SISTEMA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO EM EMPRESAS … · “Gestão do Conhecimento”; “Sistema de Gestão do Conhecimento” e “Empresa Familiar”. A busca eletrônica inicial
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SISTEMA DE GESTÃO DO
CONHECIMENTO EM EMPRESAS
FAMILIARES BRASILEIRAS: REVISÃO
SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Patricia de Sá Freire
(Universidade Federal de Santa Catarina)
Greicy Kelli Spanhol Lenzi
(Universidade Federal de Santa Catarina)
Roberto Rogério Amaral
(Universidade Federal de Santa Catarina)
Neri dos Santos
(Universidade Federal de Santa Catarina)
Resumo Este trabalho teve como objetivo revisar sistematicamente a literatura
sobre estudos na área de Sistema de Gestão do Conhecimento em
Empresas Familiares. A busca foi realizada em uma base de dados
eletrônica e os descritores, na língua ingllesa, utilizados foram:
“Gestão do Conhecimento”; “Sistema de Gestão do Conhecimento” e
“Empresa Familiar”. A busca eletrônica inicial resultou em 17.936
artigos. O processo de análise dos estudos envolveu leitura de títulos,
resumos, palavras-chave e, após uma seleção por objetivos, procedeu-
se a leitura dos textos completos, quando acessíveis. Após percorrer as
fases de planejamento e execução, 45 publicações preencheram os
critérios pré-definidos para a revisão, e durante a fase de análise
percebeu-se que tratavam da participação de pequenas e médias
empresas, tais como as familiares, nas redes de criação e implantação
de Sistemas de Gestão do Conhecimento (SGC). Dessa forma,
relacionou-se as dificuldades de gestão de tipo familiar elencadas por
autores que tratam especificamente sobre o tema, com as observações
oferecidas pelos artigos resultantes da revisão sistemática para
pequenas e médias empresas. Concluiu-se que as maiores dificuldades
que as empresas familiares brasileiras enfrentam diz respeito a
transparência e disseminação de informações e como solução, pode-se
sugerir a participação destas em rede de empresas parceiras para o
seu fortalecimento junto aos clientes, fornecedores e concorrentes, bem
como o uso de SGC para potencializar tanto a captação como o
compartilhamento do conhecimento.
Palavras-chaves: Gestão do Conhecimento; Sistemas de Gestão do
Conhecimento; Empresa Familiar; Revisão Sistemática da Literatura.
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
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Introdução
Segundo o IBGE (2008), representando 98% das empresas brasileiras, as empresas
familiares brasileiras são base de sustentação da economia no país. Assim, é numerosa a
quantidade de empresas com gestão de tipo familiar, pois muitas destas nasceram como
pequenas empresas de algum membro de uma família que iniciou seu próprio negócio. Estes
fundadores são membros empreendedores de uma família, descobridores de oportunidades,
que perceberam o momento de constituir um negócio e de crescê-lo.
Ainda não há um consenso entre autores e consultores brasileiros quanto à definição
de Empresa Familiar. Objetivando conceituar o tema, foi realizada uma classificação por
Bernhoeft (1991) que agrupa não somente as empresas administradas há pelo menos duas
gerações de uma mesma família, mas sim, as que mantêm membros da família ou amigos na
administração. Como expõem o autor, incluem-se ainda nesta definição as empresas com
gestão baseada em contratos emocionais entre gestor e funcionários antigos que o
acompanham desde o início dos negócios, uma vez que na gestão do tipo familiar os laços
afetivos são base das decisões, assim como há a valorização da antiguidade, alta fidelidade e
exigência de dedicação exclusiva. Deste modo, caracteriza-se a empresa familiar como
uma organização empresarial que tem sua origem e sua história vinculada a uma
mesma família há pelo menos duas gerações, ou aquela que mantém membros da
família na administração dos negócios, ou seja, empresa que é controlada e/ou
administrada por membros de uma família (BERNHOEFT, 1991. p.19).
As dificuldades de gestão neste tipo de empresa começam a surgir quando os
fundadores, ou seus herdeiros, se propõem a perpetuar o negócio, demandando, desta forma, a
profissionalização da gestão e a diminuição da subjetividade no processo de decisão,
substituindo-a pela objetividade baseada em informações e conhecimentos explicitados e
gerenciados sistematicamente. Assim, uma questão basilar nesse contexto é a eliminação da
subjetividade comum à gestão familiar, pois esta envolve conflitos de interesses baseados em
discussão emocionais, que acaba por desequilibrar a divisão entre o enriquecimento da
família e a saúde financeira da empresa.
Freire et al. (2009) realizaram uma pesquisa em duas empresas brasileiras com o
intuito de diagnosticar quais características de gestão familiar persistiam após ter se
processado a profissionalização. A questão norteadora do trabalho foi: Quais os vícios
presentes na gestão de empresas familiares brasileiras que apresentavam maior resistência
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para serem desativados em processos de profissionalização? Ressalta-se ainda que as
empresas que serviram para o estudo foram classificadas como familiar por existirem em suas
dinâmicas internas características próprias de gestão familiar conforme definidas por
Bernhoeft (1991).
As duas empresas estudadas participaram de processos de profissionalização de gestão
com a implantação das boas práticas de governança corporativa, sendo uma para abrir o
capital e a outra para promover a sucessão de pai para filho. Referindo as dificuldades
encontradas neste processo em uma das empresas, um dos gerentes entrevistados oferece um
depoimento contundente quanto à necessidade de melhorar a gestão das informações e
conhecimentos na empresa:
Se a empresa aprender a ouvir, decidir para onde quer ir, formalizar as políticas e
processos, disseminar todas as informações às áreas e, todos respeitarem estas
políticas, inclusive os líderes, a empresa com certeza crescerá em qualidade e
tamanho. O que falta é dar fim a vícios de empresa de família, que só eles precisam
saber o que fazer e fazer da maneira deles. Agora precisamos entender que cada um
daqui faz parte dos problemas e da solução e não mais somente a família busca as
respostas para tudo (entrevistado apud Freire et al., 2009, p.38).
