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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
Curso de Engenharia Ambiental
RENATA AMARAL DOS SANTOS
DISPOSIÇÃO DE TECIDOS EM ATERROS X
ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS DE DESTINAÇÃO
Campinas
2013
RENATA AMARAL DOS SANTOS - R.A. 004200900418
DISPOSIÇÃO DE TECIDOS EM ATERROS X
ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS DE DESTINAÇÃO
Monografia apresentada ao Curso de
Engenharia Ambiental da Universidade São
Francisco, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Engenharia
Ambiental.
Orientador: Prof. Dr. André Augusto Gutierrez
Fernandes Beati
Campinas
2013
RENATA AMARAL DOS SANTOS
DISPOSIÇÃO DE TECIDOS EM ATERROS X
ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS DE DESTINAÇÃO
Monografia aprovada pelo Curso de
Engenharia Ambiental da Universidade São
Francisco, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Engenharia
Ambiental.
Data de aprovação: ___/___/___
Banca examinadora:
Prof. Dr. André Augusto Gutierrez Fernandes Beati (Orientador)
Universidade São Francisco
Prof. Me. Candida Maria Costa Baptista (Examinadora)
Universidade São Francisco
Prof. Esp. Samuel Barbosa Perondini (Examinador)
Universidade São Francisco
Aos meus pais Noraldino e Maria e
ao meu esposo Claudio por todo o amor,
confiança, apoio, compreensão e dedicação
em todos os momentos da minha vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade São Francisco e aos estimados mestres por toda a formação
recebida durante estes cinco anos de graduação.
À Prof. Candida Maria Costa Baptista pela confiança, pelo carinho e pelas lições,
todas imprescindíveis para a realização deste trabalho.
Ao Prof. André Augusto Gutierrez Fernandes Beati, não somente pela orientação deste
trabalho, mas, principalmente, pelas criativas e constantes idéias, pela paciência, pelas
injeções de ânimo, por sempre ter uma nova alternativa e pela disposição, ajudando em todos
os momentos.
Aos meus queridos colegas de classe que, cada um com sua experiência, contribuíram
com a minha caminhada, tornando-a mais prazerosa.
Aos meus familiares, em especial, meus pais, Noraldino e Maria, pelo suporte e pelas
orações que me impulsionaram em cada momento de dificuldade.
Ao Claudio, meu amado esposo, pela dedicação incondicional, críticas, sugestões e
pela imensa paciência comigo e minhas ausências.
Agradeço, por fim, a Deus, pela vida, pela saúde e por sua infinita misericórdia, que
me proporcionaram cursar esta faculdade e realizar este trabalho de conclusão.
“Para tudo há um tempo,
para cada coisa há um
momento debaixo dos céus:
tempo para nascer,
e tempo para morrer; [...]
tempo para guardar
e tempo para jogar fora;
tempo para rasgar,
e tempo para costurar.”
Eclesiastes, Bíblia Sagrada
RESUMO
As fibras naturais e químicas são largamente utilizadas no mercado atual, pois é com
elas que são fabricados todos os tipos de tecidos. Deste modo o descarte deste material é
grande, devido sua alta produção. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar os
possíveis problemas causados pela disposição deste tipo de material em aterros e soluções
sustentáveis de descarte para os mesmos, respondendo, assim, a seguinte pergunta: Perante o
volume de tecidos de fibras naturais e químicas descartados em aterros, há outras alternativas
de descarte que se mostrem sustentáveis para este tipo de material? Foram levantadas
referências bibliográficas sobre os impactos negativos dos aterros, dos tecidos nos aterros e
realizados testes em laboratório para verificar a média de absorção de água por tecidos,
utilizando o algodão como fibra natural e o poliéster como fibra química. Após isso, foram
levantadas informações sobre possíveis alternativas de destinação consideráveis sustentáveis,
que pudessem substituir a disposição em aterros.
Palavras-chave: tecidos. aterro. descarte. sustentáveis.
ABSTRACT
Natural and chemical fibers are widely used in the current market, since they enable
the manufacturing of all kinds of fabrics. As such material is largely disposed of due to its
large production, this paper is aimed at presenting potential problems stemmed from the
disposal of this sort of material in landfills, as well as its disposal of-related sustainable
solutions, thus answering the following question: In view of the volume of fabrics made of
natural and chemical fibers disposed of in landfills, are there any other disposal alternatives
that may be sustainable for this sort of material? Bibliographic references as to the negative
impact arising from landfills and fabrics disposed of in landfills have been analyzed and
laboratory tests have been conducted with a view to verifying the average water uptake by
fabrics through the use of cotton as natural fiber and polyester as chemical fiber. Afterwards,
information on potential disposal alternatives deemed sustainable, which could replace the
disposal of in landfills, has been gathered.
Keywords: fabrics. landfill. disposal of. sustainable.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - Mercado mundial de fibras têxteis ...................................................................... 23
FIGURA 2 - Roca de fiar para 1 fio ......................................................................................... 24
FIGURA 3 - Roca de fiar para 2 fios........................................................................................ 24
FIGURA 4 - Tear antigo ........................................................................................................... 25
FIGURA 5 - Esquema do princípio do tear .............................................................................. 26
FIGURA 6 - Tear moderno ...................................................................................................... 26
FIGURA 7 - Média de geração de resíduos por habitante no Brasil no ano de 2000 .............. 47
FIGURA 8 - Produção e desperdício na empresa Dudalina S/A .............................................. 52
FIGURA 9 - Matéria-prima e desperdício em confecção gaúcha ............................................ 53
FIGURA 10 - Produção brasileira de produtos acabados......................................................... 54
FIGURA 11 - Quantidade de lixo coletado/destinado no Brasil no ano de 2000 .................... 57
FIGURA 12 - Mapa de manejo de resíduos sólidos - São Paulo ............................................. 58
FIGURA 13 - Corte da seção de um aterro sanitário ............................................................... 60
FIGURA 14 - Tecidos utilizados no teste (A - algodão e B - poliéster) .................................. 63
FIGURA 15 - Balança com medida da massa do tecido seco .................................................. 64
FIGURA 16 - Proveta indicando quantidade de água utilizada ............................................... 64
FIGURA 17 - Proveta com tecido imerso em água .................................................................. 65
FIGURA 18 - Tecido em funil sobre a proveta ........................................................................ 65
FIGURA 19 - Balança com medida da massa do tecido molhado ........................................... 66
FIGURA 20 - Resultados do primeiro teste ............................................................................. 67
FIGURA 21 - Resultados do segundo teste .............................................................................. 68
FIGURA 22 - Previsão de aumento de massa dos tecidos ....................................................... 69
FIGURA 23 - Bracelete de compósito de resina e fibras de tecido .......................................... 76
FIGURA 24 - Brincos de compósito de resina e fibras de tecido ............................................ 76
FIGURA 25 - Abajur emcapado com tecido ............................................................................ 78
FIGURA 26 - Almofada de retalhos em patchwork ................................................................. 78
FIGURA 27 - Fuxico ................................................................................................................ 79
FIGURA 28 - Estojos de tecidos da indústria automobilística ................................................. 79
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Geração de resíduos no Brasil no ano de 2000................................................... 45
TABELA 2 - Matéria-prima e desperdício em confecção gaúcha ........................................... 54
TABELA 3 - Desperdício de materiais na indústria têxtil do Brasil em 2012 ......................... 55
TABELA 4 - Quantidade de lixo coletado/destinado no Brasil no ano 2000 .......................... 56
TABELA 5 - Resultados do primeiro teste .............................................................................. 67
TABELA 6 - Resultados do segundo teste ............................................................................... 68
TABELA 7 - Demonstração da retenção de água .................................................................... 70
TABELA 8 - Reciclagem de PET para a indústria têxtil ......................................................... 75
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
ABIPET – Agência Brasileira da Indústria PET
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
MMA – Ministério do Meio Ambiente
NBR – Norma Brasielira
UNIPAC – Faculdade Presidente Antônio Carlos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13
2 CONTEXTO HISTÓRICO DAS PRIMEIRAS FIBRAS TÊXTEIS ............................ 15
2.1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DAS FIBRAS ....................................................... 15
2.2 HISTÓRIA DAS FIBRAS NATURAIS ........................................................................... 17
2.3 BREVE HISTÓRICO DAS FIBRAS QUÍMICAS ........................................................... 22
2.4 A ROCA DE FIAR E O TEAR ......................................................................................... 23
3 CONCEITUANDO AS PRIMEIRAS FIBRAS TÊXTEIS ............................................ 28
3.1 FIBRAS NATURAIS ........................................................................................................ 28
3.1.1 Origem vegetal ................................................................................................................ 28
3.1.2 Origem animal ................................................................................................................. 31
3.1.3 Algumas vantagens e desvantagens das fibras naturais .................................................. 33
3.2 FIBRAS QUÍMICAS ........................................................................................................ 35
3.2.1 Fibras químicas artificiais ............................................................................................... 35
3.2.1.1 Obtidas de matéria-prima vegetal............................................................................... 35
3.2.1.2 Obtidas de matéria-prima mineral .............................................................................. 37
3.2.1.3 Obtidas de matéria-prima animal ............................................................................... 38
3.2.2 Fibras químicas sintéticas ............................................................................................... 39
3.2.3 Algumas vantagens e desvantagens das fibras químicas ................................................ 41
3.3 NÃO TECIDO ................................................................................................................... 42
4 DESCARTE DE TECIDOS .............................................................................................. 44
4.1 A PROBLEMÁTICA DO LIXO ....................................................................................... 44
4.1.1 Breve histórico ................................................................................................................ 48
4.1.2 Questões sociais, econômicas e ambientais .................................................................... 49
4.2 O DESCARTE NA INDÚSTRIA TÊXTIL ...................................................................... 51
4.3 O ATERRO ....................................................................................................................... 56
4.3.1 Aterro controlado ............................................................................................................ 59
4.3.2 Aterro sanitário................................................................................................................ 59
4.4 TESTES DE ABSORÇÃO DE ÁGUA DO TECIDO DE FIBRA NATURAL E DO
TECIDO DE FIBRA QUÍMICA .............................................................................................. 62
4.4.1 Materiais .......................................................................................................................... 63
4.4.2 Método ............................................................................................................................ 63
4.4.3 Resultados e discussões .................................................................................................. 66
5 ALTERNATIVAS PARA A DESTINAÇÃO DOS TECIDOS ...................................... 72
5.1 RECICLAGEM ................................................................................................................. 73
5.2 REAPROVEITAMENTO ................................................................................................. 77
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 81
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 85
13
1 INTRODUÇÃO
Desde o princípio da sociedade pode-se arriscar dizer que o tecido é um dos únicos
bens materiais, se não o único, que nos acompanha a todo momento, de dia, de noite, do
nascimento à morte, enfim, durante toda a vida. Desta forma, é clara a grande quantidade
desse material que é utilizada em todos os lugares de todo o mundo, por todas as pessoas.
Frente a esta realidade de grande utilização do tecido, é sabido o hábito de reutilização
do mesmo quando o assunto é vestuário e até mesmo peças de decoração, porém, em algum
momento, este material precisa ser descartado e este trabalho tem o intuito de apresentar os
problemas do descarte em aterros e algumas propostas que sejam alternativas sustentáveis
para os tecidos descartados.
Diante de vários questionamentos e hipóteses, o presente trabalho lança e se propõe a
responder as seguintes perguntas: É realmente impactante o descarte de tecidos em aterros?
Existem outras alternativas que se mostram mais sustentáveis? A hipótese inicial é sim para
ambas, sendo discutido no decorrer deste trabalho.
Neste momento é plausível e esperado que surjam algumas perguntas referentes à
motivação do autor na escolha deste tema, dentre elas: Qual o problema do tecido? Descartar
em aterro não é normal? Realmente chega a ser intrigante tal escolha, porém, o sentimento de
inquietação aflorado ao se deparar com esses e outros questionamentos foi o que incentivou a
opção por este assunto.
Essa proposta traz uma relevância pessoal por explorar um assunto muito cotidiano,
que é o tecido, e aguça a busca de novas possibilidades que alcancem diversas vertentes,
como a ambiental, a cultural e também, a econômica. Desta forma, temos também uma
pesquisa com relevância social, pois objetiva apresentar outras alternativas que podem ser
mais utilizadas, estudadas e aperfeiçoadas por possíveis interessados como fabricantes de
tecidos, fabricantes de roupas, empresas que realizam os descartes e todos os usuários de
tecido, de forma bem abrangente.
Para isso, o trabalho traz uma estrutura onde, logo após esta introdução, temos o
capítulo 2, que apresenta um breve histórico sobre os tecidos, desde a Idade da Pedra até a
chamada Idade Contemporânea, dando, logo após, ênfase ao histórico dos tecidos de fibras
naturais, um breve histórico das fibras químicas, que são mais recentes, a roca de fiar e o tear.
No capítulo 3 são expostas as conceituações e maiores detalhes sobre os tecidos de fibras
naturais, fibras químicas e os não tecidos. Os problemas dos resíduos são discutidos no
14
capítulo 4, passando pelo lixo, o descarte da indústria têxtil, os impactos da destinação para os
aterros e testes em laboratório demonstrando a absorção de água pelos tecidos. As propostas
de destinações sustentáveis dos tecidos são demonstradas no capítulo 5, desde alternativas
simples, como alternativas mais elaboradas. Por fim, no sexto capítulo, são apresentadas as
considerações finais na conclusão do trabalho.
Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é mostrar os diversos impactos
negativos da disposição dos tecidos em aterros, enquanto apresenta propostas sustentáveis de
destinação, de forma a evitar que os mesmos sejam enviados para esses locais.
15
2 CONTEXTO HISTÓRICO DAS PRIMEIRAS FIBRAS
TÊXTEIS
2.1 Origem e Desenvolvimento das Fibras
Conforme Pezzolo (2007), das tramas feitas pelo chamado homem das cavernas aos
tecidos contemporâneos, uma grande história foi traçada. É um processo evolutivo rico em
detalhes, do qual é possível citar alguns momentos importantes para caracterizar cada época.
Estudos na região do leste europeu mostram que na Idade da Pedra a tecelagem já era
desenvolvida, onde folhas, galhos e outros materiais eram traçados manualmente e que a
utilização de pele de animal para se agasalhar era uma cultura da era glacial e não da Idade da
Pedra, como sempre foi mostrado.
Na Idade Antiga, conforme Moda Spot (2010)1, há 4000 a.C., no Egito e na
Mesopotâmia, o linho era considerado o tecido mais nobre, sendo utilizado para vestir faraós
e rainhas egípcias, além do uso para embalsamar os faraós, simbolizando riqueza e poder. A
chegada deste nobre tecido à Europa foi de responsabilidade dos fenícios, porém, o cultivo do
mesmo foi iniciado pelos romanos, no norte europeu.
A lã mesopotâmica ficou bastante famosa por ser tramada na antiga Mesopotâmia
(atual Iraque), que era a maior criadora de ovelhas e carneiros, imprescindíveis para a
produção deste tipo de tecido.
Os países pioneiros no uso do algodão, há 3000 a.C., foram a Etiópia e a Índia, porém,
foi o algodão egípcio que se tornou famoso e considerado o melhor e mais fino do mundo por
sua força e maciez, devido ao clima e solo do rio Nilo serem extremamente propícios para
essa cultua. Sobre a seda, a lenda diz que foi descoberta por volta de 2697 a.C, na época do
Imperador Huang Ti.
Segundo Moda Spot (2010)2, na Idade Média, entre 1000 e 1300 d.C. as técnicas dos
chamados bordados europeus foram mais desenvolvidas, tornando a seda um símbolo de
riqueza e poder, mesmo a lã e o linho sendo os tecidos mais tramados na Europa. A produção
1 MODA SPOT. História. 2010. Disponível em: <http://modaspot.abril.com.br/tecidos/tecidos-historia>. Acesso em: 01 mar. 2013. 2 Ibid, p. 14.
16
de lã e seda era maior na Itália, sendo a seda a grande conquistadora nos séculos XIV e XV,
mesmo com a forte importância econômica da lã.
Conforme Pezzolo (2007), a estampa é o nome dado aos desenhos variados que são
adicionados à superfície dos tecidos de forma artesanal ou industrial. De acordo com Moda
Spot (2010)3, a estampa no tecido de algodão foi criada no Oriente e no Oriente Médio. Em
1498, na Índia, Vasco da Gama encontrou tecidos de algodão estampados e os levou para a
Península Ibérica.
Já na Idade Moderna, em meados do século XVI, na China nasce o cetim, tecido
considerado de muito luxo e recomendado por alfaiates, principalmente para roupas de uso
noturno. As rendas passam a se destacar na nobreza, sendo muito utilizadas pelas damas.
Neste tempo, houve grande influência das grandes navegações e das colonizações no que diz
respeito ao comércio marítimo e cultura, incluindo o modo de se vestir.
Durante o século XVII a renda fez muito sucesso em alguns países europeus,
principalmente Espanha, França e Itália. A renda, juntamente com tecidos como musselines,
cetim, tafetá e veludo, eram comumente utilizados na confecção dos chiques vestidos da
época. Neste período os tecelões italianos reforçavam seus avanços, porém no domínio da
seda, a França seguia ganhando seu espaço.
Ainda neste século, os tecidos foram adornados com materiais como rendas e
lantejoulas e o estilo da vestimenta mudou radicalmente com a revolução francesa, tornando a
simplicidade a grande moda da época. Já no século XVIII as modas masculina e feminina
eram lideradas por Inglaterra e França, respectivamente, onde na feminina reforçou-se a
influência oriental e a seda ganhou mais brilho.
Enfim, na Idade Contemporânea, entre os séculos XVIII e XIX, o tecido chamado
cashmere passa a fazer grande sucesso na Europa, assim como os vestidos com estampas
florais e as técnicas de patchwork, que conforme Pezzolo (2010) é o nome dado às aplicações
de pedaços de tecidos sobre uma base.
