VERBETES CLARICEFEITOS1. A LEGIO ESTRANGEIRA2. HORA DA ESTRELA3.
CIDADE SITIADA4. ONDE ESTIVESTE DE NOITEA legio estrangeiraOs
desastres de SofiaA repartio dos pesA mensagemMacacosO ovo e a
galinhaTentaoViagem a PetrpolisA soluoEvoluo de uma miopiaA quinta
histriaUma amizade sinceraOs obedientesA Legio Estrangeira
A legio estrangeiraO conjunto de textos Fundo de Gaveta, que
integrava a edio original de A legio estrangeira (1964), ganhou
autonomia no livro Para no esquecer. Ao comentar esses escritos
despretensiosos, a autora revela o quanto os subterrneos (da criao,
da existncia etc.) a fascinam. Lispector publica o que no presta
porque o que presta tambm no presta. Alm do mais, o que obviamente
no presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do
inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um
pequeno voo e cai sem graa no cho." De fato, o livro desconstri
clichs sobre amizade, solidariedade, velhice, discute falsos
valores da instituio famlia burguesa, investiga a existncia humana
e revela extraordinria conexo com o outro, o diferente. Releituras
de narrativas infantis, relatos primordiais e lendas (Condessa de
Sgur, Sherazade, Bblia) sondam nossa natureza imperfeita, suja,
movida por desejos. Personagens mirins quebram mitos da pureza
infantil e revelam a potncia ertica j nessa fase da vida, como Os
desastres de Sofia, em que a aluna confronta o amargurado e ingnuo
professor, ou o conto que d ttulo ao livro, escrito aos quatorze
anos e surpreendente pela potncia verbal e percepo da complexidade
do amor. A impiedade com a velhice e a discriminao social so
mostrados em Viagem a Petrpolis. O idoso, descartvel, caroo difcil
de deglutir, perdeu a funo de conselheiro. Usura e doao afetivas
reaparecem em Repartio de pes e a opresso gerada por papis
predeterminados e seguros de Os obedientes tema de textos
clariceanos, especialmente Laos de Famlia. Outro mote que desponta
o da barata. Em A quinta histria, um fato pueril contado com humor,
em mini-histrias sucessivas, h o exerccio de narrar e o confronto
com condio humana e o mundo animal ancestral; a morte incontornvel;
e a inexplicvel manifestao de vida.A discusso da palavra como meio
de expresso se dissemina na obra. Em O ovo e a galinha, o olhar e o
ato criativo so escavados exausto, em busca do sentido das coisas.
O texto foi lido no I Congresso Mundial de Bruxaria (Bogot, 1975)
de que Clarice participou. Alguns contos reaparecem com modificaes
em Felicidade clandestina (1971).XxxA discusso da palavra como meio
de compreenso e traduo de sentimentos se dissemina na obra. Em O
ovo e a galinha, o olhar e o ato criativo so escavados exausto, em
busca do sentido das coisas. O texto foi lido no I Congresso
Mundial de Bruxaria (Bogot, 1975) de que Clarice participou. Alguns
contos reaparecem com modificaes em Felicidade clandestina
(1971).
XXXXX
A edio original, de 1964, era dividida em duas partes; a
segunda, Fundo de Gaveta, continha textos despretensiosos. Ciente
disso, Lispector justifica publicar o que no presta: Porque o que
presta tambm no presta. Alm do mais, o que obviamente no presta
sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do
inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um
pequeno voo e cai sem graa no cho." xxxDiog de alteridadeA Hora da
estrela uma novela publicada em 1977 e escrita na forma de
contraponto. De um lado, a histria da ingnua Macabea, migrante
pobre nordestina em luta pela sobrevivncia na grande cidade; de
outro, o drama do escritor e seu processo da escrita ao retratar
uma pessoa distante de seu universo socioeconmico e ser capaz de se
comunicar com ela: Tentarei tirar ouro do carvo, diz ele. A moa
alagoana, sem recursos para lidar com os cdigos urbanos numa cidade
do porte do Rio de Janeiro, despreparada para enfrentar a competio
capitalista, sem atributos que lhe garantam sucesso no mercado do
amor e do trabalho, enfrenta a hipocrisia de pessoas prximas. O
namoro com o operrio Olmpico de Jesus Moreira Chaves, nordestino
como ela, no progride. Rude e vaidoso, ele afinal de contas no v no
relacionamento chances de ascenso social. A colega Glria, por sua
vez, espelho invertido da protagonista - carioca safadinha e
esperta, confiante de sua sexualidade e feminilidade -, no hesita
em ser desleal. O tom do livro oscila entre a compaixo por um ser
to frgil; a angstia diante de uma forma de escrita incompetente
para se comunicar com os miserveis; e a ironia, anunciada no nome
dos personagens. O percurso de Macabea, de corpo sem atrativos e
sem preparo profissional, desmascara a crueldade humana e a brutal
desigualdade social no Brasil. O narrador Rodrigo S. M., mscara
ficcional de Clarice Lispector, se v como intruso ao traduzir
ficcionalmente o sentimento de perdio no rosto de uma moa
nordestina. Conforme prefcio que escrevi para o livro em 1990, o
desafio do narrador escrever Macabea e a si mesmo. O livro discute
a linguagem a nvel filosfico, ao por em cheque a palavra como meio
de conhecimento; sociolgico, ao representar conflitos de classe,
com destaque para a funo do escritor e a insero do nordestino na
sociedade brasileira; e esttico, ao tratar do gesto criador. A
adaptao da obra para o cinema, com direo de Susana Amaral,
protagonizada por Marcela Cartaxo , em 1985, obteve prmios
nacionais e internacionais.XXXXXXxxA Cidade Sitiada (1949) se passa
na dcada de 1920 e est ambientado no pouco atraente subrbio de So
Geraldo, onde vive a jovem Lucrcia Neves, remotamente inconformada
com a mesmice de um ambiente sem futuro. O confronto campo e
cidade, presente noutras obras da autora (O lustre,A ma no escuro e
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres), neste romance essencial
para a caracterizao da personagem, dividida entre a vila-refgio de
origem, pela qual mantm remotos laos afetivos, e sonhos de uma
metrpole romantizada. Mas a inquietao da moa no vai alm disso, pois
ela apresenta visveis limitaes na capacidade de refletir sobre a
vida. Lucrcia Neves talvez quisesse exprimi-lo, imitando com o
pensamento o vento que bate portas mas faltava-lhe o nome das
coisas. Seu modo de apreenso do real se d pelo olhar, que no chega
a se transformar em linguagem, em palavra. O enredo, narrado em
terceira pessoa, transcorre linearmente, em doze captulos e frases
curtas, seguindo as deambulaes da protagonista pelas ruas das
cidades e pela vida para se exibir e confirmar o que as coisas so
em sua aparncia. As figuras masculinas, nos flertes e no casamento,
so peas do jogo de experimentar estilos de vida. O tenente Felipe
em sua farda e poder , sobretudo, um estrangeiro que deprecia o
subrbio e, assim, a ofende; Perceu Maria, prottipo da beleza, fraco
e vazio como ela; o velho Mateus, com quem ela se casa,
proporciona-lhe a experincia da grande cidade, que no a sacia.
Viva, sobra-lhe a promessa de novo casamento que a afasta da cidade
natal em direo a um stio. Segundo Lispector, a histria de Lucrcia
expressa a luta v de alcanar a realidade atravs da viso total das
coisas. Uma das mais intensas aspiraes do esprito a de dominar pelo
esprito a realidade exterior. Lucrcia no o consegue ento adere a
essa realidade, toma como vida sua a vida mais ampla do mundo. O
desenvolvimento urbano que chega desordenadamente pacata So
Geraldo, e sobre o qual as pessoas no tm controle, contribui para
essa destituio. Lucrcia no vive, espia a vida. seu modo sitiado de
ser.
Uma das mais intensas aspiraes do esprito a de dominar pelo
esprito a realidade exterior. Lucrcia no o consegue ento adere a
essa realidade, toma como vida sua a vida mais ampla do mundo.
(Outros escritos, 2007, p. 71-72/. 1971, p. 16)). seu modo sitiado
de ser. O desenvolvimento urbano que chega desordenadamente pacata
So Geraldo, e sobre o qual as pessoas no tem controle, contribui
para essa destituio. Lucrcia no vive, espia a vida.
Sitiar. Palavra e as coisas.xxxxxxOnde estivestes de noite,
publicado em 1974, rene crnicas, contos e produes ficcionais que
fogem a classificaes. Como sugere o texto que d ttulo ao livro, a
obra explora dimenses pulsionais, reas limtrofes ao delrio e ao
mgico, a androginia, camadas ntimas do ser. A noite se apresenta
como materializao do onrico, lugar de rituais, de acontecimentos
improvveis, mas densos de realidade ou de infra-realidade - at que
acontea a manh lmpida como coisa recm-lavada". Manh que Em tanta
mansido pode abrigar a noite e o modo mais leve e silencioso de
existir..Uma das barreiras a ser vencida para chegar ao que ,
conforme Relatrio da coisa, consiste em abolir a palavra, anteceder
ao ato de nomeao. O excesso de dizer e ao mesmo tempo a
incompletude do dizer esto em tudo o que se diz. Assim como o
relgio no d conta do significado do tempo, a palavra posta em
cheque quanto sua capacidade de significar. A reflexo reaparece em
para l que eu vou. Outro tema do livro a velhice. O apetite vital
independe da idade e o velho sofre com olhares condescendentes, s
vezes repulsivos: em A procura de uma dignidade o desamparo
confronta Eros, a pulso sexual prestes a se manifestar, no importa
a idade; em A partida do trem, delicadamente se tocam os destinos
da jovem desiludida pelo amor e a idosa que se tornara um fardo
familiar. Outro tpico forte na obra a conexo epifnica e brutal
entre sujeito e natureza, cuja potncia destituda de racionalidade,
surpreende a fora da vida e a violncia da morte. Todo esse vigor
pulsional se expressa em colagens de frases, fluxos de palavras,
fragmentos, instantneos que sintetizam evocaes, sentimentos e
percepes com intensa fora potica. A que no falta um toque de humor
judaico e de auto-ironia, nem sempre percebidos, mas presentes em
toda a obra de Lispector. Vou lhes contar um segredo: a vida
mortal. (Tempestade de almas). Ou melhor, nos versos que Drummond
dedica ao livro: Onde estivestes de noite/Que de manh regressais/
com o ultramundo nas veias,/ entre flores abissais?.
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O seu estado de degradao, resultante da decadncia fsica e
daincapacidade de se comunicar, culmina com a impossibilidade de
amar e de ser amada. Acostumada a ser vista como estorvo, como um
incmodo
Sobre o livro, o poeta Carlos Drummond de Andrade assim se
manifestou:Querida Clarice: Que impresso me deixou o seu livro*!
Tentei exprimi-la nestas palavras: Onde estivestes de noite Que de
manh regressais com o ultramundo nas veias, entre flores abissais?
