UNIVERSIDADE DE CABO VERDE
DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CAMPUS PALMAREJO
LICENCIATURA EM ENSINO DE FILOSOFIA
CINCIA E RELIGIO NAS PERSPECTIVAS DE BERTRAND RUSSEL E HANS
KNG
ORIENTANDA: VERA PATRCIA ANDRADE RODRIGUES
ORIENTADOR: PROFESSOR, MESTRE, RUI MANUEL DA VEIGA PEREIRA
PRAIA, JUNHO DE 2015
ANO LECTIVO 2014/ 2015
UNIVERSIDADE DE CABO VERDE
DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CAMPUS PALMAREJO
LICENCIATURA EM ENSINO DE FILOSOFIA
CINCIA E RELIGIO NAS PERSPECTIVAS DE BERTRAND RUSSEL E HANS
KNG
ORIENTANDA: VERA PATRCIA ANDRADE RODRIGUES
ORIENTADOR: PROFESSOR. MESTRE, RUI MANUEL DA VEIGA PEREIRA
PRAIA, JUNHO DE 2015
ANO LECTIVO 2014/ 2015Trabalho cientfico apresentado
Universidade de Cabo Verde (UNICV), como requesito parcial, para a
obteno do grau de Licenciatura em Ensino de Filosofia, sob orientao
do Prof. Mestre, Rui Manuel Da Veiga Pereira.
Trabalho Cientfico:
Cincia e Religio nas perspectivas de Bertrand Russel e Hans
Kng.
Elaborado por:
Vera Patrcia Andrade Rodrigues
Orientado pelo:
Prof. Mestre, Rui Manuel Da Veiga Pereira
Aprovado pelos membros do Jri, e homologado pelo Conselho
Cientfico aos ___/___/___.
O Jri
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Praia, aos ______ de ______________ de 2015
DedicatriaDedico este trabalho, especialmente, minha me, Maria
Andrade Vieira, e ao meu filho, Marco Henrique Andrade Miranda.
AgradecimentosNa realizao do trabalho deste gnero so sempre
muitas as pessoas a quem agradecer, sem as quais no seria possvel a
sua concretizao. No s durante a realizao desse trabalho, mas
durante o percurso da minha formao, tive muitas mos cmplices
envolventes. Sendo assim, no poderia deixar de agradec-las uma vez
que, sem tais apoios e mos amigas no alcanaria esta meta.
Eis o momento to esperado, onde poderei manifestar a minha
profunda gratido a todos aqueles, que contriburam para este
trabalho tornasse uma realidade. Assim, fico eternamente,
grata:
A Deus, e minha querida me, por me terem dado vida e investir na
minha educao no veradeiro sentido da palavra, onde a fora e coragem
no me faltaram, para enfrentar todos os desafios, que tm surgido ao
longo desta caminhada
Assim, queria agradecer a meu orientador, Professor Mestre Rui
Manuel Pereira da Veiga, pela orientao e pela pacincia, que teve
comigo, pela colaborao, pelas ideias e pela cumplicidade e pelo
fornecimento de uma vasta e preciosa fonte bibliogrfica, que me
facilitou realizao deste trabalho. Cmara Municipal de So Domingos
por ter disponibilizado a bolsa de estudos sem a qual a minha
Licenciatura seria impossvel.Aos meus pais, que sempre me apoiaram
e me deram nimo para que levasse esse barco a bom Porto.
Ao, querido e amado pai do meu filho Natalino Miranda Varela
pela pacincia de J, que teve comigo, oferecendo toda
disponibilidade e apoio durante o processo de formao.Queria tambm
agradecer aos meus irmos, Jossemar Rodrigues, Melany Varela, Celene
Tavares, Snia Tavares, Kielidy Rodrigues por estarem sempre
disponveis para ajudar no que eu precisasse e, por estarem
dispostos a cuidarem do meu filho para que eu pudesse realizar o
meu trabalho.s minhas tias Clarice Andrade Vieira, Filomena Andrade
Vieira e Amlia Andrade Vieira por me terem apoiado com o que podiam
durante esse longo e rduo percurso. Enfim, a todos que de forma
directa ou indiretamente apoiaram os meus estudos s resta dizer
muito obrigado a todos.ResumoCom a temtica Cincia e Religio nas
perspectivas de Bertrand Russel e Hans Kng procuramos demonstrar ou
mesmo descobrir qual posio da cincia perante a religio, nas
perspectivas de Bertrand Russell e Hans Kng. Queremos demonstrar
qual a posio desses dois autores perante a cincia e a religio,
questes que historicamente tm provocado enmeras controvrsias e
debates, pois representam dois dos grandes sistemas do pensamento
humano. A religio sempre foi a influncia predominante na conduta do
homem e a cincia interfere directamente na vida do homem, pelo
menos, h dois sculos; no o faz a um nvel intelectual como a religio
o faz, mas a um nvel prtico, atravs da tecnologia. Desde o caso
Galileu, Cincia e Religio se opuseram e, muitas vezes,
confrontaram-se por causa das direes dos seus olhares: uma em direo
a este mundo e a outra em direo a outro mundo. A cincia tem como
objecto de estudo os fenmenos naturais e a religio, a relao do
homem com Deus ou Sagrado. Porm, a questo decisiva que colocamos se
essa relao que as liga conflituosa como argumenta Bertrand Russell
ou harmoniosa como sustenta Hans Kng? Desta, inferimos estas
outras: no h um lado cientfico da religio e um lado religioso da
cincia? Quais so os reais impactos da cincia e da religio na
sociedade? Qual a importncia do dilogo entre as religies para a
poca da sociedade civil mundial em que vivemos?PALAVRAS-CHAVE:
cincia; religio; Deus; conhecimento; dilogo; possibilidade de
verdade. cincia cabe dizer como vai o cu, e religio como se vai ao
cu.Galileu Galileindice
5Dedicatria
6Agradecimentos
8Resumo
10ndice
18Captulo I: A relao objectual e metodolgica entre cincia e
religio
181. Diferena e proximidade objectual entre a Cincia e a
Religio
212. Natureza da experincia religiosa e da experincia
cientfica
243. O mtodo cientfico, a crena e a possibilidade da verdade
284. Cientificidade da religio e a religiosidade da cincia
31Captulo II: A relao entre a cincia e a religio: perspectivas
histricas
311. A antiguidade: onde a Cincia e a Religio se confundem
372. Idade Mdia: So Boaventura e a Reduo das Cincias
Teologia
413. Idade Moderna: Criacionismo, filosofia mecanicista e
evolucionismo
514. Cincia e a Religio hoje: um dilogo (que continua a ser)
possvel?
56Captulo III: A natureza conflituosa entre a cincia e a religio
em Bertrand Russell.
561. Cincia, Religio e filosofia em Russell
592. Eventuais Contribuies da Cincia e da Religio para a
Civilizao
643. A Revolta da Cincia contra a Filosofia e as novas questes
ticas da cincia
674. A razoabilidade do Cepticismo e as questes ltimas da
existncia humana
69Captulo IV: Acerca das relaes entre a cincia e a religio em
Hans Kng
691. A religio e os critrios ecumnicos da verdade
712. A importncia da Religio para um ethos mundial
733. Hans Kng e o imperativo do dilogo cientfico e
espiritual
754. Como a Cincia descobre os seus limites e a religio tem
necessidade da Cincia.
79Concluso
82Referncias Bibliogrficas
IntroduoA dificuldade em abordar a questo das relaes entre a
cincia e a religio que a sua explicao exige que se obtenha,
partida, alguma ideia clara do que se quer dizer com os termos
"religio" ou "cincia". Temos de compreender o tipo de conexo, que
existe entre as duas esferas e s depois tirar, ento, algumas
concluses especficas a respeito da situao, que os contemporneos
enfrentam.Ao falar da cincia e da religio no podemos deixar de
salientar que as crenas inscritas nos mitos, nas religies ou na
cincia, tm semelhantes objectivos, que passam por fornecer
respostas s perguntas que o nosso esprito no deixa de exigir. No
deveriam estar em contradio, nem mesmo em oposio, nem mesmo devem
ser confundidas, porque se situam em planos diferentes. Talvez, uma
se pronuncia sobre a natureza do universo e dos seres, e a outra,
descobre o que eles so e como foi a sua evoluo.
O conflito entre cincia e a religio o que naturalmente ocorre
nossa mente quando pensamos nesse assunto, mas tambm para o crente
natural a harmonia entre as duas actividades. Durante a ltima
metade de sculo XX, os resultados da cincia e as crenas da religio
chegaram a uma posio de evidente desacordo, do qual no pode haver
escapatria, excepto pelo abandono ou do claro ensinamento da cincia
ou do claro ensinamento da religio. Quando consideramos o que a
religio como a cincia so para a humanidade, no h nenhum exagero em
dizer que o caminho futuro da histria depende do que esta gerao
decidir quanto s relaes entre uma e outra. Nessa concluso,
insistiram os defensores representantes de cada um dos lados.
Encontramos, por exemplo, filsofo Bertrand Russel e telogo Hans
Kng, que so o foco deste trabalho.O conflito entre a cincia e
religio teve dois confrontos srios. Segundo Guy Lazorthes, o
primeiro confronto deu-se, no sculo XVI, quando se realizou uma
grande viragem das concepes cosmolgicas com os filsofos gregos
pr-socrticos no seu gesto de desmitologizao, e a consequente busca
racional do princpio de todas as coisas. O segundo teria sido
quando Nicolau Coprnico publicou a famosa De Revolution ibusorbium
coelestum, (1453) na qual declara que no o sol que gira em torno da
terra, mas o inverso. Essa teoria foi confirmada por Galileu e
Isaac Newton, que foram homens da cincia, mas tambm crentes.
Sempre existiu um conflito entre religio e cincia e, tanto
religio como cincia sempre estiveram em estado de contnuo
desenvolvimento. Nos primeiros tempos do cristianismo, havia uma
crena geral entre os cristos de que o mundo estava chegando ao fim,
exactamente, no perodo da existncia das pessoas, que ento viviam. S
podemos tirar inferncias indirectas sobre at onde essa crena era
autorizada, mas o certo que era amplamente aceite e que formava uma
parte considervel da doutrina religiosa popular. Houve tempos em
que essa relao se caracterizou pelo triunfo da religio sobre a
cincia como aconteceu na longa Idade Mdia, e tempos em que, nessa
relao, sobressaiu a cincia e a tcnica como foram os perodos do
iluminismo e a contemporaneidade, embora esta seja tambm
caracterizada por um certo regresso da religio esfera pblica.A
questo das relaes entre a cincia e religio foi alvo de ateno de
autores como Bertrand Russel e Hans Kng, dois filsofos
contemporneos, que representam bem as duas possibilidades, conflito
e harmonia, inscritas nessa dialctica. Bertrand Russel foi durante
a sua vida, um escritor fecundo, e alguns de seus melhores
trabalhos se encontram em pequenos opsculos, segundo o estilo dos
filsofos analticos, como a sua obra Porque no sou cristo. Em relao
religio so poucas as coisas conhecidas, por ele publicadas.
