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. ..... . ..... ..... .. íkO' exigencia... na decisao da escolha. No simples gesto de o acender. No prazer de o fumar Na alegria de o oferecer! EXIGÊNCIA, marcando o ritmo no trabalho, na acção e no prazer! [M Um cigarro completo. Equilibrado. [M Um cigarro totalmente conseguido. II 1; IIOTA DA SEMANA N ADA há mais prejudicial a quem consome do que a existência de monopólios. Esta é uma '.ordade tão elementar que certamente o senhor de La Palisse teria empenho em subscrevê-la. E porquê? Porque o monopólio, assenhoreando-se do mercado sem a acção moderadora de um competidor, fica inteiramente livre para actuar como entender, quer em matéria de preços quer de qualid.de. Desta forma floresce o monopólio, à custa do consumidor, que não tendo outra fonte de abastecimento se vê coa-ido a utilizar a única existente. Entre nós também assim tem acontecido algumas vezes. Sem dúvida que a pulverização de indústrias similares de igual modo não serve o consumidor, posto que, principalmente em mercados incipientes como o nosso, ao qual se destine toda a produção por impossibilidade de vendas ao exterior, os produtos, ficam necessariamente -mais caros, visto que o seu preço aumenta na razão inversa da produção. Reconhecendo-se, porém, que a posição adequada não se situa nos extremos (nem oito nem oitenta), há que adoptar uma atitude criteriosa. tendo em conta os interesses da comunidade, através de um licenciamento ponderado. Daqui se evidencia portanto a necessidade de. ao mesmo tempo que se combatem situações monopolistas, se evitar por outro lado que um número excessivo de actividades iguais possa comprometer a conveniente estabilidade industrial. Para além da fixação dos preços, quando estes não careçam de aprovação governativa, o regime monopolista ressente-se da falta de uma salutar concorrência, que pode, reverter em prejuízo da. qualidade. Para exemplificação
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Mar 08, 2023

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Khang Minh
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exigencia...na decisao da escolha.No simples gesto de o acender. No prazer de o fumar Na alegria de o oferecer!EXIGÊNCIA, marcando o ritmo no trabalho, na acção e no prazer![M Um cigarro completo. Equilibrado. [M Um cigarro totalmente conseguido.II1 ;

IIOTA DA SEMANAN ADA há mais prejudicial a quem consome do quea existência de monopólios. Esta é uma '.ordade tão elementar que certamente osenhor de LaPalisse teria empenho em subscrevê-la.E porquê? Porque o monopólio, assenhoreando-sedo mercado sem a acção moderadora de um competidor, fica inteiramente livrepara actuar como entender, quer em matéria de preços quer de qualid.de. Destaforma floresce o monopólio, à custa do consumidor, que não tendo outra fonte deabastecimento se vê coa-ido autilizar a única existente.Entre nós também assim tem acontecido algumasvezes.Sem dúvida que a pulverização de indústrias similares de igual modo não serve oconsumidor, posto que, principalmente em mercados incipientes como o nosso, aoqual se destine toda a produção por impossibilidade de vendas ao exterior, osprodutos, ficam necessariamente -mais caros, visto que o seu preço aumenta narazão inversa da produção. Reconhecendo-se, porém, que a posição adequada nãose situa nos extremos (nem oito nem oitenta), há que adoptar uma atitudecriteriosa.tendo em conta os interesses da comunidade, através de um licenciamentoponderado. Daqui se evidencia portanto a necessidade de. ao mesmo tempo que secombatem situações monopolistas, se evitar por outro lado que um númeroexcessivo de actividades iguais possa comprometer a conveniente estabilidadeindustrial.Para além da fixação dos preços, quando estes não careçam de aprovaçãogovernativa, o regime monopolista ressente-se da falta de uma salutarconcorrência, que pode, reverter em prejuízo da. qualidade. Para exemplificação

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da tese aqui defendida; podemos tomar ao acaso a indústria de fabricação delâminas de barbear, de resto já referida na imprensa.Não havendo mais do que uma fábrica, nä'o tem o consumidor por onde escolher,se o produto posto à sua disposição não satisfazer as suas exigências em matériade qualidade. Simultaneamente o fabricante, sozinho no mercado, não se vêcompelido ao indispensável aperfeiçoamento técnico-fabril, quando outrosfactores não forem os determinantes das deficiências encontradas.Em qualquer dos casos e para encurtar razões, os interesses do públicoconsumidor só estarão efectivamente salvaguardados, quando houverconcorrência entre fabricantes, cujo número deverá ser no entanto condicionado -pelos motivos já referidos - às limitações do mercado consumidor. - F. S.Directior: Dr. Rui Baltazar Alves. Agências Nol-sas France Preso, Inter Nationese Dias da Silva. Propriedade: Tempográfica, SARL Redacção, Administração eOficinas: Av. Afonso de Albu. querque, 1017-A e B (Prédio Invicta). Telefone261911213. Caixt Postal 2917 - Lourenço Marques.àFrelimo: dinámica da revolução 1Ouro: Afinal vai ou fica? ........ 14 Partidos políticos: a Frelimo eos outros ........................... 18Pesca na baía: garotos precisao de protecção ............... 25É preciso destruir Cartago .. SQ Uma gioconda made in Japão, 32 Um homemdo povo - ex-presopolítico relata o «tratamento,que recebeu na PIDE ........34 Toyota RV2 - residência sobrerodas ................... 38A guerra do Kippur -" beneficios para a medicina ............ 40200 000 contos em pleitouma velha história de tijolos 41 Florinda Bolkan ........................ 44Açúcar nem sempre doceconclusão ........................... 48Factos e fotos ........................ 53Trabalhadores dos «Cimentos»em greve ............................ 54Desporto ............................. 57As notas roubadas .................... 61Palavras cruzadas .................... 62Imprensa e liberdade ............ 6441A NOSSA CAPA:Florinda Bolkan desempenhando o papel de Jetnet,no filme de Nelo Risi,-Uma estação no )iferno..baseado na vida do «poeta maldito». Raaimbaud.A acção decorre em 1873.o!?~Ú

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~SUMÁ0 RIOi

di n aiCaim iQuem é Samora Molsés MacheI? O quesignifica hoje a revolução em Moçambique?Que seria a Frelimo se Uria Simango, Kavandame e Murupa nãotWessem sido expulsos? Com o início da transcrição de um longo depoimento emque o Presidente Samora Machel analisa criticamente as contradições surgidas noseio do movimento que dirige ao longo dos últimos anos, estas algumas dasquestões focalizadas seguidamente por Mota Lopes em continuação de umasérie dereportagens sobre a sua visita à Tanzânia e Zâmbia para contactos comdirigentes e organização da Frente de Libertação de Moçambique.Crise de direcção, crise política, crise militar, profundas divisies: em Fevereiro de1969, logo depois do assassinato do Presidente Eduardn MondIane, oscolonlallstas e reaccionários de todo o mundo estão contentes, esfregam as miosde alegria: a Freilmo está liquidada, dizem, chegou ao fim, debate-se nos últimosestertores da sua pr6pria destruição. Mais uma vez se enganam. Um ano maistarde, a lutá de libert6ção de Moçambique prossegue com renovadas vitórias, omovimento que a dirige desde 25 de Setembro de 1964 surge mais forte eorganizado do que nunca. Que se passou, afinal?Nem mesmo houvera uma crise. É verdade que diferon. tos concepções do mundoe da luta existentes desde há muito tempo no seio da Fre. limo se traduziam diaria.mente em diferentes posições face ¿ realidade: como em todos os movimentos quesedefinem como revolucionários essas contradições eram inevitáveis. Mais: a suaconfron. tação constitui condição im. prescindível ao desenvolvimento, progressoe definição cada ves mais correcta e adequada de uma ideologia politica e deacção. Devido a condições especificas da gue=a em Moçambique, no entanto, estasituaçãko trans.

-forma-&@. Com o tempo suio desenvolve-e uma oposiçao oportunista e reaccio.nária que; de posições conilliat6rias, deixa de olhar a meios para conseguir osseus fins. Pse abertamente em causa os princípios básicos. revolucionários epopulares, da organização em que se integra. Fomenta a agitação e o anarquismo.Entra 'rapi. damente em colaboração com o inimigo. Não hesita em utilizar atraição, o crime e o atentado para remover do seu caminho os elemen. tos maisprogressistas e lúçidos que lhe queiram fazer frente.- Não obstante, antes do fimdo ano de 1969 seráderrotada: o próprio desen-.volvimento da luta, através de um complexoprocesso revolucionário de purificação. se encarrega de denunciar e expelir areacção que o quer travar e desvirtuar. Enriquecida pela exp«6incia vivida aFrelimo está então mais apta e preparada do que nunca para liderar o povo emarmas de Moçam. bique contra o colonialismo

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portugués.Samora Molsés Machel vi. veu nos seus mais Infimos pormenores todo esseprocesso revolucionário, Durante um encontro que se prolongou por mais decinco horasno Instituto de Moçambique, em Dar-es-Salaam, ele recirdou primeiro diversosaspectos imprescindíveis à compreensão correcta da ideologia política domovimento que *lidera e seus objectivos. Depois, com uma franquezasurpreendente, historiou a evolução da Frelimo ao longo dos últimos anos e atéaos nossos dias referindo e analisando em especial as graves contradições internasque, até fins de 1969, provocaram uma acentuada divisão e abalaram atr aosalicerces toda a organização.O conhecimento das cau-sas, do desenvolvimento e das consequências desses profundos antagonismospode considerar-se como imprescindível para a apreciação e compreensão dalinha política que define a Frelimo na conjuntura política de Moçambique, só elepermitirá uma pdesãc ou negação honesta dos seus princípios. Aliás, é evidente, alonga luta contra a reacção interna cuja primeira fase termirra com a década de60, não só preparou o movimento para enfrentar abertamente outras contradiçõesfuturas-sem dúvida inevitáveiscomo constituiu ensejo para uma reformulaçao radi<ml da

PÁGINA 4s.;1t í . ý,g1a poltica revolucionuria num sentido claro e inflexível" Com esseobjectivo - permitir a compreensao - publicamos neste número a primeira parte dalongo intervenção em que o Presidente Samora Moisés Machel analisacriticamente e historia o desenrolar de todo o processo que levou a estareformulação. Antecede-o uma tentativa de apresentar aos nossos leitores a figurae a vida do Presidenteý da Frelimo que visa recordar as condições quelevarani milhares de moçambicanos a concluir que a luta armada é a únicasolução para -destruir o colonialismo no nosso país- A conjugação destes textoscom a conclusão da intervenção de Samora Machel que publicaremos no próximonúmero de TEMPO procuram lançar alguma luz não só sobie a dinâmica darevolução em Moçambique, como também sobre a própria dinâmica da revoluçãonas periferias subdesenvolvidas de todo o mundo.UM PARENTESIS DE 600 PALAVRASSIMANGOI MURUPAE KAVANDAMFATACAM DE NOVO?Mas não devemos nem podemos perder de visa o que hoje concretamente ,sepassa na conjuntura política que nos envolve: por isso se torna necessário fazeraqui um parêntesis de seiscontas palavras sobre alguns factos aue talvez sejaurgente esclarecer.Com intensidade crescente após 25 de Abril nós temos vindo a assistir aoreaparecimersto a nível legal de alguns dos elementos que o desenvolvimento daluta de libertação , de Moçambique expulsou e denunciou como reaccionários,oportunistas, criminosos ou vigaristas. Lazaro KcIvandame, primeiro Artur

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Vilenculos, depois Uría Simango há dias. Talvez, em breve, o padre Gwengereou, mais uma vez, Miguel Murupa. Que pretendem eles? Que representam?Que seria a Frelimo hoje se eles tivessem levado avante os propósitos quedefendiam e pelos quais foram derrotados? A resposta a estas perguntas encontra-se também no historiar do processo que Samora Machel explicará convenientemente. Antecipemos, no entanto, alguns factos.As contradições no seio da FrPlimo que em Fevereiro de 1969 surqem à luz dodia com o assassinato traiçoeiro do Presidente Eduardo Chivambo Mondlane, sóforamultrapassadas ao longo dos meses seguintes com a denúncia'e destruição dasposições e. ideias reaccionárias que estavam na sua origem. Concretamente, elasopuseram frente a frente dois grupos defendendo duas linhas ideológicasantagónicas.Por um lado, defondendo o prevalecimento de uma orientação políticarevolucionária então posta abertamente em causa, definindo o inimigo comosendo o sistema colonialista em Moçambique e a luta da libertação comoprolongada, nacional e em termos de luta de classes, Eduardo Mondlane, SamoraM. Machel, Marcelino dos Santos, Joaquim Chissano, Alberto Chiande, OscarMonteiro., Jorge Rebelo, Mariano Matsinhe e muitos outros elementos dedestaque na actual direcção da Frelimo No outro lado, procurando -transformar a'luta numa Querra de extermínio e expulsão da coulação branca de Mocambiaue,neiaindo como ruocérfluo ou aproveitando em beneficio

próprio os esfot'ç¿s em curso de reconstrução nacional nas zonas libertadas,afirmando a necessidade de preparação de novas elites dominadoras e defendendointeresses pessoais, uma vasta plêiade de oportunistas e reaccionários que nãohesitaram em matar piara concretização dos seus intuitos.* Especulemos um pouco: que seria a Frelimo se essa plêiade não . tivesse sidodestruída?O que se passa com outros movimentos definidos como revolucionários noutraspartes do mundo indica que possivelmente a Frelimo já não existiria ou estaria tãodividida que se teria tornado ineficaz. Mas podemos ir um pouco mais longe: '>A Frelimo seria hoje uma organização racista e de vingança contra todos osbrancos de Moçambique se os princípios reaccionários que resuminíos tivessemsido postos em prática. Seria hoje, também, um in§trumento de exploração dopovo moçambicano ao serviço dos interesses estrangeiros que desse modo seriamsalvaguardados por novas formas de domínio e de opressão. Muito próximos dasideologias neo-colonialistas que-a Europa e os Estados Unidos da Américafomentam em todo o continente, esses princípios-toram tambým defendidos erepresentados no seio da Frelimo por elementos como - exactamente UriaSimango, padre Gwengere, Lázaro Kavandame e Miguel Murupa. Com posiçõesideológicas variaveis; directa ou indirectamente, simultaneamente ou em alturasdiversas, conscientemente ou não, era isso que em última análise elesfomentaram. Começamos ta reconhecê-los: desertaram ou foram expulsos,voltaram para Moçambique, instalaram-se e passaram a combater o seu povo ao

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lado do colonialismo .português. Será que surgiu agora uma nova oportunidadepara porem em prática as doutrinas reaccionoras de que estão imbuídos?Isto é um pouco secundário, sem dúvida, porque hor mens como Simango,Kavandame ou Murupa já não enganam ninguém. Não obstante, o destaque queestão a receber no tablado politico de Moçambique denuncia mais uma vezinequivocamente que há forças em ;ogo dispostas a utilizá-los numa últimatentativa para obtenção dos seus objectivos Tentemos prever o que se pode vir apassar:Como sempre, também, eles deixar-se-ão utilizar porque

assim poderão concretizar a sua ambição: tornarem se os substitutos dos pequenose) médios agricultores, comerciantes e industriais brancos e negros queprocurarão exterminar ou expulsar de Moçambique. Para tanto vão procurarenganar meio mundo com palavras doc-es, prometerão mundos e fundos, vãoapoiar um referendo absurdo, garantirão a distri-buição de privilégios a meiadúzia de oportunistas dispostos a. segui-los, farião tudo para poderem um diaenriquecer à custa do sacrifício do povo. Em troca deixarão intactas aspossibilidades de um colonialismo «sem brancos» continuar a explorar este paispor seu intermédio e através das grandes companhias multinocionais Queefectivamente o definem. Era isto, tudo Indica, que eles pretendiam quando ade-riram á luta de libertação de Moçambique, par isso foram denunciados e expulsos,Será que desistiram? Ou continuarão efectivamente -ao lado do colonialismo atentar concretizar novas estruturas de domínio que s ( a eles e aos seus patrõespodem beneficiar?O presente e o futuro próximo, as suas acções noi tempos que se seguem, seencarregarão de responder a estas perguntas. No entanto, esta aliança entre ooportunismo e o inimigo é a lição que a própria África dos nossos dias nos ensina.Esta é também a evidência que a história recente de Moçambique nos demonstrasem deixar margem a dúvidas. Escutemos os factos como Samara Moisés Machelos expõe. Não devemos, náo-podemos esquecê-los.0 0 TEMPO E0 TENTATIVA DE RETRATO E BIOGRAFIA«A luta no nossa seio continuU. É uma luta longa e difícil,quase interminável, que tem que começar connosco- próprios pois os vicios quetrouxemos da sociedade colonialista nao d4saparecerão se não lutarmosduramente contra nós, se não procurarmos a cada passo corrigir-nos, dentro deuma perspectiva revolucionária. Mas podemos dizer que a revolução está,consolidada quando somos capazes de abertamente reconhecer os nossos erros,denunciarmos o oportunismo, a corrupçao e tudo aquilo que dá forças aos agentesque querem desintegrar-nos."Quem assim fala, com esta linguagem objectiva'e extremamente comunicativa,nasceu há quarenta anos naAfrica colonizada. Devíamos esperar, portanto, que as suas palavras fossem aspalavras pastosas que enchem

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MODO DE SAMORA MACHELos dentes do colonizado, que traluzissem um profundo sentido do estático, quefossem melancólicas como os cantos escravos. Não é isso que sucede, Elasconvidam-nos a lutar *contra nós mesmos e contra a opressão, falam-nos derevolução, voltam-se para o futuro. Escutemos um pouco mais:«Nós viemos de uma oociedade onde dominava amentalidado dos colonialistas,nós viemos para a Revolução carregados de vícios e defeitos. Algunsmoçambicanos vieram para a revolução movidos pela ambição, para terem potosaltos num Moçambique independente. Outros vieram porque os portugueses nãolhes deixavam explorar & vontade o traba-. lho dos outros: os portuguoecoqueriam ser os únicos a explorar. Então esses moçambicanos vieram para arevolução para correrem com os portugueses e tomarem o lugar deles naexploração do povo. Estes moçambicanos vieram para a revolução com esseespírito. Mas quando vi. ram que a revolução não pezmite a satisfação dos seusinteresses pessoais, que os postos são dados de acordo com a capacidade de cadaum, que a exploração é completamente banida, que a disciplina é estrita e rígida-esses moçambicanos quando viram isso começaram a vacilar. E formaramgrupos de descontentes, prontos a agir contra as força verdadeiramenterevolucionárias lgo que surgisse a primeira oportunidade".Quem asism fala, com esta linguagem nitidamente arrancada a um quotidiano deluta, é o Presidente da Frente dp Libertução de Moçambique, camarada SamoraMoisés Machel.«BEM-VINDO,COMPANHEIRO»Para uma melhor compreensão da própria dinâmica da revolução moçambicanaimporta conhecer alguns elementos sobre a sua vida, personalidade e ideias. stonão. é tarefa fácil,. o Presidente da Freli me evita Ia-lar de si, utiliza de prelerência a forma «nós" ao «eu» pessoalizado, são escassosos elementos conhecidos sobre as condições em que adere à luta de libertaçãoaté atingir o seu mais alto posto,É sem dúvida um novo tipo de líder e de político em Africa, como tem vindo aser insistentemente descrito por observadores e especialistas em assuntosafriccános. Mas isto só torna mais difícil ainda a sua descrição, assim cerceada detodo e qualquer ponto de comparação. Não obstante, poderá dizer-se que estehomem que hoje dirige uma verdadeira vanguarda da luta tricontinental contra aopressão e a exploração colonialista e imperialista, consegue por exemploconciliar na sua per. sonalidade riquissima o realismo político de estadistas comoNyerere e Nguabi, as certezas inabaláveis e a eloquência de um Sekou Tóuré, aluc.dez ravolucionária de Fqnon e Patrice Lumumba.Mas ficamos ainda muito longe de uma definição aproximada: através de mdis dedez ,anos de luta armada Samora Machel ultrapassou já muitas das posições queaqueles nomes da revolução africana podem representar. Diremos que, num planodistinto, ele sintetiza os próprios anseios dos povos ainda oprimidos ou neo-colonizados da Africa dos nossos dias.Conheço Samora Machel numa tarde de Junho em Dar-es-Salaam e o que maisme surpreende nesse primeiro encontro é a afabilidade e imensa capacidade d.

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comunicação que manifesta em todos os seus gestos e palavras. Dirige-se a mimsorrindo, abraça-me, diz: «Bem vindo companheiro». E écomo se não fosse um primeiro encontro mas sim, estranhamente, o encontro develhos amigos que não se viam há muito tempo.Bem constituído, sem um grama de gordura a mais no corpo, treinado eexercitado nas lóngoi caminhadas e privações da luta, musculado o elegante,nada mais nele indica o militare estratega que também éNas calças escuras comcamisa solta que então vestia, mostra-se tão à vontade como quando usa o fatocompleto, cuidadosamente talhado, das suas missões diplomáticas ou o camufladoverde e cinzento de campanha.Tem agora o aspecto descansado e descontraido que um sorriso fácil ilumina comfrequência. Ninguém diria que, acabado de regressar de .Lusaka ao fim de longase infrutíferas conversações com representantes do governo português, passaragrande parte desse dia e da noite anterior em reunião com os membros doscomités central e executivo da Frelimo então em Dar-es-Salaam, explicando empormenor, discutindo, analisanJò e criticando os resultados desse encontro. Masesta capacidade de trabalho e recuperação, corolários de uma vida quase ascéticanarecusa do conforto e do comodismo, só se tornariam claros para mim ao longodos dias seguintes.UM HOMEM LIVREEntão, também, outros traços me viriam a surpreender na personalidade deSamora Moisés Machel. Por um lado, o seu ódio inabalável con, tra todas asformas de opressão, ao colonialismo, ao racismo, ao tribalismo, à corrupção, aomanobrismo e à impostura. Por outro lado, coerentemente, a constante vigilânciaa que sobre si próprio se obriga: não bebe bebidas alcoólicas, não fuma, é frugalnas suas refeições, não gosta de luxos supérfluos. Perante a realidade da sua vida,a tradicional propaganda inimiga que descreve as «vidas faustosas» dos lideresrevolucionários esboroa-se irremediavelmente.Conhecendo-o melhor, descobre-se com facilidade que tudo isso resulta de umlongo processo de formação concretizado na luta, nocombate e nos trabalhoscolectivos, na construção da liberdade e na certeza que é possível modificar ofuturo a partir do presente. Aqui também se forjou uma aran-de capacidade de compreender os outros, de os analisar,de confiar nos homens.Dos vinte anos que viveuno colonialismo ficou apenas a sua condição de filho de camponeses e esse ódioconstantemente assumido contra um sistema de opressão que é necessáriodestruir. As nevroses do colonizado, a falsiíicaoça, a amargura, o mimetismo e omedo do assimilado não deixaram indícios, foram substituídos por uma novapersonalidade que reivindica a responsabilidade 'total de uma escolha. Olhando-o,sentimo que estamos perante alguém habituado a tomar decisões e q assumi-lasconscientemente até às suas últimas consequências. <,«Nós somosrevolucionários, os nossos actos todos têm um sentido político, 4m conteúdopolítico" - escreveu algures.

