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N.° 526 - 9 DE NOVEMBRO DE 1980 - 15,00 MT N.° 526 - 9 DE NOVEMBRO DE 1980 - 15,00 MT MAPUTO - IEPIOBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE ANGOLA cnInco ANOS DEPDIS A TE M PO IýCRI-r'iRLTICE>'E VENDA -DE E SPAIýZO- AGr0RCA ANut,3CIAFt NA -TEMP0 .6ý ^o ALCANCE biýýDE TOPOS. -ýj ru^ S OL Iss i 010.A c > c P J.Å 0 5 5 EN-rENDE COMO VM 5 INVF- STIMýN'r0 PARA OSTER GRANDEs-LucRo QARAN TiA 1>^ p4t fo,) P ISTRIBUtCA0 P05 ODUTOS FELD fOV Å PRODUCA0 A C> SERVIG0 DO 4, P, Po V C> é4 rulBUCUDAPE AlP*l 0 Biblioteca do Tempo Arq. Hist, de o DIRECTOR Mia Couto. -Coa CHEFE DA REDACÇÃO Albino Magaia. REDACÇÃO Sol de Carvalho, Calane da Silva, Alves Gomes, Areosa Pena, Orlando Mendes, Arlindo Lopes, Luís David, Ofélia Tefnbe, Bartolomeu Tomé Antórtio Marmelo, Fátima Albuquerque, Filipe Mata FOTOGRAFIA Kok Nam, Danilo Guimarães, Naíta Ussene, Albérto Muianga, Domingos Elias. MAQUETIZAÇÃO Eugénio Aldasse. SECRETARIA DA REDACÇÃO Velemina Malendzele, Aiate Adamo, José Maposse. COLABORADORES João Craveirinha (Desenho), Frederico Lopes (Desenho), Miguel Magalhães (Desenho), Jorge Mano (Desenho), Domingos Lydia (Desenho), Armindo Afonso (Fotografia), Yussuf Adam (Internacional), Felisberto Tinga (Internacional).
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Jan 30, 2023

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Khang Minh
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N.° 526 - 9 DE NOVEMBRO DE 1980 - 15,00 MT

N.° 526 - 9 DE NOVEMBRO DE 1980 - 15,00 MTMAPUTO - IEPIOBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUEANGOLA cnInco ANOS DEPDIS

A TE M POIýCRI-r'iRLTICE>'E VENDA-DE E SPAIýZO- AGr0RCA ANut,3CIAFt NA -TEMP0.6ý ^o ALCANCE biýýDE TOPOS. -ýjru^ S OL Iss i 010.A c > c P J.Å 0 5 5 EN-rENDE COMO VM 5 INVF-STIMýN'r0 PARA OSTER GRANDEs-LucRoQARAN TiA 1>^p4t fo,)P ISTRIBUtCA0 P05 ODUTOS FELD fOVÅ PRODUCA0A C>SERVIG0 DO 4, P,Po V C>é4rulBUCUDAPEAlP*l 0

Biblioteca doTempo Arq. Hist, de oDIRECTORMia Couto. -CoaCHEFE DA REDACÇÃOAlbino Magaia.REDACÇÃOSol de Carvalho, Calane da Silva, Alves Gomes, Areosa Pena, Orlando Mendes,Arlindo Lopes, Luís David, Ofélia Tefnbe, Bartolomeu Tomé AntórtioMarmelo, Fátima Albuquerque, Filipe MataFOTOGRAFIAKok Nam, Danilo Guimarães, Naíta Ussene, AlbértoMuianga, Domingos Elias. MAQUETIZAÇÃOEugénio Aldasse.SECRETARIA DA REDACÇÃOVelemina Malendzele, Aiate Adamo, José Maposse. COLABORADORESJoão Craveirinha (Desenho), Frederico Lopes (Desenho), Miguel Magalhães(Desenho), Jorge Mano (Desenho), Domingos Lydia (Desenho), Armindo Afonso(Fotografia), Yussuf Adam (Internacional),Felisberto Tinga (Internacional).

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REVISÃOGuilherme Morbey, Getúlio- Tembe.ARQUIVOManuela Braga, Narcésia Massango, Belmira Langa.CORRESPONDENTES INTERNACIONAIS:Augusta Conchiglia (Angola), Jane Bergeroi (Nami.bia e Africa do Sul), Harry Boyte (Estados Unidos).Tony Avirgan (Tanzania), Beatriz Bíssio (Brasil).COLABORAÇÃO EDITORIAL:Tercer Mundo, Guardian (N.Y.).AGENCIAS:Agência de Informação de Moçambique (AIM), Prensa Latina, ANOP, Novosti.ADMINISTRADOR /jMário Sevene. .CHEFE DAS OFICINASJorge- Manhique.Endereço Postal: Av. Ahmed Sekou Touré, 10 1C. P. 2917 - Telefones: 26191/2/3Telex n.o 6.486 TEMPO MOREPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUEPreço: Moçambique 15,00MT - Angola 40 KwanzasPortugal 50$00ASSINATURAS:Pr9víncia do Maputo, Gaza e Inhambane: 1 Ano (52 números) 940,OOMT; 6meses (26 números) 470,OOMT; 3 meses (13 números) 235,OOMT. Outrasprovíncias, por via aérea: 1 Ano (52 números) 1,170,OOMT; 6 meses (26números) 585,OOMT; 3 meses (13 números) 295,OOMT. O pedido de assinaturadeve ser acompanhado da importância respectiva.k~e ýýEDIÇÃO N.O 5209 DE NOVEMBRO 1980CAPA:Foto de Ricardo RangelTempo nacionalVamos apanhar caju! - Semana deamizade Moçambique-URSS. Ensino primário: Novas disposições paramatrículas. - Reactivar o trabalho dos Grupos de Vigilância. - Sindicatosafricanos: Congresso vital em Mogadíscio .......4Chiango: Flores que murcham ...... 8Agua e saneamento: Um problemaà escala do mundo ............ 17Marco/80: Cachorros quentes semm ostarda ... ... ... ... ... ... 22Tempo internacionalAngola: Cinco anos de independência ........... ... ... ... ... . 26

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Namíbia: Uma economia colonial ... 32 Zâmbia: História de um golpe fracassado... ... ... ... ... ... .... ... 36Movimento religioso é alvo do apartheid ... ... ... ... ....... ... .. .0Estados Unidos: Africa Austral e a campanha eleitoral ............ 42Nicarágua: Poder popular consolida-se ... ... ... ... ... ... ... ... 44Revolução de Outubro: - 63 anosdepois .... ... ... ... ... ... ... 48Tempo culturalPoesia: Vozes desvendadas ......... 56Conto: O tempo que passou de umacriança .......... ........ 59Ku Lima: Expressão moçambicana ... 60o !j

Tempo 1 nacionalA SEMANACOGROPA:EMPRESA DA CIDADECOGROPA. Um nome bem. onbecid» da população. úm nome,. infelizmente, nãomuito popular devido ãs deficiências de funcionamento nele detectadas napresente ofensiva.A delegação provincial da COGROPA em Maputo passou a ser estrutura ,Conselho Executivo da Cidade. A medida enquadra-se na preparação do novosistema de abastecimento que entrará em vigor nos fins do corrente ano. Terâcomo missão abastecer 640 retalhistas, d, entre eles'Lojas do Po'o, cooperativas,supermercados e privados. 0 abastecimento que fará será circunscrito aos Qnzeprcduto quo constarão dos cartões nomeadamente açúcar, óleos, cereais, produtosde limpeza e outros.Esta decisão é fruto d,<, trabalho queo Ministério do Comércio Interno tem vindoa realizar para melhor cumprir a sua mis ão. Com a meidida a COGROPAprovincial, que era uma empresa estatal, transfere para uma -outra rede degrossistas o contrôle e distriluição dos , produtqs não abrangidos pelo novosistema de abastecimento.A integração da COGROPA provincial no Conselho, Executivo, aumenta asresponsabilidades, desta última estrutura. E a COGROPA é um organismosensível. Sensível porque se pretende que'a mudança não seja apenas umamudança de nomes mas também uma mudança de métodos. Aqui residi a questãocentral pois que um co viciado pode vir a contaminar os novos organismos detutela se esta questão for descuradia.Mas esta transferência já posta em prática, é prova de que as' orientações traçadasípelo, Partido eatão a aer cumpridas e que a batalha dos abastecimentos é umapreocupação asu a pelas entidades que directa ou indirectamente interferem noramo.,MENSAGENS DO 'PRESIDENTE SAMORAA NYERERE E A CHADLI BENJEDID

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O Presidente Samora Machel ,eniou ao seu homólogo da República Unida daTanzania uma mensagem de felicitações-Pela sua recente vitória eleitoral. O dirigente moçambica* no diz a propósito: «asua vitória eleitoral que festejamos com alegria e emoção, garante-nos acontinuidade do engajamento da Tanzania na luta comum pela libertação total daAfrica, pela paz e justiça e pelo estabelecimento na nosse zona de uma exemplarcoperação regional».O Presidente Nyerere foi reeleito para o cargo da direcção doEstado, por mais um mandato de cinco anos. O Presidente da República Popularde Moçambique tamPCUS OFERECE ÇINCO MIL LIVROSCinco mil livros foram oferecidos no passado dia 30, ao fPartido FRELIMO, peloPartido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A ofertaconstituída essencialmente por clássicos do Marxismo-Leninismo e outros livrosde estudo, foi recebida por José Luís Cabaço,. memCOOPERAÇÃO COMUm acordo de cooperação entre os Caminhos de Ferro de Moçambique e da Indiafoi assinado recentemente, segundo informou o Ministro dos Trans, portes eComunt'cações, Alcân-bém enviou uma mensagem de saudações ao Presidente da República da Argélia,Chadli Benjedid, por ocasião; do 26.o aniversário do início da luta armadanaquele país. Sublinha-se a dado passo da mensagem que «as conquistas darevolução argelina são o resultado do primeiro de Novembro de 1954, são oresultado da determinação do Povo argelino, sob a direcção do Partido FLN, empegar em armas contra o colonialismo para construir ele próprio o seu futuro, parareafirmar a sua personalidade abafada durante os longos anos de dominaçãoestrangeira».]bro do CC do Partido FRELIMO e Ministro da Informação, numa cerimóniarealizada na Sede Nacional do P a rt i d o. Aquela dirigente disse na ocasião, queos livros serão distribuídos pelas bibliotecas e centros de formação do Partido, nosdiversos pontos do País.A íNDIAtara Santos que regressou há-dias daquele País. Foi também estudada a possibilidade de formação de quadrosnacionais na India.O Ministro disse serem vas-TEMPO - 9-11-80

tíssimas as áreas de cooperação entre Moçambique e a in. dia. De imediato foramencontrados campos concretos de cooperação nos sectores dos Caminhos deFerro, Agrícultu-ra, Construção Naval e Navegação.Éã de referir também duranteesta visita a oferta de arroz. e medicamentos para apoio às vítimas da seca emMoçambique. ODOIS ACORDOS ENTRE MOÇAMBIQUE E PORTUGALa Lei 12/79 que regula a sua criação, visa proteger o Segredo Estatalrelativamente a todos os documentos contendo dados e informações clas.

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sificadas. O documento refere que são Consideradas informações todas aquelasque contém dados ou informações militares, políticas, económicas, comerciais,científicas, técni"cas ou quaisquer outras cuja divulgação ponha 'em causa,prejudique ou perturbe a Se, gurança do Estado e do Povo ou a economianacional.Na aBertura do Seminário o Presidente da Comissão, Jacinto Veloso, introduziuos parti-cipantes no assunto salientando que do encontro sairão com certeza com uma idei,comum do que significa protecção do segredo, porque é que certa informaçãodeve ser pro. tegida e como é que Poatpriormente irão t'abalhar para ue esse tipode informação sejwapenas veiculada nos canais impróprios. Ressaltou na suaintervenção a acção do inimigo neste processo e a necessidade de uma melhororgani. zaçio para que ele não tenhaacesso a certo tipo de informação que é vital para o desenvolvimento do País.EIMomento em que se procedia à assinatura do acordo entre oBanco de Moçambique e o Banco de PortugalUm acordo entre o Banco de Moçambique e o Banco de Portugal foi aspinado nopassado dia 30 de Outubro O acordo abarca o financiamento e equipamento,matérias-primas e subsidiárias para a economia nacional, bem como a respectivaassistência técnica. A delegação, que para o efeito esteve em Moçambique,chefiada por Rui Vilar, Vice.Governador do Banco de Portugal, foi recebida peloMinistro das Finanças da RPM, Rui Baltazar e pelo Ministro-Gover.SEMINÂRIO SOBRE SEGREDO ESTATALRealizõu-se na passada quarta e 'quinta-feiras nas instalações do Governo daProvíncia do Maputo, o Primeiro Seminário sobre Protecção do Segredo Estatal,cuja sessão denador do Banco de Moçambi. que, Sérgio ,Vieira.Também no domínio da Informação foi assinado um memorando que abrecaminho para a cooperação entre Moçambique e Portugal em vários domínios. Odocumento foi es. sinado no passado dia 3 em Maputo, pelo substituto do DirectorNacional da Informação, Leite de Vasconcelos e o Adjunto do Gabinete doSecretário de Estado da Comunicação Social de Portugal, Lobo Coelho.oabertura foi presidida ~'Ministro da Segurança Jacinto Veloso na qualidade dePresidente da Comissão para a Im-' Plementação do Segredo Estatal. EstaComissão liegundoCOSTA DO SOL ICAMDIAfn LIA f,,í,=m -,O Costa do Sol sagrou-se no passado domingo, campeão nacional de fubol de1980, título que conquista pela segunda vez consecutiva. O Textáfrica doChimoio é o novo vice-cmpeão nacional e o Desportivo de Maputo ocupa o lugarnúmero três da classificação. Ao conquistar o título, o Costa do Sol aguarda agoraa sua participação nas competiÇes africamas. (Na foto, a equipa do Costa do Sol)TEMPO - 9-11-80

Tempo

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nacionalACTUALIDADVamos apanhar caiu!* Conselho Coordenador de Abastecimentosdivulga decisõesPara assegurar o êxito da campanha de comercialização da castanha de caiu de1980/81, foram tomadas importantes medidas entre as quais a fixação de novospreços a uraticar pelos intervenient4>5 aos diversos níveis, passando o preço decompra de 3,50 MT para 5,00 MT (cinco meticais). Foram t bém j distribuídasalgumas carrinhas e camiões aos armazenistas, comerciantes e cooperativas deconsumo, com vista a aumentar a sua capacidade de compra e de escoamento.A importância das campanhas de apanha e comercialização da castanha de caju navida do Povo moçambicano, já que é através d,ilas que milhares de cidadãosobtêm produtos e artigos essenciais de que necessitam para a sua viJa diária, éposta em destaque na Resolução nY 1/80 do Conselho Coordenador dí,Abastecimentos, adoptada no passado dia 3. contenio importantes decisões sobreo assunto.É igualmente posto em 2,2staque a intima ligação entre a comerciaização dacastanha e o abastecimento, dado que o caju contribui decisivamente para se obterno exterior as divisas necessárias que permitam aumentar continuamente aprodução, única forma segura de resolver os problemas de abastecimento que oPais enfrenta. Por outro lad,, «a roupa e a comida necessária à vida do Povo nãosão ainda produzidas em quantidades suficientes no nosso Pais. ]g precisoimportar e o caiu é um 4-3s maiores suportes das nossas importações dos produtosde abastecimento e dos equipamentos ne4cessários à Agricultura, Construção e Indústria". Desta forma, quanto maior for aquantidade de cstanha comer,ializad,í maior será à capacidade de realizar osprojectos que o de-senvolvimento do Pais exige, pelo que torna-se imperoso defender a valorizar ocaju e desenvolver todas as acções que visem o aumento das quantidadescomercializadasp.Na sua prparação, organização e no contrôle da sua execuçao resUie,fundamentalmente, o êxito da campanha de comercialização. É dentro d,ýstaperspectiva que se inserem as medidas já tomadas, quanto à fixação de preços dedistribuição de meios di, transporte, sem esquecer, contudo que uma boa ecorrecta organização a nível local é condição para o sucesso da campanha.Dada a importância nacional da presente campanha de apanha e comercializaçãoda castanha dicaiu e a sua intima ligação com o problema dos abastecimentos, aComissão Coordenadora do Abastecimento decidiu que a nível central a mesmaserá idinamizad a e coordenada pelo Secretário de Estado d9 Caju que para oefeito trabalhará em íntima ligação comCamponeses apanhando castanha de caJu. A partir deste ano sobe o preço porquilo TEMPO - 9,11-80

as seguintes estruturas: COselho de Coordenação do Abastecimento (C.C.A.),Ministério do Comércio Interno (M.C.J.), Ministério dos Portos e Transportes de

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Superfície (M.P.T.S.), Banco di- Moçambique (B.M.) e OrganizaçõesDemocráticas de Massas (O.D.M.).A nível provincial, a responsabilidade do sucesso da campanha cabe aosGovernos Provinciais que, através das,Direcões Provinciais, devem assegurar asua organização e dirèeção competindo-lhes, para o efeito:a) Acelerar a organização dasestruturas intervenientes nacampanha e definir tarefas concretas para cada umadelas;b) Desencadear e desenvolverum amplo trabalho de mobilização das populações para que participemactivamentena campanha; ~e) Mobilizar e apoiar as empresas estatais, cooperativas e comerciantes maisactivos na compra e escoamento dacastanha;d) Garantir que os condutorese todos ýos transportadores utilizem correctamente as viaturas destinadas àcampanha, de forma a obterem a melhor rentabilidade possível;e) Garantir que, no seio das Assembleias do Povo e Conselhos ExecutivosDistritais, Organizações Democráticas.de Massas, Grupos Dinamizadores e outras estruturas, sejam discutidas eprogramadas tarefas concretas de apanha e comercialização dacastanha de caju;f) Desencadear uma campanhade Emulação Socialista de apoio à apanha e comercialização da castanha de caju,com vista a premiar os diferentes intervenientes q u emais se distinguirem.O mesmo documento afirma que os Governos Provinciais deverão, por isso,desenvolver todos os esforços para que:- Nenhum castan fique porapanhar- Nenhuma castanha fique porvenderTEMPO - 9-11-80Nenhuma castanha fique portranspórtar.E, concluiu, com a seguinte exortação:Apanhar, vender e transportar a Castanha de caju é lutar eficaz-mente para vencer a fome, a miséria, a nudez, a ignorância.Apanhar, vender e transportar toda a castanha, é contribuir decisivamente para otriunfo da vitória sobre o Subdesenvolvimento, na década que agora iniciámos.oJSemana de Amizade Moçambique- URSSConversações eUtre a AMASP e a delegação da União das Sociedades Soviéticasde AmiL

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zade e Relações Culturais com os países estrangeiros (USSARC)A Semana de Amizade Moçam. bique-URSS é, um dos acontecimentos que estasemapa atraiu a atenção de muita gente principalmente aos espectáculos que ogrupo cultural PODOLIANCA, da Ucrânia, vem apresentando desde o passadaSábado no cinema Gil Vicente e no Pavilhão do Maxaquene, em Maputo.Ã frente desta representação cultural encontra-se na RPM o Presidente do Comitéde Cinematografia da República Socialista Soviética da Ucrânia, Olenenko Yuri,que manteve já conversações com responsáveis da Associação Moçambicana diAmizade e Solidariedade com os- Povos (AMASP).O ponto central do encontro foi o estudo dos mecanismos para o estreitamentocada vez maior das relações ê, amizade e solidariEda-de existentes desde os tempos da luta armada entre ambos os países. Odesenvolvimento da cooperação entre o AMASP e a USSARC foi outro temaabordado no decurso das conversações. Aquando da sua chegada a Maputo, napassada sexta-feira, o chefe da ý,clegação soviética disse que a realização destaSemana de Amizade em Moçambique enquadra-se nas comemorações do 63.0aniversário da Revolução de Outubro, acontecimento que diu início a grandestransformações no mundo. «Seguimos com emoção e simpatia a luta do Povomoçambicano e estamos certos de que esta deslocação contribuirá para aprofundaras nossas relações de' amizade.» ,sse o chefe da dele. gação Soviética.Entretanto e ainda integrado nas comemorações do 63.0 aniver.

Uma cena do espectáculo apresentado pelo grupo cultural PODOLIANCAdurante a estrela, no Gil Vicentesário da Revolução de Outubro foi inaugurada no Museu Nacional de Arte umaexposição de artesanato popular da República Socialista Ia Ucrânia, peloSecretário-Geral da AMASP, Abner Sansão Mutemba.A referida exposição foi organizada pela União das SociedadesSoviéticas e Relações Culturais com os Povos Estrangeiros.A delegação soviética que se encontra já a alguns dias em Moçambique paraparticipar na Semana de Amizade>fez visitas a algumas escolas, bairros ecooperativas.encontram já a estudar (no ensino primário) serão inscritas pela mesma escolaapós a realização de provas e exames. As crianças que no presente anofrequentam a pré-primária transitarão, automaticamente, para a primeira classe.Informações d, adas pelo sector de planificação do MEC adiantam que a partirdeste ano para a pré-primária devem ser prioritariamente matriculadas as criançasque até 31 de Dezembro completamua idide de seis anos. Todavia, caso a metaestabelecida pela escola não seja atingida com o número de crianças com estaidade, poder-se-ão aceitar crianças que completem cinco anos até o próximo mêsde Dezembro, desd& que se verifique que a criança é suficientementedesenvolvida para poder acompanhar os seus colegas com seis anos.Na primeira classe podem matricularse crianças que completem entre 7 e 14 anosde idadie até 31 de Dezembro próximo.

