosas de A. villosa , A. glaziovii, J.
elliptica e o caule de J. mollissima tiveram o seguinte tratamento para preparar os extratos:
1. secagem a 40oC em estufa, 2. trituração em moinho até a obtenção do polvilho, 3.
preparação dos extratos brutos por decocção, durante 10 minutos, de 200 gramas do
polvilho, 4. filtragem do extrato bruto, 5. liofilização do extrato filtrado. O pó liofilizado,
pesado para cada concentração e diluídos em salina, foi utilizado nos experimentos.
iii) Animais: Camundongos Swiss, não-isogênicos, de ambos os sexos (18-22g). Os
animais foram fornecidos pelo Biotério Central da Universidade Federal de Sergipe.
iv) Dose letal 50% (DL50): A DL50 de cada extrato também foi determinada com base na
razão entre os camundongos mortos e número total de animais inoculados com o extrato,
após 48 horas de observação, como realizado para o veneno. A dose letal 50% de cada
planta foi encontrada para selecionar as doses de extrato utilizadas nos ensaios biológicos
de inibição da hemorragia e da letalidade. As concentrações dos extratos foram
determinadas por tentativa e erro até encontrar a relação entre animais mortos e inoculados
proporcional às concentrações dos extratos. Foram realizados dez ensaios com as plantas,
com os seguintes intervalos de doses:
3 ensaios com A. villosa; concentrações 0.008-0.04g,
3 ensaios com A. glaziovii; concentrações 0.001-0.011g,
3 ensaios com J.mollissima; concentrações 0.0003-0.04g,
1 ensaio com J. elliptica; concentrações 0.01-0.03g.
v) Análise dos dados DL50 das plantas: Para cada concentração foram utilizados seis
camundongos. A estatística utilizada para verificação da DL50 foi a análise probítica
(Fisher, 1949; Fisher & Yates, 1953). Em cada ensaio, a variação entre animais mortos
com relação à concentração do extrato foi muito grande, dificultando encontrar a DL50. Por
isso somei os 3 experimentos de cada planta para encontrar um valor probítico mais
ajustado. Isto foi feito para A. villosa, A. glaziovii e J. mollissima. Para J. elliptica fiz só
um experimento, cujo resultado foi proporcional às concentrações e não julguei necessário
fazer repetições.
Page 34
20
vi) Inibição da letalidade: Para verificar a neutralização do veneno pelas plantas (ou
antivenenos) há a necessidade de ser selecionada uma dose-desafio, definida como a dose
suficiente para apresentar o efeito subliminar e máximo do veneno (Gutiérrez et al, 1990).
A dose-desafio do veneno de B. jararaca utilizada para verificar a inibição da letalidade
pelos extratos das plantas foi de 2DL50 (74.2g). Foram utilizados dois grupos nas
comparações: i) grupo controle - animais inoculados com 74.2g de veneno dissolvido em
NaCl 0.9%, ii) grupo experimental - animais receberam a mesma dose-desafio de veneno
do grupo controle incubado a 37oC com diluições diferentes de extrato em NaCl 0.9%,
durante 30 minutos. Cada camundongo foi inoculado via intraperitonial (i.p.) com 0,5 ml
da solução. Os animais foram observados durante 48 horas, com intervalos de 1hora para
registro do tempo de sobrevida (em minutos). As concentrações de cada extrato foram
determinadas após encontrar as DL50 correspondentes:
Apodanthera villosa: concentrações 0.74, 1.00 e 1.48mg,
Apodanthera glaziovii: concentrações 1.00, 1.48, 3.0 e 5.0mg,
Jatropha mollissima: concentração1.0mg,
Jatropha elliptica: concentrações 0.74, 1.00, 1.48, 5.0 e 10.0mg.
vii) Análise dos dados da letalidade: No caso dos experimentos de padronização das ações
biológicas do veneno havia um resultado esperado. Nos testes de letalidade, que avaliam o
tempo de sobrevida, o que se esperava era que durante as repetições os resultados fossem
próximos, para poder confiar no ensaio. A análise foi feita da seguinte forma: i) os
experimentos com as plantas foram repetidos 2-4 vezes, ii) cada repetição foi considerada
uma amostra, iii) cada amostra teve um grupo controle, iv) verifiquei a homogeneidade
entre os controles, para confirmar os experimentos, v) os controles de cada planta foram
agrupados para análise estatística, vi) verifiquei também a homogeneidade entre as
amostras dos grupos experimentais, para cada dose de extrato � consideradas homogêneas,
os dados eram agrupados, vii) nas análises finais ficaram para cada planta um grupo
experimental com 1-5 doses (dependendo da planta) e um grupo controle. As estatísticas
utilizadas foram análise de variância com um fator e teste t (de Student) para verificar a
significância entre duas amostras (Vanzolini, 1993; Zar, 1996).
Page 35
21
viii) Inibição da hemorragia local: Para verificar se os extratos neutralizavam a
hemorragia local do veneno de B. jararaca a dose desafio foi de 5DMH (1.2g). Foram
utilizados dois grupos nas comparações: i) grupo controle � animais inoculados com 1.2g
de veneno, ii) grupo experimental � animais injetados com quantidade constante de veneno
(1.2g), o qual foi incubado com diluições diferentes de extrato, durante 30 minutos a
37oC. Os camundongos receberam injeções intradérmicas no abdome com doses de extrato
e veneno ou só de veneno (0,1ml/animal), dissolvidos em NaCl 0,9%. Duas horas, após
injetados, os camundongos foram sacrificados, a pele removida e determinado a área
hemorrágica como na metodologia descrita para determinar a dose mínima hemorrágica.
As concentrações dos extratos foram as seguintes:
Apodanthera villosa: concentrações 1.0, 3.0 e 6.0mg,
Apodanthera glaziovii: concentrações 1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg,
Jatropha mollissima: concentração1.0, 3.0 e 6.0mg,
Jatropha elliptica: concentrações 1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg.
ix) Análise dos dados da inibição da hemorragia: O extrato de cada planta foi testado 2-4
vezes, com 3-4 concentrações diferentes. Foram realizados 8 experimentos com as quatro
plantas, com duas repetições por dose de extrato. Cada experimento teve um grupo
controle para comparação. Para análise segui os seguintes passos: i) como havia duas
repetições por dose, fiz para cada planta teste de homogeneidade entre as doses �
consideradas homogêneas, os dados eram agrupados nas análises seguintes, ii) cada
repetição do grupo experimental teve um grupo controle, então verifiquei também a
homogeneidade entre os controles de cada grupo experimental � se homogêneos, os dados
eram agrupados, iii) nas análises finais ficaram para cada planta: um grupo experimental
com 3-4doses (dependendo da planta) e um grupo controle. As estatísticas utilizadas foram
análise de variância com um fator e teste t (de Student) para verificar a significância entre
duas amostras (Vanzolini, 1993; Zar, 1996).
Para verificar se as próprias plantas não estavam também contribuindo para as
hemorragias, fiz alguns ensaios com os extratos isolados (sem o veneno), utilizando as
mesmas concentrações e três animais em cada dose: os extratos não causaram hemorragia.
Page 36
22
Resultados
1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos
A maioria dos acidentes ofídicos em Sergipe ocorreu na zona rural. Até a década de
1980 as notificações eram feitas através de prontuários nas unidades de saúde; após esta
época, o Ministério da Saúde recomendou o registro em prontuários próprios � as
notificações de acidentes por animais venenosos. A partir de 1999 estas notificações estão
informatizadas no setor de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde.
Além da soroterapia, os tratamentos ocasionados por envenenamentos ofídicos em
Sergipe incluem as rezas e benzeduras, preparados de contra-venenos e os preparados com
plantas, principalmente nas formas de infusão e decocção. A combinação destes
tratamentos é comum em Sergipe, não só com relação aos envenenamentos por serpentes,
mas todas as afecções são de alguma forma tratadas com combinações de métodos.
Preparados Populares
Os preparados populares para tratar envenenamentos ofídicos na região de Sergipe
são misturas elaboradas principalmente a base de plantas e materiais orgânicos diversos,
conforme informado pelas pessoas que comercializam estes produtos. Os componentes dos
preparados são mantidos em segredo e os produtos podem ser encontrados nas barracas
que vendem plantas medicinais nas feiras livres, nas casas de produtos agropecuários ou
comercializados por vendedores que anunciam produtos milagrosos específicos, como a
pomada da gordura de sucuri (Eunectes murinus L., 1758) e choque de poraquê
(Electrophorus electricus L., 1758), ambas para dores e reumatismos.
Os produtos e preparados recomendados para envenenamentos de cobras são
encontrados sob diversas formas: infusões de plantas com cachaça, onde as partes das
plantas, secas ou verdes, são colocadas no líquido sem serem processadas � as doses
variam de acordo com a gravidade do caso; infusões mistas, a base de plantas e outros
materiais orgânicos mantidos em segredo; misturas feitas por decocção de partes das
plantas; dose pó-de-caboclo, um contraveneno para cobras (e insetos também), elaborado a
base de plantas e fabricado em Feira de Santana, Bahia; permanganato de potássio em
id23875640 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com
Page 37
23
concentrações desconhecidas, que é vendido em pequenos frascos, cujas doses dependem
da gravidade do caso.
É comum também encontrar no comércio cobras conservadas na cachaça, cujo
conteúdo é indicado contra acidentes ofídicos. As espécies identificadas conservadas no
álcool são: as colubrídeas Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron & Duméril, 1854;
Leptodeira annulata L., 1758, Liophis poecilogyrus (Wied, 1825) a leptototiflopídea
Leptotyphlops sp e a elapídea Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820). O �Específico
Pessoa�, fabricado em Sobral, Ceará, com propaladas atividades antiofídicas, não é
comercializado na região de Sergipe.
As rezas e benzeduras também fazem parte dos tratamentos populares alternativos,
cujos ritos são praticados por benzedores locais, homens e mulheres. Fazem parte dos
rituais benzer as pessoas e partes vegetais que servem de amuleto contra picadas de cobras,
como a semente do cajú; rezar sobre a parte do corpo atingida pela serpente, benzer
líquidos (geralmente água) que devem ser bebidos de acordo com as prescrições, as quais
incluem doses certas e horários pré-estabelecidos que variam conforme o caso e o
benzedor. Humanos e animais, mais comumente eqüinos e bovinos, quando sofrem
acidentes ofídicos são tratados da mesma forma pelos benzedores.
Fitoterapia
Três plantas do semi-árido de Curituba e arredores são indicadas por benzedores e
moradores locais como tendo ações antiofídicas: batata-de-teiú (Apodanthera villosa
C.Jeffrey, Cucurbitaceae), cabeça-de-negro (Apodanthera glaziovii Glaziou ex Cogniaux,
Cucurbitaceae) e pinhão-bravo (Jatropha mollissima (Pohl) Baill., Euphorbiaceae). As
duas cucurbitáceas são muito semelhantes, ambas são trepadeiras, mas podem ser
encontradas também no chão, as flores são bem pequenas e têm raízes tuberosas, a da
batata-de-teiú é mais compridada. O preparado antiofídico com as cucurbitáceas é
elaborado com base na fécula da raíz, formando uma papa com a recomendação de ser
utilizada em doses baixas. O pinhão-bravo é um arbusto de 1- 3 metros de altura, bem
ramificado, casca do caule adulto acinzentado. Esta planta tem um látex muito branco, o
qual é indicado para beber direto da planta em caso de acidente ofídico.
Page 38
24
Estas foram as plantas da caatinga coletadas para verificação das atividades
antiofídicas. Em todas as feiras percorridas na região da caatinga de Sergipe e parte da
Bahia, até Feira de Santana, as plantas cabeça-de-negro e batata-de-teiú são conhecidas
como antiofídicas, mas várias espécies são confundidas sob estes nomes. Infelizmente não
foi possível coletar estas plantas para identificar, além do que o material fornecido pelos
feirantes estava preparado na forma de pó ou partes cortadas. Na região de Peixe, no rio
Tocantins, Estado homônimo, uma planta conhecida como batata-de-teiú (Jatropha
elliptica (Pohl) Muell. Arg., Euphorbiaceae) é indicada como antiofídica e foi também
testada a sua eficácia, juntamente com as plantas coletadas na região de Curituba.
Soroterapia
O soro antiofídico é, em Sergipe, aplicado na unidade regional de saúde mais
próxima de onde o acidente ocorreu. O caso é notificado e encaminhado para o setor de
vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde; posteriormente é arquivado no
setor de vigilância ambiental da saúde. No setor estadual de vigilância epidemiológica as
notificações dos acidentes ofídicos estão informatizadas de 1999 a 2002, de acordo com o
programa implantado em 2003 pelo Centro Nacional de Epidemiologia da Fundação
Nacional da Saúde � Sistema de Informação de Agravo de Notificação, Dicionário de
Dados � SINAN, Animais Peçonhentos. As informações anteriores a 1999 encontram-se
dispersas e de difícil acesso.
Em Sergipe funcionam seis regionais de saúde e uma metropolitana, com as
seguintes sedes: Regional Metropolitana � Aracaju, Hospital João Alves Filho; 1a Regional
� Estância, Hospital Regional Amparo de Maria; 2a � Itabaiana, Hospital Pedro Garcia
Moreno Filho; 3a � Maruim, Hospital de Maruim; 4a � Nossa Senhora da Glória, Hospital
João Alves Filho; 5a � Neópolis, Hospital de Neópolis; 6
a � Lagarto, Hospital Nossa
Senhora Conceição (Figura 2). São estes hospitais regionais que recebem os soros
antiofídicos da Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos
(Cenadi/Ministério da Saúde) através da Secretaria Estadual da Saúde de Sergipe, a qual os
repassa para as regionais de saúde onde os casos de acidentes ofídicos são encaminhados.
Page 39
25
Figura 2. Localização das regionais de saúde e os domínios
morfoclimáticos das regiões de Sergipe (segundo Ab�Saber, 1977). M =
Regional Metropolitana, Aracaju; I = 1a Regional, Estância; II = 2a
Regional, Itabaiana; III = 3a Regional, Maruim; IV = 4a Regional, Nossa Senhora da Glória; V = 5
a Regional, Neópolis; VI = 6a Regional, Lagarto.
De oeste para leste: caatinga (áreas hachuradas), agreste e mata atlântica.
Dentre os 95 casos de envenenamentos ofídicos registrados em Sergipe durante 1999
a 2002, observamos que: i) 61 dos acidentados (64%) receberam soroterapia, ii) foram
utilizadas 319 ampolas de soro antibotrópico, 46 de antibotrópico-crotálico, 6 de
anticrotálico e 10 de antielapídico, iii) 34 casos (36%) não estão notificados se receberam
ou não antivenenos, embora os sintomas estejam registrados, iv) em 6 casos a soroterapia
foi aplicada sem constar o gênero da serpente que causou o acidente, v) cinco registros de
acidentes ofídicos nas notificações não indicam se a soroterapia foi ou não utilizada. Nas
notificações também constam que em alguns casos de envenamentos por Crotalus foi
utilizado soro antibotrópico (4 ampolas) e antibotrópico-crotálico (3 ampolas); em outros
constam os registros de envenenamento crotálico, mas não informam a soroterapia
utilizada. Nas notificações dos dois casos de acidentes por Lachesis não constam se os
acidentados receberam ou não soroterapia. A Tabela 1 mostra a distribuição de freqüência
dos soros utilizados em Sergipe.
W
Oceano Atlântico
Rio São Francisco
Page 40
26
Tabela 1. Distribuições de freqüências do número de ampolas de soros antiofídicos utilizados em Sergipe.
1999 2000 2001 2002
ampolas f ampolas f ampolas f ampolas f
1 1 1 1 4 2 5 2 2 1 2 1 6 3 6 2 3 1 3 1 8 2 8 3 4 8 4 2 10 2 5 2 6 12 7 1 8 5
Ant
ibot
róp
ico
10 3
Soma 197 14 62 46
3 1 3 3 1 1 4 1 4 1 5 1 5 1 7 1 12 8 1 A
ntib
otró
pic
o-
crot
álic
o
Soma 27 18 1
2 1 4 1
Ant
icro
táli
co
Soma 2 4
Ant
iela
-pí
dic
o
10 1
Soma 10
Incidência dos acidentes ofídicos
Foram notificados 95 acidentes ofídicos em Sergipe entre 1999-2002; os
coeficientes de incidência anual variaram de 0,16 a 0,88 caso por 10000 habitantes da zona
rural (Tabela 2).
Dentre os casos registrados, em apenas 55 (58%) constam os gêneros das serpentes
nas notificações: 48 casos foram causados por Bothrops, 4 por Crotalus, 2 por Lachesis e
1 caso por Micrurus; quatro casos foram notificados como tendo sido causados por
serpentes não peçonhentas (Tabelas 3)
Page 41
27
Tabela 2. Coeficientes de incidência anuais dos acidentes ofídicos
em Sergipe (1999-2002).
1999 2000 2001 2002 Soma
43 8 23 21 95 (0,88) (0,16) (0,46) (0,42)
( ) coeficiente de incidência/10000 habitantes da zona rural. Média da população rural no período foi 493549 habitantes (IBGE, 2000).
Tabela 3. Distribuição anual dos acidentes ofídicos por gênero
de serpente.
1999 2000 2001 2002 Soma
Bothrops 26 4 7 11 48
Crotalus 1 0 3 0 4
Micrurus 0 0 0 1 1
Lachesis 0 0 2 0 2
Soma 27 4 12 12 55
Não-peçonhenta 2 0 1 1 4
Idade e sexo
A proporção dos acidentes ofídicos variou significativamente com relação à idade
dos acidentados; pessoas de ambos os sexos foram mais atingidas na faixa etária até os 20
anos (2 = 34.07; p<0.001). A proporção dos acidentados também foi diferente entre os
sexos; (2 = 20.59; p<0.001); os homens foram duas vezes mais acidentados do que as
mulheres (Tabela 4).
Tabela 4. Distribuições dos acidentes ofídicos por idade, sexo. (f
freqüência observada; (fi) freqüência esperada). Intervalos de Idade 1-20 21-40 41-60 >60 Soma
f 45 25 18 6 94 (fi) (23.5) (23.5) (23.5) (23.5) Hipótese nula: proporções 1:1:1:1 2 = 34.07; p<0.001 Sexo ♀ ♂ n f 25 69 94 f(i) (47) (47) Hipótese nula: proporção 1:1 2 = 20.59; p<0.001
Page 42
28
Sazonalidade
A proporção dos acidentes ofídicos entre os períodos seco e chuvoso foi
significantemente diferente (2=13.78; p<0.001); o predomínio dos casos foi durante os
meses secos (Tabela 5).
Com relação a uma possível associação entre sexo, período analisado (1999-2002) e
sazonalidade, as freqüências anuais de acidentes foram proporcionalmente iguais entre
homens e mulheres (2 = 1.15; p>0.05); a proporção de acidentes entre os sexos dos
acidentados e os períodos chuvoso e seco também não foi significantemente diferente (2 =
1.33; p>0.05; Tabela 6).
Tabela 5. Sazonalidade dos acidentes ofídicos: proporção entre períodos
seco (verão) e chuva (inverno). (fi, freqüência observada; (fi) freqüência
esperada). Período Verão Inverno Soma
f 65 29 94 (fi) (47) (47) Hipótese nula: proporção 1:1 2 = 13.78; p<0.001
Tabela 6. Acidentes ofídicos: associações entre sexo dos acidentados, período analisado e sazonalidade. Ano Sexo 1999 2000 2001 2001 Soma
♂ 30 7 16 16 69 ♀ 12 1 7 5 25
Soma 42 8 23 21 94
2 = 1.15; p>0.05
Sazonalidade Sexo Verão Inverno Soma
♂ 50 19 69 ♀ 15 10 25
Soma 65 29 94
2 = 1.33; p>0.05
Page 43
29
Regiões de ocorrência
A região de Sergipe, está situada nos domínios morfoclimáticos da Mata Atlântica e
da caatinga, separados por uma faixa de agreste, a qual é uma caatinga mitigada paralela à
costa (Vanzolini, 1972, ver Figura 2). Os acidentes ofídicos são atendidos nas regionais de
saúde mais próximas onde ocorrem. Os três ecossistemas foram comparados com relação
ao ofidismo; a freqüência de acidentes foi bem menor na caatinga (2 = 34.77; p<0.001);
no agreste e áreas de mata as freqüências de acidentes foram praticamente iguais. As
regiões de agreste que apresentaram mais casos durante o período analisado foram Nossa
Senhora das Dores (11 casos) e Lagarto (7 casos), na Mata Atlântica as regiões que
apresentaram maior freqüência de acidentes ofídicos foram Estância (10 casos) e Aracaju
(8 casos). As Tabelas 7 e 8 mostram as freqüências de acidentes ofídicos nos ecossistemas
Tabela 7. Proporção de acidentes ofídicos por região. (f, freqüência observada; (fi) freqüência esperada).
Caatinga Agreste Mata Atl. Soma
f 5 49 41 95
(fi) (31.6) (31.6) (31.6)
Hipótese nula: proporções 1:1:1 2 = 34.77; p<0.001
Tabela 8. Distribuições de freqüências dos acidentes ofídicos (1999-2002) por regiões. As populações são
citadas no Censo Demográfico, 2000, IBGE.
Caatinga Pop. rural f Agreste Pop. rural f Mata Atlântica Pop. rural f
Carira 8327 2 Areia Branca 8015 1 Aracaju* 461534 8 Frei Paulo 5643 1 Arauá 5745 1 Brejo Grande 3155 2 Monte A. de Sergipe 5119 1 Cristinápolis 7823 1 Carmópolis 1746 1 Porto da Folha 16952 1 Canhoba 2370 1 Estância 8148 10
Cumbe 1516 1 Indiaroba 8471 1 Gararu 8375 1 Itaporanga d�Ajuda 16323 2 Itabaianinha 19895 3 Neópolis 8092 5 Itabaiana 21341 5 Propriá 3818 3 Laranjeiras 2347 4 Rosário do Catete 1445 3 Lagarto 42807 7 S. Amaro das Brotas 2588 1 Moita Bonita 7125 3 Santa Luzia do Itanhi 11363 1 N. Senhora das Dores 8671 11 São Cristóvão 1531 3 Pedrinhas 2531 2 N. Senhora do Socorro 400 1 Riachão do Dantas 14932 3 Riachuelo 1630 1 São Miguel do Aleixo 1968 1 Telha 1575 2 Umbaúba 8279 1
Soma 5 49 41
* Em Aracaju consta a população total. f = freqüência
Page 44
30
Sintomas e tempo decorrido entre o acidente e a soroterapia
A dor local foi um dos sintomas mais freqüentes. Quando o atendimento foi feito nas
3 primeiras horas após a picada, a proporção de indivíduos que relataram dor
(envenenamento botrópico) foi de 3:1 em relação aos que não relataram (2 = 0.03;
p>0.05). A proporção aumentou de 7:1 ocorreu nos casos em que o atendimento foi feito
após três horas de o acidentado ter sido picado pela cobra (2 = 0.22; p>0.05).