A partir das entrevistas realizadas, como resultado da pesquisa, os autores (Freire et
al., 2009) concluíram que as características mais prejudicadas na gestão de tipo familiar são
ligadas à comunicação interna, tanto vertical (hierarquizada) como horizontal
(interdepartamental). E, devido a isso, recomendaram mudanças em como são processadas
tanto a comunicação interna e quanto as tomadas de decisão.
Destarte, os Sistemas de Gestão do Conhecimento (SCG) têm importante papel no
processo de profissionalização das empresas familiares brasileiras, visto que esses sistemas
inteligentes propiciam a disseminação de informações e conhecimentos que antes se
mantinham restritos à família e seus escolhidos. Dessa forma, os SCGs auxiliam na quebra do
paradigma de que a tomada de decisão é de responsabilidade das altas hierarquias (exatamente
por ela ter acesso a informações e conhecimentos para basear suas decisões), criando um novo
olhar sobre as responsabilidades de cada colaborador (de um simples funcionário que obedece
ordens para um indivíduo autônomo e parceiro no sucesso).
Assim, diversos pesquisadores voltaram a atenção sobre o conhecimento e a gestão do
conhecimento organizacional, desenvolvendo os Sistemas de Gestão do Conhecimento para
que este seja uma importante ferramenta para a criação, compartilhamento e disseminação do
conhecimento (ALAVI; LEIDER, 2001). Entretanto, embora hajam diversos estudos nesta
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área, ainda não existe uma teoria consolidada que relacione a importância dos SGCs
organizacionais ao processo de profissionalização de empresas familiares. E devido a isso se
faz necessário desenvolver novas pesquisas para que se possa caminhar nessa direção,
avançando a partir de conhecimentos científicos existentes.
Buscando conhecer o que já existe de produção científica na área, para realização
deste trabalho foi conduzida uma revisão sistemática com o intuito de levantar as pesquisas
relacionadas à Gestão do Conhecimento e aos Sistemas de Gestão do Conhecimento
visando investigar como esses sistemas inteligentes podem contribuir para a melhoria da
gestão das empresas familiares.
E para atender ao objetivo projetado, realizou-se a pesquisa na base de dados Scopus
para levantar os estudos já realizados sobre os temas: “Gestão do Conhecimento”; “Sistemas
de Gestão do Conhecimento”; e “Empresa Familiar”. Ao final, planejou-se limitar os estudos
na área de negócios, gestão e contabilidade pelo interesse do próprio tema, sendo que para a
revisão respeitaram-se os passos determinados pela Fundação Cochrane e pela NHS/YORK
quanto às etapas de planejamento, execução, análise e relatoria.
O processo de análise dos estudos envolveu leitura de títulos, resumos, palavras-chave
e, após uma seleção por objetivos, procedeu-se a leitura dos textos completos, quando
acessíveis.
Foi escolhida a base Scopus por que esta hoje é a maior base de resumos e referências
bibliográficas de literatura científica, o que permite uma visão multidisciplinar e que integra
as fontes mais relevantes para a pesquisa bibliográfica sistemática (FREIRE, 2010). Como
afirma o portal da CAPES (2004, p.1) a consulta aos Resumos “é a forma recomendada para
iniciar uma pesquisa bibliográfica sistemática, de ampla cobertura e metodologicamente
correta”. Por meio desses serviços, é possível identificar artigos de periódicos e outros
documentos científicos e técnicos publicados sobre o assunto de interesse do pesquisador.
Assim, a abordagem metodológica adotada caracteriza-se como um estudo
exploratório e descritivo feito mediante revisão sistemática da literatura, seguindo-se pela
meta-pesquisa.
1. Gestão do Conhecimento
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O conhecimento é um conceito amplo e abstrato que provocou debates
epistemológicos na filosofia ocidental desde a época clássica grega. Nos últimos anos, no
entanto, tem havido um crescente interesse em tratar o conhecimento como um importante
recurso organizacional, o que configura e demonstra o crescente desenvolvimento da área de
Gestão do Conhecimento (GC)1. Destarte, em consonância com o interesse do mercado, mais
pesquisas vem sendo desenvolvidas nessa área, o que permite com que teorias e aplicações
produzam uma maior base teórico-científica sobre este tema.
Para realização da pesquisa sistemática neste trabalho, a primeira palavra-chave
averiguada foi Knowledge Management (Gestão do Conhecimento) e posto entre aspas para
que não fossem levantados publicações sobre gestão e nem sobre conhecimento em geral.
Dessa busca inicial surgiu o total de 17.936 artigos, que trouxeram informações importantes
para a construção do cenário relacionado ao tema dessa pesquisa.
O primeiro artigo publicado sobre Gestão do Conhecimento, registrado na base de
dados Scopus data de 1966 (BYRD et al., 1966) e esse já falava de Sistemas de Gestão do
Conhecimento. Após esse artigo, surgiram duas outras publicações apenas dez anos depois,
uma em 1976 (WILSON; EMERE, 1976) e outra em 1977 (FREEMAN, 1977). O tema voltou
a motivar algumas publicações acadêmicas na década de 80, porém somente ao final da
década de 90 as questões relacionadas à Gestão do Conhecimento chamam a atenção da
academia e, assim, houve um significativo aumento das publicações ano a ano, continuando
até os dias de hoje.