Estivemos no mais longe que a letra pode alcanar: lendo o livro de
Clarice, mistrio e chave do ar. Obrigado, amiga! O mais carinhoso
abrao da admirao do
e As manigancas de Dona FrozinaA procura de uma dignidade.A
partida do trem.Seco estudo de cavalos.Onde estivestes de noite.O
relatorio da coisa.O manifesto da cidade.As manigancas de Dona
Frozina.E para la que eu vou.O morto no mar da
Urca.Silencio.Esvaziamento.uma tarde plena.Um caso complicado.Tanta
mansidao.As aguas do mar.Tempestade de almas.Vida ao natural.
com a participao de peregrinos fanticos, uma viagem alucinada,
atraente e atemorizante, durante uma noite improvvel. Mas tudo
aquilo verdade e existe, garante a autora, quando o dia amanhece,
afastando os males e as cenas do inferno, durante uma missa onde os
fiis fazem o sinal-da-cruz: H histrias hilariantes, como a da
senhora Jorge B. Xavier, de "A procura de uma dignidade", uma anci
atrapalhada diariamente acometida por um fogo interior. uma
daquelas pessoas que erram o endereo do seminrio e que s fazem
questo de ir para cumprir o papel de atualizada, mas acaba passando
mal de calor ao final do encontro.
xxxxSitiar
http://www.prp.ueg.br/revista/livros_publicados/livros/colecaoolhares/livro04_ewerton_de_freitas.pdfLucrecia
vive com a me viva, em boa situao financeira, num lugar pacato em
que se misturam cheiros de gasolina, animais de carga, galinhas e
pessoas. Divide sua ateno entre dois homens: o tenente Felipe, que
representaria o poder, em sua farda militar, mas visto por ela como
um estrangeiro, j que depreciava o lugar; e Perceu Maria, prottipo
da beleza, mas fraco e vazio como ela. Em nenhum dos dois vislumbra
a possiblidade de se evadir-se, deixar a vida medocre, conseguir um
casamento que a leve a viver numa cidade grande e a realizar sonhos
de baile e msica.Levada pelos acontecimentos, ela se casa com um
rico comerciante e bem mais velho, a quem ela aceita quase por
inrcia e que realiza a leva a viver em um hotel de uma grande
cidade. Mas retorna a So Geraldo, o marido morre e logo se desilude
com o crescimento urbano e a modernizao do lugar. A noticia de um
candidato a marido a faz se mudar para o sitio onde a mae passara a
viver.Embora dotada de pouco pensamento, excedia no olhar. Lucrecia
via como um bicho veria uma casa: nenhum pensamento ultrapassando a
casa O queno se sabe pensar, se v! (p. 105) A estrutura do
livroEscrito na Suia, no perodo em que Clarice acompanhava o marido
diplomata (1946-49), o livro reflete o sentimento de opresso vivido
pela escritora devido " salvava-me do silncio aterrador das ruas de
Berna," (A descoberta do mundo, pp. 411-412)., que noutros textos
se refere atmosfera sepulcral da cidade, a intensa monotonia como
"Lembrana de uma fonte, de uma cidade (JB, fevereiro de 1970). Vida
em cartas clarice sua e texto de Para na esquecerela, j h muito
descontente com o novomodo de vida de So Geraldo, ao receber uma
carta da me, quelhe falava de um provvel futuro marido, decide
vender o sobrado nico liame que ainda a prendia recente cidade
transformada emuda-se apressadamente para o stio.Mesmo tendo
afirmado isso, em Carta atrasada, publicada porLispector em 21 de
fevereiro de 1971, tem-se algumas consideraessuas acerca desse
romance que ela mesma considerava denso,fechado , que podem
iluminar a leitura que dele se fizer:(...) O que me espanta e isto
certamente vem contra mim que a um crtico escapem os motivos
maiores de meu livro.Ser que isso quer dizer que no consegui erguer
at tonaas intenes do livro? Ou os olhos do crtico foram nubladospor
outros motivos, que no os meus? (...) Pensei tanto tersugerido que
a histria verdadeira de Lucrcia Neves eraindependente de sua
histria particular. A luta de alcanar arealidade eis o principal
nessa criatura que tenta, de todosos modos, aderir ao que existe
por meio de uma viso total dascoisas. Pretendi deixar dito tambm de
como a viso altera arealidade (...)Pensei ter dado a Lucrcia Neves
apenas o papel de umadas pessoas que construram a cidade,
deixando-lhe ummnimo de individualidade necessria para que um ser
sejaele mesmo. Os problemas prprios de Lucrcia Neves, comoo senhor
diz, me parecem apenas a terra necessria paraessa construo
coletiva. Parece-me to claro. Uma das maisintensas aspiraes do
esprito a de dominar pelo esprito arealidade exterior. Lucrcia no o
consegue ento aderea essa realidade, toma como vida sua a vida mais
ampla domundo. (Outros escritos, 2007, p. 71-72)Xxxx1971, Clarice
Lispector disse ao jornal Correio da Manh que A cidade sitiada, de
1949, foi seu livro mais difcil de escrever. Clarice desumaniza ao
mximo seus personagens para torn-los visceralmente humanos.A
simplria Lucrcia, de A cidade sitiada, docemente desprovida de
raciocnio e/ou de conscincia, alma gmea de Macaba, que muitos j
viram na verso cinematogrfica A hora da estrela. Lucrcia apenas o
que ela v: os cavalos a esmo na suburbana cidade natal de So
Geraldo, o morro do Pasto, o armazm, o sol sem vento da
tarde.Lucrcia portanto era So Geraldo. Por pura catatonia, restou a
Lucrcia o casamento com Mateus Correia, comerciante rico e bem mais
velho, por iniciativa da me, Ana, qual no oferecera entusiasmo ou
resistncia. Esta era a marca da relao de Lucrcia com a me e com o
mundo: O meu passarinho fica mais bonito na prateleira de cima da
cristaleira. V-se muito mais, hem, menina dizia Ana, em seu mais
denso dilogo de uma tarde muda.Mas era apenas um modo de ver; e
nada mais, pensava Lucrcia, sem saber que pensava e tampouco o que
era o pensamento. s vezes tinha rasgos perceptivos que expressava
em um Mame, como nossa vida triste. A ao de Lucrcia sitiada por
algo misterioso que a faz seguir a vida apenas vendo. E sua histria
uma colagem de contos que a autora transforma em captulos em
cronolgica seqncia. Depois do casamento, Lucrcia continuou a ver
diariamente o movimento do trnsito, da construo de um viaduto, das
aranhas fazendo suas teias, os mosquitos. Via o marido e suas
preocupaes domsticas. Amava-o? Depois da morte de Mateus, Lucrcia,
menos sitiada mas ainda no liberta, vai em busca de um homem de bom
corao. Mas para ela o amor era difcil. Ela no o via e, portanto, no
sabia o que era o amor.Numa atmosfera de silncio e isolamento, vive
Lucrecia. Escrito em Berna, por Clarice Lispector, e publicado em
1949, o romance uma espcie de inventrio da monotonia. No incio,
Lucrecia est a procura de um marido capaz de livr-la do tdio na
pequena cidade, o subrbio de So Geraldo onde o silncio sepulcral e
lev-la para a metrpole. Depois da morte do marido, contudo, ela
retorna vida e de l espera por alguma outra coisa algum outro homem
talvez que pudesse novamente salv-la da rotina.A simplicidade do
enredo reflete-se na simplicidade da tcnica narrativa. Dividido em
doze captulos, o texto construdo por frases curtas, marcadas mais
por pontos finais do que por vrgulas. No h fluxo da conscincia, nem
surpresas poticas no curso das sentenas. O universo da narrao,
igualmente marcado pelo silncio, parece estreito e plano como uma
paisagem que jamais se modifica.A narrativa, em terceira pessoa,
pontuada por captulos separados em ttulos. A ordem estrutural
reflete a organizao do mundo narrado uma ordem tranqila e
silenciosa, onde nada se esquivava. Quanto escritura, tem-se uma
economia de reteno do texto e no, como se poderia esperar de uma
escrita deliberadamente feminina, um texto livre, solto e
inspirado, como acontece em Perto do corao selvagem, no qual
pode-se ver nitidamente a expresso do que Hlne Cixous chama de
economia da feminilidade por excelncia aberta, extravagante e
corajosamente subjetiva, como uma voz reverberando ao longo do
discurso.Em A cidade Sitiada, entretanto, a voz da protagonista se
cala e atravs do olhar que ela se comunica com o ambiente ao seu
redor, tal como um forasteiro em uma cidade desconhecida que
conquista a realidade com os olhos, pois ainda incapaz de articular
a linguagem dos nativos. Como diz o texto: Lucrecia Neves talvez
quisesse exprimi-lo, imitando com o pensamento o vento que bate
portas mas faltava-lhe o nome das coisas.Sua forma de expresso
reduz-se a olhar bem [...] tudo o que Lucrecia Neves podia conhecer
de si mesma estava fora dela: ela via; entre bocejos incessantes
tambm ela quereria assim exprimir sua modesta funo que era: olhar.
Os dilogos so curtos, marcados por frases pontilhistas, e h um
grande silncio, cheio de tdio e monotonia, envolvendo o texto, no
qual Lucrecia, como as demais, uma mulher sitiada, prisioneira da
palavra que no possui.xxxatmosfera de silncio e isolamento,., e
publicado em 1949, o romance uma espcie de inventrio da monotonia.
o silncio sepulcral - e lev-la para a metrpole. Depois da morte do
marido, contudo, ela retorna vida e de l espera por alguma outra
coisa - algum outro homem talvez - que pudesse novamente "salv-la"
da rotina.
A simplicidade do enredo reflete-se na simplicidade da tcnica
narrativa. Dividido em doze captulos, o texto construdo por frases
curtas, marcadas mais por pontos finais do que por vrgulas. No h
fluxo da conscincia, nem surpresas poticas no curso das sentenas. O
universo da narrao, igualmente marcado pelo silncio, parece
estreito e plano como uma paisagem que jamais se modifica.A
narrativa, em terceira pessoa, pontuada por captulos separados em
ttulos. A ordem estrutural reflete a organizao do mundo narrado -
uma ordem tranqila e silenciosa, onde nada se esquivava. Quanto
escritura, tem-se uma economia de reteno do texto e no, como se
poderia esperar de uma escrita deliberadamente feminina, um texto
livre, solto e inspirado, como acontece em Perto do corao selvagem,
no qual pode-se ver nitidamente a expresso do que Hlne Cixous chama
de economia da feminilidade - por excelncia aberta, extravagante e
corajosamente subjetiva, como uma voz reverberando ao longo do
discurso.Em A cidade Sitiada, entretanto, a voz da protagonista se
cala e atravs do olhar que ela se comunica com o ambiente ao seu
redor, tal como um forasteiro em uma cidade desconhecida que
"conquista" a realidade com os olhos, pois ainda incapaz de
articular a linguagem dos nativos. Como diz o texto: "Lucrecia
Neves talvez quisesse exprimi-lo, imitando com o pensamento o vento
que bate portas - mas faltava-lhe o nome das coisas'.Sua forma de
expresso reduz-se a olhar bem - "[...] tudo o que Lucrecia Neves
podia conhecer de si mesma estava fora dela: ela via"; "entre
bocejos incessantes tambm ela quereria assim exprimir sua modesta
funo que era: olhar". Os dilogos so curtos, marcados por frases
pontilhistas, e h um grande silncio, cheio de tdio e monotonia,
envolvendo o texto, no qual Lucrecia, como as demais, uma mulher
sitiada, prisioneira da palavra que no possui.XxxxO subrbio aos
poucos se desenvolve, no ritmo da modernizao do pais. Lucrcia
morava com a me, Ana. Era extremamente patriota em relao ao
subrbio, se sentia dona da cidade. Sua me era viva, viviam as duas
juntas em uma casa cheia de bibels, a comunicao entre me e filha no
se podia caracterizar como boa e na verdade juntas encenavam uma
farsa. No eram pobres, o que tinham dava para ter uma vida adequada
sem luxos ou extravagncias. Lucrcia namorava Felipe, ele fazia
parte da cavalaria e ela amava homens do exrcito; aqueles que
usavam fardas e carregavam armas, Felipe se enquadrava. Ao mesmo
tempo saia com Perseu, um jovem bonito, talvez o homem mais bonito
que ela j tivera, ele gostava dela, achava-a maravilhosa, no
entanto, para ela Perseu era um belo e educado homem e tambm um
fraco, j que ela se mantinha na frente do relacionamento deles.
Ela e Felipe romperam no momento em que ela lhe negou um beijo e
ele ofendeu o subrbio dela, ela o criticou como forasteiro e assim
acabou o romance, ele tinha farda, porm no pertencia a So Geraldo.