Classifica a relao entre a cincia e a religio como um conflito
permanente e insupervel. Segundo Russell, a cincia e a religio so
dois aspectos da vida social, e a religio tem sido importante, pois
remonta aos nossos conhecimentos da histria espiritual do homem,
enquanto a cincia depois das vicissitudes da sua existncia entre os
gregos e os rabes, de repente, tomou importncia no sculo XVI, e,
desde ento, tem modelado progressivamente as ideias e as instituies
em que vivemos. A religio um fenmeno complexo, que tem
simultaneamente aspectos individuais e sociais ou colectivos. As
religies mais antigas de que temos conhecimento eram as mais
sociais, que individuais, isto , tinham espritos poderosos, que
castigavam ou premiavam toda a tribo conforme os membros
individuais da tribo tinham um comportamento ofensivo ou agradvel.A
religio crist oferece queles que a aceitam, confortos que so
dolorosos de abandonar, uma vez que a crena desvanece. Uma crena em
Deus e na vida eterna torna possvel atravessar a vida com um grau
menor de coragem estoica do que a que necessria aos cpticos. Na
medida em que apela ao medo, a religio contribui para um
aviltamento da dignidade humana. Quando tomada realmente a srio, a
religio implica considerar o mundo em que vivemos como sem
importncia quando comparado com o prximo, levando por essa via
defesa de prticas, que do origem, aqui na terra, a um grande saldo
de infelicidade maior no cu. Russel diz que entre a religio e
cincia havia um conflito prolongado, que at os ltimos anos, a
cincia sempre saiu vitorioso.
A cincia surgiu sculos e sculos depois da religio, mas tem
tomado a posse das situaes onde a religio tem perdido gradualmente
a guerra. A religio explicava as coisas de uma forma fictcia e
dubitvel enquanto a cincia poderia trazer coerncia e distino com
mtodos baseados na experimentao e observao, saindo da esfera do
senso comum e do bsico. Russell fala-nos das contribuies da cincia
para a civilizao onde ele diz que, de uma certa forma, a religio
contribuiu para que tenhamos uma sociedade estvel e ao fim de um
estdio em que as pessoas tinham medo de ser castigadas por um ser
superior. Ao abordar essa questo, Russell diz que a religio como
uma doena nascida do medo como uma fonte de indizvel sofrimento
para a raa humana. Ajudou, nos primeiros tempos, a fixar o
calendrio, e levou os sacerdotes egpcios a registrar os eclipses
com tal cuidado que, com o tempo, foram capazes de prediz-los.
Abordando a questo das contribuies da cincia para a civilizao,
podemos mencionar primeiro a teoria heliocntrica de Galileu.
Encontramos ainda, Isaac Newton com sua a teoria gravitacional. So
exemplos de que a cincia trouxe enormes contributos para a
civilizao, conduzindo os homens para uma explicao racional baseada
na observao e na experimentao. A cincia trouxe contribuies
extraordinrias para a civilizao, na medida em que, hoje, por
exemplo, as epidemias podem ser controladas, a taxa de mortalidade
infantil pode ser diminuida e controlada para no dizermos que foi
praticamente erradicada, a produo planificada e massiva contribui
para a reduo da fome no mundo, e existem muitos outros exemplos que
mostram que a cincia trouxe contribuies positivas para a civilizao.
Porm, trouxe tambm contribuies negativas. Alm de Russell,
encontramos tambm Hans Kng, que o outro foco deste trabalho, com as
interessantes consideraes sobre a cincia e a religio. Hans Kng (19
de marode1928) umtelogosuo,filsofo, professor deteologia, que ainda
se encontravivo. Kng desenvolveu as suas reflexes ticas a partir do
apelo a um dilogo entre a cincia e a religio em nome de uma paz
entre elas. Como telogo cristo, mostra como no h incompatibilidades
entre a religio e a cincia, particularmente, na Ps-Modernidade.Este
estudo quer, a partir do mago destas suas reflexes, perceber os
seus pontos de proximidade com as possibilidades ps-modernas.
Segundo este pensador do projecto de uma tica mundial, no haver
sobrevivncia sem uma tica mundial. No haver paz no mundo sem paz
entre as religies. E sem paz entre as religies no haver dilogo
entre as religies. Como justificativa, ele diz tratar-se de uma
heursticadas transformaes actuais caracteriadas pela nova constelao
geral, que requer uma ethos mundial.Kng claro ao afirmar que os
tempos actuais como os da Ps-Modernidade exigem uma tica mundial
capaz de fazer face ao mundo globalizado. Vrias so as coordenadas e
caractersticas desse novo mundo, que se esboa, de novo, um macro
paradigmae que se caracteriza por uma nova constelao geral,que est
a exigir novas condutas das religies e das prticas polticas
transnacionais. com base nesses argumentos, que vamos desenvolver
esse trabalho cuja estrutura a seguinte: O captulo I um intitula-se
A relao objectual e metodolgica entre a cincia e a religio. Visa
mostrar a relao que existe entre as duas esferas no que tange ao
objecto de estudo e metodologia de investigao. Ser construido
atravs de anlise dos seguintes tpicos: 1. A diferena e a
proximidade objectual entre a cincia e a religio onde vamos mostrar
onde se diferem e onde se aproximam quanto ao objecto de estudo; 2.
Natrureza da experincia religiosa e da experincia cientfica onde
tentaremos mostrar que falar da natureza da experincia religiosa
falar das suas formas de manifestao e da forma como ela encarada,
enquanto a experincia cientficaconsiste naobservaode umfenmenosob
condies, que o investigador pode controlar e verificar
objectivamente; 3. Mtodo cientfico, a crena e a possibilidade de
verdade onde analizaremos a questo, at que ponto o mtodo cientfico
e crena tm a possibilidade de alcanar a verdade, uma vez que so
duas esferas que usam mtodos diferentes e actuam em campos
distintos. 4. Cientificidade da religio e religiosidade da cincia
onde iremos discutir em que medida possvel uma cincia da religio e
a religiosidade da cincia, dando continuidade ao carcter de
proximidade das suas abordagens. O captulo II intitula-se A relao
entre a cincia e a religio: Perspectivas Histricas. Visa mostrar
como a cincia e religio se relacionam, ao longo dos tempos, visto
que as interaes entre cincia e religio so variadas e complexas,
tanto historicamente como na atualidade. Esta anlise ser feita com
base nos seguintes tpicos: 1. A antiguidade: onde a Cincia e a
Religio se confundem. Neste item argumentaremos que a cincia e a
religio na antiguidade se confundiam no mtodo de estudo e na forma
de alcanar o conhecimento da natureza; 2. Idade Mdia: So Boaventura
e a reduo das cincias teologia onde vamos falar do porqu, na Idade
Mdia, se considerava que todas as cincias deviam ser conduzidas ou
reconduzidas teologia. 3. Idade Moderna: Criacionismo, Filosofia
Mecanicista e Evolucionismo. Aqui, vamos demonstrar que foram vrias
correntes, que surgiram com a expectativa de dar uma explicao
diferente na explicao da origem do mundo, mas vamos referir apenas
ao criacionismo, filosofia mecanicista e ao evolucionismo, para
mostrar como estas vrias teses cosmolgicas tentam conciliar estas
teorias, atravs da argumentao de que Deus ter criado o mundo, cujas
leis nele imprimiu, passando este, a partir de ento a evoluir pelas
leis prprias, i., mecanicamente; 4. Cincia e Religio Hoje: um
Dilogo (que continua a ser) possvel? Neste item, vamos mostrar se
entre as duas esferas to distintas, e com uma evoluo extraordinria
da cincia, hoje, se possvel um dilogo ou mesmo uma conciliao entre
ambas. O modelo de conflito, como chamado s vezes, da relao entre a
cincia e a religio costuma ser o primeiro que as pessoas se lembram
quando pensam nessa duas teses, mas h quem sempre viu uma unidade
profunda entre elas.O captulo III intitula-se: A Natureza
Conflituosa entre a Cincia e a Religio em Bertrand Russell. Visa
mostrar como Russell descreve o conflito entre a cincia e a religio
atravs de anlise dos seguintes tpicos: 1. Cincia, Religio e
Filosofia em Russell onde partindo de Russell, argumentamos que a
cincia e a religio so dois aspectos da vida social dos quais a
religio tem sido importante, trazendo conhecimento da histria
espiritual do homem, enquanto a cincia, aps as vicissitudes da
existncia entre os gregos e os rabes, de repente, tornou-se
importante no sculo XVI, e desde ento tem vindo a moldar as ideias
e as instituies em que vivemos e a filosofia algo intermedirio
entre a teologia e a cincia; 2. Eventuais Contribuies da Cincia e
da Religio para a Civilizao. Neste item vamos mostrar como a
religio e como cincia tiveram influncias na formao do carcter dos
povos ocidentais, dado que a base da nossa moral foi construda
pensando num castigo e numa recompensa por um ser superior; 3. A
revolta da Cincia contra a filosofia e as novas questes ticas da
Cincia. Aqui, vamos mostrar como a cincia veio introduzir novas
formas de pensamento, novas formas de explicar as coisas com base
nos factos, com base na experimentao e observao. O que podemos
dizer que a cincia veio desviar a ateno para questes prticas,
desviando a ateno das questes teolgicas; 4. A razoabilidade do
Cepticismo e as novas questes ltimas da existncia humana. Aqui,
discutiremos a questo da existncia do mundo, da existncia de um ser
superior, criador de tudo e da prpria existncia humana como
questes, que sempre intrigaram o homem e o fizeram procurar provas
factuais, o que levanta problemas como o do fundamento e do
primeiro princpio, o que faz com que as cincias reencontrem a
religio. Por isso, falaremos da posio do cepticismo e das questes
ltimas da existncia humana. O cepticismo argumenta que no possvel
afirmar sobre a verdade absoluta de nada, sendo por isso, preciso
estar em constante questionamento, sobretudo, em relao aos fenmenos
metafsicos, religiosos e dogmticos. Se no nos permitido afirmar ou
negar ou negar a existncia de Deus convm mantermo-nos razoveis
perante essas questes.O captulo IV intitula-se: Acerca das relaes
entre a Cincia e a Religio em Hans Kng e visa mostrar como Kng
relaciona as duas teorias explicativas, a cientfica e a religiosa,
atravs de anlise dos seguintes tpicos: 1. A Religio e os critrios
ecumnicos da Verdade onde vamos mostrar como a igreja foi e at
tenta ser a nica possuidora das verdades universais e que as suas
verdades no podem ser contestadas e, com isso, vamos mostrar qual a
viso de Kng em relao a essa temtica; 2. A Importncia da Religio
para um ethos mundial com base no pensamento de Kng. Neste item,
vamos mostrar como Hans Kng, defende a importncia da Religio para
uma tica mundial, pois como argumenta para que possa existir uma
paz mundial h que haver a paz entre as religies, se tivermos em
conta que um dos temas, que mais interpelou a reflexo teolgica na
primeira dcada deste milnio o papel das religies nos processos de
estabelecimento da paz, da justia e da sustentabilidade da vida; 3.
Hans Kng e o imperativo do dilogo cientfico e espiritual onde
procuraremos mostrar que tanto a cincia e a religio so
indispensveis vida humana, e nesse sentido, que Kng diz que
precisamos simultaneamente, do dilogo espiritual das ordens
religiosas, dos monges, das freiras e dos leigos que, de cientistas
que possuam no s cada vez mais conhecimentos bsicos de carcter
quantitativo e estatstico, mas igualmente conhecimentos profundos
de natureza histrica, tica e religiosa. A transmisso de
conhecimentos, sem valores de referncias, induz em erros. 4. Como a
Cincia descobre os seus limites e a religio a necessidade da
Cincia. Com este item pretendemos mostrar como ambas as esferas
descobrem nos seus limites, aquilo de que, primeira, estariam
separadas: a cincia descobre os seus limites quando no consegue
explicar algo ou quando recorre ao postulado do fundamento
enigmtico e primeiro do factos e das coisas, por exemplo, a
existncia de Deus, criador do universo, e a religio necessita da
cincia, na medida em que tem de recorrer cincia, para alcanar uma
explicao racional dos fenmenos e factos religiosos.Como metodologia
utilizada neste trabalho para atingir os objectivos definidos,
adaptaremos essencialmente, recolha e tratamento de dados
bibliogrficos e outros documentos, internet.
