SALVADOR SÁBADO 23/8/2014 3 2 Como o personagem é um alienígena que muda de corpo de tempos em tempos, a mudança não foi um grande problema para a produção papel. “Nem sempre a série teve tanto dinheiro. Alguns desses caras trabalharam com mais di- ficuldades do que eu”, explica. A mudança ocorreu a pedido do ator Matt Smith, último in- térprete do personagem, que pediu para deixar a série. Como o personagem é um alienígena que muda de corpo de tempos em tempos durante Aparecida era do mar Esta não é a estação das baleias desarvoradas. Aquelas que se aproximam demais, se lanham nas pedras por onde o mar, sorrateiro, se insinua famélico em certas praias e agonizam. A última baleia de que ouvi falar envolvia episódio com Apare- cida, idosa vizinha da nossa ilha. Da janela em que me havia debruçado para saudar o dia, avistei Aparecida. O mar pare- cia remansoso, exaurido como se acabasse de parir com dores. Parada, mão na boca, Apare- cida era o instantâneo fotográ- fico de alguém colhido à beira do pânico – ou do pântano. Ia banhar-se na praia da Concha, sua preferida, quando avistou a mancha assustadora. Seria o dragão do mar? Logo, ela se recompôs. Algo gerado em monstruoso ventre arribara à costa. Convinha ver de perto. Aparecida benzeu-se. Acaso seria o gigante Adamas- tor ou aquele sáurio que os es- coceses divisam no Lago Ness? Eis, a cautelosa distância, o monstro inerme, em toda a sua colossal inteireza. Parece agora um reles lagarto. Sem cavalo branco, sem armadura, sequer uma lança, Aparecida soltou, então, um muxoxo de desdém. Pois é, até os gigantes se de- sagregam. “Ave, Cetus”, disse Apareci- da, em voz alta. Porque havia naquele instante identificado o monstro vencido pelas marés rasas e rochedos cortantes. “De longe vieste, Hvalt, dos gelados mares nórdicos”, ela saudou com reverência. “Que teu espírito, Whale, retorne à Islândia, antes de te destroçar- mos o dorso, que de óleo pre- cisamos muito para as nossas candeias”. E ela própria, em golpe rá- pido do facão que sempre tra- zia, prevenida como era contra o Mal, abriu na pele alvacenta um rastro de sangue. Foi o sinal para que todos os ilhéus acu- dissem, armados de acas, ma- chados e macetes. Destruir monstros requer pa- ciência e denodo, mesmo quan- do feridos. Cetus é mais difícil de desmanchar do que uma casa. Culpa do quê, culpa de quem? Se deu à praia foi porque tinha encomenda a entregar. Nada acontece à toa. Dizem que os botos devolvem náufragos à terra firme. Houve um poeta antigo, um aedo, que encantou os delfins com sua flauta me- lódica – e eles o salvaram. Há sempre um desígnio nos nau- frágios. Serena, Aparecida acompa- nhou a limpeza completa de sua praia – aquela Praia da Concha, aconchegante e cálida como um abraço. Precisava curar o reumatismo, o banho de mar era receita encontrada em per- gaminho egípcio. Aparecida tinha crescido sem prestarmos atenção, e envelhe- cido sem que lhe estranhásse- mos as rugas e os passos va- garosos. Jamais se unira a um homem, todos os pescadores a respeitavam e veneravam. Aparecida era do mar. Gos- tava de olhar o mar, de son- dar-lhe as inconstâncias, os ar- rebóis e as torpezas; horas se- guidas nós lhe víamos o vulto sobre uma pedra, ou na areia. Arrimada a um rochedo, ou sen- tada, a cabeça sobre os joelhos dobrados, Aparecida sobraçava a si mesma, na distância. À espera de outro cetáceo? Suponho que tirasse sabedoria de seus mudos diálogos com o mar – mas, nesse caso, o que esperaria que o mar afinal lhe segredasse? Porque se o mar nos escuta, coisa do que duvido, nada responde. Ele simples- mente existe, talvez tenha a idade da Terra e encha uma eternidade de monólogos. Sim. No máximo o mar lhe diria: “Não me pergunte. Nada sei. Apenas sei que sou e es- tou”. Aparecida voltava para casa pacificada, sempre com um le- ve sorriso nos lábios murchos. Ou o mar lhe dissera uma ver- dade, uma grande verdade imorredoura em linguagem inaudível, ou então a sabedo- ria estava nela, somente nela, e dependia somente de que uma onda a lambesse para sal- tar à tona. Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia ROCK Dave Lombardo ensina sua técnica em misto de aula e apresentação no Sitorne Ex-baterista do Slayer faz hoje workshow no Rio Vermelho FERNANDA SOARES Rapidez, habilidade e agressi- vidade são características que definem bem o modo em que Dave Lombardo assume a ba- teria nos shows. Considerado o padrinho da técnica do bumbo duplo pela revista Drum- merworld, o músico ministra sé- rie de workshows no Brasil du- rante duas semanas, estreando hoje na capital baiana, às 17 horas, no Café Teatro Sitorne (Rio Vermelho). O baterista de origem cubana contou em entrevista ao A TAR- DE que estava ansioso para vir ao Brasil, depois de ter realizado pequenas clínicas na Europa no começo do ano e ter outra série planejada para novembro. Viagem pelo Brasil A apresentação em Salvador se- rá a única no Nordeste, com Christy Borgman / Divulgação Dave Lombardo começa na Bahia um giro por 10 cidades do país abertura do baixista soteropo- litano Joel Moncorvo (Slow). Na ocasião, haverá sorteio de brin- des e um meet and greet (es- pécie de sessão de autógrafos e bate-papo com o artista). Durante os workshows, Dave irá executar composições da época no Slayer e as da atual banda, Philm, além de tirar dú- vidas e aplicar didaticamente suas principais técnicas. Carreira e vida pessoal Para os que não estão familia- rizados com o nome, Dave Lom- bardo foi integrante da banda americana de thrash metal Slayer desde o começo, em 1981. Com idas e vindas na his- tória do grupo, como sua saída em 1986 e em 1992, o músico foi demitido em 2013, devido a conflitos internos. A primeira saída ocorreu para acompanhar o nascimento do primogênito e pouco tempo de- pois retornou às atividades. Questionado sobre desistir da carreira para passar mais tempo com a família, o músico diz que “de forma alguma, todos a mi- nha volta sabem como sou quando o assunto é música”, revela. No começo da carreira, os pais deram suporte para que fosse músico, contanto que tivesse responsabilidade. “Se não fosse por eles, eu não estaria onde estou. Eles nunca desejaram que eu fosse algo que eu não queria”. Considerado um dos melho- res bateristas do mundo, Dave lista os seus favoritos, como John Bonham (Led Zeppelin), Bill Ward (Black Sabbath), Gin- ger Baker (Cream) e Mitch Mit- chel (Jim Hendrix). Os da atua- lidade são Eloy Casagrande (Se- pultura) e Gabe Serbiam (Lo- cust). WORKSHOW COM DAVE LOMBARDO / HOJE, 17H / TEATRO CAFÉ SITORNE - R. DEPUTADO CUNHA BUENO, 55, RIO VERMELHO / R$ 60 + 1 KG DE ALIMENTO NÃO PERECÍVEL (OPCIONAL) / VENDAS NA FOXTROT (PIEDADE E SHOPPING BELA VISTA) O baterista vai executar composições, tirar dúvidas e aplicar didaticamente suas principais técnicas CURTAS Produções do Itaú Cultural em Salvador O Itaú Cultural realiza espetá- culos e entrevistas na 8ª edição do Festival lnteração e Conec- tividade. Amanhã e no dia 28 , às 17h, o Discoreografia, pro- grama da rádio web do insti- tuto, grava entrevistas abertas com os coreógrafos Lia Rodri- gues, Neto Machado e Raul Ra- chou, no café da Aliança Fran- cesa. Já nos dias 28 e 29, às 20h, o Teatro do Icba é palco para as coreografias Fole; Buraco e So- bre Expectativas e Promessas, integrando etapa de difusão do programa Rumos Itaú Cultural Dança. Poesia e ficção são temas de debate O Centro Cultural Plataforma, localizado no subúrbio ferroviá- rio de Plataforma, será palco hoje, a partir das 10 horas, de um debate confrontando poe- sia e ficção. Com mediação de Laura Castro, o encontro pre- tende reunir representantes de ambos os gêneros literários, paratratarsobreoquesefazem poesia e ficção. Entre os auto- res, Perinho Santana, Paraíba da