Vivaldo José Breternitz UMA PEQUENA HISTÓRIA
O início Em 1933 um grupo de empresários e pilotos criou a Viação Aérea São Paulo
Seus primeiros aviões, baseados no Campo de Marte, foram dois Monospar ST-4 ingleses, batizados Bartholomeu de Gusmão (PP-SPA) e Edu Chaves (PP-SPB), com capacidade para três passageiros – esses aviões voaram até 1937
Em 12 de novembro daquele ano, foram inauguradas as duas primeiras linhas, de São Paulo a São José do Rio Preto com escala em São Carlos, e São Paulo a Uberaba com escala em Ribeirão Preto.
Mudança para Congonhas Em 1934, passou a operar no recém
inaugurado aeroporto de Congonhas, que
ficou conhecido como “Campo da VASP”
Em 1935, com problemas financeiros, foi
estatizada pelo governo do Estado, que
aportou recursos para a compra de dois
Junkers Ju-52, alemães, para 16
passageiros.
Eram conhecidos na Alemanha como "Tante
Ju“ (Tia Ju) e foram extensivamente
utilizados na 2ª Guerra Mundial – voavam
a 250 km/h
Voando para o Rio
Em 1936 estabeleceu a primeira linha entre São Paulo e Rio de Janeiro, e em 1937 recebeu seu terceiro Junkers.
O PP-SPD, mostrado no anúncio, sofreu um acidente ao decolar do Santos Dumont: colidiu com o prédio da Escola Naval, partiu-se em dois e uma das partes caiu no mar, matando 18 das 21 pessoas a bordo (27.8.1943)
No Rio, a primeira tragédia
Esse Junkers sofreu o primeiro grande acidente de nossa aviação: em 8 de novembro de 1939, chocou-se, após a decolagem do aeroporto Santos Dumont, com um De Havilland 90 Dragonfly (como o da foto) pertencente à Shell argentina, que fazia acrobacias como parte de um festival aéreo – não houve sobreviventes, o Junkers caiu no mar.
A modernização: chegam os DC-3
Mais de 10.000 foram construídos, sendo a robustez sua principal
qualidade. Após a Guerra, foram vendidos pelo governo americano a preços atrativos, tendo sido a principal ferramenta para o
desenvolvimento da aviação comercial da época
Concebido para uso militar, foi extensivamente utilizado na
Segunda Guerra Mundial, quando era chamado C-47 ou Dakota.
Expandindo cada vez mais suas linhas, a VASP comprou os suecos Saab Scandia 90, que serviram à empresa entre
1950 e 1966
Vaspinha
Em 1952 foi criada a VASP Aerofotogrametria, visando apoiar os trabalhos do governo do Estado de S. Paulo
Utilizou os DHC-2 Beaver canadenses, modelo que foi usado também na Guerra do Vietnam para observação; transportava piloto e sete passageiros, 255 km/h
Em 1955 chegou o inglês Viscount, primeiro turbo hélice a voar para uma empresa brasileira (75 passageiros, 550 km/h)
– o último deles saiu de serviço em 1975
Crescendo Em 1962, a VASP comprou o Grupo Lloyd,
constituído pelo Lloyd Aéreo Nacional, Navegação Aérea Brasileira, Lemke S.A. (empresa especializada em revisão de motores) e a Transportes Aéreos Bandeirante.
Com essa compra a VASP recebeu toda frota de aviões que pertencia ao grupo Lloyd que era constituída de oito DC-4 de quatro motores, quatro DC-6, seis DC-3 e 13 Curtiss Comander C-46 – em 1966, a VASP chegou a ter 58 aviões.
DC-4
DC-6
A empresa passou a servir, 72 cidades de 23 estados e territórios, respondendo por mais de 25% do tráfego aéreo interno no Brasil. Mas a compra trouxe problemas, especialmente pela despadronização de equipamentos, procedimentos etc.
Para substituir o DC-3, a VASP comprou o japonês YS 11, a que chamou Samurai e que manteve em operação até 1977.
Há uma história diferente envolvendo o Samurai: em 1971, ao pousar em Aragarças, o piloto percebeu a presença de outro avião na pista e desviou-se, acabando por atolar o Samurai. À noite, dois guardas que estavam a bordo acenderam uma vela, acabando por incendiar o avião – os dois morreram...