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Uma das razões que leva a estabelecer a idade de seis anos para o ingresso aoprimeiro nível do ensino primário é a falta d,9 professores em número suficiente eoEnsino PrimárioNovas disposiçoepara matriculasEm todo o País para o ano lectivo 1981 no ensino primário só há matrículas paracrianças que pela primeira vez vão frequentar a pré-primária ou a primeia classe.Para os primeiros, as matrículas começaram já no passado dia 1 de NovAnbro eterminario no dia 15.O prazo para as matrículas para a primeira classe vai de 25 de Novembro a 15 deDezembro de 1980.O Ministério da Educação e Cultura introduziu alterações no que concerne aoingresso 3, crianças para a pré-primária e primeira classe do ensino primário. Deacordo com estas alterações só as crianças que pela primeira vez vão frequentar apré-primária ou primeira classe pod,m proceder à respectiva matrícula. As que seAs matriculas para o ensino primário começaram. O aumento de alunos nasescolas não permite matricular todas "as crianças em idade escoTarTEMPO - 9-11-80

facto de, até agora a rede escolar do pais não estar convenientemente distribuida.Por estas mesmas razões, as novas disposições para matrículas não implicamnecessariamente que todas as crianças com a idade exigida possam este ano entrarna escola.Tudo' surge na sequência idas deciss da5.a Sessão do ComitéReactivar 0. 1dos grupos c0 Tônica do IV SemiPrestar maior apoioturas internas dos Grupok forma a torná-los mais c comendações siídas do F aonível dos locais de 1 Maputo que se realizou dde Outubro.Central e da 4.' Sessão da Assembleia Popular que apontam para a necessidade dese plaúificar o sector da Educação de acordo com as realidades concretas do País,e tomando em conta que e ano, para ano é cada vez maior o aflu.xo de alunos às escolas e insuficiente a capacidade de resposta das estruturas daEducaçãóo. Otrabalhole vigilâncian .rio de Maputoaos secretariados e estrude Vigilância Popular por kperativos, foi uma das reVSeminário destes órgãos rabalho da Província do ie 25 a 26 do passado misAo nível de local d,9 trabalho na do local de trabalho, foi outra da Província doMaputo há casos em recomend,Oaçes do seminário poi que o funcionamento dosrespecti- forma a enriquecer as actividade, vos Grupos de Vigilância é defi- dosGrupos de Vigilância Popular ciente. Os secretariados destes ór- De referir que

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seminários deste gãos populares de vigilância e suas género realizam-se comperiodici estruturas internas d,3sconhecem dade de um ano. Aquando da rea astarefas concretas que lhes ca- lização do III foi preocupação dos bem. Por seterem constatado es- participantes interiorizar a Le tes factos, durante o IVSeminá- 2/79 (Lei dos Crimes Contra a rio dos Grupos de Vigilância daSegurança ' o Povo e do Estado) Província do Maputo, foi ý, cidida bem como aelaboração de um pia. a criação de uma comissão consti, no d,2 actividades parao período tuida pelos Grupos de Vigilância que se antecedeu ao IV Seminário q ue funciona mcderalmente a agora realizado. qual se encarregará, de cond,.cio-Assim, foi preocupação deste nar momentos de troca de expe- último seminário,proceder à,anáriência entre estes Órgãos nos di- lise do trabalho desenvolvido atéferentes sectores de trabalho, então, bem como a elaboração deDesenvolver uma correcta arti. um programa de tarefas até ao culaçáão comrestantes estruturas próximo ano. OSindicatos Africanos:Congresso vital em Mogadiscioe Moçambique representado pelos Conselhos de PrduçãoO papel da delegação moçambicana foi levadoa cabo com certo êxito «esta a opinião- de Eugénio Simão, membro da ComissãoNacional de Implementação dos Conselhos de Produção, chefe da. delegação queem Mogadiscio, na Somália, participou de15 a 20 de Outubro no IH Congresso daOUSA, Organização de Unidade Sindical Africana.A OUSA é uma organização sindical ainda jovem pois foi criaTEMPO - 9-11-801da em 1973 sendo um dos seus objectivos coordnar e concertaras acções do movimento sindical africano, apoiar as organizações sindicaisnacionais e enquadrá-las na sua luta anti-imperialista. A delegação moçambicana,segundo Eugénio Simão, teveoportunidade d,3 transmitir experiên. cias deorganização dos trabahadores após a independência. Particular ênfase foi dadA àquestão da unidade no seio dos sindicatos. Para reforçar este aspecto referiu-se aexperiência da luta de libertação nacional e aos seus resulta. d,os. «Tivemos desalientar esta tónica porque uma organização ainda jovem como a OUSAnecessita deste tipo de experiências e muito trabalho tem ainda que ser realizadono seio da OUA para unir os países membros». sublinhou Eugénio Simão.No Congresso, participaram 50 países representando diversas organizaçõesnacionais e 18 organizações internacionais entre países socialistas e capitalistas.Foram aprovaes 21 resoluções de entre as quais se destaca a de imposição desanções à África do Sul; sobre o apoio a dar aos trabalhadores e ao Povo daPalestina; sobre a criação ý, Imprensa e Informação sindical no continenteafricano; sobre o plano de acção de Lagos, que se debruça sobre a Nova OrdemEconómica Internacional e uma outra resolução sobre a, criação do Comité paraas mulheres no seio da OUSA no qual estarão representados toW,>s os paísesmembros. Foi também aprovada uma resolução sobre a unidade sindical noZimbabwe. Neste sentido prevê-se que seja realizado ainda este ano o primeiroCongresso sind.cal dos Trabalhadores do Zimbabwe no qual se espera que sejaunificados todos os sindicatos numa única central sindical.

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A introdução do português como língua oficial do Congresso foi também outroponto aprovado na sequência de uma proposta apresentada por uma delegação daRPM.O chefe da delegação moçambicana classificou este Congresso como tendo sido«de importância vital» na medida em que, pela primeira vez, procurou-seaprofunc',ir os problemas. [o

TempoChiango: !flores ..que murchamTEXTO DE FATIMA ALBUQUERQUE FOTOS DE DOMINGOS ELIASNo Chiango, (arredores de Maputo) num centro concebido para albergar criançashá neste momento flores que murcham. Essas flores sãoas próprias crianças.Algumas, segundo fomos informados, foram para ali encaminhadas por teremsido consideradas delinouentes ou, como. nos diria um Juiz do Tribunal deMenores, porque «começavam a tornar-se num perigo para a sociedade".Haverâ, na verdade, crianças delinquentes? Se existem, como deveser, encarada essa delinquência? 21Carpintaria do Centro. Dedica-se a trabalhos para o exterior e na execução dematerial para o próprio CentroTEMPO - 9-11-80

noconniREPóRTAGEM

A maior parte do efectivo deste Centro é constituído por crianças que têmfamiliares. Alguns desses pais porém transformaram Chiango numa espécie dedepósito: ,3itaram ali as crianças, e o Estado que se encarregue delas.Estes e outros problemas não menos graves se vivem em Chiango. Situação quereflecte não só o que aqui se passa como também em outros centros educacionaispara crianças cujos familiares as abandonaram. Chiango 6 portanto, apenas umexemplo.O FUTURODidione Gaite. Um orhar ladino, uma criança que irradia simpatia. Disse-nos queanda na primeira classe. Tem pai sim, mas não sabe onde, está. A mãe, trabalhouaté há poucos meses na Mabor. Trouxeram-na para o centro a fim de estuJar. Comvoz sumida, acrescenta ainda «gostaria de ficar em casa mas disseram para virpara aqui porque tenho que estuc, r». Didione ,tem cinco anos.Um dos professores esclareceu que esta é uma das crianças que se encontra numasituação indefinida. «Parece que veio é, Salamanga, não se sabe muito bem o quese passará com os familiares».Miguel Piquiúa, veio também de Salamanga transferido para Chiango. A mãed3ixou-o ali e nunca foi sequer visitá-lo.Ana Maria Manuel tal como todos os outros veio para estudar. Os pais moram emChamanculo. Ar.da na primeira classe.

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João Muchanga é um daqueles casos que mais preocupam as estruturas do' CentroChiango, pois tal como outros, fogem constantemente é,- Centro. Quando hárusgas na cidade são recolhidos pela Policia e para lá voltam novamente.Falámos com o João porque entre ele e um dos responsáveis do Centro deu-se umincidente que &dspertou a nossa átenção. Ele vinha sendo arrasado por um dosresponsáveis do Centro que, furioso, dizia: então, você dfz que não tem família.Aqueles que vieram há bocado num Peugeot e deram-te 100 meticais,que metivessem deixadoa morarem casamas disserampara virpara esta escolaestudar»Didione Galtequem são? O miúdo estrebuchava tentando soltar-se mas, o outro, não o largava.Até que, receoso. respondeu:*Não conheço aque!6s senhores. Uma das vezes que fugi &> Centro elesapanharam-me ao pé do Hlospital CentraL Compraram-me roupa. De vez emquando, vêm visitar-me.O senhor professor continuou a fazer perguntas mas 0 miúdo. e -não mais abriu aboca. Enver gonhaD,, então, o professor comentou para a equipa da TEMPO:«Estão a ver, são estes indvidtos que vêm aqui e desviam os miúdos. Dã-lhesdinheiro e eles fogem para a cidade. Este miúdo já fugiu v~ria vezes. É marginal,dorme ao pé do Bazar Ventral.»Quisemos saber: Mas que culpa tem o miúdo que o tal senhor lhe tenha dado, 100metis e que se tenha ido embora? Que Cen-tro é este, onde entra para aqui qualquer pessoa, faz o que entende e se vaiembora? Quanio o carro entrou e esteve aqui porque não se dirigiram ao senhor?,«É que a antiga direcção - diz o professor permitia este tipo de visitas, mas onovo director, não. Neste momento ainda não há um contrôle.»João Muchanga tem 10 anos. Foi colocado no Centro com cinco. Até há algunsanos atrás os pais vinham visitá-lo. Depois esqueceram-se d--le.u0 MEU PAI MORA NO PRÉDIO DA TEMPO.Enquanto conversámos com as crianças há- uma delas que interrompe o diálogo equer saber: «vocês trabalham na Revista Tempo? Sim, - respondemos.Sorri. É que eu conheço aquele carro que trouxeram.TEMPO - 9-11-80

Soubenios ainda que ì ai<i4o tefli doze anos. Anda na 2.4 classe. Vive no locai bàquase dois anos e o pai nunca a foi visitar. "1'ý-t b-ePAGAR MENSALIDADE? NINGUÉM ME PEDIUnMstarde, através do mesmo iio localizarnos o pai, serraleiro mecánico numaempresa da capitai.

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«Náo escolhi o Centrb de~ Chiaaigo. As estruturas da Educe & que o colocaraálà. 0 xniidO> é órfAo, morreu-lhe a mie quando tinha trOs anos. Viveu comigo ecom a madrasta, ate ha cerca de dois anos. Depois nMo o suportei mais, pois ele,provoca problemas, bastante sérios. Tinha um- mau comportamento. Fugiaconstante. mente de casa e era da-sobedien,te. FUi aoPsiquiatra, levei-o maistad oTribinal. de Menores,divemas vezes. Disseram-me que era Oura fase, que talvez passasse. 0Oa certo e que continuava. Até que peri cabegaquando o miúdo do 14.0 a.n.hr, onde moramos, intro.5 duziu-se através da Janelana casa * 7Ji?da vizinha e fugiu novamente de tar o conZelo que me era dado de levar acriangapara ura Cen Carnaratas onde dornieni as criangas. Paredes nuas. Casas dIebanhou vìjus gwtoCllSìntro-ftent.ssnof. nào funcionani hg inulto. Algunias canìias senieolchóesNuina da salas, de aulas, coi Chiango. Repare-se no asPecto de alguinas dascriancas. A observancia da higiene lindividuaì éum aspecto básico na edueacio de quaIquer crianga. No entanto, grande Partedelas náo receben, se ensinamentos

Etamos na 8.- Esquadra do Alto-Ma, entre a Avenida dos Acordos de Lusaka e aMarie N'Gouabi. Entra uma criança cujo semblante está aterrado. Tem o ar dequem se sente encurralada. Nos seus olhos lê-se o medo. Falámos com ela.Chama-se Angélica Pedro. Tem nove anos. A mãe morreu, o pai trabalha fora daProvíncia do Maputo. Vive com a tia. Fugira de casa no dia anterior porque,segundo diz, a tia bate-lho constantemente e não lhe dá de comer. Andou de casaem casa, a pedir para dormir. As pessoas não aceitaram. Dosde as 16 horas, sé às21 conseguiu que uma senhora lhe desse guarida. Era a mesma que trazia naquelemomento à Esquadra. «Tenho medo. Não quero voltar para casa. Hão-de bater-men.uNa semana passada ou fugi o umas senhoras lovaram,me novamente a casmQuando elas saíram a minha tia bateu-mo até sangrar - dizia. E mostrou ascicatrizes visíveis no peito e nas costas. O vestido estava ensanguentado, osIUblos feridos,.Na baixa, próximo do Mercado Central. Dois miúdos com as mãoscompletamente sujas comem qualquer coisa num prato igualmente imundo.Sambo Gwenhane, de 10 anos de idade fugiu do Limpopo para conhecer Maputo.Vive agora de restos de comida e dorme numa casa abandonadaUm delas, o mais pequenino, Sam~io Gwenhane,tem 10 anos. Fugiu de casa porque gostava do conhecer Maputo. É do Umpopo.Apanhou uma boleia até às proximidades de Xinavane donde foi manda.do descer quando se descobriu que não tinha bilhete.Chegou a Xinavano a pé e ali apanhou o comboio para Maputo. «Durmoultimamente numa casa abandnada e às vezes, não como porque não arranjo nada.Quando tenho- muita fome, o Madiaio um velhote que-costuma andar neste localdá-me de co-

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José Alberto e Elísio Macandze. ambos de 12 anos.'Estiveram detidosrecentemente para «aprenderem a nunca mais deixar fu.gir a bola para cima do telhado do vizinho»Porque não voltas para casa? Não estavas melhor lá?«Em casa tínhamos sempre comida, mas Maputo é grande e já não soi comovoltar-.Ernesto Johanisse tem 14 anos. Até ao ano passado frequentou a 2.« classe. Veiopara Maputo porque lhe disseram que aqui podia arranjar emprego e comprarroupa. A outra estava rota. Um senhor deu-lhe boleia até ao bairro do Jardim.Morava também no distrito do Limpopo. Não passa fome, diz-nos «porque comoem casa do, tio». Emprego, não conseguiu ainda. O sonho que trazia era comprarroupas. A que traz neste momento vestida, apanhou algures nos caixotes de lixos.São alguns destes miúdos que vão parar a Chiango e são rotulados de marginais edelinquentes. Muitos deles, o único delito que cometem é roubar para comerporque têm fome. Outros, fogem de casa porque sofrem maus tratos.Mas há outros casos cuja responsabilidade não é s6 dos pais. Vejamos:Elísio Simão Macandze e José Alberto Rocha ambos de 12 anos de idade, alunosda 2.' classe. Depois de uma forte pressão psicológica sobro eles foram detidosdurante algumas horas naquilo que chamam cancela, na 8.' Esquadra. Foi no dia21 de O~tubro do passado mês. Os motivos? Eles explicam.O Polícia de Permanência confirmou:«Estamos a jogar a bole e esta saltou e caiu no telhado das dependências dovizinho. Subimos, tirámos a bola e para que ela não voltasse a ficar presa notelhado decidimos tirar todas as pedrinhas que lá estavam para o chão. Então, onosso vizinho, um senhor muito grande e que até é casado foi à Esquadra queixar-se. Levaram-nos para a Esquadra, chamaram os nossos pais e ficámos detidos,Entrámos às 18 horas só saímos às 22 horas. Disseram que sói nos tirariam de láno dia seguinte de manhã porque tínhamos que ser punidos, porque somosmalandros. O sítio onde nos puseram estava cheio de água e chichi. Havia lá maistrês meninos».Soubemos, entretanto, que foram soltas mais cedo porque o Comando Provincialfoi alertado para esta irregularidade e ordenou ao Polícia de Peroanênca quelibertasse as crianças.TEMPO - 9-11-80

Há cerca -9ó dois aý'os está o ,miúú,c em Chiango, alguma vez o senhor foivisitá-lo?-Nunca fui, O miúdo é que veio a casa uma vez. Chovia torrencialmente. Disse-lhe que ficasse a dormir e ele recusou. Respondeu-me que tinha medo de serpunido, pois a punição era traba. lhar na machamba ou fazer outro tipo &actividade numa altura em que os outros se encontrassem a descansar. Deixei-o ir.A mensalidade mínima que se paga naquele Centro é, segun'donos informaram,300 meticais. O senhor paga-a?«Não, não 'pago porque nunca ninguém me pediu nem sequer mek disseram queera necessário quando coloquei o meu filho no internato ».

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Quer èIzer, o senhor tem lá o seu filho e acha que o Governo é que deve suportartodas as despesas?«'Não é bem isso. Não disse que não 'queria pagar. Simplesmente não mepedirant»As manchas negras que se vêem no chão, ao pé do local onde pastam os cabritos,sãoas mantas com que os miúdos se cobremChiango tem neste momento 105 crianças com familiares e 99 sem família. Amaior parte das famílias, que têm a obrigação d<e pagar a mensalidade não ofazem. Culpados? Em parte. Mas a passividade dos responsáveis do cen-tro faz com que certos pais transformem um centro-internato num depósito paracrianças. Deitam.-nas ali como se d,- lixo se tratasse. Onde fica Chiango nem isso lhes interessa.Como vivem as crianças, isso também não tem importância para eles.Na padaria, o último turno funciona dãs 16 is 21 horas e dias há em que vai atémais tarde. Nas actividades deste sector participam as crianças que, devido à suaidade a essa hora deveriam estar a descansar e não a amassar pãoTEMPO - 9-11-80

CENTRO DE ÇHIANGOHá duas semanas, quando estivemos em Chiango, havia ali um efectivo de 204crianças, entre os cinco e os 12 anos. Inicialmente Albergue da Polícia, esteCentro passou para tal contrôle da Educação em 1978. Decidiu-se entretanto, quet&,s as crianças com idade superior a 12 anos seriam encaminhadas paraSalamanga, ficando as mais pequenas em Chiango. Tem-se verificado umatropelo constante daquilo que então foi definido. Há '?ias semanas,encontravam-se também ali 17 jovens entre os 16 e 20 anos. Apanhados há poucomenos Cã dois meses, à noite, numa rusga feita pela Polícia. Eram ao todo 34 nanoite em que os levaram para Chiango. Entretanto, ficaram 17 porque se verificouque os restantes, afinal, tinham familiares, não eram marginais como se supunha.O convívio indiscriminado entre estas e outras crianças traz problemas sérios paraa sua correcta ec',cação. Um dos membros da brigada da OMM, Estrela Cumbula,acrescentou:«Estes jovens, misturados com as crianças criam problemas muito sérios aqui noCentro. São eles que provocam a fuga dos miúdos para a cidade, pois batem-lhes.Cometem roubos. Fazem grupinhos e, quando entendem, não faIam a ninguém.Não conseguimos controlar os mais pequenos porque alguns fogem para o mato elá ficam quando têm problemas com os mais velhos.» O responsável-adjunto epedagógico de Chiango, acrescentou ainda a-propósito: «Ameaçam as crianças.Nas camaratas, à noite, arrancam-lhes as mantas...»Chiango é um Centro enorme. Possui infra-estruturas que não estão sendocorrecta e devidamente aproveitadas e iem os niúffios estão em condêçóes defazê-lo.Já por diversas vezes, atravésdos órgãos de Informação se apontou> por exemplo, o problema, da água que ébastante sério naquele Centro. O poço está situado a poucos metros das pocilgas.

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Quando ali fomos, numa caçarola aberta ond,á se preparava o almoço, vimos águaamarela na qual se viam as mais variadas partículas em suspensão. É a mesmaágua que se bebe sem haver sequer o, cuidado de fervê-la.A comida é feita num cubículo sem cobertura e cheio de moscas. O aviário,repleto de imundicie «porque não há água» - justifí caram. Nos dormitórios,janelas e vidros partidos.Muitas das camas não 'têm colchões há anos «porque as fábricas não têmcolchões» - disseram. Porque, como aconteceu na Escola de Artes e Ofícios doGuruè, não se fizeram colchões a partirDuas crianças fugidas recentemente de casa. Quantas delas não terão Ido pararaosCentros.Internatos na situação de crianças abandonadas?Sector de costura de Chiango. Presentemente atravessa dificuldades de váriaordemdevido à insuficiência de pessoal e de matéria-prima (foto de arquivo)TEMPO - 9-11-80§k

Porque se levantava a questão de algumas das crianças terem sido colocadas emChiango porque são delinquentes, noutros casos porque eram insuportáveis e ospais achavam que deveriam estar num «centro es-, pecial» pedimos a opinião dedois médicos.sobre este assunto; São eles o dr. José Spolansky, psiquiatra, a a dr.'Pura Lopes CortezA,Eu por exemplo, diz o dr. Spolansky sou psiqüiatra há muitos anos e não possoafirmar que alguma vez tenha conhecido uma criança delinquente. t certo quequando a criança não se comporta conforme as normas sociais estabelecidas paraos adultos isso assume um aspecto de delito. Mas falar de delinquência no caso dacriança é errado, isso pode marcá-la para toda a vida. Não devemos entender acriança como um homem em miniatura mas sim, como criança que é, um ser queestá a atravessar uma etapa da vida que tem características muito particulares oque devem ter uma resposta adequada para não parturbar o seu desenvolvimentofísico, psíquico e social. Quando uma delas é afectada, fica retardada todo o seudesenvolvimento é afectado.Antes deassumemUais é necessário saber porque algumas cria mportamentos incorrectos - dra. PuraLopes C(Quando s dá o exemplo da crian que foge cesItanto~ém«nde casa, tomos que verporque é que ela fogúè,E se não determinarmos as causas profundas'desWta.atitude ela fugirá permanentemente mesmo quan do atingir a maioridadeporque ela:está a tentar escapar de qualquer coisa que não consegue enfrentar. Emnós adultos esta situação de medo também se manifesta e, muitas vozes tomamosatitudes desesperadas Numa criança isso aceptua-se mais. De medo algul seý podconsiderar uma ,criança delinquente. Então;, num País como Mo¢ambique em queestamos a cèriar o- Hoiem Novo não podemos continuar com a quantidade de

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precon eitos que tínhamos. Além de mortificarem o conteúdo ideológico que nóstemos da criança é a aplicação de um esquema que estamos a«Sou psiquiatra há muitos anos e não Posso afirmar que alguma vez tenhaconhecido uma criança delinquente,» dr. José Spo.lanskyultrapassar. A aplicação deste conceito é antipedagó.gico, antijudicial e anti-ideológico. A criança tem de ser estudada no nossocontexto e encontrarmos as soluções que a situação requer. Cada criança é o seumundo. Então, tem uma problemática. E, em geral elas reagem segundo ascircunstâncias que têm em seuredor. Não porque sejam delinquentes.A AG(RESSÃOCrianças que vivem num Centro-Internato, comoChiango, são crianças que já sofreram uma agressão.Agressão não significa somente bater mas também se pode agredir privando-a deafecto, marginalizando-a, excluindo-a dosjogos. A criança ressente-e dasagressões. Ela, de um medo geral, tem uma percep;ão muito aguda do que éinjustIça. Percebe quando está sendo punida por um açto que ela cometeuincorrectamente ou quando est, sendo punida porque o adulto S quem, estásubmetida está mal-humorado. Este é um Sdos aspectos que moitas vezes sedeveria ter em conta.TrEMPO - 9-11-80

Num local cheio de moscas e ao sol é onde o cozinheiro confeceiona a comida. Aslns.talações próprias há muito que estão por repararde palha de milho? Os miúdIs estendem as mantas e dormem por cima das redes.O campo de jogos que é importante na formação e desenvolvimento das criançasestá em mau esta&o e sem ser utilizado.Na Padaria, o último turno f'iciona das 16 às 21 horas e, nalguns casos até maistarde. Sob a orientação de alguns mestres, dividldos em grupos , 10 os miúdos,alguns com menos de 10 anos, apoiam na laboração do pão, que serve não só oCentro como também a população da zona, pois não há outra padaria no local.Há uma carpintaria subaproveitaWi nc Centro. Fazem-se ali aobílias porencomenda e outros trabalhos de utilidade para o Centro. As crianças apoiam.A alimentação das crianças não é variada e, casos houve em que elas ficaram diassem comer, o que as levou a fugirem do Centro. O terreno é enorme mas nãoexiste ali um pomar. A horta ocupa um espaço insignificante.Uma d,-is doenças mais frequentes é a sarna. Segundo nos foi confirmado, asestruturas da saúde ao níyel da cíi4,de de, Maputo, já por diversas vezes visitaramChiango e chamaram atenção para os problemas que ali se verificam.Sobre este Centro, o responsável do Ensino Primário da Provincia do Maputo,João Banze, disse à «Tempo» que a direcção Provinucial de Educação conhece asituação. Por isso foi ali colocada uma 2ýrecção e estão a ser enividados esforçospara melhorar as co.ndições de vida de Chiango.