O edema (envenenamento botrópico) também foi um dos sintomas mais freqüentes
relatado nas notificações. Até 3 horas do acidente, a proporção de indivíduos que
apresentaram edema foi de 1:1 em relação aos que não apresentaram este sintoma (2 =
0.13; p>0.05); após este período, a proporção de indivíduos que apresentaram edema
aumentou de 7:1 em relação aos que não apresentaram este sintoma (2 = 0.22; p>0.05),
indicando persistência e aumento do edema após as 3 primeiras horas.
Com relação ao eritema e sangramento local (características do envenenamento
botrópico), nas 3 primeiras horas entre a picada e o atendimento a proporção de
acidentados que apresentaram e não apresentaram eritema foi de 1:3 (2 = 0.34; p>0.05); a
mesma proporção de 1:3 ocorreu entre os acidentados que apresentaram e não
apresentaram sangramento local (2 = 0.01; p>0.05). Após três horas do acidente, a
proporção aumentou de 1:4 entre aqueles acidentados que apresentaram e não
apresentaram eritema (2 = 0.88; p>0.05) e aumentou de 1:6 entre os que apresentaram e
não apresentaram sangramento local (2 = 0.1; p>0.05). As distribuições dos sintomas
locais mais freqüentes nas notificações dos acidentes ofídicos de Sergipe podem ser
observados na Tabela 9.
A Tabela 10 mostra os demais sintomas relatados nas notificações: necrose,
equimose, abcesso e bolha, gengivorragia e tempo de coagulação alterado, oligúria e anúria
(envenenamento botrópico); mialgia, urina escura, ptose palpebral e diplopia
(envenenamentos crotálicos e elapídico) e urina escura (envenenamento crotálico).
Com relação à letalidade, não houve notificação de óbito durante o período
analisado.
Page 45
31
Tabela 9. Acidentes ofídicos, Sergipe (1999-2002): sintomas locais mais freqüentes nas três horas
do acidente e após este período. (f freqüência observada; (fi) freqüência esperada).
Até 3 horas Soma Após 3 horas Soma
Dor Dor Sim Não Sim Não
f 50 16 66 16 3 19
(fi) (44) (22) (12.66) (6.33)
Ho: a proporção é 3:1 Ho: a proporção é 7:1
2 = 0.03; p>0.05 2 = 0.22; p>0.05
Edema Edema Sim Não Sim Não
f 34 31 65 16 3 19
(fi) (32.5) (32.5) (12.66) (6.33)
Ho: a proporção é 1:1 Ho: a proporção é 7:1
2 = 0.13; p>0.05 2 = 0.22; p>0.05
Eritema Eritema Sim Não Sim Não f 14 50 64 4 14 18
(fi) (21.33) (42.66) (6) (12)
Ho: a proporção é 1:3 Ho: a proporção é 1:4
2 = 0.34; p>0.05 2 = 0.08; p>0.05
Sangramento local Sangramento local Sim Não Sim Não f 17 50 67 2 10 12
(fi) (22.33) (44.66) (4) (8)
Ho: a proporção é 1:3 Ho: a proporção é 1:6
2 = 0.01; p>0.05 2 = 0.1; p>0.05
Page 46
32
Tabela 10. Envenenamentos ofídicos, Sergipe: alterações locais e sistêmicas. 1999 2000 2001 2002 1999 2000 2001 2002 Abcesso Bolha
Sim 1 0 1 1 1 1 4 0 Não 38 8 22 17 38 7 19 19
Soma 39 8 23 18 39 8 23 19
Necrose Gengivorragia
Sim 0 0 1 0 1 0 0 1 Não 40 8 22 18 37 6 19 14
Soma 40 8 23 18 38 6 19 15
Tempo de coagulação alterado Diplopia
Sim 2 0 3 1 2 1 1 0 Não 37 6 13 15 37 6 18 20
Soma 39 6 16 16 39 7 19 20
Ptose palpebral Mialgia
Sim 0 0 1 0 5 0 5 2 Não 40 7 20 19 35 7 15 16
Soma 40 7 21 19 40 7 20 18
Urina escura Oligúria
Sim 0 0 2 1 0 0 0 3 Não 38 7 18 17 39 7 20 15
Soma 38 7 20 18 39 7 20 18
Anúria
Sim 0 0 0 1 Não 39 7 20 17
Soma 39 7 20 18
Partes do corpo atingidas e gravidade dos casos
As partes mais atingidas foram os pés e pernas (66 casos, aproximadamente 70%),
seguida das mãos e braços (15 casos), cabeça (2 casos) e tórax (1 caso). As proporções
entre as partes do corpo atingidas foi de 12:3:1:1; respectivamente, pés e pernas, mãos e
braços, cabeça e tórax (2 = 5.66; p>0.05).
De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde de Sergipe, os acidentes ofídicos
ocorridos na região foram classificados em três categorias: leves, moderados e graves; a
maioria dos casos foi classificada como leve (Tabela 11).
Tabela 11. Classificação de acidentes ofídicos de Sergipe quanto
à gravidade dos casos . 1999 2000 2001 2002 Soma
Leves 34 3 13 16 66 Moderados 7 0 3 3 13 Graves 1 0 2 1 4 Soma 42 3 18 20 83
Page 47
33
2. Parâmetros biológicos do veneno de B. jararaca
i) Dose letal 50% (DL50)
Dados brutos experimentais: Os quatro experimentos realizados variaram com
relação à proporção de animais mortos e inoculados; no geral apresentaram proporção de
acordo com o aumento das doses, mas com variações extremas. Para diminuir as variações
os experimentos foram agrupados (Tabela 12).
Regressão linear e DL50: As análises mostraram valores diferentes para os
coeficientes das regressões (b), bem como para as constantes das regressões (a), devido às
variações nas proporções entre animais mortos e inoculados para as mesmas doses. As
DL50 de cada experimento variaram entre 32.8 a 44.1g e a análise conjunta entre os
quatro experimentos mostrou valores intermediários para os parâmetros da regressão e da
DL50, quando comparado com os valores dos experimentos (Tabela 13).
Valores probíticos das doses: As doses dos quatro experimentos foram
logaritmizadas e substituídas nas respectivas equações de regressões (uma para cada
experimento) para encontrar o valor probítico de cada dose (Tabela 14). As análises de
regressões dos valores probíticos (y) sobre as dosagens (x) também apresentaram variações
entre os coeficientes das regressões. Por isso foi necessário fazer uma comparação entre as
quatro retas, para encontrar uma equação geral que descrevesse os valores probíticos para a
dose letal 50% que representasse todos os experimentos, permitindo assim o
aproveitamento de todos os dados (Tabela 15).
As retas diferiram quanto ao paralelismo (F0.05(1)3;12=16.927; p<0.001) e afastamento
(F0.05(1)3;12=47.684; p<0.001) (Figura 3). A dose letal 50% da equação geral obtida através
da comparação entre as 4 retas dos experimentos foi 37.1g, valor próximo da DL50 da
análise probítica conjunta utilizando o método da OMS, que foi 37.09g. Os coeficientes e
constantes das regressões foram também semelhantes entre os dois métodos. Assumi então
que as doses letais 50% não são diferentes quando determinadas utilizando as comparações
entre as retas e o método probítico da OMS (Tabela 16).
Page 48
34
Tabela 12. Bothrops jararaca, proporção entre camundongos
mortos e inoculados, após 48 horas de observação.
Dose de veneno (µg) Experimentos
I II III IV Soma
23.0 0/6 1/6 1/6 0/6 2/24 27.6 0/6 0/6 2/6 0/6 2/24 32.1 1/6 4/6 2/6 0/6 7/24 39.7 0/6 5/6 5/6 3/6 13/24 47.6 5/6 5/6 5/6 6/6 21/24
Tabela 13. Bothrops jararaca, DL50 do veneno: programa probítico da OMS. b a y=a+bx Iy DL50 (µg)
Experimento I 9.0153 - 9.8323 - 9.8323+9.0153x 38.1272±67.9041 44.1810
Experimento II 8.076 - 7.2535 - 7.2535+8.076x 26.6044±39.5182 32.9051
Experimento III 6.6686 - 5.1133 - 5.1133+6.6686x 25.5320±41.6518 32.852
Experimento IV 13.0515 - 15.7375 - 15.7375+13.0515x 34.8539±45.1052 38.8054
Análise conjunta 8.283 - 7.9989 - 7.9989+8.283x 34.4318±40.4588 37.0962
b = coeficiente de regressão a = constante de regressão Iy = limite de confiança inferior e superior DL50 = dose letal 50 %, y=5
Tabela 14. Bothrops jararaca, valores probíticos do número de camundongos mortos (y) sobre a concentração de veneno (x): programa probítico da OMS. Dose de veneno (g) Experimento I Experimento II Experimento III Experimento IV
x y x y x y x y
23.0 1.36 3.44 1.36 3.74 1.36 3.96 1.36 2.03 27.6 1.44 3.15 1.44 4.38 1.44 4.49 1.44 3.06 33.1 1.51 3.86 1.51 5.02 1.51 5.02 1.51 4.09 39.7 1.59 4.58 1.59 5.65 1.59 5.54 1.59 5.12 47.6 1.67 5.29 1.67 6.29 1.67 6.07 1.67 6.15
x = log da dose y = probit
. Tabela 15. Bothrops jararaca, estatística da regressão do número de camundongos mortos (y) sobre a concentração de veneno (x): comparação entre retas
N b a y=a+bx F r2 DL50 (µg)
Experimento I 5 6.4809 -5.7809 -5.7809+6.4809 19.6354* 0.86 44.1810
Experimento II 5 8.2687 -7.5028 -7.5028+8.2687 5875.226*** 0.99 32.5091
Experimento III 5 6.8408 -5.3409 -5.3409+6.8408 5688.69*** 0.99 32.8520
Experimento IV 5 13.0594 -15.7445 -15.7445+13.0594 367020.3*** 0.99 38.8054
Comparação das 4 retas 20 8.5801 -8.4705 -8.4705+8.5801 16.9279* - 37.1509
N = amostras b = coeficiente de regressão a = constante de regressão F = Variância maior/variância menor r2 = coeficiente de determinação DL50 = dose letal 50%, y = 5
Page 49
35
Tabela 16. Bothrops jararaca, DL50 do veneno, comparação entre retas e programa probítico da
OMS.
Método b x y a Reta Probit (y=5) DL50
m retas, 4 experimentos 8.5801 1.5174 4.5489 -8.4705 y=-84705+8.5801x 1.5699 37.1509
análise conjunta, 4 experimentos 8.2830 - - 7.9989 y=-7.9989+8.2830x - 37.0962
b = coeficiente de regressão a = constante de regressão x = média do log da dose y = média dos probits DL50 = dose letal 50%, y=5
1.36
Figura 3. Regressão dos valores probíticos sobre as dosagens: comparações
entre as retas. Experimentos I, II, III, IV.
1.67 1.59 1.51 1.44
3.0
2.0
4.0
5.0
6.0
II y= -7.5+8.26x
III y= -5.34+6.84x
IV y= -15.74+13.05x
I y= -5.78+6.48x
log dose
probit
Page 50
36
ii) Dose mínima hemorrágica (DMH)
Dados brutos experimentais: Os diâmetros das áreas hemorrágicas dos dois
experimentos variaram entre 5.0mm a 13.2mm (Tabela 17). A dose mínima hemorrágica
para uma área exata de 10mm de diâmetro foi determinada através de regressão linear do
diâmetro da área hemorrágica (y) sobre a concentração do veneno (x), cujos coeficientes e
constantes das duas regressões foram próximos. Apesar destes valores próximos, optei por
fazer uma análise conjunta, cujo resultado da DMH foi 0.24g, praticamente igual às doses
mínimas hemorrágicas de cada experimento, que foram 0.23g e 0.24g (Tabela 18).
Tabela 17. Bothrops jararaca, diâmetro da área hemorrágica. Dose de veneno (µg) Diâmetro da área hemorrágica (mm)
Experimento I
0.10 - - - - 0.14 5.75 6.28 9.30 11.05 0.18 5.17 6.58 6.86 7.57 0.22 9.44 9.51 10.34 11.56 0.26 10.09 10.34 10.40 12.86
Experimento II
0.14 4.78 5.75 6.28 6.77 0.18 6.38 8.05 8.44 9.44 0.22 8.95 9.09 10.34 10.58 0.26 9.23 10.02 10.02 10.02 0.30 11.05 11.78 12.15 13.25
Tabela 18. Bothrops jararaca, estatística da regressão do diâmetro da área hemorrágica (mm) sobre a
concentração de veneno. N R (x) R (y) b a F r2 DMH (µg)
Experimento I 16 0.10 - 0.26 5.75 - 12.86 30.375 2.869 8.527 * 0.3785 0.23
Experimento II 20 0.14 - 0.30 4.78 - 13.25 35.175 1.380 84.131*** 0.8238 0.24
Experimento I e II 36 0.14 - 0.30 5.75 - 13.25 32.688 2.140 53.170 *** 0.610 0.24
N = amostras R = intervalos de x e y b = coeficiente de regressão a = constante de regressão r2 = coeficiente de determinação DMH = dose mínima hemorrágica, y = 10mm
Page 51
37
3. Eficácia das plantas
i) Dose letal 50% (DL50)
Foram feitos nove experimentos (três para cada planta) com os extratos da raiz de
Apodanthera villosa, Apodanthera glaziovii e Jatropha mollisima. A DL50 destas plantas
foi obtida através da análise conjunta de todos os experimentos, utilizando probites. As
doses dos extratos variaram de 0.008-0.004g; 0.001-0.011g, 0.0003-0.04g,
respectivamente. Para a análise da dose letal 50% da Jatropha elliptica utilizei apenas um
experimento, porque o resultado foi coerente com a relação entre os animais
mortos/inoculados, proporcional ao aumento da concentração do extrato, cujas doses
variaram de 0.01-0.03g. A tabela 19 mostra a dose letal 50% de todas as plantas utilizadas;
o Apêndice 1 mostra os dados brutos da proporção de animais mortos/inoculados com
relação à concentração de extrato.
Tabela 19. Dose letal 50% (DL50) dos extratos das plantas. Planta b a y=a+bx Iy DL50 (g)
Apodanthera villosa 3.358 10.797 10.797+3.358x 0.0150.023 0.018
Apodanthera glaziovii 3.596 12.722 12.722+3.596x 0.00590.0089 0.007
Jatropha mollissima 1.831 9.910 9.910+1.831x 0.00130.003 0.002
Jatropha elliptica 6.193 15.691 15.691+6.193x 0.0130.023 0.018
b = coeficiente de regressão a = constante de regressão Iy = limite de confiança inferior e superior DL50 = dose letal 50 %, y=5
Page 52
38
ii) Inibição da letalidade
Homogeneidade entre os grupos controle
Foram realizados seis experimentos com as plantas; para cada experimento havia um
grupo controle. As amostras controles foram homogêneas entre si (F0.05(1)5;27=1.436;
p>0.05; Tabelas 20 e 21 e Apêndice 2), mas para as análises foram agrupados somente os
controles de cada planta.
Tabela 20. Bothrops jararaca, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da
distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).
Experimento N A x s CV Ix
I 6 2.66-3.66 3.0750.166 0.406 13.20 2.6483.502
II 6 2.53-4.23 3.1750.274 0.671 21.13 2.473.88
III 6 2.26-5.93 3.3750.642 1.574 46.63 1.7225.028
IV 5 2.70-3.75 3.1840.233 0.522 16.39 2.5363.832
V 5 3.00-4.93 3.6240.377 0.844 23.28 2.5764.672
VI 5 3.46-5.13 4.3320.324 0.725 16.73 3.4325.232
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 21. Bothrops jararaca, homogeneidade entre grupos controle: Anova do tempo de sobrevida dos camundongos (h).
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 5 5.721 1.144
Erro 27 21.52 0.7971 1.436ns
Page 53
39
1. Apodanthera villosa
O primeiro experimento com o extrato da batata-de-teiú, para verificar a inibição da
letalidade do veneno, foi um estudo piloto para determinar os intervalos entre as doses do
extrato (Apêndice 3). Foram utilizados três grupos para comparações: um grupo controle,
cujos animais receberam apenas a dose desafio de veneno (74.2g) e dois grupos
experimentais, cujos animais foram inoculados com veneno incubado com doses diferentes
de extrato (0.74mg e 1.48mg, respectivamente). O tempo de sobrevida dos camundongos
foi o mesmo entre os grupos (F0.05(1)2;12=1.859; p>0.05; Tabelas 22 e 23).
Desse modo encontrei o menor e o maior intervalo de doses do extrato da batata-de-
teiú (0.74-1.48mg), que não neutralizaram o efeito letal do veneno. Após determinar essas
concentrações foram realizados quatro experimentos utilizando a concentração de 1mg de
extrato - porque nesta concentração o extrato aumentou o tempo de sobrevida-, os quais
foram homogêneos (F0.05(1)3;42=0.857; p>0.05. Tabelas 24 e 25).
Como os grupos controles e experimentais foram homogêneos, agrupei os dados de
cada grupo, comparando-os através de um teste de t (Student): o resultado foi significante,
indicando que o extrato da batata-de-teiú (1mg) aumentou o tempo de sobrevida dos
camundongos (t0.05(1);45=2.084; p<0.05; Tabela 26 e Apêndice 4).
Tabela 22. Apodanthera villosa, estudo piloto: estatística da distribuição de freqüência do tempo de
sobrevida dos camundongos (h).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix
Controle 74.2 - 3 1.28-2.45 1.9930.361 0.625 31.35 0.43863.548
Extrato 74.2 0.74 6 1.46-3.21 2.270.229 0.562 24.75 1.682.86
74.2 1.48 6 0.75-2.15 1.650.213 0.523 31.69 1.1012.199
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança
Page 54
40
Tabela 23. Apodanthera villosa, estudo piloto: Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 2 1.156 0.5779
Erro 12 3.731 0.3109 1.859 ns
Tabela 24. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).
Experimento N A x s CV Ix
I 8 1.56-48.00 14.1547.391 20.905 147.6 -3.32631.633
II 16 1.66-48.00 5.8682.82 11.28 192.2 -0.14111.877
III 16 1.76-48.00 7.8693.917 15.668 199.1 -0.47716.217
IV 8 2.3-3.38 2.8180.158 0.388 13.76 2.4113.226
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 25. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 3 529.95 176.65
Erro 42 8650.7 205.97 0.857 ns
Tabela 26. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix t
Controle 74.2 - 23 2.26-5.93 3.2031.182 0.875 27.31 2.8253.581 2.084 **
Extrato 74.2 1.0 46 1.56-48.0 7.6092.106 14.283 187.7 3.36411.854
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Page 55
41
2. Apodanthera glaziovii
Foram realizados três experimentos com o extrato da cabeça-de-negro (1mg); as
amostras foram homogêneas (F0.05(1)2;31=2.872; p>0.05. Tabelas 27 e 28) e agrupadas nas
análises seguintes. Além desta dose de extrato foram também testadas as doses de 1.48mg,
3.0mg e 5.0mg, de acordo com a DL50 do extrato (ver tabela 19). Quando comparadas com
o grupo controle nenhuma dose alterou o tempo de sobrevida dos camundongos
(F0.05(1)4;63=0.544; p>0.05. Tabelas 29 e 30 e Apêndice 5).
Tabela 27. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da
distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).
Experimento N A x s CV Ix
I 6 2.13-48.0 10.7157.468 18.292 170.7 -8.48429.914
II 5 2.23 2.230.0 0.0 0.0 2.23
III 23 2.05-4.3 2.930.115 0.551 18.8 2.6913.168
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 28. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 2 311.20 155.60
Erro 31 1679.6 54.182 2.872 ns
Tabela 29. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos
camundongos (h).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix
Controle 74.2 - 16 2.26-5.93 3.6140.284 1.138 31.48 3.004.221
Extrato 74.2 1.00 34 2.05-48.0 4.2011.332 7.767 184.8 1.4896.912
74.2 1.48 6 2.16 2.160.0 0.0 0.0 2.16
74.2 3.00 6 1.35-3.45 2.0270.3 0..737 36.35 1.2532.8
74.2 5.00 6 1.06-1.56 1.2970.08 0.218 16.80 1.0681.526
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Page 56
42
Tabela 30: Apodanthera glaziovii, Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 4 69.532 17.383
Erro 63 2013.2 31.956 0.544 ns
3. Jatropha mollissima
Foram realizados dois experimentos com o extrato do pinhão-bravo (1mg), os quais
foram homogêneos (t0.05(2)10=0.991; p>0.05; Tabela 31) e agrupados para comparação com
o grupo controle. O extrato aquoso do pinhão-bravo não alterou o tempo de sobrevida dos
animais (t0.05(1)19=0.631; p>0.05. Tabela 32 e Apêndice 6).
Tabela 31. Jatropha mollissima, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de freqüência do tempo
de sobrevida dos camundongos (h).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix t
Controle 74.2 - 6 2.35-48.0 10.0187.597 18.608 185.7 -9.51229.549 0.991 ns
Extrato 74.2 1.0 6 1.55-3.33 2.4850.254 0.623 25.07 1.833.14
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 32. Jatropha mollissima: estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos camundongos (h).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix t
Controle 74.2 - 10 2.70-5.13 3.7580.268 0.849 22.59 3.1514.365 0.631 ns
Extrato 74.2 1.0 16 1.55-48.0 6.5174.15 13.763 211.1 -2.72815.763
Page 57
43
4. Jatropha elliptica
Foram feitos cinco experimentos com o extrato da batata-de-teiú, com doses
variando entre 0.74-10mg (ver tabela 19 e Apêndice 7). Não houve alterações
significativas no tempo de sobrevida dos camundongos submetidos ao veneno mais o
extrato (F0.05(1)5;39=0.727; p>0.05. Tabela 34). A tabela 33 mostra a estatística da
distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos animais.