O artigo Byrd et al. (19662) descrevia um modelo orientado a objeto, baseado em
regras para o desenvolvimento de Sistemas Baseados em Conhecimento. São discutidas as
limitações dos Sistemas de Informações da época, e o desenvolvimento do modelo foi em
resposta a estas limitações encontradas nestes sistemas. O modelo é um guia de design para a
construção de sistemas orientados a objeto com processamento baseado em regras, sendo
utilizado para construir um Sistema de Gestão de Manutenção em um ambiente real. As fases
1 A “GC é a gestão dos processos que governam a criação, disseminação e a utilização de conhecimento por
meio fusão de tecnologias, estruturas organizacionais e pessoas para criar a mais efetiva aprendizagem, resolução de problemas e, tomada de decisão em uma organização” (NA UBON; KIMBLE, 2002). 2 Únicas referências encontradas na base de dados não constam dados da publicação como volume, página inicial
e final, como segue: Byrd, T.A., Markland, R.E., Karwan, K.R. , Philipoom, P.R. An object-oriented rule-based
design structure for a maintenance management system. Publisher Columbia, U.S.A., University of South
Carolina, 1966.
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selecionadas do Sistema de Gestão de Manutenção são apresentadas e discutidas no artigo
para mostrar como o modelo foi implantado.
Os dois artigos que aparecem na década de 70, Wilson e Emere (1976) e Freeman
(1977), tratam da área ambiental. O primeiro aponta a importância da Gestão do
Conhecimento e dos Sistemas de Gestão do Conhecimento para o gerenciamento de situações
geológicas adversas3. Os autores afirmam que a Gestão do Conhecimento supera a capacidade
de apenas planejar o design e o layout de escavações minimizando danos e efeitos do estresse
ambiental desfavorável, mas também é capaz de conceber sistemas inteligentes sofisticados
de apoio, atendendo condições decorrentes de praticamente qualquer circunstância. Ressalta-
se que esse artigo na base de dados Scopus não aparece em nenhuma citação. Já o artigo de
Freeman (1977) trazendo a discussão sobre a importância da Gestão do Conhecimento (a
teoria, política e prática do conhecimento) para a Gestão dos Oceanos e de Informação
Ambiental, foi resgatado em artigo de 2006 (AZABACHE; MAZA; IZETA, 2006), marcando
então uma citação na base de dados estudada.
No que concerne aos estudos realizados nesta área, os temas Conhecimento e Gestão
do Conhecimento são intrinsecamente interdisciplinares abarcando uma grande variedade de
estudos em diferentes áreas do conhecimento (ALAVI; LEIDNER, 2001), sendo 27 ao total.
Destaca-se que uma grande parcela (62,73%) se concentra nas áreas: Ciências da Computação
(30,81%), Engenharia (17,88%) e, Negócios, Gestão e Contabilidade (14,04%).
O Gráfico 1 demonstra que as questões relacionadas à Gestão do Conhecimento
surgiram no final de década de 60, porém só atraíram a atenção da academia a partir da
segunda metade da década de 90, iniciando uma curva ascendente, conquistando em 2009 a
publicação de 4.699 artigos científicos.
Gráfico 1: Resultado da Busca por “Gestão do Conhecimento” na Base Scopus
3 Eles discutem como o conhecimento sobre o comportamento do maciço rochoso circundante tabular foi
utilizado para combater as condições adversas criado por inóspitos ambientes geológicos e estresse.
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1 1 1 4 1 3 4 6 7 9 13 18 25 24 7 12 17 24 22 29 78 99 186287
446 513
737844
1145
1484
2575
4073
4699
542
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 341966. 1976. 1977. 1980. 1981. 1982. 1983. 1984. 1985.1986. 1987. 1988. 1989. 1990.1992.1993. 1994. 1995. 1996.1997. 1998. 1999. 2000. 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. 2006. 2007. 2008. 2009. 2010
Fonte: Elaborado pelos autores
Smith e Farquhar (2000) explicam que essa onda de entusiasmo e de atividades
centradas na gestão do conhecimento coincide com a época do grande avanço da
globalização, pois para competir em um novo mundo de concorrência globalizada se deve
estar preparado. Para a economia do conhecimento, o diferencial é permitir que as
organizações capturem, compartilhem, e apliquem suas experiências e know-how de maneira
coletiva, função esta da Gestão do Conhecimento.
Lee e Hong (2002) acrescentam que a economia global sem fronteiras acentuou a
importância do conhecimento como a fonte mais importante de vantagem competitiva. Assim,
a Gestão do Conhecimento tornou-se um mandato estratégico para a maioria das organizações
de classe mundial.
O'Leary e Daniel (1998), corroborando com o exposto, trouxeram números
comprovando o avanço da GC no final da década de 90. Segundo os autores os gastos com a
Gestão do Conhecimento subiria de R$ 410 milhões em 1994 para mais de US$ 4,5 bilhões
em 1999. Da mesma forma, 42% das empresas da Fortune 1000 nomearam um Diretor de
Gestão do Conhecimento e, quase todas as grandes consultorias desenvolveram sistemas para
a disseminação e compartilhamento do conhecimento.