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Mas tudo isto se reflecte no seu rosto marcado pela vida e pela guerra, de malaressalientes sobre uma barba espessa e negra, nos olhos extremamente expressivos emuito negros, sempre atentos. Com efeito, o seu aspecto é dominado por umaatenção interessada e permanente, própria de uma inteligência preocupada orocompreender com lucidez a complexidade dos outros e do mundo que a rodeia.Equilib.rados por uma sinceridade e um optimismo contagiantes, a frieza dos seusnaciocínios, os profundos conhecimentos que constantemente demonstra sobre osmais diversos aspectos da realidade, a seriedade com que discute as mais simplesou as mais complexas questões políticas, económicas e sociais da sua luta, do seupovo e do seu pais denunciam certezas ' inabaláveis sobre a futuro, sobreMoçambique, sobre a liberdade,Na verdade este homem é já um homem livre.UM NOVO OLHAR SOBRE O MUNDOComo me explica Sérgio Vieira, outro destacado membro da direcção da Frelimo,não é na violência individual, que Franz Fanon teorizou, que o co1onjzado se

define como homem livre. Na luta de libertação de Moçambique, o oprimidodescobre a liberdade no engajamento total com a revolução e ao descobrir que asua luta é uma luta de classes e que ele é o agente do destruição de uma sociedadecon.denada que erradamente via como dividida entre brancos e negros. Assimsurge um novo olhar desalienado sobre o mundo, o olhar de um homem livre. Ocolonizado, o oprimido, liberta-se e transforma-se transformando e construindo omundocolectivamente.Mas nrão é na simples aderência à luta de libertação que este processo seconcretiza. A aderência é só um prindipio, uma etapa donde ýé preciso voltar apartir para atingir a verdade da revolução. Figura exemplar de .homem, derevolucionário e de dirigente, Samora Machel sabe-o bem: também ele percorreuos longos caminhos que milhares de camaradas seus seguiram para atingir essaverdade( que transformao hon m e o mundo.Nascido em Gaza, no valedo Limpopo, em 29 de Setembro de 1933 numa familia de camponeses,descobrirá muito cedo - sem o compreender, todavia -_o gosto amargo daopressão colonialista. Não o esqueceu, porém, e, mais de trintaanos depois,escreverá estas passagens inegavelmente auto.biográficas:«Um camponês moçambicano que produz arroz em Gaza, para que serve a suaprodução? Serve cara ele comer, para satisfazer as necessidades da sua família?Talvez, numa certa medida.Mas, o que é certo, é que com o que obtém da produção, ele tem que pagar osimpostos coloniais, impostos que financiam a policia que o prende, impostos quepagam o ordenado do administrador que o oprime, impostos para comprar a armados soldados que amanhão vão.expulsar o camponês da sua terra. impostos para pagar o transporte e instalaçãode' colonos que vão ocupar a terra do camponês. O camponês produz para pagaros impostos, o camoonês pelo seu trabalho financia a

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opressão de que é vítima.«Continuemos com esteexemp !. dum camponês que produz arroz. Ele, para viver, precisa de outrascoisas além do arroz. Ele precisa de roupa, ele precisa de azeite, ele precisa demuitas coisas que tem que comprar na loja.Para comprar precisa de dinheiro e o dinheiro não cai do céu.íQuer isto dizer aueo nosso camponês tem que ir vender o seu arroz à loja ou companhia. Ele vendeas suas coisas por preços baixos e compra por preços quatro a cinco vezes maisaltas do que quando vendeu. Com um saco de algodão fabricam-se muitos metrosde tecido de lgodão muitas ýcamisolas. o entanto, qíando vendemos um saco dealgodão, o dinheiro que recebemos por um saco, mal dá para comprar uma s6camisola. Quer isto dizer que a produção que fazemos, o nosso suor combinado àterra, beneficia aquelas companhias, aqueles comerciantes que nada fizeram.»Esta linguagem é reconhecível: é já a linguagem de um homem livre. Nos anosquarenta no vale do Limpopo o adolescente Samora Machel ainda não podiacompreender assim a exploração quotidiana a que era sti eita toda a sua família deprodutores de arroz. Mas não era totalmente alheio à sua evidêncial Na escola damissão que /frequenta os professores chamam-lhe o «rebelde». Mas como não serum rebelde? O mecanismo da exploração é bem simples, mete-se pelos olhosdentro de toda a gente: a administração fixa preços e indica as lojas onde aprodução agrícola deve ser vendida. O Presidente da Frelimo recorda agora:«Pagavam-nos 3$50 por um quilo de feijões, por exemplo, enquanto os farmeiroseuropeus recebiam 5300. Depois de termos vendido as nossas colheitas e sequiséssemos voltar a comprar os mesmos produtos teríamos que pagar 6$00 quaseo dobro do preço que tínhamos recebido». Por outro lado, a obrigatoriedade decultivar determinados produtos, as culturas obrigatórias sobrepunha-se a estaforma de exploração. No vale 'do Limpopo, vastas áreas de terreno fértil tinhamassim que ser usadas para o algodão: «Muita gente morreu de fome por -causadisso»diz Samora Machel: os cuidados que requer o algodão, a atenção constante quenecessita faz com que outras culturas de subsiátência tenham que sernegligenciadas. Uma situação, aliás, comum a muitas regiões de Moçambique.Recordando-a, comparando-a' a ou-tas formas de opressão, Samora Machelescreverá no entanto num misto de ironia e amargura muitos anos depois: «Estassão a% formas mais suaves, menos cruéis de exploração: há outras bem piores...»QUANTO GANHAM OS HOMENS QUE MORREM NAS MINAS?Com efeito: muitos são os tentáculos do colonialismo. Com a exploraçãoquotidiana na agricultura, com a expropriação de terras a favor .decolonosbrancos, com as culturas obrigatórias, a vendo de trabalho para as minas de ouro*da Africa do Sul torna-se, para os camponeses do Vale do Limpopo, a única salda,a alternativa obrigatória, um terrível meio de sobrevivência. O irmão mais velhode Samara Machel e alguns membros da sua família morrerão nas minas. Comonão ser um rebelde? Exemplificando com factos arrancados à sua própria vidauma dessas forias «piores» de exploração, ele falará, em 1971, na venda dostrabalhadores para as minas do Rand: «Os jovens partem fortes para as minas.Muitos morrem nos desastres das minas. Mais de 2500 morrem nas minas por

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ano. Outros, n4o sabemos o náimero, voltam sem um braço, sem uma perna, ospulmões comidos pela tuberculose. Os donos das minas são dos homens maisricos do mundo, o oiro das minas é vendido a preços muito altos, mas quantoganham os homens que &norrem nas minas?»DO CAMPO A CIDADEO estudante da missão d, Limpopo salienta-se, é um dos melhores alunos da suaclasse. Mais: é considerado como uma «conquistar para a Igreja de Roma: aescola que frequenta é de padres católicos, mais interessados em doutrinar do queem ensinar, e a família Machel é protestante. Ao fim de seis anos baptizam-no,decidem que o jovem deverá seguir para o seminário mais próximo e não parauma escola secundária ou técnica. Mais u;ma vez o «rebelde» diz não. Os padresinsistem. A resposta mantém-se. Conclusão: a única maneira de continuar aestudar foi seguir para a cidade, procurar emprego, estudar sozinho.Em Lourenço Marques,também, as dificuldades do costume. Explicações à noite depois de horas seguidasde trabalho, um escasso salário, os primeiros contactos com um outro mundototalmente diferente daquele a que virara costas. Con eguirá tirar um curso de enermeiro, virá a trabalhar no Hospital Miguel Bombarda. Por todo olado, também,a evidência de uma exploração sem fim.O curso de enfermagemque segue é um dos poucos cursos a que os assimilados tinham então acesso, econseguiam frequentá-lo principalmente se tivessem amigos brancos e influentescapazes de mexer os cordelinhos para conseguir a matricula. «Trabalhávamosjuntamente com brancos durante o nosso treino, mas foi só depois de terminar ocurso, na prática da profissão, que nós descobrimos que os enfermeiros negroseram consideradios diferentes e sujeitos a diferentes atitudes» afirma agora, apropósito, Somora Machel. E acrescenta: «E. claro, foi então que descobzimosigualmente que os salários também eram diferentes». Por outro lado, a propósitoda realidade que encontrou no hospital em que trabalhSu, exemplo concreto doshospitais colonialistas, escreveria no, ano passado: «Na zona do capitalismo e docolonialismo o hospital é um dos centros de maior exploração. Aí, porque está emjogo a vida dum homem, a vida dos seus entes mais queridos, é onde se manifestaUe maneira mais descarada e sem vergonhaa ganãncia do mundo capitalista.«Não se entra nem se é tratado no hospital capitalista em função das necessidades.Quando se é pobre, quando não se tem influência poderosa, é difícil arranjar-seuma cama no hospital, e no entanto o cancro devora-te a carne, a tuberculose roa-te os pulmses, a febre queima-te' o corpo. O rico, o senhor, o patrão, esse não tema mínima dificuldade em obter quartos, em obter lugar para si e para quem oacompanhe. Mobilizam-se médicos e professores de faculdade para tratar aconstipação do capitalista, para curar a prisão de ventre do senhor juiz, mas aolado morrem crianças, morrem homens, porque não tiveram dinheiro para chamaro médico».A úNICA SOLUÇAOEm fins da década dos anos 50 e principio dos anos 60, este quotidiano queSamora Machel vive na capital de Moçambique é profundamente abalado. EmAfrica, constituem-se os primeiros movimentos de libertação, são iniciadas as

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primeiras lutçs contra o domínio colonia, os termos colonialismo, descolonizaçãoe anticolonialismo entram gradualmente no vocabulário do dia-a-dia emboratenham já que ser pronunciados em voz baixo, de maneira a que a policia os nãoouça. Escuta-se o r ídio e lêem-se os jornais: um

Nas fotos, em cima; o grupo de moçambicanos de L. Marques e da Beira com oPresidente e elementos directivos da Frelimo, no Instituto de Moçambique, emDar-es-Salaam. Da esquerda para a direita - Rui Baltazar, Ôscar Monteiro, EuláliaMutemba, Afonso dos Santos, Mota Lopes, Abel Colado, Luís Menezes, SamoraMachel, José Luís Cabaço, Sansão Mutemba, Antônio Alves, JoaquimChissano, Sérgio Vieira, Carvalho, Mário Graça, Chafurdin, Marianô Matsinhe.À direita: o Presidente da Frente de Libertação de Moçambique, Samora MoisésMachel e, à esquerda, Joaquim Chissano, emLusaka.

continente inteiro está em efervescência: que significa tudo isso concretamente?Lumumba no Congo, Luthuli, Mandela, Kaunda, Nkomo, Shitole, nos paísesvizinhos. Keniata e Nyerere, ao norte, a Tanganica torna-se independente. Depois,em 1961, Angola. O «rebelde assimilado» Samora Moisés Machel começa acompreender: « Gradualmente eu vi que a única solução era a acção colectiva» -afirma agora. «Um homem só nada poderia obter. Após 1956 eu começara aperceber os principais problemas, os principais problemas, económicos e sociaisde Moçambique, e as razões por que os negros estavam privados de tudo. Então,em 1960, eu aprendi mais: a independência do Congo e os seus tumultosensinaram-me muita coisa, a interferência dos poderes imperialistas e a mortedos principais líderes da independência horrorizaram-me. Comecei a pensarseriamente sobre as possibilidades de Moçambique se tornar independente... E foientão que a consciência de ser oprimido. privado de tudo e explorado começou aassumir todo o seu significado, tal como essas ideias sobre a inde-pendência de Moçambique. Foi por esta altura que as autoridades colonialistasaumentaram a sua repressão sobre todos os negros que soubessem ler e escrever,sobre os negros educados. Mas isto foi uma outra coisa que aumentouenormemente a nossa curiosidade: saer porque é que eles não queriam que nóslêssemos jornais e escutássemos emisses de rádio estrangeiras. Entao, em 1961, aluta armada co-, meçou em Angola...».DA CIDADE COLONIAL A LUTA DE LIBERTAÇÃOFoi também em 1961 que o Dr. Eduardo Mondlane então funcionário daOrganização das Nações Unidas esteve no sul de Moçambique numa visita queoficialmente foi apresentada como sendo de simples férias. Na realidade,MondIane esfava já preparando a formação da Frente de Libertação 'deMoçambique, Frelimo, e efectuava diversos contactos com essa finalidade.Samora Moisés Machel foi um desses contactos e ambos passaram longas horasdiscutindo o futuro do país. Meses depois, Mondlane abandonaria o seu lugar naONU e, na Tanga-nica, seria uma das principais figuras na fundação da Frelimo. Por essa alturatambém, Samora Machel deixa Moçambique para frequentar o seu primeiro

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curso de treino militar na Argélia, com outros co.npanheiros. Passará depois adirigir o primeiro campo de treino da 1 Frelimo e, em 1964, em 25 de Setembro, éum dos primeiros guerrilheiros a atravessar o Rovuma para desencadeamento daluta armada de libertaçao nacional em Moçambique. Mais tarde, com odesenvolvimento da luta, receberia como tarefa a direcçao das forças armadasrevolucionárias. Desde sempre, em todas as ocasiões, em todos os combates, emtoda a parte, uma característica que jamais o abandonaria: a necessidade epossibilidade de se misfurar com o povo em luto, de auscultar os seus anseios, detotalmente se identificar com ele. Na formaçao daquele que nos nossos dias é umdos líderes revolucionários e estadista mais em destaque e predominância emtoda, a Africa, esta característica quotidianamente praticada foi decisiva.QSA DAS cai

PÁGINA 11MORA MACHEL:ITRADiCOES No SEIO DA FREIJMO1.A PARTE: DA FUNDAÇÃO- AO DESENCADEAMENTODA LUTA ARMADANo primeiro andar do Instituto de Moçambique, em Dar-esSalaam,-SamoraMoisés Machel começa por explicar diversos aspectos imprescindíveis àcompreensão correcta da ideologia política da Frelimo e seus objectivos. Depois,numa exposição que 'durará mais de quatro horas, historia a evolução domovimento que lidera ao longo dos últimnos anos e até aos nossos dias referindoe analisando em especial as graves contradições internas que, até fins de 1969,piovocaram uma acentuada divisão e abalaram até aos alicerc s toda aorganizaão. Presentes, além de um grupo de noçambi.canOs de LourençoMarques e da Beira. entre os quais o Repórter, o vice-Presidente Marcqlino dosSantos, Joaquim Chissano, Óscar Monteiro, Jorge- Rebelo, Sérgio Vieira, Mariano Matsinhe, Eduardo Panguene. Janet Mondíane eoutros elementos directivos da Frelimo. Só parte da longa exposição de SamoraMachel foi gravada. Antes 'de passar à transcrição conforme registada em fitamagnética. eis o resumo-dos pontos principais da sua introdução:1962/63 - Desde a sua fundação que a Frelimo considera como essencial à lutaarmada a desencadear a unidade nacional de todos os moçambicanos. Os seusestatutos da fundaçao referem tá a «moçambicanos de todas as raça%. origens egrupos étnicos». Pouco mais eram do que palavras, sublinha agora SamoraMachel, que acrescenta que, em 1963 «dois companheiros brancos chegaramvindos do sul de Moçambique mas não havia lugar pata eles, nem tarefas, nemlugares, nem programas». Referia-se a Fernando Veloso e João Ferreira. Poroutro lado, no seio dos roçambicanos negros que entrio tinham já aderido àFrelimo, a unidade era aparente: havia divisões, regionalismo, individualismo.Além disso, todo aquele que tivesse sido um «assim.lado» ou trabalhado emalguma das repartições públicas do governo portuguê3 «era olhado com mausolhos porque ocupara um lugar do patrão» - diz o Presidente da Frelimo, queacrescenta "«Era pois uma unidade aparente. não real. Não desanimámos. Isso

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mostrou-nos que era necessário trabalhar cada ,vez mais, convivendodirectamente com as pessoas, esclarecendo-as».1964 - Começam a aparecer na Frelimo grande número de elementos de váriasprovíncias, de Cabo Delgado, do Niassa, da Zambézia. O primeiro campo políticomi-litar é aberto no centro da Tanzânia, no local onde em breve será construída anova capital do país, Dodoma. Bagamoyo é apenas um com~ po de trânsito. OInstituto de Moçambique funcionava como escola mas os estudantesfrequentavam também uma escola secundária americana de Dar-es-Salaam. DizSamora Machel: "Isso e!ra um autêntico veneno para os nossos estudantes,corrompia-os, a escola visava objectivos diferentes da educação e ensino queeram bem claros mas os nossos estudantes não compreondiam,» Em. Junho/Julhopõe-se concretamente o problema de começar a luta armada de liberfação emMoçambique. Surgiu então a nec ssidade de se estudar uma esýratégia adequada,uma eslratéia que nao se separasse dos objectivos já definidos pelo movimento«Para conduzir uma guerra é necossário primelro ter uma linha polItica o, apósisso, uma táctica»-exrlica Saora Machel «E o problema pôs-se: que tipo de guerra, qual é o nossoinimigo? Os primeiros antagonismos no seio da Frelimo surgem agora comacuidade. há grupo e concepções distintas oactual Presidente da Frelino sintetiza: um p iro gr sustentava «a idétýa de que:: aluta deveria co nas cidades; um .o. (ifirri va que era r mobilizar a massa«brUt<a" do povo, armá-la de catanas e machados e que todos os

brancos deveriam ser mortos; um terceiro grupo, advogava uma guerra deguerrilhas e afirmava que esta deveria iniciar-se no campo. «Os argumentas doprimeiro grupo caíram pela raiz: não havia condições" em Moçambique paraIniciar uma luta nas cidades. Por outro lado, a inimigo 4 forte e tem um fortecontrolo sobre as populações urbanas que não estão suficientemente mobilizadas.Portanto, começar a luta nas -cidades seria um rudo golpe para nós. Mas oscomponentes desse grupo continuaram a defender e a bater-se pela ideia de que,por exemplo. uns 50 elomentosem Lourenço Marques seriam capazes de levar a bom termo um golpe decisivo:tomando o Rádio Clube de Mo. çambique, cercando a Ponta Vermelha, arevolução estaria feita, a guerra estaria ganha. Quebrámos essa ideia errada» -afirma Samora Machel,DEFMiR O INIMIGO PELA COR DA PELE-O PECADO ORIGINALPassemos agora, em continuação, à transcrição da gravação feita: «Quebrámosessa ideia errada, mas ficou a segunda: organizar as massas fazendo-as avançarcom os guerrilheiros na retaguarda. Dissemos: leso 6 fornecer o alvo aó inimigo,6 desprezar o principio de conservar as nossas forças e aniquilar as do inimigo.,Mas não 6 só isso: representava uma ideia oportunista, um oportunismo de direita,significa subestimar o inimigo. 2 pensar que com alguns tiros, o exército colonialvai fugir, vai abandonar os seus postos, que nós tomaremos assim os seus postos.

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15p01s, na definição do inimigo, cometem o pecado original: definir o inimigopela sua cor da pele. Nós entendemos que o nosso Inimigo 6 o sstema e naoo homem, Eles, queriam faser da nossa orgauzaço um instrumento de vingança:cada um de nós só teve probiemas com um patrão, com um branco, logo "obranco 6 mau». Dissemos- que -este 6 o pecado original, que pensar assimrepresenta uma confusão, uma, falta de linha política, uma falta de clareza, faltade conteúdo nanossa luta.«A nossa luta tem que ter um conteúdo político. Portanto nós temos que definir oinimigo em termos de classes. Par isso dissemos: nós somos contra o colonialismoportugu4s e não contra o povo portugubs. «Esta definição parece uma definiçãovaga. Mac, ao definirmos o inimigo 6 necessário imedatamento definir o Inimigodirecto do inimigo indirecto.«Pululavam então certas ideias (dezmobilizadoras) da nossa orgczização. Flava-se, por exemplo, em termos de Imlperialiímo. Imperialis. mo: 6 preciso tercuidado aqui porque podemos perder de vista o colonialismo portugu6s: o povoainda não compreendeu o que 6 colonialismo portuguõ. Falando em imperialiemoestariamôs a avançar Ideias diferentes. E chamámos a atenção a alguns camaradasnossos que queriam ser mais revóluciaonários que a pr6pria revolução. Julgavamque era o Iogo de palavras quo os definia e 'identificava como revolucionários.Primeiro temos que compreender o que 6 o colonialismo, como 6 que se exerce.»O INIMIGO 2 O SISTEMA E QUEM O DEFENDE«Dissemos então que era necessário primeiramente analisar.o sistemi que existeno nosso pais para podermos nerquntar quem é a!ue defende esse sistma. Entãoencontramos o oxército: o nosso inimioo a ircto aqui está, porque defende o colo-nialismo, o exército colonial; depois temos a polícia, a administração que prende,mata, cobra o imposto, defende o sistema. Encontrámos a Pide e dissemos: afinaltemos muitos inimigos: está ai o exército, a polícia, a pide, a administração. Esteselementos é que defendem o colonialismo, estão na linha da frente a defender amuralha, constituem a própria riuralha, essa força toda. Portanto temos que'assestar as nossas armas, apontar os canos das nossas armas contra essas forças».CONDIÇÕES OBJECTIVAS E CONDIÇÕES SUBJECTIVAS«Para isso era preciso f azermos um estudo da situaçáo em Moçambique,encontra<r condições objectivas e tomar em consideração a condiçõessubjectivas. «Havia a tend6ncia de misturar o inimigo directo com o Inimigoindirecto. Já se f alava em atacar a Africa do Sul, já se falava em atacar a Rodsia.Dissemos: companheiros, 6 preciso distinguir o inimigo, saber qual 6 o nossoinimigo imediato. É que se olhássemos para a Africa do Sul como nosso inimigodirecto, temos que pensar tamb6m na iança porque apoia do mesmoa mo do ocolopialismo portuguêi. E assim vamos dispersar as nossas forças«Vejamos: porque 6 que a Africa do Sul apoia Portugal? Encontramos que apoiaPortugal por interesses económicos e que, Ideologicamento, divergem. Emessóncia, que há contradições entre eles[ é prciso, isso sim, explorarestrategicamonte essas contradições, fomentar essas contradiles. ý<,Analisámos o caso da

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Frnçu, da Alemanha, todos os países e todas as alianças: porque 6 que apoiavamPortugal? Alguns apoiam Portugal e tfm uma mesma ideologia: casa da Espanhacom a sua ideologia fascista.Há ai uma Identidade. Quanto a outros, encontradpos apenas razões económicasealianças.«Deste modo, como fasertriunfar a nossa luta?»for a nossa guerra é uma guerra de, guerrilhas, começando pelo' campo.«E porque .6 que nós adoptámos a guerra de *guerrilhas?«Em força éramos -debeis: é preciso reconhecê-lo. Foi por isto que seguimos aguerra de guerrilhas. Em força nós somos débeis e o inimigo é forte, o inimigotem material, está bem equipado, tem aviões, tem meios de transporte, tem amarinha e um exércitó com experiência, um exército organizado. Nós somos umaforça sem armas, sem ajudas. De modo que, se fossêmos fazer uma guerra abertaseríamos esmagados pelo inimigo.«5Mas isso não é razão para sobrestimar o inimigo, para considerar o inimigoinvencível - não. Mas é preciso tomar em consideração estes factores todos: oprincipio - geral da guerra de guerrilhas é desprezar o inimigo estrategicamentemas tomáclo a sério tacticamente.o que nós fizemos.«Imediatamente houve divisões no seio da Frelimo: estávamos em 1964,O DESENCADEAMENTO DA LUTA ARMADA«Primeira, diziam-nos, nóstínhamos definido mal o inimigo porque o inimigo 6 o branco e nós afirmávamosque a inimigo não 6 a branco mas sim a sistema. Segundo, porque se nósseguissemos a guerra de guerrilha Isso Iria tomar multo tempo, duraria muitosanos.Afirmavam eles que uma guerra de conquista e ocupação demorarIa menostempo. oportunismo de direita.«Mas porque 6 que eles adoptavam e defendiam estas ideIas?«Nós encontrámos certasrasões, podemos encontrar cortas razões: falta de confiança no povo, a facto deeles não terem assumido com clareza a nossa linha politica. Não estavamportanto em condições de fazer o povo assumir a linha da organização. Ai,diziamos, havia multa preguiça mental.«ConseguimoS vencer estabarreira, ultrapassá-la. De.seneaieámos a luta armada de libertaço nacional em35 de Setembro.»:OntifiRT0:DE SETEMBRO À MORTE DEkÇõES EM LUSAKA.