Tabela 33. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do tempo de sobrevida dos
camundongos (h).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix
Controle 74.2 - 11 2.66-4.93 3.3250.202 0.670 20.15 2.8743.775
Extrato 74.2 0.74 6 2.25-3.26 2.9450.144 0.353 11.98 2.5743.316
74.2 1.00 6 2.00-3.53 2.8420.207 0.508 17.87 2.3083.375
74.2 1.48 6 1.63-3.38 2.730.247 0.605 22.16 2.0943.366
74.2 5.00 8 1.48-48.0 7.8415.74 16.236 207.0 -5.73421.417
74.2 10.00 8 1.4-2.68 2.0830.196 0.555 26.64 1.6182.547
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 34. Jatropha elliptica, Anova do tempo de sobrevida (h) dos camundongos.
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 5 173.16 34.632
Erro 39 1855.6 47.580 0.727 ns
Page 58
44
iii) Inibição da hemorragia local
1. Apodanthera villosa
Foram realizados três experimentos de hemorragia local com o veneno e extrato da
batata-de-teiú (1.0, 3.0 e 6.0mg); para cada experimento havia um grupo controle. O
primeiro passo foi verificar a homogeneidade entre os grupos controles; as amostras foram
homogêneas (F0.05(1)2;7=3.273; p>0.05; Tabelas 35 e 36). Para cada dose de extrato, o
experimento foi repetido duas vezes; como as amostras apresentaram homogeneidade,
foram agrupadas nas demais comparações (ver Tabela 37 e Apêndice 8).
Com relação ao diâmetro da área hemorrágica induzida pelo veneno de B. jararaca,
os resultados mostraram diferenças significativas entre os camundongos do grupo controle
e dos grupos experimentais (F0.05(1)3;31=49.84; p<0.001; Tabelas 38 e 39). Comparado com
o grupo controle, o extrato aquoso de A. villosa nas concentrações de 1.0, 3.0 e 6.0mg
reduziu o diâmetro da área hemorrágica induzida pelo veneno (q0.05;4;31=6.078; p<0.05,
q0.05;4;31=12.349; p<0.05 e q0.05;4;31=15.887; p<0.05, respectivamente; Figura 4). Embora as
doses de 3.0mg e 6.0mg do extrato tenham apresentado reduções estatisticamente próximas
nos diâmetros das áreas hemorrágicas (q0.05;4;31=3.357; p>0.05), estas foram diferentes
quando comparadas com a dose de 1mg (q0.05;4;31=6.307; p<0.05 e q0.05;4;31=9.762; p<0.05).
A tabela 40 mostra estas comparações.
Tabela 35. Apodanthera villosa, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).
Experimento N A x s CV Ix
I 4 16.31-20.25 18.080.986 1.973 10.91 14.94121.219
II 3 16.62-19.61 18.1170.863 1.495 8.25 14.40321.831
III 3 12.91-17.44 14.4871.478 2.560 17.67 8.12820.846
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 36. Apodanthera villosa, homogeneidade entre grupos controle: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 2 27.355 13.678
Erro 7 29.249 4.178 3.273 ns
Page 59
45
Tabela 37. Apodanthera villosa, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de freqüência
do diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de
extrato/animal Experimento N A x s CV Ix t
I 5 9.77-14.45 12.1520.84 1.88 15.47 9.81814.486 1mg II 4 12.05-13.25 12.4530.273 0.547 4.39 11.58213.323
0.305 ns
I 4 4.06-9.77 6.6331.202 2.404 36.24 2.80710.458 3mg II 4 3.90-11.17 7.5631.531 3.062 40.48 2.69112.434
0.477 ns
I 4 4.65-6.48 5.5430.385 0.77 13.89 4.3166.769 6mg II 4 7.98 2.9701.906 3.81 128.3 -3.0969.036
1.323 ns
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 38. Apodanthera villosa, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica
(mm).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix
Controle 1.2 - 10 12.91-20.25 17.0130.793 2.508 14.74 15.21918.807
Extrato 1.2 1.0 9 9.77-14.45 12.2860.460 1.380 11.23 11.22513.347
1.2 3.0 8 3.90-11.17 7.0980.918 2.597 36.58 4.9269.269
1.2 6.0 8 7.98 4.2561.023 2.894 67.99 1.8366.676
Tabela 39. Apodanthera villosa, Anova, diâmetro da área hemorrágica
(mm). Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 3 856.91 285.64
Erro 31 177.66 5.731 49.84 ***
Tabela 40. Apodanthera villosa (E), teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm).
Comparação Média
Controle x E1 4.727 ***
Controle x E2 9.916 ***
Controle x E3 12.757 ***
E1 x E2 5.188 ***
E1 x E3 8.029 ***
E2 x E3 2.841 ns
Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg)
Page 60
46
Figura 4. Apodanthera villosa, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle (veneno).*** inibição significativa da hemorragia
1mg*** de extrato e 1.2g de veneno 3mg*** de extrato e 1.2g de veneno
6mg*** de extrato e 1.2g de veneno Grupo controle: 1.2g de veneno
Page 61
47
2. Apodanthera glaziovii
Foram realizados dois experimentos com o extrato da cabeça-de-negro. Em cada
experimento o extrato foi testado nas doses de 1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg e comparados com o
grupo controle (Apêndice 9). As amostras controles foram homogêneas (t0.05(2)5=0.015;
p>0.05; Tabela 41), assim como entre as doses de extrato (Tabela 42).
Os diâmetros das áreas hemorrágicas induzidas pelo veneno foram significantemente
diferentes entre os camundongos dos grupos controles e experimentais (F0.05(1)4;34=18.428;
p<0.001; Tabelas 43 e 44). O extrato aquoso de A. glaziovii nas concentrações de 1.0, 3.0,
6.0 e 10mg reduziu o diâmetro da área hemorrágica quando comparado com o grupo
controle (Tukey: q0.05;5;34=6.745; p<0.05, q0.05;5;34=6.932; p<0.05; q0.05;5;34=11.272; p<0.05
e q0.05;5;34=9.771; p<0.05, respectivamente; Figura 5). A significância das áreas
hemorrágicas foram iguais entre as concentrações de 1.0mg, 3.0 e 10.0mg (q0.05;5;34=0.194;
p>0.05, q0.05;5;34=3.133; p>0.05 e q0.05;5;34=2.938; p>0.05) e entre 6.0 e 10.0mg
(q0.05;5;34=1.553; p>0.05); mas foram diferentes entre as concentrações de 1.0 e 6.0mg
(q0.05;5;34=4.686; p<0.05) e 3.0 e 6.0mg (q0.05;5;34=4.492; p<0.05). A Tabela 45 mostra as
comparações simultâneas entre as médias de todos os grupos testados.
Tabela 41. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).
Experimento N A x s CV Ix t
I 4 12.91-16.89 14.4630.85 1.702 11.76 11.75517.170 0.015 ns
II 3 12.91-17.44 14.4871.478 2.56 17.67 8.12820.846
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Page 62
48
Tabela 42. Apodanthera glaziovii, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de
freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de extrato Experimento N A x s CV Ix t
I 4 4.51-12.26 9.5351.733 3.466 36.35 4.02115.049 1mg II 4 5.86-12.10 9.3431.442 2.884 30.86 4.75413.931
0.085 ns
I 2 8.66-8.95 8.8050.145 0.205 2.32 6.96310.647 3mg II 6 8.52-10.15 9.4630.267 0.655 6.92 8.77510.152
1.334 ns
I 4 4.65-6.58 5.2950.442 0.884 16.69 3.8876.703 6mg II 4 5.75-9.09 6.8250.763 1.527 22.37 4.3959.255
1.734 ns
I 4 5.64-6.77 6.390.257 0.514 8.04 5.5727.208 10mg II 4 5.17-12.91 7.971.73 3.46 43.41 2.46513.475
0.903 ns
N = amostras A = amplitude x = média erro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 43. Apodanthera glaziovii, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica
(mm).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix
Controle 1.2 - 20 12.91-22.20 17.1750.623 2.789 16.23 15.86918.48
Extrato 1.2 1.0 8 4.51-12.26 9.4391.044 2.953 31.28 6.96911.908
1.2 3.0 8 8.52-10.15 9.2990.225 0.637 6.85 8.7669.832
1.2 6.0 8 4.65-9.09 6.0600.500 1.416 23.36 4.8767.244
1.2 10.0 8 5.17-12.91 7.1800.862 2.441 33.99 5.1399.221
N = amostras A = amplitude x = média erro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 44. Apodanthera glaziovii, Anova, diâmetro da área hemorrágica
(mm). Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 4 306.60 76.651
Erro 34 141.42 4.159 18.428 ***
Page 63
49
Tabela 45. Apodanthera glaziovii (E), teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm).
Comparação média
Controle x E1 5.034 ***
Controle x E2 5.174 ***
Controle x E3 8.413 ***
Controle x E4 7.293 ***
E1 x E2 0.140 ns
E1 x E4 2.259 ns
E2 x E4 2.119 ns
E1 x E3 3.379 *
E2 x E3 3.239 *
E3 x E4 1.120 ns
Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg) E4 = veneno e extrato (10mg)
Page 64
50
Figura 5. Apodanthera glaziovii, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle (veneno).*** inibição significativa da hemorragia
1mg*** de extrato e 1.2g de veneno 3mg*** de extrato e 1.2g de veneno
6mg*** de extrato e 1.2g de veneno 10mg*** de extrato e 1.2g de veneno
Grupo controle: 1.2g de veneno
Page 65
51
3. Jatropha mollissima
Foram realizados quatro experimentos com as doses de 1.0, 3.0 e 6.0mg do extrato
do pinhão bravo (Apêndice 10). As amostras controles foram homogêneas e puderam ser
agrupadas para análise (F0.05(1)3;9=1.754; p>0.05; Tabelas 46 e 47), bem como o foram as
amostras de cada dose de extrato testada, as quais mostraram homogeneidade (Tabela 48).
Os diâmetros das áreas hemorrágicas induzidas pelo veneno mostraram diferenças
significantes entre os camundongos dos grupos controles e experimentais
(F0.05(1)3;39=25.712; p<0.001; Tabelas 49 e 50). Nas doses de 3.0 e 6.0mg o extrato reduziu
o diâmetro da área hemorrágica (q0.05;4;39=9.0; p<0.05 e q0.05;4;39=9.488; p<0.05; Tabela 40;
Figura 6). A dose de 1mg de extrato não foi significantemente diferente do controle
(q0.05;4;39=0.759; p>0.05; Tabela 51). As significâncias das áreas hemorrágicas foram iguais
entre as concentrações de 2.0 e 3.0mg (q0.05;4;39=0.192; p>0.05). As demais comparações
apresentaram variações com relação à significância (Tabela 51).
Tabela 46. Jatropha mollissima, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da
distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).
Experimento N A x s CV Ix
I 4 12.91-16.89 14.4630.85 1.702 11.76 11.75517.170
II 2 12.91-13.11 13.010.1 0.141 1.08 11.73914.281
III 2 14.93-16.43 15.680.75 1.061 6.76 6.15125.210
IV 5 12.10-14.67 13.7860.47 1.051 7.62 12.48115.091
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 47. Jatropha mollissima, homogeneidade entre os grupos controle: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 3 8.331 2.777
Erro 9 14.251 1.583 1.745 ns
Page 66
52
Tabela 48. Jatropha mollissima, homogeneidade entre os experimentos: estatística da distribuição de
freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de
extrato/animal Experimento N A x s CV Ix t
I 7 6.77-16.85 12.2391.408 3.724 30.42 8.79415.683 1mg II 4 13.82-17.48 16.0200.784 1.570 9.8 13.52318.517
1.901 ns
I 3 5.97-9.44 7.4831.026 1.777 23.74 3.06911.898 3mg II 6 4.51-10.03 7.1050.944 2.314 32.56 4.6769.534
0.246 ns
I 3 7.31-13.96 9.291.935 3.352 36.08 0.96217.617 6mg II 7 4.22-9.44 6.1260.686 1.816 29.64 4.4467.805
1.995 ns
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 49. Jatropha mollissima, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica
(mm).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix
Controle 1.2 - 13 12.10-16.89 14.1660.38 1.372 9.68 13.33714.995
Extrato 1.2 1.0 11 6.77-17.48 13.6141.07 3.564 26.17 11.22016.008
1.2 3.0 9 4.51-10.03 7.2320.68 2.042 28.23 5.6628.802
1.2 6.0 10 4.22-13.16 7.0750.83 2.652 37.48 5.1788.972
Tabela 50. Jatropha mollissima, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm). Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 3 487.04 162.35
Erro 39 246.24 6.314 25.712 ***
Tabela 51. Jatropha mollissima (E), teste de Tukey, diâmetro d área hemorrágica (mm).
Comparação Média
Controle x E1 0.5525 ns
Controle x E2 6.934 ***
Controle x E3 7.091 ***
E1 x E2 6.381 ***
E1 x E3 6.539 ***
E2 x E3 0.1572 ns
Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg)
Page 67
53
Figura 6. Jatropha mollissima, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle (veneno).*** inibição significativa da hemorragia; ns, não significante.
1mg ns de extrato e 1.2g de veneno 3mg*** de extrato e 1.2g de veneno
6mg*** de extrato e 1.2g de veneno Grupo controle: 1.2g de veneno
Page 68
54
4. Jatropha elliptica
Foram realizados quatro experimentos com as doses de 1.0, 3.0, 6.0 e 10mg do
extrato da batata-de-teiú (Apêndice 11). As amostras controles foram homogêneas e
puderam ser agrupadas para análise (F0.05(1)3;12=2.639; p>0.05; Tabelas 52 e 53), assim
como o foram as amostras de cada dose de extrato testada, as quais mostraram
homogeneidade (Tabela 54).
Os diâmetros das áreas hemorrágicas induzidas entre os camundongos dos grupos
controles e experimentais foram significantemente diferentes (F0.05(1)4;43=47.387; p<0.001;
Tabelas 55 e 56). O extrato nas doses de 6.0 e 10.0mg reduziu o diâmetro da área
hemorrágica (q0.05;5;43=14.988; p<0.05 e q0.05;5;43=15.560; p<0.05. Tabela 57; Figura 7). As
doses de 1.0 e 3.0mg de extrato não apresentaram diferenças significantes em relação ao
grupo controle (q0.05;5;43=4.024; p>0.05 e q0.05;5;43=3.071; p>0.05; Tabela 46). A
significância das áreas hemorrágicas foram iguais entre as concentrações de 1.0 e 3.0mg
(q0.05;5;43=0.677; p>0.05); 6.0 e 10.0mg (q0.05;5;43=1.014; p>0.05). As demais comparações
apresentaram variações com relação à significância (Tabela 57).
Tabela 52. Jatropha elliptica, homogeneidade entre os grupos controle: estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica (mm).
Experimento N A x s CV Ix
I 5 13.96-22.20 19.411.42 3.176 16.36 15.46923.355
II 5 16.31-20.25 18.5020.872 1.952 10.55 16.07920.925
III 3 16.62-19.61 18.1170.863 1.495 8.25 14.40321.831
IV 3 12.91-17.44 14.4871.478 2.560 17.67 8.12820.846
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 53. Jatropha elliptica, homogeneidade entre os grupos controle: Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm).
Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 3 48.276 16.092
Erro 12 73.162 6.097 2.639 ns
Page 69
55
Tabela 54. Jatropha elliptica, homogeneidade entre experimentos: estatística da distribuição de freqüência do
diâmetro da área hemorrágica (mm). Dose de
extrato/animal Experimento N A x s CV Ix t
I 5 13.61-20.09 15.9661.318 2.948 18.46 12.30619.626 1mg II 3 8.59-14.4 11.51.677 2.905 25.26 4.28318.717
2.093 ns
I 5 13.25-19.93 16.5141.255 2.806 16.99 13.03019.998 3mg II 2 8.37-14.27 11.322.95 4.172 36.85 -26.16348.803
1.620 ns
I 5 2.52-10.46 6.071.516 3.389 55.83 1.8630.280 6mg II 4 1.95-5.97 3.2330.927 1.855 57.37 10.2776.184
1.597 ns
I 4 2.76-6.38 4.190.777 1.555 37.11 1.7166.664 10mg II 4 2.76-3.9 3.3530.245 0.49 14.61 2.5734.132
1.027 ns
N = amostras A = amplitude x = médiaerro padrão s = desvio padrão CV = coeficiente de variação Ix = intervalo de confiança da média
Tabela 55. Jatropha elliptica, estatística da distribuição de freqüência do diâmetro da área hemorrágica
(mm).
Grupo Dose de
veneno (µg) Dose de
extrato (mg) N A x s CV Ix
Controle 1.2 - 16 12-91-22.2 17.9610.711 2.845 15.83 16.44519.477
Extrato 1.2 1.0 8 8.59-20.09 14.2911.261 3.567 24.95 11.30917.273
1.2 3.0 7 8.37-19.93 15.031.443 3.818 25.40 11.49918.561
1.2 6.0 9 1.95-10.46 4.8091.015 3.045 63.31 2.4697.149
1.2 10..0 8 2.76-6.38 3.7710.409 1.157 30.68 2.8034.739
Tabela 56. Jatropha elliptica, Anova, diâmetro da área hemorrágica (mm). Fonte da variação
Graus de liberdade
Soma dos quadrados
Quadrado médio
F
Grupos 4 1681.6 420.39
Erro 43 381.47 8.871 47.387 ***
Page 70
56
Tabela 57. Jatropha elliptica (E), teste de Tukey, diâmetro da área hemorrágica (mm).
Comparação Média
Controle x E1 3.670 ns
Controle x E2 2.931 ns
Controle x E3 3.152 ***
Controle x E4 14.190 ***
E1 x E2 0.7387 ns
E1 x E3 9.482 ***
E1 x E4 10.520 ***
E2 x E3 10.221 ***
E2 x E4 11.259 ***
E3 x E4 1.038 ns
Controle = veneno de B. jararaca (1.2µg) E1 = veneno e extrato (1mg) E2 = veneno e extrato (3mg) E3 = veneno e extrato (6mg) E3 = veneno e extrato (10.0mg)
Page 71
57
Figura 7. Jatropha elliptica, manchas hemorrágicas: grupo experimental (extrato e veneno) e controle
(veneno).*** inibição significativa da hemorragia; ns, não significante.
1mg ns de extrato e 1.2g de veneno 3mg ns de extrato e 1.2g de veneno
6mg*** de extrato e 1.2g de veneno
Grupo controle: 1.2g de veneno
10mg*** de extrato e 1.2g de veneno
Page 72
58
Verificação da atividade hemorrágica dos extratos: Os extratos das plantas não apresentaram
atividade hemorrágica (Figura 8 e 9; Apêndice 12).
Apodanthera villosa (batata-de-teiú)
Apodanthera glaziovii(cabeça-de-negro)
Figura 8. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Apodanthera villosa e Apodanthera glaziovii.
1mg de extrato
1mg de extrato
3mg de extrato 6mg de extrato
3mg de extrato
6mg de extrato 10mg de extrato
Page 73
59
Jatropha elliptica (batata-de-teiú)
Figura 9. Manchas hemorrágicas dos extratos das plantas: Jatropha mollissima e Jatropha elliptica
6mg de extrato 10mg de extrato
1mg de extrato 3mg de extrato
Jatropha mollissima (pinhão-bravo)
1mg de extrato 6mg de extrato 3mg de extrato
Page 74
60
Discussão
1. Epidemiologia dos acidentes ofídicos
Vital Brazil e a epidemiologia de acidentes ofídicos
O primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos no Brasil foi realizado por
Vital Brazil, em 1901, registrando o número de óbitos por picadas de serpentes no Estado
de São Paulo em 1897, 1899 e 1900 (Brazil, 1901). Vital Brazil produziu as primeiras
ampolas de soro antiveneno e as distribuía através do Instituto Butantan, juntamente com o
�Boletim para observação de accidente ophidico�, para ser preenchido com dados
referentes ao acidente com serpente. O soro era obtido de imunoglobulinas IgG de cavalos,
através da hiperimunização dos eqüinos com venenos específicos e para isso eram
necessários obter os venenos, principalmente de Crotalus e Bothrops. A técnica que ele
utilizava era simples e funcionava muito bem: estimulava o envio de serpentes de diversas
regiões para o Butantan, as quais eram transportadas por via férrea, e não só enviava aos
doadores laços e caixas, inventados por ele para capturar e manter as cobras, mas
principalmente, enviava também soros antibotrópico e anticrotálico aos doadores (Vital
Brazil, 1987; Raw & Sant´Anna, 2002).
Até 1945, foram realizados estudos epidemiológicos dos acidentes ofídicos apenas
nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o que pode ser explicado pela
localização dos Institutos públicos que produziam antivenenos: Instituto Serumterápico
(atualmente Instituto Butantan), em São Paulo, fundado em 1897; Instituto Vital Brazil, no
Rio de Janeiro, fundado em 1919; e a Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais, fundada
em 1907 (Raw et al., 1991; Bochner & Struchiner, 2003).
Entre 1946 e 1953 não foram publicados trabalhos sobre epidemiologia de acidentes
ofídicos; a maior concentração de estudos epidemiológicos foi durante 1986 a 1993,
possivelmente devido ao bom funcionamento do sistema de informação dos acidentes por
animais peçonhentos na época, que condicionava a distribuição do soro às notificações dos
casos (Nishioka & Silveira, 1992; Silveira & Nishioka, 1992; Ribeiro et al., 1993).
id23828250 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com
Page 75
61
A revisão mais recente sobre epidemiologia de acidentes ofídicos no Brasil, durante
1901 a 2000, é a de Bochner & Struchiner (2003). Eles apresentaram um perfil
epidemiológico dos acidentes com serpentes de acordo com as principais variáveis
utilizadas nestes estudos, e concluíram que o perfil epidemiológico não havia mudado
substancialmente, ocorrendo ainda conforme descrito em 1911 por Vital Brazil no trabalho
�A defesa contra o ophidismo�.