Yoo e Kim (2002) no que refere a disseminação e compartilhamento do conhecimento
ainda destacam que as redes (Internet e Intranet) proliferaram em todo o mundo nessa década,
sendo que as organizações ao atingirem o espaço virtual com suas atividades empresariais
criaram mais um desafio para a Gestão do Conhecimento, que é o de alcançar com eficácia as
pessoas, processos e tecnologias do comércio virtual. Os autores colocam que o importante no
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ambiente organizacional virtual é a pronta e eficaz troca de informações, não sendo este uma
tarefa fácil devido à heterogeneidade de recursos de informação existentes. Assim, a
competitividade da empresa se estende à escolha certa dos recursos para o gerenciamento de
informações e conhecimentos, sendo que para atender tal demanda, os Sistemas de Gestão do
Conhecimento se apresentam como principal recurso.
1.1. Sistemas de Gestão do Conhecimento
Para Gregor e Benbasat (1999) os Sistemas de Informação, com um componente
"inteligente" ou "conhecimento" predominante, são Sistemas Baseados em Conhecimento,
Sistemas de Apoio à Decisão, Agentes Inteligentes, e Sistemas de Gestão do Conhecimento.
Conforme Bergamasch e Urbina (2009, p. 2) um SCG pode ser definido como “uma estrutura,
geralmente uma solução de Tecnologia da Informação, utilizada para gerenciar o
conhecimento em organizações, dando suporte à criação, à captura, ao armazenamento e à
disseminação da informação”. Estes sistemas são capazes de explicar um raciocínio ou
justificar um comportamento, permitindo a interação com o agente humano. Mais do que isso,
os SGCs tentam apoiar e provocar o fluxo de idéias e experiências entre os colaboradores de
uma organização, bem como disponibilizar inúmeras informações e sistemas de comunicação
como uma estratégia organizacional para promover o intercâmbio das idéias e experiências
(conhecimentos).
Entretanto, conforme Cabrera, Collins e Salgado (2006), as tecnologias por si só não
garantem que o conhecimento será voluntariamente oferecido e trocado, e que quando
recebidas as informações, essas serão utilizadas para construção de novos conhecimentos
úteis à empresa. Assim, grande parte das empresas não fazem um bom trabalho para
capitalizar a riqueza de conhecimentos espalhados por suas organizações, uma vez que
tendem a confiar em sistemas centralizados de informação e tecnologias, desconsiderando a
captação destas informações.
Esses sistemas operam na disseminação do conhecimento já explicitado, ou seja, já
capturado e codificado para uso geral em forma de manuais, apostilas, relatórios, entre outros.
Além disso, esses sistemas, ao distribuírem conhecimentos já explicitados possibilitam o
controle das ações de todos os colaboradores segundo o design dos processos existentes.
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Porém, a transferência de conhecimento implícito, do tipo necessário para o enfrentamento de
situações complexas ou de novos desafios, não são alcançados pelos mesmos. Os
conhecimentos implícitos à tarefa, que só se encontram no saber fazer do especialista,
acabam se perdendo, pois estão espalhados na malha da rede organizacional, exatamente por
não estarem ainda explicitados.
Esses conhecimentos implícitos, como definem Hansen e Von Oetinger (2001), são
base para a geração de novas idéias e maneiras criativas de resolver problemas de negócios ou
buscar oportunidades e, não podem ser ignorados pela organização e relegados a mente dos
especialistas que as construiu, pois caso haja um afastamento do especialista de sua função, a
empresa perderá seu saber fazer, assim como o fato deste conhecimento não estar
compartilhado elimina a possibilidade desse saber fazer ser aplicado para resolução de outras
tarefas e tomadas de decisão estratégias.
Para que se processe a disseminação do conhecimento implícito, ora socializado,
fugindo da centralização dos sistemas de informação e tecnologias, Hansen e Von Oetinger
(2001), trazem uma proposta de Gestão do Conhecimento em T, que leva os executivos a
compartilhar conhecimentos a sua volta (a parte horizontal do "T"), mantendo-os fortemente
comprometidos com o desempenho da sua unidade de negócios (a parte vertical). Em
pesquisa realizada na empresa BPAmoco, os autores concluíram que incentivar o
compartilhamento do conhecimento dos especialistas é uma forma de aumentar a eficiência da
transferência de melhores práticas; melhorar a qualidade de tomada de decisão; e desenvolver
novas oportunidades de negócio através da polinização cruzada de idéias. Nesse contexto, os
Sistemas de Gestão do Conhecimento têm essa missão, de disseminação de conhecimentos
que agreguem valor ao negócio.
Ressalta-se que para Thomas, Kellogg e Erickson (2001) o conhecimento está
intrinsecamente ligado à cognição humana e a Gestão do Conhecimento se dá dentro de um
contexto social estruturado com elementos inter-relacionados, assim é essencial para os SGC
considerar os fatores humanos e sociais na produção e utilização do conhecimento.
Corroborando, Hung et al. (2005) após pesquisa realizada em uma indústria
farmacêutica, afirmam que a estratégia e a cultura organizacional são importantes para a
adoção de um SGC. Os autores apontam que adotar este tipo de sistema pode parecer fácil se
concentrados em um departamento central. No entanto, se o objetivo para a implantação do
sistema é aumentar a competitividade da empresa mantendo os custos de implantação ao
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mínimo, deve-se utilizar os ativos intangíveis disponíveis através de um SGC para alcançar a
plena participação dos trabalhadores garantindo o sucesso da implementação.
Nesse estudo, Hung et al. (2005) identificaram como fatores críticos na execução de
um SGC: estratégia de benchmarking e estrutura do conhecimento; cultura organizacional;
tecnologia da informação; envolvimento e formação dos trabalhadores; liderança e
compromisso da gerência sênior; um ambiente de aprendizado e controle de recursos;
evolução da capacitação profissional; e trabalho em equipe. Todos afetando o prazo e o custo
de implantação de um sistema eficaz.