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Uma das medidas que se vai tomar é exigir que as crianças cujos familiarespossam garantir a sua subsistência sejam devolvW,'-s ao seio da familia. Seráregularizada também a situação das mensalidades. OTEMPO - 9-11-80

Temponac ialEM FOCOÁgua, e saneamento Um problema à escala do mundo* Inicia-se década internacional proclamada pela ONUMais de três quartas partes da população mundial vive ainda hoje em condiçõesbastante criticas, no que respeita a abastecimento de água e saneamento.Melhorar as condições de vida destes milhões de seres humanos passa pelasacções a desencadear pelos governos dos respectivos países, que contam com oapoio da Organização das Nações Unidas ao pro-clamar a década de 1981/1990 como a «Década Internacional do Abastecimentode Água Potável e Saneamento,.Um vasto plano de acção traçado nor Moçambique para o sector coincide einsere-se nos objectivos definidos por aquela organização internacional, estandojá em execução diversos projectos.Poço artesiano em Bangladesh. A existência de água pura em abundãncía salvamuitas vidas, particularniente entre crianças. alni de tornar mais fácil a vida dasmulheres. (Foto OMS/l. Guest)TEMPO ~ 9-11-8017

A água é um elemento essencial à vida do ser humano, e, com6 tal, a melhoria dasactuais condições de abastecimento em vastas regiões do mundo é indispensávelpara se conseguir uma melhoria das condições de vida de vastos sectorespopulacionais, quer a nível do campo quer a nível da periferia das grandescidades.Milhões de pessoas'- homens, mulheres e crianças - são ainda hoje afetflas pordoenças que se podem facilmente evitar através de uma melhoria das condiçõesde abastecimento de água e de saneamento, uma melhoria das suas condiçõeshigiénicas. E, esta alteração das condições de vida de três quartas partes dahumanidade, através da melhoria da qualidade e da quantidade de água queactualmente consome, significa não só uma redução na mortalidade,principalmente i n f a n t i 1, como uma redução com as despesas em tratamentoscurativos e, paralelamente, um aumento da capacidade física para o trabalho.Em muitas regiões, sâo principalmente as mulheres que têm de percorrer longasdistâncias entre o rio ou a, fonte e as suas casas para obterem a águaabsolutamente indispensável ao consumo 4íári0. Também aqui, uma melhorIa nofornecimento é fator deciEm numerosasregiões do mundo.a maior parte da água destinada ao consumoé, retiradai manualmente

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dos' poços.(Foto Mathe.3onUNICEF)sivo na elevação das condições de vida. Não só por permitir melhorar os hábitosde higiene como por, ao libertar a mulher da tarefa de transportar água, permitir asua participação activa na produção, com os consequentes reflexos nodesenvolvimento económico da comunidade e do conjunto do, país.Para melhor se compreender a gravidade da situação, basta citar que, segundodados da Organização Mundial de' Saúde, 78 por cento da população mundial nãodispõe de água em quantidade suficiente enquanto 85 por cento dessa mesmapopulação não tem as necessárias condições de saneamento.OBJECTIVO DA DÉCADAÉ perante este cenário, que mostra as condições dramáticas em que vivem milhõesde seres humanos, que a Organização das Nações Unidas decide proclamar adécada de 1981-1990 como a «Década Internacional do Abaste-Transportar água à cabeça a longas distâncias: um drama dos paísessubdesenvolvidos.(Foto P.E. Mandl - UNICEF)TEMPO - 9-11-80

As bombas manuais, de diferentes tipos, asseguram às populações um bomaproveitamento da água existente e pera melhoria des suas eondições de vida.cimento de Água Potável e Saneamento».A ideia da década surgiu há três anos, precisamente em Abril- de 1977, com arealização de uma reunião em Mar de La Plata, na Argentina, onde foi traçado oprograma de acção. Desde então, têm estado a decorrer os trabalhos preparatórioscom a prestação de ajuda a todos os países interessados na elaboração dos seusprogramas de acção. Aliás, cabe ao governo de cada país decidir sobre osprojectos que entender levar à prática, enquanto a Organização das Nações Unidasalém de os sensibilizar para o problema prestará o necessário apoio.Concluído todo este trabalho preparatório, a abertura oficial da «DécadaInternacional do Abastecimento de Água Potável e Saneamento» terá lugar no dia11 do corrente mês com a realização de uma sessão especial da Assembleia Geraldas Nações Unidas, em Nova Iorque.A coordenação a nível mundial de todos Os projectos integrados na década foiatribuída ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ocoordenador da década, por parte daquele organismo especializado das NaçõesUnidas, senhor Bourne, deslocou-se a Moçambique em Janeiro do corrente anocom a fina-lidade de se inteirar da forma como estava a decorrer a planificação da década. Deacordo com um porta-voz do PNUD em Maputo, aquele alto funcionário «elogioua planificação feita em Moçambique» que, em devido tempo, tinha enviadoàquele organismo um documento sobre a situação no sector sanitário e deabastecimento de água e os passos dados relativamente à comparticipação nadécada.APOIO A MOÇAMBIQUE

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No âmbito da ajuda aos diversos países na elaboração dos seus programas para adécada, em Março de 1979 esteve em Moçambique um consultor da Agência doGoverno Sueco Para o Desenvolvimento (SIDA) e da Organi. zação Mundial deSaúde (OMS) com a finalidade de identificar projectos susceptíveis definanciamentos estrangeiros. Desta deslocação resultou um relatório com arecomendação de alguns projec. tos a serem financiados pela Organização das N aç õ e s Unidas através da SIDA/OMS.Neste momento estão em curso vários projectos com p apoio de diversas agênciasespecializadas da ONU além da própria OMS, e está prevista, em breve, a vindade um consultor da PNUD para estudar acções concretas programadas pelaDirecção Nacional deTEMPO - 9-11-80Aguas, além de outras possibilidades de apoio internacional.Dos programas neste momento em curso, pode citar-se um da OMS, financiadopelo PNUD e controlado pela Direcção Nacional de Medicina Preventiva, nocampo da saúde ambiental. Este programa abrange diversas actividades, como ada formação de quadros (agentes sanitários), conttôle de qualidade de água econstrução de latrinas, além de outras. O mesmo, projecto comporta fundos para aformação de quadros fora de Moçambique, nomeadamente a participação emcursos e em conferências, etc., além do apoio de dois técnicos sanitários, que seencontram a trabalhar no nosso País.O apoio que está a ser prestado pela UNICEF presentemente, inclui ofinanciamento da primeira fase do abastecimento de água ao Planalto de Mueda,na Província de Cabo Delgado. Na mesma província, está também em curso umplano de abastecimento de água rural, que consiste na abertura de furos e de poçose-Aidéia s Comunais e que conta com apoio suiço.A mesma agência especializada da ONU está também a apoiar a campanha deabertura de poços, através do fornecimento de equipamento. As acçõesdesenvolvidas durante o período de 1979/80 con19

centra'ram-se nas provincias de Gaza e Nampýula, devendo deslo ar-se depoispara Niassa e Tete. ik'. Outra forma de apoio é a que estå a ger prestada ao Centrode Formaråo Profissionalda Direcý;åo Nacibnal de Aguas, com equi pamentosdidåeticos, meios de transporte e um téeniCO perma nente' (coordenadorpedagógico).A recuperacåo e melhoramento do abasteciment semi-urbano em sedes de istritoda Provincia do ýuputo, conta também com ap0i0 (la UNICEP, em equipamentos,materiais e um téCnico, apoio este qiýe, se estetide ainda ao levan tamentó dasituagåo do abasteci mento urbano e semi-urbano em diversos outros pontos doPals.Igualmente, com a fimlidade de ý4 melhorar as condiQåesde sanidade das populac,6es rurais, irå iniiar-se em breve um projecto piloto de"dados de satde primårios em 100 Aldcias Comunais locålizacias, em doisdistritos da Provincia de Nampula e trés de Cabo Delgado.

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Este: projecto abraýigerå um poderoso , componente de abastecimento de åguahquelas, aldeias e contarå com o apoio do Governo holandés, através daOrganizaigå0 Mundial de Satide.A artiqu1aQåo com. as estruturas mócambicanas respons'åveis pelos projectos, éfeita pelos, f~cos, que no åmbito, da colaboracåo com a OMS e a UNIMP,Grande parte da popula~ do nosso Pais debate-se tanibéin coni o Probletua dafaltw de ågua. A abertura de centenas ýde, ftros e de poeos, anualniente. e aconstrugilo de fontenåriøs, visa garantir um abasteciniento de acordø eoni as ne.cessidades

A melíoria das condições de vida no camp, passa também Dor um correctoabastecimento de água, o que irá libertar a mulher da Irdua tarefa do seutransporte peirmitindo-lhe integrar-se na produçãose encontram a trabalhar no nosso Pais..NFRENTAR A DÉCADAO lançamento da «Década Internacional do Abastecimento de Água Potável eSaneamento» coincide e corresponde às aspirações e esforços que o nosso Paispretende mobilizar para os Próximos dez anos, com vista à melhoria dascondições de vida das populações, particularmente nas áreas rurais.O objectivo a atingir é o de assegurar a instalação de uma fonte de água (poço outorneira pública), para cada bairro com uma população de aproximadamente 500pessoas, tatitQ em Aldeias Comunais como em áreas semi-urbanas. Onde asanidade constituir t amb é m uma preocupação, o objectivo é o de assegurar quecada família tenha a sua casa de banh ou latrina, enquanto pros. segue aconstrução da drenagem urbana, pára garantir que nenhuma família seja sujeitaaos efeit"s das inundações.Com vista a permitir a concretização dos objectivos programados f6ram jádesencadeadas diversas acções, entre as quais algumas de carácter organizativo.Assim, foi criada a Comissão Instaladora Geral das Empresas Provinciais deÁguas como solução herdada e que não era compatível com as necessidadesactuais. Era o caso da. operação dos sistemas de abastecimento de água às cidadese vilas que em diferentes pontos do País estava a cargo de entidades diversas(Electricidade de Moçambique, Conselhos Executivos e Companhia das Águas daBeira).Com a entrada em funcionamento do novo sistema, a última responsabilidade d ev e r á continuar a pertencer aos Conselhos Executivos, que déverão contratar asempresas provinciais para a execução dos trabalhos. Entre. tanto, estão já criadosnúcleos de elementos formados pela Direpção Nacional de Águas e pelaElectricidade de Moçambique, cuja tarefa é a de darem apoio aos sistemasexistentes e criar condiçõesTEMPO - 9-11-80para a instalação das referidas empresas.Outra acção já concretizada foi a da criação do Centro de Formação Profissional,em Maputo, onde presentemente se encontram cerca de 55 alunos, vindos de todasas províncias, que frequentam os cursos de ajudantes técnicos de abastecimentodo água e de hidromecânicos, ambos com oito meses de duração. Posteriormente,

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será também ministrado o curso de gestores de empresas,, prevendo-se que atéfinal de 1981 sejam formados mais 200 trabalhadores.Centenas de poços por ano têm estado a ser abertos nas mais divzersas regies do,~,. em zona onde a necessidade de água se faz sentir com maior gravidade. Noque se refere ao sector urbano, ainda dentro dos objectivos da década, estão emcurso diversos estudos com vista à melhoria do abastecimento de água a Maputo,Beira, M o c u b a Montepuez, L. chinga, Quelimane e Pemba.Luís David21

Tempo nacionalCRÓNICACachorros quentes sem mostardaPor falarmos de cachorros quentes sem mostarda não vamos aludir a nenhumarefeição comida à, pressa, com folhas de alface e rodelinhas de cebola, num barexpresso. Reportar-nos-emos apenas a uma faceta ainda ignorada da crónica destacidade.O leitor não ignora como é octual. mente alta a cotação das aparelhagens de «Hi-Fi» e estereofonia.São muitas as pessoas que possuem dinheiro - às vezes não consigo descobrircomo e e pretendem uma aparelhagem, custe o que custar, sem se preocuparemem saber qual a sua origem e, quando o sabem, sem ter escrúpulos.Um rádio-amplificador, um gira-discos, um gravador e duas colunas. de umamarca razoável, que, há poucos anos atrás, custaram, em primeira mão, quarentacontos, são agora vendidos, em segunda mão, por cento e cinquenta contos emais.O problema para muitas pessoas que almejam tanto uma aparelhagem seja emsegunda ou em décima mão, é que tal artigo não se encontra à venda, nas lojascomerciais, legalmente autorizadas a vendê-lo.Assim, essas pessoas principiam por fazer saber que estão muito interessadas emcomprar uma aparelha-gem estereofónica. Alguns dias depois, são abordadas por alguém que temprecisamente o que pretendem e que ,necessitando de dinheiro» está na disposiçãode se desfazer da aparelhagem.Dá cá a aparelhagem, toma lá o dinheiro - negócio concluído. Dali em diante onovo possuidor da aparelhagem só tem que ter cuidado com as visitas que convidapara sua casa, não vá acontecer alguma delas começar em grandes exclamações areclamar que a aparelhagem lhe- pertencia e lhe foi roubada. Seria uma situaçãoencalacrante de verdade.Da vítima do roubo à casa do novo possuidor, a aparelhagem percorreu umcaminho sinuoso, para segurança da rede que tratou do negócio.Um dia entra em nossa casa, sob o pretexto dever o telefone, de pedir emprego, deoferecer máscaras, um batedor que avalia rapidamente a qualidade da nossaaparelhagem e a possibilidade de entrar em nossa casa alta noite, sem se serconvidado. Alguns dias depois, quando nos ausentamos por duas horas para ir aocinema, actuam os especialistas, que por escalonamento, chave ialsa ou

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arrombamento, penetram na nossa sala e nos «aliviam. da aparelhagem. Quandochegamos, só encontramos o sítio.TEMPO - 9-11-80

A al»relhagem é entregue a umreceptador que a paga logo porque fazt.enções de vender pelo dobro do preço.quelhe custou. Põe em campo os seus prbmotores de venda. Estes descobrem algunsclientes em potencial. A mercadoria é oferecida àqueles que parecem ter menosescrúpulos e mais dinheiro.Não são roubadas apenas as aparelhagens electrónicas. Os electrodomésticos,mobília e roupas são frequentemente «mudadas» de uma casa para um camião queas leva para destino desconhecido, e o seu.igal possuidor, quando regressa a casa,des. cobre que tem um apartamento vazio, de soalho e paredes nuas.As pessoas honestas magicam como se hão-de defender das iniciativas destesprofissionais, tão activos e bem sucedidos, e acabam por cair noutra roubalheira.Mas esta aoresenta-se infernalmente legal. E a vítima só tem a opção de aceitarser mais ura vez roubada ou esperar que os gatunos nunca se lembrem de lhe fazeruma visita.Esta ladroeira mascarada de negócio' licito não é mais que o aproVeitamento deuma moda ou mania nascida do receio daspessóas de serem roubadas: comprarcães de guarda... ..Uma pessoa minha conhecida, cuj vizinho do lado ficou sem nada à excepção daroupa que trazia nó corpo, durante uma surtida nocturna que ladrões lhe fizeram àcasa, quando estava a fazer serão no serviço, resolyeu prevenir-se, antes que lhefizessem .o'mesmo. Procurou, e descobriu uma família que tinha dois cachorros«boxer» para vender. Sabia ele, como todos nós, que os «boxers» são excelentescães de guarda. Por isso se resolveu a comprar um deles.Foi à residência das pessoas que eram donas do casal dos dois pequenos cães -afinal faziam negócio pois possuiam vários já adultose propô-se a, comprar um.Perguntou se os cachorros tinham assistência habitual do veterinário, se já haviamsido desparasitados desde que haviam nascido. E recebeu resposta negativa. Nãosendo totalmente ignorante em matéria de cães, olhou para os dois animais com arsuspeito, a ver qual escolheria, pois aqueles bichos, nos primeiros meses de vida,averbam um alto índice de mortalidade. Decidiu-se pelo machoque lhe parecia mais robusto, e perguntou quanto tinha a -pagar, calculando queos mil e quinhentos meticais, com que se prevenira, erammais que suficientes.- Cada cãozinho custa cinco contos. Mas corno foram criados juntos nãoqueremos separá-los. Só vendemoe o casal. Como o senhor parece ser muitoamigo de cães o ficamos satisfeitos por saber que os cãezinhos, que consideramoscomo se fossem da família, vão ser bem tratados, fazemos sum desconto: nove,mil e qui* nhentos meticais pelo casal. É muito barato.Não sabemos se o aspirante a comprador dmaýiü bugiar os cachorros e toda aS'La> família ou se perdeu o amor ao dinheiro e os levou para casa, ondequalquer assaltante que se interesse pelo recheio de sua casa os pode envenenar,preventivamente.

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Um amigo áieu lastimia-se como se deixoU levar, flutna história com um cão deoutra raça: um Grande Dinamarquês.Alguém lhe ofereceu um cachorro Grande Dinamarquês de quatro meses.- Sabe, o senhor tem medo de que lhe assalteam a casa, mas como a minha ficanum local bem iluminado e do muito, movimento não é fácil assaltarem-na. E, poroutro lado, eu não posso continuar a alimentar o bicho. Tem pouca idade, mascome tanto comoý as cinco pessoas lá,.de cata. É uma fortuna em comida para ocão.O meu amigo pensou que valia bem a pena suportar a despesa com a alimentação,sé o bicho mantivesse os ladrões afastados de sua casa. O «Grande Dinamarquês»,apesar de novo, já era um~matulão com cerca de setenta centímetros de altura.Quando chegassea adulto, teria muito próximo do metro. O seu poderoso aspectoassystaria qualquer mal intencionado.Agradeceu, levou o cachorro para casa, submeteu-o *aos cuidados de umveterinário, comprou medicamentos para o despa-asitar e, entretanto, ele e a.mulher arregalavam os olhos ao ver as quantidades de comida que o animalengolia num ápice.Cerca de'um mês depois -- o animal desparasitado, mais gordo e forte e jáaprendendo a ladrar a quem se aproximasse da casa - surgia o antigo dono com arcomprometido:- O senhor descukpme,. mas venho buscar o meu cãozinho. Já vi queestá bem tratadinho, sim senhor...- O seu .... itmas o senhor deu-ma!- Não pensei bem na altura eagora venho buscar o bichinho. Afinal, dei-lhe assim mesmo, gratuitamente. NãOganhei nada e gastei muito dinheiro a alimentá-lo. Vou levá-lo. O senhor vaideixar, não vai?Não assinámos nenhum papel e por tanto o cão ainda é meu. l que me ofereceram,esta manhã, sete mil e quinhentos meticais por ele. É umaocasião que não posse perder.O meu amigo ficou tão indignadoque entregou o cão com, trela, coleira e açaime, que havia comprado. Mais tarde,desabafava e dizia que devia ter obrigado o homenzinho a pagar as despesashavidas com o veterinário, remédios e alimentos e esticar essas despesas atétotalizarem os 7 500 meticais, para ficar cara a ganância ao homem.Voltando aos «boxers», uma rapariga que vive sozinha num apartamento, saiu hádias do emprego e dirigiu-se a uma moradia onde sabia haver um «boxer» paravender e que ela pretendia, para lhe guardar a casa, pois tinha muito medo. Láchegada, o dono do cão disse que lho vendia, pois a sua mãe tinha de ser tratada eele precisava de dinheiro. A jovem perguntou-lhe quanto era, agradada docachorro que era vivo e sociável.- São duzentos e cinquenta randes...- Quer dizer dez mil meticais?! e muito, muito caro...- Não, menina. Quero duzentos e ciluenta randes. Quero divisas, que a rinhamãeestá doente e preciso de a enviar ao estrangeiro.

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A pequena saiu pela porta.fora indignada. Maistarde descobriu que o dono docachorro não tinha mãe, mas passava a vida na Loja Franca a comprar prendaspara as suas muitas amigas.Esta foi uma pequena crónica canina. Parece alegre mas é -triste.Qualquer dia, os empreendedores gatunos da nossa praça vão lembrar-se deroubar cães e de os vender (por divisas) a quem se quiser de. fender deles.E receamos bem que haja quem lhes compre os cachorros. Frios ou quentes, come sem mostarda.AREOSA PENA iTEMPO - 9-11-80

Tempo nacionalFACTOS E FOTOSE a meninada ficou feliz com o disco «O Sol é Teu,. Trata-se do primeiro discomoçambicano destinado ao público de palmo e meio. A edição é do INLD e olançamento foi feito em Miaputo, na Escola Primária A Luta Continua. Presenteum dos protagonistas do conto narrado pelo disco, o célebre Titio Turutão Sabe-Tudo, do programa infantil da RM, que deliciou a criançada com a sua alegriacomunicativa.Um cavaleiro montado no seu cavalo de lata. Repare-se nos pés do garoto: umalata em cada pé, uma corda grande a ligar as duas latas. Teríamos, assim o estribo.O cavalo, naturalmente, está na fértil imaginação desta criança que posou para onosso repórter.TEMPO - 9-11-80

Para constatar que o desleixo, apesar do apelo lançado pelo Conselho Executivoda cidade de Maputo, é ainda um espectáculo diário não é necessário muitaperspicácia.Na foto, uma empregada desoeja lixo defronte de um restaurante naMalhangalene. O lixo é do próprio restaurante.E a propósito de lixo esta foto poderá dar a entender que temos aqui mais umfenómeno de. anti-higiene. Mas não. Trata-se de uma raia gigante a ser arrastadano Bazar Central. Uma prova do que a pesca attesanal pode tirar do mar....0 pedregulho que se vê em primeiro plano, é parte de uma velha parede quedesabou. Algumas crian-as estavam a brincar, próximo da Escola Industrial emMaputo, e a velha parede caiu. Uma das crianças ficou gravemente ferida e trêstiveram morte instantânea.Na foto os curiosos são o melhor sinal do drama que foi uma inocente brincadeirade criancas.TEMPO 9-11-80 25

ACTUAIDADE -Anqolá, :'ZCinco _anos.deindependência 11 A d ngl eern

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A República Popular de Angola celebra, no próximo dia 11, o quinto aniversáriode Independência. Este ano, a festa da Independência realiza,-se num momento em que se avizinham os trabalhos do Congresso Extraordináriodo MPLA-Partido do Trabalho.O auinto aniversário também decorrerá num momento de viragem na AfrimaAustral: o Zimbabwe já se libertou, nos princínios do corrente ano, das amarrascoloniais e na Namíbia os ventos da História sopram depressa apesar dassucessivas manobras da Africa do Sul que por sua vez, aparece cada vez maisvarrida por contradições Internas do sistema.Este aniversário decorrerá numa altura em que, a nível Interno na RPA, se acentuaa luta dos trabalhadores contra o inimigo de classe, sobretudo contra os bandos decontra-revolucionários da UNITA activamente apoiados nela Africa do Sul auetem levado a cabo selváticos e desesperados ataques contra a jovem república dacosta ocidental do nosso continente. Apesar desses ataques - que têm vindo a serpermanentes ao longo destes cinco anos - Angola logrou alcançar grandessucessos no campo da reconstrução nacional e edificação, das, bases materiaispara a implantàção do socialismo. Essas vitórias constituem tema dos artigos quese seguem, elaborados por jornalistas da ANGOP, Agência Angolana deInformação. São um testemunho de como um povo, com uma direcção correcta,pode mairzharcontra todas as dificuldades impostas pelo imperialismo exploradore agressor.26 TEMPO-- 9-11-80

Valoriza do com as mãosas riquezas nacionais(Por José Wolo Kossi)Os trabalhadores angolanos aumentam progressivamente, diaapós dia, a sua consciência para o cumprimento das tarefas da reconstruçãonacional. Neste sentido, é de se realçar o papel mobilizador da Central SindicalAngolana. Esta mobilização incentiva, a elevação da consciência profissional decada trabalhador.Desde a independência, a União Nacional dos Trabalhadores AngolwiOs (UNTA)já organizou três planos de emulação socialista. O primeiro realizou-se emquarenta unidades de produção. O segundo efectuou-se em 80 empresas do pais. Eo actual plano, mais generalizado, agrupa 3'75 centros de trabalho. Cerca de cemmil trabalhadores e s t ão engajados neste plano importante para o reforço daeconomia nacional. Os trabalhadores enfrentamdificuldades de vária ordem no desempenhodas suas tarefas, nomeadamente acarência de matérias-primas, de acessórios, problemas de energia e decombustível. Mas, tudo isso não impede totalmente o cumprimento das suastarefas para o aumento da produção. Apesar das inúmeras dificiências, registou-se, na segunda etapa de emulação sociaílista, do mês de Junho, uma média deprodução de 87, 17 por cento contra 81, 13 por cento da primeira fase,das metas de produção definidas pela UNTA.O terceiro plano de emulação teve o seu inicio em Fevereiro do ano em curso.Cento e setenta trabalhadores foram, no mês de Agosto, considerados mais enga.