Com BETAOse faz uma cidade

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E assim se alarga o progresso. Betão Matola é um produto dos nossos dias.Concebido para evitar perdas de tempo e espaço,os camiões-betonéira daCompanhia de Cimentosestão prontos para, a qualquer horae local designados por sifazerem a entrega imediatado betão para a sua obra. BETÃO MATOLA-o produto do progressoPara modernas obras, modernos processos - use BETÃO MATOLA!COMPANHIA DE CIMENTOS DE MOÇAMBIQUE Pedidos aosDiatribuidores Gerais:(Central de Betão Metoil. SOMOQUE-Cormércio de Moçabiue, S,A.R/E.quilna da Avenida, da República e Diogo Cao Avenida Fernão deMegailhe,932 a 942 Telefonee: 240O/25015-Loureno Marques Telefone,:25014/25015- Lourenco Marques

Textode: LUIS DAVIDFotosde. RICARDO RANGEL.e KOK NAMO ouro pago pela África do Sul a Portugal, a coberto de um antigo acordo entre!os Governos de Lisboa e de Pretória que regula o fornecimento de mão-de-obramoçambicana para as minas sul-africanas, pela primeira vez não seguiu o seudestino na data prevista. A tentativa para embarcar, o «precioso metal» no aviãoda TAP fez accionar todo um mecanismo que visou evitar a sua saída deMoçambique. .Contudo, e apesar do boicote conseguido no dia 9 do corrente, émuito possível que ,neste momento, cerca de 113 mil contos em ouro seencontrem já em local «seguro», isto é, nos cofres. do Banco de Portugal, emLisboa.Mas, neste entretanto, o que mais importa saber é quem ganha e quem perde comeste negócio do ouro ou, em última instância, se alguma coisa aproveita aMoçambique. A realidade nua e crua, é que parece que não. E a verdadeinconstestivel é que o ouro continua a seguir, Inexoravelmente, para Lisboa. Até

suor de mineiro esta no Banco de .PortugalÀ esquerda: ... enquanto se processa o carregamento é observado um fortedispositivo de segurança. À distância, um grupo de curiosos observa atentamentetoda a manobra.COMO O OURO NÃO EMBARCOUA questão do ouro que Por. tugal recebe da Africa do Sul, em pagamento dotrabalho dos mineiros moçambicanos que recebem sessenta por cento dos seusvencimentos pelo sistema de «pagamentos diferidos»,,é pólvora, como já a vimosdefinida. Acontece, no entanto, que antes do 25 de Abril nunca terá havido a maisremota possibilidade de trazer o assunto a público. Hoje, porém, já se torna viãvelrelatar o que, se passa

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com o processo do ouro, embora, nesta oportunidade, apenas de forma um tantosuperficial.Importante se torna mencionar, desde já, que o presente trabalho começou a serelaborado a partir de um telefonema anónimo, recebido na nossa Redacção no dia8, véspera da data marcada para o embarque do ouro. Segundo o nossoinformador anónimo, no dia imediato «segue para Lisboa mais umcarregamento de ouro». De facto, tal deveria ter sucedido acaso não se tivessecomeça-do a esboçar um movimento de protesto contra a salda do ouro que, por ordem doGovernador-Geral de Moçambique, foi adiada.De acordo com o que conseguimos aPurar, tratava-se de 3 123,3 quilos de ouro,em 83 volumes, no montante aproximado de 113 mil contos, feita a conversão a42 dólares a onça conforme o valor actual do ouro monetário pois, no mercadolivre o seu vãlor é aproximadamente quatro vezes mais. O ouro em questão foicarregado no Banco Nacional

Ultramarino, onde se encontrava guardado, cerca das 14 horas, tendo seguido sobforte escolta policial para o Aeroporto Gago Coutinho. Ali foi acomodado em«paletes», que deviam ser embarcadas no avião da TAP.O não embarque, conforme estava previsto, foi devido ao movimento queentretanto se gerou com o objectivo de impedir a sua saída. O regresso das trêstoneladas de ouro aos cofres donde haviasaído veio a verificar-se cerca das 22 horas do mesmo dia, após terpermanecido durante toda a tarde na secção de cargas do aeroporto, vigiado deperto por escolta armada. Assim, destafeita, o ouro não foi para Lisboa. Cabe, no entanto, uma pergunta: quando seráque o ouro passa a ficar definitivamente em Moçambique?QUANTO VALEO OURO MOÇAMBICANO?O assunto do ouro sempre fez correr muita tinta, propriciando a circulação dasmais desencontradas versões e dando lugar a um infindável número deperguntas, muitas das quais têm permanecido sem resposta. Numa tentativa paraaclarar o momentoso problema, cuja splução só pode ser encontrada quandopassarem a reverterintegralmente para Moçambique todos os benefícios que a sua transacçãoproporciona, «Tempo» contactou com o dr. Pereira Martins,. inspector Provincialde Crédio e Seguros, que prestou alguns esclarecimentos.Começou por recordar o dr. Pereira Martins que existe um acordo entre osGovernos de Portugal e da África do Sul, sobre o trabalho.dos mineiros, no qual, adada altura, foi introduzida a cláusula do pagamento em ouro. O referido acordo,foi-nos frizado, foi efectuado entre os Governos de Portugal e da África do Sul,pelo que qualquer alteração ao seu articulado terá de serpromovida a nível dos dois Governos.Com a introdução da mencionada cláusula, Portugal-passou a poder optar pela compra de outro até 60 por cento dos saláriós a pagaraos mineiros, que «recebem Integralmente o produto do seu trabalho ao câmbio

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ofi. cial». Esta percentagem refere-se portanto à parte do salário pago aosmineiros pelo sistema de «pagamentos diferidos» (o trabalhador recebe a referídapercentagem quando chega a Moçambique. e o Governo recebe ouro, se assin odesejar) e ascende mensalmente a um milhão/ /um milhão e duzentos mil rands.Convém ainda apontar

Precedida a curta distância por um jeep» da P..S. P.,a «joaninha» segue, pela Avenida Manuel de Arriaga,em direc&o ao aeroporto, seguida pela segunda viaturapolicial, na imagem estacionada na Avenida da República.que o ouro é comprado por Portugal ao preço do ouro monetário, isto é,actualmepte, a cerca de 42 dólares a onça e que não pode ser lançado no mercadolivre onde valc cerca de quatro vezes mait. É, por conseguinte, ao preço domercado monetário que a Metrópole paga o ouro a Moçambique, embora até certadata o «precioso metal» tivésse permanecido em Moçambique.«0 que sucedia dantes, é que o Fundo Cambial tinha disponibilidades paracomprar esse ouro optando por juntar três ou quatro meses para que não viésseaos bocadinhos» - esclareceu o dr. Pereira Martins, que acrescentou:«Depois, a partir de 1960, Moçambique passou a ter-a balança de pagamentosnegativa e teve de vender esse ouro. Teve de converter o ouro físico emnumerário. E o ouro guardado em Moçambique, no Banco Emissor, foi vendidoao Banco de Portugal, ao preço do ouro monetário)».«A partir daí - continuouo dr. Pereira Martins - o Fundo Cambial quando tinha disponibilidades compravaà mesma o ouro, mas a verdade é que tinha de o vender logo a seguir para realizaros meios ltquidos de pagamento. O que sucede agora é que nem é o FundoCambial a pagar o ouro à África do Sul. É directamente o Banco de Portugal,porque mesmo que se pretenda uma operação imediata, nunca é possível fazer asduas operações imediatamente». Quer isto dizer, que Moçambique,presentemente, ' apenas recebe um crédito metropolitano no montante do ouroenviado para Lisboa.Ainda segundo informação do Inspector Provincial de Crédito e Seguros«Moçambique pode negociar o ouro com quem entender ao preço do mercadomonetário», muito embora tenha sido sempre dada preferência á Metrópole que«sempre q tem pago a Moçambique».Este é um dos aspectos da questão do ouro, a que Moçambique, por força dascircunstáncias, foi forçado aaderir. E mesmo que de imediato nada perca, o que se pode desde já garantir é queno futuro nada irá ganhar, pois a admitir-se uma subida no preço do ouromonetário ou que a sua venda passe a fazer-se apenas no mercado livre nem umgrama terá para vender. Nessa altura, fatalmente, o lucro será todo da Metrópole.«A BOA FORTUNADE LISBOA»A partir do tema enunciado, muitas e variadas perguntas se podem formularembora, pel3 que a Moçambique respeita, não sejam de admitir, respostaslisonjeiras. Por outro lado, se Moçambique nada, ou pouco, tem ganho com o

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ouro, os sul-africanos também parecem pouco satisfeitos com o negócio quefizeram.Sem qualquer comentário, transcrevemos com a devida vénia, do «FinancialMail» de 11 de Abril deste ano o artigo «A boa fortuna de Lisboa»:«A R 1,26 por turno (R 32;76 por mês), os traba-lhadores negros das minas de ouro podem parecer mão-de-obra barata. Porém, pordetrás desse magro salário existe um contratõ de trabalho que nos últimos cincoanos custou à Africa do Sul cerca de 45,5 milhões de Rands em ouroA razão é o compromisso assumido da parte do governo da Africa do Sul nopagamento diferido de uma determinada proporção dos salários da mão-de-obramoçambicana nas minas, e que essa . importancia seja paga ~o governoportuguês em ouro ao preço «oficial» Pela Convençto de Moçambique de 1' "ç,.aÁfrica do Sul e o ( 2,rno português concordaram em que, depois de cadatrabalhador recrutado em Moçambique ter trabalhado durante nove mesesnas minas de ouro, um xelim por turno (metade da média do salário do contrato)seria. diferido e pago após o seu regresso a Moçambique.O Artigo 26 da referida- Convenção diz: «Todo'; os dinheiros pagáveis segund-

Em' ima: dr. Pereira Martins, inspector provincial de Crédito e Seguros: -«Nestemomento o Fundo Cambial não tem possibilidades de guardar por duas ou trêssemanas cento e talmil contos em ouro.»esta Convenção - quer sejam impostos, remuneraçoes, salários ou quaIsqueroutros dinheiros - devem ser pagos e liquidados em ouro».Esta cláusula do ouro desapareceu na emenda ao Artigo 26 introduzida em 1934(«todos os dinheiros a pagar serão pagos e liquidados em moeda corrente legalda União»).Ela reapareceu, porém,- numa troca de notas em 1940.No actual acordo, negociado en 1964, independentemente das provisões relativasa Comércio e Alfandegas da Convenção de Moçambique, não se fez qualquermenção «específica» de pagamento em ouro.O Artigo 28 diz simplesmente:«A transferência para Moçambique pelos trabalhatgrcs portugueses de uma partedos seus ganhos será efectuada com base a ser aceite mutuamente pelos doisgdvernos».Sabemos no entanto que se continua a pagar em ouro ao preço oficial.Esforços efectuados pelo FM (Financial Mail) para descobrir as precisasquantidades de ouro e as datas em que elas foram credita-das ao governo português, depararam sempre com excusas embaraçadas dePretória, sendo o nquiridor cuidadosamente remetido do Reserve Bank para oDepartamento de Finanças, deste para o Ministério dos Estrangeiros, e dalinovamente para as mesmas entidades..Nem se conseguiu também apurar se o metal era enviado para Lisboa e se o valorem excesso resultante da subida do preço do ouro tem sido utilizado pelogoverno portugués de Lisboa segundo as suas prioridades políticas, ou se o

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produto tem sido de, facto utilizado, no todo ou em Oiarte, em ,Moçambique parao seu próprio desenvolvimento.O Ministério do Ultramar em Lisboa não respondeu ainda a estas perguntas.Uma vez que não se prev4 qualquer esclarecimento oficial, o FM efectuou ,osseus próprios cálculos baseados no diferimento de 60% dos salários de cadatrabalhador das minas, na alteração do numero dos trabalhadores de Moçambiquerecrutados anualmente, no aumento dos salários médios durante os períodosconsiderados, nos aumentos dos preços oficial e do mercado livre do ouro, e nasflutuaçóes das taxas de câmbio rand-dolar.Nessa base, chegámos á conclusão que:-~Durante o período de 1969-73 foram entregues ao governo português 59milhões de rands em ouro, avaliados aos preços oficiaiý de 35 38 e 42 dólares poronça,- Não resultou nenhuma perda efectiva do pagamento efectuado em 1969 (9milhóes de rands), em virtude de o preço no mercado livre no final do ano ser, defacto, ligeiramente inferior ao do preço oficial.- As perdas do crédito de ouro em 1970 (11,5 milhões de 'ands) poderiam tertotalizado cerca de 1 milhão de rands, em virtude de o preço do mercado livre tercomeçado a subir.- Nos anos de 1971 e 1972 as perdas efectivas, nos pagamentos de 10 milhões derands e 12.milhões de rands, podiam ter totalizado, cerca de 2 milhões de rand.sem cada caso. (As flutuações na mão-de-obra e as alteraçóes nas estruturassalariais e o preço oficial do ouro estiveram na sua base).- No ano passado,' estas perdas marginais transformaram-se num desastrefinanceiro. A perda efectiva no pagamento de 17,5 milhões de rands de ouroavaliado ofi. cialmente, pode ter sido a impressionante soma de 45,5 milhões derands.Assim, pelo privilégio de recrutar em Moçambique trabalhadores para as minas, aAfrica do, Sul tem agora de pagar um preço exorbitante.É evidente que Os termos do acordo deveriam ter sido renegociados logo queprincipiou o sistema duplo em 1969Afinal, Pretória estava já então convencida 'de que o preçu oficial do ouro não erarealista.É possível que então, como agora, o dilema de Pretória .-era o custo, em termos diplomáticos, de tentar fazeu um negócio difícil. Mas, àmedida que continuam a aumentar assustadoramente as perdas de ouro, parecemuito ,provável que em breve essa inibição será vencida».«LISBOA- E ESSE OURO»O texto que se segue foi igualmente retirado do «Financial Mail», número de 5 deJulho corrente:Uma publicação angolana, recomenda uma parcial solução para o problema dospagamentos de Moçambique administrativamente simples, mas que é dinamitepolítica.Alega aquela publicação que a mecânica da ConvençãQ de Moçambiquefunciona de tal maneira que Portugal tem vindo a roubar à sua colónia os

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pagamentos em ouro efectuados pela África do Sul a Moçambique (FM, de 11 deAbril).A Africa do Sul paga em ouro parte dos salários dos emigrantes de Moçambiqueque trabalham nas minas sul-africanas. Mas esse ouro é calculado ao preçooficial de 42 dólares por onça e é depositado, segundo aquela publicação, noBanco de Portugal, em Lisboa.Sugere aquela publicação que Moçambique deveria re. jeitar o paternalismo doPortugal e vender ao preço do mercado livre as 100000 a 300000 onças de ouroque recebe anualmente.A 150 dólares a onça, isso aumentaria as reservas de Moçambique e,consequentemente, o seu poder de compra em 15 a 45 milhões de dólares.. A mesma publicação confirma as anteriores suspeitas do FM acerca dos cofresque os excedentes sobre os pagamentos em ouro estão en chendo.E chegados a este ponto, cabe apenas perguntar: Quem ganha com o negócio doouro?Si

Texto de JOSÉ GILBERTGNo penúltimo número da «Tempo», tentámos analisar o papel que os diversosagrupamentos políticos surgidos em Moçambique após o 25 de Abrildesempenham objectivamente. na actual conjuntura. O que então procurámosdemonstrar foi que, todos eles, estando ou não directamente ligados aos patrõesdo imperialismo mundial, serviam, na prática, os interesses desse mesmoimperialismo, na medida em que apenas contribuíam para enfraquecer a união dopovo moçambicano em torno do seu único representante legitimo - a Frente deLibertaçao de Moçambique, sua vanguarda político-militar e única organizaçãoque já deu provas de ser capaz de o liderar na luta efectiva contra as novas formasque o imperialismo pretende adoptar em Moçambiquíe, da mesma forma que hámais de dez anos o guia no combate contra o colonialismo português.Poucos dias ainda que são volvidos sobre a publicaçao desse artigo, novos factosvêm comprovar a nossa interpretação do papel desempenhado pelos partidos.politicos, presentemente, em Mo-çambique. Se alguma pessoa medianamente esclarecida poderia ainda terdúvidas de que GUMOS, FRECOMOS, CNAMS, COREMOS, MOCONEMOS,UNIPOMOS e quejandos lêem todos pela mesma cartilha e servem todos,objectivamente, os mesmos interesses, eles próprios (os partidos referidos) seencarregaram de desfazer essas dúvidas. E fizeram-no da maneira mais clara einequívoca: unindo-se numa frente comum contra o inimigo comum - aFRELIMO. Tal frente, se à data da publi-' cação destas linhas, não estivertonstituída_ estará de certeza, pelo menos, em vias de formação, pois está-o iá nopróprio momentç em que as escrevemos. E se, à mesma data, um ou outro dosgrupos referidos não tiver ainda aderido à tal frente, ninguém tenha dúvidas deque acabará por fazê-lo se não o fizer, sera de certeza por uma de duas razões:táctica ou pura estupidez. Porqu4. -efectivamente, encontram-se em presença, emMoçambique, apenas 'duas torças reais cujos interesses são antagónicos eirreconciliáveis: o imperialismo mundial, tentando perpetuar por

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novas formas a exploração do povo moçambicano; e o próprio povomoçambicano em armas, lutando pela sua libertaçao sob a liderança daFRELIMO.No meio, encontra-se o Exército português, controlando aindi a maior parte doterritório moçambicano é em posição, portanto, de desempenhar, a curto prazo,um papel decisivo no evoluir dos acontecimentos. Até ao 25 de Abril, o Exércitodesermpenhava, indubitavelmente, o papel de força militar de ocupação destinadaa garantir a continuidade da exploração colonial. Ora o 25 de Abril foi ummovimento nascido justamente no seio do Exército e motivado, principalmente,pela inconsequência das guerras coloniais que o mesmo Ex,.rcito sustentava emAfrica- Admite-se, por isso, que o Exército esteja de facto, neste momento,interessado em pôr fim às mesmas guerras, e em fazê-lo com a maior urgência,mesmo porque o fim das guerras coloniais é condição imprescindível para aobtenção da paz social.no próprio território português. Como, no caso concreto deMaçambique, a única forma de.pôrfim à guerra sera aceitar as condições da FRELIMO, esperar-se-ia que elastivessem sido de facto aceites e Moçambique se encontrasse 'já no caminhocorrecto e seguro da independência.Não o foram, porém, e porquê? Porque a outra torça em presença (o imperialismomundial), exercendo pressões a todos os níveis sobre o Governo de Lisboa, tentaimpedir a todo o custo que isso aconteça- Tenta, portanto, impedir que o Governoportuguês reconheça a FRELIMO como única e legitima representante \ do povomoçambicano e fiegoceie com ela a transmissão do poder político para as mãosdesse mesmo povo. Ao mesmo tempo, trabalha activamente no sentido de criar ouestimular divisões artificiais no povo moçambicano, de forma a lançar a confusãosobre quem são os seus legítimos representantes. Apadrinha assim oaparecimento de grupos políticos fantoches que, quer surgidos após o 25 deAbril quer lá existentes antes, não têm qualquer representatividade maspretendem aparecer agora como interlocutores do Governo portu-

guês, falar em nome dP povo moçambicano.Foi assim que surgiu, já há alguns anos, o COREMO, pseudo-movimento delibertaçao financiado peýa CIA americana para aparecer como alternativa para aFRELIMO; 'foi assim que mais recentemente surgiu o GUMO, fundado por umoportiunista chamado Máximo Dias e por uma presumível agente consciente doimperialismo, ex-colaboradora do Governo salazarista, da PIDE e do próprioCOREMO que dá pelo nome de Joana Simeão, tentando criar, ainda em plenoregime de Marcèllo Caetano (e com a sua compreensiva benevolência...),igualmente uma alternativa para a FRELIMO. Um e outro fracassaram totalmentenos seus objectivos, não conseguindo qualquer receptividade do povomoçambicano, porque este, após muitos anos de luta, já estava suficientementepolitizado para saber distinguir os que o queriam enganar daqueles queefectivamente lutavam pelos seus interesses e interpretavam correctamente assuas aspirações mais profundas. Não desistiram, porém, porque tinham umamissão a cumprir aquela para que lhes pagavam os seus patrões imperialistas, oupara que os

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próprios interesses os impeliam, E, após o 25 de Abril, tentaram adaptar a suatáctica às novas circunstâncias. Veremos como, na generalidade e em certos casosparticulares, isso tem sido. feito.AVENTURASE DESVENTURAS DO COREMOO que é o COREMO? Cono surgiu, quem o formou, quais as suas aspirações? Umestudo, mesmo superficial, da evolução das operações militares em Moçambiquepermite localizar facilmente a COREMO e definir os seus intuitos imediatos. OCOREMO - ou Comité Revolucionário de Moçambique, como tãoimpropriamente foi baptizado - surgiu, objectivamente, no momento em que a lutaarmada da FRELIMO se estendia a uma nova frente - a de Tete-- e com o clarointuito de ai servir de tampão ao avanço da FRELIMO; à semelhança, justamente,do que sucedeu com a colaboracionista UNITA, em Angola, em relação aoMPLA. Formado principalmente por desertores da FRELIMO, o COREMO nãoconseguiu, ao longo de todos estes' ' anos, qualquer enraizamento naspopulações; não conseguiu alargar o âmbito geográfico da sua

ALIANCIA DE -PARTIDOS EM PERSPECTIVA.mente, os seus patrões americanos continuaram, apesar de tudo, a sustentá-lo. Econtinuaram porquê? Justamente para, no momento oportuno, poderem apresentá-lo, exibi-lo como alternativa para a FRELIMO, pretendendo mostrar dessamaneira que, a FRELIMO não' é a única representante legitima do povo )moçambicano.É assim que o COREMO, cuja actividade .militar nos últimos tempos era quaseinexistente e se limitava a um acto espectacular de vez em quando, para justificaro dinheiro que recebia dõ Tio Sao, é assim que o COREMO, de quempraticamente já não se ouvia faidr, ao chegar o momento das conversações com oGoverno português surge de novo em cena, espectacularmente, como um coelhoextraido do chapéu alto de um prestidigita4or (o chapéu alto do próprio Tio Sam,evidentemente). Os seus dirigentes, traidores 'a soldo do imperialismo, homensque, em alguns casos, tentaram orovocar cisões no seio da FRELIMO e, quandofalharam, se juntaram então ao COREMO (naturalmente...), aparecem agora naszonas ainda 'sob dominação colonial, dizendo-se dispos.os a negociar, a pactuarnão só com o Governo deLisboa como, a bem dizer, com quem quer que lhes apareça. É, assim que não têmqualquer pejo em aliar-se à dr.1 Simeão, aliás sua ex-militante, nada lhésimportando o facto, por demais conhecido, de se tratar de uma colaboracionista doregime de Salazar-Caetano, agente a soldo da PIDE-DGS e colaboradora próximado eng. Jorge Jardim em algumas das suas manobras políticas subterrâneas. Nãosão absolutamente nada exigentes, os senhores do COREMO, no que respeita aamizades e alianças..A entrada espectacular dos dirigentes do COREMO em Moçambique é, bemobviamente, o último acto da farsa grotesca que, desde há anos, constitui a acçãodeste movimento. Num momento em que todos os autênticos movinentos delibertação das colónias portugueses redobram a vigilância, para se precaveremcontra as manobras oportunistas que a confusão do momento propicia, o

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COREMO entra alegremente nas áreas ocupadas de Moçambique, sem quaisquercondições, e diz que quer negociar ....Mas negociar o quê, e em nome de quem?Que cartas tem o COREMO para ór na mesa? Que credenciais pode apresentar?Asnotas de dólar do Tio Sam?...O mais interessante (e também o mais -escandaloso) é que o COREMO não temsequer um programa político -para propor ao povo moçambicano. Nada maisinstrutivo, sobre este movimento, do- que falar pessoalmente com os seusdirigentes. «Tempo» teve essa oportunidade, recentemente, através dos seusenviados às conversações de Lusaca, E que ficou a saber sobre o programa doCOREMO? Que o COREMO «não professa qualquer ideologia»; mais, é atécontra as ideologias, os seus militantes a c tu a m «unicamente comomoçambicanos, sem qualquer ideologia». Se alguém souber o que isto siignifica,politicamente, que nos explique. Nós, francamente, não sabemos. Como nãosabemos como é. que um movimento político pode não ter uma ideologia e actuarem nome apenas de princinios abstractos, não definidos politicamente, comosejam «Moçambique» e «o povo moçambicano». Os dirigentes fascistastambém diziam que agiam em ndrme do «povo português», e para o bem do«povo português», e também achavam que o simn]is conceito de Pátria substituiacom vantagem qualquer

