FACULDADES SPEI CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOAL ALUBRAT- CAMPINAS CLAUDIO HIDEYO ASSATO VEREDAS MENTAIS
FACULDADES SPEICURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOALALUBRAT- CAMPINAS
CLAUDIO HIDEYO ASSATO
VEREDAS MENTAIS
CAMPINAS2015
FACULDADES SPEICURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOALALUBRAT- CAMPINAS
CLAUDIO HIDEYO ASSATO
VEREDAS MENTAIS
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Trabalho de Conclusão deCurso da Pós-Graduação emPsicologia Transpessoal dasFaculdades SPEI, em parceriacom ALUBRAT, sob orientaçãoda Profa. Marcia ReginaRosa.
CAMPINAS2015
AGRADECIMENTOS:
Agradeço a ALUBRAT pela oportunidade de estudo;
agradeço o encontro com professores e amigos de jornada,
na qual formamos uma egrégora peculiar de grande
aprendizagem e conquistas.
Agradeço Arlete da Silva Acciari, que me apresentou
à psicologia transpessoal, acompanhou e incentivou-me em
todos os momentos do curso favorecendo meu crescimento
interno e processo de transformação !
Agradeço minha orientadora Márcia Regina Rosa, que
desde o inicio me acolheu e com muito carinho
supervisionou este processo de aprendizagem e crescimento
pessoal.
3
Agradeço a todos meu amigos, companheiros de jornada
e familiares que deram um brilho, calor e magia neste meu
caminhar transpessoal.
4
Emergência
Emerge em mim a luz da minha alma !
Essência da vida; leveza do meu Ser
O sentido do saber que impulsiona meu desejo
Faz em mim no símbolo do conhecimento
Emerge a emoção que busca palavras
Iluminadas aparecem como nuvens
Indo e vindo criam símbolos mentais!
Emerge em ponto e num sorriso.
Como se fosse meu último dia...
Submerge como emergência para sobreviver!
Assim nesta emergência caminho ...
Sigo a luz emergente que me conduz !
Cláudio Assato
SUMÅRIO:
5
RESUMO 09
INTRODUÇÃO 10
VEREDAS MENTAIS 10
OBJETIVOS
11
JUSTIFICATIVAS
11
METODOLOGIA 12
CAPITULO 1: O FENÔMENO 13
1.1. APOFENIA E PAREIDOLIA
13
CAPITULO 2: UMA VEREDA HISTÓRICA 17
2.1. A PSICANÁLISE E O INCONSCIENTE 17
2.2. FREUD E PIAGET 17
CAPITILO 3: VEREDAS ALTERNATIVAS 20
3.1. EXPERIÊNCIAS ANÔMALAS E ESTADOS ALTERADOSDE CONSCIÊNCIA 203.2. EMERGÊNCIA ESPIRITUAL
21
CAPITULO 4: LABIRINTOS EM VEREDAS 25
4.1.DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DAS EMERGÊNCIASESPIRITUAIS 254.2.PSIQUIATRIA E AS EMERGENCIAS ESPIRITUAIS
26
CAPITULO 5: NOMEANDO AS VEREDAS 27
6
5.1.CID-10 E DSM 27
CAPITULO 6 : CAMINHANDO PELAS VEREDAS 30
6.1. PSICOSES 306.2. ESUIZOFRENIAS 306.3. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 326.4. AS SUBSTANCIAS PSICO ATIVAS 326.5. ALUCINACOES E DELIRIOS 336.6. OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE 366.7. OS QUADROS DISSOCIATIVOS
36
CAPITULO 7: UMA VEREDA ALTERNATIVA 38
7.1. A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 38
7.2. FORMAS DAS EMERGENCIAS ESPIRITUIAIS 39
7.2.1. A CRISE XAMÂNICA 397.2.2. O DESPERTAR DA KUNDALINI
397.2.3. A CRISE DE ABERTURA PSÍQUICA
427.2.4. EXPERIÊNCIAS COM VIDAS PASSADAS 42
7.2.5.EXPERIÊNCIAS COM ESPÍRITOS GUIA “CANALIZAÇÃO” 43
7.2.6. EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE 447.2.7. EXPERIÊNCIA DE CONTATO PRÔXIMO A OVNIs
447.2..8. ESTADOS DE POSSESSÃO
45
CAPITULO 8: MAPEANDO VEREDAS 46
8.1. DISCUSSÃO 46
7
CAPITULO 9: CONSTRUINDO NOVAS VEREDAS 59
9.1. RESULTADOS 59
CAPÍTULO 10: A SUA VEREDA 63
10.1. CONCLUSÃO 63
APÊNDICE- 01:
ESQUIZOFRENIA E TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
1. ESQUIZOFRENIA PARANOIDE 652. ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA 653. ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA 644. ESQUIZOFRENIA SIMPLES
655. ESQUIZOFRENIA RESIDUAL
66
TRANSTORNOS AFETIVOS BIPOLARES 66
APÊNDICE – 02:
CONCEITOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 68
1. CONCEITO DE UNIDADE 682. CONCEITO DE VIDA
693. CONCEITO DE EGO 704. ESTADOS DE CONSCIÊNCIA 735. CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA
76
11.REFERÊNICAS BIBLIOGRÁFICAS 80
LISTA DE ABREVEATURAS:
8
AIT......................................................
...Abordagem Integrativa Transpessoal
CID .....................................................
Classificação Internacional de Doenças
DSM......................................................
...... Diagnostic and Statistical Manual
EA ......................................................
..........................Experiências Anômalas
EAC......................................................
.......Estados Alterados de Consciência
EE.......................................................
............................ Emergência Espiritual
EQM .....................................................
................Experiência de Quase Morte
OMS .....................................................
...........Organização Mundial da Saúde
PT ......................................................
.........................Psicologia Transpessoal
SPA......................................................
.......................... Substância Psicoativa
VM ......................................................
.....................................Veredas Mentais
9
LISTA DE FIGURAS:
FIGURA 1: Pareidolia no chocolate
14
FIGURA 2: Apofenia e as manchas na parede
14
FIGURA 3: Jesus na torrada
15
FIGURA 4: Rorscharch e o que você vê ?
16
FIGURA 5: PT Corpo Teórico
68
FIGURA 6: Cartografia da Consciência
10
Veredas Mentais são caminhos psicológicos que
realizamos ao construir o nosso universo. Um caminho do
nosso Self ao nosso Ego. Neste percurso peculiar muitos
fenômenos são observados e descritos de modo particular
por cada individuo. O Objetivo deste trabalho será
descrever estas Veredas Mentais e correlacionar com as
Emergências Espirituais descritas na psicologia
transpessoal, além de diferencia-las de outros fenômenos
descritos e observados na psicologia e na psiquiatria
clínica. Foi utilizado a revisão bibliográfica de artigos
nacionais e internacionais e de autores da psicologia
transpessoal além de referência psiquiátrica e
psicopatológica da DSM – IV e CID – 10. Concluiu-se que
foram identificados critérios de maior concordância entre
os pesquisadores, que poderiam indicar uma adequada
diferenciação entre experiências espirituais e
transtornos psiquiátricos. Em relação à experiência
vivida verificou-se uma ausência de sofrimento
psicológico, ausência de prejuízos sociais e
ocupacionais, uma duração curta da experiência, atitude
crítica (ter dúvidas sobre a realidade objetiva da
vivência), compatibilidade com o grupo cultural ou
religioso do paciente, ausência de comorbidades, controle
sobre a experiência, crescimento pessoal ao longo do
tempo e uma atitude de ajuda aos outros. A presença
dessas condições sugeriu uma experiência espiritual não
patológica mas, por outro lado, há carência de estudos
bem controlados testando esses critérios.
12
INTRODUÇÃO
VEREDAS MENTAIS
Não foi tarefa simples escrever sobre as Veredas
Mentais (VM) que criamos e percorremos em nossa jornada;
descobrir e contempla-las emerge memórias e simboliza
nossa vida!
O foco deste trabalho será a Emergência Espiritual
(EE) descrita pela Psicologia Transpessoal (PT);
procurou-se avaliar o fenômeno e associa-lo a fatos
descritos e encontrados na literatura e nas veredas da
alma de cada ser.
Observou-se a vida e avaliando como interagimos com
ela, sempre com o questionamento do impacto deste
processo em cada representação, em cada escolha, em cada
13
ser, o que nos torna únicos. Deste modo cria-se as VM.
Através dela pensou-se no que traspassa, o que permeia, o
que atravessa, o que infiltra, o que penetra, o que
transnuda, o que emerge. E com tais questionamentos
refletiu-se e pensou-se sobre as VM e como elas se dão,
de que modo, de que jeito, que rumo, que processo, que
norma, que diretriz, que “regra”, que procedimento
ocorre. Então como protagonistas de nossas histórias
questionou-se também como conduzimos, como comportamos,
como agimos, como atuamos, como desempenhamos, como
procedemos, como cumprimos, como levamos ... enfim como
realizamos!
Na arte de observar, contemplar e compor nossos
processos, decidiu-se registrar algumas VM fazendo uma
cartografia do que esta criptografado nos registros
mentais; em nossas memórias... Deste modo percorreu-se um
caminho do nosso Self ao nosso Ego !
Como cada ser é único, nada melhor do que a Arte
para representar o simbólico e imaginário de cada um.
Assim, diante deste tema atual e sincrônico pensou-se que
ela trouxe para a PT um modo subjetivo de compreendê-la;
então começou-se aqui uma vereda com referência a arte
contemporânea, representada pela atual 31 bienal de SP
onde o tema fala sobre “Como procurar coisas que não
existem” e da Trienal 2014 de Piracicaba que questiona o
que seria de nós sem as coisas que não existem.
14
Nesta 31 bienal de SP, o diretor do SESC de SP,
Danilo Santos de Miranda, disse que no contexto presente,
pleno de signos e interpretações que se mesclam e
colidem, há de se perguntar sobre as possibilidades que
os indivíduos tem de se orientarem. Cada um de nós pode
sentir; em maior ou menor medida, a urgência de atribuir
sentidos, sob a pena de sermos soterrados por imagens,
textos e criações que constroem a realidade. A arte
participa como protagonista dessa circulação simbólica
com a presença por vezes inquietante e com comentários
acerca de outras presenças. Assim a aproximação da
produção contemporânea em artes visuais pode significar,
para diversos públicos, a ampliação de suas
possibilidades de leitura dos fenômenos do mundo!
As VM podem ser um tema abstrato e ao mesmo tempo um
dilema contemporâneo e também particular. A questão de
como viver num mundo em transformações permanentes onde
as velhas formas podem ser questionadas e as novas ainda
em construção. Em nosso ciclo de transformações o
repertório criado nos integra ao todo que resignifica e
emerge.
OBJETIVO GERAL
O objetivo geral deste trabalho é de realizar uma
revisão bibliográfica do tema EE no campo da PT.
15
OBJETIVO ESPECÍFICO
Correlacionar EE, experiência espiritual a
transtornos mentais de conteúdo religioso classificadas e
nomeadas de outro modo no campo da psicologia, da
psicopatologia e da psiquiatria clínica, além de
observar a fenomenologia das VM do evento.
JUSTIFICATIVAS
A PT descreve a EE sob vários aspectos e relata que
pode ser desencadeada ou manifestada de formas
distintas em cada indivíduo, pois estas são dotadas de
características específicas que as distinguem umas das
outras. Esses estados incomuns de consciência na EE faz
com que seja possível aos materiais inconscientes, com
forte carga emocional emergir para a consciência e esse
processo é a expressão de um poderoso potencial de cura
espontâneo descrito na PT, entretanto também foi descrito
na psiquiatria como sendo sinal ou sintoma de algumas
psicopatologias. O fenômeno pode ser observado com
características semelhantes na população e nesta revisão
bibliográfica descreveu-se diferentes olhares para o
evento.
Nessas circunstâncias, os sintomas emocionais e
psicossomáticos não são problemas para serem combatidos,
mas sinais de um esforço de cura pelo organismo descrito
16
na PT e um critério diagnóstico diante as classificações
psicopatológicas. Descrever, pesquisar e relatar os
sinais e sintomas psíquicos, o caminho percorrido pela VM
do individuo passa a ser de extrema importância para um
diagnóstico criterioso e bom prognóstico para a pessoa
envolvida no processo.
METODOLOGIA
Foi realizado Revisão Bibliográfica de textos e
artigos nacionais e internacionais. Pesquisado a EE, a
PT, Experiências Anômalas (EA), os Estados Alterados de
Consciência (EAC) e a Psicopatologia Psiquiátrica tendo
como referência a CID -10 e o DSM IV.
CAPÍTULO 1: O FENÔMENO
1.1. APOFENIA E PAREIDOLIA
Para entendermos nossas VM, será importante
entendermos qual “sinalização” respeitamos na construção
deste caminho. Então o que observamos e criamos
17
previamente para decidir “por onde e para onde ir ! “
Nosso cérebro é capaz de criar imagens onde elas não
existem, pode ver diversas formas em objetos e lugares.
Este fenômeno é chamado de pareidolia.
Na pareidolia um estímulo vago e aleatório, uma
imagem ou som, a priori sem significado ou relevância,
passa a ser percebido como algo distinto e com
significado. Assim, será comum ver imagens que parecem
ter significado, por exemplo em nuvens, montanhas, solos
rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e outros
tantos objetos e lugares... como se “dissessem” algo.
A palavra pareidolia vem do grego "para", que é
junto de; ou ao lado de, e "eidolon", que significa
imagem, figura ou forma. Com sons, geralmente a
pareidolia surge em músicas tocadas ao contrário, que
parecem dizer algo, ou enviar alguma “mensagem” ao
interlocutor. O cérebro consegue entender palavras que na
verdade não foram ditas, fatos que não existem. São
frases ou palavras onde só há um ruído incoerente.
A pareidolia ativa nosso cérebro, desperta nossos
sentidos. É uma capacidade natural de nosso cérebro onde,
com estímulos visuais ou sonoros, enxergam ou criam um
sentido para algo abstrato que se encaixa nos padrões
criados pelo cérebro. Enxergar rostos é a pareidolia mais
18
comum para o ser humano. Assim que o bebê nasce e conhece
a face humana, a posição dos olhos, nariz e boca, o
cérebro já fica condicionado a reconhecer rostos em todo
abstrato tenha alguns traços que se encaixam no padrão de
um rosto humano.
Figura 1
Pareidolia no chocolate
A crença humana é uma grande vítima da pareidolia.
São manchas que parecem imagens de santos, um embaçado no
vidro que lembra um fantasma...etc. Quando não somos
capazes de identificar algo, a imagem recebida já coloca
o cérebro em alerta para que ele comece a recriar os
padrões da imagem e rapidamente você já pensa: “Aquilo
não parece um rosto ?” E pronto. Para você aquela mancha
na parede sempre será um rosto e vai ser difícil
convencer o cérebro em ver aquela “imagem do rosto” como
se fosse apenas uma imagem abstrata.
19
Figura 2
Apofenia e as manchas na parede
Pareidolia é um tipo de Apofenia; um fenômeno
cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados
aleatórios. É um importante fator na criação de crenças e
ou ilusões. Inicialmente descrita como sintoma de
psicose, a apofenia ocorre no entanto em indivíduos
perfeitamente saudáveis mentalmente.