Segundo Moda Spot (2010)4, o século XIX foi considerado uma era romântica, onde
foram utilizados muitos xales de tecidos como algodão, seda, lã, musselina, cambraia e renda.
No início deste século foi criado o tear automático, que é utilizado até os dias atuais.
Ainda neste século houve grandes avanços da área de tecidos, ou seja, o surgimento
das fibras químicas e de novos tecidos, dentre esses podemos citar o acetato e o acrílico na
Alemanha, o artex e o raiom na Inglaterra e o denim (jeans), o náilon e a lycra® nos Estados
3 Ibid, p. 14. 4 Ibid, p. 14.
17
Unidos. Entre os anos de 1990 e 2000 surgem a microfibra, o poliéster e o stretch, que
revolucionam o mercado da moda, criando diversas possibilidades (MODA SPOT, 2010)5.
Mais detalhes sobre a história das principais fibras naturais, assim como um breve
histórico das fibras químicas, serão encontrados a seguir.
2.2 História das Fibras Naturais
De acordo com Pezzolo (2007), há registros históricos de que os primeiros tecidos a
serem tramados foram o algodão, o linho, a lã e a seda, sendo os dois primeiros de origem
vegetal e os dois últimos de origem animal. Atualmente, essas fibras são consideradas apenas
matérias-primas naturais, porém, com uma rica história.
Iniciando pelo algodão, famosa fibra que já foi conhecida por nomes como ouro
branco, lã de árvore e lã de madeira. Surgiu na Índia, bastante conhecida por seus tecidos,
ganhando grande destaque por apresentar cores tão bonitas e admiradas, proporcionando, na
antiguidade, à metade de sua população, se dedicar à tecelagem.
Apesar do clima desfavorável, por ser quente e úmido, já fazia parte da cultura da
Índia a criação de tecidos, onde os motivos eram voltados ao Islamismo (geométricos), assim
como apresentava influências européias (flores e animais).
Existem fragmentos de tecidos de algodão da Índia datando de 3000 anos a.C.,
confirmando, assim, os trabalhos de cultivo, tecelagem e tingimento já naquela época, porém,
não há registros específicos que comprovem sua produção antes do século XVI.
Segundo Pezzolo (2007), o comércio dos tecidos, incluindo exportação para a Europa,
trouxe uma grande evolução econômica ao país e data de 1498, com a chegada de Vasco da
Gama. Atualmente, em escala mundial, a Índia é um dos maiores produtores e exportadores
de algodão, considerado um mercado em ascensão, devido, principalmente, à sua vasta mão
de obra de baixo custo.
O algodão indiano chegou à China na Idade Média, porém sem muito sucesso no
início, visto a importância das sedas chinesas. No decorrer do tempo, o algodão foi sendo
introduzido no comércio chinês com a fabricação de tecidos finos que passaram a ser
5 Ibid, p. 14.
18
exportados, chegando à necessidade de importação de matéria-prima para suprir o alto índice
de produção.
Com o passar dos anos, a China oscilava entre exportar e importar a matéria bruta e os
fios e tecidos de algodão, estabelecendo definitivamente o seu papel de exportadora de fios e
tecidos e importadora de algodão bruto a partir da primeira guerra mundial, que aconteceu
entre 1914 e 1918. Hoje a China é considerada a maior produtora de algodão a nível mundial,
porém, ainda é necessário importar a matéria-prima bruta para atender toda sua produção de
fios e tecidos.
No fim do século V, após a queda do império romano, o Egito que, até então tinha o
linho como, praticamente, sua exclusividade, passa a fazer parte da rota do comércio de
algodão, juntamente com a Índia.
Pezzolo (2007) diz ainda que, nesta época, os egípcios ainda misturavam os fios de
algodão com os fios de linho, visto a dificuldade de conseguir fios de algodão adequados para
os teares da época. Atualmente, porém, o algodão egípcio é considerado o melhor do mundo,
por sua maciez e resistência, o que triplica o seu valor comparado aos demais.
A Europa recebeu a fibra de algodão, por intermédio de Alexandre da Macedônia, no
século IV a.C., porém torna-se realmente conhecida na época das Cruzadas, entre 1096 e
1291, sendo Veneza, a primeira a produzir o tecido de algodão que, posteriormente, se
difunde no restante da Itália e na Alemanha. Zurique, cidade localizada na Suíça, passa a tecer
o algodão no início do século XV.
Entretanto, o tecido só ganha real importância no século XVII, quando recebido da
Índia, sendo de grande importância para os países europeus no que diz respeito a
desenvolvimento industrial, em especial a Inglaterra, por serem muito requisitados, fazendo
com que navios ingleses, franceses e holandeses lotassem seus porões com estes tecidos em
modelos muito estampados, que seduziam a nobreza que os utilizavam como decoração e
vestuário (PEZZOLO, 2007). A Europa passa a fabricar o tecido de algodão e no fim do
século XVIII já empregava, aproximadamente, 150 mil pessoas neste processo.
Já na América, foram encontrados, no México, indícios da utilização do algodão
selvagem na época de 5800 a.C., o que comprova que esse material já fazia parte da vida de
seus habitantes bem antes de sua conquista, confundindo Cristóvão Colombo que, ao avistar
os habitantes usando roupas tecidas com algodão, pensou ter descoberto o caminho para as
Índias.
No Peru, entre 300 a.C. e 100 a.C., há indícios do uso da combinação de algodão e lã
nos tecidos, além de largos tecidos de algodão utilizados para envolver 55 múmias
19
encontradas em uma cova. Em 1519, o algodão chega ao Brasil pelos portugueses, porém em
estado selvagem, e suas variedades do oriente trazidas, inicialmente, para os estados no Pará e
Maranhão (PEZZOLO, 2007).
De acordo com Pezzolo (2007), outra fibra de origem vegetal é o linho, cultivado nas
planícies do Nilo há mais de 8 mil anos. Os fenícios levaram este material à Europa em
primeiro lugar, porém foram os romanos que o cultivaram e o introduziram no norte europeu,
sendo assim, foi a primeira fibra a ser cultivada e o artigo têxtil principal na Europa da Idade
Média, principalmente pelo incentivo a produção no século VIII, promovido por Carlos
Magno. O tecido de linho chamado batista surgiu no século XIII e a crinolina no XVIII, sendo
utilizados para vestidos, blusas, camisas e roupas íntimas o primeiro e saias o segundo.
Na França, por volta do ano 1660, foram abertos os primeiros ateliês e entre os séculos
XVI e XVII, criou-se a indústria do linho, na Irlanda. A Rússia produz quase metade do linho
mundial, sendo assim, é o maior produtor no mundo, porém os melhores tecidos estão na
Bélgica. Atualmente a Irlanda, que no passado produzia muito este tecido, somente importa a
matéria-prima de países como França, Holanda e Bélgica. A União Européia destina 20% da
sua área para o cultivo do linho, alavancando sua produção para 775 mil toneladas em 2004,
sendo que 86% foram da França e da Bélgica.
No Brasil o linho chegou, a partir do século XIX, pelos imigrantes europeus que se
instalaram na região onde hoje é o Rio Grande do Sul. Nos anos de 1960 este cultivo foi
quase extinto devido à concorrência com outras fibras, porém ainda é usado para decoração,
roupas de casa e vestimentas.
Segundo Pezzolo (2007), um dos tecidos de linho mais importantes da história da
humanidade é o chamado Santo Sudário, que teria envolvido o corpo de Jesus Cristo antes de
ser sepultado. Na época eram utilizados dois tecidos de linho em sepultamentos, um para
cobrir o corpo da cabeça aos pés e outro somente pra o rosto. Atualmente o Santo Sudário se
encontra na Itália, na cidade de Turim.
Conforme Moraes (2013), o Santo Sudário é uma peça de linho puro, sem mistura de
lã, como era costume dos judeus. Seu tamanho é de 4,36 metros de comprimento por 1,10
metros de largura, típico da Mesopotâmia, chamada de Síria na época de Jesus.
De acordo com Pezzolo (2007), a Bíblia sagrada apresenta, em alguns de seus trechos,
partes que referenciam essa peça, como é possível verificar no Evangelho (1999, p. 1411),
“chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos postos no chão. Viu
também o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus. Não estava, porém, com os panos,
mas enrolado num lugar a parte”.
20
Segundo Pezzolo (2007), sobre a lã, na antiguidade, os povos se alimentavam da carne
de carneiros e também usavam sua lã como agasalho. Na Turquia foram descobertos
fragmentos de lã tecida há cerca de 7 mil anos antes da nossa era. Na Mesopotâmia da época
de 10000 a.C a 4000 a.C. e no Egito o material era mais utilizado para tapeçarias com base em
linho, visto que consideravam um material sujo para a confecção de vestuário.
A partir do século VII a lã passa a ser a segunda matéria-prima mais importante para a
fabricação de tecidos e no século XI o Egito ganha fama por seus produtos em lã, visto o alto
índice de criação de carneiros pelos povos árabes que lá viviam.
Os primeiros indícios de lã do Ocidente datam de 2900 a.C. e foram encontrados na
França. Na América do Sul os ameríndios produziam tecidos com lã na era pré-colombiana,
demonstrando que, em pequena ou larga escala, a lã era utilizada por todos os povos da
antiguidade.
Na época de 700 d.C os povos árabes conquistaram a Espanha e tiveram a idéia de
cruzar duas raças de carneiros, a local com a romana, surgindo, assim, a chamada lã merino,
considerada de altíssima qualidade, sendo responsável pela riqueza da Espanha por um longo
período. Essa raça de carneiros era tão importante que até meados do século XVII sua
exportação era punida com pena de morte. Atualmente, essa raça é encontrada em pequena
escala no Brasil e sua maioria está na própria Espanha, além de Austrália e França.
Ainda conforme Pezzolo (2007), em 55 a.C. a lã chega à Inglaterra, trazida pelos
romanos. Entre 476 e 1453 passa a concorrer com a Espanha pelo mercado e entre 1558 e
1603, no reinado de Elizabeth I, a ovelha tem seu valor reconhecido e as atividades de
exportação de lã bruta e a importação de fios de lã são proibidas, o que fortificou essa
concorrência e ocasionou o grande crescimento econômico do país.
No século XVIII a Revolução Industrial introduziu máquinas de vapores e grandes
teares, o que aqueceu a produção, diminuindo os preços e aumentando a procura por roupas
de lã. A criação ovina abastece o mercado de lã com cerca de 1,4 mil raças espalhadas em
todo o mundo, porém, também é considerada lã a pelagem de animais como a cabra, o
camelo, a lhama, entre outros, entretanto, em escala bem menor. Os ovinos foram
introduzidos no Brasil pelos portugueses em 1556 e algumas raças encontradas no país são a
merino, a rústica, a somalis brasileira, entre outras.
Segundo Pezzolo (2007), reza a lenda que por volta do ano 2620 a.C., ao tomar seu
chá, a imperatriz chinesa Xiling Shi descobriu o casulo, que caiu dentro de sua xícara e que
21
desenrolado, gerava um delicado filamento que podia ser transformado em tecido, surgindo,
assim, a famosa e encantadora seda.
Há indícios da existência da seda na China há mais de 4 mil anos, porém, a criação do
bicho-da-seda em local fechado, data de 3 mil anos. A técnica do carbono 14 indicou uma
data de 4750 anos para uma fábrica de seda encontrada em 1958. Já em 1926 foi encontrado
um casulo com peças datadas entre 10000 a.C. e 4000 a.C.
Este tecido era considerado muito nobre e os chineses não revelavam o segredo sobre
a sericultura, tanto que, assim como no caso das lãs, a exportação de casulos era punida com
pena de morte. O tecido pronto era comercializado e, até o século VI, a seda crua chegava a
Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, por caravanas mercantes.
Não se sabe ao certo como realmente aconteceu a chegada da sericultura ao Ocidente,
pois existem duas histórias, uma é de que monges de Roma foram enviados à China como
espiões, levando consigo ovos de bicho-da-seda e iniciando a fabricação fora da China. A
outra versão é de que por volta do ano 550 d.C., um contrabandista levou consigo, em suas
caravanas, casulos e sementes de amoreira (PEZZOLO, 2007).
A seda encantava com seu brilho, sendo muito valiosa comercialmente e muito
utilizada pela nobreza. Técnicas como bordados vinham da Pérsia, atual Irã, e da própria
China, valorizando ainda mais este produto.
Além de tecidos, a seda foi utilizada para a confecção de cadarços, cordas de
instrumentos musicais, papel chiffon, considerado o primeiro bom papel do mundo, e também
tecidos impermeáveis, desenvolvidos com dobraduras manuais dos habilidosos chineses.
Há textos indianos de 300 a.C. que falam sobre a tecelagem da seda. Os indianos
diziam que conseguiam extrair a seda sem a morte do verme, o que assegurava o consumo por
parte dos monges budistas que, caso contrário, preferiam o algodão.
No Egito a seda já era conhecida, há cerca de quatro séculos antes de Cristo, sendo
importada da Índia e da China até o século VI da nossa era. A seda passa então a ser a terceira
matéria-prima mais utilizada no Egito, perdendo somente para o linho e a lã. Alexandria
tornou-se uma das cidades com maior produção de seda.
A seda no Japão chegou por intermédio da China, porém o país criou um estilo
próprio, principalmente com desenhos e a mistura de fios metálicos que davam à seda
impressão de pintura e bordado. Na Europa, a seda foi introduzida pelos mouros no século
VII, primeiramente na Espanha e na Silícia. Posteriormente ela chegou, principalmente, à
Itália, França e Inglaterra.
22
O caminho de, aproximadamente, 7000 km que era utilizado na dinastia Han, entre
206 a.C. e 220 d.C, estreitando os laços culturais entre o Oriente e o Ocidente, ficou
conhecido como Rota da Seda a partir do século XIX. Por ele passavam outras especiarias
como ouro e marfim, porém, a seda era considerada a mais importante. Este caminho era o
único utilizado até o século XV, depois disso, o transporte de mercadoria passou a ser
realizado pelas caravelas, através do caminho marítimo para as Índias, descoberto por Vasco
da Gama (PEZZOLO, 2007).
Após tantos anos de história das fibras naturais houve um momento em que foram
surgindo novas fibras que foram tomando seu espaço no mercado, para as quais segue um
breve histórico.
2.3 Breve Histórico das Fibras Químicas
As fibras químicas possuem uma história bem mais recente se comparada às fibras
naturais, pois essas lideraram o mercado por muitos e muitos anos, pelo fato de a demanda
não ser tão intensa e não serem desenvolvidas tecnologias a fim de explorar o
desenvolvimento das fibras, de qualquer forma, mesmo com um histórico mais recente, as
fibras químicas não são menos importantes para o cenário têxtil mundial (PEZZOLO, 2007).
Segundo Pezzolo (2007), no ano de 1889 surgiu o raiom, a primeira fibra química
artificial, também conhecida como seda artificial. Já em 1921, após a Primeira Guerra
Mundial, criou-se a segunda fibra química artificial, a chamada celanese, obtida da celulose,
também conhecida como raiom acetato, por ter o acetato de celulose em sua produção. Os
processos de síntese possibilitaram o desenvolvimento de diversas novas fibras, porém a
grande invenção foi a poliamida, mais conhecida como náilon.
As fibras químicas obtiveram um ótimo aceite comercial no período entre as duas
guerras mundiais, alavancando, assim, o desenvolvimento de novos produtos. Deste modo, na
segunda metade do século XX, a indústria têxtil, que até então tinha desenvolvido somente a
chamada fibra química artificial, lança a fibra química sintética, o que ocasionou certo
declínio no consumo do algodão. Dentre várias dessas fibras temos a poliamida, o acrílico e o
poliéster. O crescimento das fibras sintéticas em detrimento das demais pode ser verificado na
FIGURA 1 a seguir.
23
Fonte: Pezzolo (2007)
FIGURA 1 - Mercado mundial de fibras têxteis
Os dados acima demonstram a evolução no mercado mundial das fibras naturais,
químicas artificiais e químicas sintéticas após a Segunda Guerra Mundial, onde se destacam o
decaimento das fibras naturais, assim como o das fibras químicas artificiais, e o marcante
aumento das fibras químicas sintéticas, demonstrando o bom aceita do setor têxtil e da
sociedade às novas fibras (PEZZOLO, 2007).
A fim de acompanhar as necessidades da sociedade no decorrer dos tempos, os
equipamentos que transformam as fibras em fios e estes em tecidos, também tiveram seu
processo evolutivo.
2.4 A Roca de Fiar e o Tear
Segundo Pezzolo (2007), assim como os próprios tecidos, os equipamentos que os
criam também possuem uma longa e importante história.
Conforme Piropo (2006)6, antes de tecer é necessário fiar e antigamente fiava-se na
chamada roca ou roca de fiar. Segundo o dicionário Larousse (2006), roca é um “instrumento
de fiar constituído por uma roda movida por um pedal e um bastão de madeira com um bojo
numa das extremidades”. A FIGURA 2 mostra uma roca de um fio.
6 PIROPO, B. Escritos. Disponível em: <http://www.bpiropo.com.br/fpc20060814.htm>. Acesso em: 07 abr. 2013.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1945 1950 1960 1970 1992 1993
Per
cen
tual
Ano
artificiais
sintéticas
naturais
24
Fonte: Webtex (2013)7
FIGURA 2 - Roca de fiar para 1 fio
De acordo com a Frente Universitária e Estudantil Lepanto (2008)8, não se sabe ao
certo, mas as rocas provavelmente surgiram na Índia entre os anos 500 e 1000 d.C., já a roca
de fiar com roda passou a ser utilizada na Idade Média, por volta do ano 1280, dando às
mulheres a possibilidade de fiar e acompanhar outras atividades. A FIGURA 3 mostra a roca
de fiar, porém de dois fios.