Para a realizao deste trabalho usarei o mtodo interpretativo e
analtico das obras dos autores em questo (Bertrand Russell e Hans
Kng) e dos mais variados autores os quais vo ser referidos durante
o desenvolvimento do trabalho. Captulo I: A relao objectual e
metodolgica entre cincia e religioEntre a cincia e religio existe
uma relao complexa. Pode demonstrar-se as influncias, que a religio
tem sobre o desenvolvimento cientfico enquanto o conhecimento
cientfico e vice-versa. Historicamente, a cincia tem tido uma relao
complexa com a religio, porque tem causado efeitos
sobrecrenasreligiosas que pem em causa a credibilidade e a
razoabilidades destas. O que podemos ver claramente que a religio e
a cincia, inevitavelmente, competem pela autoridade explicativa
sobre a natureza darealidade, de forma que a religio est
gradualmente perdendo a competio contra a cincia, ao passo que as
explicaes cientficas tornam-se mais poderosas e gerais. Nesta
perspectiva, comeamos com a anlise do primeiro tpico intitulado: 1.
Diferena e proximidade objectual entre a Cincia e a ReligioA
religio s estuda o homem na sua relao com o sagrado, mas o seu
conceito central o de deus/sagrado. A cincia estuda os fenmenos ou
factos naturais passveis de verificao e s estuda o homem enquanto
sujeito desse conhecimento. A religio e a cincia diferem-se no
mtodo e nos objectos de estudos. A viragem para o sujeito como um
ponto de partida de toda a reflexo filosfica e posterior fixao
interesse no comportamento religioso do homem, assim como a
importncia do renascimento d a religies pags antigas, juntos, em
grande parte, com o aumento do conhecimento das religies crists a
partir da idade de descoberta de estranho novos continentes e pases
fez o material religioso armazenado ao longo do tempo, crescer em
propores enormes, alegando formas de estudos inescapveis comparao e
gesto sistemtica de conhecimentos histricos.Veio ento, a cincia da
religio a ser uma cincia emprica normativa, que tenta compreender
as religies da humanidade existentes actualmente ou passado, com
uma maior abertura e objectividade, analisando na ntegra, as
manifestaes histricas e atuais da religio, bem como os seus
relacionamentos entre as amostras e cultura, sociedade, poltica e
economia. No so poucas as pessoas, que vm na palavra "Religio" algo
como uma doutrina, um sistema primitivo conhecimento, que ento
comparado com a cincia moderna no mesmo nvel. E muitas vezes, a
religio considerada como um sistema de conhecimento, que responde s
mesmas perguntas, que a cincia tenta responder. O resultado que
entre a cincia e a religio se estabeleceu uma relao de concorrncia
em que os sistemas cognitivos lutam entre si. como nos diz J.
Schmitz:Por enquanto a cincia avana de acordo com o pressuposto que
s podem ser conhecidos os fenmenos intramundanos, que por sua vez
se fundam exclusivamente em condies e causas intramundanas, a
religio admite pelo contrrio, que existe uma realidade
supra-sensvel e supramundana, que influencia os eventos mundanos,
que realmente define o natural, a realidade humana e social. As
relaes de concorrncia entre estes dois sistemas so cognitivas.
(SCHMITZ, J., 1984:37).
A religio e a cincia tambm fornecem uma explicao simples da
secularizao. O sistema primitivo do conhecimento humano, que
frequentemente associado religio ultrapassado pelo sistema mais
progressista a cincia. Muitos, simplesmente, reconhecem que as duas
instituies lidam com domnios diferentes da experincia humana. A
cincia investiga omundo natural, enquanto a religio lidaria com o
espiritual e o sobrenatural,portanto, as duas poderiam ser
complementares. O pensamento religioso e o pensamento cientfico
perseguem objetivos diferentes, mas no opostos. A cincia procura
sabercomoo universo existe e funciona desta maneira.
Areligioprocura saberporqueo universo existe e funciona desta
maneira. Os conflitos entre a cincia e a religio produzem-se quando
um dos dois pretende responder de forma exclusivista s questes
atribudas ao outro. Da, podemos ver, as suas proximidades que
residem no facto de ambos estarem a procura da resposta sobre mesma
realidade, e diferem no mtodo escolhido para alcanar tal
conhecimento. A cincia tem como objecto de estudo os fenmenos
naturais enquanto a religio tem como objecto Deus. A cincia tem um
mtodo mais convicente e racional. A cincia deve ser encarada como o
eptome da racionalidade humana. Fornece-nos conhecimento atravs do
seu mtodo emprico distintivo. Com a glorificao da cincia, a religio
tem parecido to diferente que em geral ela perdeu o estatuto de
nica possuidora da verdade. Como nos diz Roger Trigg:
Estabeleceu-se um forte contraste entre a f e a razo e a implicao
tem sido que sempre que o mtodo cientfico se aplicou a um exame das
reivindicaes de que qualquer religio, elas definharam. (TRIGG,
R.,1998: 85).Da, podemos dizer que no domnio da cincia esto os
factos, coisas sobre as quais os seres humanos concordaram e
puderam ser verificados atravs dos procedimentos das cincias fsicas
(observao e experimentao) enquanto a religio uma rea de enmeras
controvrsias e desacordos insolveis e mostra-se, d ceerto modo,
incapaz de conseguir a verdade de modo consensual, alis, facto
tambm to frequente na cincia. Perante o desenvolvimento do
conhecimento cientfico, a religio expressa apenas atitudes para com
o mundo em vez de dizer o que dizer como o mundo. Est limitada
esfera de valores, e pode revelar o que pensamos ser importante,
mas ao agir assim diria algo sobre ns e no sobre o mundo; no traz
nada de distinto sobre a realidade, uma vez que uma reivindicao
estaria imediatamente sujeita a uma elaborao lgica pelos processos
da cincia. Na cincia, a referncia a algo de transcendente ou
sobrenatural ficaria ento fora e o que no acessvel cincia no pode
existir. A cincia e a religio diferem-se na forma de alcanar e
mostrar a verdade, embora sejam complementares, porque respondem a
questes diferentes, ou seja, a cincia pode dizer-nos o como e a
religio o porqu. Trigg defende, por isso, que as crenas cientficas
so apoiadas pelas evidncias e obtm resultados. No sucede o mesmo
com os mitos e as fs. A teologia enfatiza frequentemente, que Deus
no apenas mais uma causa entre muitas, tal como Ele no apenas um
objecto entre muitos. A cincia e a religio tm de reisitir tentao de
ultrapassar os seus territrios especficos, embora possam dialogar
uma com a outra.Porm, de se notar que a questo da relao entre a
cincia e a religio foi colocada em forte contraste, como veremos
com a anlise da posio russelliana, porque a relao entre a cincia e
a realidade tem sido cada vez mais questionada. Embora cincia
mantenha uma considervel autoridade intelectual, a sua base
filosfica tornou-se mais problemtica. Podemos dizer que a cincia e
a religio so dois aspectos distintos, que procuram explicar a
realidade utilizando meios diferentes e que possuem naturezas
diferentes, formas de manifestao e campos de aco distintos. Em
relao natureza da experincia de cada uma delas, vamos clarificar no
tem que se segue intitulado:2. Natureza da experincia religiosa e
da experincia cientfica
A essncia da experincia religiosa uma certa relao com o Sagrado
baseada na experincia pessoal (subjectiva) Para a experincia
religiosa, o que conta o seu lado interior, como facto psicolgico e
interioridade, pois no se pode perceber directamente a partir do
exterior, mas essencial para a religio, ou seja, falar da natureza
da experincia religiosa falar da sua forma de manifestao e da forma
como ela encarada a partir de uma dimenso muito pessoal. como
refere Schmitz:
Diferente do que ocorre com o lado exterior e perceptvel da
religio, na vivncia religiosa, o que essencial o seu lado interior
que, como um fato psicolgico, no pode ser percebido diretamente a
partir do exterior, mas que essencial religio. A vivncia religiosa
(= religio subjetiva) e as formas de expresso religiosa
determinadas pela tradio (= religio objetiva) entrelaam entre si e
constituem a religio. Segue-se que a experincia religiosa, com a
sua singularidade baseia principalmente numa relao objectiva, e
permite apenas uma escolha: ou preciso avali-la como uma experincia
especfica, em que h um objeto experimental independentemente da
experincia, ou deve ser entendida como uma experincia ilusria.
Perante a avaliao da experincia religiosa deve-se ter em conta as
ideias que fizeram a psicologia da percepo e a anlise experimental,
porque tais estudos tm destacado que a deciso se a experincia
religiosa representa uma verdadeira experincia ou se no passa a ser
uma iluso que voc no pode tomar referindo-se apenas a essa
experincia. Isto deve ficar claro antes de completar a descrio de
experincias fundamentais, que acompanham a experincia religiosa.
(SCHMITZ, J., 1984:56).
A experincia religiosa pode ser entendida como conceitos de
quadro de referncia perceptual, uma vez que pretende ter como o
objecto de conhecimento, o divino, uma primeira condio que
contextualiza como o dado, que entra no processo de percepo.
Segundo Stark (1965) citado por Geraldo Jos de Paiva, a experincia
religiosa uma das cinco dimenses da religio, que inclui
sentimentos, percepes e sensaes, que afetam a pessoa ou que so
definidos por um grupo religioso como implicando alguma comunicao,
por tnue que seja, com uma essncia divina, isto , com Deus
entendido como realidade ltima e autoridade transcendente. Como nos
diz William James, das caractersticas da vida religiosa, destaca-se
a variedade da experincia religiosa que se caracteriza pelas
seguintes crenas:
Que o mundo sensvel faz parte de um universo mais espiritual do
qual retira o seu principal significado; que a unio ou a relao
harmoniosa com esse universo mais elevado o nosso verdadeiro fim;
que a orao ou a comunho interior com esse esprito- seja esprito de
Deus ou lei um processo em que o trabalho realmente executado e a
energia espiritual ocorre para dentro e produz efeitos, psicolgicos
ou materiais, dentro do mundo fenomenal. (JAMES apud TALIFIERO, C.,
2003:197).Para melhor percebemos a experincia religiosa, podemos
mostrar vrias categorias da experincia religiosa descritas por
Charles Talifiero como a Experincia Interpretativa onde as pessoas
encaram uma experincia como religiosa, no devido a quaisquer
caractersticas invulgares da prpria experincia, mas por ser
encarada luz de um enquadramento interpretativo religioso anterior.