A direita: sob o jugo colonial-ímperialiamo, as populaç~ões sã~o mantidas namaior misérÍa.AS INCDEUFNCJideologia. O resultado viu-se, para a Pátria e para o povo português.... Há umponto, no entanto, em que os COREMOS são claros: com a FRELIMO nãoquerem nada, porque acham que a FRELIMO está eufeudada a «certasideologias», e eles, já se sabe, com as ideologias são como o gato com a águaquente. No entanto, sempre vão dizendo (que remédio....) que, se a FRELIMOdepuser as armas e se dispuser a participar pacifi,camente no futuro deMoçambique.... Onde foi que já ouvimos esta conversa?AS VICISSITUDES DO(S) GUMO(S)Há uns tempos atrás, começou a movimentar-se nos bastidores da políticamoçambicana uma figura cinzenta, escorregadia e ambígua, que dava pelo nomede Máximo Dias. Formado em Direito, foi notário em Inhambane e,posteriormente, cau-" sídico do foro beirense. Ainda hoje não se sabe se ainfeliz ideia do GUMO foi fruto da sua inspiração ou se alguém lha soprou aoouvido. De uma forma ou de outra, o certo é que o dr. Máximo Dias começou, apartir de certa altura, a entrar em contacto com diversas personalidadesmoçambicanas, mais ou menos comprometidas com o regime então vigente,tentando convencê-las a aderirem à ideia do GUMO. Repudiadd por todos os quedispunham de um mínimo de honestidade ou, pelo menos, de lucidez, onde foi odr. Dias encontrar ou_vidos atentos à subtil música das suas palavras? Nadamenos que na pessoa da dr.' Joana Simeão, figura ainda mais cinzenta e maisescorregadia, embora menos ambígua porque mais descarada, que acabava deentrar em Moçambique pela mão solicita 'do eng. Jorge Jardim. Politicamente

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analfabeta, mas ambiciosa e cheia de iniciativa, a dr.- Simeão tinha um passadotriste. Posde colaboradora da PIDE-DGS a militante Oo CORE-MO, tinha feito de quase tudo na vida., Depois do fracasso de várias manigânciaspolíticas em que estivera metida a soldo ou, pelo menos, com o beneplácito doGoverno de Caetano, a dr." Simeão acabou por regressar à terta pátria, qual filhapr6diga, instalando-se na Beira a expensas de Jorge Jardim. Para não estarinactiva, ia dando umas explicações de francês e inglês, enquanto se preparavapara ocupar um lugar de responsabilidade no jornal .do eng. Jardim, o «Notíciasda Beira». São um mistério, ainda hoje, as razões por que nunca chegou a ocupá-lo e acabou por vir para Lourenço Marques, dar aulas no Liceu. Uns, dizem que sezangou com o Jardim por divergências de opinião, outros que simplesmentearranjou um patrão que lhe pagava -melhor; outros, ainda, alvitram que a«separação» foi apenas táctica, e secretamente continuaram a trabalhar em cadeia.Fosse como fosse, o certo é que a dr.* Joana &colheude braços abertos o dr. Máximo e, os dois juntos, procuraram injectar um poucode vida no espantalho nascituro que era o GUMO. Pa ra não se dizer que eramracistas, aliciaram um industrial branco de Lourenço Marques, o sr. Jorge deAbreu, que passou a aparecbr com eles em locais públicos e botava um discursode vez em quando.Enquanto o outro regime durou. a coisa não foi me4. único grupo políticoautorizado pela PIDE-DGS, o GUMO ia-se movimentando numasemiobscuridade propícia aos seus intentos duvidosos, procurando aliciar algunsintelectuais indecisos e outras figuras de prestígio que dessem nome à sua causa -sem grande sucesso, diga-se de passagem. Acarinhado pelas pessoas maisclarividentes do outro regime que viam inutilidade daguerra colonial e tentavam encontrar soluções de compromisso para as colónias, oGUMO surgia assim como a típica alternativa neocolonial

lis oEMpara o, futuro imediato de ,Moçambique, apoiado na sombra por uma parte doregime de Caetano e tolerado pela restante. Só a direita mais «burra» poderia,aliás, ver no GUMO um perigo. Incapaz, no entanto, de granjear qualquer apoiode massas, o GUMO foi assim veçdetando até ao 25 de Abril.Com o advento do golpe de Estado em Portugal, o GUMO, após um momento dereflexão, saiu para a rua a dizer que apoiava a FRELIMO, que pretendia apenasser um prolongamento da FRELIMO «dentro'de Maçambique». Era, porém, umoportunismo tão descarado que as próprias massas populares,- mais polítizadas doque muita gente parece pensar, o repudiaram vivamente e, ás vezes, até-comviolência. Assim, quando a Joana gritava «Viva o GUMO-", os Popularesrespondiam - lhe «Viva a FRELIMO». E a loaina ia para casa desconsolada,precisando por vezes de escolta policial para a proteger daqueles a quemdizia representar. A própria FRELIMO se encarregou de denunciar o GUMO eos seus dirigentes, nos programas emitidos de Lusaca e escutados em todo oterritório moçambicano. Vendo que a jogada lhes saía mal, aí~ guns dirigentescomeçaram a abandonar o barco. Primeiro, foi Jorge de Abreu, que dizia aosamigos ter sido tudo um mal entendido e tentava sacudir" a água do capote;

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depois o representante do movimento na Bei,ra, por razões ainda mal conhecidas.E o- GUMO ficou assim reduzido, a bem dizer a duas pessoas: o inefável MáximoDias e a persístente Joana Simeão. O primeiro, como qualquer comandante .quese preze, tentou ainda salvar o barco. ApanHando a Joana de costas fez umaíeunio à pressa (não se sabe bem de quê, ou cozít-quem) e suspendeu a dita Jogna,«até que fosse apurada a verdade sobre as suas ligações com o, outro regime». AJoana, que estava-na altura em Paris, oupor perto, não gostou .da brincadeira e decidiu po sua vez, expulsar o Márimo.De maneira que ficaram dois GUMOS: o do Máximo e o da Joana. O primeirodurou pouco. Cansado e desiludido, Máximo Dias acabou por dissolver o «seu»GUMO (se' é que havia ainda alguma coisa para dissolver) esganiçndo-se aproclamar que ele, ,Máximo, sempre havia si h ium frelimista fervoroso 1 (porque não o mostrou mais cedo sr. dr.?). e que estava a ser vitima da incompreensãodos homens. De fazer chorar as pedras... Que fazia, entretanto, a Joana? Essa, éclaro, não desistia. Porque, é claro, os Patrões que lhe pagavam os Passeios aParis e as digressõés pelo norte continuavam a contar com ela e a exigir-lheresultados. De maneira que continuou agarrada ao corpo moribundo do «seu»GUMO, tentando insuflar-lhe vida com .novas adesões. As. quais, diga-se emabono da verdade, não se fizeram esperar, na pessoa de uns senhores que seafirmam dirigentes do' CNAM, ou Congresso Nacional Africano de Moçambique.Mas quem são estes senhores, que partido é este que ninguem conhecia? Dizemos referidos senhores que o CNAM foi, fundado j há uma data de anos, lá para oprincípio da década de sessenta. E nós acreditamos. Mas perguntamos: Que estevea fa::er ent' tempo todo, que ninguerrí deu por el,? Torá hibernado? Com quedireito surge agora?Quem representa? Condignos aliados, parece ter arranjadoa dr." Toana.A GRANDE ALIANÇAE é assim que (já agora...)surge mais uma estrela no turvo firmamento político moçambicano: aFRECOMO, fruto feliz 'da união da dr.' Joana com os misteriosos senhores do,CNAM. Ainda mal ensaiados os primeiros passos, já a criança se mostra sociável,propensa à convivência. Nada tímida, desde logo faz amizade com, imaginem lá...o COREMO! Primeiro, foi um encontro preliminar num país africano «amigo».Depois, logo a seguir, os dirigentes do COREMO fazem a sua descontraidaentrada em Moçamíbique ocupado e reunem-se todos numa alegre altnoçarada naBeira. Presentes também, ao que parece, uns senhores da ConvergênciaDemocrática (...) . e, sensacionalmente, o dr. Miguel Artur Murupa, desertor daFRELIMO «recuperado» por Jorgeíícías Ça oeira») e o encarregou, além disso, vde diversas missões !iplomáticasno estrangeiro - resultando todas elas, diga-se de passagem, em completosfracassos.Quem é então este dr. Murupa, que parece preparar-se para ressurgir agora navida política moçambicana? Ex-militante da FRELIMO, desertou para o campoportuguês ao que parece por ter medo de estar na frente de batalha. Aqui chegado,prestou-se a ser utilizado copiosamente pela propaganda colonial-fascista,

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insultando e denegrindo a imagem dos seus ex-camaradas, dizendo o pior possível'da FRELIMO e afirmando que só por um' trágico erro alguma vez militara nassuas fileiras. De maneira que, ao aperceber-se desse erro, se apressara a recolher-se de 'novo à «protecçao» da bandeira verde-rubra, profundamente arrependidode alguma vez a t3r doixado. Outro filho pródigo... Mas foi mais longe nas suasafirmações, o dr. Murupa. Em div-rsos escritos, renegou a sua qualidade de'moçambicaro, afirmando-se português e dei .ndendo fervorosamente a políticacolonial portuguesa. Lembramo-nos até de um artigo em particular, publicado no«Jornal Português de Economia e Finanças» do ano pascado, o qual v rsa ia oteina «Quem ataca a nossa política ultramarina?» e 'erminava com uma . citaçãode, segundo as suas pelavras, «um grande português»; «Todos e em força». Paraquem nao saiba (2 serao, ,infelizmerte, muito poucos), o «grande português» autordesta palavra de ordem tristemente célebre, dava pelo nome de António deOliveira Salazar Um negro moçambicano por nascimento, português por opção esalazarista por convicçao, eis o toque surrealista que faltava na «Grnd" Aliança'nresths c formar-se. Mas, desgraç'ídanierte, ha mais,Ou, parece que vai haver, o tempo o dirá; ou talvez até já o tenha dito à data emque este artigo for públicado. A próxima adesão, esperada a todo o momento, é ade Lázaro. Kavandame e do seu UNIPOMO. Quem é Lázaro Kavandame?, Chefetradicional de etnia maconde, combateu na FRELIMO durante alguns anos.Tribalista nato e regionalista ferrenho, porém, foi naturalmente expurgado quandoa via revo-

lucionária da FRELIMO, antitribalista, anti-regionalista e anti-racista, se definiumais claramente Partidário da separação de Cabo Delgado e da independênciados macondes, também ele se acolheu à «protecção» da bandeira do colonialismo,quando a tentativa de conspiração em que esteve envolvido na FRELIMOfracassou E parece que ficou surpreendido por verificar que, ao contrário do queesperava, os milhares de macondes que militam na FRELIMO não o seguirani emmassa na deserção; é que, ao contrário ,dele próprio, a maioria deles já superou hámuito a fase do chauvinismo étnico e tribalista, para se considerar moçambicanaantes de qualquer outra coisa Após ter também feira diligentenente na. altura, asua parte na propaganda colonial-fascista, Kavandame, como todos osoutros,remeteu-se a um silêncio só quebrado após o 25 de Abril, quando voltou aaparecer em cena para fundar a UNIPOMO, partido fantoche que parece retomaras velhas teses tribalistas-regionalistas da velho Kavandame, figura ultràpassadano tempo e na história, teimosamente agarrada a conceitos que a própria históriase encarregou de .destruir. Parece que só falta ele, no actual quadro da políticamoçambicanfa, para que a «Grande Aliança» contra a FRELIMO englobe defacdto as mais representativas forças da reacção e do divísionísmo no interior dacolónia, todas elas servindo, deliberada nu inconscientemente, os interessesgulosos do imperialismo mundial, empenhado em provocar a divisão do povomocambicano para melhor o poder exolorar Uma palavra aoenas, a linali7ar,sobre*os qrunos polithcoR da minoria branca, Embora possam, neste mo-'dade branca e o canço: ras«te típico das: cidadescolontais.

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mento, causar certas perturbaçoes (e estao a faê -lo, alguns deles), o seu alcancehistorico é tão restrito que quase nao merecem uma menção, no contexto dopresente artigo. FICOS ou Fe-deralistas, pouco importa para o caso, uns e outrosestão, embora talvez alguns não tenham consciência disso, a desempenhar o papelque a História lhes reservava para o momento actual: o da resistência dos colnosao desenvolvimento do 'próprio processo histórico, que determina que, nomomento próprio, os povos colonizados obtenham a sua liberdadeýe a- suaindependência. No caso particular de Moçambique, o momento próprio, ninguémduvide, é quase chegado.FICOS, Federalistas, poderão talvez retardá-lo por algum (pouco) tempo. Mas queganharao com isso? Poderão perder, em contrapartida, a possibilidade real, que amaioria moçqmbicana lhes oferece, de aqui permanecerem-fazendo a sua vida eparticipando até activamente na" vida do pais, no baso de se consideraremmoçambicanos. O povo moçambicano, as grandes. massas trabalhadoras, poucoou nada têm-a perder, plicem esperar mais algum tempo pela independência poissabem que a luta continuará até que ela seja conseguida. Paradoxalmente. são oscolonos que têm a perder com a demora qUe tentam provocar Os pequenoscolonos, princi.palmente, que nada têm a recear ou. a perder com a independência e cujacequeira, cujo chaúvinismo râcico os pode arrastar para vias extremistas que nãotêm regresso. Quando se aoerceberem do erro cometido, tal, vez sela demasiadotarde para eles. Para'o povo moçambtcrrno. nunca será demastado tarde.Miimo DiasCalicto Makulube, dirigente do CNAM

Todo o trabalho a bordo dos pequenos barcos queoperam na Baia é assegurado por garotos.Algumas dezenas de garotos trubalham hoje nos pequenos barcos de pesca que sededicam à faina na Bala do Espírito Santo. Trabalho duro, sem dúvida, este detirar do mar o pão de cada dia. explorando uma riqueza de profundas tradições navida portuguesa.Mas estaro esses rapazes a coberto das mais elementares normas de segurança e otrabalho que executam de acordo com as suas idades e com os vencimentos queauferem? Não deveriam, muitos deles, andar ainda na escola enquanto ospostos de trabalho que ocupam seriam preenchidos por outros de maior idade? Ouserá. apenas, que uma natural tendência pelas andanças no mar mais vem trozer àevidência a necessidade da criação de escolas de pesca, a diversos níveis e comdiversos graus de qualificação?Estas e muitas outras questões se podem levantar, atentando no que diariamentenos é dado observar na doca da Capitania,. local onde se processa todo omovimento de barcos de pesca sediados na capital.

perante a preráfico. Mas qual s pescadore's daOML!A PROT EcRODESTES

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RAPAZES?Dezenas de garotos, muitos deles com idades que rondam os doze/treze anos,trabalham hoje a bordo dos pequenos barcos de pesca que se dedicam à faina naBaía do Espírito Santo. São tfripulações inteiras, constituídas apenas por garotosque trabalham do nascer aoôr do sol para ganharem. rem o pescado exige queo seu sustento e" garantiremum elemento importante na alimentação de milhares de pessoas: a magumba.Porém, a situação que diariamente se pode observar quando as embarcaçõescomeçam a recolher à doca da Capitanid para descarrega-nela se atente e que sejaanalisada à luz das realidades actuais, com todas as suasimplicações, mesmo para'além do simples aspecto de se tratar de trabalhoexecutado por menores, consequentemente, sujeito a reguIameAtação especial.QuerspressoS$ ae a<iegr , nIça do Repórter Foto! futuro dIests jovenBaía?

isto significar, por conseguinte, que o facto de as embarcações que operam naBala, e ao que sabemos noutros pontos de Moçambique, serem tripuladas porgarotos pode ser, e será naturalmiente, fruto da estrutura em que assenta a pescatipo artesanal.Nao é de agora que os .pequenos armadores que pescam no interior da Baíalutam com certas dificuldades. Porém a situaçao tem vindo a agravar-seprogressivamente à medida que os custos de manutençao das embarcações temvindo a aumentar, pôr motivos bemconhecidos, enquanto, por outro lado, a impossibilidade de se apetrecharem commeios mais modernos vem tornando a sua actividade menos rentável.Desta forma, o recurso à mão-de-obra barata e sem qualquer preparação será* apenas o reflexo de uma si-tuação. Mas nem por isso poderá deixar de ser devidamente encarado, pelosaspectos negativos que encerra, sem perder de vista as suas origens. É necessário,por isso, separar causa e efeito. E para anular este é preciso atacar o mal pela raiz.

PÁGINA 28UBM 1 m, MI?Em cima: também na descarga e transferência do pescado se verifica o recurso àmão-de-obra de menores.Ao alto à direita: ao fim da tarde as embarcações regressam ao porto. E há dias,como se vê, em quea faina parece -ýrendosa.

TERMOS JUSTOSO que ficou dito de forma alguma vem a favor do recurso à mnão-de-obra derapazes sem qualquer- specializaçao e de menor idade. Muito pelo contrário,pretende tornar conhecida uma situação que se apresenta pouco clara e queimporta fique bem definida.

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Como é de todos conhecido, tem a Secretaria Provincial de Trabalho procuradodar condições de segurança e apoio social ao trabalhador. Mas, por que normas seencontram abrangidos estes rapazes? Estarão eles 'a ser abrangidos pelas normasde segurança e previdência já em vigor? Ou será, simplesmente, que o seutrabalho é regulado apenas por simples contrataçao vet'bal sem apelo nem recursoa aual1uer legislação?4m contacto com alguns destes jovens pescadores pouco ou nada nos foipossível averiguar sobre a sua situação. Resp9stas mais ou menos secas, como asque nas foram dadas, não permitem tirar qualquer conclusa sem se correr o riscode cair ejm especulação. De concreto, apenas a sua pouca idade e o trabalho árduoque executam diariamente.Não estaremos,. contudó, muito longe "do fulcro da questão ao afirmar que anecessidade destes rapazes em angariar o seu sustento vai ao encontro da situaçãodos pequenos armadores donos de uma ou duas embarcações para a pesca daBala-, impossibilitados, naturalmente, le pagarem elevados verQgmentos. Destaforma, se é importante averiguar em que condições se processa a contratação dastripulações dos referidos barcos, assim como as condições de trabalho a bordo,não é menos importante esclarecer e debelar as causas que deram, origem aofen6meno. Fácil se toma concluir, igualmente, que gente para trabalhar: no martambém não falta. O que falta são escolas onde possam ser preparados todos essesrapazes que sentem vocação pela vida do mar, quer se trate de pesca na Bafa, dearrasto ou do alto, embora para cada um destes sectores possam ser exigidashabilitações e qualificações bem diferentes.e

M . a m mmmmw mSALVAR CARTAGO...« LILNA ',,.'An ir . É preciso destruir Cartago...» Esse desafio raivosamentelançado do alto da tribuna do senado romano há mais de vinte séculos por Catão,o Antigo, realiza-se...Devoradas pela especulação imobiliária, pilhadas pelos «vândalos» da épocacon,temporânea, as ruínas da admirável cidade púnica, romana, bizantina e árabe,estão na agonia.Sepultadas durante vinte e oito séculos sob apenas 92 quilómetros quadrados noseio dessa quase ilha da Africa, constituindo o lendário local de Cartago e acidade muçulmana de Tu-' nes...Foi daqui que a alvorada do Século 1 antes da nossa Era, a História da AfricaMenor principiou e foi aqui que ela prosseguiu, através dos séculos, numa altivamas também trágica grandeza.Os intrépidos navegadores fenicios, vindos do Oriente, lançaram-se primeiro coassalto das costas africanas, exploraram-nas e balizaram-nas com feitoriascélebres em todo o mundo antigo: Utica, Lixus e Cartago... Utica foi fundadaem 1101, Cartago viu a luz do dia três séculos mais tarde, em 814.CARTAGO NASCEU... DE UMA PELE DE BOINa corte de Tiro, uma das poderosas cidades da Fenícia, teciam-sé numerosasintrigas que acabýr-'m por fazer viúva a bela Rainha Elissa, a cél,'bre Dido,

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cantada pelo poeta latino Virgílio. Com efeito, .-'u marido foi assassinado porseu cunhado Pigmaíião. Obrigada a fugir com ,luns fiéis, Dido confia o seudestino aos caprichos cio vento. Um dia, a infortuno'l-, desembarca no litorr'!tunisino, onde o chef. ~oia1 one a acolhe, lh'ý permitý instalar-se numa areacoberta apenas por uma pele de boi. Aastuciosa Rainha ordena ios seurcompanhiro que cor-POR FRANÇOISE MEDGYESItem a pele em tirdstão estreitas que a tira assim obtida rodearia um terreno vastobastante para nele se levantar uma cidade, que Dido baptiza de «Qart Hadasht», aCidade Nova.Cartago prospera rapidamente, enriquece, ergue muralhas, consolida posições naSicilia, na Sardenha, em Africa, nas Baleares e até mesmo em Espanha. O seudestino é então excepcional. Uma frota, a mais célebre 'da Antiguidade, contandomilhares de navios, sulca os mares do mundo... Desenvolve-se um florescentecomércio de marfim, prata, âmbar, cobre, azeite, vinho e escravos.Depressa, porém, Roma se atemoriza. Esta rival é demasiado poderosa, eobscurece o fausto, da cidade do Tibre. Desde então, a sorte da «Cidade Nova»está ditadq. Vão desencadear-se guerras sem tréguas, as 3 célebres guerráspúnicas, de 264 a 146, onde se ilustrará o general Anibal, trazido pelos Númidas,em marcha sobre Roma, com os seus 50000 infantes, 9000 cavaleiros e 37elefantes...CORDAS DE CABELOSMas no decorrer da Terceira Guerra Púnica, as tropas cedem, Cartago sucumbe,tem de abandonar os seus navios e os seus elefantes 'e pagar um pesado tributo àsua rival... A cidade mais rica do mundo não é senão ruínas... Durante três anosainda, os valorosos guerreiros cartagineses procuram levantar o desafio,suportando um cerco heróico e construindo em segredo uma frota com asmadeiras dos seus templos, enquanto as mulheres cortavm os seus longos cabelospara com eles se fazerem cordas... Estes últimos esforços são aniauilados, em -146, quando Cioião, o Africano, ordena a destruição sistemática de «QartHadasht,, tomando como escravos de Roma os seus sobreviventes.Principia a colonização romana...Fundada em 44, «Karthago» é reconstruida segundoum plano de urbanização completamente rectilíneo. Sobre uma vasta disposiçãoortogonal em cujo centro se situa a Acrópole de Byrsa, levantam-se as vilas, oscircos, o teatro, o Odeon, os templos, o aqueduto, o forum e os banhos.., osfamosos banhos construidos por Antonin, os mais sumptuosos do mundo, quesobem pelas encostas das colinas banhadas pelas águas do Mediterrâneo. Tudo éluxo.., mas esta cidade depressa se torna objecto da cobiça, desta vez de capitãesvândalos e de almirantes bizantinos... Cartago é remodelada durante 7 séculos.Em 698 é definitivamente tomada por Hassan Ibn Noman e, como Leão e Nimesem França, como Roma na Itália, entra na classe de pedreiras... Colunas e,capitéis púnicas ou romanas tornam-se colunas ou capitéis de mesquitas epalácios, estátuas consolidam fornos de cal, sarcófagos pavimentam as ruas deTunes... até Kcairouan. Certas colunas romanas teriam mesmo servido àconstrução da Catedral de Milão.

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A RESSUBREICAOApesar disto, quem percorrer a costa, trepar às colinas, quem caminhar por entreas vilas e os jardins encontra ainda Cartago, porque ela ergue apesar de tudoalgumas colunas para o céu; porque entre o mato deixa entrever mármores emosaicos patrícios multicores; porque os seus edifícios demolidos e cujos murosafloram por toda a parte, querem romper a areia para testemunhar o passado.A colina de -Byrsa onde se. elevava o santuário-fortaleza, último refúgio dosdeuses púnicos e dos seus defensores, quase que não foi explorada... ela esperaque desenterrem os tesouros que encerra no seu seio. Os terrenos nús que a cidadeoferece à f.9cavação cobrem * mais de 3',51 hectares... Car-,o APELO DA UNESCOA UNESCO lançou um apelo para se salvar Cartago propondo em especial acriação de um parque arqueológico de 800 hectares para protecção de milhares deobras de arte. «Parque Arqueológico, Parque Cultural»., diz Georges Fradier, oautor do projecto, mas também parque natural. Estradas bem concebidas,plantações , de mimosas, abetos, eucaliptos, palmeiras, tamarizes, quevalorizassem os monumentos e todo o local. «A urbanização seria levada até aolimite do parque». Conjuntamente com os trabalhos de exploração e de resgate,está prevista uma campanha de consolidação e de restauração dos monumentosAs termas de Antonin, o edifício mais visitado da Tunísia, necessita com efeito deuma urgente intervenção para suster as abóbodas, proteger as pedras da erosão dovento, e drenagem das águas estagnadas da chuva.Os trabalhos principiaram já em certos pontos da cidade: uma equipa de técnicospolacos, graças aos novos métodos magnéticos e gravimétricos, puderam elaborarum mapa completo de um grande circo romano com capacidade para 150 000lugares, efectuando sondagens minuciosas sobre uma superfície de 256000 metrosquadrados.Cinco paises responderam já ao apelo da UNESCO: a França envia o navio depesquisas «Archéonaute», a Grã-Bretanha uma equipa que se encarregará deexplorar as lagunas. O «Carthage Project USApropõe-se coordenar os trabalhosde especialistas de diversas universidades americanas que procederão aescavações do subsolo tunisino durante mais de $ anos.A Bulgária envia gruposencarregados de proceder aestudos topográficos.O apelo da UNESCO nãoficou sem resposta.Cartago ressuscitará! (Copyright AFP).

maximo rendimento,nodepósitos! a prazosuperioraumIano

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os juros abonados pelc Caixa Econõmíca doMontepio estõoisentos de imQostc

Quem poderá pôr em discussão o atractivo desta (e) insinuante e «florida» vamp?

