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CADERNO DE PRODUÇÃO TEXTUAL V ÉSPERA ENEM – 2013 8 Linguagens, Códigos e suas Tecnologias OSG.: 74665/13 PROPOSTA 3 Texto I Millôr Fernandes Disponível em http://www2.uol.co m.br/millor. Acesso em 14 jul.2009 Texto II Andamos demais acomodados, todo mundo reclamando em voz baixa como se fosse errado indignar-se. Sem ufanismo, que dele estou cansada, sem dizer que este é um país rico, de gente boa e cordata, com natureza (a que sobrou) belíssima e generosa - sem fantasiar nem botar óculos cor-de-rosa que o momento não permite, eu me pergunto o que anda acontecendo com a gente. Tenho medo disso que nos tornamos ou em que estamos nos transformando, achando bonita a ignorância eloquente, engraçado o cinismo bem-vestido, interessante o banditismo arrojado, normal o abismo em cuja beira nos equilibramos - não malabaristas, mas palhaços. LUFT, L. “Ponto de vista”. Veja. Ed. 1988, 27 dez. 2006 (adaptado). Texto III QUAL É O EFEITO EM NÓS DO “ELES SÃO TODOS CORRUPTOS”? As denúncias que assolam nosso cotidiano podem dar lugar a uma vontade de transformar o mundo só se nossa indignação não afetar o mundo inteiro. “Eles são TODOS corruptos” é um pensamento que serve apenas para “confirmar” a “integridade” de quem se indigna. O lugar-comum sobre a corrupção generalizada não é uma armadilha para os corruptos: eles continuam iguais e livres, enquanto, fechados em casa, festejamos nossa esplendorosa retidão. O dito lugar-comum é uma armadilha que amarra e imobiliza os mesmos que denunciam a imperfeição do mundo inteiro. CALLIGARIS, C. A armadilha da corrupção (adaptado). Texto IV ÓTIMA ESCOLHA, DEPUTADO! VOSSAS EXCELÊNCIAS PREFEREM COM ÉTICA OU SEM ÉTICA?
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Véspera enem – 2013 · renascentista. (…) A escultura Davi, de Michelangelo, é um dos exemplos mais perfeitos da aplicação da proporção áurea. Foi no século XVIII que

Aug 20, 2020

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Page 1: Véspera enem – 2013 · renascentista. (…) A escultura Davi, de Michelangelo, é um dos exemplos mais perfeitos da aplicação da proporção áurea. Foi no século XVIII que

CADERNO DE PRODUÇÃO TEXTUALVéspera enem – 2013

8

Linguagens, Códigos e suas TecnologiasOSG.: 74665/13

PROPOSTA 3

Texto I

Millôr Fernandes

Disponível em http://www2.uol.co m.br/millor. Acesso em 14 jul.2009

Texto II

Andamos demais acomodados, todo mundo reclamando em voz baixa como se fosse errado indignar-se. Sem ufanismo, que dele estou cansada, sem dizer que este é um país rico, de gente boa e cordata, com natureza (a que sobrou) belíssima e generosa - sem fantasiar nem botar óculos cor-de-rosa que o momento não permite, eu me pergunto o que anda acontecendo com a gente.

Tenho medo disso que nos tornamos ou em que estamos nos transformando, achando bonita a ignorância eloquente, engraçado o cinismo bem-vestido, interessante o banditismo arrojado, normal o abismo em cuja beira nos equilibramos - não malabaristas, mas palhaços.

LUFT, L. “Ponto de vista”. Veja. Ed. 1988, 27 dez. 2006 (adaptado).

Texto III

QUAL É O EFEITO EM NÓS DO “ELES SÃO TODOS CORRUPTOS”?

As denúncias que assolam nosso cotidiano podem dar lugar a uma vontade de transformar o mundo só se nossa indignação não afetar o mundo inteiro. “Eles são TODOS corruptos” é um pensamento que serve apenas para “confirmar” a “integridade” de quem se indigna.

O lugar-comum sobre a corrupção generalizada não é uma armadilha para os corruptos: eles continuam iguais e livres, enquanto, fechados em casa, festejamos nossa esplendorosa retidão.

O dito lugar-comum é uma armadilha que amarra e imobiliza os mesmos que denunciam a imperfeição do mundo inteiro.

CALLIGARIS, C. A armadilha da corrupção (adaptado).