O exemplo comum, que podemos tirar desse tipo de experincia, por
exemplo, quando uma pessoa sofre com uma doena durante a velhice e
diz-se que ele est a pagar o pecado pelas maldades, que fez durante
a vida, ou ainda, quando um filho faz zomba de mimos com os pais e
algo de ruim lhe acontece, diz-se que foi a praga dos pais. Ou
seja, acreditam que as coisas desse mundo esto impregnadas de
divino, encaram um acontecimento como vontade de Deus e pensam que
um acontecimento o resultado de uma prece. Ainda podemos citar como
um exemplo forte da experincia religiosa, o que a cincia veio a
explicar mais tarde. Por exemplo, quando uma me tem um a espcie de
pressentimento, que o filho est a correr perigo e as pessoas dizem
que foi Deus quem lhe avisou, mas a Experincia cientfica veio
mostrar, que durante a gravidez a me desenvolve uma substncia
atravs da qual mantm uma ligao com o filho, mesmo quando este for
adulto. O mais intrigante que em nenhuma das experincias temos uma
prova da interveno divina, mas crenas. Um terceiro tipo tem a ver
com as Experincias quase Sensoriais em que o elemento principal uma
sensao fsica cuja alegada percepo a de um tipo normalmente
apreendido por uma das modalidades dos cincos sentidos, como por
exemplo, a viso e sonhos, vozes, a sensao de estar a ser tocado,
etc. So experincias, que contam com presena de um ser sobrenatural,
que esteve presente sob qualquer forma, para dar conselhos ou pedir
algo. Existem ainda as Experincias Reveladoras englobam convices
sbitas, revelao. Pode parecer que descem sobre o sujeito crente,
vindos do nada. Existem ainda as Experincias regenerativas, que so
as mais frequentes entre as pessoas vulgares, ou seja, pessoas que
no so msticas, profetas ou mdiuns.As experincias religiosas s so
diferentes no facto de que as pessoas, que alegam t-las tido so
muito numerosas. Relativamente a este assunto, R. Dawkins cita Sam
Harris dizendo que este no estava sendo cnico, em excesso, quando
escreveu em The end of faith [O Fim da f]:Temos nomes para as
pessoas que tm muitas crenas para as quais no h justificativa
racional. Quando suas crenas so extremamente comuns, ns as chamamos
de "religiosas"; nos outros casos, elas provavelmente sero chamadas
de "loucas", "psicticas" ou "delirantes" [...] Claramente, a
sanidade est nos nmeros. E, mesmo assim, apenas um acidente da
histria o fato de ser considerado normal em nossa sociedade
acreditar que o Criador do universo capaz de ouvir nossos
pensamentos, enquanto uma demonstrao de doena mental acreditar que
ele est se comunicando com voc fazendo a chuva bater em cdigo Morse
na janela de seu quarto. Assim, se as pessoas religiosas no so
generalizadamente loucas, suas principais crenas absolutamente o
so. (DAWKINS R., 2007:99).
A experincia cientfica a experincia de um mundo profano
(natural), de factos positivos (objectivos), que podem ser
verificados, objectivamente compartilhado, investigado e
experimentado. Uma vez que sua singularidade baseada principalmente
em sua relao objectiva, permite apenas uma alternativa ou deve ser
avaliada como uma experincia especfica, em que h um objecto
experimental independentemente da experincia, ou deve ser entendido
como uma experincia ilusria. A experincia cientfica a da prova. Em
relao a este assunto Alan Chalmers di-nos ainda mais:
As teorias cientficas so derivadas de maneira rigorosa da obteno
dos dados da experincia adquiridos por observao e experimento. A
cincia baseada no que podemos ver, ouvir, tocar etc. Opinies ou
preferncias pessoais e suposies especulativas no tm lugar na
cincia. A cincia objetiva. O conhecimento cientfico conhecimento
confivel porque conhecimento provado objetivamente. (CHALMERS, A.,
1993:23).Da, podemos fazer uma certa diferena entre a experincia
religiosa e a experincia cientfica: a experincia religiosa no pode
ser provada objectivamente, pois no um facto objectivo, na medida
em que apenas a pessoa que o diz ter, consegue sentir ou ver, mas a
experincia cientfica tem uma estrutura construda sobre factos.
Chalmers argumenta ainda que, a cincia comea com a observao. O
observador cientfico deve ter rgos sensitivos normais e inalterados
e deve registrar fielmente o que puder ver, ouvir etc, em relao ao
que est observando, e deve faz-lo sem preconceitos. A experincia
cientficaconsiste naobservaode umfenmeno,sob condies, que o
investigador pode controlar. Ahiptese a guia de o que se deve e o
que no se deve observar, do que procurar, ou de que experimentos
fazer, a fim de descobrir algumalei da natureza. O que difere a
experincia cientfica da experincia religiosa que na experincia
cientfica os factos obtidos para a experimentao so tidos atravs da
observao e a na experincia religiosa, a partir de projeces pessoais
que resultam em crenas pessoais e privadas. A experincia cientfica
exacta, porque no fica preso ao senso comum, mas esse tomado como
ponto de partida. composto por mtodos que podem ser definidos como
o modo ou o conjunto de regras empregue numa investigao, com o
intuito deobterresultados mais confiveis possveis. Entretanto, o
mtodo cientfico algo mais subjetivo, ou implcito, do modo de pensar
cientfico do que um manual com regras explcitas sobre como o
cientista, ou outro, deve agir. A experincia cientfica tenta
alcanar a verdade, ou seja, tende a nos desprender do senso comum
incitando a procura da verdade por via da razo atravs de uma
argumentao racional pblica que se situa alm da esfera privada
prpria da religio. Mas, pode a crena religiosa descobrir a verdade
maneira do que faz a cincia ou simplesmente a postula? Essa questo
vai ser desenvolvida na tem seguinte onde falaremos do mtodo de
alcanar a verdade entre as duas esferas.3. O mtodo cientfico, a
crena e a possibilidade da verdade
Aqui pretendemos mostrar at que ponto o mtodo cientfico e crena
tm a possibilidade de alcanar a verdade, i.e, como cada uma delas
tentam alcanar a verdade, partindo do pressuposto embora discutvel
de que ahiptese cientfica testvel ao passo que a crena apenas
afirmada ou demonstrada por quem diz t-la. Enquanto o mtodo
cientfico um processo para explicar fenmenos, pode ser visto como
complicado e muito pelo contrrio extremamente simples.O mtodo
cientfico consiste na adio ou como resultado leva obteno de um
parecer cientfico do assunto estudado e pode criar pesquisas e
anlises de comparao do mesmo e, assim, formar uma idia definida ou
conceito de forma eficaz. Geralmente, o mtodo cientfico engloba
algumas etapas como: a observao, a formulao de hipteses, a
experimentao, a interpretao dos resultados e, por fim, a concluso,
com a criao de leis a partir da generalizao ou deduo. Porm, algum
que se proponha a investigar algo atravs do mtodo cientfico no
precisa, necessariamente, cumprir todas as etapas e no existe um
tempo pr-determinado para que se faa cada uma delas. Se por
exemplo, algum passar cerca de 20 anos apenas analisando os dados,
que colhera nas suas pesquisas e seutrabalhose constitui
basicamente de investigao, sem passar pela experimentao, isso,
contudo, no torna a sua teoria menos importante nem cientfica.
Algumas reas da cincia, como a fsica quntica, por exemplo,
baseiam-se quase sempre em teorias, que se apoiam apenas na
concluso lgica, a partir de outras teorias e nelas existem alguns
poucos experimentos, simplesmente, pela impossibilidade tecnolgica
de se realizar a comprovao emprica de algumas hipteses, mas nem por
isso deixam de ser cientficas.O mtodo cientfico como conhecemos
hoje foi o resultado direto da obra de inmeros pensadores, que
culminaram no Discurso do Mtodo de Ren Descartes (1637), onde ele
coloca alguns importantes conceitos como o da anlise, sntese, que
permeiam toda a trajetria da cincia at hoje. De uma forma um pouco
simplista, mas apenas para dar uma viso melhor do que se trata o
mtodo proposto por Descartes, que acabou sendo chamado de
Determinismo Mecanicista, Reducionismo, ou Modelo Cartesiano, ele
baseia-se principalmente na concepomecnicada natureza e do homem,
ou seja, na concepo de que tudo e todos (o mundo da extenso) podem
ser divididos em partes cada vez menores, que podem ser analisados
e estudados separadamente e que (para usar a frase clssica) para
compreender o todo, basta compreender as partes.O mtodo
deDescartesfuncionou, e no restam dvidas de que a cincia evoluiu
como nunca com a aplicao deste mtodo a ponto de Nietzsche falar do
triunfo do mtodo sobre a verdade como um dos traos da modernidade.
Porm, a cincia que tinha como objetivo primeiro, proporcionar o
bem-estar ao homem atravs da compreenso e modificao da natureza a
seu favor, como props Francis Bacon seguido por Descartes da sua
idealizao de uma filosofia prtica que nos tornaria donos e senhores
da natureza (Discurso do Mtodo, VI) perdeu seu sentido pelo facto
de ter trazido perigos existncia humana. Com a aplicao do modelo
reducionista em todas as reas do conhecimento, as interaes entre as
partes e o todo e entre este e outros deixou de causar srios
distrbios sociais, ambientais e ameaando at a existncia do prprio
homem em contradio com seu princpio fundamental. Sobre este
assunto, Russell diz-nos: Que o mtodo cientfico consiste na
observao daqueles factos que permitem ao observador descobrir as
leis gerais que regem os factos da mesma natureza. Os dois perodos
da observao e o da descoberta de uma lei so ambos, essenciais, e
cada um deles sugestvel de um refinamento quase indefinido.
(RUSSELL, B., 1962:17). de realar que desde o primeiro homem que
afirmou que o fogo que queima estava empregando o mtodo cientfico,
especialmente, se tivesse chegado a essa concluso depois de se ter
queimado vrias vezes, ou seja, podemos mencionar que esse homem
passou pelos dois perodos: o da observao e da generalizao. Segundo
Henri Poincar (1854-1912), a cincia, portanto, nada pode nos
ensinar sobre a verdade, s pode nos servir como regra de aco. Na
perspectiva nominalista, a cincia no seria mais que uma regra de
aco, pois seramos [...] impotentes para conhecer o que quer que
seja, e, contudo, estamos envolvidos, precisamos agir e, por via
das dvidas, firmamos regras. o conjunto dessas regras que chamamos
cincia. (POINCAR, H. 1955, p. 139). Mas seria a cincia arbitrria
como as regras de um jogo por exemplo, as regras do xadrez regras
de aco consensual? Ao negar essa equiparao, a moderna filosofia da
cincia assume que a cincia uma regra de ao que funciona, de maneira
que se possa conhecer, fazer previses, que sejam teis e, que sirvam
de regras de ao que diminuam as possibilidades do erro, conforme se
extrai do pensamento de Bertrand Russell: Da minha parte no tenho
dvida de que, embora mudanas graduais sejam esperadas no campo da
fsica, as doutrinas atuais esto provavelmente mais perto da verdade
do que quaisquer teorias rivais existentes. A cincia em momento
algum totalmente exacta, mas raramente inteiramente errada, e tem,
como regra, mais hiptese de ser exata do que as teorias
no-cientficas. Portanto,o racional aceit-la hipoteticamente.
(RUSSELL, B., 1995:13).O mtodo cientfico envolve limitaes e
caractersticas, que chegam a atingir uma metafsica cientfica. O
mtodo cientfico, embora, em suas formas mais refinadas podem ser
julgados complicado, essencialmente de uma simplicidade notvel.
observar esses factos, que permitem que o espectador descubra as
leis gerais que os regem. Na tentativa de alcanar a verdade
ultrapassando a crena, a cincia utiliza todos os mtodos possveis
para alcanar a verdade. A cincia consiste em agrupar factos para
que leis gerais ou concluses possam ser tiradas deles. E, assim,
podemos mostrar que o mtodo cientfico composto pelos seguintes
elementos: 1. Caracterizao - Quantificaes, observaes e medidas; 2.
Hipteses - Explicaes hipotticas das observaes e medidas. 3 Previses
- Dedues lgicas das hipteses; 4. Experimentos - Testes dos trs
elementos acima. E, composto por seguintes aspectos: 1- Observao-
Uma observao pode ser feita de forma simples, ou seja, realizada a
olho nu, ou pode utilizar-se de instrumentos apropriados. Todavia,
deve ser controlada com o objetivo de que seus resultados
correspondam verdade e no a iluses advindas das deficincias
inerentes prprias dossentidoshumanosem obter a realidade; 2.