Ocorrências de apofenia freqüentemente são
investidas de significado religioso e ou paranormal
ocasionalmente ganhando atenção da mídia como , por
exemplo a impressão de ver Jesus em uma torrada, a imagem
de Nossa senhora na arvore entre outros exemplos.
20
Figura 3
Jesus na Torrada
Sabendo deste fato, na psicologia, o teste
projetivo de manchas Rorschach a apofenia é estimulada
com o objetivo de identificar padrões significativos na
vida do indivíduo que ele projeta sobre a mancha.
Figura 4
Rorschach
21
Com estas definições em mente, penso que facilitara
a compreensão de qual VM cada um de nos escolheu caminhar
apos as nossas sinalizações internas.
Então, dentro do repertório da PT, o conceito de EE,
fica importante neste entendimento do que emerge em cada
um diante da VM que estamos percorrendo e o que
observamos neste caminho !
CAPÍTULO 2: UMA VEREDA HISTÓRICA
2.1. A PSICANÁLISE E O INCONSCIENTE
Desde o surgimento da psicanálise não é mais
possível acreditar no total domínio da consciência sobre
22
nossos atos. Os sonhos, os atos falhos, as associações
livres mostram que temos comportamentos que escapam a
nossa consciência e que um conjunto de significados, que
nós próprios desconhecemos, influenciam nosso modo de ser
e nossas construções sobre o símbolo. Nossas VM podem
ser interpretadas como labirintos e caminhar nele pode
parecer novo, desconhecido, amedrontador ou inovador,
contemplativo e gratificante.
A realidade é compartilhada e é simultaneamente
algo muito pessoal e singular. Uma condição de algo que
se situa entre o mundo interno e o mundo externo que não
é puramente objetivo e nem puramente subjetivo.
Há partes conscientes e partes inconscientes. Assim
enquanto seres de relação, nossas expressões atingem os
outros e os outros nos atingem. Nessa rede de relações
encontramos aquilo que consideramos o mundo real, com
seus fatos, fenômenos, crenças, valores, usos e costumes,
enfim, a cultura do tempo que vivemos e assim cada um de
nos construímos nossos próprios símbolos e entre eles a
experiência da EE descrita na PT; a qual esta presente
como fenômeno na psicologia, na religião, na arte e na
psiquiatria entre outros campos.
2.2. FREUD E PIAGET
De acordo com o meio que vivemos, nossa cultura,
família, nossos valores e época em que vivemos escolhemos
23
uma vereda mental que nos faca sentido. Historicamente
varias pessoas descreveram sobre estes processos e
escolhas; por exemplo: Freud vê no pensamento simbólico
raízes inconscientes. Piaget, em oposição a essa idéia,
afirma que a existência do jogo de imaginação ou de
ficção na criança, chamado de jogo simbólico, é capaz de
mostrar que o pensamento simbólico ultrapassa o
inconsciente; tendo uma parte consciente e outra
inconsciente concordando com as proposições freudianas.
Então desde tenra idade nossas veredas vão se construindo
de modo simbólico e uma parte deste símbolo será
consciente e outra inconsciente.
Piaget explica que, nesse ”jogo infantil“, nesta
construção mental; nestas primeiras VM a distinção entre
simbolismo inconsciente e consciente não é clara, tal
como no caso de uma personalidade adulta. Prevalece um
estado de indiferenciação por ocasião da assimilação do
real ao eu. A criança está no processo de formação e
descobertas e de acordo com o desenvolvimento
neuropsicológico poderemos associar ou ter expectativas
distintas neste processo de simbolização. Tais símbolos
serviram como “guias” de sinalização para as VM.
Então o pensamento simbólico forma uma unidade, o
que implica na possibilidade de ter como qualidades
concomitantes a consciência e a inconsciência.
24
Segundo Piaget, todo símbolo é ou pode ser, ao mesmo
tempo, primário e secundário, o que quer dizer que ele
pode comportar, além de sua significação imediata e
compreendida pelo sujeito, significações mais profundas
exatamente como uma idéia, além do que ela implica
conscientemente o raciocínio que a utiliza no momento
considerado, pode conter uma série de implicações que
escapam momentaneamente ou desde longo tempo ou mesmo que
escaparam sempre à consciência do sujeito pensante. Então
as sinalizações das VM terá significados conscientes e
inconscientes.
Assim diante das diferentes VM vamos escolhendo ao
longo da vida as que nos trazem maior “conforto”, melhor
”resposta” naquele momento de vida. É a vereda do nosso
Self ao Ego !
Segundo Freud, o conteúdo que a psicanálise propõe-
se a revelar é oculto para o sujeito devido ao trabalho
do recalcamento*. Piaget afirma que na teoria
psicanalítica há simbolismo porque o conteúdo dos
símbolos é recalcado. Em oposição a essa idéia, ele
entende que não é o conteúdo que explica a formação do
símbolo**, mas sim a própria estrutura do pensamento do
sujeito.
Neste sentido, Piaget não atribui ao recalcamento a
importância crucial que tem na obra de Freud. O
25
recalcamento regula os esquemas afetivos, fazendo com que
o conteúdo do símbolo escape à consciência do sujeito.
Faço referência a Freud e Piaget para entendermos que o
símbolo seria construído no campo das EE assim
classificada na PT. Esta VM pode emergir em velocidades
distintas em cada ser !
_________________________________________________________
_____
* A palavra recalque significa “rebaixamento de terra ou paredes” (p. 358). O radicalcalcar é conceituado como “calcar a terra, o terreno= pressionar-pisar-apertar” (p.358), podendo também ser utilizado como “oprimir, vexar, desprazer” (HANS, 1996, p.358).Roudinesco e Plon (1998) acrescentam que o termo refere-se “ao ato de fazer recuar oude rechaçar alguém ou alguma coisa” (p. 647). Os mesmos autores afirmam que tambémpode ser utilizado como sinônimo de recusa ao acesso a um país ou lugar específico.De uso quase que exclusivo da psicanálise, define-se recalque como sendo o movimentoque o aparelho psíquico promove para despejar da consciência as representações quepodem gerar desprazer. Além disso, o aparelho psíquico disponibiliza energia paraexecutar a tarefa de manter o conteúdo que foi despejado afastado da consciência(HANS, 1996; Kusnetzoff, 1982). O mecanismo do recalque não dispõe de força suficientepara erradicar as fontes pulsionais do aparelho psíquico, mas para empurrá-las devolta, “desalojar do centro da cena” (p. 363), mantendo-as fora da consciência, noinconsciente. O recalque mantém-se existente e necessário, pois as fontes pulsionais,uma vez recalcadas, movimentam-se constantemente buscando um caminho para acessar aconsciência e o mundo externo, onde irá encontrar a satisfação. A função do recalque égerar contra-investimentos para manter o material recalcado no inconsciente (HANS1996).Roudinesco e Plon (1998) e Laplache e Pontalis (2001) afirmam que o recalque é umprocesso que obriga as idéias e as representações pulsionais a permanecerem noinconsciente. Esse funcionamento se estabelece para evitar o desprazer que pode ser
26
gerado pelo retorno deste material, bem como o desequilíbrio psicológico do sujeito.
** Para Piaget representação tem início no segundo ano de vida. Nesse sentido, não se pode falar em simbolismo antes que ela apareça; em contrapartida os freudianos vêem símbolos aos dois meses de idade, pois parece falar de simbolismo, de consciência do ‘como se’, antes que haja representação.
CAPÍTULO 3: VEREDAS ALTERNATIVAS:
3.1. EXPERIÊNCIAS ANÔMALAS E ESTADOS ALTERADOS DE
CONSCIÊNCIA
Ao longo da vida nos deparamos com as escolhas de
nossas VM e assim vamos pouco a pouco construindo um
cenário que observamos na caminhada da vida até que na
fase adulta, com nossa personalidade já formada, com o
histórico e registros dos passeios pelas nossas veredas
passamos a estabelecer relações entre os signos, os
símbolos e o imaginário, muito explorado por Lacan;
também visto nos âmbitos artísticos e na
contemporaneidade (com a capacidade expressiva através de
traçados e construções simbólicas) elas podem ser
submetidas a realidade como uma manifestação subjetiva e
particular.
O termo EA é empregado para designar uma experiência
incomum como as alucinações (sinestesias) ou que, embora
seja relatada por muitas pessoas como vivências
interpretadas como telepáticas, entre outros fenômenos
ditos paranormais; acredita-se diferente do habitual e
das explicações usualmente aceitas como realidade. Não há
27
necessariamente uma relação com patologia ou anormalidade
(Cardeña, Lyinn e Krippner, 2000). Bastante relacionados
com EA estão os EAC, que Charles Tart (1972) definiu como
uma alteração qualitativa no padrão global de
funcionamento mental que o indivíduo sente ser
radicalmente diferente do seu modo usual de
funcionamento.
O mesmo autor faz uma analogia entre a mudança de um
estado habitual de consciência para um EAC, descrevendo
como. Nessa situação, um mesmo conjunto de dados ou
exemplo: um mesmo computador poderia funcionar com dois
programas diferentes informações pode ser processado de
formas muito diferentes e gerar saídas bem diversas.
Então, embora haja uma sobreposição entre EA e EAC,
as primeiras podem ocorrer em estados usuais de
consciência como as alucinações. As EA e os EAC são
descritos em todas as civilizações de todas as eras,
constituindo-se muitas vezes elementos importantes na
história das sociedades e, principalmente, de suas
religiões. Têm um profundo impacto, tanto na vida
daqueles que os vivenciam diretamente quanto naqueles que
os acompanham próximos.
As dimensões religiosas e espirituais da cultura
estão entre os mais importantes fatores que estruturam as
crenças, os valores, os comportamentos e os padrões de
adoecimento humanos, ou seja, a experiência humana
(Lukoff e Turner, 1992).
28
As experiências dissociativas ocorrem muito
freqüentemente em contextos religiosos, constituindo-se
muitas vezes em EAC. Apesar de serem conceitos
específicos, EA, EAC, fenômenos dissociativos e
religiosos estão de tal modo interligados e será ponto de
reflexão neste trabalho.
3.2. EMERGÊNCIA ESPIRITUAL
Conceituar um tema que, em pleno século XXI, ainda
enfrenta tabus e descrenças acaba sendo delicado;
portanto inicialmente penso que será importante avaliar a
nomenclatura e definição na PT, e deste conceito uma
discussão sobre o tema.
Então pensando sobre as palavras que compõem o nosso
objeto de estudo: “emergência” e “espiritual”:
1. "Emergência" é o substantivo relativo ao verbo
"emergir". Esse deriva do latim "emero, mersi,
mersum", significando "sair do mar", "sair da
água" [ex-mare]. Como o que "sai do mar" são
mamíferos marinhos que vêm à tona para respirar
rapidamente ou peixes que afloram subitamente à
superfície, o verbo "emergo" [emergir] relacionou-
se à idéia de algo que aparece ou acontece
"subitaneamente", "de súbito", repentinamente.
Esse sentido extensivo é o que se aplica ao
conceito usual de "emergência". Na língua
portuguesa o adjetivo "emergente" se refere tanto
29
àquilo que emerge da água, como a algo que ocorre
de súbito. Para esse segundo sentido usa-se o
vocábulo "emergencial". Há também uma interessante
possibilidade de significado para a palavra
“emergência” que é “nascimento (do Sol)” ou ainda
“situação crítica ou acontecimento perigoso ou
fortuito”.
2. “Espiritual”, adjetivo que provém do substantivo
“espírito” que, por sua vez, deriva do latim
“spiritu” e pode ser compreendido como “a parte
imaterial do ser humano; alma”; mas também como
“ânimo”, “índole” ou ainda “inteligência, engenho,
imaginação, finura”.
Deste modo começarei a busca pela compreensão do
tema e o objeto de estudo para poder iniciar as reflexões
e pesquisas que cercam a dificuldade em conceituar o que
é uma EE. A pesquisa bibliográfica ajudará compreender
estes diferentes olhares sob este conceito/ diagnóstico.
Será prudente ressaltar que o conceito de EE integra
descobertas de muitas disciplinas, incluindo-se entre
elas a psiquiatria clínica, a psicanalise, a moderna
pesquisa da consciência, as psicoterapias experienciais,
os estudos antropológicos, a parapsicologia, a
tanatologia, a religião comparada, a mitologia a arte
(entre elas a arte visionaria e a arte bruta). São áreas
distintas numa primeira instância, mas que adquirem
30
identidade coletiva, unificam-se, quando se debruçam
sobre a preocupação do desenvolvimento humano.
Portanto, EE, num primeiro momento, pode ser
compreendida como o fato, ou os fatos que, subitamente
acometem a alma humana a essência de cada um.
No contexto histórico, foi a partir do século XVIII
que a ciência ingressou em um constante processo de
evolução, que desencadeou uma série de novas tecnologias
que transformaram de forma rápida a vida do homem,
sobretudo, no modo de produzir mercadorias. Nesse último
caso, serviu principalmente ao setor industrial,
acelerando o desenvolvimento do sistema capitalista.
Neste novo sistema não cabia mais um ser místico, um ser
envolvido em suas questões espirituais. A racionalidade
tornou-se a medida última de todas as coisas,
substituindo com rapidez e sem piedade, a espiritualidade
e as crenças religiosas.
No ocidente, todas as coisas que tivessem a mínima
relação com o misticismo eram desqualificadas como
resquícios da “idade das trevas”. Neste momento, a
psiquiatria moderna tenta suprimir a lacuna, muitas
vezes, encontrada nas distorções patológicas da atividade
mental.
31
É importante ressaltar também que quando foram
aplicadas estratégias médicas à psiquiatria, os
pesquisadores conseguiram encontrar explicações
biológicas para algumas desordens que exibiam
manifestações psicológicas e ainda mais a psiquiatria
médica também descobriu meios de controlar os sintomas
das condições para as quais não foram encontradas causas
biológicas. O homem foi fadado a pertencer a dois
grandes grupos: Os normais, previstos e controláveis, e
os anormais, imprevistos e incontroláveis.
Era de se esperar, num contexto absolutamente
racionalista, que pessoas com desordens emocionais e
psicossomáticas eram imediatamente consideradas
pacientes, embora com desconhecimento da origem destes
sintomas e eram medicadas de forma supressiva.
Nas últimas décadas, por volta dos anos 60, pudemos
observar um crescente interesse pela espiritualidade e
atualmente de modo transdisciplinar aparecem em varias
áreas, como citado, nas duas mostras de arte de 2014/15
(bienal e trienal).
Vimos uma retomada das práticas espirituais antigas
e do oriente, o surgimento de psicoterapias
experienciais, dentre elas a PT e também a auto-
experimentação com drogas psicodélicas em alguns meios.