Fonte: Webtex (2013)9
FIGURA 3 - Roca de fiar para 2 fios
7 WEBTEX. Novas rocas de fiar. Disponível em: <http://webtexbrasil.blogspot.com.br/2010/08/novas-rocas-de-fiar.html>. Acesso em: 07
abr. 2013. 8 FRENTE UNIVERSITÁRIA E ESTUDANTIL LEPANTO. O progresso técnico da Idade Média. Disponível em:
<http://www.lepanto.com.br/historia/o-progresso-tecnico-na-idade-media/>. Acesso em: 07 abr. 2013. 9 Ibid, p. 23.
25
Este instrumento é bastante conhecido por ser citado no famoso conto de fadas A Bela
Adormecida, como é possível evidenciar em um de seus trechos encontrado no site Contando
História (2012)10
, “a malvada bruxa resolveu tomar providências, hipnotizou Aurora e levou-a
até uma roca de fiar, a fim de espetar seu dedo no fuso. No mesmo instante a maldição
tornou-se realidade e Aurora caiu adormecida”.
Com o aumento da produção o trabalho da roca já não era mais suficiente para suprir
as necessidades do mercado, sendo assim, depois de muitos estudos e invenções, chegou-se ao
tear (FIGURA 4).
Fonte: Feito Fibra (2013)11
FIGURA 4 - Tear antigo
Segundo Pezzolo (2007), o tear é a máquina que entrelaça, ordenadamente, dois
conjuntos de fios longitudinais e transversais, para a formação da trama. Detalhamento do
processo do tear apresentado na FIGURA 5, onde: a) urdume, b) trama, c) tecido, d) pente, e)
cala, f) lançadeira com a trama.
10 CONTANDO HISTÓRIA. A Bela Adormecida. Disponível em: <http://www.contandohistoria.com/a_bela_adormecida.htm>. Acesso
em: 07 abr. 2013. 11 FEITO FIBRA. Teares. Disponível em: <http://www.feitofibra.com.br/oficinadosfios/index.html>. Acesso em: 20 out. 2013.
26
Fonte: Pezzolo (2007)
FIGURA 5 - Esquema do princípio do tear
Os indícios do uso do tear são milenares e, com a revolução industrial, deu-se início ao
caminho para mecanização, alcançado em 1785, quando Edmon Cartwright inventou o tear
mecânico. Com o passar dos anos e aumento da tecnologia, os teares ficaram cada vez
melhores e mais eficientes, no que diz respeito à resistência do material estrutural, tamanho e
capacidade de produção, conforme podemos ver na FIGURA 6.
Fonte: Textília (2013)12
FIGURA 6 - Tear moderno
Essa evolução dos teares se fez necessária para que a demanda do mercado têxtil
pudesse ser atendida devido ao crescimento populacional e a melhoria contínua da produção,
12 TEXTÍLIA. Máquina têxtil. Disponível em: <http://www.textilia.net/materias/ler/textil/maquina-
textil/itema_mostra_novos_teares_em_feira_da_turquia>. Acesso em: 20 out. 2013.
27
visto que as matérias-primas, ou seja, as fibras e fios foram evoluindo, sendo necessário o uso
de novos equipamentos que tenham tecnologia suficiente para atender às novas necessidades
das fibras na produção dos tecidos, principalmente porque cada fibra tem sua característica, o
que se pode constatar conhecendo o conceito de cada uma delas.
28
3 CONCEITUANDO AS PRIMEIRAS FIBRAS TÊXTEIS
Dentro do universo dos tecidos temos as fibras naturais e as fibras químicas. As fibras
naturais são obtidas da natureza, onde temos as de origem vegetal que são extraídas de
plantas, e as de origem animal, que são obtidas dos próprios animais. As fibras químicas, por
sua vez, são fibras que passam por processos químicos e físicos para sua formação, podendo
ser artificiais, onde a matéria-prima natural passa por processos químicos resultando na fibra,
e podendo ser sintéticas, que são obtidas do carvão mineral ou petróleo.
3.1 Fibras Naturais
De acordo com Souza (1997), as primeiras fibras têxteis são chamadas de fibras
naturais e este é o nome dado às fibras oriundas da natureza. A fibra natural costuma
apresentar irregularidades e características encontradas em todos os produtos naturais. Estas
características, por sua vez, proporcionam uma beleza especial aos tecidos fabricados com
fibras naturais.
Características como capacidade de absorção e porosidade tornam as fibras naturais
sensíveis ao clima, razão pela qual são bastante confortáveis e agradáveis ao uso. Por outro
lado, possuem pouca elasticidade, provocando nos tecidos com elas fabricados uma tendência
ao fácil amarrotamento, principalmente o linho e o algodão.
Segundo Pezzolo (2007), entre as fibras naturais, as mais comuns e as que,
historicamente, foram descobertas e tramadas primeiro, são o algodão, o linho, a lã e a seda.
3.1.1 Origem vegetal
Conforme Pezzolo (2007), de origem vegetal, as duas fibras mais conhecidas são: o
algodão e o linho.
29
Produzido pelo algodoeiro, o algodão é uma fibra natural de origem vegetal que, até
hoje, é considerada a principal fibra têxtil do mundo, principalmente por qualidades como
maciez, conforto e durabilidade. De acordo com Brahic (1998), a espessura do fio de algodão
puro varia muito e suas cores podem ser natural, chamada cru, branca ou tingida.
Segundo Pezzolo (2007), o algodoeiro é natural das regiões tropicais do planeta,
possui entre 1,5 e 6 metros de altura e tem um período vegetativo entre 5 e 7 meses que varia
de acordo com o calor recebido. Suas flores vivem cerca de 12 horas e a água, gordura e
celulose que a compõem, constituirão a fibra do algodão.
O floco de algodão envolve a semente e o mesmo é formado após a maturidade da
cápsula, nome dado ao fruto que surge do ovário da flor. Essa maturidade é atingida em 48
dias e a colheita deve ser imediata ao aparecimento dos flocos.
Segundo Souza (1997), entre as vantagens do algodão estão a resistência, a absorção, a
boa condução de calor e a boa aceitação de tingimentos. Em contrapartida, algumas
desvantagens são o alto índice de encolhimento, a vulnerabilidade à luz solar e ao mofo e a
facilidade em amarrotar. Uma desvantagem bastante conhecida citada por Brahic (1998) é a
forte tendência a desbotar com as lavagens.
Conforme Pezzolo (2007), inúmeros tecidos são fabricados a partir desta fibra, desde
os mais delicados como rendas, musselines, cambraias, organdis e tricolines, até os mais
pesados e resistentes como popeline, veludo, fustão, brins e lonas.
Os tipos de algodão para fins têxteis são classificados da seguinte forma: upland
(América Central e Caribe), egípcio (Egito), sea-island (ilhas no sudeste norte-americano e
ilhas nas Índias Ocidentais, como Barbados) e asiático (Ásia meridional).
Por várias razões, o algodão é a fibra mais importante utilizada pela indústria de
tecidos, dentre elas o baixo custo, ser lavável, não precisar de preparação mecânica ou
tratamento químico de valor elevado e maior resistência comparada à lã. Outra questão
interessante é o óleo comestível extraído de seu caroço e o farelo oriundo da moagem de seus
resíduos, que podem servir de fertilizantes e alimentação para gados.
Segundo Pezzolo (2007), o linho é extraído da planta herbácea Linum usitatissimum e
é a fibra têxtil mais antiga do mundo. Sua cultura é realizada em climas temperados ou
quentes e seu ciclo de vida é considerado curto, florescendo após sessenta dias da semeação,
onde suas flores ficam abertas somente por algumas horas. Aproximadamente três semanas
após a floração, a planta deve ser arrancada, para que o comprimento de seu caule, entre 80 e
120 cm, seja preservado. Em seguida os caules serão expostos à secagem e, posteriormente,
30
debulhados, onde parte dos grãos será semeada e o restante terá o óleo extraído, bastante
utilizado em pinturas e alimentação de gado.
Após este processo é realizada a prolongada maceração na água no intuito de eliminar
a pectose, material existente entre a casca filamentosa e o caule lenhoso, através da
fermentação, facilitando, assim, a próxima etapa. Este processo é realizado de forma manual,
no próprio campo, ou de modo industrial.
O trilhamento acontece em seguida, separando e extraindo as fibras de linho bruto por
meio de sovas e esmagamentos. As mesmas são penteadas a fim de separar os fios compridos
dos fios curtos, sendo os primeiros equivalendo a 20% da quantia inicial e destinados à
indústria têxtil e os segundos transformados em cordas, aproveitados em papelaria, destinados
à fabricação de aglomerados, quando misturados à madeira, e também forrando cocheiras
(PEZZOLO, 2007).
A fiação do linho pode ser feita de forma molhada ou seca. A primeira se dirige,
principalmente, para fios mais nobres, de forma a amolecer os mesmos, quando exaustos à
água de temperatura de 70°C. Já a segunda destina-se a fios de qualidade inferior. Mesmo
com a grande evolução industrial, as operações destinadas aos processos do linho continuam
de forma manual em grande parte dos lugares.
A tecelagem desta fibra, como na maioria dos fios, pode ser realizada de forma manual
ou industrial, tendo esta última, apresentado grandes avanços nas técnicas relacionadas ao
linho, criando, assim, novos tecidos que utilizam essa fibra.
Segundo Souza (1997), o linho é bastante resistente, possui boa absorção e é bom
condutor de calor, porém, apresenta tendência ao encolhimento e distensão e não aceita o
tingimento com facilidade. Brahic (1998) relata, ainda, a tendência do fio de linho a torcer
sozinho, tornando-se um grande problema no momento da manipulação dos fios.
De acordo com Souza (1997), a textura dos tecidos de linho varia de acordo com o
tratamento que recebem, podendo ser rústicos ou lisos e até brilhantes. Os pesos também
variam, como a leve cambraia de linho, até o pesado brim. Roupas de cama e mesa são
sempre feitas de linho quando se deseja aparência mais nobre.
Conforme Pezzolo (2007), o algodão e o linho são as principais fibras naturais de
origem vegetal, porém, outra bastante conhecida é a juta, extraída do caule da planta tiliácea,
cientificamente denominada de Corchorus capsularis.
31
3.1.2 Origem animal
Segundo Pezzolo (2007), a lã e a seda são fibras de origem animal e ambas são
bastante conhecidas e utilizadas em todo o mundo.
Alguns animais possuem pelagem que podem se transformar em lã, porém o mais
conhecido e utilizado para esse fim é o carneiro, onde 1 cm² da pele do mesmo pode conter
1,2 mil pêlos de qualidade mais grossa até 9 mil pêlos de qualidade mais fina, e o
comprimento desses varia entre 35 e 350 mm, de acordo com a espécie do animal, diversidade
essa que faz da lã um produto que pode ser imitado, mas não igualado.
A tosquia dos animais é realizada, em média, uma vez por ano, geralmente na
primavera, que antecede a época de maior temperatura. Este trabalho é realizado por
profissionais que percorrem as fazendas e utilizam tesouras elétricas, retirando o velo,
amarrando-o e separando-o para posterior classificação de acordo com suas características de
espessura, o que determinará sua utilização final (PEZZOLO, 2007).
Após esta atividade acontece o lanifício onde a lã, ainda em estado bruto, é lavada e
enxugada em diversos tanques para remover as possíveis impurezas. Em seguida as fibras são
ordenadas por meio da chamada cardagem, onde cilindros cobertos com finos dentes de arame
rodam em diferentes velocidades, transformando, assim, a lã em um fino véu, podendo ser
cardada ou penteada, posteriormente.
Na continuação do processo acontece a fiação, onde as fibras são torcidas e esticadas
de modo a serem transformadas em fios definitivos. Por fim, os fios serão tramados nos
teares, sejam eles manuais ou elétricos. Conforme Brahic (1998) a lã natural, ou seja, sem
tingimento, pode apresentar diversas cores, desde o branco até o negro, passando por cru,
amarelo, cinza e castanho.
Segundo Souza (1997) a qualidade da lã dependerá da raça e do tratamento dispensado
ao animal. Dentre as vantagens da lã está o fato de ela não amarrotar facilmente, ser
facilmente tingida e não ser boa condutora de calor, o que é ótimo para épocas de inverno e
regiões frias. Em contrapartida, algumas de suas desvantagens são a pouca resistência, a baixa
absorção e a alta vulnerabilidade a insetos, como as traças.
A estrutura do tecido de lã é bastante variada, assim como seu peso e textura, havendo
os refinados, os rústicos, os espessos e os delicados, podendo variar desde os leves como
32
flanelas, passando pelos médios como gabardines e casemiras, até os pesados tweeds e lãs
usadas para confecção de cobertores.
De acordo com Brahic (1998) alguns dos outros animais que podem ter seus pelos
transformados em lã são as alpacas, os camelos, as cabras, os coelhos e os gatos, sendo os três
últimos, responsáveis por uma lã extremamente especial, suave e quente, porém, pouco
resistente e também de fabricação bastante rara.
Segundo Pezzolo (2007), o processo da seda se inicia com a mariposa Bombix mori,
uma espécie considerada especial que se alimenta somente de folhas de amoreira. Ela bota
entre 400 e 500 pequenos ovos, dos quais nascem lagartas que medem cerca de 2 mm de
comprimento, que são os chamados bichos-da-seda. Depois de 14 dias de incubação a 25°C, a
larva sai do ovo e começa a se alimentar de folhas de amoreira.
A duração de vida da lagarta é de 25 dias e neste período ela come insaciavelmente até
o momento de deixar de comer, procurar um lugar alto e construir seu casulo. Do momento
em que sai do ovo até o início da fabricação do casulo, o bicho-da-seda tem seu peso
multiplicado por 10 mil.
O casulo é formado pela secreção expelida por glândulas que se localizam na cabeça
do bicho-da-seda, surgindo em forma de duplos filamentos. O fio é tão fino e leve que é
necessária uma quantidade entre 3.500 e 4.500 metros para somar um único grama. A
construção do casulo é realizada em torno de seu próprio corpo que, por sua vez, diminui e
transforma-se numa crisálida. Esta construção demora, em média, três dias para terminar
(PEZZOLO, 2007).
Após o término do casulo a crisálida transforma-se em mariposa, se liberta do casulo,
se acasala, a fêmea desova e reinicia o ciclo. Porém, o fato de a mariposa se libertar, faz com
que os filamentos do casulo sejam descontinuados, sendo assim, no processo da obtenção das
fibras da seda, a crisálida deve ser morta antes de sua transformação em mariposa e saída do
casulo. Este processo é comumente realizado com ar quente e vapor.
Para o desenrolar dos filamentos os casulos são colocados em água quente,
possibilitando assim a escovação e a descoberta da ponta formadora do casulo. Este filamento
pode chegar a até 1.000 metros contínuos. Para a obtenção de 1 kg de seda são necessários,
aproximadamente, 7 kg de casulos. Os filamentos contínuos são fios naturais, já os
descontinuados precisam ser fiados, produzindo a chamada seda selvagem.
Conforme Souza (1997), entre as vantagens da seda estão a resistência e vida longa, a
boa absorção, a dificuldade em amarrotar, a facilidade no tingimento e a resistência à ação do
mofo e das traças. Já entre suas desvantagens estão a forte tendência a manchar, ser péssima
33
condutora de calor e sua baixa resistência quando exposta à luz ou transpiração. Segundo
Brahic (1998) duas desvantagens apresentadas, mais especificamente no que diz respeito aos
fios, é a dificuldade em encontrar os fios naturais em meadas ou novelos e outra é a
dificuldade em tecer fios de espessura tão pequena.
De acordo com Souza (1997), essa fibra produz tecidos bonitos, luxuosos e de alto
custo. Possui superfície lisa e, geralmente, brilhante. Seu peso varia dos mais leves como
musseline, chiffon e organza, passando pelos médios como crepe e cetim, até os mais pesados
como veludo e brocado.
3.1.3 Algumas vantagens e desvantagens das fibras naturais
De acordo com Aguiar Neto (1996), a resistência das fibras naturais é influenciada
pelo grau de polimerização, bem como pela distribuição molecular que, quanto maior, mais
resistente, em tese, é a fibra. Essas fibras são macias e absorventes, permitindo a produção de
artigos confortáveis. São rapidamente laváveis e resistem aos detergentes fortes, a
temperaturas elevadas e a alvejantes, caso estes últimos sejam adequadamente usados. Este
grupo de fibras é raramente danificado por insetos.
De acordo com Aguiar Neto (1996), as fibras naturais de origem vegetal apresentam
uma grande capacidade de absorção, o que influencia de forma muito positiva no processo de
tingimento dos fios e tecidos dessas fibras. O algodão tem uma grande resistência,
característica essa que é aumentada quando a fibra está molhada, o que dispensa modificações
nas técnicas dos processos que utilizam água para evitar, minimizar ou compensar os
impactos da redução da resistência.
Segundo Albuquerque (1987), as fibras naturais, em especial o algodão e o linho,
apresentam um aumento da resistência com o aumento da umidade. As fibras naturais também
possuem alta resistência à tração e à abrasão. O algodão, em especial, possui alto índice de
hidrofilidade, que é a capacidade de absorver e eliminar a umidade, proporcionando muito
conforto.
Relata Pezzolo (2007), um questionamento importante sobre o mercado de fibras
naturais: seriam elas capazes de fazer frente ao aumento fabuloso da demanda de tecidos?
34
Estudos mostram que uma fábrica com produção diária de 150 toneladas de fibras
poliacrílicas prontas para serem tecidas, ocupa a superfície de um campo de futebol. Já para
que se obtenha uma quantidade equivalente de lã, seria necessária a criação de 12 milhões de
carneiros num pasto duas vezes maior que a suíça. Isso demonstra uma séria desvantagem das
fibras naturais em comparação com as fibras químicas.