Descrio- O experimento necessita ser replicvel (capaz de ser
reproduzido). importante especificar que se fala aqui dos
procedimentos necessrios para se testarem as hipteses, e no dos
fatos em si, que no precisam ser antropogenicamente reproduzidos,
mas apenas verificveis; 3. Previso- As hipteses precisam ser tidas
e declaradas como vlidas para observaes realizadas no passado, no
presente e no futuro; 4. Controlo- Para maior segurana nas
concluses, toda experincia deve ser controlada. Experincia
controlada aquela que realizada com tcnicas, que permite descartar
as variveis passveis de mascarar o resultado; 5. Falseabilidade
(falsificao) - toda hiptese deve conter a testabilidade, e por tal
falseabilidade ou refutabilidade. Isso no quer dizer que a hiptese
seja falsa, errada ou to pouco dbia ou duvidosa, mas sim que
elapodeser verificada, contestada e assim aperfeioada de forma a
tornar uma conjectura mais razovel. Ou seja, ela deve ser proposta
em uma forma que a permita atribuir-se a ela ambos os valores
lgicos, falso e verdadeiro, de forma queseela realmente for falsa,
a contradio com os fatos ou contradies internas com a teoria venha
a demonstr-lo; 6. Explicao das Causas- Em todas as reas da cincia,
a causalidade factor chave, e no se tem teoria cientfica - ao menos
at a presente data - que viole acausalidade. Da, podemos mostrar a
possibilidade da cincia alcanar a verdade ao passo que a crena no
tem meios de provar se tal coisa ou no . Por exemplo, no h meios
cientficos e talvez racionais, para provar que Deus existe. Como
nos diz Mosley:
H um Deus transcendental, onisciente, onividente, onipresente e
onipotente, que controla tudo no , por princpio, uma hiptese
testvel frente aos experimentos e fatos naturais pois, qualquer que
seja o resultado experimental, ele condizente com a oniscincia,
onipotncia, onipresena e onividncia de Deus, e, conforme postulado
pela prpria hiptese, Deus directamente mostra-se inacessvel aos
experimentos naturais devido sua transcendncia, de forma que se
fosse verificado directamente a existncia de Deus por algum
experimento, a frase estaria falsa em virtude de sua transcendncia
ser falsa, e mantida a sua transcendncia, a frase no testvel. Visto
que nunca verificou-se a existncia direta de Deus - sendo em
verdade esta a razo lgica da transcendncia figurar na hiptese - a
hiptese em verdade uma frase no falsevel - no testvel - e por tal
transcende tambm o escopo da cincia. (MOSLEY M., 2011: 125).Isto
quer dizer que todas as nossas crenas so justificadas com outras
crenas, e se todas as nossas crenas so justificadas com outras
crenas, ento haveria uma regresso infinita, e se h uma regresso
infinita, ento as nossas crenas no esto justificadas. Mas se as
nossas crenas no esto justificadas, logo, no h conhecimento. Em
suma, podemos dizer que o mtodo cientfico est mais apto ou mais
perto de alcanar a verdade, na medida em que ela pode ser testada e
passa por diversas fases, ao passo que a crena apenas pode ser dita
e no justificada com mtodos, e no pode ser testada. Da a
dificuldade de convencer aquele que no acredita. Resulta disso, a
questo at que ponto possvel a religio ser uma cincia e a
possibilidade da teologia ser uma ciencia dos fantasmas da nossa
imaginao e dos nossos desejos.4. Cientificidade da religio e a
religiosidade da cincia
Vamos falar em que medida possvel uma cincia da religio e a
religiosidade da cincia, dando continuidade ao carcter de
proximidade das suas abordagens. Falamos da religiosidade da cincia
quando a cincia descobre algo que no consegue explicar
racionalmente. O que podemos dizer que as cincias da religio vivem
to intensamente quanto qualquer cincia da natureza, as consequncias
do conflito cultural entre cincia e religio. Para l dos limites da
cincia, prolonga-se as bases da religio como provar Immanuel Kant
ao afirmar que teve que desistir da cincia para buscar os
fundamentos da f:Tive pois de suprimir o saber para encontrar o
lugar para a crena, e o dogmatismo da metafsica, ou seja, o
preconceito de nela se progredir, sem a crtica da razo pura, a
verdadeira fonte de toda a incredualidade, que est em conflito com
a moralidade e sempre muito dogmtica. (KANT, I., KrV, BXXX).
Diferenciando-se de todas as cincias por um acolhimento da
religiosidade em seus prprios termos, a Cincia da Religio tenta dar
voz ao discurso religioso em pleno campo acadmico. No obstante,
organizando-se como cincia, precisa traduzir de algum modo o seu
objecto para uma forma crtica e sistemtica, e, nesse ponto, a relao
temtica natural com a teologia torna-se problemtica. Como se suas
dificuldades prprias j no fossem imensas, a Cincia da Religio sofre
tambm com as indefinies correntes quanto natureza da cincia em
geral e da objetividade possvel dos discursos, um problema que
inclui radicalismos relativistas, que tentam exprimir todos os
princpios do conhecimento como questes de paradigma cultural. Ao
falar da cientificidade da religio e religiosidade da cincia
podemos citar Roger Trigg:A religio o exemplo bvio da chamada
doutrina racional que, por causa da aparente causa da aparente
contestabilidade essencial, no deve ter acesso arena pblica
(ROGGER, T., 1998: 25).Alis, como tambm argumenta Diguez, as
cincias da religio no devero ter vergonha de se reclamar do mais
humilde bom senso, dado que os grandes espritos empenharam todo o
seu gnio a conferir uma grande dimenso simples evidncia. As cincias
das religies podem ser consideradas uma disciplina do esprito cujo
objectivo ser o de observar como a identidade essencial do sujeito
forjada, aquele que separado da natureza e do fundamento de que o
homem atribui sua liberdade por aco do simblico. Ao falar do homem,
que pede a intercesso mtica que estruture a sua identidade e os
seus reflectores tambm estamos a falar de um homem racional. o que
nos diz Diguez:
Ao mesmo tempo, ao olhar que cada qual lanar sobre o seu prximo
e sobre o mundo ser-lhe- dito por orculos interiorizados, que tero
mediadores como porta voz. Mas quais sero os ltimos fundamentos dos
julgamentos de valor veiculado pelos interlocutores sacralizados de
Adam, a no ser diversas formas de razo? Toda a compreenso se
reclama de uma lgica e no se conhece nenhuma crena que no se
proclame bem motivada e ponderada, toda verdade que toda a
anunciao, todo o evangelho, todo o prodgio pretende vencer a
irracionalidade e a loucura da humanidade. (DIGUEZ M., 1984:34).
assim que as teologias e os deuses se apresentaram em todos os
tempos como arautos da inteligncia verdadeira. Se o engenhoso
Ulisses se apoia em Atena para escapar clera de Poseidon, que o
quer atrair ao abismo marinho, tal como cristo pede habilmente
socorro Virgem Maria e aos santos para tentar escapar a precipcio
infernal, que ameaa os pecadores, porque o mito tambm representa os
meios de defesa racionais, que o imaginrio forjou, a fim de tornar
totalmente eficaz, no terreno do quotidiano, a mquina dos seus
sonhos. A cincia da religio exige uma deviso prvia das questes,
para que as dificuldades sejam resolvidas, passo a passo, observa
uma espectrografia crtica dos diversos tipos de racionalidade, que
as crenas se reclamam se torna chave essencial desde que a razo
humana tome como sejam bem articuladas com as mitologias, por sua
vez, as diversas formas da identidade humana s quais a fbula pura
servir de suporte simblico. A cincia das religies descobre o seu
dilaceramento interno. O mtodo que guia o seu pensamento deixa os
caminhos da evidncia pelas aflies da escolha de cada um por ser o
reino da subjectividade. No entanto, para alguns socilogos e
etnlogos, comoEmile Durkheim, a fronteira que separa a cincia do
pensamento religioso no impermevel. No livroNas Formas elementares
da vida religiosa (1912), Durkheim mostra que os quadros de
pensamento cientfico como algicaou as noes de tempos e de espao
encontram a suas origens nos pensamentos religiosos e mitolgicos. A
questo da cientificidade da religio, no debate atual, depende, em
primeiro lugar, de um conceito aberto de cincia, capaz de abranger
as reas de pesquisa e metodologias diferentes das, meramente,
positivas. A prpria religio precisa aceitar as demais cincias como
parceiras, abdicando da presuno histrica de superioridade frente
aos demais campos do saber ou a um regime de tratamento
excepcional. Embora, no passado, gozasse de certos privilgios, foi
a religio quem soube compreender, antes das instncias hierrquicas,
a relevncia dos mtodos positivos de apreenso da realidade. Foi
graas s mentes abertas e rigorosas, formadas na religio, e
informadas do estgio de desenvolvimento cientfico, que os
preconceitos e os juzos arbitrrios puderam ser superados. Veja se,
por exemplo, o contributo dos precurssores de Galileu, muitos
deles, telogos de formao. Observa-se, com razo, que tambm as
cincias modernas no surgiram em oposio religio, mas como um caminho
mais lcido para ler a obra da criao. Historicamente, esse dilogo
entre as cincias e a as religies teve entendimento e perspectivas
diferentes. O captulo que se segue dedica-se anlise dessas
diferentes perectivas desse dilogo.Captulo II: A relao entre a
cincia e a religio: perspectivas histricasAs interaes entre cincia
e religio so variadas e complexas, tanto historicamente como na
atualidade. Falar das relaes entre a cincia e a religio um desafio
muito grande visto que o que mais se v entre essas duas teorias uma
rivalidade, desde tempo de Galileu Kepler e Newton etc. Estes
conflitos so testemunhos de o facto da cincia e da religio so
aliados nem esto perto de se conciliarem.A histria da cincia e da
religio pontuada por relaes de aproximao e conflitos. At o final do
sculo XIX, os cientistas eram tipicamente cristos que no viam
nenhum conflito entre a cincia e a f deles (casos de Kepler, Boyle,
Maxwell, Faraday, Kelvin etc..). Mas ao longo desse captulo vamos
mostrar as suas relaes ao longo do tempo. O que podemos dizer que a
cincia e a religio so igualmente racionais.1. A antiguidade: onde a
Cincia e a Religio se confundem
Em primeiro lugar, a Bblia, de facto, pode servir como
documento, mas no como prova histrica. Este hoje em dia um problema
candente que tem uma grande tradio na cultura anglo-saxnica e est a
despertar um grande interesse em todo o lado. Muitas perguntas esto
no ar e nem sempre tm respostas correctas. Sero cincia e religio
incompatveis e opostas? A Igreja perseguiu os cientistas? Galileu
morreu na fogueira condenado pela Inquisio? Os papas condenaram a
teoria da evoluo? A maioria dos cientistas materialista e
ateu?Continuam a repetir-se hoje muitas afirmaes negativas sobre a
relao entre cincia e religio, s vezes, com muitas influncias
destrutivas e alguns vm na religio um veneno, que se ope ao
progresso da cincia.
O tema necessita de uma reflexo sria e serena, que examine a
relao entre cincia e religio como formas de conhecimento e fenmenos
sociais e como foi esta relao ao longo da histria, especialmente,
em relao ao cristianismo. Em geral, podemos dizer que a cincia
trata de compreender a natureza do mundo material que nos rodeia,
como surgiu, como o conhecemos e que leis o regem.A religio, por
outro lado, trata do que transcende o mundo material e pe o homem
em contacto com o que est alm, o numinoso (que se refere a uma
deidade), o misterioso, numa palavra com o mistrio de Deus e a sua
relao com o homem e o universo.