Perseu e ela tambm acabaram se separando, mesmo depois da tentativa
dele de mudar seu jeito de ser, ao que Lucrecia reagiu
negativamente, fazendo-o voltar a ser o Perseu maravilhado pela
pessoa dela. Nessas circunstncias existia Mateus, um homem rico,
morador da metrpole, mas que vinha a So Geraldo e fazia visitas a
Ana com o verdadeiro intuito de conseguir Lucrcia. Como sua idade
de casar j chegara, Lucrcia casou-se com ele e foram para a
metrpole. L iam a festas e teatros, Lucrcia ao mesmo tempo se
espantava e admirava o ritmo acelerado da metrpole com toda a sua
chamada modernidade. Moravam em um hotel e ela no fizera amizades e
no compreendia o marido, porm o amava. Mateus era rico, saa cedo
para trabalhar e era bondoso. Lucrcia s compreendeu seu jeito de
ser quando ele morreu. Foi ai que descobriu a bondade do marido e
como para ele a vida deles era boa e que para ele lev-la a passeios
e mandar que arrumassem o cano era a rotina do casamento o
alegrava.
Lucrcia, cansada da metrpole, decidiu voltar a So Geraldo e
Mateus aceitou instantaneamente a idia. Ana havia se mudado para
uma fazenda de um parente ou conhecido e assim eles moraram na
antiga casa de Lucrcia. A esse ponto, no subrbio os cavalos j davam
espao para os bondes, fbricas surgiam e um viaduto fora construdo
varrendo os cavalos, galinhas e o cheiro de campo para longe. Como
Mateus viaja muito em uma de suas viagens deixou Lucrcia em uma
ilha. Visando que ela engordasse e no ficasse s em So Geraldo.
Nessa ilha vivia Dr. Lucas, j conhecido de Lucrcia. A mulher dele
vivia em um manicmio e foi assim que ela se apaixonou pelo doutor,
eles passeavam juntos e s vezes os braos se tocavam, ela mais
apaixonava. Ele declarou impossvel o romance, e depois se
questionou se Lucrcia reapareceria. Na noite seguinte ela estava l
declarando que por ser impossvel no iria acontecer. Os dois viveram
um romance. Mais tarde Lucrcia voltou a So Geraldo e Mateus
morrera. Ela sofreu, arrependeu-se de como era vida com o marido,
sempre a pedir sem nunca compreender o quo bom ele era. Nesse
tempo, Perseu se tornara um homem, encontrara uma mulher no trem
com quem se sentou pra beber depois da viagem e fora ser mdico, um
bom mdico em outra cidade. Viva, ela morava s no subrbio que no era
mais o seu subrbio. Os cavalos foram banidos e a nova gerao tomava
conta das ruas, essa tambm domada pela modernidade. Foi assim que
recebeu uma carta de sua me, um homem de bom corao se interessara
por ela (tinha visto uma foto). Lucrcia se encantou com a novidade,
teria o luxo de ter tido dois maridos e assim foi embora de So
Geraldo.
Xxxxxx
XXXXLEGIO ESTRANGEIRA, da remisso ao Levtico, bblico, na proibio
interdito de tocar, de se deixar atrair no imundo ( o que se
concretiza no romance A Paixo Segundo G.H.) Violncia um dos tpicos
do livro,xxxxO livro dividido em duas partes. Sobre a segunda,
chamada Fundo de gaveta e que ganhou autonomia na obra Para no
esquecer (1978). Embora Lispector soubesse que vrios textos deste
grupo eram despretensiosos, justifica publicar o que no presta.
Porque o que presta tambm no presta. Alm do mais, o que obviamente
no presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do
inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um
pequeno voo e cai sem graa no cho." xxxxxA quinta histria
diferentes estratgias de eliminao das baratas que tomam de assalto
o apartamento da narradora so narradas com humor e in crescendo,
evocando a cadncia do Bolero, de Ravel. As baratas reaparecem, o
mote sendo retomado a cada vez, em novas histrias, mas o conto
termina em anticlmax, sugerindo que o problema no tem fim. De fato,
alm da reflexo sobre modos de narrar (cada episdio recebe ttulo
diferente), a situao toda discute a condio humana em confronto com
o mundo animal, a morte iminente e incontornvel, a natureza
mitolgica e ancestral com remisso a narrativas imemoriais, como a
de Sherazade, as baratas ganhando uma dimenso metafrica da
inexplicvel manifestao da vida, da remisso ao Levtico, bblico, na
proibio interdito de tocar, de se deixar atrair no imundo ( o que
se concretiza no romance A Paixo Segundo G.H.) Violncia um dos
tpicos do livro,Bela e a feraA Bela E A Fera - Clarice LispectorA
Bela e a Fera rene oito contos escritos por Clarice Lispector nos
anos de 1940, 1941 e 1977 (o da morte dela)("Histria interrompida",
"Gertrudes pede um conselho", "Obsesso", "O delrio", "A fuga" e
"Mais dois bbados")Livro de contos lanado postumamente, rene seis
escritos entre 1940 e 1941 e dois, de pouco antes de seu
falecimento (1977), ambos falando de escolhas, sentido da vida,
solido e condio feminina. Os textos do primeiro conjunto, ao se
debruarem sobre conturbadas relaes amorosas entre homem e mulher,
no escondem a atmosfera romntica e certa ingenuidade. Mas, ao mesmo
tempo, trazem discusses que atravessam a fico clariceana. L esto a
percepo aguda de dramas familiares e o senso de ironia. A obra
convida leitura retrospectiva. Lado a lado, a escritora madura, em
momento de profunda crise devido doena que a tomava, e a jovem
autora, na descoberta do mundo e da fico. Curioso que o olhar
adulto sobre experincias remotas simulado em textos juvenis, como
Histria interrompida. A narradora recorda a paixo juvenil: um rapaz
moreno e triste, roupa escura, analtico; ela, jovem perspicaz,
inteligente e romntica, de roupa florida, diminuda com a altivez
dele, mas j intuindo haver sob aquela soberba um pensamento estril.
A rememorao, forma de compreenso, ou tentativa de, registra a fora
da acomodao a valores dominantes: estou casada e tenho um filho. A
histria retomada com variaes em Obsesso, tambm re-memria de
personagem com origem similar: nasci de criaturas simples,
instrudas naquela sabedoria que se adquire pela experincia e se
adivinha pelo senso comum. Ela preparada para casar, ter filhos e,
finalmente, ser feliz.No outro grupo de textos, que assume a
perspectiva de dentro do casamento ou de quem j muito viveu, h uma
dimenso dilacerada quanto aos rumos e equvocos cometidos ao longo
da vida, em nome da estabilidade e do bem estar. Sim, porque se o
livro como um todo encena a indagao clariceana sobre a felicidade,
os contos escritos no final da vida do ao tema uma acidez e uma
revolta inexistentes nos anteriores, aniquilando de vez os
parmetros afetivos pequenos burgueses. Chega a atingir o pattico,
na reflexo da socialite (- Como que eu nunca descobri que sou tambm
uma mendiga?) ou na figura de Margarida, de Um dia a menos (que
reverbera personagens textos com vis autobiogrfico de Via Crucis do
Corpo e tambm de A paixo segundo GH), mulher que habita o depois, e
enfrenta o dilogo surdo com o tempo-morto que nela habita.
Xxxxxxxxx
Investigar sinais (ginsburg) , marcas de sua escrita futura,
tanto temtica, quanto o aspecto perceptivo, gilda mello
snatos.xxHistria interrompida, contado pela narradora que, j
adulta, rev uma paixo quando tinha vinte e dois anos. Um
relacionamento tenso, permanente duelo verbal e emocional entre um
rapaz moreno e triste, sempre de roupa escura (P.18), superior,
altivo, analtico, cerebral , e ela, jovem perspicaz, inteligente e
romntica, de roupa florida, diminuda com a soberba e tantas
certezas, mas que intui haver nele uma certa esterilidade de
pensamento. O rapaz a fuga da rotina familiar. Ao voltar para casa,
ela tem o jantar, o longo sero vazio, um livro, o bordado e, enfim,
a cama, o sono, as queixas da irm de quatorze anos. Numa espcie de
sonho devaneio ela enfim decide lhe propor casamento, mas seus
sonhos so ceifados pelo comunicado de que ele havia se suicidado
com tiro na cabea. O episdio rememorado um modo de ela tentar
entender, numa dimenso existencial, filosifica, com um fundo
religioso o castigo que Deus deu mulher de loth - aconteceu e o
porqu. Dilogo entre o destino familiar e biblico e as escolhas
femininas, a dela no sai do padro estou casada e tenho um
filho.Esse texto tem a ver com Obsesso, tambm re-memria. A origem
da personagem tambm como a anterior: nasci de criaturas simples,
instrudas naquela sabedoria que se adquire pela experincia e se
adivinha pelo senso comum. Casa de arrabalde, olhares benevolentes
dos pais. A passagem para a adolescncia mocinha) um ato de
violencia marcado pelas novas peas de roupa abaixaram meu vestido.
Os sonhos so iguais tambm casar, ter filhos e, finalmente, ser
feliz. O imaginrio tambm marcado pelas leituras e romantismo. Aqui
j fica mais claro outro ponto da literatura clariceana, a
descoberta do que ser feliz e os parmetros pequenos burgueses. Os
pontos cardinais eram o marido, ela, casa, a mae. Deus uma presena,
mas por comodismo. Rotina tambm familiar, domingo na casa dos
pais,Alguns temas que depois ganharo corpo em laos de famlia, como
a vaga insatisfao com o casamento. Esse mundo ao mesmo tempo
organizado e dividido (minhas duas casas)Dados biogrficos, como a
viagem que ela fez para Minas Gerais, que se na correspondncia com
Lucio Cardoso e depois com o noivo. pelas cartas que naquela poca
escrevi e lidas muito depois, observo que um sentimento de
mal-estar se apoderarara de mim.. A figura masculina motivo de sua
aventura extraconjugal, como em Histria impossvel tambm soturna,
superior, provoca nela uma angstia e acontece um jogo de poder
permanente. O ser diferente, repudio mediani, ao grupo amorfo de
homens e mulheres que prezam o conforto acima de tudo. A cogitao
intelectual, o Bem e o Mal, Deus, ecos de Schopenhauer. A paixo
como doena e o sentiemtno de tdio e angustiaSolido e angustiauma
dissimetria de poder em que o homem ocupa a posio de mestre e a
mulher ocupa a posio de discpula. Entretanto, com o desenvolvimento
da paixo, que tem uma naturezapedaggica, a discpula equipara-se ao
mestre e, depois, desmistificando-o,rejeita o jugo a que se
submetera, abandonando-o.Toda a satisfao, ou aquilo a que comumente
se chama felicidade, prpria e essencialmente falando negativa,
jamais positiva. No se trata de um contentamento que chega a ns,
originariamente, por si mesmo, mas sempre tem ser a satisfao de um
desejo, pois o desejo,[ Vontade brigando por matria], isto , a
carncia, a condio de todo prazer. (Schopenhauer 2005, p. 411 )O
mundo como vontade e
representaohttp://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_arquivos/17/TDE-2008-04-24T142026Z-799/Publico/JAMIL.pdfhttp://ateus.net/artigos/filosofia/o-vazio-da-existencia/DelrioSituao
limtrofe de intensa solido, agravada pela condio fsica da febre e
da doena. Em meio a alucinaes e a vontade de viver, cercado de
figuras femininas, mas impotente, sem poder para seduzir, a
compensao a escrita, lugar de esforo de dor, mas tambm de prazer.
