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FACULDADES SPEI CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOAL ALUBRAT- CAMPINAS CLAUDIO HIDEYO ASSATO VEREDAS MENTAIS
120

veredas mentais

Apr 28, 2023

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claudio assato
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Page 1: veredas mentais

FACULDADES SPEICURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOALALUBRAT- CAMPINAS

CLAUDIO HIDEYO ASSATO

VEREDAS MENTAIS

Page 2: veredas mentais

CAMPINAS2015

FACULDADES SPEICURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

EM PSICOLOGIA TRANSPESSSOALALUBRAT- CAMPINAS

CLAUDIO HIDEYO ASSATO

VEREDAS MENTAIS

2

Trabalho de Conclusão deCurso da Pós-Graduação emPsicologia Transpessoal dasFaculdades SPEI, em parceriacom ALUBRAT, sob orientaçãoda Profa. Marcia ReginaRosa.

Page 3: veredas mentais

CAMPINAS2015

AGRADECIMENTOS:

Agradeço a ALUBRAT pela oportunidade de estudo;

agradeço o encontro com professores e amigos de jornada,

na qual formamos uma egrégora peculiar de grande

aprendizagem e conquistas.

Agradeço Arlete da Silva Acciari, que me apresentou

à psicologia transpessoal, acompanhou e incentivou-me em

todos os momentos do curso favorecendo meu crescimento

interno e processo de transformação !

Agradeço minha orientadora Márcia Regina Rosa, que

desde o inicio me acolheu e com muito carinho

supervisionou este processo de aprendizagem e crescimento

pessoal.

3

Page 4: veredas mentais

Agradeço a todos meu amigos, companheiros de jornada

e familiares que deram um brilho, calor e magia neste meu

caminhar transpessoal.

4

Page 5: veredas mentais

Emergência

Emerge em mim a luz da minha alma !

Essência da vida; leveza do meu Ser

O sentido do saber que impulsiona meu desejo

Faz em mim no símbolo do conhecimento

Emerge a emoção que busca palavras

Iluminadas aparecem como nuvens

Indo e vindo criam símbolos mentais!

Emerge em ponto e num sorriso.

Como se fosse meu último dia...

Submerge como emergência para sobreviver!

Assim nesta emergência caminho ...

Sigo a luz emergente que me conduz !

Cláudio Assato

SUMÅRIO:

5

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RESUMO 09

INTRODUÇÃO 10

VEREDAS MENTAIS 10

OBJETIVOS

11

JUSTIFICATIVAS

11

METODOLOGIA 12

CAPITULO 1: O FENÔMENO 13

1.1. APOFENIA E PAREIDOLIA

13

CAPITULO 2: UMA VEREDA HISTÓRICA 17

2.1. A PSICANÁLISE E O INCONSCIENTE 17

2.2. FREUD E PIAGET 17

CAPITILO 3: VEREDAS ALTERNATIVAS 20

3.1. EXPERIÊNCIAS ANÔMALAS E ESTADOS ALTERADOSDE CONSCIÊNCIA 203.2. EMERGÊNCIA ESPIRITUAL

21

CAPITULO 4: LABIRINTOS EM VEREDAS 25

4.1.DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DAS EMERGÊNCIASESPIRITUAIS 254.2.PSIQUIATRIA E AS EMERGENCIAS ESPIRITUAIS

26

CAPITULO 5: NOMEANDO AS VEREDAS 27

6

Page 7: veredas mentais

5.1.CID-10 E DSM 27

CAPITULO 6 : CAMINHANDO PELAS VEREDAS 30

6.1. PSICOSES 306.2. ESUIZOFRENIAS 306.3. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 326.4. AS SUBSTANCIAS PSICO ATIVAS 326.5. ALUCINACOES E DELIRIOS 336.6. OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE 366.7. OS QUADROS DISSOCIATIVOS

36

CAPITULO 7: UMA VEREDA ALTERNATIVA 38

7.1. A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 38

7.2. FORMAS DAS EMERGENCIAS ESPIRITUIAIS 39

7.2.1. A CRISE XAMÂNICA 397.2.2. O DESPERTAR DA KUNDALINI

397.2.3. A CRISE DE ABERTURA PSÍQUICA

427.2.4. EXPERIÊNCIAS COM VIDAS PASSADAS 42

7.2.5.EXPERIÊNCIAS COM ESPÍRITOS GUIA “CANALIZAÇÃO” 43

7.2.6. EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE 447.2.7. EXPERIÊNCIA DE CONTATO PRÔXIMO A OVNIs

447.2..8. ESTADOS DE POSSESSÃO

45

CAPITULO 8: MAPEANDO VEREDAS 46

8.1. DISCUSSÃO 46

7

Page 8: veredas mentais

CAPITULO 9: CONSTRUINDO NOVAS VEREDAS 59

9.1. RESULTADOS 59

CAPÍTULO 10: A SUA VEREDA 63

10.1. CONCLUSÃO 63

APÊNDICE- 01:

ESQUIZOFRENIA E TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

1. ESQUIZOFRENIA PARANOIDE 652. ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA 653. ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA 644. ESQUIZOFRENIA SIMPLES

655. ESQUIZOFRENIA RESIDUAL

66

TRANSTORNOS AFETIVOS BIPOLARES 66

APÊNDICE – 02:

CONCEITOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 68

1. CONCEITO DE UNIDADE 682. CONCEITO DE VIDA

693. CONCEITO DE EGO 704. ESTADOS DE CONSCIÊNCIA 735. CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA

76

11.REFERÊNICAS BIBLIOGRÁFICAS 80

LISTA DE ABREVEATURAS:

8

Page 9: veredas mentais

AIT......................................................

...Abordagem Integrativa Transpessoal

CID .....................................................

Classificação Internacional de Doenças

DSM......................................................

...... Diagnostic and Statistical Manual

EA ......................................................

..........................Experiências Anômalas

EAC......................................................

.......Estados Alterados de Consciência

EE.......................................................

............................ Emergência Espiritual

EQM .....................................................

................Experiência de Quase Morte

OMS .....................................................

...........Organização Mundial da Saúde

PT ......................................................

.........................Psicologia Transpessoal

SPA......................................................

.......................... Substância Psicoativa

VM ......................................................

.....................................Veredas Mentais

9

Page 10: veredas mentais

LISTA DE FIGURAS:

FIGURA 1: Pareidolia no chocolate

14

FIGURA 2: Apofenia e as manchas na parede

14

FIGURA 3: Jesus na torrada

15

FIGURA 4: Rorscharch e o que você vê ?

16

FIGURA 5: PT Corpo Teórico

68

FIGURA 6: Cartografia da Consciência

10

Page 11: veredas mentais

79

RESUMO:

11

Page 12: veredas mentais

Veredas Mentais são caminhos psicológicos que

realizamos ao construir o nosso universo. Um caminho do

nosso Self ao nosso Ego. Neste percurso peculiar muitos

fenômenos são observados e descritos de modo particular

por cada individuo. O Objetivo deste trabalho será

descrever estas Veredas Mentais e correlacionar com as

Emergências Espirituais descritas na psicologia

transpessoal, além de diferencia-las de outros fenômenos

descritos e observados na psicologia e na psiquiatria

clínica. Foi utilizado a revisão bibliográfica de artigos

nacionais e internacionais e de autores da psicologia

transpessoal além de referência psiquiátrica e

psicopatológica da DSM – IV e CID – 10. Concluiu-se que

foram identificados critérios de maior concordância entre

os pesquisadores, que poderiam indicar uma adequada

diferenciação entre experiências espirituais e

transtornos psiquiátricos. Em relação à experiência

vivida verificou-se uma ausência de sofrimento

psicológico, ausência de prejuízos sociais e

ocupacionais, uma duração curta da experiência, atitude

crítica (ter dúvidas sobre a realidade objetiva da

vivência), compatibilidade com o grupo cultural ou

religioso do paciente, ausência de comorbidades, controle

sobre a experiência, crescimento pessoal ao longo do

tempo e uma atitude de ajuda aos outros. A presença

dessas condições sugeriu uma experiência espiritual não

patológica mas, por outro lado, há carência de estudos

bem controlados testando esses critérios.

12

Page 13: veredas mentais

INTRODUÇÃO

VEREDAS MENTAIS

Não foi tarefa simples escrever sobre as Veredas

Mentais (VM) que criamos e percorremos em nossa jornada;

descobrir e contempla-las emerge memórias e simboliza

nossa vida!

O foco deste trabalho será a Emergência Espiritual

(EE) descrita pela Psicologia Transpessoal (PT);

procurou-se avaliar o fenômeno e associa-lo a fatos

descritos e encontrados na literatura e nas veredas da

alma de cada ser.

Observou-se a vida e avaliando como interagimos com

ela, sempre com o questionamento do impacto deste

processo em cada representação, em cada escolha, em cada

13

Page 14: veredas mentais

ser, o que nos torna únicos. Deste modo cria-se as VM.

Através dela pensou-se no que traspassa, o que permeia, o

que atravessa, o que infiltra, o que penetra, o que

transnuda, o que emerge. E com tais questionamentos

refletiu-se e pensou-se sobre as VM e como elas se dão,

de que modo, de que jeito, que rumo, que processo, que

norma, que diretriz, que “regra”, que procedimento

ocorre. Então como protagonistas de nossas histórias

questionou-se também como conduzimos, como comportamos,

como agimos, como atuamos, como desempenhamos, como

procedemos, como cumprimos, como levamos ... enfim como

realizamos!

Na arte de observar, contemplar e compor nossos

processos, decidiu-se registrar algumas VM fazendo uma

cartografia do que esta criptografado nos registros

mentais; em nossas memórias... Deste modo percorreu-se um

caminho do nosso Self ao nosso Ego !

Como cada ser é único, nada melhor do que a Arte

para representar o simbólico e imaginário de cada um.

Assim, diante deste tema atual e sincrônico pensou-se que

ela trouxe para a PT um modo subjetivo de compreendê-la;

então começou-se aqui uma vereda com referência a arte

contemporânea, representada pela atual 31 bienal de SP

onde o tema fala sobre “Como procurar coisas que não

existem” e da Trienal 2014 de Piracicaba que questiona o

que seria de nós sem as coisas que não existem.

14

Page 15: veredas mentais

Nesta 31 bienal de SP, o diretor do SESC de SP,

Danilo Santos de Miranda, disse que no contexto presente,

pleno de signos e interpretações que se mesclam e

colidem, há de se perguntar sobre as possibilidades que

os indivíduos tem de se orientarem. Cada um de nós pode

sentir; em maior ou menor medida, a urgência de atribuir

sentidos, sob a pena de sermos soterrados por imagens,

textos e criações que constroem a realidade. A arte

participa como protagonista dessa circulação simbólica

com a presença por vezes inquietante e com comentários

acerca de outras presenças. Assim a aproximação da

produção contemporânea em artes visuais pode significar,

para diversos públicos, a ampliação de suas

possibilidades de leitura dos fenômenos do mundo!

As VM podem ser um tema abstrato e ao mesmo tempo um

dilema contemporâneo e também particular. A questão de

como viver num mundo em transformações permanentes onde

as velhas formas podem ser questionadas e as novas ainda

em construção. Em nosso ciclo de transformações o

repertório criado nos integra ao todo que resignifica e

emerge.

OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho é de realizar uma

revisão bibliográfica do tema EE no campo da PT.

15

Page 16: veredas mentais

OBJETIVO ESPECÍFICO

Correlacionar EE, experiência espiritual a

transtornos mentais de conteúdo religioso classificadas e

nomeadas de outro modo no campo da psicologia, da

psicopatologia e da psiquiatria clínica, além de

observar a fenomenologia das VM do evento.

JUSTIFICATIVAS

A PT descreve a EE sob vários aspectos e relata que

pode ser desencadeada ou manifestada de formas

distintas em cada indivíduo, pois estas são dotadas de

características específicas que as distinguem umas das

outras. Esses estados incomuns de consciência na EE faz

com que seja possível aos materiais inconscientes, com

forte carga emocional emergir para a consciência e esse

processo é a expressão de um poderoso potencial de cura

espontâneo descrito na PT, entretanto também foi descrito

na psiquiatria como sendo sinal ou sintoma de algumas

psicopatologias. O fenômeno pode ser observado com

características semelhantes na população e nesta revisão

bibliográfica descreveu-se diferentes olhares para o

evento.

Nessas circunstâncias, os sintomas emocionais e

psicossomáticos não são problemas para serem combatidos,

mas sinais de um esforço de cura pelo organismo descrito

16

Page 17: veredas mentais

na PT e um critério diagnóstico diante as classificações

psicopatológicas. Descrever, pesquisar e relatar os

sinais e sintomas psíquicos, o caminho percorrido pela VM

do individuo passa a ser de extrema importância para um

diagnóstico criterioso e bom prognóstico para a pessoa

envolvida no processo.

METODOLOGIA

Foi realizado Revisão Bibliográfica de textos e

artigos nacionais e internacionais. Pesquisado a EE, a

PT, Experiências Anômalas (EA), os Estados Alterados de

Consciência (EAC) e a Psicopatologia Psiquiátrica tendo

como referência a CID -10 e o DSM IV.

CAPÍTULO 1: O FENÔMENO

1.1. APOFENIA E PAREIDOLIA

Para entendermos nossas VM, será importante

entendermos qual “sinalização” respeitamos na construção

deste caminho. Então o que observamos e criamos

17

Page 18: veredas mentais

previamente para decidir “por onde e para onde ir ! “

Nosso cérebro é capaz de criar imagens onde elas não

existem, pode ver diversas formas em objetos e lugares.

Este fenômeno é chamado de pareidolia.

Na pareidolia um estímulo vago e aleatório, uma

imagem ou som, a priori sem significado ou relevância,

passa a ser percebido como algo distinto e com

significado. Assim, será comum ver imagens que parecem

ter significado, por exemplo em nuvens, montanhas, solos

rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e outros

tantos objetos e lugares... como se “dissessem” algo.

A palavra pareidolia vem do grego "para", que é

junto de; ou ao lado de, e "eidolon", que significa

imagem, figura ou forma. Com sons, geralmente a

pareidolia surge em músicas tocadas ao contrário, que

parecem dizer algo, ou enviar alguma “mensagem” ao

interlocutor. O cérebro consegue entender palavras que na

verdade não foram ditas, fatos que não existem. São

frases ou palavras onde só há um ruído incoerente.

 A pareidolia ativa nosso cérebro, desperta nossos

sentidos. É uma capacidade natural de nosso cérebro onde,

com estímulos visuais ou sonoros, enxergam ou criam um

sentido para algo abstrato que se encaixa nos padrões

criados pelo cérebro. Enxergar rostos é a pareidolia mais

18

Page 19: veredas mentais

comum para o ser humano. Assim que o bebê nasce e conhece

a face humana, a posição dos olhos, nariz e boca, o

cérebro já fica condicionado a reconhecer rostos em todo

abstrato tenha alguns traços que se encaixam no padrão de

um rosto humano.

Figura 1

Pareidolia no chocolate

  A crença humana é uma grande vítima da pareidolia.

São manchas que parecem imagens de santos, um embaçado no

vidro que lembra um fantasma...etc. Quando não somos

capazes de identificar algo, a imagem recebida já coloca

o cérebro em alerta para que ele comece a recriar os

padrões da imagem e rapidamente você já pensa: “Aquilo

não parece um rosto ?” E pronto. Para você aquela mancha

na parede sempre será um rosto e vai ser difícil

convencer o cérebro em ver aquela “imagem do rosto” como

se fosse apenas uma imagem abstrata.