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jados e 92 empresas destacaram-se também. Neste mesmo mês, realizaram-se 220jornadas de trabalho voluntário nas quais participaram 20 390 trabalhadores. A«Co luna Agostinho Neto», que ónquadra um grande número de trabalhadores,reconstruiu, recentemente, a cidade de Mongua, destruida pelos racistas sul-africanos.A participação cios trabalhadores também é notória no ãomífo da indústriatransformadora dos produtos pesqueiros, a produção de, peixe seco e meia-curafoi objecto de recomendação especial pelo Primeir o Congresso do MPLA.A produção desse sector aumen. tou de 19 mil toneladas em 1977 para cerca de 23mil toneladas em 1979. A sua recuperação f0I lenta. Neste último ano corres,pondia a 54 por cento da produção de 1973. Para o primeiro semestre deste ano,regista-se uma melhoria relativamente ao mesmo período dos anos transactos, eem 41 por cento os níveis de 1973.O sector das pescas agrupa aproximadamente, vinte mil trabalhadores. Estenúmero corresponie a um -aumento de 30 por cento em relação à 1976, aro da suareactivação, e a 67 por cento dos trabalhado res que existiam na era colonial.Cinquenta e dois por cento empregam.se no ramo da captura de peixe e dereparação naval. Sessenta -e quatro por cento estão ligados à propriedade estatal;7,5 por cento ao sector privado; 1,2 por cento às cooperativas. Existem cinco milpescadores artesanais dos quais apenas 7 por cento estão organizados emcooperativas.O sector luta pelo cumprimento das orientações do Primeiro Congresso. Assimforam criados dois centros, um de reciclagem em Luanda e outro de formaçãoprofissional em Moçâmedes. Foi criado pelo Ministro de Educação o InstitutoMédio «Helder Neto». Este forma quadros especializa-

dos para a frota e para a assistência de terra. 108 bolseiros foram paa o exteriorpara, frequentarem cursos médios, de base e superiores.No âmbito da agro-pecuária, a produção de mandioca, hortícolas e batata doceteve um acréscimo no triénio de 78/80. As perspectivas deste ano acusam umincremento importante em relação ao ano passado. Segundo dados e previsões -dosegundo semestre isto é possível, embora a produção esteja ainda abaixo dasmetas definidas pelo Primeiro Congresso.A indústria de moagem de milio também está agora em funcionamento. É de notareue a sua produção alcançou, no último ano, 60 por cento da meta definida,equivalente a 80-90 mil tonedas. Prevê-se o aumento de 18 prcento en relação àpro_' dução de 1979. O crescimento foi, desde o Congresso, de 105 por cto até oano passado, prevendo-se a 142 por cento até o fim do corrente ano.Todos estes dados ilustrativos (Ião uma ideia geral da participação dostrabalhadores angolanos no processo da reconstrução naoional. Isso testemunha aluta Ilescas: vinte mil trabadestes para o cumprimento das orientaçóes e directrizes do MPLA-Partido doTrabalho. oiCooperativas agrícolas:um salto em frente(Por Ambrõsio Clemente).

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A transformação mais profunda no domínio da cooperação agrícola, ocorreu esteano quando se constituíram as uniões provinciais de camponeses - formassuperiores de cooperativizaçáo Agrícola, - de Malange, do Uige (norte do pars) edo Kuan-a-Sul, regiões angolanas essencialnente agrícolas.Este .novo impulso dado no do- das associações de camponeses e minio dacooperação agrícola pe- cooperativas já existentes no país, los camponeses visa aintrodução e abre perspectivas para um rãno campo de novas relações de pido(mas seguro) desenvolviprodução, ou seja, de relações em mento da agriculturanos próxique não haja exploração do ho- mos anos, através da colectivimem pelohomem. zação agrícola.Esta experiência (a primeira em As 3 521 associações de campoAngola) resultoudo constante neses, as 296 cooperativas de proaumento do nível de organizaçãodução agrícola de primeiro grau,lhadores engajados no sectorAssociações de camponeses, base da soeialização da terraTEMPO - 9-11-80

espalhadas por todo o país, e as três uniões de camponeses constituídas, permitemhoje ao campesinato anigolano alcançar progressivamente maiores índices deprodução e de produtividade na agricultura e, consequentemente, minimizar osmúiltiplos problemas sócio-económicos que a nação enfrenta, nesta fase dereconstrução nacional.A existência em Angola de associações de camponeses (que contam com mais de417 815 associados) e de cooperativas de primeiro grau (com mais de 50 811cooperadores), é um indicio de que o movimento cooperativo deu passosconsideráveis, decorridos apenas cinco anos sobre a ýproclamaço daindependência. Contando principalmente com as suas próprias experiências, oscamponeses angolanos, apoiados por diversos organismos governamentais, d i ri ge m fundamentalmente a sua actividade no sentido de tornar a agricultura capazde sustentar a indústria,, definida como o factor decisivo do desenvolvimnento dopaís.0 movimento cooperativo está, por outro lado, intimamente ligado ao processo dealfabetização em curso. Milhares de camponeses angolanos aprendem a ler e aescrever em escolas básicas operário - camponesas c r i a d a s em todo o territórionacional, a fim de poderem utilizar no campo, técnicas de trabalho modernas,aperfeiçoar a sua prganização e aumentar a sua capacidade de direcção e gestão.<Não haverá revolução socialista sem campesinato». Este ensinamento legadopelo falecido Presidente Agostinho Neto tem servido de fonte de inspiração detoda a acção dirigida para o avanço e consolidação do movimento associativo nocampo, onde vive a esmagadora maioria do Povo angolano.O facto, de em Angola se dar especial atenção ao campo, é devido a que a opçãofeita pelo Povo angolano em edificar um estado socialista, exige a 'transformaçãoprofunda da economia, através do seu desenvolvimento planificado, tendo comobase a agricultura. LITEMPO - 9-11-0

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Saúde.alongr. a vidados trabalhadorestio nilhoramento do estado sanitario de uma comunidade é uma tarefa oue a todosconcerne (...), uma frente de combate de carácter político, social, económico ecultural em oue uarticipam não só o, trabalhadores da saúde. Dizen resteitotambém e esseýncialmente às massas populares devidamente organizadas» --. lê-se num documento oficial do Partido aue aborda a uroblemática da saúde emAngola.Estes programas, cuja aplicação prática assenta num amplo plano de coberturasanitária e de vacinação alargada, a par da medicina gratuita, instituída no paísapós a independência. Tem fornecido resultados positivos. Citando dados oficiais:Desde 1977 até ao 1. semestre de 1979 efectuaram-se, a nível de todo o país trêsmilhóes de vacinações conra as mais variadas doenças endémico-transmissíveis;efectuadas mais de nove milhões de consultas gerais e assistidos mais de 100 milpartos. - A isto acrescente-se a realização em 1979 de mais de trinta miloperações cirúrgicas e cento e trinta mil hospitalizações.Como é óbvio, nunca se conseguiriam tais resultados caso não se tivesse em contaque o factor homem, é o determinante para a materialização desta exaltante tarefaque é a saúde para todos. Isto em grande medida é o que determina a existênciaactualmente em todo o país de cerca de 700 postos de saúde, 140 centros de saúdee 42 hospitais assistidos por mais de 500 médicos e 3 000 técnicos paramédicos.Ao considerar-se estas realizações, por um lado, pode.se admitir que as mesmasainda não satisfaçam as necessidades sanitárias do país. Por outro, deve-sereconhecer que Angola fez progressos neste domínio. Isto, tendo em linha deconta que o país sofreu duas ferozes guerras de libertação nacional. Agravadaspelo êxodo maciço de quadros técnicos após a independência e pelo estado deguerra não declarada que a racista África do Sul lhe impõe há longo tempo. E, porúltimo, aforma em como era exercida a medicina durante o colonialismo.Em cinco anos de independência várias medidas práticas foram tomadas, sendo dedestac'ar -a abolíçáó da medicina privada e o estabelecimento do princípio degratuitidade. Foram dados os primeiros passos no domínio da profilaxia,nomeadamente a t r a v é s da realização da Primeira Campanha Nacional deVacinação contra a Poliomielite, ensaiado o primeiro esquema de saúde extra-hospitalar nos bairros periféricos das várias capitais cias provincias do país,postos a funcionar várias escolas técnicas de saúde, feitos cursos de reciclagempara trabalhadores da saúde e criado o Centro.1Hospitalar Universitário deLuanda. E quais os resultados disto? Uma quase erradicação da paralisia infantilno pais e uma ele-

vação sensível do nível de saúde de todo o povo.Mas o combate pela obtenção de um nível de saúde satisfatório para todos nãopára aqui.É assim que o Partido e o Governo, conscientes disto, têm dado especial atenção àformação e aproveitamento dos quadros existentes e, por outro lado, conscientes

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de que esta é uma tarefa de toda a comunidade, têm realizado, através dos meiosde difusão massiva, vários programas de saúde, com vista à sensibilização eeducação sanitária de todo o povo.Durante os anos 19-7 e 1978, formaram-se 1906 técnicos paramédicos nas vinteescolas técnicas de saúde do país. Em 1979 saíram do pais 950 técnicos para trêsanos de formação fo estrangeiro. Iniciaram-se novos cursos de formaçãoprofissional com mais de três mil alunos e criaram-se mais duas escolas técnicasde saúde no Soyo e Lunda-Norte.T a m b é m, é de sublinhar a importância da solidariedade internacional nodomínio da assistência médico-sanitária, quer durante toda a luta de libertaçãonacional, quer após a independência, ajuda esta que se tem traduzido no envio detécnicos, de medicamentos e de equipamento bem como a formação de técnicosangolanos. 'Com efeito, no domínio da saúde, Aigola conta, fundamentalmente, com acooperação da República Democrática Alemã, Bulgária, Cuba, Hungria,Jugoslávia, U R S S e Checoslováquia, p a r a além do apoio que prestam váriosmédicos estrangeiros, entre outros, de nacionalidade portuguesa, francesa,espanhola, peruana, holandesa, argentina, chilena e oeste-alemã, e que residemem íngola.Segundo Os últimos dados oficiwis, de Julho do corrente ano, encontram-se emAngola a cooperar cerca de 500 médicos, mais de 300 enfermeiros e 280 técnicosda saúde que, para além de prestarem a assistência médico-sanitária nos diversoscentros hospitalares do país, cooperam na formação de técnicos angolanos nesteramo.30Desenvolvendo-se esforços nos sectores definidos como prioritários, naalfabetização tais como o sector operário, o sector camponês, as cooperativasagrícolas e as Forças Armadas, os resultados até ao momento, provam odinamismo e o empenho do Povo, Partido e Governo na satisfação desta exigênciada revolução.Segundo dados do Centro Nacional de Alfabetização, de 1 687 355 analfabetoscontrolados, no país, mais de 758 864 estão a estudar nas diversas províncias deAngola.De acordo com o plano de superação pedagógica dos alfabetizadores foramrealizados até ao momento, 2992 seminários, que formaram mais de 69 944alfabetizadores. Estão a ensinar, 36 681,nas 36 981 salas de aulas de alfábetização existentes no país.Com a materialização da palavra de ordem, «ensinar é um dever revolucionário»,a juventude, os membros do Partido, das Organizações de Massas, assim comocidadãos que sabem ler e escrever, constituíram brigadas voluntárias dealfabetização, que ministraram aulas nos diversos centros de produção. Foramformadas 615 brigadas, que incorporam mais de 4 946 brigadistas.Cumprindo com a necessidade da criação de escolas básicas operário-camponesas, nas empresas, unidades agrícolas e militares, para garantir num curtoprazo a formação de trabalhadores e combatentes especializados, o sector de pós-alfabetização, encontra-se

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Alfabetização:prémio da UNESCOpara Angola(Por Avelino Miguel)O lançamento da campanha de alfabetização, na República Popular de Angola,não foi casual. É uma resposta à pesada herança de analfabetismo legada pelaregime colonial de Portugal. Antes da independência, 85 por cento da populaçãoangolana era analfabeta, destacando-se um maior índice no sector camponês.

empenhado nesta realização. Ten. do criado já a nível nacional 1 980 centros.No que concerne à formação de mestres, garantia do contrôle pedagógico doprocesso, este sector, apesar das dificuldades impostas pela actual fase dereconstrução nacional, levou a cabo vários seminários de formação. Estes se-,ýminários possibilitaram em quatro anos de campanha de alfabetização, a formaçãode 12 519 mestres.Grandes esforços, estão igualmente a ser desenvolvidos no capitulo de formaçãode quadros capazes de garantir, no presente e no futuro, a tarefa de alfabetização.Assim, existem na RPA, oito escolas de quadros docentes interprovinciais, quegarantem a formação anual de 1 396 professores técnicos.Prova bem eloquente do reconhecimento internacional dos esforços desenvolvidosem Angola no campo da alfabetização, foi a recente atribuição, ao país, pelaUNESCO, do prémio internadional de alfabetização, «nadedja krupskaia».LINGUAS NACIONAIS NA ALFABETIZAÇAOCom vista à aplicação das línguas nacionais na alfabetização decorreu em Luanda,o Primeiro Seminário Nacional de Formação de alfab'etizadores em línguasnacionais. Os trinta e três participantes irão assegurar, nas dezoito províncias dopaís, a realização de importantes projectos-pilotos sobre as línguas Kikongo,Kimbundo, Chokúe, Umbundo, Mbunda e Kwanyama cujos alfabetos foramrecentemente oficializados.Com efeito, o Departamento de Estudo das Línguas Nacionais, dispõe já de listasde terminologia das línguas nacionais. A partir destas listas, elaborar-se-ão osvocábulos de base e o material de alfabetização, em Português, traduzidos para asseis línguas nacionais.O Governo revolucionário da RPA, conta neste processo, com " o apoio dasOrganizações das Nações Unidas, nomeadamente a UNESCO e o PNUD e irápublcar, brevemente, 24 manuais de alfabetização.TEMPO - 9-11-80Desporto: dentro' e fora do paísa confraternizaç,Após três anos de pesquisa, devido a numerosos factores, nomeadamente a faltade quadros e a situação de guerra imposta pela África do Sul e por algunsgrupelhos fantoches, o desporto angolano só fez a sua verdadeira descolagemdesde há dois anos, graças a nomeação dê responsáveis e quadros dedicados, nadirecção da Secretaria de Estado Angolana de Educação Física, e Desportos(SEEFD).

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Assim, foram criadas um certo número de federações nacionais tais como, a -defutebol, basquetebol, atletismo, andebol, voleibol, natação, hóquei em patins,judo, karate-do, ténis e outras, que foram confiadas a antigos desportistas.:É de recordar ainda que todas essas federações estão já filiadas em organizaçõesinternacionais, desde Março-Abril de 1979. É precisamente nessa óptica que oComité Olímpico Nacional .Angolano (COA), dirigido por Augusfo LópesTeixeira (Tutu), Reitor.da Universidade de Angola, foi admL tido, em Outubro de1979, no seio do Comité Olímpico Internacional (COI).Depois desta fase, a atenção das autoridades .desportivas nacíonais virou-se parao problema da formação de quadros desportivos (em todos os escalões). Umgrande esforço está a ser desenvolvido p ra que os desportos sejam, para todo ocidadão angolano, um elemento essencial de sua actividade. Ao preconizar odesporto para todo o Povo, a República Popular de Angola, não pretende somentemedalhas nas competições, mas principalmente garantir a saúde física da juven.tude, condição indisp3ensável para construir a nova sociedade socia-' lista, quefixou, livremente, como objectivo estratégico.A cooperação de técnicos estrangeiros, altamente quali ficados e competentes é,agora, umifacto, em virtude de acordos desportivos assinados com píses amigos,sobretudo os do campo socialista, nomeadamente Cuba, União Soviética,República Democrática Alemã (RDA), Jugoslávia, Roménia e Bulgária.Atletas angolanos, participaram nos Terceiros Jogos Africanos de Argel, em1978, nas Segundas Universíadas Africanas de Nairobi (Quénia), nasEspartaquiadas dos Povos da União Soviética, em Moscovo, na Taça de Africa deAndebol, das Nações «Torneio Marien N'Gouabi», em Brazzaville, em 1979 nasUniversíadas Mundiais do M é x i c o em 1979, na Décima Taça das Nações deBas-, quetebol Sénior, em .Marrocos, em Março de 1980, na Terceira Taça deÁfrica das Nações de Basquetebol Júnior Masculino, realizado em Luanda(Angola), em Setembro de 1980.Participaram, igualmente, no Campeonato de Andebol de Cadetes da Zona IV doConselho Superior dos Desportos em África,. em Luanda, no Campeonato Zonalde Atletismo em Brazzáville, nas Vigésimas Segundas Olimpíadas, em Moscovo,sem esquecer os numerosos torneios amigáveis internacionais, organi z ad os emAngola e em países amigos como Congo, Moçambique, São Tomé e Príncipe,Zaire, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Nigéria, Cuba, Bulgária e Tanzania.Antes de finalizarý convém recordar que em algumas competições antes citadas,os «embaixadores» desportivos angolanos conquistaram excelentes vitórias emedalhas, das quais as mais importantes são as medalhas de ouro, prata e bronze,conquistadas no Terceiro Campeonato Africano de Basquetebol JúniorMasculinos em Luanda, no Campeonato de Atletismo da África Central, emBrazzaville (no tripo Salto), em Basquetebol Sénior nas «Universíadas» deNairobi, respectivamente, e finalmente uma outra de prata em Atletismo em Sofia

Namibia:uma economiacolonialPor Alves Gomes e Mendesde Oliveira

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No passado dia 21 de Outubro, na mesma tarde que terminaram em Pretória asconversações entre a delegação das Nações Unidas e o ,governo sul-africano, eraanunciado em Cape Town que os sul-africanos-vão iniciar no rio Orange um projecto económico onde vão «investir biliões derands». O rio Orange é a fronteira entre a Namibia e a,Ãfrica do Sul, a fronteiraentre a colónia e a potência colonizadora que, deseja manter a dependênciaeconómica que construiu na Namibia ao longo dos últimos 30 anos.As exportações de produtos minerais e pecuários produzidos na Namibiaofereceram à Africa do Sul mrais de um bilião de rands durante o ano passado.Esta quantia representa um aumento de mais de 300 milhões de rands em relaçãoao ano de 1977.Perante estes números- produzidos pela economia namíbia, pode-se ganhar aideia de existir naquele território ocupado pela África do Sul, um fortedesenvolvimento económíco. Esta ma 6, porém, a realidade. Porém e~ fümerosconstituem um óptimo indicativo sobre as razões que levam o regime de Pretóriaa querer adiar a data da Independência da Namíbia. 1 De acordo comobservadores internacionais, a «Namíbia constitui ainda hoje uma das provínciasmais rentáveis para o governo de Pretória». A sua principal riqueza e principaiproduto de exportação, são os dianantes, cujas minas se situam na parte sul doterritório, na chamada região de Oranjemund.Para além dos diamantes existentes no território namíbio minas de urânio, cobre,zinco, chumbo, e ainda outros minerais igualmente rentáveis e de grande valornos mercados i:ternacionais, como a prata; vanádio e o cádmio. Fala-seigualmente quena plataforma marítima existem re, servas de petróleo.Embora na sua generalidade a superfície do território seja árida, em grandesextensões desérticas, ela é favorável à pecuária existindo óptímas pastagens paragado bovino e para os carneiros. Para além da exportação de grandes quantidadesde carne e peles de carneiro Karacul, a Namíbia exporta igualmente grandequantidade de peixe, sendo a sua costa, entre Walvis Bay e Luderitz, muitoabundante em anchova e sardinha.UMA ECONOMIA COLONIALApesar da grande parte das divisas produzidas pela Namíbia serem provenientesda produção de diamantes, (81 por cento das divisas provêm do sector mineiro), apecuária é igualmente um sector rentável, para a economia sul-africana.Na verdade e contrariamente ao que os sul-africanos afirmam sobre como têmdesenvolvido economicamente a Namibia, aquele país não passa de uma colóniasob todos os pontos de vista de análise.Da produção de carne de vaca na Namíbia, 80 por cento é exportada através daÁfrica do Sul - 600 mi!Porto de Waivis Bay cuja integração na Né a zona mais industrializada e,cabeças de gado saem anualmente da Namíbia por caminho de ferro para a Africado Sul. Das pescas, parte é exportado através do porto sul-africano de Walvis Bayna Namíbia, mas mais de 50 por cento desta produção é enviada igualmente para

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a África do Sul, notando-se que a produção da lagosta é enviada directamentepara Cape Town, Johannesburg e outros centros sul-africanos.Ao nível dos mineiros, as rotas têm também as mesmas direcções com excepçãopara o urânio, que é exportado de Windhoek (capital da Namíbia) de avião para aEuropa e Estados Unidos da América. Mas os diamantes, principal fonte dedivisas, seguem directamente para a Africa do Sul antes de serem comercializadosnas grandes capitais do Ocidente.Marcadamente colonial, a economia namíbia sofre dos mesmos defeitos quequalquer outra economia africaná no seu período p ré-independente.Comparativamente, o capitalismo sul-africano investiu mais dinheiro em fábricasde empacotamento e em indústrias de transformação em Moçambique colonial doque na Namíbia. Por consequência, os preços que os mercados sul-africanosoferecem aos-produtos vindos da Namíbia (sua colónia) são inferiores ao queessesTEMPO - 9-11-80

ibla não faz parte das presentes conversações, meio de acesso às exportaçõesmesmos produtos poderiam ter, caso fossem directamente exportados para outroscontinentes ou outros países africanos. Isto acontece com os diamantes, carne devaca (beef), pelesde Karacul, peixe, etc.Este quadro repete-se naturalmentepara o caso das importações. Como não podia deixar de ser, nas importações todaa preferência é dada aos produtos que são produzidos na África do Sul - mais dedois terços das importações têm origem sul-africana, incluindo-se os derivados depetróleojá refinados.Os colonos sul-africanos a viver naNam,íbia são naturalmente os administradores deste colonialismo que só serve deexemplo em África à tentativa marroquina no Sahara. Os farmeiros brancoscontrolam entre si as manadas de gado bovino e dos carneiros Karacul. Três milfarmas repartem entre si cerca de seis milhões de cabeças de gado e de Ka.racul (cerca de três milhões cada), enquanto os camponeses se dedicamessencialmente (por falta de terras e espaço) à produção de cabritos (em grandequantidade), galinhas ealgum gado bovino.Embora, como já dissemos, a pecuária e as pescas, sejam dois componentesimportantes da economiaTEMPO - 9-11-80colonial sul-africana na Namíbia para além dos diamantes -, existem outrasriquezas que não têm sido desprezadas. O urânio extraído da mina Rossinggarante uma entrada de 450 milhões de dólares anuais nos cofres sul-africanos naNamíbia o que comparado aos 550 milhões de dólares produzidos com osdiamantes, constitui um importante ponto de referência das possibilidadeseconómicas para a Namíbia independente. De notar contudo, que a África do Sulcompra os quase dois milhões de quilates de diamantes por 550 milhões de

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dólares, quando nos mercados internacionais eles poderiam valer 625 milhões dedólares.UMA EXPLORAÇÃO CRESCENTEA exploração da Namíbia começou nos anos dez 1870 quando colonos alemães,missionários e comerciantes, se começaram a fixar no ter. ritório. Em 1892 aNamíbia torna-se formalmente uma colónia alemã.Se nesse processo os.colonos se foram apropriando das terras mais férteis, quandoo território adquire esse estatuto, essa ocupação é maciça, e, quando necessário,feita mesmo em termos militares. Foi por exemplo o caso da pilhagem das terrasdos povos Herero, delas escorraçados à força a pretexto de se arbitrar uma querelatribal, entre os Herero e outros povos igualmente à procura de um lugar onde sepudessem fixar, de modo a sobreviver, (neste pr'ocesso, 60 por cento dos Nama-Darara foram massacrados e 80 por cento da tribo Herero dizimada).Em '1915, quando da Primeira Guerra Mundial, o Governo su-africano tomou aNamíbia, acto que a comunidade internacional viria a legitimar depois e que lhetem servido de pretexto para a manutenção da exploração, apesar -de todas asposteriores decisões dessa mesma comunidade internacional, e do desejo.expressoem armas pelo próprio povo namíbio de ser livre e independente.Logo após a tomada do território pela Africa do Sul, esta iniciou a suasubstituição aos alemães na exploração.Assim, a multinacional «De Beers» (aliada à Anglo-American Corporation)passou a controlar toda a exploração de diamantes, os mineiros alemães foramsubstituídos pelos «boers», e todo o comércio se deixa de fazer com a Alemanhapara passar a ser feito com a África do Sul, ou com a Grã-Bretanha.Mas o desenvolvimento dessa exploração não foi imediato. Assistiu-se mesmo aum longo período de estagnaçãor. Se analisarmos os dados estatísticos,verificamos que a produção alcançada em 1920 foi idêntica à de 1914 (13 milhõesde rands, principalmente em diamantes) e queem 1935, em lugar de ter aumentada, ela diminui para cerca de dois terços daprodução desse mesmo ano de 1914.~Só a partir de 1940 a Africa do Sul se consegue empenhar na q<ppliação daexploração da Namibffl. Fá-lo nessa altura, dedicando a maibria do seu esforçoaos diamantes e à criação de carneiros (do tipoNos dias de hoje ao bom estilo colonial e racista dos anos 30 e 40 um farmeirosul.africano é lavado pelp seu empregado. A pecuária, os serviços públicos, aexploraçãomineira e pesqueira está na sua quase totalidade nas mãos dos colonos33

.Black Karakul») por serem naturalmente os produtos mais rentáveis.É então que a «Anglo-American. (multinacional mais poderosa de toda a regiãoda Africa Austral) estende, através da «Consolidated Diamont Mines», as áreas deexploração de diamantes a toda a região ao norte do rio Orange muito rica nominério.É igualmente então que é estabelecida no território a indústria pesqueira, onde apesca da sardinha e das enchovas se torna uma importante fonte de riqueza.