32
Desta forma, podemos entender também EE como uma
crise, pela qual algumas pessoas passam, que propicia a
abertura da espiritualidade. Então será necessário
contudo alertar para o fato de que essas crises devem ser
muito bem avaliadas por profissionais competentes, pois
episódios de estados incomuns de consciência como as EA e
os EAC abrangem um espectro muito amplo, que vão de
estados espirituais puros, sem nenhum vestígio de
patologia, a condições de natureza claramente biológica
que exigem tratamento médico; o que pode ser interpretado
como uma EE, no sentido de crise, na verdade, pode
ocultar estados psicóticos que, certamente estariam nos
domínios da psiquiatria. Porém, o que denominamos de EE
traz no seu percurso uma transformação pessoal, muitas
vezes, radical, o que pode não ocorrer quando
diagnosticado um distúrbio mental.
Há muitos relatos colhidos por estudiosos da área
tentando exemplificar o processo de cura e transformação
das pessoas que experienciaram uma crise de EE. O
antropólogo e psicólogo Holger Kalweit, afirma que certas
formas de sofrimento e de enfermidade têm um potencial de
auto cura e de transformação pessoal e cita como exemplos
algumas culturas tribais, o xamanismo.
John Weir Perry, em seu artigo “Emergência
Espiritual e Renovação”, discute um importante tipo de
crise transformacional que alcança o próprio núcleo da
33
estrutura da personalidade, como ele observou durante
anos de psicoterapia intensiva com os seus clientes;
muitos deles, considerados psicóticos, foram tratados sem
medicação supressiva. Em “Os Desafios da Abertura
Psíquica”, a médium e conselheira transpessoal Anne
Armstrong descreve a perturbação emocional e as
dificuldades psicossomáticas que acompanharam a abertura
do seu notável dom mediúnico e resultaram numa dramática
auto cura.
CAPÍTULO 4: LABIRINTOS EM VEREDAS
4.1. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DAS EMERGÊNCIAS
ESPIRITUAIS
Ao longo da história da humanidade, as alterações de
comportamento receberam diversas abordagens e tratamentos
de acordo com cada época e cada contexto, o que a
caracteriza como fenômeno social interpretado das formas
mais diversas.
A história nos revela que a sociedade já compreendeu
tais alterações de diferentes maneiras. Desde alguém sem
34
qualquer razão (o louco) ou até o inverso.
A doença neste contexto era ligada a forças
sobrenaturais do bem e do mal. Assim, o “louco” era visto
como um possuído pelo demônio, por espíritos ou
simplesmente descartados. Desta forma o tratamento se deu
por meio de exorcismos sob a responsabilidade da Igreja
Católica.
É somente no século XIX que a Medicina toma a
“loucura” como uma doença. Para dar conta do tratamento
desta nova doença, uma nova especialidade é criada pela
Medicina; primeiro a neurologia e em seguida a
psiquiatria, com o intuito de cuidar das doenças mentais.
Outro grande passo foi dado por Freud com a
descoberta do inconsciente e da psicanálise. Neste
período, já sob a categoria de doença mental e sob o
domínio da medicina são inauguradas as instituições
psiquiátricas - os sanatórios e manicômios – com o
objetivo de isolar a “loucura” e proteger a sociedade
contra o ameaça do “mal” provocado pelos loucos. Desta
forma, as instituições psiquiátricas surgem no final do
sec. XVIII, e com elas a institucionalização da loucura.
4.2. PSIQUATRIA E AS EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS
É importante termos esta compreensão para entender
como o enfoque das EE aparecem no meio psiquiátrico. E
assim entender que com o passar do tempo algumas
alternativas de tratamento mental começaram a ser
35
experimentadas nos hospitais psiquiátricos, no tocante ao
trabalho, a arte, ou sob novos paradigmas. Há diferentes
psicopatologias descritas no contexto psiquiátrico que
podem apresentar características psicóticas semelhantes a
uma crise de EE, por exemplo os quadros depressivos com
características psicóticas, os quadros bipolares com
sintomas psicóticos, as psicoses induzidas por SPA
(Substancias Psicoativas) entre outros diagnósticos
clínicos .
Para melhor critério e classificação usaremos o CID-
10 (referência no Brasil) e também o DSM IV.
36
CAPÍTULO 5: NOMEANDO AS VEREDAS
5.1. CID-10 E DSM
A Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (também conhecida como Classificação
Internacional de Doenças – CID 10) é publicada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a
codificação de doenças e outros problemas relacionados à
saúde. A CID 10 fornece códigos relativos à classificação
de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas,
aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e
causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado
de saúde é atribuída uma categoria única à qual
corresponde um código CID 10.
O DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders) é um manual para profissionais da área
da saúde mental que lista diferentes categorias de
37
transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, de
acordo com a American Psychiatric Association – APA. É
usado ao redor do mundo por clínicos e pesquisadores bem
como por companhias de seguro, indústria farmacêutica e
parlamentos políticos. Existem cinco revisões para o DSM
desde sua primeira publicação em 1952. A maior revisão
foi a quarta DSM-4 publicada em 1994 , apesar de uma
“revisão textual” ter sido produzida em 2000. O DSM-5
(anteriormente conhecido como DSM-V) foi publicado em 18
de maio de 2013 e é a versão atual do manual.
Com estes instrumentos de classificação será
possível ter uma linguagem comum diante do fenômeno
observado no paciente. No caso das EE, não existe esta
classificação, então para melhor entendimento do processo
vivenciado e das VM que está em foco será importante
lembrar que a alucinação é a percepção real de um objeto
inexistente, ou seja, são percepções sem um estímulo
externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a
convicção inabalável que a pessoa manifesta em relação ao
objeto alucinado, portanto, será real para a pessoa que
está alucinando. Sendo a percepção da alucinação de
origem interna, emancipada de todas variáveis que podem
acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade
sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é
percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato.
Tudo que pode ser percebido pode também ser alucinado e
isso ocorre, imaginativamente, com maior liberdade de
38
associações de formas e objetos. Na alucinação, por
exemplo, um leão pode aparecer de asas, ou um caracol que
cavalga um ouriço. O indivíduo que alucina pode ter
percebido isoladamente cada umas das formas e,
mentalmente, combinado umas com as outras. As alucinações
podem manifestar-se também através de qualquer um dos
cinco sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e
visuais.
O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão no
que tange à existência de estímulo externo já que na
alucinação não há estímulo e na ilusão o estímulo é
percebido de forma deformada, ou em uma simplificação a
ilusão é um “engano” dos sentidos. O fenômeno
alucinatório tem conotação muito mais mórbida que a
ilusão, sendo normalmente associado à estados psicóticos
que ultrapassam a simplicidade de um engano dos sentidos.
Na alucinação o envolvimento psíquico é muito mais
contundente que nos estados necessários à ilusão; todavia
nem todas as convicções falsas podem ser consideradas
delírios; se estiver relacionada, por exemplo, com falta
de cultura ou conhecimentos podemos falar em ignorância.
As convicções filosóficas ou religiosas também não podem
ser consideradas delírios, ainda que algumas pessoas elas
sejam erradas.
Pode considerar-se uma síndrome constituído por um
conjunto de idéias mórbidas, que se manifestam numa
39
alteração fundamental do juízo, e nas quais deposita uma
convicção forte e inabalável. Este conteúdo de pensamento
inadequado constitui o tema delirante.
O pensamento constitui a base da nossa atividade
psicológica, que orienta e integra as representações
(imagens) e os outros dados elaborados pelo conhecimento
(idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser
concretos ou abstratos.
No delírio, os mecanismos associativos do indivíduo
fogem da realidade e da lógica , podendo levar o mesmo a
formar juízos e raciocínios anormais e originando
porventura alucinações, percepções delirantes ou idéias
delirantes. Apresentam-se como características gerais dos
delírios a sua resistência e irredutibilidade perante a
lógica e a experiência; a sua tendência crescente e
difusão por toda a consciência, tornando-se o centro de
toda a vivência do indivíduo; a falta de autoconsciência
do doente relativamente à perturbação. Assim, a idéia ou
tema delirante é a realidade privada do doente e que o
separa da comunidade onde a realidade dos indivíduos sãos
é a sua percepção sociocultural e situacional dos pontos
comuns e em acordo.
A partir do entendimento das alucinações poderemos
pensar do que se trata as psicoses, que são distúrbios
psiquiátricos graves onde o paciente perde contato com a
realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também
40
apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a
audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à
impossibilidade de convívio social, além de outras formas
bizarras de comportamento.
CAPÍTULO 6: CAMINHANDO PELAS VEREDAS
6.1. PSICOSES
O termo Psicose é empregado para se referir à perda
do juízo da realidade e um comprometimento do
funcionamento mental, social e pessoal, normalmente
levando a um prejuízo no desempenho das tarefas e papéis
habituais.
As Psicoses podem ter várias origens:
41
lesões cerebrais,
tumores cerebrais,
esquizofrenia,
SPA
infecções,
distúrbios metabólicos,
entre outras comorbidades.
6.2. ESQUIZOFRENIAS
Na CID-10 os Transtornos Psicóticos são classificados
como (F20-F29). Este agrupamento reúne a esquizofrenia, a
categoria mais importante deste grupo de transtornos, o
transtorno esquizotípico e os transtornos delirantes
persistentes e um grupo maior de transtornos psicóticos
agudos e transitórios.
Os transtornos esquizoafetivos foram mantidos nesta
seção, ainda que sua natureza permaneça controversa.
Historicamente o termo "esquizofrenia" foi criado em 1911
pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler com o significado de
mente dividida. Ao propor esse termo, Bleuler quis
ressaltar a dissociação que às vezes o paciente percebia
entre si mesmo e a pessoa que ocupa seu corpo.
Hoje é o nome universalmente aceito para este
transtorno mental psicótico, entretanto, no meio técnico
42
e profissional se admite que o termo pode ser
insuficiente para descrever a complexidade dessa condição
patológica.
A Esquizofrenia é uma doença da personalidade total que
afeta a zona central do eu e altera toda estrutura
vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o
estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande
estranheza social devido ao seu desprezo para com a
realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as
amarras da concordância cultural, o esquizofrênico
menospreza a razão e perde a liberdade de escapar às suas
fantasias.
Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é
acometida pela doença, geralmente iniciada antes dos 25
anos e sem predileção por qualquer camada sociocultural.
O diagnóstico se baseia exclusivamente na história
psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente
raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou
depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma
diferença na prevalência entre homens e mulheres.
Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam, em
geral, por distorções características do pensamento, da
percepção e por inadequação dos afetos. Usualmente o
paciente com esquizofrenia mantém clara sua consciência e
sua capacidade intelectual. A Esquizofrenia traz ao
paciente um prejuízo tão severo que é capaz de interferir
amplamente na capacidade de atender às exigências da vida
43
e da realidade.
As esquizofrenias podem ser classificadas em:
Esquizofrenia paranóide
Esquizofrenia Hebefrênica
Esquizofrenia Catatônica
Esquizofrenia Simples e
Esquizofrenia residual
6.3. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
Outra patologia a ser diferenciada são os quadros de
alterações do humor e podem ser caracterizados como o
transtorno afetivo bipolar que leva este nome por causa
da alternância de dois estados emocionais básicos: a
alegria e a tristeza.
Assim como acontece nas doenças físicas, que muitas
vezes representam excesso ou falta de algum elemento
normalmente presente no corpo, muitas doenças da mente
também representam alterações para mais ou para menos de
aspectos emocionais comuns. O equivalente doentio da
alegria recebe o nome de mania e o da tristeza,
depressão.
Nestes períodos podem ocorrer alterações de
44
pensamento além das variações de humor e de acordo com as
VM de cada ser potencializar características na qual a
fenomenologia do quadro podem ficar semelhantes a EA ou
EAC e quadros dissociativos.
Como resultado, portadores de transtorno bipolar com
sintomas psicóticos podem ser erroneamente diagnosticados
como tendo esquizofrenia, outro transtorno mental grave
ligado a delírios e alucinações. E neste caso estamos
ressaltando a importância do diagnóstico para compreensão
de uma EE.
6.4. AS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
Outro diagnóstico diferencial importante seria o
transtorno do humor induzido por substância que é uma
perturbação proeminente e persistente do humor,
considerada como devido aos efeitos fisiológicos diretos
de uma substância psicoativa SPA (droga de abuso,
medicamento, outros tratamentos somáticos). Dependendo da
natureza da substância e do contexto no qual os sintomas
ocorrem a perturbação pode envolver humor depressivo ou
acentuada diminuição do interesse ou prazer, ou humor
elevado, expansivo ou irritável; podem apresentar
características esquizofreniformes ou não.
Embora a apresentação clínica da perturbação do
humor possa lembrar a de um episódio depressivo maior,
episódio maníaco, misto ou hipomaníaco, não são
satisfeitos todos os critérios para um desses episódios.
45
Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social ou
ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo . Em alguns casos, o indivíduo pode ainda ser
capaz de funcionar, mas apenas com um esforço
acentuadamente aumentado.
Em vigência das SPAs podem desencadear fenômenos com
distúrbios da senso percepção. Neste caso, será
importante fazer o diagnostico diferencial das EA, dos
EAC e dos quadros dissociativos. Podem ser semelhantes a
quadros esquizofreniformes, entretanto autolimitado, pois
a alteração deve-se ao uso da substância que desencadeam
alucinações e delírios (na maioria das vezes paranóides).
6.5 ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS
Uma boa anamnese e uma avaliação do estado mental
será possível observar a alucinação que é a percepção
real de um objeto inexistente, ou seja, são percepções
sem um estímulo externo; o individuo irá relatar que a
percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável
que a pessoa manifesta em relação ao objeto alucinado,
portanto, será real para a pessoa que está alucinando.
Então sendo a percepção da alucinação de origem
interna, emancipada de todas variáveis que podem
acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade
46
sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é
percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato.
Tudo que pode ser percebido pode também ser alucinado e
isso ocorre, imaginativamente, com maior liberdade de
associações de formas e objetos. O indivíduo que alucina
pode ter percebido, isoladamente, cada umas das formas e,
mentalmente, combinado umas com as outras. As alucinações
podem manifestar-se também através de qualquer um dos
cinco sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e
visuais.
O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão no
que tange à existência de estímulo externo já que na
alucinação não há estímulo e na ilusão o estímulo é
percebido de forma deformada, ou em uma simplificação a
ilusão é um “engano” dos sentidos.
O fenômeno alucinatório tem conotação muito mais
mórbida que a ilusão, sendo normalmente associado ao
estado psicótico que ultrapassam a simplicidade de um
engano dos sentidos; o que na EE tem outras descrições e
características.
Na alucinação o envolvimento psíquico é muito mais
contundente que nos estados necessários à ilusão, todavia
nem todas as convicções falsas podem ser consideradas
delírios. Se estiver relacionada, por exemplo, com falta
de cultura ou conhecimentos podemos falar em ignorância.
47
As convicções filosóficas ou religiosas também não podem
ser consideradas delírios, ainda que algumas pessoas elas
sejam erradas. Neste caso, as EE será considerado todo o
antecedente e histórico prévio do individuo, suas crenças
e valores, os quais poderão estar envolvidos diretamente
na crise da EE o que poderá nortear a VM do sujeito.