19

Page 20: veredas mentais

Figura 2

Apofenia e as manchas na parede

Pareidolia é um tipo de Apofenia; um fenômeno

cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados

aleatórios. É um importante fator na criação de crenças e

ou ilusões. Inicialmente descrita como sintoma de

psicose, a apofenia ocorre no entanto em indivíduos

perfeitamente saudáveis mentalmente.

Ocorrências de apofenia freqüentemente são

investidas de significado religioso e ou paranormal

ocasionalmente ganhando atenção da mídia como , por

exemplo a impressão de ver Jesus em uma torrada, a imagem

de Nossa senhora na arvore entre outros exemplos.

20

Page 21: veredas mentais

Figura 3

Jesus na Torrada

Sabendo deste fato, na psicologia, o teste

projetivo de manchas Rorschach a apofenia é estimulada

com o objetivo de identificar padrões significativos na

vida do indivíduo que ele projeta sobre a mancha.

Figura 4

Rorschach

21

Page 22: veredas mentais

Com estas definições em mente, penso que facilitara

a compreensão de qual VM cada um de nos escolheu caminhar

apos as nossas sinalizações internas.

Então, dentro do repertório da PT, o conceito de EE,

fica importante neste entendimento do que emerge em cada

um diante da VM que estamos percorrendo e o que

observamos neste caminho !

CAPÍTULO 2: UMA VEREDA HISTÓRICA

2.1. A PSICANÁLISE E O INCONSCIENTE

Desde o surgimento da psicanálise não é mais

possível acreditar no total domínio da consciência sobre

22

Page 23: veredas mentais

nossos atos. Os sonhos, os atos falhos, as associações

livres mostram que temos comportamentos que escapam a

nossa consciência e que um conjunto de significados, que

nós próprios desconhecemos, influenciam nosso modo de ser

e nossas construções sobre o símbolo. Nossas VM podem

ser interpretadas como labirintos e caminhar nele pode

parecer novo, desconhecido, amedrontador ou inovador,

contemplativo e gratificante.

A realidade é compartilhada e é simultaneamente

algo muito pessoal e singular. Uma condição de algo que

se situa entre o mundo interno e o mundo externo que não

é puramente objetivo e nem puramente subjetivo.

Há partes conscientes e partes inconscientes. Assim

enquanto seres de relação, nossas expressões atingem os

outros e os outros nos atingem. Nessa rede de relações

encontramos aquilo que consideramos o mundo real, com

seus fatos, fenômenos, crenças, valores, usos e costumes,

enfim, a cultura do tempo que vivemos e assim cada um de

nos construímos nossos próprios símbolos e entre eles a

experiência da EE descrita na PT; a qual esta presente

como fenômeno na psicologia, na religião, na arte e na

psiquiatria entre outros campos.

2.2. FREUD E PIAGET

De acordo com o meio que vivemos, nossa cultura,

família, nossos valores e época em que vivemos escolhemos

23

Page 24: veredas mentais

uma vereda mental que nos faca sentido. Historicamente

varias pessoas descreveram sobre estes processos e

escolhas; por exemplo: Freud vê no pensamento simbólico

raízes inconscientes. Piaget, em oposição a essa idéia,

afirma que a existência do jogo de imaginação ou de

ficção na criança, chamado de jogo simbólico, é capaz de

mostrar que o pensamento simbólico ultrapassa o

inconsciente; tendo uma parte consciente e outra

inconsciente concordando com as proposições freudianas.

Então desde tenra idade nossas veredas vão se construindo

de modo simbólico e uma parte deste símbolo será

consciente e outra inconsciente.

Piaget explica que, nesse ”jogo infantil“, nesta

construção mental; nestas primeiras VM a distinção entre

simbolismo inconsciente e consciente não é clara, tal

como no caso de uma personalidade adulta. Prevalece um

estado de indiferenciação por ocasião da assimilação do

real ao eu. A criança está no processo de formação e

descobertas e de acordo com o desenvolvimento

neuropsicológico poderemos associar ou ter expectativas

distintas neste processo de simbolização. Tais símbolos

serviram como “guias” de sinalização para as VM.

Então o pensamento simbólico forma uma unidade, o

que implica na possibilidade de ter como qualidades

concomitantes a consciência e a inconsciência.

24

Page 25: veredas mentais

Segundo Piaget, todo símbolo é ou pode ser, ao mesmo

tempo, primário e secundário, o que quer dizer que ele

pode comportar, além de sua significação imediata e

compreendida pelo sujeito, significações mais profundas

exatamente como uma idéia, além do que ela implica

conscientemente o raciocínio que a utiliza no momento

considerado, pode conter uma série de implicações que

escapam momentaneamente ou desde longo tempo ou mesmo que

escaparam sempre à consciência do sujeito pensante. Então

as sinalizações das VM terá significados conscientes e

inconscientes.

Assim diante das diferentes VM vamos escolhendo ao

longo da vida as que nos trazem maior “conforto”, melhor

”resposta” naquele momento de vida. É a vereda do nosso

Self ao Ego !

Segundo Freud, o conteúdo que a psicanálise propõe-

se a revelar é oculto para o sujeito devido ao trabalho

do recalcamento*. Piaget afirma que na teoria

psicanalítica há simbolismo porque o conteúdo dos

símbolos é recalcado. Em oposição a essa idéia, ele

entende que não é o conteúdo que explica a formação do

símbolo**, mas sim a própria estrutura do pensamento do

sujeito.

Neste sentido, Piaget não atribui ao recalcamento a

importância crucial que tem na obra de Freud. O

25

Page 26: veredas mentais

recalcamento regula os esquemas afetivos, fazendo com que

o conteúdo do símbolo escape à consciência do sujeito.

Faço referência a Freud e Piaget para entendermos que o

símbolo seria construído no campo das EE assim

classificada na PT. Esta VM pode emergir em velocidades

distintas em cada ser !

_________________________________________________________

_____

* A palavra recalque significa “rebaixamento de terra ou paredes” (p. 358). O radicalcalcar é conceituado como “calcar a terra, o terreno= pressionar-pisar-apertar” (p.358), podendo também ser utilizado como “oprimir, vexar, desprazer” (HANS, 1996, p.358).Roudinesco e Plon (1998) acrescentam que o termo refere-se “ao ato de fazer recuar oude rechaçar alguém ou alguma coisa” (p. 647). Os mesmos autores afirmam que tambémpode ser utilizado como sinônimo de recusa ao acesso a um país ou lugar específico.De uso quase que exclusivo da psicanálise, define-se recalque como sendo o movimentoque o aparelho psíquico promove para despejar da consciência as representações quepodem gerar desprazer. Além disso, o aparelho psíquico disponibiliza energia paraexecutar a tarefa de manter o conteúdo que foi despejado afastado da consciência(HANS, 1996; Kusnetzoff, 1982). O mecanismo do recalque não dispõe de força suficientepara erradicar as fontes pulsionais do aparelho psíquico, mas para empurrá-las devolta, “desalojar do centro da cena” (p. 363), mantendo-as fora da consciência, noinconsciente. O recalque mantém-se existente e necessário, pois as fontes pulsionais,uma vez recalcadas, movimentam-se constantemente buscando um caminho para acessar aconsciência e o mundo externo, onde irá encontrar a satisfação. A função do recalque égerar contra-investimentos para manter o material recalcado no inconsciente (HANS1996).Roudinesco e Plon (1998) e Laplache e Pontalis (2001) afirmam que o recalque é umprocesso que obriga as idéias e as representações pulsionais a permanecerem noinconsciente. Esse funcionamento se estabelece para evitar o desprazer que pode ser

26

Page 27: veredas mentais

gerado pelo retorno deste material, bem como o desequilíbrio psicológico do sujeito.

** Para Piaget representação tem início no segundo ano de vida. Nesse sentido, não se pode falar em simbolismo antes que ela apareça; em contrapartida os freudianos vêem símbolos aos dois meses de idade, pois parece falar de simbolismo, de consciência do ‘como se’, antes que haja representação.

CAPÍTULO 3: VEREDAS ALTERNATIVAS:

3.1. EXPERIÊNCIAS ANÔMALAS E ESTADOS ALTERADOS DE

CONSCIÊNCIA

Ao longo da vida nos deparamos com as escolhas de

nossas VM e assim vamos pouco a pouco construindo um

cenário que observamos na caminhada da vida até que na

fase adulta, com nossa personalidade já formada, com o

histórico e registros dos passeios pelas nossas veredas

passamos a estabelecer relações entre os signos, os

símbolos e o imaginário, muito explorado por Lacan;

também visto nos âmbitos artísticos e na

contemporaneidade (com a capacidade expressiva através de

traçados e construções simbólicas) elas podem ser

submetidas a realidade como uma manifestação subjetiva e

particular.

O termo EA é empregado para designar uma experiência

incomum como as alucinações (sinestesias) ou que, embora

seja relatada por muitas pessoas como vivências

interpretadas como telepáticas, entre outros fenômenos

ditos paranormais; acredita-se diferente do habitual e

das explicações usualmente aceitas como realidade. Não há

27

Page 28: veredas mentais

necessariamente uma relação com patologia ou anormalidade

(Cardeña, Lyinn e Krippner, 2000). Bastante relacionados

com EA estão os EAC, que Charles Tart (1972) definiu como

uma alteração qualitativa no padrão global de

funcionamento mental que o indivíduo sente ser

radicalmente diferente do seu modo usual de

funcionamento.

O mesmo autor faz uma analogia entre a mudança de um

estado habitual de consciência para um EAC, descrevendo

como. Nessa situação, um mesmo conjunto de dados ou

exemplo: um mesmo computador poderia funcionar com dois

programas diferentes informações pode ser processado de

formas muito diferentes e gerar saídas bem diversas.

Então, embora haja uma sobreposição entre EA e EAC,

as primeiras podem ocorrer em estados usuais de

consciência como as alucinações. As EA e os EAC são

descritos em todas as civilizações de todas as eras,

constituindo-se muitas vezes elementos importantes na

história das sociedades e, principalmente, de suas

religiões. Têm um profundo impacto, tanto na vida

daqueles que os vivenciam diretamente quanto naqueles que

os acompanham próximos.

As dimensões religiosas e espirituais da cultura

estão entre os mais importantes fatores que estruturam as

crenças, os valores, os comportamentos e os padrões de

adoecimento humanos, ou seja, a experiência humana

(Lukoff e Turner, 1992).

28

Page 29: veredas mentais

As experiências dissociativas ocorrem muito

freqüentemente em contextos religiosos, constituindo-se

muitas vezes em EAC. Apesar de serem conceitos

específicos, EA, EAC, fenômenos dissociativos e

religiosos estão de tal modo interligados e será ponto de

reflexão neste trabalho.

3.2. EMERGÊNCIA ESPIRITUAL

Conceituar um tema que, em pleno século XXI, ainda

enfrenta tabus e descrenças acaba sendo delicado;

portanto inicialmente penso que será importante avaliar a

nomenclatura e definição na PT, e deste conceito uma

discussão sobre o tema.

Então pensando sobre as palavras que compõem o nosso

objeto de estudo: “emergência” e “espiritual”:

1. "Emergência" é o substantivo relativo ao verbo

"emergir". Esse deriva do latim "emero, mersi,

mersum", significando "sair do mar", "sair da

água" [ex-mare]. Como o que "sai do mar" são

mamíferos marinhos que vêm à tona para respirar

rapidamente ou peixes que afloram subitamente à

superfície, o verbo "emergo" [emergir] relacionou-

se à idéia de algo que aparece ou acontece

"subitaneamente", "de súbito", repentinamente.

Esse sentido extensivo é o que se aplica ao

conceito usual de "emergência". Na língua

portuguesa o adjetivo "emergente" se refere tanto

29

Page 30: veredas mentais

àquilo que emerge da água, como a algo que ocorre

de súbito. Para esse segundo sentido usa-se o

vocábulo "emergencial". Há também uma interessante

possibilidade de significado para a palavra

“emergência” que é “nascimento (do Sol)” ou ainda

“situação crítica ou acontecimento perigoso ou

fortuito”.

2. “Espiritual”, adjetivo que provém do substantivo

“espírito” que, por sua vez, deriva do latim

“spiritu” e pode ser compreendido como “a parte

imaterial do ser humano; alma”; mas também como

“ânimo”, “índole” ou ainda “inteligência, engenho,

imaginação, finura”.

Deste modo começarei a busca pela compreensão do

tema e o objeto de estudo para poder iniciar as reflexões

e pesquisas que cercam a dificuldade em conceituar o que

é uma EE. A pesquisa bibliográfica ajudará compreender

estes diferentes olhares sob este conceito/ diagnóstico.

Será prudente ressaltar que o conceito de EE integra

descobertas de muitas disciplinas, incluindo-se entre

elas a psiquiatria clínica, a psicanalise, a moderna

pesquisa da consciência, as psicoterapias experienciais,

os estudos antropológicos, a parapsicologia, a

tanatologia, a religião comparada, a mitologia a arte

(entre elas a arte visionaria e a arte bruta). São áreas

distintas numa primeira instância, mas que adquirem

30

Page 31: veredas mentais

identidade coletiva, unificam-se, quando se debruçam

sobre a preocupação do desenvolvimento humano.

Portanto, EE, num primeiro momento, pode ser

compreendida como o fato, ou os fatos que, subitamente

acometem a alma humana a essência de cada um.

No contexto histórico, foi a partir do século XVIII

que a ciência ingressou em um constante processo de

evolução, que desencadeou uma série de novas tecnologias

que transformaram de forma rápida a vida do homem,

sobretudo, no modo de produzir mercadorias. Nesse último

caso, serviu principalmente ao setor industrial,

acelerando o desenvolvimento do sistema capitalista.

Neste novo sistema não cabia mais um ser místico, um ser

envolvido em suas questões espirituais. A racionalidade

tornou-se a medida última de todas as coisas,

substituindo com rapidez e sem piedade, a espiritualidade

e as crenças religiosas.

No ocidente, todas as coisas que tivessem a mínima

relação com o misticismo eram desqualificadas como

resquícios da “idade das trevas”. Neste momento, a

psiquiatria moderna tenta suprimir a lacuna, muitas

vezes, encontrada nas distorções patológicas da atividade

mental.

31

Page 32: veredas mentais

É importante ressaltar também que quando foram

aplicadas estratégias médicas à psiquiatria, os

pesquisadores conseguiram encontrar explicações

biológicas para algumas desordens que exibiam

manifestações psicológicas e ainda mais a psiquiatria

médica também descobriu meios de controlar os sintomas

das condições para as quais não foram encontradas causas

biológicas. O homem foi fadado a pertencer a dois

grandes grupos: Os normais, previstos e controláveis, e

os anormais, imprevistos e incontroláveis.

Era de se esperar, num contexto absolutamente

racionalista, que pessoas com desordens emocionais e

psicossomáticas eram imediatamente consideradas

pacientes, embora com desconhecimento da origem destes

sintomas e eram medicadas de forma supressiva.

Nas últimas décadas, por volta dos anos 60, pudemos

observar um crescente interesse pela espiritualidade e

atualmente de modo transdisciplinar aparecem em varias

áreas, como citado, nas duas mostras de arte de 2014/15

(bienal e trienal).

Vimos uma retomada das práticas espirituais antigas

e do oriente, o surgimento de psicoterapias

experienciais, dentre elas a PT e também a auto-

experimentação com drogas psicodélicas em alguns meios.