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Através destas medidas, em cerca de dez anos, o resultado da exploraçãoquintuplicou. Em 1951 o Produto Nacional Bruto era já de 61 milhões de rands,igualmente dividido pelas minas, pela exploração pecuária e pelas pescas.A partir daí esse valor foi sempre crescente. Em 1956 era de 141 milhões derands, cresceu depois mais lentamente entre esse período e os primeiros anos dadécada de 60. para aumentar a meio-da década, e chegar aos 213 milhões em 1965(45% das minas, 20% da exploração pecuária e das pescas, e o restante de novosprodutos). Em 1970 -- penúltimo ano em que a África do Sul divulgou estatísticasindependentes da Namibia, e a partir do qual esses números passaram a serincluídos sem descriminação, nas contas gerais sul-africanas - o ProdutoNacional Bruto atingiu os 379 milhões de rands, distribuídos, 30 por cento para asminas, 17 por cento da exploração pecuária e das pescas, e o restante dos outrosprodutos.Em 1970 as exportações, que cobriam 146 por cento das importações, ascendiama um total de 215 milhões de rands, assim distribuídos: 8b milhões de rands dediamantes, 36 milhões de peixe, 34 milhões de cobre e outros minérios, 27,5milhões provenientes da lã de carneiro, e 36 milhões de carne de gado.EXPLORAÇÃODOS ASSALARIADOSNaturalmente, e como característica inerente ao sistema, esta exploraçãoprogressiva não se deve unicamente à pilhagem das riquezas nacionais, mastambém à enorme exploração dos trabalhadores namíbios, usados como mão-de-obra.O processo utilizado foi o mesmo que na própria Africa do Sul. A concentraçãodos trabalhadores (separa34dos das famílias), em reservas do tipo aldeamentos, e o estabelecimento deempresas, do tipo «Wenela», para recrutarem os trabalhadores nas «reservastribais».Uma vez recrutados os trabalhadores eram presos por contratos econcentrados',nos «componds» junto às minas, atingindo-se em 1979 o número de100 mil homens vivendo junto às minas, ou junto ao porto de Walvis Bay.Actualmente, da população namíbia (estimada em cerca de um milhão e 500 milpessoas) 700 mil residem nas áreas das farmase 300 mil nas áreas urbanas.Existem desta forma 250 mil pessoas vivendo da agricultura de subsistência, 25mil são empregados domésticos, 56 mil são assalariados em farmas de agricul!uraintensiva, 30 mil são funcionários, 25 mil dedicam-se ao comércio, 23 miltrabalham nas minas e 50 mil, também como assalariados, noutros sectores.Numa farma um trabalhador namíbio recebe entre 250 a 400 rands. Comoempregado doméstico, entre 125 a 400 rands. Os piores pagcs são os assalariadosnas farmas, que recebem por ano cerca de 3 mil rands, metade dos quais sãopagos em géneros alimentícios.Na Namíbia estão a trabalhar cerca de 36 mil; boers, dos quais doisAspecto de untàdas grevesque eclodiu -naNamibla em 1971.

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Na foto podem.sever milharesde trabalhadoresda indústria ]pesqueira num«bairrode contratados»,provenientesde virias regiõesdo territórloterços pertencem à administração do território, um quinto está ligado àagricultura, um décimo ao comércio, outro tanto is minas, e! o restantedistribuídos pelos outros sectores.Apesar deste número reduzido de colonos, o total dos salários dos boers é quase odobro do total dos salários dos trabalhadores negros, reduzidos como vimos, àmão-de-obra, ou excepcionalmente, a professores e enfermeiros.Hoje e após o início das operações armadas conduzidas pela SWAPO, grandeparte dos grandes agricultores sul-africanos pôs de lado o sistema de «contratos».Mas, os pequenos agricultores brancos e a indústria pesqueira continua a manter omesmo sistema.Necessariamente que este tipo de «desenvolvimento sul-africano' na Namíbia,tem provocado no seio da população e, em particular no seio das classestrabalhadoras, uma fcýríe reacção que, normalmente encontra sempre pela frenteuma forte e brutal repressão militar. A própria SWAPO, nasceu de umaorganização de trabalhadores «contratados» e foi a repressão sul-africana e assuas desumanas leis na Namíbia que levaram o movimento a enveredar pela LutaArmada.A criação das «reservas tribais». numa política que os sul-africanos

nunca esconderam de ser semelhante à da bantustanização, e a existência de«bairros para assalariados, tem iguaimente tido os efeitos contrários aos que eramprevistos por Pretória. De um lado, o povo namíbio ganhou através do sistema de«contrato, uma maior consciência nacional, pondo de lado as suas origens tribais.De outro, a política de manter as pessoas afastadas do ensino e dos centros-dedecisão criaram novos incentivos para a Luta pela 'Independência.É como resultado desta política verdadeiramente retrógrada, que hoje o regime dePretória tem de manter-cerca de 80 mil hom-ens do seu oxér* cito (dos quais 50 mil provêm da Africa doSul), para proteger os seus interesses económicos'e dos 36 mil e 500 brancos quevivem no território.Uma breve análise à comunidade branca que vive na Namíbia, indica por si -asrazões da sua existência. Dos gerentes administrativos das empresas estabelecidasno território, 75 por cento são brancos (inclui-se neste número os professoresprimários e enfermeiras). Dos trabalhadores qualificados do território '60 porcento são igualmente brancos. '

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Naturalmente que como resultado desta política abertamente racista e colonial, osnamíbios que desejaram receber educação, ou melhor tratamento social, tiveramque emigrar. Desta forma, existem na Europa, segundo estimativas da própriaSWAPO, mais de vinte mil namíbios com formação secundária ou universitária.Na Namíbia porém, só cinco mil namíbios receberam instrução seçundaria.QUE PERSPECTIVASA economia namíbja está na prática e, em termos objectivos, nas mãos de três ouquatro companhias multinaácionais, das quais a maioria são sul--africanas. Aadministração pública, o exército e polícia, os me;os de comunicação, as estradas,caminhos de ferro e portos, estão tias mãos do governo sul-africano.Embora cheio de potencialidades económicas ao nível mineiro, pecuário e daspescas, a Namíbia independente trará, para um governo genuinamente nacional,problemas de grande envergadura. De um lado, o facto de o Estado e a economiaestarem em mãosestrangeiras e de outro, a necessicade que existe gem confrontar problemassociais e políticos com o agravamento da situação económica, devido ao ,paísestar a viver internacionalmente isolado há já muitos anos.Dados recentes indicam uma baixa considerável na exploração pesqueira (quebaixou de900 mil, tonelada,; de pesca o em 1970 para menos de 200 mil em 79).O cobre, importante fonte de divisas para o país, devido aos baixos preços queencontra nos r íercados internacionais, também é um sector em plena crise.A estes dois factores de desemprego para o país, junta-seum não menosimportante. Segundo afirmam váriqs observadores, é de esperar que os farmeirossuil-africanos que actualmente vivema Namibia se retirem (ou a isso sejamlevados pelo regime de Pretória), no caso de uma solução negociada para aNamíbia resultar na formação de um Governo da SWAPO.Há ainda que tomar em consideração outros aspectos o facto de o colonialismosul-africano não ter desenvolvido a indústria ligeira no território (só há fábricaspara enlatar sardinhas, anchovas e carne para exportação, não existindopraticamente nenhuma indústria alimentar que sirva o país.); o facto de a Namíbiaindependente ficar totalmene dependente à África do Sul nas suas exportaçõesenas suas vias ferroviárias (não existem condições par que se(Ja construídoumporto rentável, ou urra linha férrea que ligue, -numa curta distância,,a Namíbiaa outros oaíses membros da OUA); o lfacto de um futuro governo do país .e ternecessariamente de confrontar com o problema da falta de trabalhadoresqualificados a todos os níveis".TEMPO - 9-11-80Criançasrefugiadasda Namibiasendo ensinadaspor professoresda SWAPO.Na Namibia,só cinco milpessoas pretas

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fizeram ýestudos~seundárnsrace a estas realidades, tem de ýse aceitar que o regime sul-africano a quem certaspotências continu.am a acreditar como parte interessada na Independência doterritório criou todas as condições para a criação de umregime neocolonial nopaís.Contudo, é de acreditar que um Governo dirigido pela SWAPO saberá contornarestes difíceis condicionalismos e levar o país a um desen,volvimento económicoindependente. E, de acordo com osý dirigentes do movimentq de libertação daNamíbia a sua política será a de criar «um país independente e soberano da Africado Sul».Consoante as afirmações dos, lideres da SWAPO, a sua política ecnómica e,sòcial será a de' não «destruir por destruir as actuais infra-estrutras económicas naagricultura, mas criar.condições ou surgimento de farmas-estatais e cooperativas,por forma a melhorar as condições de vida do povo e aumentar a produ;ão decomida no país» - de notar que a produção de vegetais, batata. e cereais épraticamente inexistente.A participação do Governo em programas de investimento conjuhto no sector daspescas, minas, comércio, energia, transportes e comunicações ,é outra dasprioridades definidas pela SWAPO. Isto, a par da criação de sindicatos paratrabalhadores oue lhes possa levar à participação direc*. ta na economia e resolveros jraves problemas salariais e de condições de trabalho existentes.Naturalmente que a grande t&nica da SWAPO dirige-se ao sector social,nomeadamente saúde e educação. «Dar saúde ao povo, criar condições para queno futuro o povo possa ser dirigente dos seus próprios interesses-.35

Zamb ia históriadeumfracassadoO Presidente Kaunda da Zâmbia, denunciou numa conferência de imprensa naState House de Lusaka que teve lugar no dia 27 de Outubro, que um grupo dehomens armados - contando com-o apoio do governo sul-africano - tentouderrubar o governo da Zâmbia na noite de 16 a 17 de Outubro.MIGUEL CRISPEKaunda disse que as suas forças de segurança tomaram conhecimento daintentona 24.00 horas antes do momento marcado para o golpe de estado.Falando àcerca da noite do 16 de Outubro, o Presidente zambiano disse que doismembros das forças de Segurança zambiana morreram e outros dois foramcapturados quando um grupo de conspiradoras - cerca de 50 homens - seconfrontou com as forças fiéis ao Governo. Quarenta membros do grupo golpistahaviam sido capturados, enquanto que outros dez fugiram.O Presidente Kaunda afirmou então que três altos oficiais superiores das forçasarmadas da Zâmbia se encontravam envolvidos na intentona golpista. Entre estes,destaca-se o General Kabwe, chefe da força aérea, e que fora muito recentementepromovido ao cargo de generaL

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Kaunda afirmou que o grosso de individuos que pretendiam atacar e derrubar oseu governo eram dissidentes que estariam agora fora do país. De acordo com oque foi dito por Kaunda, os conspiradores pretendiam atacar a «State House»(Palácio do Governo), a Rádio Zâmbia e o comando do Exército, bem comodiversos pontos estratégicos..NÃO FOI SURPRESAA tentativa de golpe de estado denunciada pelo Presidente Kaunda não apanhouninguém de surpresa. Ao contrário, em Lusaka, havia rumo-Presidente Kaunda da Zâmbia.O grupo de homensque pretendiadar o golpede Estadona Zâmbiaera constituído por «gendarmescatangueses»com apoio daÁfrica do Sulres dos preparativos deste golpe desde fins do mês de Junho deste ano.Como todos os golpes de estado, a intentona teve suas distintas etapas que seforam desenvolvendo conforme um certo plano já pré-estabelecido:No mês de.Maio deste ano, distintas personalidades políticas, e das «altasfinanças» do país, fizeram declarações na imprensa zambiana exigindo umamudança na orientação política e económica do país. Concretamente, o Directordo «Standard Bank da Zâmbia», uma filial do International Standard Bank, senhorKashita, declarou na cidade de Kitwe que o governo deveria permitir ofuncionamento de outros partidos políticos no país, e que, o governo não deveriaforçar os cidadãos zambianos a sujeitarem-se a uma só eleição partidária, daUNIP, ,Partido único permitido no país.Simultaneamente, o ex-Ministro das Finanças, senhor John Mwanakatwe,actualmente Conselheiro doZIMCO (Organismo. que agrupa todas as empresas para-estatais) e Director doBarclays Bank da Zâmbia, uma filial do Barclays Bank International, declaravaque a política do governo era completamente errada, sobretudo em matériaeconómica. Mwanakatwe foi o homem que preparou as bases de um futuroacordo com o Fundo Monetário Inter. nacional em 1977/78, o qual veio aprovocar o mais grave recuo económico do país, com um salto espectacular nataxa do desemprego e falência de pequenas empresas. No momento de renunciarcomo Ministro das Finanças, o senhor Mwanakatwe- no velho estilo britânico - passou directamente a ocupar o cargo de Director eChefe do Barclays Bank da Zâmbia.Poucas semanas depois, o Presidente Kaunda reagiu violentamente contra estasdeclarações, convocando uma reunião de todos os altos funcionários do governo,juntamente com a imprensa local, internacional e o corpo diplomático. Nessareunião,TEMPO - 9-11-80

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golpe

Kaunda denunciou as manobras destes «dissidentes», classificando-as como umaprovocação aberta às Forças armadas zambianas para se tentar um golpe deEstado. Kaunda pediu aos oficiais das Forças Armadas-do país «que não -sejuntassem a estes idiótas».Na.mesma altura o Chefe de Estado zambiano fez um ultimato ao InternationalStandard Bank da Grã-Bretanha, para saber se a direcção deste BancoInternacional se solidarizaria ou não, com, as posições políticas adoptadas pelo,Director do Banco Standard da Zâmbia. O ultimato era de 48.00 horas. Emmenos de 24.00 horas, chegou às mãos do Presidente Kaunda uma nota daDirecção do Standard Bank International negando todo o apoio ao seu Directorlocal. Este viu-se obrigado a renunciar ao seu cargo. Enquanto isto ocorria, outraspessoas também acabaram por renunciar aos seus cargos públicos ou privados, eum !director de um Banco privado era atacado por jovens militantes da UNIP,acabando por ser salvo pelo Secretário-Geral da UNIP, senhor Mainza Chona. Aprimeira etapa do golpe encontrava-se desta maneira encerrada, abrindo-se asegunda.A ABERTURA DE KAUNDA2A economia da Zâmbia, dentro daPresidente Kaunda juntamente com o Pre. divisão internacional do trabalhoinsidente Saro Nujoma da SWAPO. Os gol. posta pelo imperialismo britânico epistas pretendiam <servir» aos sul-afrihýanosý americano, está centrada em voltadana questão Namíbia produção de cobre. Noventa e seispor cento das entradas de divisas pa-Mapa económico da Zâmbia. Devido à sua situação geográfica a Zâmbia tem sidodesde a sua Independência alvo de agressões imperialistas. Os movimentos delibertação de Moçambique, Angola, Zimbabwe e Namibia encontraram, noPresidente Kaunda «um apoio seguro»TEMPO -' 9-11-80ra este pais provêm dos miérios de cobre e de crómio que abarcam'a maior partede alta percentagem de entradas de divisas. A agricultura está dividida - em linhasgerais num sector comerci l composto por 446 farmeiros brancos e uns 300farmeiros africanos «mais uns mil farmeiros (farmeiros emergentes) africanos»que já começaram a trabalhar satisfatoriamenta ao nível comercial; o resto dopaís, está resumido a uma agricultura muito atrasada que. nem sequer é desubsistência, segundo uma informação do Agrónomo francês, Prófessor RenêDumont, que visitara a Zâmbia em Setembro e Dezembro do ano passado.Dumont foi convidado pelo Presidente Kaunda para fazer uma avaliação dasituação agrícola da Zâmbia.No segundo dia da chegada de Dumont a Lusaka, e quando dava a sua primeiraconferência de imprensa,ý este agrónomo foi violentamente atacado por aqueleque era nesse momento Ministro da Agricultura. Alexander Chikwanda acusouDumont de ser um radical vergonhoso».

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Dumont preparou uma análise preliminar sobre a situação das zonas rurais dopaís, a qual distribuiu aos delegados da Conferência Anual da UNIP. Ele entregoutambém a análise de 200 páginas ao Presidente Kaunda. Cópias deste documentocircularam em esferas do governo.A análise de Dumont era assustadora. Punha em evidência a falta do apoio, aoscamponeses zambianos, . sua miséria económica, analfabetosmo, a alta taxa demortalidade infantil, a crescente desnutrição da população camponesa, e o de luxoem que vivem ,os 20000 membros da burguesia nacional, muitos dos quais,Ministros, funcionários do governo, representantes de ,multinacionais e bancosinternacionais, comerciantes e industriais locais, bem como, os farmeiros quetrabalham no sector comercial,,..Mesmo no seio do Comité Central da UNIP houve quem acusasse o impactodas denúncias de Dum,nt, em particular aquelas personaliciaJes que já no passadotinham demonstrado serem expressão das soluções políticas de compromisso eestarem ligadas a sectores retrógrados da igreja eaos meios económicos maisconservadores. Contudo Duront foi elogiado por Kaundapela sua cora-. gemapesar da sua idade...,

A ALTERNATIVAO Presidente Kaunda é um nacionalista sincero na luta pela libertação da ÁfricaAustral. Graças a Kaunda, que muitas vezes teve que lutar duramente contra adireita do seu Partido que se opôs ao apoio que a Zâmbia deu aos movimentos delibertação, podemos dizer que a Zâmbia conseguiu nos últimos dez anos jogar umpapel importante na luta do s povos desta região da África.Hoje, quando os preços do cobre estão por baixo, quando as manobras doimperialismo para incrementar o domínio sobre os países em vias dedesenvolvimento são cada dia mais ferozes, o Humanismo zambiano sofre dassuas fraquezas: a Zâmbia não tem uma política económica própria, parecendo quesó existiu um país, o país mineiro.Objectivamente, a Zâmbia sofreu duramente os ataques aéreos rodesianos durantea última parte da luta de libertação do Zimbabwe. As suas forças armadas tiveramdificuldades de enfrentar os rodesianos, que aproveitaram cada oportunidade quetiveram à mão para enfraquecer a capacidade defensiva da Zâmbia e debilitar asua economia. Kaunda não seesqueceu desta lição. Pediu ajuda militar à Inglaterra e aos Estados Unidos. Aajuda não chegou ou era ridícula.Então Kaunda decidiu pedir ajuda militar. aos países socialistas. A URSS acordoude imediato em dar um crédito para a compra de aviões de combate artilhariaantiaérea para além do treinamento do pessoal zambiano que manejaria estearmamento respondendo a esta decisão zambiana o imperialismo moveu os seuspeões no congresso americano: No momento de se discutir o montante da ajudaeconómica à Zâmbia, um congressista americano declarou que a Zâmbia nãonecessitava ajuda económica porque «o dinheiro que este país deveria usar para oseu desenvolvimento económico, utiliza-o para a compra de armamentossoviéticos. «De imediato, a imprensa e a burguesia zambiana expressaram o seu

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medo de se «estar alienando a amizade dos a m i g o s tradicionais da Zâmbia:Estados Unidos e Inglaterra».O Presidente Kaunda avançou um passo mais: enviou o seu Primeiro-Ministro. sr.Daniel Lisulo, para a Bulgária, RDA, Roménia, a fim de preparar as negociaçõessobre um plano de desenvolvimento agrícolacom a ajuda dos países socialistas e capitalistas. Os únicos que responderampositivamente ao pedido zambiano foram os países socialistas.A ideia do Presidente Kaunda é estabelecer farmas estatais, (são importantes,como exemplo, os êxitos alcançados pela agricultura estatal moçambicana) de 22mil. hectares em cada província.Como resposta a esta decisão, a burguesia nacional reagiu: o Ministro daAgricultura, sr. Chikwanda, renunciou do seu cargo; O conselho pessoal paraassuntos exteriores da «State House», sr. Mack Chona, renunciou por «razões desaúde, retirando-se para a sua farma privada».Pouco antes de sair na sua digressão pelos países socialistas e capitalistas paraangariar meios de implementar o seu programa agrícola, o Presidente Kaunda deuo outro passo: convocou uma reunião das suas forças de segurança, reunindo todaa alta oficialidade das forças armadas zambianas. Objectivo: acalmar asinquietudes de certos oficiais direitistas - que já haviam sido contactados pelosdissidentes - e explicar-lhes as razões pelas quais a Zâmbia havia aceite 0armamento soviético.Naquela reunião, o PresidenteMina de cobre em Ndola. O cobre fornece 96 poi cento da Internacionaisprovocaram nos i

Kaunda pediu claramente a esses oficiais que «não entrassem em jogos sujos decertos elementos dissidentes que querem utilizar forças armadas para os seus finsegoistas e suas ambições pessoais..A seguir, Kaunda partiu em visita aos países socialistas antes mencio. nados, paraalém do Japão, Inglaterra, etc.NAMIBIA:O OUTRO MOTIVOZâmbia, como país membro da Linha da Frente, tem jogado umpapel importante-nas negociações para alcançar a independência da Namíbia.A questão da Namíbia, em termos concretos, tem sido deliberadamentemanipulada pela África do Sul, com' o objectivo de manter as Nações Unidas omais enfraquecida possível de conseguir uma verdadeira intervenção nasnegociações. O grupo dos cinco são (parte integrante» nas negociações, jáviciadas, para a independência da Namíbia.A estratégia su1-africana - graças a esta ambiguidade do Grupo dos Cinco - temconseguido um certo êxito. Junto a estas manobras, a África do Sul atacasistematicamente Angola e a Zâmbia de cada vez que devem começar asnegociações entre as Nações Unidas e Pretória. A prova mais recente, são osataques aéreos e desembarque de comandos sul-africanos em Angola em 17 deOutubro e a 20 de Outubro, ao mesmo tempo que tropas sul-africanas penetravam