Em todos os tempos, o ser humano sempre buscou conhecer
osobrenaturalos deuses e a natureza. NaAntiguidade havia diversas
formas de buscar conhecer a natureza, mas algumas delas estavam
vinculadas acultosde natureza espiritual, cultos adivindadese
rituaismsticos, emitologia. Aidolatriababilnica,sumria, egpciae
posteriormente a grega consistiam em adorar coisas da natureza,
invocando-as como deuses para que elas provessem o que necessitavam
ou desejavam.Assim, a adorao ao deus sol, por exemplo, consistia em
invocao de espritos, acompanhada de oferendas para que se obtivesse
a condio climtica favorvel para umacolheitaaprazvel. Naidolatria, a
manifestao de espritos sobre aquele elemento da natureza propiciava
a bno desejada pelo adorador. Ou seja, na antiguidade tinham uma
visoanimista, onde as coisas da natureza ganham vida atravs da
invocao da divindade e manifestao de espritos.
Na antiguidade, o conhecimento desenvolveu-se em funo
daagricultura, que era administrada porsacerdotesque efectuavam os
cultos aos dolos, que eram, muitas vezes, elementos da natureza.
Observar resultados da natureza estava, portanto, muito vinculado
prtica da idolatria. Essa forma de conhecer a natureza era
associada invocao de espritos, com excepo da civilizaohebraica, a
nica que adorava um nico Deus criador e confiava nele para suas
provises, no adorando as coisas criadas. O que podemos dizer da
confuso entre a cincia e a religio na idade Mdia, que elas se
confundiram na forma de encarar a natureza. Na Histria da Cincia,
um dos perodos mais importantes e mais complexos foi o da Grcia
Antiga, principalmente, a partir do sculo VI antes da Era Crist,
pois foi quando se iniciou e se desenvolveu, pela primeira vez, o
esprito cientfico, marco fundamental na evoluo do pensamento
humano, e quando ocorrereu, em consequncia, o advento da cincia
abstrata. Esse novo esprito viria a ser o grande divisor entre a
civilizao grega e as demais civilizaes daquele perodo histrico, os
quais trilhariam caminhos distintos na busca de resposta s
inquietaes do homem quanto a seu destino e quanto natureza e seus
fenmenos. Aos gregos coube a glria de terem sido os primeiros a
romper as algemas do conservadorismo e a libertar a razo,
capacitando-a a realizar sua obra. Ademais do brilhantismo nos
diversos campos da educao, das artes, do direito, da poltica e da
filosofia, os gregos foram, assim, os criadores da cincia e os
iniciadores do esprito cientfico. O que houve na Idade Mdia, foi a
ausncia da razo, principalmente, da parte da religio. Houve confuso
na explicao da natureza onde havia a ausncia da razo. Podemos citar
Carlos rosa quando nos diz que, o aparecimento do esprito cientfico
no significaria a unidade de pensamento na sociedade ou mesmo na
elite intelectual grega, nem implicaria ter essa nova mentalidade
permeado as diversa camada social, pois a f, o reconhecimento do
sinal divino deixado em ns, no acto da criao, conduziria o homem
para a sua meta final: salvao na Cidade de Deus.A grande massa
popular helnica permaneceria presa, ainda, s tradies mitolgicas, to
bem representadas por Homero (Ilada e Odisseia) e Hesodo (Teogonia
e Os Trabalhos e Os Dias). As autoridades das diversas
cidades-estados assegurariam o carter oficial da religio mitolgica,
como atestam as conhecidas perseguies a Anaxgoras e a Scrates.
Conviveria, assim, na antiga Grcia, uma conscincia mitolgica
arcaica, influenciada pelas religies do mistrio e do medo, mas
tambm, um ceticismo humanstico, comprometido com a Razo. Erguiam-se
templos, santurios, orculos e monumentos em homenagem aos deuses,
criados semelhana e imagem do homem, mas ao mesmo tempo progredia o
esprito cientfico, com uma nova metodologia observao, anlise,
crtica, comparao e experimentao criada para encontrar uma explicao
racional e lgica para os fenmenos. Assim,[...] Embora a religio
grega fosse, no mnimo, to animista quanto s outras religies
antigas, baseando-se em sacrifcios aos deuses e na interveno divina
nos negcios, a Cincia grega representou um feito notvel, separando
a investigao das leis da Natureza de quaisquer questes religiosas
entre o homem e os deuses... (ROSA, C., 2012:102).
Na idade Mdia o desenvolvimento da Cincia na Europa, desde a
submisso poltica da Grcia ao Imprio Romano at o final do sculo XII,
corresponde a uma etapa de relativa estagnao cultural, com
implicaes diretas e negativas sobre a evoluo do pensamento
cientfico. Trs contextos podem ser identificados, para efeito de
anlise: 1) A Europa oriental grega e o Imprio Bizantino, at seu
desaparecimento, em meados do sculo XV; 2) O Mundo eslavo, at o
sculo XV; 3) A Europa ocidental latina, do sculo IV at o final do
sculo XII. Beneficiados pela lngua e territrio, mas distantes,
culturalmente, da antiga civilizao grega, a Europa Oriental grega e
o Imprio Bizantino se limitariam a preservar o patrimnio, sem
acrescentar aporte significativo ao desenvolvimento da Cincia. O
mundo eslavo, em fase de criao de sua prpria escrita, no teria
condies, igualmente, de cultivar a Filosofia Natural. Nos antigos
domnios, na Europa ocidental, do Imprio Romano, o conturbado clima
poltico, social e religioso no seria favorvel ao desenvolvimento
cultural e cientfico, uma vez que prevaleceria, como no mundo
eslavo e no grego oriental e bizantino, o dogmatismo, impedindo o
desenvolvimento da liberdade de pensamento e de expresso e impondo
o monoplio do ensino. Assim,
O esprito inquisitivo, racional, lgico e laico seria combatido,
denegrido, perseguido, impossibilitando e inviabilizando o
desenvolvimento da Cincia. Apesar desse quadro geral negativo foram
registrados significativos avanos tcnicos e sociais, pelo que a
denominao de noite de mil anos, para caracterizar esta fase da
histria europeia ocidental, absolutamente incorreta e imprpria
(ROSA, C., 2012: 272).
Dessa forma, civilizao grega seguir-se-ia, na Europa, um longo
perodo de estagnao, para no dizer de retrocesso, do processo
evolutivo do pensamento cientfico, uma vez que a nova e triunfante
Teologia dava uma completa explicao dos fenmenos naturais e
sobrenaturais, e em oposio cultura pag englobaria a Filosofia
Natural, responsabilizada por distrair a ateno para assuntos
subalternos, em prejuzo da concentrao da mente e do esprito em
temas verdadeiramente importantes, como a salvao da alma atravs da
expiao dos pecados e caminhos para Deus criador. A Revelao, ao se
contrapor Razo, significava, tambm, reconhecer a impossibilidade de
o homem agir sobre os fenmenos naturais. Sua impotncia diante do
inevitvel e do inacessvel tornava irrelevante e intil, portanto,
qualquer veleidade para entender os mistrios do Universo. A
implantao, consequentemente, de uma nova mentalidade, com
prioridades voltadas para outros fins, teria assim, um impacto
inibidor no desenvolvimento cientfico. Como nos diz D. Lindberg, a
cincia e a filosofia tal como conheceram os romanos era uma verso
limitada, divulgativa de realizaes pelos gregos. Porm, a Idade Mdia
o cristianismo apresentou alguns contributos para o avano da
cincia. O que podemos ver a cincia e a religio desde incio tiveram
problemas de aceitao. Umas das acusaes que, muitas vezes, exerce
contra a Igreja a de que foi claramente, historicamnte,
anti-intelectual e que ela preferia a f razo e a ignorncia em vez
da educao.Porm, o lado da idolatria grega surgira pensadores
naAntiguidade grega,que queriam estudar a natureza sem invocar
espritos. Buscava-se narazo o instrumento para o conhecimento,
ainda que do ponto de vista de Werner Jaeger, os pr-socrticos
desenvolveram essencialmente uma teologia.
Entre os gregos, com o surgimento da democracia e dos sofistas,
mestres da oratria, adialcticae odiscursoganharam muita fora nessa
poca onde as verdades institudas eram ganhas com base no raciocnio
lgico,induo,deduoe na capacidade depersuasodo estudioso. Diversas
escolasracionalistasgregas surgiram, das quais as mais famosas so
atribudas aPlatoe aAristteles. Oracionalismo um movimento filosfico
que cr que a razo instrumento para se aproximar da Verdade
Absoluta. Ganhou fora com as vises platnicas de que o mundo das
ideias seria um mundo perfeito onde se encontra a realidade
autntica as ideias. Da, podemos dizer que a cincia e a religio na
antiguidade confundiam se no mtodo de estudo, na forma de alcanar o
conhecimento da natureza. Enquanto a religio utilizava idolatria a
cincia utilizava a razo na explicao dos fenmenos naturais. O que os
antigos tinham em falta era o esprito crtico, pois acreditavam que
toda a relevao j tinha sido feita pelos deuses. Da, que ficavam
presos natureza e recorriam aos sacrifcios e s oraes para se
comunicarem com a verdade absoluta. Veja-se, por exemplo, entre os
romanos que a lei (jus) nos dados pelo Jpter. Como escreveu Carlos
Rosa:
O saber, objeto de uma revelao total, portanto sagrado, no
poderia ser comunicado, e seria, assim, privilgio dos iniciados,
dos sacerdotes que o transmitiam, mas oralmente, e no o consignavam
em seus escritos, nos quais se encontra apenas um conjunto de
receitas com o resultado a obter, sem sua explicao. Nessas
circunstncias, ao progresso ocorrido na rea tcnica no
corresponderia avano no campo terico, investigativo. A observao e a
especulao eram restritas casta sacerdotal, o que viria inibir o
surgimento de um esprito crtico. Como em todas as outras sociedades
dessa poca, a Tcnica precederia a criao da Cincia, a qual requer
uma capacidade de abstrao, ausente nas primeiras civilizaes. O
conhecimento, o saber e as Artes eram dons da deusa Ea, qual, para
os babilnios, s tinham acesso seus sacerdotes, nicos iniciados nos
mistrios da divindade. Ciosos desse privilgio e conscientes de que
saber poder, os sacerdotes no transmitiram, no ensinaram, nem
registraram nas plaquetas de barro seus conhecimentos. At hoje s
foram encontrados textos de aplicao prtica, catlogos de referncia e
conjuntos de exerccio; o enunciado de solues no comportava
explicaes e justificativas. A parte terica, o enunciado de
princpios, de premissas, de postulados, os mtodos de investigao e
pesquisas no foram revelados. Se houve, no so conhecidos. Esse
procedimento era seguido nos domnios dos nmeros e da medio, da
observao da abbada celeste, do tratamento dos doentes. Em outras
palavras, raciocinar, analisar, compreender, criticar, explicar era
proibido, por ser desnecessrio e irrelevante. (ROSA, C.,
2012:61).Da, podemos dizer que o mundo estava fechado a novas
descobertas e, havia uma confuso da explicao dos fenmenos
religiosos e de muitos eventos naturais que eram vistos como
manifestao do divino. Quem tinha o poder da explicao do sagrado e
do sobrenatural eram os sacerdotes, que tendiam a fazer-lhos ser
vistos como superiores a humanidade. As explicaes das causas da
natureza do funcionamento do corpo humano, por exemplo, eram dadas
sem nenhuma base cientfica. Na histria da cincia, um dos perodos
mais importantes e mais complexos foi o da Grcia antiga,
principalmente a partir do sculo VI antes da Era Crist, pois foi
quando se iniciou e se desenvolveu, pela primeira vez, o esprito
cientfico, marco fundamental na evoluo do pensamento humano, e
quando ocorreria, em consequncia, o advento da Cincia abstrata. O