32

Page 33: veredas mentais

Desta forma, podemos entender também EE como uma

crise, pela qual algumas pessoas passam, que propicia a

abertura da espiritualidade. Então será necessário

contudo alertar para o fato de que essas crises devem ser

muito bem avaliadas por profissionais competentes, pois

episódios de estados incomuns de consciência como as EA e

os EAC abrangem um espectro muito amplo, que vão de

estados espirituais puros, sem nenhum vestígio de

patologia, a condições de natureza claramente biológica

que exigem tratamento médico; o que pode ser interpretado

como uma EE, no sentido de crise, na verdade, pode

ocultar estados psicóticos que, certamente estariam nos

domínios da psiquiatria. Porém, o que denominamos de EE

traz no seu percurso uma transformação pessoal, muitas

vezes, radical, o que pode não ocorrer quando

diagnosticado um distúrbio mental.

Há muitos relatos colhidos por estudiosos da área

tentando exemplificar o processo de cura e transformação

das pessoas que experienciaram uma crise de EE. O

antropólogo e psicólogo Holger Kalweit, afirma que certas

formas de sofrimento e de enfermidade têm um potencial de

auto cura e de transformação pessoal e cita como exemplos

algumas culturas tribais, o xamanismo.

John Weir Perry, em seu artigo “Emergência

Espiritual e Renovação”, discute um importante tipo de

crise transformacional que alcança o próprio núcleo da

33

Page 34: veredas mentais

estrutura da personalidade, como ele observou durante

anos de psicoterapia intensiva com os seus clientes;

muitos deles, considerados psicóticos, foram tratados sem

medicação supressiva. Em “Os Desafios da Abertura

Psíquica”, a médium e conselheira transpessoal Anne

Armstrong descreve a perturbação emocional e as

dificuldades psicossomáticas que acompanharam a abertura

do seu notável dom mediúnico e resultaram numa dramática

auto cura.

CAPÍTULO 4: LABIRINTOS EM VEREDAS

4.1. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DAS EMERGÊNCIAS

ESPIRITUAIS

Ao longo da história da humanidade, as alterações de

comportamento receberam diversas abordagens e tratamentos

de acordo com cada época e cada contexto, o que a

caracteriza como fenômeno social interpretado das formas

mais diversas.

A história nos revela que a sociedade já compreendeu

tais alterações de diferentes maneiras. Desde alguém sem

34

Page 35: veredas mentais

qualquer razão (o louco) ou até o inverso.

A doença neste contexto era ligada a forças

sobrenaturais do bem e do mal. Assim, o “louco” era visto

como um possuído pelo demônio, por espíritos ou

simplesmente descartados. Desta forma o tratamento se deu

por meio de exorcismos sob a responsabilidade da Igreja

Católica.

É somente no século XIX que a Medicina toma a

“loucura” como uma doença. Para dar conta do tratamento

desta nova doença, uma nova especialidade é criada pela

Medicina; primeiro a neurologia e em seguida a

psiquiatria, com o intuito de cuidar das doenças mentais.

Outro grande passo foi dado por Freud com a

descoberta do inconsciente e da psicanálise. Neste

período, já sob a categoria de doença mental e sob o

domínio da medicina são inauguradas as instituições

psiquiátricas - os sanatórios e manicômios – com o

objetivo de isolar a “loucura” e proteger a sociedade

contra o ameaça do “mal” provocado pelos loucos. Desta

forma, as instituições psiquiátricas surgem no final do

sec. XVIII, e com elas a institucionalização da loucura.

4.2. PSIQUATRIA E AS EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS

É importante termos esta compreensão para entender

como o enfoque das EE aparecem no meio psiquiátrico. E

assim entender que com o passar do tempo algumas

alternativas de tratamento mental começaram a ser

35

Page 36: veredas mentais

experimentadas nos hospitais psiquiátricos, no tocante ao

trabalho, a arte, ou sob novos paradigmas. Há diferentes

psicopatologias descritas no contexto psiquiátrico que

podem apresentar características psicóticas semelhantes a

uma crise de EE, por exemplo os quadros depressivos com

características psicóticas, os quadros bipolares com

sintomas psicóticos, as psicoses induzidas por SPA

(Substancias Psicoativas) entre outros diagnósticos

clínicos .

Para melhor critério e classificação usaremos o CID-

10 (referência no Brasil) e também o DSM IV.

36

Page 37: veredas mentais

CAPÍTULO 5: NOMEANDO AS VEREDAS

5.1. CID-10 E DSM

A Classificação Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados à Saúde (também conhecida como Classificação

Internacional de Doenças – CID 10) é publicada pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a

codificação de doenças e outros problemas relacionados à

saúde. A CID 10 fornece códigos relativos à classificação

de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas,

aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e

causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado

de saúde é atribuída uma categoria única à qual

corresponde um código CID 10.

O DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of

Mental Disorders) é um manual para profissionais da área

da saúde mental que lista diferentes categorias de

37

Page 38: veredas mentais

transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, de

acordo com a American Psychiatric Association – APA. É

usado ao redor do mundo por clínicos e pesquisadores bem

como por companhias de seguro, indústria farmacêutica e

parlamentos políticos. Existem cinco revisões para o DSM

desde sua primeira publicação em 1952. A maior revisão

foi a quarta DSM-4 publicada em 1994 , apesar de uma

“revisão textual” ter sido produzida em 2000. O DSM-5

(anteriormente conhecido como DSM-V) foi publicado em 18

de maio de 2013 e é a versão atual do manual.

Com estes instrumentos de classificação será

possível ter uma linguagem comum diante do fenômeno

observado no paciente. No caso das EE, não existe esta

classificação, então para melhor entendimento do processo

vivenciado e das VM que está em foco será importante

lembrar que a alucinação é a percepção real de um objeto

inexistente, ou seja, são percepções sem um estímulo

externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a

convicção inabalável que a pessoa manifesta em relação ao

objeto alucinado, portanto, será real para a pessoa que

está alucinando. Sendo a percepção da alucinação de

origem interna, emancipada de todas variáveis que podem

acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade

sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é

percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato.

Tudo que pode ser percebido pode também ser alucinado e

isso ocorre, imaginativamente, com maior liberdade de

38

Page 39: veredas mentais

associações de formas e objetos. Na alucinação, por

exemplo, um leão pode aparecer de asas, ou um caracol que

cavalga um ouriço. O indivíduo que alucina pode ter

percebido isoladamente cada umas das formas e,

mentalmente, combinado umas com as outras. As alucinações

podem manifestar-se também através de qualquer um dos

cinco sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e

visuais.

O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão no

que tange à existência de estímulo externo já que na

alucinação não há estímulo e na ilusão o estímulo é

percebido de forma deformada, ou em uma simplificação a

ilusão é um “engano” dos sentidos. O fenômeno

alucinatório tem conotação muito mais mórbida que a

ilusão, sendo normalmente associado à estados psicóticos

que ultrapassam a simplicidade de um engano dos sentidos.

Na alucinação o envolvimento psíquico é muito mais

contundente que nos estados necessários à ilusão; todavia

nem todas as convicções falsas podem ser consideradas

delírios; se estiver relacionada, por exemplo, com falta

de cultura ou conhecimentos podemos falar em ignorância.

As convicções filosóficas ou religiosas também não podem

ser consideradas delírios, ainda que algumas pessoas elas

sejam erradas.

Pode considerar-se uma síndrome constituído por um

conjunto de idéias mórbidas, que se manifestam numa

39

Page 40: veredas mentais

alteração fundamental do juízo, e nas quais deposita uma

convicção forte e inabalável. Este conteúdo de pensamento

inadequado constitui o tema delirante.

O pensamento constitui a base da nossa atividade

psicológica, que orienta e integra as representações

(imagens) e os outros dados elaborados pelo conhecimento

(idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser

concretos ou abstratos.

No delírio, os mecanismos associativos do indivíduo

fogem da realidade e da lógica , podendo levar o mesmo a

formar juízos e raciocínios anormais e originando

porventura alucinações, percepções delirantes ou idéias

delirantes. Apresentam-se como características gerais dos

delírios a sua resistência e irredutibilidade perante a

lógica e a experiência; a sua tendência crescente e

difusão por toda a consciência, tornando-se o centro de

toda a vivência do indivíduo; a falta de autoconsciência

do doente relativamente à perturbação. Assim, a idéia ou

tema delirante é a realidade privada do doente e que o

separa da comunidade onde a realidade dos indivíduos sãos

é a sua percepção sociocultural e situacional dos pontos

comuns e em acordo.

A partir do entendimento das alucinações poderemos

pensar do que se trata as psicoses, que são distúrbios

psiquiátricos graves onde o paciente perde contato com a

realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também

40

Page 41: veredas mentais

apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a

audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à

impossibilidade de convívio social, além de outras formas

bizarras de comportamento.

CAPÍTULO 6: CAMINHANDO PELAS VEREDAS

6.1. PSICOSES

O termo Psicose é empregado para se referir à perda

do juízo da realidade e um comprometimento do

funcionamento mental, social e pessoal, normalmente

levando a um prejuízo no desempenho das tarefas e papéis

habituais.

As Psicoses podem ter várias origens:

41

Page 42: veredas mentais

lesões cerebrais,

tumores cerebrais,

esquizofrenia,

SPA

infecções,

distúrbios metabólicos,

entre outras comorbidades.

6.2. ESQUIZOFRENIAS

Na CID-10 os Transtornos Psicóticos são classificados

como (F20-F29). Este agrupamento reúne a esquizofrenia, a

categoria mais importante deste grupo de transtornos, o

transtorno esquizotípico e os transtornos delirantes

persistentes e um grupo maior de transtornos psicóticos

agudos e transitórios.

Os transtornos esquizoafetivos foram mantidos nesta

seção, ainda que sua natureza permaneça controversa.

Historicamente o termo "esquizofrenia" foi criado em 1911

pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler com o significado de

mente dividida. Ao propor esse termo, Bleuler quis

ressaltar a dissociação que às vezes o paciente percebia

entre si mesmo e a pessoa que ocupa seu corpo.

Hoje é o nome universalmente aceito para este

transtorno mental psicótico, entretanto, no meio técnico

42

Page 43: veredas mentais

e profissional se admite que o termo pode ser

insuficiente para descrever a complexidade dessa condição

patológica.

A Esquizofrenia é uma doença da personalidade total que

afeta a zona central do eu e altera toda estrutura

vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o

estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande

estranheza social devido ao seu desprezo para com a

realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as

amarras da concordância cultural, o esquizofrênico

menospreza a razão e perde a liberdade de escapar às suas

fantasias.

Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é

acometida pela doença, geralmente iniciada antes dos 25

anos e sem predileção por qualquer camada sociocultural.

O diagnóstico se baseia exclusivamente na história

psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente

raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou

depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma

diferença na prevalência entre homens e mulheres.

Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam, em

geral, por distorções características do pensamento, da

percepção e por inadequação dos afetos. Usualmente o

paciente com esquizofrenia mantém clara sua consciência e

sua capacidade intelectual. A Esquizofrenia traz ao

paciente um prejuízo tão severo que é capaz de interferir

amplamente na capacidade de atender às exigências da vida

43

Page 44: veredas mentais

e da realidade.

As esquizofrenias podem ser classificadas em:

Esquizofrenia paranóide

Esquizofrenia Hebefrênica

Esquizofrenia Catatônica

Esquizofrenia Simples e

Esquizofrenia residual

6.3. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

Outra patologia a ser diferenciada são os quadros de

alterações do humor e podem ser caracterizados como o

transtorno afetivo bipolar que leva este nome por causa

da alternância de dois estados emocionais básicos: a

alegria e a tristeza.

Assim como acontece nas doenças físicas, que muitas

vezes representam excesso ou falta de algum elemento

normalmente presente no corpo, muitas doenças da mente

também representam alterações para mais ou para menos de

aspectos emocionais comuns. O equivalente doentio da

alegria recebe o nome de mania e o da tristeza,

depressão.

Nestes períodos podem ocorrer alterações de

44

Page 45: veredas mentais

pensamento além das variações de humor e de acordo com as

VM de cada ser potencializar características na qual a

fenomenologia do quadro podem ficar semelhantes a EA ou

EAC e quadros dissociativos.

Como resultado, portadores de transtorno bipolar com

sintomas psicóticos podem ser erroneamente diagnosticados

como tendo esquizofrenia, outro transtorno mental grave

ligado a delírios e alucinações. E neste caso estamos

ressaltando a importância do diagnóstico para compreensão

de uma EE.

6.4. AS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Outro diagnóstico diferencial importante seria o

transtorno do humor induzido por substância que é uma

perturbação proeminente e persistente do humor,

considerada como devido aos efeitos fisiológicos diretos

de uma substância psicoativa SPA (droga de abuso,

medicamento, outros tratamentos somáticos). Dependendo da

natureza da substância e do contexto no qual os sintomas

ocorrem a perturbação pode envolver humor depressivo ou

acentuada diminuição do interesse ou prazer, ou humor

elevado, expansivo ou irritável; podem apresentar

características esquizofreniformes ou não.

Embora a apresentação clínica da perturbação do

humor possa lembrar a de um episódio depressivo maior,

episódio maníaco, misto ou hipomaníaco, não são

satisfeitos todos os critérios para um desses episódios.

45

Page 46: veredas mentais

Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente

significativo ou prejuízo no funcionamento social ou

ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do

indivíduo . Em alguns casos, o indivíduo pode ainda ser

capaz de funcionar, mas apenas com um esforço

acentuadamente aumentado.

Em vigência das SPAs podem desencadear fenômenos com

distúrbios da senso percepção. Neste caso, será

importante fazer o diagnostico diferencial das EA, dos

EAC e dos quadros dissociativos. Podem ser semelhantes a

quadros esquizofreniformes, entretanto autolimitado, pois

a alteração deve-se ao uso da substância que desencadeam

alucinações e delírios (na maioria das vezes paranóides).

6.5 ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS

Uma boa anamnese e uma avaliação do estado mental

será possível observar a alucinação que é a percepção

real de um objeto inexistente, ou seja, são percepções

sem um estímulo externo; o individuo irá relatar que a

percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável

que a pessoa manifesta em relação ao objeto alucinado,

portanto, será real para a pessoa que está alucinando.

Então sendo a percepção da alucinação de origem

interna, emancipada de todas variáveis que podem

acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade

46

Page 47: veredas mentais

sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é

percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato.

Tudo que pode ser percebido pode também ser alucinado e

isso ocorre, imaginativamente, com maior liberdade de

associações de formas e objetos. O indivíduo que alucina

pode ter percebido, isoladamente, cada umas das formas e,

mentalmente, combinado umas com as outras. As alucinações

podem manifestar-se também através de qualquer um dos

cinco sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e

visuais.

O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão no

que tange à existência de estímulo externo já que na

alucinação não há estímulo e na ilusão o estímulo é

percebido de forma deformada, ou em uma simplificação a

ilusão é um “engano” dos sentidos. 

O fenômeno alucinatório tem conotação muito mais

mórbida que a ilusão, sendo normalmente associado ao

estado psicótico que ultrapassam a simplicidade de um

engano dos sentidos; o que na EE tem outras descrições e

características.

Na alucinação o envolvimento psíquico é muito mais

contundente que nos estados necessários à ilusão, todavia

nem todas as convicções falsas podem ser consideradas

delírios. Se estiver relacionada, por exemplo, com falta

de cultura ou conhecimentos podemos falar em ignorância.

47

Page 48: veredas mentais

As convicções filosóficas ou religiosas também não podem

ser consideradas delírios, ainda que algumas pessoas elas

sejam erradas. Neste caso, as EE será considerado todo o

antecedente e histórico prévio do individuo, suas crenças

e valores, os quais poderão estar envolvidos diretamente

na crise da EE o que poderá nortear a VM do sujeito.