Segundo Aguiar Neto (1996), de forma generalizada, as fibras naturais têm baixa
elasticidade e resiliência (capacidade de um corpo de retornar à forma original após
deformação). Alguns fungos, como o mofo, podem destruir a celulose ou, ao menos, causar-
lhes sérios danos.
Essas fibras possuem também uma baixa estabilidade em altas temperaturas. Em
valores por volta de 100° C, já ocorre o aumento do volume que implica diretamente na
tingibilidade. Acima de 200° C a celulose resiste por pouco tempo e em temperaturas acima
de 275º C a decomposição do material é intensa, liberando líquidos e gases de diferentes
composições. A decomposição completa e total eliminação de gases acontecem entre 400° e
450° C, formando um resíduo duro chamado de carbono. A decomposição ou destilação
destrutiva da celulose libera fases como o etano, metano, monóxido e dióxido de carbono e
também ácido acético e acetona.
A temperatura do ferro de passar no momento de passar um tecido de algodão é
importante, pois realizar essa atividade em temperaturas muito altas pode amarelar o tecido. O
tempo em que essa superfície quente está em contato com o tecido também deve ser levado
em consideração. É recomendável também que os tecidos estejam sempre umedecidos no
momento de passar, devido à baixa resiliência.
O algodão é a fibra mais utilizada para a produção de fio, seja puro ou misturado com
outras fibras. Em 2006 foram produzidos, em média 1.349.000 toneladas de fios, sendo
1.097.000 toneladas utilizando fibras de algodão, ou seja, 81%. As fibras químicas, (que serão
descritas a seguir), ficam com 15% do uso na produção, onde 9% é poliéster. O restante da
produção é preenchido com outras fibras naturais. Mesmo pura, a fibra de algodão é altamente
utilizada, cerca de 75% (AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO
INDUSTRIAL, 2008).
35
3.2 Fibras Químicas
Conforme Pezzolo (2007), a indústria da tecelagem foi, por muito tempo, somente das
fibras naturais, porém, a necessidade da criação do que não era encontrado na natureza,
motivou as pesquisas laboratoriais e, em seguida, o desenvolvimento das fibras químicas.
Essas fibras químicas podem ser classificadas de duas maneiras: fibras químicas
artificiais, obtidas através do tratamento de matéria-prima animal, mineral ou vegetal e fibras
químicas sintéticas, obtidas através da sintetização de materiais como o carvão mineral e o
petróleo.
3.2.1 Fibras químicas artificiais
As fibras químicas artificiais dependem de matérias-primas naturais e ainda passam
por processos químicos para a obtenção da fibra. Essas matérias podem ser de origem vegetal,
animal ou mineral, porém a primeira fibra química artificial produzida foi de origem vegetal.
3.2.1.1 Obtidas de matéria-prima vegetal
Conforme Pezzolo (2007), as fibras químicas artificiais obtidas de matéria-prima
vegetal são: raiom, viscose, acetato, tencel® e modal.
O raiom foi a primeira fibra química artificial criada pelo homem. Em sua composição
encontramos a celulose, que inicialmente é banhada por ácido sulfúrico, depois passa por
diluição em acetona, em seguida por extrusão e, por fim, pelo processo de evaporação da
acetona.
Os filamentos são obtidos no momento da extrusão, onde a resina, ainda de forma
pastosa, é pressionada sob furos finíssimos numa peça denominada fieira. O início das
pesquisas aconteceu em 1878, por Hilaire Bernigaud, dissolvendo a nitrocelulose em uma
36
mistura de álcool e éter, passando a mistura por um fino orifício e, com auxílio de um forno,
fazendo o tratamento final.
A patente foi obtida em 1884 mas, em busca de diminuir o alto poder de combustão do
novo material, continuou trabalhando no projeto. Em 1889, foram apresentados ao público
pela primeira vez, produtos feitos de raiom, em uma exposição, em Paris. No ano de 1891 a
fibra passou a ser produzida comercialmente, sendo chamada de seda artificial. Como as
pesquisas não terminaram e com os diversos tipos de tratamento para a celulose foram obtidos
mais dois tipos de raiom, são eles a viscose e o acetato.
A viscose, também conhecida como raiom viscose, por ser obtida, assim como o
raiom, pelo tratamento da celulose, onde a mesma é dissolvida em soda cáustica e depois
banhada em ácido sulfúrico e sulfato de soda. Este processo surgiu em 1892 e os fios
começaram a ser produzidos comercialmente em 1905, causando grande desenvolvimento em
sua indústria por apresentar um processo produtivo com grandes vantagens tecnológicas
(PEZZOLO, 2007).
As fibras e fios de viscose assemelham-se às de algodão em resistência à tração,
absorção de umidade, maciez e caimento, porém sua resistência é baixa quando molhada e
amarrota e encolhe com muita facilidade.
A viscose pode ser tecida pura ou misturada com outras fibras, em diversas
proporções, tipos e combinações, atendendo a todo tipo de segmento de mercado têxtil.
Atualmente os tecidos de viscose são altamente solicitados pelas confecções, no entanto, sua
produção mundial não possui grandes perspectivas de crescimento por causar altos custos
ambientais, visto a necessidade de árvores para fornecimento da celulose.
O acetato é também chamado de raiom acetato, pois também é obtida através de
processos com a celulose. No caso do acetato, a celulose é reagida com o anidro acético e
ácido acético, na presença de ácido sulfúrico. Logo após este processo o produto é
hidrolizado, de forma a remover o ácido sulfúrico e os grupos sulfato e acetato, obtendo,
assim, as propriedades desejadas (PEZZOLO, 2007).
O primeiro passo do processo de obtenção do acetato foi iniciado pelos irmãos Camile
e Henry Dreyfus, em 1905, na Suíça, produzindo o filme acetato. Em 1913, o progresso das
pesquisas chegou ao filamento contínuo de acetato. Finalmente, em 1924, esse filamento foi
patenteado e lançado nos Estados Unidos, de forma comercial. O tecido desta fibra é sedoso e
macio, podendo apresentar visual fosco ou brilhante e é largamente usado para fabricação de
lingeries e roupas de verão. Em lojas, as peças de acetato são comumente confundidas com
peças de raiom.
37
O tencel® é comercialmente conhecido como liocel e é considerado uma grande
novidade no ramo têxtil, pois provém da celulose de árvores produzidas geneticamente, com
uma polpa mais branca e de melhor qualidade, que possibilita a diminuição do uso de
produtos químicos para obtenção da fibra. Surgiu em 1992 e é considerada uma fibra
ecologicamente correta, pois não é agredida por produtos químicos e o solvente utilizado em
sua produção é reciclável (PEZZOLO, 2007).
O tecido produzido com esta fibra tem um ótimo caimento, o toque e a maciez da seda,
a resistência do algodão, possibilita grande quantidade de cores, é estável à lavagens,
praticamente não encolhe e dificilmente rasga. As propriedades da fibra possibilitam
diferentes efeitos estruturais de superfície, chamado de poder de fibrilação.
O modal provém da celulose. Ela absorve por volta de 33% mais água que o algodão e
a evaporação é quatro vezes mais veloz, proporcionando o chamado conforto seco. O tecido
pode ser 100% modal ou ter misturas como os conhecidos modal algodão (50% modal e 50%
algodão), modal acrílico (70% modal e 30% acrílico), modal stretch (65% modal e 35%
poliamida), modal cotton (33% modal, 33% algodão e 34% poliamida), modal crepe (45%
modal, 35% poliamida e 20% acrílico), modal linho (40% modal, 32% algodão, 20%
poliamida e 8% linho) e promodal (70% modal e 30% liocel) (PEZZOLO, 2007).
3.2.1.2 Obtidas de matéria-prima mineral
De acordo com Pezzolo (2007), as fibras químicas artificiais obtidas de matéria-prima
mineral são: amianto, carbono, metal e vidro.
O amianto é uma fibra de silicato natural hidratado de cálcio e magnésio, bastante
sedosa, fina, geralmente branca e brilhante. Possui boa resistência a ataques de bases e ácidos
e é bastante usada em construções por ser incombustível.
A palavra amianto é de origem grega e significa indestrutível devido às propriedades
dessa fibra que, inclusive, era utilizada para fabricação de roupas contra chamas na Roma
antiga. Por volta de 800 anos atrás, Marco Polo, em visita a China, relatou que encontrou um
tecido que não incendiava e que o mesmo era feito de um mineral extraído da terra e, dessa
maneira, o amianto entrou na história. Tão grande era sua importância que uma caixa de
38
amianto foi enviada ao papa pelo imperador da China para guardar o Santo Sudário, relíquia
muito conhecida do cristianismo e a caixa o guardou por diversos anos.
Naquela época não havia o conhecimento da nocividade das partículas de amianto para
a saúde humana, pois o mesmo ataca e destrói os pulmões. Diante desse perigo, as fibras de
amianto são utilizadas de forma restrita em têxteis para isolamento e proteção e na área da
construção em telhas, tubos e caixas d’água (PEZZOLO, 2007).
As fibras de carbono são utilizadas para fabricação de artigos esportivos como
raquetes de tênis e peças para aviões, devido sua leveza e resistência. Essas são
desenvolvidas, principalmente, a partir de fibras celulósicas ou acrílicas.
Os fios de metais como alumínio, cobre, platina, prata, ouro e outras ligas de aço
podem ser utilizados em produtos especiais, principalmente quando se busca alta resistência
mecânica ou térmica. Esses fios são bastante utilizados por estilistas, sozinhos ou em
combinações com outros fios, pois eles proporcionam o chamado “tecido com memória”, que
é o fato de ele manter a forma obtida pelo movimento, dobra ou pressão. Os fios metálicos
também são muito utilizados na fabricação de fitas decorativas
As fibras de vidro possuem um uso limitado no ramo têxtil, pois os tecidos deste
material são pouco flexíveis e de difícil tingimento. Mesmo assim, algumas peças foram
tecidas em combinações com seda e estão expostas no Museu de Artes e Ofícios de Paris. Esta
fibra é incombustível e bastante resistente, deste modo, é comumente utilizada na fabricação
de tecidos para proteção contra fogo e materiais isolantes para construções (PEZZOLO,
2007).
3.2.1.3 Obtidas de matéria-prima animal
Segundo Pezzolo (2007), nesta categoria temos o lanital. Esta fibra tem as
propriedades muito parecidas com as da lã, porém com menor resistência, deste modo, ela
nunca é utilizada sozinha e sim, em combinação com outras fibras. Ela é extraída de uma
proteína do leite chamada caseína.
39
3.2.2 Fibras químicas sintéticas
Conforme Pezzolo (2007), as fibras químicas sintéticas são: acrílico, elastano,
poliamida, microfibra, tactel®, supermicrofibra e poliéster.
As fibras denominadas sintéticas foram lançadas no século XIX, porém desenvolvidas
e aplicadas durante o século XX. Suas principais matérias primas são o carvão mineral e o
petróleo.
Essas fibras vinham sendo utilizadas em grande escala, porém, na década de 1980, elas
passaram a ser rejeitadas pelo consumidor, o que obrigou a indústria a iniciar diversas
pesquisas de aprimoramento das fibras sintéticas.
A fibra de acrílico surgiu em 1948 na Alemanha. Ela é obtida através da síntese de
diferentes elementos extraídos do petróleo, carvão e cálcio e pode ser tecida sozinha ou
misturada com outras fibras. A fibra de acrílico é isolante, leve, proporciona estabilidade
dimensional, solidez e vivacidade das cores. É bastante semelhante à lã, mas não é muito
confortável e não absorve bem a umidade.
O elastano é a fibra química sintética inventada e registrada pela DuPont com a
conhecida marca Lycra®
. Obtida do etano, é considerada elastomérica, podendo atingir, sem
se romper, até cinco vezes o seu tamanho normal. Deste modo, é utilizada em larga escala na
fabricação de roupas de praia, roupas íntimas, roupas femininas, roupas esportivas, dentre
outras.
Sua principal função é conferir esta elasticidade aos demais tecidos convencionais,
permitindo a adesão dos mesmos ao corpo, acompanhando o movimento. Sua porcentagem de
uso na fabricação dos tecidos varia de 5% a 20% do total de fibras utilizadas. Outras
vantagens desta fibra é a resistência à abrasão e à deterioração pela transpiração e ação de
detergentes, loções e outro produtos químicos (PEZZOLO, 2007).
Já a poliamida, conhecida também como náilon, é obtida através da polimerização se
aminoácidos ou pela condensação de diaminas com ácidos dicarboxálicos. A primeira a ser
produzida foi em 1935 por químicos americanos da empresa DuPont. O tecido desta fibra é
macio, leve, resistente ao uso, às traças e aos fungos, não encolhe, não deforma e seca rápido,
em contrapartida, é sensível à luz, tende a reter poeira e sujeira, mancha facilmente, não
absorve umidade, aquece pouco, encolhe com o calor, favorece a transpiração corporal e não é
resistente a produtos químicos.
40
Esta fibra pode ser utilizada sozinha ou com outras fibras e é utilizada na fabricação de
impermeáveis, blusas, camisas e roupas íntimas. Um tecido bastante conhecido que usa a
poliamida é a helanca®. É utilizada também em outros ramos na fabricação de pára-quedas,
redes para pesca, suturas para cirurgia, entre outros.
A poliamida é a que mais se aproxima da perfeição da seda e possui uma resistência
mecânica 3,5 vezes maior que a do algodão. Por isso, na Segunda Guerra Mundial, os pára-
quedas de seda foram substituídos pelos de náilon e sua superioridade foi constatada após o
ataque a Pearl Harbor, o que fez com que as Forças Aliadas requisitassem toda a produção do
material para a DuPont (PEZZOLO, 2007).
A microfibra foi desenvolvida na década de 1990. Este filamento é proveniente de
fibras de poliamida, acrílico ou poliéster. Sua fibra é tão pequena e leve que dez mil metros
dela podem pesar menos que 1 grama. O tecido pode ser 100% microfibra ou misturado com
outras fibras e grandes são as vantagens deste tecido como, por exemplo, toque macio, bom
caimento, secagem rápida, baixo nível de encolhimento, resistência alta e também não
amassa. Seu tecido é bastante utilizado em malharias, tecelagens, modas masculina, feminina
e infantil, roupas íntimas, esportivas, dentre outros artigos.
O tactel®
é uma microfibra feita 100% de poliamida com fios texturizados a ar. É uma
marca registrada da DuPont e tem vantagens como alta secagem e alta transpiração, o que o
torna muito utilizado na confecção de calções e shorts de banho (PEZZOLO, 2007).
A supermicrofibra é uma versão ainda mais fina que a microfibra, portanto, tem suas
vantagens ainda mais realçadas, como a secagem rápida, não amarrotar e uma ótima
respirabilidade, por conta da fina espessura dos filamentos, que criam micro espaços,
proporcionando a passagem de ar e garantindo o equilíbrio térmico do corpo. É um tecido
durável, fácil de lavar e mantém suas cores, mesmo após diversas lavagens.
De acordo com Oliveira (2013), o poliéster resulta da condensação de poliácidos e o
mais importante deles, que é o utilizado na indústria têxtil, é obtido pela reação do éster
metílico do ácido tereftálico com o etilenoglicol. Segundo Pezzolo (2007), é uma fibra que
pode ser utilizada sozinha ou misturada a outras fibras. Conhecida também como tergal, é
utilizada em vestuário, tecidos para decoração, revestimento, entre outros.
O tecido desta fibra não absorve muito a umidade, mas os avanços tecnológicos têm
permitido que ela se assemelhe cada dia mais ao algodão, o que aumenta a tendência de
consumo do mercado, sem contar o fato de que essa é a fibra mais barata de todas, sejam
químicas ou naturais.
41
Existem vários tipos de fibras de poliéster, são elas: poliéster/meryl® (marca registrada
pela Rhodia, composta de microfibras de poliamida e poliéster), fibra tergal-algodão (fibra
curta misturada em tecidos 100% algodão), fibra tergal-tech (fibra de poliéster dedicada aos
produtos de não tecidos como tapetes, cobertores, carpetes, entre outros) e fibra tergal-lofty
(fibra especialmente desenvolvida para aplicação em mantas de enchimento).
3.2.3 Algumas vantagens e desvantagens das fibras químicas
Conforme Pezzolo (2007), inicialmente, as fibras químicas foram desenvolvidas com o
objetivo de copiar e melhorar as características e propriedades das fibras naturais, porém, por
fim, acabaram se tornando uma necessidade. Dentre os fatores principais que motivaram o
progresso dessas fibras podemos citar dois: a demanda por vestuários confeccionados com
rapidez e a baixo custo pela população mundial em crescimento e a vulnerabilidade da
indústria têxtil a eventuais dificuldades da produção agrícola.
De acordo com Aguiar Neto (1996), o poliéster é pouco sensível à oxidação e resiste
um tempo considerável à temperaturas próximas de 200°C. Sob a luz do sol também te
grande resistência, podendo essa se perdurar por anos se o tecido estiver com uma simples
proteção, como um vidro, por exemplo.
Segundo Bastian et al. (2009), a produção de fibras sintéticas é mais direcionada ao
mercado interno, sendo comercializado no exterior somente o volume excedente. Já a
produção de fibras artificiais é mais voltada ao mercado de exportação, pelo fato de o
produtor nacional ser bastante competitivo. Mesmo não sendo largamente exportadas, as
fibras sintéticas possuem uma qualidade comparável ao padrão internacional, visto o exigente
controle de qualidade e especificações técnicas deste segmento.