O pensamento constitui a base da nossa atividade
psicológica, que orienta e integra as representações
(imagens) e os outros dados elaborados pelo conhecimento
(idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser
concretos ou abstratos. No delírio, os mecanismos
associativos do indivíduo fogem da realidade e da lógica,
podendo levar o mesmo a formar juízos e raciocínios
anormais e originando porventura alucinações, percepções
delirantes ou idéias delirantes. Apresentam-se como
características gerais dos delírios a sua resistência e
irredutibilidade perante a lógica e a experiência; a sua
tendência crescente e difusão por toda a consciência,
tornando-se o centro de toda a vivência do indivíduo; a
falta de autoconsciência do doente relativamente à
perturbação.
Assim, a idéia ou tema delirante é a realidade
privada do doente e que o separa da comunidade onde a
realidade dos indivíduos sãos é a sua percepção
sociocultural e situacional dos pontos comuns e em
acordo.
48
A partir do entendimento das alucinações poderemos
pensar do que se trata as psicoses, que são distúrbios
psiquiátricos graves onde a pessoa perde contato com a
realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também
apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a
audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à
impossibilidade de convívio social, além de outras formas
bizarras de comportamento.
Neste cenário, para tal é muito importante conhecer
quais os possíveis fatores que podem ter desencadeado a
EE e correlacionarmos as VM de cada ser e tentarmos
compreender a manifestação destes sinais e ou sintomas
psiquiátricos.
- Causa física: Uma doença, acidente, operação,
esforço físico extremo ou insônia prolongada.
Também devido a uma experiência sexual de muita
intensidade; Mulheres podem ser após o parto, um
aborto espontâneo ou provocado; ou algum evento
estressante para ela.
- Causa Emocional: Perda de um filho ou parente
próximo, fim de um relacionamento amoroso ou
divórcio, assim como uma sucessão de fracassos,
como demissão e perda de propriedade entre outros.
49
- Em pessoas predispostas o desencadeador pode ser
uma experiência com substâncias psicoativas ou uma
sessão de psicoterapia experimental.
- Práticas Espirituais: Este parece ser um dos
principais fatores desencadeantes da EE, como a
meditação, ativação de experiências espirituais,
prática do zen, meditação budista Vipassana, ioga
Kundalini, exercícios sufis, ou através da oração
e contemplação cristã.
Estes eventos estão diretamente relacionado aos
valores, a cultura e na crença da pessoa. As emergências
espirituais se manifestam de formas distintas em cada
indivíduo, mas é possível definir certas formas
principais de EE descrita por autores e pesquisadores do
tema, pois estas são dotadas de características
específicas que as distinguem umas das outras. É comum a
sobreposição e combinação de diferentes tipos de EE.
6.6. OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
A experiência mística também foi vista como um
episódio psicótico e como uma psicose borderline. O
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders III
(DSM-III) faz 12 referências à religião, todas elas
associadas à psicopatologia, entretanto em outras edições
do DSM passam a rever as questões religiosas e
estabelecer novos critérios diagnósticos, de qualquer
50
modo, nos transtornos de personalidade uma VM
característica também será descrita pelo indivíduo.
6.7. OS QUADROS DISSOCIATIVOS
Experiências dissociativas também estiveram
associadas a transtornos mentais. O termo dissociação foi
inicialmente criado por Pierre Janet, em 1880, para
significar “desagregações psicológicas”. Segundo esse
autor, a dissociação seria a perda da unidade do
funcionamento da personalidade humana, na qual certas
funções mentais atuariam de forma independente e fora de
um controle,
Por outro lado a questão da EE ainda não há um
consenso, pois agrupa alguns conjuntos de sinais e
sintomas que o próprio nome engloba questões emergenciais
como urgências e questões que emergem do sujeito naquele
momento segundo Groff , que as definiu como estágios de
crise e de uma transformação psicológica profunda que
envolve todo ser da pessoa, transformação que toma a
forma não comum de consciência e envolvem emoções
internas, alterações sensoriais, pensamentos incomuns e
várias manifestações físicas.
Em um conceito mais comum, a EE pode ser entendida
como um amadurecimento de uma pessoa, uma maior saúde
emocional e psicossomática, maior liberdade de escolhas e
uma sensação de ligação profunda com outras pessoas, com
51
a natureza e o cosmos. Uma parte importante é o despertar
da dimensão espiritual da vida e no esquema universal das
coisas.
Em um segundo momento, para melhor compreensão dos
diagnósticos diferencias, será importante entender,
alguns conceitos básicos de psicopatologia como
alucinações e ilusões e também deveremos compreender o
que são os delírios e as alterações de pensamento. Desta
forma ficará mais simples de compreender e caracterizar
as psicoses e diferencia-las de uma EE. Assim como ter em
mente os conceitos de unidade, de ego, de vida , os EAC e
a cartografia da consciência. Tópicos que compõem o
arcabouço da PT.
CAPÍTULO 7: UMA VEREDA ALTERNATIVA
52
7.1.A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
A abordagem integrativa transpessoal considera o
individuo como um todo, abrangendo aspectos bio-psico-
social-espiritual. Agrega valores de outras ciências
fazendo uma interdisciplinaridade e valorizando o
aspecto saudável do ser.
Há uma ampliação de conceitos assim levará em
consideração o princípio de transcendência, o qual
indicará um impulso em direção ao despertar espiritual
por meio da própria humanidade do ser, da pulsão de
vida morte e além delas. Essa transcendência e inerente
ao ser humano em sua humanidade plena; para Maslow essa
natureza seria parte do principio do prazer, sob o
domínio do processo primário. Seria “instintoide”,
assim ampliando o conceito original descrito por Freud.
Existem dois aspectos básicos sistematizados
dentro de um referencial teórico que simbolizam uma
abertura para se visualizar e compreender adequadamente
esta abordagem e são classificados em:
Aspecto Estrutural e
Aspecto Dinâmico.
O Aspecto Estrutural é constituído por cinco
elementos que formam o que denominamos de corpo teórico
da PT e são:
53
1. Conceito de Unidade,
2. Conceito de Vida,
3. Conceito de Ego,
4. Estados de Consciência e
5. Cartografia da Consciência
Os elementos (corpo teórico) do aspecto
estrutural podem ser caracterizados como base de
sustentação para o trabalho transpessoal.
7.2. FORMAS DAS EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS
A partir dos conceitos da PT e do entendimento das
EE será possível descreve-la e ou classifica-las num
entendimento holístico e Trasnpessoal. Assim as formas
mais importantes EE de são:
7.2.1. A Crise Xamânica
O xamanismo é a mais antiga religião e arte curativa
da humanidade. A Crise Xamânica geralmente está associada
com o surgimento de doenças desconhecidas (geralmente de
cunho neurológico ou psiquiátrico), que levam a uma total
inconsciência (estado de coma) ou a sofrimentos físicos e
psicológicos intensos. Nesse estado surgem sonhos
repletos de mensagens, premonições, visões de morte,
jornadas ao mundo inferior, experiências de morte e
renascimento, aniquilação pessoal que envolve um encontro
de forças de decadência e destruição que por fim levam a
reconstituição física. Então, de forma inexplicável, se
desperta curado. A doença torna-se, assim, um veículo
54
para um plano mais elevado de consciência, em que o xamã
percebe que a energia dele é muito maior do que ele
próprio percebia e, aliando sua experiência ao
conhecimento sagrado recém-adquirido, passa a realizar
curas e mudanças no mundo físico. A crise xamânica
reflete o mais alto chamado para as culturas nativas e
nela está sua natureza curadora e benevolente.
Vimos exemplos em que americanos, europeus,
australianos e asiáticos de hoje passaram por episódios
bastante semelhantes a uma crise xamânica. Além dos
elementos de tortura física e emocional, de morte e de
renascimento, esses estados envolvem experiências de
ligação com animais, plantas e forças elementais da
natureza. As pessoas que passaram por essas crises também
manifestam tendências espontâneas de criação de rituais
idênticos aos praticados por xamãs de várias culturas.
7.2.2. O Despertar da Kundalini
A kundaliní (termo sânscrito que pode ser traduzido
como serpentine ou enrroscada) é uma forma de energia
cósmica latente no corpo humano, concentrada na base da
coluna vertebral, na região dos órgãos genitais. As
manifestações dessa forma de crise são encontradas na
literatura védica hindu. Pode ser ativada pela meditação,
por exercícios específicos, pela intervenção de um mestre
espiritual que tenha a sua kundaliní desperta e,
raramente, por razões desconhecidas.
55
Quando despertada, a Kundalini é conduzida pelo
sistema nervoso central até ao cérebro, despertando e
ativando os canais do "corpo sutil" (ou centros de
energia). A medida que sobe, ela abre os centros de
energia psíquica, os chakras. A abertura dos chakras é um
importante evento pois há mudanças na consciência e na
mente. Com o despertar da kundaliní ocorre também o
desenvolvimento da inteligência criativa, maior
expressividade, estados expandidos de consciência e
aprimoramento das faculdades supramentais. Uma
reorganização das nossas prioridades e afetos assim como
a percepção qualitativa das nossas experiências se
modifica com o despertar da Kundalini.
Os indícios mais extremos do despertar da Kundalini
são manifestações físicas e psicológicas chamadas kriyas.
As principais manifestações do despertar da Kundalini
são:
(1) Sensações poderosas de calor e energia subindo
ao longo da espinha, associadas com tremores
violentos, espasmos e movimentos serpeantes;
(2) Fortes ondas de emoções aparentemente
imotivadas, tais como, ansiedade, raiva, tristeza,
enlevo jubiloso ou extático, riso ou choro
involuntários, sensações orgásticas, estados de
indescritível paz e tranqüilidade, depressão,
56
ansiedade e agitação relacionada com sensação de
insanidade ou morte;
(3) Comportamentos involuntários e freqüentemente
incontroláveis. O indivíduo pode assumir
espontaneamente posições de Yôga (ásanas) e gestos
com as mãos (mudrás). Vocalizações de mantras
(cânticos) ou canções, falar em línguas estranhas ou
emitir sons vocais desconhecidos ou animalescos;
(4) Visões de símbolos geométricos, de luzes
brilhantes e radiantes, complexas visões de seres
arquétipos, tais como santos, divindades, demônios e
seres mitológicos
(5) Percepção de fenômenos acústicos que parecem
vir do interior e que incluem uma variedade de sons;
(6) Experiências que remetem lembranças de vidas
passadas.
(7) Episódios de Consciência Unitiva ***
("Experiências Culminantes").
(8) Renovação Psicológica por meio do Retorno ao
Centro ****
_____________________________________________________________________________________________***Neste estado ocorre a dissolução das estruturas egóicas fronteiras
pessoais, surgindo a sensação de unidade com o outro, com a natureza
ou com todo o universo. As propriedades de tempo e de espaço são
57
transcendidas e a pessoa pode vivenciar a natureza do infinito ou da
eternidade. As emoções associadas com esses estados variam de
sensação de felicidade, grande prazer, paz e serenidade. Abraham
Maslow, que estudou essas experiências em centenas de pessoas, deu-
lhes o nome de "experiências culminantes". As experiências
culminantes geralmente trazem um refinamento da consciência mediante
o mundo e a expressão plena espontânea de habilidades e potenciais
(auto-realização).
****A psique dessas pessoas parece um colossal campo de batalha, onde
é travado um combate entre forças duais; forças do bem e as forças do
mal, ou entre as forças da Luz e as das Trevas. Temas de morte - o
assassinato, o ritual, o sacrifício, o martírio e o pós vida. Recriam
eventos fantásticos com magnitudes cósmicas. Seus estados visionários
tendem a levá-las ao passado, reconstruindo a sua própria história e
a história da humanidade, dirigindo-se para a criação do mundo e para
o estado paradisíaco ideal original, lutando por perfeição e tentando
corrigir as coisas erradas do passado.
Depois deste período de caótica perturbação, as experiências
vão se tornando cada vez mais agradáveis, dirigindo-se para uma
resolução. O processo costuma culminar na experiência do "casamento
sagrado", seja com um parceiro arquetípico imaginário ou projetado
numa pessoa real idealizada (aspectos masculinos e femininos entendo
em equilíbrio).
7.2.3. A Crise de Abertura Psíquica
No decorrer de EE de todos os tipos, é comum o
aguçamento das capacidades intuitivas e a presença de
fenômenos "paranormais". Porém, em alguns casos, a
precognição, a telepatia ou a clarividência ficam
intensos e perturbadores que domina o quadro e constitui
58
um grande problema para quem vive a EE e para os demais
que convivem com o indivíduo.
Na abertura psíquica, são freqüentes as experiências
de saída do corpo (consciência desloca-se do corpo) A
pessoa pode relatar que se observou a certa distância ou
testemunhar o que está acontecendo a quilômetros de
distância. A viagem fora do corpo é comum em situações de
proximidade da morte.
Capacidades telepáticas podem ocorrer por
apresentarem maior sensibilidade aos processos dos outros
durante a EE . A precognição correta de situações
futuras e a clarividência de eventos remotos podem
ocorrer.
Em experiências consideradas "mediúnicas", tem-se a
sensação de perda da identidade e consecutiva adoção de
outra identidade, traduzida por mudanças na linguagem
corporal, dos sentimentos e até dos processos mentais. O
súbito aparecimento de uma nova identidade pode ser
assustador. Sincronicidades (“coincidências” entre o
mundo interior e fenômenos do mundo exterior) são
particularmente comuns nessas crises.
7.2.4. Experiências com vidas passadas
Dentre o mais dramático e coloridos episódios que
ocorrem em estados de consciência incomuns estão as
59
experiências com vidas passadas. Nessas experiências as
emoções e sensações físicas são extremamente intensas e,
retratam com ricos detalhes pessoas, circunstâncias e
ambientes históricos. Seu aspecto mais notável é um
sentido de lembrança pessoal e de revivescência de algo
que já se viveu antes. Essa experiência é compreendida
como uma situação vivida anteriormente, de outra vida,
que necessita ser completado (carma=ação incompleta).
Existem várias formas de lidar com esses conteúdos
que emergem a consciência, basicamente eles precisam ser
compreendidos, expressarem sentido de explicação e serem
incluídos ou conciliados com as nossas crenças e valores
da vida atual.
Pode ser uma experiência que oferece, por si, muitas
explicações como dificuldades de relacionamento, medos
irreais, aversões e atrações, problemas psicossomáticos
obscuros, surgimento súbito de sensações corporais,
visões intensas ou emoções sem sabermos o significado,
pois essas experiências não estão totalmente conscientes
para se tornarem manifesta, por isso elas percebem, mas
desconhecem o significado ou a causa.
Esses padrões de comportamentos precisam ser
compreendidos e completados, como que se a partir da
experiência, a pessoa não precisasse mais ter esse
60
padrão, ele não vale mais para essa vida (completando o
carma).
Obtidas as explicações, compreendidas nas suas
funções do aqui agora é momento de conciliá-las com
crenças e valores tradicionais da civilização ocidental.
Trabalho considerado desafiador.
O autor observa que quando o indivíduo passa por
essa poderosa experiência, há um alívio ou eliminação
completa de dores psicossomáticas agudas, depressão,
fobias, asma psicogênica, enxaqueca entre outros.
7.2.5. Comunicações com espíritos-guia e "canalização"
Podemos ter como experiência, uma relação pessoal
com um “ser” dito desencarnado, dotado de extraordinária
sabedoria, que assume a posição de mestre, de guia, de
protetor. Esse “ser” pode se manifestar através da forma
humana, ou uma fonte radiante de luz ou deixar sentir sua
presença. Sua comunicação direta é através do pensamento,
há casos em que essa comunicação é feita de forma verbal
ou através de outro processo extrasensorial.