O pensamento constitui a base da nossa atividade

psicológica, que orienta e integra as representações

(imagens) e os outros dados elaborados pelo conhecimento

(idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser

concretos ou abstratos. No delírio, os mecanismos

associativos do indivíduo fogem da realidade e da lógica,

podendo levar o mesmo a formar juízos e raciocínios

anormais e originando porventura alucinações, percepções

delirantes ou idéias delirantes. Apresentam-se como

características gerais dos delírios a sua resistência e

irredutibilidade perante a lógica e a experiência; a sua

tendência crescente e difusão por toda a consciência,

tornando-se o centro de toda a vivência do indivíduo; a

falta de autoconsciência do doente relativamente à

perturbação.

Assim, a idéia ou tema delirante é a realidade

privada do doente e que o separa da comunidade onde a

realidade dos indivíduos sãos é a sua percepção

sociocultural e situacional dos pontos comuns e em

acordo.

48

Page 49: veredas mentais

A partir do entendimento das alucinações poderemos

pensar do que se trata as psicoses, que são distúrbios

psiquiátricos graves onde a pessoa perde contato com a

realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também

apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a

audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à

impossibilidade de convívio social, além de outras formas

bizarras de comportamento.

Neste cenário, para tal é muito importante conhecer

quais os possíveis fatores que podem ter desencadeado a

EE e correlacionarmos as VM de cada ser e tentarmos

compreender a manifestação destes sinais e ou sintomas

psiquiátricos.

- Causa física: Uma doença, acidente, operação,

esforço físico extremo ou insônia prolongada.

Também devido a uma experiência sexual de muita

intensidade; Mulheres podem ser após o parto, um

aborto espontâneo ou provocado; ou algum evento

estressante para ela.

- Causa Emocional: Perda de um filho ou parente

próximo, fim de um relacionamento amoroso ou

divórcio, assim como uma sucessão de fracassos,

como demissão e perda de propriedade entre outros.

49

Page 50: veredas mentais

- Em pessoas predispostas o desencadeador pode ser

uma experiência com substâncias psicoativas ou uma

sessão de psicoterapia experimental.

- Práticas Espirituais: Este parece ser um dos

principais fatores desencadeantes da EE, como a

meditação, ativação de experiências espirituais,

prática do zen, meditação budista Vipassana, ioga

Kundalini, exercícios sufis, ou através da oração

e contemplação cristã.

Estes eventos estão diretamente relacionado aos

valores, a cultura e na crença da pessoa. As emergências

espirituais se manifestam de formas distintas em cada

indivíduo, mas é possível definir certas formas

principais de EE descrita por autores e pesquisadores do

tema, pois estas são dotadas de características

específicas que as distinguem umas das outras. É comum a

sobreposição e combinação de diferentes tipos de EE.

6.6. OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE

A experiência mística também foi vista como um

episódio psicótico e como uma psicose borderline. O

Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders III

(DSM-III) faz 12 referências à religião, todas elas

associadas à psicopatologia, entretanto em outras edições

do DSM passam a rever as questões religiosas e

estabelecer novos critérios diagnósticos, de qualquer

50

Page 51: veredas mentais

modo, nos transtornos de personalidade uma VM

característica também será descrita pelo indivíduo.

6.7. OS QUADROS DISSOCIATIVOS

Experiências dissociativas também estiveram

associadas a transtornos mentais. O termo dissociação foi

inicialmente criado por Pierre Janet, em 1880, para

significar “desagregações psicológicas”. Segundo esse

autor, a dissociação seria a perda da unidade do

funcionamento da personalidade humana, na qual certas

funções mentais atuariam de forma independente e fora de

um controle,

Por outro lado a questão da EE ainda não há um

consenso, pois agrupa alguns conjuntos de sinais e

sintomas que o próprio nome engloba questões emergenciais

como urgências e questões que emergem do sujeito naquele

momento segundo Groff , que as definiu como estágios de

crise e de uma transformação psicológica profunda que

envolve todo ser da pessoa, transformação que toma a

forma não comum de consciência e envolvem emoções

internas, alterações sensoriais, pensamentos incomuns e

várias manifestações físicas.

Em um conceito mais comum, a EE pode ser entendida

como um amadurecimento de uma pessoa, uma maior saúde

emocional e psicossomática, maior liberdade de escolhas e

uma sensação de ligação profunda com outras pessoas, com

51

Page 52: veredas mentais

a natureza e o cosmos. Uma parte importante é o despertar

da dimensão espiritual da vida e no esquema universal das

coisas.

Em um segundo momento, para melhor compreensão dos

diagnósticos diferencias, será importante entender,

alguns conceitos básicos de psicopatologia como

alucinações e ilusões e também deveremos compreender o

que são os delírios e as alterações de pensamento. Desta

forma ficará mais simples de compreender e caracterizar

as psicoses e diferencia-las de uma EE. Assim como ter em

mente os conceitos de unidade, de ego, de vida , os EAC e

a cartografia da consciência. Tópicos que compõem o

arcabouço da PT.

CAPÍTULO 7: UMA VEREDA ALTERNATIVA

52

Page 53: veredas mentais

7.1.A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

A abordagem integrativa transpessoal considera o

individuo como um todo, abrangendo aspectos bio-psico-

social-espiritual. Agrega valores de outras ciências

fazendo uma interdisciplinaridade e valorizando o

aspecto saudável do ser.

Há uma ampliação de conceitos assim levará em

consideração o princípio de transcendência, o qual

indicará um impulso em direção ao despertar espiritual

por meio da própria humanidade do ser, da pulsão de

vida morte e além delas. Essa transcendência e inerente

ao ser humano em sua humanidade plena; para Maslow essa

natureza seria parte do principio do prazer, sob o

domínio do processo primário. Seria “instintoide”,

assim ampliando o conceito original descrito por Freud.

Existem dois aspectos básicos sistematizados

dentro de um referencial teórico que simbolizam uma

abertura para se visualizar e compreender adequadamente

esta abordagem e são classificados em:

Aspecto Estrutural e

Aspecto Dinâmico.

O Aspecto Estrutural é constituído por cinco

elementos que formam o que denominamos de corpo teórico

da PT e são:

53

Page 54: veredas mentais

1. Conceito de Unidade,

2. Conceito de Vida,

3. Conceito de Ego,

4. Estados de Consciência e

5. Cartografia da Consciência

Os elementos (corpo teórico) do aspecto

estrutural podem ser caracterizados como base de

sustentação para o trabalho transpessoal.

7.2. FORMAS DAS EMERGÊNCIAS ESPIRITUAIS

A partir dos conceitos da PT e do entendimento das

EE será possível descreve-la e ou classifica-las num

entendimento holístico e Trasnpessoal. Assim as formas

mais importantes EE de são:

7.2.1. A Crise Xamânica

O xamanismo é a mais antiga religião e arte curativa

da humanidade. A Crise Xamânica geralmente está associada

com o surgimento de doenças desconhecidas (geralmente de

cunho neurológico ou psiquiátrico), que levam a uma total

inconsciência (estado de coma) ou a sofrimentos físicos e

psicológicos intensos. Nesse estado surgem sonhos

repletos de mensagens, premonições, visões de morte,

jornadas ao mundo inferior, experiências de morte e

renascimento, aniquilação pessoal que envolve um encontro

de forças de decadência e destruição que por fim levam a

reconstituição física. Então, de forma inexplicável, se

desperta curado. A doença torna-se, assim, um veículo

54

Page 55: veredas mentais

para um plano mais elevado de consciência, em que o xamã

percebe que a energia dele é muito maior do que ele

próprio percebia e, aliando sua experiência ao

conhecimento sagrado recém-adquirido, passa a realizar

curas e mudanças no mundo físico. A crise xamânica

reflete o mais alto chamado para as culturas nativas e

nela está sua natureza curadora e benevolente.

Vimos exemplos em que americanos, europeus,

australianos e asiáticos de hoje passaram por episódios

bastante semelhantes a uma crise xamânica. Além dos

elementos de tortura física e emocional, de morte e de

renascimento, esses estados envolvem experiências de

ligação com animais, plantas e forças elementais da

natureza. As pessoas que passaram por essas crises também

manifestam tendências espontâneas de criação de rituais

idênticos aos praticados por xamãs de várias culturas.

7.2.2. O Despertar da Kundalini

A kundaliní (termo sânscrito que pode ser traduzido

como serpentine ou enrroscada) é uma forma de energia

cósmica latente no corpo humano, concentrada na base da

coluna vertebral, na região dos órgãos genitais. As

manifestações dessa forma de crise são encontradas na

literatura védica hindu. Pode ser ativada pela meditação,

por exercícios específicos, pela intervenção de um mestre

espiritual que tenha a sua kundaliní desperta e,

raramente, por razões desconhecidas.

55

Page 56: veredas mentais

Quando despertada, a Kundalini é conduzida pelo

sistema nervoso central até ao cérebro, despertando e

ativando os canais do "corpo sutil" (ou centros de

energia). A medida que sobe, ela abre os centros de

energia psíquica, os chakras. A abertura dos chakras é um

importante evento pois há mudanças na consciência e na

mente. Com o despertar da kundaliní ocorre também o

desenvolvimento da inteligência criativa, maior

expressividade, estados expandidos de consciência e

aprimoramento das faculdades supramentais. Uma

reorganização das nossas prioridades e afetos assim como

a percepção qualitativa das nossas experiências se

modifica com o despertar da Kundalini.

Os indícios mais extremos do despertar da Kundalini

são manifestações físicas e psicológicas chamadas kriyas.

As principais manifestações do despertar da Kundalini

são:

(1) Sensações poderosas de calor e energia subindo

ao longo da espinha, associadas com tremores

violentos, espasmos e movimentos serpeantes;

(2) Fortes ondas de emoções aparentemente

imotivadas, tais como, ansiedade, raiva, tristeza,

enlevo jubiloso ou extático, riso ou choro

involuntários, sensações orgásticas, estados de

indescritível paz e tranqüilidade, depressão,

56

Page 57: veredas mentais

ansiedade e agitação relacionada com sensação de

insanidade ou morte;

(3) Comportamentos involuntários e freqüentemente

incontroláveis. O indivíduo pode assumir

espontaneamente posições de Yôga (ásanas) e gestos

com as mãos (mudrás). Vocalizações de mantras

(cânticos) ou canções, falar em línguas estranhas ou

emitir sons vocais desconhecidos ou animalescos;

(4) Visões de símbolos geométricos, de luzes

brilhantes e radiantes, complexas visões de seres

arquétipos, tais como santos, divindades, demônios e

seres mitológicos

(5) Percepção de fenômenos acústicos que parecem

vir do interior e que incluem uma variedade de sons;

(6) Experiências que remetem lembranças de vidas

passadas.

(7) Episódios de Consciência Unitiva ***

("Experiências Culminantes").

(8) Renovação Psicológica por meio do Retorno ao

Centro ****

_____________________________________________________________________________________________***Neste estado ocorre a dissolução das estruturas egóicas fronteiras

pessoais, surgindo a sensação de unidade com o outro, com a natureza

ou com todo o universo. As propriedades de tempo e de espaço são

57

Page 58: veredas mentais

transcendidas e a pessoa pode vivenciar a natureza do infinito ou da

eternidade. As emoções associadas com esses estados variam de

sensação de felicidade, grande prazer, paz e serenidade. Abraham

Maslow, que estudou essas experiências em centenas de pessoas, deu-

lhes o nome de "experiências culminantes". As experiências

culminantes geralmente trazem um refinamento da consciência mediante

o mundo e a expressão plena espontânea de habilidades e potenciais

(auto-realização).

****A psique dessas pessoas parece um colossal campo de batalha, onde

é travado um combate entre forças duais; forças do bem e as forças do

mal, ou entre as forças da Luz e as das Trevas. Temas de morte - o

assassinato, o ritual, o sacrifício, o martírio e o pós vida. Recriam

eventos fantásticos com magnitudes cósmicas. Seus estados visionários

tendem a levá-las ao passado, reconstruindo a sua própria história e

a história da humanidade, dirigindo-se para a criação do mundo e para

o estado paradisíaco ideal original, lutando por perfeição e tentando

corrigir as coisas erradas do passado.

Depois deste período de caótica perturbação, as experiências

vão se tornando cada vez mais agradáveis, dirigindo-se para uma

resolução. O processo costuma culminar na experiência do "casamento

sagrado", seja com um parceiro arquetípico imaginário ou projetado

numa pessoa real idealizada (aspectos masculinos e femininos entendo

em equilíbrio).

7.2.3. A Crise de Abertura Psíquica

No decorrer de EE de todos os tipos, é comum o

aguçamento das capacidades intuitivas e a presença de

fenômenos "paranormais". Porém, em alguns casos, a

precognição, a telepatia ou a clarividência ficam

intensos e perturbadores que domina o quadro e constitui

58

Page 59: veredas mentais

um grande problema para quem vive a EE e para os demais

que convivem com o indivíduo.

Na abertura psíquica, são freqüentes as experiências

de saída do corpo (consciência desloca-se do corpo) A

pessoa pode relatar que se observou a certa distância ou

testemunhar o que está acontecendo a quilômetros de

distância. A viagem fora do corpo é comum em situações de

proximidade da morte.

Capacidades telepáticas podem ocorrer por

apresentarem maior sensibilidade aos processos dos outros

durante a EE . A precognição correta de situações

futuras e a clarividência de eventos remotos podem

ocorrer.

Em experiências consideradas "mediúnicas", tem-se a

sensação de perda da identidade e consecutiva adoção de

outra identidade, traduzida por mudanças na linguagem

corporal, dos sentimentos e até dos processos mentais. O

súbito aparecimento de uma nova identidade pode ser

assustador. Sincronicidades (“coincidências” entre o

mundo interior e fenômenos do mundo exterior) são

particularmente comuns nessas crises.

7.2.4. Experiências com vidas passadas

Dentre o mais dramático e coloridos episódios que

ocorrem em estados de consciência incomuns estão as

59

Page 60: veredas mentais

experiências com vidas passadas. Nessas experiências as

emoções e sensações físicas são extremamente intensas e,

retratam com ricos detalhes pessoas, circunstâncias e

ambientes históricos. Seu aspecto mais notável é um

sentido de lembrança pessoal e de revivescência de algo

que já se viveu antes. Essa experiência é compreendida

como uma situação vivida anteriormente, de outra vida,

que necessita ser completado (carma=ação incompleta).

Existem várias formas de lidar com esses conteúdos

que emergem a consciência, basicamente eles precisam ser

compreendidos, expressarem sentido de explicação e serem

incluídos ou conciliados com as nossas crenças e valores

da vida atual.

Pode ser uma experiência que oferece, por si, muitas

explicações como dificuldades de relacionamento, medos

irreais, aversões e atrações, problemas psicossomáticos

obscuros, surgimento súbito de sensações corporais,

visões intensas ou emoções sem sabermos o significado,

pois essas experiências não estão totalmente conscientes

para se tornarem manifesta, por isso elas percebem, mas

desconhecem o significado ou a causa.

Esses padrões de comportamentos precisam ser

compreendidos e completados, como que se a partir da

experiência, a pessoa não precisasse mais ter esse

60

Page 61: veredas mentais

padrão, ele não vale mais para essa vida (completando o

carma).

Obtidas as explicações, compreendidas nas suas

funções do aqui agora é momento de conciliá-las com

crenças e valores tradicionais da civilização ocidental.

Trabalho considerado desafiador.

O autor observa que quando o indivíduo passa por

essa poderosa experiência, há um alívio ou eliminação

completa de dores psicossomáticas agudas, depressão,

fobias, asma psicogênica, enxaqueca entre outros.