UMAÀ esquerda: «Uma Rosa paratodos...»À direita: uma estranha Gioconda «made in Japão».Só o Japão poderia tornar ainda mais enigmático o sorriso da célebre Mona Lisa.O chamado «pais do sorriso» também tem senso de humor...No «Nichigeki Music Hall", as «Folies Bergères» de Tóquio apresentaram umespectáculo especial - o «Show do N'» - cujo tema era muito simplesmente o«sorriso da Mona Lisa».Como se poderia «traduzir», em japonês e para os japoneses, a ambígua express.oda Gioconda?O «Nichigeli Music Hall» teve uma espectacular ideia: escolheu, para vedeta doespect¿cuio, Maki Carousel, de 26 apos, que possui todos os requisitos paraagradar, ou - vamos lál - despertar o interesse dos espectadores, pois que «este»'vamp se transformou em atractiva japonesa, depois de uma irreversíveloperação... E, como comentava um jornal japo-nós, poucas pessoas se podem gabar de sair do Hospital com um aspecto tão «& laGioconda»; de tal forma que a própria Mona Lisa se teria surpreendido sedeparasse com esta(e) Ma'i CarouseL..Depois da viagem de Kakuei Tanaka a Paris e a sou pedido, a França decidiuemprestar a Gioconda ao Japa o em cujo Museu Nacional( em Tóquio) o célebrequadro se manteve em éxposição, de 18 de Abril a 10 de Junho. A partir dessaaltura, o famoso retrato foi motivo de ornamentação nos mais diversos objectos:caixas de bombons, calendários, etc. Porém, urna Mona Lisa em carne e osso éoutra coisa... e o «Nichigeki Hall» pode gabar-se de ter apresentado, antes doMuseuý Nacional de Tóquio, a repre sentação viva do celebérrime quadro...(AFP)

com totos deKO NAMSIA E A LITAímérico Francisco Ventura,iue sofreu nove meses nonferno da Pide«Alvaro Cunhal e Márió Soares eram os nossos deuses!» - afirmai entremuitas coisas, comoventes ou horripilantes, Américo Francisco Ventura, umhomem que, «socialista do coração», desde muito jovem sofreu as perseguiçõese as torturas da PIDE/DGS, em impressionante relato que confiou ànossa revista.Na verdade, torna-se quase impossível transpor para este trabalho tudo

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o que vivemos durante o encontro com este homem do povo «que fez tudo paraderrubar Salazar e o Fascismo» e que, vivendo nas mais incríveis condiçõés, demedo, coragem, angústia e miséria, por isso mesmo ganhou autêntico amor aoespírito revolucionário, hoje, finalmente vitorioso, ap6s o corajosoMovimento das Forças Armadas de 25 de Abril,Vale a pena ler e meditar. Vale sobretudo a pena imaginar e estender essaImaginação até aos milhares de homens, mulheres e jovens que foram vitimas dafamigerada policia política. Para que nunca mais o esqueçamos, para que nuncamais os jornalistas tenham de publicar 'depoimentos como o que vaiseguir-se...AEu-1nç

É isso, antes de qualquer coisa, que encontramos e sentimos em AméricoFrancisco Ventura: o homem do povo. O homem simples e desprentensios, demãos calosas e sujas do seu ,trabalho, trajando aquelas roupas que desde logoatestam as possibilidades económicas (o nível de vida, numa palavra) da grandemaioria do trabalhador português, moçambicano, angolano ou guineense, vítima,ao longo de décadas, da mais desumana exploração. Trabalhador, homem dopovo, sim, mas também cama-' rada do seu camarada, que com ele ou por ele, sepreciso for, se bate na defesa dos seus diretos. Como aconteceu ao longo demuitos anos, especialmente depois de se tornar militantes socialista em lutaaberta contra a repressão e os mêodos fascistas.Se é verdade que, duma maneira geral, todos nós, com o nosso comodismo, onosso terror ou por simples indiferença, fomos «coniventes» de fascismo, não émenos ver. dade que outros houve, e contam-se aos milhares, que nuncaesmoreceram na sua luta pelo autêntico ideal democrático.Fosse em Portugal, fosse nas colónias, no exílio ou na clandestinidade,perseguidos e torturados, ou até mesmo nas masmorras da PIDE/ /DGS, nempor isso, eles, (esses heróis sem medalhas nem homenagens públicas ou ptivadas)deixaram de, a seu modo, lutar pela liberdade do povo português (e das colónias).Nem todos sobreviveram, nem todos puderam, em 25 de Abril, levantar para o solda liberdade, os cravos vermelhos que milhares e milhares de mãos ostentarampor entre cânticos de liberdade e fraternidade, num gesto que foi,simultaneameite, de homenagem àqueles que cairam por todos nós.Todavia, aqueles que, após a sua terrível via-sacra, con. seguiram permanecervivos e inteiros, são, hoje, na hora da liberdade, o maior e o mais impressionantetestemunho do que representou realmente o Estado Novo e do que foi a máquinadiabólica (de destruição e repressão) que o manteve de pé ao longo de 48execrandos anos.Nascido em 1925 - vai completar 49 anos, aparentando, porém, alguns mais,pro. vavelmente devido 'aos maus tratos que lhe foram infligidos, primeiro pelasexecráveis condiçóes da vida que teve de suportar e lepois pelos tratamentos dasinistra PIDE/DGS -. em Alcântara,

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serralheiro-mecânico desde os 12 anos, Américo Francisco Ventura foi naverdade um dos melhores lutadores pelo§ caminhos da liberdade, finalmenteconcretizados em 25 de Abril.O nosso, encontro com ele foi como que uma espécie de regresso ao passado,numa espantosa descida aos infernos, a qual, mesmo em sacrifício do leitor,procuraremos transcrever , taxativamente. Pois que há testemunhos que valemexactamente kela sua autenticidade. Ou pela sua crueldade!«AS TORTURASNÃO TINHAMDISCRIMINAÇÃO... »A Revolução vai ainda no inicio, mas os testemunhos sucedem-se, e, cá como lá,os jornais, a rádio e a televisão continuam a, denunciar, por litermédio daspróprias vitimas, o que foi o hediondo processo fascista português.O depoimento seguinte é mais um a juntar a tantos outros que vês» comprovar,sem possibilidade de enganos, a terrifica verdade sobre o corporativismoportuguês e luso-africano:«-Há dez anos, para fugir às perseguições da PIDE e não para enriquecer nempara explorar quem quer que fosse, o que tenho --. e não tenho nada - devo-o aomeu suor, vim para Moçambique, em busca de paz, de um lar onde não houvessemais os fantasmas da PIDE. Foi aqui que encontrei a que é hoje minha mulher eque muito me honra ser natural de Grndola, a terra morena dasraLernluaue, IO aqui que nasceu o meu filho, por lssb esta é agora a minha terra...«Agora custa-me saber que há por ai tantos democratas que só o são depois do 25de Abril. Não são democratas do coração, , mas de ocasião Não lutaram, nãosofreram, não foram perseguidos nem torturados. Como eu, como tantos outroscomo eu, camaradas de sofrimento e de fome . Vejo coisas que não me agradam.Está-se, cá na minha, a fazer racismo do preto contra o branco, até mesmo nasnotícias sobre as torturas que a PIDE/DGS fez aos pr tos... É preciso dizer.-lhes que os seus irmãos brancos também foram torturados, aos milhares, e quemilhares morreram pela liberdade! Oiça, amigo: escreva que a tortura não tinha,nunca teve, discriminação; não tinha cor, nem categoria social. Na prisão estiveao lado de um padre negro, angolano, mas também foram meus camaradas deinfortúnio, doutores, advogados, professores, Intelectuais, e, claro, operários,ardinas e desempregados, homens que a PIDE considerava lixo e como tal nostratava. A todos, sem distinções! .Uma pausa. Os olhos es. tão marejados. Deixa que a cabeça lhe tombe dentro dasmãos. Apercebemo.nos que o que pulsa neste homem é o fantasma do passado,um fantasma medonho, que, num desespero, tenta expulsar de si, falando,desabafando, gesticulando com nervosismo. Mãe e filho estão presentes. Elafazendo que lê o jornal. O miúdo, olhando-nos, espantado«A MINHA VIDAFOI UMA VIDADE TORTURA...»

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Américo Ventura prossegue; depois de nos ter ofere. cido um uísque, «paracomemorar a liberdade, para lhe fazermos um brinde ...»- Sabe? Fui um liberaltoda a vida. Não sou um comunista radical., Estou um grau mais abaixo: sousocialista. A minha vida foi toda a vida uma tortura. Foram a miséria e revolta quefizeram de mim um socialista! Nem sei como contá-la, por onde começar.. .»Mas começou. E falou-nos muito e de muitas coisas, tanto que é impossíveltranspõ-las para o papel. O pai, militante comunista, foi preso por falar demais,por «ter sido toda a vida do contra» e por ter «detestado Salazar». Pagou caro osseus sentimentos. Com a prisão do pai a miséria cresceu e «passámos a viver piordo que muitos irmãos negros .»O nosso entrevistado refere-se depois às condições de vida, aos sacrifícios da Mãepara poder sustentar seis filhos. A revolta contra tudo aquilo incendiou-lhe ocoração, chegou-lhe às mãos. E, assim, desde muito novo começou a serprocurado pelos pides.Entrou na clandestinidade. E recorda, com lágrimas nos olhos, o trabalhoverdadeiramente sobre-humano para distribuição e venda do «meu velho«Avante»! Alguma vez pensei tê-lo em casa, -como hoje acontece? Até parecementira!.Fala-nos do seu encontro com Alvaro Cunhal e Mário Soares: «Eram eles osnossosdeuses Gostaria de poder abraçá-los agora, livre, sem medo, e feliz! » Referindo-se ainda a Alvaro Cunhal diz: «Era único. Nunca falávamos dele mas estavasempre presente ... Não podíamos falar nele, as paredes tinham ouvidos, tudoouvia, tudo se sabia .»Recorda as necessidades familiares, as esmolas, a caridade, a morte do pai (queentuberculizara em Caxias!), a via-sacra da Mãe, que «aos 33 anos parecia umavelha! »Fala-nos ainda daquela terrível noite em que os esbirros da PIDE foram a suacasa, forçaram a entrada, interrogaram a Mãe e, olhando os garotos adormecidosno chão- ele estava acordado, viu ouviu e nunca mais o esque. ceu - sublinharamameaçadoramente: «Morreu o seu marido? Não acredito! Bem, mas se morreudeixou muitas raízes. Temos que ter cuidado com «isto»! .. »Este episódio foi a derradeira alavanca para tudo o que se seguiu e que culminarianas masmorras da PIDE/ /DGS....O INFERNO DA PIDEDepois de recordar o terror, a fome -, «Tanta fominha, tanta! E o que a minhaMãe fex para que a não tivéssemos!... Coitada, a Mãe! A nossa fome não era deum dia, era de todos os dias. E assim íamos passando a porca da nossa vida!» -, acampanha para eleição de Humberto- Delgado - «Os pides chegaram a cercar-nos e, à porrada, roubavam-nos os votos do grande general!. »-, a campanha para lança mento do «República» e mui

tos outros epIsódios, que lembra sempre de olhos h. midos, chorando por vezes,sobretudo quando recorda os c a m a r a d a s desaparecidos, Américo Ventura,

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conhecido em Lisboa, entre a «malta» camarada, por «Bexigas», chega depoisao período mais penoso da sua vida: a entrada no inferno da Pide:«-'Naquele dia eram três e meia ou quatro horas da tarde. Estava todo sujo, com omeu fato de ganga, do trabalho. Eles chegaram. O Luis Vilaça, que foi árbitro,uma jóia de homem, disse-me: «0 Bexigas, vai ao escritório do Serviço dePessoal». Compreendi, não sei porquê, que chegara a minha hora. Os meuscamaradas também. Estavam tristes. Nunca esquecerei as suas caras. Atirei-lhes,descontrado, mas pão estava nada descontraído: «Eh, maltal Haja calma! Se osoutros lá estão também hei-de poder estar. Aquilo não se fez para os cães » Noescritório vi logo três mamíferos. Levaram-me. Começava o meu inferno dequase dez meses .. Fui revistado. Tiraram-me tudo. Menos os cigarros, mastambém não havia de poder fumar tão cedo ..»O nosso entrevistado refere a sua id,a para uma das salas de tortura. Umquartinho. Fechado à chave e à vista de um pide. Ofereceram-lhe uma cadeiramas, ao fazer menção de sentar-se, não o deixaram. Era o inicio do tenebrosoprocesso de tortura física e psicológica que ia seguir-se.Depois de lhe terem sido tiradas fotografias, «em três posições, como aoscriminosos » e as impressões digitais, foi metido numa camioneta para atristemente célebre «excursão até Caxias».Já na sua cela, ond havia mais dez camaradas - «Nunca hei-de esquecer omomento em que nos vimos e abrakámos! -, tentou dormir.Quando começava a entrar no sono vieram buscã-lo:«- Foi o primeiro interrogatório. «Afinal és um gajo porreiro. Conta lá a tuahistória, despacha-te e vais-te embora .» Foi assim que me falaram. Não sei nada.Contar o quê? .. Não fiz nada. «Fizeste, sim. Se não contares será pior para ti » Sóno dia seguinte comi qualquer coisa. Depois apareceu o agente Pires e trêsoutros. «O que é que fazias lá fora? » «A minha vida é uma' vida de trabalho.»«Sim, isso do trabalho já sabemos, é sempre a mesma coisa ... Mas foradisso?..,» Respondi que não fazia nada e levei logo um pontapé nos testículos! Edois murros. Mandaram-me fazer a «estatuazinha». Sabe o que é? O «pino»: acabeça para baixo e as pernas para cima, encostadas à parede. Duas horas assim!Depois falaram.-me do «Avante», que o vendia e distribuia. Neguei. Queriam nomes, haviamencontrado números de telefone nas minhas coisas e pensavam que eramcontactos. Mas não eram. Queriam que dissesse que eram, sovaram-me, deram-me socos, pontapés e fizeram-me por fim a tortura do sono. Ficamos de pé, nãopodemos mexer-nos, nem sequer fechar os olhos. Depois, novo interrogatório.Caí, um dos carneiros pisou-me o rosto com os sapatos. Partiu.me logo algunsdentes! Há sangue no chão. Mandam-me lambê-lo. Novos pontapés, novos socos,novas pisadelas . Apesar das torturas, durante oito dias e oito noites não abri aboca. Aliás, não a abri nutca ... Não queria que os meus camaradas sofressem omesmo que eu estava a sofrer..»Américo Ventura, com a voz profundamente comovida, fala seguidamente dosoalho da sala onde estava, «especial com altos e baixos, muitos nós, para nosmagoar quando caíamos », da urina «que fazíamos nas calças, ficávamos todos

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feridos da urina », e da ansiedadýe com que os pides quiseram saber o seu«pseudónimo», ou seja, o «nome-senha» por que era conhecido entre osmilitantes socialistas e comunistas, e ainda das nódoas negras que «eles faziamdesaparecer esfregando no nosso corpo um produto qualquer, não sei o nome..»E prossegue:-Quando estava quase a adormecer aparecia um tipo e dizia, com alegria:«Estamos na hora da porrada!» Este tipo tinha sapatos em bico, para os pontapésmagoarem mais. Fizeram-me a tortura da moeda, que tilintava, que arranhava, queparecia um pedregulho a rolar ,na minha cabeça. Implorei-lhes que me batessemou matassem mas que parassem com aquilo. O chão rangia, e o agente punha-se-a andar- para trás e para diante, parecia que ia enlouquecer . Depois de mesovarem mais umas tantas vezes, mandaram-me para oAljube. O que me valeu foi a camaradagem que encontrei entre os presos. Foi aíque senti o verdadeiro significado de camaradagem e solidariedade.... Alguns jáali haviamtido familiares e amigos.... Aquilo passava de uns para os outros, como umadoença contagiosa.... Ou como uma maldição ... Tratávamo - nos por Igual. Nãohavia «senhores». Apenas camaradas. Fi-lo uma vez, a um professor universitário,e ele repreendeume, «que ali não havia senhores, éramos todos Iguais,trabalhadores, camaradas, lutando pelo mesmo Ideal e para o mesmo fim». Opróprio Alvaro Cunhal era assim que queria que o tratássemos ..»Ocorreu mais tarde o regresso a Caxias. Novas torturas, novas provações, novos,longos e dolorosos interrogatórios. Américo Ventura confessou-nos que osprocessos de totrura variavam, «eram ao ,gosto dos agentes», eram escolhidospelos seus requintes de malvadez e sadismo. E acrescenta:- Uns tinham mais imaginação do que outros. Um camarada sofria da gota. Oagente batia-lhe nesse sitio. Vi outro com os sapatos nas mãos: os pés pareciamdois repolhos! A outro, apertaram-lhe os testículos com tanta força que perdeu avirilidade! . Enfim, foi o pior possível. Não há palavras para contar o que foiaquilo, o que vivemos e sofremos. Só passando pelo mesmo se dá valor, seacredita.... E o «segredo»? As necessidades, por exemplo, eram «comandadas»pelo guarda. Se ele deixava, fazíamos, senão, não fazíamos, ou fazíamos alimesmo Também assisti a um «jogo de futebol». A «bola» era um comunista:, foichutado daqui para ali por vários agentes, que riam alto, felizes .. Os choqueseléctricos, meu Deus, tanta coisa para nunca mais esquecer! Finalmente, saí.Mas a minha liberdade era uma ilusão. Era uma liberdade espiada, vigiada pelospides. Foi por isso que vim para Moçambique. Mas, mesmo aqui, por altura davisita do Tomás, fui perseguido. Só mais tarde o vim a saber..»«MOÇAMBIQUE E O FUTURO»Américo Ventura falou-nos durante cerca de três horas. Do muito que nos dissedei. xamos aqui apenas uma páli.da Ideia. Foi um depoimento imprespionante, especialmente dito naquele tom devoz, onde sentíamos, a cada passo, a dor, a angústia, a revolta e, finalmente, aalegria da liberdade.

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Falamos depois de Moçambique e do futuro, da própria Frelimo e dos seusdesígnios para «com todos nós brancos e' pretos». Américo Ventura afirmou, comveemência:-Enfim, agora é uma maravilha! A actual situação é uma coisa em que ainda mecusta acreditar. Amo a minha mulher, amo o meu filho, que desejo venha a sercomo o pai, pois a minha religião é a liberdade de cada homem, de todos oshomens. Moçambique? O futuro? É preciso acabar com a guerra o mais depressapossível. E que o próximo Governo de Moçambique seja aquele que osMoçambicanos quoerem. É a Frelimo? Que seja a Frei|mo O Samora Machel nãovai com certeza fazer mal a ninguém, basta ser um socialista. Eu acredito nele. Sea Frelimo vier fazer uma política favorável a todos, multirracial, justa, boa, porque não havemos de aceitá-la? » Américo Ventura cita ainda, mais uma vez, aadmiração que nutre pelos camaradas lvaro Cunha] e Mário Soares. Fala tambémda sua chegada a Moçambique, «com 900 escudos, estava na miséria, masfelizmente tive amigos camaradas que me ajudaram. Que Deus os ajude!» Agora,o que pretende, é «ficar aqui e viver em paz». Porque, como nos confessou, «eýapolítica, quem sofre mais é a família».Refere novamente-o programa da Frelimo, as intenções de Samora Machel etermina com um brinde à liberdade. Emocionado, marca. do, para sempre;, portudo quanto vivera.Que este seu depoimento seja, não apenas uma hora de leitura, rv', sobretudo,urn> forma de chamar a si os mais relu'antes em acáitarem cumprirem erespeitarem as liberdades democráticas que ,nos foram devolvidos ao fim de meioséculo de escravatura e repressão. Para que nunca mais, repetimos, os jornalistastenham de redigir testemunhos como este., E para que possa haver, de facto, «emcada esquina um amigo» e nunca mais um agente da Pide!