Os métodos populares utilizados nos acidentes ofídicos
As representações populares, com seus métodos alternativos para tratar os diversos
males que acometem as comunidades carentes da caatinga, são ainda muito fortes, como
acontece também em todas as regiões da América Latina, envolvendo rituais e preparados
diversos (Otero, Fonnegra & Jiménez, 2000; Grenand, 1977). Os ritos em todas as regiões,
no geral, têm em comum a finalidade de afastar entidades espirituais ruins, as quais estão
contidas no veneno. Na Amazônia, por exemplo, os índios yanomami não reconhecem as
serpentes nas categorias venenosas ou não, mas sim pelos espíritos que representam,
chamados Riori. As serpentes (e outros animais, como lagartos e sapos) têm espíritos que
o xamã tenta retirá-los quando em contato com algum yanomami, muitas vezes com
sucesso, mas deixa sempre seqüelas no local da picada, caso o contato tenha sido com
Bothrops, Bothriopsis ou Lachesis (Carvalho, com.pes.).
Os preparados contra envenenamentos ofídicos possuem as mais diversas misturas,
porém todas têm plantas como constituintes. Um dos mais famosos contravenenos é o
Específico Pessoa, fabricado em Sobral, no Ceará, elaborado com a raiz de uma planta
conhecida como cabeça-de-negro. Nakagawa et al. (1982) isolaram as cabenegrinas I e II
desta planta, relatando que estes compostos têm propriedades antiofídicas, porém eles
omitiram a espécie, citando apenas o nome popular. O contraveneno Pau X, produzido no
Pará, é indicado para envenenamentos de serpentes e também para insetos venenosos.
Outro específico (medicamento que tem ação especial contra determinada doença) utilizado
nos envenenamentos ofídicos é o composto P.Esser, produzido em Santa Catarina à base
das plantas jaborandi (várias espécies de Pilocarpus, Rutaceae), mucuracaá ou pipi
(Petiveria sp, Fitolacaceae) e caçau (Aristolochia sp, Aristolochiaceae). O Kutelak é
produzido no litoral norte de São Paulo, fabricado com base na planta pata-de-vaca ou
Page 76
62
mororó (Bauhinia sp, Leguminosae), recomendada para picadas de cobras, insetos,
escorpiões e aranhas (Cardoso, 2003).
Os produtos antiofídicos populares mais comercializados em Sergipe foram o �Pó
Contraveneno�, fabricado em Feira de Santana, Bahia e o permanganato de potássio,
ambos vendidos nas feiras livres e nas casas de produtos agropecuários. Durante a
execução deste estudo fui a Feira de Santana procurar o fabricante do contraveneno, mas,
ambos, produto e fabricante, são mantidos em segredo. Quanto ao permanganato de
potássio, é interessante notar que o método ainda existe popularmente, apesar de não ser
utilizado nas unidades de saúde desde a época de Calmette e Vital Brazil (Hawgood, 1992).
Fitoterapia e ofidismo na região de Sergipe
Muitas plantas têm sido citadas na literatura como antiofídicas, porém a maioria
destas são recomendadas com base apenas no conhecimento popular. Mors (1991) e Martz
(1992) encontraram na literatura 578 espécies de plantas, pertencentes a 94 famílias,
citadas como antiofídicas. Otero Fonnegra & Jiménez (2000) relatam que mais da metade
dos acidentes ofídicos das regiões de Antióquia e Choco, Colombia (aproximadamente
250-300 casos por ano) são tratados com fitoterápicos e benzeduras. Nestas regiões, eles
identificaram 105 espécies de plantas utilizadas como antiofídicas, a metade destas
administrada na forma de extratos associados com aguardente. As demais são aplicadas na
forma de vapores e banhos externos, muitas vezes mesclando estas formas de uso.
Durante a execução deste estudo visitei várias vezes a região de Curituba, com as
finalidades de coletar plantas para fazer os extratos e obter informações sobre o uso que se
fazem destas. Atualmente são poucos os benzedores naquela região; eles informaram
aproximadamente 30 plantas da caatinga que são utilizadas para tratar diversos males, a
maioria como antiinflamatórias. As três plantas utilizadas como antiofídicas na caatinga,
Apodanthera villosa (batata-de-teiú), A. glaziovii (cabeça-de-negro) e Jatropha mollissima
(pinhão-bravo) não são citadas na literatura especializada, apesar de os nomes populares
serem citados e recomendados em casos de picadas de cobras (Mors, 1991; Nakagawa et
al., 1972; Braga, 1960).
Outros aspectos sobre a fitoterapia, relacionados aos constituintes químicos das
plantas que atuam inibindo as ações sistêmicas e locais provocadas pelo veneno de
Page 77
63
serpentes são abordados mais à frente, juntamente com a discussão dos resultados dos
extratos, os quais inibiram a hemorragia causada pelo veneno de B. jararaca, mas apenas a
batata-de-teiú retardou os efeitos de letalidade.
Envenenamentos por serpentes e soroterapia em Sergipe
Os soros antiofídicos devem ser específicos, com exceção dos envenenamentos por
algumas espécies, como Bothrops jararacussu Lacerda, 1884, cuja mistura de venenos
botrópico e crotálico é importante para neutralizar a fração miotóxica do veneno (Dos
Santos et al., 1992). Desse modo, o soro antibotrópico neutraliza as ações proteolíticas,
coagulantes e hemorrágicas do veneno botrópico; o soro anticrotálico neutraliza as ações
neurotóxicas, miotóxicas e coagulantes do veneno crotálico; o soro antielaquético
neutraliza as ações proteolíticas, coagulantes, hemorrágicas e neurotóxica do veneno
laquético e o soro antielapídico neutralizam as ações das neurotoxinas NTX que atuam nas
junções pré e pós-sinápticas (Brasil, 1999; Soerensen, 1990; Pinho & Pereira, 2001). O
Ministério da Saúde recomenda ainda o uso do soro antibotrópico-laquético para acidentes
com Bothrops e Lachesis na Amazônia.
Com relação aos soros antiofídicos administrados nos acidentes que ocorreram em
Sergipe durante o período analisado, notei algumas contradições nas notificações,
infelizmente sem poderem ser esclarecidas. Na maioria dos registros consta o gênero da
serpente que causou o envenenamento e os sintomas apresentados pelo acidentado, mas
dentre os 95 casos notificados de envenenamentos ofídicos em Sergipe, aproximadamente
um terço não recebeu soro antiofídico. Os registros não esclarecem se o soro antiveneno
não foi aplicado porque os casos foram considerados leves ou se, na realidade, estes casos
foram atendidos com soroterapia, mas por qualquer razão não constam nas notificações. Os
registros também não esclarecem alguns casos nos quais a soroterapia foi aplicada, mas não
constam os gêneros das serpentes que causaram os envenenamentos. Outros registros
confusos notificam envenenamentos por Crotalus, mas constam que os acidentados
receberam soro antibotrópico e, ainda, há vários casos cujos sintomas descritos não
condizem com o tipo de envenenamento, confundindo os sintomas de acidentes crotálicos e
botrópiocs entre si. Há várias possibilidades para explicar essas falhas, no momento não há
como verificar a fonte de erro.
Page 78
64
A proporção de ampolas de soro utilizadas durante os quatro anos analisados foi de 7
antibotrópicos: 1 antibotrópico-crotálico: 0,3 anticrotálico: 0,6 antielapídico. Aqui notei
também outro problema nas notificações, que foi a utilização do soro antibotrópico-
crotálico em alguns casos de envenenamentos botrópicos: este soro deve ser utilizado
apenas nos envenenamentos provocados por algumas espécies de Bothrops que possuem
enzimas do tipo fosfolipases A2 (que têm ação miotóxica) na composição do veneno, cujas
enzimas são também encontradas nos venenos de Crotalus. Nos experimentos de Dos
Santos et al. (1992), eles mostraram que a associação de venenos para compor o soro
antibotrópico-crotálico é mais eficaz na neutralização de espécies cujo veneno tenha ação
miotóxica também, como B. jararacussu. Neste caso, o soro antibotrópico é eficaz contra
este tipo de veneno, devido às fosfolipases. Como será abordado mais à frente, as espécies
de Bothrops com provável ocorrência em Sergipe não apresentam venenos desta natureza.
O soro antibotrópico-crotálico foi administrado, segundo as notificações, em casos de
acidentes com cascavel, o que não é recomendável, entretanto fica a dúvida se o problema
foi na decisão ao administrar o soro ou no preenchimento das notificações.
O único acidente com cobra-coral no período analisado recebeu 10 ampolas de soro
antielapídico, como recomendado nos manuais (Pinho & Pereira, 2001). Devido às
conseqüências sistêmicas � parada respiratória � uma mordida de Micrurus deve sempre
ser considerado um caso grave. Nos dois casos de acidentes registrados como tendo sido
causados por Lachesis não constam se os acidentados receberam ou não soroterapia. Estes
registros nas notificações serão comentados a seguir.
Incidência dos acidentes ofídicos e as cobras venenosas da região de Sergipe
De um modo geral, embora tenham sido constatadas algumas informações confusas
nas notificações, o índice anual de incidência de acidentes ofídicos na região de Sergipe é
baixo, menos de 1/ 10000 habitantes. A maioria dos acidentes ocorridos durante o período
analisado foi causada por Bothrops, como também acontece em todas as regiões brasileiras,
seguido por acidentes com Crotalus (Feitosa, Melo & Monteiro, 1997; Nascimento, 2000;
Bochner & Struchiner, 2003; Pinho e Pereira, 2001).
De acordo com o setor de vigilância epidemiológica do Estado de Sergipe, muitos
acidentes não são notificados, sendo tratados com terapias alternativas. Estas omissões
Page 79
65
devem contribuir para o baixo índice de acidentes notificados. A forma de ocupação
humana da região e os ecossistemas que compõem a região de Sergipe também devem ter
contribuído para estes baixos índices: grande parte da vegetação natural de Mata Atlântica
de Sergipe não existe mais, numa área cuja presença de manguezais é forte. Junto com as
áreas antropizadas algumas populações de cobras devem ter diminuído por interferências
no nicho ou caça, como as populações de Bothrops; já os manguezais não constituem
hábitats para jararacas. Estes dois fatores juntos devem ter contribuído para diminuir a
presença de Bothrops em Sergipe e, conseqüentemente, diminuindo também a
probabilidade de ocorrer acidentes com indivíduos desta espécie. Com relação às cascavéis,
estas são de áreas abertas, caatinga ou agreste, ecossistemas que compõem mais da metade
de Sergipe, porém, por alguma razão, Crotalus não é freqüente na região, o que explicaria a
baixa freqüência de acidentes. Apesar de serem serpentes comuns, os acidentes com
Micrurus são os menos freqüentes em todas as regiões, inclusive em Sergipe, onde ocorreu
uma vez e os acidentes com Lachesis são mais comuns na Amazônia. Os dois acidentes
com surucucu registrados para Sergipe são duvidosos, além do que não constam nas
notificações nenhuma aplicação de soro antilaquético durante o período analisado.
Nas notificações de acidentes por animais peçonhentos, registrados pela Secretaria
Estadual de Saúde, as serpentes estão identificadas até gênero, mas não há informações
sobre como foram feitas as identificações (provavelmente através dos sintomas
apresentados pelos acidentados), como também são inexistentes na literatura informações
sobre a ofidiofauna da região.
Duas famílias de serpentes venenosas ocorrem na mata atlântica, agreste e caatinga de
Sergipe: Viperidae (subfamília Crotalinae, representada pelo gênero Crotalus e subfamília
Viperinae, representada por Bothrops; a ocorrência de Lachesis em Sergipe é duvidosa). As
espécies de Bothrops com possíveis ocorrências para a região são (Campbell & Lamar,
1989; Peters & Orejas-Miranda, 1980; Vanzolini et.al, 1980; Ferrarezi & Freire, 2001):
B.moojeni Hoge, 1966; B.erythromelas Amaral, 1923; B.neuwiedi piauhyensis Amaral,
1925; B.leucurus (Wagler, 1824); B.pirajai Amaral, 1923 e B.muriciensis Ferrarezi &
Freire, 2001. A cascavel de Sergipe pode ser Crotalus durissus cascavella Wagler, 1824; a
cobra-coral é provavelmente Micrurus ibiboboca Merrem, 1820 (Vanzolini et al., 1980).
Page 80
66
As identificações são fáceis, embora devam ser feitas por um profissional (Vanzolini
et al., 1980). Micrurus tem coloração característica, constituída por anéis vermelhos, pretos
e brancos, arranjados em tríades. A espécie que pode ser confundida com a cobra coral é
Oxyrhopus trigeminus, conhecida também como coral, mas é facilmente diferenciada de
Micrurus porque esta tem os anéis completos em volta do corpo. As corais são comuns em
Sergipe, principalmente na época das chuvas, quando aparecem mais (Carvalho, com.
pes.). Bothrops e Crotalus são semelhantes morfologicamente; Crotalus tem um
crepitáculo na ponta da cauda e as escamas internasais e prefrontais diferenciadas,
separadas por uma sutura transversal reta, subcaudais simples; Bothrops tem o topo do
focinho coberto por escamas irregulares, internasais arredondadas e subcaudais duplas.
Lachesis tem as escamas fortemente carenadas, lembrando a parte externa do sincarpo
(pseudocasca) das jacas, a qual apresenta numerosos �picos� (espinhos, bicos) quando
madura, daí seu nome surucucu-pico-de-jaca.
As duas notificações de acidentes por Lachesis foram para as regiões de Nossa
Senhora das Dores e Lagarto, ambas situadas no agreste. A forma de provável ocorrência
em Sergipe é L.muta rhombeata Wied, 1824, que se distribui na Mata Atlântica do Alagoas
até o Rio de Janeiro (Vanzolini, 1986; Hoge & Romano-Hoge, 1976-1977). Não existe
evidência da ocorrência de surucucu em Sergipe, sendo improvável a ocorrência desta
espécie em áreas de agreste. Nos trabalhos de campo para coleta de plantas e demais dados
para compor o trabalho, houve referências inequívocas de jararaca, cascavel e cobra-coral,
além de vários exemplares coletados, mas os moradores não souberam responder sobre a
presença da surucucu, uma cobra facilmente idenficável quando ocorre numa região,
devido ao seu porte, atingindo até 2 metros de comprimento.
Idade e sexo
A proporção dos acidentes variou significativamente com relação à idade dos
acidentados. Os casos mais freqüentes ocorreram entre 1-20 anos de idade (sexos
agrupados), indicando que este grupo etário foi submetido a maiores riscos durante o
período. A literatura cita que em São Paulo os acidentes ofídicos são mais freqüentes
entre10-20 anos de idade, 10-19 anos em Minas Gerais e no Ceará, 15-30 anos em Roraima
e 15-49 anos notificado pela Fundação Nacional da Saúde. Estes dados indicam que na
Page 81
67
faixa etária de maior concentração da força de trabalho no campo é onde ocorre a maior
freqüência de acidentes ofídicos (Silveira & Nishioka, 1992; Ribeiro et al., 1993; Brasil,
1999; Nascimento, 2000; Pinho & Pereira, 2001). Não existem informações sobre a
predominância da faixa etária na força de trabalho nas áreas rurais de Sergipe, mas o limite
da faixa etária onde ocorreram os acidentes ofídicos com maior freqüência foi de 20 anos,
situando-se entre São Paulo e Minas Gerais.
A proporção de acidentes ofídicos também foi diferente entre os sexos; os homens
sofreram mais acidentes, talvez por exercerem atividades fora das suas moradias com
maior freqüência do que as mulheres, expondo-se mais aos fatores de risco, conforme
relatado também para outras regiões (Acosta et al.,2000).
Sazonalidade e regiões de ocorrência
A proporção dos acidentes ofídicos entre os períodos seco e chuvoso foi
significantemente diferente, com a predominância dos casos durante os meses secos.
Possivelmente esta proporção esteja relacionada à maior duração dos meses secos na região
e, conseqüentemente, à maior exposição dos habitantes ao meio ambiente nesta época, que
se estende por oito meses na região de Sergipe (setembro a abril). Feitosa, Melo &
Monteiro (1997) relataram resultados diferentes quando analisaram no Ceará a
epidemiologia dos acidentes ofídicos de 1992-1995; os acidentes foram mais freqüentes no
período de maior pluviosidade, que vai de abril a setembro. A mesma relação com a
pluviosidade e envenenamentos por serpentes ocorre na região sudeste, onde os acidentes
ofídicos ocorrem principalmente nos meses quentes e chuvosos, provavelmente
relacionados com as épocas reprodutivas das serpentes e com a maior atividade agrícola,
durante a qual aumenta a exposição dos trabalhadores rurais ao meio (Ribeiro et al., 1993).
Sintomas e tempo decorrido entre o acidente e a soroterapia
Para aplicar o soro antiofídico adequado é necessário identificar a serpente que
causou o acidente. Na ausência do exemplar para reconhecimento da espécie, os sintomas
apresentados pelos acidentados constituem a única base para deduzir o tipo de
envenenamento, embora possam ser realizados testes Elisa, através de antígenos dos
venenos botrópico e crotálico, tempo de coagulação, tempo parcial de tromboplastina e
Page 82
68
testes de creatinofosfoquinase, desidrogenase lática e aspartase-alanino-transferase, o
último para diagnosticar envenenamento crotálico (Pinho & Pereira, 2001).
Em Sergipe a rotina parece ser o dignóstico através dos sintomas apresentados, como
também relatado para o Ceará (Feitosa, Melo e Monteiro, 1997). O envenenamento
botrópico causa sintomas locais e sistêmicos, os efeitos locais são os mais problemáticos,
devido à precocidade com que aparecem, 3-5 minutos após a picada. Os principais
sintomas, relatados até 3 horas após o acidente, são: dor, edema, hemorragia no local da
picada, hemorragia sistêmica e aumento do tempo de coagulação sangüínea. Outras
conseqüências podem aparecer na evolução dos casos, como equimoses, eritemas, oligúria,
bolhas, abcessos e anúria, acompanhado ou não de necrose (Raw et al., 1991; Brasil, 1999;
Soerensen, 1990; Pinho & Pereira, 2001; Araújo, 2003). As manifestações clínicas do
envenenamento por Lachesis são, no geral, semelhantes aos envenenamentos causados por
Bothrops. O envenenamento crotálico não provoca efeitos notáveis no local da picada. Até
3 horas após o acidente, os principais sintomas são decorrentes da atividade neurotóxica do
veneno crotálico, ocorrendo ptose palpebral e flacidez da musculatura da face (fácies
miastênico ou neurotóxico); outros sintomas do envenenamento crotálico são decorrentes
da miotoxicidade do veneno, ocorrendo dores musculares generalizadas e mioglobinúria
(consequência da necrose da fibra muscular). Dentre as complicações mais graves nos
acidentes crotálicos, que ocorrem após 3 horas, está a insuficiência renal aguda, que pode
levar o acidentado à morte (Raw et al., 1991; Lúcia, 2000; Pinho & Pereira, 2001). Os
acidentes com Micrurus são pouco freqüentes, mas potencialmente graves. Os sintomas
podem surgir em menos de uma hora após a picada, ocorrendo ptose palpebral, diplopia,
dificuldade de deglutição e insuficiência respiratória aguda (Vital Brazil, 1990; Soerensen,
1990; Brasil, 1999; Casais e Silva, 2001; Pinho & Pereira, 2001).
Nas notificações de Sergipe constam três casos de acidentados associados a
envenenamentos botrópico e laquético que apresentaram urina escura, mas este sintoma é
associado ao envenenamento crotálico, devido à lesão da fibra muscular esquelética que
libera mioglobina, a qual é excretada pela urina, daí a cor escura. Um caso de acidentado
associado a envenenamento elapídico apresentou abcesso local. Entretanto, é a ação
proteolítica do veneno botrópico que pode causar o desenvolvimento de infecções locais,
além do que, geralmente as manifestações locais, como edema, bolha e necrose decorrem,
Page 83
69
em parte, da liberação de mediadores da resposta inflamatória e da ação das hemorraginas,
características do envenenamento botrópico. Três casos associados a envenenamento
botrópico apresentaram diplopia, entretanto a diplopia é geralmente associada ao efeito
sistêmico decorrente da ação neurotóxica do veneno crotálico ou elapídico. Nove casos
associados a envenenamentos botrópico, laquético, elapídico e crotálico apresentaram
mialgia, porém a mialgia geralmente está associada à ação neurotóxica sistêmica do veneno
botrópico ou elapídico. Provavelmente estes sintomas foram associados por descuido aos
tipos de acidentes ofídicos, porém o fato é preocupante, visto que a aplicação do
antiveneno é feita em Sergipe com base nos sintomas apresentados pelo acidentado.
Partes do corpo atingidas e gravidade dos casos
As partes mais atingidas do corpo nos casos de acidentes ofídicos em Sergipe foram
os membros inferiores (66 casos, aproximadamente 70%); o mesmo observado em outras
regiões (Silveira & Nishioka, 1992; Ribeiro et al.1993, Saborío, Gonzalez & Cambronero,
1998; Borges, Sadahiro & Santos, 1999; Acosta et al., 2000). De acordo com a Secretaria
Estadual da Saúde de Sergipe, os acidentes ofídicos ocorridos na região foram classificados
como leves, moderados e graves. De um modo geral, a maioria dos acidentes com
serpentes peçonhentas foi notificado como leve (Tabela 11).
Nos acidentes botrópicos considerados leves os efeitos locais (dor, edema e
equimose) estão ausentes ou discretos, evoluindo para intensos nos casos graves; os efeitos
sistêmicos (hemorragia, anúria, oligúria e tempo de coagulação alterado) estão ausentes nos
casos leves ou moderados e presentes nos casos graves. Nos acidentes crotálicos a fácies
miastênica, mialgia, a presença de urina vermelha, oligúria e anúria estão ausentes ou são
discretos nos casos leves e moderados; estão presentes e são intensos nos casos graves. Nos
acidentes elapídicos os sintomas sistêmicos (principais) podem surgir em até menos de uma
hora após a picada e os casos devem ser considerados graves, devido ao risco de
insuficiência respiratória (Brasil, 1999; Soerensen, 1990; Pinho & Pinheiro, 2001; Araújo,
2003).
Page 84
70
2. Parâmetros biológicos do veneno botrópico
Efeitos sistêmicos e locais
Dentre os vários componentes dos venenos de serpentes (ânions e cátions,
aminoácidos livres e peptídeos, nucleotídeos e nucleosídeos, lipídeos, carbohidratos e
aminas biogênicas) três componentes são de extrema importância nos envenenamentos: i)
as enzimas, tais como a fosfolipase A2, proteases, enzimas proteolíticas, cininogenase
(liberadora da bradicinina), enzimas protocoagulantes e fibrinolíticas, ii) as proteínas e
polipeptídeos não enzimáticos, como as neurotoxinas (pré e pós-sinápticas), cardiotoxinas
capazes de provocar parada cardíaca e mionecrose, miotoxinas, responsáveis pelos eventos
que levam à necrose, iii) as hemorraginas, que são metaloproteínas dependentes de cátions
bivalentes, como Ca++, Mg++ e Zn++, cujas ações são inibidas pelo EDTA (Bolaños, 1984;
Kamiguti et al., 1996; Borkow, Gutiérrez & Ovadia, 1993; Gutiérrez, 2002).