7.2.5. Comunicações com espíritos-guia e "canalização"

Podemos ter como experiência, uma relação pessoal

com um “ser” dito desencarnado, dotado de extraordinária

sabedoria, que assume a posição de mestre, de guia, de

protetor. Esse “ser” pode se manifestar através da forma

humana, ou uma fonte radiante de luz ou deixar sentir sua

presença. Sua comunicação direta é através do pensamento,

há casos em que essa comunicação é feita de forma verbal

ou através de outro processo extrasensorial.

A principal razão, por que essas experiências podem

desencadear uma séria crise é a natureza e a qualidade

confiável dessa canalização de assuntos que o receptor

jamais esteve exposto. Neste caso, é uma prova inegável

da existência de realidades espirituais que pode levar a

61

Page 62: veredas mentais

uma confusão filosófica que tinham uma visão científica

convencional.

Outra fonte de problema desta relação é o indivíduo

acreditar que, por haver essa comunicação com seres de

elevada sabedoria, acreditar que foi escolhido para

desempenhar uma especial missão e se identificar,

ocorrendo a inflação do seu ego.

7.2.6. Experiências de proximidade da morte

Nas experiências de proximidade da morte, pessoas

que foram consideradas clinicamente mortas, mas que

recuperaram a consciência, contaram suas histórias para

Raymond Moody que colheu 150 relatos de pessoas que

viveram essa mesma experiência. Dentre os relatos, Moody

observou que havia uma semelhança das situações vividas,

muitos descreveram ter visto seu próprio corpo, como se a

sua consciência flutuasse livremente sobre a cena, de

poder ter uma revisão de toda a vida de forma vívida e

condensada que dura alguns segundos. Outros descreveram a

visualização de um túnel de luz e, de um encontro com um

ser de imenso amor, onde receberam uma lição sobre a

existência e as leis universais tendo a oportunidade de

examinar seu próprio passado, podendo ter uma nova chance

para viver uma vida mais congruente e determinada

compatível com os princípios que aprendeu.

62

Page 63: veredas mentais

Essas experiências com a morte podem levar a

experiência de emergência, por causar alterações nas

crenças sobre a realidade, levando a pessoa a viver uma

aventura visionária que despedaça a realidade conhecida.

7.2.7. Experiências de contatos próximos com OVNIs

Carl Gustav Jung dedicou um estudo especial ao

problema dos “discos voadores”, referindo que esses

fenômenos poderiam ser produto de visões arquetípicas do

inconsciente coletivo da humanidade.

Há relatos de visões de luzes de natureza estranha,

raptos que incluem exames físicos e experiências

científicas, considerados torturas inimagináveis.

A emergência ocorre, pois essas pessoas acreditam

que possam ter atraído o interesse de seres superiores e

muito mais evoluídos que a humanidade por que, devem

possuir algum dote especial. Como ocorre na canalização e

comunicação com espíritos guias há uma inflação do ego.

7.2.8. Estados de possessão

As pessoas que passam por essa experiência sentem

que sua psique e seu corpo foram invadidos por algo de

fora de sua personalidade, algo perturbador, demoníaco e

hostil. O problema pode se manifestar como uma séria

psicopatologia, envolvendo um comportamento anti-social e

até criminoso (depressão suicida; a agressão assassina;

63

Page 64: veredas mentais

autodestruição; impulsos sexuais promíscuos ou

desviantes; uso excessivo de álcool e drogas).

É possível identificar na psicoterapia quando há uma

possessão, quando o indivíduo apresenta algumas

características como: rosto contraído, olhos com

expressão selvagem, mãos e o corpo produzem estranhas

contorções, a voz pode alterar-se. Para esse estado, é

feito um trabalho como o exorcismo na sessão, com um

terapeuta apto para dominar tal situação e para que seja

realizado com benefício para o indivíduo.

A EE é um estado relatado que pode ser assustador

e extremamente difícil, por outro lado possui um imenso

potencial de cura e transformação; a evolução é dolorida,

exige muita energia, força, e coragem para seguir

adiante, resistindo as forças do ego que deseja manter a

aparente paz e tranqüilidade.

CAPÍTULO 8: MAPEANDO VEREDAS

8.1. DISCUSSÃO

Vários autores observaram o fenômeno e o descrevem

criando nomenclaturas, classificações e descrições; além

de critérios diagnósticos e condutas terapêuticas. Os

autores, entretanto, apresentaram diferentes opiniões;

Jung por exemplo viu na experiência mística a

manifestação de uma experiência psicologicamente

saudável.

64

Page 65: veredas mentais

Maslow considerou as “experiências culminantes” a

expressão máxima da saúde e do bem-estar psicológico.

Adair de Menezes Junior e Alexander Moreira Almeida;

ambos da Universidade Federal de Juiz de Fora/ MG fizeram

uma revisão da literatura com foco nas experiências

espirituais e os transtornos mentais de conteúdo

religioso (2008).

Hood e Caird (1987) constataram que indivíduos que

relataram ter tido experiências místicas pontuam mais em

escalas de bem- estar psicológico e menos em escalas de

psicopatologia do que os controles; também comprovaram

que indivíduos ligados a alguma crença religiosa pode

funcionar como fator protetor nas psicopatologias.

Alguns autores sugeriram a importância de se

buscarem critérios diferenciadores entre o que seriam

experiências espirituais não patológicas e o que seriam

transtornos mentais de conteúdo religioso.

As contribuições desses autores para essa

importante questão foram coletadas na literatura, e

procurou-se apresentar e discutir alguns critérios comuns

que tenham perpassado pela maioria dessas investigações.

Ao final, concluiu-se que, embora todos esses

65

Page 66: veredas mentais

critérios apresentem certa coerência, ainda não foi feita

até o presente nenhuma investigação extensiva que

testasse esses critérios, e são colocadas algumas

diretrizes metodológicas que alguns autores sugeriram

para essa investigação.

Vários autores têm abordado a relação entre as

experiências espirituais e manifestações patológicas da

mente.

Místicos, videntes e médiuns têm desafiado a

compreensão dos profissionais de saúde mental e tornado

necessária uma adequada diferenciação entre o que seria

uma experiência espiritual saudável e o que seria um

transtorno psicótico ou dissociativo com conteúdo

religioso.

No início do século XX, William James (1958),

investigando as experiências de êxtase místico, verificou

que essas experiências, quando saudáveis, tinham duração

breve e traziam efeitos benéficos para quem as

vivenciava.

Buckley (1981) examinou relatos autobiográficos de

indivíduos que viveram experiências místicas e de

indivíduos que viveram experiências esquizofrênicas. Ele

identificou aspectos comuns e aspectos diferenciadores em

ambas as experiências.

66

Page 67: veredas mentais

Encontrou os seguintes aspectos comuns nas duas

experiências: elevação do nível de consciência, sentir-se

transportado além do próprio self, perda das fronteiras

entre o self e os objetos, dilatação do sentido do tempo,

sentir-se envolvido em luz e um forte sentido de comunhão

com o divino. É característica do êxtase místico a

preservação da estrutura do pensamento e da fala, o

predomínio das alucinações visuais sobre as auditivas, um

grande aguçamento dos sentidos, estabilidade das emoções

e a duração da experiência limitada no tempo. São

características de um surto psicótico a quebra da

estrutura do pensamento e da fala, o predomínio das

alucinações auditivas sobre as visuais, o embotamento dos

sentidos, o esvaziamento das emoções entremeadas por

rompantes agressivos ou sexuais e a duração da

experiência ser extensiva no tempo.

Lenz (1996), enfatizou o grau de convicção sobre a

experiência vivida como critério de saúde mental: na

vivência saudável existe a dúvida sobre a realidade

objetiva da experiência e no transtorno mental existe

certeza sobre essa realidade.

Lukoff(1995) e posteriormente Greyson (1987)

investigaram a Experiência de Quase Morte (EQM),

procurando diferenciá-las de outras experiências

psicopatológicas. Nesta experiência, um indivíduo chega a

67

Page 68: veredas mentais

se ver fora do corpo, encontra seres espirituais e depois

retorna ao seu corpo. Assim, Lukoff percebeu na EQM

nítidos e antecedentes estressores, um bom funcionamento

psicológico prévio, uma atitude exploratória em relação à

experiência e a ausência de déficits interpessoais.

Greyson (1987), confirmando as características

saudáveis da EQM, tais como já tinham sido apresentadas

por Lukoff, diferenciou a EQM do transtorno do estresse

pós-traumático, vendo neste último a presença de

lembranças intrusivas, a diminuição geral do interesse em

diversas atividades, o estranhamento dos outros, a

restrição dos afetos e um senso de futuro abreviado que

não se faziam presentes na EQM.

Oxmanet al. (1998), também viram aspectos comuns e

diferenciados nos relatos de místicos e esquizofrênicos.

Eles escolheram relatos disponíveis publicamente, que o

texto tivesse sido escrito logo depois da experiência,

que estivesse escrito em inglês e tivesse uma extensão

suficiente. De comum entre ambas as experiências, viram a

abundância das fantasias e, como fatores diferenciadores,

viram que os místicos tratam de encontros com Deus e de

sentimentos religiosos, enquanto esquizofrênicos tratam

de doenças e de fortes sentimentos de maldade.

Sims (1988), propõe que uma experiência espiritual

saudável é compatível com uma tradição religiosa; o

68

Page 69: veredas mentais

indivíduo compreende a incredulidade dos outros e tem

reservas em discutir sua experiência com outros que

acredita que não a compreenderão, é descrita com

convicção e, por fim, o indivíduo sente necessidade de

efetuar alguma mudança no seu comportamento depois da

experiência vivida. Já a experiência patológica se revela

em resultados que são compatíveis com uma história de

transtorno mental e surge sempre associada a outros

transtornos psiquiátricos.

Grof e Grof (1990), com base em suas experiências

clínicas, criaram o conceito de “emergências

espirituais”. Esses autores apresentaram essas

experiências com um duplo significado, possível pelos

diferentes significados de Spiritual Emergence e Spiritual

Emergency. Spiritual Emergence refere-se à eclosão de uma

experiência espiritual que surge sem acarretar

perturbação das funções psicológicas. Já a Spiritual

Emergency é a ocorrência descontrolada da experiência

espiritual com problemas dos funcionamentos psicológico,

social e ocupacional.

Grof e Grof (1990), fizeram uma ampla e detalhada

diferenciação entre as manifestações de uma experiência

espiritual e um transtorno mental. No primeiro caso, as

experiências são suaves, não geram sensações

desagradáveis, não conflitivas, são graduais, preservam a

diferenciação entre o que é interno e o que é externo,

69

Page 70: veredas mentais

geram uma atitude de expectativa positiva, favorecem uma

renúncia ao controle, estimulam a aceitação de mudanças,

integram-se à consciência diária, permitem uma

compreensão detalhada, não geram necessidade de discutir

frequentemente e possibilitam uma lenta mudança de

compreensão de si mesmo e do mundo. Já as experiências

ligadas a um transtorno mental são intensas, geram

sensações desagradáveis, como tremores e calafrios, são

conflitivas, são abruptas, não diferenciam o que é

interno do que é externo, geram uma atitude ambivalente,

promovem a necessidade do controle, instigam resistência

às mudanças, trazem perturbações na consciência diária,

sua compreensão é confusa, geram a necessidade de

discutir a experiência e provocam modificações abruptas

na consciência de si e do mundo.

Greenberg e Witztum (1991), investigaram uma

população de judeus ortodoxos, procurando diferenciar o

que seria um sistema de crenças e práticas religiosas

rigorosos, mas psicologicamente saudáveis, de um

transtorno obsessivo-compulsivo com fundo religioso.

Assim, as experiências pessoais saudáveis são compatíveis

com as crenças aceitas pelo grupo religioso, seus

detalhes não excedem as crenças aceitas, são moderadas,

geram excitação e as habilidades sociais e os hábitos de

higiene estão preservados. Já nas crenças obsessivas, as

experiências são muito pessoais e divergem das crenças do

grupo, seus detalhes excedem as crenças aceitas, são

70

Page 71: veredas mentais

intensas, geram terror e as habilidades sociais e os

hábitos de higiene estão comprometidos. Já os

comportamentos saudáveis não excedem as prescrições, são

gerais, não estão presentes condutas de limpeza e de

verificação e não ocorre a desconsideração de outras

práticas. As condutas compulsivas, diferentemente,

excedem as prescrições, são muito específicas, estão

associadas a rotinas de limpeza e de verificação e trazem

desconsiderações para com outras práticas religiosas

propostas pelo grupo religioso.

Lukoffet al. (1992), propuseram para o Diagnostic and

Statistical Manual of Mental Disorders, uma nova

categoria de problemas psicológicos, denominada por eles

“problemas religiosos e espirituais”. Problemas

religiosos são experiências perturbadoras, que envolvem

crenças e práticas de uma igreja ou instituição

religiosa, que ocorrem, por exemplo, em um momento de

crise de fé ou na migração para uma nova orientação

religiosa. Problemas espirituais são experiências

perturbadoras, que envolvem o relacionamento do indivíduo

com um ser ou força transcendente, que ocorrem, por

exemplo, nas experiências místicas e nas EQM. Em uma

experiência mística ocorrem uma vivência de união com um

ser divino, uma grande euforia e a perda da noção de

tempo e espaço, que podem ser confundidas com episódios

psicóticos agudos. Em uma EQM, uma pessoa se vê projetada

fora do seu corpo, encontra seres espirituais e alcança

71

Page 72: veredas mentais

uma nova compreensão da vida, experiência esta que pode

ser confundida com um transtorno dissociativo de

despersonalização.

Esse foi um importante avanço na psiquiatria, pois

se colocou a possibilidade de muitas experiências

espirituais e religiosas não serem patológicas, apesar de

se assemelharem a transtornos mentais. A criação dessa

categoria teve como objetivos incrementar especificidade

no diagnóstico dessas experiências, reduzir efeitos

danosos de um diagnóstico equivocado, estimular pesquisas

que gerem tratamentos mais adequados para esses problemas

e estimular os centros de formação psiquiátricos a

acrescentarem a compreensão e o tratamento desses

problemas aos seus programas de treinamento.

Jackson e Fulford (1997), empreenderam um estudo

comparando cinco indivíduos que tinham vivenciado

experiências espirituais com cinco indivíduos que estavam

se recobrando de surtos psicóticos, mas que interpretavam

suas experiências em termos religiosos. Eles propuseram

que as experiências espirituais e psicóticas não podem

ser diferenciadas apenas pelos sintomas que são muito

semelhantes. O diagnóstico diferencial entre experiências

espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso

propuseram que as experiências espirituais e psicóticas

não podem ser diferenciadas apenas pelos sintomas que são

muito semelhantes em um caso e outro, mas seria mais

72

Page 73: veredas mentais

importante investigar o sistema de valores e crenças com

os quais o indivíduo avalia e compreende as suas

experiências.

Jackson e Fulford (1997), conseguiram, assim,

levantar sintomas diferenciadores entre as duas

experiências. Assim, a experiência espiritual geralmente

é: voltada para os outros, é curta, vivida

intelectualmente, existe dúvida sobre ela, preserva o

insight sobre a origem interna da experiência, é controlada,

não leva a perder o contato com a realidade, é

emocionalmente neutra ou positiva (traz satisfação), traz

consciência da não compreensão dos outros, não ocorrem

falhas nas ações intencionais, não leva à deterioração da

vida, seu conteúdo é aceitável pelo grupo cultural de

referência do indivíduo e gera crescimento pessoal. Já a

experiência psicótica geralmente é voltada para a própria

pessoa, é longa, é vivida corporalmente, existe a certeza

sobre ela, falta insight sobre sua origem interna, leva a

pessoa a ser submergida nela, leva a perder o contato com

a realidade, é emocionalmente negativa (traz sofrimento),

não existe consciência da não compreensão dos outros,

gera falhas em ações intencionais, leva à deterioração da

vida, seu conteúdo é estranho para o grupo cultural de

referência do indivíduo e ocorre um prejuízo geral na

vida pessoal.