POR JACQUES ALLAIS1TyTR1V2_UMA, RESIDENCIA SECUNDARIA SOBRE OUATRO RODASToyota calcula cue esta viatura de concepção inteiramente nova constituirá umdesafio para os concorrentes japoneses e estrangeiros.Baixo, de linhas distintas com o seu longo. «capot» e o seu pára-brisas muitoinclinado o RV2 'tem a vantagem de poder ser utilizado como viatura normal deturismo. O seu aspecto é decisivamente moderno, a parte traseira cortada, aslargas superfícies enviýraçadas laterais, o tecto transparente e a pequena janela àretaguarda, fazem lembrar o «Lamborghini Espada». As suas caracteristicas sãoas seguintes:-Comprimento, 4,65 metros; altura, 1,76 metros; largura, 1,30 metros7 peso, 1430quilos; motor, 2563 cc; velo.cidade máxima, 190 quil6metros/hora.o habitáculo oferece um conforto particularmente estudado: quatro lugares,assentos, painel de instrumentos e um tecto revestido de delicada pele de gamo.Rádio e magnetofone estereofónico completam o equipamento-base. Mas o RV 2torna-se verdadeiramente uma viatura de conto de fadas porquanto, por uma

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simples manobra, toda a sua parte traseira se desdobra graças a duas grandes«borboletas» invertidas. Basta fixar o tecto e as faces laterais em tela para se obterum vasto salão onde oito pessoas podem tomar lugar à volta de uma mesaescamoteável. Esta verdadeira «vila» motorizada está equipada com umaquecedor de comida a gás, uma geleira, uma pia de despejos e "toilettes». A'concepção do interior foi particularmente estudada, segundo declarou umengenheiro da TOYOTA: «Quisemos criar a impressão que o morbiliário - mesas,cadeiras, leitos- se encontra num verdadeiro salão e não numa espécie decamião». 1 Para a noite, os dois assentos dianteiros transformam-se emconfortáveis divãs, podendo ser colocadosdois leitos no salão de tr&s. Se o RV2, tiver bom acolhimento, a Toyota tem aintenção de sair com um modelo maior, o «Motor Home 40 - Casa Motor 40,quecompreenderá um 'chuveiro e um secador de roupa, bem como reservatário deágua.A Toyota não prevê, de momento, exportar o RV-2, por um lado, porque é díficilconstruir um modelo que esteja conforme os regulamentos sobre poluição emvigor nos diversos poises importadores; por outra lado, porque o preço do RV 2será elevado, mais do dobro do de um turismo corrente. O preço do RV 2 poderáultrapassar os 2 milhões de ienes (à volta de 7100 dólares).Num pais como o Japão, onde a inflação; a especulação e o excesso de populaçãotorna proibitivo o preço dos terrenos, o RV poderá tornar-se a habitação :ideal dojaponês. (Copyright AMP).1

Como todás as, guerras, a guerra do. Yom Kippour teve o seu cortejo de f ridos einválidos. Ela iu, em contrapartida, ca os difíceis, considerados n4uitas vezescomo perdi os, darem lugar a novas descobertas, a novos traa'mentos. A estepropósito, o Ministro da Saúde Victor Chemtov, de ~Israel afirmou que «a taxa demortalidade entre os feridos da guerra do Kippour foi uma das mais baixas damoderna história militar».Na, base destes resultados estão os cuidados prestados nos hospitais de campanhavolantes cujo pessoal pagou um pesado tributo, e a utilizaçao maciça deantibióticos que evitaram as infecções. Um sistema perfeitament@... dadopermitiu que menos de uma hora decorresse desde que o soldado foi ferido até aomomento em que recebeu os primeiros socorros ou até que deu entrada na sala deoperações.Nesta segunda fase, registaram-se também duas alterações, igualmenteimportantes, na tradição. Em primeiro lugar, a supressão de salas de radiografia eradioscopia, que foram substituidas, para reduzirse ao mínimo o tempo detransporte e manipulação dos feridos, por equipamento móvel. Dqpois, asupressão do sistema tradicional que consistia em fazer passar o, soldado,raramente sofrendo do mesmo tipo de ferimento, de um serviço para outro:equipas diversificadas de cirurgiões especializados puderam trabalharsimultaneamente com o mesmo paciente, poupando assim um tempo precioso etambém as forças do ferido. Um dos casos típicos desta categoria, verdadeiro-«milagre vivo», foi o de um condutor de carro de assalto que levaram ao hospital

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«praticamente aberto ao meio, como um livro, desde o occipital ao esterno», diriadepois o seu oftalmologista. O crâneo fra2turado, o cérebro a descoberto, um olhopendente, o nariz aberto, uma face e um maxilar deslocados, a garganta aberta aomeio até às cordas vo-ý Is, a ponta do esterno e piosta.. A sua chegada ao blocooperatório provocõu um choque, e os cirurgiões do Hospital Ha-dassah de Jerusalem tiveram um momento de desanimo.Recompuseram-se e traobalharam durante sete horas, em conjunto ou rendendo-se: neurocirurgiões, oftalmologistas, otorrinolaringologistas, e cirurgiõesdentários. Assim que recuperou os sentidos, juntou-se-lhes um psicólogo, umcirurgião plástico, e mais tarde, um fisioterapista. Presentemente, o seu rosto nãoestá ainda reconstituído: serão necessários ainda alguns meses. Mas, com essaexcepção, o jovem soldado perdeu simpleimente a visão de uma vista..Um dos maiores êxitos alpançados pela cirurgia israelita, durante esta guerra doKippour, foi o tratamento de queimaduras, em que mais de 95% dos casos foramsalvos, até mesmo o de um jovem transformado num montão de carnesanguinolenta, em que nada se distinguia senão um buraco de onde saiam unsgemidos: um «Mlg» em chamas que se despenhou sobre o «half track» em que seencontrava e de que fora o único sobrevivente. Do ponto de vista estritamentereligioso, o método israelita é «impuro» e, portanto, de reprovar, consistindo emcobrir as partes queimadas com pele de porco muito fina e exposta à irradiação,até à reconstituião dos tecidos.No domínio da cirurgia ocular, a técnica utilizada para a extracção de. estilhaçosde granadas baseia-se nos ultrassons. Mas o grande perigo, na maior parte doscasos, é a hemorragia ocular que, misturando-se com o hi-vmor vítreo, podecausar a cegueira. O Prof. Juan Lazaro Zauberman, Director da faculdade deOftalmologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, aperfeiçoou uminstrumento extremamente preciso: uma sonda extremamente fina que,penetrando através da esclerótica, aspira o sangue, injectando depois um fluidotransparente, libertando deste modo a retina e restituindo-lhe a Itisão.Prof. Zauberman é Igualmente um inovador na técnica de tratamento de casos dedeslocamento da retina, muito frequentes em tempos de guerra, com raios Laser.A operação é externa, e permite a reco-iocaçao muio precisa cLa retina por aderência. Esta técnica, seundo osespecialistas, é única no seu género.Os oftalmologistas viram-se frente a problemas diferentes, nos casos depenetração do olho por corpos estranhos, segundo se trata de ferro, cobre ouchumbo. A Faculdade de Oftalmologia inventou um detector por radiaçõesfluorescentes que seria também único no mundo. Em poucos minutos, esteinstrumento informa com precisão a composição do corpo estranho. Os Raios Xde fraca intensidade que o instrumento emite, libertam iões que são reenviadospela peça de metal para uma tela detectora sob a forma de ondas fluorescentes,diferentes segundo o metal. É assim, possível saber, ao mesmo tempo, se o metalé magnético, em cujo caso é extraído da forma mais simples do mundo porelectro-magnecobretização. Se é tóxico, como o cobre e o chumbo são para aretina, é necessário uma delicada intervenção cirúrgica.

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Um novo aparelho, invenção de três membros do Departamento de ReeducaçãoOral da Escola médica de Jerusalém uma haste encurvada, concebida para sersegura pela boca - permite aos paralisados dos quatro membros, escrever,dactilografar, voltar as páginas de um livro, discar um númemero de telefone,abrir ou fechar um interruptor eléctrico ou fazer girar os botões de um posto derádio. Este género de instrumento existia há já muitos anos, mas este, concebidopelo Doutor Zila Mitrani, especialista de prótese dentária, apoia-se sobre placasdentárias, adaptando-se desta forma aos maxilares de cada doente, de forma apermitir um melhor controlo. O Dr. Mitrani foi auxiliado no aperfeiçoamentodeste aparelho destinado inicialmente a um grande número de feridos da Guerrados Seis Dias, pelos Drs. Zelkind e Ster:, e pelo Prof. Julius Michman da EscolaDentárid. A construção de cada aparelho exige um molde completo dos maxilares,das gengivas e dos dentes estragados. Para uma maior eficácia, a hasteinicialmente direita, foi encurvada se-gundo um ângulo obtuso. Seis. feridos de guerra servem-se presentemente des teaparelho. O mais antigo- um ferido da Guerra dos Seis Dias - acaba de iniciar o seu quarto ano naFaculdade de Estatística da Universidade.Os prisioneiros de guerra de regresso do cativelro no Egipto foram devidamentetratados a um outro género de estragos: os estragos musculares, provocados porsevícis, que puderam ser detectados por testes especiais dirigidos peloProf..Eleazar Shafrir, chefe do Departamento de Bioquímica da CUínica doHospital de Hadassah. Foi colhido sangue de cerca de 200 prífonefros ce. guera,dois ou três dias após o seu, regresso, do cativetro.Este sangue foi analisado graças a um auto-analsador «Technilon SMA 12», quepode efectuar 12 análises bioquímicas diferen, tes ao ritmo de 60 por hbra. Estapesquisapermitiu verificar que na sua grande maioria, os prisioneiros repatriadostinham no seu sangue um enzima extremamente activo, sintomático de gravesestiwa gos musculares. Para um dos prisioneiros, a taxa de presença do enzimaera tão forte que ultrapassava o previsto pelo aparelho. A rapidez do diagnósticopermitiu também, neste caso, ,a rapidez do tratamento e apressou assim orestabelecimento.É ainda necessário notar-se a importância que se dá em Israel no que respeita aoscuidados a prestar aos feridos de guerra, aos tratamentos psicológicos epsiquiátricos, que começam no primeiro dia de hospitalização, ou pelo me, nosdesde que o ferido re, cupera o conhecimento das coisas. Dentro deste quadro,inclui-se o tratamento de choque que se aplica aos inválidos de outras guerras, quetêm por ~ são visitar os seus cama# radas, de lhes levantar o moral, de lhesmostrar como se pode viver «normalmente» com próteses ou uma cadeira derodas.É ainda necessário dizer-se que na maior parte dos casos, a esperança se temmostrado como o melhor dos remédios.Lydia Blicher(Copyright AFP)

MAIS. DE 200 DoU CONTOS

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EM PLEITONUM" PROCESSO OUE SE ARRASTA HA 21 ANOSTextode Aurélio BucuaneFotosde Ricardo Rangel«rncontra-se na dependência dos tribunais há 21 anos por resolver um processoem que o Supremo Tribunal de Justiça jé me deu razão; será agora a altura desolucionar o meu caso com um epilogo favorável»? - pergunta José AfonsoSerrano aludindo à mudança de regime e na presunção de ter conquistado umponto estratégico para a sua luta na acção judicial de prestação de contas quemoveu contra a Caixa Económica Postal, hoje Instituto de Crédito deMoçambique - contas referentes à sua Fábrica Colonial de Cerâmica Portuguesa,que ele obstinadamente contesta 'e classifica de fraudulentas pois já lhe foramjudicialmente apresentadas, como ie pode inferir compulsando os montes depapel, arrecadados* dia a dia ao longo de vinte anos.

Já ha tempos tivemos oca,siuo de referir a história, pois que ela não é nova, dafábrica de cerâmica de Maholeia, perto de Magude e da disputa da sua posse. 0envolvimento de um devedor e o seu credor nessa disputa gerou um conflitosemelhante ao do frato e do forte peran, te o foro moçambicano e ojuízo público,De. um lado, os que apoiam o direito da força dizem que a Caixa se portou comodevia. Doutro lado,:os que votam pela força do direito, reconhecem a legitimidadede Serrano, em anbos casos indep 'ndente. mente da letra do contrato havido.Porque nos termQs da escritura e da lei. doutamente interpretados pelamais alta instância judicial de Moçambique e depois pelo Supremo Tribunal deJustiça, a que o interessado recorreu, nada se vislumbra em conta da situaçao devítima do industrial Serrano, se bem que tenham sido ligeiramente censuradas asprepoténcias da Caixa Económica. «Foi um acto de banditismo uma vez que ofascismo favorecia a injustiça» - contesta o sexagenário. industrial, o que querdizer que redobrou a sua esperança com a mudança do regime político e, porconsequência, maior independên. cia do poder judicial.Há dias, José Afonso Serrano entrou nai nossa Redacção a exibir umrequerimento datado de 23 de Fevereirodo corrente ano e dirigido à 3.: Vara da Comarca de Lourenço Marques, no qualsolicita a «prestação de contas da gerência e administração* da Fábrica deCerâmica de Maholela, que por escritura de 31 de Março de 1951 tomou a seu (daCaixa) inteiro cargo». Quer dizer, dos 8 000 documentos cuidadosamentearquivados a par de quilos de jurisprudência, só mandou a escritura paraacompanhar o seu pedido como o último parágrafo deste diz «para a mais rápidadecisão de V. Exa. pede licença para juntar a escritura, pará vossa apreciação, elembra que nos artigos 10.% 11. , 12., e 13.o são expressas condições que até hojenão foram c4mpri-das, ou sejam, a apresentação de contas e sua administração, uma vez que é dopúblico conhecimento que outras pessoas estão a explorar a referida fábrica e adelapidar o seu inteiro património».

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SERRANOTEVE A IDEIAMuito embora ao encontro da necessidade de-,suprir a lacuna de uma unidadefabril do género, na altura sentidá pelas autoridades, a grande ideia nasceu deSerrano. Estava-se no ano de 1947 e mandava entre nós o Comandante Gabriel.Teixeira que segredou a Serrano a magnanimidade. da realização face aoproblema da habitação e en-

José Afoso Serrno apontando-nos parte provas documentais que muito em brevevol a percorrer cartórios e tribunais em prol sua causa.genharia civil, então como ali há «costas mai Moçambique. A nador-Geral as.promisso de complexo desd vontade do Go traduzisse na um empréstimosubstantcial.gar oe mauowza. -.u trabalhar em 1950. uma fábrica a aum inventário industrialçambique com razoaà cidade de produção.havia do a efeito pela Comissãooje não Administrativa não resolveuites» em o problema que ia, dia a dia,'Gover- parecendo sem solução, razãoo com- por que Serrano passou aee har o solicitar os ofícios do Gover' boa nador-Geral para arbitrar.Geral se Tudo o que lhe repugnava,ssão de ao fim de contas, era estarvamenýe constantemente agrilhoado àcredora. Exigia a total gestão s E, pe- da fábrica, da gerência ebalhando administração à confecção efalgável comercialização dos produtos.ar mate- Resta saber se ele podia saÕho em tisfazer a 'condição impostae no lu- pela Caixa Económica: pagarmeçou a em 180 prestações os 6000Ira mais contos do empréstimo (4 500entar no contos acrescidos de juros ede Mo- despesas de reparações).vel capa-DA ADMINISTRAÇÃOToda a lufa-lufa se originou da gestão da fábrica de que foi estrategicamenteafastado o verdadeiro proprietário dado o volumoso valor do empréstimo. oorganismo credor tomou assim coila da administração, o que em principio estavaconsignado na escri. tura, deixando apenas a cargo do. indistrial o que não lheconvinha: a parte técnica. Bem entendido que isto anda'ria deste modo até que aCaixa pudesse reaver o dinheiro abonado. Pessoas de confiança ou mesmofuncionários de reputada competência foram destacados para Maholela, sendopor sua vez sujeitos à fiscalização da Comissão Administrativa da Sede. Enfim,todo um intrincado meandro burocrático que acabaria não só por se desajustar àmentalidade de um pedreiró como também acabou por desarticular a marcha doserviço.

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A breve trecho Serrano queixava-se dos abusos da Administração quanto àviolaçào das normas escriturárias e 4uanto aos desacatos à sua voz, na qualidadede proprietário que era. O saneamento aliás draconiano leva-ESCUSA DE 12 ADVOGADOSTodos os esforços envida,dos no sentido de obviar a questão ao nível burocráticofracassaram. Subiu ao foro lourençomarquino. Porque Serrano. não podiareceber a sua fábrica sem prévia constatação «In loco» do estado da maquinaria eapresentação das contas do activo e do. passivo, exigência que foi classificada de-atentória à boa fé de uma instituição oficial. Entretanto foi-lhe autorizado visitara'fábrica desdc que se fizesse acompanhar de «pessoa idónea» e só dessa pessoa.Quanto ao mapa das receitas e despesas durante o triéniokdo mandato, a-Caixa Económica não fez caso.Resolveu intentar contra ela no Tribunal uma acção e estava assim aberto todoum <«milando» que é quase uma lenda. Conta-se que 12 advo, gados da capitalabordados se recusaram a pleitear a. causa. «Todos eles beneficiavam dos lucrosda fábrica» - assevera irado José Afonso Serrano, esqiecendo que é muito deleexagerar aolformular a matéria da acusação e que um advogado não pode revogaruma lei.Nã se tendo conformado com as decisões judiciais que deixavam impunes astraves. suras da Caixa no emaranhado das contas apresentadas, interpôs recurso'ao Supremo Tribunal de Justiça para que, em última instância, a justiça acudisseaos seus gritos de alarme, espezinhado como se considerava pela injustiçacolonial. O mais curioso, porém, é contestar a última palavra do .ipremo que rezaclaramente:--«A Caixa não hesitou perante a ousadia de negar a obrigação de prestar contas,o que só veio a, fazer quando compelida por decisão que fez trânsito. Logo oSerrano arguiu de nulas as contas apresentadas, a pretexto de que se não indicavaa origem das réc.eitas,, a aplicação das despesas, nem o saldo. da administraçãoe ainda por falta de documentos comprovativos de receitas e despesas. Pretendiaque se considerassem as contas não apresentadas . ( ) Em seguida, por suainiciativa, o Sera.no, invocando o artigo 1104 do Código do Processo Civil epretextando ilegalidade das contas apresentadas pela Caixa apresentoutambém umas contas, E logo, sem esperar decisão sobre a argui. ção de nulidadedas contas apresentadas pela Caixa, veio também contestá-las, reproduzindoquanto dissera somo fundamento de .tais nulidades. Em seguid a) resposta da Ré(Caixa), veio a dezidir-se com trânsito em Julgado, não haver lugar à aplicação doartigo 1104 do Código .do Processo Civil, porque 'as contas, ainda que com formairregular, eram um acto sério».HOUVE JUSTIÇA?Para todos os efeitos legais, vê-se que a fábrica do Serrano faliu e épresente.mente explorada por uma firma particular, a Cerâmica Industrial deMoçambique(CIMOC), o que aprovou a suma magistratura judicial do pais. O que é que hojemais do que nunca anima o infeliz industrial a encanar papéis para os tribunais? Amudança do regime, sem sombras de dúvida. Ele parte do principio de que ajustiça era amordaçada e sendo o arguido do processo um organismo oficial,-

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estava em jogo o prestigio da administração, já para me servir de uma linguagemmuito ao goste dos que detestam a oposição democrática.Seja como for, Os desostos que já lhe sulcam o alongado rosto e o carinho comque manuseia o monte de documentos e provas levam a crer que e ressente dequalquer desljustamento. A partir de certa altura, a Caixa Económica deixou delhe pagar o sustento da famflia 5400$00 mensais) por razões pouco limpas,tomando a .mora de pagamento por cessação de pagamento. Fald ainda émincidentes com elementos da Comissão Administrativa da Caixa, Os quais emmuitos países do mundo podiam graduar um «abuso de confiança» se não umcrime mais grave. E o facto de Serrano não se ter ortado, se devia, como jurista oujurisprudente na condução da sua acção não justifica em si mesmo que se olhepara o homem como nada mais do que «lunático» -especialmente agora que ovocábulo justiça adquiriu novo significado nos nossos dicionários.Se José Afonso Serrano não tem toda a razão do seu ladox parece que deviam se'resclaridos alguns pontos obscuros, nomeadamente o de se saber como e em quecondições foram gastos os 200 mil conloa da Caixa Económica. Dinheirospúblicos que, como tants outros, foram simplesmentd-delapidados ou mal aplicados.e

PÁGINA 45"NÃ,O SEI SER FIEL:". esquerda: Florinda Bolkan contracenando com Tereuce Stamp, que desempenhao personagem Jean-Arthur Rirnbaud poeta lendário que morreu em 1891, com 37anos de idade, deixando uma das' obras mais importantes da literatura francesa.«Os papéis interessantes são reservados na maioria aos homens. Quando se éactriz, nao é preciso ser-se exigente, mas procurar acima de tudo bdaptar-se.»com um grande sorriso que a fascinante Florinda Bolkan faz esta constataçãolúcida. Mas sem animosidade, porque esta esplêndida mulher de 28 anos, emboraviva. na Europa há cinco ;anos, conservou a indiferença prónria das brasileiras.Descoberta por Luchino Visconti que a apresentou em «Damnés» (OsCondenados), ela interpretou desde 1968 19 filmes nos quais, fiel à sua filosofia,se sujeitou a todos os papéis. Vimo-la de cebeça rapada, a pele pintada de negro,como com-panheira etíope de Arthur Rimbaud em. «Une Saison en Enfer» de Nelo Risi. Oseu último filne, «Um honmime à Respecter», na qual contracena com KirkDouglas, acaba de ser estreado. Termina, presentemente «Le Mouton Enragé» doIranc3s Michel Deville ao lado de Jean-Louis Trintignant, Romy Schneider eKane Birkin, Seguidamente interpretará o novo filme de Vittorio de Sica,«Bróves Vocances», no qual será uma mulher cínica.«Cínica, sou-o sem dúvida», reconhece ela. -Adoro a vida frívola, leve, Aspessods graves aborrecem-me.» Em Roma, onde reside actualmente, FlorindoBolkan alimenta regularmente - as

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colunas dos redactores do imprensa amorosa. Há três anos, atribuiram-lhe umaligação com Richard Burton, o que encheu Liz Taylor de fúria.Mas, para esta bela mulher apaixonada pelo ténis e pela equitaçãó, o amor é uimjogo como outro .qualquer.«0 amqr não me interessa senão no princípio - diz Florindo. Depois, vem oaborrecimento. Gosto de mudar.- No sei ser fiel.»eReunir Terence Hill, o especialista mundialmente conhecido do «westernspaghetti» e Henry Fonda, glória do «western» americano, é a nova' receitadestinada a sucesso do talentoso Sérgio Leone. Mas desta vez, a realizador de«Por um punhado de dólares», -O Bom, o Mau e o Feio», e de «Era uma vez noOeste», encarregou o seu assistente habitual, Tomino Valorí, dareaIzaqão,'ý..reservando-se as funções de- produtor.O filme intitula-se «Meu. Nome 'é Ninguém» e é, segundo Leone, -dó umaviolência jamais vista na tela.Terence Hill, vedeta da sýrie «Trinitá', é, no filme, um pistoleiro rápido e certeiro'que se faz chamar «Ninguém».Grande admirador do veterano do Oeste, Beauregard (Henry Fonda), que pretenderetirar-se, procura ,convencê-lo a tentar uma última proeza, antes de dizer adeus *& aventura. Assim, Beaure-gard, auxiliado por Ninguém, consegue fazer frente, com êxito, a uma horda decento e cinqueïtd cavaleiros que pilharam uma mina de oiro.O filme foi rodado no Novo México, em Acoma, em Nova Orleães e perto deGranada, em Espanha, e será projectado em quatro verses de línguas diferentes.. Ennio Morricone, autor da famosa canção de 'Era uma vez no Oeste», escreveu abanda musical.Tornado muito famoso e muito rico desde que, há dez anos, inventou o «westernspaghetti», Sergio Legne bem gostaria .de mudar agora de género. O seu sonho étrans' por para a tela o romance de L. F. Céline, «La Voyage ao bout de la nuit».Entretanto, prepara com o. autor espanhol Jorge Semprun, o seu próximo, filme,«Era uma vez a América». (Copyright AFP). ,

previna-se no invernocontrao flagelodo verao-BAIÉATAS!Estui desde jã, de p~ 1, Pre nM quimo anteSsus lue contra as b t, mosquitos eoutros isectosde um momento ppMa utro e vero chega e.. API.UE JA BAYGON-O NICO INSECTICIBA TOTALMENTE GARANTIDO-. Baygn~apt__gonde a sua proteçaoUM PRDT (E3,A ^YER)1

Na sequência do trabalho apresentadb na semana anterior, voltamos hoje a referir-nos a alguns aspectos relacionados com a cultura da' cana-de-açúcar. O tema é

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por demais escaldante. Prova-o o recente diploma dos Ministérios daCoordenaçãq Intetterritorial e da Coordenação Económica; tendente a liberalizar ocomércio do açúcar. Mas; liberalizar, como?Dos periódicos à extinta Assembleia Nacional, passado pelos que se dizem maísou menos afectados, todo o mundo falou na questão do açúcar. As cotaçõesaltissimas atingidas pelo produto na Bolsa de Londres er ã crise dos canavieirosoriginou, em tempos, o apelo firme à liberalização que, segundo s'e-afirmou 9eafir. Ma) lançaria para a deficiente balança de pagamentos moçambicana osdecisivos milhares ou milhões de contos. No entanto, ponderemos: aumlentarindiscriminadamente o preço do açúcar sem a respectiva reforma fiscal poderáoriginar que os tais milhares ou mi-lhões de escudos em vez de cá ficarem vão parar às ávidas mãos das super-administrações londrinas ou lisboetas, se atentarmos nos interesses estrangeirosamplamente radicados em Moçambique. E os canavieiros- todos aqueles que com a força do seu trabalho permitem a existência dessariqueza?É destes - dos canaviéiros- que vamos falar.Em número anterior já tivemos oportunidade de ver como se processam asrelações entre a Açucareira de Moçambique e os canavieiros, através do relato decasos individuais.Hoje vamos focar algumas das questões de fundo que originam odescontentamento e a apreensão desses canavieiros. E elas são várias. Desde osurpreendente aumento da dívida dos colonos à Açucareira, passando por todo umvasto processo feudal, até ao desvendar das empresas com ligações comerciais naAçucareira, cujos principais responsáveis se encontram intimamente li'gadosàquela.Uma longa exposiç( o enviada pelos canavieiros em Maio de 1973 ao entãoGovernador-Geral de Moçambique contém elementos dignos de seremdivulgados, tanto mais que até ao momento não mereceu qualquer resposta dacotnprometida administração colonial. Mas o silêncio precisa ser quebrado, enecessário se torna começar a chamar as coisas pelos seus próprios nomes. Atéporque tais processos não podem já conduzir a parte alguma.PROPAGANDA DI AIDA'Na referida exposição, os canavieiros começam por mencionar que «mercêduma propaganda bem dirigida e altamente programada conseguiu aAdministração da Açucareira atrair ao seu património largos milhares de contosinvestidos em acções, fazendo com que grande número de famílias de rmodestacondição social e económica lhes confiasse o produto das pouparias de duros elargos anos de sacrificio», E logo a seguir:MAS(«Como na febre do ourodo lendário Far West, todos acreditaram nas promessas altissonantes depropriedade económica a curto prazo, empregando os seus humildes capitais naexploraçãoda cana sacarina.