Uma dificuldade para a implantação de SGC nas empresas brasileiras é a medição dos
ativos intangíveis como os próprios conhecimentos individuais, de grupos e organizacionais.
Sabe-se que manter o capital intelectual é importante, e que o conhecimento dos
colaboradores é um recurso indispensável para subsidiar o crescimento da empresa e sua
preparação para o enfrentamento de mercados hiper competitivos. Porém, embora saiba-se
que os verdadeiros diferenciais competitivos advêm desses intangíveis por serem difíceis de
imitar, a dificuldade de medi-los impossibilita o seu controle, tornando a sua implantação
custosa e incerta. Entretanto, Kaplan e Norton (2004) colocam que é a gerência dos ativos
intangíveis que permitirá controlar com maior precisão e facilidade a posição competitiva da
empresa.
Outra dificuldade apontada pelas publicações estudadas é a exigência de se entender
como funcionam os estágios na empresa para o sucesso do processo de Gestão do
Conhecimento, destacando ainda que para ser bem sucedido o processo de GC deve ser
explicitamente apoiado, gerenciado e mensurado, pois o conhecimento da realidade
organizacional engloba várias redes de conhecimentos inter-relacionados. Para Demarest
(1997) são quatro as categorias de conhecimento que devem ser levadas em conta para a
construção de um SGC eficiente: dimensão imperativa ou cultural; preventiva ou de padrão;
vinculados por regras; e prescrições de desempenho. Os conhecimentos que devem ser
trabalhados no SGC são tácitos ou compartilhados, consubstanciados em materiais brutos,
mecanismos, práticas e processos de negócios, do meio ambiente e da cultura. Entender como
se deve proceder para a construção de Sistemas Inteligentes de GC é uma das questões mais
observadas pela academia no que tange o tema.
Dando continuidade ao planejado para a revisão sistemática da literatura incluiu-se o
filtro “Knowledge Management System” (Sistema de Gestão do Conhecimento), retornando
1.417 publicações. Pode-se entender que, por essa quantidade de artigos, as questões focadas
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nos Sistemas de Gestão do Conhecimento pouco têm motivado a comunidade científica a
desenvolver estudos relacionados, visto que apenas 8% das pesquisas que estudam Gestão do
Conhecimento estão voltadas a discutir este tema.
Analisando o Gráfico 2, identifica-se que o interesse da academia nas questões
relacionadas aos “Sistemas de Gestão do Conhecimento” também ascenderam a partir do final
da década de 90, seguindo quase o mesmo ritmo de crescimento do tema “Gestão do
Conhecimento”.
Gráfico 2: Resultado da Busca por “Sistema de Gestão do Conhecimento” na Base Scopus
Fonte: Elaborado pelos autores
Dos 1.417 artigos apontados pela base de dados Scopus, 40% (570 artigos) aparecem
com alguma citação (de 1 a 853 citações por artigo) somando 6.167 citações e, sendo que os
35 primeiros artigos alcançam 50,77% destas citações. Dessa forma, buscou-se levantar esses
35 artigos para proceder as leituras exploratórias de reconhecimento e seleção sobre SGC.
2. Meta-análise: Classificação e Fusão dos resultados
Na análise dos 35 artigos resultantes da revisão sistemática realizada foi possível
classificá-los e agrupá-los em 6 grupos.
O primeiro grupo diz respeito aos artigos que trazem discussões teóricas sobre o ser
conhecimento a base da inovação e a importância de saber gerenciar o conhecimento
organizacional por este ser a chave para uma concorrência efetiva, sendo um total de 6 artigos
e 11 autores.
Autores (data) Objetivos
Rubenstein-Montano
(2001) e Demarest
enfatizam a importância da contextualização mais ampla da GC, de modo que os
fatores que influenciam seu sucesso ou fracasso possam ser conhecidos e
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(1997) compreendidos.
O'Leary (1998) apresenta o avanço da Gestão do Conhecimento entre 1994 e 1998
Smith e Farquhar,
(2000)
desenha um cenário da evolução da tecnologia e prática de GC ao longo de 10
anos, acabando por apresentar um roteiro para a gestão do conhecimento,
começando com uma avaliação do estado da prática na época (2000).
Gregor e Benbasat
(1999)
afirmam que parece haver uma falta de entendimento sobre os benefícios que
podem advir da explicação, e como uma função de explicação deve ser
construída. A base teórica combina uma perspectiva de esforço cognitivo, a
teoria cognitiva de aprendizagem, e o modelo de Toulmin de argumentação.
Thomas, Kellogg, e
Erickson (2001)
Revisaram pesquisas anteriores- desde a pesquisa básica aplicada às técnicas que
relacionam os fatores cognitivos e sociais na gestão do conhecimento.
Garud, e
Kumaraswamy
(2005)
adotam uma perspectiva de sistemas para explorar os desafios que as
organizações enfrentam na exploração do conhecimento, chamando a atenção
para processos causais que têm o potencial de gerar tanto círculos viciosos como
virtuosos.
Quadro 1: Agrupamento de Produções sobre as teorias da GC
Fonte: Elaborado pelos autores
O segundo grupo corresponde aos nove dos artigos que são relacionados à Tecnologia
da Informação. Schultze e Boland Jr. (2000) classificam seu artigo como de GC, incluindo-o
no título, porém os autores nesse estudo investigam a sobre a prática profissional na área de
Sistemas de Informação. Desouza (2003), indo na contra mão desse estudo sobre a TI e
avançando nos estudos de SGC, aponta os benefícios de explorar o conhecimento
organizacional além das tecnologias da informação. Entendendo que o objetivo dos SGC é
apoiar a criação, transferência e aplicação do conhecimento nas organizações, Alavi e Leidner
(2001) enfocam o papel da Tecnologia da Informação nos processos de Gestão do
Conhecimento, enquanto Pan e Leidner (2003) exploram o uso da TI para apoiar o
compartilhamento de conhecimentos dentro e entre comunidades de prática.