Koenig (2007), procedendo a uma revisão da

73

Page 74: veredas mentais

literatura sobre critérios diferenciadores entre

experiência espiritual e transtornos mentais, propôs que

as primeiras não comprometem os desempenhos social e

ocupacional, preservam a compreensão do caráter incomum

da experiência, não geram rupturas na relação com um

grupo sociocultural de referência, não estão associadas a

outras patologias mentais e geram crescimento psicológico

com o tempo.

A questão da saúde mental e da psicopatologia se

torna crítica diante dos fenômenos alucinatórios, que

habitualmente são associados à esquizofrenia ou a outros

quadros psicóticos.

Segundo Esquirol (1996), a alucinação é uma

percepção sem objeto. A definição do DSM-IV não se

afastou muito desse significado original, ao definir

alucinação como uma percepção sensorial que apresenta um

forte sentido de percepção real, mas ocorre sem a

estimulação externa dos órgãos de sentido pertinentes.

Pesquisas populacionais há mais de um século vêm

indicando que os fenômenos alucinatórios, mais do que uma

categoria de experiências restritas aos psicóticos

esquizofrênicos, ocorrem de uma forma bastante

disseminada na população.

No final do século XIX, Sidgwick (1996), vinculado à

Sociedade de Pesquisas Psíquicas, juntamente com um

74

Page 75: veredas mentais

grande número de colaboradores, entrevistou 7.717 homens

e 7.599 mulheres britânicos. Ele constatou que 7,8% dos

homens e 12% das mulheres relataram ter tido pelo menos

um episódio vívido de alucinação. West (1996), conduzindo

uma pesquisa similar, por meio da distribuição de

questionários com 1.519 sujeitos, 50 anos depois, na

mesma região anteriormente investigada por Sidgewick,

confirmou a ocorrência de alucinações em 14% dos

indivíduos investigados.

Tien (1991), constatou que 10% dos homens e 15% das

mulheres em uma amostra de 18.572 indivíduos, obtida em

uma ampla pesquisa de sintomas psiquiátricos em uma

população geral (Epidemiological Catchment Area Program),

apresentavam alucinações ao longo de toda a vida sem

manifestarem outros sintomas patológicos. Ohayon (2000)

sondou 13.057 indivíduos da Grã-Bretanha, da Alemanha e

da Itália por telefone e constatou que 38,7% destes

relataram ter tido alucinações e, entre estes, 5,1%

apresentavam esse sintoma uma ou mais vezes por semana.

Além de as alucinações acontecerem extensivamente,

Johns e Van Os (2001), Serperet al. (2005) e Lincoln(2007)

propõem que elas acontecem em um continuum no qual em um

extremo estão os indivíduos saudáveis e, no outro

extremo, estão os esquizofrênicos. Baseados em grandes

estudos populacionais, eles propõem que, tal como a

esquizofrenia não é um construto categorial, mas sim

75

Page 76: veredas mentais

dimensional, ou seja, mais do que existir uma categoria

de esquizofrênicos puros, diferentes dos normais, a

esquizofrenia se estende em maior ou menor grau a toda a

população.

O diagnóstico patológico dependerá de uma maior

frequência e intensidade da experiência alucinatória, da

coexistência de outros sintomas e de prejuízos na

capacidade de adaptação em geral.

Strauss (1969), propôs serem indicadores de

patologia a convicção sobre a realidade objetiva da

vivência alucinatória, a ausência de apoio cultural para

a experiência, a grande quantidade de tempo envolvido com

a experiência e a implausibilidade da vivência em relação

à realidade socialmente compartilhada.

Slade (1976), investigando dois pequenos grupos de

psicóticos (alucinadores e não alucinadores) e Richardson

e Divvo (1980), examinando dois grupos de alcoólatras

(alucinadores e não alucinadores), utilizando testes

psicológicos, verificaram que as alucinações são

geralmente disparadas por estresse pessoal, em pessoas

muito focadas em si mesmas, que são muito imaginativas e

têm um pobre teste de realidade. Honiget al.(1988), compararam

grupos de não pacientes alucinadores, pacientes com

transtorno dissociativo e pacientes esquizofrênicos e

concluíram que as alucinações entre normais são

76

Page 77: veredas mentais

tranquilas, não geram alarme nem perturbação e existe

controle sobre elas e as alucinações dos esquizofrênicos

são precedidas por eventos traumáticas, geram perturbação

e não existe controle sobre elas.

Serperet al. (2005),compararam três grupos de pessoas,

sendo 39 esquizofrênicos alucinadores, 49 esquizofrênicos

não alucinadores e 363 universitários normais e

assinalaram algumas características dos alucinadores

esquizofrênicos: consideram que suas alucinações visuais

e auditivas são percepções objetivas, têm vários

impedimentos na vida, apresentam outras disfunções

clínicas e têm percepções distorcidas.

O diagnóstico diferencial entre experiências

espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso

no funcionamento da personalidade humana, na qual certas

funções mentais atuariam de forma independente e fora de

um controle consciente. A dissociação pode ocorrer

naturalmente, como, por exemplo, quando uma pessoa se

absorve tanto em assistir a um filme que fica totalmente

alheia a tudo o mais que esteja acontecendo a si mesmo ou

ao seu redor.

Na concepção original de Janet, a dissociação seria

um construto categorial, ou seja, é um tipo ou categoria

de experiência que só ocorreria em indivíduos mentalmente

doentes, que teriam uma deficiência em integrar

77

Page 78: veredas mentais

diferentes conteúdos psicológicos. Alguns contemporâneos

de Janet, como Frederic Myers, Morton Prince e William

James, apresentaram um ponto de vista diferente, pelo

qual a dissociação é entendida como um construto

dimensional, ou seja, é vivenciada em maior ou menor grau

por todas as pessoas indo de um extremo saudável até o

outro extremo patológico.

É necessário termos uma compreensão da extensão em

que a dissociação ocorre na população em geral. Ross et al.

(1990) avaliaram uma amostra de 1.055 adultos não

diagnosticados, extraída do total de 650.000 habitantes

da cidade de Winnipeg, Canadá. Eles aplicaram nesta

amostra o DES (Dissociative Experience Scale), um

instrumento de autoinforme composto por 28 itens que mede

experiências dissociativas, e constataram que 13% desses

indivíduos apresentaram uma pontuação acima de 20,

indicando a existência de um nível alto de vivências

dissociativas nessa amostra.

Walleret al. (1996) e Martinez-Taboas (2001), propuseram

que a dissociação não patológica envolve a capacidade de

absorção e de envolvimento imaginativo e constitui uma

experiência humana para a qual todos os indivíduos são

propensos em maior ou menor grau.

Tellegen e Atkinson (1974), definiram a absorção

como um estado de total atenção, no qual o aparelho

78

Page 79: veredas mentais

representacional parece estar totalmente dedicado a

experienciar o objeto percebido.

Wilson e Barber, Rhue (1983) e Lynn e

Rauschenberger (1995), identificaram alguns indivíduos,

que denominaram de “fantasiadores”, como sendo muito

propensos à fantasia, tendo tido na infância um maior

envolvimento com jogos de fantasia do que com

brincadeiras com outras crianças e sua capacidade de

fantasiar representou um canal de escape para sua solidão

e sua raiva.

Lewis-Fernandez (1998), afirma que a dissociação não

patológica ocorre com o controle pleno por parte do

indivíduo, dentro de um contexto cultural que a organiza,

e é significativa para a própria pessoa e para os outros.

Butler (2006) acrescenta que a dissociação saudável

é útil em todo o processamento mental, facilita ações e

atitudes automáticas, ajuda a escapar mentalmente de

situações desagradáveis e a concentrar-se em atividades

absorventes, não tem sua origem associada a traumas,

ocorre em períodos curtos, é suave e não bloqueia o

funcionamento da mente.

A propensão à fantasia, entretanto, por mais

inocente que possa parecer, pode levar à dissociação

patológica, quando um evento traumático faz o indivíduo

79

Page 80: veredas mentais

buscar, na fantasia, a forma de escapar da realidade

intolerável46. A dissociação patológica, surgindo

inicialmente como uma forma de lidar com a situação

aversiva, pode se generalizar para as demais situações de

vida, passando a trazer prejuízos na capacidade de

adaptação do indivíduo.

É a interação entre a capacidade natural de

absorção, com as experiências traumáticas, que resultará

na dissociação patológica, que expressa um definido mau

funcionamento psicológico, gera sofrimento e

incapacitação, é involuntária e é interpretada pelo grupo

cultural de referência do próprio indivíduo como sendo

uma doença que necessita de tratamento.

Dissociadores patológicos mesclam as formas não

patológicas com as formas patológicas de dissociação. A

dissociação patológica está ainda associada a

experiências traumáticas do passado, é crônica, grave e

debilitadora para os funcionamentos psicológico e social

do indivíduo.

Segundo Walleret al (1996). e Martinez-Taboas (2001), a

dissociação patológica se expressa por meio da amnésia,

da despersonalização- desrealização, da confusão de

identidade e da alteração de identidade.

A amnésia dissociativa compreende basicamente a

80

Page 81: veredas mentais

perda de memória, sobretudo de eventos recentes e de

informações pessoais importantes, que não pode ser

atribuída a um esquecimento habitual, à fadiga ou a um

sintoma de origem orgânica.

A despersonalização refere-se às alterações afetivas

e perceptuais em relação ao self, que levam o indivíduo a

estranhar a si mesmo e ao seu próprio corpo. A

desrealização refere-se às mesmas alterações em relação

ao seu meio ambiente, que fazem o indivíduo se sentir

desconfortável nesse ambiente.

O transtorno de identidade dissociativa, antes

chamado de transtorno de identidade múltipla, manifesta-

se pela existência de duas ou mais personalidades dentro

de um mesmo indivíduo, que se alternam dentro dele, com

períodos de amnésia, eclipsando as personalidades que

foram afastadas.

A alteração de identidade é vista mais evidentemente

no transtorno de transe dissociativo. Cardeñaet al.(1994),

definem transe como uma alteração temporária da

consciência, da identidade ou do comportamento, com

diminuição da percepção do ambiente e ocorrência de

movimentos que estejam fora do controle da própria

pessoa, sem substituição da própria consciência por

outra. Os mesmos autores definem transe de possessão como

sendo a mesma vivência, com a diferença que a alteração

81

Page 82: veredas mentais

da consciência é atribuída a uma força ou entidade

espiritual externa que se apossa da consciência daquele

que vivencia a experiência.

Deve-se tomar cuidado para não considerar

patológicas todas as formas de transe e possessão, pois

Bourguignon (1978), em uma investigação antropológica,

constatou que, em 488 sociedades no mundo, 90% delas

possuíam formas institucionalizadas de transe e, em 52%

destas, esses estados são atribuídos à possessão por

seres espirituais. Isso nos mostra que a extensão em que

essa vivência

O diagnóstico diferencial entre experiências

espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso

em 52% destas, esses estados são atribuídos à possessão

por seres espirituais. Isso nos mostra que a extensão em

que essa vivência acontece no mundo nos leva a tomar

cuidado para não reduzi-la a um mero mau funcionamento

psicológico de indivíduos mentalmente doentes.

Lewis (1989), propôs alguns critérios para

diferenciar a possessão saudável da patológica. A

possessão não patológica, denominada por ele como

central, é episódica, ocorre em um tempo delimitado, é

organizada e ocorre dentro de um contexto cultural que

lhe confere significado. Já a possessão patológica,

denominada por ele como periférica, tende a ser crônica,

82

Page 83: veredas mentais

ocorre de forma não controlada, não é organizada e não

compatível com o contexto cultural no qual o indivíduo

esteja integrado.

Beng-Yeong (2000), propõe que estados de transe

saudáveis sejam disparados por ações definidas, sejam

curtos e gerem resultados benéficos para o indivíduo que

os vivencia e serão patológicos se forem disparados por

emoções estressantes, durarem muito e gerarem resultados

maléficos para quem os vivencia.

Cardeñaet al. (2006), utilizando os conceitos de Lewis,

afirmam que a possessão central (não patológica) vem de

uma predisposição provavelmente biológica, que foi

modelada por fatores socioculturais organizados, que

levaram a rituais controlados de possessão. É neste

sentido que poderemos compreender os transes de possessão

da mediunidade, que acontecem nas religiões mediúnicas,

como no Espiritismo, na Umbanda e no Candomblé. Já a

possessão periférica (patológica) também decorreria de

uma predisposição biológica, mas que foi impactada por

traumas físicos ou sexuais, gerando alterações de

identidade difíceis de controlar e organizar. Os

indivíduos passam a apresentar sofrimento psicológico e

prejuízos significativos nos seus funcionamentos social e

ocupacional.

83

Page 84: veredas mentais

CAPÍTULO 9: CONSTRUINDO NOVAS VEREDAS

9.1. RESULTADO:

Levando em consideração os principais sintomas

diferenciadores entre uma EE, uma experiência espiritual

e um transtorno mental propostos por todos esses autores

citados na discussão e resultados acima, nota-se que

esses critérios não devem ser considerados isoladamente,

mas sim em um conjunto.

Verificou-se que existe critérios que podem nortear

a fenomenologia das experiências o que caracteriza as VM

peculiares de cada um em nove aspectos:

84

Page 85: veredas mentais

1. Ausência de sofrimento psicológico

O sofrimento está relacionado à doença. Deve-se

lembrar, entretanto, que os estágios iniciais de uma

experiência religiosa ou espiritual podem vir

acompanhados de grande sofrimento pessoal que poderão ser

superados à medida que o indivíduo avançar na compreensão

e no controle da sua experiência.

Greyson (1997), estudando as EQM, afirma que os

indivíduos, após essa experiência, sentem raiva e

depressão, experimentam abalos em suas crenças

religiosas, passam a duvidar de sua sanidade mental,

sentem-se incompreendidos pelos familiares e

profissionais de saúde e que 75% rompem casamentos, e

suas carreiras profissionais podem ficar gravemente

prejudicadas. Comentando quatro casos em seu artigo, ele

afirma que o atendimento psicoterapêutico e

psicofarmacológico adequado trouxe uma melhor compreensão

da experiência vivida por eles, levando esses pacientes a

retomarem e muitas vezes reestruturarem sua vida de forma

mais significativa.

2. Ausência de prejuízos sociais e ocupacionais

A saúde psicológica implica um ego estruturado

gerenciando adequadamente as relações sociais,

familiares, afetivas e atividades

ocupacionais. Lukoff et al (1995); entretanto, comentam

85

Page 86: veredas mentais

como indivíduos que tiveram uma experiência mística podem

se sentir temporariamente desajustados em relação à sua

vida cotidiana, enquanto não conseguirem compreendê-la e

retomá-la

3. A experiência tem duração curta e ocorre

episodicamente

A experiência espiritual não patológica é um

acréscimo às possibilidades vivenciais do indivíduo, não

se interpondo às demais experiências cotidianas da

consciência. Assim, espera-se que a pessoa saudável passe

por uma vivência incomum e logo retome seu estado

habitual de consciência e suas atividades cotidianas.

Existem casos, entretanto, de médiuns treinados que

sustentam experiências espirituais por mais tempo sem

comprometimento de sua saúde mental.