novo esprito viria a ser o grande divisor entre a civilizao grega e
as demais civilizaes do perodo histrico, os quais trilhariam
caminhos distintos na busca de resposta s inquietaes do homem
quanto a seu destino e quanto natureza e seus fenmenos. A revoluo
do pensamento deu-se em diversos pontos, mas na Grcia dos
pr-socrticos, tudo se configurou como um milagre. A este propsito,
Augusto Rosa escreve que:
No mundo helnico, nesse Perodo, no entanto, nasceria a Filosofia
(pr-socrticos) que, parte de todas as especulaes, muitas vezes
ditadas pela pura imaginao, sem apoio na observao e na
experimentao, levaria ao desenvolvimento do esprito cientfico, e,
por via de consequncia, ao advento da Cincia. Enquanto nas culturas
orientais se desenvolvia um esprito contemplativo e conservador, a
Grcia seria capaz de criar, por seus filsofos, um esprito
especulativo e crtico. No Oriente, o grande interesse seria
desvendar os mistrios da vida aps a morte e obter a conquista do
Nirvana ou da vida eterna; na Grcia, o importante seria entender os
fenmenos naturais, buscando uma explicao lgica e racional. (ROSA,
A., 2012: 99-100).O que os gregos e os antigos queriam era uma
explicao mais abrangente e mais racional da natureza. No entanto,
sob a denominao geral de Filosofia Natural, os gregos antigos
criariam uma Cincia com o objetivo de estudar e compreender a
Natureza. Essa busca por uma compreenso do Mundo fsico abrangia um
vasto campo, que englobava a Matemtica, as Cincias Naturais e as
Cincias Fsicas, ou seja, ao tempo dos filsofos pr-socrticos, os
campos cientficos e filosficos se confundiam e se
inter-relacionavam, ao ponto que os filsofos tanto se dedicavam a
especulaes filosficas e metafsicas sobre a origem e a constituio do
Universo quanto aos nmeros (Aritmtica), reas (Geometria) e
elementos (Fsica e Qumica).2. Idade Mdia: So Boaventura e a Reduo
das Cincias TeologiaNa Idade Mdia a cincia era entendida,
sobretudo, como teologia ou corpus de saberes auxiliares da
teologia, que continha todas as respostas para aquilo que os gregos
buscavam do ponto de vista racional. O mundo medieval
inequivocamente um mundo teocntrico e a instituio que se encarregou
de fazer perdurar durante sculos essa concepo foi a Igreja de que
os mosteiros e as universidades so prolongamentos. A Igreja alargou
a sua influncia a todos os domnios da vida. No foi apenas no domnio
religioso, foi tambm no social, no econmico, no artstico e
cultural, e at no poltico e no cientfico considerado um dom de Deus
oferecido ao homem.Com o poder adquirido, uma das principais
preocupaes da Igreja passou a ser o de conservar tal poder,
decretando que as suas verdades no estavam sujeitas crtica e quem
se atrevesse sequer a discuti-las teria de se confrontar com os
guardies em terra da verdade divina. A Idade Mdia foi, segundo o
esprito iluminista, uma idade de trevas para a cincia, e nela
houvepoucos progressos reais naquilo que chamamos de cincia. A
concepo comum da Idade Mdia como um perodo cientificamente vazio
tem persistido todo este tempo, para alm de se encontrar impregnada
na mente popular, largamente devido s suas profundas razes sectrias
e culturais, e no porque exista algum tipo de base para ela como
demsontra Umberto Eco nas suas obras. Esta concepo
parcialmentebaseada no preconceito anti-Catlico da tradio
Protestante, que olhava para a Idade Mdia como nada mais que um
ignorante perodo da opresso da Igreja. A cincia encontrava-se nessa
poca, sob forte influncia da Igreja Catlica. A autoridade da Igreja
impunha sua doutrina como verdade, que no podia ser discutida. Do
mesmo modo, alguns escritores antigos, como Aristteles, gozavam de
tratamento semelhante. Por isso, muito pouco conhecimento a cincia
acumulou neste perodo. A esta cincia foi dado o nome de escolstica
e, sua finalidade principal era demonstrar a verdade da doutrina da
Igreja Catlica. Os sbios medievais acreditavam que a terra tinha
forma de disco, e consideravam um absurdo a crena em sua
esfericidade. Somente no sculo XIII esta crena obteve alguma
aceitao por alguns sbios, que vieram a ter conhecimento da teoria
de Ptolomeu. Porm, ainda acreditavam que a terra era o centro do
universo. Em geral, as noes verdicas encontradas nos escritores
antigos eram tidas por estes sbios como idias fantsticas. A Igreja,
temendo perder sua autoridade, reprimia toda ideia que poderia
traar novos caminhos para a cincia, impedindo seu livre
desenvolvimento. Durante toda essa poca a Igreja foi o maior
obstculo para o progresso do conhecimento cientfico, pois esse o
essencial dessa relao est resumido no pensamento de So Boaventura
na sua exigncia de reduo (reconduo) das cincias teologia, dado que
aquelas estudam os fenmenos naturais criados pelo objecto da
teologia: Deus. Neste sentido, cumpre-se a exigncia segundo a qual
uma boa cincia (sabedoria) aquela que nos conduziria a Deus como
explicao ltima e primeira de todo o universo. Neste sentido, So
Boaventura defende que toda a ddiva preciosa e todo o dom perfeito
vm de cima descendo do pai das luzes (BOAVENTURA, S., 1996:198).
Isto quer dizer que a origem de toda a iluminao e, ao mesmo tempo,
insinua-se com ela a liberalidade com que mltiplas luzes emanam
daquela primeira luz, fonte de todas as luzes, ou seja, todo o
nosso conhecimento teve a sua origem em Deus e para ele devem ser
voltadas todas elas. Embora toda a iluminao do conhecimento seja
interno, podemos contudo introduzir um distino de razo e dizer que
a uma luz exterior, que a luz da arte mecnica, que considerada uma
luz inferior, a luz do conhecimento sensitivo e a luz do
conhecimento filosfico. E, toda essa luz e conhecimento deveriam
ser orientados atravs de uma luz superior, que a luz da Graa e da
Sagrada Escritura. Como ele afirma:A primeira luz refere a luz que
ilumina no que se refere as figuras artificiais (que so como que
exteriores ao homem e foram inventadas para suprir a indegncia do
corpo) se denomina luz da arte mecnica a qual pode ser de certo
modo de natureza servil e ficar abaixo do conhecimento filosfico
(BOAVENTURA, B., 1996:198).
Da, podemos dizer que assim como Deus, Ser Supremo, deve-se
considerar as razes, da causa eficiente formal e final, pois ele
que a causa do existir, razo de entender, norma de viver. Segundo
So Boaventura, o nosso entendimento dirigido em seus juzes por
razes formais e podem ser consideradas sobre trs aspectos: em relao
matria e ento so chamados razes propriamente formais; em relao alma
so denominadas razes intelectuais; em relao sabedoria divina e
chamam-se razes ideais. Como se sabe, a Idade Mdia foi marcada pelo
poder da Igreja, todavia, comeou a surgir, por parte de certos
pensadores, a necessidade de dar um fundamento terico, ou racional
f crist. Era preciso demonstrar as verdades da f; demonstrar que a
f no contradizia a razo e vice-versa. Se antes se dizia que era
preciso crer para compreender, deveria ento juntar-se compreender
para crer como exigira Santo Agostinho. A f revela-nos a verdade, a
razo demonstra-a. Assim, f e razo conduzem uma outra. S. Boaventura
foi um telogo, que destacou o intelecto como o principal meio de
compreenso de tudo. Segundo ele, este desenvolvimento s poderia
acontecer caso estivesse vinculada ao entendimento, a ideia de que
Deus era a prpria inteligncia como propusera o Neoplatonismo de
Plotino. Afirma ele:Um s o vosso mestre, Cristo (Mateus, 23,10).
Com estas palavras exprime-se com clareza qual seja o princpio
fontal da iluminao cognoscitiva, isto Cristo, que, - como diz
Hebreus, 1,3 irradiao da glria e imagem de sua substncia, e a tudo
sustenta com o poder de sua palavra; ele origem de toda sabedoria,
segundo Eclesiastes 1,5: Fonte da sabedoria a palavra de Deus nos
cus. O mesmo cristo ento a fonte de todo o conhecimento certo
(BOAVENTURA, S., 1985 1).
Segundo Boaventura, o nico meio de entender tudo era conceber
Cristo como o nico mestre e como fonte de sabedoria: nico mestre,
porque era o criador de tudo e de todos; fonte de sabedoria, porque
deu aos seres humanos a inteligncia para poder conhecer as coisas
e, por meio dessas criaes, entender o prprio criador. Assim, para
compreender as exigncias que estavam surgindo e se adaptar a elas,
sem se esquecer dos mandamentos de Deus, era preciso re/organizar o
pensamento e saber, de acordo com mestre, que a Teologia era a
explicao de todas as cincias. preciso considerar que, para as
atividades comerciais, para o conhecimento de novos territrios, de
outras culturas, da realizao dos clculos, os homens foram em busca
das cincias. Por isso, em Reduo das cincias Teologia, Boaventura
afirma que as cincias explicavam as coisas, porm, isso s era
possvel, porque Deus era o centro de toda cincia ou sabedoria
humana. Com esta argumentao, concluia:E assim fica manifesto como a
multiforme sabedoria de Deus (7), que com grande claridade se nos
manifesta na Sagrada Escritura, oculta-se em todo o conhecimento e
em toda a criatura. Fica manifesto tambm, como todo o conhecimento
est subordinado Teologia, e por isto ela assume os exemplos e
utiliza a linguagem pertencentes a qualquer outro gnero de
conhecimento. Fica manifesto, igualmente, quo ampla a via
iluminativa, e como no ntimo de toda a coisa que se sente ou se
conhece est presente o prprio Deus. E este h-de ser o fruto de
todas as cincias, que por meio delas se edifique a f [...]
(BOAVENTURA, S. 1996 26.).Para o autor, para conhecer profundamente
as coisas era preciso entender Deus como a prpria sabedoria e
criador de tudo. Alm disso, a sua existncia s estava explcita nas
Sagradas Escrituras: nelas estavam os seus ensinamentos. As
atividades comerciais, por sua vez, implicavam a necessidade de
aprender por meio das cincias, pois, era preciso conhecer, saber
como agir e saber como se relacionar. Isso levou os indivduos a
buscar outros conhecimentos e adquirir uma nova educao para
conviver socialmente, assim como se instruir para administrar suas
riquezas e outros elementos necessrios convivncia social. Desse
modo, os homens comearam a sair da explicao teolgica tentando novas
explices no s a nvel comercial, mas acerca da origem das coisas, da
vida existente no mundo, dando o segundo passo, que foi o de sair
da esferado mtica. nessa superao do estado mtico da explicao
cientfica que encontramos a Idade Moderna marcaca pelas grandes
revolues dirrigidas por pensadores como Galileu, Cpernico, Isaac
Newton, homens abertos explorao da natureza, contrariando a Bblia,
que era considerada fonte da verdade e do conhecimento. Esses
tpicos sero desenvolvidos na tem que segue intitulado:3. Idade
Moderna: Criacionismo, filosofia mecanicista e evolucionismo
Falar da relao entre a cincia e a religio na idade moderna
mostrar at que ponto o criacionismo a filosofia mecanicista e o
evolucionismo se relacionam e onde essas trs teorias se divergem no
que tange explicao da origem da vida e questes conexas como a
cosmologia. No nosso prprio tempo, deparamos com a controvrsia
sobre o criacionismo e a evolucionismo. Como no diz Grondin a
filosofia reconhece que, sem qualquer inconveniente religio oferece
as respostas mais poderosas para a questo do sentido da existncia,
mas ele sabe tambm que estas respostas hoje perderam suas provas.
