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10/05/2014
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Prof. Ms. gide Guareschi
- O poema, como toda obra de arte, tem uma unidade, fruto de
caractersticas que lhe so prprias.
Ao analisar um poema:
- possvel isolar alguns de seus aspectos;
- sem perder de vista a unidade do texto a ser recuperada no
momento da interpretao, quando o poema ter sua unidade orgnica
restabelecida.
- Na elaborao do texto literrio a seleo e a combinao de palavras
se fazem muitas vezes por parentesco sonoro;
- O discurso literrio um discurso
especfico, em que a seleo e a combinao das palavras se fazem no
apenas pela significao, mas tambm por outros
critrios, um dos quais, o sonoro.
- Dessa maneira:
- o texto literrio adquire certo grau de tenso ou
ambiguidade,
- E produz mais de um sentido plurissignificao.
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- Cabe ao leitor ler, reler, analisar e interpretar.
- No h "receitas" para analisar e interpretar textos, nem seria
possvel, dado o carter particular e especfico de cada criao de
arte.
- Comea-se pelos aspectos mais palpveis aos olhos e aos
ouvidos;
- Mas existem "tcnicas" de anlise.
- Tratar da anlise formal e rtmico do poema;
- E da relao do ritmo com os demais aspectos do poema:
1- vocabulrio,
2 - categorias gramaticais predominantes,
3 - organizao sinttica,
4- figuras.
- O ideal seria a soma de vrias interpretaes de um mesmo
poema;
O texto literrio talvez seja aquele que mais se aproxima do
sentido etimolgico da palavra "texto": entrelaamento, tecido. Como
"tecido de palavras" o poema pode sugerir mltiplos sentidos,
dependendo de como se perceba o entrelaamento dos fios que o
organizam. Ou seja:
geralmente, ele permite mais de uma interpretao.
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No compasso da vida
- Toda atividade humana se desenvolve dentro de certo ritmo.
- O ritmo aparece tambm na produo artstica do homem. De um modo
especial, na poesia.
o ritmo faz parte da vida de qualquer pessoa, sua presena no
tecido do poema pode ser facilmente percebida por um leitor atento,
que , ao mesmo tempo, um ouvinte. A poesia tem um carter de
oralidade muito importante: ela feita para ser falada,
recitada.
- Mesmo que estejamos lendo um poema silenciosamente,
perceberemos seu lado musical, sonoro, pois nossa audio capta a
articulao (modo de pronunciar) das palavras do texto;
O compasso:
- A musicalidade (sugesto de msica e ritmo) pode partir do
ttulo, algumas vezes.
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- cano "A banda", de Chico Buarque de Holanda.
Estava toa na vida,
O meu amor me chamou,
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
O ouvinte capta o apelo do texto, graas harmonizao de todos os
seus elementos, um dos quais, o ritmo. possvel comear a perceb-lo,
atravs da marcao das slabas poticas:
Es- TA- va~ -TO- a- na- VI (da)
O- meu- a- MOR- me- cha- MOU
Pra- ver- a- BAN- da- pas- SAR
Can- tan- do- COI- sas- de a- MOR.
- As slabas destacadas so fortes; as outras, fracas.
- O ritmo simples e repetitivo facilita a memorizao.
- Trata- se do ritmo da letra da cano, sem levar em conta a sua
melodia, ou seja, comenta-se o texto apenas enquanto poema.
As repeties lembram o som das percusses da banda. Tambm marcam o
compasso da marcha, ritmo musical que percorre todo o texto. A
banda rompe com o quotidiano das pessoas, que se pem a ouvi-la,
levadas por um feitio irresistvel. Enquanto ela passa, dura o
encantamento, a iluso.
No poema "Jos", de Carlos Drummond de Andrade h uma estrofe que
formula uma srie de hipteses, todas elas iniciadas pela conjuno
condicional "se", que vai se repetir em alguns versos, como uma
espcie de eco, apoiando e ampliando o sentido do texto. Neste caso,
a palavra-chave ("se") contamina outros termos com sua
sonoridade:
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Se voc gritasse,
se voc gemesse,
se voc tocasse
a valsa vienense,
se voc dormisse,
se voc cansasse,
se voc morresse...
Mas voc no morre,
voc duro, Jos!
Neste trecho, possvel notar vrios efeitos sonoros e
rtmicos. A palavra "se" repete-se, sempre na mesma posio:
a anfora (repetio de uma palavra, na mesma posio, em versos
diferentes) valorizada pelo eco que a mesma slaba faz no interior
de outras palavras, como "voC", "gritaSSE", "gemeSSE", "tomaSSE"
etc. O jogo sonoro apoia-se na alternncia entre slabas fortes e
fracas:
Se - vo - CE - gri - TAS (se)
Se-vo-CE-ge-MES(se)
- Sugesto de hipteses atravs das rimas
e do ritmo desse poema.
- As noes de "metro", "verso" e "ritmo" esto estreitamente
ligadas em nossa tradio literria.
- As leis de metrificao ou versificao apresentam as normas a
serem seguidas, estabelecendo esquemas definidos para a composio do
verso.
- ritmo formado pela sucesso, no verso, de unidades
rtmicas resultantes da alternncia entre slabas acentuadas
(fortes) e no-acentuadas (fracas); ou entre slabas constitudas por
vogais longas e breves.
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- At o incio de nosso sculo, valorizava-se sobretudo a contagem
silbica dos versos. Mais recentemente, esta noo associa-se das
unidades rtmicas que, de certo modo, abrange a anterior.
- A nova posio crtica permite analisar o
ritmo do verso livre, inovao modernista que no segue nenhuma
regra mtrica, apresentando um ritmo novo, liberado e
imprevisvel.
Ao se ler um poema, o verso se destaca j a partir da
disposio grfica na pgina.
Cada verso ocupa uma linha, marcada por um ritmo especfico. Um
conjunto de versos compe a estrofe, dentro da qual pode surgir
outro postulado mtrico:
a rima, ou seja, a semelhana sonora no final de diferentes
versos.
- A prosa se imprime em linhas ininterruptas, a organizao do
poema em versos seria, de incio, o trao distintivo do poema.
- As normas mtricas foram seguidas de maneira diferente em cada
perodo literrio.
- Ora se preferia determinado esquema rtmico.
Ora se mesclavam diferentes tipos de metro. Ora
surgia uma inovao.
A mais marcante, historicamente, foi: o
verso livre modernista, que no segue nenhum tipo de esquema
rtmico preestabelecido.
- Mtrica exterior ao poema, e os poetas decidem qual sistema
mtrico vo seguir.
-O ritmo pode decorrer da mtrica, ou seja, do tipo ~e verso
escolhido pelo poeta.
- cada poema cria um novo ritmo.
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No final do texto, h uma anlise de texto ilustrar a correlao
entre o ritmo e os demais aspectos do poema.
O objetivo que se passe a ler o poema com os olhos e os ouvidos,
isto , como uma organizao visual e sonora. O leitor comum perceber
o ritmo potico isolado do significado, enquanto o leitor atento,
treinado a ouvir, poder captar no poema o ritmo e o significado
como uma unidade indissolvel.
GOLDSTEIN, N. S. Versos, sons, ritmos. 3ed. So
Paulo: tica, 1986.