4. Existe uma atitude crítica sobre a realidade objetiva

da experiência

A consciência saudável, surpreendida pela

experiência espiritual ou religiosa, precisará refletir

sobre o sentido dessa experiência para si mesmo e para

sua vida. Enquanto o indivíduo não desenvolver uma nova

compreensão sobre a experiência que esteja vivendo, ele

precisará colocar sob suspeita essa nova experiência, até

que ela possa ser compreendida. Enquanto isso, ele poderá

não conseguir avaliar adequadamente o que lhe sucedeu,

como ocorre, por exemplo, nas experiências místicas, como

86

Page 87: veredas mentais

mostraram Lukoff et al.(1995).

5. Existe compatibilidade da experiência com algum grupo

cultural ou religioso

A compatibilidade da experiência com as crenças e os

comportamentos próprios de um grupo cultural de

referência sugere o ajustamento social daquele que vive a

experiência com as práticas de um grupo, conferindo

legitimidade a essa vivência. Entretanto, a EQM e a

mediunidade podem surpreender indivíduos, seus

familiares, bem como os grupos religiosos em que eles

estejam inseridos, sem que alguém tenha qualquer

compreensão sobre o que tenha ocorrido.

6. Ausência de comorbidades

Sims (1988), apontou que a psicopatologia

relacionada a uma experiência espiritual pode ser

observada tanto no comportamento do indivíduo quanto na

sua experiência subjetiva, manifesta-se em todas as suas

áreas de vida e compõe um histórico de vida compatível

com o histórico de um transtorno mental, em nada

lembrando uma experiência espiritual. Quanto mais

evidenciada estiver a patologia, mais probabilidades

teremos de estar diante de um transtorno mental.

7. A experiência é controlada

Cabe a um ego vigilante controlar suas vivências

habituais e garantir um bom desempenho pessoal e social.

87

Page 88: veredas mentais

Caberá a ele, da mesma forma, controlar as experiências

espirituais e religiosas, de modo a não prejudicar suas

vivências habituais. Formas orientais de meditação, por

exemplo, tendem a atrair indivíduos com transtorno de

personalidade borderline e narcisista, que têm uma frágil

integração psicológica, podendo gerar nesses indivíduos

falsas experiências de iluminação, repletas de visões

aterradoras.

8. A experiência gera crescimento pessoal

A experiência espiritual gera significados

enriquecedores para a vida pessoal, social e profissional

de um indivíduo. Já a experiência patológica, mal

estruturada e mal estruturada desde o princípio ampliará

o desequilíbrio do indivíduo ao longo do tempo,

resultando em deterioração geral da sua qualidade de vida

9. A experiência é voltada para os outros

A experiência voltada para os outros guarda um

sentido e um objetivo social, próprios de alguém

socialmente ajustado. Já a experiência egocentrada tende

a ser isolacionista e pode, muito facilmente, levar o

indivíduo a enredar-se nos meandros de um pensamento

delirante sem que ele próprio possa se dar conta da

extensão do seu desvio da normalidade.

Esses futuros estudos deverão tomar alguns cuidados

para que possam ter maior validade citados por alguns

88

Page 89: veredas mentais

autores como: Tart (1972), o qual já tinha apontado a

inadequação da abordagem científica tradicional para

abordar os “Estados Alterados de Consciência”, entendidos

como alterações qualitativas no padrão global de

funcionamento mental que o indivíduo sente serem

radicalmente diferentes do seu modo habitual de

funcionamento, recomendando o uso extensivo de

observações empíricas que possam ser replicadas por

outros investigadores.

Heber et al. (1989) e Ross et al. (1990), propuseram

que os estudos sejam feitos com populações não clínicas,

para que seus resultados possam ser mais generalizáveis

para a população não diagnosticada.

Reinsel (2003), sugeriu que fossem utilizadas

amostras maiores e estas fossem recolhidas de ambientes

onde as experiências estudadas ocorram com maior

freqüência.

Almeida e Neto recomendam, entre outras coisas,

utilizarem-se diversos critérios de normalidade e

patologia, avaliar a experiência de modo multidimensional

e priorizar estudos longitudinais que permitam esclarecer

as complexas relações causais entre as variáveis

associadas às experiências espirituais e aos transtornos

mentais.

89

Page 90: veredas mentais

Levin e Steele (2005), também insistem em estudos

longitudinais, propõem o uso de conceitos operacionais

relativos às experiências e recomendam buscar respostas

para as seguintes perguntas: o que, quem, onde, quando,

como e por quê. Desta forma entendo que criamos nossas VM

e as percorremos de modo muito peculiar podendo desfrutar

deste trajeto da melhor maneira possível . Através da

observação e dos valores pessoais de cada um despertamos

o que há de melhor em cada individuo, favorecendo o lado

saudável que é o foco da PT.

CAPITULO 10: A SUA VEREDA

10.1. CONCLUSÃO:

Conclui-se que cada um de nós construímos nossas

próprias VM e que ainda faltam mais estudos que testem

prospectivamente os critérios diferenciadores do que

seria uma experiência espiritual, uma EE descrita pela PT

e uma psicopatologia descrita pela psiquiatria clínica;

de qualquer modo é importante levar em consideração os

fatores observados no resultado da pesquisa para melhor

diagnóstico e prognóstico, além da compreensão da

peculiaridade da VM individual, pois fenômenos são

observados e nomeados de modo distintos e

90

Page 91: veredas mentais

conseqüentemente classificados de acordo com os

diferentes saberes. A experiência egoica é única e

particular de cada ser ao caminhar rumo ao self; neste

processo as VM percorridas nos deixam marcas as quais

foram foco deste trabalho e continuam sendo pesquisadas.

APÊNDICE - 01 Esquizofrenia e Transtorno Afetivo Bipolar

1. Esquizofrenia Paranóide

91

Page 92: veredas mentais

Este tipo de esquizofrenia é o mais comum e também o

que responde melhor ao tratamento. Diz-se, por causa

disso, que tem prognóstico melhor. O paciente que sofre

esta condição pode pensar que o mundo inteiro o persegue,

que as pessoas falam mal dele, têm inveja, ridicularizam-

no, pensam mal dele, elas têm intenções de fazer-lhe mal,

de prejudicá-lo, de matá-lo, etc. Trata-se dos delírios

de perseguição. Não é raro que este tipo de paciente

tenha também delírios de grandeza, idéias além de suas

possibilidades: "Eu sou o melhor cantor do mundo. Nada me

supera. Nem Frank Sinatra é melhor". Esses pensamentos

podem vir acompanhados de alucinações, aparição de

pessoas mortas, diabos, deuses, alienígenas e outros

elementos sobrenaturais. Algumas vezes esses pacientes

chegam a ter idéias religiosas e/o políticas,

proclamando-se salvadores da terra ou da raça humana.

2.Esquizofrenia Hebefrênica

Neste grupo se incluem os pacientes que têm

problemas de concentração, pouca coerência de pensamento,

pobreza do raciocínio, discurso infantil. Às vezes, fazem

comentários fora do contexto e se desviam totalmente do

tema da conversação. Expressam uma falta de emoção ou

emoções pouco apropriadas, rindo-se a gargalhadas em

ocasiões solenes, rompendo a chorar por nenhuma razão em

particular, etc. Neste grupo também é freqüente a

aparição de delírios (crenças falsas), por exemplo que o

vento move na direção que eles querem, que se comunicam

92

Page 93: veredas mentais

com outras pessoas por telepatia, etc.

3. Esquizofrenia Catatônica

É o tipo menos freqüente de esquizofrenia. Apresenta

como característica transtornos psicomotores, tornando

difícil ou impossível ao paciente mover-se. Talvez passe

horas sentado na mesma posição. A falta da fala também é

freqüente neste grupo, assim como alguma atividade física

sem propósito.

4. Esquizofrenia Simples

Também é pouco freqüente. Aparece lentamente,

normalmente começa na adolescência com emoções

irregulares ou pouco apropriadas, pode ser seguida de um

paulatino isolamento social, perda de amigos, poucas

relações reais com a família e mudança de caráter,

passando de sociável a anti-social e terminando em

depressão. Nesta forma da esquizofrenia não se observam

muitos surtos agudos.

5. Esquizofrenia Residual

Este termo é usado para se referir a uma

esquizofrenia que já tem muitos anos e com muitas

seqüelas. O prejuízo que existe na personalidade desses

pacientes já não depende mais dos surtos agudos. Na

Esquizofrenia assim cronificada podem predominar sintomas

como o isolamento social, o comportamento excêntrico,

emoções pouco apropriadas e pensamentos ilógicos.

93

Page 94: veredas mentais

Apesar desta classificação, é bom destacar que os

pacientes esquizofrênicos nem sempre se encaixam

perfeitamente numa de estas categorias. Também existem

pacientes que não se podem classificar em nenhum de os

grupos mencionados.

A estes pacientes se pode dar o diagnóstico de

Esquizofrenia Indiferenciada.

2. TRANSTORNOS AFETIVOS BIPOLARES

Variações do humor que oscilam entre os polos de

humor eufórico e humor depressivo. Estes equivalentes

doentios dos aspectos emocionais constituem o que se

denomina polos. Como são dois, entende-se o termo

bipolar.

O estado de bipolaridade é característico do chamado

transtorno afetivo bipolar, e é caracterizado pela

alternância de fases de tristeza e alegria doentias,

conhecidas respectivamente como depressão e mania, de

onde vem o antigo nome de Psicose Maníaco Depressiva. 

Diferente do que ocorre nas situações normais, estas

alternâncias não acontecem em resposta a estímulos

externos que explicariam os estados emocionais. Em alguns

casos, essas alternâncias podem ocorrer no mesmo dia ou

na mesma hora.

As consequências decorrem em grande parte da

inconstância emocional. Mesmo quando o quadro clínico não

94

Page 95: veredas mentais

é dos mais graves, torna-se difícil para a pessoa ter

segurança de que, dentro de algum tempo estará bem para

cumprir um compromisso assumido. Uma situação não rara

relacionada à perda da crítica ou capacidade de

julgamento é uma tendência aos gastos exagerados (que

podem levar o patrimônio de uma família ou empresa à

ruína). Outro aspecto que pode dificultar o

relacionamento com uma pessoa no estado positivo ou de

euforia é a tendência da pessoa apresentar sentimentos de

grandiosidade e a incapacidade de aceitar limites. Ou se

achar com poderes espirituais ou dons sobrenaturais.

No polo oposto, da depressão, a tendência é a visão

negativa do rotineiro, a auto recriminação, a autoestima

rebaixada, levando até mesmo a ideias de auto eliminação

(suicídio).

Algumas pessoas com transtorno bipolar apresentam

hipomania. Durante os episódios de hipomania, a pessoa

pode apresentar um aumento de energia e níveis de

atividade que não são tão intensos como na mania ou ele

ou ela podem apresentar episódios que duram menos de uma

semana e não necessitam atenção em unidades de urgência.

Uma pessoa durante um episódio hipomaníaco pode se sentir

muito bem, ser altamente produtiva e funcionar bem. Esta

pessoa pode não sentir que há algo errado mesmo quando

sua família e amigos notam que estas mudanças de humor

podem ser um transtorno bipolar. Sem o tratamento

adequado, entretanto, pessoas com hipomania podem

95

Page 96: veredas mentais

desenvolver quadros graves de mania e depressão.

Durante um episódio ou estado misto, os sintomas

frequentemente incluem agitação, sono perturbado, grandes

mudanças no apetite e pensamentos suicidas. Pessoas em

estado misto podem sentir-se muito tristes ou sem

esperança e ao mesmo tempo extremamente energizadas.

Algumas vezes, uma pessoa com episódios graves de

mania ou depressão apresenta sintomas psicóticos também,

como alucinações e delírios. Os sintomas psicóticos

tendem a refletir o estado extreme de humor da pessoa.

Por exemplo, sintomas psicóticos em uma pessoa durante o

episódio maníaco podem incluir a crença de que ele ou ela

é uma pessoa famosa, tem muito dinheiro ou poderes

especiais. Da mesma maneira, alguém durante um episódio

depressivo grave pode acreditar que está falida ou que

cometeu um crime muito grave.

96

Page 97: veredas mentais

APÊNDICE – 02: CONCEITOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

1. CONCEITO DE UNIDADE

Do Conceito de Unidade se sustenta e convergem o

conceito de Vida e de Ego, a Cartografia da Consciência

e os Estados de Consciência.

Representação do Aspecto Estrutural:

Figura 5 PT Corpo teórico

Fonte: Cartografia da consciência/ artigo03 html

97

Page 98: veredas mentais

A unidade fundamental do Ser (ou da não

fragmentação) é o pressuposto básico em PT, do qual

partem ou para onde convergem todos os recursos desta

abordagem. Dai vem o conceito de Unidade, onde sujeito

e objeto são indissociáveis, onde o todo contém as

partes e as partes contém o todo.

Para Pierre Weil (1995), a unidade é a

propriedade do que não é dividido. “É o todo absoluto,

a plena luz.” Neste nível inexistem o tempo e o espaço,

há um eterno agora, um ser indivisível, e, portanto

“sempre foi”; não esta nem antes nem depois desta ou

daquela etapa; “Unidade entre o eu e o universo”. Há um

desaparecimento da tridimensionalidade do tempo.

Para Furlan (1998), “a separatividade perece

existir , somente na dimensão mais concreta e imediata

de nossos sentidos”.

A Psicologia Perene afirma que o conceito de

unidade esta presente em todas as religiões. Postula a

existência desta “unidade Fundamental” (conceito de

unidade).

Bion, na teoria psicanalítica, inclui esse

conceito de Unidade no seu referencial, de forma

similar, também com o termo: “Absoluto”.

98

Page 99: veredas mentais

Ainda no conceito de Unidade, Viktor Frankl

(1999), ao reconhecer a dimensão do espiritual cria a

unidade antropológica e relata que a espiritualidade

recupera o humano em sua inteireza levando ao

reestabelecimento da unidade com o cosmos, vivenciando

portanto as experiências de forma direta, plena e

verdadeira o que gera novas reflexões sobre o conceito

de Vida.

Na PT estuda-se os fenômenos humanos, inclusive

os religiosos, mas não havendo ênfase na religião

enquanto instituição, mas sim nos fenômenos

experienciais, na espiritualidade, nos valores

humanistas e transcendência.

James Husley (1973), reforçou o conceito de

unidade afirmando que “o conhecimento eh uma função do

ser. Quando ha uma mudança no ser conhecedor, ha uma

mudança correspondente na natureza e na totalidade do

conhecido.”

2. CONCEITO DE VIDA

Vida é um pulsar contínuo no qual nascer,

morrer e renascer fazem parte de um processo. De modo

geral tudo é vida; energia, formas diversas de

existências, nem se sabe, quando começou ou quando

terminará. É um dos aspectos fundamentais para a

99

Page 100: veredas mentais

clínica e para a educação. A caracterização básica

desse conceito na PT é a dimensão atemporal.

Para Pierre Weil (1989) dentro de sua perspectiva

do conceito de vida, de energia de consciência (que é

uma energia) refere a vida num conceito mais amplo, não

apenas da vida biológica, física, mas também da

natureza, do espírito, a vida-energia, infinita nas

suas mais diferentes expressões.

Vera Saldanha (1999) refere a vida como eterna,

ilimitada que sempre existiu. “Desconhece-se sua origem

e sequer pode imaginar, de forma concreta o seu fim. É

inesgotável, incessante, nas suas mais diferentes

manifestações”.

Do ponto de vista do aspecto psicológico a vida é

pautada por duas etapas básicas: Morte e Renascimento.

Assim transformações ocorrem trazendo colorido,

equilíbrio e beleza. A essência sempre permanece.