Texto IV

ÓTIMA ESCOLHA,DEPUTADO!

VOSSAS EXCELÊNCIAS PREFEREMCOM ÉTICA OU SEM ÉTICA?

Page 2: Véspera enem – 2013 · renascentista. (…) A escultura Davi, de Michelangelo, é um dos exemplos mais perfeitos da aplicação da proporção áurea. Foi no século XVIII que

Caderno de Produção Textual – 2013

2 Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

OSG.: 74665/13

Texto V

O QUE É ÉTICA?

Para Aristóteles, o homem deveria ser correto virtuoso e ético

A palavra ética é de origem grega derivada de ethos, que diz respeito ao costume, aos hábitos dos homens. Teria sido traduzida em latim por mos ou mores (no plural), sendo essa a origem da palavra moral. Uma das possíveis definições de ética seria a de que é uma parte da filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida com a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual. Em outras palavras, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual.

O exercício de um pensamento crítico e reflexivo quanto aos valores e costumes vigentes tem início, na cultura ocidental, na Antiguidade Clássica com os primeiros grandes filósofos, a exemplo de Sócrates, Platão e Aristóteles. Questionadores que eram, propunham uma espécie de “estudo” sobre o que, de fato, poderia ser compreendido como valores universais a todos os homens, buscando, dessa forma, ser correto, virtuoso, ético. O pano de fundo ou o contexto histórico nos qual estavam inseridos tais filósofos era o de uma Grécia voltada para a preocupação com a pólis, com a política.

A ética seria uma reflexão acerca da influência que o código moral estabelecido exerce sobre a nossa subjetividade, e acerca de como lidamos com essas prescrições de conduta, se aceitamos de forma integral ou não esses valores normativos e, dessa forma, até que ponto nós damos o efetivo valor a tais valores.

Segundo alguns filósofos, nossas vontades e nossos desejos poderiam ser vistos como um barco à deriva, o qual flutuaria perdido no mar, o que sugere um caráter de inconstância. Essa mesma inconstância tornaria a vida social impossível se nós não tivéssemos alguns valores que permitissem nossa vida em comum, pois teríamos um verdadeiro caos. Logo, é necessário educar nossa vontade, recebendo uma educação (formação) racional, para que, dessa forma, possamos escolher de forma acertada entre o justo e o injusto, entre o certo e o errado.

Assim, a priori, podemos dizer que a ética se dá pela educação da vontade. Segundo Marilena Chauí em seu livro Convite à Filosofia (2008), a filosofia moral ou a disciplina denominada ética nasce quando se passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os costumes. Isto é, nasce quando também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e consciência moral individuais. Segundo Chauí, podemos dizer que o Senso Moral é a maneira como avaliamos nossa situação e a dos outros segundo ideias como a de justiça, injustiça, bom e mau. Trata-se dos sentimentos

morais. Já com relação à Consciência Moral, Chauí afirma que esta, por sua vez, não se trata apenas dos sentimentos morais, mas se refere também a avaliações de conduta que nos levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir em conformidade com elas e a responder por elas perante os outros. Isso significa ser responsável pelas consequências de nossos atos.

Assim, tanto o senso moral como a consciência moral vão ajudar no processo de educação de nossa vontade. O senso moral e a consciência moral tem como pressuposto fundamental a ideia de um agente moral, o qual é assumido por cada um de nós. Enquanto agente moral, o indivíduo colocará em prática seu senso e consciência, pois são importantes para a vida em grupo entre vários outros agentes morais.

Logo, o agente moral deve colocar em prática sua autonomia enquanto indivíduo, pois aquele que possui uma postura de passividade apenas aceita influências de qualquer natureza. Assim, consciência e responsabilidade são condições indispensáveis à vida ética ou moralmente correta.

Paulo Silvino RibeiroColaborador Brasil Escola

Bacharel em Ciências Sociais pela Unicamp - Universidade Estadual de Campinas

Mestre em Sociologia pela Unesp - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Doutorando em Sociologia pela Unicamp - Universidade Estadual de Campinas

Com base na leitura dos textos anteriores e em seus conhecimentos, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o tema É da ética individual que se garante o bem-estar coletivo, apresentando proposta de ação social, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione coerentemente argumentos e fatos para a defesa do seu ponto de vista.

Instruções:

• Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar osconhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação.