Tenso entre o mundo objetivo delinevel material o que e fora de si
e o mundo turbulente interno de pensamentos e desgarramento. Um dia
a menosSem sentido da vida, rotina que engoleLIVRO DE PESSOAS
INSONES O delrio o escritorfebril tem alucinaes e com mal-estar
busca escrever o que v. variedade de temas: uns ligados ao mito de
criao e a hipocrisia sexual, O delrio, e outros ao narcisismo
sociolgico e aos aspectos da identidade feminina, como em Gertrudes
pede um conselho, A fuga, A bela e a fera ou a ferida grande demais
e Um dia a menos.Tentativa de recuperar-se compondo um quadro de
paisagemA distrao como percepo aguda de uma circunstncia O dilema A
beleza pode levar espcie de loucura que a paixo.Segundo Olga
Borelli, sua estes contos teriam ficado na gaveta por que a autora
no soubesse como classifica-los, "Talvez ela entendesse mais de
anticonto, porque se considerava antiescritora", apresentao do
livro."Um dia a menos" e "A bela e a fera". Este ltimo, segundo
Olga, nascido de uma viso dilacerada do encontro de uma dondoca com
um mendigo ferido em Copacabana. A desgraa do mendigo da ferida
aberta chocou a socialite, no apenas por lhe ter provocado um forte
clamor por justia social, mas por perceber que a ferida do mendigo
era real, ao passo que ela sequer existia. Era uma alma penada
pairando pelos sales e encobrindo com jias um infinito vazio. Sua
ferida era o nada.O conto que d ttulo ao livro flagra o encontro
inesperado de uma socialite com um mendigo, na rua, devido a um
desencontro de horrio com o motorista que ia busc-la na sada do
salo de beleza. Concentram-se ironia, ms de maio, vento, historias
infantis (GATA BORRALHEIRA0Citaao de um conto de Ea de Queirs de
fundo bblico, com referencias a conflitos similares, como a da
misria, diferenas sociais No h propriamente uma unidade entre eles,
mas h elementos em comum. E sobretudo neste aspecto que vale a pena
se fazer uma leituraxxxCada pessoa um mundo, cada pessoa tem sua
prpria chave e a dos outros nada resolve; s se olha para o mundo
alheio por distrao, por interesse, por qualquer outro sentimento
que sobrenada e que no o vital; o mal de muitos consolo, mas no
soluo. (p. 26)personagens principais pessoas que tentam
reencontrar-se, muitas vezes aps viverem ou estarem em momentos
adversos. ponto similar situaes em que pode at existir a vontade,
mas se falta a coragem (exceto nos casos de Obsesso e Um Dia a
Menos) para tentar modificar o estado em que as coisas se
encontram.Felicidade Interrompida, mulher que teve seu futuro
ceifado por circunstncias que lhe fogem ao controle, mas, com as
quais, ela ter que aprender a conviver, por mais difcil que seja.
segundo, Gertrudes Pede um Conselho, algum que percebe que existir
o bastante. Obsesso, mulher que no tem medo do e se?, toma uma
deciso e tem a humildade de voltar para a sua antiga vida, aps
tentar conhecer o novo. O Delrio, pensamentos desconexos de um
enfermo em seu leito. A Fuga, bem peculiar, remete um tanto Laura
Brown (a melhor personagemdo lindo livro As Horas, de Michael
Cunningham), a protagonista no acredita pertencer realidade em que
est inserida e se apoia na possibilidade de escapar de tudo isso
como um alento. Mais Dois Bbedos conversa de bar meio embaada, que
s deve fazer sentido mesmo porque estamos diante de dois seres
alcoolizados. Um Dia a Menos, sobre o dia definitivo e sobre como
as circunstncias que levam morte podem ser um tanto triviais. A
Bela e a Fera ou A Ferida Grande Demais, que d nome ao livro,
mostra uma linda mulher que descobre o lado primitivo que existe
dentro dela mesma.contos estruturas simples principais
caractersticas da prosa da escritora: o fraseado pungente, cortante
e intenso, grande motivao de Clarice: conhecer o ser humano, as
suas emoes e as suas idiossincrasias. Alm disso, temos tambm aquele
grande achado da Literatura de Clarice Lispector: o fato de que,
muitas vezes, diante das mais banais situaes de vida, diante de
algo que nem parece ser especial, chegamos ao momento de realizao
em que encontramos aquilo que somos. E isso ir bastar.
http://www.ufjf.br/darandina/files/2010/01/Marli-Silva-Froes.pdfhttp://manuscritica.fflch.usp.br/sites/manuscritica.fflch.usp.br/files/u8/2%20-%20A%20Constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20Mal-estar%20-%20Uma%20Leitura%20da%20G%C3%AAnese%20do%20Conto%20%27A%20Bela%20e%20a%20Fera%20ou%20%20A%20Ferida%20Grande%20Demais%27%20de%20Clarice%20Lispector.pdfxxxxDiog
de alteridadeHora da estrela novela publicada em 1977 e escrita na
forma de contraponto. De um lado, a histria da ingnua Macabea,
migrante pobre nordestina em luta pela sobrevivncia na grande
cidade; de outro, o drama do escritor e seu processo da escrita ao
retratar uma pessoa distante de seu universo socioeconmico e ser
capaz de se comunicar com ela: Tentarei tirar ouro do carvo, diz
ele. A moa alagoana, sensvel, sem recursos para lidar com os cdigos
urbanos numa cidade do porte do Rio de Janeiro, despreparada para
enfrentar a competio capitalista, sem atributos que lhe garantam
sucesso no mercado do amor e do trabalho, enfrenta a hipocrisia de
pessoas prximas. O namoro com o operrio Olmpico de Jesus Moreira
Chaves, nordestino como ela, no progride. Rude e vaidoso, ele
afinal de contas no v no relacionamento chances de ascenso social.
A colega Glria, por sua vez, espelho invertido da protagonista -
carioca safadinha e esperta, confiante de sua sexualidade e
feminilidade -, no hesita em ser desleal. O tom do livro oscila
entre a compaixo por um ser to frgil; a angstia diante de uma forma
de escrita incompetente para se comunicar com os miserveis; e a
ironia, anunciada no nome dos personagens. O percurso de Macabea,
de corpo sem atrativos e sem preparo profissional, desmascara a
crueldade humana e a brutal desigualdade social no Brasil. O
narrador Rodrigo S. M., mscara ficcional de Clarice Lispector, se v
como intruso ao traduzir ficcionalmente o sentimento de perdio no
rosto de uma moa nordestina. Conforme prefcio que escrevi para o
livro em 1990, o desafio do narrador escrever Macabea e a si mesmo.
O livro discute a linguagem a nvel filosfico, ao por em cheque a
palavra como meio de conhecimento; sociolgico, ao representar
conflitos de classe, com destaque para a funo do escritor e a
insero do nordestino na sociedade brasileira; e esttico, ao tratar
do gesto criador. A adaptao da obra para o cinema por Suana Amaral
direo obteve grande sucesso, protagonizada por marcela Cartaxo em
1985.2041Marco critica de forma digna e autnticaparafuso
indispensvel que ironiza, atravs decontnuas intruses no texto, o
estilo de narrativa que ele prprio utiliza. Coloca-seassim, pela
freqncia com que dialoga com o leitor sobre a construo da
narrativa,como uma das personagens centrais do romance. (busca de e
, a partir da migrao da alagoana Macabea para o Rio de Janeiro,
onde sobrevive trabalhando como datilgrafa, referencia a meu texto
no prefcio nomes dos personagens Alm da histria de Macaba,
encontramos no romance a histria de Rodrigo S. M., o narrador, e a
descrio do processo criativo (discurso metalingstico). Rodrigo e
Macaba no fazem parte do mesmo espao perifrico, esta por sua condio
de retirante e aquele por ser visto com maus olhos pela classe mdia
e no conseguir alcanar pessoas como Macaba.Toda a expresso do texto
para se explicar. Rodrigo acaba priorizando o relato dos recursos
textuais a falar de Macaba, que ironicamente s ganha papel de
destaque perto da hora de sua morte. nesse ponto que compreendemos
o significado do ttulo: A hora da estrela a hora da nossa morte,
pois, nesse momento, o ser humano deixa de ser invisvel s pessoas,
que percebem que ele existe apenas quando j no existe mais.Clarice
adota discurso regionalista em A hora da estrela, algo incomum em
suas obras. Atravs da personagem Macaba, a autora descreve uma
nordestina que tenta escapar da misria e do subdesenvolvimento,
abandonando Alagoas pela possibilidade de melhores condies de vida
no Rio de Janeiro. Clarice foi muitas vezes criticada por se
afastar da literatura regional emergente do modernismo.[1] Em A
hora da estrela, ela foge do "hermetismo" caracterstico de suas
primeiras obras e alia sua linguagem vertente regionalista da
segunda gerao do modernismo brasileiro. Na poca da publicao, o
crtico literrio Eduardo Portella falou do surgimento de uma "nova
Clarice", com uma narrativa extrovertida e "o corao selvagem
comprometido com a situao do Nordeste brasileiro".[1]A hora da
estrela uma obra-prima da literatura brasileira, principalmente,
pelas reflexes de Rodrigo sobre o ato de escrever, sua prpria vida
e a anti-herona Macaba.Num depoimento Tv Cultura de So Paulo,
Clarice refere-se ao livro como "a histria de uma moa, to pobre que
s comia cachorro quente. Mas a histria no isso, sobre uma inocncia
pisada, de uma misria annima." [2][3] Na mesma entrevista, Clarice
diz que usou como referncia para Macaba a sua prpria infncia no
nordeste brasileiro, alm de uma visita a um aterro onde nordestinos
se reuniam em So Cristvo. Ela diz ter sido neste aterro que ela
capturou "o ar meio perdido" do nordestino na cidade do Rio de
Janeiro.[2] Outra inspirao para a trama do livro foi uma visita que
Clarice fez a uma cartomante. Na poca, ela imaginou como "seria
engraado se na sada, ela fosse atropelada por um txi depois de
ouvir todas coisas boas que a cartomante previra.[2]A novela foi
escrita mo em diversos fragmentos de papel, a partir dos quais
Lispector, com a ajuda da sua secretria Olga Borelli, comps a verso
final do romance.[4] O livro foi publicado em 26 de outubro de
1977, pouco antes da autora ingressar no hospital do INPS da Lagoa,
no Rio de Janeiro.[5]1. a b Vieira, Nelson. "Jewish Voices in
Brazilian Literature: A Prophetic Discourse of Alterity", Pg
111-112, University Press of Florida, 1995 ISBN 0-8130-1418-2, ISBN
978-0-8130-1418-02. a b c Lerner, Jlio. Entrevista com Clarice
Lispector, televisionado originalmente na TV Cultura, filmado em
fevereiro de 1977.3. Esta entrevista est disponvel na internet, no
YouTubeem outras fontes. Dezembro de 20084. Cadernos de Literatura
Brasileira: Clarice Lispector. Rio de Janeiro:Instituto Moreira
Salles, 2004.5. Miguez, Cristina (10 de dezembro de 1977). A morte
de Clarice Lispector. Folha de So Paulo, Caderno Ilustrada. Pgina
visitada em 30 de dezembro de 2008., s voltas com valores e cultura
diferentes. Macaba leva uma vida simples e sem grandes emoes. Comea
a namorar Olmpico de Jesus, que no v nela chances de ascenso social
de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a para ficar com Glria
(colega de trabalho), cujo pai era aougueiro, o que sugeria ao
ambicioso nordestino a possibilidade de melhora financeira.Sentindo
dores constantes, Macaba vai ao mdico e descobre que tem
tuberculose, mas no conta a ningum. Glria percebe a tristeza da
colega e a aconselha a buscar consolo numa cartomante. Madame
Carlota prev um futuro feliz, que viria de um estrangeiro que ela
conheceria assim que ela sasse daquela casa, homem louro com quem
casaria. De certa forma, o que acontece: ao sair da casa da
cartomante, Macaba atropelada por uma Mercedes amarela guiada por
um homem loiro e cai no asfalto onde morre.