Segundo Pezzolo (2007), as fibras químicas artificiais obtidas de matérias-primas
vegetais não possuem grande perspectiva de crescimento mundial, em razão dos altos custos
ambientais envolvidos (a necessidade de árvores para fornecimento de celulose).
Conforme Aguiar Neto (1996), o efeito da luz sobre a celulose também não é
considerado muito bom, pois a mesma é oxidada pelo oxigênio do ar. Essa foto-oxidação
forma a oxicelulose, reduzindo a resistência da fibra. As impurezas do ar e do próprio material
também influenciam na resistência do mesmo à luz. Essa exposição pode causar o
42
amarelamento dos fios. Se a umidade relativa do ar foi maior que 75% e a umidade das fibras
maior do que 9%, está formado um ambiente propício para algumas bactérias e fungos que
podem se instalar e provocar danos às fibras celulósicas como manchas e comprometimento
da estrutura das fibras.
As fibras químicas, principalmente as sintéticas como o poliéster, possuem uma
estrutura muito densa e são hidrofóbicas, sendo assim, elas absorvem pouquíssima umidade e
praticamente não intumescem. Essa baixa absorção de umidade também tende à produção de
eletricidade estática. De acordo com Albuquerque (1987), a resistência das fibras químicas
também diminui com o aumento da umidade, causando alongamento do tecido.
Segundo Bastian et al. (2009), o processo de fiação das fibras químicas causa um
impacto ambiental negativo maior que o processo de fiação das fibras naturais, onde neste os
impactos são relacionados ao ar, solo e incômodo à população, já o primeiro, além destes
impactos, possui também a vibração.
Além do uso das fibras para a fabricação de tecidos, é possível também utilizá-las para
a fabricação dos não tecidos.
3.3 Não Tecido
De acordo com Pezzolo (2007), o não tecido surgiu por volta do ano de 1935, mas seu
real desenvolvimento se deu após a Segunda Guerra Mundial, graças às fibras químicas e suas
inovações. Atualmente este setor é considerado o mais dinâmico da indústria têxtil, por
permitir várias possibilidades, devido sua composição em produção.
Este produto é obtido sem o uso do tear, onde as fibras são compactadas por meios
mecânicos, físicos ou químicos, dando origem a uma folha contínua. Desta forma, o não
tecido não possui fibras direcionadas, como os tecidos.
Os não tecidos podem ser obtidos por entrelaçamento de fibras, onde as mesmas são
emaranhadas entre si por agulhas ou farpas, ou seja, de forma mecânica, e o processo é
completado por adição de produtos químicos. Deste processo temos produtos como feltros e
cobertores. Outra forma de obtenção do não tecido é pela ação de adesivos na fusão das
fibras, onde a junção das fibras é realizada por processos químicos. Neste caso temos
44
4 DESCARTE DE TECIDOS
Todas as informações dos capítulos anteriores descrevem um pouco da riqueza de
nossas primeiras e principais fibras e dos tecidos formados por elas. Segundo Pezzolo (2007),
desde o surgimento das fibras naturais as tecnologias aumentam a cada dia, desenvolvendo
novas fibras, novos tecidos, não tecidos e diversas possibilidades que permitem aos
consumidores de todo o mundo escolher vantagens e tecnologias em busca de conforto e
satisfação.
A variedade de tecidos é cada vez maior e tecidos como os já apresentados, assim
como o jeans, as malhas e as rendas, são muito usados e movimentam fortemente o mercado
da indústria têxtil em todo o mundo, o que demonstra que o consumo de tecidos está cada vez
maior, nos levando à certeza de que, mesmo sendo um bem de consumo durável, em algum
momento, este tecido terá que ser descartado.
4.1 A Problemática do Lixo
Conforme Ribeiro (2013)13
, lixo é todo resíduo, gerado de atividades humanas, que
não tem mais utilidade. Deste modo, considera-se que a natureza não gera lixo, visto que tudo
que ela gera, agrega os processos de renovação e reconstrução do ambiente.
Segundo Carvalho e Oliveira (2007), as atividades humanas realizadas são diversas e
os resíduos sólidos gerados podem ser orgânicos e inorgânicos. Os orgânicos, ou
biodegradáveis, são materiais que se decompõem, como os restos de alimentos, os papéis, as
madeiras, as fibras naturais, entre outros. Já os inorgânicos, ou não-biodegradáveis, são os
chamados materiais sintéticos, os quais possuem decomposição dificultada, como os
plásticos, metais, vidros e outros.
No que diz respeito aos riscos que os resíduos podem causar ao meio ambiente e à
saúde pública, podem ser classificados como: Resíduos classe I – Perigosos, ou Resíduos
classe II – Não perigosos. Os não perigosos ainda possuem outra classificação: Resíduos
13 RIBEIRO, T. O Lixo. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/geografia/o-lixo.htm>. Acesso em: 15 out. 2013.
45
classe II A – Não inertes e Resíduos classe II B – Inertes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉRCNICAS, 2004).
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(2013)14
, a origem do lixo, por sua vez, é classificada da seguinte forma: Residencial (gerado
nas casas), Industrial (gerado nas fábricas), Hospitalar (gerado em estabelecimentos médicos
como hospitais, clínicas, ambulatórios, etc.), Comercial (gerado em hotéis, lojas, restaurantes,
etc.) e Radioativo (gerado, normalmente, em usinas nucleares).
Segundo Carvalho e Oliveira (2007), o Brasil produz, aproximadamente, 90 mil
toneladas de lixo diariamente e esse valor corresponde a cerca de 30 mil caminhões cheios, o
que demonstra que o crescimento populacional, sua concentração nas cidades e o consumismo
tornam a problemática do lixo cada vez mais complexa.
No ano de 2000 a geração de resíduos era maior, o que é demonstrado na TABELA 1,
que apresenta os números relacionados às coletas por estado.
TABELA 1 - Geração de resíduos no Brasil no ano de 2000
continua
Estado Geração de resíduos (t/dia)
Acre 538,9
Alagoas 2.999,3
Amapá 455,8
Amazonas 2.864,0
Bahia 10.398,3
Ceará 10.150,5
Distrito Federal 2.567,2
Espírito Santo 2.923,6
Goiás 7.809,1
Maranhão 2.652,6
Mato Grosso 2.163,7
Mato Grosso do Sul 1.756,5
Minas Gerais 15.664,0
Paraná 7.542,9
Paraíba 2.894,0
Pará 5.181,6
14
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA. Lixo. Disponível em:
<http://www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/download/200/>. Acesso em 19 out. 2013.
46
TABELA 1 - Geração de resíduos no Brasil no ano de 2000
continuação
Estado Geração de resíduos (t/dia)
Pernambuco 6.281,2
Piauí 2.431,3
Rio de Janeiro 17.447,2
Rio Grande do Norte 2.373,5
Rio Grande do Sul 7.468,3
Rondônia 692,0
Roraima 133,1
Santa Catarina 4.863,6
Sergipe 1.377,1
São Paulo 105.582,0
Tocantins 1.201,7
Total 228.413,0
Fonte: IBGE (2000b)15
Segundo os dados apresentados, fica claro que São Paulo é o maior gerador, onde
quase metade de todo resíduo do país, foi gerado somente neste estado. Com essas
informações, juntamente com os dados do censo demográfico do mesmo ano, que nos dá a
população de cada estado, é possível obter um valor médio de geração de resíduos por
habitante, conforme FIGURA 7.
15 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - Ano 2000. 2000b.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb/lixo_coletado/lixo_coletado110.shtm>. Acesso
em: 19 out. 2013.
47
Fonte: IBGE (2000a)16
FIGURA 7 - Média de geração de resíduos por habitante no Brasil no ano de 2000
Com uma geração tão alta do estado de São Paulo, a média por habitante não poderia
ser diferente, o que nos dá uma estimativa de que, somente uma pessoa gera 85,5 kg de
resíduos por mês, um valor que preocupa, quando se analisa a destinação de todo esse resíduo.
Conforme dados de Silva Filho (2013)17
, no Brasil em 2010, aproximadamente 23
milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, cerca de 42% do total coletado, foram
destinados incorretamente, o que coloca em risco diversos recursos naturais. Outro dado
importante é que o estado de São Paulo apresentou um baixo índice de descarte incorreto,
cerca de 24% em 2010, porém, esse número corresponde a uma quantidade de 13 mil
toneladas por dia, tornando-se um cenário bastante delicado. A região sudeste corresponde a
53,1% de todo o resíduo coletado no país.
De acordo com Leite (2009), em São Paulo o lixo urbano aumentou de 4.450 toneladas
por dia em 1985 para 16 mil toneladas por dia em 2000, onde a quantidade de lixo orgânico
16 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo Demográfico Ano 2000 - Resultados do universo.
2000a. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tabelagrandes_regioes211.shtm>. Acesso em: 19 out. 2013. 17 SILVA FILHO, C. R. V. A sociedade não pode mais sofrer com remendos ambientais. Disponível em:
<http://www.abrelpe.org.br/noticias_clipping_detalhe.cfm?NotClippingID=919>. Acesso em: 05 out. 2013.
0,9
7
1,0
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0,9
6
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0
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lo
Toca
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Kg
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ia
Estados
Resíduo por habitante (kg/dia)
48
diminuiu e o de produtos descartáveis aumentou, sendo esse crescimento maior que o
crescimento da população da cidade. A média de crescimento da produção de lixo por pessoa
em São Paulo entre os anos de 1985 e 1997 aumentou de 0,6 para 1 kg, refletindo o aumento
da descartabilidade de produtos por parte da população.
No ano de 2011, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (2013)18
, apresentou números ainda mais alarmantes, onde de 5.565 municípios do
Brasil, 3.371 destinaram inadequadamente 74 mil toneladas de resíduos diariamente. Estima-
se também que cerca de 6,4 milhões sequer foram coletadas, valor esse que encheria de lixo
45 estádios do Maracanã.
A geração e o descarte do lixo são problemas que estão aumentando, juntamente com
o crescimento da população e o desenvolvimento industrial e tecnológico, o que pode ser
constatado quando analisados alguns pontos da história deste processo.
4.1.1 Breve histórico
Desde que o mundo é mundo o lixo é gerado. Na época dos nômades, ao diminuir a
oferta de alimento em determinado local, os mesmos se mudavam para outro lugar e os lixos
que lá eles deixavam, eram decompostos pela ação do tempo. Com o início da civilização, o
homem foi desenvolvendo materiais de cerâmica, instrumentos para uso nas plantações,
criando animais, construindo moradias fixas, consequentemente, aumentando o volume do
lixo, porém, ainda assim, o lixo não era considerado um problema mundial
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2013)19
.
Na Idade Média, a doença, muitas vezes causada pelo lixo, era associada ao pecado,
tomando uma conotação religiosa, onde se acreditava que o indivíduo doente estava
recebendo um castigo divino. No final do século XIX os microorganismos começaram a ser
descobertos, esclarecendo que eles eram os verdadeiros causadores de doenças e que, desta
18 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS - ABRELPE. Mais da metade dos
municípios brasileiros ainda não dá destino adequado aos resíduos sólidos urbanos. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/noticias_releases_detalhe.cfm?NotReleasesID=1218>. Acesso em: 05 out. 2013. 19 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG. História do Lixo. Disponível em:
<https://www.ufmg.br/proex/geresol/lixohistoria.htm>. Acesso em: 15 out. 2013.
49
forma, medidas de saúde pública precisariam ser tomadas para que não houvesse a
proliferação dos mesmos, assim como de seus vetores (CRUZ; MARQUES, 2007)20
.
Com a revolução industrial a produtividade deu em grande salto, assim como o
consumo, aumentando a geração de lixo, porém, o que era importante para a maioria das
pessoas na época era o desenvolvimento e não as possíveis conseqüências.
O foco começou a mudar na segunda metade do século XX, onde o lixo começou a
não ser visto somente como um problema da área médica, ou seja, causador de doenças, mas o
mundo passou a se preocupar também com todos os impactos negativos ao meio ambiente,
principalmente por problemas que começavam a aparecer, como o aquecimento global, o
buraco na camada de ozônio, dentre outros, deixando o planeta mais vulnerável.
Diante disso, surgiram as discussões mundiais sobre o meio ambiente, os problemas
que seriam enfrentados e as possíveis soluções ou formas de amenizá-los. Um exemplo desses
encontros foi a Eco-92, que aconteceu no Rio de Janeiro, onde o debate sobre o lixo e o meio
ambiente ganhou força.
A partir de então o aumento da geração de lixo e o problema para a destinação de todo
esse resíduo foram realmente notados, entretanto, até hoje não há reais soluções para este
vilão do mundo industrializado e consumista, mundo este que acredita que o problema da
sujeira está resolvido ao jogar o lixo na lixeira, no entanto, é neste momento que o problema
realmente se inicia (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2013)21
.
4.1.2 Questões sociais, econômicas e ambientais
Segundo Ribeiro (2013)22
, os problemas com o lixo são ainda mais aparentes em
países subdesenvolvidos que, muitas vezes, não possuem um efetivo e consolidado sistema de
coleta e destinação do lixo, considerado um dos serviços públicos mais importantes, deixando
claras as lacunas das políticas assistenciais, pois esse é um processo que atinge diretamente a
saúde e qualidade de vida da população.
O descarte de resíduos em lixões abertos traz também grandes impactos sociais
negativos, pois este tipo de lugar torna-se uma fonte de renda para diversas pessoas que vão
20 CRUZ, I.; MARQUES, F. Lixo através da história – Pesquisa aborda percepção sobre os resíduos desde a Idade Média. Revista de
Manguinhos, setembro de 2007. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/ccs/media/pag%2040-41%20-%20lixo.pdf>. Acesso em: 18 out. 2013. 21 Ibid, p. 47. 22 Ibid, p. 43.
50
em busca de materiais que podem ser reaproveitados, vendidos para posterior processo de
reciclagem e até consumidos, mesmo que estragados. Diante disso, o local reflete a grande
desigualdade social, as pessoas excluídas pela sociedade e a degradação humana.
De acordo com Eigenheer (2009)23
, lidar com o lixo, sempre foi uma tarefa destinada
aos menos favorecidos, como no passado, onde a responsabilidade pelo descarte dos resíduos
da casa era dos escravos. Mesmo depois de muito tempo, ainda existe essa tendência de
marginalizar as pessoas que exercem suas atividades em meio aos resíduos.
Conforme Ribeiro (2013)24
, outro sério problema é que, em locais que não existe a
coleta do lixo, que geralmente são as regiões periféricas, os mesmos são descartados em
locais inadequados como terrenos abandonados, áreas desabitadas, rios, córregos, encostas,
dentre outros, podendo causar problemas de saúde pública, como a proliferação de pragas que
transmitem doença e outros problemas que afetam diretamente todo o meio ambiente.
De acordo com Bidone e Povinenelli (1999), a situação econômica do país interfere de
forma direta na geração de resíduos, onde nota-se que, em períodos onde a economia não está
em boa situação, o volume de lixo coletado é bem menor, pois a geração diminui e a
reutilização aumenta.
Em países considerados de primeiro mundo, o descarte de resíduos passíveis de
reciclagem é maior do que nos países subdesenvolvidos, já o desperdício de alimentos é
menor, como se pode evidenciar na comparação de matéria orgânica encontrada nos resíduos
sólidos do Brasil, que é de 50%, enquanto no Japão é de, apenas, 20%.
De acordo com o Info Escola (2013)25
, um dos maiores gastos no processo do lixo no
Brasil é a coleta, pois é necessário garantir a remoção de, aproximadamente, 240 toneladas
diariamente, gastando com frota de veículos, combustível, manutenção, contratação de garis,
dentre outros.
Segundo a Recicloteca (2013)26
, de forma geral, altos são os gastos por parte do poder
público e da iniciativa privada nas resoluções dos problemas sociais e ambientais causados
pelo lixo, como recuperação de áreas, descontaminações, tratamento de doenças, entre outros.
Todos esses recursos poderiam ser utilizados para outros fins, também muito necessários à
população.
23 EIGENHEER, E. M. Lixo: A limpeza urbana através dos tempos. Porto Alegre, 2009. Disponível em:
<http://www.lixoeeducacao.uerj.br/imagens/pdf/ahistoriadolixo.pdf>. Acesso em: 18 out. 2013. 24 Ibid, p. 43. 25 INFO ESCOLA. Lixo Urbano. Disponível em: <http://www.infoescola.com/meio-ambiente/lixo-urbano/>. Acesso em: 17 out. 2013. 26 RECICLOTECA. Problemas Econômicos. Disponível em: <http://www.recicloteca.org.br/problemao.asp?Ancora=5>. Acesso em: 17
out. 2013.
51
Segundo Carvalho e Oliveira (2007), o lixo interfere de forma direta ou indireta para a
poluição ambiental. De acordo com Ribeiro (2013)27
, a disposição inadequada de resíduos
pode trazer diversos impactos negativos para o meio ambiente, dentre eles, a contaminação do
solo, do ar, dos animais, dos alimentos, o deslizamento de encostas, o assoreamento de
mananciais, a poluição dos corpos d’água, dentre muito outros problemas.
Conforme Bueno (2012)28
, as intervenções do clima, como chuva e sol, no processo de
decomposição, criam cenários propícios para que os resíduos impactem o meio, como a
produção do chorume, que contamina o solo, podendo chegar ao lençol freático, e a liberação
de gás metano, que é considerado o grande vilão do efeito estufa, mais prejudicial que o
dióxido de carbono.
A queima indevida do lixo também traz diversos riscos ao meio ambiente, pois libera
diversas toxinas, dentre elas, fuligem e dioxinas, ambas extremante prejudiciais,
principalmente, à saúde humana, pois a primeira afeta os pulmões e a segunda é cancerígena.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(2013)29
, uma poluição ambiental que o lixo causa, mas que é pouco falada é a poluição
visual, que é muito notada em casos de falta de coleta, como em greves de garis.