• Selecione,organizeerelacioneargumentos,fatoseopiniõespara defender seu ponto de vista, elaborando propostas para a solução do problema discutido em seu texto.

• Suas propostas devem demonstrar respeito aos direitoshumanos.

• Lembre-sedequeasituaçãodeproduçãodeseutextorequero uso da modalidade escrita culta da língua portuguesa.

• Otextonão deve ser escrito em forma de poema (verso) ou de narrativa.

• Otextodeveráternomínimo15(quinze)linhasescritas.

• Aredaçãodeveráserapresentadaàtintaedesenvolvidanafolha própria.

• OrascunhopoderáserfeitonaúltimafolhadesteCaderno.

PROPOSTA 4

Coletânea:

1. “O bem-estar, dizem os especialistas, é resultado do equilíbrio do nosso corpo. Quando estamos em harmonia, todas as partes do corpo funcionam direitinho e isso traz resultados positivos em nosso dia a dia, no trabalho, nas conquistas, na nossa personalidade, enfim. Uma mulher, por exemplo, jamais poderá se sentir bem estando insatisfeita com a sua aparência. Como alguém pode se apaixonar se reprova a sua própria imagem no espelho?”

Revista Mais Vida,agostode1995

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Caderno de Produção Textual – 2013

3Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

OSG.: 74665/13

2. “(…) nunca a beleza foi tão imperativa quanto é hoje – é obrigatório ser lindo, magro, saudável. (…) Por que tal obsessão pela beleza nos dias que ocorrem? Necessidade de afeto, medo da velhice e busca de novas oportunidades profissionais são as expressões-chave para explicar como se chegou a tal situação.”

Veja,agostode1995

3. “O império da vaidade: ‘Em tempos de ditadura da beleza, o corpo é massacrado pela indústria e pelo comércio, que vivem de nossa insegurança, impotência e angústia. Criou-se uma tirania que não suporta quando um cidadão tenta ser feliz como gosta e como pode, mesmo que seja comendo uma pizza.’”

Paulo Moreira Leite

4. “Os cabelos à moda hippie de algumas mulheres dão uma impressão desagradável de relaxamento, as roupas manchadas, as unhas maltratadas e os pés geralmente sujos causam em muitos homens certa aversão. Esquecem-se essas mulheres de que poderiam embelezar o mundo e encantar os olhos e corações masculinos. Os homens de sensibilidade sentem necessidade de estar sempre em contato com a beleza e a harmonia, e quando isso não acontece no seu dia a dia, tornam-se mentalmente esgotados, nervosos, ‘enfossados’ e infelizes. A beleza, feminilidade e delicadeza da mulher representam um paliativo na vida atribulada do homem atual.”

Dílson Kamel e José Guilherme Kamel, A Ciência da Beleza

5. “OfilósofogregoPlatãofezecoaPitágoras,aodizerqueo belo residia no tamanho apropriado das partes, que se ajustavam de forma harmoniosa no todo, criando assim o equilíbrio. Esse ideal estaria personificado em Helena, pivô da Guerra de Troia (…). De tão deslumbrante, Helena foi elevada à categoria de semideusa no célebre poema épico Ilíada, de Homero. Sabe-se que a beleza da rainha egípcia, esposa do faraó Amenófis IV, que viveu catorze séculos antes de Cristo, também se amparava no equilíbrio das formas. O busto com sua imagem, hoje exposto no Museu Egípcio de Berlim, mostra que tinha o semblante perfeitamente simétrico e perfil bem delineado, além de maças do rosto salientes e lábios carnudos – detalhes que remetem ao conceito atual de beleza feminina. A doutrina grega da beleza comportava, ainda, um outro conceito importante – o da luminosidade. Em Homero, pode-se ler que ‘belas são as armas dos heróis, porque são ornadas e resplandecentes; é bela a luz do sol e da lua, e belo é o homem de olhos brilhantes’. A luminosidade se tornaria, assim, um ideal a ser perseguido, principalmente na pintura renascentista. (…) A escultura Davi, de Michelangelo, é um dos exemplos mais perfeitos da aplicação da proporção áurea. Foi no século XVIII que nasceu a disciplina filosófica que leva o nome de estética e que se ocupa do belo e da arte. Na segunda metade do século seguinte, as explicações sobre a natureza da beleza tomaram um rumo inesperado com as teorias do naturalista inglês Charles Darwin. Em seu livro A Origem das Espécies,de1859,eleadefiniucomoum fator biológico necessário à reprodução dos animais. Hoje, psicólogos evolucionistas defendem suas teorias sobre a beleza calcados na premissa darwiniana de que ela serve para assegurar a sobrevivência da espécie humana. A preferência dos homens por mulheres jovens, de quadris largos e cintura fina – atributos ligados à fertilidade – seria uma forma de garantir a geração de filhos saudáveis. Já as mulheres se sentiriam atraídos por homens altos e fortes, porque esses seriam atributos de bons provedores e de defensores da prole em qualquer circunstância. Muitos estudiosos vão à frente nessa teoria e afirmam que atualmente, mais do que nunca, a aparência física é levada em conta não apenas no terreno do amor e do sexo, mas em todos os relacionamentos pessoais.”