Agua Viva liquidez e fluxo so termos apropriados para traduzir a
escrita de si e a proposta de leitura desse livro publicado por
Clarice Lispector pouco antes de sua morte. "instante-j" expresso
que Clarice adota em gua viva, para nomear o seu mtodo-ertos modos
de subjetivao do feminino.A palavra a minha quarta dimenso.O
insight sobre a desficcionalizao na escrita de Clarice provm de Jos
Amrico Pessanha (carta de 5 de maro de 1972 prpria, sobre Objeto
gritante, livro depois publicado, em forma modificada, como gua
viva. Pessanha referese naquele ponto da obra de Clarice ao
movimento de "afastamento do universo artstico", a uma escrita
"a-literria", uma "no-fico", em que Clarice parece "querer rejeitar
os artifcios da arte". Minha hiptese que esse o mtodo de Clarice,
modificando-se e radicalizando-se com o tempo, mas presente desde o
incio. (Ver a citao de longos trechos da carta em GOTLIB, Ndia
Battela. Clarice. Uma vida que se conta. So Paulo: Editora tica,
1995: 404-406.Foi definido como "um denso e fluente poema em
prosa". Nele, aclamada, amaldioada, reprimida e expandida a vida.O
que o "it" por vezes a fuso do humano com o no-humano, e o clmax da
existncia e da significao. Esse clmax tambm existe no "eu" que
escreve a um "tu" indeterminado. Estes sujeitos tornam o romance
fluido, sem acontecimentos externos extravagantes. A nfase
tipicamente clariceana dada nos processos, exploses e descobertas
interiores. Ou em relaes entre pessoas ou coisas, alumbramentos e
deslumbramentos impulsionados por ocorrncias aparentemente
comezinhas.Clarice, com seu modo peculiar de escrita, cunha novos
sentidos semnticos para verbos. Por exemplo: ser, para ela, no
verbo de ligao; verbo intransitivo.Cria tambm comparaes originais,
como uma seqncia de adjetiva e caracterizao de flores, tal qual ou
at mesmo mais especificamente que humanos. Com o ritmo de fluxo de
conscincia, o leitor dignamente clariceano fica imerso no livro e
se v expresso nas pginas dele.
Camilo Osorioinsight sobre a desficcionalizao na escrita de
Clarice provm de Jos Amrico Pessanha, em carta de 5 de maro de 1972
prpria, sobre Objeto gritante, livro depois publicado, em forma
modificada, como gua viva. Pessanha referese naquele ponto da obra
de Clarice ao movimento de "afastamento do universo artstico", a
uma escrita "a-literria", uma "no-fico", em que Clarice parece
"querer rejeitar os artifcios da arte". Minha hiptese que esse o
mtodo de Clarice, modificando-se e radicalizando-se com o tempo,
mas presente desde o incio. (Ver a citao de longos trechos da carta
em GOTLIB, Ndia Battela. Clarice. Uma vida que se conta. So Paulo:
Editora tica, 1995: 404-406. gua viva, de Clarice Lispectorgua viva
um longo texto ficcional em forma de monlogo, que foi publicado
pela primeira vez em 1973,
O longo manuscrito "Objeto gritante", de 1971, elaborado por
Clarice Lispector a partir (ou atravs) de crnicas que haviam sado
na imprensa, e de textos de A legio estrangeira jamais foi
publicado no original. Ela o editou e reescreveu transformando-se
na obra gua viva (1973), em que radicaliza processos inovadores de
escrita de publicaes anteriores, inclusive quanto a Uma
aprendizagem ou o livro dos prazeres, em que exercitara enxerto de
textos jornalsticos.gua Viva, hbrido, sem enredo convencional, no
romance, poesia, dirio, ensaio filosfico, mas tem fragmentos de
cada um desses gneros. A autora desestrutura a forma romanesca,
numa narrativa fluida. Ideias e imagens se fundem e se transformam
em moto contnuo. A busca de conexo direta entre corpo, pensamento e
linguagem faz com que ela se expresse como quem pinta ou interpreta
msica fora do padro realista de representao. Pois no busca o
concreto ou o analgico como garantia de apreenso do real; ao
contrrio: a indefinio de categorias como cor, forma, palavra; a
prpria consistncia significativa do silncio; e o mistrio da criao
que a levam a romper fronteiras no mbito da narratividade e da
abordagem da existncia humana e da criao. Esse texto envolvente e
perturbador busca o improvvel: Msica de cmara sem melodia. modo de
expressar o silncio. O leitor levado a romper padres de leitura e a
aceitar as dissonncias e o movimento da voz enigmtica e feminina.No
livro, no h histria linear nem um tema central. H, sim, um mote que
provoca a escrita: o tempo, a quarta dimenso do instante-j,
sucedido por um instante-jamais, fugidio. O dito sempre fugaz. Para
apreender valores difceis como amor, morte, liberdade, solido,
religiosidade precisa que a linguagem mostre novas faces. Da a
palavra liquida, feminina, gua viva, que nutre e tambm queima. -se.
Sou-me. Tu te s. Novas conjugaes para novas percepes. Uma nudez de
si que incorpora transparncia e levitao, de um lado, e tambm o peso
do corpo e da alma. Porque at o que nico, e prprio da pessoa,
espanta: Antes do aparecimento do espelho a pessoa no conhecia o
prprio rosto seno refletido nas guas de um lago. Depois de certo
tempo cada um responsvel pela cara que tem. Vou olhar agora a
minha. um rosto nu. E quando penso que inexiste um igual ao meu no
mundo, fico de susto alegre. Nem nunca haver". (AV, p. 42).
Alexandre
instaurando "um novo estatuto do texto literrio" (Vilma
Aras).longo da reviso, elementos fundamentais ao projeto original
foram suprimidos: o hibridismo de gneros narrativos de diferentes
stati literrios, a heterogeneidade no nvel da linguagem de estilos
e de temas, e, acima de tudo, o carter autobiogrfico de "Objeto
gritante". Este breve ensaio apresenta "Objeto gritante" como obra
transgressora de certos valores ou decoros literrios estabelecidos
pela modernidade (cujo "gnero", sabe-se, masculino): a unidade de
composio, a transcendncia doautor/mundo emprico, as fronteiras
entre literatura e no literatura. Minha inteno examinar as
complexas decises que levaram Clarice Lispector a realizar e logo
abandonar este projeto literrio Neste livro, Clarice leva a
extremos a insurreio formal e a desestruturao da forma romancesca,
criando um gnero hbrico, marcado pela fluidez, pela aparncia
inacabada e inconclusa, produto da liberdade.mais parece uma srie
de anotaes.No existe enredo em gua Viva, prevalecendo a repetio dos
mesmos temas e o desfile de imagens multifacetadas, similares ao
jogo de variaes existente na msica. A circularidade est presente
desde a primeira at a ltima frase do livro: no h comeo, meio ou
fim. Trata-se de um texto para ser muito mais vivido do que lido,
no qual a sensibilidade aflora constantemente, em um fluir de
experincias vivenciadas de forma intensa. Clarice rompe com o
sistema, virando-o pelo avesso, revelando o indizvel, o "proibido".
a desconstruo e a desautomatizao da linguagem, ao decompor e
desmontar o prprio sistema de escrita, para tentar se libertar da
nusea de viver, atravs da palavra expressa em neologismos, de
construes inovadoras, da busca pelo sentido perfeito e por um
equilbrio entre forma e contedo, promovendo a exaltao do ser
interior, do sujeito superfragmentado e da passagem da crise
psicolgica angstia metafsica.a forte relao entre a pintura e a
literatura: como se ela precisasse captar o presenta ultrapassando
os limites da linguagem. A personagem uma pintora que escreve a
algum e fala constantemente de pintura, fazendo com que a respirao
de um trao ou de uma pincelada estejam concretamente na obra,
marcas fsicas de um trabalho. A msica vibra tambm por trs de seu
texto. H um cansao em relao palavra, essa palavra que nunca a
satisfaz.como em Um sopro de vida, Clarice Lispector oferece-nos
textos que se fazem prximos da experincia com o corpo, da
concretude do mundo. As reflexes partem sempre daquilo que est
sendo vivido.faz um relato narrativo de sua vida como pintora, onde
ela mesma se pergunta e responde sobre suas telas e as critica:
quando estranho uma pintura a que pintura". auto-crtica de sua obra
como pintora, j que nesse momento a escritora j era consagrada como
tal, mesmo que sempre muito criticada, e j se enveredara nas artes
plsticas. Em determinado trecho do romance, a autora se confunde
com a personagem, solitria pintora que se lana em infinitas
reflexes sobre o tempo, a vida e a morte, os sonhos e vises, as
flores, os estados da alma, a coragem e o medo e, principalmente, a
arte da criao, do saber usar as palavras num jogo de sons e
silncios.H inmeras passagens no livro que exemplificam a forma de
pintar, sofrida e dolorida, que metaforiza o prprio escrever de
Clarice, sempre buscando dizer o indizvel, ou seja, como a pintura
era vista num primeiro olhar ou leitura.Traz uma linguagem que no
se perde no tempo; ao contrrio, ricamente metafrica, em que coisas,
aes e emoes do dia-a-dia se transformam em grandiosas digresses
indagadoras sobre o sentido da existncia e da vida. Seguindo a
linha de caractersticas introspectivas de seus livros, Clarice
cria, em gua viva, uma obra singular, verdadeiro relato ntimo que
projeta em flashes, como num caleidoscpio, verdadeiros resumos de
estados de esprito em tom de confidncia, onde a subjetividade
sobrepuja o factual e a narradora responsvel pela cadncia do
texto.gua Viva apresenta um discurso onde os vazios so produzidos
pela interrupo da coerncia textual; esses espaos funcionam como
instrumentos impulsionadores da conscincia imaginativa do leitor;
no entanto, a autora utiliza um recurso tcnico de produo de texto
que direciona a articulao entre o discurso linear e um outro
discurso que, mesmo embutido no texto principal, se manifesta em
dissonncia com as unidades temticas.a vida. Como num exerccio
profundo, fala da tentativa de captar a quarta dimenso do
"instante-j", que de to fugidio no o mais porque agora tornou-se um
novo instante-j, que tambm no mais. Cada coisa tem um instante em
que ela . O que se fala, nunca o que se fala, e sim outra coisa.