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no território da Zâmbia. Esta táctica tem-se repelido constantemente nos últimosquatro anos.A estratégia sul-africana aponta para uma solução «africanizada» da Namíbia,tentando convocar uma «conferência de todas as partes», corno se fez no casodoZimbabwe, incluindo aqueles grupelhos africanos namibianos que só existemno papel e que têm sido criados pela Africa do Sul. Além disso, - estaconferência segundo Pretória-, deveria efectuar-se debaixo da 'presidência daAfrica do Sul e não das Nações Unidas embora com a presença dos países daLinha da Frente. Com esta solução, a Africa do Sul procura assegurar um regimeneocolonialista na Namíbia.Contudo, a África do Sul suspeitou que a Zâmbia não aderiria a este esTEMPO -9-11-8 .Vista aérea de uia nina de cobre -_ Nkana no norte do pais. Face aos Preços do-cobre o Presidente Kaunda decidiu diversificar a economia zambiana e criarprojectos agrí.colas para socorrer a grande maioria do povo. constituído por camponesesquema, pois o Presidente Kaunda assumiu um verdadeiro compromisso com aSWAPO, para se alcançar a independência da Namíbia. Pretória queria ver na<State House» de Lusaka um homem da direita zambiana que estivesse disposto aentrar em negociações directas com o governo de P.W.,Botha, sem incluir asNações Unidas.Destes homens que deseja Pretória, há alguns na Zâmbia dispostos a entrar emconivência com os interesses da Africa do Sul. São indivíduos unicamentepreocupados com aspectos puramente cosméticos do «Apartheid,,, e com as basespolítico-económicas e sociais sobre as quais assenta o Apartheid.Esta direita zambiana, igual a outras burguesias africanas, estãosó preocupadascom o problema da discriminação racial, mas não.,com a exploração dosafricanos. É este o vértice donde a direita zambiana antiKaúnda anticomunista,antisocialista e antiqualquer melhoramento das condições de vida do Povo daZâmbia se encontra ligada om interesses estratégicos do imperialismo e da Áfricado SulýPara levar a cabo o'seu plano, só. necessitava de um general ambicioso, um grupode mercenários (que nest caso foram os' famosos ,gendarmes Catangueses» agora«,desempregados»), além do' finançÍamento sul-africano e id-mperiai"smo.'Se Kaunda darecesse da cenapolítica zambiäa não restam dúvi-das que a Zâmbia romperia com a Linha da Frente pois ficaria seriamentedebilitada. O imperialismo isolaria Angola, criaria um Estado-tampão na Zâmbiaameaçando ainda mais o Zimbabwe, para neutralizar qualquer possibilidade deum desenvolvimento político nacionalista ali.Assim, a ýÁfrica'do Sul teria as .mãos livres para forçar a S ua soluçâo «africanapara a Namíbia», e o imperialismo poderia passar à ofensiva sobre a Tanzania eMoçambique, usando as suas pontas de lança: a África do Sul e as multinacionais.Se o golpe de Estado fracassou,pode-se prever que as forças políticas e económicas que o organizaram vãotentálo mais tarde. E uma ques-, tão de tempo e oportunidades. O pro- .. blema

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agora consiste em ver se o Presidente Kaunda, com o prestígio e a capacidadepolítica de que tem feito prova, conseguirá neutralízar os elementos reaccionáriosalojados no seio da sociedade zambiana, criando um aparelho político capazde'responder cabalmente às necessidades que uma completa independência '«económica nacional' vão inevitavelmente exprimir.A vitória do Povo zambiano e dqs suas forças progressistas nesta confrontaçãoque agora se agudizarcons- , tituirá um factor decisivo para a es-.,ý tabilidade eprogresso da África Austral.Miguel Crispe - E]

Movimento religiosoé alvo do apartheidAs contradições entre o governo sul-africano e as igrejas têm-se vindo a agravarnos últimos anos. Cada vez mais, as igrejas que actuam na Africa do Sul tornam-se criticas do apartheid Pelo que começam também a ser alvo da repressão racista.Por: Hennie SerfonteinRecentemente, um jornalista foi preso e acusado de estar ligado ao ANC daAfrica do Sul quando fazia a cobertura da Conferêndia Anual da Igreja Metodista.Ele tinha anteriormente escrito um artigo intitulado - «um ptis ondt as pessoaspodem desaparecer».Mas as contradições entre o governo sul-africano e o movimento religioso anti-apartheid estão bem caracterizadas no recente caso de banimento do antigoDirector do Instituto Económico Não-Racial. conforme escreve o nossocorrespondente.O governo puniu uma vez mais-um dos mais activos oponentesdo apartheid, Dr. Beyers Naude, o -anterior Director do -Instituto EconómicoNão-Racial.Recusaram-lhe um passaporte e permissão para visitar a Holanaa onde ia assist'irao ceintenário da Universidade de Vrije de Amestardão, a qual o contemplou como doutoramento honorário, alguns anos atrás.Esta medida segue-se a vários anos de conflito entre o governo e o Dr. Naude queculminou no banimento da sua pessoa e do Instituto Cristão em 19-10-77.Há 20 anos, depois do tramáutico levantamento de Sharpeville, o Dr. Naide,tornou-se a figúra principal de um movimento dis-sidente das igrejas - incluindo a branca Pró-Apartheid Nederduitse GereformeerdeKerk (1.G.K.)- que ferozmente atacou a política do país e a sua disposição económica.Uma vez mais em 1980, jovens «Africanders», batalhando com a ideologia daN.G.K., e mesmo calando a sua igreja em protesto, vem o Dr. Naude e a suamensagem cristã de total dedicação, como guia e apoio.«Sim, o governo está a tentar silenciar e desumanisar Beyers usando os seusdraconianos poderes de interdição. - Mas isto não pode nunca matar o seu espíritoe pensamento» - disse a sua mulher.

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Como pessoa interdita, o Dr. Naude não pode ser uma pessoa citada e por essarazão, só através de amigos e parentes dele é que nós podemos construir aimagem da sua vida presente.Tendo sido um filho favorito da Afríkanerdomn - um moderado da N.G.K. emembro da elite secreta da Afrikaner «Broederbond»- ele veio a ser ultrajado e votado ao ostracismo pelo seu próprio povo.Ele fez a rota clássica através de influências entre africander, mas caiucompletamente em desgraça e encontrou-se com a fúriaTEMPO - 9-11-80Dr. Beyers falando nara iiieliibros na sua congregaçao

do governo e da N.G.K., e a de Broederbond.Depois embarcando numa correntede acção social-cristã, que desafiava e rejeitava os fundamentos basilares doestabelecimento africander (movL mento do apartheid).Diz o Bispo Tuto: «ele mostra o que acontece dos africanders quando eles sãodevotados completamente a causa da libertação. Não há,meias medidas, eleentregou-se totalmente dando a sua vida é de facto ainda o faz. Ele está agoramais ocupado do que dantes, e cada vez mais digno de confiança do povo para seuguia.O Dr. Naude foi o primeiro e único dirigente do interdito Instituto Cristão (C.T.).Os seus amigos apelaram para que ele lutasse duramente para estabelecer a ponteentre as comunidades branca e preta - em particular um laço entre os pretos e osbrancos que lutaram para encontrar uma alternativa ao que eles acharam ser umainjusta e grosseira sociedade desigual.Nos seus 15 anos de existência o C.I. mudou mais e mais 'm direcção e umaposição radical, desafiando as crenças religiosas e políticas da sua perspectivaEvangélica social religiosa e política que muitas vezes se fundiu.Estes 15 anos mostraram a con.racista tenta Persuadir os tratseuntes a assinarem urna peti. iadâos pretos nãosejam (de novo) admitidos nos parquespúblicosAspecto Ga reacao popular à visita de um ministro do regine racista ao subúrbiode SowetoO sr. Conradie disse, contudo, que o governo ia empregar todos os esforços paracalar pessoas como o Dr. Naude «ele não pode continuar a ser reprimido».As ideias, assumidas pelo Dr. Naude mantêm o seu impacto, porque elasrejeitaram uma ideologia que pretendia que a política e a religião não podiam serseparadas, disse o Dr. Conradie.Amigos e parentes disseram que no que lhe dizia respeito ao futuro do país, foisempre estreitamente ligado por uma forte crença, que havia amplo espaço parapretos e brancos na luta de libertação.A confirmação da sua posição e o respeito que merece da comunidade preta foireafirmada recentemente quando o Dr. Naude foi o único branco convidado adirigir o serviço fúnebre, em Soweto, do Chefe Político e religioso, r e v e r e n do Mashwabada «Castro» Mayathula.

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Mas o governo recusoulhe a permissão de entrar no Soweto já que a sua ordem deinterdição o restringe ao distrito Magistério de Johannesburg. hTEMPO - 9-11-80Mm

Estados UnidosAfrica Aýiic A rale a -Campanha EleitoralDurante a recente campanha eleitoral nos Estados Unidos da América, a AfricaAustral constituiu um dos mais importantes pontos da conquista do eleitoradoamericano por Jimmy Carter e Ronald Reagan. As posições de ambos oscandidatos não diferiam muito, embora possa parecer que elas eram em certamedida antagónicas.Jmmy Carter do Partido Democrata Americano: as circunstíncias históricas naÁfrica Austral obrigaram a sua administração a uma maior aproximação dospaíses membros da OUACom efeito, e uma vez dessiminadas as posições assumidas durante os últimosanos pela Administração Carter em relação, à África Austral, chega-se àconclusão que se Reagan afirmou que iria tazer uma abertura imediata à África doSul, isso não passava de uma forma, de conquistar os sectores mais iàireitistas doeleitorado americano. Essencialmente, Reagan como Carter, tinham em mente aconquista de votos, por. que a política em relação à África Austral vai prosseguir:aumento ds relações comerciais com a África do Sul, possível abertura da basenaval de Simmonstown na Ãfrica do Sul, procura de relações amistosas e tantoquanto possível d, aproximação, com restantes países da África AustralQuando a «Africa Report» elaborou uma série de entrevistas aos candidatos àpresidência deste ano, como resposta aos «mais importantes interesses básieos dosEUA 6m'Africa,, a administração de Carter declarou, que o seu objectivo visava alibertaçãod,á África do «domínio de potências 'externas, ý livre' da injustiça racial, damiséria e da doença>, porque o ,«presidente acredita no alcance crescente dosDireitos Humanos nas Nações Africanas».Na mesma entrevista a própria administração confirma o seu interesse, porque:1.o - «A Africa está a assumir uma crescente importância na cena internacional».2.- - «É excepcionalmente rica em recursos naturais: petróleo, urânio, crómio,bauxite, cobalto, ouro e diamantes,.3.,- «Tem um enorme potencial agrícola e industrial, assim como de coopercomercial eeconómica".4.- .Tem uma importância estratégica pelas rotas marítimas paraos palsesOcidentais.5.>- «inalmente, a instabili. dade nolitica, a froüeza económica e as lutas delibertação fazem do cOntinente' africano uma arena em/i potência para aconfrontação das grandes potências».

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Como súmula, a política americana em Ãfrica d,áve «satisfazer tanto asaspirações africanas como os interesses americanos ,e servir a causa da ordeminterna, cional, da -paz e da justiça»-.AS RELAÇOES COM A AFRICA DO SULPretendendo criar uma boa imagem em África (e assim obter outras vantagens),Carter oficialmente apoiou em 1977 o embargo de armas para a África do Suldecretada pela ONU e em 1978 cortou a exportação de bens e tecnologia militar.O que acontece na realidade?Em 1979, as importações norte-americanas da África do Sul subiram 70 por centoe as exportações 25 por cento, em comparação com o ano anterior. Osinvestimentos cresceram na ordem dos 7 por cento ao ano e as companhias sul-africanas aperfeiçoaram-se graças à tecnologia sofisticada «made in USA».TEMPO --

Os factos dizem tudo, apesar de a administração Carter tentar justificar estegradativo aumento das relações com o apartheid afirmando que: as firmas norte-america. nas ~ram possibilidade de mais empregos aos negros «(....)», nãodeixando de encorajar ao governo de Botha a certas reformas».A INEXPERIÊNCIA DE REAGANPara os assuntos africanos, o candidiato republicano Ronali Reagan, tem comoconselheiros Peter Duignan e Lewis Gann, que fizeram vários estudos sobre aÁfrica.Duignan, referindo-se à África do Sul, disse,que se poderia estabelecer contactos«económicos, diplomáticos, culturais e académi. os». Visando um «fim gradualdo apartheld.. mais autonomia para os negros das zonas urbanas e maisdemocracia nos bantustões que seriam os possíveis objectivos 'a alcançara.Ele afirma ainda que o embargo comercial não é o meio para se alcançar asreformas do apartheid, pois os Estados Unidos precisam cis minerais estratégicosda Ãfrica do Sul (por exemplo o urânio para a energia nuclear),necessitam do ouro e de terem acesso ao contrôle da rota do Cabo e das suasfacilidaý,s ,navais.Dugna afirmou ao «Buslues Weeka oue «parar os contactos com a Africa do Sulpor causa da sua política racial é o mesmo que cortar as r s com metade dospaíses do mundo que oprimem as suas minoa raciais,'a oposição política, asreligiões.... (Dulgnan esqueceu-se que nescaso uma minoria que' opimo amaioria).Estes dois conselheiros de Reagan escreveram no passado mês de Abril, que osEUA deveriam «prestar apoiou aos sul-africanos para a umanutenção desegurança na i..São vários os observadores das eleiçóes, que comentam ser Reagan uminexperiente em política africana. Ele próprio tem expres. sac,: publicamentesimpatias com a África do Sul e o apoio a Jonas Savimbi. Mas a natureza da poli.tica africana tem dependido largamente dos seus conselheiros,. que muitas vezesfazem afirmações que anão correspondem à realida. deu, como por exemplo,Joseph Churba, conselheiro para o Médio Oriente que declarou que se Reagan

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vencesse «poderia anular o embargo de armas para a Africa do Sul» eestabeleceria a presençamilitar americana na base naval de Simmonstown. Imediatamente, as suasafimi~es foram repudiadas pelos organizadores da campanha de Reagan queviram nelas uma ameaça à sua popularidade.Reagan disse recentemente que «a Africa do Sul é para mim um óptimo lugar.., eeles certamente não terão necessidade de nós para dizer-lhes como resolver osseus problemas raciais.Contudo, o personagem mais importante entre os conselheiros de Reagan éChester Crocker, o cabeça do «grupo de trabalho africano» do CSIS (Centro deEstudos Internacionais e Estratégicos). Foi ele quem em Joannesburg desmentiuas afirmações «falsas» è, Churba.Considerado possível principal conselheiro para Âfrica de um futuro Secretário doDepartamento de Estado de uma administração Republicana, é conheci!, comoapologista de soluções reformistas de não violência que «pode. rão satisfazer asaspirações da maioria,.Crocker resumindo a política a seguir face aos eventos na África Austral, disse:«Na Africa Austral, a política americana deve ser guiada por um sentido comum,e pelos nossos prineipios humanistas. O, Republicanos acreditam que a nossahistória. tem significado para a Africa, demonstrando aue uma sociedademultirracial comgarantias de direitos individuais é possvel. Devemos ter contactoscom todas as pa quer com o novo,Zimabwe, a Nambla ou com a Africa do Sul. A adWinistração Republicana nãodeverá aprovar situagões ou constituições numa sociedade, quer ela seja racista,no propósito ou no efeito. Não seesperam milagres, mas poderemos pressionar para o urogresso genuíno para sealcançar objectivos consistentes com os ideais amerieanos>.Em Agosto passado, ele afirmara à revista «JET» que os problemas na AfricaAustral, -não são só raciais, como também tribais-.LEANDRO PAULII

E VISTANicarágua: Poder popular consolida-se0 Embaixador em Maputo fala à «TEMPO»David Macfield, embaixador da Nicarágua naRepública Popular de Moçambique, concedeu ao nosso colaborador E. Hipólito,uma entrevista na qual se faz o balanço do primeiro ano de exercício dopoder nela Frente Sandinista.PERGUNTA Fazendo um balanço deste feprimeiro aniversrio da ascensão popular no luseu pais, quais são as vitórias colhidas neste p<breve periodo?"D.M. - Quanto a um levantamento deste pprimeiro ano de poder popular, podemos falar in

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d,D aspecto político, social e económico, que no fundo estão interligados.Alcançámos com as armas o poder político, o poder económico, o qxpoder social. Os dois últimos representam uma hluta que continua. Porque o poder políticonão sãse pode obter sem resistência. Para melhor ilus. setrar meu pensamento, quero recorrer a uma difrase de Sandino: «A liberdade e a soberania cade um povo não se discutem, são conseguidas, ncsão defendidas de armas na mno',. veAlgumas pessoas poderão pensar que Sani- prno estava equivocado. Nós, porém, acretamos Wnas suas palavras. Podemos dar uma série de deexemplos de como foram perdid,ás eleições honestas e claras por não se ter asarmas nas mãos, por não estar o povo em condições de de- baDavld Macfield: .«A nossa presença em Áfricaé iminentemente de solidariedade»nder a sua soberania. Depois de 150 anos de ta contra o imperialismo,conseguimos a indendência e a libertação da Nicarágua. Se é verdade que em1821 nos tornámos indeendentes da Espanha, consideramos esta nossadependência como histórica. No nosso país, rupos políticos, como os liberais e osconserLdores, destituídos de uma ideologia conseíente, lutavam pelo poder. Nessaaltura não avia entre os políticos nicaraguanos uma vi.o clara de quem era oinimigo e qual devia r o principal programa d,á um país indepen. nte. Saímos docolonialismo espanhol para ir nas garras do imperialismo norte-america>. Paravergonha do nosso povo, esta internção chegou a tal ponto que tivemos até um'esidente norte-americano. Isto foi em 1856. filiam Walker que se haviaproclamado chefe estado, teve que fugirdo norte do país e foi ais tarde fuziladonas Honduras. A Frente Sandinista logrou, através de uma ndeira de unidade,derrubar a ditadura deTEMPO - 9-11-80

Somoza. Imediatamente após o triunfo nacionalizámos a banca e todo o sistemabancário agora é nicaraguano, e nacional. Tirámos os figõs do regime ecolocámos pessoas » ..ta"aídas do Povo para os cargos importantes. Materialmente, não havia muito paratomar porque, cono' idisse o comandante Tomás Bor. ge, com o que Somozadixou não havia nem para comprar um pacote 2i- cigarros. Ele levou todas ascédulas novas que encontrou, todos os cheques, todos os centavos que havia nosbancos. Por este motivo uma das primeiras atitudes tomadas foi cancelar as notasd, 1 000 córdovas (cerca de 3 000 meticais) e de 500 para que os coronéis egenerais que saíram com dinheiro roubado não o pudessem utilizar. Foi um 4, irogolpe para eles, pois quando reconheceram que era inevitável a vitória sandinistapassaram noites e dias transportando o conteúdo dos cofres dos bancos.Também nacionalizámos todos os recursosv naturais: minas, pesca, floresta,fauna. Para orientar essas nacionalizações foi indicac!,, o Instituto de RecursosNaturais. Desta forma as pessoas honestas tiveram os seus direitos garantidos. Os

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somozistas, que fugiram, perderam tudo. As suas propriedades passaram para asmãos t4n Povo. 0 que significa que a Nicarágua poderá recuperar-se logo, tãodepressa consiga desbaratar as manobras dos agentes somozistas deixados no paíse levantar a producão. Passaram para as mãos do Povo enclaves imperialistasimportantes como são, por exemplo, as minas c!- ouro. De acordo com o própriogo-verno de Somoza, a Nicarágua faz muito tempo chegou a ser o quinto produtormundial deste metal. Não sabemos, no entanto, quanto se produzia no pais, pois opagamento dos impostos não era feito ao governo, mas a Somoza pessoalmente.T - As agências noticiosas deram conta de recentes manobrascontrarevolucionárias na Nicarágua, que teriam culminado com um intentoseparatista na província de Zelaya. Como elas se apresentam e qual a suaextensão?D.M, - A situação pode ser resumida da seguinte maneira: a existência debaniè,scontrarevolucionários que têm seus santuários em territórios vizinhos e queorquestraram uma onda de campanhas publicitárias anticomunistas que trata deatemorizar e infundir a resistência contra a revolução utilizando descaradamente ecomo chantagem a religião e outros valores do nosso povo, os quais precisamentea revolução empenhou-se em preservar e garantir os planos que o governodetectou, da parte de algumaS organizagões sindicais, para iniciar ocupações deterras, greves e paralisação è-t popução, do mesmo moO,> que outros actos deviolência, idemonstram claramente que a yontade desestabilizadora da ordemrevolucionária existe em tais factos, frente aos quais o governo revolucionário nãopode ficar impassível. Até agora foi observai,à uma política de ampla tolerância ede uma generosidade sem precedentes.No tocante aos acontecimentos verificados na região de Bluefields, em princípiosdeste mês,sob direcção da Frente Sandinista

d, vemos fazer algumas considerações. Bluefiel-. ds é a capital ida província deZelaya, uma região da zona atlântica da Nicarágua. Antes do triunfo da RevoluçãoSandinista caracterizou-se como o bastião do somozismo. Nesta zona, toda a a,tividade económica, toda a vida dependia das empresas somozistas, norte-americanas e dos cubanos «gusanos» saícqs de Miami. É também a região em quedurante o regime capitalista e explorador de Somoza e dos seus sequazes semanteve na mais crassa ignorância. O índice de analfabetismo mais elevado daNicarágua nela se encontrava. Por outro lacl,, é a zona mais rica do territórionacional, nela se encontrando petróleo, minas de ouro, prata, cobre e reservasestratégicas. Também é a zona onde a pobreza e a miséria foram mais notórias.Como dado curioso vale mencionar que aí também foi encontrado o mais altonúmero de séitas religiosas c, rigidas por missionários que, em sua quasetotalidade, eram de nacionalidade norte-americana.A revolução nicaraguana, t,-u prioridade a esta zona para ela encaminhando todosos esforços possíveis nos campos da sa6ne, educação e reactivação de todas asfontes de produção. No entanto, os resquícios do somozismo, o imperialismo e ofascismo permaneceram trabalhando ide forma subterrânea. A «alma» do

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somozismo não se conforma em tê-la perdido e esteve manobrando por todos oslac,is e com todos os meios possíveis.Por detrás de todos estes actos de vani,«lismo, com os quais se pretendeu desafiara autoridade, existe uma clara manobra para tratar 4,' desestabilizar o governorevolucionário e desafiar o Poder da revolução. E isto tem lugar no momento emaue, por solicitacão do nosso governo, a Comissão dos Direitos Humanos naAmérica Latina deveria visitar o nosso país. Vê-se, pois, que se tratava de criaruma situa-A alfabetização é uma das tarefas prioritárias na Nicarãgua onde o somozismodeixou o povo iletrado. Na foto, elementos de direc.ção da campanha discutindo suas formas e métodosção de instabilidade que redondaria também em um quadro de desprestígio para aNicarágua.T - E como situa as medidas agora anuncia-.das pelo governo e que certos meios políticos interpretam como um sintoma deendurecimento do regime?D.M. - Diante do quadro que acabo de resumir e considerando os verdai,-irosmotivos que orientavam algumas acções à primeira vista justificadas, o governorevolucionário da Nicarágua concluiu que era chegado o momento de anunciar,com tcda a firmeza e com o apoio que lhe dá o povo, que está decidic- a defendera Revolução Sandinista e que nenhum desafio à ordem, à estabilidade do país e à Jmarcha da produção, serão a partir de agoratolerados, sob nenhuma circunstância. Ao contrário daquilo que as agênciasnoticiosas dos países capitalistas tentaram fazer crer, não es",tamos criandonenhuma situação de excepção,nem instituirdo a suspensão de nenhuma classe de garantias. Uma coisa, porém, écerta: as leis revolucionárias serão aplicadas com todo o seu rigor e em toda a suaextensão contra quem impeça os funcionários de desempenharem as suas funçõesou tomem de assalto os lugares e instituições públicas. Não serão toleradas asdesordens, os levantamentos, nem as agressões, a falta de respeito para com osmembros das forças armadas e da polícia nacional, responsáveis pela ordempública. Também não se permitirão as greves ilegais e os actos que impeçam asaíc,- dos produtos das fábricas, ou ainda que se impeça a circulação de veículosdestinados ao transporte público. No que diz respeito ao campo, quem tiver algumtipo de reivindicação para ser apresentado, que o faça nos escritórios do InstitutoNicaraguano de Reforma Agrária (INRA). Outras contravenções que não poderãoter lugar dizem respeito ao roubo de gado, à ocupação de casas destinadas ahabitação e a idescapitalização c-is empresas. Tudo isto está contemplado nosdecretos 511 e 512 emitidos pela Junta de Governo de Reconstrução Nacional,que têm sua origem na necessierde de se preservar um clima propício àmanutenção e aprofundamento daquelas conquistas logradas pelo nosso povo noscampos político, económico e social. Com o apoio popular, que tornou possível avitória da luta dirigida pela Frente Sandinista de Libertação Nacional, asmanobras contra-revolucionárias serão ii,-ntificadas, denunciadas e coínbatidascom toda a dureza.T - Não acredita que estas medidas poderão