Damodaran e Olphert (2002) analisam o uso e experiências de usuários na fase pós-
implementação de gestão de Sistema de Informação em uma empresa multinacional. Ernst
(2003) desenvolve um quadro conceitual mostrando o uso da informação sobre patentes em
áreas essenciais da gestão da tecnologia. Já Hansen e Von Oetinger (2001), propõem um
modelo de Gestão do Conhecimento (em T) para processar o compartilhamento do
conhecimento implícito, exatamente para fugir da centralização dos sistemas de informação e
tecnologias. Lee e Hong (2002) discutidem as TI como estratégias para o desenvolvimento de
uma infra-estrutura do SGC em toda a empresa. Cabrera, Collins e Salgado (2006)
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alcançando uma nova fase nas discussões sobre EGC discutem as variáveis psicológicas,
organizacionais e relacionadas ao SGC que poderiam motivar os colaboradores para o
compartilhamento do conhecimento intra-organizacional. Huber (2001) foca a TI para a
Transferência do Conhecimento.
Alguns estudos ainda tratam das técnicas, ferramentas e práticas da mídia do
conhecimento como a comunidade de prática (PAN; LEIDNER, 2003) e os blogs (CAYZER,
2004).
O terceiro grupo compõe 28,57% dos artigos encontrados e que consistem na
apresentação de um SGC, sua análise e um estudo de caso de sua aplicação. Por isso estes
foram agrupados conforme quadro 2:
Akscyn et al. (1998) apresentam um sistema hipermídia para estações de trabalho com base em no
sistema ZOG;
Staab et al (2001) a fim de apoiar o controle externo do conhecimento do negócio e sua análise,
desenvolveram CHAR como analisador da história da empresa, um sistema de
coleta e análise de dados temporais. CHAR integra fatos sobre as estruturas
organizacionais e atividades estratégicas para uma base comum de conhecimentos;
Yoo e Kim (2002) apresenta um SGC baseado na Web para facilitar o compartilhamento contínuo de
dados;
Alavi e Tiwana (2002) propõem um SGC com abordagens específicas para responder aos desafios para a
integração de conhecimentos em ambientes de equipes virtuais: as restrições sobre
a memória transitiva (diretório para localizar e utilizar conhecimentos em grupo), a
insuficiente compreensão mútua, falha no compartilhamento e retenção do
conhecimento contextual, e a inflexibilidade dos vínculos;
Massey, Montoya-
Weiss e O'Driscoll
(2002)
apresentam um processo de gestão do conhecimento orientado à estratégia, que
envolve um enfoque sistemático e tripartite no processo, pessoas e tecnologia;
Lee, J.K., Sohn, M.M
(2003)
apresentam um protótipo de XrML versão 1.0. Um sistema de tratamento
automatizado para o desembolso dos fundos de pesquisa do Instituto Avançado de
Ciência e Tecnologia em Seul na Coreia, XrML permite que os agentes humanos,
bem como agentes de software usem as regras implicitamente incorporados em
páginas da Web.O autor afirma que o potencial para a sua aplicação na gestão do
conhecimento é promissor;
Chen et al (2003) relacionam a incapacidade de combate ao crime por agências governamentais com
a falta de compartilhamento de informação do pessoal da polícia com outras
agências. Os autores propõem o SGC, COPLINK, projetado para permitir que
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diversos departamentos de polícia compartilhem dados através de uma interface
fácil de usar e revelar;
Kwan e
Balasubramanian
(2003)
apresentam um projeto de um SGC denominado KnowledgeScope que resolve os
problemas de design nos repositórios do conhecimento por meio da capacitação de
um suporte integrado do fluxo de trabalho que captura e recupera o conhecimento
como um produto de processos organizacionais, ou seja, dentro do contexto em que
é criado e usado, e um processo de meta-modelo, que organiza o conhecimento e o
contexto em um repositório de conhecimento;
Kaplan e Norton
(2004)
chamam a atenção para as dificuldades de mensuração dos intangíveis e, elaboram
um método para medir o que a empresa quer, e não apenas querer o que ela pode
medir. Os autores criam um SBC – o mapa estratégico como caminho para
determinar a "prontidão estratégica", alinhando com a estratégia, as informações
organizacionais, recursos humanos e organização do capital. Esse sistema se
propõem a ajudar a empresa na identificação dos processos mais críticos para a
criação e entrega de sua proposição de valor e determina os recursos humanos,
informação e capital organizacional exigidos pelos processos;
Hung et al (2005) afirma que as empresas deverão utilizar os ativos intangíveis disponíveis através de
um SGC para alcançar a plena participação dos trabalhadores e garantir o sucesso
da implementação de um SGC eficaz. Os autores identificaram 7 fatores críticos na
execução de um SGC: estratégia de benchmarking e estrutura do conhecimento; a
cultura organizacional; tecnologia da informação; envolvimento e formação dos
trabalhadores; a liderança e o compromisso da gerência sênior; um ambiente de
aprendizado e controle de recursos; evolução da capacitação profissional e trabalho
em equipe;
Wu (2001) apresenta um SGC Multi-agente. São discutidos os mecanismos de coordenação em
sistemas multi-agente, que constitui a gestão do conhecimento 1-1. Artigo escrito
em 2001 quando o SGC baseado em agente ainda era incipiente, o autor destaca
que esses sistemas de gestão baseados em agentes do conhecimento foram
considerados muito promissores para a gestão de conhecimento em coordenação e
colaboração de licitação, leilões e contratos, bem como na gestão do conhecimento
empresarial.