Gira em torno de nascimento, amor, liberdade, solido, espelho, vida
secreta, prece, escurido, morte.Em gua Viva os temas nascem e se
repetem num jogo de variaes e fuga anlogo ao da msica. Assim como a
msica nada mais do que uma moldura para o silncio, uma maneira de
tornar perceptvel a ausncia do som, o texto de gua Viva um longo
adgio, um andamento lento e contnuo para alm das fronteiras da
palavra:Que msica belssima ouo no profundo de mim. feita de traos
geomtricos se entrecruzando no ar. msica de cmara. Msica de cmara
sem melodia. modo de expressar o silncio.Sob o aspecto da palavra
como um meio de expresso do silncio, gua Viva talvez seja o texto
mais perfeito de Clarice Lispector, pois ao mesmo tempo em que
constitui o auge do paradoxo que funda sua escrita (s atravs da
palavra que o silncio pode ser dito), tambm o momento de resoluo do
paradoxo, atravs da abdicao do desejo de relatar o mundo. O mundo,
ento, com tudo o que ele contm, passa a ser, simplesmente, sem
explicaes:-se. Sou-me. Tu te s.Conta o Gnesis que Deus plantou um
jardim ao leste do den, um jardim cheio de todo tipo de rvores
lindas de ver e que davam bons frutos para comer e, no meio desse
jardim, a rvore da vida. No den, continua o texto dizendo, nascia
um rio que regava o jardim e, dali se dividia em quatro braos
formando rios. Naquele jardim do leste havia flores estranhas,
dotadas de rara vitalidade: cravos agressivos, com um perfume de
algum modo mortal; eram de cor vermelha que berravam uma violenta
beleza, ou brancos que recordavam o pequenho caixo de criana
defunta. Havia tambm violetas introvertidas e profundas, que se
escondiam para poder captar o prprio segredo e diferena dos cravos,
no gritavam nunca seu perfume: Violeta diz levezas que no se podem
dizer. Naquele jardim podia-se ver tambm margaridas alegres, de
graa infantil, orqudeas antipticas, jasmins de mos dadas e
crisntemos de profunda alegria que falavam atravs de sua cor e de
seu despenteado porque o crisntemo flor que descabeladamente
controla a prpria selvageria. E havia tambm rosas cujo perfume
mistrio doido, que quando profundamente aspirado toca no fundo
ntimo do corao e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. assim
que Clarice Lispector nos descreve, em seu romance gua Viva, aquela
extraordinria florao do primeiro jardim, quando as plantas
respiravam livremente seguindo seus prprios impulsos, quando havia
cavalos soltos e, de noite, o cavalo branco rei da natureza lanava
para o alto ar seu longo relincho de glria, quando o tigre lambia
suas fauces aps ter devorado sua presa. Havia pssaros, nos diz a
autora, naquele lugar e, como msticos, levitavam com essa leveza
que d o desprender-se do cho para entregar-se a um ar carregado de
perfumes. E tambm um tronco luxurioso do qual esta mulher, que
passeia por essas extraordinrias folhagens da origem, afirma que
est ligado raiz que penetra em ns na terra.Poucas vezes temos a
oportunidade de descobrir em um livro semelhante beleza na descrio
de paisagens e de seres movendo-se em completa liberdade: to
intimamente embriagados de si mesmos que nada necessitam para
justificar sua existncia. Clarice Lispector escreveu esse pequeno
livro, que no chega a ter cem pginas, durante trs longos anos. Sua
primeira verso foi de julho de 1971 e teve como ttulo Atrs do
Pensamento. Monlogo com a Vida. Um ano mais tarde, Clarice decidiu
interromp-lo porque no estava conseguindo o que desejava transmitir
e, ento, j se referiu ao livro como Objeto Gritante. Em agosto de
1973, a Editora Artenova publicava esse original, bastante mais
reduzido, com o ttulo gua Viva. E gua Viva uma soma de fragmentos
tomados de uma e outra parte, de contos, de artigos previamente
publicados no Jornal do Brasil, onde a escritora trabalhou sete
anos, e, inclusive, de sua novela anterior, Uma Aprendizagem ou O
Livro dos Prazeres. Sua biografia nos faz notar tambm que a voz da
narradora do livro parece ser a mesma daquela de A Paixo segundo
G.H., apenas que em gua Viva se vale de um discurso que, se caminha
em fluxo, fluidamente, tentando captar a sua fonte primria. O texto
de Clarice convida a uma leitura como se esta fosse um ato de nadar
ou de deslizar sobre a gua. Leitura na gua porque o livro um
manancial de gua viva que brota como o pranto de um recm-nascido,
com sua vitalidade e sua inocncia; gua correndo, voz escapando,
abrindo sulcos no espao do silncio; alento, fludo sangneo
circulando no incerto, no imenso organismo do Universo. O texto uma
metfora em si mesmo, uma metfora que no metfora mas gua viva. A
tentativa da escritora no traduzir para uma linguagem uma
experincia, mas escrever com o mesmo gesto, com o mesmo alento
daquilo que quer expressar. No h traduo, h vida circulando em
ondas, como a gua e como a msica, como a melodia que poderia
interpretar um quarteto de nervos.A voz que nos fala em gua Viva,
entoa uma melodia do tempo, inscrita no silncio ou numa dura parede
de granito. Uma voz que bate ao compasso de um corao. Uma voz que,
igual que uma onda, se expande por um espao silencioso, onde, de
tempos em tempos, consegue transformar-se em palavra, em partcula
que no tardar a dissolver-se novamente em um mbito imenso e
mudo.Lendo um livro como gua Viva descobre-se que a voz humana no
to diferente do rugido de uma fera ou do bramir incontrolvel de um
mar encrespado: chega-se a saber que a palavra semelhante a essa
partcula nica que adquire todas as formas possveis, todas as
dimenses imaginveis para gerar a diversidade do mundo que
habitamos. O texto deste livro um jorro de partculas que emerge e
dissolve-se no vazio, fludo eltrico, seiva que sobe pelo duro
tronco de uma rvore, sangue que circula pelas veias de um organismo
vivo, manancial que nasce das entranhas da terra, vento que
percorre as cimas, grito que perfura os muros de carne que nos
isolam e uiva uma mensagem de vida com nossa voz.Verbete15
linhasLivro a livro resumo O lustre Maa no escuro primeri olivro
crita antonio candidoAlguma observao cirita da algumGnero no
romance gua viva ficoMarta AlkminO lustreCidade sitiada OKUma
aprendizagemAgua viva Sopro de vida Hora da estrela OKLegio
estrangeira OKOnde estives de noiteOKBela e a fera OKDescoberta do
mundo 24 novembroXxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
https://www.ufmg.br/nej/maaravi/artigoberta-latino.htmlPor
linhas tortas: o judasmo em Clarice Lispector - Berta Waldmana
forma simblica primordial, graas qual a relao homem/criao/criador
pode se manifestar. A ma, entretanto, no desvenda apenas a origem e
a importncia da norma, mas tambm e fundamentalmente a funo da
infrao.A matria viva da barata est alm da classificao puro/impuro,
o gro de vida de Mineirinho anterior sua existncia social e
histrica; ambos esto associados procura do neutro, espao que,
conforme se depreende dos textos de Lispector, existe em todos os
seres da criao. Essa procura supe sempre um recuo para a
anterioridade da forma, para o orgnico, para o estgio primeiro da
vida, que ainda no letra nem lei, apenas o mistrio do impessoal,
inabordvel pela palavra.e o homem e eles est inventariada em
Levtico 11:13, e certo que a autora a conhecia, uma vez que algumas
passagens desse livro aparecem citadas entre aspas, e outras vezes
sem as aspas. Se em A Quinta Histria18 h o empenho da narradora em
repelir com todas as armas esse inseto do espao domstico, no
romance, a narradora, apesar da repulso e do horror que ele lhe
provoca, identifica-se com sua misria de ente vivo e solitrio e o
pe na boca, maneira de uma hstia. Nesse exato momento de comunho,
ela comete uma dupla transgresso, tanto em relao tradio judaica,
quanto em relao crist.A idia do animal impuro que deve ser repelido
reiterada numa narrativa que a autora destina criana, onde se l:
"por exemplo: tenho baratas. E so baratas muito feias e muito
velhas que no fazem bem a ningum. Pelo contrrio, at roem a minha
roupa que est no armrio".19A, as baratas, associadas a traas, devem
ser repelidas e combatidas, pois no haver mundo isento de impureza
se o homem renunciar eliminao dos animais portadores da fora
maculante. A lio teolgica est contida, exatamente, no movimento de
eliminao do animal, j que macular espaos, coisas e homens reduz o
lugar da divindade e, portanto, da salvao. Convm lembrar que se a
ideia atual de impuro est subsumida aos cuidados com a higiene e ao
respeito s convenes que nos so prprias, a impureza um critrio usado
por antroplogos para classificar as religies em primitivas e
modernas. No primeiro caso, as prescries relativas ao sagrado e
impureza seriam inseparveis; no segundo, as regras relativas
impureza desaparecem da religio, sendo relegadas cozinha, ao
chuveiro, aos servios de saneamento, medicina etc. A observncia dos
preceitos, positivos e negativos, tem a sua eficcia, porque pode
trazer a prosperidade ou o perigo, assentando na noo de santidade
divina que os homens devem alcanar em sua prpria vida.20 Mas,
retornando narrativa de Lispector, nota-se que ela contm um
elemento perturbador: "tenho pena das baratas porque ningum tem
vontade de ser bom com elas".21E prossegue: "Elas s so amadas por
outras baratas, anunciando sua capacidade de amor. Assim, no prprio
centro da impureza pode manifestar-se um sentimento puro, como o
amor. Ento, como agir? Seguir s cegas o imperativo bblico ou
coloc-lo em questo? O caminho da escritora ser o do questionamento
dos preceitos e no o da obedincia, embora muitos animais impuros
sejam tambm trucidados ao longo de sua obra. "Eu me sentia imunda
como a Bblia fala dos imundos. Por que foi que a Bblia se ocupou
tanto dos imundos, e fez uma lista dos animais imundos e proibidos?
por que se, como os outros, tambm eles haviam sido criados? E por
que o imundo era proibido? Eu fizera o ato proibido de tocar no
imundo".22 radical, no romance A Paixo segundo G.H., a transgresso
da autora, porque ela deslocar para o inseto nfimo e impuro a
imagem de Deus, fazendo que o pequeno e o finito contenham o
infinito, que o impuro possa conter a pureza, e os fios que
vinculam o pequeno e o grande confluam na comunho do neutro, matria
comum a todos os seres, representada na massa pastosa da barata
esmagada."(...) quero o Deus naquilo que sai do ventre da barata
mesmo que isto, em meus antigos termos humanos, signifique o pior,
e, em termos humanos, o infernal.23 A pergunta que fica : ser que a
inflexo bblica (que soa, s vezes, em falsete) presente no estilo de
Lispector uma armadilha, "maneira necessariamente sonsa de se
apresentar uma viso profana, dessacralizada" da realidade, como
quer Amrico Pessanha?24 Ou ser que se poderia pensar que, no
obstante o desacordo constitutivo do modo de ser da autora que
adelgaa a norma, ope-se escrita legitimada por uma tradio, ainda
assim mantm-se um vnculo, um lao, que faz eco a essa tradio?
Mas sentimentos so gua de um instante. Herclito
, retoma textos anteriores?. A autora retoma tpicos de
narrativas anteriores, como a ambientao urbana e o espao domstico.
A crueldade um tpico abordado em dois textos com muita surpresa. .
Na pgina que precede a segunda parte, intituladaFundo de gaveta,
l-se:Nas edies que se seguiram, incorporaram-se incorrees que
procuramoscorrigir nesta edio, cuidadosamente confrontada com a
primeira.Marlene Gomes Mendes
Clarice Lispector aborda o cotidiano familiar, a perversidade
infantil e a solido. Como apontou o escritor Affonso Romano de
SantAnna na introduo de uma antiga edio do livro, para Clarice
Lispector importa mais a geografia interior. "Ao invs de tipos
picos e dramticos, temos figuras situadas numa aura de mistrio,
vivendo relaes profundas dentro do mais ordinrio cotidiano",
escreveu. "Mais do que as aventuras, interessa-se por descrever a
solido dos homens diante dos animais e objetos."
Entre os contos destaca-se Viagem a Petrpolis, escrito quando
Clarice tinha apenas 14 anos. Neste, a precoce escritora narra a
absurda solido de uma velhinha que, sem lugar para morar, empurrada
de uma casa para outra. E o leitor perceber em Os desastres de
Sofia uma histria de transparente sensibilidade, em que a autora
aborda a perversidade infantil por meio do relacionamento de uma
aluna com seu professor. Mensagem fala sobre dois estudantes, que
tentam no se ver como homem e mulher. S quando ela vai embora que o
rapaz percebe que j um homem e v a colega como uma mulher.
A vulnerabilidade dos animais diante dos homens, e vice-versa,
est presente em A quinta histria, Macacos e ainda em A legio
estrangeira. Como tambm apontou Affonso Romano de SantAnna, a tenso
nos contos de Clarice surge da oposio Eu X Outro, que pode ser um
animal, uma criana ou uma coisa. "Dessa tenso que surge a epifania,
a revelao de uma certa verdade."