De acordo com Leite (2009), o aumento do lixo urbano demonstra também o
crescimento da descartabilidade, onde os lançamentos constantes de novos produtos fazem
com que o consumidor troque seus bens com maior freqüência. Entre as indústrias que
investem bastante nesta grande diversidade e lançamentos de novos produtos, está a indústria
têxtil.
4.2 O Descarte na Indústria Têxtil
A indústria têxtil apresenta uma grande produção, principalmente para atender a
grande demanda da população, deste modo, grande também é o desperdício e o descarte de
materiais em todas as etapas do seu processo. Para melhor evidenciar estes números, são
mostrados nesta etapa alguns dados de algumas empresas que ajudarão no entendimento do
problema e sua proporção.
27 Ibid, p. 43. 28 BUENO, C. Lixo. Tema: Ecologia, 2012. Disponível em: <http://360graus.terra.com.br/ecologia/?did=27178&action=geral>. Acesso em
19 out. 2013. 29 Ibid, p. 44.
52
Conforme Derisio (2007), no ramo das indústrias têxteis estão inclusas as indústrias de
beneficiamento30
de materiais têxteis de origem animal e vegetal, as tecelagens, as fiações, as
confecções, as malharias e todas as indústrias de artefatos têxteis e dentre os seus descartes
mais comuns estão as fibras, os fios e os tecidos.
Os descartes têxteis são classificados como resíduos classe II A, os não inertes, desde
que não sejam contaminados, por exemplo, com graxa de máquina, pois assim já se tornariam
resíduos classe I (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉRCNICAS, 2004).
Os primeiros dados sobre descarte são de uma das fábricas da empresa Dudalina S/A,
famosa fabricante de camisas, situada em Santa Catarina. No que tange ao descarte de tecidos,
segundo Wartha e Haussmann (2006)31
, a Dudalina S/A tem uma perda mensal de 13% de sua
matéria prima, o tecido, o que equivale a uma massa de, aproximadamente 8.300 kg mensais,
conforme demonstrado na FIGURA 8, fazendo com que a empresa perca, em média, R$1,66
por peça de roupa produzida.
Fonte: Wartha e Haussmann (2006)32
FIGURA 8 - Produção e desperdício na empresa Dudalina S/A
30 Segundo Pezzolo (2007), beneficiamento é um processo de várias etapas que tem por finalidade melhorar as características físico-químicas
de fibras, fios e tecidos. 31 WARTHA, J.; HAUSSMANN, D. C. S. Custo-benefício da reciclagem na indústria de confecção: estudo de caso na empresa Dudalina S/A. 2006. 3º Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade, São Paulo, 2006. Disponível em:
<http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos32006/376.pdf>. Acesso em: 20 set. 2013. 32 Ibid, p.51.
64.000
8.300
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
Produção Desperdício
Kg
Produção X Desperdício
kg/mês
53
De acordo com os números apresentados e a análise da figura, pode-se constatar que,
somando este desperdício durante oito meses, a empresa chega ao volume de produção de um
mês, ou seja, a cada oito meses de produção, perde-se um em desperdícios.
Já Milan et al. (2010)33
, apresenta dados de uma confecção de vestuários localizada na
serra gaúcha que, somente em sua coleção de outono-inverno 2009, que durou seis meses,
utilizou treze tipos diferentes de tecidos, onde em somente cinco deles era utilizada uma fibra
natural em sua composição, o algodão, o restante era somente de fibras químicas, que têm um
tempo maior de degradação.
A perda neste processo é, principalmente, no momento do corte e a estimativa é de que
esse desperdício gire em torno de 22%, como demonstrado na FIGURA 9.
Fonte: Milan et al. (2010)34
FIGURA 9 - Matéria-prima e desperdício em confecção gaúcha
A TABELA 2 mostra o impacto nos custos caudado pelo desperdício ocorrido durante
o processo produtivo da confecção.
33 MILAN, G. S. et al. A redução de resíduos têxteis e de impactos ambientais: um estudo desenvolvido em uma indústria de confecções
do vestuário. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/semead/13semead/resultado/trabalhosPDF/282.pdf>. Acesso em: 31 out. 2013. 34 Ibid, p. 52.
78%
22%
Tecidos utilizados
Volume de desperdício
54
TABELA 2 - Matéria-prima e desperdício em confecção gaúcha
Tecidos cortados Valor da matéria-
prima Tecidos utilizados
Volume de
desperdício
Valor do
desperdício
22.420 kg R$ 784.700,00 17.488 kg (78%) 4.932 kg (22%) R$ 172.620,00
Fonte: Milan et al. (2010)35
Os exemplos apresentados deixam evidente que o descarte das indústrias do ramo
têxtil é grande e constante. Segundo Milan et al. (2010)36
, essa é uma das indústrias que mais
cresce e acompanha o alto giro do consumismo, pois trabalha com coleções de estações, ou
seja, que mudam de acordo com a sazonalidade, fazendo com que a troca e a descartabilidade
por parte do consumidor também seja alta.
O estado de São Paulo possui algumas das regiões mais procuradas no Brasil por
consumidores, varejistas e atacadistas, na busca de peças de vestuário entre outros produtos
feitos de tecidos, fazendo com que haja uma grande concentração de confecções nesta região.
A FIGURA 10 apresenta os números da produção e do desperdício de materiais nos
processos das indústrias têxteis no Brasil no ano de 2012.
Fonte: Sinditêxtil (2012)37
FIGURA 10 - Produção brasileira de produtos acabados
35 Ibid, p. 52. 36 Ibid, p. 52. 37 SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE FIAÇÃO E TECELAGEM DO ESTADO DE SÃO PAULO - SINDITÊXTIL. Retalho Fashion.
2012. Disponível em: <http://www.sinditextilsp.org.br/images/stories/APOIO_4/Apresentao_Retalho_Fashion.pdf>. Acesso em: 20 set.
2013.
1.100.000
20.000
370.000
300.000
132.000
400 18.500 15.000
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
Vestuário Meias e acessórios Linha Lar Artigos Técnicos
Nú
mer
o d
e P
rod
uto
s A
cab
ado
s (t
on
/an
o)
Produto
Produção
Desperdício
55
Os dados apresentados acima evidenciam o desperdício das indústrias, onde a
quantidade de matéria prima descartada é grande, o que é demonstrado em porcentagem na
TABELA 3, para melhor entendimento.
TABELA 3 - Desperdício de materiais na indústria têxtil do Brasil em 2012
Produto Desperdício
Vestuário 12%
Meias e acessórios 2%
Linha Lar 5%
Artigos Técnicos 5%
Fonte: Sinditêxtil (2012)38
Os dados apresentados por Sinditêxtil (2012)39
mostram que, aproximadamente, 165
mil toneladas de tecidos foram desperdiçadas e descartadas durante o ano de 2012 no Brasil, o
que leva a reflexão e ao questionamento sobre a destinação que é dada para todos esses
resíduos.
De acordo com Estadão (2013)40
, somente nas confecções tradicionais do centro de
São Paulo, localizadas nas regiões do Bom Retiro e do Brás, são descartadas, diariamente, 30
toneladas de sobras de tecido nos aterros que atendem a região metropolitana. Além disso, o
descarte é realizado de maneira incorreta, pois são deixados sobre as calçadas e em sacos
plásticos, podendo entupir bueiros, além de dificultar, ou até impedir, o tráfego de pedestres.
Nos distritos vizinhos desta região existem, aproximadamente, 5,4 mil confecções e de
todo o material descartado por essas, menos de 15 % são recolhidos por catadores informais, o
restante vai para os aterros.
Conforme Lima (2013)41
, somente uma tonelada do resíduo de tecidos produzidos na
região de Bom Retiro e do Brás são enviados para reciclagem, o restante é coletado e enviado
para descarte nos aterros sanitários. O que agrava ainda mais essa situação é que, atualmente,
utiliza-se muitos tecidos importados da China e outros países onde não há uma política
ambiental restritiva, fazendo com que os produtos possam conter componentes tóxicos que
levem à contaminação do solo e da água, quando destinados a aterros.
38 Ibid, p. 53. 39 Ibid, p. 53. 40 ESTADÃO. São Paulo terá usina para reciclar tecidos. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sao-paulo-tera-usina-para-reciclar-tecidos-,1031235,0.htm>. Acesso em: 25 mai. 2013. 41 LIMA, J. D. Estudo descobre alternativas de reuso para o lixo têxtil. Disponível em: <http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=5220>.
Acesso em: 05 out. 2013.
56
De acordo com Zonatti (2013)42
, o índice de resíduos na produção dos têxteis é alto, o
que demonstra a importância de se ter novas alternativas de descarte, ajudando, assim, na
diminuição do volume de lixo nos aterros.
4.3 O Aterro
O aterro é uma forma de destinação final para os resíduos. É uma maneira aprimorada
da antiga técnica chamada de aterramento. Uma obra de engenharia que tem por objetivo
acomodar o maior número de resíduos no menor espaço possível, causando o menor impacto
possível ao meio ambiente e à saúde humana (COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO
DE SÃO PAULO, 2013)43
.
Dados do ano 2000 mostram as diversas destinações finais dadas aos resíduos
coletados em todo o Brasil, conforme TABELA 4.
TABELA 4 - Quantidade de lixo coletado/destinado no Brasil no ano 2000
Destino Final Quantidade de lixo coletado/destinado
(t/dia)
Vazadouro a céu aberto (Lixão) 48.321,7
Vazadouro em áreas alagadas 232,6
Aterro controlado 84.575,5
Aterro sanitário 82.640,3
Estação de compostagem 6.549,7
Estação de triagem 2.265,0
Incineração 1.031,8
Locais não fixos 1.230,2
Outro 1.566,2
Fonte: IBGE (2000b)44
42 ZONATTI, W. F. Estudo interdisciplinar entre reciclagem têxtil e o design: avaliação de compósitos produzidos com fibras de
algodão. 2013. 195 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Programa de Pós Graduação em Têxtil e Moda, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100133/tde-13032013-015305/pt-br.php>. Acesso em: 05 out.
2013. 43 COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO - CETESB. Aterro sanitário. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/mudancasclimaticas/biogas/Aterro%20Sanit%C3%A1rio/21-Aterro%20Sanit%C3%A1rio>. Acesso em 29
out. 2013. 44 Ibid, p. 45.
57
Diante desses dados podemos observar que mais de 70% dos resíduos coletados foram
destinados para os aterros, sejam eles controlados ou sanitários, conforme demonstrado na
FIGURA 11.
Fonte: IBGE (2000b)45
FIGURA 11 - Quantidade de lixo coletado/destinado no Brasil no ano de 2000
Esses dados indicam como os aterros são muito utilizados na destinação dos resíduos e
o quanto isso pode se tornar um problema, como já o é, visto que os aterros possuem vida útil,
precisam de um grande espaço para sua instalação e necessitam de um rígido controle para
amenizar os impactos negativos.
Visto que o estado de São Paulo é o maior gerador, seguem as indicações de destino
dos resíduos sólidos em todo o estado, segundo levantamento do IBGE, conforme FIGURA
12.
45 Ibid, p. 45.
21%
0%
37%
36%
3%
1% 0% 1%1%
Vazadouro a céu aberto (Lixão)
Vazadouro em áreas alagadas
Aterro controlado
Aterro sanitário
Estação de compostagem
Estação de triagem
Incineração
Locais não fixos
Outro
58
Fonte: IBGE (2011)
FIGURA 12 - Mapa de manejo de resíduos sólidos - São Paulo
A pesquisa de 2011 demonstrada no mapa indica que os aterros continuam sendo os
locais preferidos para a destinação dos resíduos, tanto os sanitários, quanto os controlados.
Percebe-se também que a maior concentração de aterros é na região metropolitana de São
Paulo e suas adjacentes, assim como a maior densidade populacional e o volume de lixo
coletado, o que causa grandes preocupações, visto que a vida útil dos aterros não acompanha
o crescimento desses índices.
Conforme já apresentado, existem dois tipos de aterros, são eles: o aterro controlado e
o aterro sanitário.
59
4.3.1 Aterro controlado
Segundo Bidone e Povinelli (1999), no aterro controlado são adotados métodos
tecnológicos de precaução durante o desenvolvimento do mesmo, como o uso da argila para
cobrir os resíduos, diminuído os riscos ao meio ambiente e à saúde pública. Considerada uma
solução compatível, ou seja, não é completamente adequada, pois grande parte dos
municípios, principalmente os menores, não possui compactadores, o que vem a ser a maior
dificuldade, sendo assim, como foi possível observar nas informações anteriores, no ano
2000, essa era a solução mais utilizada no Brasil.
Portanto, o aterro controlado é uma forma de destinação melhor do que lançar a céu
aberto, porém, não substitui o aterro sanitário.
4.3.2 Aterro sanitário
Conforme Bidone e Povinelli (1999), aterro sanitário é o nome dado a uma forma de
disposição final dos resíduos sólidos. Esta atividade é realizada de acordo com determinados
critérios de engenharia e normas específicas, garantindo o seguro confinamento dos resíduos,
de forma a minimizar os impactos sobre a saúde e o meio ambiente, conforme demonstrado
no exemplo da FIGURA 13.
60
Fonte: UNIPAC (2013)46
FIGURA 13 - Corte da seção de um aterro sanitário
No aterro sanitário os resíduos são compactados no solo e cobertos por terra ou
materiais inertes, periodicamente, formando camadas (COMPANHIA AMBIENTAL DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2013)47
.
De acordo com Araújo (2008), o aterro sanitário é constituído de duas unidades
denominadas operacional e apoio. A operacional é composta de células de lixo domiciliar, a
obrigatória impermeabilização de fundo, a opcional impermeabilização superior, sistemas de
coleta e tratamento de líquidos percolados, coleta e queima de biogás, sistema de drenagem e
afastamento de águas pluviais, sistemas de monitoramento ambiental, topográfico e
geotécnico e pátio de estocagem de materiais. Já a chamada unidade de apoio é composta por
cerca e barreira vegetal, entradas de acesso e de serviço, balança rodoviária e sistema de
controle de resíduos, guarita de entrada, prédio administrativo, oficina e borracharia.
As exigências não acontecem somente na instalação, mas também antes dela, passando
por fases indispensáveis como o planejamento do manejo de resíduos sólidos e serviço de
limpeza urbana, cuidadosa seleção da área, licenciamento ambiental e desenvolvimento de
projetos básicos e executivos.
Segundo Scarlato e Pontin (1992), mesmo que critérios como distância, estudo
hidrológico, ventos e material de cobertura e impermeabilização sejam respeitados, os aterros
46 FACULDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS – UNIPAC. Manual de operação de aterros sanitários. Disponível em: <http://www.unipacvaledoaco.com.br/ArquivosDiversos/Cartilha%20Opera%C3%A7%C3%A3o%20Aterro%20Sanit%C3%A1rio%20CON
DER.pdf>. Acesso em: 29 out. 2013. 47 Ibid, p. 55.
61
facilitam a contaminação das bacias hidrográficas e do ar da região, primeiro pela exposição à
chuva, o que facilita a infiltração de materiais no solo, e segundo, pelo odor emitido,
comprometendo a qualidade do ar.
Outra possível contaminação é a do solo, principalmente pela infiltração de resíduos
tóxicos, dentre eles, o conhecido chorume, que se desenvolve no processo de decomposição,
ou seja, no próprio aterro. Este poluente se apresenta na forma líquida, é escuro, ácido e
contém uma concentração elevada de metais pesados. Em contato com o solo ele altera a
composição química do mesmo, afeta a microflora e a microfauna, sem contar no risco de
chegar ao lençol freático.
Conforme Bidone e Povinelli (1999), o aterro propicia aos microorganismos condições
favoráveis para sua proliferação, o que pode causar, caso o controle seja falho, um grande
problema de saúde pública, por possíveis manifestações de pragas.
De acordo com Scarlato e Pontin (1992), ao ser desativado, um aterro pode ser
utilizado para construções de áreas de lazer como praças e parques, uma vez que o processo
de compactação do lixo realizado no aterro não permite a construção de edificações. Todas
essas características fazem com que os aterros se tornem um grande desafio para as
autoridades públicas que administram o espaço urbano.
Segundo Carvalho e Oliveira (2007), as áreas para instalação de aterros devem ser
escolhidas de forma criteriosa, considerando diversos pontos como a geografia do local, os
impactos ambientais que ocorrerão, dentre outros. Um ponto importante é o fato de não poder
ser instalado em áreas de proteção ambiental, porém, na região metropolitana de São Paulo,
17 dos 25 aterros sanitários estão nesta situação.
De acordo com Bidone e Povinelli (1999), fatores internos e externos como
compactação, impermeabilização, precipitação pluviométrica, variação sazonal de
temperatura da região, entre outro, implicam diretamente no desempenho do aterro e o
controle desses fatores é extremamente difícil.
Para acompanhar e controlar os fatores que permeiam o funcionamento de um aterro
sanitário são necessários constantes monitoramentos e, segundo a Faculdade Presidente
Antônio Carlos (2013)48
, a avaliação da eficiência do aterro referente ao controle ambiental e
à operação é realizada, de forma geral, através dos seguintes monitoramentos:
Monitoramento das águas superficiais;
Monitoramento do lençol freático;
48 Ibid, p. 59.
62
Monitoramento da qualidade do chorume (efluente a tratar) e do efluente
tratado;
Monitoramento dos resíduos que adentram no aterro;
Monitoramento do maciço e do sistema de drenagem superficial;
Monitoramento do sistema de exaustão e drenagem dos gases
Monitoramento da vazão de chorume.
