Vox Faifae: Revista de Teologia da Faculdade FAIFA Vol. 5 N° 3 (2013) ISSN 2176-8986 A IGREJA E A SUA MISSÃO EVANGELIZADORA Hermisten Maia Pereira da Costa 1 RESUMO Partindo do livro de Atos dos Apóstolos escrito por Lucas, o artigo traz uma análise de al- guns aspectos da igreja e sua missão no Novo Testamento. Demonstra a responsabilidade de- la como testemunha comissionada e agente do plano redentor de Deus, enfatiza a importância fundamental do Espírito Santo na condução da igreja em seu testemunho, uma vez que ela, em sua própria constituição, é uma amostragem da graça redentora de Deus. Palavras-chave: Igreja. Evangelização. Espírito Santo. Testemunho. Crescimento da igreja. ABSTRACT Starting from the book Acts of Apostles written by Luke, the author analyses some aspects of church and its mission in the New Testament. He also demonstrates the church responsibility as a commissioned witness, and agent of the redeemer plan of God. He emphasizes the fun- damental importance of the Holy Ghost on leading church in its testimony, being the church in its very constitution an example of the redeeming grace of God. Keyword: Church. Evangelization. Holy Ghost. Testimony. church growth. 1 O autor é graduado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul (SPS) e Pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP), e em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG). É especialista em Educação, Didática do Ensino Superior, Administração com ênfase em Recursos Humanos e Estudos de Problemas Brasileiros (UPM/SP) e em História pela FAI; é mestre e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Ensina em Seminários Presbiterianos, no Cen- tro Universitário de Maringá (UNICESUMAR) e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP); além disso, é professor visitante em escolas de Teologia no Brasil e no exterior. Tem centenas de artigos publicados e algumas dezenas de livros. E-mail: hermis- [email protected].
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Vox Faifae: Revista de Teologia da Faculdade FAIFA Vol. 5 N° 3 (2013) ISSN 2176-8986
A IGREJA E A SUA MISSÃO EVANGELIZADORA
Hermisten Maia Pereira da Costa1
RESUMO
Partindo do livro de Atos dos Apóstolos escrito por Lucas, o artigo traz uma análise de al-
guns aspectos da igreja e sua missão no Novo Testamento. Demonstra a responsabilidade de-
la como testemunha comissionada e agente do plano redentor de Deus, enfatiza a importância
fundamental do Espírito Santo na condução da igreja em seu testemunho, uma vez que ela,
em sua própria constituição, é uma amostragem da graça redentora de Deus.
Palavras-chave: Igreja. Evangelização. Espírito Santo. Testemunho. Crescimento da igreja.
ABSTRACT
Starting from the book Acts of Apostles written by Luke, the author analyses some aspects of
church and its mission in the New Testament. He also demonstrates the church responsibility
as a commissioned witness, and agent of the redeemer plan of God. He emphasizes the fun-
damental importance of the Holy Ghost on leading church in its testimony, being the church
in its very constitution an example of the redeeming grace of God.
Keyword: Church. Evangelization. Holy Ghost. Testimony. church growth.
1 O autor é graduado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul (SPS) e Pedagogia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP), e em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC/MG). É especialista em Educação, Didática do Ensino Superior, Administração com ênfase em Recursos
Humanos e Estudos de Problemas Brasileiros (UPM/SP) e em História pela FAI; é mestre e doutor em Ciências
da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Ensina em Seminários Presbiterianos, no Cen-
tro Universitário de Maringá (UNICESUMAR) e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da
Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP); além disso, é professor visitante em escolas de Teologia no
Brasil e no exterior. Tem centenas de artigos publicados e algumas dezenas de livros. E-mail: hermis-
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A IGREJA E A SUA MISSÃO EVANGELIZADORA
INTRODUÇÃO
Nos círculos evangélicos, um dos assuntos mais debatidos em nossos dias, é a questão
do crescimento de igreja. Há pessoas e grupos que estabelecem de forma universalizante, de-
terminados meios que, alegadamente, “funcionaram” aqui e acolá. Há, sempre, em cada des-
crição uma tentativa de legitimar os seus atos e a universalização de suas propostas.
Como cristãos evangélicos, entendemos que a Bíblia é a fonte de todo o nosso conheci-
mento. As Escrituras têm diretrizes para nos guiar em todas as áreas de nossa existência. A
evangelização, corretamente entendida, encontra o seu fundamento nas Escrituras. Portanto,
quando estudamos este assunto, faz-se necessário, buscar nelas, orientação para o direciona-
mento de nossa vida e, consequentemente, para o nosso modo de agir.
Se estamos preocupados com o crescimento da Igreja hoje, façamos um estudo da Igre-
ja Primitiva. A partir daí poderemos, juntos, perceber o crescimento dela. Conheceremos co-
mo Deus agiu por meio de seu povo, mesmo ele sendo imperfeito, como nós também, hoje, o
somos.
Ao lermos o Livro de Atos, em especial, devemos estar atentos àquilo que é descritivo e
ao que é-nos ordenado. O descritivo, ainda que sirva de parâmetro, não estabelece um man-
damento divino; o ordenado, no entanto, é para ser cumprido sempre.
Atos é o Livro eixo do Novo Testamento, pois estabelece uma ligação entre os Evange-
lhos e as Epístolas, e mostra, em forma de esboço, o crescimento da Igreja, que vai de Jerusa-
lém à Roma, a capital do mundo gentílico.