Academia - Autores Clarice Lispector Autoria - Orientao - Grau -
Local - Data ROCHA, Ftima C. Dias Antonio C. Secchin Dr. UFRJ 2000
Ttulo: Quando a morte a vez: imagens do sertanejo na fico
brasileira; de Euclides da Cunha a Clarice Lispector Sinopse:
Caracterizao do discurso litero-antropolgico: traos, manifestaes,
contradies; estudo das diferentes figuraes do par intelectual /
indivduo no citadino, no mbito do discurso litero-antropolgico;
nesse mbito, exame das estratgias de representao / problematizao da
identidade do homem sertanejo e investigao das ambigidades
relativas ao binmio morte/auto-reconhecimento.
___________________________________________ Autoria - Orientao
-Grau - Local Data BAYMA, Silvana Eldia Xavier Ms. UFRJ 2000 Ttulo:
A interveno de Clarice Lispector no romancesco brasileiro Sinopse:
Tendo com parmetro o carter revolucionrio que est na gnese do
romance, o presente estudo investiga tenses recorrentes e
intertextuais no romance de Clarice Lispector, capazes de revelar
solues narrativas encontradas por essa obra de autoria feminina
para problematizar o monologismo sobre o qual se instauram as bases
da cultural patriarcal do ocidente.
___________________________Autoria - Orientao - Grau -Local Data
KAHN, Daniela M. Regina Lucia Potieri Ms. USP 2000Ttulo: A via
crucis do outro. Aspectos da identidade e da alteridade na obra de
Clarice Lispector.Sinopse: A principal idia exposta nesta dissertao
que tanto a forma como o contedo do texto de Clarice Lispector
obedecem a uma configurao em que os limites entre mesmo e outro no
esto claramente definidos. O primeiro captulo, que analisa o conto
A Quinta Histria, enfoca a questo da plasticidade da forma do texto
clariciano, mostrando como este oscila entre o rigor formal e o
rechao das convenes de gnero. O segundo captulo tenta rastrear,
analisando uma srie de textos curtos, os modos de representao do
outro, desde as identificaes mais primitivas do mesmo passando pelo
reconhecimento da diferena do outro, at a representao do outro
excludo pela sociedade. Finalmente enfocada a questo do espao
social do outro atravs do estudo das relaes entre "autor(a)",
"narrador", "personagens" e "leitor" no romance A Hora da Estrela.
O objetivo mostrar como a prpria forma do romance tematiza a questo
da falta de espao social proposta pelo mesmo.
_________________________________________Autoria - Orientao - Grau
- Local - Data BELTRO F, Maria da C. S. Rita T. Schmidt Dr. UFRGS
2004Ttulo: Aurum alchymicum clariceano: um olhar hermtico sobre o
texto de Lispector Sinopse:
____________________________________Autoria - Orientao - Grau -
Local - Data GONZALEZ, Yhana M.R. Mrcia Hoppe Navarro Dr. UFRGS
2006 Ttulo: Descentramentos e Umbrais: um sopro de vida (Pulsaes),
de Clarice Lispector Sinopse: Partindo da considerao geral de que a
obra de Clarice Lispector constitui uma totalidade mltipla formada
por diversas partes de um conjunto narrativo nico, propomo-nos
fazer um corte virtual e nos determos na leitura de Um sopro de
vida (Pulsaes), obra pstuma publicada em 1978. Observando nela uma
aguda conscincia da linguagem entendida como forma de conhecimento
e autoconhecimento veiculada pela experincia literria, partimos
assim da reflexo da linguagem como logos e sobre a realidade como
representao que se constri na linguagem. Nossa hiptese orienta-se
para mostrar que a obra de Clarice Lispector estabelece com a
tradio platnico-aristotlica uma relao descontnua e por isso muito
mais prxima das tradies filosficas orientais, principalmente do
budismo. Retomando uma das reflexes de Jaques Derrida, observamos
ento como a obra desta escritora parte de um centro para provocar
um descentramento, alcanando assim um novo estatuto do discurso sem
fonte, sujeito ou centro absolutos, partilhando com os mitos o seu
carter de palavra reveladora e epifnica. Esses descentramentos,
presentes em boa parte do pensamento platnico e aristotlico,
desaparecem posteriormente da superfcie do pensamento ocidental
mantendo-se submersos na literatura. precisamente ali onde se
depositam as imagens, mitos, metforas e toda a grande variedade das
formas atpicas e descentradas do conhecimento, nas quais a obra de
Clarice Lispector encontra um lugar privilegiado. Partindo dessa
considerao, propomos que a obra desta escritora estabelece um logos
fronteirio, intersticial, intervalar, que encontra no limes, no
umbral, o lugar de sua emergncia. Nesse umbral o logos adquire uma
relevncia ontolgica: em Clarice Lispector o logos o ser. Assim,
segundo mostramos na leitura de Um sopro de vida (Pulsaes), atravs
desse logos fronteirio que o pensamento atinge aquilo que somos
atrs do pensamento, uma verdade indizvel e incomunicvel. Essas
colocaes nos conduzem atravs do pensamento oriental at a filosofia
do budismo: analisando cada uma das partes de Um sopro de vida
(Pulsaes) desde o ttulo, as epgrafes e a prpria estrutura da
narrativa, a ltima parte do trabalho estuda especificamente seus
pontos de encontro com o clssico do budismo tibetano conhecido como
O livro tibetano dos mortos.
___________________________________________Autoria - Orientao -
Grau - Local - DataOLIVEIRA, Margibel A. de Simone P. Schmidt Ms.
UFSC 2000Ttulo: Corpos em xtase: um estudo de amor, de Clarice
Lispector e Felicidades, de Katherine Mansfield Sinopse: O objetivo
deste trabalho estudar os contos "Amor", de Clarice Lispector e
"Felididade" de Katherine Mansfield, a partir da observao do
cotidiano das personagens Ana e Berta. Ao investigarmos a
experincia das protagonistas vemos que elas esto inseridas em um
contexto histrico e social, o qual nos permite destacar algumas
particularidades relacionadas aos seus comportamentos. Em um dia
especial, na rotina destes sujeitos, vemos surgir manifestaes
singualares, as quais configuram aquilo que consideramos ser o tema
central deste trabalho: o estudo do xtase.
________________________________________________Autoria - Orientao
- Grau - Local - Data PEREIRA, Mrcia Viana Fabio Luis L. da Silva
Ms. UFSC 2001Ttulo: Mosaico Clariceano: A Entrelinha Rompendo a
Casca da Palavra Sinopse: A obra de Clarice Lispector j foi
esmiuada sob a perspectiva da linguagem. Muitos estudiosos se
debruaram sobre seus labirintos de sentidos buscando acompanhar
mais de perto a batalha entre palavra dura, coisificada e o
instante fugidio, o significado por entrelinhas. Na apresentao
mostro o ponto de partida das minhas indagaes situado em uma
distante graduao em antropologia quando estudei loucura e mscaras
sociais. No entanto o conceito de mscaras sociais no d conta do
cotidiano desesperador reinante nos hospcios. E me pergunto se,
questionando o conceito de normalidade, posso estar sendo parte
ativa na luta por uma melhoria das condies de atendimento e
entendimento desse outro de quem nos afastamos. Acredito que
Clarice Lispector faz parte do pequeno exrcito dos que buscam um
mundo mais largo, onde possamos nos acomodar melhor em companhia
uns dos outros. No primeiro captulo fao um apanhado dos trabalhos
crticos em torno da linguagem como campo de batalha para os
significados. No segundo captulo apresento o dionisaco nietzscheano
e sua concepo de verdades mentirosas. No terceiro captulo recorto
alguns textos de Clarice e me arrisco a relacion-los ao conceito
dionisaco. Concluo me perguntando sobre as possibilidades abertas
pela escrita de Clarice, procurando por entre os escombros dos
sentidos convencionais deixados pela prosa da escritora. Clarice
rejeita as convenes de sentidos, buscando dar vida entrelinha.
Atravs desse entrelinha possvel vislumbrar um descarrilar de
certezas. _____________________________________________Autoria -
Orientao - Grau - Local - Data MAGALHES, Luiz A.M. Suzi Franki
Sperber Dr. UNICAMP 2002 Ttulo: Clarice Lispector e os jardins da
razo: lugar-comum e reconstruo da experiencia.Sinopse: Nos textos
da escritora Clarice Lispector h, com freqncia, um movimento de
afastamento do lugar-comum, dos clichs e esteretipos cristalizados
nos papis sociais, alojados nas falas de personagens e narradores,
no prprio discurso literrio. Tal afastamento do lugar-comum por
vezes assume tons de rompimento com o trivial banalizado. Nele h
uma rejeio em relao aos filmos de um mundo tcnico e alienado que se
ergueu s custas de um afastamento da natureza e da ciso com dados
da experincia. No contexto da fico clariceana, o lugar-comum que
embota e automatiza a vida das pessoas e a vida nas palavras, vai
estar fortemente entrelaado com os movimentos de um pensamento de
vis cartesiano, no que este traz de ciso com a ordem natural e de
desencantamento, de rejeio dos mitos e crenas, de rompimento com a
experincia e dados sensveis.O eixo central deste trabalho composto
pela interpretao dos matizes do percurso de afastamento e
reaproximao dos laos sociais imersos no lugar comum, percurso que
compreende questes como l)alargamento perceptivo; 2)retomada de
traos rituais de um misticismo no dogmtico; 3) reencantamento do
mundo; 4) reconstruo da experincia. Procuramos realizar tal leitura
atravs de recursos e conceitos da teoria da narrativa e teoria da
literatura, aliados a dados de outras disciplinas das cincias
humanas, como a antropologia, sociologia, etc. O processo
interpretativo se deu pela articulao de quatro noes tericas
principais, sendo elas afocalizao (G.Genette), a desautomatizao (V.
Chklosvi), o dialogismo (M. Bakhtin) e a (perda da) experincia (
Walter Benjamin). No corpus do trabalho esto o romance A ma no
escuro, contos dos livros Laos de famlia e Felicidade clandestina,
e crnicas de A descoberta do mundo. Vrias outras obras da autora tm
aspectos observados a partir do estudo dos textos centrais
selecionados. _______________________________________________
Autoria - Orientao - Grau - Local - Data SILVA, Flavia T. X. Vilma
Sant'Anna Areas Dr. UNICAMP 2004Ttulo: Molduras para o vazio : duas
obras de Clarice Lispector Sinopse: Detendo-se sobre A paixo
segundo G.H. e A hora da estrela, ambos de Clarice Lispector, este
texto analisa algumas variaes do impasse que se delineia no
primeiro romance da autora, Perto do corao selvagem, a saber: a
diviso das personagens, dos narradores, e dos prprios textos, entre
?viver? e ?saber que se est vivendo?. O ?saber que se est vivendo?
conecta-se ao que diz respeito ordem simblica. O ?viver? aponta
para aquilo que escapa tal ordem e resta enquanto indizvel,
enquanto vazio. Configurado o ncleo problemtico, so trs os
principais escopos do meu texto: reler A paixo segundo G.H. e A
hora da estrela luz comparativista; estabelecer um dilogo com a
fortuna crtica que provoque o deslocamento de algumas posies
cristalizadas e visite determinadas lacunas; marcar os pontos de
homologias e diferenas com algumas obras de Virginia Woolf. A
tentativa de articulao entre os textos delimita questes caras tanto
para Lispector e para Woolf, quanto para o romance moderno. So
elas: a perda de uma identidade fixa de personagens e narradores e
a conseqente diviso e evanescncia dessas figuras; a opacidade da
linguagem e uma angustiada indagao sobre a possibilidade de
simbolizao do real, uma possvel melancolizao da decorrente; a
fragmentao e a multiplicidade de pontos de vista; a formulao atravs
de paradoxos e contradies e tambm a funo que a literatura assume
nesse quadro de crise da linguagem. Tendo como prisma de leitura a
psicanlise lacaniana e como interlocuo a fortuna crtica, proponho
uma moldura que evidencie os traos singulares que os textos
claricianos, e woolfianos, emprestam s questes mencionadas
____________________________________________ Autoria - Orientao -
Grau - Local - DataPEREIRA, Nilo Carlos Walter Carlos Costa Ms.