Mas no em todos os lugares, claro, porque nosso tambm um momento de
ressurreio de religio de vrias maneiras, apesar das probabilidades,
errado, o seu desaparecimento iminente: ascensso poderosa do
fundamentalismo, protagonismo mdiatico dos papas e as grandes
figuras religiosas; proliferao de espiritualidade ecltica; regresso
da religio na Europa de Leste (e na China), at recentemente regies
ateia; persistncia, nas sociedades avanadas, das ltimas perguntas e
crena (em uma pesquisa de 2008, 92% dos que os americanos acreditam
em Deus).
Hoje, a religio deixou de ser o ponto de partida, na medida em
que ela envolvia mitos, casos fictcios e imginrios. Como refere
Jean Grondin:A religio Religio envolve elementos como a f, tradio,
ritual, que parecem obedecer estritamente os ditames de
necessidades subjetivas e remetem ao improvvel: eles so todos itens
que podem minar a sua credibilidade aos olhos da cincia moderna.
Apesar de permanecer forte, com uma fora que parece ser parte de
seu mistrio, a religio tornou-se uma questo cada vez mais
problemtica aos olhos da filosofia (GRONDIN, J., 2010:
19).Naturalmente, podemos levantar a questo se a religio tem
superado a cincia moderna? E Grondin nos responde da seguinte
forma:Claramente, a cincia tem mostrado vrias representaes
religiosas do mundo: mundo no foi criado em seis dias (mas em uma
pequena fraco de segundo), homo sapiens e a sua evoluo, com a qual
geneticamente relacionada, e Galileu estava certo. Tambm inegvel
agnosticismo, e at poderia dizer que o atesmo do mundo moderno
profundamente marcado pelo mundo cientfico, segundo a qual a
religio no mais do que um forma de superstio, cujo abandono seria
til para a humanidade (Ibidem, 27).Com amodernidade, afilosofia da
naturezadesenvolveu mtodos prprios de investigao e tornou-se
institucionalmente laica, isto , no independente da Igreja. A
observao e a experimentao foram sendo entendidas como sendo muito
importantes para o conhecimento da natureza. Ao longo do tempo, a
viso sobre como realizar o processo de se conhecer a natureza, ou
seja, filosofia da natureza foi se modificando.Ren Descartes um dos
filsofosmecanicistaspropunha a realidade dualstica, ou seja, a
existncia de dois mundos separados reino de extenso material (res
extensas), de carcter essencialmente geomtrico e mecnico e o reino
da substncia do pensamento (res cogitans), que no possui extenso.
Vrias correntes surgiram com a expectativa de dar uma explicao
diferente na explicao da origem do mundo, mas vamos referir apenas
ao criacionismo, filosofia mecanicista e o evolucionismo, para
mostrar como vrias teses cosmolgicas tentam conciliar as trs
teorias, atravs da argumentao de que Deus ter criado o mundo cujas
leis nele imprimiu, passando este, a partir de ento a evoluir pelas
leis prprias.O Criacionismo consiste nacrenaque o universo e a vida
foram criados, sem recurso a matria preexistente por uma entidade
superior. Esta teoria no aceite no meio cientfico, pois no pode ser
confirmada em bases cientficas. Contudo, tem gerado controvrsia,
pois os criacionistas afirmam que esta se trata de uma proposta
cientfica plausvel e que deveria ser tida em conta, no seio
comunidade cientfica. No criacionismo encontramos a ideia de que
Deus criou o mundo livremente sem recurso a qualquer matria
preexistente como acontece na cosmologia platnica do Timeu, onde
ele expe sua teoria das Ideias, que so formas imutveis, eternas,
invisveis e imperceptveis, que podem ser apreendidas apenas por
meio do pensamento. As Ideias seriam o modelo a partir do qual as
coisas sensveis tomam sua forma, sem porm nunca chegar sua perfeio
e perenidade. As formas observadas, na realidade, so transitrias,
mutveis e esto sempre em movimento, sendo perceptveis atravs das
sensaes e apreendidas pela opinio. Plato apresentou a idia de que
um criador chamado Demiurgo (que significa arteso em Grego), que
fez cpias fsicas dasestruturas perfeitase ideais, que somente podem
existir no mundo dos deuses e no mundo das nossas ideias. O
Demiurgo cria rplicas das formas ideais para o nosso mundo fsico
que so imperfeitas, pois devem ter a qualidade de serem capazes de
variar. Nascimento, crescimento, alterao e morte so ento partes do
nosso mundo. O Demiurgo usa deuses subordinados para executarem as
manutenes do dia-a-dia do mundo fsico.Plato deixa bem claro a ideia
da recriao (composio) quando diz:Mas o Demiurgo no Criador, que
tirasse do nada tudo quanto existe. Pois, j antes existia amatria,
e a sua obra s consiste em tirar o mundo visvel que no se
encontrava em estado de repouso, mas no de um movimento desmedido e
desordenado da desordem para a ordem, convencido que este segundo
estado era, em todo ponto de vista,melhor que o primeiro". O
primeiro ser formado pelo Demiurgo a alma do mundo substncia no
sensvel, invisvel. No-sensvel, invisvel; embora, de um lado,
"mesclada" da realidade indivisvel e eternamente imutvel, e, do
outro, da mutvel. Como a alma humana, ela revestida de um corpo,
amatriado cosmos. Este cosmos ela o anima e, com a sua providncia e
fora viva, forma o todo: deuses criados, homens, animais, plantas
ematriainanimada. O todo tem vrias ordens; ao reino
damatriainanimada se sobrepe o das plantas; a este, o dos animais,
a do homem e o dos "deuses criados", i., o dos planetas (com a
nossa Terra) e das estrelas. Quanto mais alto subirmos, tanto mais
almas encontraremos; quanto mais baixo des cermos, menos oNousse
manifestar. E, assim, o todo uma criatura animada e, na verdade,
inteligente, pois foi feita pela Providncia de Deus.E este universo
nico e o s existente, perfeito no seu ser e aparecer,visvel e
abrangendo a plenitude do visvel. Organismo vivo, nele existem
todos os outros organismos mortais e imortais; imagem sensvel de
Deus, s atingvel como objeto de pensa mento, o universo , le
prprio, tambm Deus, de grandeza e bondade totais, belo e perfeito.
(PLATO, 1977.30 b).Alm do mundo das ideias e do mundo sensvel, ele
coloca ainda uma definio obscura de espao, que seria uma terceira
entidade, o qual "enseja tudo o que nasce em si mesmo, no
apreendido pelos sentidos, mas apenas por uma espcie de raciocnio
bastardo (...). O ser, o espao e a gerao so trs aspectos distintos
desde antes da formao do cu. Segundo Plato, os corpos so formados
pelos quatro elementos: fogo, gua, terra e ar. Eles tm uma natureza
tridimensional e, portanto, compreendem uma superfcie e uma
profundidade. A superfcie plana, como dito anteriormente, definida
por trs pontos no lineares formando assim um tringulo. No captulo
do versculo 1 a 30 do livro do Gnesis encontramos as descries da
criao do mundo, por um ser infinito, imutvel: No princpio Deus
criou os cus e a terra. 2: Era a terra sem forma e vazia; trevas
cobriam a face do abismo, e o Esprito de Deus se movia sobre a face
das guas. 3 Disse Deus: Haja luz, e houve luz. 4 Deus viu que a luz
era boa, e separou a luz das trevas. 4 Deus chamou luz dia, e s
trevas chamou noite. Passaram-se a tarde e a manh; esse foi o
primeiro dia. 5 Depois disse Deus: Haja entre as guas um firmamento
que separe guas de guas. 6 Ento Deus fez o firmamento e separou as
guas que ficaram abaixo do firmamento das que ficaram por cima. E
assim foi. 7 Ao firmamento Deus chamou cu. 8 Passaram-se a tarde e
a manh; esse foi o segundo dia. 9 E disse Deus: Ajuntem-se num s
lugar as guas que esto debaixo do cu, e aparea a parte seca. E
assim foi. 10. parte seca Deus chamou terra, e chamou mares ao
conjunto das guas. E Deus viu que ficou bom. (Gnesis, Bblia
Sagrada).Com isso veremos que existe uma grande controvrsia entre o
criacionismo a teoria mecanicista e o evolucionismo, embora os
modernos teriam tentado concialiar as trs teses. Alis, a
controvrsia agudiza-se com o surgimento da teoria da evoluo com
Charles Darwin. Em geral, os criacionistas acreditam que a explicao
do incio do mundo dada no gnesis, o primeiro volume do Velho
Testamento, a verdadeira explicao das origens de tudo o que vemos
em nosso redor. Apesar disso, o criacionismo no necessariamente
conectado a nenhuma religio em particular. Simplesmente, exige
acrenanuma inteligncia criadora na origem do universo e da vida. O
criacionismo afirma a ideia da mais pura causalidade, pois, Deus a
partir do nada, por um acto de sua livre vontade pe o mundo e o
homem na existncia. Exclui-se, por conseguinte, uma causa material,
a esta teoria ope-se a todas as concepes materialistas como as
teorias da biognese e do Big Bang, que dizem que o universo ou a
vida foram criados a partir de matria preexistente por meroacaso,
ou mesmo, a teoria evolucionista segundo a qual a sobrevivncia das
espcies est relacionada com sua seleo natural. Richard Dawkins, por
exemplo, diz-nos na sua obra o Relojoeiro Cego que, a seleo natural
o relojoeiro cego, cego porque no prev, no planeia consequncias nem
tem propsitos em vista. Mas, os resultados vivos da seleo natural
nos deixam pasmos, porque parecem ter sido estruturados por um
relojoeiro magistral, dando uma iluso de desgnio e planeamento. Em
oposio teoria evolucionista encontramos o materialismo de Thomas
Hobbes, que ao contrrio da seleco natural, argumenta que o puro
jogo das foras a razo pela qual sobrevivemos na natureza. Na
presena no estado da natureza, onde o homem um lobo para o homem o
modelo mecnico conduz assim a formular a necessidade da omnipotncia
do soberano e a de um estado concebido como uma mquina
perfeitamente organizada. Da, podemos dizer que esta concluso
pressupe que o mecanismo natural seja substitudo, mediante o
contrato. Assim, podemos citar um excerto onde Hobbes diz o
seguinte:Em um enormeestado natural, enquanto alguns homens enormes
possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum
se ergue to acima dos demais por forma a estar alm do medo de que
outrohomemlhe possa fazer mal. Por isso, cada um de ns tem direito
a tudo, e uma vez que todas as coisas so escassas, existe uma
constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No
entanto, os homens tm um desejo, que tambm em interesse prprio, de
acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando
numcontrato social. (HOBBES, T., 1988: Cap I).O criacionismo gira
em torno de uma ideia chamada "desgnio inteligente". Esta a ideia
de que os organismos vivos so to complexos, que apenas poderiam ter
aparecido com a iznterveno de uma inteligncia superior, que Deus.
Mas essa teoria no aceite dentro da viso cientfica, pois no h
provas cientficas da existncia dessa entidade superior, que Deus.
Em oposio ao criacionismo encontramos a filosofia mecanicista.O
criacionismo gira em torno de uma ideia chamada de "desgnio
inteligente" Esta a ideia de que os organismos vivos so to
complexos que apenas poderiam ter aparecido com a interveno de uma
inteligncia superior que Deus. Mas de salientar que