Veja, maio de 2004.

6.

Beleza

Vem do amor a Beleza,Como a luz vem da chama.É lei da natureza:Queres ser bela? - ama.

Formas de encantar, Na tela o pincel As pode pintar; No bronze o buril As sabe gravar; E estátua gentil Fazer o cinzel Da pedra mais dura... Mas Beleza é isso? - Não; só formosura.

Sorrindo entre dores Ao filho que adora Inda antes de o ver - Qual sorri a aurora Chorando nas flores Que estão por nascer – A mãe é a mais bela das obras de Deus. Se ela ama! - O mais puro do fogo dos céus Lhe ateia essa chama de luz cristalina:

É a luz divina Que nunca mudou, É luz... é a Beleza Em toda a pureza Que Deus a criou.

Almeida Garrett, in Folhas Caídas.

7. “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.”Vinicius de Moraes.

8. Belo

Definição

Não é possível dar uma definição absoluta de belo, embora se possa estudar suas várias acepções no curso da história. A dificuldade de conceituar o belo acompanha a história da filosofia, desde a Grécia Antiga. “Toda beleza é difícil”, indica Sócrates (469-399 a.C). Sem pretender recuperar as discussões sobre o tema, pode-se desenhar duas ênfases que recortam as reflexões sobre o belo na tradição filosófica: uma que o define como ideia objetiva (Aristóteles, na Metafísica, afirma: “As principais formas de beleza são a ordem e a simetria e a definição clara”) e outra para a qual a beleza é determinada pela experiência de prazer suscitada pelas coisas belas (nos termos de Platão, em O Banquete). Kant (1724-1804), na Crítica do Juízo (1790), propõe a superação da polaridade ao distinguir a beleza de qualquer juízo racional ou moral. Desse modo, defende o caráter não determinado do juízo estético. Segundo Kant, quando se afirma que algo é belo isso é feito sem ter por base um conceito que respeite essa afirmação, ainda que supostamente seja válida para todos. Se as formulações kantianas têm forte impacto sobre as teorias posteriores - sendo retomadas no século XX por críticos como o norte-americano Clement Greenberg (1909-1994),

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4 Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

OSG.: 74665/13

os dois enunciados sobre o belo (os que acentuam os aspectos objetivos e os que sublinham a apreensão subjetiva) permanecem vivos. O duplo modo de conceituação da beleza é utilizado ao longo da história da arte, desde a Grécia Antiga. Ele é reanimado na oposição entre o belo clássico – objetivo, universal e imutável – e o belo romântico – que se refere ao subjetivo, ao variável e ao relativo. Se a dicotomia belo clássico/belo romântico tem utilidade para definir contornos mais amplos, não deve levar ao estabelecimento de uma oposição radical entre os modelos, que se encontram combinados em diversos artistas e obras.

O belo clássico define-se na arte grega com base em um ideal de perfeição, harmonia, equilíbrio e graça que os artistas procuram representar pelo sentido de simetria e proporção (Praxíteles,HermescomoJovemDionisio,350a.C.).Asformashumanas apresentam-se como se fossem reais e, ao mesmo tempo, exemplares aperfeiçoados (Vênus de Milo, século I a.C.).A arte renascentista italiana retoma o projeto de representação do mundo com bases nesses ideais. Algumas obras de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) exemplificam arealização do modelo clássico, seja nos estudos de anatomia para composições maiores (Estudo para uma das Sibilas no Teto da Capela Sistina), seja em esculturas, como o célebre Davi(1501-1504).AsimagensdeRafael(1483-1520),porsuavez, dão plena expressão aos valores da arte renascentista, destacando-se pela beleza projetada segundo os padrões idealizados do universo clássico (A Ninfa Galateia, ca.1514).Nova retomada da arte antiga, especialmente greco-romana, observa-se no interior do neoclassicismo dos séculos XVIII e XIX. À complexidade formal e aos caprichos do barroco e do rococó, o neoclassicismo opõe a retidão e a geometria, como mostram as telas de Jacques-Louis David (1748-1825) e asesculturas de Antonio Canova (1757-1822), amparadas naideia de um belo ideal.