O morrer sob enfoque transpessoal é uma

transição. É a passagem de uma forma para tornar outra,

mantendo a essência do indivisível do conceito de

unidade que consiste na vida em si própria. O

desenvolvimento do ser humano eh galgado por meio de

mortes e de renascimentos.

100

Page 101: veredas mentais

3. CONCEITO DE EGO

O Conceito de Ego na PT caracteriza-se como uma

construção mental, ilusória, que tem a tendência de

solidificar energia mental em uma barreira, a qual

separa o espaço em dias partes: Eu e o outro. E

representando parcialidades das experiências humanas.

Assim o Eu é uma consciência em evolução, que

pode se manifestar além dos elementos circunstanciais,

bio-psiquicos e sociais que caracterizam a

personalidade, integrando níveis evolutivos superiores,

elementos perenes, espirituais, universais, cósmicos,

os quais constituem a individualidade, que é o ser

essencial integral (Assagioli,1993).

É essa ruptura com a dualidade rígida,

inflexível, que permite redimensionar o conceito de

Ego.

Para Jean-Yves Leloup e Boff (1997), afirmam que

“esse ser capaz de transitar pelo lado sombrio e pelo

lado de luz de nossa psique, vai além dos antagonismos

e possibilita integração de paradoxos.”

Abraham Harold Maslow (1997) afirma que “ a Raiz

viva de nosso potencial humano é a natureza essencial

interior, que reprimida e negada faz adoecer sempre de

forma óbvia ou de maneira sutil”.

101

Page 102: veredas mentais

O trabalho de morte e renascimento do ego na PT

traz ao indivíduo a possibilidade de conectar suas

próprias experiências interiores, dando-lhe sentido a

vida, integrando polaridades, transcendendo o ego,

vivenciando aquilo que realmente existe.

O conceito de ego, na abordagem transpessoal, é

definido por Vera Saldanha como um constructo mental,

ilusório, que tende a solidificar a energia mental em

uma barreira que separa o espaço entre eu e o outro;

clarifica este conceito referindo que, em reprimindo

nosso verdadeiro eu, criamos uma construção mental do

acreditamos ser nosso “eu”, como representação. Assim,

enquanto que nas demais abordagens psicoterapêuticas o

que se procura é um fortalecimento do ego para que o

sujeito possa “estar no mundo” de forma mais

“eficiente”, na PT o que se busca é a dissolução

circunstancial do ego para que possa desta forma,

emergir o Eu verdadeiro. O que deve estar claro é que o

ego, nesta abordagem, não representa a totalidade do

Ser. “Quando os processos do ego adquirem supremacia e

controlam sua psique, há perda de si mesmo, de sua

natureza essencial” (Saldanha, 2008).

O estado mental que antecede a criação do ego é

um espaço amplo, livre, luminoso, que esta ligado a uma

102

Page 103: veredas mentais

inteligência porem sem consciência, como se fosse um

estado total de unidade indiferenciada.

Segundo Souza Filho, o processo de construção do

Ego se dá em cinco etapas:

Dualidade,

Sensação,

Reações impulsivas,

Conceito, Intelecto e

Mente consciente

1. Dualidade: quando tomamos consciência de um eu

no espaço amplo, solidificamos esse eu e deixamos de

sentir-nos um só com esse espaço mental, gerando o eu e o

outro separado. É a primeira etapa do desenvolvimento do

ego.

2. Sensação: a dualidade cria a possibilidade de

projetar no outro a sensação de que ele nos é agradável

ou desagradável, ou ainda que somos indiferentes ao

outro.

3. Reações impulsivas: a partir da constatação da

sensação, segue-se a ela a reação impulsiva

correspondente: apego ao que é agradável, repulsa ao

desagradável e neutralidade ao indiferente. Até esse

estágio, o processo é instintivo. Quanto mais o indivíduo

estiver identificado com suas sensações e reações

impulsivas, limitado aos cinco sentidos como canais

103

Page 104: veredas mentais

sensoriais perceptivos, mais sua reação será autômata.

4. Conceito intelecto: a quarta etapa do

desenvolvimento psicológico do ego envolve a ação do

intelecto, que torna a estrutura do ego mais aperfeiçoada

e mais forte. Apenas o processo instintivo é insuficiente

para a segurança do ego, o qual necessita do intelecto

para oficializar sua situação, julgando, classificando

como certo, errado, bom, mal e assim por diante. O

intelecto oficializa a situação do ego, pondo-lhe um nome

de eu, o eu da personalidade, estabelece rótulos como,

por exemplo: eu não gosto, eu gosto, eu sei, etc. Ao

estabelecer o conceito, diminuem-se as chances de o

indivíduo viver a experiência direta, plena e verdadeira,

visto que existe o pré-conceito, a pré suposição.

(Saldanha, 2006).

5. Mente Consciente: para manter os processos

instintivos e intelectuais, o ego necessita de um

mecanismo ativo e eficaz. São as emoções e os pensamentos

discursivos que, desordenados e em constante movimento,

alimentam e sustentam histórias e a novela do ego;

justificam plenamente, as percepções instintivas; geram

reações egóicas, protegem; entretêm; alimentam e inflam,

através da identificação com os conceitos e emoções

suscitados e, até mesmo retardam ou obstruem a evolução

do ser. Ele não consegue mais diferenciar o que é

realidade e o que é projeção.

104

Page 105: veredas mentais

Além das cinco etapas temos o subproduto do ego que

é a auto-imagem, que ocorre da identificação do ego com a

emoção que se estrutura e se solidifica e que passa a

agir como uma identidade separada do ego. A auto-imagem

se alimenta da energia do ego e ele vai se impregnando da

auto-imagem, ela não é mais ela. Passa a agir como se

fosse outra pessoa e a sua capacidade de percepção e

apreciação de si, do outro e do mundo a sua volta fica

limitada. Há uma fragmentação e o indivíduo não acessa o

supraconsciente e não vivencia a sua essência verdadeira.

4. ESTADOS DE CONSCIÊNCIA

Os estados de consciência simbolizam, no corpo

teórico, o caminhar através das diferentes dimensões da

consciência.

Para Charles Tart (1978), um estado de consciência

é um padrão generalizado de funcionamento psicológico, um

sistema constituído por subsistemas e subestruturas, onde

certa quantidade de energia, sob forma de atenção ,

mantem determinado estado de consciência ou provoca

ruptura deste sistema, passando então para outro sistema

ou estado de consciência.

Apesar de existirem inúmeras graduações nos

distintos estados de consciência, Weil (1989) descreve

aqueles que são demarcatórios:

105

Page 106: veredas mentais

Estado de Consciência de vigília,

Estado de Consciência de sonho,

Estado de Consciência de sono profundo,

Estado de Consciência de devaneio,

Estado de Consciência de despertar e

Estado de Consciência cósmica ou de plena

consciência

Segundo Vera Saldanha (2006), cada estado de

consciência é um conjunto de eventos energéticos e o

indivíduo percebe a realidade, de acordo com o estado de

consciência que ele está vivenciando.

1. Estado de consciência de vigília: neste estado

o EEG (eletroencefalográfico), registra ondas cerebrais

beta, de14 a 26 ciclos por segundo em média. Aqui as

funções do ego são predominantes. O indivíduo percebe o

mundo tridimensional através de sua mente, suas emoções,

seus cinco sentidos. É aquele estado em que estamos

despertos, trabalhando.

2. Estado de consciência sonho: este é o estado

REM (Rapid Eyes Movement), movimentos rápidos dos olhos,

momento em que o indivíduo está sonhando. Temos em média

quatro sonhos por noite. Freud foi um dos primeiros a se

dedicar a estudar os sonhos, tudo o que ele pesquisou

veio a ser confirmado por Kleitman e seu discípulo

Aserinsky nas pesquisas em neurologia. Para ele todo o

conteúdo trazido ao consciente, são motivações e desejos

106

Page 107: veredas mentais

do inconsciente, e aquilo que for manifestado por vir de

seu inconsciente individual e, em alguns casos à própria

filogênese.

3. Estado de consciência sono profundo: cérebro

emite neste estado ondas delta de 1 a 4 ciclos por

segundo; aqui o indivíduo entra num estado de

inconsciência total, ele perde contato com o mundo

externo, o ego desaparece totalmente.

4. Estado de consciência devaneio: neste estado o

EEG registra ondas cerebrais alfa de 9 a 13 ciclos por

segundo, é alcançado através do relaxamento. Neste estado

as imagens são desconexas, criativas, literárias,

artísticas, científicas e administrativas. Também, neste

estado o indivíduo está totalmente aberto para perceber o

agora, está propício à livre associação, e suas idéias

devem ser anotadas imediatamente, pois podem desaparecer

no estado de vigília.

5. Estado de consciência de despertar: É a saída

do entorpecimento, o indivíduo acorda para a vida, é o

despertar do observador de si mesmo. Neste estado se

desenvolve a reflexão, a percepção da essência do ser, e

ocorre também a desidentificação deste indivíduo com

aquilo que ele projeta; suas emoções, sua mente, seus

papéis, e seu corpo. O relaxamento, a meditação e os

exercícios com orientação transpessoal são alguns dos

recursos utilizados para levar o ser a este estado de

despertar

107

Page 108: veredas mentais

6. Estado de plena consciência (ou consciência

cósmica): é o estado resultante da integração entre todos

os estados de consciência; é o estado em que há o

controle da atividade cerebral. Designa um estado de

consciência além da consciência comum do homem. O

indivíduo passa a compreender o funcionamento e a razão

de ser do universo, a relatividade das três dimensões do

tempo e do espaço. São descritas com um caráter de

inefabilidade, desaparecimento da dimensão espaço-tempo;

não projeção da mente sobre os objetos, sentimento de

viver a realidade “como ela é“. Descoberta do verdadeiro

sentido da vida e o sentido do sagrado (Weil, 1999).

Vários fatores provocam a experiência de estados de

expansão da consciência, dentre os quais destacam-se:

isolamento sensorial e sobrecarga sensorial, biofeedback,

treinamento autógeno, música e canto, improvisação

teatral, meditação, visualizações, hipnose e auto-

hipnose, desenho, psicodrama, Abordagem Integrativa

Transpessoal (AIT) dentre outros mais.

Todas essas abordagens podem ser chamadas de

sistemas destinados a mudar o estado de consciência. O

trabalho terapêutico em diferentes estados de consciência

é vital na abordagem transpessoal (Saldanha, 1999).

5. CARTOGRAFIA DA CONSCIÊNCIA

Cartografia da consciência é o mapeamento das

108

Page 109: veredas mentais

diferentes regiões, das dimensões mentais, de onde provêm

os conteúdos experienciados e acessados pelo indivíduo e

que favorecem a sua compreensão em sua trajetória de

auto-aprimoramento. Cada estado de consciência acessa

diferentes conteúdos, tornando possível entender o que

acontece nessas dimensões mentais.

Com terminologia distinta autores apontam, de uma

forma geral, três níveis ou dimensões mentais:

Conteúdos autobiográficos,

Vivencias intra-uterinas e

Nível que antecede a vivencia intra-uterina e

vai além da existência biológica.

No primeiro nível refere-se a conteúdos

autobiográficos, desde o nascimento até o momento atual

da existência do indivíduo. Depois vêm os conteúdos que

transcendem os dados biográficos, abarcando as vivências

intra-uterinas, inclusive o nascimento. O terceiro nível,

o qual antecede o nível intra-uterino se refere a

diferentes e amplos aspectos da consciência.

Para facilitar a compreensão, pode-se fazer uma

analogia com a cartografia Freudiana do “consciente, pré-

consciente e inconsciente”. Neste caso quando a pessoa

se referia a vida intra-uterina Freud interpretou como

fantasia. Jung , no entanto, incorporou, em sua teoria ,

109

Page 110: veredas mentais

aspectos que chamou de ”inconsciente coletivo”, além do

inconsciente pessoal também descrito. Portanto em sua

cartografia dividiu em: “Consciente, inconsciente e

inconsciente coletivo”.

Na PT a cartografia da consciência pode ser

relacionada com diferentes conteúdos experienciais e de

acordo com a sistematização da teoria da AIT proposto por

Vera Saldanha, relaciona as experiências relatadas pelos

pacientes como provenientes de regiões pessoais.

O trabalho foi baseado em pesquisas de Stanislav

Grof, TimotyLeary, Robert More entre outros e pode ser

descrita como:

Vigília,

Pré-consciente,

Inconsciente psicodinâmico,

Inconsciente ontogenético,

Inconsciente transindividual,

Inconsciente filogenético,

Inconsciente extraterreno,

Superconsciente (ou supraconsciente),

Vácuo

Os conteúdos se interpenetram mutuamente e são

caracterizados como:

Vigília:

110

Page 111: veredas mentais

Formada de conteúdos usuais do cotidiano, presentes

na consciência, regidos pelo tempo linear passado,

presente e futuro lógico, pelo pensamento analítico e

causal. A maioria das pessoas se mantem no estado de

vigília a maior parte do tempo.

Pré-consciente:

Nível de conteúdos ligados à vigília, acessados

facilmente a partir de uma simples evocação direta. Estão

parcialmente ligados a vigília.

Inconsciente psicodinâmico:

Nível de conteúdos ligados a experiências,

sentimentos e pulsões biográficas, desde o nascimento até

o momento da vida atual, mas que muito raramente vêem à

tona. Entretanto podem manifestar-se sob forma de

"Sintoma". Corresponde ao inconsciente Freudiano.

Inconsciente ontogenético:

Nível de conteúdos ligados a experiências

intra-uterinas pré ou perinatais. Representam uma zona de

transição do nível pessoal para o traspessoal, incluindo

experiências de morte e nascimento.

Inconsciente transindividual:

Nível de conteúdos de experiências ancestrais

(da linhagem genética ancestral), experiências

paligenéticas (de outros tempos e lugares, que ultrapassa

111

Page 112: veredas mentais

a linha biológica e a lei genética, gerando a compreensão

intuitiva da lei do carma), experiências coletivas e

raciais (de várias culturas passadas, do “inconsciente

coletivo ou racial” que contém toda a história da

humanidade) e experiências arquetípicas (do inconsciente

coletivo de Jung através de símbolos universais da

experiência humana, arquétipos ou imagens primordiais). E

o primeiro dos domínios transpessoais, experiências com

elementos que transcendem o ego.

Inconsciente filogenético:

Nível de conteúdos ligados a experiências além

das formas humanas, da própria seqüência evolutiva do

nosso planeta, tanto orgânicas (órgão, tecido, célula,

animal ou vegetal) como inorgânicas.

Inconsciente extraterreno:

Nível de conteúdos que se estendem para além do

nosso planeta, experiência de estar fora do corpo, de

encontros com entidades espirituais, de percepção extra-

sensorial, telepatia, clarividência, escrita automática e

possessão por espíritos.

Supraconsciente ou superconsciente:

Nível de conteúdos advindos da percepção

ampliada da realidade, com sentimentos de compaixão e

equanimidade, com apreensão intuitiva do fenômeno da

unidade e da relação homem-cosmo, mas que é acessado se

112

Page 113: veredas mentais

estivermos receptivos a ele (eliminando os pensamentos

desnecessários). E um nível diferenciado da consciência,

onde ocorre profundo êxtase existencial. Também

denominado como inconsciente superior, pois sugere um

nível mais amplo do que a consciência de vigília.

Vácuo:

Estado além de qualquer conteúdo. vivência do

estado de puro ser, fusão à Mente Universal, além do

tempo e espaço, do bem e do mal. Estado correspondente ao

nirvana na filosofia budista. Para Grof (1988) e

subjacente a toda criação .

Representação da Cartografia da Consciência

Figura:6 : Cartografia da Consciência

113

Page 114: veredas mentais

Fonte: Weil et al, 1978, p58.

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