Os efeitos dos venenos das viperíneas devem-se principalmente às proteínas e
polipeptídeos de alto peso molecular, que atuam sistêmica e localmente. As principais
ações farmacológicas sistêmicas causadas por envenenamento botrópico são os distúrbios
da coagulação sangüínea. Estas ações são causadas por neurotoxinas, cardiotoxinas e
enzimas, tais como a fosfolipase A, a fosfodiesterase e as proteases, as quais participam de
todo o processo localmente (Elliott, 1978; Bolaños, 1984; Mebs, 1978; Gonçalves &
Mariano, 2000). Uma boa revisão sobre os venenos de serpentes e os agentes
modificadores da coagulação sangüínea, foi feita por Meaume (1966). Ele discutiu a ação
de venenos de serpentes das famílias Hydrophiidae, Elapidae, Crotalidae e Viperidae sobre
a coagulação do sangue, ressaltando o papel do fibrinogênio e trombinas. Dez anos depois,
em 1976, Stocker & Barlow descreveram a �botroxina�, uma enzima tipo trombina isolada
do veneno de B.atrox, a qual afeta a coagulação sangüínea (Gutiérrez, 2002).
A miotoxicidade do veneno botrópico é um efeito local causado por miotoxinas. As
miotoxinas são proteínas com estrutura de fosfolipase A2 da classe II, que atuam nas
células musculares causando necrose do tecido muscular (mionecrose). As miotoxinas
podem ser caracterizadas em dois grupos, de acordo com o grupamento protéico: i) as que
apresentam lisina no resíduo 49 (Lis49), ii) ou aspartato (Asp49). Ambas atuam
diretamente na membrana plasmática das células musculares, originando um fluxo de
Page 85
71
cálcio no citosol, o qual induz uma série de eventos degenerativos que causam lesões
celulares irreversíveis (Gutiérrez, 2002). A primeira miotoxina do veneno de Bothrops foi
isolada em 1984 por Gutiérrez e colaboradores, utilizando o veneno de B. asper (Gutiérrez,
Ownby & Odell, 1984). Alguns anos depois, Lomonte et al. (1990) isolaram três
miotoxinas de Bothrops, duas do veneno de B. moojeni e uma de B. atrox, e descreveram a
composição química e atividades biológicas destes venenos.
A letalidade do veneno botrópico deve-se principalmente à ação coagulante do
veneno, que ativa o fator X e a protrombina, isolada ou simultaneamente. O veneno
botrópico possui também ação semelhante à trombina, convertendo fibrinogênio em
fibrina, formando coágulos de fibrinogênio. Como o fibrinogênio é um fator de coagulação
sangunínea, estas ações induzem às deficiências na coagulação sangüínea. A insuficiência
renal aguda pode ser causada pelos microcoágulos de fibrina nos capilares, desidratação e
hipotensão arterial, devido à ação da bradicinina. O choque decorrente dos casos graves de
envenenamento botrópico é decorrente da liberação de substâncias vasoativas, do aumento
de líquido na área edemaciada e perda de líquido por hemorragias (Meaume, 1966; Brasil,
1999; Pinho & Pereira, 2001).
As principais ações locais devido aos envenenamentos botrópicos são: i) edema,
devido ao efeito da fração cardiotóxica, cuja ação farmacológica é mediada pela ação de
adrenoreceptores (1 e 2) e, principalmente, por produtos da cicloxigenase e lipoxigenase;
ii) efeito hemorrágico e degenerativo das fibras musculares, principalmente devido à
fosfolipase A e iii) aumento da permeabilidade vascular, causado pela liberação de cininas,
fosfolipase A e histamina (Trebien & Calixto, 1989; Cury, Teixeira & Sudo, 1994;
Gonçalves & Mariano, 2000).
A bradicinina
Uma pesquisa importante na história da toxinologia foi realizada por Rocha e Silva,
Beraldo & Rosenfeld (1949), com implicações terapêuticas até hoje na utilização do
veneno de B. jararaca como agente hipotensor. Rocha e Silva e colaboradores descobriram
a �bradicinina�, um polipeptídeo de natureza endógena liberada no plasma, através da ação
enzimática do veneno, por um precursor protéico chamado bradicininogênio. As principais
ações farmacológicas da bradicinina incluem a estimulação da musculatura lisa,
Page 86
72
vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e dor. A bradicinina libera cininogenases
que interferem no mecanismo das cininas no sangue; a atividade das cininas sob a ação do
veneno de serpentes rapidamente inativa a bradicinina, devido à ação proteolítica do
veneno.
Outra importante contribuição derivada da descoberta de Rocha e Silva, Beraldo &
Rosenfeld foi a descoberta de Sérgio Ferreira e seus colaboradores na década de 1960, que
isolaram um princípio ativo do veneno de B. jararaca capaz de intensificar a resposta à
bradicinina. Ferreira e seus colegas chamaram este princípio de �fator potenciador da
bradicinina�. Este fator é formado por polipeptídeos que atuam inibindo as cininas e a
conversão da angiotensina-A na angiotensina-B (Mebs, 1978; Gutiérrez, 2002).
As variações dos venenos de serpentes
Furtado et al. (1991b) compararam os venenos de nove espécies de Bothrops
(alternatus, cotiara, erythromelas, jararaca, jararacussu, moojeni, neuwiedi, neuwiedi
paranaensis, neuwiedi pauloensis e neuwiedi urutu), obtidos de fêmeas adultas e suas
ninhadas. Eles estudaram as atividades proteolíticas, coagulantes e a ação letal destes
venenos, além de determinarem o conteúdo protéico e o padrão eletroforético dos mesmos.
Furtado e colaboradores concluíram que: i) as atividades da trombina, toxicidade e
amidolítica/fibrinolítica variaram com relação ao tamanho dos indivíduos, ii) B. neuwiedi
paranaensis e B. neuwiedi pauloensis possuem as atividades mais tóxicas, iii) a atividade
caseinolítica de todos os venenos das fêmeas e as atividades pró-coagulantes dos jovens
foram altas, iv) o veneno de B. erythromelas das fêmeas adultas e filhotes não mostraram
atividade amidolítica e apresentaram o mais alto nível de atividades do fator X e
protrombina, sem a ação da trombina, v) os venenos dos filhotes de B. cotiara
apresentaram as maiores atividades de trombina, enquanto B. jararacussu fêmeas não
apresentaram nenhuma atividade pró-coagulante específica, vi) os filhotes das espécies
estudadas apresentaram alta atividade pró-coagulante. Conforme observaram Furtado e
colegas, as atividades do veneno podem variar entre indivíduos da mesma população e até
mesmo a composição do veneno pode variar entre populações da mesma espécie.
Uma boa revisão sobre a variabilidade local e geográfica dos venenos de serpentes
foi realizada por Chippaux e colaboradores, cujas variações podem ser atribuídas a
Page 87
73
sazonalidade reprodutiva, dieta, hábitat, idade e dimorfismo sexual (Chippaux, Williams &
White, 1991). Eles enfatizaram a importância de se conhecer esta variabilidade, pois
venenos de indivíduos da mesma espécie podem apresentar diferenças na composição do
veneno, dependendo da região ecológica onde foram coletados e isto pode ter implicações
regionais na eficácia do antiveneno.
Outra pesquisa relacionada às variações dos venenos entre indivíduos da mesma
população foi realizada por Lomonte e colaboradores. Lomonte et al. (1983) estudaram as
variações ontogenéticas do veneno de Crotalus durissus terrificus, utilizando indivíduos
adultos e recém-nascidos. Eles verificaram a ação letal e as atividades proteolíticas,
hemolíticas, hemorrágicas, mionecróticas e edematogênicas. O veneno dos recém-nascidos
possui características bioquímicas diferentes dos adultos. É notável a alta letalidade dos
venenos de recém-nascidos. As análises imunoeletroforética e eletroforética mostram que
existem variações quantitativas e qualitativas na composição dos venenos. A atividade
hemorrágica aumentou com a idade e os recém-nascidos não produzem hemorragia e, com
relação a atividade proteolítica, esta foi maior nos adultos (Gutiérrez, 2002).
As vias de administração do veneno também são fontes de variação quando se estuda
a sensibilidade de venenos.Vários trabalhos descrevem as ações dos venenos de cobras
com relação às vias administradas, principalmente para estudar os efeitos hemorrágicos.
Bolaños (1984) foi um dos pioneiros nos estudos sobre a toxicidade de venenos de
serpentes da Costa Rica, inoculando camundongos através das vias intraperitoneal e
intravenosa; a via intravenosa apresentou maior sensibilidade ao veneno. O mesmo
resultado foi encontrado por Kawamura & Sawai (1984), os quais utilizaram o antiveneno
de Naja kaouthia (Elapidae) para mostrar maior eficácia quando administrado por via
intravenosa.
Sobre a determinação da DL50 do veneno
A dose letal 50% é a unidade tóxica de veneno definida como a quantidade de veneno
capaz de em 48 horas provocar a morte de 50% dos animais inoculados (Fisher, 1949).
Neste estudo, a DL50 do veneno de B. jararaca foi obtida através de: i) regressões dos
valores probíticos sobre as concentrações do veneno, utilizando o programa da OMS e ii)
comparação entre os coeficientes (b) e as constantes (a) das quatro retas de regressões dos
Page 88
74
experimentos. Os resultados da DL50 utilizando os dois métodos foram praticamente iguais,
embora as retas tivessem sido significantes quanto ao paralelismo e afastamento, devido às
variações do número de camundongos mortos com relação às doses de veneno.
Existem na literatura bons trabalhos sobre análise de dados experimentais (e.g.,
Sprugel, 1983; Bryant, 1986; Fisher, 1949), mas não encontrei nenhum trabalho ou citação
que discutisse como os experimentos entre repetições e réplicas são descartados e o
aproveitamento dos melhores dados � aqueles mais coerentes com relação às mudanças da
variável dependente (y) de acordo com a evolução da variável independente (x). Ao
agrupar os experimentos neste estudo, segui o princípio metodológico básico de que todos
os ensaios foram retirados da mesma população e portanto apresentaram os mesmos
comportamentos biológicos (Zar, 1996; Fisher, 1949; Hulbert, 1984). Desse modo todos os
dados puderam ser aproveitados, com exceção dos primeiros experimentos, os quais foram
realizados para treinamento.
Um trabalho relevante sobre os métodos quantitativos utilizados na pesquisa sobre
DL50 do veneno de cobras, foi o de Villarroel (1977), sobre probites e animais
experimentais. A metodologia desenvolvida por Vital Brazil utilizava pombos para
determinar a toxicidade de venenos botrópicos e Villarroel propôs a utilização de
camundongos como modelo animal para determinação da DL50. Seu método utiliza a via
intraperitoneal em camundongos para dosar antivenenos botrópicos. Ele verificou �in vivo�
a soroneutralização cruzada, utilizando antivenenos de B. jararaca, B. moojeni e B.
neuwiedi, para neutralizar os venenos de B. jararaca, B. alternatus, B. cotiara, B. neuwiedi,
B. pradoi, B. jararacussu e B. moojeni.
Dose letal 50% dos venenos botrópicos e variações experimentais
Neste estudo, a dose letal do veneno de B. jararaca, utilizando animais experimentais
provenientes do Biotério da Universidade Federal de Sergipe, foi 37.1g. As doses letais
50% citadas na literatura para outras espécies de Bothrops são: 58.8g para B. jararacussu;
92.3g para B. moojeni e 30.3g para B. neuwiedi (Dos-Santos et al., 1992; Furtado et al.,
1991a).
As doses letais 50% do veneno de B. jararaca variaram entre os experimentos do
estudo. Todos os ensaios realizados neste estudo foram padronizados; dois deles foram
Page 89
75
excluídos das análises, por terem sido realizados para treinamento. Com relação às
variações encontradas na determinação da DL50 entre os experimentos, a probabilidade de
erro experimental sempre existe, alguns experimentos podem apresentar variações
extremas ou discordantes, porém neste estudo as variações da DL 50 ocorreram em todos os
experimentos, apesar de terem sido padronizados.
Considerei então três hipóteses que pudessem explicar as variações: i) a primeira foi
com relação à possibilidade de erro experimental, apesar da atenção e planejamento para
padronizar todos os experimentos, ii) a segunda foi que as variações pudessem ter sido
causadas por fatores externos aos experimentos e independentes das padronizações, por
exemplo acondicionamento do veneno e iii) a terceira foi com relação à chance de que as
variações tenham ocorrido devido à biologia e manutenção dos animais experimentais.
Com relação a erro experimental, todos os ensaios foram padronizados, as metodologias e
os materiais foram os mesmos em todos os experimentos. Algum fator externo poderia ter
causado variabilidade nos experimentos; com relação ao veneno, este foi acondicionado e
manipulado sempre da mesma maneira. Com relação às próprias variações individuais nos
animais experimentais, sabe-se que o estresse dos animais pode causar variações nos
resultados e considerei esta hipótese a mais plausível para explicar as variações nas doses
letais encontradas nos ensaios (Araujo & Araujo, 1994).
Sobre a dose mínima hemorrágica (DMH)
A dose mínima hemorrágica do veneno de B. jararaca determinada neste estudo foi
0.24g, obtida através da análise de regressão do diâmetro da área hemorrágica (y) sobre a
concentração do veneno (x). Os estudos toxinológicos exigem a realização de experimentos
manipulativos que possam ser verificados; a verificação é feita através da utilização de
métodos quantitativos. Neste contexto foi relevante o trabalho realizado por Kondo e
colaboradores na década de 1960. Partindo do princípio que a hemorragia é o efeito
sistêmico mais importante causado por envenenamentos de viperíneas e crotalíneas, eles
propuseram um método quantitativo para determinar a atividade hemorrágica dos venenos.
Kondo et al. (1960) definiram a dose mínima hemorrágica como sendo a menor quantidade
de veneno capaz de produzir uma lesão de 10mm de diâmetro, após injeção cutânea em
coelhos. Eles também analisaram curvas log-dose para verificar as relações existentes entre
Page 90
76
as dosagem e respostas: encontraram para cada preparação respostas lineares e paralelas,
com manchas variando entre 10 a 18 milímetros de diâmetro.
A técnica de Kondo e colaboradores foi modificada por Ownby, Colberg & Odel em
1984 e por Gutiérrez et al. (1985), para ser utilizada em camundongos. Gutiérrez et al.
(1990) discutiram os métodos utilizados para estudo das atividades tóxicas dos venenos de
serpentes da Costa Rica. Eles estudaram as ações hemorrágicas, edematogênicas,
miotóxicas, necrosantes, coagulantes, a ação letal e os efeitos desfibrinante e enzimático
dos venenos, propondo a substituição do método in vivo pela técnica in vitro para estudar
os antivenenos. Um dos métodos discutidos por Gutiérrez e colaboradores foi a técnica
descrita por Kondo e colegas em 1960.
Furtado, Colletto & Dias da Silva (1991a) realizaram um elegante trabalho sobre
venenos de serpentes, envolvendo, entre outras análises, as determinações das doses
mínimas hemorrágicas e DL50. A pesquisa de Furtado, Coleto e Silva utilizaram uma
metodologia que é referência na pesquisa e na rotina do controle de qualidade na produção
de antivenenos do Instituto Butantan. Eles padronizaram os métodos de ensaios para
determinar as atividades dos venenos de várias espécies de Bothrops e Crotalus: i)
determinaram a DL50 em camundongos, ii) padronizaram os métodos para verificar
atividades promotoras da coagulação do fibrinogênio e do plasma e atividades indutoras da
hemorragia, necrose, edema e atividades caseinolíticas. A importância do trabalho de
Furtado e colaboradores foi que pela primeira vez no Brasil analisaram-se
comparativamente amostras de veneno liofilizado e seco a vácuo, como era
tradicionalmente preparado no Instituto Butantan; as amostras não apresentaram diferenças
entre as variáveis estudadas. A DMH dos venenos das serpentes do gênero Bothrops variou
entre 8-17g/rato.
As doses mínimas hemorrágicas dos venenos botrópicos
Comparações entre a DMH (bem como DL50) do veneno de B. jararaca utilizada
neste estudo e dados da literatura são difíceis de serem feitos, devido à utilização de
animais procedentes de diferentes biotérios; utilização de animais experimentais, como
ratos e camundongos, vias de inoculação do veneno e diferenças nas metodologias
utilizadas, como a determinação da DMH pela concentração de hemoglobina (Mebs, 1978;
Page 91
77
Furtado et al, 1991a; Gonçalves & Mariano, 2000) e pela menor dose capaz de causar uma
área hemorrágica de 10mm de diâmetro (Kondo et al., 1960; Furtado et al., 1991a). As
doses mínimas hemorrágicas citadas na literatura para outras espécies de Bothrops são:
B.asper 2.0g, B.jararacussu 8.25g, B.atrox 20.0g, B.godmani 5.0g, B.nasutus
30.0g, B.neuwiedi 8.0g, B.moojeni 5.0g (Dos-Santos et al., 1992; Neves-Ferreira et al.,
1997; Castro et al., 1999; Borges et al., 2001).
Ação hemorrágica local do veneno botrópico e as hemorraginas
Dentre as ações biológicas locais dos venenos botrópicos, a hemorragia é um dos
principais efeitos devido às hemorraginas, as quais causam degenerações microvasculares e
perda sangüínea, levando a degeneração muscular e de outros tecidos. Hemorraginas são
metaloproteínas, termolábeis e sensíveis a valores extremos de pH. O peso molecular
destas proteínas ácidas variam entre 20000 a 100000. As hemorraginas podem ser
classificadas em três grupos, dependendo do peso molecular: i) grupo I � pequenas (20000-
30000), não induzem hemorragia, possuem ação sinérgica; ii) grupo II � médias (30000-
60000), com ação hemorrágica; iii) grupo III � grandes (60000-100000), são as mais ativas.
As hemorraginas no grupo I e II não induzem à hemorragia, mas possuem ação sinérgica
com as hemorraginas do grupo 3; as três classes juntas contêm 50% das atividades
hemorrágicas do veneno.
A atividade hemorrágica das hemorraginas é reduzida por inibidores de
metaloproteínas, como o EDTA (ácido etilenodiaminotetracético), um agente quelante que
inibe as hemorraginas. Possivelmente o EDTA atraia alguns íons metálicos das
hemorraginas, inibindo assim os efeitos hemorrágicos do veneno botrópico (Isla, Malaga &
Yarlequé, 2003).
Existem pelo menos 43 hemorraginas isoladas de 15 espécies de Bothrops; algumas
espécies contêm as três classes de hemorraginas, como encontradas em B. asper da
América Central. As hemorraginas têm ação proteolítica sobre a membrana basal das
células endoteliais. Entretanto, se a proteólise da membrana basal é por si só suficiente para
induzir a hemorragia ainda é inconclusivo, porque ocorre lise das células endoteliais,
juntamente com a degeneração da membrana basal e o contato entre as células é também
destruído (Borkow, Gutiérrez & Ovadia, 1993; Kamiguti et al., 1996).
Page 92
78
O primeiro fator hemorrágico do veneno de Bothrops neuwiedi foi obtido por
Mandelbaum, Assakura & Reichl (1984), os quais isolaram duas proteínas ácidas do
veneno de B.neuwiedi (jararaca pintada), denominadas fatores hemorrágicos neuwiedi
NHFa e NHFb. O fator NHFb apresentou atividade hemorrágica vinte e três vezes maior do
que o fator NHFa, mas o segundo foi mais ativo em relação à atividade caseinolítica.
Paine et al (1992) purificaram, seqüenciaram e clonaram pela primeira vez a
�jararagina�, uma metaloproteína hemorrágica presente no veneno de B. jararaca. Em
1993, R.B. Zingali e colaboradores isolaram um componente inibidor de trombina,
�botrojaracina� do veneno de B. jararaca (Gutiérrez, 2002). Borkow, Gutiérrez & Ovadia
(1993) isolaram e caracterizaram três hemorraginas do veneno de B. asper, as quais foram
denominadas BaH1, BH2 e BH3. As doses mínimas hemorrágicas destas hemorraginas
foram 0.18g, 2.0 e 16.6g. A atividade hemorrágica dos três fatores foi inibida pelo
EDTA (ácido etilenodiaminotetracético).
Algumas metaloproteínas hemorrágicas dos venenos de serpentes foram estudadas
por Lomonte et al. (1994). Eles investigaram in vitro os efeitos de uma metaloproteína
hemorrágica (BaH-1) do veneno de B. asper nas células endoteliais de capilares e não
relataram um efeito citotóxico direto no endotélio capilar. Kamiguti et al. (1996)
discutiram o mecanismo de ação da principal metaloproteína hemorrágica do veneno de B.
jararaca, a jararagina, nas plaquetas e proteínas do plasma envolvidas na homeostase.
Eles sugeriram que metaloproteínas hemorrágicas além de causarem sangramento local,
podem também contribuir para a hemorragia sistêmica. Outra substância isolada do veneno
botrópico foi a botroalternina de B. alternatus, inibidora de trombina que forma um
complexo equimolar não-covalente com a botrojaracina (Castro et al., 1998).
Borkow, Gutiérrez & Ovadia (1997a) verificaram a capacidade de vários soros,
antivenenos e inibidores sintéticos em neutralizar a atividade hemorrágica causada pelo
veneno de B. asper. Em outro estudo (Borkow, Gutiérrez & Ovadia, 1997b), eles
selecionaram os seis melhores compostos anti-hemorrágicos e os testaram em
camundongos, para verificar a capacidade dos compostos em neutralizar a ação letal e as
atividades proteolíticas e hemorrágicas �in vitro� de crotalineas. Além disso, eles testaram
também uma mistura constituída por antiveneno polivalente produzido em cavalos, o
antídoto �natural� de B. asper e a atividade hemorrágica desse veneno.