Quadro 2: Agrupamento de Produções que apresentam um SGC, sua análise e estudo de caso
Fonte: Elaborado pelos autores
O quarto grupo refere ao tema Memória Organizacional. Os artigos apontam para as
dificuldades de reutilização de conhecimentos pelas exigências de que cada tipo de
conhecimento demanda um repositório diferente, alguns autores focam em seus estudos a
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reutilização do conhecimento, com ênfase em sistemas de gestão do conhecimento e
repositórios - sistemas de memória organizacional.
O quinto grupo é formado pelo objetivo de design e arquitetura de software, pois com
a globalização se tornou emergencial a busca de soluções para o compartilhamento do
conhecimento entre indivíduos, grupos e organizações espalhadas pelo globo. A revisão
apontou que alguns autores se concentraram em discutir o design dos sistemas para modelá-lo
de forma mais amigável para os especialistas e usuários (MARKUS, MAJCHRZAK,
GASSER, 2002). Nessa linha, Cannataro e Talia (2003) têm se preocupado desenvolver
arquiteturas de software para sistemas distribuídos geograficamente. A busca tem sido por
possibilitar a colaboração confiável, consistente e de abrangente acesso à indivíduos que têm
dados armazenados em lugares diferentes, bem como indivíduos que precisam usar um
sistema de gestão do conhecimento operacional em vários sítios de dados localizados em
diferentes filial ou negócios da empresa.
Gibson e Vermeulen (2003) analisam as redes de equipe, design e aprendizagem,
destacando a importância de subgrupos e a relação entre os subgrupos e o comportamento de
aprendizado em equipe, definido como um ciclo de experimentação, comunicação reflexão e
codificação.
O sexto grupo abordando o tema ontologia, sendo 2 autores: O'Leary (1998) e
Maedche et al. (2003). Ambos autores a assumem como uma tecnologia fundamental para o
processamento de conhecimento semântico. No entanto, existem vários desafios relacionados
com a aplicação de ontologias em ambientes do mundo real. Estes artigos apresenta uma
arquitetura de gestão integrada do conhecimento empresarial, focando como suporte,
ontologias e o gerenciamento de sua evolução.
2.1. Análise dos artigos de maior relevância
Dentre os artigos apresentados, destaca-se a teoria desenhada por Markus, Majchrzak
e Gasser que foi relatada em um artigo de 2002, pois esta demonstra ser de grande relevância
para as discussões na área, uma vez que já consta com 108 citações. A teoria foi elaborada
visando atender as questões relacionadas aos sistemas que oferecem suporte a novos
processos de conhecimentos. Esses processos são os padrões de atividade organizacional que
apresentam três características combinadas: um processo emergente das deliberações sem
uma melhor estrutura ou seqüência; requisição de conhecimentos complexos (ao mesmo
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tempo geral e situacional), distribuídos por pessoas, e em evolução dinâmica; e a definição
por um agente de que o conhecimento é imprevisível em termos de papéis de trabalho ou
conhecimento prévio. Esses sistemas diferem qualitativamente dos semi-estruturados
processos de decisão possuindo necessidades específicas que não são suportados por classes
de sistemas como: de informação executiva; de especialistas; de comunicação eletrônicos; de
memória organizacional, ou repositórios.
Os repositórios de conhecimento, mesmo que implementados atualmente em muitas
organizações, sofrem de falta de uso. Uma pesquisa desenvolvida por Kwan e
Balasubramanian (2003) aponta dois fatores relacionados ao design dos repositórios para a
sua não utilização: o peso extra dos documentos no repositório de conhecimento, e a falta de
uma estrutura de conhecimento padrão que facilite o compartilhamento de conhecimentos
entre usuários com diferentes perspectivas. Os autores trazem grande contribuição para as
discussões relacionadas ao tema (73 citações), pela apresentação de um projeto de um Sistema
de Gestão do Conhecimento denominado KnowledgeScope que resolve os problemas de
design nos repositórios do conhecimento por meio da capacitação de um suporte integrado do
fluxo de trabalho que captura e recupera o conhecimento como um produto de processos
organizacionais, ou seja, dentro do contexto em que é criado e usado, e um processo de meta-
modelo, que organiza o conhecimento e o contexto em um repositório de conhecimento para
as empresas.
3. EMPRESA FAMILIAR
Para ser útil, como destaca Demarest (1997), não basta apenas ter repositórios, o
conhecimento deve ser distribuído na organização, uma vez que só assim ele contribuirá para
a melhoria do desempenho da empresa no mercado hiper competitivo. Entendendo que um
SGC é a base sistemática desse processo de distribuição, deve-se respeitar o papel da GC de
observação, identificação, medição e otimização da economia do conhecimento
organizacional, agregando assim, valor à empresa, como produto e como processo.
A Gestão do Conhecimento foca a busca de valor para a organização como um todo e
não somente para os gestores (família) e seus diretores (pessoal de confiança), o que para
gestão de tipo familiar não procede. Nesse sentido, as dificuldades para a implantação de SGC
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neste tipo de empresa estão relacionadas às dificuldades culturais de sua gestão,
principalmente na área de comunicação interna.