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de alguma maneira reflectir-se no apoio oferecido por diversos sectores aogoverno?D.M. - Sim. Entretanto, antes mesmo queas mesmas fossem decretadas houve já pessoas que preferiram colocar acima detudo os seus interesses pessoais. Para elas, num memento de definição entre obem comum, colectivo, e a preservação de privilégios, optaram por colocarem-seacima é',s aspirações do nosso povo.TEMPO - 9-11-80

à medida que o processo-revolucionário avançi,." na Nicarágua, que a RevoluçãoSandinista #é' afirma, o nosso projecto surge comoum divisor de águas e obriga auma definição em termos de 'lasse social com a qual alinhar-se. E' nisto reside ocarácter de algumas defeçções já verificãdas.T'-' Concretamente, o qúe tem feito o go. verno da Nicarágua; com relação aocampo, área' onde se coneentra parte dos conflitos existentes no seu país?D.M. - Bom, para responder a esta questão, nada melhor do que fazer referência auma afirmaçãodo coman,nte Jaime Wheelock, membro da Direcção Nacional daFSLN e responsável pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária. Segundo as suaspalavras, o INRA encontra-se trabalhando em três aspectos fundamentais: oCriando nas novas geraçOes o amor pela liberdadeprimeiro é o de lograr uma redistribuição a,quada da terra 4a Nicarágua, paísessencialmente agrícola, cujas rendas fornecem'o maior número, de divisas e quepodemos dzer que é a base da riqueza nacional. Ao mesmo tempo, a maiorquantidade da nossa população vive no campo, tornando-o o mais importantesector quanto à economia nacional. Neste momento o Estae,) administra mais de1500 unidades de prcduçáo agrícola, o que representa uma grande percentagemquanto à produção cafeeira, açucareira, de tabaco e de outros produtos,principalmente de gado e: corte e leiteiro.Uma vez que estas São as melhores terras da Nicarágua, tomámos a resolução deutilizá-las para obter um máximo de produtividade e organizar ca,-i unidadeeconómica sobre a base da participação criativa e activa de todos ostrabalhadores. Se algo foi logrado nestes meses foi poder ter um considerávelcontrôle principalmente nesta porção da economia agrícola ,a Nicarágua e dehaver ao mesmo tempo iniciedo de, forma consistente a mudança das relações deprodução em to&,xs as unidades. Isto ,é, de forma resumida, o que o INRA fezemTEMPO - 9-11-80matéria de reforma agrária. Os outros dois aspectos fune,-amentais são manter onível de produção e, levar-os benefícios da revolução ao campo.Isto não se pode fazer num ano. Demos os primeiros passos e vamos seguirconduzindo este carro e ninguém nem naJa poderá, impedir que a marchacontinue firme até à vitória final. Aqueles que pensam que a revolução ésimplesmente ?,stribuição de bens ou' de terra se equivocam.Neste curto espaço de tempo que a revoluçãO avançou, foi possível estabelecerum complexo administrativode 130 000 km2. Más há pessoas que go@tariam decair de novo no antigo medo de produção. Estamos procurando um mét:cdo

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científico para a distribuição da terra e isto irá esboçando-se em sua totalieQ-de àmedida que a nossa revolução avance, e se consolide mais e mais. Por outro laio,não podemos ýcomer nem repartir num ano o excedente da produção. Há queinvestir, pagar as dívdas e reconstruir. Há que procurar empregos para a enormemultidão que é a mão-ý,-obra barata e morta de fome que o somozismo deixou.Deve-se construir casas para a grande populaç5o urbana e rural desamparac- e,principalmente, é preciso cobrir os programas que têm prioridade para.aconstrução do novo homem na Nicarágua.T - Que motivos levaram o governo sandinista a ter um representante emMoçambique?D.M. - A nossa presença na África não é tanto elementar com poderia parecer àprimeira vista. Não estamos vendendo nada. Ela é iminentemente de solidariededee pretendemos que seja revolucionária. Escolhemos particularmente Moçambiqueporque' ,acreditamos que nesta região, neste país, trava-se actualmente um ?, sprocessos mais radicais, claros e contundentes dclo continente africano.Na América Latina conhecíamos a África através do que Cuba nos diziarecorrendo aos seus diversos meios de difusão de massas, ou através eos discursosdo mestre Fidel. Contudo esta é uma voz em todo o continente. Em consequência,um país que acaba de sair ,-1 mais violenta ditadura da região, como foi a deSomoza, que acaba de sair deste inferno, deste fogo, pensamos que c?,ýve estar naÁfrica. Deve estar na Ásia, deve estar de alguma maneira naqueles lugares onde oimperialismo apresenta uma cara diferente, mas permanece o mesmo inimigo desempre. Estando aqui, nós vemos a máscara que ele se coloca e inteiramo-nosmais de perto da enorme luta , - povo africano contra o colonialismo, contra ofascismo, contra o neocolonialismo e contra o aparthe'd. Tudo isto são elementosque alimentam o capitalismo e que, nor sua vez, são mantidos Dor ele. porque eteé o seu modo 1,-. viver. Por isto estamos na Africa.Entrevista conduzIdR por E. Hiplito ' .

.... .. ... *,EFEMÉRIDERevolução deOutubro,-63 anosdepoisO mundo socialista festeja esta semana a Grande Revolução Socialista de 1917.A Revolução por todos conhecida d, Outubro é, pelo actual calendário, deNovembro.Como o gigantesco explodir de um vulcão os rumores amortecidos das massastrabalhadoras em tensão sob a opressão da autocracia czarista, sentiam-se desdefins do século passado, com abalos cada vez mais ameaçadores ao regime feudaldo czar. Esses rumores, depois de 1905, tornam-se em explosões violentasfrequentes que principiam a intimidar o, até aí, todo-poderoso czar. Com o inicioda 1 Grande Guerra (1914), o descontentamento popular aumenta, na razãodirecta das privações e sacrifícios que os trabalhad0,res são obrigados a sustentar.E em 1917, com o regresso do exílio de Lenine, o ódio à opressão e a vontade de

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instituir o seu próprio governo juntam-se em torrentes de lava candente que seacumula pronta a explodir d,- forma imparável em Outubro de 1917 que aactividade revolucionária alcança a sua maior actividade. Nicoláu, o czar, eKerensky, o seu chefe do governo, já não têm mais ilusões sobre o que os espera.E no dia 25 d,- Outubro (calendário russo) com o assalto ao Palácio de Inverno,em Petrogrado (d,2pois Leninegrado) onde o governo se refugiava, pe-los trabalhadores armados, a revolução irrompe e proclama-se vitoriosa. Às cincohoras da manhã do dia 26 de Outubro, o Congresso reunido durante toda a noite emadrugada volta e resolve, por esmagadora maioria às cinco da manhã a demissãoe prisão do Governo Provisório (de Kerensky) e anuncia o programa do governodos sovietes.Assim a -Grande Revolução Socialista de 1917 entrou na História em '25 e 26 deOutubro (segundo o calendário russo da épo-ca) ou no dia 7 e 8 de Novembro (segundo o calendário universal de então e deagora).No dia 26 de Outubro, de 1917 pelas 21 horas reabre o Congresso para se votar astrês questões da ordem do dia: o problema da paz, o problema da terra, aconstituição do novo governo.Lenine entra no Congresso e sobe à tribuna, sob aplausos escaldantes de emoção,que se prolongam interminavelmente, perante o orador que aguarda, duranteTEMPO - 9-11-80

vários minutos, que esmoreçam e silenciem.E o grande revolucionário ideclara que «chegou a hora de passar à edificação daordem socialista».Anuncia, em seguida, a abolição da dplomacia secreta e lê o decreto 'sobre a paz,que expõe as bases da política bolchevique: «O governo dos operários e dosCamponeses, saído, da revolução de 24-25 de Outubro, apoiando-se nos sovietesdos deputados operários, soldados e camponeses, propõe a todos os povosbeligerantes e aos seus governos a entabulação sem demora de negoeiações comvista a uma paz equitativa e democrática... a uma paz imediata sem anexaçoes... esem reparaçoes-,. Lenine, sempre no uso da palavra, apresenta o decreto sobre aterra: (A grande propriedade latifundiária é imediatamente abolida sem qualquerindemnização». Esto decreto levou à adesão doscamponeses ao governo bolchevique e a uma revolução que tinha ainda deconquistar o país.E o Congresso empossa, a seguir, o governo proposto pelo Comité Centralbolchevique, futuramente Partido Comunista dg União Soviética, sendopresidente do conselho de ministros Lenine.No princípio, tudo foi improviso e sacrifício sem fim dos militantes operários,camponeses e intelectuais. A pouco e pouco, o poder soviético foi-seconsolidando, depois de ter contido os reaccionários que, dentro e fora do país, oatacavam para fazer a Rússia voltar ao antigo regime. Mas o poder soviético foiconquistando rapidamente, para as suas fileiras, os trabalhadjres desde o MarBáltico ao Oceano Pacífico, desde o Oceano Ártico aos Himalaias, e muitas

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repúblicas soviéticas surgiram nesse espaço, e4,ndo a antiga Rússia lugar à Uniãodas Repúblicas Socialistas Soviéticas.E 63 anos depois, podemos afirmar que é possível o socialismo fazer de um paíspobre e atrasádo um país poderoso e avançado. E a tentativa bem sucedida daRússia foi exemplo para a Polónia, a Checoslováquia, a Jugoslávia, a Hungria, aRoménia, a Bulgária, a Albânia, a República Democrática Alemã, na Europa, paraa China, Mongólia, a República Popular e Democrática da Coreia, Vietname, oCampuchea, o Laos, o Jémene Democrático na Ásia;, Argélia, Benim, EtiópiaGuin&-Conakry, Guiné-Bissau, Madagáscar, Angola e Moçambique, na África; e Cuba,na América.Quando a Revolução de 1917 fizer um século, quantos povos mais terão escolhidoo socialismo para se governarem?

IMAGENSRonald Reagan ser, cm anir próximo ano, empossado oficialmente comoPresidente dos Estados Unid 'o* da América, Reagan, candidato pelo PartidoRepublicano - o Partido do Nixon, Ford e Kissingr-i 9breve um clara vitória sobre Jimmy Carter nas elioes america. nas, o que nioera previsto polas agincias ospeciallzadas em sondagens públicas. Ronald Reagano nove Presidente americane fez, durante a sua campanha eleitoral, declaraigesmuito favoréveis ao regime racista de Botha, embora se afirme que *le eáochegara a implementé-las. (ler ~pág, 42).O Presidente Nyerere da Tanzania juntamento com Aboud Jumbe, o Vi. ce-Presidente, durante a Conferència Nacional do Chama.Cha-Mapinduzi,recentemente realizada cm Dar-es-Salaam. Julius Nyerere fei eleito no passadomis, por uma esmagadora maioria, para um novo mandato de cinco ano& cornoPresidente da Tanzania. Pouce ap6s a sua rooleico;, o dirigente tanzanianoafirmou que o&pera rotirar-se desto cargo findo o actual mandato.TEMPO - 9-11-80

Prossegue com intensidade a guerra entre o Iraque e o Irão, apesar de todos osesforços desenvolvidos pelo grupo dos Não-Alinhados e países árabes para quecessem as hostilidades. As forças iraquianas têm, até estemomento, tido o ascendente na guerra com a tomada de alguns pontos vitaisdentro do território iraniano. De notar contudo que é cada vez maior apreocupação internacional pelos efeitos que a guerra está a provocar às economiasde dezenas de países dos vários continentes. Na foto vê-se um tanque do Iraqueno porto iraniano de Khorramshahr.No passado dia 25 de Outubro o ídolo de boxe dos sul-africanos- foi severamentederrotado pelo americano Mike Weavor. O combate, que se realizou na Africa doSul, pós de lado todas as esperanças de Gerrie Coetzee que se vê na gravura areceber um poderoso «punch» do americano. De notar que o combate terminoucom o sul-africano ficando K.O. Isto, apesar de Weaver ter fracturado, durante ocombate a mão, com que finalmente desferiu uma série de gol. pes que levariamCootzee ao tapete.

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AFINAL COMO SE PROCESSAM OS CORREIOS NA PROVINCIA DEGAZA?Vivo no distrito de Massingir e tenho no distrito de Chibuto umamigo com quemtroco correspondência. Mas então eis ai um assunto lamentável da mi-1 ÁAnha parte: o referido amigo meu, redigiu uma carta para 5E 0C4NTE REcEBE wtiomim no dia 5/8/80, a fim de me A CORRE5kNDóýJ 1comunicar de um assunto urgente e foi enviá-la nos correios do mesmo dstrito ena mesma data, por «EXPRESSO», pagando para tal a importância de 13,00 MTcom o objectivo d'e diferenciá-la das outras cartas enviadas normalmente, porqueesta realmente tratava-se de assunto urgente. Então neste contexto, sinto-me muito.magoado. Porque a carta saiu da- Jquele distrito de Chibuto na mesma data conforme apresentam os carimbos para acidade de Xai-Xai, onde chegou no dia 13/8/80. Depois, a mesma novamente foidestinada ao distritoCRIAÇÃODA «REVISTA DESPORTIVANeste contexto, venho poreste meio, propor às estruturas responsáveis pela organização do nosso desporto,no campo da informação desportiva, pela cria ção da «Revista Desportiva» demedo a permitir englobar passo a passo, o desenvolvimento de todas asactividades desportivas do nosso Pais e numa fase adiantada a nível internacional.A criação desta revista visa permitir o levantamento devários problemas existentes, nos vários clubes do País, com particular incidênciano futebol, hóquei em patins, atletismo, basquetebol e futebol de salão, já que asoutras modalidades não ganham o mesmo prestígio d,~vido à sua prática.Portanto, numa fase experimental publicar-se-ia uma vez por mês de mod,9 arealizar um excelente trabalho, porque implicará englobar quando menossetenta por cento das informações desportivas do país, contactando vários clubesdo norte ao sul d,. país, efectuando reportagem, entrevistas e comentáriosincluindo as próprias imagens (fotografias), sugestões dos espectadores.Para terminar queria acrescentar que só através destes contactos é que se fará comque o nosso desporto ganhe prestigio e estimulo para os clubes e para os própriospraticantes.Bonifi io Roberto MptoTEMPO - 9-11.80

Cartas dos Leitoresdo Chokwè, no qual chegou no 4ia 18/8/80. Finalmente, foi enviada para o seuúltimo destino que afirmo ser o distrito de Massingir. Chegou a este, no dia20/8/80 e eu fui apanhá-la no lugar onde diariamente vou espreitar para ver se látenho correspondência ou não, no dia 5/9/80. E isso faz-me :concluir que a

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chegada da carta àquele 4istrito onde me encontro, teve de passar 15 dias até eua receber.Agora pergunto:Porque se paga 13,00 MT no envio urgente, e a carta idemora quase um mês achegar ao seu destino?Raul Júlio S.mbineN.R. - Contactámos aDirecção dos Correios em Maputo. Esta, depois d. ter averiguado o problemnainformou-nos que a Estação dos Correios em Massingir indica o dia 12 de Agostocomo sendo o dia em que a carta foi recebida pólo destinatário.NÃO DESCOBRI QUEM F011...Era dia 27 de Julho -de 1980 que na Avenida 24 dig Julho na esquina direita comAvenida Vladmir Lenine, água pouco quente deitada por alguém caiu sobre a,,nha cabeça molhando o resto do crpo.,Olhos para cima e a nuca tocava às, cotas rante algumas fracções de minutos paraver quem me tinha atirado água, mas as varandas não tinham nenhuma pessoa.Portanto não d-,scobri quem tinha sido. Gas. tei tempo por parar e sofri em vão.A maioria das pessoas que assistiram à cena admiraram-se bastante.ý claro, todos nós quanc]« estamos numa. alegria e depois aparece.nos um estorvoficamos tristes. Como tal, foi o que a mim suceqèu. Pouco depois, dali sR4,,dirgi-me a casa onde fui = ad de roupa e novamenteý ýnho. Agora, eu admiro,! a deste género suceder no interior ý,a cidadJe»!Onde nós indicamos o respeito evolu-tivo nesta década de 80 a 90 como já sabemos ... Ela é ida vitória sobre osubdesenvolvimento. «Eu acho que isto indica mais retrocesso, mais atraso, maissubdesenvolvimento»,:Se eu que admiro sou cidadão moçambicano, como é que admiram os nossosvisitantes? Se não fosse perto a minha casa onde é que poderia mudar deroupa?!... Teria percorricio grandes d,1stâncias com a roupa molhada? Em queestado estaria se fosse um objecto duro ou cortante? É claro, mesmo sendo água,fiquei envergonhado.Eu proponho que se todos tivessem a minha iY,2ia não podiam deitar água ouqualquer tipo de lixo, sobre os telhados, ou sobre as pessoas que passam pela rua.Digo isto porquê? Porque quem e1itou água não tinha a ideia de me molhar ma2sim de atirá-la para o telhado. Deu às de vila Diogo quando viu que a água caiusobre mim. Obáervei e não descobri quem foi.D. A. MalaiMaputo«0 FUTURO ESTADIO CHITENHA»No distrito de Marracuene a 28 quilómetros de Maputo na localidade de Ricatha,existe um Clube com o nome da mesma. Foi funda,ý em 1/4/1949.Em 1975 ganharam- a Taça id, Independência. No mesmo ano a esperança devirem a ter um campo próprio tornou-se numa realidade. E assim, hoje portanto,pod'emos ver naquela localid,-de o que virá a ser o futuro Estádio Chitenha. Ali éum dos lugares

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onde nos pcdemos admirar do campesinato, estimulc.i2o pelas orientações donosso Paýrti1, e Estado, contou com a sua capacidade criadora. O futuro EstáSdiotem uma bancada superior aodo Campo do Maxaquene, com 150 sócios a pagar aquota de 25,OOMT mensais e um pedreiro. A mulher emancipada sempre aolado do homem engajado queima lenha extraindo carvão que em seguich vendeconseguindo assim alguns meticais para aquela obra valiosa. Vários foram osesforços feítos. Relatórios, pedi2,s e maisoutros meios utilizados e sem. pre, o expediente acaba nos a r qui vo s dasestruturas do distrito, confessaram alguns sócios no dia do aniversário do Clube.Sou um simples simpatizante daquele Clube e do desporto em geral, mas, a cadaaniversário que lá participo só vejo sucessos insignificantes do ped;-eiro semengenheiro.Quem pc!erá ajudar o camupesinato nos acabamentos do futuro Estádio Chitenha?César Aurélio BiaManjacazeTEMPO - 9.11.80 5

QUANTO CUSTA UMA PASTA DENTiFRICA «CHESELINE»?Desloquei-me de Moamba onde encontro-me numa tarefa da reconstrução e dadefesa do pais, com destino a Maputo a fim de ir comprar o artigo que acima citei,visto que aqui na Móãmba não há nas cantinas. Dirigi-me ao Xipamanine ondeencontrei numa das lojas como preço calculado de 85,00 MT cada, um.Como os amigos leitores podem observar, a distância que existe de Moamba aMaputo, e eu pensando na marcha por mim feita, em todo o caso tinha quecomprar mesmo. E depois d comprar uma pasta, apa. "ei o machimbombo comdestino' à Baixa da cidade de Maputo, onde quando cheguei continuei ,com amarcha até ao bazar que fica próximo dia terminal da Rádio Táxi.Ao lançar os olhos para além, o primeiro alvo a ser atingido por mim, foramquantidades de pastas dentífricas com o seguinte preço nas respectivas tabelas:53,50 MT e sendo do mesmo tamanho da que eu comprara no Xipamanine. Agoraeu pergunto aos caros leitores,e em particular às estruturas ligadãs ao comércio, se os preços estipulados paracertos artigos ao público em geral há ra: zão de cada indivíduo aumentar o seupreço?Dando como terminada, agradeço uma ampla vigilância contra estesespeculadores.Marcelino H. JeremiasElemento das FPLM1 MaputoTEMPO - 9-11-80PORQUE NÃO A MÚSICA?Para começar peço desculpas pelo meu atrevimento, afigura-se-me pois dos rarosleitores que se vos dirigem com o fito de apresentar uma proposta sobre umassunto que há muito me aflige e julgo afligir tantos que como eu gostam de uma

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rubrica que a TEMPO só a insere na' revista em números esporádicos. Trata-se darubrica de cultura musical, que como a revista devia ser semanal.Acontece que a R.M. (Rádio Moçambique) insere nos programas das suasdiversas emissões, uma rubrica de,.cada a um artista e mesmo a um agrupamentoeo qual contam sua história, e o valor musical das suas canções. Pe n s o que aDirecção da nossa revista não perderia muito se em cada tiragem da revistareservasse uma página que fosse, que se debruçasse sobre música actual. Atépcdiam lançar um concurso que atrairia muitos jovens do país, no qual a TEMPOdava um tema (P: ex: Manu Dibango, Jaan Armatrading ou Bob Marley) e cujo oprazo de doze ou quinze dias os participantes apresentavam os seus trabalhos eescolhia-se o melhor texto e o prémio seria a sua publicação ou um prémio à partedentro das possibilidades da TEMPO.O dsporto tem um suplemento semanal no jornal «Notícias», porque não amúsica?António Armando MaputoN.R. - Agradecemos asugestão e, dentro das nossãs 'possibilidadesr iremos abrir na revista uma rubricade música.N

ESPECULAÇÃO NUM SUPERMERCADO EM CHOKWÈ.GAZANum Supermercado em Chokwè, esteve' à venda em fins do mês de Setembroímanteiga de fabrico nacional, Três Rosas, da,, nossa conhecida empresaPROTAL.õ motivo que me levou a escrever para esta revista, não foi o de ter conseguidoadquirir aquele produto mas sim, pelo preço que tive d,3 pagar pelo mesmo.A manteiga que aquele comerciante recebeu tinha os seguintes preços:Pacotes com 250 g 55,00 MT» » 453 g 110,00 MT-Fiquei bastante admirado com aqueles preços pois, se formos a ver, o pacote demanteiga de 250 grs era de tamanho ligeiramente superior a dum maço decigarros normal de filtro e a d,ferença entre a manteiga de 55,00 MT e de 110,00MT era ínfima. Por aque-le preço... não é de concordar mesmo.Face a isto, gostaria que me eselarecessem Se aquela manteiga, adquirida naPROTAL em Maputo (a que preço) e colocada à venda no Chokwè seria aquele oseu preço de venda ao público?Lãzaro S. MacuianeChokwêN.R. - Informamo-nosjunto a COGROPA onde nos dissermn que segundo a tabela de preços, amanteiga de 250 grs custa 35,00 MT (trinta e cinco meticais), e de 453 grs. opreço fixado é de 69,00 MT (sessenta e nove meticais). Portanto, o caso que oleitor aponta na sua carta, trata-se de especulaçýo e o cerco deve ser apertado comvista a acabar com esse mal social.