A principal razão, por que essas experiências podem
desencadear uma séria crise é a natureza e a qualidade
confiável dessa canalização de assuntos que o receptor
jamais esteve exposto. Neste caso, é uma prova inegável
da existência de realidades espirituais que pode levar a
61
uma confusão filosófica que tinham uma visão científica
convencional.
Outra fonte de problema desta relação é o indivíduo
acreditar que, por haver essa comunicação com seres de
elevada sabedoria, acreditar que foi escolhido para
desempenhar uma especial missão e se identificar,
ocorrendo a inflação do seu ego.
7.2.6. Experiências de proximidade da morte
Nas experiências de proximidade da morte, pessoas
que foram consideradas clinicamente mortas, mas que
recuperaram a consciência, contaram suas histórias para
Raymond Moody que colheu 150 relatos de pessoas que
viveram essa mesma experiência. Dentre os relatos, Moody
observou que havia uma semelhança das situações vividas,
muitos descreveram ter visto seu próprio corpo, como se a
sua consciência flutuasse livremente sobre a cena, de
poder ter uma revisão de toda a vida de forma vívida e
condensada que dura alguns segundos. Outros descreveram a
visualização de um túnel de luz e, de um encontro com um
ser de imenso amor, onde receberam uma lição sobre a
existência e as leis universais tendo a oportunidade de
examinar seu próprio passado, podendo ter uma nova chance
para viver uma vida mais congruente e determinada
compatível com os princípios que aprendeu.
62
Essas experiências com a morte podem levar a
experiência de emergência, por causar alterações nas
crenças sobre a realidade, levando a pessoa a viver uma
aventura visionária que despedaça a realidade conhecida.
7.2.7. Experiências de contatos próximos com OVNIs
Carl Gustav Jung dedicou um estudo especial ao
problema dos “discos voadores”, referindo que esses
fenômenos poderiam ser produto de visões arquetípicas do
inconsciente coletivo da humanidade.
Há relatos de visões de luzes de natureza estranha,
raptos que incluem exames físicos e experiências
científicas, considerados torturas inimagináveis.
A emergência ocorre, pois essas pessoas acreditam
que possam ter atraído o interesse de seres superiores e
muito mais evoluídos que a humanidade por que, devem
possuir algum dote especial. Como ocorre na canalização e
comunicação com espíritos guias há uma inflação do ego.
7.2.8. Estados de possessão
As pessoas que passam por essa experiência sentem
que sua psique e seu corpo foram invadidos por algo de
fora de sua personalidade, algo perturbador, demoníaco e
hostil. O problema pode se manifestar como uma séria
psicopatologia, envolvendo um comportamento anti-social e
até criminoso (depressão suicida; a agressão assassina;
63
autodestruição; impulsos sexuais promíscuos ou
desviantes; uso excessivo de álcool e drogas).
É possível identificar na psicoterapia quando há uma
possessão, quando o indivíduo apresenta algumas
características como: rosto contraído, olhos com
expressão selvagem, mãos e o corpo produzem estranhas
contorções, a voz pode alterar-se. Para esse estado, é
feito um trabalho como o exorcismo na sessão, com um
terapeuta apto para dominar tal situação e para que seja
realizado com benefício para o indivíduo.
A EE é um estado relatado que pode ser assustador
e extremamente difícil, por outro lado possui um imenso
potencial de cura e transformação; a evolução é dolorida,
exige muita energia, força, e coragem para seguir
adiante, resistindo as forças do ego que deseja manter a
aparente paz e tranqüilidade.
CAPÍTULO 8: MAPEANDO VEREDAS
8.1. DISCUSSÃO
Vários autores observaram o fenômeno e o descrevem
criando nomenclaturas, classificações e descrições; além
de critérios diagnósticos e condutas terapêuticas. Os
autores, entretanto, apresentaram diferentes opiniões;
Jung por exemplo viu na experiência mística a
manifestação de uma experiência psicologicamente
saudável.
64
Maslow considerou as “experiências culminantes” a
expressão máxima da saúde e do bem-estar psicológico.
Adair de Menezes Junior e Alexander Moreira Almeida;
ambos da Universidade Federal de Juiz de Fora/ MG fizeram
uma revisão da literatura com foco nas experiências
espirituais e os transtornos mentais de conteúdo
religioso (2008).
Hood e Caird (1987) constataram que indivíduos que
relataram ter tido experiências místicas pontuam mais em
escalas de bem- estar psicológico e menos em escalas de
psicopatologia do que os controles; também comprovaram
que indivíduos ligados a alguma crença religiosa pode
funcionar como fator protetor nas psicopatologias.
Alguns autores sugeriram a importância de se
buscarem critérios diferenciadores entre o que seriam
experiências espirituais não patológicas e o que seriam
transtornos mentais de conteúdo religioso.
As contribuições desses autores para essa
importante questão foram coletadas na literatura, e
procurou-se apresentar e discutir alguns critérios comuns
que tenham perpassado pela maioria dessas investigações.
Ao final, concluiu-se que, embora todos esses
65
critérios apresentem certa coerência, ainda não foi feita
até o presente nenhuma investigação extensiva que
testasse esses critérios, e são colocadas algumas
diretrizes metodológicas que alguns autores sugeriram
para essa investigação.
Vários autores têm abordado a relação entre as
experiências espirituais e manifestações patológicas da
mente.
Místicos, videntes e médiuns têm desafiado a
compreensão dos profissionais de saúde mental e tornado
necessária uma adequada diferenciação entre o que seria
uma experiência espiritual saudável e o que seria um
transtorno psicótico ou dissociativo com conteúdo
religioso.
No início do século XX, William James (1958),
investigando as experiências de êxtase místico, verificou
que essas experiências, quando saudáveis, tinham duração
breve e traziam efeitos benéficos para quem as
vivenciava.
Buckley (1981) examinou relatos autobiográficos de
indivíduos que viveram experiências místicas e de
indivíduos que viveram experiências esquizofrênicas. Ele
identificou aspectos comuns e aspectos diferenciadores em
ambas as experiências.
66
Encontrou os seguintes aspectos comuns nas duas
experiências: elevação do nível de consciência, sentir-se
transportado além do próprio self, perda das fronteiras
entre o self e os objetos, dilatação do sentido do tempo,
sentir-se envolvido em luz e um forte sentido de comunhão
com o divino. É característica do êxtase místico a
preservação da estrutura do pensamento e da fala, o
predomínio das alucinações visuais sobre as auditivas, um
grande aguçamento dos sentidos, estabilidade das emoções
e a duração da experiência limitada no tempo. São
características de um surto psicótico a quebra da
estrutura do pensamento e da fala, o predomínio das
alucinações auditivas sobre as visuais, o embotamento dos
sentidos, o esvaziamento das emoções entremeadas por
rompantes agressivos ou sexuais e a duração da
experiência ser extensiva no tempo.
Lenz (1996), enfatizou o grau de convicção sobre a
experiência vivida como critério de saúde mental: na
vivência saudável existe a dúvida sobre a realidade
objetiva da experiência e no transtorno mental existe
certeza sobre essa realidade.
Lukoff(1995) e posteriormente Greyson (1987)
investigaram a Experiência de Quase Morte (EQM),
procurando diferenciá-las de outras experiências
psicopatológicas. Nesta experiência, um indivíduo chega a
67
se ver fora do corpo, encontra seres espirituais e depois
retorna ao seu corpo. Assim, Lukoff percebeu na EQM
nítidos e antecedentes estressores, um bom funcionamento
psicológico prévio, uma atitude exploratória em relação à
experiência e a ausência de déficits interpessoais.
Greyson (1987), confirmando as características
saudáveis da EQM, tais como já tinham sido apresentadas
por Lukoff, diferenciou a EQM do transtorno do estresse
pós-traumático, vendo neste último a presença de
lembranças intrusivas, a diminuição geral do interesse em
diversas atividades, o estranhamento dos outros, a
restrição dos afetos e um senso de futuro abreviado que
não se faziam presentes na EQM.
Oxmanet al. (1998), também viram aspectos comuns e
diferenciados nos relatos de místicos e esquizofrênicos.
Eles escolheram relatos disponíveis publicamente, que o
texto tivesse sido escrito logo depois da experiência,
que estivesse escrito em inglês e tivesse uma extensão
suficiente. De comum entre ambas as experiências, viram a
abundância das fantasias e, como fatores diferenciadores,
viram que os místicos tratam de encontros com Deus e de
sentimentos religiosos, enquanto esquizofrênicos tratam
de doenças e de fortes sentimentos de maldade.
Sims (1988), propõe que uma experiência espiritual
saudável é compatível com uma tradição religiosa; o
68
indivíduo compreende a incredulidade dos outros e tem
reservas em discutir sua experiência com outros que
acredita que não a compreenderão, é descrita com
convicção e, por fim, o indivíduo sente necessidade de
efetuar alguma mudança no seu comportamento depois da
experiência vivida. Já a experiência patológica se revela
em resultados que são compatíveis com uma história de
transtorno mental e surge sempre associada a outros
transtornos psiquiátricos.
Grof e Grof (1990), com base em suas experiências
clínicas, criaram o conceito de “emergências
espirituais”. Esses autores apresentaram essas
experiências com um duplo significado, possível pelos
diferentes significados de Spiritual Emergence e Spiritual
Emergency. Spiritual Emergence refere-se à eclosão de uma
experiência espiritual que surge sem acarretar
perturbação das funções psicológicas. Já a Spiritual
Emergency é a ocorrência descontrolada da experiência
espiritual com problemas dos funcionamentos psicológico,
social e ocupacional.
Grof e Grof (1990), fizeram uma ampla e detalhada
diferenciação entre as manifestações de uma experiência
espiritual e um transtorno mental. No primeiro caso, as
experiências são suaves, não geram sensações
desagradáveis, não conflitivas, são graduais, preservam a
diferenciação entre o que é interno e o que é externo,
69
geram uma atitude de expectativa positiva, favorecem uma
renúncia ao controle, estimulam a aceitação de mudanças,
integram-se à consciência diária, permitem uma
compreensão detalhada, não geram necessidade de discutir
frequentemente e possibilitam uma lenta mudança de
compreensão de si mesmo e do mundo. Já as experiências
ligadas a um transtorno mental são intensas, geram
sensações desagradáveis, como tremores e calafrios, são
conflitivas, são abruptas, não diferenciam o que é
interno do que é externo, geram uma atitude ambivalente,
promovem a necessidade do controle, instigam resistência
às mudanças, trazem perturbações na consciência diária,
sua compreensão é confusa, geram a necessidade de
discutir a experiência e provocam modificações abruptas
na consciência de si e do mundo.
Greenberg e Witztum (1991), investigaram uma
população de judeus ortodoxos, procurando diferenciar o
que seria um sistema de crenças e práticas religiosas
rigorosos, mas psicologicamente saudáveis, de um
transtorno obsessivo-compulsivo com fundo religioso.
Assim, as experiências pessoais saudáveis são compatíveis
com as crenças aceitas pelo grupo religioso, seus
detalhes não excedem as crenças aceitas, são moderadas,
geram excitação e as habilidades sociais e os hábitos de
higiene estão preservados. Já nas crenças obsessivas, as
experiências são muito pessoais e divergem das crenças do
grupo, seus detalhes excedem as crenças aceitas, são
70
intensas, geram terror e as habilidades sociais e os
hábitos de higiene estão comprometidos. Já os
comportamentos saudáveis não excedem as prescrições, são
gerais, não estão presentes condutas de limpeza e de
verificação e não ocorre a desconsideração de outras
práticas. As condutas compulsivas, diferentemente,
excedem as prescrições, são muito específicas, estão
associadas a rotinas de limpeza e de verificação e trazem
desconsiderações para com outras práticas religiosas
propostas pelo grupo religioso.
Lukoffet al. (1992), propuseram para o Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders, uma nova
categoria de problemas psicológicos, denominada por eles
“problemas religiosos e espirituais”. Problemas
religiosos são experiências perturbadoras, que envolvem
crenças e práticas de uma igreja ou instituição
religiosa, que ocorrem, por exemplo, em um momento de
crise de fé ou na migração para uma nova orientação
religiosa. Problemas espirituais são experiências
perturbadoras, que envolvem o relacionamento do indivíduo
com um ser ou força transcendente, que ocorrem, por
exemplo, nas experiências místicas e nas EQM. Em uma
experiência mística ocorrem uma vivência de união com um
ser divino, uma grande euforia e a perda da noção de
tempo e espaço, que podem ser confundidas com episódios
psicóticos agudos. Em uma EQM, uma pessoa se vê projetada
fora do seu corpo, encontra seres espirituais e alcança
71
uma nova compreensão da vida, experiência esta que pode
ser confundida com um transtorno dissociativo de
despersonalização.
Esse foi um importante avanço na psiquiatria, pois
se colocou a possibilidade de muitas experiências
espirituais e religiosas não serem patológicas, apesar de
se assemelharem a transtornos mentais. A criação dessa
categoria teve como objetivos incrementar especificidade
no diagnóstico dessas experiências, reduzir efeitos
danosos de um diagnóstico equivocado, estimular pesquisas
que gerem tratamentos mais adequados para esses problemas
e estimular os centros de formação psiquiátricos a
acrescentarem a compreensão e o tratamento desses
problemas aos seus programas de treinamento.
Jackson e Fulford (1997), empreenderam um estudo
comparando cinco indivíduos que tinham vivenciado
experiências espirituais com cinco indivíduos que estavam
se recobrando de surtos psicóticos, mas que interpretavam
suas experiências em termos religiosos. Eles propuseram
que as experiências espirituais e psicóticas não podem
ser diferenciadas apenas pelos sintomas que são muito
semelhantes. O diagnóstico diferencial entre experiências
espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso
propuseram que as experiências espirituais e psicóticas
não podem ser diferenciadas apenas pelos sintomas que são
muito semelhantes em um caso e outro, mas seria mais
72
importante investigar o sistema de valores e crenças com
os quais o indivíduo avalia e compreende as suas
experiências.
Jackson e Fulford (1997), conseguiram, assim,
levantar sintomas diferenciadores entre as duas
experiências. Assim, a experiência espiritual geralmente
é: voltada para os outros, é curta, vivida
intelectualmente, existe dúvida sobre ela, preserva o
insight sobre a origem interna da experiência, é controlada,
não leva a perder o contato com a realidade, é
emocionalmente neutra ou positiva (traz satisfação), traz
consciência da não compreensão dos outros, não ocorrem
falhas nas ações intencionais, não leva à deterioração da
vida, seu conteúdo é aceitável pelo grupo cultural de
referência do indivíduo e gera crescimento pessoal. Já a
experiência psicótica geralmente é voltada para a própria
pessoa, é longa, é vivida corporalmente, existe a certeza
sobre ela, falta insight sobre sua origem interna, leva a
pessoa a ser submergida nela, leva a perder o contato com
a realidade, é emocionalmente negativa (traz sofrimento),
não existe consciência da não compreensão dos outros,
gera falhas em ações intencionais, leva à deterioração da
vida, seu conteúdo é estranho para o grupo cultural de
referência do indivíduo e ocorre um prejuízo geral na
vida pessoal.