BAC 1-11 (One-Eleven) - a era do jato puro
O 1-11 foi concebido para substituir o Viscount, tendo chegado à VASP em 1968. Com capacidade para até 120 passageiros, chegava a quase 900 km/k
Há um caso interessante envolvendo esse avião: em 1990, um
BAC 1-11 da British Airways que voava entre Birmingham (Inglaterra) e Málaga (Espanha) sofreu descompressão após uma parte do para brisas, mal instalada, se soltar. O piloto Tim Lancaster foi sugado, ficando com parte do corpo para fora da aeronave. Enquanto o restante da tripulação segurava o piloto, o copiloto Alastair Atchison fez um pouso de emergência - o único ferido foi Lancaster
Bandeirante: o único nacional
Entre 1973 e 1976 a VASP utilizou dez Bandeirantes em suas linhas regionais
Conta-se que os adquiriu por pressão do governo
federal, que queria dar força à Embraer Foram construídos 521 Bandeirantes, que
transportavam até 21 passageiros à velocidade máxima de 426 km/k
Entre 1969 e 1986 a VASP adquiriu inúmeros 737, de diversos modelos; na foto, um 737-300 aproxima-se do Santos Dumont, no Rio
A era do 737: ainda em produção, o Boeing 737 é o avião mais vendido em toda a história da aviação civil – mais de 7.000 já foram entregues.
No final dos anos 1970, chegaram os Boeing 727
• Foram utilizados dez destes aviões, entre cargueiros e versões para passageiros – até 189 passageiros e 1102 km/h • Pode operar em pistas ruins, e é muito querido pelos pilotos por ser muito manobrável
Após a privatização
• Em 1990, a VASP foi privatizada – à época era
a segunda empresa aérea do Brasil e detinha
a maior fatia do mercado interno
• Seus novos controladores iniciaram uma
agressiva expansão
internacional:Ásia, Estados Unidos, Europa e
África passaram a ser atendidos
• A frota foi aumentada tendo sido trazidos,
entre outros, três DC-10 e dez MD-11
Após a privatização
• Após a aquisição do
controle do Lloyd
Aéreo Boliviano,
Ecuatoriana de
Aviación e da argentina
Transportes Aéreos
Neuquén, foi criado o
VASP Air System
DC-10-30
• Autonomia de 10.010 km, até 380 passageiros, 15 tripulantes, velocidade máxima de 982 km/h
• A versão "Convertible" podia ser rapidamente configurada para o transporte de carga (453 metros cúbicos )
DC-8
• Entre 1991 e 1993 a VASP operou três DC-8, para transporte de cargas. •Foram devolvidos por falta de pagamento do leasing.
A VASPEX era uma subsidiária da VASP, criada para entrega rápida de encomendas. Começou a operar em 1996 mas fechou as portas junto com a empresa-mãe
• a VASP operou nove do modelo convencional e um do modelo de longo alcance (MD-11ER). Faziam as rotas de longa distância
• transportavam até 410 passageiros, voando a 945 km/h
MD-11
incorporados em 1992, foram retirados da frota em meados de de 2000, em função dos problemas financeiros que a companhia vinha sofrendo
O fim • A empresa não conseguiu sustentar o crescimento. Deixou
de pagar obrigações, salários, leasings e até taxas de navegação.
• Começou a cancelar as rotas internacionais (o VASP Air System foi desfeito) e a canibalizar aeronaves
• A frota foi reduzida, restando os antigos 737-200 e os cansados A300 para servir uma rede doméstica cada vez menor.
• Em setembro de 2004, o Departamento de Aviação Civil (DAC) suspendeu as operações de oito 737, pois a VASP não fizera revisões e manutenção obrigatórias. Sem dinheiro para fazer os trabalhos, a VASP decidiu encostar os esses jatos que, em seguida, começaram a ser canibalizados para oferecer peças aos outros 737 ainda em operação.
O fim Com uma imagem arranhada e uma frota
obsoleta, a empresa foi perdendo terreno - operou em novembro de 2004 apenas 18% dos voos programados.
Nessa época, quando enfrentou a primeira paralisação de funcionários e começou a ter problemas para abastecer suas aeronaves, sua fatia de mercado caiu para 1,39%. A ocupação também era pequena: as únicas três aeronaves da VASP que voaram em novembro de 2004 saíram com 47% dos assentos vendidos.
No final de janeiro de 2005 parou de voar; os aviões que restaram foram sucateados mais tarde.