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Foi piecisamente no dia 23 dia Agosto de 1980 que recebe. mos uma carta donosso amigo que se encontra a estudar na Escola Primária Amílcar Cabral doSongo, Província de Tete.Na carta dizia ele que estava para mandar uma encomenda para, cá em Cuba, e ostrabalha. dores ds Correios disseram-lhe que não se mandava encomendas paraCuba.A nossa preocupação nestemomento, é de sabermos se somente esta proibição é nos Correios do Songo, vistoque os nossos companheiros de vários pontos do país que estão cá connoscoreebem encomend,s dos pais assim como seus amigos.Ferrão Ferrão MachoraEstudante Moçambieano em CubaEsbec. n., 7 28 de Janeiro Ilha da Juventude - CubaSPEDIDOS "- lDE CORRESIONDINCIASou Jovem moçambicano, de 22 anos de idade, combatente das Forças Popularesde Líbertaç[o de Moçambique.Desejo de correspon.;r om jovenk e ida. dei compreendidas entre os 17 aos 20anos. sendo do Destacamento Feminino do Centro de Preparaçio Político Militarda Moamba, com finalidade de trocar experiência, fotos e postais.Alberto FernandoEscola de Conduçdo Militar C. Postal 340Base AéreaNampulaMário Livanhe, de 18 anos de idade, moçambicano, desejo corresponder-me comjovens de ambos os sexos dos 15 aos 18 anos de idade. Tenho preferência de cor.responder-me c om jovens moçambicanos, portugueses, angolanos, brasileiros,tanza. nianos, zimbabweanos e cubanos, para fins de troca de fotos, postais, livrose discos.Mdrio LivanheEscola Industrtal e Comerc. Joaquim MaraC. Postal 70 Chimofo.ManicaSou Jovem angolano, tenho 19 anos, estudante liceal. Desejo corresponder.mecom jovens de ambos os sexos dos seguin. tes paises: MOÇAMBIQUE,GUINEBISSAU, CABOVERDE, ZIMBABWE, CUBA, ANGO. LA, SRA SIL,TANZANIA, ZAMBIA, AFRL CA DO SUL E S. TOMÊ E PRÍNCIPE.Germano A. CandengueC. Postal 10351Luanda - RPI de AngolaSou jovem moçambicano de 22 anos de idade, desejo corresponder com jovensInte. ressados dos seguintes países: Brasil, Por. tugal e Zimbabwe, de ambos ossexos com idades entre 18, 19, 20. 21 e 22 anos; para troca de discos, livros epostais.Salde Amade Cdsslmo (0 INCOMPARÃVELC. Po tal 495 - Chimo o R.P.M.Escreva para:

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Revista «TEMPO» Cartas dos Leitores Av. Ahmed Sekou Touré, 1078-A e B C.P. 2917 UT1-oTEMPO -. 9-11-80PORQUE "NÃO SE PODE MANDAR ENCOMENDAS PARA CUBA?L

TempoVozes desvendadasSão muitos os poemas que chegam à nossa Redacção, de autores até hojedesconhecidos. No presente número apresentamos quatro desses poetas em quatropoemas.A noiteEm sonho, junto ao sono Conversando com a noite. Meu companheiro de anos etempos Meu amigo eterno, escuro e claro. De onde vens tu, agora? Oh! venho dodia, da densa floresta e rios. Da morte do sol.Do dia doce-e amargo adentro... Ouvi animais selvagens Vagidos de crianças Viprisões, torturas Mães e esposas chorando seus filhos e maridos Desaparecidos.nos muros da Machava e Ibo Passei por aldeias recônditas e cidades Genteperguntando por este ou aquele Ouvi o estalar melancólico da mata.Um jumento, uma carroça chiando e chiando, Sem condutor, passando. Senti osilêncio de meu medo, Medo de meu silêncio, Da vida fúnebre ao chegar Eu,noite.Os últimos, laivos vespertinos senti. Escutei a última sinfonia de desespero. Umvelho cego, numa rua da cidade, martelava [as teclasumbiladas do negro mbila. Cheguei.Tornei, tingi com tinta de luto.(Inédito) Datcha Tembe25-1-72TEMPO - 9-11-80cultural~A

SombraUm homem pode ser do tamanho que quiser porque pode ser do tamanho da suasombraDa sua sombra ao nascer do solrecortando.se por cima do solo fumeganteDa sua sombra ao pôr do sol com os péssobre um montea ver-se crescer ...crescer a ver-se diluir... diluira ver-se desaparecer ...desaparecerDa sua sombra à luz das lâmpadas do caminho dos faróis dos automóveis do neo'ncitadinosombra que lentamente vai lentamente vem ou rapidamente vai e já não vemsombra que apaga e acende sombra intermitente

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Da sua sombra à luz do luaros próprios passos acordando siléncios em ruas de aldeta velhaDa sua sombra à luz duma vela. duma candeia de azeite dum candeeiro a petróleodo fogo duma lareira sombra tremeluzente sobre si própria dobrada entre quatroparedes o chãoe o telhadoUm homem pode ser do tamanho que quiser Pode ver-se crescer Pode ver-sediminuir E ver-se desaparecer pode também Para o longe a olhar Ou para ospróprios pés(Inédito)Amadeu SoquiçoTEMPO - 9-11-80

Meditação inconcebivelSobre o gesto mal construídosobre a estrada mal concebidasobre o desastre mal contidosobre a terra sobre as aves sobre o clarosobre os limites do consenso sobre o ar mal pormenorizadosobre os ecossobre o sonhosobre a via mal fecundada sobre o fumo das florestas sobre o caminho encurtadosobre o entroncamentosobre o caminhosobre as floressobre os aressobre os maressobre a marca do gostoo espectro da violéncia pairava personalizado congestionadosobre o eco silencioso da vida.(Inédito) Raafkambala13-2-80PurezaSim, eu sei, sabemos todos da inviolabilidade da pureza que só a morte lhedisputa.No triângulo vermelho e duro que não quero representar nada do que só seiporque adivinho.Somos demasiado muitos e tão pouco cada um que me pergunto a mim só quefazer do que só eu sei.(Inédito) Joshenra20-3-80TEMPO ý- -11-80

TempoculturalCONTO

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O tempo que passoude uma criançaEste é um conto de um jovem estudante da escola secundária. Conto pequeno,simples, memória de um tempo doloroso de criança que passou não há muito.Deixou marcas de humilhação que a vozfatigada, porém confiante, de sua mãe suaviza porque podem ambos sentir acerteza de uma mudançairrevogável.- Mamã!Chama a criança com uma voz um pouco rouca e prossegue:- Mamã lembra-se naquele dia que fiquei doente? Hem? Mamã lembra-se?A mãe senta-se ao lado do filho e escuta.Até fomos ao hospital e ficámos lá muito tempo a espera e depois veio aquelasenhora branca de cabelo grande até às costas etrazia também um vestido branco o sapatos brancos. Veio dizer para que fôssemosembora,_hern.? Mamã lembra-se?-Eu estava muito doente mas nem picou injecção nem deu-me um quinino, nãofez nada para que eu ficasse bom, hem? Mamã lembra-se?Até mamã chorou muito naquele dia, ela só mandou embora a nós e deixouaquelas senhoras brancas e algumas mistas e ficou a curar os filhos delas menoseu, hem? Mamã lembra-se? Lembra-se mamã?Porquê que ela fez aquilo? Até Mamã chorou muito naquele dia, eu esteva muitodoente não aguentava nada mas vi e ainda me lembro, hem? Mamã lembra-se?Perante esta recordação do filho com apenas uma dezena de anos, a mãe ficamuito admirada, fecha os olhos já cansados e contém-se, para que as lagrimas nãolhe saiam como naquele dia. Abraça o filho, sorri forçosamente e responde-lhe:- Sim, meu querido filho, lembro-me nuito bem, era o tempo transacto, o tempoque passou, não aprendes na escola? Já passou aquele tempo que tanto odiava, otempo em que a vida só era doce para os brancos. Lembro-me, filho, lembro-me.Até aquela senhora disse que eu nem trazia sapatos e que não queria curar umfilho com roupa rota. Lembro-me daquela senhora e daquele dia que me custoulágrimas!Depois a mãe leva a sua mão também cansada para o rosto do rapazito e limpa-lheas lágrimas. O garoto também imita o gesto da mãe levando a sua mãozinha parao rosto da mão.. u Jeierias C. Novele oTEMPO - 9-11-80

£7Expressão moçambicanaO meu professor da 4.' ciasse, um português minhoto de Braga, muito cioso davernaculidde da língua, cada vez que eu comctia um erro de redacção ou, ao falar,tecia uma construção menos correctà&, gritava da sua secretária, com a régua namão:- Isso não é português! Isso é preto-guês!

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E eu, aluno obediente e passivo, repetia o que ele ditava ao mesmo tempo queacentuava um complexo. Não porque fosse mau corrigir-me mas porque eraerrada a forma como o fazia. Quais eram, então, alguns d,serros que cometia?Recordo-me que uma vez pedi licença para me ausentar da aula porque queria «irlevar o meu cademo». Acontece que como o caderno inha ficado numa outra salao correcto em português, teria sido pedir para air buscar o caderno» ou ,ir trazer ocaderno».- Isso é preto-guês!, gritou o senhor professor. O que tu queres é ir buscar o teucaderno!Bem. Hoje em dia esse erro é ainda frequente em quase todas as criançasmoçambicanas. Porquê?Nas línguas que se falam em M oç a mb ique , na maior parte das construçõesgramaticais, o mesmo verbo que significa buscar, trazer, também significa levar.Por exemplo, o verbo «ku teka, do ronga e do changane. Mas emtodas as línguas moçambicanas, repito, verificase este facto. E gran le parte dasnossas crianças dizem como ýeu dizia, «vou levar» no lugar de «vou buscar' .Pelas mesmas razões se explica o emprego indeferenciaè,2 dós verbos ir e vir. ]comum, em Moçambique, ouvir dizer «já ven'ho» quando correctamente seria,nos casos em que esta expressão é empregue, 'ajá vou'». Acontece isto quasesempre que se chama alguém. A forma correspondente em ronga e changane seria«tana» (venha, chegue aqui); «na ta» (já vou); ou, com' as mesmas traduções epela mesma ordem, «buya", «na buya». E esta construção, é bom frisá-lo, existeem quase toçdas as linguas nacionais e, por isso, de Maputo a Cabo Delgadoouve-se com frequência a troca do verbo ir por vir.Ainda na 4. casse, certa vez, fizemos uma prova de redacção. E o tema era dadoem desenhos, que nos representavam umai crianç a a trepar numa árvore pararoubar ovos 4,3 um ninho. Deu um grande tombo e aleijou-se. Devíamos dartítulo à redacção. Dei o titulo de «0 Roubador de Ninhos».- Isto é preto-uês!, gritou uma vez mais o senhor.professor zeloso na sua tarefa. *Roubador não existe. Diz-se ladrão. Claro. Mas se quem varre é varre,ir, quemcorre é corredor, não via porque artes quem rouba não seria roubador, já queladrão seria o substantivo aumentat¤vo derivado do verbo ladrar. E ,hoje, nãoposso deixar i,- dar razão à construção, muito "moçambicana, que 1 édesconseguir. ]ý uma formalógica e natural¿ pois que quem não consegue,desconsegue. Mas em português diz-se que nao consegue porque o verbodesconseguir não existe.Não'estou a fazer a apologia dos atropelos gramaticais ao português nos casosemque nãohá, como pano. de fundo e ponto, d apoio, uma realidade cultural depeso determinada pela língua materna. Pretendo, apenas situar dinasrealidadew,:que _é -importan-, te todos os professores de português conheceremno nosso país e que so,em primeiro lugar, a constrâção de frases em obediência àsleis não do português mas da língua materna e, em segundo lugar, a construção defrases em obediência à lógica e regras gerais, da própria língua portuguesa.Se isto é ou não ~uma coisa a combater, se é ou não um motivo para humilharcomo fazia o meu professor da 4L! classe é coisa que não vem para aqui. Mas só

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conhecendo as causas se poderá discutir correctamente esta problemática que, nosmeios mais atentos do nosso ensino, anda na ordem d, dia e- intriga os professorespor não lhe conhecerem as razões.Podia citar um outro fenómeno que é de raízes mais entranhadamente culturais, eque é a colocação do se, o'uso das preposiçõesTEMPO - 9-11-80Tempo

a, para, das contracções à e na, de certas combinações verbais («vou Ir») e muitosoutros factos linguísticos diários no nosso pais como o emprego di «no entantoacomo forma copulativa e como forma enfática. Porque moroso, não me detereinesses casos tanto mais que para alguns deles não encontro, de imediato, umaexplicação lógica - o que não quer dizer que não exista. Prosseguindo, porém,com o meu relato, direi que já adolescente tomei contacto com outras maneiras tconstruir frases e com outros vocábulos que, sendo-me familiares, não existiam,porém no português que me ensinavam na escola. Mas existiam nq português quealguns escritores mo çambicanos usavam. Mais tarde, foram retomados edifundidos pelo progressista jornal «A Tribuna» dos anos sessenta: capulada aquererem firmar uma certaEram os intelectuais de esquerda a quererem firmar uma certa personalidade eprovar uma certa integração; eram, por vézes, colonos de todis as matizes atentarem uma simbiose cultural à mar telada.Hoje, podem-se juntar muitos outros termos divulgados e,'pois da Independência.Onde quero chegar? Quero chegar a que a língua portuguesa que escrevemos hojeem M.mbique não é a língua que é falada no dia-a-&a., A língua de todos os diasé- incomparavelmente maisrica em construções, em ~ignificações, muito mais dinâmica. Dir,-se-à que é assim em todas as línguas. E é verdade. Mas a nós falta-nos, no campoda literatura e da poesia, no campo è,> teatro e em certas crónicas de imprensa, oaproveitamento desta imensa riqueza, a sua valorização - sem se cair no exotismo,no foleloris mo ou na' deturpação crassa das mais elementares regras gramaticaisportuguesas a, que o meu professor chamava, ofensivamente, de preto-guês.Também não faço a apologia da fala do cantineiro como, quando irritado gritava:«vai no famba mufanito! «Não. Só que quando penso na beleza das várias formasde expressão neste nosso imenso país (dez. províncias, cada uma com sua maneirade dizer veiculada em português, cada uma com os seus neologismos) não possodeixar de estar cada vez .menos agradado do purismo, do gosto quase clássico (naconstrução e no vocabulário) , nosso português escrito, que redunda numa faltade cor, de, beleza, de criatividade, de inovação, dè, aproveitamento critico dênovas expressões e, porque não, de experimentação linguística.Há já quem diga que mesmo os portugueses não são tão estreitos no uso, da'língua que nos legaram. Nós, parece que nos apossamos dela num abraço tão forteque ~ sufocamos essa línguatão flexível e tão acessível às mu-

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.inças e alterações estruturais. A nossa atitude é igualzinha à do novo-rico queatafulha a casa com alcatifas, imitações de quadros, estantes-e estatuetas (tudo emlugar bem visível para não passar despercebido às visitas e aos vizinhos).Tudo isto é complexo e não pretendo estar a dizer veidades últimas e definitivas.Mas julgo que o uso pesado que fazemos 4,português vem da falta de distinçãoentre a expressão oficial e a não oficial. Acho que deve haver um limite distinto,nítido entre a linguagem documental - que deve, pela sua natureza, ser precisa,diria mesmo científica - e a linguagem mais fluida e ligeira ,-i literatura, daconversação. Mas vejo tanto conto escrito em tom de documento, tanta prosa apretender concorrência com o discurso escrito d, um circunspecto ministro, tantojovem que entra para o jor. nal e quando escreve parece que está fazendo umrelatório, que não posso deixar de pensar e sentir que esta distanciação colossalentre a riqueza da linguagem falada e a soturnid,-de da linguagem escrita, é umfenómeno social e é fruto , um retraimento que nasce da padronizaçãolinguística que não encontra eco fora .1o papel.Enfim, tenho também a consciência de ser um dos culpados dessa padroniza~&o,eu e os meus colegas t% imprensa.Albino MagaiaTEMPO - 9-11-80

V555TempoCukiosidadesAs lágrimas, liquido salgado pro. duzido pelas glândulas lacrimais, têm umafunção: lubrificam o globo ocular, que pode, assim, mover-se facilmente nacavidade orbicular, garantem a limpeza e a transparência da córnua, expulsandoas poeiras e os corpos estranhos que ai vêm depositar-se. Quando elas sãoabundantes e estimuladas por uma dor, um desgosto, alegria, gases, etc., deslizamsobre as faces. Diz-se então, que a pessoa chora.Os jogos'olímpicos tiveram a sua origem na Grécia, em 776 antes da nossa Era.Realizavam-se de quatro emquatro anos nas proximidades de Olimpo (maciçomontanhoso da Gri consid-rado pelos antigos gregos como moradia dos deuses).Este maciço montanhoso deu nome aos jogos. Tendo cessado um longo período,só vieram a recomeçar em 1896 sob a iniciativa do francês Pierre Coubertin, noCenário de Atenas, Grécia.A primeira locomotiva de Caminhos de Ferro de Moçambique foi inaugurada em2 de Junho de 1887, num troço de linha que ligava à Matola.A coruja voa de noite. Durante o dia os seus olhos salientes são ofuscados pelaintensidade da luz e ela não vê. De noite pelo contrario, vê muito bem e caçaaetivamente. É por isso que à noite se ouve o seu pio, manifestando a suaactividade. Se a esse piar no escuro se acrescentar o seu hábito nocturno, não é deadmirar que algumas pessoas supersticiosas a tenham como pássaro de maupressgio.ma jr1meirar ..que se organizou uma Feira Internacional foi em Londres, no ano de 1851. Foichamada Exposição Internacional do Mundo e situava-se em Hyde Park, no

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primeiro grande edifício de ferro e vidro, construído até à data, e que mais tarde,reconstruido e amplia.do, tomou o nome de Palácio de Cristal. A esta feira internacional, que foi a queantecedeu a todas as que neste momento existem no mundo, estiveram presentes17 mil expositores e acolheu & milhõcs de visitantes, vindos não só da Grã-Bretanha, como de outros países do Mundo.Foi nesta feira que, pela primeira vez, se viu utilizar a luz eléctrica (arco voltaico)como iluminação pública em vez de candeeiros a gás. Promoveu a ExposiçãoInternacional e inaugurou.a a Rainhaý Victória....que uma mulher tirou«brevet» de piloto aviador foi em França, em 8 de Março de 1910. Tratava-se dabaronesa Raymonde de la Roche e o seu «brevet» tinha o número 36.-.que se utilizou a- pólvorapara fins militares foi no ano de 1161, na chamada Guerra da China, quandogovernava a dinastia Sung. A pólvora enchia bolas de barro que eram atiradascomo granadas de mãocontra o inimigo.aaedotasCOVA PARA O ELEFANTEVisitante - Porque estás ai a chorar?Guarda - Morreu o elefante do Jardim!Visitante - Então é preciso chorar tanto? Era teu amigo?Guarda - Não é só isso. Estou a pensar na cova tão grande que terei que fazer paraenterrá-lo!...QUALQUER BURRO ...Empregado - Não consigo ler esta carta. A letra é péssima.Patrão .O quê?! Qualquerburro é capaz de a ler. Dá cá.NA SAPATARIACliente - Quanto custa aquele par de sapatos n.' 39?Sapateiro -Custam 920,00 MT. Todos esses pares, desde o número 30 ao 44custam o mesmo preço.Cliente - Então, embora calce o número 39, para aproveitar bem o meu cnheiro,embrulha-me o número 44.Colaboração de José MaposseCARA NO DEVIDO LUGARUm - Parece-me ter visto a sua cara noutra parte.Outro - Impossivel. Eu sempre tive a cara aqui - disse apontando para a -iuaprópria face.TEMPO - 9-11-80

JOGO DE PALAVRASPelos algarismos (verticais) e letras minúsculas (horizontais) do rectângulo,construa frases e terá dois provérbios populares.

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a b c d o R M P S D L C 0 A E J B 1 F T O N H G U1-d 4--a2-b 4-a 1-b 2-e 2-C4- 2-e 1 -dILIDIE2-c 4- 2-e 1-b 3. - 1-o 4-a 2-c 4-e 2-e I-a 3-e 4--e . 4-a 1- - -. -a -e2-c3-e 1--a 2-d 3-b 2-a "- q-L L1 1 ]ALAVS U~PROBLEMA N.06412 O 4 5, 7 8 91011HORIZONTAIS - 1 - Conjunto das doutrinas professadas pelos liberais. 2 _ Amaior das três partes em que se divide o osso-ilaco; animal ruminante que presta serviços de lavoura e carga (plural). 3 -Abreviatura de camarada; bolo de 'farinha de arroz e óleo de coco; folha fina deferro, sem a última vogal. 4 - Caminhava; brinquedo com forma de pera(plural); 2.- nota musical. 5- Criada; planeta. 6 - Leva; peixe escómbrL da. 7 - Corpo orgânico que se formana fémea de multas classes de animais; pai do pai. 8 ~ Nota musical; plantapoácea; marca de cigarros. 9 - Cólera; pequeno arco; peso indiano que varia entre141 e 330 quilogramas. 10 - Nome genérico dos calabres; o mesmo que rabino. 11- Descrição de répteis sáurios.VERTICAIS - 1 - Pente por onde correm os fios da teia (plural). 2 - Nomefeminino; planta mole. 3 - Diminutivo de Beatriz; dono da casa em relação aoscriados; três vogais diferentes. 4 - Vogais diferentes; soltava pios; abreviatura desenhor; em inglês. 5 Criada; ovário de peixe. 6 - Planta apiácea de aplicaçãoculinária; anagrama deN «ergo». 7 - Duas vogais e consoante; educador. 8Símbolo químico de bismuto (invertido); ressumia; batráquio. 9 - Astro central eluminoso do nosso sistema planetário; amarro; ar exalado dos pulmões sem aúltima Vogal. 10 - Soltar mios; diminutivo de Gabriela. 11 - Medição dos ossos,nos estudos antropo. lógicos.SOLUÇAODO PROBLEMA N.0 63HORIZONTAIS - 1 - Simba; Huila. 2Uo; roça. 3 - Permissa; dor. 4 - Abastecido. 5 - Leo; má. 6 - Ilha; algol. 7 - Ara;ousar. 8 - Ro; agi; Rui. 9 - Pi; ração; Ibo. 10 Aorta; Aral. 12 - Sé; arrasa.VERTICAIS - 1 - Superior; pão. 2Opio. 3 - Muralha; RS. 4 - Bombear; arte. 5 I Ião; AA. 6 - SS; aoc. 7 -Histologia. 8 - AA; guião. 9 - Ir; duos; ar. 10 - Lodo; lar; Ira. 11 - Aço; rumbas.12 - Arfar;et _ * _ JTEMPO - 9-11-80

CONCURSOLITERÃRIOx empoAssociando-se a iniciativa da Revista

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em promover um concurso literário, a Direcção Nacionatdé Cultura e o Centro deInformação e Turismo oferecem os seguintes prêmios:o Um fim-de-semana na Pontacom despesas pagas.de deslocaçãodo Ouro, e estada* Um fim-de-semana na Namaachacom despesas de deslocação e estadapagas.e Duas valiosaspeças deescultura.Estes prémios serão atribuídos aos melhores classificados, somando-se os prémiosjá anteriormente anunciados.Participeno concursoliterário Tempo enviandoos seus trabalhosaté aofim do mês de Novembro

yC4COMETAL- MOMETAL/NAMETALInstalac6es fabris na Machava e na Matola C.R 1401 Maputo Repl Pop deMogambiqueTelex: 6-535 DNIME-MO6-459 CABMC-MOTelef. 752124/8 Telegr: COMETAL