Koenig (2007), procedendo a uma revisão da
73
literatura sobre critérios diferenciadores entre
experiência espiritual e transtornos mentais, propôs que
as primeiras não comprometem os desempenhos social e
ocupacional, preservam a compreensão do caráter incomum
da experiência, não geram rupturas na relação com um
grupo sociocultural de referência, não estão associadas a
outras patologias mentais e geram crescimento psicológico
com o tempo.
A questão da saúde mental e da psicopatologia se
torna crítica diante dos fenômenos alucinatórios, que
habitualmente são associados à esquizofrenia ou a outros
quadros psicóticos.
Segundo Esquirol (1996), a alucinação é uma
percepção sem objeto. A definição do DSM-IV não se
afastou muito desse significado original, ao definir
alucinação como uma percepção sensorial que apresenta um
forte sentido de percepção real, mas ocorre sem a
estimulação externa dos órgãos de sentido pertinentes.
Pesquisas populacionais há mais de um século vêm
indicando que os fenômenos alucinatórios, mais do que uma
categoria de experiências restritas aos psicóticos
esquizofrênicos, ocorrem de uma forma bastante
disseminada na população.
No final do século XIX, Sidgwick (1996), vinculado à
Sociedade de Pesquisas Psíquicas, juntamente com um
74
grande número de colaboradores, entrevistou 7.717 homens
e 7.599 mulheres britânicos. Ele constatou que 7,8% dos
homens e 12% das mulheres relataram ter tido pelo menos
um episódio vívido de alucinação. West (1996), conduzindo
uma pesquisa similar, por meio da distribuição de
questionários com 1.519 sujeitos, 50 anos depois, na
mesma região anteriormente investigada por Sidgewick,
confirmou a ocorrência de alucinações em 14% dos
indivíduos investigados.
Tien (1991), constatou que 10% dos homens e 15% das
mulheres em uma amostra de 18.572 indivíduos, obtida em
uma ampla pesquisa de sintomas psiquiátricos em uma
população geral (Epidemiological Catchment Area Program),
apresentavam alucinações ao longo de toda a vida sem
manifestarem outros sintomas patológicos. Ohayon (2000)
sondou 13.057 indivíduos da Grã-Bretanha, da Alemanha e
da Itália por telefone e constatou que 38,7% destes
relataram ter tido alucinações e, entre estes, 5,1%
apresentavam esse sintoma uma ou mais vezes por semana.
Além de as alucinações acontecerem extensivamente,
Johns e Van Os (2001), Serperet al. (2005) e Lincoln(2007)
propõem que elas acontecem em um continuum no qual em um
extremo estão os indivíduos saudáveis e, no outro
extremo, estão os esquizofrênicos. Baseados em grandes
estudos populacionais, eles propõem que, tal como a
esquizofrenia não é um construto categorial, mas sim
75
dimensional, ou seja, mais do que existir uma categoria
de esquizofrênicos puros, diferentes dos normais, a
esquizofrenia se estende em maior ou menor grau a toda a
população.
O diagnóstico patológico dependerá de uma maior
frequência e intensidade da experiência alucinatória, da
coexistência de outros sintomas e de prejuízos na
capacidade de adaptação em geral.
Strauss (1969), propôs serem indicadores de
patologia a convicção sobre a realidade objetiva da
vivência alucinatória, a ausência de apoio cultural para
a experiência, a grande quantidade de tempo envolvido com
a experiência e a implausibilidade da vivência em relação
à realidade socialmente compartilhada.
Slade (1976), investigando dois pequenos grupos de
psicóticos (alucinadores e não alucinadores) e Richardson
e Divvo (1980), examinando dois grupos de alcoólatras
(alucinadores e não alucinadores), utilizando testes
psicológicos, verificaram que as alucinações são
geralmente disparadas por estresse pessoal, em pessoas
muito focadas em si mesmas, que são muito imaginativas e
têm um pobre teste de realidade. Honiget al.(1988), compararam
grupos de não pacientes alucinadores, pacientes com
transtorno dissociativo e pacientes esquizofrênicos e
concluíram que as alucinações entre normais são
76
tranquilas, não geram alarme nem perturbação e existe
controle sobre elas e as alucinações dos esquizofrênicos
são precedidas por eventos traumáticas, geram perturbação
e não existe controle sobre elas.
Serperet al. (2005),compararam três grupos de pessoas,
sendo 39 esquizofrênicos alucinadores, 49 esquizofrênicos
não alucinadores e 363 universitários normais e
assinalaram algumas características dos alucinadores
esquizofrênicos: consideram que suas alucinações visuais
e auditivas são percepções objetivas, têm vários
impedimentos na vida, apresentam outras disfunções
clínicas e têm percepções distorcidas.
O diagnóstico diferencial entre experiências
espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso
no funcionamento da personalidade humana, na qual certas
funções mentais atuariam de forma independente e fora de
um controle consciente. A dissociação pode ocorrer
naturalmente, como, por exemplo, quando uma pessoa se
absorve tanto em assistir a um filme que fica totalmente
alheia a tudo o mais que esteja acontecendo a si mesmo ou
ao seu redor.
Na concepção original de Janet, a dissociação seria
um construto categorial, ou seja, é um tipo ou categoria
de experiência que só ocorreria em indivíduos mentalmente
doentes, que teriam uma deficiência em integrar
77
diferentes conteúdos psicológicos. Alguns contemporâneos
de Janet, como Frederic Myers, Morton Prince e William
James, apresentaram um ponto de vista diferente, pelo
qual a dissociação é entendida como um construto
dimensional, ou seja, é vivenciada em maior ou menor grau
por todas as pessoas indo de um extremo saudável até o
outro extremo patológico.
É necessário termos uma compreensão da extensão em
que a dissociação ocorre na população em geral. Ross et al.
(1990) avaliaram uma amostra de 1.055 adultos não
diagnosticados, extraída do total de 650.000 habitantes
da cidade de Winnipeg, Canadá. Eles aplicaram nesta
amostra o DES (Dissociative Experience Scale), um
instrumento de autoinforme composto por 28 itens que mede
experiências dissociativas, e constataram que 13% desses
indivíduos apresentaram uma pontuação acima de 20,
indicando a existência de um nível alto de vivências
dissociativas nessa amostra.
Walleret al. (1996) e Martinez-Taboas (2001), propuseram
que a dissociação não patológica envolve a capacidade de
absorção e de envolvimento imaginativo e constitui uma
experiência humana para a qual todos os indivíduos são
propensos em maior ou menor grau.
Tellegen e Atkinson (1974), definiram a absorção
como um estado de total atenção, no qual o aparelho
78
representacional parece estar totalmente dedicado a
experienciar o objeto percebido.
Wilson e Barber, Rhue (1983) e Lynn e
Rauschenberger (1995), identificaram alguns indivíduos,
que denominaram de “fantasiadores”, como sendo muito
propensos à fantasia, tendo tido na infância um maior
envolvimento com jogos de fantasia do que com
brincadeiras com outras crianças e sua capacidade de
fantasiar representou um canal de escape para sua solidão
e sua raiva.
Lewis-Fernandez (1998), afirma que a dissociação não
patológica ocorre com o controle pleno por parte do
indivíduo, dentro de um contexto cultural que a organiza,
e é significativa para a própria pessoa e para os outros.
Butler (2006) acrescenta que a dissociação saudável
é útil em todo o processamento mental, facilita ações e
atitudes automáticas, ajuda a escapar mentalmente de
situações desagradáveis e a concentrar-se em atividades
absorventes, não tem sua origem associada a traumas,
ocorre em períodos curtos, é suave e não bloqueia o
funcionamento da mente.
A propensão à fantasia, entretanto, por mais
inocente que possa parecer, pode levar à dissociação
patológica, quando um evento traumático faz o indivíduo
79
buscar, na fantasia, a forma de escapar da realidade
intolerável46. A dissociação patológica, surgindo
inicialmente como uma forma de lidar com a situação
aversiva, pode se generalizar para as demais situações de
vida, passando a trazer prejuízos na capacidade de
adaptação do indivíduo.
É a interação entre a capacidade natural de
absorção, com as experiências traumáticas, que resultará
na dissociação patológica, que expressa um definido mau
funcionamento psicológico, gera sofrimento e
incapacitação, é involuntária e é interpretada pelo grupo
cultural de referência do próprio indivíduo como sendo
uma doença que necessita de tratamento.
Dissociadores patológicos mesclam as formas não
patológicas com as formas patológicas de dissociação. A
dissociação patológica está ainda associada a
experiências traumáticas do passado, é crônica, grave e
debilitadora para os funcionamentos psicológico e social
do indivíduo.
Segundo Walleret al (1996). e Martinez-Taboas (2001), a
dissociação patológica se expressa por meio da amnésia,
da despersonalização- desrealização, da confusão de
identidade e da alteração de identidade.
A amnésia dissociativa compreende basicamente a
80
perda de memória, sobretudo de eventos recentes e de
informações pessoais importantes, que não pode ser
atribuída a um esquecimento habitual, à fadiga ou a um
sintoma de origem orgânica.
A despersonalização refere-se às alterações afetivas
e perceptuais em relação ao self, que levam o indivíduo a
estranhar a si mesmo e ao seu próprio corpo. A
desrealização refere-se às mesmas alterações em relação
ao seu meio ambiente, que fazem o indivíduo se sentir
desconfortável nesse ambiente.
O transtorno de identidade dissociativa, antes
chamado de transtorno de identidade múltipla, manifesta-
se pela existência de duas ou mais personalidades dentro
de um mesmo indivíduo, que se alternam dentro dele, com
períodos de amnésia, eclipsando as personalidades que
foram afastadas.
A alteração de identidade é vista mais evidentemente
no transtorno de transe dissociativo. Cardeñaet al.(1994),
definem transe como uma alteração temporária da
consciência, da identidade ou do comportamento, com
diminuição da percepção do ambiente e ocorrência de
movimentos que estejam fora do controle da própria
pessoa, sem substituição da própria consciência por
outra. Os mesmos autores definem transe de possessão como
sendo a mesma vivência, com a diferença que a alteração
81
da consciência é atribuída a uma força ou entidade
espiritual externa que se apossa da consciência daquele
que vivencia a experiência.
Deve-se tomar cuidado para não considerar
patológicas todas as formas de transe e possessão, pois
Bourguignon (1978), em uma investigação antropológica,
constatou que, em 488 sociedades no mundo, 90% delas
possuíam formas institucionalizadas de transe e, em 52%
destas, esses estados são atribuídos à possessão por
seres espirituais. Isso nos mostra que a extensão em que
essa vivência
O diagnóstico diferencial entre experiências
espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso
em 52% destas, esses estados são atribuídos à possessão
por seres espirituais. Isso nos mostra que a extensão em
que essa vivência acontece no mundo nos leva a tomar
cuidado para não reduzi-la a um mero mau funcionamento
psicológico de indivíduos mentalmente doentes.
Lewis (1989), propôs alguns critérios para
diferenciar a possessão saudável da patológica. A
possessão não patológica, denominada por ele como
central, é episódica, ocorre em um tempo delimitado, é
organizada e ocorre dentro de um contexto cultural que
lhe confere significado. Já a possessão patológica,
denominada por ele como periférica, tende a ser crônica,
82
ocorre de forma não controlada, não é organizada e não
compatível com o contexto cultural no qual o indivíduo
esteja integrado.
Beng-Yeong (2000), propõe que estados de transe
saudáveis sejam disparados por ações definidas, sejam
curtos e gerem resultados benéficos para o indivíduo que
os vivencia e serão patológicos se forem disparados por
emoções estressantes, durarem muito e gerarem resultados
maléficos para quem os vivencia.
Cardeñaet al. (2006), utilizando os conceitos de Lewis,
afirmam que a possessão central (não patológica) vem de
uma predisposição provavelmente biológica, que foi
modelada por fatores socioculturais organizados, que
levaram a rituais controlados de possessão. É neste
sentido que poderemos compreender os transes de possessão
da mediunidade, que acontecem nas religiões mediúnicas,
como no Espiritismo, na Umbanda e no Candomblé. Já a
possessão periférica (patológica) também decorreria de
uma predisposição biológica, mas que foi impactada por
traumas físicos ou sexuais, gerando alterações de
identidade difíceis de controlar e organizar. Os
indivíduos passam a apresentar sofrimento psicológico e
prejuízos significativos nos seus funcionamentos social e
ocupacional.
83
CAPÍTULO 9: CONSTRUINDO NOVAS VEREDAS
9.1. RESULTADO:
Levando em consideração os principais sintomas
diferenciadores entre uma EE, uma experiência espiritual
e um transtorno mental propostos por todos esses autores
citados na discussão e resultados acima, nota-se que
esses critérios não devem ser considerados isoladamente,
mas sim em um conjunto.
Verificou-se que existe critérios que podem nortear
a fenomenologia das experiências o que caracteriza as VM
peculiares de cada um em nove aspectos:
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1. Ausência de sofrimento psicológico
O sofrimento está relacionado à doença. Deve-se
lembrar, entretanto, que os estágios iniciais de uma
experiência religiosa ou espiritual podem vir
acompanhados de grande sofrimento pessoal que poderão ser
superados à medida que o indivíduo avançar na compreensão
e no controle da sua experiência.
Greyson (1997), estudando as EQM, afirma que os
indivíduos, após essa experiência, sentem raiva e
depressão, experimentam abalos em suas crenças
religiosas, passam a duvidar de sua sanidade mental,
sentem-se incompreendidos pelos familiares e
profissionais de saúde e que 75% rompem casamentos, e
suas carreiras profissionais podem ficar gravemente
prejudicadas. Comentando quatro casos em seu artigo, ele
afirma que o atendimento psicoterapêutico e
psicofarmacológico adequado trouxe uma melhor compreensão
da experiência vivida por eles, levando esses pacientes a
retomarem e muitas vezes reestruturarem sua vida de forma
mais significativa.
2. Ausência de prejuízos sociais e ocupacionais
A saúde psicológica implica um ego estruturado
gerenciando adequadamente as relações sociais,
familiares, afetivas e atividades
ocupacionais. Lukoff et al (1995); entretanto, comentam
85
como indivíduos que tiveram uma experiência mística podem
se sentir temporariamente desajustados em relação à sua
vida cotidiana, enquanto não conseguirem compreendê-la e
retomá-la
3. A experiência tem duração curta e ocorre
episodicamente
A experiência espiritual não patológica é um
acréscimo às possibilidades vivenciais do indivíduo, não
se interpondo às demais experiências cotidianas da
consciência. Assim, espera-se que a pessoa saudável passe
por uma vivência incomum e logo retome seu estado
habitual de consciência e suas atividades cotidianas.
Existem casos, entretanto, de médiuns treinados que
sustentam experiências espirituais por mais tempo sem
comprometimento de sua saúde mental.