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São cerca de quatro centenas os individuos nestascondições.Muitos deles vieram dospontos mais remotos da Nação, atraidos pela miragem, e fixaram-se noMafambisse, dando o seu suor para que a Açucareira cumprisse a sua finalidade:produzissecana.Actualmente existem 152canavieiros, grande parte dos quais residem no Mafambisse com suas famílias,dedicando-se exclusivamente à agricultura e contando com a Açucareira parafazerem face às despesas de subsistência.Dum modo geral, trata-sede pessoas já de idade avançada, de poucas habilitações, muito modestos e sempossibilidades de refazerem a sua vida em moldes diversos dos actuais.»Afirma-se na mesma expo-LIBERALIZAR, 'SIM!Texto de: LUÍS DAVID - Fotos: ARQUIVO

Venda dá terrenos para construção das moradias na povoação - Debita a A. M.50$00 'por cada m2, ficando cada lote entre 140 a 200 contos. Não 'parece justoque os canavieiros residentes tenham de suportar tais custos, uma vez que oterreno, salvo raras excepções nem um centavo sequer custou à Empresa. -OsBlocos n.o" 9, 10, 11, 12, 13 e 14, numa extensão de "13 330 hectares estãona posse precária dos Caminhos de Ferro da' Beira e são propriodade exclusiva doMinistério das Finanças.Abono mensal de subsistência - A Empro temadiantado aos canavieiros dependentes e semi-independentes um abono mensalque tem por empregada finalidade garantir ao agricultor uma receita mínima paracustear as despesas de subsistência do agregado familiar. Porém, tem-sedesvirtuado escandalosamente o fim para que foi criado. Sendo o abono mensalna ordem dos 7500 a 8000 escudos, a Açucareiro permite-se unilateralmentededuzir dele vários encargos, designadamente o pagamento da prestação deveículos, assistência fiéoica aos trabalhadores, lubrificantes e combusfveis,reparações mecânicas, pelo que, no fim do mês, tal abono se' acha reduzido a3500 ou 4000 escudos.Débitos atracados - AAçucareira náo obstante já ter feito aprovar em Ass, Geral as 'suas ontas de exer-,cicio de 1972. ainda não apresentou aos agricultores as contas particulares deutes,o que se verifica desde 5 de Junho de 1972. Para além de se estranhar que em taiscirctinstâncias as contas da Empresa est essem em condições de apreciação,discussão e aprovação, o certo é que tal omissão está causando justificado alarme,na medida em que pelo relatório de 1972, já publicado,se nota um agravamento superior a cem mil contos nas dividas dos agricultoresrelafivamente ao relatório de 1971 quando se constata que a produção de açúcarreferente a esses exercícios não chegou sequer a atingir um aumento de 20%.Fornecimento de diesel A Empresa (fornece) aos agricultores todo o diesel

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consumido nas viaturas, debitando-o a 2$20 cada litro. Tal prática afigura-semenos correcta, tendo em. atenção que -esse combustível é adquirido a cerca de1$72 por litro.»É ainda apontado o agravamento do custo dos fretes da cana, cujo trànsportepertence em exclusivo ao sr. Fausto Martins Tarita, assim como agravamentos deoutros cusIos de produção entre os quais tractores, alfaias, adubos, desinfectantes,salários e gessagen.ONDE ESTAA LIBERDADE?Além dos problcmas de ordem económica já apontados, muitos outros afectam oscanavieiros. Estes dizem respeito, principalmente, à forma de relaçõesAçucareira-canavieiros em que está patente todo o tipo de dominação feudal. Valea pena conhecer como se processao essas relações:«A Açucareiro institui em Mafambisse um sisteria de controlo de saidas paratodos os canavieiros dependentes, nomeando para o efeito um fiscal omnipotente:trata-se do funcionário administrativo na situação de reforma, sr. Joaquim AlvesDelgado, ex-administrador do Dondo. Cada vez que o agricultor quer ou temnecessidade de se.ausentar de Mafambisse por escassas horas vê-se sujeito a terde solicitar prévia autorização desse funcionário. Na verdade, tal situação fazlembrar o regime medieval dosservos da gleba e trdduz-se geralmente num traumatismo moral p*ara todos oscanavieiros que têm um minimo de amor próprio. -Não há nada que justifique .talmedida. É mera prepotência a que todos se vão sujeitando, criticando baixo porreceio de represálias.» Era assim o ano passado, era assim antes do 25 de Abril,segundo o testemunho de canavieiros. Represália era a palavra de ordem paraalguns agricultores que tivessem a ousadia de faz,-r qualquer critica oureclamação, mesmo justa que fosse. Vejamos:«A Administração da Empresa, embora sinta bem latente o descontentamento ge7ral dos canavieiros e dos pequenos accionistas, tem pretendido e aliás conseguidomanter -em Mafambisse uma cortina de silêncio, abusando da depenênciL.económica e do manifesto temor dos'colonos. Receio justificado diz a exposiçãoa que nos rmtrimos como passa a relatar-se.»«No dia 16 de Maio do corrente ano (1 73) teve lugar a assembleia-qeral daCOOPERATIVA DOS CANAVIEIROc DO CONCELHO DO DOND , paradiscussão e aprovação do Relatório e Contas. À tal reunião compareceu oassociado Armando Ribeiro, o qual no uso da palavra que lhe foi regularmenteconcedida, reclamou pelo facto de os extractos dos balanços das Contas não,terem sido enviados aos sócios com pelo menos quinzo dias de <'infrcedêncio,com violacão do parágrafo 1.° do art., 26.' dos Estatutos, o que o privava de poderDronunciar-se e votar conscienc osamente sobre a ordemq de trabalhos. Insuraiu-se ainda esse s6cio por não tei. sido feita a distribuição do Retorno aosbsociardos relativo á ýrí rpr-ia d 1P71. com violação duma deliberação tom-cdc

DEZ MIL TRABALHADORES EM PRECARIAS CONDIÇÕES

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na ass.-geral ordinária do ano anterior e, além disso, pelo facto da Direcção fazernova proposta para que o Retorno de 1972 fosse distribuido no ano de 1973, emoportunidade ao seu critério.O caso é que, os Retornos acumulados já eram de montante muito elevado (maisde 1500 contos) e tal acumulação é contra o estatuto (alínea c) do art.' 50.'). Poroutro lado, a distribuição desses retornos até se impunha, dada a precaridadeeconómica dos associados a que não é estranha a passividade da Cooperativa, quetem falhado clamorosasmente na defesa dos interesses dos canavieiros.Claro que as çontas foram aprovadas por esmagadora maioria, não obstante arazão desse sócio e a secreta solidariedade da maioria -dos canavieiros presentes.Ai daquele que o apoiasse 1»Ainda segundo os canavieiros, este facto foi «suficiente para desencadear em,Mafambisse uma verdadeira era de terror», tendo como alvo os canavieirosArmando Cristóvão Ribeiro, Nelson dos Santos Cruz e A'rmando Ferreira órfão.Ao primeiro viria a ser enviada uma carta, comunicando que lhe fora retirada a«concessão» da pr:priedade. Simultaneamente, a Direcção da Cooperativa fezcircular um documento a informar todos os canavieiros que em virtude deArmando Ribeiro ter sido «irradiado»" da Açucareira, "deixouconsequentemente» de ser associado da Cooperativa. Quanto ao segundo,viria a ser-lhe concedido-um prazo de oito dias, após ter comparecido perante osmembros do Conselho de Administração, ara entregar os bens em seu poder eabandonar Mafambisse. Por fim, a António Ferreira órtão foi também comunicadoque lhe-tora retirada a-propriedade, por decisão do Conselho de Administração.'Porém, após várias diligências dos 4nteressados, a estes dois últimos canavieirosviria a ser levantada a punição.A SITUAÇÃODE DEZ MILTRABALHADORESNa mesma exposição, os canavieiros fazem «uma chamada especial para asituação social de cerca de 10 000 trabalhadores africanos' que residem na área docomplexo agrícola em palhotas primitivas, rodeados de numerosa família commuitas crianças.»Ainda sobre o mesmo ponto, afirmaram os canavieiros:«Apesar da publibidade bombástica feita à volta dos programas de assistênciaeconómica e social, choca verificar que pouco ou relativamente nada se tem feitona promoção da população afrýicana ali residente onde grassa alarmante foco dedoenças venéreas.Há milhares de crianças que se vêem impossibilitadas de colherem os frutos dainstrução, pois existe uma só Escola Primária com lotação para 50 alunos, emborafuncione em turnos ' sucessivos."»Outro ponto salientado foi o d¿ "precaridade da situação d s agricultoresdependentes e semidependentes», que «,gnoram totalmente o estatuto que regulaas suas relações com a Açucareira. Os canavieiros rnão sabem quais são os seusdireitos, ignoram em que regime detêm a posse dos terrenos, moradias, alfaias emáquinas e outros utensílios». Mais: «Só sabem terem-lhes prometido que ocusto da sua instalação seria integralmente amnortizado com a produção de cana

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de 4/5 campanhas, sendo certo que pela análise das.contas tem de concluir-se queem cada ano que passa devem à Açucareira, não se descortinando possibilidadesde recuperação.»Permitem-se ainda os canavieiros «fazer uma chamada para a análise dosrelatórios da Açucareira dos, exercícios de 1970/1971/1972, da qual se extrai aconvicção de que algo está errado e que é causa geral da preocupação pelo futuroda Empresa e de todos aqueles que modestamente a ela ligaram os seus destino».«Tanto mais preocupante- continuam - se tivermos em conta, como é do conhecimento de VossaExcelência, que o Estado de Moçambique ali tem investido 10 milhares. de contosem acções, além das acções da FIUL (B. N. U.), no valor de 50 milhares, comacréscimo dos empréstimos do B.N.U. e do Instituto de Crédito de Moçambique,resnectivamente de 444000 e 50000 dontos.» Em critica geral de ordemeconómica, os canavieiros consideram:«1) - Afigura-se existir um crescimento desproporcionado dos Bens Imobilizadosrespectivamente à produção que tem.vindo a obter-se.2)- Existe um crescimento muito surpreendente das dividas dos colonos e faltajustificação do crescimento das diviçlas de Devedores Gerais, especialmente alongo prazo, partindo-se da certeza de que o produto (açúcar e melaço) é vendidoa pronto pagamento em toda a parte do mundo.3)- Existe uma situação muito preocupante causada pelo crescimento emproporções quase geométricas dos encargos de juros, bem como dos demais,encargos e letras a pagar.»Antes de terminarem a sua longa exposição, enviada ao Governador-Geral deMoçambique em 30 de Maio de 1973, os canavieiros dizem:"Em critica de ordem contabilística, conviria:1) - Averiguar as justificações dos bens imobilizados.2) - Averiguar os motivos determinantes da subida da divida dos colonos de 173000 contos para 385000 contos, depois de terem entregue a totalidade da suaprodução de cana na ordem dos 183 000 contos.3) - Averiguar se se mantêm uniformes as taxas de juros em todos os empréstimose financiamentos contraídos.4) - Averiguar o motivo porique ao fim do 3." ano ainda se mantêm na suatotalidade como ,valor activo a rubrica Constituição, do montante de 16 523198$35.5)- Analisar todos os débitos relativos à compra dos bens imobilizados.Assim, em face dum Passivo declarado e exigível mais ou menos a curto prazo de1089 mil contos, seria licito concluir-se ser de toda a conveniência determinar oíndice de solvência da Empresa.»E a terminar:«Em face do exposto, consideram os signatários que se justifica uma intervençãode ordem administrativa para acautelar os elevados interesses públicos eparticulares em jogo, pelo que requerem seja feito um rigoroso inquérito .a toda amatéria versada. No entanto Vossa Excelência determinará, dentro do altocritério, como entender de melhor JUSTIÇA.»

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A referida exposição, segundo fomos informados, nunca obteve qualquerresposta.e

Va, '4/ i çDEPOSITO.INVEt:'IMENT-SOPROGRESSODEPIMPTOJR INSTITUTO D REDO TODE ; " DEJROABALH DE _ + E M M I SE NÇÃO TOTNA LI~7 fE GARANTIA DO ESTADOloPARA CAPITAL,E JUROS.0INSTITUTO DE CRflJITO0MOÇAMBIQUETRABALHO DE- HOJE, MOÇAMBIQUE DE AMANHA 1

Pontos luminosos rasgando a noite Pontos de contacto, ligando a noite, o mundo eas entesum es aço de empo simultaneamente belo, atraente e util à vida dasociedade.Ilumine a sua noite c°m. lãnpadas fluorescentes ou incandescentes LUMA-uma luz mais certa, imais segura e mais rentávellLUMIAR luz e cor . na sua noiteagonrtes gerais em Moçambique,S1E PORUGUESA (E;RA)O,SFENCE PORTUGUESA M LA),

No dia 14 do corrente mês, o Cõnsul-Geral da França, ofereceu uma recepçãopara comemorar o dia daquele pais, em Lourenço Marques.Presentes na referida recepção encontra. vam-se muitos membros d, CorpoDiplomático, elementos do Governo e convidados.O Cõnsul-Geral Raimond Pierre e o Secre. tário «de Administração Territorial,em repre. sentação do Governador-Geral, dr. Ferro Ribeiro, bindaram em nomedos governantes dos dois países.Chibanga actuando na últi. ma corrida de ,.toiros, em Lourenço Marques....1

FABRICA DE CIMINTOSDO LINGAMIOparalizadaUm operário mot 'ra o seu capacete que, mesmo fazendo parte do seuequipamento de segurança, é obrigatoriamente comprado pelo própriotrabalhador, custando-lhe 95$00.

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Momentor em que se efectuava a eleição dos membros, da comissão paradiscussão com a direcção.Cerca de duas centenas emeia de operários da Fábrica de Cimentos do Lingamo (Grupo Champalimaud)estiveram em greve geral durante quatro dias, no fim dasemana passada.O pessoal especializado decidiu juntar-se ao movimento para evitar que aDirecção pudesse empreender uma campanha de despedimento entre osoperários não-especializados, mais facilmente * substituiveis, em termos demercado de trabalho.Segundo um comunicadodos grevistas, foran apresentadas à Direcção as seguintesreivindicações:«1.0 - Gratificação a todoo pessoal, conforme foi feito aos nossos camaradas da 4.linha;2.l -; Turnos iguais aos doComando centralizado;3.1 -. Subsídios de turnonão inferiores a 20% do vencimento;4- - Salários iguais paratrabalho igual, havendo apenas diferenças nas diuturnidades;5.0 - Mudança dos encarregados da Fábrica».A última das reivindicações,referente aos encarregados, apresentava-se como fundamental para os operáriosem greve, tendo-se estes declara.do prontos a. retomar o trabalho, passando por cima das outras exigências, casoesses elementos fossem afastadosdos cargos que exercem.Trata-se dos encarregadosJaime José Gomes, Francisco Terraco, Orlando Vieira e Antonio Mendes,acusados de maus tratos contra os operários e objecto de profunda antipatia geralda partedestes.Exposto o caderno reivindicaivo á Direcção, receberam da parte do Director, eng.Alves dos Reis, a resposta, de que o caso só seria estudado quando retomassem aprodução, o que conduziu a um impasse, visto os operários numa primeira fase, senegarem a trabalhar debaixo das ordens dós encarregadosatrás citados.Ao fim, de quatro dias degreve e após conversações efectuadas nà Secretaria do Trabalho, umrepresentante do pátronato.e dois representantes da comissão dos traba-lhadores tornaram público o seguinte acordo:1. - Turnos conforme comando centralizado.Resposta:. a rever até 24 de Agosto de 1974.

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2.1 - Subsidio de turno não inferior a 20% do vencimento.Resposta: a estudar dentro de três meses.3.* - Vencimentos iguais para tarefas iguais, admitindo como única excepção aanti. guidade a estabelecer.Resposta: a fazer gradualmente.4,0 - Tal como está regulamentado, qualquer queixa fundamentada que venha aaser apresentada á Direcção da Fábrica, relativamente à actuação de qualquerempregado para com trabalhadores, será objecto de rigoroso inquérito que seremeterá à Secretaria do Trabalho». No decorrer deste conflito notou-se, uma vezmais, a necessidade imperiosa de existência de sindicatos fortes e unidoscapazes de unificar a classe operária em torno de certas reivindicaçõc3 mais* urgentes e de conduzir o-diálogo com o patronato.Uma importante lição pode ser retirada deste conflito: trata-se da unidade que severificou entre trabalhadores negros e brancos no seu decurso. Tendo ostrabalhadores res brancos oferecido a sua solidariedade aos seus cama. radasnegros em greve, regis. tou-se no principio uma certa desconfiança daparte destesa qual, no decorrer da grave desapareceu para dar lugar a uma unidade efectiva. Opatronato, consciente, da for. ça que essa unidade representa, tentou dissuadir opessoal especializado branco de participar na greve, o que não conseguiu. Só inidade dos trabalhadores frente aos patrões pode conduzir.à vitória e éextremamente importante que estes compreendam que os operários, brancos ounegros, são címaradgs em luta por obectivos comuns A greve da Companhia deCimentos foi uma vitória contra o espírito racista que o patronato nta encorajar emanter.O QUE FAZ O CAF DE ANGOLA TAO FAMOSO E DIFERENTE?INFORMAÇÓES:INSTITUTO DO CAFE DE ANGOLA FtU'O DE FOWENlO E DE PFCRNIUADO C P. 342 WAI - ANGOLA CAFE MIM~ DO ULTRAMA - L~ 3*l i O i i 0!l SleII!l i ti | 5ll !O ti Oll !1

neste dia de festa o MONTEPIOPE MOÇAMBI QE e-icitaa popucw de(VLA PERY(

fÇ i! e i!i!i iA EFDA POLITICA DOS SUBSÍDIOSTem havido no esquema de acção do pseudo desporto moçambicano o recurso aosubsidio, sendo que a atribuição deste terá tido (e pedido) a sua contestação, vistoque foi sempre subjectivo o critério atribuitivo.Será ainda de referir que a atribuição de subsídios oficiais tem tido até aqui maisde uma origem o que não nos parece método apropriado. Efectivamente, ao que sejulga saber, o Conselho Provincial de Educação Física e Desportos tem atribuídosubsídios voluntários e por mando das hierarquias que lhe são superiores -

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Secretaria de Educação e Governo-Geral. Além destes foram tambématribuídos alguns subsídios de verbas próprias do G.G. Assim, quanto a nós,temos estado perante um sistema anárquico (não no sentido ýas teoriasanarquistas) que, almente não terá trazido benefícios conducentes com os gastospara o todo da causa desportiva moçambicana.Relativamente ao que temos vindo a referir - uma errada política de subsídios(sem embargo dos que possam ter sido correctamente atribuidos) - bastarálembrar que têm usufruido subsídios colectividades desportivas que têm nas suasequipas de jogos praticantes profissionais ou de alaum modo gastam unscobres com praticantes desportivosque nos parques desportivos as representam. Note-se bem que não estamos aqui acomentar estes aspectos de linhas de orientação das colectividades, estamos sim,ao pôr estes factos em evidência, a mostrar o equivoco que tem sido até aqui apolítica de subsídios. Porque até há mais casos a considerar.A extinta Mocidade Portuguesa não obstante as verbas próprias de que dispunha edas facilidades inerentes à sua condição de organismo querido do regime deposto,também beneficiou dos seus subsidiozitos do CPEFD.Neste meio tempo, as que poderemos chamar colectividades populares vegetavame tinham asý suas dividas, por exemplo, na associação de futebol de L.M.; quandoda realização das populares provas pedestres das léquas de 24 de, Julho e doNatal, essas mesmas colectividades (populares) não apareciam ou marcavampresença com p o u c a representatividade. Assim as provas não eram tãopopulares- como isso. Também nestes dois casos queremos salientar a erradapolítica de subsIdios emanados de gabinetes onde nem sempre, pelos vistos,checavam as carências dos clubes populares ou onde os diriqentes destes nãoentravam a pedir Dor acanhamento ou falta de crenca no resultado da solicitação.Se passarmos em revista as verbas distribuídas sob o rótulo de subsídios teremosde convir que estes, em muitos casos, apenas serviram acções de fachada,colectividades burguesas, actividades dèsportivas sectoriais. Nesta altura impõe-se nova anotação: não estão em causa os direitos à vida das colectividadesdesportivas burguesas e das práticas apenas acessíveis a pequenas camadas dapopulação. Não é isto que agora se contesta. Nem tinha .jeito; apenaspretendemos dar mais uma prova da errada política de subsídios que temvigorado no desporto de Moçambique e que, no fundo da questão, nenhum vigorlhe tem dado. Antes de precisarmos com números e nomes alguns dos s u b s i d io s anteriormente concedidos afigura-se-nos importante levantar a questão paraque todos se debrucem sobre o assunto a fim de ajudar a reforma do sistema (desubsídios) que deverá ser' feita e na qual todos quantos estão empenhados,individual ou colectivamente, nas questões desportivas devem participar.Tudo isto ainda nem significa sequer tomada de posição em favor dos subsídios.Até se oderá concluir que o subsidio, tal como a esmola, é prova da, má formaçãoda sociedade.Agostinho de CamposPÁGINA 57nIRS1%BIV

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AS (DIFERENTES) AMNISTIAS NO DESPORTO.A Associação de Desportos de Moçambique em seu comunicado n.' 31, de 5 deJunho findo, faz, em termos genéricos, unpa grave acusação aos e&pectadores doúltimo campeonato nacional de bola-ao-cesto. Temos de interesse o reflectir umpouco sobre a natureza do assunto versado naquele documento que visa, afinal,conceder um louvor a todo o pessoal de campo que actuou no (dito) campeonato.Principiaremos por referir que o texto em causa espelha um aspecto importante (ereal) do fenómeno desportivo em Moçambique. Bem, em Moçambique é umagrande força de expressão dado que ainda.não temos um verdadeiro desporto deMoçambique. Mas concedamos, nesta altura, que a expressão tem a validadedaquela grandeza; de qualquer modo, e sem que possamos dar ou tirar força àocomunicado vertente, temos de reconhecer que há, realmente, faltas de civismopor parte da assistência. Que o reconhecimento dessa falta de civismo fique só porali (pela assistência) é que não acreditamos. E também não nos parece que umlouvor geral adiante alguma, coisa para o processo que é necessrio abrir -enfrentar a indisciplina reinante no desporto. A concluir: o bem intencionadocomunicado da ADM está na linha do tradicional. Dentro da ordem-(que não tem ordenado estas coisas),Entretanto em próximos acontecimentos ditos desportivos (e do seu espectáculo)voltaremos a ter, muito possivelmente, comunicados bem intencionados, comoeste, mas que nada resolvem, De facto não será com louvores ou comunicadoslamentosos que vamos conseguir educar e sanear. Por exemplo, todos soubemos -ou pela rádio ou jornais - que em jornadas desportivas posteriores, e caseiras, e nofjitebol, registaram-se cenas desagradáveis.' n orocesso evoluirá enquanto omsm=o não for inteiramente aberto. Mas isto é também outro assunto. Dppois,quem está interessado em moralizar?r',ois do que se escrev,. insistindo em afirmármos não duvidar da boa-fé da ADM,passemos qo teor do comuntcado em questão que até principia em termos de notade repartição pública. Em termos usuais mas absolutamente errados, acrescente-se. De facto a expressão devidos efeitos não é nada.Mas vamos ao texto:«Para conhecimento, edevidos efeitos se comunica o seguinte:-Teve lugar recente.mente, nesta cidade, o campeonato de Portugal de basquetebol da categoria deséniores.«Para além do êxitodesportivo que tal competição originou há que destacar aspectos humanos queem muito contrib íram para que se verificasse tão ássinalávelêxito.«Dentro destes, justo édestacar,,apesar de ali se encontrarem numa situação de empregadosremunerados, o pessoal que actuou nas bilheteiras e nas diversas portas de acessoao pavilhão. E justo é de destacar porque não há dinheiro, infelizmente, que possapagar os insultos, agressões e vexames que aquele ,pessoal foi vitima durante osvários dias em que teve lugar a disputa daquele campeonato,