Além da cultura gerencial, segundo Demarest (1997), para se alcançar valor a partir
dos conhecimentos é necessário gerenciar características culturais organizacionais específicas,
bem como sua estrutura e objetivos estratégicos. O autor ainda destaca que é vital que as
empresas ofereçam um ambiente de trabalho favorável ao compartilhamento do
conhecimento, caso contrário o SGC não conseguirá capturar os conhecimentos e, não serão
atingidos os níveis de reutilização do conhecimento que apoiará a gestão profissionalizada.
Assim, se entende que a implementação de um SGC em uma empresa familiar exige uma
infra-estrutura cultural, técnica e operacional.
E devido à concorrência crescente que impõem uma forte pressão para a melhoria da
eficiência das tarefas corporativas, principalmente as administrativas e financeiras, Reimer,
Margelisch, e Staudt (2000) apontam que, para as empresas com gestão de tipo familiar, o
SGC é o mais apropriado em detrimento aos sistemas de Representação do Conhecimento e
de Modelagem de Processo. Baseando-se nos estudos dos autores, pode-se afirmar ser o SGC
a maneira mais adequada de atender as principais exigências do processo de
profissionalização da gestão de tipo familiar, pois codifica e armazena conhecimento
fornecendo apoio às tomadas de decisão com suporte interativo, além de orientação baseada
em computador.
Nesse sentido, tratar da GC e da elaboração de SGC nesse tipo de demanda a
eliminação de vícios de gestão familiar, principalmente as características bloqueadoras da
comunicação.
No que refere a pesquisa sistemática da literatura sobre este tema, descobriu-se que
apenas 93 artigos abordam o tema empresa familiar dentre os 1.417 publicados sobre SGC e
registrados na base Scopus. Entretanto, dentro da análise verificou-se que apenas 45 dos
artigos atendiam os quesitos pré-definidos para a análise, uma vez que os outros estavam
voltados para grandes organizações.
Como pode-se verificar no Gráfico 3, a atenção da academia só se volta para o tema
recentemente, mais precisamente após o ano de 2005.
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Gráfico 3: SBC e Empresas Familiares
Fonte: Elaborado pelos autores
O primeiro artigo publicado relacionando SGC e empresas familiares (BRYSON,
1997) apresenta uma pesquisa sobre gestão de mudanças em uma empresa de serviço. Esse
artigo possui 37 citações registradas na base Scopus, o que demonstra a relevância deste no
tema. O autor na construção do texto expõe que o último estágio do continuum processo de
reestruturação organizacional e tecnológica da produção, com a consequente capacitação dos
trabalhadores, se manifestou nas empresas de serviço no final da década de 90.
Ele associa esse fenômeno à crescente demanda por Gestão das Informações de
Produção e por Sistemas de Gestão Organizacional, assim como ao desenvolvimento de uma
economia de signos e acrescenta que devido a agilidade das mudanças necessárias nesse
serviço, se fez necessário a formação de rede de empresas de serviço, onde grandes empresas
se associaram a pequenas empresas para atender a demanda crescente. A relação de confiança
se construiu entre a grande empresa fornecedora de serviço e seus clientes com o pequeno
empresário fornecedor criador dos sistemas.
O artigo ainda apresenta o cenário do final da década de 90, onde a crescente
economia da informação determinava às grandes empresas a busca por especialistas em TI e
Sistemas de Gestão, e as pequenas empresas regionais se vinculavam aos provedores locais de
conhecimentos mais generalistas.
1997. 1998. 1999. 2000. 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. 2006. 2007. 2008. 2009. 2010
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No que tange as Tecnologias da Informação, Chen, Lio e Prasad (1998) resgatam que
para enfrentar a concorrência global todas as pequenas e médias empresas, como as familiares
brasileiras, deverão se estruturar em redes estratégicas de negócios, se fortalecendo na
integração de processos intra e inter organizacionais, unindo atividades e recursos de
diferentes empresas através de alianças para responder rapidamente às expectativas dos
clientes.
Esta integração pode ser potencializada se realizada com o apoio de um SGC, pois
conforme Collins e Hitt (2006) destacam, a Gestão eficaz da reserva de conhecimento tácito
existente na organização e a transferência de conhecimentos entre as empresas parceiras é o
grande diferencial a ser criado por essas join-venturies em relação aos serviços dos
concorrentes, mesmo que esses sejam grandes empresas multinacionais. Os autores, em
termos específicos, explicam como as empresas usam as capacidades relacionais para
construir o capital relacional com os parceiros, pois esse capital relacional facilita a
transferência de conhecimento tácito entre os parceiros colaboradores.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos artigos resultantes da revisão sistemática da literatura,
verificou-se que esta área ainda não está consolidada e necessita de mais pesquisas, uma vez
que ainda apresenta problemas, tais como: o consenso na definição do termo Empresa
Familiar; e o fato de que na base Scopus não foi encontrado um número sognificante de
artigos que relaciona-se Empresas Familiares com Sistemas de Gestão do Conhecimento
especificamente.
No que concerne aos desafios enfrentados no processo de profissionalização da gestão
do tipo familiar, pode-se afirmar que o grande desafio se concentra na área de comunicação
interna, principalmente o compartilhamento do conhecimento. Esse aspecto fortalece a
necessidade de abrir-se a captação e disseminação dos conhecimentos como caminho para
enfrentar a concorrência global.
Destarte, a participação em rede das Empresas Familiares, enquanto pequena ou
média empresa ainda não profissionalizada, é sugerida como alternativa para diluir este
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problema, bem como ressalta-se a importância dos SGCs neste processo por que ao
democratizar a informação e os conhecimentos tanto individuais como os de grupo, estes
sistemas desativam bloqueios da comunicação interna, apoiando o processo de
profissionalização no que refere a transparência e à tomada de decisões menos subjetivas.
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