4. Existe uma atitude crítica sobre a realidade objetiva
da experiência
A consciência saudável, surpreendida pela
experiência espiritual ou religiosa, precisará refletir
sobre o sentido dessa experiência para si mesmo e para
sua vida. Enquanto o indivíduo não desenvolver uma nova
compreensão sobre a experiência que esteja vivendo, ele
precisará colocar sob suspeita essa nova experiência, até
que ela possa ser compreendida. Enquanto isso, ele poderá
não conseguir avaliar adequadamente o que lhe sucedeu,
como ocorre, por exemplo, nas experiências místicas, como
86
mostraram Lukoff et al.(1995).
5. Existe compatibilidade da experiência com algum grupo
cultural ou religioso
A compatibilidade da experiência com as crenças e os
comportamentos próprios de um grupo cultural de
referência sugere o ajustamento social daquele que vive a
experiência com as práticas de um grupo, conferindo
legitimidade a essa vivência. Entretanto, a EQM e a
mediunidade podem surpreender indivíduos, seus
familiares, bem como os grupos religiosos em que eles
estejam inseridos, sem que alguém tenha qualquer
compreensão sobre o que tenha ocorrido.
6. Ausência de comorbidades
Sims (1988), apontou que a psicopatologia
relacionada a uma experiência espiritual pode ser
observada tanto no comportamento do indivíduo quanto na
sua experiência subjetiva, manifesta-se em todas as suas
áreas de vida e compõe um histórico de vida compatível
com o histórico de um transtorno mental, em nada
lembrando uma experiência espiritual. Quanto mais
evidenciada estiver a patologia, mais probabilidades
teremos de estar diante de um transtorno mental.
7. A experiência é controlada
Cabe a um ego vigilante controlar suas vivências
habituais e garantir um bom desempenho pessoal e social.
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Caberá a ele, da mesma forma, controlar as experiências
espirituais e religiosas, de modo a não prejudicar suas
vivências habituais. Formas orientais de meditação, por
exemplo, tendem a atrair indivíduos com transtorno de
personalidade borderline e narcisista, que têm uma frágil
integração psicológica, podendo gerar nesses indivíduos
falsas experiências de iluminação, repletas de visões
aterradoras.
8. A experiência gera crescimento pessoal
A experiência espiritual gera significados
enriquecedores para a vida pessoal, social e profissional
de um indivíduo. Já a experiência patológica, mal
estruturada e mal estruturada desde o princípio ampliará
o desequilíbrio do indivíduo ao longo do tempo,
resultando em deterioração geral da sua qualidade de vida
9. A experiência é voltada para os outros
A experiência voltada para os outros guarda um
sentido e um objetivo social, próprios de alguém
socialmente ajustado. Já a experiência egocentrada tende
a ser isolacionista e pode, muito facilmente, levar o
indivíduo a enredar-se nos meandros de um pensamento
delirante sem que ele próprio possa se dar conta da
extensão do seu desvio da normalidade.
Esses futuros estudos deverão tomar alguns cuidados
para que possam ter maior validade citados por alguns
88
autores como: Tart (1972), o qual já tinha apontado a
inadequação da abordagem científica tradicional para
abordar os “Estados Alterados de Consciência”, entendidos
como alterações qualitativas no padrão global de
funcionamento mental que o indivíduo sente serem
radicalmente diferentes do seu modo habitual de
funcionamento, recomendando o uso extensivo de
observações empíricas que possam ser replicadas por
outros investigadores.
Heber et al. (1989) e Ross et al. (1990), propuseram
que os estudos sejam feitos com populações não clínicas,
para que seus resultados possam ser mais generalizáveis
para a população não diagnosticada.
Reinsel (2003), sugeriu que fossem utilizadas
amostras maiores e estas fossem recolhidas de ambientes
onde as experiências estudadas ocorram com maior
freqüência.
Almeida e Neto recomendam, entre outras coisas,
utilizarem-se diversos critérios de normalidade e
patologia, avaliar a experiência de modo multidimensional
e priorizar estudos longitudinais que permitam esclarecer
as complexas relações causais entre as variáveis
associadas às experiências espirituais e aos transtornos
mentais.
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Levin e Steele (2005), também insistem em estudos
longitudinais, propõem o uso de conceitos operacionais
relativos às experiências e recomendam buscar respostas
para as seguintes perguntas: o que, quem, onde, quando,
como e por quê. Desta forma entendo que criamos nossas VM
e as percorremos de modo muito peculiar podendo desfrutar
deste trajeto da melhor maneira possível . Através da
observação e dos valores pessoais de cada um despertamos
o que há de melhor em cada individuo, favorecendo o lado
saudável que é o foco da PT.
CAPITULO 10: A SUA VEREDA
10.1. CONCLUSÃO:
Conclui-se que cada um de nós construímos nossas
próprias VM e que ainda faltam mais estudos que testem
prospectivamente os critérios diferenciadores do que
seria uma experiência espiritual, uma EE descrita pela PT
e uma psicopatologia descrita pela psiquiatria clínica;
de qualquer modo é importante levar em consideração os
fatores observados no resultado da pesquisa para melhor
diagnóstico e prognóstico, além da compreensão da
peculiaridade da VM individual, pois fenômenos são
observados e nomeados de modo distintos e
90
conseqüentemente classificados de acordo com os
diferentes saberes. A experiência egoica é única e
particular de cada ser ao caminhar rumo ao self; neste
processo as VM percorridas nos deixam marcas as quais
foram foco deste trabalho e continuam sendo pesquisadas.
APÊNDICE - 01 Esquizofrenia e Transtorno Afetivo Bipolar
1. Esquizofrenia Paranóide
91
Este tipo de esquizofrenia é o mais comum e também o
que responde melhor ao tratamento. Diz-se, por causa
disso, que tem prognóstico melhor. O paciente que sofre
esta condição pode pensar que o mundo inteiro o persegue,
que as pessoas falam mal dele, têm inveja, ridicularizam-
no, pensam mal dele, elas têm intenções de fazer-lhe mal,
de prejudicá-lo, de matá-lo, etc. Trata-se dos delírios
de perseguição. Não é raro que este tipo de paciente
tenha também delírios de grandeza, idéias além de suas
possibilidades: "Eu sou o melhor cantor do mundo. Nada me
supera. Nem Frank Sinatra é melhor". Esses pensamentos
podem vir acompanhados de alucinações, aparição de
pessoas mortas, diabos, deuses, alienígenas e outros
elementos sobrenaturais. Algumas vezes esses pacientes
chegam a ter idéias religiosas e/o políticas,
proclamando-se salvadores da terra ou da raça humana.
2.Esquizofrenia Hebefrênica
Neste grupo se incluem os pacientes que têm
problemas de concentração, pouca coerência de pensamento,
pobreza do raciocínio, discurso infantil. Às vezes, fazem
comentários fora do contexto e se desviam totalmente do
tema da conversação. Expressam uma falta de emoção ou
emoções pouco apropriadas, rindo-se a gargalhadas em
ocasiões solenes, rompendo a chorar por nenhuma razão em
particular, etc. Neste grupo também é freqüente a
aparição de delírios (crenças falsas), por exemplo que o
vento move na direção que eles querem, que se comunicam
92
com outras pessoas por telepatia, etc.
3. Esquizofrenia Catatônica
É o tipo menos freqüente de esquizofrenia. Apresenta
como característica transtornos psicomotores, tornando
difícil ou impossível ao paciente mover-se. Talvez passe
horas sentado na mesma posição. A falta da fala também é
freqüente neste grupo, assim como alguma atividade física
sem propósito.
4. Esquizofrenia Simples
Também é pouco freqüente. Aparece lentamente,
normalmente começa na adolescência com emoções
irregulares ou pouco apropriadas, pode ser seguida de um
paulatino isolamento social, perda de amigos, poucas
relações reais com a família e mudança de caráter,
passando de sociável a anti-social e terminando em
depressão. Nesta forma da esquizofrenia não se observam
muitos surtos agudos.
5. Esquizofrenia Residual
Este termo é usado para se referir a uma
esquizofrenia que já tem muitos anos e com muitas
seqüelas. O prejuízo que existe na personalidade desses
pacientes já não depende mais dos surtos agudos. Na
Esquizofrenia assim cronificada podem predominar sintomas
como o isolamento social, o comportamento excêntrico,
emoções pouco apropriadas e pensamentos ilógicos.
93
Apesar desta classificação, é bom destacar que os
pacientes esquizofrênicos nem sempre se encaixam
perfeitamente numa de estas categorias. Também existem
pacientes que não se podem classificar em nenhum de os
grupos mencionados.
A estes pacientes se pode dar o diagnóstico de
Esquizofrenia Indiferenciada.
2. TRANSTORNOS AFETIVOS BIPOLARES
Variações do humor que oscilam entre os polos de
humor eufórico e humor depressivo. Estes equivalentes
doentios dos aspectos emocionais constituem o que se
denomina polos. Como são dois, entende-se o termo
bipolar.
O estado de bipolaridade é característico do chamado
transtorno afetivo bipolar, e é caracterizado pela
alternância de fases de tristeza e alegria doentias,
conhecidas respectivamente como depressão e mania, de
onde vem o antigo nome de Psicose Maníaco Depressiva.
Diferente do que ocorre nas situações normais, estas
alternâncias não acontecem em resposta a estímulos
externos que explicariam os estados emocionais. Em alguns
casos, essas alternâncias podem ocorrer no mesmo dia ou
na mesma hora.
As consequências decorrem em grande parte da
inconstância emocional. Mesmo quando o quadro clínico não
94
é dos mais graves, torna-se difícil para a pessoa ter
segurança de que, dentro de algum tempo estará bem para
cumprir um compromisso assumido. Uma situação não rara
relacionada à perda da crítica ou capacidade de
julgamento é uma tendência aos gastos exagerados (que
podem levar o patrimônio de uma família ou empresa à
ruína). Outro aspecto que pode dificultar o
relacionamento com uma pessoa no estado positivo ou de
euforia é a tendência da pessoa apresentar sentimentos de
grandiosidade e a incapacidade de aceitar limites. Ou se
achar com poderes espirituais ou dons sobrenaturais.
No polo oposto, da depressão, a tendência é a visão
negativa do rotineiro, a auto recriminação, a autoestima
rebaixada, levando até mesmo a ideias de auto eliminação
(suicídio).
Algumas pessoas com transtorno bipolar apresentam
hipomania. Durante os episódios de hipomania, a pessoa
pode apresentar um aumento de energia e níveis de
atividade que não são tão intensos como na mania ou ele
ou ela podem apresentar episódios que duram menos de uma
semana e não necessitam atenção em unidades de urgência.
Uma pessoa durante um episódio hipomaníaco pode se sentir
muito bem, ser altamente produtiva e funcionar bem. Esta
pessoa pode não sentir que há algo errado mesmo quando
sua família e amigos notam que estas mudanças de humor
podem ser um transtorno bipolar. Sem o tratamento
adequado, entretanto, pessoas com hipomania podem
95
desenvolver quadros graves de mania e depressão.
Durante um episódio ou estado misto, os sintomas
frequentemente incluem agitação, sono perturbado, grandes
mudanças no apetite e pensamentos suicidas. Pessoas em
estado misto podem sentir-se muito tristes ou sem
esperança e ao mesmo tempo extremamente energizadas.
Algumas vezes, uma pessoa com episódios graves de
mania ou depressão apresenta sintomas psicóticos também,
como alucinações e delírios. Os sintomas psicóticos
tendem a refletir o estado extreme de humor da pessoa.
Por exemplo, sintomas psicóticos em uma pessoa durante o
episódio maníaco podem incluir a crença de que ele ou ela
é uma pessoa famosa, tem muito dinheiro ou poderes
especiais. Da mesma maneira, alguém durante um episódio
depressivo grave pode acreditar que está falida ou que
cometeu um crime muito grave.
96
APÊNDICE – 02: CONCEITOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
1. CONCEITO DE UNIDADE
Do Conceito de Unidade se sustenta e convergem o
conceito de Vida e de Ego, a Cartografia da Consciência
e os Estados de Consciência.
Representação do Aspecto Estrutural:
Figura 5 PT Corpo teórico
Fonte: Cartografia da consciência/ artigo03 html
97
A unidade fundamental do Ser (ou da não
fragmentação) é o pressuposto básico em PT, do qual
partem ou para onde convergem todos os recursos desta
abordagem. Dai vem o conceito de Unidade, onde sujeito
e objeto são indissociáveis, onde o todo contém as
partes e as partes contém o todo.
Para Pierre Weil (1995), a unidade é a
propriedade do que não é dividido. “É o todo absoluto,
a plena luz.” Neste nível inexistem o tempo e o espaço,
há um eterno agora, um ser indivisível, e, portanto
“sempre foi”; não esta nem antes nem depois desta ou
daquela etapa; “Unidade entre o eu e o universo”. Há um
desaparecimento da tridimensionalidade do tempo.
Para Furlan (1998), “a separatividade perece
existir , somente na dimensão mais concreta e imediata
de nossos sentidos”.
A Psicologia Perene afirma que o conceito de
unidade esta presente em todas as religiões. Postula a
existência desta “unidade Fundamental” (conceito de
unidade).
Bion, na teoria psicanalítica, inclui esse
conceito de Unidade no seu referencial, de forma
similar, também com o termo: “Absoluto”.
98
Ainda no conceito de Unidade, Viktor Frankl
(1999), ao reconhecer a dimensão do espiritual cria a
unidade antropológica e relata que a espiritualidade
recupera o humano em sua inteireza levando ao
reestabelecimento da unidade com o cosmos, vivenciando
portanto as experiências de forma direta, plena e
verdadeira o que gera novas reflexões sobre o conceito
de Vida.
Na PT estuda-se os fenômenos humanos, inclusive
os religiosos, mas não havendo ênfase na religião
enquanto instituição, mas sim nos fenômenos
experienciais, na espiritualidade, nos valores
humanistas e transcendência.
James Husley (1973), reforçou o conceito de
unidade afirmando que “o conhecimento eh uma função do
ser. Quando ha uma mudança no ser conhecedor, ha uma
mudança correspondente na natureza e na totalidade do
conhecido.”
2. CONCEITO DE VIDA
Vida é um pulsar contínuo no qual nascer,
morrer e renascer fazem parte de um processo. De modo
geral tudo é vida; energia, formas diversas de
existências, nem se sabe, quando começou ou quando
terminará. É um dos aspectos fundamentais para a
99
clínica e para a educação. A caracterização básica
desse conceito na PT é a dimensão atemporal.
Para Pierre Weil (1989) dentro de sua perspectiva
do conceito de vida, de energia de consciência (que é
uma energia) refere a vida num conceito mais amplo, não
apenas da vida biológica, física, mas também da
natureza, do espírito, a vida-energia, infinita nas
suas mais diferentes expressões.
Vera Saldanha (1999) refere a vida como eterna,
ilimitada que sempre existiu. “Desconhece-se sua origem
e sequer pode imaginar, de forma concreta o seu fim. É
inesgotável, incessante, nas suas mais diferentes
manifestações”.
Do ponto de vista do aspecto psicológico a vida é
pautada por duas etapas básicas: Morte e Renascimento.
Assim transformações ocorrem trazendo colorido,
equilíbrio e beleza. A essência sempre permanece.