UFSC 2003 Ttulo: Filosofia e Fico: o ser em o Drama da Lingugem, de
Benedito Nunes Sinopse: O respeito trabalho analisa o princpio do
ser na crtica de Benedito Nunes, mas especificamente no livro O
drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector, mostrando as
influncias do pensamento filosfico no mtodo crtico deste autor.
____________________________________________Autoria - Orientao -
Grau - Local - Data SILVA, Acir Dias da MIlton Jos de Almeida Dr.
UNICAMP 2004Ttulo: Ana e MariaSinopse: pesquisa sobre arte,
imagens, memrias e traduo artstica. Constitui-se de desejos e
tentativas de construir significados a partir do conto ?amor? de
Clarice Lispector. Para Tanto, levamos em considerao suas
ramificaes no mundo da memria e, consequentemente, desdobra-se em
significados para o vdeo. Nesse sentido, a literatura, a Bblia e as
imagens do cinema so mananciais da pesquisa, pois exploro as
significaes medida que tento traduzir as linguagens em som e imagem
em movimento. ____________________________________________Autoria -
Orientao - Grau - Local - Data STEFENS, Adriana Ins M. Maria Jos
P.G.P Ms. PUC/SP 2008 Ttulo: O dilogo de alteridades na escritura
de A paixo segundo G.H., de Clarice LispectorSinopse: presente
dissertao tem por objetivo analisar o romance A Paixo segundo G.H.
(1964) de Clarice Lispector. Partimos da hiptese de que a narradora
personagem, identificada apenas pelas iniciais G.H., ao relatar sua
via crucis existencial relata tambm, atravs de um discurso
plurissignificativo, sua experincia como escritora-escultora. Nesse
modo de escrever, trabalha metforas que podem ser lidas e
comparadas, ao ato de escrever indagativo e aos efeitos produzidos
pela escritura epifnica. A personagem G.H., aps tomar conscincia de
sua existncia, est apta a narr-la e dar-lhe a forma de experincia
epifnica. Ela precisa da forma escritural, para compreender,
prender e formalizar a realidade. Escrever, para ela, uma tentativa
de dar forma quilo que experimentou (a barata) e pela escritura
(forma), reviver e dar-lhe a iluso do sentido potico. G.H. fala
sobre a paixo segundo ela mesma, razo pela qual analisamos o
discurso da narradora como uma escritura amorosa de Eus, carregada
de pathos de um Eu que escreve. A experincia da alteridade pode ser
percebida na contraposio de G.H. em relao ao outro, representados
na figura de Janair, da barata, do interlocutor imaginrio, a quem
ela pede a mo para trabalhar, juntos, sua escultura-escritura. A
experincia exotpica e o contato com o olhar do outro que
proporcionam o momento epifnico vivido autora-herona, portanto, as
experincias da alteridade e epifania esto interligadas e
interdependentes funcionalmente. Mas, somente a experincia da
escritura consegue promover acabamento tico e esttico experincia
vivida. O tema tratado em PSGH nasce da tenso entre o dizer e o
como escrever, materializando o drama da linguagem em ato
escultrico, escritura vivenciada por G.H, em ato de espera de uma
forma final. O primeiro captulo sob o ttulo Um modo de escrever:
jogo de alteridades, aborda a narrativa como uma escritura em sua
especificidade formal. O captulo II trata A experincia da escritura
de alteridades clariceana, em desencontro com o contedo,
transformado pela forma escultrica, na qual todo o processo
narrativo autor-herona-leitor dela co-participa. Ainda neste
captulo abordada a questo da A epifania esttica da forma-contedo,
gerada pelo tempo epifnico que ganha a forma-contedo desejada pela
herona-autora e pela autora-escultora da forma artstica do relato
da alteridade. A narradorapersonagem perscruta sobre o sentido e o
limite da palavra potica, portanto, o relato da narradora G.H. a
pura manifestao concreta da forma de uma conscincia esttica.
Ressaltamos que, para analisarmos os efeitos produzidos pelo
discurso amoroso recorremos, em particular, s obras de Roland
Barthes e concepes levantadas pela palavra crtica e tradutora de
Leyla Perrone- Moiss.
____________________________________________Autoria - Orientao -
Grau - Local - Data FONSECA, Ailton S.S. Edgar de Assis C. Dr.
PUC/SP 2007 Ttulo: A odissia de si: reconstruo do homem em Clarice
LispectorSinopse: A obra de Clarice Lispector abriga uma complexa
cosmoviso de mundo e de homem. Sua literatura um mergulho profundo
e introspectivo nos mistrios da condio do ser. Em suas tramas as
coisas esto sempre se fazendo. Suas narrativas so errticas como
seestivessem em busca da origem ou dos princpios das coisas. Nessa
busca, a escritora se depara com a inominvel e misteriosa beleza do
ser, com a complexa condio humana que est para alm dos rigores
disciplinares e racionalizaes. Esta tese uma reflexo aberta ao
outro, ao dilogo sobre a condio humana na obra de Clarice
Lispector. Parte do romance A ma no escuro porque nele que,
acreditamos, podemos melhor perceber o homem inaugurando a odissia
de si mesmo. Martim, o protagonista, esse homem a partir do qual
ser possvel passear pela obra da escritora e dialogar com outros
personagens criados por ela. Martim um personagem arquetpico. Esse
romance considerado, aqui, um romance-ncleo, no qual o sujeito vive
o problema antropolgico de se refazer pela raiz, de se tornar o que
. A tese, portanto, est organizada em torno das experincias de
Martim, esse personagem cujas experincias se apresentam de forma
contnua e descontnua.
____________________________________________Autoria - Orientao -
Grau - Local - Data Jos da Costa Filho Dr. USP 2006 Ttulo:
Dramaturgia por outras vias: a apropriao como matriz esttica do
teatro contemporneo - do texto literrio encenaoSinopse: O presente
trabalho procurou conciliar a reflexo terica sobre o fenmeno da
\"apropriao\" de textos literrios para o palco, tomando como ponto
de partida a leitura cnica dos seguintes textos da literatura
brasileira: Um Sopro de Vida (1978) de Clarice Lispector e A Fria
do Corpo (1980) de Joo Gilberto Noll, ambos conduzidos ribalta
pelas encenadoras Nadja Turenko e Celina Sodr, respectivamente.
Dentro da proposio terico-prtica, buscamos aprofundar, suplementar
e, quando possvel, substituir o conceito de \"adaptao\",
terminologia que consideramos inadequada aos fenmenos teatrais aqui
abordados. Fez parte do nosso propsito, desde o incio da pesquisa,
realizar a anlise crtico-descritiva dos ndices de teatralidade
contida nos universo literrio dos autores, bem como refletir acerca
do posicionamento das leitoras-encenadoras frente s suas opes,
escolhas e recortes diante dos extratos literrios. Procuramos
ainda, contribuir, a partir dos estudos sobre essas experincias
para um melhor e mais abrangente conceito de \"dramaturgia\", assim
como refletir sobre os limites e as fronteiras entre a linguagem
literria e a linguagem cnica sem separ-las de antemo, mas
percebendo-as em seus territrios verbal e visual, fuso altamente
presente nos processos que partem dessa via, premissa e
procedimento. ___________________________________________Autoria -
Orientao - Grau - Local - Data LIMA, Angela F. Fernanda Maria A.C.
Ms. UFCE 2007 Ttulo: Representaes do feminino em Laos de Famlia de
Clarice LispectorSinopse: Este trabalho o resultado de uma pesquisa
que objetivou investigar as representaes do feminino, no livro Laos
de Famlia (1960), da escritora Clarice Lispector. A partir da
pesquisa bibliogrfica, registramos a histria social da mulher e da
famlia e o percurso histrico das representas do feminino na
literatura, desde a antiguidade at os dias atuais, destacando na
produo da escrita feminina contempornea, no Brasil, a escritora
Clarice Lispector e seu modo especial de elaborao da linguagem,
para mostrar a pertinncia de nosso trabalho: Representaes do
feminino em Laos de Famlia, de Clarice Lispector, atravs da anlise
dos seguintes contos: "A menor mulher do mundo", "Uma galinha", "A
imitao da rosa", "Devaneio e embriaguez de uma rapariga", "Os laos
de famlia" e "Feliz aniversrio".
____________________________________________Autoria - Orientao -
Grau - Local - Data PEREIRA, Carlos A. R. Olga de S Ms. PUC/SP 2006
Ttulo: Alteridade e silncio em A paixo segundo G. H de Clarice
LispectorSinopse: Este estudo tem por principal finalidade
focalizar, em A paixo segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector,
determinadas manifestaes da alteridade presentes nesta obra,
destacando o papel que exercem como pressupostos da construo
identitria da personagem. Inicialmente, sob o ponto de vista dos
outros que se posicionam exteriormente protagonista, destacam-se
aqueles que a ela se equivalem, socialmente falando, os quais,
exatamente por esse fato, aceitam sem nenhuma contestao a imagem de
si mesma que G.H. apresenta. Por outro lado, Janair, a empregada de
G.H., por no compartilhar o mesmo espao social e a mesma viso de
mundo da personagem, assume uma posio de questionamento em relao
aos valores cultivados pela patroa e a tudo o que ela parece ser,
tornando-se dessa maneira uma espcie de antagonista e relevando
aspectos de G.H. que ela mesma no conhecia. Em seguida, o trabalho
se volta para a autografia como meio pelo qual a personagem
evidencia um outro indivduo que ela mesma, pois, ao tomar a deciso
de narrar a sua prpria histria, a personagem atinge, como autora, o
devido distanciamento necessrio compreenso dos fatos de grandeza
epifnica, a ela sucedidos, como personagem, no dia anterior. Nesse
momento em que a narrativa atua como instrumento de decifrao de sua
experincia interior, a personagem passa a assimilar o silncio como
elemento significativo do processo cuja culminao ocorre
inesperadamente no encontro com uma barata. Os objetos primordiais
dessa pesquisa, portanto, so: a alteridade vista sob diferentes
prismas a auto-escrita como forma de entendimento de fatos
inicialmente desconexos e o silncio, considerado como elemento
significativo na trajetria interior da
personagem____________________________________________Autoria -
Orientao - Grau - Local - Data TEIXEIRA, Csar Mota Alcides C.O.
Villaca Dr. USP 2007 Ttulo: Narrao, dialogismo e carnavalizao: uma
leitura de " A hora da estrela" , de Clarice LispectorSinopse: Esta
tese um estudo analtico-interpretativo do romance A Hora da
Estrela, de Clarice Lispector. Com base nas teorias de Mikhail
Bakhtin, explicitam-se os elementos dialgicos que estariam na base
da composio do romance final de Lispector. Por dialogismo,
entendem-se as vrias interaes crtico-pardicas que o narrador
Rodrigo S.M, persona masculina criada pela autora, estabelece com
outros discursos no processo metaliterrio que embasa a construo da
narrativa. Entre estes discursos, a anlise d especial ateno pardia
que o narrador faz de diferentes formas narrativas e dramticas,
entre as quais se destacam o romance de folhetim, o melodrama, o
romance regional, o romance social e o romance psicolgico. O tom
dialgico-pardico dominante na obra permite detectar traos de
carnavalizao usados como arma de crtica e denncia social. No mbito
desta carnavalizao, destaca-se a presena de mscaras ancestrais da
arcaica romanesca retomadas e atualizadas por Lispector, em
especial as mscaras do tolo, do bufo e do trapaceiro, personagens
arquetpicos que, oriundos do solo da cultura popular, teriam
importante papel na consolidao do romance como gnero
fundamentalmente voltado para a representao/encenao crtica de
discursos (ainda segundo Bakhtin). Analisam-se tambm algumas
crnicas de Lispector consideradas importantes para a compreenso da
figurao do \"personagem tolo\" sem sua ob