Page 93
79
Continuando suas pesquisas com as metaloproteínas, Gutiérrez & Rucavado (2000)
propuseram uma hipótese para explicar o mecanismo �per rexis� de ação das
metaloproteínas hemorrágicas de venenos de serpentes da família Viperidae: os eritrócitos
atravessariam os vasos sangüíneos através de células endoteliais rompidas. Apesar da
hipótese de Gutiérrez e Rucavado ter suporte bioquímico e ultraestrutural, os autores não
descreveram como ocorrem as alterações na lâmina basal da lesão endotelial.
Gonçalves & Mariano (2000) estudaram as alterações morfológicas induzidas por
veneno de B. jararaca (via subcutânea) em ratos e a mediação da hemorragia local,
comparando-a com a mediação do edema de pata de rato. Eles observaram a
desorganização das fibras colágenas perivasculares e perineurais, degranulação de
mastócitos, além de alterações vasculares, como congestão e hemorragia. A hemorragia
ocorreu por diapedese, fenômeno no qual os eritrócitos atravessam o vaso sangüíneo
através da abertura de junções endoteliais. A hemorragia local foi parcialmente controlada
pela serotonina e por mediadores neurohumorais. Os produtos do metabolismo do ácido
araquidônico, principais mediadores do edema induzido pelo veneno de B. jararaca, não
participaram como mediadores da ação hemorrágica local.
O estudo mais recente sobre metaloproteínas do veneno de Bohrops foi realizado por
Isla, Malaga & Yarlequé (2003). Eles caracterizaram a hemorragina isolada do veneno de
B. brazili, relatando a presença de hexosas, hexosamina e ácido siálico. Neste estudo, eles
também verificaram que o soro antibotrópico polivalente (antiveneno crotálico mais
botrópico) reconhecia a fração hemorrágica do veneno e inibia a ação do veneno bruto, mas
não da hemorragina purificada.
3. Eficácia das plantas em inibir os efeitos do veneno de Bothrops jararaca
Os extratos das plantas como inibidores da letalidade e da hemorragia local
Dentre as quatro plantas testadas (A. villosa, A. glaziovii, J. mollissima e J. elliptica),
apenas o extrato (1mg) de A. villosa aumentou o tempo médio de sobrevida dos animais
inoculados com o veneno, as demais plantas não foram eficazes em neutralizar o efeito
letal do veneno. Embora todos os animais tenham apresentado os sinais clássicos de
envenenamento � constricção do abdome e prostração �, alguns não apresentaram
Page 94
80
alterações ou sinais de envenenamento após as 48 horas de observação. Estes camundongos
permaneceram vivos e aparentemente sem nenhuma seqüela.
Com relação à inibição da hemorragia local do veneno pelos extratos das plantas, os
animais experimentais (inoculados com plantas mais o veneno) apresentaram manchas
hemorrágicas significantemente menores do que os controles. As concentrações que
apresentaram efeito antihemorrágico foram: Apodanthera villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg),
Apodanthera glaziovii (1.0, 3.0, 6.0 e 10.0mg), Jatropha mollissima (3.0 e 6.0mg) e
Jatropha elliptica (6.0 e 10.0mg).
Dentre as ações biológicas locais dos venenos botrópicos, a hemorragia é uma das
mais problemáticas devido às ações das hemorraginas, as quais causam pricipalmente
degenerações microvasculares, perda sangüínea e mionecrose. Observações microscópicas
do processo hemorrágico indicam que os microvasos se desintegram rapidamente cerca de
4-6 minutos após o contato com o veneno, e apresenta em camundongos uma cinética de
ação que atinge um máximo cerca de 3horas depois de inoculados, cujo quadro permanece
estável até 6 horas (Lomonte et al., 1994; Gonçalvez & Mariano, 2000). As ações locais
dos venenos não têm relações diretas com as ações letais sistêmicas das proteínas e
enzimas, mas certamente agravam os sintomas de coagulação e hemorragia interna,
conseqüências que podem levar ao choque e parada cardíaca, devido ao efeito hipotensivo
do veneno.
Vários processos são utilizados como coadjuvante à soroterapia para tratar os
sintomas locais dos envenenamentos botrópicos. Por exemplo, são utilizados tratamentos
com analgésicos para inibir os sintomas inflamatórios, profilaxia contra o tétano e às vezes
antibioticoterapia e aplicação de heparina no local da picada, que é um anticoagulante que
atua na dissolução de coágulos de fibrinogênio, causados pelas hemorraginas. Como
evidenciado neste trabalho, todas as plantas apresentaram forte efeito antihemorrágico, o
que as pode qualificar como base para tratamento coadjuvante à soroterapia, já que os
sintomas locais aparecem rapidamente, podendo ser atenuados com preparados à base de
plantas comprovadamente antihemorrágicas.
Os ensaios biológicos deste estudo validaram as representações populares que se dão
para o uso antiofídico de A. villosa, A. glaziovii, J. mollissima e J. elliptica. Não há relatos
na literaruta sobre a composição química destas plantas, nem estudos experimentais de
Page 95
81
efeitos antiinflamatórios (maioria dos usos das plantas medicinais em Sergipe e outras
regiões) ou verificações de efeitos antiofídicos. Possíveis mecanismos para explicar as
ações de inibição da letalidade do veneno botrópico por A.villosa e inibição da hemorragia
verificado nos extratos das quatro plantas testadas, podem ser as mesmas da literatura. As
hipóteses são: i) o extrato pode atuar como antagonista do veneno, por bloqueio de
receptores, ii) o extrato pode ligar-se às enzimas do veneno, formando um complexo
inativo, fornecendo assim uma proteção efetiva contra o veneno, iii) o extrato pode
apresentar uma ligação com as metaloproteínas do veneno, retirando cátions Zn++
(antagonismo químico) ou ligando-se às metaloproteínas, formando um complexo inativo;
esta hipótese é específica para as ações hemorrágicas, como verificado para o EDTA
(Rang, Dale & Ritter, 1995:13; Mors et al., 1989; Mors et al., 2000; Martz, 1992; Isla,
Malaga & Yarlequé, 2003; Pereira et al., 1994).
A literatura cita vários compostos de plantas com supostas ações antiofídicas, porém
são poucos os trabalhos que descrevem os possíveis mecanismos de ação dos compostos
isolados das plantas. Um trabalho pioneiro (e controverso) sobre plantas que inativam
venenos de cobras foi realizado por Nakagawa e colegas em 1982. Eles verificaram a ação
antiofídica do extrato hidroalcoólico da raiz de uma planta supostamente amazônica, citada
sob o nome popular cabeça-de-negro, mas omitiram a identificação (existem várias
espécies de famílias diferentes com este nome popular). Do extrato hidroalcoólico da
cabeça-de-negro eles isolaram duas substâncias, às quais denominaram cabenegrinas A-I e
A-II. O trabalho relata que o extrato inibiu o efeito cardiovascular do veneno de Bothrops
atrox (Viperidae) em cães e diminuiu a letalidade dos camundongos envenenados
experimentalmente (Nakagawa et al., 1982).
Os estudos experimentais de plantas medicinais tiveram um grande avanço na década
de 1980, com as pesquisas do químico de produtos naturais Walter Mors, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Mors vem trabalhando com várias plantas, em especial Eclipta
prostrata (L.) L (Asteraceae), depois de ver com sucesso o seu uso como antiofídica na
Amazônia. Mors et al. (1989) isolaram três substâncias do extrato etanólico de E. prostrata
(wedelolactona, sitosterol e stigmasterol) e verificaram que as substâncias foram capazes
de neutralizar a atividade letal do veneno de Crotalus durissus terrificus. Eles testaram
também a ação do extrato aquoso da planta contra a liberação de creatina-cinase no
Page 96
82
músculo esquelético de ratos expostos ao veneno; o extrato neutralizou, in vitro, o efeito
miotóxico do veneno, inibindo as ações das cininas. O estudo de Mors e colaboradores
utilizou preparações de músculo esquelético.
Um bom trabalho sobre a inibição de veneno ofídico por extrato de plantas é o de
Calixto e colaboradores, realizado em 1985. Eles trabalharam com o extrato bruto de
Mandevilla velutina (Apocynaceae) para verificar a inativação do veneno de B. jararaca,
utilizando útero isolado de rato, concluindo que o extrato teve ação sobre a bradicinina. É
muito ilustrativa a revisão que Martz fez em 1992, sobre os extratos de plantas com
potencial de neutralizar as toxinas dos venenos de cobras. Ele relatou o uso de preparações
de várias plantas utilizadas nos acidentes ofídicos, como é o caso do famoso preparado
�Específico Pessoa�, contra-veneno muito utilizado nas regiões norte e nordeste do Brasil.
Este preparado é feito em Sobral, Ceará, com a raíz da planta cabeça-de-negro, cuja
fórmula e identificação da espécie são mantidas em segredo pelos fabricantes. Borges et
al. (1996) realizaram um estudo com o �Específico Pessoa� para verificar a letalidade e a
eficácia deste específico em neutralizar as ações coagulantes, hemorrágicas e fosfolipásicas
do veneno de Bothrops atrox, concluindo que o produto foi ineficaz em todos os aspectos.
Nesta revisão de Martz de 1992, ele relatou também o uso de outros compostos com
ação antiofídica isolados de plantas, como o scumaniofosídeo, extraído da
Schumanniophyton magnificum Harms (Rubiaceae). Nos testes experimentais, este
composto reduziu a ação letal do veneno de Naja melanoleuca (Elapidae) quando
administrado um minuto após a inoculação do veneno; o mesmo efeito não ocorreu quando
o glicosídeo foi inoculado sessenta minutos após o veneno. Martz relatou o uso de outros
compostos isolados de plantas que neutralizavam a ação hemorrágica dos venenos, tais
como: i) a alantoína e o ácido aristolóquico da Aristolochia shimadai Hay.
(Aristolochiaceae); ambos foram eficazes em neutralizar os fatores hemorrágicos dos
venenos dos elapídeos Naja naja atra e Bungarus multicinctus, ii) o tanino de Diospyros
kaki Thunb. (Ebenaceae); testado contra os venenos de Laticauda semifasciata
(Hidrophiidae) e Trimeresurus flavoviridis (Viperidae), o tanino apresentou efeito
antihemorrágico, iii) a tripsina-da-soja de Soya hispida (Fabaceae), iv) e a wedelolactona
da Eclipta prostrata L. (Asteraceae). A literatura cita ainda vários compostos como tendo
possíveis ações antiofídicas, como triterpenos pentacíclicos, compostos fenólicos,
Page 97
83
derivados fenilpropanóides e flavonóides, porém sem citar os mecanismos de ação destes
compostos.
Em 1994, Melo e colegas verificaram a ação antihemorrágica e antimiotóxica de
E.prostrata sobre o veneno de cobras. Eles isolaram as miotoxinas bothropstoxina,
bothropsina e crotoxina dos venenos de B. jararaca, B. jararacussu e L. muta, e
verificaram a neutralização destas pelo extrato aquoso de E. prostrata e por três
constituintes isolados desta planta: wadelolactona, stigmaterol e stosterol. O extrato de E.
prostata, e seu principal constituinte, a wedelolactona, apresentaram efeito antimiotóxico e
antihemorrágico; os outros dois constituintes foram menos eficazes em neutralizar estas
ações (Melo et al., 1994).
O estudo preliminar sobre o efeito protetor do (-)-edunol, um pterocarpano isolado de
Brongniartia podalyrioides (Leguminosae) apresentou efeito contra o veneno de B. atrox,
reduzindo a mortalidade em camundongos. Estruturalmente o (-)-edunol está relacionado
com a (-)-cabenegrinas A-I e A-II, substâncias isoladas do extrato hidroalcoólico de uma
das espécies de plantas popularmente conhecidas como cabeça-de-negro (Reyes-Chilpa et
al, 1994).
Alguns compostos, como o EDTA (ácido etilenodiaminoteracético), são capazes de
inibir a ação das hemorraginas, possivelmente atraindo íons metálicos (principalmente o
zinco) desta proteína, inibindo a sua ação hemorrágica (Isla, Malaga & Yarlequé, 2003).
Pereira et al (1994) analisaram farmacologicamente as plantas utilizadas como antídotos de
venenos de serpentes na medicina popular. Eles isolaram compostos de diferentes plantas
que reduziram a letalidade do veneno de B. jararaca: i) triterpenos e esteróides de
Periandra mediterrânea (Vell.) Taub (Fabaceae) e Apuleia leiocarpa (Vogt) Macbr
(Caesalpiniaceae); ii) derivados do ácido cafeíco de Vernonia condensata Baker
(Compositae) e Cynara scolymus L. (Asteraceae); iii) cumarinas de Mikania glomerata
Spreng (Asteraceae) e de Dorstenia brasiliensis Lam. (Moraceae); iv) flavonóides de
Phyllanthus klotazschianus M. Arg (Euphorbiaceae), Citrus sinensis (L.) Osbeck
(Rutaceae), Apuleia leiocarpa e Derris sericea (H.B.K.) Ducke (Fabaceae); v)
lignoflavanóides de Silybum marianum Gaertn. (Compositae); vi) cumestanos de E.
prostrata, vii) saponinas de Bredemeyera floribunda Willd (Polygalaceae). Pereira e
colaboradores sugerem que algumas substâncias, como o ácido aristolóquico da planta
Page 98
84
Aristolochia sp, podem inibir as ações do veneno de B. jararaca, através da inibição da
fosfolipase (PLA2) do veneno. Esta enzima formaria um complexo 1:1 com o ácido
aristolóquico, porém não inibe totalmente as ações do veneno (Pereira et al., 1994). Martz
(1992) relata também que o ácido aristolóquico inibe parcialmente o veneno de
Trimeresurus flavoviridis (Viperidae), concluindo pela mesma ação do ácido com a
fosfolipase.
Batina, Giglio & Sampaio (1997) também estudaram a neutralização da ação letal do
veneno de C. durissus terrificus por extratos de plantas. Eles utilizaram o extrato aquoso da
casca de Peschiera fuchsiaefolia (Apocynaceae) e inocularam o veneno por via
intramuscular, relatando a neutralização do efeito letal do veneno pelo extrato de P.
fuchsiaefolia.
Castro et al (1999) verificaram uma possível neutralização da atividade hemorrágica
induzida pelo veneno de B. asper por 48 espécies de plantas da Costa Rica. O método
utilizado para verificar a atividade hemorrágica do veneno foi a técnica descrita por Kondo
e colegas (1960) e modificada por Gutiérrez et al. (1985). Castro e colegas também
analisaram a composição química dos extratos que apresentaram ação antihemorrágica
utilizando o veneno de B. asper: i) Phoebe brenessii (Lauraceae), ii) Clussia palmana e C.
torressii (Clusiaceae), iii) Pimenta dióica (Myrtaceae), iv) Bursera simaruba
(Burseraceae), v) Croton draco (Euphorbiaceae), vi) Sapindus saponaria (Sapindaceae),
vii) Persea americana (Lauraceae), (viii) Smilax cuculmeca (Smilacaceae) e ix) Virola
koschnyi (Myristicaceae). Eles relatam a presença de flavonóides, antocianinas,
protocianinas e taninos nas plantas, concluindo que estes compostos poderiam ter sido os
responsáveis pela inibição da hemorragia local.
Uma das melhores revisões sobre compostos químicos de plantas com supostas ações
antiofídicas, é a de Pereira e colaboradores, realizada em 1994. Após esta revisão, poucos
estudos com enfoque molecular de plantas sobre a ação dos venenos foram relatados. Uma
boa revisão sobre o tema foi publicada por Mors e colegas em 2000. Eles citaram várias
substâncias isoladas de plantas que neutralizam a ação letal do veneno de B. jararaca em
camundongos: corticosteróides, triterpenos, compostos fenólicos, ácidos hidroxibenzóico,
ácidos clorogênicos, curcuminóides, cumarinas, flavonóides, pterocarpanos, ácidos
aristolóquicos, taninos e polissacarídeos. Eles relataram que todas estas substâncias têm em
Page 99
85
comum o fato de pertencerem à mesma classe de �metabólitos secundários�, capazes de
interagirem com receptores e enzimas dos venenos.
Um excelente estudo sobre plantas da Colombia utilizadas como antiofídicas foi
realizado pela equipe de ofidismo da Universidade de Antioquia e Choco, coordenado por
Rafael Otero Patiño. Deste trabalho resultou o livro �Plantas utilizadas contra mordeduras
de serpientes em Antioquia y Chocó, Colombia�, o qual contém informações sobre o uso de
85 espécies vegetais relatadas como antiofídicas por curandeiros e xamãs (Otero, Fonnegra
& Jiménez, 2000). Eles também estudaram a neutralização do efeito hemorrágico do
veneno de B. atrox por 75 extratos de plantas da região da Colombia; 12 neutralizaram in
vitro o efeito hemorrágico do veneno: i) Brownea rosademonte Berg (Caesalpiniaceae), ii)
Pleopeltis percussa (Cav.) Hook & Grev. (Polypodiaceae), iii) Heliconia curtispatha
Petersen (Heliconiaceae), iv) Bixa orellana L. (Bixaceae), v) Trichomanes elegans L.C.
Rich (Hymenophyllaceae), vi) Citrus limon (L.) Burm. f. (Rutaceae), vii) Fícus
nymphaeifolia Miller (Moraceae), ix) Struthanthus orbiculares (H.B.K.) Blume
(Loranthaceae), x) Gonzalagunia panamensis (Cav.) Schumm (Rubiaceae), xi) Tabebuia
rosea (Ber Told.) DC. (Bignoniaceae) e xii) Sena dariensis (Br. & R.) I. & B.
(Caesalpiniaceae).
Nos experimentos in vivo realizados por Otero e colegas, apenas os extratos de
Brownea rosademonte, Bixa orellana e Ficus nymphaeifolia neutralizaram a hemorragia
causada por veneno botrópico. Os extratos de B. rosademonte e Pleopeltis percussa (Cav.)
Hook & Grev. (Polypodiaceae) também inibiram a atividade proteolítica do veneno de B.
atrox.
Borges et al (2000) verificaram o efeito do extrato aquoso de Casearia sylvestris
(Flacourtiaceae) sobre a letalidade, nas atividades da fosfolipase A2 (PLA2) e sobre as
atividades coagulante, miotóxica e edematogência dos venenos de várias espécies de
Bothrops. O extrato de C. sylvestris inibiu as seguintes ações: i) PLA2 miotóxicas, classe II,
isoladas dos venenos de B. pirajoi, B. neuwiedi e B. jararacussu, ii) a atividade
anticoagulante de várias PLA2, iii) a atividade miotóxica dos venenos de B. neuwiedi e B.
jararacussu, iv) o edema de pata-de-rato, induzido pelo veneno de B. moojeni e B.
jararacussu, bem como inibiu a atividade da miotoxina II isolada de B. moojeni e da
bothropstoxina I de B. jararacussu.
Page 100
86
Em outro estudo realizado com o extrato aquoso de Casearia sylvestris, Borges et al
(2001) verificaram a neutralização de proteases do veneno de várias espécies de Bothrops.
O extrato desta planta neutralizou a atividade hemorrágica causada pelo veneno de B.
asper, B. jararacussu, B. moojeni, B. neuwiedi e B. pirajai; além de ter neutralizado as
seguintes ações: i) atividade proteolítica sobre a caseína, induzida pelos venenos
botrópicos, ii) a degradação da cadeia -fibrinogênio causada pelo veneno de B.
jararacussu, iii) e aumentou o tempo de coagulação do plasma induzido pelo veneno de B.
jararacussu, B. moojeni e B. neuwiedi.
Ultimamente há poucos trabalhos sobre as ações de extratos de plantas capazes de
inibir alguns efeitos de venenos de cobras. Mahanta e Mukherjee (2001) relataram a ação
antiofídica do extrato de Mimosa pudica (Mimoseae) da India. O extrato aquoso da raiz
desta mimosácea indiana neutralizou in vitro as enzimas tóxicas do veneno de Naja kauthia
e antagonizou in vivo a letalidade e a miotoxicidade deste veneno. Borges et al. (2002)
realizaram uma análise química parcial de Musa sp (Musaceae) e mostraram a presença de
açúcar, saponinas e taninos capazes de interagir e neutralizar várias atividades dos venenos
de B. jararacussu e C. durissus terrificus. Foram neutralizadas as ações hemorrágicas,
além das atividades PLA2, miotoxicidade e coagulação do plasma. Esmeraldino et al.
(2002) relataram a inibição da atividade hemorrágica do veneno de B. jararaca por frações
(EA2MA e EA2MB) isoladas de Croton urucuruna (Euphorbiaceae). Mendes et al. (2002)
relataram o efeito do extrato aquoso das folhas de Schizolobium parayba (Caesalpinoideae)
de neutralizar as atividades proteolíticas e PLA2 do veneno de B.alternatus. Silva Júnior et
al. (2002) verificaram que o extrato aquoso de Kalonchoe brasiliensis (Crassulaceae)
reduziu a hemorragia e o edema induzido pelo veneno de B. alternatus.
Page 101
87
Conclusões
1. A epidemiologia dos acidentes ofídicos em Sergipe, analisada durante 1999-2002, não
foi diferente dos aspectos relatados por Vital Brazil em 1911: i) a maior freqüência foi
entre os homens, ii) os indivíduos com mais de 15 anos foram acidentados com maior
freqüência, iii) os membros inferiores foram os mais atingidos; iv) a maioria dos acidentes
foi atribuída a serpentes do gênero Bothrops, v) as manifestações clínicas mais freqüentes
foram: dor, edema, hemorragia local e hemorragia sistêmica, vi) e a soroterapia foi aplicada
em mais da metade dos casos; o tipo de soro mais freqüente foi o antibotrópico.
2. Além da soroterapia, os tratamentos aplicados nos envenenamentos ofídicos em Sergipe
incluem os métodos populares: rezas e benzeduras, preparados de contra-venenos e os
preparados com plantas, principalmente nas formas de infusão e decocção. As plantas da
caatinga de Sergipe conhecidas como antiofídicas (coletadas para verificação das
atividades antiofídicas) foram a cabeça-de-negro, a batata-de-teiú e o pinhão-bravo.
3. Quanto à gravidade, a maioria dos envenenamentos em Sergipe foi considerada leve.
4. Verifiquei algumas contradições nas notificações dos acidentes que ocorreram em
Sergipe, durante o período analisado, principalmente: i) confundindo os tipos de
envenenamento, ii) não informam como as serpentes foram identificadas para aplicação do
soro, iii) aplicação de soro crotálico com descrição de sintomas botrópicos, iv)
identificação de envenenamento por Lachesis, mas sem aplicação do soro antilaquético, v)
utilização de soro antibotrópico-crotálico em acidente causado por Crotalus
5. Os efeitos locais dos envenenamentos botrópicos são desencadeados rapidamente, em
menos de dez minutos após a picada da serpente, daí a importância de se estudar os efeitos
locais do envenenamento por Bothrops. As principais ações locais notificadas em Sergipe,
devido aos envenenamentos botrópicos foram: dor, edema, eritema e hemorragia.