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«Assim, a Direcçãodesta Associação em sua reunião de 5 do corrente deliberou LOUVAR todo opessoal de campo que actuou no campeonato nacional de basquetebol pela formacomo soube encarar certas atitudes mpensadas, demonstrando com a sua actuaçãoserem credores da nossa admiração e respeito por terem sabido encarar comeducação todos os actos de provocação, insultos e agressões de que foram alvosno desempenho dassuas funções.»Dissemos que íamos apenas reflectir sobre a natureza do. assunto, o que excluiauma análise do comunicado (que se insere, aliás, repetimos, no usual). S6 queassim não vamos lá. Felizmente que o nosso panorama desportivo é limitado.Queremos dizer: não é a maioria que violenta as regras e a ética do desporto; enão é a maioria porque nele tem pouca particinação. Para um bom entendedor.,.oEm Portugal a estrutura do futebol já regista convulsõesý resultantes domovimento que há-de transformar a sociedade portuguesa. Estamos a pensar noscasos de uma colectividade que declarou abandonar o profissionalismo e naextinção do futebol da Associação Académica de Coimbra.Eis duas lições que não devemos perder, aqui, em Moçambique.Qvem quiser sustentar (e animar) o profissionalismo não deve pensar emsubsídios ou quaisquer auxílios oficiais. Relativamente ao caso da A.A.C. somosremetidos ao pensamento da necessidade de reestruturar o desporto escolar,certos, naturalmente, que a mesma reestruturação se inserirá numa planificaçãogeral.O caso, distante, da A.A.C., faz-nos pensar também na urgente necessidade derefundir todo o esquema de acção gimnodesportivo dos clubes Ferroviários c u jaactuação está longe de servir a grande classe ferro'viária, como já o temos dito(sem qualquer êxito), E mesmo para o desportp universitário.Também em desporto não podemos perder as lições passadas, as experiênciasalheias, e a$ nossas. Agora, no limiar de nova aurora, estamos a recordar-nos dedois acontecimentos de grande vulto dos quais são ainda hoje duvidosos osresultados finais em termos de efectivamente terem servido Moçambique nocampo desportivo.Foram eles o 1 Simpósio Internacional de EducaçIo Fisica e o Campeonato doMundo (de vela) na Classe «Vaurlan». Acompanhámos intensamente o primeiroe estivemos alheios ao segundo, Pela experiência do primeiro podemos arriscar amesma interrogativa para o

W . ...N »' ' 4 .,segundo: que ficaram daquelas organizações? Dizia-se, então' que o interessepolítico que os acontecimentos envolviam não era para desprezar; cuidou-semuito e bem para os visitantes ficarem com uma boa imagem de Moçambique,então Província. Não se duvida que tal se tenha conseguido. Mas qual a

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dimensão e profundidade dessa boa imagem? Qual o seu custo em termos degastos e do que se não fez e poderia ter sido feito com as verbas despendidas?Não interessará inventariar ,os acontecimentos, mas foram lições que não devemser perdidas.Recentemente uma colectividade modesta (o Atlético de L. M.) dirigiu-se àAssociação de Futebol de L.M. alertando-a para algumas actuações de equipasde arbitragem que náo prima.ram pela isenção. Procúrámos indagar alguma coisa e chegámos à conclusão doclube, ter boas razões. Não se pode ser pequeno, nem mesmo em desporto ondeaigunsingénuos pretendem ver escold de virtudes.Último argumento de que assistia razão ao, modesto Atlético L.M.: não soubemosd divulgação da carta nem dereacção dos visados.Não adianta nem vale a pena escrever " eja o que for sobre a indisciplina do (nocaso) futebol laurentino. Um dos últimos comunicados da Associação dD Futebolde L,.M, até fazia ailiç8o. Aliás nem era inédito. Montes de punições. Mas n8osejamos chatos, isto é mesmo assim. Se os dirigentes dos clubes nem sempre seinteressam (ou podem interessarse) por estas coisas para quê cuidados? ,O h6quei em patins laurentino, agora pela equipa do Desportivo, fez mais umesforço (e bem grande foi) pela sobrevivência. Foi o caso da sua presença nadisputa da «Taça dos Campeões Europeus» (o que já por si é discutível). Mas nãonos iludamos, é modalidade difícil de! vingar e inacessível às grandes massas. Écoisa condenada. Condenadissima pelas exigências que encerra. E por outrascarências.De novo há quem agite a questão do Estádio Municipal. É problema que, agora,também o gostamos de sacudir; embora para contrariar a ideia da sua necessidade.É que não achamos mesmo nenhuma necessidade num tal empreendimento.Moçambique não vai- querer ser um país de desportistasde bancada. Do que se precisará, isso sim, é de parques desportivos funcionais eabertos com todos os meios para as práticas desportivas. Recintos paraespectáculos, instalações para o «desporto de bancada» já temos. Chegam paraagora. O que ainda não conseguimos arranjar foi maneira de fazer do exercíciodesportivo matéria constante do esquema da educação integral dos individuos.Promovidas pelo CPEFD tiveram lugar duns reuniões programadas' paraassuntos de vela e 'atletismo. Crê-se que numa e noutra veio demonstrar-se a faltade hábito em que todos estávamos para discutir problemas conjuntos. Mas épreciso continua A habituação surgirá, Teremos de aprender à nossa custa.A. de C.

~- -~--~~A INDISCIPLINA NO, DESPORTO NAO E ACCAD DA MAIORIAAté 25 de Abril de 1974não poaamos aceitar como válidas e puras de intenções as amnistias para aspenalidades que se cumpriam por faltas no campo do desporto e do seuespectáculo, E porquê?Pois diríamos que porvários motivos a seguir, e

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em resumo, apontados.Não havia, como aindanão pode haver neste momento, o que se compreende, a clara destrinça entredesporto-desporto e o espectáculo desportivo, pelo que as tabelas punitivas dasfaltas e violações aos códigos desportivos obedeciam todas à mesma génese, istoé, inseriam-se na linha dominante - o espectáculo desportivo. Daqui parece-nosnão haver qualquer dúvida do -desequilíbrio existente na forma de aplicação dajustiça; efectivamente o espírito dos códigos situava no mesmo plano praticantesdesportivos profissionais que os temos - assim como os mais-ou-menos e osefectivamente amadores. Enfim, não era uma justiça justiceira, digamos (se bemnos fizemos entender). Ora, tendo em consideração a tónica dominante dos ditoscódigos desportivos o seu espectáculo - somos remetidos para a concepção maiscorrente que ,se tinhaw~De novo, e mais uma vez, queremos chamar a atenção para o absurdo doanunciado campeonato de futebol de Moçambique, programado em tempo de«orgias», já que o mesmo, custaria largas centenas de contos sem se vislumbrar econtra-partida moçambicana.A prova proposta não será um campeonato luxuoso em terra de desporto po-(e , ainda existe) do desporto e que se inseria na filosofia oficial do regime queviolentava o pais. 14a aparência e com alguma realiuade, havia uma certaliberdaae; nalguns casos era até mais que relativa. Infelizmente porém aliberdade exercida definiu parâmetros de comportamento para as pessoas ligadasou interessadas na coisa desportiva conduzindo-as a um quase constante estadoemocional, dividindo-as a troco' de glórias clubistas que até se chegavam a situarnas preocupações (ou em metas) nacionais. Mas aqui não vamos mais longedado o propósito nao ser de análise mas sim justificativo de uma nãoconcordância.Assim, e para abreviar razões, diremos, retomando as primeiras linhas doperíodo anterior, os códigos penais do desporto sempre se apresentaram, quanto anós, de eficácia duvidosa, já que inferimos dos mesmos o propósito de, em últimaanálise, nunca desmantelar o esquema alienatório do espectáculo do desporto.Assim, para apressar o juízo, as amnistias só serviam para, revitalizar asmotivações do espectáculo desportivo decorrente (ainda o mesmo, aliás) e paramanifestações de paternalismobre? Não será um campeonato rico a servir apenas, e só, numa pequena parte dacomunidade moçambica-, na, já que a representatividade do povo é mínima?Ontem tudo se inséria num plano que entendia projectar Moçambique,desportivamente falando, socorrendo-se de factos isolados ou não representativospara agitar o meio desportivo lo-tão correntes no tempo da «outra senhra» que se aeseja jamais' ressuscite.Para concluir: as amnistiasdesportivas eram mais uma habilidade que os donos do pais tinham na manga eque, reconhecemo-lo, as grandes maiorias do desporto (na verdade minorias)aceitavam com júbilo, palmas e quiçá telegramas pois estavam (e estão)narcotizadas. No desporto havia liberdade, a liberdade dos'estádios desportivos. E

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gozámos tanto esse tipo de liberdade desportiva que temos de reformar quase tudose quisermos avançar. Estamos praticamente no zero em termos moçainbicanos.Hoje-porém abrimos uma excepção. Vamos explicar: O C.P.E.F.D. difundiu, comdata de 8 do corrente o seguinte comunicado:Considerando que oMovimento das Forças Armadas, em tão boa hora levado a efeito com a intençãode resolver a crise nacidnal . que Portugal atravessava, deve ficar gravado namemória de todos os que, de qualquer forma, se encontram ligadOs ao Desportode Moçambique,Considerando que aproclamação da Junta de Salvação Nacional *vical (restrito) alcandorando-o aospináculos da lua.Subsídios, deslocações, organizações de provas para as quais sempre haviaorquestração apropriada -nos órgãos de informação falada e escrita. No entanto orei ia,. na verdade, nu. Parece-nos portanto ser de reconsiderar os moldesestabelecidos para o dispendiosissimo e (enganoso)dencia a prop6sito d reintegração de todos a portugueses no pleno, g zo dos seusdireitos dhomens livresConsiderando que o -2de Abril. é um marco assinalar o desejo d união, o espírito de r conciliação e aamizad, que devo existir entre te dos os homens de boivontade;Determino que cessemno Estado Português do Moçambique as pena aplicadas a todas as on tídadesgimnodesportüvas bem como os processo disciplinares em curso, li ca'ndo aquelasportantc em condições de regres sar imediatamente ãs acti vidado .gimnodesportivaEsta uma amnistia certa Surgiu é certo só 13 dias depois do dia que foi um marco(não fosse o diabo tecê-las), mas compreende-se que o insensibilizado des. portoainda não se aperceba que num PAIS NOVO terá de haver um DESPORTONOVO. Daqui para diante não mais amnistias no desporto mas códigos eesquemas actuais e conducentes com as realidades e abertos a novas perspectivas.campeonato de futebol de futebol de Moçambique. Há despesas , mais lógicas. Eimportantes.Demais, em nosso entender, e dizemo-lo mais uma vez, o processogimnodesportivo de Moçambique tem de ser refundido. De alto a baixo.Oe

notas ue out00u, i, deu o banco em pado conheciment de anúncios pu imprensa,aprovei r"joí para - uma- chamar .a atýpúblico para uma notas roubadas ea i,( bordo do navio eram transportad;Lourenço Marques mando que essas notas não seriam a trocadas nas sua!Alegou-se, em -jeite ificação para esta o facto do roubo se ficado antes daqueZerem entrado em e

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Ora, maia importanteque conhecer a Iocalizaço tamporal do roubo, é saber, em que altura foram ouvoser as notas subtraidas apresentadas ao BNU. Evidentemente que se o fossemantes da sua entrada em circulação, não seria legitimo exigir-se-lhe que asaceitasse como boas; outrotanto já não acontece no caso Inverso,que é efectivamente o quevai verificarA processarem-se as coisas como foi decidido por aque." l- instituição bancária,tor. na-se oportuno . perguntar quem foi afinal o-roubado: o banco ou público emcujas mãos vieram a cair as cé(aulas roubadas e posteriormente adquiridas numatransacção legal?Pretender que as pessoasROUBADAStragam permanentementeconsigo - ou os decorem os números da série escamoteada no navio é, para alémdos aspectos caricatos de que se reveste no plano fun.cional, transformá.las em fiscais da entidade roubada.E é acima de tudo unia posição 'cómoda, na medida em que pretende anular osefeitos de um roubo de que se foi vitima, transferindo-os para aqueles que, pordis.tracção ou desconhecimento, venham a aceitar as notas em questão. Esses é quevi.rão. a ser os verdadeirosroubados.A publicação de anúnciosadvertindo o público da disPosição do banco emissor de recusar a aceitação dasnotas desaparecidas, num total de quinhentos contos, não parece medida nemsuficiente para evitar prejuízos a terceiros (há multa gente que não sabe ler ou nãopercebe português) nem legitimia, Posto que os inconvenientes de um roubodevem s er suportados pelo proprietário da coisa roubada. Em última análise, seos volumes viajam a coberto do seguro é, à compania seguradora que competepagar a correspondente indemnização.o público, seja qual for oprisma pelo qual queiramos encarar a questão, é que não deve ser de modo algumposto na situação de ter que vir a pagar da sua bolsa oroubo cometido.DO REFERENDO?Ultimamente várias pessoas têm-se manifestado contra o referendo e a favor daconcessão imediata da independência o que significa a entrega do Governo deMoçambique à Frelimo Ora o programa deste movimento não é só aindependência. Em vários -documentos notáveis a Frelimo tem afirmado que nãoé racista, que não preconiza o nacionalismo negro, que é contra a substituiçãoduma burguesia branca por uma burguesia negra, e que quer instaurar emMoçambique o socialismo que podemos classificar do tipo marxista maoista.Portanto, se o Governo Português entregasse o poder político à Frelimo, sem umaconsulta democrática ao povo de Moçambique, teria sido Portugal que teria

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decidido qual o Governo e regime deste Estado'e não o seu povo, o que seria nãosó hntidemocrático como uma manifestação de colonialismo.A favor da sua tese os oponentes do referendo têm avançado vários argumentos.O primeiro é, que a Frelimo representa a maioria da população de Moçambique eque o seu programa político é o que convém a este Estado. Nos regimes fascistasé que uma pessoa ou grupo se arrogam o direito de decidir quem é a maioria equem é a minoria e se um dado programa político convém ou não aos in ressesdesses estados. Assim o faziam S azar, Hitler e Mussolini, que senrprermavam que representavam a maioria que estavam servindo os interesses,iperiores das suas nações. Na democracia , o povo que decide, através duma con-.t ta referendária ou eleitoral, quem é a maioria e o regime que quer. Quando nãoé o povo a decidir não- há democracia.O segundo argumento é o direito que a Frelimotem, devido a dez anos de lutatenaz. Em Portugal, o partido comunista lutou contra o fascismo durante muitomais anos. Apesar diso, não exigiu que se instaurasse o comunismo, aceitou oprograma das Forças Armadas, fazer parte de um governo provisório decoligaçào e que o futuro regime político de Portugal fosse decidido por umaconsulta dem'trítica ao povo. O terceiro argumento é o reconhecimento daFrelimo por governos estrangeiros e organizações internacionais. Este argu.mento não tem razão de ser. O actual governo do Chile é reconhecido pormuito inais governose organizações inter. nacionais, e julgo que só os fascistas éque afirmam que ele é o governo que o povo chileno pretende.O reconhecimento que mais interessa a um governo de Moçambique é o do seupróprio povo, livremente expresso através duma consulta referendária. O únicoargumento que se poderia opor a uma tal consulta seria alegar a incapacid,3de dopovo de Moçambique para tal. Portugal afirma que ele tem o direito e capacidadepara se.auto-determinar e, portanto, o direito de escolher a independência, e quenão compete ao Governo Português decidir qual o futuro de Moçambique, ouconceder a independência, mas simplesmente reconhecer a decisão que o seupovo tomar democraticamente. Quem é que pretende negar à gente deMoçambique tal direito ou capacidade?João de Sã Nogueira

COMPANHIA INDUSTRIAL DA MATOLA, S. A. R. L.PALAVRAS CRUZADASHORIZONTAIS: 1 - Massa informe; antiar. 2 - Letra, aguardente de cereais;ovário de peixe, 3 - Abcesso no úibere da vaca devido à febre do leite; fechar asasas para descer mais rapidiamente. 4 - Festas de Dionisio Zagreus, celebradasnas confrarias õrficas. 5 - Cortam rebentos (de plantas), 6 - Emprego terapêuticode soros, 7 - Acalentar. 8 - Aquela que ata (*). 0 - Quantia malaia equi. valente a40 mil êruzados; habilidade. 10 - AbundAncia (fig.); antiga moeda de prata, naPérsia; personificação do dia, na mi.t, escandinava. 11 - Capital europeia; diálogo.VERTICAIS: 1 - Duna; arbusto da fam, das legumino. sas papilionãceas 2 - Potede barro; brado, clamor; gritos de dor, 3 - Contente; ilha do coral, 4 = Antigomagistrado grego que, antes de Sólon, tinha o poder de legislar, e, depois, foisimples executor das leis. 5 - Bom lucro ou quinhão (fig.). 6 - Desprezar. 7 -

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Esponja coralina de Timor, 8, - Padre (deprec.). 9 - A vista disso; espécie deesquilo lanoso. 10 - Nome próprio feminino; espaço de, tempo; bigorna deourives, 11 - Mulher de Abralo, mãe de Isaac (BIbl.); braga de ferro com que seprendiam os pés dos escravos fugitivos,SOLUÇAO DO PROBLEMA ANTERIORHORIZONTAIS: 1 - Cepo; lpo, Safo, 2 - Aro, amelo, sal, 3 - Pele, ora, acre, 4 -Abolir, recado. 5 - Anáfise. 6 - Ctil, acne, 7 - Porém, odiar. 8 - Ara, oras. 9Ignóbil, 10 - Tornou, Lahore. 11 - Laia, iça, anei.12 - Ida, abeto, clã. 13 - Madi, Ama, caos.VERTICAIS: 1 - Capa, Ope, tlim, 2 - .rebo, toada. 3 ---Põlo; ura, Riad. 4 -Elaterina. 5 - Inimigo, 6 Imoral, anulba, 7 - Per, cem. 8 -. Olaria, oblata, 9Escória. 10 - Acendialha. 11 - Asca, Eis, Orca. 12 Fardo, grelo. óleo, crê, elas,I A'10 S

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Em matéria de liberdade de imprensa muita tem sido a confusão gerada nos últi.mos tempos, facto de que ninguém se deve admirar, visto que, em maior oumenor escala, essa confusão se tem estendido a todos os sectores da vidanacional. De facto, restaáradas as liberdades fundamentais com a revolução de 25de Abril, os portugueses viram-se repenti. namente perante uma situação nova,que originou o 'desencadeamento de proces. .Sí>s reivindicativos, a todos osníveis, organizados na maioria dos casos sem o apoio <te estruturas adequadas eperturbando o normal andamento da vida nacional. De todas essasmanifcestaçoes, greves e exigências de saneamento de quadros, também muitashouve impulsionadas por meros interesses individuais, que os seus mentores oufomentadores procuraram confuódir com a vontade colectiva, aproveitando-seprecisamente do clima de tensão e da barafunda que tem side a nota dominante (aactua. lidade.A imprensa, como sector importante no domínio (la informação pública, nãopodia escapar a este estado de coisas, principalmente se atentarmos no papel

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impor. tante que lhe cabe na presente conjuntura, em que a divulgação dosacontecimentos e das correntes ideoló. gicas em jogo assume uma relevániaparticular.Por liberdade de imprensa entende-se geralmente e de imediato a sua nãosubordinação ao poder governativo. Isto é, a existência de uma imprensa nãocoagida pelo poder constituído a submeter-lhe previamento todos os or:inais quepretenda divulgar, e a sofrer as consequentes penalidades sempre que não respeiteas normas oficiais a esse propósito postas em vigor. Desde que o governo nãointervenha na modificação no supressão dos notiliários e outros textos a puLiicarpelos jornais - como acontece nos regimes totaltários quersejam das direitas ou das esquerdas - a liberdade de imprensa existe, por ausên.cia de mecanisr.Os legais que com (ela inerfiram.Seria n entanto ingenuli dade p -nsar-sc que a actividade jornaística se pudesseproces,;ar sem urna adequada lcgisl:atfo que prevenisse ou acaLi:classe osexcessos por ela ou através dela cometi. dos. A liberdade pressupõe resp-m.:;abilidades, tal como os direitos implicam obrigações. At nao ser assim, aimpr'n'iA colocar-se-ia numa injustificada situaçao de privilégio, posto que lheseria possível dcsfcrir os golpes que enlendesse e contra qjem quisesse, semque aos atingidos, individual ou colectivamente fosse reconhecido o direito àdefesa, ou até a acção mais ampla, através das compz'tentes vias judiciais. Logo, aexistência de leis reguladoras da activida. <te jornalística, definidoras das suasresponsabilídades, de nenhum moe'., se pode entender como condicionante dasua liberdsde de expressão, desde que no articulado dos respectivos diplomasnada exista que a is.;o possa conduzirlá no entail:. ainda dentro do domínio da imprensa, um outro tipo de liberdade (c éeste, actualmente, o mais controverso) que se refere aos -jornalistas propriamenteOitos. A>é que ponto são eles livres? E, feita esta pergunta uma outra se mostrapertinente: a liberdade absoluta existe'?A resposta a esta segunda pergunta 'parece-nos que terá de ser forçosamentenegativa, 'na medida em que a liberda. de não pode ser absoluta, atendendo àsbarreiras naturais que lhe sãd opostas por múltiplos e inevitáveis fac. [ores.A liberdade dos profíssio<sais da imprensa tem de ser analisada (nem outroprocesso se concebe) no âmbito dos órgãos informativos para os quais exercem asua actividade profissional.. Se nos enquadrarmos num regime de liberdade eportanto deimprensa livre, forçoso é reconhecer-se aos jornais o direito (e a negação desteseria um atentado à própria liberdade) de adoptarem a linha de rumo queentenderem. Deste modo, variando as tendências e as ideologias, é perfeitamentelegitimo que num periódico duma determinada orientação se não-publiquem textos que a contrariem ou ponham em cauisa.Alguém concebe que num jornal católico se faça a propaganda do ateísmo? Ouque num órgão comunista se propalem as delícias do paraiso capitalista?A própria coerência nos diz que não,Se um jornal é apolítico, ou seja, sem uma linha ideológica própria e portantoaberto a todas as correntes, então cabem nele as mais diversas opiniões sem queisso de algum modo signi. fique quebra de princípios.

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Portanto, a liberdade do jornalista é, no plano interno dos jornais, rdeterminada econdicionada pelas linhas de rumo definidas pelas respectivas direcções. Esteprinc. pio, contra o qual não nos parece fácil arranjar argumentos que a ele seoponham, vigora em qualquer lado on. de haja jornais, mesmo nos países de maislongas tradi. ções democráticas. E o nosso caso não poderia ser uma excepção.É certo que até aqui, ou para sermos mais exactos, até à queda do antigo regime, aexistência de uma cen. sura oficial não permitia outra linha de rumo que nãofosse a preconizada pelo par. tido único. Todos os jornais tinham portanto queafinar pelo mesmo diapasão, inde. pentemente da formação fi. losófica doselementos, que constituíam os seus corpos redactoriais. Uns mais, outros menostodos eles acabavam por fazer a propaganda do governo ou viam-se compe. lidosa assumir uma posição anódina, porque outra atitude não lhes era consentía.*Com o fim da censura oficial e o advento da liberdade deimprensa, uma vez que i todos Os jornalistas pen, de igual modo - e o on rio é queseria para estran- algum deles têm nece riamente que continuar submeter-se às directrizes çadas,desta vez não I governo mas sim pela hie quia de cada um dos jorr Que tanto podeser detei nada pelos proprietários a vês dos respectivos reprei tantes ou pelasredac (neste caso talvez de aco com a vontade da maioria porventura aqueles nãoserem ou não estiverem teressados em interf( Têm, no entanto, em q queraltura, possibilidade o fazerem.Isto, quer agrade ou nã uns ou a todos, é efect mente o que se Verifica, qualquerlado onde exis jornais e seja reconhecid direito de propriedade.Pensar o contrário é i tender ignorar as realida ou acreditar em solus utópicas.Em termos de democr- e esta não só não é clusivo de alguns como pode fundamentar-se em vicçõesdogmáticas - há reconhecer a cada um o reito de governar e dirigi sua casa comomelhor en der, de acordo com a s ,próprias convicções. Pre der forçá-lo a fazer ocon rio seria negar-lhe uma berdade que lhe assiste, tude normal e correnteregimes totalitários.Podemos sem dúvida cordar das opiniões dos tros e até combatê-las, i não temoso direito de ex que eles não tenham opiniSe um determinado gr político resolve a certa a ra fundar ou adquirir jornal, estáno plenlssý direito de fazer dele o po-voz da sua ideologia. Cc também está no direitoimpedir que o jornal utilizadopara fins que aqueles que preconizou.A liberdade é um bem deve ser igualmente por dos repartido.

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