O morrer sob enfoque transpessoal é uma
transição. É a passagem de uma forma para tornar outra,
mantendo a essência do indivisível do conceito de
unidade que consiste na vida em si própria. O
desenvolvimento do ser humano eh galgado por meio de
mortes e de renascimentos.
100
3. CONCEITO DE EGO
O Conceito de Ego na PT caracteriza-se como uma
construção mental, ilusória, que tem a tendência de
solidificar energia mental em uma barreira, a qual
separa o espaço em dias partes: Eu e o outro. E
representando parcialidades das experiências humanas.
Assim o Eu é uma consciência em evolução, que
pode se manifestar além dos elementos circunstanciais,
bio-psiquicos e sociais que caracterizam a
personalidade, integrando níveis evolutivos superiores,
elementos perenes, espirituais, universais, cósmicos,
os quais constituem a individualidade, que é o ser
essencial integral (Assagioli,1993).
É essa ruptura com a dualidade rígida,
inflexível, que permite redimensionar o conceito de
Ego.
Para Jean-Yves Leloup e Boff (1997), afirmam que
“esse ser capaz de transitar pelo lado sombrio e pelo
lado de luz de nossa psique, vai além dos antagonismos
e possibilita integração de paradoxos.”
Abraham Harold Maslow (1997) afirma que “ a Raiz
viva de nosso potencial humano é a natureza essencial
interior, que reprimida e negada faz adoecer sempre de
forma óbvia ou de maneira sutil”.
101
O trabalho de morte e renascimento do ego na PT
traz ao indivíduo a possibilidade de conectar suas
próprias experiências interiores, dando-lhe sentido a
vida, integrando polaridades, transcendendo o ego,
vivenciando aquilo que realmente existe.
O conceito de ego, na abordagem transpessoal, é
definido por Vera Saldanha como um constructo mental,
ilusório, que tende a solidificar a energia mental em
uma barreira que separa o espaço entre eu e o outro;
clarifica este conceito referindo que, em reprimindo
nosso verdadeiro eu, criamos uma construção mental do
acreditamos ser nosso “eu”, como representação. Assim,
enquanto que nas demais abordagens psicoterapêuticas o
que se procura é um fortalecimento do ego para que o
sujeito possa “estar no mundo” de forma mais
“eficiente”, na PT o que se busca é a dissolução
circunstancial do ego para que possa desta forma,
emergir o Eu verdadeiro. O que deve estar claro é que o
ego, nesta abordagem, não representa a totalidade do
Ser. “Quando os processos do ego adquirem supremacia e
controlam sua psique, há perda de si mesmo, de sua
natureza essencial” (Saldanha, 2008).
O estado mental que antecede a criação do ego é
um espaço amplo, livre, luminoso, que esta ligado a uma
102
inteligência porem sem consciência, como se fosse um
estado total de unidade indiferenciada.
Segundo Souza Filho, o processo de construção do
Ego se dá em cinco etapas:
Dualidade,
Sensação,
Reações impulsivas,
Conceito, Intelecto e
Mente consciente
1. Dualidade: quando tomamos consciência de um eu
no espaço amplo, solidificamos esse eu e deixamos de
sentir-nos um só com esse espaço mental, gerando o eu e o
outro separado. É a primeira etapa do desenvolvimento do
ego.
2. Sensação: a dualidade cria a possibilidade de
projetar no outro a sensação de que ele nos é agradável
ou desagradável, ou ainda que somos indiferentes ao
outro.
3. Reações impulsivas: a partir da constatação da
sensação, segue-se a ela a reação impulsiva
correspondente: apego ao que é agradável, repulsa ao
desagradável e neutralidade ao indiferente. Até esse
estágio, o processo é instintivo. Quanto mais o indivíduo
estiver identificado com suas sensações e reações
impulsivas, limitado aos cinco sentidos como canais
103
sensoriais perceptivos, mais sua reação será autômata.
4. Conceito intelecto: a quarta etapa do
desenvolvimento psicológico do ego envolve a ação do
intelecto, que torna a estrutura do ego mais aperfeiçoada
e mais forte. Apenas o processo instintivo é insuficiente
para a segurança do ego, o qual necessita do intelecto
para oficializar sua situação, julgando, classificando
como certo, errado, bom, mal e assim por diante. O
intelecto oficializa a situação do ego, pondo-lhe um nome
de eu, o eu da personalidade, estabelece rótulos como,
por exemplo: eu não gosto, eu gosto, eu sei, etc. Ao
estabelecer o conceito, diminuem-se as chances de o
indivíduo viver a experiência direta, plena e verdadeira,
visto que existe o pré-conceito, a pré suposição.
(Saldanha, 2006).
5. Mente Consciente: para manter os processos
instintivos e intelectuais, o ego necessita de um
mecanismo ativo e eficaz. São as emoções e os pensamentos
discursivos que, desordenados e em constante movimento,
alimentam e sustentam histórias e a novela do ego;
justificam plenamente, as percepções instintivas; geram
reações egóicas, protegem; entretêm; alimentam e inflam,
através da identificação com os conceitos e emoções
suscitados e, até mesmo retardam ou obstruem a evolução
do ser. Ele não consegue mais diferenciar o que é
realidade e o que é projeção.
104
Além das cinco etapas temos o subproduto do ego que
é a auto-imagem, que ocorre da identificação do ego com a
emoção que se estrutura e se solidifica e que passa a
agir como uma identidade separada do ego. A auto-imagem
se alimenta da energia do ego e ele vai se impregnando da
auto-imagem, ela não é mais ela. Passa a agir como se
fosse outra pessoa e a sua capacidade de percepção e
apreciação de si, do outro e do mundo a sua volta fica
limitada. Há uma fragmentação e o indivíduo não acessa o
supraconsciente e não vivencia a sua essência verdadeira.
4. ESTADOS DE CONSCIÊNCIA
Os estados de consciência simbolizam, no corpo
teórico, o caminhar através das diferentes dimensões da
consciência.
Para Charles Tart (1978), um estado de consciência
é um padrão generalizado de funcionamento psicológico, um
sistema constituído por subsistemas e subestruturas, onde
certa quantidade de energia, sob forma de atenção ,
mantem determinado estado de consciência ou provoca
ruptura deste sistema, passando então para outro sistema
ou estado de consciência.
Apesar de existirem inúmeras graduações nos
distintos estados de consciência, Weil (1989) descreve
aqueles que são demarcatórios:
105
Estado de Consciência de vigília,
Estado de Consciência de sonho,
Estado de Consciência de sono profundo,
Estado de Consciência de devaneio,
Estado de Consciência de despertar e
Estado de Consciência cósmica ou de plena
consciência
Segundo Vera Saldanha (2006), cada estado de
consciência é um conjunto de eventos energéticos e o
indivíduo percebe a realidade, de acordo com o estado de
consciência que ele está vivenciando.
1. Estado de consciência de vigília: neste estado
o EEG (eletroencefalográfico), registra ondas cerebrais
beta, de14 a 26 ciclos por segundo em média. Aqui as
funções do ego são predominantes. O indivíduo percebe o
mundo tridimensional através de sua mente, suas emoções,
seus cinco sentidos. É aquele estado em que estamos
despertos, trabalhando.
2. Estado de consciência sonho: este é o estado
REM (Rapid Eyes Movement), movimentos rápidos dos olhos,
momento em que o indivíduo está sonhando. Temos em média
quatro sonhos por noite. Freud foi um dos primeiros a se
dedicar a estudar os sonhos, tudo o que ele pesquisou
veio a ser confirmado por Kleitman e seu discípulo
Aserinsky nas pesquisas em neurologia. Para ele todo o
conteúdo trazido ao consciente, são motivações e desejos
106
do inconsciente, e aquilo que for manifestado por vir de
seu inconsciente individual e, em alguns casos à própria
filogênese.
3. Estado de consciência sono profundo: cérebro
emite neste estado ondas delta de 1 a 4 ciclos por
segundo; aqui o indivíduo entra num estado de
inconsciência total, ele perde contato com o mundo
externo, o ego desaparece totalmente.
4. Estado de consciência devaneio: neste estado o
EEG registra ondas cerebrais alfa de 9 a 13 ciclos por
segundo, é alcançado através do relaxamento. Neste estado
as imagens são desconexas, criativas, literárias,
artísticas, científicas e administrativas. Também, neste
estado o indivíduo está totalmente aberto para perceber o
agora, está propício à livre associação, e suas idéias
devem ser anotadas imediatamente, pois podem desaparecer
no estado de vigília.
5. Estado de consciência de despertar: É a saída
do entorpecimento, o indivíduo acorda para a vida, é o
despertar do observador de si mesmo. Neste estado se
desenvolve a reflexão, a percepção da essência do ser, e
ocorre também a desidentificação deste indivíduo com
aquilo que ele projeta; suas emoções, sua mente, seus
papéis, e seu corpo. O relaxamento, a meditação e os
exercícios com orientação transpessoal são alguns dos
recursos utilizados para levar o ser a este estado de
despertar
107
6. Estado de plena consciência (ou consciência
cósmica): é o estado resultante da integração entre todos
os estados de consciência; é o estado em que há o
controle da atividade cerebral. Designa um estado de
consciência além da consciência comum do homem. O
indivíduo passa a compreender o funcionamento e a razão
de ser do universo, a relatividade das três dimensões do
tempo e do espaço. São descritas com um caráter de
inefabilidade, desaparecimento da dimensão espaço-tempo;
não projeção da mente sobre os objetos, sentimento de
viver a realidade “como ela é“. Descoberta do verdadeiro
sentido da vida e o sentido do sagrado (Weil, 1999).
Vários fatores provocam a experiência de estados de
expansão da consciência, dentre os quais destacam-se:
isolamento sensorial e sobrecarga sensorial, biofeedback,
treinamento autógeno, música e canto, improvisação
teatral, meditação, visualizações, hipnose e auto-
hipnose, desenho, psicodrama, Abordagem Integrativa
Transpessoal (AIT) dentre outros mais.
Todas essas abordagens podem ser chamadas de
sistemas destinados a mudar o estado de consciência. O
trabalho terapêutico em diferentes estados de consciência
é vital na abordagem transpessoal (Saldanha, 1999).
5. CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA
Cartografia da consciência é o mapeamento das
108
diferentes regiões, das dimensões mentais, de onde provêm
os conteúdos experienciados e acessados pelo indivíduo e
que favorecem a sua compreensão em sua trajetória de
auto-aprimoramento. Cada estado de consciência acessa
diferentes conteúdos, tornando possível entender o que
acontece nessas dimensões mentais.
Com terminologia distinta autores apontam, de uma
forma geral, três níveis ou dimensões mentais:
Conteúdos autobiográficos,
Vivencias intra-uterinas e
Nível que antecede a vivencia intra-uterina e
vai além da existência biológica.
No primeiro nível refere-se a conteúdos
autobiográficos, desde o nascimento até o momento atual
da existência do indivíduo. Depois vêm os conteúdos que
transcendem os dados biográficos, abarcando as vivências
intra-uterinas, inclusive o nascimento. O terceiro nível,
o qual antecede o nível intra-uterino se refere a
diferentes e amplos aspectos da consciência.
Para facilitar a compreensão, pode-se fazer uma
analogia com a cartografia Freudiana do “consciente, pré-
consciente e inconsciente”. Neste caso quando a pessoa
se referia a vida intra-uterina Freud interpretou como
fantasia. Jung , no entanto, incorporou, em sua teoria ,
109
aspectos que chamou de ”inconsciente coletivo”, além do
inconsciente pessoal também descrito. Portanto em sua
cartografia dividiu em: “Consciente, inconsciente e
inconsciente coletivo”.
Na PT a cartografia da consciência pode ser
relacionada com diferentes conteúdos experienciais e de
acordo com a sistematização da teoria da AIT proposto por
Vera Saldanha, relaciona as experiências relatadas pelos
pacientes como provenientes de regiões pessoais.
O trabalho foi baseado em pesquisas de Stanislav
Grof, TimotyLeary, Robert More entre outros e pode ser
descrita como:
Vigília,
Pré-consciente,
Inconsciente psicodinâmico,
Inconsciente ontogenético,
Inconsciente transindividual,
Inconsciente filogenético,
Inconsciente extraterreno,
Superconsciente (ou supraconsciente),
Vácuo
Os conteúdos se interpenetram mutuamente e são
caracterizados como:
Vigília:
110
Formada de conteúdos usuais do cotidiano, presentes
na consciência, regidos pelo tempo linear passado,
presente e futuro lógico, pelo pensamento analítico e
causal. A maioria das pessoas se mantem no estado de
vigília a maior parte do tempo.
Pré-consciente:
Nível de conteúdos ligados à vigília, acessados
facilmente a partir de uma simples evocação direta. Estão
parcialmente ligados a vigília.
Inconsciente psicodinâmico:
Nível de conteúdos ligados a experiências,
sentimentos e pulsões biográficas, desde o nascimento até
o momento da vida atual, mas que muito raramente vêem à
tona. Entretanto podem manifestar-se sob forma de
"Sintoma". Corresponde ao inconsciente Freudiano.
Inconsciente ontogenético:
Nível de conteúdos ligados a experiências
intra-uterinas pré ou perinatais. Representam uma zona de
transição do nível pessoal para o traspessoal, incluindo
experiências de morte e nascimento.
Inconsciente transindividual:
Nível de conteúdos de experiências ancestrais
(da linhagem genética ancestral), experiências
paligenéticas (de outros tempos e lugares, que ultrapassa
111
a linha biológica e a lei genética, gerando a compreensão
intuitiva da lei do carma), experiências coletivas e
raciais (de várias culturas passadas, do “inconsciente
coletivo ou racial” que contém toda a história da
humanidade) e experiências arquetípicas (do inconsciente
coletivo de Jung através de símbolos universais da
experiência humana, arquétipos ou imagens primordiais). E
o primeiro dos domínios transpessoais, experiências com
elementos que transcendem o ego.
Inconsciente filogenético:
Nível de conteúdos ligados a experiências além
das formas humanas, da própria seqüência evolutiva do
nosso planeta, tanto orgânicas (órgão, tecido, célula,
animal ou vegetal) como inorgânicas.
Inconsciente extraterreno:
Nível de conteúdos que se estendem para além do
nosso planeta, experiência de estar fora do corpo, de
encontros com entidades espirituais, de percepção extra-
sensorial, telepatia, clarividência, escrita automática e
possessão por espíritos.
Supraconsciente ou superconsciente:
Nível de conteúdos advindos da percepção
ampliada da realidade, com sentimentos de compaixão e
equanimidade, com apreensão intuitiva do fenômeno da
unidade e da relação homem-cosmo, mas que é acessado se
112
estivermos receptivos a ele (eliminando os pensamentos
desnecessários). E um nível diferenciado da consciência,
onde ocorre profundo êxtase existencial. Também
denominado como inconsciente superior, pois sugere um
nível mais amplo do que a consciência de vigília.
Vácuo:
Estado além de qualquer conteúdo. vivência do
estado de puro ser, fusão à Mente Universal, além do
tempo e espaço, do bem e do mal. Estado correspondente ao
nirvana na filosofia budista. Para Grof (1988) e
subjacente a toda criação .
Representação da Cartografia da Consciência
Figura:6 : Cartografia da Consciência
113
Fonte: Weil et al, 1978, p58.
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