A visão romântica anuncia a ruptura com a estética neoclássica e com a visão racionalista da Ilustração. Se o belo clássico remete à ordem, ao equilíbrio e à objetividade, o belo romântico apela às paixões, às desmedidas e ao subjetivismo. O belo romântico, longe de ser eterno, é social e historicamente condicionado. O cerne da visão romântica do mundo é o sujeito, suas paixões e traços de personalidade, que comandam a criação artística. A imaginação, o sonho e a evasão; os mitos do herói e da nação; o acento na religiosidade; a consciência histórica; o culto ao folclore e à cor local são traços que definem os contornos do ideal romântico do belo. As telas de Caspar David Friedrich (1774-1840) associam-se diretamente às formulações teóricas do romantismo (por exemplo, O Viajante sobre as Nuvens, ca.1818, e Paisagem nas Montanhas da Silésia, 1815-1820). Ao ideal do belo clássico, a matriz românticaopõe ainda a realidade do feio, que a obra de Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) desvela precocemente, antecipando uma vocação realista do romantismo histórico (Os Fuzilamentos do 3 de Maio, 1808). A poética do feio será amplamente explorada pelo expressionismo de Edvard Munch (1863-1944) e Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), que reedita, e radicaliza, os ensinamentos românticos pela deformação das figuras e imagens (O Grito, 1893, de Munch, e Marcella, 1910, de Kirchner). O “feio” permanece também idealizado; “não é senão o belo decaído e degradado”, como indica G.C. Argan.

A arte moderna do século XIX – romantismo, realismo e impressionismo – assume uma atitude crítica em relação às convenções artísticas e aos parâmetros do belo clássico, sancionados pelas academias de arte. A industrialização em

curso e as novas tecnologias colocam desafios ao trabalho artístico, entre eles, as relações entre arte, técnica e ciência, exploradas por parte significativa das vanguardas construtivas do século XX. A disputa entre o belo, o útil e o funcional assume o primeiro plano com a Bauhaus e com o construtivismo russo, por exemplo, que almejam matizar as fronteiras entre arte, artesanato e produção industrial. Nos movimentos antiarte como o dadaísmo, por sua vez, as distâncias entre arte e vida cotidiana são abolidas, o que obriga a redefinição da arte e de suas interpretações. A ampla e variada produção do século XX impõe a reavaliação das medidas de aferição do trabalho artístico. Greenberg indica a impossibilidade de aplicar normas, padrões e preceitos para a emissão de juízos críticos. Os “juízos estéticos”, diz ele, “são imediatos, intuitivos, não deliberados e involuntários (...).” Somente a experiência, e a reflexão sobre ela, permitiria distinguir a arte de boa qualidade das demais. Na segunda metade do século XX – com a arte pop e o minimalismo –, quando as categorias usuais para pensar a arte (pintura e escultura) perdem a razão de ser, a discussão sobre os juízos artísticos se torna ainda mais complexa.

Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=402

Considerando as ideias discutidas nos textos anteriores, escreva uma dissertação argumentativa discutindo o seguinte tema: A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.

David Hume

Instruções:

• Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar osconhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação.

• Selecione,organizeerelacioneargumentos,fatoseopiniõespara defender seu ponto de vista, elaborando propostas para a solução do problema discutido em seu texto.

• Suas propostas devem demonstrar respeito aos direitoshumanos.

• Lembre-sedequeasituaçãodeproduçãodeseutextorequero uso da modalidade escrita culta da língua portuguesa.

• Otextonão deve ser escrito em forma de poema (verso) ou de narrativa.

• Otextodeveráternomínimo15(quinze)linhasescritas.

• Aredaçãodeveráserapresentadaàtintaedesenvolvidanafolha própria.

• OrascunhopoderáserfeitonaúltimafolhadesteCaderno.

André: 20/09/2013 - Rev.: RR