6. As DL50 do veneno de B. jararaca apresentaram variações entre os experimentos. Os
coeficientes de regressões e as constantes de regressões também foram diferentes, mas os
dois métodos (análise probítica recomendada pela OMS e comparação entre as retas das
regressões) testados para verificar os experimentos agrupados apresentaram os mesmos
valores para DL50 (37.1g).
Page 102
88
7. A DMH do veneno de B. jararaca capaz de formar uma mancha hemorrágica de 10mm
de diâmetro no abdome foi 0.24g, determinada através de regressão linear do diâmetro da
área hemorrágica (y) sobre a concentração do veneno (x). Os coeficientes e constantes das
duas regressões foram próximos; a análise conjunta mostrou DMH igual às doses mínimas
hemorrágicas de cada experimento, 0.23g e 0.24g.
8. Foram encontradas na literatura cerca de 300 plantas citadas como tendo atividades
antiofídicas (inibição da letalidade e da hemorragia), a maioria delas com base apenas nas
representações populares.
9. Na maioria das plantas utilizadas popularmente como antiofídicas, citadas na literatura
com compostos químicos isolados, não foram realizados testes com veneno de cobras para
verificar as ações.
10. O extrato aquoso da Apodanthera villosa (1mg) inibiu a letalidade do veneno de B.
jararaca, as demais plantas não apresentaram efeito. As variações observadas entre os
experimentos foram minimizadas através de testes de homogeneidade (comparações
estatísticas múltiplas e pares); o agrupamento das amostras nas análises pôde ser utilizado
para aproveitar todos os dados devido à homogeneidade entre as repetições.
11. Os testes para verificação da inibição da hemorragia local também foram homogêneos,
permitindo agrupamentos nas análises. O extrato aquoso das plantas da família
Cucurbitaceae, Apodanthera villosa (1.0, 3.0 e 6.0mg) e Apodanthera glaziovii (1.0, 3.0,
6.0 e 10.0mg), inibiram a ação hemorrágica do veneno.
12. As plantas da família Euphorbiaceae, Jatropha mollissima (3.0 e 6.0mg) e Jatropha
elliptica (6.0 e 10.0mg), também inibiram a hemorragia induzida pelo veneno, mas apenas
algumas concentrações apresentaram efeito significativo, quando comparadas com o grupo
controle.
13. Embora não tenham sido isolados compostos químicos das plantas estudadas, é
provável que os mecanismos de ações estejam relacionados às atuações específicas dos
seus componentes, os quais podem inibir as ações do veneno através de três mecanismos
descritos na literatura: i) o extrato pode atuar como antagonista do veneno, bloqueando os
receptores, ii) o extrato pode ligar-se às enzimas do veneno, como as fosfolipases,
Page 103
89
peptídeos e proteínas, formando um complexo inativo, iii) ou o extrato pode apresentar
uma ligação com as metaloproteínas do veneno, retirando os íons Zn++ ou ligando-se
diretamente a estas, formando um complexo inativo composto pelo extrato e hemorraginas.
14. O trabalho evidenciou significante efeito anti-hemorrágico nas quatro plantas testadas e
inibição da ação letal pelo extrato da batata-de-teiú de Sergipe, validando as representações
populares que se dão para o uso antiofídico de A. villosa, A. glaziovii, J. mollissima e J.
elliptica.
Referências
Ab�Saber, A.N., 1977. Os domínios morfoclimáticos na América do Sul � Primeira aproximação. Geomorfologia, Instituto de Geografia, Universidade de São Paulo, 52:
1-21.
Acosta, A.R.; W. Uzcategui; R. Azuaje; I. Aguilar & M.E. Girón, 2000. Análisis clínico y
epidemiológico de los accidentes por mordeduras de seientes del género Bothrops en Venezuela. Rev. Cubana Med. Trop. 52(2):90-94.
Agra, M. F., 1996. Plantas da medicina popular dos cariris velhos. Editora União. João
Pessoa, 125p.
Amaral, C.F.S.; N.A. Rezende; A.O. Silva, 1986. Insuficiência renal aguda secundária a
acidentes ofídicos botrópico e crotálico: Análise de 63 casos. Ver. Inst. Med. Trop. 28(4):220-227.
Araujo, L.C.L. & C.E.P. Araujo, 1994. Farmacologia: roteiros de aulas práticas e estudos
dirigidos. Editora Unimep. Piracicaba, 117p.
Araújo, M., 2003. Ofidismo. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Uncisal/Ecmal & Lava. Maceió.
Batina, M.F.C.; J.R. Giglio & S.V. Sampaio, 1997. Methodological care in the evaluation of the LD50 and of the neutralization of the lethal effect of Crotalus durissus terrificus venom by the plant Perchiera fuchsiaefolia (Apocynaceae). Journal of Venomous Animals and Toxins 3(1):1-8.
Bochner, R & Struchiner, C.J., 2003. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100
anos no Brasil: uma revisão. Cad. Saúde Pública 19(1):7-16.
Bolaños, R., 1984. Serpientes, venenos y ofidismo em Centroamérica. San José, C.R.
Editorial Universidad de Costa Rica, 136p.
Page 104
90
Borges, C.C.; M. Sadahiro & M.C. Santos, 1999. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos
acidentes ofídicos ocorridos nos municípios do Estado do Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 32(6).
Borges, M.H.; A.M. Soares; V.M. Rodrigues; S.H. Andrião-Escarso; H. Diniz; A. Hamaguchi; A. Quintero; S. Lizano; J.M. Gutiérrez; J.R. Giglio & M.I. Homsi-Brandeburgo, 2000. Effects of aqueous extract of Casearia sylvestris (Flacourtiaceae) on actions of snake ande bee venoms and on activity of phospholipases A2. Comparative Biochemistry and Physiology Part B 127:21-30.
Borges, C.C., 1996. Eficácia da espécie vegetal Peltodon radicans Phl. (Labiatae, Lamiaceae) na neutralização da atividade edematogênica e na ineficácia do extrato
vegetal Específico Pesssoa na neutralização das principais atividades do veneno de B.
atrox. Rev. Univ. Amazonas, Série C. Biol 1:97-113.
Borges, M.H.; A.M. Soares; V.M. Rodrigues; F.Oliveira; A.M. Fransheschi; A. Rucavado; J.R. Giglio & M.I. Homsi-Brandeburgo, 2001. neutralization of proteases from Bothrops snake venom by the aqueous extract from Casearia sylvestris (Flacourtiaceae). Toxicon 39:1863-1869.
Borges, M.H.; A.C. Grossi; D.S. Raslan; D. Piló-Veloso; D.L.F. Alves & M.E. Lima, 2002. Partial chemical characterization of the Musa sp SAP (Musacea) and its interaction with snake venom. In: VII Simpósio da Sociedade Brasileira de Toxinologia, 116pp.
Borkow, G.; J.M. Gutiérrez & M. Ovadia, 1993. Isolation and characterization of synergistic hemorrhagins from the venom of the snake Bothrops asper. Toxicon 31:1137-1150.
Borkow, G.; J.M. Gutiérrez & M. Ovadia, 1997. Inhibition of the hemorrhagic activity of
Bothrops asper venom by a novel neutralizing mixture. Toxicon 35(6):865-877.
Borkow, G.; J.M. Gutiérrez & M. Ovadia, 1997a. Inhibition of toxic activities of Bothrops
asper venom and other crotalid snake venoms by a novel neutralizing mixture. Toxicology and Applied Pharmacology 147:442-447.
Braga, R., 1960. Plantas do nordeste, especialmente do Ceará. 2a edição. Imprensa oficial.
Fortaleza, 540p.
Brazil, V., 1901. Contribuição ao estudo do veneno ophidico. I. Espécies venenosas
brasileiras. Mortalidade por mordeduras de cobras. Revista Medica de S. Paulo 15:255-260.
Brazil, V., 1901a. Contribuição ao estudo do veneno ophidico. II. O veneno de algumas
espécies brazileiras. Revista Medica de S. Paulo 4:296-300.
Brazil, V., 1901b. Contribuição ao estudo do veneno ophidico. III. Tratamento das mordeduras de cobra. Revista Medica de S. Paulo 21:375-380.
Brazil, V., 1911. A defesa contra o ophidismo. Pocai & Weiss. São Paulo, 152p.
Brasil, 1991. Ofidismo: Análise epidemiológica. Ministério da Saúde. Brasília.
Brasil, 1999. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos.
Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Brasília, 131p.
Page 105
91
Bryant, E.H., 1986 On use of logarithms to accommodate scale. Syst. Zool. 25(4):552-559.
Campbell, J.A. & W.W. Lamar, 1989. The venomous reptiles of Latin America Cornell University Press. New York, 425p.
Cardoso, J.L.C., 2003. A fitoterapia antiveneno na medicina brasileira. In: Animais peçonhentos no Brasil: Biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. pp. 429-433 (J.L.C. Cardoso et al Eds.) Sarvier Fapesp. São Paulo.
Caribé, J. & J.M. Campos, 1997. Plantas que ajudam o homem � Guia prático para época
atual. 6a edição. Cultrix-Pensamento. São Paulo, 321p.
Casais e Silva, L.L., 2001. Estudo dos efeitos pró-inflamatórios induzidos pelo veneno bruto de Micrurus lemniscatus. Isolamento e caracterização biológica de uma
fosfolipase A2 (FLA2). Dissertação de Doutorado. Não publicada.
Castro, H.C.; D.L.S. Dutra; A.L. Oliveira-Carvalho & R.B. Zingali, 1998. Bothroalternin, a thrombin inhibitor from the venom of Bothrops alternatus. Toxicon 36(12):1903-1912.
Castro, O.; J.M. Gutiérrez; M. Barrios; I. Castro. M. Romero & E. Umaña, 1999.
Neutralizacíón Del efecto hemorrágico inducido por veneno de Bothrops asper
(Serpentes: Viperidae) por extractos de plantas tropicales. Rev. Biol. Trop. 47(3):605-616.
Chippaux, J.P.; V. Williams & J. White, 1991. Snake venom variability: Methods of study, results and interpretation. Toxicon 29(11):1279-1303.
Cunha, O.R. & F.P. Nascimento, 1993. Ofídios da Amazônia. As cobras da região leste do
Pará. Bol. Mus. Par. Emilio Goeldi, Série Zoologia 9(1):1-191.
Cury, Y; C.F.P. Teixeira & L.S. Sudo, 1994. Edematogenic responses induced by Bothrops
jararaca venom in rats: role of lymphocytes. Toxicon 32(11):1425-1431.
D�Oliveira, H.V., 1854. Systema de matéria medica vegetal brasileira. Publicado pela Casa
de Eduardo & Henrique Laemmert. Rio de Janeiro, 284p.
Dos-Santos, M.C.; L.R.C. Gonçalves; C.L. Fortes-Dias; Y. Cury; J.M. Gutiérrez & M.F.D.
Furtado, 1992. A eficácia do antiveneno botrópico-crotálico na neutralização das
principais atividades do veneno de Bothrops jararacussu. Rev. Inst. Méd. trop. São
Paulo. 34(2):77-83.
Elliott, W., 1978. Pharmacology of reptilian venoms. In: Biology of the Reptilia. Vol 8, Physiology B pp 163-436 (C. Gans & K.Gans, Eds.). Academic Press, 782p.
Esmeraldino, L.E.; E.L.G. Veronese; F.K. Ticli; J.J. Franco; A.C.O. Cintra & S.V. Sampaio, 2002. Inhibition of Bothrops jararaca venom hemorrhagic activity by fraction EA2MB from Croton urucurana baillon. In: VII Simpósio da Sociedade
Brasileira de Toxinologia, 221pp.
Feitosa, R.F.G.; I.M.L.A. Melo & H.S.A. Monteiro, 1997. Epidemiologia dos acidentes por serpentes peçonhentas no estado do Ceará - Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 30(4): 259-301.
Page 106
92
Ferrarezi, H. & Freire, E.M.X., 2001. New species of Bothrops Wagler, 1824, from the Atlantic Forest of Northeastern Brazil (Serpentes, Viperidae, Crotalinae). Boletim do Museu Nacional. Nova Série. Zoologia. Rio de Janeiro 440:1-10.
Fisher, R.A., 1949. The design of experiments. Fifth edition. Oliver and Boyd. Edinburg, 242p.
Fisher, R.A. & F. Yates, 1953. Statistical tables for biological agricultural and medical research. Fourth editiion. Oliver and Boyd. Edinburgh, 126p.
Furtado, M.F.D.; G.M.D.D. Colletto & W. Dias da Silva, 1991a. Controle de qualidade dos venenos animais e dos correspondentes antivenenos. I. Padronização dos métodos de
ensaio das atividades bioquímicas e farmacológicas dos venenos de algumas espécis
do gênero Bothrops e Crotalus usando amostras secas a temperatura ambiente ou liofilizada. Mem. Inst. Butantan. 53(2):149-159.
Furtado, M.F.D.; M. Maruyama; A.S. Kamiguti & L.C. Antonio, 1991b. Comparative study of nine Bothrops snake venoms from adult female snakes and their offspring. Toxicon 29(2):219-226.
Going, C.J.; O.B. Going & G.R. Zug, 1978. Introduction to Herpetology. Third edition. Freeman. San francisco, 378p.
Gonçalves, L.R.C. & M. Mariano, 2000. Local haemorrhage induced by Bothrops jararaca venom: relationship to neurogenic inflammation. Mediators of Inflammation 9:101-107.
Grenand, F. 1977. Et l�homme devint jaguar � univers imaginaire et quatidien des indiens wayãpi de guyane. Éditions L�Harmattan. Paris.
Gutiérrez, J.M.; C.L. Ownby & G.V. Odell, 1984. Isolation of a myotoxin from Bothrops
asper venom: partial characterization and action on skeletal muscle. Toxicon 22:115-128.
Gutiérrez, J.M.; J.A. Gené; G. Rojas & L. Cerdas, 1985. Neutralization of proteolytic and hemorrhagic activities of Costa Rican snake venoms by a polyvalent antivenom. Toxicon 23:887-893.
Gutiérrez, J.M.; G. Rojas; B. Lomonte; J.A. Gené & F. Chaves, 1990. La evaluacion de la
capacidad neutralizante de los antivenenos em America. Publicacion del Instituto Clodomiro Picado. Universidad de Costa Rica, 21p.
Gutiérrez, J.M. & A. Rucavado, 2000 Snake venom metalloproteinases: their role in the
pathogenesis of local tissue damage. Biochimie 82: 841-850.
Gutiérrez, J.M., 2002. Comprendiendo los venenos de serpientes: 50 años de
investigaciones en América Latina. Rev. Biol. Trop. 50(2):377-394.
Habermehl, G.G., 1994. Francesco Redi � Life and Work. Toxicon 32(4):411-417.
Hawgood, B.J., 1992. Pioneers of anti-venomous serotherapy: Dr. Vital Brazil (1865-1950). Toxicon 30(5/6):573-579.
Hawgood, B.J., 1995. Abbé Felice Fontana (1730-1805): Founder of modern Toxinology. Toxicon 33(5):591-601.
Page 107
93
Hawgood, B.J., 1996. Sir Joseph Fayrer MD FRS (1824-1907) Indian Medical Service: Snakebite and mortality in British India. Toxicon 34(2):171-182.
Hawgood, B.J., 1999. Doctor Albert Calmette 1863-1933: founder of antivenomous serotherapy and of antituberculous BCG vaccination. Toxicon 37:1241-1258.
Hoge, A.R. & S.A.R.W. Romano-Hoge, 1976/1977.Lachesis muta rhombeata (Serpentes: Viperidae, Crotalinae). Memórias do Instituto Butantan, 40/41:53-54.
Hulbert, H.S., 1984. Pseudoreplication and the design of ecological field experiments. Ecol. Monogr. 54(2):187-211.
Isla, M.; O. Malaga & A. Yarlequé, 2003. Características bioquímicas y acción biológica
de una hemorragina del veneno de Bothrops brazili. An. Fac. Med. 64(3):159-166.
Kamiguti, A.S.; C.R.M. Hay; R.D.G. Theakston & M. Zuzel, 1996. Insights into the mechanism of haemorrhage caused by snake venom metalloproteinases. Toxicon 34(6):627-642.
Kawamura, Y. & Y. Sawai, 1984. Effectiveness of cobra antivenom by different route of injection. The Snake 16:139-140.
Kondo, H.; S. Kondo; H. Ikezawa; R. Murata & A. Ohsaka, 1960. Studies on the quantitative method for determination of hemorrhagic activity of Habu snake venom. Jap. J. M. Sc. & Biol., 13:43-51.
Lomonte, B.; J.A. Gene; J.M. Gutiérrez & L. Cerdas, 1983. Estudio comparativo de los
venenos de serpiente cascabel (Crotalus durissus durissus) de elemplares adultos y recien nacidos. Toxicon 21(3):379-384.
Lomonte, B.; J.M. Gutiérrez; M.F.D. Furtado; R. Otero; J.P. Rosso; O. Vargas; E. Carmona
& M.E. Rovira, 1990. Isolation of basic myotoxins from Bothrops moojeni and Bothrops atrox snake venoms. Toxicon 28(10):1137-1146.
Lomonte, B.; J.M. Gutiérrez; G. Borkow; M. Ovadia; A. Tarkowski & L.Å. Hanson, 1994.
Activity of hemorrhagic metalloproteinase BaH-1 and myotoxin II from Bothrops
asper snake venom on capillary endothelial cells in vitro. Toxicon 32:505-510.
Lúcia, M., 2000. Estudo comparativo das respostas biológicas induzidas pelos venenos
amarelo e branco de cascavéis (Crotalus durissus terrificus, Laurenti, 1768), provenientes da região de Alfenas (MG, Brasil). Tese de Mestrado não publicada.
Mahanta, M. & A.K. Mukherjee, 2001. Neutralization of lethality, myotoxicity and toxic enzymes of Naja kaouthia venom by Mimosa pudica root extracts. Journal of Ethnopharmacology 75:55-60.
Mandelbaum, F.R.; M.T. Assakura & A.P. Reichl, 1984. Characterization of two hemorrhagic factors isolated from the venom of Bothrops neuwiedi (jararaca pintada). Toxicon 22(2):193-206.
Martz, W., 1992. Plants with a reputation against snakebite. Toxicon 30(10):1131-1142.
Meaume, J., 1966. Les venins de serpents agents modificateurs de la coagulation sanguine. Toxicon 4:25-58.
Page 108
94
Mebs, D., 1978. Pharmacology of reptilian venoms. In: Biology of the Reptilia. Vol 8, Physiology B pp 437-560 (C. Gans & K.Gans, Eds.). Academic Press, 782p.
Medawar, P.B. & J.S. Medawar, 1977. The life science current ideas of biology. Harper & Row, New York.
Melo, P.A.; M.C. Nascimento; W.B. Mors & G. Suarez-Kurtz, 1994. Inhibition of the myotoxic and hemorrhagic activities of crotalid venoms by Eclipta prostrata
(Asteraceae) extracts and constituents. Toxicon 32(5):595-603.
Mendes, M.M.; L.H.F. Vale; L.C.P.C. Gebrim; A. Hamaguchi; M.I. Homsi-Brandeburgo, 2002. Inhibition of PLA2, coagulant and hemorrhagic activities of Bothrops
alternatus venom by Schizolobium parahyba (Caesalpinoideae) extract. In: VII Simpósio da Sociedade Brasileira de Toxinologia, 227pp.
Mors, W.B.; M.C. Nascimento; J.P. Parente; M.H. Silva; P.A. Melo & G. Suarez-Kurtz, 1989. Neutralization of lethal and miotoxic activities of south american rattlesnake venom by extracts and constituents of the plant Eclipta prostrata (Asteraceae). Toxicon 27(9):1003-1009.
Mors, W.B., 1991. Plant active against snake bite, pp. 353-373. In: Economic and medicinal plant research, vol. 5 (H. Wagner, H. Kihino & N.R. Farnsworth, Eds.). New York Ac. Press.
Mors, W.B.; M.C. Nascimento; B.M.R. Pereira & N.A. Pereira, 2000. Plant natural products active against snake bite � the molecular approach. Phytochemistry 55:627-642.
Nakagawa, M.; K. Nakanishi; L.L. Darko & J.A. Vick, 1982. Structures of cabenegrins A-I and A-II, potent anti-snake venoms. Tetrahedron Letters 23(38):3855-3858.
Nascimento, S.P., 2000. Aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos ocorridos no
Estado de Roraima, Brasil, entre 1992 e 1998. Cad. Saúde Pública 16(1):271-276.
Neves-Ferreira, A.G.C.; J. Perales; M. Ovadia; H. Moussatché & G.B. Domont, 1997. Inhibitory properties of the antibothropic complex from the south American opossum (Didelphis marsupialis) serum. Toxicon 35(6):849-863.
Nishioka S.de A.& P.V.P. Silveira, 1992. A clinical and epidemiologic study of 292 cases of lance-headed viper bite in a Brazilian teaching hospital. Am. J. Med. Hvg. 47(6):805-810.
Otero, R.; R.J. Fonnegra & S.L. Jiménez, 2000. Plantas utilizadas contra mordeduras de
serpientes en Antioquia y Chocó, Colombia. Universidad de Antioquia. Medellín,
402p.
Paine, M.J.I.; H.P. Desmond; R.D.G. Theakston & J.M. Crampton, 1992. Purification, cloning and molecular characterization of a high molecular weight haemorrhagic metalloproteinase, jararhagin from Bothrops jararaca venom. J. Biol. Chem. 267:22869-22876.
Peckolt, T. & G. Peckolt, 1888. História das plantas medicinaes e úteis do Brazil.
Typographia Laemmert & C. Rio de Janeiro.
Page 109
95
Peckolt, G., 1914. História das plantas medicinaes e uteis do Brazil. Pap. Modelo. Rio de
Janeiro.
Pereira, N.A.; B.M.R Pereira; M.C. Nascimento; J.P.Parente & W.B. Mors, 1994. Pharmacological screening of plants recommended by folk medicine as snake venom antidotes; IV. Protection against jararaca venom by isolated constituents. Planta Med. 60:99-100.