Perante esses dados de monitoramento é possível verificar a importância da água em
todo esse sistema e para se ter uma idéia da interferência dos tecidos neste processo do aterro,
principalmente no quesito absorção de água, mostrou-se conveniente a realização de testes
que revelassem alguns dados sobre este parâmetro.
4.4 Testes de Absorção de Água do Tecido de Fibra Natural e do Tecido de
Fibra Química
A água é um item muito importante nos aterros, podendo causar diversos problemas se
não for bem controlada e monitorada, por este motivo os índices pluviométricos são
acompanhados de perto, pois essa água em excesso pode acarretar alterações no ambiente dos
aterros, além do aumento dos diversos riscos de contaminação.
Diante dos possíveis impactos do acúmulo de água nos aterros, temos o perigo
oferecido pelos tecidos, que têm como uma de suas características, a absorção de água, em
alguns mais, em outros menos, mas é um material que retém líquidos, deste modo, se o
descarte de tecidos for grande (como já constatado que sim), os aterros que recebem este tipo
de material, têm um motivo a mais para se preocuparem.
Sendo assim, realizaram-se os testes a fim de se obter uma estimativa de valores de
absorção e de alteração de massa do tecido e a aplicação desses valores caso ele esteja
disposto em um aterro. Para isso utilizou-se tecidos produzidos com as fibras mais
comercializadas atualmente, sendo o algodão, no caso das fibras naturais e o poliéster, no caso
das fibras químicas (FIGURA 14).
63
FIGURA 14 - Tecidos utilizados no teste (A - algodão e B - poliéster)
4.4.1 Materiais
Proveta de 2 litros
Proveta de 1 litro
Funil
Balança com variação de uma casa
Tecido novo de fibra natural de algodão (1,50 x 0,50)
Tecido novo de fibra química de poliéster (1,50 x 0,50)
4.4.2 Método
Colocou-se o tecido seco na balança e verificou-se a massa (FIGURA 15).
A B
64
FIGURA 15 - Balança com medida da massa do tecido seco
Colocou-se 1,5 litros de água na proveta de 2 litros (FIGURA 16).
FIGURA 16 - Proveta indicando quantidade de água utilizada
65
Submergiu-se o tecido na água e verificou-se o aumento do volume (FIGURA 17).
FIGURA 17 - Proveta com tecido imerso em água
Aguardou-se 5 minutos, retirou-se o tecido da água, segurou-se por 5 segundos,
verificou-se a quantidade de água que ficou na proveta de 2 litros e colocou-se o tecido no
funil, em cima da proveta de 1 litro (FIGURA 18).
FIGURA 18 - Tecido em funil sobre a proveta
66
Deixou-se escorrer por 5 minutos, levou-se até a balança e mediu-se a massa
novamente (FIGURA 19).
FIGURA 19 - Balança com medida da massa do tecido molhado
Realizou-se este procedimento para os dois tecidos, o algodão e o poliéster.
Uma semana depois os testes foram realizados novamente, desta vez, com os tecidos
lavados.
4.4.3 Resultados e discussões
No primeiro teste os tecidos estavam novos e sem lavagem, foram utilizados da
mesma forma que saíram da loja de tecidos.
Após os procedimentos, os resultados foram os apresentados na TABELA 5.
67
TABELA 5 - Resultados do primeiro teste
Tecido Algodão não
lavado Poliéster não lavado
Seco (g) 89,9 133,5
Molhado (g) 200,8 359,1
Absorção de água (ml) 110,9 225,6
Aumento da massa 123% 169%
De acordo com os resultados do primeiro teste, foi possível verificar que os tecidos
tiveram uma considerável absorção de água, o que fez com que os valores das massas mais
que dobrassem, o que pode-se constatar claramente na FIGURA 20.
FIGURA 20 - Resultados do primeiro teste
A figura mostra também que a absorção do poliéster, a fibra química sintética, foi
maior que a do algodão, fibra natural de origem vegetal. Além disso, conforme Albuquerque
(1987), o algodão possui a propriedade de eliminar a umidade com facilidade, ou seja, além
de ter absorvido menos água, ele tem a propriedade de eliminá-la mais rapidamente.
No segundo teste, realizado uma semana após o primeiro, os tecidos estavam com uma
lavagem simples. Após a realização dos procedimentos, os resultados obtidos foram os
apresentados na TABELA 6.
1
2,23
1
2,69
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
Seco Molhado
Cál
culo
no
rmal
izad
o d
a m
assa
em
gra
mas
Estado do tecido
Algodão não lavado
Poliéster não lavado
68
TABELA 6 - Resultados do segundo teste
Tecido Algodão lavado Poliéster lavado
Seco (g) 88,5 134,0
Molhado (g) 189,1 331,0
Absorção de água (ml) 100,6 197,0
Aumento da massa 114% 147%
Assim como no primeiro teste, os valores das massas dos tecidos também cresceram
consideravelmente com a absorção da água, e o algodão absorveu menos que o poliéster,
conforme FIGURA 21.
FIGURA 21 - Resultados do segundo teste
Utilizando o valor de 30 toneladas, conforme já mencionado sobre o descarte de
tecidos na região do Brás e do Bom Retiro, e os valores dos testes nos dois dias, pode-se fazer
a seguinte previsão de aumento de massa desses tecidos no aterro (vide FIGURA 22), caso
fossem constituídos somente dos tecidos das fibras utilizadas no experimento.
1
2,14
2,47
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
Seco Molhado
Cál
culo
no
rmal
izad
o d
a m
assa
em
gra
mas
Estado do tecido
Algodão lavado
Poliéster lavado
69
FIGURA 22 - Previsão de aumento de massa dos tecidos
Em todos os casos a massa do tecido mais que dobra com a umidade, sendo que essa
água poderia passar de forma mais rápida pelos materiais, evitando o agravamento da
contaminação da mesma se o grande volume de tecidos não estivesse presente, absorvendo os
líquidos.
O que preocupa ainda mais é que, segundo Jokura (2013)49
, o tempo de decomposição
desses dois tecidos é bem diferente: enquanto o algodão se decompõe em menos de um ano, o
poliéster demora até um século. Os dados podem variar de acordo com as condições do tecido
e do ambiente, mas de qualquer forma, a diferença entre os dois é consideravelmente grande.
Deste modo, além de a fibra química absorver maior quantidade de água, ela ainda demora
mais para se decompor, permanecendo por mais tempo nos aterros.
Diante da alta absorção de água pelos tecidos, vale apresentar mais uma projeção
onde, se for aplicada a porcentagem de absorção apresentada nos testes, nessas 30 toneladas
de tecido dispostas no aterro, é possível estimar a quantidade de água que ficaria retida nos
tecidos, conforme demonstrado na TABELA 7.
49 JOKURA, T. Quanto tempo leva para nossas coisas se decomporem? Disponível em:
<http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quanto-tempo-leva-para-nossas-coisas-se-decomporem>. Acesso em: 10 nov. 2013.
30,0 30,0 30,0 30,0
66,9
80,7
64,2
74,1
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
120,0
Algodão não lavado
Poliéster não lavado
Algodão lavado Poliéster lavado
Mas
sa e
m t
on
elad
as
Tecidos
Úmido
Seco
70
TABELA 7 - Demonstração da retenção de água
Tecido Algodão não lavado Poliéster não lavado Algodão lavado Poliéster lavado
Água retida (l) 36.900 50.700 34.200 44.100
Essa quantidade de água é muito grande, principalmente quando se sabe que o
exemplo utilizado é para valores destinados diariamente aos aterros, ou seja, se os tecidos
forem expostos à chuva ou qualquer tipo de líquido, a quantidade absorvida será alta.
Para se ter uma idéia deste volume de água, segundo Cassano (2013)50
, no município
de Campinas em 2012, o consumo de água por habitante ao dia foi de, aproximadamente, 180
litros. Sendo assim, mesmo que fosse considerado o algodão lavado, que apresentou o menor
índice de absorção, o volume de água absorvido por 30 toneladas de tecidos no aterro, após
serem expostos à grande quantidade de água, seria capaz de suprir o consumo diário de água
de 190 habitantes da cidade de Campinas.
Conforme a Universidade Federal de Santa Maria (2013)51
, uma das maiores
preocupações de um aterro instalado são os percolados, também conhecidos como lixiviados
ou chorume. Este percolado nada mais é que a parte líquida que passa por entre os resíduos
dispostos no solo, carregando todo tipo de substância que se transformará em uma potencial
carga poluidora.
Deste modo podemos verificar que a retenção de líquidos causada pelos tecidos é
bastante relevante, visto que essa aumentará o volume de líquido no processo, aumentando,
assim, o volume do chorume e também a permanência desse líquido em meio aos resíduos,
tendo a oportunidade de carregar mais substâncias e, consequentemente, aumentando o nível
de poluição desse composto poluidor.
BEATI (2013) afirma que, por outro lado, o tecido pode absorver substâncias
impermeabilizantes, como o óleo industrial, que impedirão o contato deste com a água,
dificultando e retardando o seu processo de degradação, fazendo com que a permanência
deste no solo seja maior, ou seja, aumentando seu tempo de vida e diminuindo a capacidade
do aterro (informação verbal)52
.
De forma geral, a grande preocupação acontece pelo fato de que o tecido absorve, seja
muito ou pouco, essa é uma característica deste tipo de material e como seu descarte é grande,
essa característica de absorção e o aumento do volume deste material nos aterros podem
50 CASSANO, L. Cresce 6,5% consumo de água em Campinas em 5 anos. Disponível em:
<http://www.portalcbncampinas.com.br/?p=46717>. Acesso: 10 nov. 2013. 51 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – UFSM. Estimativa da geração de lixiviados em aterros sanitários. Disponível em: <http://jararaca.ufsm.br/websites/ces/download/A12.pdf>. Acesso em 30 out. 2013. 52 André Augusto Gutierrez Fernandes Beati, em aula sobre os impactos negativos da disposição de tecidos em aterros, realizada na
Universidade São Francisco, Campinas, set. 2013.
71
alterar toda a perspectiva do local, trazendo diversos impactos, que podem ser conhecidos e
tantos outros que podem ainda ser desconhecidos, e é essa ausência de informações sobre os
possíveis problemas que podem agravar, ainda mais, a situação dos aterros (BEATI, 2013,
informação verbal)53
.
Diante dos fatos apresentados sobre o descarte nos aterros, efetuados principalmente
pelas indústrias do ramo têxtil, onde os tecidos descartados são, em sua maioria, novos, faz-se
necessário apresentar outras possibilidades de destinação que já existem e se mostram
sustentáveis e mais vantajosas que a disposição em aterros, trazendo benefícios sociais,
econômicos e ambientais.
53 Ibid, p. 69.
72
5 ALTERNATIVAS PARA A DESTINAÇÃO DOS TECIDOS
Quando o assunto é fibras naturais e fibras químicas, nos deparamos com duas
vertentes. Uma delas é a da supremacia das fibras químicas, influenciada pela tendência
mundial, onde o crescimento do consumo destas é maior que o das fibras naturais, passando a
recomendar a mudança do padrão nacional para adequá-lo ao padrão internacional,
aumentando a produção das fibras químicas. A outra se concentra no aprimoramento e
consolidação da oferta atual, na qual o país é especializado, ou seja, as fibras naturais, em
especial, a fibra de algodão.
Os defensores da primeira vertente usam como argumentos a preferência do mercado
mundial e alto nível de importação de fibras químicas, que poderiam ser bem menores ou
quase nulos se essas fibras fossem fabricadas em larga escala no país. Já os defensores da
segunda vertente, colocam as dificuldades que o Brasil enfrentaria na concorrência com a
China, que hoje é o maior produtor de fibras químicas no mundo (AGÊNCIA BRASILEIRA
DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2008).
De acordo com Pezzolo (2007), o crescimento do mercado de fibra têxteis neste século
tem sido de 3,5% ao ano, onde o algodão lidera entre as fibras naturais e o poliéster entre as
fibras químicas sintéticas. No ano de 2002 a produção de fibras de algodão e poliéster chegou
a 42,1 milhões de toneladas em todo o mundo, representando 50% de participação para ambos
na demanda geral.
Diante de todo esse crescimento de mercado, temos um descarte consideravelmente
grande de tecidos, sejam eles de fibras naturais ou químicas, cada um com suas
características, ambos trarão impactos negativos significativos ao meio ambiente se a
disposição final continuar sendo, em sua maioria, em aterros.
Desta forma, faz-se necessário identificar maneiras sustentáveis de destinação dos
resíduos gerados em toda cadeia vinculada a esse processo, de forma a garantir que o
ambiente não seja descuidado, em detrimento da produção de fibras e tecidos. As formas mais
utilizadas são a reciclagem e a reaproveitamento.
73
5.1 Reciclagem
Segundo Zonatti (2013)54
, reciclar é utilizar o material manufaturado de um novo
produto, porém com intervenção de processos químicos ou mecânicos.
Conforme Carvalho e Oliveira (2007), o maior problema apresentado com a crescente
produção de resíduos em todo o planeta, é onde colocar todo este montante. Uma das soluções
para aumentar a vida útil dos aterros, utilizando de forma mais inteligente os recursos
naturais, é a reciclagem. A reciclagem é um processo bastante conhecido onde são realizadas
a separação e a transformação do lixo para sua posterior reutilização. Entre os benefícios da
reciclagem estão: a economia de matérias-primas, a economia de energia nos processos de
produção dos reciclados, e a redução do volume de lixo enviado para os aterros.
Segundo o site Só Biologia (2013)55
, o termo reciclagem surgiu na década de 70,
quando as preocupações com as questões ambientais se tornaram maiores e mais sérias, tendo
como marco o chamado choque do petróleo, usando a reciclagem não somente como uma
vantagem ambiental, mas também como uma atividade estratégica.
Conforme Piva e Wiebeck (2004), o maior incentivo para a reciclagem de materiais
vem da necessidade de preservar e poupar os recursos naturais, assim como diminuir a
geração de resíduos, o que acarreta na diminuição dos problemas ambientais, de saúde pública
e socioeconômicos.
Somente o fato de segregar os resíduos sólidos já é um grande avanço e aumenta a
chance desses de serem destinados corretamente, o que faz da coleta seletiva uma atividade de
grande importância neste processo de reciclagem. A coleta seletiva é o processo de
recolhimento de materiais previamente segregados em sua fonte geradora, que,
posteriormente, serão triados e destinados de forma correta, tendo várias possibilidades como
a reciclagem e o reaproveitamento (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2013b)56
.
Conforme o Brasil.gov (2013)57
, a quantidade de lixo que é reciclado no Brasil
aumentou consideravelmente, passando de 5 milhões de toneladas em 2003 para 7,1 milhões
de toneladas em 2008, o que representa 13% do volume de lixo gerados nas cidades. A
movimentação neste setor de reciclagem é grande, soma, aproximadamente, 12 bilhões de
54 Ibid, p. 55. 55 SO BIOLOGIA. Reciclagem. Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/reciclagem/reciclagem1.php>. Acesso em 01 jun.
2013. 56 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Reciclagem e Reaproveitamento. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-reciclaveis/reciclagem-e-reaproveitamento>. Acesso em: 31 mai. 2013b. 57 BRASIL.GOV. Gestão do Lixo-Reciclagem. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-ambiente/gestao-do-lixo/reciclagem>.
Acesso em 02 jun. 2013.
74
reais por ano, porém, o país ainda perde cerca de 8 bilhões de reais anuais por deixar de
reciclar resíduos que são enviados a aterros ou lixões.
Os dados sobre a reciclagem, somente reforçam a importância da regularidade de
todas as etapas do processo, como a coleta seletiva, citada anteriormente, pois os resíduos que
são misturados têm somente 1% de seu volume reciclado, visto as impossibilidades
acarretadas pela mistura, já no caso dos resíduos que são corretamente separados, este índice
sobre para 70%, podendo ser ainda maior.
Em São Paulo foi criado o projeto Retalho Fashion que busca a inclusão social e a
preservação ambiental com a coleta e destinação dos tecidos descartados na região do bairro
Bom Retiro. A idéia do projeto é a contratação de pessoas que tenham esse trabalho como
meio de subsistência para realizar a coleta e a separação dos tecidos e o envio desses tecidos
para indústrias têxteis que fazem a reciclagem, evitando, assim, que este material seja
descartado nos aterros (SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE FIAÇÃO E TECELAGEM DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2012)58
.
Segundo o Recicla Brasil (2013)59
, a reciclagem é utilizada para diversos tipos de
materiais, dentre eles, os tecidos. Há algumas empresas que realizam este trabalho,
comprando as sobras de tecidos, normalmente separadas por cor.
De acordo com Wartha e Haussmann (2006)60
, em geral, o processo acontece nas
seguintes etapas: o tecido é colocado em uma máquina trituradora que reduz ao máximo o
tamanho do mesmo; em outra máquina, a este material, é adicionado o poliéster, onde
acontece a mistura e são formadas as fibras mistas; as fibras são colocadas na maçaroqueira,
onde são enroladas em uma bobina; por fim acontece o processo filatório, onde a máquina faz
os fios.
É importante notar que nestes processos de reciclagem o tecido volta a ser a matéria-
prima do seu próprio processo, ou seja, entrando novamente no processo de industrialização,
o que oferece às indústria têxteis uma grandiosa oportunidade de prover benefícios para a
empresa e também para o meio ambiente.
Uma empresa que realiza este trabalho, desde 2004, na região de Campinas é a
EcoSimple (2013)61
, que considera que seu processo tem importância ambiental, pois evita
que uma parte dos tecidos e das garrafas PET sejam descartadas em aterros, e social, pois
58 Ibid, p. 53. 59 RECICLA BRASIL. Tecidos Reciclagem. Disponível em: <http://reciclabrasil.net/tecido.html>. Acesso em: 25 ma. 2013. 60 Ibid, p. 51. 61 ECOSIMPLE. Tecido com 100% consciência. Disponível em: <http://www.ecosimple.com.br/>. Acesso em 20 set. 2013.