Certamente, um dos objetivos do livro de Atos é retratar o crescimento da Igreja, ultra-
passando barreiras geográficas, religiosas e culturais, culminando com a chegada de Paulo a
Roma. Por isso, seus rudimentos podem ser considerados a partir dos registros do crescimento
da Igreja (Vejam-se: At 2.41,47; 4.4; 5.14; 6.7; 9.31; 12.24; 16.5; 19.20; 28.31). Além disso,
fornecem-nos pistas a respeito dos judeus da Ásia e do Norte da África que ouviram o sermão
de Pedro, muitos dos quais, devem ter sido convertidos em Jerusalém (At 2.9,10/2.41); fala-
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nos, também, do Eunuco etíope que, após a sua conversão e batismo, continuou o seu cami-
nho “cheio de júbilo” (At 8.37-39). Estes homens voltaram para as suas cidades. Que método
usaram para difundir a sua fé? Atos também descreve como o Evangelho foi pregado por Pau-
lo na Europa (At 16.9-15).
Os testemunhos históricos que temos, a partir do segundo século, informa-nos que ape-
sar de perseguidos, os cristãos davam o seu testemunho, sendo muitas vezes martirizados. A-
liás, a palavra testemunha, originalmente, em grego significa mártir. Vemos também que o
comportamento deles era contagiante por meio de sua conduta diferente. Eles procuravam se
pautar pela Palavra de Deus.
1 O PODER DO ALTO
Antes de ser assunto aos céus, o Senhor Jesus, ressurreto – diante da curiosidade de seus
discípulos que o inquiriam sobre o que não lhes era pertinente –, lhes disse: “[...] recebereis
poder (du/namij), ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas
(ma/rtuj) tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”
(At 1.8) (ênfases nossas).
Na redação do Evangelho, Lucas registrou palavras semelhantes, oferecendo-nos, con-
tudo, outros detalhes:
44 A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estan-
do ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escri-
to na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.45
Então, lhes abriu o en-
tendimento para compreenderem as Escrituras; 46
e lhes disse: Assim está
escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no
terceiro dia47
e que em seu nome se pregasse arrependimento para remis-
são de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. 48
Vós sois
testemunhas (ma/rtuj) destas coisas. 49
Eis que envio sobre vós a pro-
messa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais re-
vestidos de poder (Lc 24.44-49) (ênfases nossa).
Realcemos alguns pontos no texto:
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a) Os discípulos de Cristo só entenderam as Escrituras, quando o próprio Jesus lhes a-
briu o entendimento (Lc 24.45). Bruce (1910-1990) está correto ao afirmar que:
Os crentes possuem um padrão permanente e um modelo no uso que nosso
Senhor fez do Antigo Testamento, e uma parte do atual trabalho do Espírito
Santo no tocante aos crentes é abrir-lhes as Escrituras, conforme o Cristo
ressurreto as abriu para os dois discípulos no caminho para Emaús (Lc
24.25ss) (1966, p. 753).
b) Os discípulos como testemunhas deveriam pregar o Evangelho profetizado e vivenciado
por eles na companhia de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado (Lc 24.47-48).
c) O alcance dessa missão primitiva teria início em Jerusalém e depois se estenderia a todo
mundo: universalidade da pregação (Lc 24.47).
d) Eles deveriam aguardar até que fossem revestidos (e)ndu/w)2 de poder (Lc 24.49).
e) O poder (du/namij) que receberiam seria do alto (u(/yo/w)3 (Lc 24.49).
É sob este poder que a Igreja caminhará em sua vida e testemunho. É o que veremos no
próximo tópico.
2 ATOS: O TESTEMUNHO NO PODER DO ESPÍRITO
O Evangelho é o poder de Deus (Rm 1.16). A Palavra da Cruz é poder de Deus (1Co
1.18); e a Palavra da Graça é poderosa para nos edificar (At 20.32; 2Tm 3.15). Jesus Cristo é
o poder de Deus (1Co 1.24). Paulo pregou o Evangelho com demonstração do Espírito e de
poder para que a fé dos coríntios não se apoiasse em palavras, mas em poder (1Co 2.4-5; 1Ts
2 e)ndu/w tem o sentido literal de “vestir-se” (Mt 6.25; 27.31; Mc 1.6; Lc 15.22; At 12.21) e, quase que exclusi-
vamente em Paulo, a aplicação figurada de “revestir-se”: a) De poder (Lc 24.49); b) Das armas da luz (Rm
13.12); c) Do Senhor Jesus (Rm 13.14; Gl 3.27); d) Do novo homem (Ef 4.24; Cl 3.10); e) De toda armadura de
Deus (Ef 6.11,14); f) De ternos afetos (Cl 3.12); g) Da couraça da fé e amor (1Ts 5.8). A palavra descreve tam-
bém a nossa ressurreição como um revestimento de imortalidade e incorruptibilidade (1Co 15.53-54). 3 u(/yoj literalmente tem o sentido de “altura”, como no texto de Lucas e, também, de “dignidade” (Tg 1.9) (*Lc
1.78; 24.49; Ef 3.18; 4.8; Tg 1.9; Ap 21.16). O verbo (u(yo/w) é traduzido em geral por “elevar” (Mt 11.23; Lc