Peters, J.A. & B. Orejas-Miranda, 1986. Catalogue of the Neotropical Squamata: Part I, snakes. Revised editiion (originally published 1970), addenda and corrigenda by P.E. Vanzolini. Washington, D.C.: Smithsonian Institution, 347p.
Pinho, F.M.O. & I.D. Pereira, 2001. Ofidismo. Rev. Assoc. Med. Bras. 47(1): 1-12.
Pio Corrêa, M., 1984. Dicionário das plantas úteis do Brasil. Imprensa Nacional e Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Rio de Janeiro.
Pio Corrêa, M., 1909. Flora do Brazil. Typographia da Estatística. Rio de Janeiro,154p.
Rang, H.P., M.M. Dale & J.M. Ritter, 1995. Farmacologia. Terceira edição. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, 696p.
Raw, I. R. Guidolin, H.G.Higashi & E.M.A. Kelen, 1991. Antivenins in Brazil: Preparation. In: Reptile Venoms and Toxins (Ed. Tu, A.T.) Marcel Dekker Inc.
Raw, I. & O.A. Sant�Anna, 2002. Aventuras da microbiologia. Hacker Editores. São Paulo,
171p.
Reyes-Chilpa, R., F. Gómez-Garibay, L. Quijano, G.A. Magos-Guerrero & T. Ríos, 1994.
Preliminary results on the protective effect of (-)-edunol, a pterocarpan from Brongniartia podalyrioides (Leguminosae), against Bothrops atrox venom in mice. Journal of Ethnopharmacology 42:199-203.
Ribeiro, L.A., V.A.F. Pires de Campos, M. J. Albuquerque & N.Y. Takaoka, 1993. Acidente ofídico no Estado de São Paulo. Rev. Ass. Med. Brasil 39(1):4-7.
Rocha e Silva, M., W.T. Beraldo & G. Rosenfeld, 1949. Bradykinin, a hypotensive and smooth muscle stimulating factor released from plasma globulin by snake venoms and by trypsin. American Journal of Physiology 156(2):261-273.
Rouquayrol, M.Z. & N. de Almeida Filho, 1999. Epidemiologia e Saúde. 5a edição. Medsi.
Rio de Janeiro, 600p.
Saborío, P., M. González & M. Cambronero, 1998. Accidente ofídico en niños en Costa
Rica: Epidemiología y detección de factores de riesgo en el desarrollo de absceso y necrosis. Toxicon 36(2):359-366.
Schindler, S.S., 1884. Brazilian Medicinal Plants. Typ. e Lith. De Moreira, Maximino & C. Rio de Janeiro.
Silva Júnior, P.G.P., M.M. Melo, R.R. Cardoso, K.M. Ferreira, F.V. Fonseca, L.A. Lago &
G.G. Habermehl, 2002. Local treatment of experimental envenoming by Bothrops
alternatus in dogs with the aqueous extract of Kalanchoe brasiliensis. In: VII Simpósio da Sociedade Brasileira de Toxinologia, 263pp.
Silveira, A.A., 1921. Memorias chorographicas. Imprensa official. Belo Horizonte.
Page 110
96
Silveira, P.V.P. & S.A. Nishioka, 1992. Non-venomous snake bite and snake without envenoming in a brazilian teaching hospital: Analysis of 91 cases. Rev. Inst. Med. Trop. 34(6):499-503.
Simões, C.M.O., L.A. Mentz, E.P. Schenkel, B.E.Irgang & J.R. Stehmann, 1998. Plantas da medicina popular no Rio Grande do Sul. 5a edição. Editora da Universidade do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, 173p.
Slotta, C.H. & H.L. Fraenkel-Conrat, 1938-1939. Estudos químicos sobre os venenos
ofídicos � Purificação e cristalização do veneno da cobra cascavel. Memórias do
Instituto Butantan. 12:505-512.
Soerensen, B., 1990. Animais peçonhentos. Livraria Atheneu Editora. Rio de Janeiro,
138p.
Sokal. R.R. & F.J. Rholf, 1995. Biometry. 3rd ed. W.H. Freeman & Co. New York, 887p.
Sommer, F., 1953. A vida do botânico Martius. Edições Melhoramentos. São Paulo.
Sprugel, D.G., 1983. Correcting for bias in log-transformed allometric equations. Ecology 64(1):209-210.
Trebien, H.A. & J.B. Calixto, 1989. Pharmacological evaluation of rat paw oedema induced by Bothrops jararaca venom. Agents and Actions 26(3/4):292-300.
Vanzolini, P.E., 1972. Miscellaneous notes on the ecology of some brasilian lizards (Sauria). Papéis Avulsos Zool. São Paulo 26(8):83-115.
Vanzolini, P.E.; A.M.M. Ramos-Costa & L.J. Vitt, 1980. Répteis das Caatingas. Academia
Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro, 161p.
Vanzolini, P.E., 1986. Addenda and corrigenda to Parte I Snakes. In: Catalogue of the Neotropical Squamata, J.A. Peters & B. Oejas-Miranda. Washington, D.C. Smithsonian institution 347p.
Vanzolini, P.E., 1993. Métodos estatísticos elementares em sistemática zoológica. Hucitec.
São Paulo, 130p.
Vanzolini, P.E., 1996. Introdução à herpetologia no Brasil � O contexto científico e político
da expedição bávara ao Brasil de Johann Baptis von Spix & Johann Georg Wagler.
Imaginário-USP 3:81-121.
Vanzolini, P.E. & M.E.V. Caleffo, 2002. A taxonomic bibliography of the south American snakes of the Crotalus durissus complex (Serpentes, Viperidae). An. Acad. Bras. Cienc. 74(1):37-83
Vieira, L.S., 1992 Fitoterapia da Amazônia � Manual das plantas medicinais. 2a edição.
Editora Agronômica Ceres. São Paulo, 347p.
Villarroel, M.S., 1977. Contribuição ao estudo de venenos e antivenenos botrópicos. Tese
de doutorado. Universidade de São Paulo 53p. Não publicado.
Vital Brazil, O., 1987. History of the primordia of snake-bite accidente serotherapy. Mem. Inst. Butantan 49(1):7-20.
Page 111
97
Vital Brazil, O., 1990. Pharmacology of coral snake venoms. Mem. Inst. Butantan 52:31-32.
Zar, J.H., 1996. Biostatistical Analysis. Third edition. Prentice Hall. New Jersey, 662p.
Page 112
98
Apêndices
id23919468 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com
Page 113
99
Apêndice 1. Proporção de camundongos mortos/inoculados com relação à concentração de extrato.
Apodanthera villosa (batata-de-teiú)
Dose de extrato (g) Experimento I
0.002 0/6 0.004 0/6 0.008 0/6 0.015 1/6 0.03 5/6
Dose de extrato (g) Experimento II
0.005 0/6 0.01 0/6 0.02 3/6 0.03 5/6 0.04 4/6
Dose de extrato (g) Experimento III
0.005 0/6 0.01 0/6 0.02 6/6 0.03 5/6 0.04 6/6
DL50 da análise probítica conjunta = 0.018g
Jatropha mollissmia (pinhão-bravo)
Dose de extrato (g) Experimento I
0.001 0/6 0.004 0/6 0.009 6/6 0.01 5/6 0.04 6/6
Dose de extrato (g) Experimento II
0.001 3/6 0.003 5/6 0.005 6/6 0.007 6/6 0.009 6/6
Dose de extrato (g) Experimento III
0.0003 1/6 0.0005 1/6 0.001 0/6 0.003 5/6 0.005 4/6
DL50 da análise probítica conjunta = 0.002g
Apodanthera glaziovii (cabeça-de-negro)
Dose de extrato (g) Experimento I
0.001 0/6 0.003 0/6 0.005 2/6 0.007 1/6 0.009 3/6
Dose de extrato (g) Experimento II
0.003 0/6 0.005 0/6 0.007 2/6 0.009 2/6 0.011 6/6
Dose de extrato (g) Experimento III
0.003 0/6 0.005 2/6 0.007 5/6 0.009 5/6 0.011 6/6
DL50 da análise probítica conjunta = 0.007g
Jatropha elliptica (batata-de-teiú)
Dose de extrato (g) Experimento I
0.010 1/6 0.015 0/6 0.020 3/6 0.025 5/6 0.030 6/6
DL50 da análise probítica conjunta = 0.018g
Page 114
100
Apêndice 2. Homogeneidade entre os grupos controle: tempo de sobrevida (h).
Nº de controles I II III IV V VI
2.66 2.53 2.26 2.70 3.00 3.46 2.66 2.66 2.26 2.81 3.08 3.85 2.91 2.66 2.51 2.91 3.08 4.21 3.16 3.46 2.53 3.75 4.03 5.01 3.40 3.51 4.76 3.75 4.93 5.13 3.66 4.23 5.93
Apêndice 3. Apodanthera villosa, estudo piloto: tempo de sobrevida (h).
Extrato Controle
0.74mg 1.48mg
1.28 1.46 0.75 2.25 2.13 1.33 2.45 2.18 1.78
2.26 1.86 2.38 2.03 3.21 2.15
Page 115
101
Apêndice 4. Apodanthera villosa: tempo de sobrevida (h).
Controle Extrato (1mg) Experimento I
2.66 1.56 2.66 2.60 2.91 2.60 3.16 2.66 3.40 3.60 3.66 4.21
48.00 48.00
Experimento II 2.53 1.66 2.66 2.16 2.66 2.21 3.46 2.35 3.51 2.71 4.23 2.75
2.75 3.05 3.05 3.08 3.13 3.41 3.51 3.91 6.16 48.00
Experimento III 2.26 1.76 2.26 1.81 2.51 1.85 2.53 1.85 4.76 1.85 5.93 1.95
1.95 2.10 2.35 2.35 2.43 2.51 2.58 2.63 48.00 48.00
Experimento IV 2.70 2.30 2.71 2.58 2.91 2.63 3.75 2.96 3.75 3.06
3.38
Apêndice 5. Apodanthera glaziovii: tempo de sobrevida (h).
Extrato Controle
1mg 1.48mg 3.0mg 5.0mg Experimento I
2.26 2.13 1.35 1.06 2.26 2.83 1.66 1.15 2.51 2.83 1.81 1.15 2.53 3.50 1.81 1.30 4.76 5.00 2.08 1.56 5.93 48.00 3.45 1.56
Experimento II 2.70 2.23 2.16 2.81 2.23 2.16 2.91 2.23 2.16 3.75 2.23 2.16 3.75 2.23 2.16
2.16 Experimento III
3.46 2.05 3.85 2.08 4.21 2.60 5.01 2.60 5.13 2.60
2.60 2.60 2.60 2.60 2.60 2.60 2.68 2.76 2.88 3.15 3.15 3.15 3.33 3.48 3.48 3.66 3.83 4.30
Page 116
102
Apêndice 6. Jatropha mollissima: tempo de sobrevida (h).
Controle Extrato (1mg)
Experimento I 2.70 2.35 2.81 2.35 2.91 2.35 3.75 2.35 3.75 2.71
48.0 Experimento II
3.46 1.55 3.85 2.21 4.21 2.21 5.01 2.78 5.13 2.83
3.33
Apêndice 7. Jatropha elliptica: tempo de sobrevida (h).
Extrato Controle
0.74mg 1.0mg 1.48mg 5.0mg 10.0mg Experimento I 3.00 2.25 2.00 1.63 3.08 3.00 2.73 2.73 3.08 3.00 2.73 2.73 4.03 3.08 2.95 2.73 4.93 3.08 3.11 3.18 3.26 3.53 3.38 Experimento II 2.66 1.48 1.40 2.66 1.48 1.40 2.91 1.48 1.46 3.16 2.51 2.43 3.40 2.51 2.43 3.66 2.51 2.43 2.76 2.43 48.0 2.68
Page 117
103
Apêndice 8. Apodanthera villosa: diâmetro
da área hemorrágica (mm). Extrato
Controle 1mg 3mg 6mg
Experimento I 16.31 9.77 4.65 16.51 10.88 5.29 19.25 12.26 5.75 20.25 13.40 6.48
14.45
Experimento II 16.62 12.05 4.06 18.12 12.15 5.75 19.61 12.36 6.95
13.25 9.77 Experimento III
12.91 3.90 0.0 13.11 6.67 0.0 17.44 8.51 3.90
11.17 7.98 Apêndice 10. Jatropha mollissima: diâmetro
da área hemorrágica (mm). Extrato
Controle 1mg 3mg 6mg
Experimento I 12.91 6.77 14.00 7.57 14.05 12.56 16.89 13.11
14.36 14.45 16.85
Experimento II 12.91 13.82 13.11 16.12
16.66 17.48
Experimento III 14.93 5.97 7.31 16.43 7.04 7.40
9.44 13.16 Experimento VI
12.10 4.51 4.22 13.44 4.78 4.37 14.27 6.58 5.29 14.45 7.22 5.86 14.67 9.51 6.48
10.03 7.22 9.44
Apêndice 9. Apodanthera glaziovii: diâmetro
da área hemorrágica (mm). Extrato
Controle 1mg 3mg 6mg 10mg
Experimento I 12.91 4.51 8.95 4.65 5.64 14.00 10.09 8.66 4.78 6.48 14.05 11.28 5.17 6.67 16.89 12.26 6.58 6.77
Experimento II 12.91 5.86 8.52 5.75 5.17 13.11 8.13 8.88 6.18 6.07 17.44 11.28 9.44 6.28 7.73
12.10 9.70 9.09 12.91 10.09 10.15
Apêndice 11. Jatropha elliptica: diâmetro da área
hemorrágica (mm). Extrato
Controle 1mg 3mg 6mg 10mg
Experimento I 13.96 13.77 13.25 19.87 13.61 14.93 20.19 18.09 15.55 20.84 14.27 18.91 22.20 20.09 19.93
Experimento II 16.31 2.52 16.51 2.76 19.25 7.13 20.19 7.48 20.25 10.46
Experimento III 16.62 1.95 2.76 18.12 2.25 3.56 19.61 2.76 4.06
5.97 6.38 Experimento IV
12.91 8.59 8.37 2.76 13.11 11.51 14.27 3.19 17.44 14.40 3.56
3.90
Page 118
104
Apêndice 12. Diâmetro da área hemorrágica com relação à concentração
de extrato. Dose de extrato (mg) Diâmetro da área hemorrágica (mm)
Apodanthera villosa (batata-de-teiú)
1.0 - - - 3.0 1.59 1.95 - 6.0 1.12 - -
Apodanthera glaziovii (cabeça-de-negro)
1.0 - - - 3.0 1.59 2.52 - 6.0 1.59 1.95 -
10.0 1.95 2.76 - Jatropha mollissima (pinhão-bravo)
1.0 - - - 3.0 3.90 - - 6.0 3.90 4.06 -
Jatropha elliptica (batata-de-teiú)
1.0 1.12 1.59 1.59 3.56 3.0 1.59 1.59 2.76 3.56 6.0 1.95 2.25 2.52 4.91
10.0 2.52 2.76 3.19 -
Page 119
105
Apêndice 13. Espécies de plantas citadas como antiofídicas na literatura.
Planta Família Composto (s) Autor (es)
Aegiphila salutaris (contra-cobra) Verbenaceae Pio Corrêa, 1909 Annona furfuracea (araticum) Anonaceae Peckolt, 1814 Apuleia leiocarpa Caesalpiniaceae -amirin, apuleína Pereira et al., 1994 Arisaema phythonium (=Zomicarpa
pythonium) Araceaea D�Oliveira, 1854
Aristoloquia antihysterica (=Aristoloquia triangularis) (cipó-de-jarrinha ou mil-homens)
Aristolochiaceae D�Oliveira, 1854
A. shimadai Aristolochiaceae alantoína, ácido aristolóquico Tsai et al., 1975; 1980; Martz, 1992
A. trilobata (calunga ou jarrinha) Aristolochiaceae Pio Corrêa, 1926-1978 Bixa orellana Bixaceae Botrichium virginicum (língua-de-víbora-do-campo)
Ophioglossaceae Peckolt & Peckolt, 1888
Bredemeyera floribunda Polygalaceae bredemeirosida Pereira et al., 1994 Brongniartia podalyrioides Leguminosae (-)-edunol Reyes-Chilpa et al., 1994 Brownea rosademonte Caesalpiniaceae Otero et al., 2000 Bryonia bonariensis ficifolio (=Cayaponia bonariensis) (tuyutá ou
abobrinha-do-mato)
Cucurbitaceae D�Oliveira, 1854
Bursera simaruba Burseraceae flavanoide e taninos condensados Castro et al., 1999 Cabeça-de-negro cabenegrina A-I e A-II Nakagawa et al., 1982 Casearia sylvestris (língua-de-tiú) Flacurtiaceae Braga, 1960; Borges, 2000, 2001 Chiococca anguifuga (=Chiococca
brachiata) (raiz-preta) Rubiaceae D�Oliveira, 1854; Braga, 1960
Cissampelos ebracteata (orelha-de-onça)
Menispermaceae Schindler, 1884
C. glaberrima (cipó-de-cobra) Menispermaceae Schindler, 1884; Pio Corrêa, 1909 C. ovalifolia (orelha-de-onça) Menispermaceae D�Oliveira, 1854 Citrus limon Rutaceae Otero et al., 2000 C. sinensis Rutaceae hesperidina Pereira et al., 1994 Clusia palmana Clusiaceae flavanóides (vitexina e epicatequina),
taninos Castro et al., 1999
C. torresii Clusiaceae flavanóides (vitexina e epicatequina),
taninos Castro et al., 1999
Cocculus filipendula (abútua-miúda) Menispermaceae Pio Corrêa, 1926-1978 Croton sp. (erva-mular ou curraleira) Euphorbiaceae D�Oliveira, 1854 C. draco Euphorbiaceae flavanóides (catequina), taninos
condensados Castro et al., 1999
C. urucuruna Euphorbiaceae EA2MA, EA2MB Esmeraldino, 2002 Cynara scolymus Asteraceae cinarina Pereira et al., 1994 Derris sericea Fabaceae derricidina Pereira et al., 1994 Diospyros kaki Ebenaceae tanino persimmon Okonagi et al.; Martz, 1992 Dostenia brasiliensis Moraceae bergapteno Pereira et al., 1994 Dracontium polyphyllum
(=Dracontium asperum) (milho-de-cobra, jararaca, jararaca-mirim ou erva-de-santa maria)
Araceae D�Oliveira, 1854; Peckolt &
Peckolt, 1888; Pio Corrêa, 1909;
Braga, 1960
Eclipta alba (agrião-do-brejo) Asteraceae Silveira, 1921 E. prostrata (erva-de-botão) Asteraceae wadelolactona, sitosterol,
stigmasterol Martz, 1992; Mors, 1989, 1994
Erythroxylon anguifugum (fruta-de-pombo)
Erythroxylaceae D�Oliveira, 1854
Eupatorim crenatum (=Mikania
cordifolia) Asteraceae D�Oliveira, 1854
Ficus nymphaeifolia Moraceae Otero et al., 2000 Gomphrena officinalis (para-tudo) Amaranthaceae Schindler, 1884 Gonzalagunia panamensis Rubiaceae Otero et al., 2000 Heliconia curtispatha Heliconiaceae Otero et al., 2000
Page 120
106
Apêndice 13. Continuação.
Planta Família Composto (s) Autor (es)
Hypericum irazuensis Clusiaceae Castro et al., 1999 H. laxiusculum (alecrim-bravo) Hypericineae D�Oliveira, 1854; Pio Corrêa,
1926-1978 Isoetes martii (batatinha-d�água) Isoetaceae Peckolt & Peckolt, 1888; Pio
Corrêa, 1926-1978 Kalanchoe brasiliensis Crassulaceae Silva Júnior et al., 2002 Mikania glomerata Asteraceae cumarina Pereira et al., 1994 M. guaco (guaco) Asteraceae Schindler, 1884 M. opifera (=Mikania cordifolia)(erva-de-cobra)
Asteraceae Schindler, 1884; Silva Junior et al., 2002
Mimosa pudica Mimoseae Mahanta & Mukherjee, 2001 Musa sp. Musaceae açúcar, saponinas e taninos Borges et al., 2002 Ophioglossum palmatum (língua-de-vébora)
Ophioglossaceae Peckolt & Peckolt, 1888
Peltodon radicans (paracari ou hortelã-brava)
Labiateae Schindler, 1884; Braga, 1960
Periandra mediterranea Fabaceae periandrinos Pereira et al., 1994 Persea americana Lauraceae flavonóide, monosacarídeo
(perseína), protocianidina, taninos
condensados
Castro et al., 1999
Peschiera fuchsiaefolia Apocynaceae Batina, Giglio & Sampaio, 1997 Phoebe brenesii Lauraceae flavanóides (quercetina), taninos
condensados Castro et al., 1999
Phyllanthus klotzschianus Euphorbiaceae rutina, quercetina Pereira et al., 1994 Pimenta dioica Myrtaceae flavanóides (quercetina e catequina),
taninos condensados Castro et al., 1999
Pleopeltis percussa Polypodiaceae Otero et al., 2000 Sapindus saponaria Sapindaceae flavonóides Castro et al., 1999 Schizolobium parayba Caesalpiniaceae Mendes et al., 2002 Schumanniophyton magnificum Rubiaceae scumaniofosídeo Akinyili & Akubue, 1986; Martz,
1992 Sena dariensis Caesalpiniaceae Otero et al., 2000 Silybum marianum Asteraceae silimarina Pereira et al., 1994 Smilax cuculmeca Smilacaceae antocianinas Castro et al., 1999 Soya hispida Fabaceae tripsina da soja Martz, 1992 Staurostigma luschnathianum (jararaca-do-rio)
Araceae Peckolt & Peckolt, 1888
Struhanthus orbiculares Loranthaceae Otero et al., 2000 Tabebuia rosea Bignoniaceae Otero et al., 2000 Tradescanthia geniculata (=Gibasis
geniculata) (trapoeiraba-efêmera) Commelinaceae Peckolt & Peckolt, 1888
Trichomanes elegans Hymenophyllaceae Otero et al., 2000 Vernonia condensata Asteraceae ácido clorogênico Pereira et al., 1994 Virola koschnyi Myristicaceae taninos condensados Castro et al., 1999 Zamia brongniartii (salgueira-da-terra) Zamiaceae Peckolt & Peckolt, 1888 Mais plantas em Mors et al. (2000), levantamento de substâncias isoladas de plantas antiofídicas.