Viola, Orlando Pinho e Ne- gro Davi. O evento integra a programação da 3ª Bienal da Bahia, promovido pela Secre- taria de Cultura do Estado. Livraria realiza oficina musical para crianças A partir das 17h de hoje, a li- vraria Saraiva promove a Ofi- cina de Música para Crianças no Shopping Paralela, com Gabriel Macedo ensinando a garotada a cantar, dançar e tocar instru- mentos musicais. A proposta é que a atividade estimule a per- cepção musical, atenção, con- centração, coordenação moto- ra, além do senso rítmico e cor- poral. NA próxima semana, , também às 17h, Tia Sol vai con- tar a história Os Gigantes. SÉRIE Novo Doctor Who estreia com tom mais sarcástico VITOR MORENO Folhapress, São Paulo Com um novo ator vivendo o protagonista, a série Doctor Who volta – literalmente – de cara nova na oitava temporada (desde que foi retomada em 2005), que estreia hoje. O escolhido para interpretar a 12ª encarnação do personagem foi o escocês Peter Capaldi, que esteve no Brasil nesta semana para divulgar a produção, a mais longeva de ficção científica da televisão. "Sempre fui fã da série, desde criança”, afirmou o ator, que já havia feito uma participação es- pecial na produção em 2008. “Nunca pensei que viraria o Doc- tor Who. Foi uma surpresa”. Sobre as especificidades de sua versão do personagem, ele comentou: “Ele é mais rude, im- paciente e sarcástico, mas cheio de entusiasmo”. Capaldi diz não ter uma ver- são preferida do personagem e que hoje é mais fácil estar no Divulgação O ator escocês Peter Capaldi será o novo protagonista HOMENAGEM Biografia da atriz baiana Chica Xavier será lançada hoje no Pelourinho DA REDAÇÃO A biografia Chica Xavier, Mãe do Brasil, de Teresa Montero, será lançada hoje, às 15 horas, na Igreja N. Srª do Rosário dos Pre- tos. A obra (Editora El Dourado, R$ 29,90) traça a trajetória da atriz baiana que chega aos 57 anos de vida artística dedicada ao cinema, teatro e TV. Chica Xavier, que mora no Rio de Janeiro desde 1953, também será homenageada com a cria- ção do Centro Cultural Atriz Chica Xavier, no bairro de Ramos, idealizado pelo ator e diretor Wal Schneider. Precursora e sím- bolo de gerações de atrizes e atores negros, ela recebeu o Tro- féu Palmares, em 2010, pelo trabalho de incentivo à cultura afro-brasileira. LANÇAMENTO DO LIVRO CHICA XAVIER, MÃE DO BRASIL / HOJE, ÀS 15H / IGREJA DO ROSÁRIO DOS PRETOS (LARGO DO PELOURINHO) / R$ R$ 29,90 EDITAL Sesc abre inscrições gratuitas para o projeto Residência Literária em Paraty DA REDAÇÃO Até o dia 14 de setembro estão abertas as inscrições para o pro- jeto Residência Literária Sesc Pa- raty. Anunciado durante a Festa Literária de Paraty 2014, o ob- jetivo do programa é selecionar um autor brasileiro ou estran- geiro, residente no país, para viver em Paraty durante três me- ses e desenvolver trabalho de escrita literária. Ao final, deverá apresentar ao Sesc a primeira versão do seu livro concluído. Além da hospedagem, o ven- cedor receberá um auxílio de alimentação de R$ 50 por dia durante a residência e auxílio de R$ 15 mil ao longo dos três meses do projeto. As despesas de transporte para Paraty e de retorno após a residência serão custeadas pe- lo Sesc. O edital completo pode ser conferido neste endereço: www.sesc.com.br/portal/cul- tura. um processo chamado de “re- generação”, não foi um grande problema para a produção. Segundo o produtor-executi- vo Steven Moffat, a seleção de Capaldi foi relativamente rápi- da: “Ele claramente havia nas- cido para aquilo”. Quem tem mais dificuldades para lidar com a mudança é a companheira de aventuras Cla- ra, vivida pela atriz Jenna Co- leman, que permaneceu no elenco. "Ela acha bem estranho ele se transformar em outra pes- soa”, conta a atriz. “Eles têm momentos bons, mas a impre- visibilidade dele a faz achar que não o conhece tão bem. É uma montanha russa”. HOJE, ÀS 22H, NA BBC HD