75
contrata pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza para realização do trabalho de
separação, dando a elas uma condição de vida mais digna.
A empresa orgulha-se de manter um processo unicamente mecânico na reciclagem dos
tecidos, sem adição de químicos, pois os tecidos são separados por cor, sendo aproveitadas as
cores naturais das fibras. Depois dessa separação, os mesmos passam pelos processos de
moagem e desmanche, limpeza e transformação em polímero e fiação e tecimento, formando,
assim, um novo tecido. As aparas descartadas na produção voltam para o início do processo.
Os tecidos desenvolvidos atendem empresas que os utilizam para fabricação de
roupas, sapatos, sacolas, estofados, entre outros produtos.
Assim como a EcoSimple, várias empresas realizam a fabricação de tecido através da
reciclagem de garrafas PET (Polietileno Tereftalato). Segundo Bastian et al. (2009), o
destaque nessa gama de fibras sintéticas vai para o poliéster, utilizado cada vez mais pelo
setor têxtil, sendo ele produzido através da matéria-prima virgem ou de garrafas plásticas
recicladas. Diante disso, a cadeia têxtil, em especial a produção do poliéster, possui grande
importância no cenário da reciclagem de PET, conforme pode ser analisado na TABELA 8.
TABELA 8 - Reciclagem de PET para a indústria têxtil
PET Reciclado
Total e PET
Reciclado
(toneladas)
Destino para a
cadeia têxtil
(toneladas)
Representatividade da
cadeia têxtil neste
mercado de reciclagem
1º Censo – 2004/2005 167,0 61,9 37,1 %
2º Censo – 2005/2006 174,0 74,8 43,0 %
3º Censo – 2006/2007 194,0 77,6 40,0 %
4º Censo – 2007/2008 231,0 116,6 50,5 %
5º Censo – 2008/2009 253,0 96,1 38,0 %
6º Censo – 2009/2010 262,0 102,1 39,0 %
7º Censo – 2010/2011 282,0 106,5 37,8 %
8º Censo – 2011/2012 294,0 117,3 39,3 %
9º Censo – 2012/2013 331,0 125,7 38,0 %
Fonte: ABIPET (2013)62
62 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA PET - ABIPET. Censo da Reciclagem de Pet no Brasil. Disponível em:
<http://www.abipet.org.br/index.html?method=mostrarDownloads&categoria.id=3>. Acesso em: 12 set. 2013.
76
Outra possibilidade de reciclagem do tecido é o uso do mesmo para a fabricação de
papel. A TRN Papéis (2013)63
deu o nome de guarnisan para o papel fabricado com a mistura
de fibras de tecido e celulose. No processo são utilizados fios de 3mm, que custam
R$10,00/kg e a mistura é feita na proporção de 60% de fibras de tecido e 40% de celulose.
Atualmente os tecidos utilizados são o jeans, utilizados na fabricação de palmilhas e o
algodão, utilizado na fabricação de pastilhas repelentes. O poliéster ainda não é utilizado, mas
é considerado um tecido promissor, por sua maleabilidade.
Segundo Zonatti (2013)64
também é possível utilizar as fibras descartadas em misturas
com compósitos de resina. Em seu estudo foi constatado o aumento da resistência e
tenacidade dessas placas de resina, quando as fibras são misturadas à sua composição.
Algumas bijuterias foram confeccionadas para demonstração do material, conforme
FIGURAS 23 e 24, porém o autor deixa claro que o uso das placas não se restringe, em
hipótese alguma, a este fim.
Fonte: Zonatti (2013)65
FIGURA 23 - Bracelete de compósito de resina e fibras de tecido
Fonte: Zonatti (2013)66
FIGURA 24 - Brincos de compósito de resina e fibras de tecido
63 TRN PAPÉIS. Papel Guarnisan. Disponível em:
<http://www.trnpapeis.com.br/index.php?route=product/product&path=87&product_id=75>. Acesso em 01 nov. 2013. 64 Ibid, p. 55. 65 Ibid, p. 55. 66 Ibid, p. 55.
77
Embora a reciclagem seja um processo com intervenções químicas ou mecânicas,
conforme citado anteriormente, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2013a)67
, outra
forma de reciclagem dos tecidos é a compostagem. Essa é uma técnica onde os resíduos
orgânicos são transformados em adubo. É um processo biológico que acelera a decomposição
do resíduo. Sobras de alimentos, cascas, podas de jardim e tecidos estão na gama desses
resíduos que podem passar pelo processo de compostagem.
Os tecidos que podem ser utilizados são os de fibras naturais, principalmente o
algodão e, mesmo assim, de forma moderada para não comprometer o processo de
compostagem (WIKIHOW, 2013)68
.
Este processo possibilita que os nutrientes sejam recuperados e voltem ao seu ciclo
natural, adubando o solo. Além de ser uma maneira simples de reciclagem por parte do
consumidor final, outra vantagem importante é a redução dos resíduos enviados para aterros,
deixando de acumular chorume e emitir odores desagradáveis e gases nocivos, como o
metano (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2013a)69
.
Muitas são as possibilidades de reciclagem dos tecidos, assim como também esse
material pode ser reaproveitado de várias formas.
5.2 Reaproveitamento
Além da reciclagem há também o processo de reaproveitamento que, necessariamente,
já acontece depois deste processo, por ser considerado que o material é reaproveitado após a
sua reciclagem, porém, em sua real definição, este termo é utilizado para materiais que são
reutilizados sem que tenham passado por algum processo de transformação, químico ou
mecânico, sendo assim, é bastante realizado pela população (PIVA; WIEBECK, 2004).
Desta forma, este processo permite que o tecido seja reutilizado sem passar pelas
etapas de um processo de reciclagem. Segundo o Peculiarizar (2012)70
, há diversas formas de
reaproveitar os tecidos nas próprias residências e entre as idéias de reaproveitamento estão a
forração de objetos como envelopes, abajures (FIGURA 25), cartões, latas, entre outros, a
67 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Compostagem. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/component/k2/item/7594>. Acesso em: 20 set. 2013a. 68 WIKIHOW. Como criar um sistema de compostagem. Disponível em: <http://pt.wikihow.com/Criar-um-Sistema-de-Compostagem>.
Acesso em: 10 nov. 2013. 69 Ibid, p. 75. 70 PECULIARIZAR. 15 ideias de reaproveitamento com tecido. Disponível em: <http://peculiarizar.com/2012/11/15-ideias-de-
reaproveitamento-com-tecido.html>. Acesso em 02 jun. 2013.
78
produção de acessórios como colares, bolsas e carteiras e a produção de almofadas, jogos
americanos, roupas e tapetes.
Fonte: Dicas de mulher (2013)71
FIGURA 25 - Abajur emcapado com tecido
Segundo Zonatti (2013)72
, o reaproveitamento é também bastante utilizado em
trabalhos como o patchwork (FIGURA 26) e o fuxico (FIGURA 27), técnicas artesanais
difundidas por cooperativas e organizações não governamentais ligadas ao setor de têxtil e
moda.
Fonte: Culturamix (2013b)73
FIGURA 26 - Almofada de retalhos em patchwork
71 DICAS DE MULHER. Como renovar o seu abajur. Disponível em: <http://www.dicasdemulher.com.br/como-renovar-o-seu-abajur/>.
Acesso em: 19 nov. 2013. 72 Ibid, p. 55. 73 CULTURAMIX. Como fazer almofadas de retalhos. Disponível em: <http://artesanato.culturamix.com/flores/decoracao/como-fazer-
almofadas-de-retalhos>. Acesso em: 19 nov. 2013b.
79
Fonte: Culturamix (2013a)74
FIGURA 27 - Fuxico
Na indústria, um exemplo de reaproveitamento é o projeto social realizado pela
empresa Volkswagen. Segundo a Revista Marie Claire (2011)75
, a empresa mandava para
aterros cerca de 15 mil toneladas de tecidos dos uniformes utilizados pelos funcionários e, a
partir de 2009, passou a enviá-los para reaproveitamento no projeto Costurando o Futuro, uma
iniciativa da própria empresa com o apoio da prefeitura de São Bernardo do Campo, em São
Paulo, que capacita mulheres em situação vulnerável perante a sociedade.
Nos três anos de projeto a empresa deixou de enviar para aterros sanitários cerca de 31
mil toneladas de tecidos, que agora não são somente dos uniformes, mas também das partes
internas do carro, como estofados e tapeçaria. Os fornecedores da Volkswagen também
passaram a enviar sobras de tecidos para o projeto, que tem em sua linha mais de 30 itens
produzidos a partir de reaproveitamento de tecido, dentre eles, mochilas, bolsas, almofadas,
estojos (FIGURA 28), entre outros.
Fonte: Tecoste (2013)76
FIGURA 28 - Estojos de tecidos da indústria automobilística
74 CULTURAMIX. Artesanato com fuxico. Disponível em: <http://www.culturamix.com/artesanato/artesanato-com-fuxico >. Acesso em:
19 nov. 2013a. 75 REVISTA MARIE CLAIRE. Em vez do aterro, a máquina de costura: Volkswagen reaproveita 31 toneladas de tecido em projeto
social. Ed. Globo. Versão digital. Reportagem 24 out. 2011. Disponível em:
<http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI274005-17737,00-EM+VEZ+DO+ATERRO+A+MAQUINA+DE+COSTURA+VOLKSWAGEN+REAPROVEITA+TONELADAS+DE+T.html>. Acesso
em: 05 out. 2013. 76 TECOSTE. Estojoss. Disponível em: <http://www.tecoste.com.br/estojos>. Acesso em: 05 out. 2013.
80
Atualmente, o projeto se tornou uma empresa, aberta e gerida pelas próprias
costureiras do projeto. Os produtos são comercializados em grande escala e elas não
dependem mais da Volkswagen que, até então, era a principal compradora dos produtos e hoje
é uma das principais apoiadoras.
Todos os processos de reciclagem e reaproveitamento apresentados, assim como
tantos outros que podem existir, são alternativas sustentáveis para a destinação dos tecidos,
aumentando sua vida útil e impedindo, ou retardando, a disposição dos mesmos em aterros.
81
6 CONCLUSÃO
Durante o levantamento bibliográfico, foi possível evidenciar que a história dos
tecidos permeia a história da evolução humana, desde os primórdios da humanidade, até os
dias atuais. No início foram as descobertas das fibras naturais que alavancaram esse mercado,
onde cada fibra que era descoberta representava um grande marco e abria uma nova gama de
possibilidades. Aos poucos surgiram as fibras químicas, inicialmente as artificiais e depois as
sintéticas, o que mudou completamente o mercado de fibras, fios e tecidos. Essa evolução se
deu, principalmente, por fatores como o desenvolvimento tecnológico e o aumento da
demanda de tecidos por parte da população mundial.
Historicamente, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das fibras possibilitaram que
as características das fibras naturais fossem reproduzidas e melhoradas quimicamente, o que
colaborou muito com o alavancar das fibras químicas e da indústria têxtil, que também contou
com a evolução de seus equipamentos principais, como a roca de fiar e o tear. Além dos
tecidos de fibras químicas, foram desenvolvidos também os não tecidos, porém essas criações
não diminuíram a importância dos tecidos de fibras naturais no mercado.
Atualmente o consumidor final está cada vez mais exigente e o dinamismo na oferta
de produtos é crescente. Para atender às exigências dos consumidores e continuar sendo
competitivo diante da alta demanda, é necessário ser eficaz e eficiente, desenvolvendo novas
tendências, novas coleções, lançando o produto de forma satisfatória, ou seja, trazendo novas
peças a cada estação ou modernizando peças antigas, de forma a atrair os consumidores às
compras, fazendo da indústria têxtil um forte nicho da economia mundial.
Contudo, diante do alto nível de produção, há também a grande quantidade de
desperdícios e descartes dos tecidos. O lixo, de forma geral, já se mostra um problema a nível
mundial, onde sua produção está aumentando a cada dia, principalmente em grandes cidades
como São Paulo, onde a descartabilidade é muito grande.
Foi possível observar que todo esse cenário caótico do lixo teve início, principalmente,
após a revolução industrial, quando a produtividade passou a ser prioridade e cresceu de
forma inimaginável até então. No passado, a geração de lixo era menor, principalmente na
época dos nômades, que deixavam o ambiente se recuperar dos descartes realizados em sua
terra, principalmente porque a geração era de resíduos orgânicos, que possuem um ciclo de
vida bem menor comparados aos outros.
82
Obviamente, os impactos negativos causados pelo lixo não são somente ambientais,
passam também por questões econômicas e sociais, tornando-se um problema de ordem
pública, principalmente quando o assunto gira em torno dos problemas de saúde associados ao
lixo e sua disposição, muitas vezes indevida. De qualquer forma, o crescimento da produção e
o aumento da geração de resíduos fazem parte do processo de desenvolvimento e com a
indústria têxtil não é diferente.
O descarte de tecidos acontece em toda sua cadeia e ciclo de vida, desde as fibras até o
produto final, ou seja, não se restringe à área industrial, ao contrário, se prolonga até o
consumidor final, entretanto, o maior descarte acontece na indústria, com ênfase nas fábricas
de vestuários, onde os índices de desperdícios e descartes são bem altos. Destaque para as
famosas regiões de São Paulo que geram um grande volume de resíduos de tecidos em suas
confecções e os destinam, em sua grande maioria, para aterros.
A destinação para aterros, conforme dados apresentados ao longo deste trabalho, é a
mais utilizada para todos os tipos de resíduos em todo o Brasil. Este local precisa de cuidados
especiais, seja para aterros controlados ou sanitários, além de rigorosos estudos para sua
instalação e desinstalação, visto que possui vida útil, não podendo ser utilizado para sempre, o
que se torna mais um problema, pois é um local que demanda grande espaço de terra, algo que
também está escasso, principalmente quando a finalidade é a construção de um aterro.
Como não poderia deixar de ser, os impactos negativos também existem nos aterros,
podendo haver, dentre outros problemas, contaminações de ar, solo e água, onde se destaca a
produção do chorume, um líquido que tem alto potencial poluidor e é formado do próprio lixo
do aterro. Sendo assim, é preciso garantir o monitoramento de diversos parâmetros de um
aterro, em especial no que diz respeito à quantidade de água que entra e que sai dos resíduos e
a destinação dada a esses líquidos.
Embora os tecidos não sejam os resíduos que mais demoram a se decompor, uma
característica importante destes materiais é a absorção e, consequentemente, a retenção de
líquidos e esta vem a ser a maior preocupação com a destinação de tecidos para os aterros,
pois essa característica pode interferir em todo o sistema deste local, visto o aumento da
quantidade de água, que é grande.
Uma estimativa deste aumento foi dada com a realização de testes laboratoriais com
tecidos de fibras naturais e químicas, de forma que, expostos à grande volume de água, esses
pudessem demonstrar seu nível de absorção, dando uma perspectiva de como seria, caso este
tipo de tecido estivesse em um aterro e, conforme esperado, a absorção foi grande, indicando
83
que, com a presença de tecidos, os aterros terão um nível maior de água, consequentemente,
de líquidos percolados.
Como consequência foi possível constatar alguns pontos negativos, como a grande
quantidade de água que, ao invés de passar mais rapidamente pelos resíduos, fica retida nos
tecidos, sendo exposta por mais tempo aos contaminantes e a absorção de líquidos
impermeabilizantes que, por sua vez, devem retardar a decomposição desses tecidos. Sem
contar no aumento do volume de fibras químicas, devido à sua crescente produção, e como
seu tempo de decomposição é maior, ela deve ficar e absorver água por mais tempo nos
aterros.
Além dos impactos negativos constatados, é preocupante o fato de que não se
encontrou estudos que afirmem e comprovem categoricamente todos os possíveis impactos
que o aumento da água pode gerar, deixando um sinal de alerta sobre este assunto e suas
nuances, cujas consequências podem causar surpresas nada agradáveis.
Em contrapartida, assim como o desenvolvimento industrial, os conceitos mudam e
evoluem com o tempo. Atualmente, a preocupação da sociedade com o meio ambiente é
grande e este sentimento acaba refletindo nas organizações. Neste sentido, as novas
alternativas para destinação dos tecidos têm sido criadas e utilizadas evitando, assim, os
possíveis impactos que esses tecidos ocasionariam em um aterro.
Foi possível observar que as alternativas mais utilizadas para a tratativa dos tecidos
são a reciclagem e o reaproveitamento. A primeira utilizando de processos químicos ou
mecânicos, transformando o tecido em um novo tecido ou em novos materiais como papéis e
compósitos, ou biológicos, no caso da compostagem. A segunda, que se mostra mais simples
por não passar por transformações como as da reciclagem, sendo mais acessível ao
consumidor final, que pode reaproveitar os tecidos através de artesanatos, assim como para
indústrias, que podem disponibilizar o tecido que seria descartado para empresas que
reutilizam esses materiais, gerando nova fonte de renda.
É evidente que, além das medidas apresentadas neste trabalho, muitas outras devem
existir no país, assim como no mundo, de forma a evitar que os tecidos sejam enviados aos
aterros, diminuindo sua vida útil e causando situações adversas.
O sucesso das inúmeras soluções para reduzir a quantidade de tecidos enviada aos
aterros depende da disponibilização de serviços de reciclagem e reaproveitamento, coleta,
incentivos a essas ações e disponibilidade das indústrias, assim como da sociedade em geral,
de forma a tornar essas alternativas cada vez mais viáveis.
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Portanto, é possível concluir que os impactos negativos da disposição de tecidos em
aterros existem e são preocupantes, porém, é possível que sejam utilizadas alternativas mais
sustentáveis para a tratativa dos tecidos, sendo esses reciclados ou reaproveitados, evitando a
destinação para aterros.
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